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Artigo Científico - UPIS

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DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA<br />

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO<br />

DE MEDICINA VETERINÁRIA<br />

Área de Clínica Médica e Cirurgia de Pequenos Animais<br />

Área de Cirurgia Experimental<br />

Acadêmico: Paulo Ivo Gonçalves Barreira<br />

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rita de Cássia Campebell<br />

Supervisores: Méd. Vet. Paulo Henrique Cândido de Carvalho<br />

Méd. Vet. MsC José Belarmino da Gama Filho<br />

Brasília – DF<br />

Novembro, 2006


DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA<br />

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO<br />

DE MEDICINA VETERINÁRIA<br />

Elaborado por<br />

Paulo Ivo Gonçalves Barreira<br />

APROVADO PELA COMISSÃO EXAMINADORA ABAIXO<br />

______________________________________<br />

Orientadora<br />

Prof.ª Dr.ª Rita de Cássia Campebell<br />

______________________________________<br />

Prof. MsC Sandro Alex Stefanes<br />

______________________________________<br />

Méd. Vet. MsC José Belarmino da Gama Filho


AGRADECIMENTOS<br />

Ao Senhor agradeço imensamente por essa graça divina, colocando no meu<br />

caminho pessoas maravilhosas que ajudaram a conquistar um sonho e tornar<br />

realidade meu plano de vida.<br />

Minha gratidão também aos meus pais, Ester e Vladimir, que durante toda<br />

minha vida me ensinaram o caminho dos corretos, fazendo assim com que eu<br />

chegasse até aqui.<br />

À minha querida noiva, Paula, dedico o alcance desse novo patamar da minha<br />

vida, pois durante todos esses anos caminhamos juntos.<br />

Às minhas amadas irmãs, Lácia e Adriana, ao Brucce e aos amigos só tenho a<br />

agradecer, por compreenderem minha ausência em tantos momentos importantes<br />

em função da minha dedicação aos estudos.<br />

Dedico também às minhas avós, Catarina e Iolanda, que sempre me incluíram<br />

em suas orações, e ao meu avô Luciano, que me serviu de exemplo para busca<br />

de novos conhecimentos.<br />

Aos meus mestres, que dentro e fora das salas de aula me forneceram as<br />

ferramentas necessárias para me tornar um bom profissional.<br />

Meu reconhecimento aos animais, que me mostraram a magia que trazem<br />

consigo, com grande destaque para o meu cão Hércules.<br />

“Esperei com paciência pelo Senhor; ele se inclinou para mim, e ouviu o meu<br />

clamor”. (Salmo 40, 1)


SUMÁRIO<br />

LISTA DE TABELAS............................................................................iii<br />

LISTA DE FIGURAS..............................................................................v<br />

1. INTRODUÇÃO.................................................................................01<br />

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS....................................................03<br />

3. CASOS DE INTERESSE.................................................................09<br />

3.1 Colelitíase.................................................................................09<br />

3.1.1 Histologia e anatomia das vias biliares........................09<br />

3.1.2 Fisiologia da vesícula biliar..........................................11<br />

3.1.3 Colelitíase....................................................................12<br />

3.1.4 Etiologia.......................................................................14<br />

3.1.5 Sinais clínicos..............................................................15<br />

3.1.6 Diagnóstico..................................................................15<br />

3.1.6.1 Anamnese e exame físico..............................15<br />

3.1.6.2 Radiografia.....................................................16<br />

3.1.6.3 Ultra-sonografia..............................................16<br />

3.1.6.4 Achados laboratoriais.....................................17<br />

3.1.6.5 Laparotomia....................................................17<br />

3.1.7 Tratamento...................................................................18<br />

3.1.7.1 Tratamento clínico................................18<br />

3.1.7.2 Tratamento cirúrgico............................19<br />

3.1.7.2.1 Pré-operatório.........................19<br />

3.1.7.2.2 Colecistotomia.........................19<br />

3.1.7.2.3 Colecistectomia.......................20<br />

3.1.7.2.3 Coledocotomia.........................22<br />

3.1.7.2.4 Anastomose biliar-intestinal.....22<br />

3.1.8 Pós-operatório................................................................24<br />

3.1.9 Relato de caso e discussão............................................24


3.2 Ovariossalpingohisterectomia por videolaparoscopia.................31<br />

3.2.1 Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino.31<br />

3.2.2 Ovariossalpingohisterectomia (OSH).............................33<br />

3.2.3 Técnicas Cirúrgicas....................................................... 34<br />

3.2.4 OSH videolaparoscópica................................................34<br />

3.2.4.1 Equipamentos e instrumentais..........................35<br />

3.2.4.2 Considerações anestésicas...............................40<br />

3.2.4.3 Procedimento cirúrgico......................................41<br />

3.2.4.4 Possíveis complicações.....................................46<br />

3.2.5 Relato de caso e discussão.............................................48<br />

4. CONCLUSÃO............................................................................................55<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................56<br />

ANEXOS<br />

• ANEXO A – Fontes de aquisições....................................................60<br />

• ANEXO B – Certificados dos estágios curriculares.......................61


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 1 - Número de animais acompanhados no Centro Veterinário Asa Sul –<br />

DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos animais e animais<br />

silvestres, durante o estágio curricular supervisionado, no período –<br />

26 de junho de 2006 – 1º de setembro de 2006...............................03<br />

Tabela 2 - Relação do número de animais por espécie acompanhados no<br />

CentroVeterinário Asa Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de<br />

pequenos animais e animais silvestres, durante o estágio curricular<br />

supervisionado, no período – 26 de junho de 2006 – 1º de setembro<br />

de 2006.............................................................................................03<br />

Tabela 3 - Exames complementares realizados e interpretados no Centro<br />

Veterinário Asa Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos<br />

animais e animais silvestres, durante o estágio curricular<br />

supervisionado, no período – 26 de junho de 2006 – 1º de setembro<br />

de 2006.............................................................................................04<br />

Tabela 4 - Casos clínicos acompanhados no Centro Veterinário Asa Sul – DF,<br />

na área de clínica e cirurgia de pequenos animais, durante o estágio<br />

curricular supervisionado, no período – 26 de junho de 2006 – 1º de<br />

setembro de 2006.............................................................................05<br />

Tabela 5 - Procedimentos não cirúrgicos acompanhados no Centro Veterinário<br />

Asa Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos animais,<br />

durante o estágio curricular supervisionado, no período – 26 de junho<br />

de 2006 – 1º de setembro de 2006...................................................06


Tabela 6 - Procedimentos cirúrgicos acompanhados no Centro Veterinário Asa<br />

Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos animais, durante<br />

o estágio curricular supervisionado, no período – 26 de junho de<br />

2006 – 1º de setembro de<br />

2006..................................................................................................07<br />

Tabela 7 - Relação do número de animais por espécie acompanhados no Centro<br />

de Treinamento de Cirurgia Experimental - CETREX, na área de<br />

cirurgia experimental, durante o estágio curricular supervisionado, no<br />

período – 1º de julho de 2006 – 31 de julho de<br />

2006..................................................................................................08<br />

Tabela 8 - Procedimentos cirúrgicos acompanhados no Centro de Treinamento<br />

de Cirurgia Experimental - CETREX, na área de cirurgia<br />

experimental, durante o estágio curricular supervisionado, no período<br />

– 1º de julho de 2006 – 31 de julho de 2006.....................................08


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1 Representação esquemática da microestrutura de lóbulo hepático..10<br />

Figura 2 Fígado de cão, face visceral; endurecido in situ................................11<br />

Figura 3A Cálculos biliares de colesterol..........................................................13<br />

Figura 3B Cálculos biliares de pigmento..........................................................13<br />

Figura 4 Colecistectomia. A. Exposição da vesícula biliar com incisão no<br />

peritôneo visceral ao longo da junção da vesícula e do fígado. B.<br />

Identificação do ducto biliar comum, que pode ser canulado através<br />

da papila duodenal, para melhor proteção. C. Pinçamento e<br />

ligamento duplo do ducto cístico e artéria<br />

cística................................................................................................21<br />

Figura 5 Anastomose biliar-intestinal. A. Aproximação da vesícula biliar e da<br />

alça intestinal com uso de suturas de sustentação. B. Sutura da<br />

mucosa da vesícula biliar com a mucosa duodenal. C. Aproximação<br />

das superfícies serosas ao redor da<br />

anastomose.......................................................................................23<br />

Figura 6 Setas indicando a vesícula biliar ao centro, totalmente separada do<br />

fígado, sendo tracionada para melhor exposição, demonstrando<br />

também a dupla ligadura no ducto cístico.........................................27<br />

Figura 7 Colélitos indicados pelas setas, e vesícula biliar indicada pela ponta<br />

da tesoura.........................................................................................29<br />

Figura 8 Aparelho reprodutor da cadela...........................................................31<br />

Figura 9 Foto do conjunto: A. monitor; B. eletrocautério; C. fonte de luz; D.<br />

câmera; E: insuflador...........................................................................38<br />

Figura 10 A. clipador; B. tesoura; C. pinça de apreensão grasping; D. conjunto<br />

trocarte-cânula; E. agulha de Veress.................................................40<br />

Figura 11 Posicionamento das cânulas. CD = caudal, CR = cranial, E =<br />

esquerda, D = direita.........................................................................44<br />

Figura 12 Introdução do trocarte durante OSH videolaparoscópica.................51<br />

Figura 13A Retirada do útero durante OSH videolaparoscópica em cadela......53


Figura 13B Retirada do útero durante OSH videolaparoscópica em cadela.....53


1. INTRODUÇÃO<br />

O estágio supervisionado obrigatório foi realizado sob orientação da Profª Drª<br />

Rita de Cássia Campebell, em duas áreas distintas e ao mesmo tempo<br />

complementares. A primeira delas foi a área de clínica médica e cirúrgica de<br />

pequenos animais e animais silvestres, sob supervisão do Médico Veterinário<br />

Paulo Henrique Cândido de Carvalho (CRMV-DF nº 1084), no período de 24 de<br />

junho a 01 de setembro de 2006, no Centro Veterinário Asa Sul, situado em<br />

Brasília – DF, totalizando 448 horas de estágio. Trata-se de um hospital particular<br />

com estrutura dividida em recepção, dois consultórios, sala de emergência,<br />

internação dividida em gatil e canil (onde o segundo ainda se divide em área de<br />

portadores de doenças infecciosas e em área para cães que apresentem<br />

distúrbios não infecciosos), laboratório para exames séricos, urinários e<br />

coprológicos, sala de raio-x, sala de revelação do raio-x, centro cirúrgico, sala de<br />

paramentação, sala de limpeza e esterilização dos equipamentos, área para<br />

coleta, armazenamento e controle do banco de sangue e sala de armazenamento<br />

e depósito de medicações e materiais. Seu funcionamento ocorre durante todos os<br />

dias da semana, por um período de vinte e quatro horas. A rotina de atividades do<br />

hospital é bem ampla, sendo acompanhados durante o estágio curricular<br />

atendimentos clínicos, realização de exames laboratoriais, práticas de<br />

emergência, coletas de sangue para transfusões, exames radiográficos, condutas<br />

durante a internação de animais e procedimentos cirúrgicos, que como um todo<br />

permitiram aliar a teoria acadêmica com a prática.<br />

A outra parte do estágio supervisionado foi realizada na área de cirurgia<br />

experimental, sob supervisão do Médico Veterinário MsC José Belarmino da<br />

Gama Filho (CRMV-DF nº 0624), no período de 1º a 31 de julho de 2006, no<br />

1


Centro de Treinamento de Cirurgia Experimental – CETREX, situado em Brasília-<br />

DF, totalizando 50 horas. O CETREX é uma instituição particular, que além de<br />

oferecer cursos teórico-práticos em diferentes áreas da saúde, abre espaço e<br />

proporciona uma estrutura favorável para a realização de experimentos na área de<br />

cirurgia, além de práticas de treinamento de inovações na mesma área. Sua<br />

estrutura é composta de auditório de palestras, duas salas de paramentação, sala<br />

de treinamento em cirurgia, sala de preparo dos animais, três canis com<br />

capacidade para cerca de 40 cães e uma granja de suínos. Ocorrem<br />

regularmente, a cada semestre, cursos de videocirurgia e instrumentação<br />

videocirúrgica, além disso, outros cursos são ministrados oportunamente, assim<br />

como experimentos na área de medicina humana e medicina veterinária. Durante<br />

o referido estágio, foram acompanhados diferentes procedimentos cirúrgicos,<br />

protocolos de anestesia e pós-operatórios dos animais.<br />

2


2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS<br />

Tabela 1: Número de animais acompanhados no Centro Veterinário Asa Sul – DF,<br />

