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o<br />
Ano I - n 1 • maio/junho de 2002<br />
PERFIL<br />
Aperfeiçoamento<br />
profissional amplia<br />
mercado de trabalho<br />
dos nutricionistas<br />
METABOLISMO<br />
Propriedades<br />
funcionais do amido<br />
resistente<br />
VITAMINA<br />
Comparação de teor<br />
de vitamina C<br />
em sucos de laranjas<br />
DIETA<br />
Comportamento<br />
alimentar<br />
em academia<br />
de ginástica<br />
www.atlanticaeditora.com.br<br />
INDÚSTRIA<br />
Óleo de palma<br />
na indústria<br />
alimentícia
o<br />
Ano I - n 2 • julho / agosto de 2002<br />
ANTIOXIDANTES<br />
CLÍNICA<br />
COMPORTAMENTO<br />
ALIMENTOS FUNCIONAIS<br />
DOSSIÊ FEIJÃO<br />
www.atlanticaeditora.com.br<br />
ISSN 1677-0234<br />
- Efeito antioxidante das vitaminas A,C, E e aterogênese (pg. 77)<br />
- Prevalência de pica em gestantes (pg. 63)<br />
- Caso clínico de anorexia nervosa em paciente masculino (pg. 100)<br />
- Estratégias nutricionais em doenças hepáticas avançadas (pg. 95)<br />
- Perfil dietético de adolescentes de diferentes níveis sociais (pg. 68)<br />
- Atuação dos frutooligossacarídeos (pg. 89)
o<br />
Ano I - n 3 • setembro/outubro de 2002<br />
FIBRA ALIMENTAR<br />
Consumo de fibras nas principais cidades do Brasil (pg.130)<br />
ALIMENTAÇÃO COLETIVA<br />
NUTRIÇÃO ESPORTIVA<br />
VITAMINAS<br />
OBESIDADE<br />
DOSSIÊ SOJA<br />
www.atlanticaeditora.com.br<br />
ISSN 1677-0234<br />
Avaliação do padrão alimentar em restaurantes por quilo ( pg.136)<br />
Avaliação de soluções hidratantes em maratonistas (pg.142)<br />
Hipovitaminose A e anemia ferropriva (pg. 155)<br />
Importância da grelina na homeostase nutricional (pg. 165)<br />
(pg. 177)
o<br />
Ano I - n 4 • novembro/dezembro de 2002<br />
ALIMENTAÇÃO COLETIVA<br />
Aplicação de método de custeio ABC (pg. 196)<br />
NUTRIÇÃO CLÍNICA<br />
TRABALHO<br />
ALIMENTAÇÃO INFANTIL<br />
BIOTECNOLOGIA<br />
DOSSIÊ BATATA<br />
www.atlanticaeditora.com.br<br />
ISSN 1677-0234<br />
Consumo alimentar em pacientes com bulimia nervosa (pg. 204)<br />
Influência do horário de trabalho no consumo alimentar (pg. 218)<br />
Aleitamento materno e desmame (pg. 223)<br />
Potencial dos alimentos geneticamente modificados (pg. 230)<br />
(pg. 234)
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
EDITORIAL 3<br />
Nutrição Brasil, nova revista de pesquisa e informação prática dos nutricionistas, Celeste Elvira Viggiano<br />
ENTREVISTA 4<br />
Critérios para o título profissional de nutricionista especialista, Rosana Nascimento, presidente do CFN<br />
ARTIGOS ORIGINAIS & REVISÕES 34<br />
Teor de vitamina C em suco de cultivares de laranja (citrus sinensis) e em diferentes sucos industrializados,<br />
Vera Lúcia Valente-Mesquita, Maria Lúcia Mendes Lopes, Glauce dos Santos Sabino, Patrícia Teixeira da<br />
Silva, Bianca Costa Alves ( pg. 34)<br />
Amido resistente: propriedades funcionais, Maria Cristina Jesus Freitas (pg. 40)<br />
Estudo do comportamento alimentar de praticantes de atividade física em uma academia de ginástica,<br />
Aliny Stefanuto, Moria Max, Eliana Menegon Zaccarelli, Márcia Daskal Hirschbruch, Juliana Ribeiro Carvalho (pg. 49)<br />
S E Ç Õ E S<br />
RESUMOS DE TRABALHOS 5<br />
INFORMES DA NUTRIÇÃO 15<br />
NOTÍCIAS 18<br />
A utilização do óleo de palma na indústria alimentícia (pg. 18)<br />
Chá, bebida para toda hora (pg. 19)<br />
Aperfeiçoamento profissional amplia mercado de trabalho dos nutricionistas (pg. 21)<br />
Como funciona o setor de alimentação coletiva no Brasil e a atuação do nutricionista (pg. 26)<br />
Índice<br />
Volume 1 número 1 - Maio/Junho de 2002<br />
NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS 28<br />
RECOMENDAÇÕES 32<br />
DRIs: Novas propostas para recomendações nutricionais, Rita de Cássia de Aquino<br />
NORMAS DE PUBLICAÇÃO 54<br />
1
2<br />
Expediente Nutrição Brasil<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Conselho científico<br />
Prof a . Dr a . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />
Prof a . Dr a . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Prof a . Dr a . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Prof a . Dr a . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />
Prof a . Ms. Lucia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Prof a . Dr a . Lúcia Marques Alves Vianna (CNPq)<br />
Prof a . Dr a . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Prof a . Dr a . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Prof a . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />
Profa. Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />
Prof a . Dr a . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />
Editor científico<br />
Prof a Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />
Editor executivo<br />
<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />
Rio de Janeiro<br />
Rua Conde de Lages, 27<br />
20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />
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Colaboradores da redação<br />
Robson Breviglieri, Ricardo Augusto Ferreira<br />
NUTRIÇÃO BRASIL É UMA<br />
PUBLICAÇÃO BIMESTRAL DA<br />
ATLÂNTICA EDITORA<br />
Redação e administração<br />
(Todo o material a ser publicado deve ser<br />
enviado para o seguinte endereço)<br />
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Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica e Fisioterapia Brasil.<br />
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padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do<br />
valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
A ciência da nutrição tem evoluído em ritmo<br />
acelerado na última década, desvendando dogmas e<br />
desmistificando tabus em várias áreas, desde a<br />
fisiologia da nutrição, a prevenção de doenças<br />
carenciais, a alimentação de atletas, até a terapêutica<br />
nutricional de doenças como as neoplasias e o diabetes.<br />
Esta nova situação exige do nutricionista<br />
atualização constante, criatividade e troca de<br />
experiências, de forma a adaptar-se às necessidades<br />
que surgem da população e da clientela, conforme<br />
nos demonstra a Dr a . Lúcia Andrade Pereira na matéria<br />
“Aperfeiçoamento profissional amplia mercado de trabalho dos<br />
nutricionistas”. Complementando esta matéria, a<br />
entrevista da Dr a . Rosane Nascimento nos orienta<br />
quanto à concessão de título de especialista<br />
promulgado aos nutricionistas, como reflexo do<br />
crescimento profissional da categoria. Estas duas<br />
matérias da nossa primeira edição refletem o nosso<br />
objetivo principal, que é a informação e atualização<br />
em todas as áreas de atuação, possibilitando o<br />
desenvolvimento profissional e estimulando a<br />
produção científica nacional, primordialmente.<br />
Já nesta edição publicamos na seção Artigos<br />
originais, a produção de colegas. No artigo “Teor de<br />
vitamina C em suco de cultivares de laranja (citrus sinensis) e<br />
em diferentes sucos industrializados” de autoria da Dr a . Vera<br />
Lúcia Valente-Mesquita e colaboradores, que avaliou<br />
o teor de ácido ascórbico no suco de cultivares<br />
diferentes de laranja. Uma contribuição para o<br />
conhecimento da demanda dessa vitamina em<br />
diferentes formas de consumo. O artigo “Estudo do<br />
comportamento alimentar de praticantes de atividade física em<br />
EDITORIAL<br />
Nutrição Brasil, nova revista de pesquisa e<br />
informação prática dos nutricionistas<br />
Profa. Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />
Editora científica<br />
uma academia de ginástica” de Aliny Stefanuto e<br />
colaboradores, discute o comportamento alimentar e<br />
o perfil nutricional de praticantes de atividade física<br />
em uma academia de ginástica, em São Paulo,<br />
apontando para a alimentação deficiente em<br />
detrimento do nível sócio-econômico e cultural.<br />
Temos ainda a contribuição da Dr a . Maria Cristina<br />
Jesus Freitas, em um texto de revisão que nos atualiza<br />
sobre a conceituação e utilização de amido resistente<br />
em “Amido resistente: propriedades funcionais”.<br />
Ainda em atualização, trazemos o texto da Dr a .<br />
Rita de Cássia de Aquino, “DRIs: Novas propostas para<br />
recomendações nutricionais”, sobre as principais mudanças<br />
nas novas recomendações, em relação à revisão de<br />
1989, assunto que é ainda tema de muitas discussões<br />
e dúvidas. E no propósito de divulgar produtos e<br />
pesquisas nacionais e internacionais, trazemos as<br />
seções Novos Produtos e Tecnologias, Informes da<br />
Nutrição e Resumos de Trabalhos.<br />
Complementando nossa edição, matérias de<br />
interesse geral, que contemplam profissionais e<br />
acadêmicos de nutrição acerca do uso do óleo de palma<br />
na industrialização de alimentos, o aumento do<br />
consumo e produção do chá de várias espécies, no<br />
Brasil. E o mercado de trabalho do nutricionista, que<br />
vem se ampliando e possibilitando novas inserções<br />
do profissional.<br />
Esperamos que esta edição seja o marco de uma<br />
nova era na produção científica nacional, e que cumpra<br />
seu papel de coadjuvante no crescimento da ciência e<br />
prática da nutrição.<br />
Bem-vindos!<br />
3
4<br />
NB Quais os critérios estabelecidos<br />
pelo Conselho Federal de<br />
Nutricionistas (CFN) para conceder<br />
o título de especialista a um<br />
nutricionista? Quais órgãos de<br />
classe farão a concessão dos<br />
títulos?<br />
Rosane Nascimento – O título<br />
de especialista é concedido ao<br />
nutricionista que tenha curso presencial<br />
de especialização, mestrado, doutorado<br />
ou livre docência, concluído, no<br />
máximo, nos últimos cinco anos. O<br />
requerente deve apresentar, também,<br />
comprovante de atuação na área<br />
pretendida. Os candidatos que<br />
solicitarem reconhecimento por mérito<br />
deverão anexar curriculum vitae específico,<br />
devidamente comprovado. Além disso, deverão<br />
apresentar os originais e cópias de carteira de<br />
identidade profissional, comprovante de quitação de<br />
anuidade do Conselho Regional de Nutricionistas<br />
(CRN) e da Associação de Nutrição filiada à<br />
Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). A<br />
concessão do título é de responsabilidade do CFN e<br />
da Asbran. O projeto piloto da titulação está sendo<br />
efetuado na jurisdição do CRN-3 (São Paulo, Paraná<br />
e Mato Grosso do Sul).<br />
NB O que representa para a categoria o<br />
estabelecimento de títulos?<br />
Rosane Nascimento – Representa a valorização<br />
profissional e objetiva atender uma necessidade<br />
diagnosticada há muito tempo por nutricionistas que<br />
passaram a atuar de uma forma intensa e muito rápida<br />
em diversas áreas. É importante frisar que neste mundo<br />
globalizado, o sucesso pessoal é fruto ou resultado de<br />
ENTREVISTA<br />
Reconhecimento de títulos de<br />
especialista pelo CFN<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Em entrevista a Nutrição Brasil, Rosane Nascimento, presidente do Conselho Federal de<br />
Nutricionistas (CFN), esclarece como se fará a concessão de títulos profissionais de<br />
especialista , que já está em experimentação na jurisdição do CRN-3.<br />
Rosane Nascimento, presidente<br />
do Conselho Federal de<br />
Nutricionistas (CFN).<br />
fatores que podem e devem ser<br />
controlados, ou seja, não é fortuito e<br />
não depende da “sorte”. Não basta<br />
sonhar com o sucesso e<br />
reconhecimento profissional. É<br />
preciso estar acordado, produzi-lo e<br />
fazer ser reconhecido. Neste sentido,<br />
o CFN e a Asbran estabeleceram o<br />
título de especialista que irá reconhecer<br />
legalmente aqueles nutricionistas que<br />
se especializaram através de cursos ou<br />
notório saber na área pretendida, ou<br />
seja, vai dar visibilidade à categoria.<br />
NBO<br />
que pode mudar para a atividade<br />
profissional a concessão de<br />
um título em uma especialidade?<br />
Rosane Nascimento – Além do<br />
reconhecimento científico, o profissional poderá<br />
utilizar-se do título em concursos públicos, exames<br />
de seleção em várias instituições. É importante<br />
lembrar que é vedado ao profissional utilizar-se de<br />
títulos que não possuam Código de Ética do<br />
nutricionista e que não forem reconhecidos pelo<br />
Conselho Nacional de Auto-Regulamentação<br />
Publicitária(CONAR).<br />
NB Quais são as especialidades que serão<br />
contempladas pelo CFN?<br />
Rosane Nascimento- Alimentação coletiva,<br />
nutrição clínica, saúde pública, indústria de alimentos<br />
e educação.<br />
NB O profissional poderá ter mais de uma<br />
especialidade?<br />
Rosane Nascimento – Sim, até duas.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Puddey IB Hodgson JM et al.,<br />
British Journal of Nutrition<br />
2002;87(2):141-145,<br />
fevereiro de 2002<br />
Hodson L et al., European Journal<br />
of Clinical Nutrition<br />
2001;55(10):908-915,<br />
outubro de 2001<br />
Resumos de trabalhos<br />
Chá preto pode reduzir risco de doenças cardíacas<br />
Tomar chá preto pode reduzir o risco de doenças cardíacas ao evitar<br />
que o sangue se aglutine e forme coágulos. As pessoas que beberam cinco<br />
xícaras de chá preto diariamente, durante um mês, apresentaram níveis<br />
mais baixos de selectina P (proteína sanguínea associada à coagulação), do<br />
que os níveis apresentados por pessoas que, durante o mesmo período,<br />
tomaram a mesma quantidade de água quente. Entretanto, outros<br />
componentes sanguíneos associados à aglutinação de sangue não foram<br />
reduzidos pelo chá.<br />
“Os resultados do estudo sugerem que níveis sanguíneos mais baixos<br />
de selectina P podem ser um mecanismo pelo qual o chá preto pode reduzir<br />
o risco cardíaco, mas é muito cedo para fazer recomendações específicas,”<br />
segundo Jonathan M. Hodgson, um dos autores do estudo. “Neste<br />
momento, o peso geral das evidências sugere que um aumento no consumo<br />
de chá – preto, oolong ou verde – está associado à redução do risco de<br />
doença cardiovascular, mas não em todas as populações”, disse Hodgson.<br />
Vários estudos associaram o consumo de chá à saúde cardíaca,<br />
provavelmente por um mecanismo de ação de compostos chamados<br />
polifenóis – antioxidantes poderosos que neutralizam os radicais livres,<br />
substâncias ligadas ao desenvolvimento de doenças. Essas moléculas<br />
prejudiciais às células ocorrem naturalmente no organismo e estão<br />
associadas ao envelhecimento, ao câncer e às doenças cardíacas. O estudo<br />
envolveu 22 adultos saudáveis e não-fumantes. Os pesquisadores mediram<br />
os níveis de vários compostos que servem como marcadores da<br />
coagulação sanguínea. Eles também mediram a presença de compostos<br />
que indicam o consumo de polifenóis na urina. Os voluntários<br />
mantiveram sua dieta rotineira durante o estudo. “O efeito do chá preto<br />
sobre a selectina P solúvel oferece um possível mecanismo para os<br />
benefícios cardiovasculares com seu uso regular”, concluiu a equipe.<br />
Mudança no consumo de gorduras reduz níveis de<br />
colesterol<br />
Uma dieta que substituiu a gordura saturada por gorduras mono ou<br />
poliinsaturadas reduziu drasticamente os níveis de colesterol de um grupo<br />
de adultos jovens em algumas semanas, segundo informaram pesquisadores<br />
da Nova Zelândia. Os adultos jovens respondem muito bem às mudanças<br />
induzidas por dieta nos níveis de colesterol plasmático. Os pesquisadores<br />
avaliaram um grupo de 71 adultos, entre 21 e 40 anos, que se submeteu a<br />
uma dieta com gordura saturada durante 2,5 semanas, e posteriormente a<br />
uma dieta com gordura mono ou poliinsaturada por outras 2,5 semanas. A<br />
proporção total de calorias da dieta derivadas de gordura permaneceu a<br />
mesma, em torno de 1/3. A dieta saturada incluiu grandes quantidades de<br />
manteiga e laticínios. O grupo que fez a dieta com gordura monoinsaturada<br />
evitou laticínios e usou produtos como azeite de oliva. O grupo da dieta<br />
5
6<br />
Continuação<br />
Braga M. et al., Clin Nutr<br />
2002;21(1):59-65,<br />
fevereiro de 2002<br />
Edward Giovannucci et al.,<br />
Departments of Nutrition and<br />
Epidemiology, Harvard School<br />
of Public Health, Boston, Journal<br />
of the National Cancer Institute,<br />
2002; 94: 391-398<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
com gordura poliinsaturada substituiu a manteiga por óleo de girassol. Os<br />
voluntários receberam receitas e manuais com sugestões sobre como ajustar<br />
a dieta. Cada participante preencheu um registro de três dias de dieta.<br />
Todos foram submetidos a exames para medir os níveis de colesterol no<br />
início e final do período da dieta.<br />
Comparados aos níveis de colesterol sob a dieta com gordura saturada,<br />
quem usou gordura poliinsaturada teve uma redução dos níveis de colesterol<br />
de 19%. O grupo da gordura monoinsaturada teve uma redução nos níveis<br />
sanguíneos de colesterol de 12%. No geral, os voluntários tiveram uma<br />
redução na quantidade de gordura saturada consumida diariamente de 28<br />
e 29 gramas quando fizeram a dieta de gordura mono e poliinsaturada,<br />
respectivamente. Além disso, houve uma redução de cerca de 9% de energia<br />
derivada de gordura.<br />
Nutrição enteral precoce após cirurgia digestiva:<br />
resultados de uma experiência de 9 anos<br />
Introdução: A nutrição enteral preoce (NEP) após cirurgia poderia ser<br />
preferível à alimentação parenteral, mas o uso clínico é limitado em razão<br />
de efeitos adversos gastrintestinais e complicações ligadas à alimentação<br />
por tubo. O estudo avaliou a segurança e tolerância de uma alimentação<br />
jejunal pós-cirurgia precoce e os possíveis fatores de risco por efeitos<br />
adversos gastrintestinais.<br />
Métodos: 650 pacientes tratados por NEP após cirurgia digestiva para<br />
câncer foram observados. A NEP foi iniciada 12 horas depois da cirurgia<br />
via tubo naso-jejunal ou cateter de jejunostomia. A taxa de infusão foi<br />
aumentada progressivamente para atingir o objetivo nutricional (25 kcal/<br />
kg/dia) durante o quarto dia pós-cirurgia. Protocolos rigorosos de dieta e<br />
observação dos efeitos adversos gastrintestinais foram aplicados.<br />
Resultados: 402 pacientes tinham uma jejunostomia e 248 um tubo<br />
naso-jejunal. Efeitos adversos gastrintestinais foram observados em 194/<br />
650 pacientes (29,8%). Em 136/194 pacientes, esses eventos foram<br />
resolvidos pelos protocolos de tratamento. O objetivo nutricional foi<br />
atingido em 592/650 pacientes (91,1%). 58 pacientes (8,9%) mudaram<br />
para alimentação parenteral por causa de intolerância à NEP. As<br />
complicações cirúrgicas intra-abdominais e a concentração baixa de<br />
albumina sérica (
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Continuação<br />
David J Baer et al., American<br />
Journal of Clinical Nutrition, 2002;<br />
75: 593-599,<br />
fevereiro de 2002<br />
Pesquisas anteriores sobre a associação entre licopeno e câncer da<br />
próstata não foram conclusivas. Os pesquisadores avaliaram novos dados<br />
do Health Professionals Follow-up Study (HPFS). Este trabalho é um estudo<br />
de coorte de 51.259 profissionais de saúde dos EUA. Os participantes<br />
tinham entre 40 e 75 anos no início do estudo, em 1986. Foram coletados<br />
dados sobre idade, status de casamento, peso e altura, antecedentes medicais,<br />
tratamentos, histórico de tabagismo, atividade física e dieta alimentar.<br />
A equipe fez testes de detecção do câncer da próstata em 47.365<br />
participantes de 1986 até 1998. Eles completaram questionários de dieta<br />
em 1986, 1990 e 1994. No total, 2.481 participantes desenvolveram um<br />
câncer da próstata entre 1986 e janeiro de 1998. O resultado do estudo<br />
concluiu que o consumo freqüente de tomates ou licopeno diminui o risco<br />
de câncer.<br />
Quando foram utilizadas as médias cumulativas dos 3 questionários,<br />
a ingestão de licopeno foi associada com a redução do risco. O risco relativo<br />
era de 0,84 para os quintiles elevados de ingestão vs. quintiles baixos. A<br />
ingestão de molho de tomate foi associada com uma maior diminuição do<br />
risco. O risco relativo para 2 ou mais ingestões por semana vs. menos do<br />
que uma ingestão por mês foi de 0,77. Isso foi especialmente significativo<br />
para os cânceres extra-prostáticos.<br />
Os pesquisadores notaram que o molho de tomate é a fonte primária<br />
de licopeno biodisponível. A magnitude da associação entre os produtos<br />
de tomate e a diminuição do risco de câncer da próstata é moderada e<br />
podia ser facilmente ignorada por estudos menores. Os pesquisadores<br />
insistem no fato que as avaliações repetidas das dietas foram essenciais<br />
para determinar a relação entre a ingestão do licopeno e o risco.<br />
O consumo moderado de álcool diminui o risco<br />
cardiovascular em mulheres idosas<br />
O consumo moderado de álcool – um ou dois drinques por dia –<br />
diminui o risco cardiovascular em mulheres pós-menopausadas em mais<br />
do que 13%, diminuindo as concentrações de LDL-colesterol,<br />
apolipoproteína B e triacilglicerol e aumentando as concentrações de HDLcolesterol<br />
e apolipoproteína A-1, segundo este estudo do US Department<br />
of Agriculture in Beltsville, Maryland. Já foi demonstrado anteriormente<br />
que um aumento de 0,26 mmol/l de HDL-colesterol em mulheres é<br />
associado com uma diminuição em 32 até 42% do risco de doença arterial<br />
coronariana.<br />
“Aplicando a avaliação do risco à magnitude de alterações dos lípides observada<br />
