Atividade antimicrobiana de Bixa orellana L. (Urucum)

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52 Ana Marina Silveira Pinto Coelho, Geraldo Alves da Silva, Olivina Maria Carneiro Vieira, Jorge Kleber Chavasco Triagem Fitoquímica Conforme a Tabela 4, verificou-se a presença de saponinas, flavonóides, taninos, alcalóides e esteróides. TABELA 4 – Triagem fitoquímica de tinturas de B. orellana L. TABLE 4 – Phytochemical screening of the tinctures from B. orellana L. Extratos Saponinas Flavonóides Taninos Alcalóides Esteróides Cumarina T1 + + + + + - Caule T2 T3 + + + + + + + + + + - - T1 + + + + + - Flor T2 T3 + + + + + + + + + + - - T1 + + + + + - Folha T2 T3 + + + + + + + + + + - - T1 + + + + + - Fruto T2 T3 + + + + + + + + + + - - T1 + + + + + - Fruto Verde T2 T3 + + + + + + + + + + - - T1 + + + + + - Raiz T2 T3 + + + + + + + + + + - - T1 – Tintura de órgão fresco; T2 – Tintura liofilizada; T3 – Tintura de órgão seco. + - Presença; − - Ausência. Discussão De acordo com os resultados, podemos verificar que todas as tinturas foram inativas ante as espécies fúngicas testadas (C. albicans e C. neoformans), independentemente do órgão e da droga vegetal. Testes realizados com o extrato hidroalcoólico a 95% de folha de B. orellana L. (Irobi et al., 1996) mostraram resultados semelhantes em relação às cepas de Candida utilis e Aspergillus niger. Na literatura consultada não constatamos nenhum trabalho demonstrando ação antifúngica do urucum. Comparando as tinturas obtidas de folhas (frescas, droga e liofilizada) de B. orellana, Tabelas e Figuras 1, 2 e 3, a tintura liofilizada apresentou maior atividade antimicrobiana diante das bactérias testadas, exceto a S. aureus. Maiores halos de inibição foram constatados ante as culturas de P. aeruginosa (15,8 mm), Salmonella sp (15,7 mm), S. marcescens (15,4 mm), E. aerogenes (14,94 mm), C. violaceum (14mm) e Proteus sp (14 mm) (Tabela 2). Caceres et al. (1995) investigaram 46 plantas, entre elas Bixa orellana, quanto à atividade, contra cinco cepas de Neisseria gonorrhoeae através de extrato hidroalcóolico a 50% utilizando a folha e a raiz, e constataram que somente a folha possui efeito inibidor. No presente trabalho, as tinturas obtidas de folhas e raiz mostraram atividade antimicrobiana, provavelmente por se tratar de testes envolvendo outras bactérias. Resultados de testes realizados com o extrato hidroalcoólico a 95% (Irobi et al., 1996) obtido de folha fresca do urucum demonstraram atividade antibacteriana somente contra bactérias gram positivas, como B. subtilis e S. aureus, o que está concordante com os resultados do presente trabalho, apesar de termos detectado também inibição para bactérias gram negativas. Nos testes realizados por Irobi et al. (1996), diante de bactérias gram negativas como Escherichia coli e Serratia marcescens, o extrato hidroalcoólico de folha foi inativo. Variações nos resultados podem ser explicadas por vários fatores como local, época e período de coleta da planta, promovendo diferenças de concentração entre as tinturas (Oliveira, 1991). Com relação aos demais órgãos, a forma de tintura liofilizada obteve maior atividade, em comparação com as demais tinturas. As tinturas possuem saponinas, flavonóides, taninos, alcalóides e esteróides, encontradas na triagem fitoquímica, o que possivelmente comprova sua atividade antimicrobiana. O poder anti-séptico revelado pelos Revista Lecta, Bragança Paulista, v. 21, n. 1/2, p. 47-54, jan./dez. 2003