na área de clínica e cirurgia de pequenos animais e animais silvestres,<br />

durante o estágio curricular supervisionado, no período – 26 de junho de<br />

2006 – 1º de setembro de 2006.<br />

ÁREA NÚMERO DE ANIMAIS PERCENTUAL<br />

Clínica Cirúrgica 51 15,45%<br />

Clínica Médica 279 84,55%<br />

Total 330 100%<br />

Tabela 2: Relação do número de animais por espécie acompanhados no Centro<br />

Veterinário Asa Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos<br />

animais e animais silvestres, durante o estágio curricular<br />

supervisionado, no período – 26 de junho de 2006 – 1º de setembro de<br />

2006.<br />

ESPÉCIE NÚMERO DE ANIMAIS PERCENTUAL<br />

Canina 293 88,79%<br />

Felina 28 8,48%<br />

Silvestres 3 0,91%<br />

Total 330 100%<br />

3


Tabela 3: Exames complementares realizados e interpretados no Centro<br />

Veterinário Asa Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos<br />

animais e animais silvestres, durante o estágio curricular<br />

supervisionado, no período – 26 de junho de 2006 – 1º de setembro de<br />

2006.<br />

EXAME NÚMERO PERCENTUAL<br />

Hemograma completo<br />

Bioquímica sérica:<br />

53 15,1%<br />

Transaminase<br />

pirúvica (TGP)<br />

glutâmica-<br />

47<br />

13,4%<br />

Fosfatase alcalina<br />

47<br />

13,4%<br />

Uréia<br />

50<br />

14,3%<br />

Creatinina<br />

50 14,3%<br />

Lípase<br />

4<br />

1,1%<br />

Amilase<br />

4<br />

1,1%<br />

T3, T4 e hormônio estimulador<br />

da Tireóide (TSH)<br />

5 1,4%<br />

Glicemia 17 4,9%<br />

Exame parasitológico de pele 6 1,7%<br />

Ultra-sonografia 6 1,7%<br />

Biópsia incisional 5 1,4%<br />

Colonoscopia 1 0,3%<br />

Endoscopia 3 0,9%<br />

Eletrocardiograma 1 0,3%<br />

Radiografia 46 13,1%<br />

Necropsia 1 0,3%<br />

Coprológico 4 1,1%<br />

Total 350 100%<br />

4


Tabela 4: Casos clínicos e alterações clínicas acompanhadas no Centro<br />

Veterinário Asa Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos<br />

animais, durante o estágio curricular supervisionado, no período – 26 de<br />

junho de 2006 – 1º de setembro de 2006.<br />

CASO CLÍNICO NÚMERO PERCENTUAL<br />

Abscesso (tecido subcutâneo – região<br />

lombar)<br />

1 0,6%<br />

Acompanhamento pré-natal 3 1,7%<br />

Acompanhamento quimioterápico 5 2,8%<br />

Alteração comportamental<br />

(agressividade)<br />

2 1,1%<br />

Artrite interfalangeana no MAE 1 0,6%<br />

Artrodese (entre L1 e S3) 5 2,8%<br />

Avaliação neurológica 1 0,6%<br />

Babesiose 1 0,6%<br />

Calicivirose 1 0,6%<br />

Cistite<br />

Claudicação<br />

2 1,1%<br />

MA (subluxação escápulo-umeral)<br />

3<br />

1,7%<br />

MP (luxação patelar)<br />

2<br />

1,1%<br />

MP (subluxação coxo-femoral)<br />

2<br />

1,1%<br />

Condrossarcoma 1 0,6%<br />

Conjuntivite 5 2,8%<br />

Constipação<br />

Dermatite<br />

2 1,1%<br />

fúngica<br />

11<br />

6,2%<br />

bacteriana<br />

6 3,4%<br />

alérgica 6 3,4%<br />

Diabetes mellitus tipo 1 3 1,7%<br />

Diarréia 7 4%<br />

Dispnéia 1 0,6%<br />

Edema pulmonar 1 0,6%<br />

Êmese 12 6,8%<br />

Êmese e diarréia 3 1,7%<br />

Erliquiose 3 1,7%<br />

Hiperplasia de próstata 1 0,6%<br />

Imunodeficiência felina 1 0,6%<br />

Gastrite 2 1,1%<br />

Gastrenterite hemorrágica 4 2,2%<br />

Hematêmese 1 0,6%<br />

Hematúria 1 0,6%<br />

Hematoquezia 1 0,6%<br />

Hepatite 1 0,6%<br />

5


Hipersensibilidade à picada de inseto 1 0,6%<br />

Hipocalcemia pós-parto 1 0,6%<br />

Hipotireiodismo 4 2,2%<br />

Inapetência 8 4,5%<br />

Infestação parasitária por carrapatos 2 1,1%<br />

Intoxicação<br />

alimentar<br />

medicamentosa (por diclofenaco)<br />

8<br />

2<br />

4,5%<br />

1,1%<br />

Lesão por Dermatobia hominis 1 0,6%<br />

Melanoma 1 0,6%<br />

Miíase (Cochliomyia hominivorax) 3 1,7%<br />

Otite<br />

externa<br />

5<br />

2,8%<br />

média<br />

1<br />

0,6%<br />

Pancreatite 3 1,7%<br />

Papiloma 3 1,7%<br />

Paresia dos posteriores 2 1,1%<br />

Poliúria 1 0,6%<br />

Prostração 9 5,1%<br />

Prurido 1 0,6%<br />

Pseudociese 3 1,7%<br />

Reabsorção óssea (osso maxilar)<br />

Sarna<br />

1 0,6%<br />

demodécica<br />

5<br />

2,8%<br />

sarcóptica<br />

2 1,1%<br />

otodécica 2 1,1%<br />

Sopro cardíaco 4 2,2%<br />

Urolitíase 2 1,1%<br />

Total 177 100%<br />

Tabela 5: Procedimentos não cirúrgicos acompanhados no Centro Veterinário Asa<br />

Sul – DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos animais, durante o<br />

estágio curricular supervisionado, no período – 26 de junho de 2006 – 1º<br />

de setembro de 2006.<br />

PROCEDIMENTO NÚMERO PERCENTUAL<br />

Atestado de saúde 4 3,4%<br />

Coleta de sangue para transfusão 14 11,9%<br />

Curativo 36 30,5%<br />

Introdução de microchip 4 3,4%<br />

Imobilização da articulação úmeroradio-ulnar<br />

(luxação)<br />

1<br />

0,9%<br />

Retirada de pontos<br />

4<br />

3,4%<br />

6


Vacinação 55 46,6%<br />

Total 118 100%<br />

Tabela 6: Procedimentos cirúrgicos acompanhados no Centro Veterinário Asa Sul<br />

– DF, na área de clínica e cirurgia de pequenos animais, durante o<br />

estágio curricular supervisionado, no período – 26 de junho de 2006 – 1º<br />

de setembro de 2006.<br />

PROCEDIMENTO<br />

Caudectomia<br />

NÚMERO PERCENTUAL<br />

cão adulto<br />

2<br />

3,8%<br />

cão filhote 3 5,8%<br />

Cistotomia 1 1,9%<br />

Colecistectomia 1 1,9%<br />

Esplenectomia 2 3,8%<br />

Estabilização da patela 1 1,9%<br />

Exérese<br />

cabeça do fêmur<br />

condrossarcoma tóracolombar<br />

papiloma<br />

1<br />

1,9%<br />

2 3,8%<br />

2<br />

3,8%<br />

cisto sebáceo 3 5,8%<br />

Flap de 3ª pálpebra 2 3,8%<br />

Mastectomia<br />

total<br />

1<br />

1,9%<br />

parcial<br />

5<br />

9,6%<br />

Orquiectomia<br />

Osteossíntese<br />

4 7,7%<br />

fêmur<br />

2<br />

3,8%<br />

mandíbula<br />

Ovariossalpingohisterectomia<br />

1 1,9%<br />

laparotomia<br />

6<br />

11,5%<br />

videolaparoscopia 3 5,8%<br />

Reparação do ligamento<br />

cruzado cranial<br />

1<br />

1,9%<br />

Reparação de solução de<br />

continuidade<br />

3<br />

5,8%<br />

Retirada de corpo estranho<br />

esofágico por endoscopia<br />

1<br />

1,9%<br />

Tratamento periodontal<br />

4<br />

7,7%<br />

Ureterostomia 2 3,8%<br />

Total 52 100%<br />

7


Tabela 7: Relação do número de animais por espécie acompanhados no Centro<br />

de Treinamento de Cirurgia Experimental - CETREX, na área de cirurgia<br />

experimental, durante o estágio curricular supervisionado, no período –<br />

1º de julho de 2006 – 31 de julho de 2006.<br />

ESPÉCIE NÚMERO PERCENTUAL<br />

Suína 10 77%<br />

Canina 3 23%<br />

Total 13 100%<br />

Tabela 8: Procedimentos cirúrgicos acompanhados no Centro de Treinamento de<br />

Cirurgia Experimental - CETREX, na área de cirurgia experimental,<br />

durante o estágio curricular supervisionado, no período – 1º de julho de<br />

2006 – 31 de julho de 2006.<br />

PROCEDIMENTO NÚMERO PERCENTUAL<br />

Adrenalectomia 1 7,7%<br />

Ovariossalpingohisterectomia<br />

por videolaparoscopia<br />

2 15,4%<br />

Raminotomia do nervo<br />

simpático<br />

4 30,8%<br />

Ureteroplastia 3 23,1%<br />

Uretrostomia e<br />

ureteroneocistotomia<br />

3 23,1%<br />

Total 13 100%<br />

8


3.1 Colelitíase<br />

3. CASOS DE INTERESSE<br />

3.1.1 Histologia e anatomia das vias biliares<br />

As membranas dos hepatócitos formam os canalículos biliares, que por sua<br />

vez se comunicam com os ductos intra e inter lobulares (Figura 1), transportando a<br />

bile formada no fígado através do ducto hepático comum, onde a bile pode vir a<br />

seguir dois caminhos diferentes, desembocar no duodeno através do ducto<br />

colédoco ou ser armazenada na vesícula após passar pelo ducto cístico. A<br />

vesícula biliar, encontrada na maioria das espécies domésticas, exceto nos<br />

eqüinos, encontra-se fortemente aderida ao fígado por um lado do colo e parte do<br />

corpo, se apresentado em formato de pêra. A porção que não se apresenta<br />

fundida ao fígado possui um revestimento peritoneal (SISSON, 1986).<br />

9


Figura 1: Representação esquemática da microestrutura de lóbulo hepático<br />

Fonte: REECE (1996)<br />

As vias biliares são divididas em intra e extra-hepáticas. A trama biliar<br />

bilateral responsável pela drenagem da bile produzida pelos lobos hepáticos, de<br />

forma independente, corresponde à via biliar intra-hepática. Já a via biliar extrahepática,<br />

é formada a partir dos ductos hepáticos, originados pela união das<br />

tramas biliares de ambos os lados; uma nova união dos ductos hepáticos originam<br />

o ducto hepático comum. A comunicação da vesícula biliar com o restante da via<br />

biliar extra-hepática ocorre através do ducto cístico, que ao se unir com o ducto<br />

hepático comum, forma o ducto colédoco (ORTIGARA et al., 2005).<br />

O ducto hepático comum drena a bile para o ducto biliar, também conhecido<br />

como ducto biliar comum ou ducto colédoco, que por sua vez, segue por dentro do<br />

omento menor por aproximadamente 5cm, entrando na parede mesentérica<br />

duodenal. Em cães, o colédoco termina no duodeno, próximo ao ducto pancreático<br />

menor. A abertura relacionada aos ductos pancreáticos menor e biliar, é chamada<br />

de papila duodenal maior. Sendo importante destacar que em gatos, o ducto biliar<br />

geralmente se junta ao ducto pancreático maior antes de entrar no duodeno<br />

(FOSSUM et al., 2002).<br />

Com um detalhamento mais específico da anatomia dos cães, é possível<br />

observar a presença da vesícula biliar medialmente ao lobo quadrado hepático e<br />

10


lateralmente ao lobo medial direito, onde se apresenta com formato piriforme<br />

(Figura 2), que em cães de porte médio, suporta cerca de 15 ml de bile. A vesícula<br />

é dividida em três porções, onde temos o fundo, que corresponde à porção mais<br />

arredondada, o colo, que se trata da região mais afilada e que leva ao interior do<br />

ducto cístico, e o corpo, ou porção média da vesícula biliar, encontrada entre o<br />

colo e o fundo da mesma (FOSSUM et al., 2002).<br />

3.1.2 Fisiologia da vesícula biliar<br />

Figura 2: Fígado de cão, face visceral; endurecido in situ.<br />

Fonte: ELLENPORT (1986)<br />

Reece (1996) cita que a vesícula biliar tem como função o armazenamento<br />

da bile secretada pelo fígado, para posterior utilização. Segundo Ellenport (1986c),<br />

esse armazenamento ocorre durante o período de repouso digestivo, onde a<br />

vesícula recebe o fluxo de bile através do ducto cístico que está ligado ao ducto<br />

hepático; tendo assim, o fluxo biliar em ambas as direções.<br />

A bile nada mais é que uma secreção aquosa, composta principalmente de<br />

colesterol, ácidos biliares, bilirrubina e fosfolipídeos, elaborada pelo fígado,<br />

apresentando funções distintas de digestão e absorção intestinal, principalmente<br />

11


através dos sais biliares, realizando também excreção de produtos endógenos e<br />

exógenos pouco eliminados pelos rins, como metabólitos de hormônios<br />

esteróides e algumas enzimas (CARVALHO, 1995). Após ter sido formada,<br />

transportada e armazenada na vesícula biliar, a bile só é liberada quando há<br />

contração da vesícula e relaxamento do esfíncter de Oddi, que por sua vez<br />

controla a abertura do duto biliar comum no duodeno. Este estímulo de liberação é<br />

mediado pelo hormônio gastrointestinal colecistocinina, também conhecido como<br />

CCK, que é secretado na presença de lipídeos e aminoácidos no intestino delgado<br />

(REECE, 1996).<br />

3.1.3 Colelitíase<br />

A colelitíase, também chamada de cálculos biliares ou litíase biliar<br />

(CRAWFORD, 2000), apresenta ocorrência rara em cães e gatos, onde os cães se<br />

destacam por apresentarem menor casuística que os gatos (ROTHUIZEN, 2001).<br />

Os cálculos podem ser encontrados em diferentes locais do trato biliar, como na<br />

vesícula biliar (colecistolitíase), no ducto colédoco (coledocolitíase) ou ainda, de<br />

forma mais rara podem estar presentes nos ductos hepáticos e lobares<br />

(BIRCHARD et al., 1998).<br />

Segundo Crawford (2000), os cálculos biliares podem se apresentar de<br />

duas formas diferentes, como cálculos de colesterol ou cálculos pigmentares. Os<br />

cálculos de colesterol (Figura 3-A) surgem quando a bile perde a capacidade de<br />

solubilizar o colesterol, através da agregação de sais biliares hidrossolúveis e<br />

lecitinas hidroinsolúveis, que funcionam normalmente como detergentes, em<br />

função de uma supersaturação. Sendo assim, há impedimento da dispersão do<br />

colesterol, fazendo com que haja nucleação em cristais sólidos de monohidratado<br />

de colesterol. A formação de cálculos biliares de colesterol depende de alguns<br />

fatores como altas concentrações de colesterol, hipomotilidade da vesícula biliar,<br />

nucleação de colesterol na bile acelerada e maior quantidade de muco na vesícula<br />

biliar aprisionando cristais, que se aglomeram em cálculos. Quando puros, os<br />

cálculos se apresentam amarelo-pálidos e redondos a ovóides, com superfície<br />

12


externa dura e finamente granular que, ao corte, apresenta uma paliçada<br />

cristalina, brilhante e radiante. De acordo com a proporção de fosfatos, bilirrubina<br />

e carbonatos presentes, os cálculos podem se apresentar com colorações<br />

diferentes, lamelados e branco-acinzentados a negros ao corte. Quando<br />

composição é principalmente de colesterol, são radiotransparentes, sendo que em<br />

10 a 20% dos cálculos biliares de colesterol, há cálcio suficiente para torná-los<br />

radiopacos.<br />

Já os cálculos pigmentares (Figura 3-B) são misturas de sais cálcicos<br />

insolúveis de bilirrubina não conjugada com sais de cálcio inorgânicos. Processos<br />

infecciosos causados por agentes como a Escherichia coli, por exemplo,<br />

aumentam a chance de se formar cálculos biliares pigmentares. São classificados<br />

trivialmente em negros e castanhos, onde geralmente os negros são encontrados<br />

na bile estéril da vesícula biliar e, os castanhos são encontrados em ductos intra<br />

ou extra-hepáticos infectados. Em função dos carbonatos e fosfatos de cálcio<br />

presentes nos cálculos pigmentares negros, 50 a 75% se apresentam radiopacos.<br />