neste estudo, podemos estimar que o consumo de um drinque por dia diminui<br />
potencialmente o risco em 4 ou 5%, e dois drinques em 10 ou 13%”, segundo os<br />
pesquisadores.<br />
Foram medidos os efeitos do consumo moderado de álcool sobre<br />
lípides e lipoproteínas em 51 mulheres menopausadas. Os participantes<br />
consumiram bebidas sem álcool (grupo controle), 15 g (um drinque), ou<br />
30 g (2 drinques) de álcool por dia durante 8 semanas como parte de uma<br />
dieta controlada. Essa dieta forneceu 15% das calorias em proteína, 53%<br />
em carboidratos e 32% em gordura. Os participantes foram randomizados.<br />
Em comparação com as concentrações após a dieta controle, o LDL<br />
colesterol plasmático diminuiu não significativamente de 3,45 para 3,34<br />
7
8<br />
Continuação<br />
Donna Spruijt-Metz et al.,<br />
American Journal of Clinical<br />
Nutrition, 2002; 75: 581-586,<br />
março de 2002<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
mmol/l e o triacilglicerol de 1,43 para 1,34 mmol/l após 15g de álcool por<br />
dia e não foram observadas diminuições significativas em lípides após aumento<br />
da ingestão de álcool de 15 para 30 g/dia. O HDL colesterol plasmático registrou<br />
um aumento não significativo de 1,40 para 1,43 mmol/l após 15 g de álcool/<br />
dia, mas aumentou para 1,48 mmol/l após 30 g álcool/dia.<br />
Apolipoproteína A-1 aumentou significativamente e apolipoproteína<br />
B diminuiu significativamente após 30g de álcool/dia em comparação com<br />
as concentrações após dieta controle.<br />
Segundo os pesquisadores, essas observações são importantes porque<br />
o HDL colesterol aparece em mulheres como um marcador mais<br />
importante de risco de doença cardiovascular do que o LDL colesterol. O<br />
mecanismo de ação do álcool sobre os lípides sanguíneos é ainda pouco<br />
conhecido. As diferenças do efeito do álcool sobre os lípides entre mulheres<br />
pré e pós-menopausa pode ser relacionado ao efeito do álcool sobre as<br />
concentrações de estrogênio.<br />
Relação entre os costumes alimentares maternos<br />
e a adiposidade da criança<br />
Os costumes alimentares maternos explicam mais a variância da<br />
gordura total das crianças do que a ingestão energética. A preocupação da<br />
mãe pelo peso da criança é relacionada com a massa de gordura mais<br />
elevada e a pressão da mãe para comer é relacionada com massa de gordura<br />
menor em crianças, em ambos meninos e meninas brancos ou afroamericanos.<br />
Estudos anteriores encontraram relações entre IMC e práticas<br />
restritivas e monitoraram a relação entre IMC, preocupação com o peso e<br />
pressão para comer. Este estudo sugere que só o interesse pelo peso da<br />
criança e a pressão para comer são diretamente relacionados com a massa<br />
total de gordura.<br />
Esses resultados podem apresentar implicações importantes para os<br />
esforços de prevenção da obesidade porque os dados mostram uma relação<br />
entre comportamentos específicos e suscetíveis de alteração dos pais e a<br />
gordura total da criança.<br />
A equipe estudou 74 crianças brancas e 46 crianças afro-americanas<br />
e suas mães. A idade média dos participantes era 11 anos. Tinham 25<br />
meninos e 49 meninas no grupo branco e 22 meninos e 24 meninas no<br />
grupo afro-americano. A composição corporal foi medida por<br />
absorciometria de raio X e os costumes alimentares das mães foram<br />
avaliados pelo “Questionário de Alimentação Infantil”. Segundo os<br />
resultados, a pressão para comer e a preocupação pelo peso da criança<br />
explicam 15% da variância da massa total de gordura, qualquer seja o grupo,<br />
e a ingestão energética explica 5% da variância. A etnicidade, sexo e status<br />
socioeconômico não contribuem significativamente na variância da massa<br />
total de gordura.<br />
Apesar do fato que as mães afro-americanas reportaram maiores níveis<br />
de controle, responsabilidade, práticas restritivas, pressão para comer e<br />
preocupação com o peso do que as mães brancas, a etnicidade não é um<br />
fator significativo da massa total de gordura nesta amostra. Os achados do<br />
estudo sugerem que mecanismos semelhantes são utilizados através das<br />
duas etnicidades.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Continuação<br />
Leslie M Klevay, David B Milne,<br />
American Journal of Clinical<br />
Nutrition, 2002; 75: 550-554,<br />
fevereiro de 2002<br />
Eileen Birch et al., American<br />
Journal of Clinical Nutrition<br />
2002;75(3):570-580,<br />
fevereiro de 2002<br />
Uma das implicações dês te estudo para a saúde pública é que<br />
intervenções diretas na família, concentradas sobre a educação dos pais<br />
são necessárias para combater a epidemia atual de obesidade infantil.<br />
Segundo os pesquisadores, estratégias de controle elevado da<br />
alimentação podem ser relacionadas a problemas de balanço energético.<br />
Tais estratégias poderiam interferir com a capacidade da criança para autoregular<br />
sua ingestão energética.<br />
Baixas concentrações de magnésio podem alterar o<br />
ritmo cardíaco<br />
A baixa concentração de magnésio na alimentação pode aumentar a<br />
ectopia supraventricular. O estudo pesquisou as concentrações de magnésio<br />
em 22 mulheres pós-menopausa e acharam que as mulheres que ingerem<br />
menos do que a metade da dose diária recomendada (Recommended Dietary<br />
Allowance – RDA) de 320 mg/dia mostraram um aumento significativo dos<br />
batimentos supraventriculares ou ambos supraventriculares e ventriculares.<br />
Os participantes do estudo tomaram uma dieta convencional com<br />
menos do que a metade ou mais que a RDA para magnésio, durante 81<br />
dias. As participantes foram randomizados em grupos paralelos, neste<br />
estudo duplo-cego.<br />
As concentrações de magnésio foram medidas por espectroscopia e<br />
análise iono-específica de eletrólitos. ECG Holter foram usados por período<br />
de 21 horas. Os resultados mostraram que as concentrações de magnésio<br />
em eritrócitos, plasma e urinas foram significativamente menores quando o<br />
magnésio alimentar estava menor. O Holter demonstrou um aumento<br />
significativo dos batimentos supraventriculares ou supra e ventriculares em<br />
participantes com ingestão menor de magnésio. Mas não foram encontrados<br />
diminuição de concentração do magnésio, cálcio ou potássio plasmáticos.<br />
Em conclusão, a RDAS de 320 mg/dia parece correta, e 130 mg/dia<br />
é insuficiente. As pessoas que moram em áreas de água doce, que usam<br />
diuréticos ou que apresentam uma pré-disposição à perda de magnésio ou<br />
batimentos ectópicos, podem necessitar mais magnésio na alimentação.<br />
Fórmula com suplemento em ácidos graxos melhora a<br />
maturação cerebral de crianças<br />
Crianças recebendo formulas contendo ácidos graxos poliinsaturados<br />
de cadeia longa após desmame, mostraram melhor maturação da função<br />
cortical do que as crianças que não receberam esta suplementação.<br />
Durante as 6 primeiras semanas, as crianças receberam uma<br />
alimentação suplementada em ácidos graxos poliinsaturados no leite<br />
materno. O estudo pesquisou se a administração posterior destes ácidos<br />
graxos (após desmame) influencia o desenvolvimento cerebral.<br />
Os pesquisadores observaram o desenvolvimento do córtex visual<br />
durante as 6 primeiras semanas da vida e o compararam com o<br />
desenvolvimento durantes as semanas 7-52, com ou sem suplemento<br />
alimentar. Os participantes foram 65 crianças saudáveis desmamadas da<br />
alimentação maternal na idade de 6 semanas e randomizadas.<br />
Apesar do suplemento alimentar em ácidos graxos no leite maternal<br />
9
10<br />
Continuação<br />
Carol S Johnston et al.,<br />
Journal of the American College<br />
of Nutrition 2002;21(1):55-61,<br />
fevereiro de 2002<br />
Monique Breteler et al.,<br />
Erasmus University Medical<br />
School, Rotterdam, The<br />
Netherlands, Lancet 2002; 359:<br />
281-86, fevereiro de 2002<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
durante as 6 primeiras semanas de vida, as crianças que não receberam<br />
mais o suplemento mostraram uma acuidade visual significativamente<br />
menor nas semanas 17, 26 e 52, e uma steroacuidade significativamente<br />
menor na semana 17 do que as crianças que continuaram recebendo a<br />
suplementação. As melhores acuidade e steroacuidade na idade de 17<br />
semanas foram relacionadas à maior concentração plasmática de ácido<br />
docosahexaenoico. Melhor acuidade na semana 52 foi relacionada à maior<br />
concentração de ácido docosahexaenoico no plasma e nos eritrócitos. Os<br />
resultados sugerem que período crítico durante o qual a suplementação<br />
em ácidos graxos influencia a maturação da função cortical se prolonga<br />
além das 6 semanas de idade.<br />
Perda de peso: As dietas com taxas elevadas de<br />
proteínas superem as dietas de carboidratos<br />
As dietas baixas em gordura e elevadas em proteínas são mais eficazes<br />
para perder peso do que as dietas baixas em gordura e ricas em carboidratos.<br />
Segundo os pesquisadores, que compararam as duas dietas do ponto de<br />
vista da termogênese aguda induzida pela refeição, o resultado poderia ser<br />
explicado pelo gasto energético com a primeira dieta.<br />
Os participantes eram 10 mulheres, 19-22 anos, saudáveis, não<br />
fumantes neste estudo randomizado. As participantes fizeram refeições<br />
com taxas elevadas de proteínas ou de carboidratos durante um dia. Os<br />
testes foram separados por intervalos de 28 ou 56 dias. Dietas de controle<br />
foram consumidas antes de cada dia de teste, com medições da despesa<br />
energética de repouso, o quociente respiratório não protéico e a temperatura<br />
corporal. Amostras de sangue e urina foram coletadas.<br />
As medições foram efetuadas após um jejum de 10 horas, 2,5 horas<br />
depois do café da manhã, almoço e jantar e mostraram que a termogênese<br />
média pós-prandial era aproximadamente 2 vezes maior na dieta protéica<br />
do que na dieta com carboidratos.<br />
Depois do café da manhã e do jantar as diferenças são significativas<br />
(p < 0,05) e depois do jantar a temperatura corporal era mais elevada com<br />
a dieta protéica (p = 0,08). Não foram observadas alterações entre as dietas<br />
no quociente respiratório pós-refeição nem nas taxas de filtração glomerular<br />
de 24 horas.<br />
O consumo moderado de álcool pode diminuir o risco<br />
de demência – Rotterdam Study<br />
Os indivíduos com idade de mais de 55 anos parecem ter risco<br />
reduzido de demência se eles são consumidores leves ou moderados de<br />
bebidas alcoólicas. Segundo os pesquisadores, o tipo de álcool não faz<br />
diferença. O consumo leve ou moderado – 1 a 3 drinques por dia – foi<br />
associado no estudo com uma diminuição em 42% do risco para todas as<br />
demências, e em 70% para o risco de demência vascular.<br />
O consumo leve a moderado de álcool é associado com risco<br />
diminuído de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, e<br />
mortalidade total em homens e mulheres idosos. Esta crescendo a evidência<br />
que a doença vascular é associada com diminuição cognitiva e demência,
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Continuação<br />
Diane Feskanich et al.,<br />
JAMA, 2002; 287: 47-54<br />
e, conseqüentemente, o consumo leve a moderado de álcool poderia<br />
também diminuir o risco de demência e de doença de Alzheimer. Ao<br />
contrário, inúmeros estudos mostram os efeitos neurotóxicos do consumo<br />
de grandes quantidades de álcool.<br />
Os investigadores examinaram a relação entre o consumo de álcool e<br />
o risco de demência em uma coorte do Rotterdam Study – estudo prospectivo<br />
baseado em uma população de 7.983 indivíduos de 55 anos. Encontraram<br />
5.395 pessoas sem demência no início (1990-93) e que entregaram dados<br />
completos sobre o seu consumo alcoólico. O sistema de controle permitiu<br />
conseguir um seguimento quase completo (99,7%) até o fim de 1999. Após<br />
ajuste para idade, sexo, pressão sanguínea sistólica, educação, tabagismo,<br />
IMC, os pesquisadores compararam o risco de desenvolver demência entre<br />
indivíduos bebedores regulares e indivíduos que não bebem álcool.<br />
Durante os 6 anos de seguimento, 197 indivíduos do grupo<br />
desenvolveram demência – 146 doenças de Alzheimer, 29 demências<br />
vasculares, 22 outras demências. O consumo médio de álcool era de 0,29<br />
drinque por dia. O consumo leve ou moderado de álcool foi<br />
significativamente associado com risco menor de qualquer demência ou<br />
demência vascular.<br />
Uma explicação possível é que o álcool pode diminuir os fatores de<br />
risco vasculares, através o efeito inibidor do etanol sobre a agregação<br />
plaquetária, ou através da alteração do perfil lipídico plasmático. Uma<br />
segunda explicação é que o álcool teria um efeito direto sobre a cognição<br />
através da liberação de acetilcolina no hipocampo. Existem evidências do<br />
que acetilcolina facilita a aprendizagem e memória.<br />
Ingestão elevada de vitamina A dobra o risco de<br />
fratura do quadril na pós-menopausa<br />
O risco de fratura do quadril quase dobra em mulheres na pósmenopausa<br />
que consumem elevadas taxas de vitamina A, em comparação<br />
com mulheres com consumo menor desta vitamina. Esta relação forte e<br />
positiva entre consumo de retinol e fratura do quadril foi observada só em<br />
mulheres que não recebem tratamento de reposição hormonal.<br />
Existem evidências que o consumo crônico de vitamina A em excesso,<br />
principalmente a partir de retinol, pode contribuir para o desenvolvimento<br />
de fraturas osteoporóticas no quadril das mulheres. Ao contrário do retinol,<br />
o consumo elevado de beta-caroteno não aumenta significativamente o<br />
risco de fratura do quadril.<br />
O estudo utilizou os dados de 18 anos de acompanhamento de 72.337<br />
mulheres do sistema de saúde. Em razão da taxa elevada de absorção e da<br />
grande capacidade de estoque do retinol no corpo humano, a toxicidade<br />
da vitamina A pode resultar de uma ingestão aguda de dose muito elevada,<br />
geralmente mais do que 100.000 UI ou da exposição repetida durante vários<br />
meses ou semanas a doses inferiores (entre 25.000 e 50.000 UI por dia).<br />
A toxicidade da vitamina A não foi observada após ingestão de doses<br />
elevadas de beta caroteno, provavelmente em razão das limitações à sua<br />
absorção e conversão em retinal.<br />
Os pesquisadores sugerem que as quantidades de retinol nos alimentos<br />
e suplementos de vitaminas precisam de uma reavaliação porque eles aumentam<br />
significativamente o consumo de retinol total nos Estados-Unidos.<br />
11
12<br />
Continuação<br />
Richard S. Strauss et al., JAMA,<br />
2001; 286: 2845-2848<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
A idade das participantes, todas selecionadas dos registros de enfermeiras<br />
de 11 Estados americanos, era entre 34 e 77 anos. Elas apresentaram<br />
603 acidentes de fratura do quadril após trauma leve ou moderado.<br />
Após ajuste dos fatores, mulheres no quintil o mais elevado de ingestão<br />
de vitamina A total, apresentaram um risco significativamente elevado (1,48)<br />
de fratura do quadril em comparação com mulheres no menor quintil.<br />
Esse risco aumentado foi atribuído em primeiro ao retinol, mas o risco é<br />
atenuado em mulheres tratadas com reposição hormonal.<br />
O sobrepeso nas crianças continua aumentando<br />
nos Estados Unidos<br />
A prevalência de crianças com sobrepeso está em alta nos Estados<br />
Unidos. O aumento é mais importante em meninos, crianças afroamericanas<br />
e hispânicos e entre as crianças morando nos Estados do sul.<br />
Em 1998, mais de 21% das crianças afro-americanas e hispânicas do National<br />
Longitudinal Survey of Youth (NLSY) foram classificadas com sobrepeso. As<br />
diferenças em função da raça/etnia são importantes e estatisticamente<br />
significativas após ajuste pela renda da família e outros fatores. Eles<br />
observaram também que a prevalência do sobrepeso aumentou<br />
aproximadamente em 50% em crianças brancas não-hispânicas entre 1986<br />
e 1998. Este aumento aparece modesto quando comparado ao aumento<br />
de 3 dígitos em percentagem em crianças de minorias.<br />
O sobrepeso foi definido como IMC > 95º percentil para idade e<br />
sexo, e prevalência e criança em risco quando > 85º percentil para idade e<br />
sexo. 8.270 crianças foram incluídos no estudo. Entre 1986 e 1998, o<br />
sobrepeso aumentou significativamente entre crianças afro-americanas,<br />
hispânicas e brancas. Em 1998, a prevalência de sobrepeso aumentou para<br />
21,5% em afro-americanas, 21,8% em hispânicas e 12,3% em brancas nãohispânicas.<br />
As crianças com sobrepeso eram mais pesadas em 1998 do<br />
que em 1986.<br />
Os pesquisadores concluem que o sobrepeso em criança, bem como<br />
outros fatos adversos na saúde, refletem a convergência de vários fatores<br />
biológicos, econômicos e sociais. O sobrepeso é a consequência de varias<br />
causas, ‘as vezes intimas’ como o jantar familiar, ou outras sedutoras como<br />
a televisão ou os videogames. Lanches escolares com taxa elevada de gordura<br />
são uma tentação poderosa e um sinal claro de normas nutricionais aceitadas.<br />
Enquanto estratégias inovadoras são avaliadas para lidar com este<br />
tipo de ocorrência, nenhuma intervenção tem se mostrado capaz para<br />
diminuir significativamente a prevalência da obesidade e do sobrepeso em<br />
criança. Como o tabagismo, a gravidez em adolescente e a violência em<br />
jovem, o sobrepeso é prevalente porque as raízes comportamentais são<br />
profundas. Em razão das consequências da inatividade da criança, da<br />
pobreza da nutrição e do sobrepeso, medidas urgentes são necessárias<br />
para combater este epidemia.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Kay-Tee Khaw etal., Department<br />
of Clinical Gerontology, Institute<br />
of Public Health, University of<br />
Cambridge, Cambridge, BMJ<br />
2001;323:1286-8,<br />
dezembro de 2001<br />
Sally D Poppitt et al.,<br />
American Journal of Clinical<br />
Nutrition 2002;75(1):11-20,<br />
Janeiro de 2002<br />
Níveis de colesterol diminuem em indivíduos que<br />
tomam mais refeições<br />
Concentrações de colesterol são aproximadamente 5% inferiores em<br />
homens e mulheres que fazem 6 refeições ou mais por dia, quando<br />
comparados com pessoas que fazem 1 ou 2 refeições por dia.<br />
“Esta diferença persiste apesar da ingestão de quantidades maiores<br />
de calorias – inclusas gorduras – pelos homens e mulheres que fazem mais<br />
refeições. Precisamos considerar não só o que ingerimos mais também a<br />
frequência com qual nos alimentamos,” diz Dr Kay-Tee Khaw.<br />
As concentrações de lípides sanguíneos foram medidas em 14.666<br />
homens e mulheres com idade entre 45 e 75 anos, que participaram do<br />
Norfolk Cohort of the European Prospective Investigation into Cancer (EPIC Norfolk).<br />
Pequenos estudos prévios indicaram que indivíduos que fazem mais<br />
refeições apresentam colesterol total e LDL-colesterol menor do que as<br />
pessoas que tomam uma refeição importante. Os resultados foram menos<br />
conclusivos no que diz respeito às concentrações de HDL-colesterol,<br />
apolipoproteínas, glicose sanguínea e secreção de insulina.<br />
O estudo investigou a relação entre a frequência das refeições e as<br />
concentrações de colesterol total, LDL-colesterol e HDL colesterol em<br />
uma população britânica de homens e mulheres com idade média.<br />
Eles mostraram que as concentrações médias de colesterol total e<br />
LDL-colesterol diminuíram em uma relação continua com o aumento da<br />
frequência diária das refeições em homens e mulheres. Nenhuma relação<br />
consistente foi observada para o HDL-colesterol, IMC, relação cinturaquadril<br />
ou pressão sanguínea.<br />
As concentrações médias de colesterol diferem de aproximadamente<br />
0,25 mmol/l entre os indivíduos tomando 6 refeições por dia em<br />
comparação com 1 ou 2 refeições por dia. Esta diferença foi reduzida para<br />
0,15 mmol/l após ajuste para variáveis como idade, obesidade, tabagismo,<br />
atividade física, ingestão calórica e tipo de nutrientes (álcool, gordura, ácidos<br />
graxos, proteínas e carboidratos).<br />
“Apesar de não serem grande demais, esta diferença na concentração<br />
do colesterol é comparável ao resultado obtido em estudos metabólicos<br />
com alteração da ingestão de gordura ou de colesterol, bem como em<br />
estudos controlados sobre a frequência das refeições,” dizem os<br />
pesquisadores.<br />
Esta diferença é também associada em estudos à diminuição de doença<br />
arterial coronariana em 10-20%. Se aplicadas à população geral, tais<br />
diminuições teriam um impacto substancial, notavelmente em indivíduos<br />
idosos, que têm taxa elevada de doença cardíaca.<br />
Efeitos a longo prazo de uma dieta sem limitação,<br />
pobre em gordura e rica em carboidratos, sobre o peso<br />
corporal e os lípides sanguíneos em indivíduos<br />
portados de síndrome metabólica<br />
Introdução: Indivíduos com sobrepeso e síndrome metabólico<br />
apresentam risco maior de diabetes tipo 2 e doença arterial coronariana.<br />
Ganho de peso e parâmetros da síndrome podem melhorar após<br />
intervenção dietética.<br />
13
14<br />
Continuação<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Objetivo: Investigamos os efeitos da substituição de um quarto da<br />
ingestão diária de gordura por carboidratos simples ou complexos sobre o<br />