taninos explica o fato destes impedirem o desenvolvimento de microrganismos, associado à própria ação desinfetante que lhes confere o seu caráter fenólico (Costa, 1977), provavelmente responsável pela ação antimicrobiana das tinturas. Cowan (1999) relatou, baseado em trabalhos encontrados na literatura, que a atividade antimicrobiana dos flavonóides, possivelmente, é devida à habilidade deste grupo de se complexar com proteínas solúveis e extracelulares e também com a parede de células bacterianas. Muitos flavonóides lipofílicos podem romper as membranas microbianas. Alguns grupos de isoflavonóides possuem propriedades antifúngicas, porém nenhuma das tinturas testadas apresentou esta atividade (Costa, 1977), provavelmente por se encontrar em concentração baixa ou por pertencer a outros grupos de flavonóides. Com relação aos alcalóides, Iwu et al. (1999) constataram sua presença, conferindo atividade antibacteriana em plantas como Cryptolepis sanguinolenta sobre isolados de E. coli, Staphylococcus, Pseudomonas e Salmonella e Nauclea latifolia sobre isolados de Pseudomonas aeruginosa e Salmonella sp. Neste trabalho a presença de alcalóides foi detectada em todas as tinturas. Sobre as saponinas, sua atividade depende das suas estruturas. As saponinas esteroidais monodesmosídicas e várias triterpênicas também com uma única cadeia glicídica ligada ao C3 possuem propriedades típicas do grupo, incluindo as propriedades hemolíticas, bacterios- BAUER, A. W. et al. Antibiotic susceptibility testing by a standardized single disc method. Amer. J. Clin. Path., v. 45, p. 493-496, 1966. BIER, O. Bacteriologia e imunologia. 17. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1980. 1056 p. CACERES, A. et al. Plants used in Guatemala for the treatment of gastrointestinal disorders. 1. Screening of 84 plants against enterobacteria. J. Ethnopharm., Amsterdam, v. 30, n. 2, p. 55-73, 1990. CACERES, Armando et al. Antigonorrhoeal activity of plants used in Guatemala for the treatment of sexually transmitted diseases. J. Ethnopharm., Amsterdam, v. 48, n. 2, p. 85-88, 1995. COSTA, A. F. Farmacognosia. 3. ed. Lisboa: Calouste Gulbekian, 1977. v. 1, 1031 p. COSTA, A. F. Isolamento e identificação dos constituintes vegetais. In: Farmacognosia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. v. 3, cap. 20, p. 926-962. COWAN, M. M. Plant products as antimicrobial agents. Clin. Microbiol. Rev., v. 12, n. 4, p. 564-582, oct. 1999. Referências bibliográficas Revista Lecta, Bragança Paulista, v. 21, n. 1/2, p. 47-54, jan./dez. 2003 Atividade antimicrobiana de Bixa orellana L. (Urucum) táticas e fungicidas, podendo explicar a atividade antimicrobiana destas tinturas (Costa, 1977). Iwu et al. (1999) citam em seu trabalho que as saponinas foram uma das substâncias responsáveis pela atividade antibacteriana contra bactérias gram positivas e gram negativas encontrada na raiz de Nauclea latifolia. Srivastava et al. (1999), em seu trabalho, citam que vários constituintes da B. orellana foram isolados e identificados, entre os quais incluem os carotenóides, terpenóides, flavonóides, taninos e traços de alcalóides, resultados estes semelhantes aos nossos. Apesar de detectarmos a presença de saponinas, flavonóides, taninos, alcalóides e esteróides nas tinturas obtidas de fruto, as mesmas não apresentaram atividade antimicrobiana, provavelmente por estar em baixas concentrações, que não foram avaliadas porque os testes foram apenas qualitativos. Conclusões As tinturas de B. orellana preparadas a partir de órgãos e suas drogas foram inativas em face das leveduras C. albicans e C. neoformans. As tinturas preparadas de folhas e suas drogas produziram halos de inibição em relação a todas as bactérias. As tinturas liofilizadas e as tinturas obtidas de drogas originadas dos órgãos fruto imaturo e flor inibiram todas as bactérias. CUNHA, G. M. de A. et al. Atividade antimicrobiana de plantas popularmente usadas no Ceará. Rev. Bras. Farm., Rio de Janeiro, v. 76, n. 1, p. 5-6, 1995. HUHTANEN, C. N. Inhibition of Clostridium botulinum by spice extracts and aliphatic alcohols. J. Food Protec., v. 43, n. 3, p. 195-196, mar. 1980. IROBI, O. N.; MOO-YOUNG, M.; ANDERSON, W. A. Antimicrobial activity of annato (Bixa orellana) extract. Int. J. Pharmacog., v. 34, n. 2, p. 87-90, 1996. IWU, M. M.; DUNCAN, A. R.; OKUNJI, C. O. New antimicrobials of plant origin. Perspectives on new crops and new uses. 1999. Disponível em: http://www.hort.purdue.edu/newcrop/proceedings199 9/v4-457.html. Acesso em: 20 jan. 2002. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. p. 95-96. MERCADANTE, A. Z.; STECK, A.; PFANDER, H. Isolation and structure elucidation of minor carotenoids from annatto (Bixa orellana L.) seeds. Phytochemistry, v. 46, n. 8, p. 1379-1383, 1997a. 53

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Ana Marina Silveira Pinto Coelho, Geraldo Alves da Silva, Olivina Maria Carneiro Vieira, Jorge Kleber Chavasco<br />

Triagem Fitoquímica<br />

Conforme a Tabela 4, verificou-se a presença <strong>de</strong> saponinas, flavonói<strong>de</strong>s, taninos, alcalói<strong>de</strong>s e esterói<strong>de</strong>s.<br />