Já a presença de sabões de cálcio, formados por sais cálcicos de palmitato e<br />

estearato, fazem com que os cálculos castanhos sejam radiotransparentes<br />

(CRAWFOD, 2000).<br />

Figura 3-A: Cálculos biliares de colesterol Figura 3-B: Cálculos biliares de pigmento<br />

Fonte: CRAWFORD (2000) Fonte: CRAWFORD (2000)<br />

13


3.1.4 Etiologia<br />

Em humanos é comum a ocorrência de cálculos de colesterol em função da<br />

dieta estabelecida. Em cães e gatos, há descrição de ocorrência de cálculos<br />

pigmentares, de colesterol e cálculos mistos. O pequeno número de casos<br />

relatados de colelitíase canina se deve ao fato dos cães terem baixa concentração<br />

de colesterol na bile, existir a absorção de cálcio ionizado na vesícula biliar, o que<br />

limita a quantidade livre na bile, além de haver falha no reconhecimento dessa<br />

afecção. Experimentalmente, consegue-se produzir cálculos biliares pigmentares<br />

em cães, após 6 semanas, através de uma dieta deficiente em metionina ou uma<br />

dieta rica em colesterol e deficiente em taurina (FOSSUM et al., 2002).<br />

Acredita-se que a formação de cálculos biliares depende da formação de um<br />

ninho inicial, por retenção de partículas na vesícula biliar seguida de um<br />

crescimento sustentado do colélito (cálculo biliar). Em cães e gatos a formação de<br />

cálculos pigmentares pode estar associada à estase biliar, promovendo o acúmulo<br />

de bile, que por sua vez é composta de mucina, que se conjuga com pigmentos<br />

cálcicos da bilirrubina e com cristais de colesterol; ou está associada à maior<br />

quantidade de mucina na vesícula, que age como um ninho para formar o cálculo<br />

(BIRCHARD et al., 1998).<br />

Outros fatores que levam à formação de cálculos pigmentares são a colecistite<br />

e colangite, principalmente em gatos. Porém é difícil determinar se os cálculos se<br />

formaram em função da estase biliar, inflamação ou infecção bacteriana, ou se<br />

ocorreu o contrário, com formação inicial dos colélitos que induziram a inflamação<br />

e infecção secundária. Algumas bactérias como a E. coli, causadoras de infecções<br />

nos animais, têm enzimas capazes de desconjugar a bilirrubina para uma forma<br />

menos solúvel, havendo então precipitação desse produto com o cálcio. Os<br />

fatores dietéticos são causas improváveis para animais com dieta balanceada,<br />

porém alguns animais podem apresentar a formação de cálculos pigmentares<br />

quando submetidos a dietas pobres em proteínas e gorduras e ricas em<br />

carboidratos e colesterol. A deficiência da taurina nessa dieta leva à precipitação<br />

de ácidos biliares e formação de cálculos (BIRCHARD et al., 1998).<br />

14


A obstrução biliar extra-hepática muitas vezes ocorre em função de<br />

processos patológicos, que impedem o fluxo normal da bile desde sua formação,<br />

até liberação no intestino. Muitas vezes as causas são neoplásicas, inflamatórias,<br />

parasitárias ou congênitas (SLATTER, 1998). Neoplasias hepáticas e biliares<br />

primárias são raras em cães, dentre elas as mais comuns são o adenoma e o<br />

carcinoma biliar, que podem levar a complicações como ascite e colestase<br />

(TOSTES et al., 2004). A pancreatite é uma das possíveis causas da estenose do<br />

ducto biliar, sendo uma das mais comuns causas de obstrução extra-hepática em<br />

cães (SLATTER, 1998). Uma obstrução biliar secundária a pancreatite ou<br />

neoplasia é comum e animais de meia-idade a idosos (FOSSUM et al., 2002).<br />

3.1.5 Sinais clínicos<br />

A maior parte das colelitíases em animais é assintomática (FOSSUM et al.,<br />

2002). Em casos de complicações em função da formação dos colélitos, como<br />

infecção bacteriana, obstrução do ducto biliar extra-hepático, perfuração da<br />

vesícula biliar ou dos ductos biliares ou ainda um envolvimento secundário do<br />

fígado, podendo causar hepatite ou cirrose, há maior probabilidade do animal<br />

apresentar sinais clínicos. Os sinais apresentados podem ser agudos, como no<br />

caso de obstrução súbita do ducto cístico ou do ducto biliar comum, ou ainda<br />

quando há ruptura da vesícula biliar, crônicos, persistentes ou intermitentes.<br />

Comumente os animais apresentam como sinais clínicos icterícia, vômito,<br />

anorexia, perda de peso e desidratação (BIRCHARD et al., 1998). Febre e dor<br />

abdominal também são sinais presentes em animais com colelitíase (FOSSUM et<br />

al., 2002).<br />

3.1.6 Diagnóstico<br />

3.1.6.1 Anamnese e exame físico<br />

Animais que possuem cálculos biliares podem vir a apresentar histórico de<br />

icterícia e vômitos intermitentes, podendo ter longa duração, variando de alguns<br />

meses a anos. O exame físico muitas vezes não leva a nenhuma conclusão,<br />

15


entretanto em alguns casos, a icterícia é visível, assim como desconforto<br />

abdominal, hepatomegalia, febre em casos de infecção biliar bacteriana ou<br />

peritonite septicêmica ou biliar e a distensão abdominal, que ocorre quando há<br />

acúmulo de fluido em função de uma ruptura secundária do trato biliar. Fezes<br />

acólicas indicam uma obstrução completa do ducto biliar (BIRCHARD et al., 1998).<br />

3.1.6.2 Radiografia<br />

Dificilmente se detecta um cálculo através de um exame radiográfico. O uso<br />

da radiografia contrastada não se mostra efetiva em casos de colestase, já que<br />

esta impede a excreção normal dos meios de contraste. Todavia, na ausência de<br />

colestase extra-hepática, a colecistografia pode ser utilizada, sendo possível<br />

visualizar os cálculos através dos defeitos de preenchimento na vesícula biliar<br />

(ROTHUIZEN, 2001).<br />

Mesmo não sendo possível diagnosticar de forma direta a presença de<br />

colélitos, outros achados radiográficos podem indicar que há alterações em função<br />

de uma obstrução, como por exemplo, a distensão da vesícula biliar, uma<br />

colecistite enfisematosa por aumento da densidade de gás na vesícula biliar e<br />

peritonite, onde no exame há perda dos detalhes abdominais (BIRCHARD et al.,<br />

1998).<br />

3.1.6.3 Ultra-sonografia<br />

Apesar de serem raramente radiodensos, os cálculos biliares podem ser<br />

detectados por meio de ultra-som (FOSSUM et al., 2002). Independente da<br />

radiopacidade, colélitos podem ser identificados na ultra-sonografia por se<br />

apresentarem com sombreamento acústico, o que os diferenciam das massas<br />

murais e com movimento da densidade de acordo com mudança na posição do<br />

animal; além disso, algumas alterações secundárias indicam a presença de<br />

cálculos, tais como distensão da vesícula biliar e ductos biliares, espessamento do<br />

trato biliar associado à inflamação, acúmulo de fluido abdominal por ruptura da<br />

vesícula e ausência da vesícula. O espessamento da bile ou acúmulo da mesma<br />

16


pode vir a indicar uma estase biliar, porém pode ocorrer em animais doentes e<br />

anoréxicos (BIRCHARD et al., 1998).<br />

3.1.6.4 Achados laboratoriais<br />

Nem sempre presentes, anormalidades podem aparecer em animais com<br />

sintomatologia de colelitíase com obstrução pós-hepática. Um aumento da<br />

fosfatase alcalina sérica e hiperbilirrubinemia caracterizam uma obstrução póshepática<br />

parcial ou completa, ocorrendo também em casos de colangite<br />

ascendente. É possível observar hipercolesterolemia secundária à obstrução,<br />

principalmente em gatos. A urinálise pode ser de grande valia por apresentar<br />

bilirrubinúria antes da hiperbilirrubinemia, o que leva a um diagnóstico mais<br />

precoce (FOSSUM et al., 2002). Geralmente, em casos de colestase severa, há<br />

danos secundários nos hepatócitos, o que pode ser observado com um aumento<br />

da atividade sérica da transaminase glutâmico-pirúvica - TGP (BIRCHARD et al.,<br />

1998).<br />

Em casos de colangite, colecistite bacteriana ou ruptura da vesícula biliar,<br />

percebe-se neutrofilia com desvio à esquerda no hemograma do animal afetado<br />

(BIRCHARD et al., 1998).<br />

3.1.6.5 Laparotomia<br />

Na maioria dos casos, o diagnóstico definitivo só é dado com a laparotomia<br />

exploratória, onde geralmente confirma-se a presença dos colélitos, e a bile se<br />

mostra viscosa, com coloração negra-esverdeada, contendo um material saibroso<br />

semelhante à areia. A partir da laparotomia exploratória podem ser realizados<br />

procedimentos terapêuticos como avaliação da desobstrução da vesícula e ductos<br />

biliares, remoção dos colélitos para análise química e cultura bacteriana,<br />

identificação e reparo de ruptura de vesícula biliar além de coleta de material<br />

como fígado, vesícula e bile para exames histopatológicos (BIRCHARD et al.,<br />

1998).<br />

17


3.1.7 Tratamento<br />

3.1.7.1 Tratamento clínico<br />

A reversão de colélitos pigmentares já foi demonstrada em um experimento<br />

onde a formação de cálculos pigmentares foi induzida através de uma dieta pobre<br />

em metionina, durante um período de seis semanas, em dez cães. Ao retornarem<br />

à alimentação normal, 50% dos cães apresentaram recuperação da colelitíase,<br />

sendo então demonstrado que o tratamento clínico de cálculos pigmentares não<br />

deve ser descartado (DAWES et al., 1989).<br />

Cohen (1988) demonstrou experimentalmente o uso de ácidos biliares para<br />

a dissolução de colélitos de colesterol em cães, onde comparou a eficiência da<br />

administração de ácidos biliares hidrofóbicos e hidrofílicos, sendo que o ácido<br />

biliar hidrofóbico, ácido quenodesoxicólico, se mostrou mais eficiente que o ácido<br />

ursodesoxicólico, hidrofílico, na dissolução de cálculos biliares de colesterol.<br />

O tratamento clínico com ácido quenodesoxicólico, com o intuito de reduzir<br />

a saturação de colesterol e aumentar a reserva de ácidos biliares, não é<br />

recomendado para cães, o contrário do que é feito em humanos. Isso se deve ao<br />

fato de que há conversão desse fármaco em ácido litocólico por ação da flora<br />

intestinal dos cães, chegando então a um produto hepatotóxico. Já o uso do ácido<br />

ursodesoxicólico é seguro por não possuir esse efeito colateral, tendo efeito<br />

benéfico na administração oral por potencializar o fluxo biliar que, na ausência de<br />

uma obstrução completa do ducto biliar, ajuda a prevenir infecção e a remover<br />

cálculos (ROTHUIZEN, 2001).<br />

A administração de antibióticos apropriados em casos de colecistite, que<br />

muitas vezes está associada à colelitíase, é recomendada (FOSSUM et al., 2002).<br />

Martin (1998) cita que a penicilina pode não apresentar resultado favorável<br />

na prevenção de infecções do fígado e trato biliar, já os aminoglicosídeos podem<br />

ser utilizados, apresentando bons resultados, em casos de peritonite<br />

principalmente, porém são excretados na bile em baixa quantidade.<br />

18


3.1.7.2 Tratamento cirúrgico<br />

3.1.7.2.1 Pré-operatório<br />

A obstrução biliar pode ocorrer em função da formação de colélitos, que<br />

acarreta a longo prazo má absorção de vitamina K, com conseqüente deficiência<br />

dos fatores de coagulação VII, IX e X (FOSSUM et al., 2002). Se detectada uma<br />

coagulopatia, o que é pouco provável de ocorrer, institui-se o tratamento<br />

administrando vitamina K na dose de 1 a 2 mg/kg de peso corporal, cada 8 horas,<br />

por via subcutânea, até a normalização, cerca de 12 horas após a administração<br />

(MARTIN, 1998).<br />

Preconiza-se o uso de antibioticoterapia no pré-operatório em casos de<br />

obstruções biliares. Geralmente utiliza-se por via intravenosa fármacos ativos<br />

contra agentes entéricos comumente encontrados na moléstia biliar obstrutiva,<br />

como a Escherichia coli, Klebsiella, Proteus, Streptococcus, Pseudomonas ou<br />

Clostridium spp.. Sendo assim, é recomendado o uso das cefalosporinas, que<br />

apresentam bons resultados clínicos, quando em elevadas concentrações<br />

plasmáticas e teciduais, já que possuem uma atividade de amplo espectro<br />

(MARTIN, 1996).<br />

3.1.7.2.2 Colecistotomia<br />

Pouco realizada, a colecistotomia é indicada para remoção de alguns<br />

colélitos (FOSSUM et al., 2002). Quando não há indicação de colecistectomia, a<br />

colecistotomia é indicada para a canulação do ducto biliar, para confirmação da<br />

permeabilidade, ou ainda, quando há indicação para retirada de cálculos que não<br />

tenham provocado alterações inflamatórias graves na parede da vesícula biliar<br />

(MARTIN, 1998).<br />

A técnica cirúrgica consiste em, após proteger a área circundante da<br />

vesícula biliar com tampões de laparotomia umedecidos e estéreis, fazer suturas<br />

de fixação na vesícula biliar com o intuito de facilitar a manipulação e impedir que<br />

o conteúdo derrame. Deve ser feita uma incisão no fundo da vesícula biliar,<br />

removendo posteriormente o conteúdo, que deve ser separado para exame<br />

19


laboratorial específico, lavando em seguida a vesícula com solução fisiológica<br />