peso corporal e o metabolismo intermediário.<br />
Desenho: 46 indivíduos com mais de três fatores de risco de síndrome<br />
metabólico foram randomizados, para receber uma dieta controlada, uma<br />
dieta pobre em gordura e rica em carboidratos complexos (LF-CC), ou<br />
uma dieta pobre em gordura e carboidratos simples (LF-SC) durante 6<br />
meses. 39 indivíduos completaram o estudo. Aproximadamente 60% da<br />
ingestão diária foram fornecidos gratuitamente por um supermercado. Não<br />
tinha limites à quantidade de alimentos. Peso corporal, IMC, pressão<br />
sanguínea e lípides sanguíneos foram medidos no início e nos meses 2, 4 e 6.<br />
Resultados: Foi observada uma ação significativa sobre o peso corporal<br />
e IMC (P < 0,001). A perda de peso foi maior com a dieta LF-CC [alteração<br />
em peso corporal: dieta controlada 1,03 kg (NS); dieta LF-CC, - 4,25 kg (P<br />
< 0,01); dieta LF-SC, -0,28 kg (NS)]. O colesterol total diminuiu em 0,33<br />
mmol/l, 0,63 mmol/l, e 0,06 mmol/l em indivíduos consumindo dietas<br />
controle, LF-CC e LF-SC, respectivamente (diferença entre grupos<br />
LF-CC e LF-SC: P < 0,05). Não foi observada alteração significativa<br />
no LDL-colesterol, enquanto que o HDL-colesterol diminuiu nos<br />
três grupos (P < 0,0001). As concentrações de triacilglicerol foram<br />
maiores no grupo LF-SC do que nos outros dois grupos (P < 0,05).<br />
Conclusões: Uma dieta rica em carboidratos e baixa em gordura em<br />
indivíduos com sobrepeso e metabolismo intermediário anormal, pode<br />
produzir uma perda de peso moderada e melhorar o colesterol plasmático.<br />
O aumento de carboidratos simples na dieta não é responsável de ganho<br />
de peso, mas também não melhora o peso corporal ou o perfil lipídico.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Informes da nutrição<br />
Composição nutricional das hortaliças<br />
A Embrapa Hortaliças, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa<br />
Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,<br />
publicou a primeira Tabela de Composição Nutricional das Hortaliças, a<br />
partir de importantes referências internacionais. A tabela tem informações<br />
sobre a quantidade de calorias, porcentagem de fibras, matéria seca,<br />
vitaminas e sais minerais, e apresenta também a ingestão recomendada de<br />
nutrientes para os indivíduos, feita pela FAO – Food and Agriculture<br />
Organization, órgão da Organização Mundial da Saúde. A aquisição da<br />
tabela pode ser feita diretamente na Embrapa Hortaliças pelo telefone<br />
(61) 385 9110 ou pelo e-mail ac.hortalicas@embrapa.br ao preço de R$<br />
2,50 mais as despesas de envio.<br />
Qualidade de vida com dietas saudáveis<br />
A Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional)<br />
inicia uma série de atividades relacionadas à qualidade de vida nas empresas<br />
com o lançamento das “Dietas saudáveis”. Esse produto consiste em um<br />
material didático com informações nutricionais em formato inédito: são<br />
discos compostos por circunferências sobrepostas que, conforme são<br />
movimentadas, apresentam os alimentos que devem ser consumidos, a<br />
porção diária, seu teor calórico e de fibras.<br />
Elaborada pela nutricionista Maria Inês Marcondes Coelho, a coleção<br />
“Dietas saudáveis” reúne seis discos com os seguintes temas: “Como<br />
manter a boa forma”, “Diabetes”, “Colesterol”, “Pressão Alta”, “Atividades<br />
Diárias” e “Nutrição na Terceira Idade”. Esses rodetes trazem os alimentos<br />
subgrupados em carnes, peixes, laticínios, vegetais, frutas e cereais; dicas<br />
de saúde e o nome e e-mail da nutricionista que esclarece dúvidas<br />
gratuitamente pela Internet.<br />
Essa forma lúdica de<br />
receber orientação sobre<br />
como se alimentar é uma<br />
idéia do empresário Marcelo<br />
Fontenelle que, ao descobrir<br />
ser diabético, percebeu que<br />
não era fácil monitorar suas<br />
refeições. “O produto é uma<br />
forma da empresa estender<br />
a responsabilidade social até<br />
a casa dos funcionários<br />
beneficiando também suas<br />
famílias”, diz Fontenelle.<br />
O investimento no<br />
produto “Dietas Saudáveis”<br />
varia conforme a quantidade<br />
15
16<br />
Continuação<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
solicitada e, como outros benefícios voltados para os trabalhadores, pode<br />
ser deduzido do Imposto de Renda da empresa e está em conformidade<br />
com o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). A Lei 6.321, artigo<br />
3 o , prevê que os programas de alimentação das empresas, PAT´s, devem<br />
propiciar condições de avaliação do teor nutritivo de alimentação de seus<br />
funcionários.<br />
“No pedido mínimo, de 100 unidades, o preço unitário do kit<br />
para empresa é de R$7,50, o que corresponde a um valor menor que um<br />
tíquete alimentação, com a vantagem de ter uma durabilidade de anos”,<br />
compara Fontenelle.<br />
Mais informações podem ser obtidas nas filiais da ABRH em todo o<br />
Brasil ou por meio do site: www.dietasaudavel.com.br<br />
Sistema facilita acesso às leis<br />
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, em parceria<br />
com a Bireme/Opas – Centro Latino-americano e do Caribe de Informação<br />
em Ciência e Saúde, criou um eficiente serviço de acesso rápido interativo<br />
à legislação de vigilância sanitária, com textos completos, atualizados e<br />
comentados, denominado Anvisalegis. O sistema possibilita aos<br />
interessados conhecer as normas produzidas pela Anvisa e demais órgãos<br />
federais normatizadores, de matérias relacionadas com a vigilância sanitária.<br />
Para maiores informações basta consultar o site www.anvisa.gov.br ou email:<br />
infovisa@anvisa.gov.br<br />
Colégio Dante Alighieri recebe o selo SBC/Funcor:<br />
alimentação saudável para os alunos<br />
O Colégio Dante Alighieri é o primeiro da cidade de São Paulo a<br />
receber o selo SBC/Funcor por oferecer aos seus alunos quatro cardápios<br />
dentro de teores considerados não prejudiciais à saúde do coração.<br />
Aprovados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia/Funcor (Fundação<br />
do Coração), os kits fazem parte do serviço de alimentação e nutrição do<br />
colégio, que além de lanchonete tradicional, desenvolve cardápios especiais,<br />
apropriados para suprir as necessidades calóricas dos alunos no período<br />
em que permanecem na escola.<br />
O selo de aprovação médica SBC/Funcor<br />
identifica alimentos saudáveis, com baixo teor de<br />
gordura e colesterol, com o objetivo de reduzir os<br />
riscos para o coração, sendo um indicador de<br />
produtos de boa qualidade. Está em marcas como<br />
Parmalat, Kellogg’s, Becel, Danone, Yakult,<br />
Santalucia, Cargill, entre outras.<br />
De acordo com o presidente do Colégio Dante<br />
Alighieri, Guglielmo Raul Falzoni, “esta conquista<br />
representa o reconhecimento do trabalho<br />
desenvolvido pela entidade, que busca oferecer<br />
qualidade máxima, não só no ensino, mas nas<br />
atividades que o cercam, como a alimentação, o<br />
transporte, a segurança, etc”. O colégio adota desde
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Continuação<br />
1996 um programa de supervisão alimentar, sob a responsabilidade da<br />
nutricionista Dra. Martha Fonseca Paschoa. “Nosso cardápio é rico em<br />
carboidrato e pobre em gordura saturada, o que proporciona aos alunos<br />
energia para gastarem aqui, sem interferir nas refeições posteriores (almoço<br />
ou jantar), que eles farão em casa”, acrescenta Paschoa.<br />
Para o presidente da SBC/Funcor, Dr. Celso Amodeo, é importante<br />
que os pais saibam da qualidade da refeição servida dentro de uma escola.<br />
“O Colégio Dante Alighieri dá um passo importante na prevenção de<br />
doenças cárdio-vasculares, já que muitas delas se iniciam nos primeiros<br />
anos de vida. É na infância e adolescência que os hábitos saudáveis devem<br />
ser incorporados para que se obtenham os benefícios para o resto da vida”,<br />
constata.<br />
Como não existe período integral, os lanches do Colégio Dante<br />
Alighieri foram desenvolvidos como base para as refeições intermediárias<br />
matutinas e vespertinas. Criados para diminuir as filas no momento do<br />
intervalo e atingir também um público que não tinha acesso à lanchonete<br />
(crianças menores), os kits são entregues nas salas de aula, com atendimento<br />
personalizado e individualizado, respeitando os hábitos alimentares dos<br />
alunos, dentro do que é oferecido no cardápio padrão.<br />
O serviço de kit lanche, além de variedade e proporcionalidade,<br />
principalmente na moderação da ingestão de açúcares e gorduras, oferece<br />
aos pais maior tranqüilidade em relação à alimentação dos filhos que, devido<br />
à correria do dia-a-dia, não conseguem variar os lanches e acabam enviando<br />
merendas ricas em gordura saturada e alimentos pouco saudáveis, como<br />
salgadinhos e biscoitos.<br />
Por ser preparado alguns minutos antes do recreio,<br />
as frutas e bebidas estão sempre frescas e alguns lanches<br />
podem ser quentes. Em três versões, os kits podem ainda<br />
sofrer alterações, autorizadas pelos pais, de acordo com<br />
a preferência dos alunos. O kit sabor, composto por um<br />
sanduíche, uma bebida e uma sobremesa, possui em média<br />
400 calorias, 70% de carboidratos, 10% de proteínas e<br />
15% de lípides. As outras duas versões são a light adulto<br />
e light infantil, que possuem menos calorias, lipídeos ou<br />
carboidratos.<br />
Feito e distribuído de acordo com rígidas normas<br />
de higiene e manipulação de alimentos, o kit lanche passa<br />
por um controle de qualidade das nutricionistas do<br />
Colégio Dante Alighieri.<br />
17
18<br />
PRODUTOS<br />
A utilização do óleo de palma<br />
na indústria alimentícia<br />
A crescente demanda de alimentos naturais tem<br />
estimulado a substituição das gorduras hidrogenadas<br />
e de óleos obtidos de sementes geneticamente<br />
modificadas em diversos alimentos pelas gorduras<br />
naturais à base de óleo de palma. “Diferentemente da<br />
maioria dos óleos de semente que ainda são extraídos<br />
com solvente, o óleo de palma é extraído por<br />
prensagem mecânica, o que o eleva à categoria dos<br />
azeites extra-virgens”, explica Homero dos Santos<br />
Sousa, gerente técnico da Agropalma, maior produtor<br />
de palma do Brasil. Além disso, seu refino é físico,<br />
com o uso apenas de insumos naturais e a produção<br />
de gorduras também é feita somente por processo<br />
físico de fracionamento (resfriamento e filtração) e<br />
de mescla de óleo de palma e de suas frações<br />
(estearinas e oleínas). Portanto, não requer processo<br />
de hidrogenação.<br />
Como os processos são puramente físicos, eles<br />
não alteram a estrutura natural dos triglicérides,<br />
fazendo com que a formulação seja somente ajustada<br />
por separação ou adição dos grupos de triglicérides<br />
segundo as características físicas desejadas. Isso difere<br />
do processo convencional de gorduras via<br />
hidrogenação que altera a composição dos ácidos<br />
graxos e ainda cria ácidos graxos que naturalmente<br />
não estavam presentes no óleo tal qual extraído da<br />
semente oleaginosa.<br />
Esses fatores exemplificam por si só as vantagens<br />
na utilização do óleo de palma na indústria alimentícia,<br />
que o aplica em:<br />
Frituras: Os óleos e gorduras são o meio de<br />
transferência de calor e fonte de aroma e energia,<br />
porque inevitavelmente o alimento absorve gordura<br />
durante a fritura. Dentre os atributos requeridos para<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
O óleo de palma é hoje o segundo mais consumido no<br />
mundo, com uma produção anual de cerca de 18 milhões<br />
de toneladas e deve disputar em breve a liderança do<br />
mercado mundial de óleos e gorduras<br />
um bom óleo estão a resistência à oxidação, hidrólise<br />
e polimerização, baixa formação de espuma, taxa<br />
reduzida de escurecimento e composição de ácidos<br />
graxos nutricialmente adequada. O óleo de palma e<br />
suas frações oléicas reúnem tais características.<br />
Biscoitos: as gorduras são utilizadas na<br />
elaboração de massas, no recheio e na aspersão de<br />
biscoitos. As principais funções das gorduras na massa<br />
de biscoitos são a de lubrificação, aeração e de<br />
favorecer a expansão. Já as gorduras para recheio são<br />
utilizadas em biscoitos tipo sanduíche. O creme é<br />
formulado basicamente com gordura, açúcar, aroma<br />
e corante e, em alguns casos, sólidos de leite ou cacau.<br />
Sorvetes: a gordura clássica para aplicação de<br />
sorvetes é a da manteiga, que no Brasil é aplicada<br />
somente em sorvetes finos. A desvantagem do uso<br />
do produto é ser mais susceptível à contaminação<br />
microbiológica, além de ter custo elevado e alto teor<br />
de colesterol. Gorduras naturais formuladas com óleo<br />
de palma e de palmiste atendem com qualidade esse<br />
mercado. Comparada com a manteiga, a gordura para<br />
sorvetes feita com óleo de palma e palmiste apresenta<br />
sabor e cor neutra, não alterando as características do<br />
produto formulado.<br />
Salgadinhos extrusados: após a extrusão do<br />
salgadinho, ele recebe uma aspersão de gordura líquida<br />
com o tempero característico. Além de servir como<br />
veículo de aroma, a gordura proporciona maciez e<br />
lubrificação no produto final.<br />
Alimentos para bebês: vários fabricantes de<br />
alimentos para bebês já têm substituído as gorduras<br />
hidrogenadas e as provenientes de grãos<br />
geneticamente modificados. Dentre os produtos que<br />
usam oleína de palma estão o leite maternizado e os
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
preparados prontos (como as papinhas). Também<br />
existe a preocupação dos fabricantes em fornecer às<br />
crianças de todas as idades alimentos naturais. Dessa<br />
forma, a oleína de palma tem ganho importância na<br />
produção desses alimentos.<br />
Margarinas: são vários os tipos de margarinas<br />
encontrados no mercado, dentre elas as de mesa, panificação,<br />
culinária ou massa folheada. Nos últimos anos,<br />
a tendência principalmente nas de mesa é de reduzir<br />
o teor de lipídios, aumentando a fase aquosa, visando<br />
tanto reduzir os custos de produção, como acompanhar<br />
a tendência de mercado de redução de calorias.<br />
Produtos lácteos: as bases gordurosas de óleo<br />
de palma para produtos lácteos vêm tendo aplicação<br />
na reconstituição do leite de vaca desnatado.<br />
Comercialmente, o leite reconstituído com óleo<br />
vegetal tem o forte apelo de possuir reduzido teor de<br />
“Garçom, um chá e a conta, por favor!” Algum<br />
tempo atrás, essa frase poderia soar estranha.<br />
Atualmente, no entanto, o consumo de chás tem<br />
ocupado um espaço cada vez maior. É o que dizem<br />
maîtres e chefs de restaurantes e bares. Extrapolou<br />
os rituais dos famosos “chás das cinco” e ganha<br />
adeptos que, além do prazer, estão preocupados com<br />
sua qualidade de vida. Afinal, parar para tomar um<br />
chá, no aconchego de casa, num restaurante ou mesmo<br />
no trabalho, significa dar um tempo à própria mente<br />
e se deixar seduzir por aromas e sabores variados.<br />
Além da possibilidade de cultivar um hábito que,<br />
além do prazer, pode aliar benefícios à saúde – a<br />
grande maioria dos chás possui propriedades que<br />
estimulam as defesas do organismo -, outro fator<br />
contribui para a disseminação desse costume. Para<br />
aproveitar os benefícios oferecidos pela natureza, os<br />
fabricantes têm se empenhado numa produção cada<br />
vez mais esmerada, com embalagens atraentes que<br />
colesterol. A produção de queijo contendo óleo<br />
vegetal já é realidade em alguns países. O óleo de palma<br />
é usado para esse fim combinado com óleo de palmiste<br />
e de canola sem hidrogenar.<br />
Melhoradores de pão e preparados para<br />
bolos: para esses casos são exigidas gorduras de alta<br />
resistência à oxidação devido ao produto estar em<br />
forma de pó, sendo altamente expostas ao ar. O óleo<br />
de palma puro dá um excelente resultado no produto<br />
assado, graças ao sabor neutro, maciez, retardamento<br />
da retrogradação do amido e ao volume do assado.<br />
Balas mastigáveis: produtos que consistem em<br />
açúcar, gordura e leite condensado. As gorduras para<br />
esse fim podem ser elaboradas à base de óleo de palma,<br />
óleo de palmiste e óleo de palma fracionado. A<br />
principal função da gordura nessa aplicação é dar<br />
textura ao produto.<br />
Chá, bebida para toda hora<br />
A prática de tomar chá reúne cada vez mais adeptos.<br />
Aroma e sabor agradáveis aliam-se às propriedades naturais<br />
num hábito que envolve prazer e qualidade de vida<br />
permitem aparência, aromas e sabores cada vez mais<br />
apurados.<br />
Por outro lado, pesquisas incessantes buscam<br />
proporcionar aos apreciadores da bebida uma<br />
experiência marcante, onde a mistura de sabores é<br />
cuidadosamente preparada. A Effem, fabricante dos<br />
Chás Castellari, por exemplo, tem procurado<br />
diversificar sua linha de produção, com mais de uma<br />
dúzia de opções. “Temos um cuidado especial para<br />
tratar os ingredientes selecionados da natureza, como<br />
ervas, flores e frutas. A atenção durante o processo<br />
de embalagem também é fundamental, com salas<br />
separadas e climatizadas. Além disso, desenvolvemos<br />
um envelope exclusivo que preserva o aroma, o sabor<br />
e a qualidade do produto”, afirma Alexandre Estefano,<br />
gerente de franchise da Effem.<br />
Gradual, a mudança de comportamento já é<br />
sentida em bares e restaurantes. “As pessoas, de uns<br />
dois ou três anos para cá, se conscientizaram de que<br />
19
20<br />
o chá faz bem, principalmente à noite. É ótimo para<br />
relaxar e dormir. Nosso consumo aumentou<br />
significativamente. Eu mesmo adotei esse hábito e sou<br />
outra pessoa”, afirma o maître do restaurante<br />
paulistano Apollinari, Bertilo Wirth.<br />
O chef do Bar des Arts, em São Paulo,<br />
Waldumiro Alves, concorda: “Antigamente<br />
trabalhávamos com uma pequena variedade de chás.<br />
Do ano passado para cá, multiplicamos a oferta, com<br />
mais sabores e aromas, principalmente dos chás de<br />
ervas”, afirma. “Adotamos, inclusive, o hábito de levar<br />
uma caixa com várias opções diretamente à mesa do<br />
cliente. Foi um sucesso.”<br />
Concentrando o maior volume de vendas de chá<br />
no Brasil, o mate já começou a sentir a concorrência<br />
dos chás de ervas, flores e frutas. Segundo dados do<br />
instituto AC/Nielsen, apesar de corresponder a 20%<br />
do volume de vendas, esse segmento já representa<br />
60% do faturamento. “E tende a crescer mais ainda,<br />
pois é o que reúne maior valor agregado”, afirma<br />
Estefano, da Effem. “As pessoas estão fugindo da<br />
padronização e buscando opções que tenham mais a<br />
ver com o seu jeito de ser”, acrescenta. Ainda segundo<br />
a pesquisa, realizada de dezembro de 1999 a novembro<br />
de 2000, o chá mate fica com 34,8% do faturamento,<br />
e o preto, com 7,3%.<br />
Companheiro de longa data<br />
Há muitas teorias sobre a origem do chá. Afinal,<br />
é difícil precisar quando e quem, pela primeira vez,<br />
fez uma infusão de folhas em água. Os especialistas<br />
entendem por chá a bebida proveniente das folhas da<br />
árvore do chá, a Camellia sinensis, de onde é possível<br />
obter mais de 3 mil diferentes tipos de chá e,<br />
dependendo do tipo de tratamento a que são sujeitos,<br />
dividi-los em quatro grupos principais: branco, verde,<br />
oolong e preto, estando estes divididos em subgrupos,<br />
cada um com características e sabores distintos.<br />
O primeiro povo a cultivá-lo, no entanto, foi o<br />
chinês, cerca de 4 mil anos atrás, a princípio para fins<br />
medicinais. Diz a lenda, que um imperador chamado<br />
Shen Nung, considerado o pai do chá, ferveu água<br />
para beber e não observou algumas folhas caídas<br />
acidentalmente no recipiente. Sentindo-se atraído pelo<br />
aroma, arriscou a beber o conteúdo. Assim, passou a<br />
fazer experiências com várias folhas, dando início a<br />
um hábito que cruzou o mundo. Hoje em dia, o chá é<br />
a bebida mais consumida mundialmente, depois da<br />
água, num volume que alcança 300 bilhões de litros.<br />
Ao angariar apreciadores, a bebida logo adquiriu<br />
status de mercadoria para troca, além de tornar-se<br />
fundamental para a realização de rituais, como o<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Chado (Tchadô, o caminho do chá), no Japão.<br />
Atualmente, os maiores produtores de chá se<br />
encontram basicamente no Japão, China, India, Sri<br />
Lanka e em outros países sul-asiáticos, além da<br />
participação significativa da Rússia e da América do<br />
Sul. No Brasil, as principais áreas de cultivo estão no<br />
Sul do país.<br />
No caso do que comumente se chama de chá de<br />
ervas, trata-se da infusão de ervas, flores ou frutas<br />
não derivadas da Camellia sinensis. Puras ou<br />
misturadas, essas bebidas popularizaram-se e<br />
absorveram a denominação de “chá”.<br />
Chás de ervas, flores e frutas<br />
Além do sabor e do aroma, os chás de ervas, flores<br />
e frutas apresentam propriedades que estimulam<br />
as defesas do organismo. Conheça alguns dos mais<br />
usados pelos brasileiros:<br />
Boldo do Chile<br />
Para estimular as funções digestivas hepáticas e<br />
biliares.<br />
Camomila<br />
Para gases intestinais, febre, fígado e reumatismo.<br />