TABELA 4 – Triagem fitoquímica <strong>de</strong> tinturas <strong>de</strong> B. <strong>orellana</strong> L.<br />

TABLE 4 – Phytochemical screening of the tinctures from B. <strong>orellana</strong> L.<br />

Extratos Saponinas Flavonói<strong>de</strong>s Taninos Alcalói<strong>de</strong>s Esterói<strong>de</strong>s Cumarina<br />

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T1 – Tintura <strong>de</strong> órgão fresco; T2 – Tintura liofilizada; T3 – Tintura <strong>de</strong> órgão seco.<br />

+ - Presença; − - Ausência.<br />

Discussão<br />

De acordo com os resultados, po<strong>de</strong>mos<br />

verificar que todas as tinturas foram inativas ante as<br />

espécies fúngicas testadas (C. albicans e C. neoformans),<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do órgão e da droga vegetal. Testes<br />

realizados com o extrato hidroalcoólico a 95% <strong>de</strong> folha<br />

<strong>de</strong> B. <strong>orellana</strong> L. (Irobi et al., 1996) mostraram resultados<br />

semelhantes em relação às cepas <strong>de</strong> Candida utilis e<br />

Aspergillus niger. Na literatura consultada não constatamos<br />

nenhum trabalho <strong>de</strong>monstrando ação antifúngica<br />

do urucum.<br />

Comparando as tinturas obtidas <strong>de</strong> folhas<br />

(frescas, droga e liofilizada) <strong>de</strong> B. <strong>orellana</strong>, Tabelas e Figuras<br />

1, 2 e 3, a tintura liofilizada apresentou maior ativida<strong>de</strong><br />

<strong>antimicrobiana</strong> diante das bactérias testadas, exceto a S.<br />

aureus. Maiores halos <strong>de</strong> inibição foram constatados ante<br />

as culturas <strong>de</strong> P. aeruginosa (15,8 mm), Salmonella sp (15,7<br />

mm), S. marcescens (15,4 mm), E. aerogenes (14,94 mm), C.<br />

violaceum (14mm) e Proteus sp (14 mm) (Tabela 2).<br />

Caceres et al. (1995) investigaram 46 plantas,<br />

entre elas <strong>Bixa</strong> <strong>orellana</strong>, quanto à ativida<strong>de</strong>, contra cinco<br />

cepas <strong>de</strong> Neisseria gonorrhoeae através <strong>de</strong> extrato<br />

hidroalcóolico a 50% utilizando a folha e a raiz, e<br />

constataram que somente a folha possui efeito inibidor.<br />

No presente trabalho, as tinturas obtidas <strong>de</strong> folhas e<br />

raiz mostraram ativida<strong>de</strong> <strong>antimicrobiana</strong>, provavelmente<br />

por se tratar <strong>de</strong> testes envolvendo outras bactérias.<br />

Resultados <strong>de</strong> testes realizados com o extrato<br />

hidroalcoólico a 95% (Irobi et al., 1996) obtido <strong>de</strong> folha<br />

fresca do urucum <strong>de</strong>monstraram ativida<strong>de</strong> antibacteriana<br />

somente contra bactérias gram positivas, como B. subtilis e<br />

S. aureus, o que está concordante com os resultados do<br />

presente trabalho, apesar <strong>de</strong> termos <strong>de</strong>tectado também<br />

inibição para bactérias gram negativas. Nos testes realizados<br />

por Irobi et al. (1996), diante <strong>de</strong> bactérias gram negativas<br />

como Escherichia coli e Serratia marcescens, o extrato hidroalcoólico<br />

<strong>de</strong> folha foi inativo. Variações nos resultados<br />

po<strong>de</strong>m ser explicadas por vários fatores como local, época<br />

e período <strong>de</strong> coleta da planta, promovendo diferenças<br />

<strong>de</strong> concentração entre as tinturas (Oliveira, 1991).<br />

Com relação aos <strong>de</strong>mais órgãos, a forma <strong>de</strong><br />

tintura liofilizada obteve maior ativida<strong>de</strong>, em<br />

comparação com as <strong>de</strong>mais tinturas.<br />

As tinturas possuem saponinas, flavonói<strong>de</strong>s,<br />

taninos, alcalói<strong>de</strong>s e esterói<strong>de</strong>s, encontradas na triagem<br />

fitoquímica, o que possivelmente comprova sua ativida<strong>de</strong><br />

<strong>antimicrobiana</strong>. O po<strong>de</strong>r anti-séptico revelado pelos<br />

Revista Lecta, Bragança Paulista, v. 21, n. 1/2, p. 47-54, jan./<strong>de</strong>z. 2003

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