0,9% estéril aquecida. Através do ducto biliar comum deve ser passado um catéter<br />

macio, lavando-o com um jato para garantir que não haja obstrução. A incisão<br />

deve ser fechada com sutura inversora de camadas, usando fio absorvível de 3-0<br />

a 5-0, reduzindo a probabilidade do material de sutura servir de ninho para a<br />

formação de cálculos (FOSSUM et al., 2002). Martin (1998) indica o uso de pontos<br />

interrompidos com material absorvível, num padrão Lembert, considerando que<br />

antes da oclusão é importante obter biópsia da parede vesical para avaliação<br />

histopatológica e realização de cultura bacteriana.<br />

3.1.7.2.3 Colecistectomia<br />

A colecistectomia é indicada em casos de doenças severas da vesícula<br />

biliar, em casos de danos secundários a traumatismos, colecistite severa,<br />

neoplasias e danos irreparáveis ao ducto cístico. Nesta manobra cirúrgica têm-se<br />

o objetivo de minimizar o traumatismo nos tecidos circundantes, impedindo que<br />

caia bile na cavidade peritoneal, evitando também danos para o sistema ductal<br />

biliar (BIRCHARD et al., 1998).<br />

Afecções como a colelitíase e colecistite são tratadas de forma mais<br />

eficiente com a colecistectomia (MARTIN, 1998). Fossum et al. (2002) relatam que<br />

a colecistectomia é o tratamento cirúrgico de escolha em cães com sinais clínicos<br />

secundários a colelitíase.<br />

A manobra cirúrgica descrita por Bichard et al. (1998) é a de isolamento da<br />

vesícula através de tampões de laparotomia úmidos, dissecando a vesícula biliar a<br />

partir do fundo, podendo ser usada pinça Babcock ou suturas de fixação para<br />

manipulação da vesícula durante a dissecção. O ducto e a artéria cística devem<br />

ser pinçados e duplamente ligados com suturas absorvíveis ou grampos<br />

hemostáticos, sendo então seccionados na região imediatamente distal à pinça,<br />

removendo-se a pinça e a vesícula biliar (Figura 4), que deve ser enviada para<br />

cultura e histopatologia, sendo a incisão abdominal fechada de maneira rotineira.<br />

Bichard et al. (1998) ainda recomendam a colocação de um dreno na área da<br />

20


vesícula biliar incisada, saindo da parede abdominal, em casos de vazamento<br />

biliar ou outra contaminação durante a cirurgia.<br />

É importante identificar o ducto biliar comum para evitar que seja lesado,<br />

podendo ser usada uma cânula neste ducto, introduzida a partir da papila<br />

duodenal, em caso de necessidade (FOSSUM et al., 2002)<br />

Figura 4: Colecistectomia. A. Exposição da vesícula biliar com incisão no peritôneo visceral ao<br />

longo da junção da vesícula e do fígado. B. Identificação do ducto biliar comum, que<br />

pode ser canulado através da papila duodenal, para melhor proteção. C. Pinçamento e<br />

ligamento duplo do ducto cístico e artéria cística.<br />

Fonte: FOSSUM et al. (2002)<br />

A colecistectomia também pode ser realizada por videolaparoscopia, sendo<br />

uma opção de tratamento cirúrgico em casos de colelitíase, colecistite ou traumas<br />

na vesícula biliar que tenha ocorrido extravasamento de bile (UCHÔA, 2002). A<br />

técnica videolaparoscópica apresenta a vantagem de haver menor exposição das<br />

vísceras abdominais, reduzindo o estresse cirúrgico, além de se mostrar menos<br />

cruenta, ocorrendo menor trauma para o animal (GOMEZ et al., 1996).<br />

Cães submetidos à colecistectomia têm apresentado algumas complicações,<br />

entre elas, as mais comuns são a laceração da vesícula e/ou do ducto cístico e<br />

sua avulsão do ducto biliar comum, hemorragia e peritonite biliar causada pelo<br />

21


extravasamento de bile para a cavidade peritoneal, que causa desconforto e dor<br />

para o animal (SILVA et al., 2004)<br />

3.1.7.2.3 Coledocotomia<br />

Quando o ducto biliar se apresenta dilatado de forma acentuada, como em<br />

casos de obstrução crônica, a incisão direta do ducto pode ser realizada,<br />

permitindo a remoção da obstrução. Em casos de coledocolitíase, primeiramente<br />

tenta-se remover o cálculo através de lavagem com jato do ducto biliar comum,<br />

após a introdução de um cateter por enterotomia ou colecistotomia. Porém, em<br />

obstrução extraluminal ou estenose ductal, realizam-se técnicas de desvio biliar.<br />

A coledocotomia deve ser fechada sobre uma sonda através de suturas<br />

interrompidas simples, usando uma agulha afilada pequena e fio absorvível. A<br />

sonda pode ser retirada no término da sutura. Em casos de obstruções que levem<br />

à distensão do ducto biliar, a parede do ducto se torna mais fina, o que dificulta o<br />

controle de vazamento que possa vir a ocorrer por perfuração com agulha ou<br />

incisões. As tentativas de suturar a parede distendida podem piorar o vazamento<br />

biliar (MARTIN, 1996).<br />

3.1.7.2.4 Anastomose biliar-intestinal<br />

Esta manobra cirúrgica tem como intuito principal redirecionar o fluxo biliar<br />

em casos de obstrução na junção coledocoduodenal, sendo recomendada por<br />

Martin (1996) a anastomose da vesícula biliar com o duodeno, em função da maior<br />

estabilidade do segundo dentro da cavidade peritoneal, além de oferecer menor<br />

tensão pós-operatória na linha de incisão anastomótica. O animal deve estar em<br />

jejum por mais de 24 horas para minimizar a chance de extravasamento de<br />

conteúdo intestinal para a cavidade peritoneal. A vesícula biliar deve ser<br />

dissecada a partir do fundo, aproximando-a do duodeno, onde devem ser feitas<br />

suturas de sustentação através do colo da vesícula e da borda antimesentérica da<br />

alça, permitindo uma longa incisão na vesícula biliar, assegurando uma melhor<br />

drenagem do conteúdo intestinal que reflui no pós-operatório. A bile deve ser<br />

removida da vesícula, onde se faz um incisão de tamanho variável, de acordo com<br />

22


o porte do animal, retirando resíduo biliar com auxílio de uma gaze. Na borda<br />

antimesentérica é retirado um pedaço elíptico da mucosa duodenal. A superfície<br />

das mucosas duodenal e vesical devem ser suturadas com fio absorvível em um<br />

padrão simples contínuo, preocupando-se com a penetração da sutura na<br />

submucosa e na serosa de ambos os órgãos para maior sustentação (Figura 5). A<br />

integridade da anastomose pode ser verificada ao introduzir solução fisiológica<br />

0,9% na luz duodenal (MARTIN, 1996).<br />

Figura 5: Anastomose biliar-intestinal. A. Aproximação da vesícula biliar e da alça intestinal com<br />

uso de suturas de sustentação. B. Sutura da mucosa da vesícula biliar com a mucosa<br />

duodenal. C. Aproximação das superfícies serosas ao redor da anastomose.<br />

Fonte: MARTIN (1996)<br />

A colecistoduodenostomia é o tratamento escolhido para desvio do fluxo<br />

biliar quando a vesícula se encontra íntegra e, ocorre obstrução do ducto colédoco<br />

seguido de ruptura do mesmo. A sutura do ducto pode levar à estenose parcial ou<br />

completa no local traumatizado, podendo ocorrer também drenagem da bile pela<br />

linha de sutura, o que torna o desvio do fluxo biliar a melhor alternativa cirúrgica<br />

para estes casos (LINS et al., 2004).<br />

23


Fossum et al. (2002) recomendam a colecistojejunostomia em cães e gatos<br />

ao invés da colecistoduodenostomia, pelo simples fato de que estas espécies<br />

apresentam um ducto biliar comum reduzido, tornando difícil a anastomose da<br />

vesícula com o duodeno.<br />

3.1.8 Pós-operatório<br />

É importante que seja mantida a fluidoterapia até que o animal consiga se<br />

hidratar normalmente por via oral. Os estados eletrolíticos e ácido-básico devem<br />

ser avaliados e corrigidos. O uso de antibióticos deve permanecer por 7 a 10 dias<br />

em casos de colecistite ou quando há vazamento biliar durante ou depois da<br />

cirurgia. Em caso de extravasamento de bile para a cavidade peritoneal,<br />

recomenda-se o uso de analgésicos como a oximorfina e o butorfanol para aliviar<br />

a dor e o desconforto do animal (FOSSUM et al., 2002).<br />

3.1.9 Relato de caso e discussão<br />

Foi encaminhado para o Centro Veterinário Asa Sul, um cão macho da raça<br />

Pinscher, de cor marrom, pesando 1,5 kg, com 5 anos de idade, apresentando<br />

queixas de forte dor abdominal, prostração, anorexia, urina com coloração<br />

intensamente amarelada e fezes muito escurecidas. Foi realizado exame clínico,<br />

onde o animal apresentava temperatura corporal normal, mucosas róseas,<br />

hidratação normal, linfonodos palpáveis com tamanhos normais, sendo também<br />

possível confirmar o quadro de dor abdominal intensa. Ao analisar o histórico do<br />

paciente, percebeu-se que o mesmo teve pancreatite três vezes anteriormente,<br />

em um intervalo de dois anos, onde sempre recebeu o tratamento adequado e<br />

indicado. A suspeita de pancreatite é levantada quando o animal tem sinais de<br />

depressão, anorexia e dor abdominal (BIRCHARD et al., 1998), o que condiz com<br />

os sinais clínicos apresentados pelo cão em questão, que associados ao histórico,<br />

levou a crer que poderia se tratar de um quadro de pancreatite, sendo então<br />

solicitados exames complementares.<br />

O hemograma do animal apresentou todos os valores normais, porém a<br />

bioquímica sanguínea demonstrou TGP = 81,9 U/I, sendo 10 a 40 U/l o valor de<br />

24


eferência para cão adulto e, amilase = 846,0 U/I, tendo o valor de referência para<br />

cão adulto =185 a 750 U/l. Os achados laboratoriais da pancreatite incluem<br />

elevação das concentrações séricas de enzimas pancreáticas, dentre elas a<br />

amilase. O aumento das atividades das enzimas hepáticas reflete uma lesão<br />

hepatocelular, como resultado de isquemia hepática ou exposição do fígado a<br />

altas concentrações de produtos tóxicos entregues no sangue portal pelo<br />

pâncreas (WILLIAMS, 2001).<br />

O cão foi submetido a exame ultra-sonográfico no mesmo dia que apresentou<br />

os sinais clínicos, para melhor investigação do caso, sendo então detectado<br />

através deste, alteração no fígado, que se apresentava aumentado de tamanho,<br />

com parênquima hiperecogênico e vasos dilatados. A vesícula biliar foi visualizada<br />

moderadamente distendida, com conteúdo denso (lama biliar) e presença de<br />

estrutura aderida na parede, levando então à suspeita de hepatopatia crônica em<br />

função de uma neoplasia de vesícula biliar. Segundo a literatura, tumores<br />

primários e metastáticos constituem uma causa significativa de hepatopatias em<br />

cães e gatos. Além disto, a pancreatite na forma fibrosante crônica pode resultar<br />

em obstrução do ducto biliar comum, levando então a hepatopatia (BIRCHARD et<br />

al., 1998).<br />

Diante do quadro clínico e dos exames complementares, o animal foi<br />

encaminhado para cirurgia, para realização de colecistectomia por<br />

videolaparoscopia, com o intuito de impedir a evolução da neoplasia suspeita.<br />

Após análise clínica pelo cirurgião, chegou-se à conclusão de que não seria<br />

possível a realização da videolaparoscopia, em função do porte do animal, sendo<br />

então indicada a colecistectomia por laparotomia, pois segundo Fossum et al.<br />

(2002), a colecistectomia é indicada em casos de neoplasias primárias da vesícula<br />

biliar.<br />

Apesar da literatura recomendar jejum alimentar de 24 horas e hídrico de 12<br />

horas antes da cirurgia (MARTIN, 1996), foi indicado para o animal jejum alimentar<br />

de 12 horas e hídrico de 6 horas, a fim de evitar um estresse maior para o mesmo.<br />

Uma semana após o início dos sinais clínicos, com jejum estabelecido, o animal<br />

foi preparado para cirurgia, onde foi feita tricotomia ampla da região tóraco-lombar<br />

25


ventral e lateral esquerda. A veia cefálica direita do animal foi canulada com<br />

cateter nº 24G, sendo então mantida fluidoterapia com solução fisiológica 0,9 %. A<br />

acepromazina 1 foi o tranqulizante pré-anestésico de eleição, na dose de 0,1 mg/kg<br />

via intravenosa; a indução anestésica foi feita com propofol 2 via intravenosa, na<br />

dose de 5mg/kg, sendo este anestésico classificado como não barbitúrico, de<br />

depuração e distribuição rápida, sendo indicado para indução e manutenção da<br />

anestesia segundo Fantoni (2002). Com o uso de um traqueotubo nº 4, o animal<br />

foi entubado, iniciando assim a anestesia inalatória com isoflurano 3 , anestésico<br />

indicado por não causar dano celular, não sendo então hepatotóxico (FANTONI,<br />

2002). Durante toda a cirurgia a anestesia foi mantida com isoflurano, utilizando-se<br />

no total 7 mL do fármaco durante todo o procedimento.<br />

Foi feita anti-sepsia prévia com uso de povidine degermante e álcool iodado e<br />

logo em seguida, foi realizada anti-sepsia definitiva com os mesmos produtos;<br />

colocando os panos de campo estéreis sobre a superfície do animal, protegendo a<br />

área cirúrgica. Com o uso de um bisturi com lâmina nº 23, foi feita uma incisão de<br />

pele e tecido subcutâneo em L invertido na região tóraco-lombar lateral esquerda,<br />

abrangendo uma área triangular de 8 cm². Com a tesoura Metzenbaum, o músculo<br />

grande dorsal e oblíquo externo do abdômen foram seccionados, chegando à<br />

cavidade abdominal. A 13ª costela foi afastada cranialmente para melhor<br />

visualização e manipulação do fígado, onde o processo papilar e o lobo lateral<br />

direito do mesmo foram deslocados crânio-lateralmente expondo a vesícula biliar,<br />

que se apresentou bastante distendida.<br />

Após identificação das vias biliares extra-hepáticas, inclusive do ducto<br />

colédoco, o fundo da vesícula biliar foi fixado com pinça Halstead e levemente<br />

tracionado, e com tesoura Metzenbaun, a vesícula começou a ser separada do<br />

fígado por avulsão, a partir do fundo, em direção ao colo, assim como recomenda<br />

Bichard et al. (1998). Esse procedimento foi realizado com muita cautela, em<br />

função da fragilidade apresentada pela parede da vesícula biliar, onde qualquer<br />

dano pode levar ao extravasamento da bile, que por sua vez pode vir a causar<br />

peritonite, gerando assim desconforto e complicações indesejáveis para o animal<br />