Funciona bem para a insônia e a tensão prémenstrual.<br />
Carqueja<br />
Digestivo e diurético, auxilia no tratamento de<br />
anemias, problemas renais e inflamações urinárias.<br />
Erva Cidreira<br />
Diurética, abaixa a febre e a pressão arterial e auxilia<br />
no tratamento dos rins e bexiga. Ajuda a combater<br />
as dores de cabeça, a insônia e crises nervosas.<br />
Erva doce<br />
Calmante e estimulante das funções digestivas.<br />
Elimina gases e mau hálito.<br />
Limão<br />
Purifica o sangue, ajudando no metabolismo. Alivia<br />
tosse e bronquite, ajudando nos problemas de gases<br />
e infecções hepáticas.<br />
Hortelã<br />
Auxilia no combate ao reumatismo, e é bom para<br />
o intestino e fígado. Também funciona como<br />
calmante, combate o amarelão e problemas de<br />
menstruação.<br />
Chá preto<br />
Tônico estimulante dos nervos, músculos e cérebro.<br />
É energético e auxilia no tratamento da obesidade.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
PERFIL<br />
Aperfeiçoamento profissional amplia<br />
mercado de trabalho dos nutricionistas<br />
A diversificação e o aprimoramento técnico-científico têm<br />
levado o profissional de nutrição a atuar em novas frentes,<br />
aumentando cada vez mais seu mercado de trabalho.<br />
Por muito tempo o profissional de nutrição<br />
atuou praticamente em quatro frentes básicas: nutrição<br />
clínica, alimentação coletiva, saúde pública e alimentação<br />
infantil. Atualmente o leque se ampliou, como<br />
explica Lúcia Andrade Pereira, presidente do Conselho<br />
Regional de Nutrição-4, que abrange o Rio de Janeiro,<br />
Minas Gerais e Espírito Santo: “O nutricionista passou<br />
a olhar para onde nunca tinha olhado. E novos<br />
mercados foram surgindo, como, por exemplo, em<br />
tecnologia de alimentos, na área de esportes, junto a<br />
terceira idade e em restaurantes comerciais”.<br />
O aperfeiçoamento profissional da categoria foi<br />
fundamental para a conquista destes novos espaços.<br />
Até bem pouco tempo não havia cursos de pósgraduação<br />
ou de especialização do setor. Com o<br />
surgimento das opções de aprimoramento técnico e<br />
científico, o nutricionista foi, e ainda está,<br />
conquistando esta nova realidade. “No setor esportivo,<br />
junto às academias, existe uma demanda muito grande,<br />
onde o nutricionista ainda não exerce totalmente seu<br />
papel. Atualmente os restaurantes comerciais<br />
contratam nutricionistas por perceberem que eles são<br />
um diferencial de qualidade em seu negócio, e não<br />
simplesmente para cumprirem a lei de<br />
responsabilidade técnica”, comenta Lucia Andrade.<br />
Até mesmo para aqueles que saem da faculdade<br />
não deveria haver dificuldade para ingressarem no<br />
mercado. Segundo a presidente do CRN-4, “a<br />
alimentação é uma área que não se esgota. O campo<br />
da nutrição é muito fértil. Os jovens profissionais não<br />
devem ficar aflitos em busca de emprego, mas sim<br />
procurar enxergar a possibilidade de trabalho. Se existe<br />
o problema de desemprego não é devido ao nosso<br />
segmento, mas sim por causa da crise gerada pela<br />
política econômica neoliberal adotada pelo governo<br />
federal”. Situado numa faixa salarial entre R$ 800,00<br />
e 3.000,00, o profissional que cuida da saúde das<br />
pessoas pela alimentação está em alta. Atualmente<br />
cerca de 18 mil alunos estudam nas 99 faculdades<br />
existentes no País, que conta com aproximadamente<br />
30 mil nutricionistas.<br />
Lucia Andrade enfatiza ainda que o nutricionista<br />
retardou muito sua entrada no processo científico e<br />
de pesquisa. Diz ela que “somente nos últimos 15<br />
anos começamos a ter, em número mais significativo,<br />
nutricionistas pós-graduados. Hoje já existem as<br />
pessoas com titulação suficiente para coordenarem<br />
cursos, implantarem novas disciplinas, linhas de<br />
pesquisa para que haja naturalmente o<br />
desenvolvimento científico. Na realidade a questão<br />
do mercado é o saber que você detém. E o<br />
nutricionista está em busca do aprimoramento<br />
acadêmico e da pesquisa científica, o que certamente<br />
fortalecerá cada vez mais a categoria”.<br />
Compromisso social<br />
“Não se sai da faculdade com a receita de bolo<br />
prontinha para se aplicar - explica ainda Lucia. Os<br />
cursos hoje estão diante de um desafio, que é<br />
realmente prestar atenção não só na parte do conteúdo<br />
profissional, mas também nessa questão de formação,<br />
de postura, de como se relacionar com este mundo<br />
multiprofissional. O nutricionista não trabalha<br />
sozinho. Qualquer área em que ele atue, terá sempre<br />
um contra-ponto com outros. Na área de industria,<br />
21
22<br />
por exemplo, tem o médico do trabalho. Na área<br />
clínica têm-se o corpo médico, a enfermagem, o<br />
serviço social. Na área de esporte, com o professor<br />
de educação física, o fisioterapeuta, enfim, as<br />
possibilidades de trabalho são inúmeras, a carência<br />
de informação que a população tem é muito grande.<br />
As pessoas não sabem efetivamente como comer”.<br />
Num País em que existem mais de 50 milhões<br />
de pessoas que estão fora da possibilidade de ter<br />
condições de se viver bem, o compromisso social do<br />
nutricionista é muito grande. E a presidente do<br />
Conselho enfatiza: “Nós temos um papel muito<br />
importante na discussão da política de alimentação<br />
do País. Por um lado temos os desnutridos, por outro<br />
os que se alimentam mal. Temos possibilidade de<br />
trabalhar tanto para os que têm dinheiro quanto para<br />
os que não têm. Pela nossa formação generalista, podemos<br />
trabalhar em qualquer momento da população.<br />
Seja com a gestante, com o recém nascido, com a<br />
criança, com o adolescente, com o adulto, com o idoso,<br />
enfim, o nutricionista é pau pra toda obra. Portanto,<br />
o problema não é mercado, é emprego. E o mercado<br />
é resultado do fortalecimento da categoria. E é isso<br />
que os Conselhos Regionais estão procurando fazer”.<br />
Ainda é pouca a participação do nutricionista<br />
na implementação de uma política de alimentação para<br />
o País, mas alguns profissionais já ocupam importantes<br />
cargos em ministérios afins, possibilitando um maior<br />
engajamento da categoria na busca de soluções e bons<br />
projetos. Atualmente existem alguns programas,<br />
criados com a participação de nutricionistas,<br />
direcionados aos municípios, que por sua vez vêm se<br />
adequando para atender essa nova demanda criada<br />
pelos órgãos superiores, para que haja atendimento à<br />
população. Lucia cita como exemplo o Programa de<br />
Saúde da Família.<br />
No ponto de vista de Lucia Andrade, o processo<br />
de terceirização ocorrido no mercado de alimentação<br />
coletiva não foi positivo para a categoria. E desabafa:<br />
“A terceirização possibilitou empregar mais<br />
profissionais, só que os salários não são compatíveis<br />
com a natureza das atividades exercidas. A gente<br />
percebe que aquilo que poderia ser mais bem cuidado<br />
não é porque foi terceirizado o serviço. O que é<br />
importante para o País? Que você tenha a população<br />
bem alimentada para manter o nível geral de vida. E<br />
o trabalhador bem nutrido é mais produtivo. A<br />
autogestão garantia tudo isso. Até porque existia o<br />
nutricionista que cuidava só desta questão. A<br />
terceirização só facilitou para que a empresa não<br />
fizesse mais este trabalho. Ela manda outro<br />
administrar o serviço. Mas isso só modificou a direção<br />
de onde vem o dinheiro. Então você passou a ter as<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
empresas especializadas em alimentação coletiva, que<br />
atendem a qualidade em um aspecto, mas que deixam<br />
muito a desejar na qualidade de vida do trabalhador.<br />
Hoje nós temos problemas com alguns tipos de<br />
contrato, que ao invés de melhorar a qualidade<br />
nutricional, atendem somente a necessidade<br />
gastronômica dos comensais. Algumas<br />
concessionárias estão preocupadas somente em<br />
vender refeições. Não estão preocupadas se o cliente<br />
está ficando doente ou obeso. Na autogestão isto não<br />
acontecia”.<br />
Educação nutricional<br />
Lucia explica que a grande diferença é quando o<br />
nutricionista faz um trabalho de educação nutricional.<br />
“Além dele dominar todo o processo de produção, o<br />
contato com sua clientela é que vai dizer qual a<br />
qualidade de vida dos comensais. Pode-se ter no<br />
cardápio batata frita e salgadinho, mas tem que<br />
informar ao cliente que aquela alimentação pode<br />
deixá-lo obeso em pouco tempo”.<br />
Lúcia Andrade: “O nutricionista é pau pra toda obra”.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Os Conselhos Regionais de Nutrição existem,<br />
basicamente, para regulamentar e garantir o exercício<br />
da profissão de nutricionista. A atual gestão do CRN-<br />
4, que iniciou em junho de 2001, tem como prioridade<br />
política, atuar em três frentes: ampliar o mercado de<br />
trabalho, sedimentar a imagem profissional e aumentar<br />
a participação político-social da categoria. Para cada<br />
uma dessas metas, existe uma estratégia em<br />
andamento. No que diz respeito à ampliação de<br />
mercado, Lucia Andrade explica que a intenção não é<br />
de aumentar o número de empregos, mas de<br />
instrumentalizar cada vez mais o nutricionista, para<br />
que ele possa realmente pensar em suas possibilidades<br />
de trabalho. “Isto significa aumentar o nosso contato<br />
com a universidade, levando tudo aquilo que captamos<br />
através de nossos processos de fiscalização, para alertála<br />
do que está defasado. Um bom exemplo é o setor<br />
da terceira idade, uma área em franca expansão, onde<br />
o nutricionista só recentemente começou a atuar.<br />
Existe ainda inúmeros asilos que não têm nutricionistas.<br />
Precisamos reaquecer o setor de alimentação<br />
escolar, onde tínhamos uma boa concentração de<br />
profissionais, que por razões políticas acabamos<br />
perdendo o espaço. Na área de alimentação coletiva,<br />
no que diz respeito aos restaurantes comerciais muito<br />
ainda tem que ser feito. E na área do setor público a<br />
realização de programas e bons projetos para que<br />
possamos implementar os cursos”, comenta.<br />
Para sedimentar a imagem profissional da<br />
categoria, a presidente do CRN-4 explica que é<br />
fundamental ampliar a participação dos nutricionistas<br />
na mídia. “O nutricionista é que tem que ser o portavoz<br />
da alimentação e nutrição – diz Lucia. Temos um<br />
cadastro das pessoas credenciadas para falarem dos<br />
mais diversos temas. Quando a imprensa nos solicita,<br />
logo a encaminhamos para um desses profissionais.<br />
É importante ter sempre uma matéria focalizando a<br />
nutrição, com informações dadas por nutricionistas”.<br />
Quanto à questão da participação político-social,<br />
ela enfatiza que “tem que haver mesmo o trabalho de<br />
cavar espaço nos fóruns políticos e sociais. Desde o<br />
conselho distrital, onde se reúne os representantes<br />
do bairro, da região, até às últimas instâncias. Isto<br />
significa desenvolver esta característica política do<br />
nutricionista, para que ele participe das decisões<br />
importantes. Concurso só acontece porque é a<br />
população quem pede e a população só vai pedir se<br />
conhecer o nutricionista. Por isto que a gente tem<br />
que trabalhar para sedimentar a imagem dele”.<br />
Fiscalização orientadora<br />
Lucia Andrade Pereira, que já está em sua<br />
segunda gestão, explica ainda o processo evolutivo<br />
que sofreu a política de fiscalização adotada pelo CRN-<br />
4. “Nossa fiscalização hoje é orientadora e não<br />
punitiva. Receber a visita de um fiscal do CRN-4 é ter<br />
contato com um parceiro, com um consultor técnico<br />
que trará contribuições para a melhoria da prática<br />
profissional e dará visibilidade ao empregador às<br />
vantagens de um serviço de alimentação de qualidade.<br />
Esta guinada se sustenta numa filosofia de trabalho<br />
conjunto, no princípio da cidadania e no compromisso<br />
com a profissão”.<br />
A linha atual seguida pelo CRN-4 é investir onde<br />
existe a possibilidade de efetivamente vir a valorizar<br />
o nutricionista. “E com isso – diz Lucia - a gente<br />
espera que o nutricionista valorize a entidade. Valorizar<br />
é participar dos nossos eventos. O importante é que<br />
o próprio nutricionista seja fiscal dele mesmo. Que<br />
ele perceba qual a responsabilidade que ele tem no<br />
processo de trabalho de valorização profissional.<br />
Obrigar a empresa contratar por causa da lei não<br />
significa nada. O importante é que as empresas<br />
percebam que precisam do nutricionista. Este é o<br />
papel do nutricionista. É perceber o quanto ele vale.<br />
O quanto ele faz parte atuante deste processo. E como<br />
ele pode fortalecer sua profissão”.<br />
O CRN-4 mantém um bom relacionamento tanto<br />
com a Associação dos Nutricionistas quanto com o Sindicato.<br />
“No aspecto científico, estaremos junto com a<br />
Associação, para que ela conduza este trabalho de<br />
discussão curricular junto às universidades e propostas<br />
de projetos de pós-graduação. E com o Sindicato é de<br />
estar sempre buscando esta questão de direitos<br />
trabalhistas. E a tendência e de intensificar cada vez mais<br />
esta aproximação”, finaliza a presidente da entidade.<br />
23
24<br />
Apesar das diversidades de seu campo de atuação,<br />
as principais áreas em que atua o profissional nutricionista<br />
têm sido o hospital, a indústria e a saúde<br />
pública. Cabe a cada profissional, egresso de um<br />
curso superior, saber explorar todas as potencialidades<br />
que lhe permite o conhecimento profissional.<br />
Hospital<br />
Em um hospital o nutricionista atua nos seguintes<br />
setores:<br />
a) Nutrição clínica e cirúrgica<br />
Serviço de nutrição nas enfermarias, organização<br />
(estrutura, instalações, impressos, pessoal); terapia<br />
nutricional através de determinação de diagnóstico<br />
nutricional (a partir de anamnese nutricional,<br />
avaliação antropométrica e bioquímica, exame<br />
físico, e dados da anamnese médica e diagnóstico<br />
clínico), conduta, prescrição dietoterápica;<br />
elaboração e análise de dietas; orientação<br />
nutricional; evolução nutricional, controle<br />
nutricional e de ingesta hídrica; controle de rotina<br />
no pré e pós-operatório; participação em grupos<br />
de estudos; solicitação de exames laboratoriais<br />
para evolução nutricional.<br />
b) Ambulatórios<br />
Rotina, impressos, pessoal; anamnese alimentar e<br />
avaliação nutricional; elaboração da dieta<br />
individual, considerando as condições sócioeconômicas<br />
e hábitos alimentares; atendimento<br />
grupal, solicitação de exames laboratoriais.<br />
c) Nutrição materno-infantil<br />
Gestante, puérpera e nutrizes: serviço de nutrição<br />
na maternidade e rotina; supervisão e controle do<br />
serviço, atualização de mapas; anamnese alimentar;<br />
avaliação e orientação nutricional; elaboração e<br />
análise da dieta.<br />
• Pediatria: serviço de nutrição na enfermaria de<br />
pediatria, supervisão e controle; interpretação e<br />
adequação das prescrições médicas; atualização de<br />
mapas; anamnese alimentar; avaliação e orientação<br />
nutricional; elaboração e análise da dieta.<br />
• Lactário: serviço de nutrição no lactário;<br />
localização, planejamento, equipamentos, higienização,<br />
pessoal; armazenamento e distribuição de<br />
mamadeiras; métodos de esterilização; controle<br />
bacteriológico; cálculo e técnicas de preparo das<br />
fórmulas lácteas e não-lácteas; supervisão e<br />
controle; atualização de mapas.<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Áreas de atuação do nutricionista<br />
• Banco de leite humano: rotina, planejamento,<br />
localização, ventilação e iluminação; área de<br />
atuação técnica de colheita do leite humano e<br />
métodos de conservação; impressos; atualização e<br />
controle das estatísticas; supervisão e controle.<br />
d) Produção<br />
Planejamento do serviço de nutrição (localização,<br />
utensílios, máquinas e equipamentos); tipos de<br />
serviço; elaboração de cardápios (per capita,<br />
custos); sistema de distribuição para pacientes e<br />
servidores; controle de qualidade e aceitabilidade<br />
dos alimentos; impressos; treinamento e seleção<br />
de pessoal; supervisão, coordenação e controle de<br />
atividades desenvolvidas.<br />
Saúde pública<br />
Na área de Saúde pública a atividade é<br />
desenvolvida, principalmente, junto aos órgãos de<br />
governo. Deve sempre estar pronto para prestar<br />
informações ao público através dos veículos de<br />
comunicação de massa; deve conscientizar a<br />
sociedade e mobilizar o governo para a busca de<br />
soluções definitivas, objetivando amenizar a<br />
gravidade da questão alimentar brasileira.<br />
a) Planejamento<br />
Realizado em qualquer nível de atuação: local,<br />
regional e central, elaborando e coordenando<br />
programas de suplementação alimentar e de<br />
merenda escolar, na tentativa de reduzir as<br />
carências nutricionais.<br />
b) Assistência alimentar<br />
Serviços de nutrição em instituições que<br />
comportam coletividade sadia (estrutura,<br />
instalações, impressos, pessoal; elaboração de<br />
cardápios diários: requisição, produção e<br />
distribuição); observação do per capita e da<br />
aceitabilidade da alimentação distribuída.<br />
c) Educação nutricional<br />
Organização e planejamento de atividades;<br />
palestras para a clientela; pesquisas para avaliação<br />
nutricional da clientela; atendimento ambulatorial<br />
(anamnese alimentar, avaliação e orientação<br />
nutricional); elaboração e prescrição de dietas.<br />
d) Alimentação do pré-escolar e escolar<br />
Atividades desenvolvidas em diversas instituições<br />
da comunidade, verificando aspectos nutricionais<br />
na avaliação da alimentação e do estado<br />
nutricional, por serem os membros da
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
comunidade oriundos dos mais diferentes níveis<br />
sócio-econômicos e culturas.<br />
• Centro de saúde: planejamento e ministração de<br />
palestras e cursos sobre temas de nutrição e saúde,<br />
para os usuários que integram os programas e para<br />
a comunidade; atendimento no ambulatório de<br />
puericultura e orientação alimentar para mães e<br />
crianças.<br />
• Escolas: serviço de nutrição (instalações;<br />
confecção e distribuição de refeições); planejamento<br />
e elaboração de cardápios; avaliação da<br />
aceitabilidade da alimentação distribuída; supervisão<br />
da distribuição da merenda escolar; observação do<br />
per capita ingerido, utilizando medidas caseiras;<br />
anotação da freqüência à merenda escolar;<br />
impressos e rotina.<br />
• Creches: administração da unidade de alimentação<br />
e nutrição, responsabilidade por todas as ações<br />
nutricionais referentes à criança e sua família.<br />
Planejamento e ministração de palestras e cursos<br />
sobre alimentação e saúde, dirigidos aos<br />
responsáveis pelas crianças e membros da<br />
comunidade, com demonstrações práticas e técnicas<br />
para a conservação do valor nutritivo dos<br />
alimentos; avaliação nutricional do pré-escolar;<br />
impressos e elaboração de pesquisas.<br />
Restaurante tipo industrial<br />
O nutricionista trabalha conscientizando o<br />
empregador para a importância do serviço de<br />
nutrição em sua empresa, obtendo os recursos<br />
necessários para desenvolvê-lo.<br />
Atividades semelhantes às descritas para a produção<br />
de alimentos em um hospital. O cardápio serve<br />
como um verdadeiro instrumento para a educação<br />
nutricional: deve orientar o comensal para os<br />
processos tecnológicos da fabricação, valor nutricional<br />
e preparo do produto; deve elaborar informes<br />
científicos e técnicas referentes à alimentação em<br />
geral, ampliando a consciência crítica relativa à<br />
propaganda pelos meios de comunicação de massa.<br />
Atuando em empresas, deve seguir, rigorosamente,<br />
o Código Brasileiro de Alimentos.<br />
Consultório de terapia nutricional<br />
Cabe ao nutricionista dar atendimento nutricional<br />
personalizado a indivíduos sadios que necessitam<br />
adequar seu comportamento alimentar, com ênfase<br />
na prevenção de doenças ou a indivíduos doentes<br />
que necessitam de aconselhamento dietoterápico,<br />
determinando diagnóstico nutricional, conduta e<br />
prescrição dietoterápica; atua em clínicas de<br />
recuperação médico-nutricional, clínicas de<br />
ginástica/estética;<br />
Escritório de planejamento, consultoria e assessoria<br />
de serviços de alimentação, indústrias alimentícias,<br />
laboratórios e editoras.<br />
Laboratório bromatológico<br />
O nutricionista participa da equipe de Vigilância<br />
Sanitária na identificação do estado higiênico<br />
sanitário do alimento, quanto ao controle de<br />
qualidade e legislação sanitária vigente.<br />
Desenvolve suas atividades em laboratórios<br />
bromatológicos, físico-químicos e microbiológicos:<br />
identifica os alimentos quanto a sua estrutura e<br />
composição; controle sanitário de alimento de<br />
origem animal; inspeção sanitária e comercial;<br />
provas de esterilidade nos produtos alimentares<br />
enlatados e embutidos; determinação de alterações<br />
diversas e identificação de micro-organismos;<br />
aplicação da legislação bromatológica vigente e<br />
elaboração de relatórios.<br />
Pesquisa<br />