(FOSSUM et al., 2002).<br />

26


Após dissecação completa da vesícula, encontrando-se esta totalmente<br />

separada do fígado, foi possível visualizar o ducto e artéria cística, que foram<br />

pinçados duplamente com pinças Halstead. Com indicado por Bichard et al.<br />

(1998), utilizou-se fios absorvíveis para os procedimentos realizados nas vias<br />

biliares extra-hepáticas, ligando então duplamente o ducto e artéria cística com fio<br />

poliglatina 910 4 , número 4-0 (Figura 6), logo abaixo da pinça mais distal à<br />

vesícula, seccionando-se em seguida o ducto e artéria cística, entre as duas<br />

pinças, retirando-se a vesícula biliar íntegra com uma porção do ducto cístico<br />

pinçado, seguindo a conduta citada por Fossum et al. (2002).<br />

Figura 6: Setas indicando vesícula biliar ao centro, totalmente separada do fígado, sendo<br />

tracionada para melhor exposição, demonstrando também a dupla ligadura no ducto<br />

cístico. Procedimento realizado em cão durante o estágio supervisionado no período de<br />

24 de junho a 01 de setembro de 2006.<br />

Inicialmente, o intuito era seguir a recomendação de Fossum et al. (2002) de<br />

se canular com um cateter e lavar o ducto colédoco a partir da papila duodenal,<br />

através de uma enterotomia, porém considerando que o exame ultra-sonográfico<br />

não indicou alteração no colédoco, e durante a cirurgia, o mesmo apresentava-se<br />

27


normal, e o porte do animal e suas estruturas internas eram muito pequenas para<br />

tal procedimento, a canulação foi dispensada.<br />

Após retirada da vesícula, a pinça Halstead foi liberada, confirmando que as<br />

ligaduras foram feitas de forma correta, sem extravasamento nenhum de bile, e os<br />

fios absorvíveis fixados no ducto cístico foram cortados na base dos nós. O fígado<br />

foi liberado e as demais vísceras foram reposicionadas. Iniciou-se o procedimento<br />

de fechamento da cavidade, voltando a 13ª costela esquerda para seu local de<br />

origem, suturando sua porção mais distal na 12ª costela esquerda para melhor<br />

fixação, através de sutura simples interrompida com fio de náilon 5 número 3-0. Os<br />

músculos grande dorsal e oblíquo externo foram suturados com fio de náilon 5<br />

número 3-0 com sutura simples interrompida, o tecido subcutâneo foi aproximado<br />

com sutura intradérmica em zigue-zague com fio de náilon 5 número 3-0. Por fim,<br />

foi realizada dermorrafia, com sutura simples separada, usando fio de náilon 5<br />

número 3-0.<br />

Após o término do procedimento cirúrgico, a vesícula biliar retirada foi<br />

manipulada, realizando uma incisão no corpo da mesma, expondo sua cavidade,<br />

retirando-se a bile e cálculos de coloração enegrecida, de formas irregulares e<br />

tamanhos variando entre 0,2cm e 0,6cm (Figura 7). Segundo Crawford (2000),<br />

cálculos biliares negros correspondem aos cálculos biliares pigmentares, sendo<br />

estes misturas de sais cálcicos insolúveis de bilirrubina não conjugada com sais<br />

de cálcio inorgânicos. A vesícula biliar foi examinada de forma minuciosa, não<br />

sendo encontrada nenhuma alteração que caracterizasse neoplasia, dispensando<br />

envio para exame histopatológico como recomendado por Martin (1998).<br />

28


Figura 7: Colélitos indicados pelas setas, e vesícula biliar indicada pela ponta da tesoura.<br />

Colecistectomia realizada em cão durante o estágio supervisionado no período de 24 de<br />

junho a 01 de setembro de 2006.<br />

O animal permaneceu internado por quatro dias após a cirurgia, com troca<br />

diária do curativo, onde era feita limpeza na ferida cirúrgica com solução fisiológica<br />

0,9%, sendo esta recoberta posteriormente com gaze e atadura estéreis, sendo<br />

administrado via oral 13 mg/kg de Carduus marianus 6 suspensão, uma vez ao dia,<br />

que age como estabilizador das membranas dos hepatócitos, resguardando sua<br />

integridade e, assim, a função fisiológica do fígado (FERENCI, 1989). Utilizou-se<br />

também metronidazol 7 , quimioterápico que possue amplo espectro de ação contra<br />

bactérias Gram-negativas, Gram-positivas e alguns protozoários e fungos,<br />

apresentando também a vantagem de raramente ocorrer resistência bacteriana<br />

quando usado (GÓRNIAK, 2002), sendo então administrado duas vezes ao dia, na<br />

dose de 30 mg/kg, para antibioticoterapia profilática (VIANA, 2003) e cloridrato de<br />

tramadol 8, via subcutânea, duas vezes ao dia, na dose de 2 mg/kg, já que estudos<br />

demonstraram analgesia pós-operatória satisfatória no tratamento da dor aguda<br />

causada por cirurgias abdominais, sem apresentar efeitos colaterais importantes<br />

(CASSU & LUNA, 2003). No quinto dia pós-cirúrgico, o animal recebeu alta, com<br />

recomendação médica de troca diária do curativo, continuando a medicação que<br />

estava sendo usada por mais três dias, exceto o cloridrato de tramadol 8 . No oitavo<br />

dia pós-cirúrgico, foram retirados os pontos de pele e o animal foi reexaminado<br />

29


apresentando excelente estado de saúde, com apetite normalizado, sem queixas<br />

de dores abdominais.<br />

Através do caso clínico acompanhado, foi possível observar a dificuldade em<br />

se diagnosticar esse tipo de afecção. Porém, o animal apresentou um quadro<br />

típico, com pancreatite crônica, capaz de desenvolver a forma fibrosante,<br />

associada ao quadro de hepatopatia diagnosticado nos exames de sangue e<br />

ultra-sonográfico. Como na maioria dos casos, o diagnóstico definitivo foi dado<br />

com a laparotomia exploratória, confirmando a presença de colélitos e revertendo<br />

quadro clínico do paciente, através da colecistectomia.<br />

30


3.2 Ovariossalpingohisterectomia por videolaparoscopia<br />

3.2.1 Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino<br />

Os órgãos genitais femininos (Figura 8) são compostos por dois ovários,<br />

correspondentes às glândulas reprodutivas essenciais; as tubas uterinas,<br />

responsáveis pela condução dos óvulos para o útero para posterior fertilização; o<br />

útero, onde há desenvolvimento do óvulo; a vagina, canal o qual o feto é expelido<br />

do útero; o vestíbulo vaginal, onde há abertura da uretra; a vulva; o clitóris,<br />

homólogo do pênis; e por fim as glândulas mamárias, que apesar de se tratarem<br />

de glândulas da pele, estão intimamente associadas ao funcionamento dos órgãos<br />

reprodutivos da fêmea (ELLENPORT, 1986-b).<br />

Figura 8: Aparelho reprodutor da cadela. Ilustração baseada em Bojrab (1996).<br />

Nas cadelas, os ovários se apresentam pequenos, ovais, alongados e<br />

achatados, localizando-se normalmente a uma curta distância caudalmente ao rim,<br />

podendo algumas vezes estar em contato com o mesmo. O ovário direito se<br />

localiza entre a parte direita do duodeno e a parede abdominal lateral. Já o ovário<br />

esquerdo é encontrado próximo ao baço. Ainda nas cadelas, é possível perceber<br />

31


que cada ovário está completamente oculto pela bolsa ovariana. Essa bolsa<br />

ovariana é constituída de duas camadas, uma de gordura e outra de músculo liso,<br />

que se continuam até o corno uterino, formando o mesossalpinge e o ligamento<br />

próprio do ovário. Os ovários podem ainda apresentar folículos projetantes na<br />

superfície (ELLENPORT, 1986-b).<br />

As tubas uterinas das cadelas, também chamadas de trompas de Fallópio,<br />

são pequenas e inicialmente passam cranialmente na parte lateral da bolsa<br />

ovariana, seguindo então caudalmente na parte medial da bolsa. Trata-se de uma<br />

parte do mesossalpinge, se apresentando ligeiramente flexíveis, com uma região<br />

fimbriada localizada na bolsa ovariana, havendo uma abertura abdominal um tanto<br />

grande, com o óstio uterino pequeno (ELLENPORT, 1986-a).<br />

O útero nos carnívoros tem um corpo pequeno com longos e estreitos<br />

cornos, que podem chegar a 15cm de comprimento. Os cornos são de diâmetro<br />

uniforme, situando-se inteiramente dentro do abdome. A divergência do corpo<br />

ocorre em formato de V, seguindo no sentido de cada rim, apresentando as partes<br />

caudais unidas pelo peritôneo. O colo do útero é curto, apresentando uma<br />

espessa camada muscular. Na região dorsal não se percebe nenhuma delimitação<br />

entre útero e vagina, porém o cérvix do útero se mostra mais espesso que a<br />

vagina, apresentando uma projeção cilíndrica. No útero ainda encontramos os<br />

ligamentos largos, apresentando muita gordura e algum músculo liso, e os<br />

ligamentos redondos localizados na borda livre das pregas emitidas da face lateral<br />

dos ligamentos largos, apresentam também músculo liso e gordura na sua<br />

formação. Cada ligamento passa através do canal inguinal envolto por uma bolsa<br />

peritoneal, o chamado processo vaginal. Ainda existe uma prega ligamentosa,<br />

conhecida como ligamento suspensório, que se estende cranialmente da bolsa<br />

ovariana, lateralmente ao rim e se insere na parede abdominal (ELLENPORT,<br />

1986-a).<br />

As artérias e veias uterinas são responsáveis pelo suprimento de sangue<br />

necessário para o útero. Já os ovários são irrigados pelos vasos ovarianos, que<br />

percorrem um trajeto tortuoso dentro do pedículo que abrange o ligamento<br />

suspensório, onde as artérias ovarianas se originam da aorta, a veia ovariana<br />

32


esquerda drena na veia renal esquerda e a veia direita drena na veia cava caudal<br />

(FOSSUM, 2002).<br />

O trato genital das cadelas possui funções reprodutivas, com produção de<br />

óvulos e promoção de um ambiente adequado para o desenvolvimento da prole,<br />

havendo também complexas alterações hormonais e teciduais (REECE, 1996).<br />

Dentre os principais hormônios produzidos pelos ovários, o estrógeno tem<br />

como principal função induzir a proliferação celular e o crescimento dos tecidos<br />

relacionados à reprodução. O corpo lúteo presente no ovário produz progesterona,<br />

que possui atividade relacionada com o estrógeno, promovendo o crescimento de<br />

glândulas endometriais, estimulando a atividade secretória do oviduto e glândulas<br />

endometriais, fornecendo nutrientes necessários para o desenvolvimento do<br />

embrião antes da implantação, promovendo o desenvolvimento da glândula<br />

mamária, prevenindo a contração do útero durante a prenhez e regulando a<br />

secreção de gonadotrofinas (REECE, 1996).<br />

3.2.2 Ovariossalpingohisterectomia (OSH)<br />

O termo ovariossalpingohisterectomia trata da retirada cirúrgica dos ovários,<br />

parte do útero, além das salpinges (que deriva do grego sálpinx, trompa). O<br />

prefixo “ovariosalpingohister” indica os órgãos abordados no procedimento<br />

cirúrgico, ou seja, os ovários, as trompas uterinas e o útero, já o sufixo “ectomia”<br />

está relacionado com a manobra cirúrgica realizada, que no caso é a extirpação<br />

(GONÇALVES et al. 2004).<br />

A OSH, também conhecida como castração, é uma cirurgia reprodutiva que<br />

tem como intuito limitar a reprodução, evitar ou tratar tumores influenciados por<br />

hormônios reprodutivos, como os tumores mamários, já que estrógenos<br />

produzidos pelos ovários exercem um papel na etiologia desta afecção,<br />

observando que se a cirurgia for realizada antes do primeiro cio, reduz para 0,5 %<br />

a probabilidade de se desenvolver neoplasia, se realizada entre o primeiro e o<br />

segundo cio esse risco já passa a ser de 8%, e após dois ou mais ciclos estrais, o<br />

risco sobe para 26% (FOSSUM, 2002). Além disso, a castração é indicada para<br />

tratamento de uteropatias como a piometra, torção uterina, hiperplasia do<br />

33


endométrio, ruptura uterina e neoplasia uterina, sendo também o procedimento<br />

cirúrgico indicado para fêmeas epiléticas e diabéticas com a intenção de impedir a<br />

influência dos hormônios sobre as medicações utilizadas nestes casos<br />

(FINGLAND, 1996).<br />

Em estudo realizado por Gonçalves et al. (2004), de 138 casos de indicação<br />

para OSH, 68 eram encaminhamentos para cirurgia de esterilização eletiva, onde<br />

o intuito dos proprietários era de suprimir a capacidade reprodutiva do seus<br />

animais.<br />

3.2.3 Técnicas Cirúrgicas<br />

Muitas técnicas cirúrgicas de esterilização de cães e gatos têm sido<br />

descritas, apresentando suas vantagens e desvantagens, adequando-se assim a<br />

cada paciente de acordo com a situação apresentada, como a disponibilidade de<br />

materiais, o estado de saúde e porte do animal. Dentre as técnicas descritas,<br />

temos a tradicional OSH por laparotomia, tanto pela linha alba como pelo flanco<br />

lateral, e a por laparoscopia (HOWE, 2006).<br />

A laparoscopia tem sido cada vez mais indicada para doenças ovarianas e<br />

uterinas, assim como também para OSH (FREEMAN, 1999).<br />

3.2.4 OSH videolaparoscópica<br />

Atualmente observa-se o uso crescente de procedimentos não invasivos na<br />

Medicina com o objetivo de se reduzir os inconvenientes existentes nas técnicas<br />

convencionais. Visando os benefícios existentes, a Medicina Veterinária tem<br />

usado a laparoscopia em diferentes procedimentos e, apesar de poucos estudos<br />

descreverem o uso da cirurgia laparoscópica na veterinária, bons resultados têm<br />

sido observados. A primeira OSH via laparoscópica em cadela foi realizada e<br />

descrita em 1994, por Siegl et al., mostrando-se adequada (BRUN et al., 1999).<br />

Os procedimentos laparoscópicos têm demonstrado poucas desvantagens,<br />

onde a principal delas é o alto custo dos equipamentos, que acaba por refletir no<br />

custo das cirurgias, além da exigência de um treinamento específico pelo cirurgião<br />

para adequada realização do procedimento (BARAÚNA, 2001).<br />

34


São várias as vantagens apresentadas pela videolaparoscopia, quando<br />

comparada com a laparotomia, onde se destaca a aparência estética, custos<br />

hospitalares, dor pós-operatória, complicações no trans e pós-operatório e período<br />

de hospitalização (BRUN et al., 1999). Outra vantagem apresentada em estudos<br />

experimentais com laparoscopia é a redução na formação de aderências após o<br />

procedimento cirúrgico, quando comparada com a laparotomia (GUTT et al.,<br />

2005).<br />

3.2.4.1 Equipamentos e instrumentais<br />

Os equipamentos necessários para a realização de procedimentos<br />

laparoscópicos são poucos, porém exigem que o cirurgião tenha domínio sobre os<br />

mesmos, a fim de impedir que ocorram problemas (MENCAGLIA; WATTIEZ,<br />

2000).<br />

Na videolaparoscopia existem dois tipos de equipamentos, sendo as peças<br />

básicas usadas para qualquer tipo de abordagem cirúrgica laparoscópica; e os<br />

equipamentos específicos para diferentes abordagens, apresentando desenhos<br />

específicos (CERVANTES; PATINÕ, 1997).<br />

Os equipamentos básicos são o sistema óptico, insuflador, a fonte de gás,<br />

eletrocautério, aparelho de irrigação e o instrumental.<br />

O sistema óptico (Figura 9) é composto de uma fonte de luz fria, fibra<br />

óptica, laparoscópico, câmera de vídeo, monitor de TV e vídeo gravador<br />

(SCHUTTE; YARMUCH, 2002).<br />

A fonte de luz é classificada como fria por estar separada do cabo de<br />

transmissão da luz por uma proteção, transferindo o mínimo de calor<br />

(CERVANTES; PATINÕ, 1997). Dentre as várias fontes de luz usadas na<br />

videolaparoscopia, as mais comuns são as de lâmpada halógena, de 150 watts, e<br />

de xenônio, de 300 watts, sendo que a segunda oferece melhor qualidade da<br />

imagem apresentada. Na videolaparoscopia a qualidade da câmera determina a<br />

sensibilidade à luz, sendo que câmeras de alta qualidade exigem menos luz<br />

(RICHTER, 2001).<br />

35


A fibra óptica é constituída por um feixe de grande quantidade de fibras de<br />

vidro, responsável por conduzir a luz da fonte até a extremidade do laparoscópico,<br />

sendo que em um condutor de 2 metros de comprimento, apenas um terço da luz<br />

incidente inicial chega até a extremidade do condutor (SCHUTTE; YARMUCH,<br />

2002).<br />

Os laparoscópios se apresentam na forma rígida ou flexível. Os flexíveis<br />

têm seu uso na endoscopia gastrintestinal e exames do aparelho respiratório, já os<br />

rígidos são usados em cirurgias abdominais, torácicas e articulares (FREEMAN,<br />

1999). O diâmetro externo dos laparoscópios varia de 2,7 a 10mm, sendo que<br />

quanto maior o diâmetro, menor a exigência de luz. Apesar de alguns cirurgiões se<br />

sentirem desconfortáveis usando uma óptica de 10mm em cães pequenos e<br />

gatos, não existe nenhuma restrição. A angulação dos laparoscópios varia entre 0<br />

e 70º (RICHTER, 2001).<br />

A câmera de vídeo foi o que impulsionou a cirurgia videolaparoscópica,<br />

sendo esta capaz de transferir para tela da TV a imagem captada pelo<br />

laparoscópio, permitindo uma visão melhor durante a cirurgia. É composta<br />

basicamente por um sensor de vídeo, que se liga ao monitor, e pelo cabeçote que<br />

se acopla à óptica (CERVANTES; PATINÕ, 1997).<br />

O monitor utilizado pode ser um tubo de imagem de alta resolução, ou uma<br />

TV de alta resolução, que são acoplados a um vídeo gravador permitindo<br />

documentar todo o procedimento (SCHUTTE; YARMUCH, 2002).<br />

O insuflador e sua fonte de gás (Figura 9) são usados com o intuito de<br />

insuflar gás para o interior do campo operatório, para que haja melhor exposição e<br />

melhor comodidade no procedimento (CERVANTES; PATINÕ, 1997). No caso da<br />

OSH, o insuflador é o equipamento usado para se criar o pneumoperitôneo,<br />

através da injeção de gás na cavidade abdominal, conectado por uma mangueira<br />

de alta pressão a uma fonte de gás. Uma das principais características dos<br />

insufladores é o sensor de pressão intra-abdominal que detém automaticamente o<br />

fluxo de gás ao se atingir a pressão desejada, mantendo assim durante toda a<br />

cirurgia, compensando a fuga de gás que ocorre por diferentes motivos<br />

(SCHUTTE; YARMUCH, 2002). Freeman (1999) recomenda que seja mantida<br />

36


pressão intra-abdominal de 10 a 12 mmHg para OSH videolaparoscópica. Os<br />

gases utilizados para insuflação devem ser incolores, não combustíveis,<br />

fisiologicamente inertes e acessíveis, onde se enquadram o CO2, N2O, ar<br />

comprimido, nitrogênio, hélio, argônio e xenônio. Dentre esses, o CO2 é o mais<br />

usado, apesar de apresentar algumas desvantagens, como a irritação da<br />

superfície visceral pela formação do ácido carbônico, que é absorvido pelo sangue<br />

levando à hipercapnia, vasodilatação, hipotensão, taquicardia e arritmias; porém<br />

está facilmente disponível, é mais barato, tem rápida difusão e excreção pelo<br />

organismo do animal e não entra em combustão no uso de laser ou eletrocautério<br />

(KUNTZ et al., 2000). Mesmo sendo o oxigênio, o ar comum e o nitrogênio baratos<br />

e estando facilmente disponíveis, não são usados por terem absorção e excreção<br />

lenta, além do alto risco de embolismo (FREEMAN, 1999).<br />

O eletrocautério (Figura 9) é utilizado com o intuito de dividir os tecidos no<br />

foco da corrente em pequena área, onde vaporiza ou rompe as células. Pode ser<br />

monopolar, onde a corrente passa pelo corpo através de eletrodos ativos,<br />

retornando posteriormente através da placa de aterramento por eletrodos ativos.<br />

Existe também o bipolar, que não necessita de placa de aterramento porque os<br />

eletrodos ativos e de retorno estão no instrumento eletrocirúrgico, passando a<br />

corrente apenas no tecido confinado entre os eletrodos (FREEMAN, 1999).<br />

37


A<br />

B C<br />

Figura 9: Foto do conjunto: A. monitor; B. eletrocautério; C. fonte de luz; D. câmera; E: insuflador.<br />

Foto tirada durante OSH videolaparoscópica realizada em cadela durante o estágio<br />

supervisionado no período de 24 de junho a 01 de setembro de 2006.<br />

O aparelho de irrigação e aspiração é usado para melhorar a visualização<br />

do campo operatório ao remover coágulos de sangue, levando também à redução<br />

de aderência pós-cirúrgica. A irrigação geralmente é feita com solução de ringer<br />

lactato estéril sob pressão e a sucção é realizada com aparelho portátil de sucção<br />

mecânica, onde todo conteúdo retirado é armazenado em um recipiente,<br />

permitindo quantificá-lo (FREEMAN, 1999).<br />

Utiliza-se a agulha de Veress, sistema trocarte-cânula, pinças, tesouras e<br />

clipadores como instrumental de acesso e manipulação da cavidade abordada.<br />

A agulha de Veress (Figura 10) é de extrema importância para a criação do<br />

pneumoperitôneo. Apresenta na extremidade distal um estilete oco e rombo e um<br />

mecanismo de válvula na extremidade proximal, onde há conexão da mangueira<br />

que sai do insuflador. Após a incisão de pele, a agulha de Veress é introduzida, o<br />

estilete é empurrado para trás automaticamente, expondo as bordas cortantes da<br />

agulha, que voltam a ser recobertas pelo estilete após a introdução na cavidade<br />

abdominal, prevenindo qualquer lesão nos órgãos abdominais (CERVANTES;<br />

PATINÕ, 1997).<br />

D<br />

E<br />

38


É através das cânulas do sistema trocarte-cânula (Figura 10) que os<br />

instrumentos de manipulação e a ótica irão passar, se apresentando em diferentes<br />

medidas, de acordo com o instrumental que irá passar no seu interior, podendo<br />

ser de plástico ou de metal, rígidas, cilíndricas, com uma válvula que permite a<br />

passagem dos instrumentos, mas impede a perda de gás de dentro da cavidade<br />

abdominal. O trocarte é um estilete de ponta afiada, que passa por dentro da<br />

cânula, sendo retirado do sistema trocarte-cânula após a introdução na cavidade<br />

abdominal, permanecendo apenas a cânula para passagem dos materiais.<br />

Trocárteres descartáveis apresentam um sistema de proteção na extremidade<br />

distal que recobre a lâmina após penetrar na cavidade, minimizando o risco de<br />

lesões (RICHTER, 2001).<br />

As pinças (Figura 10) são classificadas como de apreensão e de dissecção.<br />

As de apreensão, também chamadas de grasping, podem ser compatíveis com o<br />

eletrocautério, onde a pinça se apresenta isolada para evitar danos em tecidos<br />

adjacentes à área de manipulação. Possuem um sistema de trava, de rotação ou<br />

articulação e sistema de fechamento simples ou duplo das pás. As pinças de<br />

dissecção são úteis para isolamento e identificação de vasos sanguíneos e<br />

pequenas estruturas abordadas, onde as mais comuns são as curvas, de<br />

Maryland, de ângulo reto e Kelly (FREEMAN, 1999).<br />

As tesouras (Figura 10) geralmente permitem ser acopladas no<br />

eletrocautério, podendo ser descartáveis ou não. A mais usada é a tesoura<br />

Metzenbaum, porém existem outros tipos como as tesouras de gancho, usada em<br />

estruturas tubulares, e as tesouras retas, que podem se apresentar como<br />

microtesouras utilizadas em estruturas delicadas (FREEMAN, 1999).<br />

Para realização de ligaduras, com o intuito de controlar sangramentos, são<br />

usados clipes de titânio. Os clipadores (Figura 10) são usados para fixar os clipes<br />

e podem ser descartáveis ou reutilizáveis (FREEMAN, 1999).<br />

39


A B C D E<br />

Figura 10: A. clipador; B. tesoura; C. pinça de apreensão grasping; D. conjunto trocarte-cânula; E.<br />

agulha de Veress. Foto tirada durante OSH videolaparoscópica realizada em cadela<br />

durante o estágio supervisionado no período de 24 de junho a 01 de setembro de 2006.<br />

3.2.4.2 Considerações anestésicas<br />

As cirurgias laparoscópicas apresentam um importante efeito sobre o<br />

funcionamento fisiológico do sistema cardiovascular e respiratório, em função da<br />

posição em que o animal é mantido (BARAÚNA, 2001), do aumento da pressão<br />

abdominal e da absorção do CO2 usado para obter o pneumoperitôneo; e é por<br />

isso que um exame pré-operatório bem feito se faz necessário (FREEMAN, 1999).<br />

Recomenda-se o uso de medicamentos pré-anestésicos com a intenção de<br />

promover sedação, analgesia e amnésia, reduzindo também secreções,<br />

ansiedade, náuseas e vômitos. O uso de medicamentos pré-anestésicos tem<br />

como objetivo principal reduzir a quantidade de anestesia utilizada durante a<br />

endocirurgia. Essas medicações não se diferenciam daquelas usadas em<br />

procedimentos abertos. Fenotiazínicos, como a acepromazina, são usados para<br />

minimizar as náuseas e vômitos, porém existe o risco do paciente não compensar<br />

bem a vasodilatação causada por eles. Agonista alfa-2 adrenérgicos não são<br />

recomendados por causarem depressão cardiorrespiratória e, como a insuflação<br />

com gás e a postura em que o animal fica durante a cirurgia já deprimem esses<br />

sistemas, evita-se o uso desse grupo de medicamentos (FREEMAN, 1999).<br />

Para a manutenção da anestesia durante a cirurgia é recomendado o uso<br />

de anestésicos gerais, promovendo relaxamento muscular, analgesia e amnésia, e<br />

para isso indica-se o uso de anestesia inalatória. A escolha de qual anestésico<br />

40


inalatório usar depende de alguns fatores como a condição de saúde do animal.<br />

Dos inalatórios o isoflurano é o mais recomendado por ter menos efeitos na autoregulação<br />

cerebral, na pressão sanguínea, na contratilidade e ritmo cardíaco<br />

(FREEMAN, 1999).<br />

No caso da OSH por videolaparoscopia, pode ser realizada anestesia<br />

epidural, trazendo benefícios no trans e pós-operatório por causar analgesia<br />

efetiva e mínima depressão da resposta fisiológica aos fatores estressantes, como<br />

a elevação da pressão de CO2 sanguínea. Um exemplo de anestesia epidural<br />

utilizada para laparoscopia é o uso de lidocaína 2% ou bupivacaína 0,5% na dose<br />

de 1ml / 5 kg, usando no máximo 20 mL por animal, que deve ser injetada no<br />

espaço lombo-sacral dos cães, causando anestesia caudalmente ao diafragma,<br />

lembrando que o animal deve permanecer com a cabeça mais elevada que o<br />

restante do corpo por aproximadamente 20 minutos, a fim de evitar que o<br />

anestésico migre para a região da cabeça (FREEMAN, 1999).<br />

3.2.4.3 Procedimento cirúrgico<br />

O abdome do animal deve ser preparado do mesmo modo em que é feito<br />

em cirurgias abertas, realizando a tricotomia ampla e anti-sepsia da região. Isso<br />

porque além de estar garantindo uma área mais limpa e com melhor visualização<br />

da área cirúrgica, pode ocorrer a necessidade de uma conversão da cirurgia<br />

laparoscópica para uma laparotomia em função de alguma complicação (ALÉS et<br />

al., 1999).<br />

Idealmente a bexiga, o estômago e as alças intestinais devem estar vazios,<br />

pois se estiverem repletos atrapalham a visualização dos demais órgãos e<br />

estruturas, além de aumentar a chance de ocorrer um acidente (RICHTER, 2001).<br />

Durante o procedimento laparoscópico a mesa cirúrgica deve permanecer<br />

inclinada com a intenção de expor de maneira mais confortável para o cirurgião a<br />

área de interesse. Para OSH, o animal permanece na posição de Trendelenburg,<br />

ou seja, em decúbito dorsal, com uma inclinação que faça com que a cabeça fique<br />

mais baixa, de forma que os órgãos abdominais escorreguem cranialmente e o<br />

campo operatório caudal fique mais exposto (FREEMAN, 1999).<br />

41


Após a anti-sepsia local, os panos de campo são colocados, delimitando o<br />

campo operatório e protegendo de contaminações. O primeiro instrumento usado<br />