Trabalha na indústria de alimentos pesquisando<br />
processos de confecção, enriquecimento e conservação<br />
de alimentos industrializados. Nas instituições<br />
de ensino, elabora pesquisas acadêmicas nas<br />
diferentes áreas da alimentação, nutrição e saúde.<br />
Ensino<br />
A atividade primordial do nutricionista é a de<br />
educador, podendo desenvolver atividades de<br />
ensino em quaisquer dos níveis de formação<br />
humana, formal ou informal, de simples palestras<br />
na comunidade ao ensino superior. Coordena todos<br />
os campos de ensino de nutrição, sendo exclusivo<br />
do nutricionista a coordenação de cursos de<br />
graduação em nutrição e de nível médio.<br />
Administração<br />
Pode assumir qualquer atividade funcional na sua<br />
área de formação: sendo exclusiva dela a direção de<br />
restaurantes industriais.<br />
Outras<br />
Restaurante comercial, academias, SPAs, hoteis,<br />
marketing, etc.<br />
25
26<br />
MERCADO<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Como funciona o setor de alimentação<br />
coletiva no Brasil<br />
O mercado brasileiro de alimentação posicionase<br />
como o 7º maior do mundo em volume. Estima-se<br />
que 1/4 das refeições realizadas pela população sejam<br />
consumidas fora do lar, algo ao redor de 40 milhões<br />
de serviços diários.<br />
Segundo a Abia – Associação Brasileira das<br />
Indústria de Alimentos (38 mil indústrias de<br />
alimentação do País), o consumo interno foi<br />
responsável por um faturamento anual de cerca de<br />
65 bilhões de dólares nos últimos anos da década de<br />
90 – 51 bilhões no varejo alimentício e 14 bilhões nas<br />
refeições fora do lar (quase 20% do total), fornecidas<br />
em estabelecimentos comerciais (restaurantes, fastfoods,<br />
lanchonetes, etc) e serviços de alimentação<br />
coletiva (em empresas públicas e privadas, hospitais,<br />
catering de passageiros, etc).<br />
Por alimentação coletiva entende-se a produção<br />
de refeições em grande escala para populações<br />
específicas.<br />
No Brasil, sob aspecto de atividade econômica,<br />
esse mercado compreende seis macros segmentos:<br />
alimentação em empresas (indústria, comércio e<br />
serviços); alimentação em serviços de saúde ou<br />
refeições dietoterápicas (hospitais, clubes esportivos<br />
e spas); catering de bordo (refeições servidas em<br />
aviões, navios, trens, plataformas marítimas, etc);<br />
alimentação em instituições de educação ou merenda<br />
escolar (creches, escolas de primeiro grau até<br />
universidades); alimentação das Forças Armadas<br />
(exército, marinha, aeronáutica e polícias militares) e<br />
alimentação comercial (restaurantes, bares, fast-foods,<br />
hotéis, buffets, resorts) que é um segmento de varejo<br />
que, juntamente com o setor de alimentação para<br />
coletividades, compõe o chamado mercado de<br />
alimentação fora do lar.<br />
Esse expressivo nicho de mercado fornece,<br />
atualmente, 10 milhões de refeições/dia e movimenta<br />
cifras ao redor de R$ 9 bilhões anualmente.<br />
Apenas no fornecimento de alimentação em<br />
empresas, por meio da terceirização dos serviços pelas<br />
empresas de refeições coletivas, computam-se<br />
4 milhões de refeições/dia e faturamento anual de R$<br />
3,2 bilhões/ano.<br />
Em torno desses milhões de pratos<br />
movimentam-se quatro setores da economia:<br />
concessionárias de refeições, que terceirizam serviços<br />
de alimentação; indústria de alimentos e agroindústria;<br />
indústria de equipamentos; indústria e comércio de<br />
produtos para cozinhas e restaurantes; e prestadores<br />
de serviços (de higiene, limpeza, sanitização,<br />
microbiologia, assessorias).<br />
O principal indicador (oficial) sobre os números<br />
do segmento de alimentação em empresas é o PAT –<br />
Programa de Alimentação do Trabalhador, com<br />
vínculo tripartite entre Ministério do Trabalho,<br />
Ministério da Fazenda e Receita Federal. Em vigor<br />
desde 1976, o programa subsidia, com a isenção de<br />
impostos, empresas que concedem o benefício da<br />
alimentação aos seus trabalhadores, particularmente<br />
aos de baixa renda.<br />
O PAT ampara cerca de 10 milhões de<br />
trabalhadores. Destes, 5 milhões são beneficiados via<br />
vales de refeição, e os outros 5 milhões recebem<br />
alimentação no local de trabalho, através de serviços<br />
terceirizados ou autogeridos.<br />
O custo médio de uma refeição básica é de R$<br />
3,00 (de R$ 2,00 no Norte/Nordeste/Centro-Oeste,<br />
a R$ 4,00 no Sul/Sudeste).<br />
Sobre esse mercado consumidor ativo de 10<br />
milhões de pessoas/dia, há de se considerar ainda os<br />
trabalhadores de empresas que fornecem alimentação<br />
no local de trabalho e não estão inscritas no PAT,<br />
além dos segmentos não-beneficiados (Forças<br />
Armadas, merenda escolar, etc).<br />
Segundo dados do IBGE, o Brasil registra uma<br />
população economicamente ativa de 55 milhões de<br />
pessoas, sendo que 22 milhões possuem carteira de<br />
trabalho assinada e configuram o mercado potencial<br />
para a oferta de serviços de alimentação.<br />
A Federação dos Trabalhadores nas Empresas<br />
de Refeição Coletiva e Afins afirma que cerca de 350<br />
mil pessoas trabalham nesse mercado, aqui incluído
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
o setor de restaurantes comerciais. Sabe-se, no entanto,<br />
que, no setor de alimentação coletiva em empresas,<br />
para cada 45 refeições produzidas é necessário um<br />
funcionário. Considerando-se 5 milhões de refeições/<br />
dia teríamos 125 mil trabalhadores somente nesse<br />
setor (sem considerar o de refeições comerciais).<br />
Estima-se em US$ 7 bilhões o faturamento anual dos<br />
segmentos de alimentação em empresas, hospitais,<br />
clubes, catering de bordo e Forças Armadas.<br />
O segmento de alimentação em escolas (merenda<br />
escolar) deve consumir cerca de 30 milhões de refeições/<br />
dia neste ano. É um setor onde o processo de produção<br />
e administração dos serviços alimentação apenas agora<br />
começa a ser terceirizado (em Santo André-SP, a<br />
Prefeitura montou uma cozinha central com capacidade<br />
para mil refeições/dia, que são distribuídas às cozinhas<br />
das escolas e daí distribuídas aos alunos).<br />
O grande mercado de refeições comerciais<br />
(restaurantes, bares, fast-foods, hotéis, buffets e<br />
Segmentos da Alimentação Coletiva<br />
Alimentação em empresas<br />
Refeições fornecidas para funcionários de indústrias, comércio e serviços.<br />
Mercado direto - 10 milhões de refeições/dia.<br />
Cinco milhões em vales-refeição e cinco milhões em refeições servidas no local de trabalho - 20 mil grandes<br />
cozinhas.<br />
Serviços de alimentação coletiva no local: autogeridos, administrados pela própria empresa, ou concedidos,<br />
administrados por terceiros.<br />
Refeição transportada - (principalmente na construção civil)<br />
Saúde<br />
1 milhão de refeições/dia (dietoterápica)<br />
Hospitais, clubes esportivos e recreativos (alimentação de atletas e associados), spas, entre outros.<br />
Catering de bordo<br />
Alimentação servida em aeronaves, navios, trens, etc.<br />
Educação<br />
Merenda Escolar - 30 milhões de refeições/dia (iniciando processo de terceirização)<br />
Escolas Públicas - Instituições de primeiro grau até universidades.<br />
Forças Armadas<br />
Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícias Militares e Secretarias de Segurança (responsáveis pela alimentação<br />
dos presos em estabelecimentos penais, cadeias públicas e distritos policiais).<br />
Estimativa de 500 mil refeições/dia (efetivo das forças, sem contar os presos).<br />
Refeições comerciais<br />
Turismo, restaurantes, hotelaria e eventos<br />
Hotéis, resorts, spas, convenções, buffets, restaurantes, fast foods e bares<br />
convenções, com algo em torno de 1 milhão de<br />
estabelecimentos no País) não dispõe de mapeamento<br />
oficial. É um segmento distinto dos outros, inserindose<br />
mais no varejo, com grande visibilidade para o<br />
público em geral.<br />
Os outros setores, especificamente chamado de<br />
alimentação coletiva ou institucional, geram bilhões<br />
de dólares e são desconhecidos do público e analistas<br />
de economia, particularmente porque apenas nos<br />
últimos anos atingiu a maturidade de um volume<br />
expressivo de negócios (é um mercado com cerca de<br />
30 anos de existência no País).<br />
Apenas como parâmetro, nos EUA todos<br />
esses setores juntos movimentaram US$ 254<br />
bilhões, em 1992 (número com base em pesquisa<br />
da Malcom Knapp Inc. feita para National<br />
Restaurant Association). Não há ainda quaisquer<br />
estimativas de volume de negócios nesses setores,<br />
no âmbito do Mercosul.<br />
27
28<br />
NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />
Yoki lança sorvetes de abacaxi e coco<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
A Yoki lançou nesse verão dois novos sabores de sorvetes: abacaxi e<br />
coco. Com a novidade, há a expectativa de que o produto, que registrou<br />
um crescimento de 15% nas vendas no ano passado, cresça outros 30%<br />
nesse ano. Para levar ao público a novidade, a Yoki criou a Sorveteria<br />
Yoki, que vai oferecer nos grandes supermercados o produto para<br />
degustação. Os sorvetes da Yoki têm feito sucesso entre os consumidores<br />
por ser econômico (três vezes mais barato que o sorvete pronto), ter sabor<br />
natural, textura cremosa (não cristaliza) e ser extremamente prático. É<br />
preciso apenas acrescentar 250ml de leite gelado, bater e levar ao congelador,<br />
sem a necessidade de repetir o processo. Rende 1,5 litro de sorvete. São<br />
oferecidos os sabores creme, morango, chocolate e os novos coco e abacaxi.<br />
E, como outras sobremesas da Yoki, o sorvete pode ganhar um toque<br />
pessoal, acrescentando licor, frutas, pedaços de chocolate, frutas<br />
cristalizadas, ou qualquer complemento do gosto do consumidor.<br />
Gelatina com personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo<br />
A Santista, divisão da Bunge Alimentos, preparou uma novidade<br />
especial voltada para o público infantil. Trata-se da gelatina Sol Sítio do<br />
Pica Pau Amarelo, que traz os personagens do famoso seriado para serem<br />
colecionados. O produto é apresentado em quatro sabores diferentes,<br />
identificados pelos principais integrantes do programa: Emília, chicle;<br />
Visconde de Sabugosa, groselha; Narizinho, morango; e Pedrinho, frutas<br />
radicais. As figuras dos personagens estão impressas nas embalagens e<br />
podem ser recortadas. “Procuramos agregar à imagem do produto<br />
personagens fortes e de grande aceitação por parte das crianças”, afirma<br />
Carolina Filli, gerente de produto da empresa.<br />
Além de divertidas, as gelatinas Sol Sítio do Pica Pau Amarelo também<br />
são nutritivas e saborosas. “Possuem em sua formulação, doses de vitamina<br />
C, tornando o produto ainda mais saudável”, diz ela.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />
Novas Pré-Mesclas de panificação e misturas para bolos<br />
A pré-mistura para panificação Pré-Mescla, líder de mercado nessa<br />
categoria, apresenta três novidades: croissant, pão de ló e bolo de aipim.<br />
Além disso, toda a linha ganhou nova embalagem, com aplicação de foto<br />
do produto final para facilitar a identificação e o armazenamento.<br />
A Santista, divisão da Bunge Alimentos, acaba de ampliar uma de<br />
suas mais conhecidas linhas de misturas para bolo. Agora, a tradicional<br />
Bolo Sol, pode ser encontrada em duas novas versões, além da regular: a<br />
Sol+ Coberturas e a Sol+ Confeitos. Mais prática, a Sol+ Coberturas é a<br />
única no mercado a incluir, além da mistura para bolo, um sachê de cobertura<br />
pronta. A linha Sol+ Confeitos traz opções versáteis, que vão desde<br />
sachês com confeitos coloridos até flocos de chocolate e gotas de morango.<br />
A linha Sol+ Coberturas pode ser encontrada nas seguintes versões:<br />
bolo de maracujá com cobertura pronta de maracujá (suco natural da<br />
fruta);bolode abacaxi com cobertura pronta de abacaxi (com suco naturalda<br />
fruta); bolo de chocolate com cobertura pronta de chocolate; bolo de<br />
cenoura com cobertura pronta de chocolate; e bolo mármore com cobertura<br />
pronta de chocolate. A linha Sol+ Confeitos é apresentada nas versões<br />
bolo de café com flocos de chocolate; bolo mesclado com gotas de morango<br />
e bolo arco - íris com confeitos coloridos, além do tradicional formigueiro.<br />
A exemplo do que já acontece com a linha básica, as embalagens dos<br />
novos produtos possuem informações em braile.<br />
Tropical Alimentos lança Suco Tial Light<br />
A Tropical Alimentos, fabricante dos sucos Tial, acaba de lançar o<br />
Suco Tial Light em quatro sabores: abacaxi, goiaba, mamão e pêssego.<br />
Com uma redução média de até 70% nas calorias do suco, a Tial garante<br />
ao consumidor um produto Premium, que conserva as proteínas da fruta,<br />
sem adição de açúcar e sem comprometer a pureza do sabor.<br />
Para a versão light, os sucos Tial ganham também um novo visual. A<br />
embalagem de vidro mantém a quantidade de 300ml, mas<br />
ganhou uma forma mais alongada, para acompanhar o<br />
conceito do produto.<br />
Sabor % de calorias % polpa de fruta<br />
por embalagem por embalagem<br />
Abacaxi 56 50<br />
Goiaba 40 50<br />
Mamão 48 50<br />
Pêssego 28 50<br />
29
30<br />
NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />
Linha de Chás Castellari tem 14 sabores<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
A linha de Chás Castellari representa uma opção diferenciada na hora<br />
de tomar chá. Criada no começo do ano 2000, trouxe para o mercado uma<br />
embalagem especial, com exclusivo envelope em BOPP (polipropileno<br />
biorientado), que preserva as propriedades naturais das ervas, como sabor,<br />
aroma e frescor. O logotipo da marca vem com um design moderno,<br />
recentemente reformulado, e as embalagens têm cores marcantes que<br />
garantem maior visualização nos pontos de venda e identificação por parte<br />
do consumidor.<br />
A linha é composta por 14 tipos de sabores: Maçã & Canela, Erva-<br />
Doce, Boldo do Chile, Erva-Cidreira, Cítrico, Carqueja, Camomila, Silvestre,<br />
Limão, Tropical, Chá Preto, Chá verde, Chá Mate e Hortelã. As caixas<br />
acondicionam 15 sachês. A matéria-prima, cuidadosamente selecionada,<br />
segundo as especificações do Sistema de Qualidade Effem, vem dos<br />
melhores fornecedores nacionais e internacionais. Somente as partes nobres<br />
da erva são utilizadas, evitando a dispersão do sabor e assegurando a pureza<br />
do produto.<br />
Atualmente, o hábito de tomar chá está associado ao prazer de comer<br />
e beber e à escolha de produtos que fazem bem, são naturais e de boa<br />
procedência. Por isso, o lançamento desta linha completa, com tudo que<br />
os clientes procuram: sabor, aroma, qualidade de matéria-prima, opções<br />
diferenciadas e requinte.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />
Primeira barra nutricional produzida no Brasil<br />
Acaba de chegar às prateleiras a primeira barra nutricional<br />
hiperprotéica totalmente desenvolvida e produzida no Brasil, a Protein<br />
Bar. Nos sabores banana e côco – ambos cobertos por chocolate -, é um<br />
alimento com alto teor de proteínas (31%), vitaminas e minerais e baixo<br />
teor de gordura e carboidratos. Na sua composição, destacam-se ainda<br />
ingredientes como proteína isolada da soja (fonte de isoflavonas), proteína<br />
isolada do soro do leite (Whey Protein, rica em aminoácidos de cadeia<br />
ramificada - BCAAs) e colágeno hidrolisado.<br />
Lançado pela Advanced Nutrition, empresa nacional que comercializa<br />
as tradicionais linhas Nutrisport, Fibrocrac, Gelamin e Natural Top, o novo<br />
produto auxilia nas dietas voltadas para hipertrofia muscular, ajuda na<br />
recuperação após os treinos e na melhoria da performance. De fácil digestão,<br />
pode ser consumido durante a atividade física e apresenta-se como uma<br />
alternativa prática e rápida para substituir lanches e pequenas refeições,<br />
mesmo no caso de não praticantes de atividade física, fornecendo ao<br />
organismo um alto teor de proteínas, vitaminas e minerais. O valor calórico<br />
é de 180 kcal/unidade.<br />
Segundo Maria Lúcia Bastos, coordenadora de nutrição da Advanced,<br />
a Protein Bar conseguiu conciliar um alto valor nutritivo a um saboroso<br />
paladar. Para uma dieta que forneça em média 2000 calorias diárias, a<br />
sugestão de consumo é de duas barras/dia. “Essa quantidade supre 56%<br />
da Ingestão Diária Recomendada (IDR) de proteínas, estabelecida pelo<br />
Ministério da Saúde, além de 28% e 14% da mesma recomendação para<br />
vitaminas e minerais, respectivamente”, ressalta.<br />
A nutricionista faz questão de frisar a diferença entre a Protein Bar e<br />
as barrinhas de cereais já tão difundidas no mercado. “Por ambos os<br />
produtos se apresentarem sob a forma de barra, o consumidor tende num<br />
primeiro momento a achar que tratam-se de itens similares. As barras de<br />
cereais são de origem totalmente vegetal e contêm apenas um grama de<br />
proteína, enquanto que a Protein Bar apresenta 14 gramas de proteína por<br />
barra - o que equivale a duas xícaras de chá de leite - além de um blend de<br />
vitaminas e minerais, que a classificam como um alimento nutricionalmente<br />
bem mais completo do que as barras de cereais”, explica.<br />
A chegada do produto ao mercado<br />
demandou seis anos de pesquisas na área<br />
de nutrição. Apesar de ser totalmente<br />
produzida no país, a Protein Bar conta<br />
com a avançada tecnologia da Clinical<br />
Nutrition, empresa com sede na Espanha,<br />
líder de mercado na Europa, com quem a<br />
Advanced Nutrition mantém parceria há<br />
nove anos. O lançamento da nova barra<br />
vem incrementar a linha NutriSport.<br />
31
32<br />
As recomendações nutricionais são importantes<br />
instrumentos para a elaboração e avaliação de dietas<br />
adequadas. Baseadas em várias evidências científicas<br />
como estudos de consumo populacional, observações<br />
epidemiológicas, avaliações bioquímicas de restrição<br />
e saturação de nutrientes, têm sido amplamente<br />
estudadas ao longo dos anos.<br />
Não existem recomendações nutricionais<br />
desenvolvidas em nível nacional e, tradicionalmente<br />
se tem adotado as RDAs (Recommended Dietary<br />
Allowances), utilizadas para a população americana.<br />
Estabelecidas desde 1941 e revisadas<br />
periodicamente, a última e décima edição completa<br />
foi publicada em 1989. Entre 1993 e 1994, a Food and<br />
Nutrition Board do Institute of Medicine da National<br />
Academy of Science iniciaram reuniões e formaram<br />
comitês de especialistas para o desenvolvimento e a<br />
organização de novas recomendações. A partir de<br />
1997, publicações foram realizadas e surgiram as DRIs<br />
(Dietary Reference Intake), introduzindo-se novos e<br />
importantes conceitos de recomendações nutricionais.<br />
A mais significativa diferença entre as RDAs/<br />
89 e as DRIs foi a disponibilização de até quatro valores<br />
de referência de ingestão dietética para um mesmo nutriente,<br />
no qual inclui-se a RDA, diversificando e ampliando<br />
a utilização das recomendações para indivíduos e<br />
grupos populacionais. As referências são as seguintes:<br />
RDA (Recommended Dietary Allowance):<br />
Mantém-se o conceito anteriormente utilizado<br />
Recomendações<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
DRIs: Novas propostas<br />
para recomendações nutricionais<br />
Rita de Cássia de Aquino*<br />
*Nutricionista clínica, mestre em Saúde Pública<br />
de “nível de ingestão dietética diária que é suficiente<br />
para atender às necessidades de praticamente toda a<br />
população saudável (97 a 98%)”, estabelecidas<br />
principalmente a partir de medianas de curvas de<br />
distribuição normal de estudos populacionais de<br />
avaliação de consumo, acrescidas de dois desviospadrão.<br />
Os valores de RDA continuam garantindo o<br />
atendimento às necessidades de indivíduos, evitandose<br />
carências nutricionais.<br />
EAR (Estimated Average Requirement)<br />
É o valor de ingestão dietética diária de um<br />
nutriente que estima-se atender às necessidades de<br />
50% da população, obtido também principalmente a<br />
partir de medianas de curvas de distribuição normal,<br />
mas não acrescidas de dois desvios-padrão. Os valores<br />
de EAR serão úteis para avaliar e/ou planejar o<br />
consumo de grupos populacionais.<br />
AI (Adequate Intake)<br />
É o valor de ingestão dietética diária de um<br />
nutriente cujos estudos atuais não permitiram o<br />
estabelecimento de RDA e EAR, mas a observação<br />
de consumo e/ou experiências possibilitaram<br />
recomendá-lo. Também é usado para estabelecer<br />
quantidades de nutrientes que parecem reduzir o risco<br />
de doenças crônicas não transmissíveis.<br />
UL (Tolerable Upper Intake Level)<br />
É o nível máximo de ingestão diária de um
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
nutriente que é tolerável biologicamente, não trazendo<br />
riscos de efeitos adversos à saúde para praticamente<br />
todos os indivíduos da população. Deve-se considerar<br />
para a avaliação de UL a ingestão de alimentos fontes,<br />
além de alimentos fortificados, suplementos e água.<br />
É importante destacar que o estabelecimento de UL<br />
veio atender às preocupações recentes quanto ao uso<br />
indiscriminado e inadequado de suplementos<br />
nutricionais e seu valor não deve ser utilizado com<br />
referência e/ou recomendação.<br />
Além dos quatro valores de referência de<br />
ingestão dietética, as DRIs apresentaram outras<br />
importantes mudanças. Praticamente todos os<br />
nutrientes tiveram suas quantidades revistas,<br />
diminuídas ou aumentadas, e alguns foram incluídos<br />
como cobre, manganês, cromo, molibdênio, flúor,<br />
ácido pantotênico e biotina, além da colina. Também<br />
foram estudados minerais como vanádio, silício, boro<br />
e arsênio e não foi necessário estabelecer a ingestão<br />
diária desses elementos.<br />
Uma importante proposta atual das DRIs é o<br />
estudo e a recomendação de substâncias naturalmente<br />
presentes nos alimentos (fitoquímicos), cuja ingestão<br />
possa ter um papel significativo na prevenção de<br />
doenças crônicas não transmissíveis.<br />
O agrupamento de idades em faixa etária<br />
também mudou nas DRIs, agora denominadas<br />
“estágios de vida”. A divisão entre meninos e meninas<br />
foi antecipada para 9 anos de idade; o grupo de adultos<br />
foi redistribuído para 19 a 30 e 31 a 50 anos; os idosos<br />
foram divididos em dois grupos: 51 a 70 e 71 e mais.<br />
Uma significativa divisão foi a realizada entre as<br />
gestantes e lactantes (< 19 anos, 19 a 30 e 31 a 50<br />
anos), até então não divididas por idade.<br />
As DRIs não terão um ano “fixo” de publicação<br />
e, a medida que novos estudos forem sendo realizados,<br />
novas DRIs serão divulgadas. As próximas<br />
publicações que deverão ocorrer serão: sódio, potássio,<br />
cloro, proteínas lipídios, carboidratos e energia.<br />
É importante lembrar que as DRIs foram<br />
estabelecidas para a população dos EUA e Canadá e<br />
para sua utilização na população brasileira deve-se<br />
considerar prováveis diferenças e, conseqüentemente,<br />
alguns erros associados.<br />
A partir de agora, nutricionistas ampliarão as<br />
possibilidades de utilização das recomendações<br />
nutricionais. Dependendo do objetivo a ser alcançado<br />
junto ao indivíduo ou grupo, o uso de RDA, EAR,<br />
AI e UL vão permitir uma avaliação e/ou<br />
planejamento mais completo e detalhado da dieta,<br />
possibilitando uma intervenção e aconselhamento<br />
nutricional mais perto da realidade.<br />
O acompanhamento de novas publicações das<br />
DRIs pode ser feito pela internet, no site oficial da<br />
National Academy of Sciences: www.nas.edu<br />
Atenção: Não confundir DRI e IDR<br />
As DRIs não deverão ser traduzidas, assim coma<br />
as RDAs nunca foram. IDR (Ingestão Diária<br />
Recomendada) NÃO é uma recomendação<br />
nutricional. Foi estabelecida pela Portaria 33 em 1998<br />
pelo Minis-tério da Saúde exclusivamente com<br />
finalidades de rotu-lagem. Está baseada em valores<br />
da FAO/OMS e da RDA/89 e, apesar das publicações<br />
recentes das DRIs, deverá ser utilizada para<br />
informações nutricionais nas embalagens, segundo as<br />
Resoluções 39 e 40 (2001).<br />
Bibliografia consultada<br />
Amancio OMS. Novos conceitos das recomendações de<br />
nutrientes. Cadernos de Nutrição 1999;18:55-58.<br />
Dwyer J. Old wine in new bottles? The RDA and the DRI<br />
. Nutrition 2000;16(7/8):488-92.<br />
Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for Calcium,<br />
Phosphorus, Magnesium, Vitamin D and Fluoride..<br />
Food and Nutrition Board. Washington, DC: National<br />
Academy Press; 1997.<br />
Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for<br />
Thiamin, Riboflavin, Niacin, Vitamin B6, Vitamin B12,<br />
Pantothenic Acid, Biotin and Choline. Food and<br />
Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />
Press; 2001.<br />
Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for Vitamin<br />
A, Vitamin K, Arsenic, Boron, Chromium, Iodine, Iron,<br />
Molybdenum, Nickel, Vanadium and Zinc. Food and<br />
Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />
Press; 2001.<br />
Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for Vitamin<br />
C, Vitamin E, Selenium and Carotenoids. Food and<br />
Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />
Press; 2001.<br />
Institute of Medicine. Dietary Reference Intake:<br />
Applications in Dietary Assessment. Food and<br />
Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />
Press; 2001.<br />
Monsen ER. New Dietary Reference Intakes proposed to<br />
replace the Recommended Dietary Allowances. J Am<br />
Diet Assoc 1996;96(8):754-5.<br />
National Research Council. Recommended Dietary<br />
Allowances. 10 th edition. Washington, DC: National<br />
Academy Press; 1989.<br />
Russel MR. New Micronutrient Dietary Reference Intakes<br />
from the National Academy of Sciences. Nutrition<br />
Today 2001;38(3):163-70.<br />
Russel RM. New views on RDAs for older adults. J Am<br />
Diet Assoc 1997;97(5):515-18.<br />
33
34<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Teor de vitamina C em suco de cultivares<br />
de laranja (citrus sinensis) e em diferentes<br />
sucos industrializados<br />
Vitamin C in juices of different orange (citrus sinensis)<br />
cultivars and in industrialized orange juices<br />
Vera Lúcia Valente-Mesquita * , Maria Lúcia Mendes Lopes ** , Glauce dos Santos Sabino *** , Patrícia Teixeira da<br />
Silva *** , Bianca Costa Alves ****<br />
* Doutora em Química Biológica pelo Departamento de Bioquímica Médica/UFRJ, Prof a . Adjunta II do Departamento de Nutrição Básica e<br />
Experimental do Instituto deNutrição/ UFRJ, **Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela UFRRJ, Prof a . Assistente II do<br />
Departamento de Nutrição Básica e Experimental do Instituto de Nutrição/UFRJ, ***Aluna do Curso de Graduação em Nutrição/UFRJ,<br />
Bolsista FAPERJ, ****Aluna do Curso de Graduação em Nutrição/UFRJ, Bolsista CNPq<br />
Resumo<br />
Este trabalho avaliou o teor de vitamina C (ácido ascórbico – AA) no suco das cultivares de laranjas ‘Lima’, ‘Lima da<br />
Pérsia’, ‘Seleta’ e ‘Pêra’, em sucos industrializados de sete diferentes marcas e a variação de seu teor no suco de laranjas ‘Pêra’<br />
íntegras armazenadas a 4 o C por até sete semanas. As amostras foram adquiridas na cidade do Rio de Janeiro. O teor de AA<br />
foi estatisticamente diferente entre as cultivares: ‘Lima’ 61,08mg%, ‘Seleta’ 47,7mg%, ‘Lima da Pérsia’ 45,37mg% e ‘Pêra’<br />
38,64mg%. Foi encontrada variação de até 53% no teor de AA entre as sete marcas de suco de laranja industrializado (28,05<br />
a 53,16 mg%). O teor desta vitamina em suco de laranjas armazenadas sob refrigeração variou entre 38,37 e 27,72 mg% com<br />
taxa de redução de 0,2%/dia. Os resultados ressaltam a importância da obtenção de dados, hoje escassos ou inexistentes na<br />
literatura, sobre a composição de alimentos disponíveis no mercado brasileiro.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Ácido ascórbico, suco de laranja fresco, suco de laranja industrializado, cultivares de laranja.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
Vitamin C (ascorbic acid – AA) was evaluated in juice of orange cultivars ‘Lima’, ‘Lima da Pérsia’, ‘Seleta’ e ‘Pêra’, in seven types<br />
of commercially packaged orange juice and its variation in juice of intact orange ‘Pêra’ stored during seven weeks at 4 o C. Samples were<br />
acquired in Rio de Janeiro city. The AA content was statistically different among cultivars: ‘Lima’ 61,08mg%, ‘Seleta’ 47,7mg%, ‘Lima<br />
da Pérsia’ 45,37mg% and ‘Pêra’ 38,64mg%. Among the industrialized samples, AA content varied from 28,05 to 53,16 mg% (53%). In<br />
juice of oranges stored under refrigeration, the quantity of this vitamin varied from 38,37 to 27,72 mg%, with a loss rate of approximately<br />
0,2%/day. The results show the importance of research related to food composition with foods available in Brazil.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Ascorbic acid, fresh orange juice, industrialized orange juice, orange cultivars.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
u Título abreviado: Vitamina C - diferentes sucos de laranja<br />
Artigo recebido em 1 de março de 2002; aprovado em 10 de março de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Vera Lúcia Valente - Mesquita, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências<br />
da Saúde, Bloco J, 2 o andar, sala 16, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro RJ. Tel: (21) 2562 6602, E-mail: vvalente@nbe.ufrj.br
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Introdução<br />
Os frutos cítricos pertencem ao gênero Citrus<br />
da família Rutaceae. Devido à grande ocorrência de<br />
hibridização e freqüência de mutações espontâneas,<br />
novas cultivares surgiram, como as laranjas ‘Seleta’,<br />
‘Lima da Pérsia’, ‘Lima’ e ‘Pêra’ [1].<br />
A indústria de sucos de frutas é uma das maiores<br />
em todo mundo, sendo o suco de laranja seu produto<br />
de maior destaque. No Brasil, a partir dos anos 90, o<br />
mercado de suco de laranja começou a apresentar<br />
mudanças como o surgimento de novas formas de<br />
comercialização do produto, a tendência à auto-suficiência<br />
e competitividade com os norte-americanos, a<br />
implantação de um programa de estabilidade econômica<br />
no país e os hábitos modernos, que têm levado ao<br />
consumo de produtos naturais, fizeram crescer o<br />
consumo deste produto no mercado nacional [2].<br />
A fácil adaptação aos diferentes tipos de clima e<br />
solo permite a produção de laranja praticamente<br />
durante o ano todo. A grande difusão no consumo<br />
de suco de laranja veio também pela evolução dos<br />
meios de transportes, crescimento das indústrias de<br />
suco e devido à grande aceitabilidade do mesmo<br />
associada às reconhecidas propriedades que a laranja<br />
apresenta, entre as quais a de ser uma das principais<br />
fontes de vitamina C [3].<br />
O efeito protetor da vitamina C é atribuído às<br />
suas propriedades antioxidantes, prevenindo doenças<br />
crônico-degenerativas [4]. Além disto, esta vitamina<br />
aumenta a absorção do ferro pelo organismo, é<br />
essencial para a formação e manutenção do colágeno,<br />
participa da ação leucocitária e atua na conversão do<br />
ácido fólico para seu análogo biologicamente ativo, o<br />
ácido tetraidrofólico [5].<br />
Cabe ressaltar que a vitamina C não é sintetizada<br />
pelo organismo. Por isto, seu consumo na alimentação<br />
diária é indispensável a fim de garantir a manutenção<br />
de suas funções biológicas [6,7].<br />
A vitamina C existe na natureza sob duas formas<br />
ativas (ácido ascórbico - AA e ácido desidroascórbico -<br />
ADA) e uma inativa (ácido dicetogulônico - ADG).<br />
Uma de suas principais características é a instabilidade,<br />
ou seja, as formas ativas podem converter-se à forma<br />
inativa. Ela é suscetível à degradação pelo calor,<br />
oxidação, dessecação, fracionamento, aplicação de frio,<br />
alcalinidade do meio e solubilidade em água [5,6].<br />
A variação no teor de vitamina C em frutas e<br />
hortaliças está relacionada com a espécie, variedade,<br />
condições climáticas, grau de maturidade, condições<br />
de cultivo, manuseio e colheita, armazenamento póscolheita<br />
e transporte.<br />
Técnicas de processamento e armazenamento<br />
podem tornar o alimento mais saudável, seguro,<br />
atraente ao paladar e menos perecível. Entretanto, os<br />
procedimentos utilizados podem afetar<br />
significativamente os teores de vitamina C dos<br />
alimentos [8]. O suco de laranja é um produto<br />
complexo cuja vida de prateleira é influenciada por<br />
diversos fatores que provocam perdas nutricionais,<br />
entre os quais se destacam as reações oxidativas, que<br />
dependem das condições de processo utilizadas, da<br />
presença do oxigênio, da embalagem utilizada, da<br />
relação tempo/temperatura de estocagem, além da<br />
influência da luz [2]. Sadler et al., 1992 [9], avaliando a<br />
estabilidade do AA em sucos de laranja<br />
industrializados submetidos a diferentes tratamentos<br />
térmicos, observaram que não houve alteração<br />
significativa no teor deste nutriente durante a primeira<br />
semana de estocagem a 4 o C, havendo, entretanto,<br />
redução após este período. Goyle & Ojha, 1998 [10]<br />
observaram uma perda de 5 a 8% no teor de vitamina<br />
C de suco de laranja estocado sob refrigeração e à<br />
temperatura ambiente após quatro semanas.<br />
É importante conhecer o teor de vitamina C em<br />
diferentes cultivares de laranja e em sucos industrializados<br />
disponíveis no mercado nacional, bem como<br />
a extensão da perda deste nutriente durante o preparo<br />
dos alimentos pois, desta forma, a ingestão dietética<br />
de vitamina C pode ser estimada e os cardápios<br />
planejados de forma a compensar as perdas esperadas.<br />
Dados sobre a composição de alimentos são<br />
essenciais para diferentes atividades: avaliar o<br />
suprimento e o consumo alimentar de uma população,<br />
verificar a adequação nutricional da dieta de indivíduos<br />
e de populações, avaliar o estado nutricional,<br />
desenvolver pesquisas sobre as relações entre dieta e<br />
doença, na indústria de alimentos, entre outras [11].<br />
Este trabalho teve como objetivo avaliar o<br />
teor de AA em suco de diferentes cultivares de laranja<br />
e em sucos industrializados comercializados na cidade<br />
do Rio de Janeiro, bem como acompanhar a variação<br />
do teor desta vitamina no suco durante o<br />
armazenamento de laranjas íntegras sob refrigeração.<br />
Materiais e métodos<br />
Avaliação do teor de AA em diferentes<br />
cultivares de laranja<br />
Foram adquiridos lotes de laranjas das cultivares<br />
‘Lima’, ‘Lima da Pérsia’, ‘Seleta’ e ‘Pêra’ em diferentes<br />
mercados da cidade do Rio de Janeiro, no mês de<br />
junho de 2001. As amostras foram transportadas para<br />
o Laboratório de Análise e Processamento de<br />
Alimentos (LAPAL) do Instituto de Nutrição da<br />
UFRJ, lavadas em água fria e corrente e o suco de<br />
35
36<br />
cada lote foi extraído numa centrífuga comercial<br />
(Comil) e coado. O teor de AA foi determinado por<br />
titulação com 2,6 diclorofenol indofenol [12] em seis<br />
repetições. Os resultados obtidos foram submetidos<br />
à análise de variância e as médias comparadas pelo<br />
teste de Tukey (p < 0,05). Os resultados obtidos foram<br />
comparados com tabelas de composição química de<br />
alimentos [13,14] e com os valores de referência de<br />
ingestão diária (RDI) de vitamina C [15].<br />
Variação no teor de AA em suco de laranjas<br />
íntegras armazenadas sob refrigeração por até<br />
sete semanas.<br />
Foram adquiridos lotes de laranjas da cultivar<br />
‘Pêra’ em diferentes mercados da cidade do Rio de<br />
Janeiro, no mês de outubro de 2001. As amostras<br />
foram transportadas para o LAPAL, lavadas em água<br />
fria e corrente, e separadas em oito lotes, dos quais<br />
um teve imediatamente o suco extraído numa<br />
centrífuga comercial (Comil), coado e analisado em<br />
três repetições, quanto ao teor de AA [12]. Os demais<br />
foram armazenados sob refrigeração (4 o C) para serem,<br />
posteriormente, submetidos à determinação semanal<br />
por até sete semanas, do teor de AA. Os resultados<br />
foram submetidos à análise de variância e de regressão.<br />
Determinação de AA em diferentes marcas de<br />
sucos industrializados.<br />
As amostras de sete diferentes marcas de sucos<br />
industrializados prontos para o consumo, identificadas<br />
pelas letras A a G, foram adquiridas em diferentes<br />
estabelecimentos do mercado varejista da cidade do<br />
Rio de Janeiro no mês de fevereiro de 2002,<br />
transportadas para o LAPAL e acondicionadas sob<br />
refrigeração até o momento das análises. O teor de<br />
AA foi determinado [12] em sete repetições, os<br />
resultados obtidos foram submetidos à análise de<br />
variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey<br />
(p < 0,05). Foi realizada, ainda, comparação entre os<br />
resultados destas análises e as informações nutricionais<br />
descritas nas embalagens dos produtos.<br />
Resultados e discussão<br />
A laranja é considerada pelos consumidores<br />
como uma das melhores fontes de vitamina C da dieta.<br />
Existe uma escassez de informação sobre os teores<br />
de AA em cultivares nacionais, bem como sobre a<br />
retenção desta vitamina durante a estocagem.<br />
Avaliação do teor de AA em diferentes<br />
cultivares de laranja.<br />
A Tabela I apresenta o teor de AA para as<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
diferentes cultivares de laranja e a Figura 1, a<br />
comparação destes resultados com os valores médios<br />
encontrados em tabelas de composição química de<br />
alimentos [13,14].<br />
Tabela I - Teor médio de AA em suco fresco de<br />
diferentes cultivares de laranja<br />
Cultivares Teor médio de AA(mg%)*<br />
Lima 61,08 a<br />
Seleta 47,70 b<br />
Lima da Pérsia 45,37 c<br />
Pêra 38,64 d<br />
CV% = 2,93<br />
*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si<br />
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.<br />
Os teores de AA dos sucos das diferentes<br />
cultivares de laranja foram estatisticamente diferentes<br />
entre si, tendo o suco da laranja ‘Lima’ apresentado a<br />
maior concentração de AA (61,08mg%), seguido das<br />
laranjas ‘Seleta’ (47,7mg%), ‘Lima da Pérsia’<br />
(45,37mg%) e ‘Pêra’ (38,64mg%). Tais diferenças<br />
podem estar relacionadas a fatores inerentes às<br />
características de cada cultivar ou à influência de<br />
fatores climáticos e/ou condições de cultivo [16].<br />
Fig. 1 - Comparação entre o teor médio de AA<br />
em suco de diferentes cultivares de laranja e a<br />
média dos valores descritos em tabelas de<br />
composição química de alimentos<br />
Comparando os valores obtidos nas análises com<br />
aqueles descritos em algumas tabelas de composição<br />
química de alimentos (Fig. 2), verifica-se que o teor<br />
de AA obtido para a laranja ‘Lima’ foi 10,5% maior,<br />
enquanto para as laranjas ‘Seleta’ e ‘Pêra’ foram 11,8%<br />
e 3,6% menores, respectivamente. Não foram<br />
encontrados dados disponíveis quanto ao teor de AA<br />
para a laranja ‘Lima da Pérsia’.<br />
Nos últimos anos, pouco se fez no Brasil, para<br />
conhecer melhor nossos alimentos, do ponto de vista<br />
nutricional. Os resultados desta pesquisa ressaltam a
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
importância de obtenção de dados sobre a composição<br />
de alimentos, condizentes com as diferenças regionais<br />
do Brasil, visto que a maioria das tabelas disponíveis<br />
é fruto de compilações de dados internacionais, além<br />
de não contemplarem todas as cultivares disponíveis<br />
no mercado nacional.<br />
Com o objetivo de verificar o volume de suco de<br />
laranja de cada cultivar necessário para suprir os valores<br />
de referência de ingestão diária (RDI) de vitamina C<br />
por faixa etária, sexo e estado fisiológico, foi elaborada,<br />
de acordo com os resultados obtidos neste estudo, a<br />
Tabela II. De acordo com esta, verifica-se que o volume<br />
de suco de laranja fresco, como única fonte alimentar,<br />
para atingir a RDI, varia de acordo com a cultivar. Para<br />
homens adultos (19 a >70 anos), por exemplo, tal<br />
volume varia de 123 a 233 ml entre as cultivares ‘Lima’<br />
e ‘Pêra’, uma diferença de 57,7%.<br />
O volume de suco de laranja ‘Lima’ necessário<br />
para atender ao requerimento nutricional de crianças<br />
na faixa de 7 a 12 meses é de 82 ml. Este volume é<br />
compatível com a capacidade gástrica desta faixa etária,<br />
além de ser esta a cultivar mais adequada devido ao<br />
baixo teor de acidez e sabor mais adocicado. Para o<br />
grupo etário de 4 a 8 anos, em que a necessidade de<br />
vitamina C é de 25 mg/dia, um pequeno volume (41<br />
a 65 ml – 4 a 6 colheres de sopa) de suco é suficiente<br />
para atender tal recomendação. Este fato assume<br />
grande importância considerando que é nesta faixa<br />
de idade que as crianças começam a ingerir outras<br />
bebidas de grande apelo comercial e baixo valor<br />
nutricional e ricas em calorias vazias. A necessidade<br />
de ingestão de vitamina C é mais elevada na fase de<br />
aleitamento (RDI = 115 a 120 mg/dia), que pode ser<br />
suprida pela ingestão diária de apenas um copo de<br />
suco de laranja ‘Lima’. Esta cultivar é indicada nesta<br />
fase, também pelo fato de apresentar menor teor de<br />
acidez, quando comparada às demais, evitando<br />
transtornos gastrointestinais ao lactente, bem como<br />
prevenindo a constipação intestinal, freqüentemente<br />
agravada nesta fase fisiológica.<br />
Embora a laranja ‘Pêra’, tenha apresentado o<br />
menor teor de vitamina C entre as cultivares estudadas,<br />
é a mais utilizada por grande parte da população<br />
brasileira na preparação de sucos, por ser abundante<br />
durante todas as estações do ano e a de menor custo.<br />
O conhecimento do teor de vitamina C das diferentes<br />
cultivares de laranja, seja por leigos, que não têm<br />
acesso a literatura, seja por profissionais da área da<br />
saúde, considerando a escassez ou inexistência destes<br />
dados na literatura especializada, pode levar a<br />
mudanças no consumo de suco de laranja com vistas<br />
a obtenção de uma melhor relação custo/benefício.<br />
Variação no teor de AA em suco de laranjas<br />
íntegras armazenadas sob refrigeração por até<br />
sete semanas<br />
A Figura 2 apresenta a variação do teor de AA<br />
em suco de laranjas, cultivar ‘Pêra’, íntegras<br />
armazenadas sob refrigeração (4 o C) durante 49 dias e<br />
a curva obtida pela análise de regressão.<br />
O teor de AA em suco fresco de laranjas íntegras<br />