é a agulha de Veress, que é inserida caudo-lateralmente à cicatriz umbilical da<br />

cadela, sendo direcionada para a pelve, evitando atingir o ligamento falciforme e<br />

não causando injúrias no baço. Antes de se introduzir a agulha de Veress, é feita<br />

uma pequena incisão na pele, tenciona-se e suspende-se a parede abdominal<br />

com a mão, inserindo em seguida a agulha. Para assegurar que a ponta da agulha<br />

está no interior da cavidade abdominal, utilizam-se alguns recursos como a<br />

colocação de uma seringa com solução fisiológica 0,9% estéril na extremidade<br />

proximal da agulha, aspira-se com a seringa para verificar se há sangue, muco ou<br />

outro fluído corpóreo, se nada for detectado, injeta-se a solução que deverá fluir<br />

livremente e, ao separar a seringa da agulha e erguer a parede abdominal, a<br />

solução fisiológica 0,9% que permaneceu no centro da agulha deverá fluir para a<br />

cavidade, caso não haja oclusão na ponta da agulha. Porém, o que indica de<br />

forma definitiva que a agulha está no local correto é o balotamento, ou seja,<br />

durante a insuflação a parede abdominal inteira deve saltar livremente. Caso a<br />

insuflação seja localizada, significa que a agulha está em posição inadequada e<br />

deve ser reposicionada (FREEMAN, 1999).<br />

Com a agulha na posição correta e a pressão abdominal desejada<br />

alcançada, o primeiro trocarte pode ser introduzido, e para isso, duas técnicas são<br />

descritas. Uma das técnicas é a aberta ou de Hasson, onde é feita uma incisão na<br />

pele, se disseca o tecido subcutâneo, incisionando a linha alba posteriormente até<br />

a exposição do peritôneo, introduzindo então o trocarte, reduzindo o risco de<br />

prejuízos nas vísceras durante o procedimento. A outra técnica é a fechada onde<br />

se utiliza um trocarte de 5 ou 10 mm com um sistema de segurança, pois o<br />

mesmo se encontra recoberto por uma proteção externa de plástico que retrai<br />

quando encontra resistência, como quando entra na cavidade abdominal,<br />

perfurando a parede e recobre a lâmina de corte quando não há resistência. Na<br />

técnica fechada, após uma pequena incisão de pele, o trocarte com sistema de<br />

segurança é introduzido, empurrando e torcendo, formando um ângulo reto com a<br />

42


parede abdominal até a penetração total do trocarte e da cânula, onde o primeiro é<br />

removido para passagem do laparoscópio pela cânula (FREEMAN, 1999).<br />

Com o laparoscópio já na cavidade abdominal, conecta-se a fonte de luz no<br />

mesmo e acopla-se a fonte de gás na válvula existente na cânula. Com o uso da<br />

óptica realiza-se um exame da cavidade abdominal, onde as posições dos órgãos<br />

são verificadas, assim como aderências e outras observações (FREEMAN, 1999).<br />

Para a realização da OSH, a indicação da quantidade de cânulas a serem<br />

introduzidas na cavidade varia de acordo com a literatura, podendo-se usar três<br />

cânulas, contando com aquela usada pela ótica, sendo necessário neste caso, a<br />

utilização de sutura transparietal na região pré-púbica, fixando o útero próximo à<br />

bifurcação dos cornos (BRUN, 2004). Outra técnica descreve o uso de 4 cânulas<br />

(Figura 11), também contando com a usada pelo laparoscópio, sendo uma<br />

cranialmente à cicatriz umbilical na linha alba, uma lateral direita na linha da<br />

glândula mamária, uma lateral esquerda na linha da glândula mamária e uma<br />

caudalmente à cicatriz umbilical, na altura do púbis, também na linha alba (BRUN<br />

et al., 2000). Acessos secundários são posicionados de modo que permitam um<br />

ótimo acesso para os órgãos de interesse e facilite a cirurgia. Os locais escolhidos<br />

devem ser separados para criar ângulos de 30 a 60º entre eles, e para permitir a<br />

manipulação dos instrumentos, de modo que um não prejudique o outro,<br />

lembrando que uma distância muito grande pode atrapalhar a manipulação<br />

(FREEMAN, 1999). Em humanos há recomendação de um espaço de 6 a 8 cm<br />

entre os trocárteres (CERVANTES; PATINÕ, 1997), já em cães utiliza-se uma<br />

distância de 5 a 10 cm, o que pode variar de acordo com as dimensões do cão a<br />

ser operado (BRUN et al., 2000).<br />

43


Figura 11: Posicionamento das cânulas. CD = caudal, CR = cranial, E = esquerda, D = direita.<br />

Fonte: BRUN et al. (2000).<br />

Com o auxílio da ótica e da fonte de luz, os locais escolhidos para a<br />

introdução dos demais trocárteres são iluminados de dentro para fora, destacando<br />

os vasos sanguíneos da parede abdominal, afim de que sejam evitados durante o<br />

procedimento de inserção dos trocárteres e cânulas. Ao pressionar a parede<br />

abdominal externa, é possível visualizar com a ótica o local em que o trocarte está<br />

sendo introduzido após a incisão na pele, assegurando uma entrada segura do<br />

mesmo na cavidade abdominal. Com todas as cânulas posicionadas, e já sem os<br />

trocárteres, os instrumentais são introduzidos, sendo importante que estes<br />

estejam fechados durante sua entrada e que sejam visualizados no monitor até<br />

que alcancem o sítio operatório, onde já podem ser abertos para manipulação dos<br />

ovários, útero e tecidos adjacentes (FREEMAN, 1999).<br />

Posterior a visualização da posição anatômica do sistema reprodutivo da<br />

cadela, os passos para OSH por videolaparoscopia são os mesmos da técnica de<br />

laparotomia, ou seja, rompimento do ligamento suspensório do ovário, formação<br />

de uma janela no mesovário, ligação e ressecção do pedículo ovariano,<br />

dissecação do útero e seus cornos, ligação e ressecção do corpo uterino e artérias<br />

uterinas, remoção do trato genital e fechamento da cavidade (FREEMAN, 1999).<br />

Após inclinar levemente o animal em um ângulo de 45º para a direita,<br />

utiliza-se uma pinça de apreensão localizada em uma das cânulas caudais para a<br />

exposição do ovário esquerdo, que deve ser levemente tencionado caudalmente,<br />

destacando o ligamento suspensório do ovário e vasos anexos, que devem ser<br />

ligados corretamente evitando sangramento, que pode prejudicar a visualização<br />

44


das estruturas. Após a formação de uma janela no mesovário, utilizando uma<br />

pinça de dissecação inserida na cânula lateral direita, todo o pedículo ovariano<br />

deve ser ligado, incluindo o ligamento suspensório, seus vasos anexos, artéria e<br />

veia ovariana, onde o procedimento de ligadura pode ser feito com clipes,<br />

eletrocautério ou através de nós de sutura, permitindo posterior secção do<br />

pedículo com o uso de uma tesoura e eletrocautério, que serão também usados<br />

para dissecção do mesométrio, seccionando o ligamento redondo e largo do útero,<br />

chegando ao nível das artérias uterinas. Para identificação do outro ovário, o<br />

animal deve ser inclinado levemente para o lado oposto, onde deve ser repetido o<br />

mesmo procedimento no mesovário, pedículo ovariano, ligamento suspensório do<br />

ovário, ligamento largo e redondo do útero e mesométrio (FREEMAN, 1999).<br />

A ligadura do corpo uterino pode ser feita através do Endoloop, que se trata<br />

de um fio de náilon com o nó já preparado na forma de laço, que é introduzido<br />

pelo acesso lateral mais próximo da bifurcação uterina. Com o auxílio das pinças,<br />

os cornos uterinos são passados através do laço, de forma que o fio atinja a<br />

porção cranial da cérvix, sendo então puxado ao mesmo tempo em que a cânula é<br />

empurrada até que o nó seja apertado. Essa ligadura deve ser realizada duas<br />

vezes, sendo recomendada uma distância de 1 cm entre as duas ligaduras. Com a<br />

segurança de nós firmes, o corpo uterino pode ser seccionado (FREEMAN, 1999).<br />

Outra técnica descreve o uso de clipes de titânio para ligar as artérias e veias<br />

uterinas, onde cada clipe liga o conjunto artéria e veia, sendo utilizados dois clipes<br />

de cada lado, totalizando quatro clipes, sendo a secção dos vasos realizada entre<br />

os dois clipes de cada lado. Assegurando a correta ligadura dos vasos do corpo<br />

do útero, utiliza-se uma tesoura de Metzenbaum acoplada a um bisturi elétrico<br />

para secção do corpo uterino (BRUN et al., 1999).<br />

Para a remoção do tecido em questão, utiliza-se uma pinça de apreensão,<br />

de preferência a Grasping, através de uma cânula de 10 mm, devendo esta<br />

apreender firmemente um dos ovários, trazendo o conjunto ovários, cornos e<br />

corpo uterino até a ponta da cânula, removendo então de forma simultânea a<br />

cânula, ovários, cornos uterinos e corpo uterino da cavidade abdominal em sentido<br />

linear através do orifício formado pela cânula. Caso o tecido a ser retirado possua<br />

45


uma doença maligna ou esteja infectado, deve ser utilizada uma bolsa coletora<br />

que é introduzida por um dos acessos, sendo então o tecido colocado no seu<br />

interior, fechando a bolsa em seguida e retirando o conjunto (FREEMAN, 1999).<br />

3.2.4.4 Possíveis complicações<br />

Além de existir a possibilidade de complicações em função da anestesia<br />

geral, o que pode ser evitado com uma análise prévia da função metabólica e<br />

cardiopulmonar do paciente, há o risco de uma víscera oca, baço ou vaso<br />

sanguíneo ser lesionado e o animal sofrer severas conseqüências, incluindo o<br />

embolismo gasoso e o dano mecânico do órgão (RICHTER, 2001).<br />

A hipercapnia é uma das complicações que podem ocorrer na laparoscopia,<br />

em função do CO2 que é absorvido, resultando em taquicardia, hipertensão e<br />

arritmias cardíacas. Para prevenir que isso ocorra, recomenda-se monitoração da<br />

pressão abdominal, melhor ventilação e controle do plano anestésico (FREEMAN,<br />

1999).<br />

A posição de Trendelemburg pode elevar o diafragma, causando um<br />

aumento de até 50% na pressão inspiratória, diminuindo a capacidade funcional,<br />

levando a um desequilíbrio da taxa de ventilação, atelectasia, hipoxemia e<br />

hipercapnia, sem contar com o risco de refluxo gastro-esofágico com aspiração<br />

(BARAÚNA, 2001).<br />

O aumento da pressão abdominal, o posicionamento do animal e um<br />

inadequado volume sanguíneo podem dificultar o retorno venoso, é por isso que a<br />

literatura recomenda a manutenção da volemia mantendo a fluidoterapia<br />

endovenosa e uma pressão de insuflação do abdome durante a cirurgia de 10 a<br />

14 mmHg (FREEMAN, 1999). Já Alves et al. (2004), recomendam pressão intraabdominal<br />

de 6 mmHg para realização da OSH por videolaparoscopia.<br />

Outras queixas de pacientes que passam pela cirurgia laparoscópica são a<br />

dor e as náuseas, que podem ser explicadas pela irritação na superfície visceral<br />

causada pelo CO2, que é transformado em ácido carbônico e absorvido pela<br />

corrente sanguínea (CERVANTES; PATINÕ, 1997).<br />

46


O uso dos trocárteres e da agulha de Veress pode causar injúrias à artéria<br />

ou veia epigástrica superficial e vasos epigástricos profundos. Caso a lesão seja<br />

em um pequeno vaso, a hemorragia é autolimitante, porém se um grande vaso é<br />

atingido, é necessária intervenção do cirurgião, onde o procedimento<br />

recomendado é o de remover o trocarte, localizar o sítio de sangramento e contêlo<br />

através de sutura, clipe ou coagulação com eletrocautério. Após controle da<br />

hemorragia, a cânula é reintroduzida e a cirurgia se segue. Uma medida para<br />

evitar lesões de tecidos e vasos durante a inserção dos trocárteres secundários, é<br />

a de iluminação da parede abdominal com a fonte de luz da ótica, a fim de<br />

identificar os vasos superficiais (FREEMAN, 1999).<br />

Perfurações no estômago, intestino e bexiga também podem vir a ocorrer<br />

ao se introduzir um trocarte ou agulha. Muitas vezes isso ocorre em caso de uma<br />

dilatação gástrica por indução anestésica com máscara ou por uma entubação<br />

esofageal acidental, que pode ser evitado com o uso de um tubo orogástrico para<br />

descompressão do estômago. A bexiga repleta também facilita a ocorrência de<br />

lesões, e com a introdução de uma sonda uretral e esvaziamento da bexiga esse<br />

risco é reduzido (FREEMAN, 1999).<br />

Outro fato comum de ocorrer, porém não considerado de grande seriedade,<br />

é o enfisema subcutâneo que surge em virtude da dissipação do gás no tecido<br />

subcutâneo por um acesso incorreto do interior da cavidade abdominal com a<br />

agulha de Veress ou o sistema trocarte-cânula. Quando ocorre em áreas<br />

extensas, o enfisema desaparece em cerca de 24 horas, mas caso seja utilizado<br />

um gás insolúvel, como o hélio, o enfisema pode perdurar por algumas semanas.<br />

Se o enfisema ocorrer durante a cirurgia, em torno da abertura do trocarte, realizase<br />

uma sutura em bolsa de tabaco em volta da cânula para impedir o vazamento;<br />

caso não resolva, o orifício de acesso é fechado e outra porta de inserção é aberta<br />

(FREEMAN, 1999).<br />

Como costuma-se usar eletrocautério na videolaparoscopia, queimaduras<br />

podem ocorrer quando o mecanismo elétrico é ativado fora do campo de visão da<br />

ótica e o instrumental esteja em contato com algum tecido (FREEMAN, 1999).<br />

47


Hérnias podem aparecer no pós-operatório caso as aberturas do peritôneo,<br />

fáscia e tecido subcutâneo estejam alinhadas. A prevenção de hérnias é através<br />

de uma incisão oblíqua para colocação da cânula e uma sutura adequada<br />

(FREEMAN, 1999).<br />

Em virtude de perfurações intestinais, contaminação de biópsia intestinal ou<br />

descuido na esterilidade antes e durante a cirurgia, infecções podem ocorrer. Para<br />

minimizar esse risco, deve ser dada grande atenção às técnicas adequadas<br />

(RICHTER, 2001).<br />

3.2.5 Relato de caso e discussão<br />

Deu entrada no Centro Veterinário Asa Sul em Brasília, DF, uma cadela<br />

sem raça definida, pesando 20 kg, com 3 anos de idade, onde a proprietária tinha<br />

como intuito realizar ovariossalpingohisterectomia, impedindo assim que o animal<br />

se reproduzisse. Foi realizado exame clínico, onde todos os parâmetros se<br />

apresentavam normais, com temperatura retal de 38,4 ºC, mucosas róseas, tempo<br />

de preenchimento capilar de 3 segundos, linfonodos palpáveis com tamanhos<br />

normais, ausculta cardíaca e respiratória normais e perfeito estado de nutrição.<br />