armazenadas sob refrigeração durante 49 dias variou<br />
entre 38,37 mg% e 27,72 mg% (retenção de<br />
aproximadamente 72%), diminuindo com o tempo<br />
de armazenamento. De acordo com estes resultados,<br />
Tabela II - Volume de suco de diferentes cultivares de laranja, necessário para atingir a RDI<br />
Faixa etária/ RDI Volume de suco necessário para atingir a DRI (ml)<br />
sexo/estado mg/dia Lima Seleta Lima Pêra<br />
fisiológico da Pérsia<br />
0-6 meses 40 65 84 88 104<br />
7-12 meses 50 82 105 110 129<br />
1-3 anos 15 25 32 33 39<br />
4-8 anos 25 41 52 55 65<br />
Mulheres<br />
9-13 anos 45 74 94 99 117<br />
14-18 anos 75 123 157 165 194<br />
19->70 anos 90 147 189 198 233<br />
Homens<br />
9-13 anos 45 74 94 99 117<br />
14-18 anos 65 106 136 143 168<br />
19->70 anos 75 123 157 165 194<br />
Gestantes<br />
≤ 18 anos 80 131 168 176 207<br />
19-50 anos 85 139 178 187 220<br />
Lactantes<br />
≤ 18 anos 115 188 241 254 298<br />
19-50 anos 120 197 252 265 311<br />
37
38<br />
Fig. 2 - Variação do teor de AA no suco de<br />
laranjas íntegras armazenadas sob<br />
refrigeração por 49 dias<br />
Y = 37,08 – 0,1952X (R 2 = 0,73**)<br />
obteve-se o modelo Y = 37,08 – 0,1952X (R 2 = 0,73),<br />
que indica uma taxa de redução de aproximadamente<br />
0,2%/dia do teor de AA. Shaw & Moshonas, 1991<br />
[17] avaliaram a retenção de AA em suco de laranja<br />
industrializado armazenado sob refrigeração e<br />
verificaram perda de 1,5 a 2%/dia e retenção média<br />
de 88% após 5 a 7 dias. Os resultados do presente<br />
estudo apontam para uma retenção média de 97%<br />
neste mesmo período. A maior taxa de redução obtida<br />
pelos autores pode ser atribuída, entre outros fatores,<br />
ao fato de os mesmos terem trabalhado com amostras<br />
de suco industrializado e à temperatura de 4,5 o C. Por<br />
outro lado, embora no presente estudo as laranjas<br />
tenham sido mantidas íntegras, sob refrigeração, até<br />
o momento da extração do suco, visando evitar<br />
contato com atmosfera e assim evitar perdas por<br />
oxidação, os resultados indicam maior perda quando<br />
comparados com aqueles obtidos por Goyle & Ojha,<br />
1998 [10], que observaram retenção de 95% no teor<br />
de AA em suco de laranja, previamente extraído, após<br />
4 semanas sob refrigeração.<br />
O efeito da temperatura de estocagem sobre o<br />
teor de AA é demonstrado em estudo realizado por<br />
Lee & Coates, 1999 [18], que observaram uma perda<br />
de 0,34%/mês deste nutriente em amostras de suco<br />
de laranja natural congelado, e por Pedrão et al., 1999<br />
[19] que não observaram redução significativa no teor<br />
de AA em suco de limão armazenado sob<br />
congelamento por 60 dias. De acordo com Corrêa<br />
Neto & Faria, 1999 [2], a temperatura de estocagem é<br />
considerada o fator mais importante na estabilidade<br />
e qualidade dos sucos cítricos.<br />
Cabe ressaltar que, embora os meios de<br />
comunicação de massa e a crença popular sugiram<br />
que o suco de laranja deva ser ingerido logo após ser<br />
extraído, sob pena de perda significativa de seu<br />
conteúdo de AA, os resultados deste estudo<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
demonstram o contrário, principalmente ser for<br />
considerado que, em condições domésticas, o suco<br />
de laranja geralmente não permanece na geladeira por<br />
mais de dois dias.<br />
Determinação de AA em diferentes marcas de<br />
sucos industrializados<br />
A Tabela III apresenta o teor de AA para as<br />
diferentes marcas de suco de laranja industrializado e a<br />
Figura 3, a comparação entre estes resultados e os valores<br />
expressos nas embalagens dos respectivos produtos.<br />
Tabela III - Teor de AA em diferentes marcas de<br />
suco de laranja industrializado<br />
Sucos Industrializados Teor de AA (mg%)*<br />
C 53,16 a<br />
E 45,82 b<br />
G 37,04 c<br />
A 32,88 d<br />
B 30,23 e<br />
D 29,86 e<br />
F 28,05 f<br />
CV% = 0,918<br />
*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si<br />
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.<br />
Os resultados demonstram grande variação (até<br />
53%) no teor de AA entre as sete marcas de suco de<br />
laranja analisadas (28,05 a 53,16 mg%). Somente entre<br />
duas amostras (B e D), não houve diferença<br />
significativa. Cabe ressaltar a importância desta<br />
variação no valor nutritivo do produto, com vistas ao<br />
atendimento às recomendações nutricionais, uma vez<br />
que todas as amostras são comercializadas como suco<br />
pronto para o consumo.<br />
A Fig. 3 apresenta o teor de AA analisado e o<br />
expresso nas embalagens de diferentes marcas de<br />
sucos industrializados.<br />
Fig. 3 - Comparação dos teores de AA<br />
analisados e mencionados nos rótulos de<br />
sucos de laranja industrializados
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Das sete marcas analisadas, duas (C e F) não<br />
apresentaram o teor de AA na embalagem. As marcas<br />
A, B e G mencionaram teores, respectivamente, 15,6,<br />
15,7 e 8% superiores àqueles obtidos nas análises. Não<br />
houve diferença entre o teor de AA analisado e o<br />
mencionado na embalagem do suco da marca D. O<br />
teor de AA mencionado na embalagem do suco da<br />
marca E foi 30,2% inferior ao obtido neste estudo.<br />
Corrêa Neto & Faria, 1999 [2] relataram que<br />
sucos industrializados armazenados em temperaturas<br />
mais baixas (4 o C) apresentaram menor perda de AA<br />
em relação aos que foram armazenados à 15 o C e 25 o C.<br />
Segundo este mesmo autor, a permeabilidade da<br />
embalagem ao oxigênio pode aumentar a perda do<br />
AA no decorrer do prazo de validade.<br />
Reações de natureza oxidativa podem ocorrer<br />
com o AA alterando sensivelmente as características<br />
nutricionais do produto. Estas reações dependem das<br />
condições de processamento utilizadas, da presença<br />
de O 2 , da embalagem utilizada, da relação tempo/<br />
temperatura de estocagem, além da influência da luz<br />
[2]. Assim sendo, as diferenças observadas neste<br />
experimento podem ser decorrentes da interação entre<br />
dois ou mais destes fatores.<br />
Conclusões<br />
O teor de vitamina C diferiu significativamente<br />
entre as diferentes cultivares de laranja estudados,<br />
influenciando na quantidade de suco necessária para<br />
atender as recomendações nutricionais desta vitamina.<br />
O suco extraído de laranjas armazenadas sob<br />
refrigeração durante 49 dias apresentou retenção de<br />
aproximadamente 72% de AA e taxa de redução de<br />
aproximadamente 0,2%/dia. Dados sobre a cinética<br />
de perda de AA em laranjas íntegras não estão<br />
descritos na literatura. Foi observada grande variação<br />
(até 53%) no teor de AA entre as sete marcas<br />
analisadas de suco de laranja industrializado.<br />
Este trabalho contribui com dados para<br />
elaboração de uma tabela nacional de composição<br />
química de alimentos, verificação da adequação<br />
nutricional da dieta de indivíduos e populações,<br />
planejamento dietético para indivíduos e coletividades<br />
sadias e enfermas, desenvolvimento de pesquisas<br />
sobre as relações entre dieta e doença, discussão sobre<br />
a relação custo/benefício dos diferentes processos<br />
tecnológicos de obtenção do suco de laranja, entre<br />
outros.<br />
Agradecimentos<br />
Apoio financeiro: FAPERJ, CNPq, FUJB<br />
Apoio técnico: Maria Teresa Cavalcanti Simões<br />
Apoio estatístico: Prof. Dr. Higino Marcos Lopes<br />
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39
40<br />
REVISÃO<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Amido resistente: propriedades funcionais<br />
Resistent starch: functional properties<br />
Maria Cristina Jesus Freitas<br />
Doutora em Ciência da Nutrição pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Professora Adjunto do Departamento<br />
de Nutrição Básica e Experimental, Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro<br />
Resumo<br />
Todo amido ingerido não é sempre digerido e absorvido no intestino delgado. Uma parte do amido de certos alimentos<br />
resiste à digestão enzimática no intestino delgado e ao atingir o intestino grosso é hidrolisado parcialmente pela microflora.<br />
Nesta circunstância será denominado amido resistente (AR). O AR é encontrado em alimentos cozidos, resfriados e processados,<br />
mas ocorre também in natura em batata crua e banana verde e outras fontes naturais. O fruto verde é rico em AR nativo. A<br />
presença de AR na alimentação apresenta efeitos benéficos no metabolismo intestinal, lipídico, glicídico, principalmente no<br />
transporte glicêmico e na microbiota colônica.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Amido resistente, metabolismo intestinal, lipídios, glicídios e microbiota.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
Not all ingested starch is digested and absorbed by the small intestine. Part of the starch from some kinds of food<br />
resists enzymatic digestion, and reaches the large intestine where it is partially hydrolysed by the microflora. This kind of<br />
starch is known as resistant starch (RS). Resistant starch is found in cooked, colded and processed foods, although it is<br />
naturally found in raw potatoes and green bananas and other natural sources. There are some evidence of its positive effect<br />
in the large intestine as well as on lipidic and glycidic metabolism and the microbiotic contents of the colon .<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key words: Resistant starch, intestinal metabolism, lipids, glucose and microbiotic.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 15 de fevereiro de 2002, aprovado em 1 de março de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio de Instituto de Nutrição Josué de Castro - DNBE-CCS.<br />
Av Brigadeiro Trompowsky s/n. Cidade Universitária 21940-590 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)25626602/22808343, E-mail:<br />
cristina@nbe.ufrj.br.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Introdução<br />
O amido é a principal fonte energética dos<br />
humanos. Distinguem-se três principais tipos de<br />
amido ingerido: o amido rapidamente digerido, o<br />
amido lentamente digerido e o amido resistente [1].<br />
Cerca de 10% do amido ingerido escapam à digestão<br />
da α-amilase pancreática no intestino delgado e<br />
chegam ao intestino grosso onde são fermentados<br />
pela microflora alterando o ambiente luminal e<br />
favorecendo o metabolismo dos colonócitos [2-8].<br />
A ingestão de diferentes tipos de AR fornece<br />
respostas nutricionais diferenciadas. Nos últimos anos,<br />
vários trabalhos [9-11] vem ressaltando a participação<br />
do AR na resposta clínica em decorrência da fermentação<br />
colônica demonstrando alteração do metabolismo<br />
lipídico e microbiota intestinal modificada.<br />
Alguns trabalhos verificaram a relação de dietas<br />
ricas em AR com características relevantes da massa<br />
fecal [12-21] e fundamentalmente com o metabolismo<br />
glicídico [22-24]. Finalmente em humanos, os estudos<br />
utilizando dietas com AR de bananas indicaram<br />
respostas semelhantes às encontradas nos estudos<br />
com animais [14].<br />
O amido resistente (AR) é encontrado em<br />
alimentos cozidos, resfriados e processados, mas<br />
ocorre também in natura em batata crua e banana verde<br />
e outras fontes naturais .<br />
Amido<br />
As principais fontes de amido são representadas<br />
pelos grãos de cereais (40-90% do peso seco), pelas<br />
leguminosas (30-70% do peso seco) e pelos tubérculos<br />
(65-85% do peso seco). Fornecem 40-80% da energia<br />
ingerida para a maioria dos povos do mundo.<br />
O amido é composto por cadeias de amilose e<br />
amilopectina. A primeira é um polímero linear de<br />
glicose com ligações glicosídicas do tipo a-1,4 e<br />
compreende 20-30% do amido; a segunda é um<br />
polímero ramificado constituído de ligações<br />
glicosídicas do tipo a-1,4 com cadeias de glicose ligadas<br />
em a-1,6 conferindo uma estrutura esférica, normalmente,<br />
representa 70-80% do grânulo de amido. A<br />
fração não glicídica (proteína, lipídeos e fósforo)<br />
representa 0,5 a 2% da composição química total.<br />
A composição e as propriedades do amido<br />
variam quanto à origem botânica e são alteradas por<br />
modificações químicas ou físicas quando submetido,<br />
por exemplo, a processamentos térmicos e estocagem.<br />
A organização do grânulo de amido depende do modo<br />
pelo qual estão as moléculas de amilose e amilopectina<br />
associadas. Quando as ligações são numerosas e<br />
regulares as cadeias se associam formando zonas<br />
cristalinas, mas se as ligações são pouco numerosas e<br />
irregulares, as cadeias se associam formando as zonas<br />
amorfas. Zobel [25], relatou que 15 a 45% do grânulo<br />
de amido nativo apresenta cristalinidade, sendo assim,<br />
a cristalinidade não é o principal modelo de organização<br />
dos polímeros no grânulo de amido.<br />
Entre as zonas totalmente cristalinas e as zonas<br />
amorfas existem estruturas com densidades variáveis<br />
e progressivas que se evidenciam por apresentarem<br />
níveis distintos de resistência, a saber: uma camada<br />
amorfa seria rapidamente hidrolisada; uma camada<br />
semi-cristalina teria hidrólise mais lenta e finalmente<br />
ocorreriam camadas cristalinas resistentes a hidrólise<br />
ácida e enzimática. Em geral estas estruturas<br />
representam cerca de 40, 30 e 20% do grânulo de<br />
amido, respectivamente [26].<br />
Por muito tempo foi descrito que a organização<br />
estrutural do grânulo de amido era fibrilar. A partir<br />
do final da década de sessenta foi proposto um modelo<br />
de organização em “clusters” das cadeias de<br />
amilopectina [27].<br />
Estudos de Gallant et al. [27], Faisant et al. [5] e<br />
Gallant et al. [28] sobre a organização do grânulo de<br />
amido de vários tamanhos e tipos (feijão e milho)<br />
descrevem que o amido é constituído por regiões<br />
cristalinas alternadas de camadas semicristalinas e que<br />
as regiões cristalinas de amilopectina compõem<br />
“superclusters” ou super hélices, altamente ordenadas,<br />
formando blocos de vários tamanhos com canais<br />
radiais. Essas estruturas estão conectadas por ligações<br />
glicosídicas (a-1, 4-D-glicose), presentes nos canais e<br />
zonas amorfas as quais seriam as regiões mais<br />
suscetíveis à ação hidrolítica de ácidos e enzimas.<br />
A cristalinidade é analisada classicamente pelos<br />
seus padrões de difração de raio-X e tem revelado<br />
em geral que grânulos de amido de tubérculos são<br />
mais cristalinos que de cereais. Assim regiões<br />
altamente ordenadas conferem ao grânulo padrão de<br />
difração de raio-X caracterizado como A, B ou C<br />
dependendo da origem botânica. Os amidos de<br />
cereais, com difração de raios-X padrão do tipo A,<br />
são termodinamicamente mais estáveis e talvez mais<br />
compactos que os do tipo B; amidos de batata crua,<br />
banana verde, amidos retrogradados e grãos ricos em<br />
amilose têm padrão de cristalinidade do tipo B e são<br />
também resistentes à α-amilase pancreática; amidos<br />
de leguminosas e sementes apresentam padrão tipo C<br />
[27], e com freqüência são resistentes à ação enzimática.<br />
No grânulo de amido a região amorfa é menos<br />
densa, absorve água mais rapidamente e é mais<br />
suscetível às modificações químicas e enzimáticas [29].<br />
É necessário lembrar que as modificações que<br />
41
42<br />
ocorrem durante o processamento de produtos<br />
amiláceos afetam a sensibilidade à ação enzimática<br />
tanto in vivo quanto in vitro, fato este que está na origem<br />
do conceito de amido resistente.<br />
No processamento industrial ou doméstico de<br />
alimentos ocorre a gelatinização que consiste em<br />
processo endotérmico de fusão dos cristalitos de<br />
amido [29]. No tratamento térmico o grânulo de<br />
amido sofre hidratação, intumescimento e ruptura da<br />
estrutura granular e consequentemente solubilização<br />
das moléculas. O progressivo resfriamento de uma<br />
suspensão de amido é caracterizado pelo gel viscoelástico<br />
formado pela rede tridimensional de moléculas<br />
associadas fisicamente por pontes de hidrogênio. Os<br />
géis de amido retrogradam, isto é, passam por<br />
transformação estrutural durante a estocagem,<br />
ocorrendo agregação de cadeias, recristalização,<br />
aumento de rigidez e separação de fase entre polímero<br />
e solvente. A retrogradação do amido é influenciada<br />
por diversos fatores e, além da digestibilidade, afeta<br />
também a textura e aceitação dos produtos.<br />
Considerando-se que a gelatinização do amido<br />
facilita a ação enzimática e que a quantidade de enzima<br />
pancreática (α-amilase pancreática) é mais do que<br />
suficiente para a digestão do amido dietético, poderse-ia<br />
esperar que todo amido ingerido fosse totalmente<br />
hidrolizado no duodeno e jejuno, mas não é o que<br />
ocorre. A digestibilidade do amido varia de amido<br />
rapidamente digerido para amido lentamente digerido<br />
e finalmente para o amido resistente à digestão como<br />
demonstrado na Tabela I [30].<br />
Amido resistente<br />
O termo Amido Resistente (AR) foi<br />
originalmente usado para designar a fração do amido<br />
que resiste à degradação pela ação da amilase<br />
pancreática in vitro. Após dispersão e ebulição em água,<br />
seguido de solubilização com hidróxido de potássio<br />
ou dimetilsulfato, esta porção pode ser hidrolizada<br />
pela amiloglicosidase.<br />
Tabela I – Classificação nutricional do amido in vitro<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
EURESTA (European Flair-Concerted Action on<br />
Resistante Starch) em 1992 [31], descreveram que o<br />
amido resistente consiste de três frações (in vivo)<br />
distintas, as quais dependem principalmente do<br />
alimento e do tipo de amido: uma fração seria<br />
composta por oligossacarídeos (incluíndo glicose);<br />
outra fração teria a-glucanas lineares de alto peso<br />
molecular (principalmente nos grânulos de amido) e<br />
a terceira fração teria cadeias longas provavelmente<br />
partes do grânulo de amido [32].<br />
Czuchajwska et al. [33] e Gallant et al. [28] relatam<br />
que o amido resistente é composto por diversas e<br />
variadas formas, sendo estas resultantes de forças de<br />
ligações intermoleculares variáveis. Possuem regiões<br />
cristalinas formando blocos e regiões amorfas de<br />
domínios menos ordenadas interpostas e interelacionadas<br />
com aquelas citadas regiões cristalinas. Por<br />
outro lado, o conceito fisiológico de amido resistente<br />
foi estendido de modo a incluir todo amido ou<br />
produto da degradação de amido não absorvido no<br />
intestino delgado de indivíduos saudáveis.<br />
Englyst e Cummings [14] classificaram o amido<br />
resistente (AR) de acordo com a resistência à digestão:<br />
amido inacessível fisicamente é o amido encapsulado<br />
pela parede celular de alguns vegetais foi identificado<br />
como AR tipo I (AR 1 ) ocorrendo em grãos<br />
parcialmente triturados, (sementes e leguminosas);<br />
amido resistente nativo (menos freqüente, não é<br />
formado hidrotermicamente) e foi identificado como<br />
AR do tipo 2 (AR 2 ), presente em batata crua e bananas<br />
verdes; amido retrogradado, produzido durante ciclos<br />
de cozimento/ resfriamento e estocagem corresponde<br />
ao amido que após ter sido gelatinizado e resfriado,<br />
passa por um processo de recristalização ou seja de<br />
retrogradação. Este processo é irreversível e o amido<br />
é identificado como AR tipo 3 (AR 3 ).<br />
Os produtos amiláceos podem conter um ou<br />
mais tipos de AR, podendo os tipos 1, 2 e 3<br />
coexistirem no mesmo alimento; a quantidade<br />
dependerá de muitos fatores iniciando-se pela origem<br />
botânica e alterando-se pelo processamento e<br />
armazenamento do alimento, por exemplo.<br />
Tipo de amido Exemplo de ocorrência Provável digestão no<br />
intestino delgado<br />
Amido Rapidamente Digerível (ARD) Alimentos amiláceos recentemente cozidos Rápida<br />
Amido Lentamente Digerível (ALD)<br />
Amido resistente(AR)<br />
Principalmente cereais crus Lenta mas completa<br />
Tipo I Amido fisicamente inacessível Grãos e sementes parcialmente moídos Resistente<br />
Tipo II Grânulos amido resistente Batata crua e banana verde Resistente<br />
Tipo III Amido retrogradado Batata cozida e resfriadaPão e flocos de milho Resistente<br />
Fonte: Englyst et al., European Journal of Clinical Nutrition 46:(2), p. 533-50, 1992. [ 1]
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
A presença de AR tem sido detectada em<br />
diversos alimentos comercializados. A análise do teor<br />
de AR, contido nos alimenos brasileiros tem sido<br />
realizada na USP com a finalidade de gerar o Banco<br />
de Dados Brasileiro de AR [34], que contém o teor<br />
de AR de aproximadamente 128 alimentos<br />
consumidos pela população brasileira. Alguns destes<br />
dados e são expostos na Tabela II. Em todos os<br />
alimentos as quantidades são muito variáveis e<br />
influenciadas por diversos fatores: temperatura e<br />
umidade, auto clavagens/resfriamento, presença de<br />
lipídeos, tama-nho da cadeia de amilose e<br />
amilopectina, temperatura/tempo de armazenamento,<br />
teor de açúcar, dentre outros [33, 35-38]. Até o<br />
momento dois produtos foram descritos como sendo<br />
naturalmente ricos em AR, o amido de batata crua e<br />
o de bananas verdes.<br />
Tabela II - Conteúdo de amido resistente em<br />
alimentos brasileiros<br />