Foram esclarecidas para a proprietária as conseqüências ao realizar-se<br />

essa cirurgia, ou seja, limitação da reprodução, prevenção de tumores<br />

influenciados por hormônios reprodutivos, como os mamários, e auxílio no controle<br />

de doenças ligadas ao trato reprodutivo, conforme citam Fossum et al. (2002),<br />

sendo também expostas as diversas maneiras de se realizar a OSH, dentre elas a<br />

tradicional laparotomia com incisão da linha alba e a videolaparoscopia, segundo<br />

Howe (2006). Foram também expostas para a proprietária as vantagens em se<br />

proceder a técnica laparoscópica comparada com a técnica aberta, como melhor<br />

aparência estética, menores gastos no pós-cirúrgico com curativos e<br />

medicamentos, menor dor pós-operatória, menos complicações no trans e pósoperatório<br />

e menor período de hospitalização, como cita Brun et al. (1999), além<br />

da menor formação de aderências do que na laparotomia, segundo Gutt et al.<br />

(2005).<br />

48


Assim como citam Malm et al. (2004), foi esclarecido para a proprietária que<br />

no trans-operatório da laparoscopia o animal se estressa mais do que na<br />

abordagem convencional, em função de um maior tempo cirúrgico.<br />

Por se tratar de uma cirurgia eletiva, foram requeridos exames<br />

complementares que garantissem que o animal apresentava-se saudável,<br />

realizando-se hemograma, que se apresentou normal, e bioquímica sérica, com<br />

dosagem da uréia, creatinina, transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) e fosfatase<br />

alcalina. A uréia e a creatinina, enzimas que demonstram a função renal, a TGP e<br />

a fosfatase alcalina, que são enzimas abundantes no fígado, se apresentaram<br />

normais nos exames realizados (CARVALHO, 1995). O exame clínico associado<br />

aos exames complementares realizados no dia seguinte, demonstraram que o<br />

animal estava apto para realização da cirurgia.<br />

O animal permaneceu em jejum alimentar de 12 horas antes da cirurgia,<br />

com o intuito de evitar êmese e pneumonia por aspiração, assim como preconiza<br />

Fossum et al. (2002). Foi feita tricotomia ampla na região abdominal da cadela,<br />

considerando a possibilidade de ocorrer conversão da cirurgia laparoscópica para<br />

uma laparotomia por alguma complicação, e garantindo também uma área<br />

cirúrgica mais limpa (ALÉS et al., 1999). Após tricotomia e anti-sepsia do membro<br />

anterior direito do animal com povidine degermante seguido de álcool iodado, a<br />

veia cefálica foi canulada com cateter número 24G, e mantida fluidoterapia com<br />

solução fisiológica a 0,9%.<br />

Como medicação pré-anestésica foi usada acepromazina 1 na dose de 0,1<br />

mg/kg via intravenosa, sendo aplicado, após 3 minutos, propofol 2 na dose de<br />

5mg/kg pela mesma via de aplicação, entubando o animal em seguida com o uso<br />

de um traqueotubo nº 6, dando início à anestesia inalatória com isoflurano 3 ,<br />

anestésico indicado por não causar dano celular, não sendo então hepatotóxico<br />

(FANTONI, 2002), utilizando-se durante todo o procedimento 35 mL do fármaco.<br />

O animal foi colocado na posição de Trendelemburg, assim como<br />

recomenda Freeman (1999), a placa correspondente ao fio terra do bisturi<br />

monopolar foi posicionada embaixo do paciente, na região tóraco-lombar, sendo<br />

feita a anti-sepsia prévia e a definitiva com povidine degermante e álcool iodado<br />

49


na área cirúrgica, colocando em seguida os panos de campo, que foram fixados<br />

com pinças Backhaus, deixando somente a região abdominal descoberta.<br />

A cirurgia se iniciou com uma incisão de pele na linha média ventral, préumbilical,<br />

com cerca de 1,5 cm de comprimento, a 1 cm da cicatriz umbilical, com<br />

a divulsão do tecido subcutâneo, até a visualização da linha alba. O músculo reto<br />

abdominal, o tecido subcutâneo e a pele foram elevados sob tensão dos dedos do<br />

cirurgião, sendo então introduzida a agulha de Veress de forma perpendicular à<br />

linha alba, no ponto médio da incisão. O teste com solução fisiológica estéril<br />

infundida com uma seringa de 3 ml na agulha de Veress foi realizado,<br />

demonstrando que a ponta da mesma se encontrava dentro da cavidade<br />

abdominal, conforme indica Freeman (1999).<br />

Utilizando-se um insuflador eletromecânico, a cavidade foi insuflada com<br />

dióxido de carbono a 5%, mantendo-se uma pressão intracavitária de 10 a 12<br />

mmHg, seguindo a recomendação de Freeman (1999), evitando aumento<br />

excessivo da pressão dentro da cavidade. Estabelecido o pneumoperitôneo,<br />

retirou-se a agulha de Veress e através da abertura de pele já existente, um<br />

trocarte de 10 mm foi inserido. Pela cânula deste trocarte foi passada uma ótica de<br />

zero grau acoplada à microcâmera e à fonte de luz.<br />

Em seguida, foi feita uma inspeção na cavidade abdominal, observando o<br />

aspecto macrosópico do útero, onde não foi visualizada nenhuma alteração, e<br />

observando-se ainda as alças intestinais e a bexiga, confirmando que estavam<br />

vazias, o que reduz a possibilidade de uma lesão nesses órgãos durante o<br />

procedimento, segundo Richter (2001). Sob visão direta, foi eleito o sítio para<br />

introdução do segundo trocarte, de 5 mm de diâmetro, que foi posicionado na<br />

região lateral esquerda, a uma distância aproximada de 12 cm caudal à primeira<br />

incisão e 10 cm lateralmente à linha média ventral. Realizou-se a introdução do<br />

terceiro trocarte, 5 mm de diâmetro, na região lateral direita, em posicionamento<br />

semelhante ao do segundo (Figura 12). O quarto trocarte, de 10 mm, foi<br />

posicionado na linha média ventral, a aproximadamente 5 cm da região do púbis,<br />

totalizando assim 4 trocártes introduzidos, que facilitam a realização do<br />

procedimento, concordando com Brun et al. (1999).<br />

50


Figura 12: Introdução do trocarte durante OSH videolaparoscópica realizada durante estágio<br />

supervisionado no período de 24 de junho a 01 de setembro de 2006.<br />

Tendo todas as cânulas posicionadas, o animal foi levemente inclinado para<br />

o lado direito, cerca de 45º, facilitando assim a visualização e manipulação do<br />

ovário esquerdo, assim como recomenda Freeman (1999). Foram introduzidas<br />

uma pinça Grasping no acesso lateral esquerdo, e uma pinça Maryland na cânula<br />

lateral direita, procedendo então a manipulação uterina. A bolsa ovariana foi<br />

apreendida com a pinça Grasping, sofrendo leve tensão ventro-caudal, expondo a<br />

bolsa ovariana, o ligamento suspensório do ovário, o mesovário e a<br />

mesossalpinge. Utilizando a pinça Maryland, foi aberta uma janela no mesovário,<br />

dissecando-o de forma a visualizar os vasos ovarianos, que foram ligados logo em<br />

seguida com 2 clipes de titânio, após a introdução do clipador pela cânula na linha<br />

média ventral, próximo do púbis.<br />

A pinça Maryland foi retirada, sendo introduzida na mesma cânula uma<br />

tesoura curva ligada ao eletrocautério, realizando então uma secção entre os<br />

clipes de titânio, e seccionando o ligamento suspensório, a mesossalpinge e o<br />

mesovário, sempre utilizando a eletrocoagulação para evitar o sangramento de<br />

pequenos vasos, impedindo que a visualização com a ótica ficasse prejudicada,<br />

seguindo a técnica citada por Freeman (1999). Com a pinça Grasping ainda<br />

posicionada, o corno uterino esquerdo foi elevado expondo o mesométrio, que foi<br />

51


dissecado com a tesoura e eletrocauterização no sentido do corpo do útero,<br />

seccionando também o ligamento largo e redondo do útero, até o corno uterino<br />

esquerdo ficar totalmente livre.<br />

O animal foi então reposicionado, agora com leve inclinação para o lado<br />

esquerdo, retirando os instrumentos das cânulas, introduzindo então uma pinça<br />

Grasping na cânula do lado direito e uma pinça Maryland no lado esquerdo,<br />

repetindo o mesmo procedimento que foi realizado na bolsa ovariana, ligamentos,<br />

mesovário, mesosalpinge, mesométrio e corno uterino esquerdo, utilizando-se dos<br />

mesmos instrumentais e da mesma técnica.<br />

Com os cornos uterinos livres e o mesométrio dissecado no procedimento<br />

anterior, a artéria e veia uterina foram visualizados. Optou-se pela utilização de<br />

clipes de titânio na ligadura das artérias e veias uterinas, através de dupla<br />

ligadura, ou seja, dois clipes de cada lado, como recomenda Brun et al. (2000),<br />

havendo sempre uma pinça expondo a porção que estava sendo manipulada.<br />

Com a tesoura acoplada ao bisturi elétrico monopolar, a secção foi realizada entre<br />

os dois clipes de cada lado, seguindo para secção do corpo uterino na altura da<br />

cérvix, como cita Brun et al. (2000), utilizando também a cauterização monopolar<br />

no mesmo tecido.<br />

Após a secção e separação completa do tecido, as pinças foram retiradas<br />

dos acessos laterais e o clipador retirado da cânula mais caudal, permanecendo<br />

apenas o laparoscópio. Para a remoção do tecido, foi utilizada a pinça de<br />

apreensão Grasping, através da cânula de 10 mm localizada na linha média<br />

ventral, onde o ovário esquerdo foi firmemente apreendido, trazendo o conjunto<br />

ovários, cornos e corpo uterino até a ponta da cânula, retirando posteriormente o<br />

mesmo conjunto de forma simultânea e em sentido linear através do orifício<br />

formado pela cânula (Figura 13-A e 13-B), seguindo a técnica idealizada por<br />

Freeman (1999).<br />

52


Figura 13: A e B) retirada do útero em uma OSH videolaparoscópica, realizada em cadela, durante<br />

estágio supervisionado no período de 24 de junho a 01 de setembro de 2006.<br />

53<br />

A B


Após a retirada do órgão, a cavidade foi inteiramente inspecionada, a ótica<br />

foi retirada, removendo em seguida as cânulas e desinsuflando a cavidade<br />

abdominal. Na musculatura foi realizada sutura Sultan com fio náilon 5 3-0 na<br />

região onde haviam as cânulas, e a pele foi suturada com fio náilon 5 3-0, com<br />

sutura simples separada, sendo a área cirúrgica limpa com solução fisiológica.<br />

O animal foi internado por 24 horas, sendo ministrado enrofloxacina 9 na<br />

dose de 5 mg/kg, a cada 12 horas, por via oral, com o intuito de prevenir uma<br />

possível infecção pós-cirúrgica, já que se trata de uma fluorquinolona de amplo<br />

espectro de ação, com utilização comum na Medicina Veterinária, como cita<br />

Górniak (2002), administrando também cloridrato de tramadol 8 , na dose de 2<br />

mg/kg, a cada 8 horas, por via oral. O animal foi então liberado 24 horas após a<br />

cirurgia, mantendo a enrofloxacina 9 durante 9 dias.<br />

Oito dias após a cirurgia, a cadela retornou à clínica para retirada dos<br />

pontos, apresentando perfeita cicatrização da ferida cirúrgica e excelente estado<br />

de saúde.<br />

A técnica descrita se mostrou adequada e viável para a realização de<br />

ovariossalpingohisterectomia laparoscópica em animais sadios, apesar do<br />

procedimento ser restrito, por exigir material e treinamento específico para sua<br />

realização. Os equipamentos e instrumentais utilizados foram suficientes e<br />

apropriados para que o plano cirúrgico ocorresse bem. O animal apresentou<br />

rápida recuperação pós-cirúrgica, destacando também que não ocorreu nenhuma<br />

complicação que demonstrasse aspectos negativos nesse tipo de procedimento.<br />

54


4. CONCLUSÃO<br />

O presente trabalho demonstrou a importância de se realizar um trabalho<br />

investigatório da forma mais adequada, utilizando-se de todos os recursos<br />

possíveis, a fim se chegar a um diagnóstico preciso. A colelitíase canina é uma<br />

patologia de pouco ocorrência na Medicina Veterinária e por isso, muitas vezes<br />

não é colocada como possível causa de alterações que se associam a outras<br />

patologias. O caso de colelitíase apresentado neste trabalho destaca quais são os<br />

passos e as dificuldades para se chegar ao diagnóstico e tratamento adequado<br />

dessa patologia.<br />

Foi também possível perceber que a ovariossalpingohisterectomia por<br />

videolaparoscopia é um procedimento cirúrgico que está ao alcance da veterinária,<br />

tendo seu uso em crescimento. Apesar de também possuir desvantagens, a OSH<br />

videolaparoscópica tem se destacado pelas suas vantagens, como menor trauma<br />

e menos complicações no trans e pós-operatóro, apresentando na maioria dos<br />

casos um resultado satisfatório.<br />

56


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ANEXO A – Fontes de aquisições<br />

1 Acepromazina – Acepram® - Univet. São Paulo, Brasil.<br />

2<br />

Propofol - Rapinovet® - Coopers. São Paulo, Brasil.<br />

3<br />

Isoflurano - Isoflurane® - Cristália. São Paulo, Brasil.<br />

4<br />

Poliglatina 910 - Vycril® - Johnson e Johnson Comércio e Distribuição Ltda. São<br />

Paulo, Brasil.<br />

5<br />

Náilon – Poliamida – Ethicon. São Paulo, Brasil.<br />

6<br />

Carduus marianus - Legalon® - Altana. São Paulo, Brasil.<br />

7<br />

Metronidazol - Flagil® - Rhodia Farma Ltda. São Paulo, Brasil.<br />

8<br />

Cloridrato de Tramadol - Tramal® - Pharmacia Brasil Ltda. São Paulo, Brasil.<br />

9<br />

Enrofloxacina – Flotril® - Fort Dodge Saúde Animal Ltda. São Paulo, Brasil.<br />

61


ANEXO B – Certificados dos estágios curriculares<br />

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