ALIMENTOS AR%<br />
Arroz polido , cozido 0,66<br />
Aveia em flocos 1,41<br />
Macarrão Cozido 0,42<br />
Milho Cozido 1,05<br />
Fubá de milho cozido 1,26<br />
Mandioca frita 1,31<br />
Pão francês 1,34<br />
Batata cozida 0,48<br />
Ervilha cozida 1,55<br />
Feijão preto cozido<br />
Fonte: [34]<br />
1,54<br />
Amido Resistente x Propriedades<br />
Funcionais<br />
A ingestão do amido resistente no Brasil na<br />
década de 90 não passou de 3,4 g/dia [34]. Tem sido<br />
recomendado em vários países da Europa um<br />
consumo médio de 4 g/dia/pessoa. De maneira geral<br />
os estudos mostram que 4 a 10% do amido presente<br />
na dieta pode ser resistente à digestão enzimática. Essa<br />
porção significativa de carboidratos ingeridos que<br />
escapam à digestão e à absorção no intestino delgado<br />
passa ao cólon e cerca de 90% desses carboidratos<br />
não absorvidos são fermentados por bactérias,<br />
influenciando a composição dos metabólitos na luz<br />
intestinal, sobretudo dos ácidos graxos de cadeia curta<br />
que estão relacionados com redução do risco de câncer<br />
de cólon. Alguns benefícios potenciais do AR são<br />
descritos a seguir:<br />
Efeito no trato intestinal<br />
Numerosas investigações têm demonstrado o<br />
efeito fisiológico do amido resistente principalmente<br />
pelo grupo de trabalho da EURESTA [31]. Em 1994<br />
este grupo concluiu que o consumo de amido<br />
resistente em quantidades fisiológicas influenciava a<br />
absorção de esterol levando à redução da excreção de<br />
ácidos biliares enquanto que nenhum efeito foi<br />
demonstrado na absorção de vitaminas e minerais.<br />
Quanto à absorção de glicose, o amido resistente por<br />
si só não influenciaria nesse processo, mas em alguns<br />
casos, devido à reduzida suscetibilidade enzimática, a<br />
disponibilidade da glicose foi lenta e gradativa como<br />
descrita na literatura [1 e 39].<br />
Gee et al., [40] utilizaram várias fontes de AR:<br />
amido de milho com alto teor de amilose (Hylon VII),<br />
Hylon VII retrogradado, Hylon VII modificado<br />
(gelatinizado e resfriado em nitrogênio líquido) e<br />
extrusado de Hylon VII, produzidos pela EURESTA<br />
[31], objetivando investigar o efeito fisiológico na<br />
função e estrutura do intestino de ratos alimentados<br />
com dietas acrescidas de 20% desses amidos por três<br />
semanas. O impacto do AR no trato gastrintestinal<br />
foi avaliado segundo parâmetros: mudanças na massa,<br />
dimensão e composição do conteúdo do intestino e<br />
atividade fermentativa. Os autores obtiveram<br />
aumentos similares de excreção fecal em todos os<br />
animais alimentados com AR. Uma das maiores<br />
mudanças foi o aumento da atividade fermentativa<br />
no cécum dos animais submetidos à dieta com AR<br />
com expressivo aumento de butirato e alterações das<br />
dimensões das criptas da mucosa intestinal.<br />
Os mesmos autores relataram que a composição<br />
química hepática dos ratos alimentados com AR não<br />
sofreu alterações, porém o nível de certas enzimas,<br />
principalmente as associadas à lipogênese (glicose-6fosfato<br />
desidrogenase) estavam elevadas. Quanto à<br />
secreção do glucagon, este estava reduzido nos animais<br />
submetidos ao extrusado Hylon VII e amido<br />
modificado Hylon VII, respectivamente. Os autores<br />
concluíram que os efeitos fisiológicos em ratos das<br />
dietas contendo AR estão sobretudo associados ao<br />
processo fermentativo no intestino grosso, o qual seria<br />
um modelador potencial da capacidade proliferativa<br />
dos enterócitos.<br />
Eerlingen e Delcour [41] ao caracterizarem o<br />
AR do conteúdo ileal de humanos revelaram que o<br />
AR consiste em três frações de a-glucanas: a primeira<br />
composta de oligossacarídeos (DP n < 5) ou seja,<br />
produtos da hidrólise do amido; a segunda é uma<br />
43
44<br />
fração cristalina (DP n = 15) composta de amido<br />
retrogradado e a terceira é a fração de a-glucanas de<br />
elevada massa molecular (Dp n > 100) que escapam à<br />
digestão por inacessibilidade ou insuficiência de tempo<br />
de contato com a enzima. Concluíram que tanto in vivo<br />
quanto in vitro o AR excretado é similar. Encontraram<br />
também que os animais submetidos às dietas com AR<br />
apresentaram bolo fecal e conteúdo cecal aumentado<br />
e pH reduzido. Seguindo esta linha, Cummings et al.,<br />
[42], estudaram em humanos a digestão de quatro<br />
fontes de AR: batata, banana, trigo e milho. Os autores<br />
observaram nos indivíduos que ingeriram AR, ocorreu<br />
aumento da massa e nitrogênio fecal, de energia<br />
excretada e ainda relatos de efeito laxativo.<br />
O amido resistente tende a aumentar a excreção<br />
fecal. Shetty e Kurpad [13] mostraram que a suplementação<br />
de 100 g/dia de amido de milho verde aumenta<br />
30% da massa fecal sem modificar o trânsito intestinal.<br />
Estudo com humanos que receberam<br />
diariamente uma dieta contendo 45 g de Hylon VII<br />
(amido de milho com alto teor de amilose) mostrou<br />
mudanças significativas na função colônica e na<br />
proliferação das criptas celulares, incluindo ainda o<br />
aumento da excreção fecal [43].<br />
Johansen et al. [44] demonstraram que a<br />
digestibilidade do AR de amido de milho nativo cru<br />
foi baixa, porém foi compensada pelo aumento da<br />
fermentação no cécum e no cólon de ratos. Vários<br />
autores Brunsgaard et al., [45]; Edwards et al., [4];<br />
Mathers et al., [46]; Muir et al., [5]; Cummings e<br />
MacFarlane et al., [7] concluíram que diferentes tipos<br />
de AR apresentam diferentes taxas de fermentação in<br />
vitro e in vivo e que os produtos da fermentação apresentam<br />
impactos sobre a integridade dos colonócitos.<br />
Freitas e Tavares em 2001 [47], estudaram o<br />
metabolismo intestinal do amido resistente de bananas<br />
(Musa AAA-Nanicão e Musa AAB-Terra) em ratos<br />
durante dez dias. Os resultados expressaram baixa<br />
digestibilidade e alta excreção de AR, sobretudo de<br />
Musa AAA-Nanicão resultou em maior quantidade<br />
de material fecal. As dietas contendo AR Musa AAB-<br />
Terra promoveram “pellets ” fecais de menor tamanho<br />
e em menor quantidade, possuíndo formas irregulares<br />
e friáveis. É pertinente enfatizar que a integridade<br />
histológica permaneceu inalterada, apesar da excessiva<br />
dilatação devido à alta fermentação e sobretudo cecal<br />
e colônica.<br />
Efeito no metabolismo lipídico e glicídico<br />
O amido resistente e outros carboidratos remanescentes<br />
da dieta fermentam no intestino grosso.<br />
Cummings et al., [42] relataram que as mudanças da<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
estrutura física dos distintos tipos de AR podem explicar<br />
os diversos graus de fermentação dos AR no colon.<br />
Cummings et al., [48] observaram aumento da<br />
excreção de ácidos graxos de cadeia curta, quando se<br />
ingere uma dieta rica em AR com produção elevada<br />
de acetato\propionato e sobretudo de butirato. Esses<br />
ácidos graxos voláteis (AGV) alteram o pH local e<br />
influenciam o metabolismo dos colonócitos.<br />
Englyst et al., [49] reforçam que a produção de<br />
ácidos graxos de cadeia curta pela microbiota do<br />
intestino grosso pode também implicar na redução<br />
do colesterol plasmático e na tolerância à glicose. Os<br />
autores relataram que o AR, quando acrescido à dieta,<br />
reduzia a concentração de colesterol sérico, como<br />
também aumentava a excreção biliar, tendo um efeito<br />
comparável ao de fibra solúvel da dieta. Investiga-se<br />
se o efeito do AR pode ser devido ao efeito da<br />
excreção fecal de esteróis neutros e ácidos biliares.<br />
Edwards et al., [4] demonstraram in vitro por<br />
inoculação do material fecal em substratos<br />
fermentáveis como lactulose e AR, a inibição da<br />
conversão de ácidos biliares primários em secundários<br />
e diminuição da concentração de ácido deoxicólico<br />
solúvel e substâncias que provocam litíase biliar.<br />
Van Munster et al., [23] observaram redução na<br />
fração de ácidos biliares secundários no material fecal<br />
de 93 para 82% e diminuição significativa da concentração<br />
de ácidos biliares citotóxicos na fração aquosa<br />
do material cecal de indivíduos submetidos à ingestão<br />
de 45 g de HylonVII (60% de AR) por 14 dias.<br />
Annison e Topping, [50] afirmaram que o<br />
butirato possui efeito sobre a renovação celular dos<br />
colonócitos. A deficiência dessa substância no<br />
intestino grosso tem sido associada ao<br />
desenvolvimento de processos carcinogênicos,<br />
enquanto que o propionato, parece inibir a síntese de<br />
ácidos graxos no fígado e reduzir a taxa de secreção<br />
do triacilglicerol.<br />
De Deckere et al., [51] investigaram o efeito<br />
hipocolesterolêmico do AR, explicando-o pelo<br />
aumento da excreção fecal de ácidos biliares primários<br />
e esteróis neutros. Seus trabalhos confirmaram que a<br />
ingesta aumentada de AR eleva o “pool” de ácidos<br />
biliares no fígado, contribuindo dessa forma para a<br />
redução da concentração do colesterol sérico.<br />
Younes et al., [18] estudaram o efeito do AR de<br />
batata no metabolismo de colesterol e ácidos biliares<br />
em ratos. Verificaram que o AR apresentou maior efeito<br />
na redução do colesterol e triacilgliceróis séricos.<br />
Khallou et al., [52] estudaram a incidência de<br />
colelitíase e o metabolismo do colesterol e ácidos<br />
biliares em hamister alimentados com dietas contendo<br />
AR (amido com alto teor de amilose autoclavada) em
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
proporções crescentes 12, 36, 48 e 72,5%. Verificaram<br />
diminuição significativa dos níveis de colesterol sérico<br />
e do índice litogênico nos animais submetidos às dietas<br />
contendo 36, 48 e 72,5% de AR.<br />
Levrat et al., [19] estudaram o efeito no<br />
metabolismo de colesterol e triacilgliceróis de ratos<br />
submetidos a dietas com goma guar à 8% e AR à<br />
20%. Ambos os polissacarídeos reduziram significativamente<br />
o colesterol e triacilgliceróis plasmáticos<br />
em 40 e 36%, respectivamente.<br />
Lere-Metzger et al., [53] investigaram as<br />
conseqüências metabólicas da ingestão crônica de duas<br />
fontes de amido (Phaseolus aureus e amido de trigo)<br />
por duas semanas em ratos normais. Concluíram que<br />
a ingesta do amido de feijão reduziu a concentração<br />
dos ácidos graxos livres, triacilglicerol e fosfolipídeos,<br />
enquanto que o amido de trigo não alterou as<br />
concentrações séricas estudadas.<br />
Freitas e Tavares [47] verificaram, em ratos, que o<br />
consumo de amido resistente de bananas verdes reduziram<br />
significativamente o colesterol sérico. Estes animais<br />
obtiveram melhor relação das frações LDL/HDL.<br />
Os mecanismos propostos para o efeito<br />
hipocolesterolêmico do AR e de outros<br />
polissacarídeos (fibra solúvel da dieta) saõ abordados<br />
na literatura como: modificação na absorção e metabolismo<br />
dos ácidos biliares; interferência na absorção<br />
e metabolsimo dos lípides; produção de ácidos graxos<br />
voláteis provenientes da fermentação no cólon e<br />
alterações na concentração e na sensibilidade à insulina<br />
e outros hormônios [17 e 51] .<br />
Outros trabalhos Fernandez et al., [55]; Khalou<br />
et al., [52]; Levrat et al., [19]; Smet et al., [54]; Vahoof e<br />
Schrijver [56] e Yamamoto et al., [57], e associados ao<br />
metabolismo do colesterol com amido não digerido<br />
sustentam os mecanismos propostos acima<br />
explicando que há possibilidade da estrutura helicoidal<br />
do AR apresentar sítios de ligação com esteróides,<br />
impossibilitando a hidrólise do AR. Por outro lado<br />
foi considerado que a proliferação das bactérias<br />
colônicas ou de suas enzimas envolvidas com a<br />
redução do colesterol estariam também relacionadas<br />
com a redução do pH, com a produção dos ácidos<br />
graxos voláteis e com a diminuição do potencial redox.<br />
Xue et al., [58] constataram que o teor de amilose<br />
e o teor de AR da cevada estão correlacionados com<br />
a resposta glicêmica. A resposta glicêmica diminuiu<br />
após submeter amostras de cevada à autoclavagem.<br />
Os autores atribuem tal fato à formação de AR.<br />
Truswell, [59] e Faisant et al., [5] não encontraram<br />
correlação da glicemia sangüínea de humanos com<br />
dietas ricas em AR, porém os dados de Englyst et al.,<br />
[49, 64] são contraditórios. Demonstraram que quan-<br />
do a taxa de digestão do amido é diminuída, a elevação<br />
glicêmica pós-prandial é reduzida ou retardada.<br />
Vários autores Jenkins et al., [60]; Lijeberg e<br />
Björck, [61]; Gõni et al., [62]; Akerberg et al., [63];<br />
Englyst et al., [64] verificaram que a ingesta de<br />
diferentes tipos de alimentos produziriam variadas<br />
respostas glicêmicas. As diferenças foram devido ao<br />
tipo de carboidratos ingeridos, ou seja, carboidratos<br />
de lenta digestão freqüentemente apresentam menores<br />
respostas glicêmicas e carboidratos de rápida digestão<br />
geralmente apresentam maiores respostas glicêmicas.<br />
Outros fatores importantes sobre a glicemia pósprandial<br />
é a forma do alimento, a quantidade de fibra<br />
da dieta, a quantidade de amilase, o tipo de<br />
processamento do alimento [60, 65-68].<br />
Menezes et al., [69], em ensaio com humanos,<br />
verificaram que o feijão proporcionou menores<br />
respostas glicêmicas do que o arroz, polenta e arroz<br />
com feijão, reforçando que o aproveitamento do<br />
amido do feijão é reduzido em relação aos amidos<br />
dos outros alimentos.<br />
Efeito na microbiota intestinal<br />
A fermentabilidade do amido depende da<br />
composição da flora colônica e da adaptação desta ao<br />
substrato. Vários estudos [2,30,70,71] têm indicado que<br />
o amido resistente é mais fermentável que as fibras<br />
solúveis da dieta. Uma das explicações é a facilidade<br />
desse substrato ser fermentado à luz intestinal, a outra<br />
é a capacidade da microflora que se adaptou aos demais<br />
substratos que estão regularmente no ambiente luminal.<br />
Cummings e MacFarlane [7] concluíram em<br />
estudos in vitro de inoculação de fezes humanas em<br />
substratos fermetáveis como lactose e AR, que o<br />
amido foi o melhor substrato dentre os polissacarídeos<br />
testados para produção de butirato.<br />
Alles et al., [72], relataram em pacientes com<br />
anastomose retal o efeito de duas fontes de<br />
carboidratos não digeridos: frutooligossacarídeo e<br />
amido resistente (batata crua e banana verde) sobre a<br />
fermentação bacteriana. O amido resistente aumentou<br />
a excreção de butirato. Efeito também encontrado<br />
em outros estudos [3,8,73].<br />
Silvi et al., [8] relataram que o consumo de amido<br />
resistente induziu mudanças na microflora intestinal<br />
principalmente quanto ao aumento de bactérias<br />
lácticas e na redução de enterobactérias bem como<br />
da atividade enzimática das bactérias (bglucuronidase),<br />
na redução da concentração de amônia<br />
e do pH luminal e aumento significativo da<br />
proliferação celular do cólon proximal.<br />
Freitas e Tavares [47], em seus estudos com AR<br />
45
46<br />
de bananas, demonstraram que o consumo do amido<br />
resistente promoveu intensa dilatação do apêndice<br />
cecal, favoreceu o crescimento bacteriano do cécum<br />
e modificou substâncialmente a flora intestinal de ratos<br />
Wistar jovens.<br />
Conclusão<br />
A definição de amido resistente é basicamente<br />
fisiológica. O conteúdo de amido resistente em alguns<br />
alimentos é subestimado. Muitas propriedades funcionais<br />
do amido resistente foram comprovadas, contudo<br />
diversas questões estão sob investigação, principalmente<br />
os possíveis mecanismos dos efeitos enterotróficos e<br />
sistêmico dos ácidos graxos voláteis (AGV) produzidos<br />
durante a fermentação no colonócito.<br />
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Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Estudo do comportamento alimentar de<br />
praticantes de atividade física em uma<br />
academia de ginástica<br />
Study of food habits of people engaged in exercising at a<br />
fitness center<br />
Aliny Stefanuto*, Moria Max*, Eliana Menegon Zaccarelli**, Márcia Daskal Hirschbruch***,<br />
Juliana Ribeiro Carvalho***<br />
*Nutricionista graduada pela Universidade Bandeirante de São Paulo, **Docente da Universidade Bandeirante de São Paulo,<br />
***Nutricionista Recomendo Assessoria em Nutrição e Qualidade de Vida<br />
Resumo<br />
O artigo discute o comportamento alimentar e o perfil nutricional de praticantes de atividade física em uma academia<br />
de ginástica. Foram calculados o Índice de Massa Corporal (IMC) através de peso e altura referidos pelos participantes e<br />
anamnese alimentar através de recordatório habitual. A amostra possuía 92 indivíduos, sendo que sua maioria entre 20 e 24<br />
anos de idade, masculina, eutrófica e busca conhecimentos sobre nutrição em revistas de nutrição e atividade física, além de<br />
obter orientação nutricional de seus treinadores ou personal trainers. Esta população apresentou baixa ingestão calórica apesar<br />
de consumir dieta hiperprotéica e hiperlipídica. O texto aponta para a deficiente alimentação apesar do relevante nível sócioeconômico<br />
e cultural destes praticantes de atividade física.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Nutrição, adequação nutricional, atividade física, comportamento alimentar.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
This paper discusses the nutritional status and food habits of people engaged in exercising at a fitness center in São<br />
Paulo. Body Mass Index (BMI) and food record were accessed from a sample of 92 individuals, most of them males,<br />
eutrophic, ranging from 20-24 years old. Their sources of nutrition information were fitness magazines and trainers. Despite<br />
their high social status, the group presented dietary deficiencies such as low caloric ingestion and a diet high in protein and fat.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Nutrition, nutritional adequacy, physical activity, nutritional behaviour.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
u Título abreviado: Comportamento alimentar em uma academia de ginástica<br />
Artigo recebido em 15 de fevereiro de 2002; aprovado em 1 de março de 2002<br />
Endereço para correspondência: Aliny Stefanuto, Av. Raimundo Pereira de Magalhães, 1652 bl. 3 apto 81, Pirituba,<br />
05145-000 São Paulo SP, Tel: (11) 3832-5109 Cel: (11) 9306-4004.<br />
49
50<br />
Introdução<br />
Uma alimentação adequada e balanceada é de<br />
fundamental importância para uma boa saúde e bem<br />
estar em todos estágios de vida [1].<br />
A formação dos hábitos alimentares é<br />
influenciada por uma série de fatores: fisiológicos,<br />
psicológicos, sócio-culturais e econômicos [2]. Em<br />
estudo realizado nos Estados Unidos [3], alguns dos<br />
maiores obstáculos encontrados na tentativa de uma<br />
nutrição adequada, equilibrada e saudável entre americanos<br />
foram: vontade de continuarem a comer o<br />
que gostam, estarem satisfeitos com sua maneira de<br />
controlar a dieta, dificuldade de compreender e colocar<br />
em prática as informações das embalagens, tempo e<br />
esforço despendido para monitorar a dieta, dúvidas<br />
do que é bom ou ruim, muito tempo fora de casa e<br />
informações nutricionais nem sempre disponíveis nas<br />
embalagens. Para a maioria das pessoas a escolha dos<br />
alimentos que deseja consumir depende ainda do seu<br />
sabor e custo e não da sua qualidade nutricional [4].<br />
A preocupação com a dieta, para praticantes de<br />
atividade física é ressaltada, visto que o corpo funciona<br />
como uma máquina em que o combustível, ou seja, a<br />
energia necessária para a prática do exercício, é fornecida<br />
pelos nutrientes consumidos diariamente [5].<br />
Grande parte dos praticantes de atividade física<br />
não consegue alcançar suas necessidades nutricionais<br />
ideais, tanto por carência de alguns componentes<br />
como por excesso de outros, o que, em ambas<br />
situações pode trazer prejuízos. Estas carências<br />
nutricionais podem levar a deficiências múltiplas, que<br />
pioram o desempenho físico aumentando o risco de<br />
ocorrerem disfunções orgânicas.<br />
Apesar da grande preocupação dos praticantes<br />
de atividade física em se alimentar bem, a falta de<br />
conhecimentos, hábitos alimentares inadequados,<br />
influência dos treinadores, cultura e informações pouco<br />
específicas veiculadas pela mídia, extremismo dietético,<br />
pouca habilidade prática na escolha e preparação de<br />
alimentos e acesso reduzido a alimentos por um estilo<br />
de vida atribulado são fatores que influenciam muito<br />
a conduta nutricional de cada um [6].<br />
A mania das dietas entre praticantes de atividade<br />
física, independentemente da idade, também é<br />
preocupante, pois na busca de uma ótima forma física e<br />
performance cada vez melhor, estes indivíduos não se<br />
preocupam com os altos riscos que estes modismos<br />
acarretam. A desinformação quanto à nutrição e a<br />
perpetuação dos modismos oportunistas e irresponsáveis<br />
estão em grande ascensão, as novidades são numerosas<br />
e estão em constante mutação. Muitas vezes uma dieta<br />
da moda se torna conhecida e utilizada antes mesmo da<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
sua comprovação científica, eficácia e segurança [7].<br />
Em teoria, as academias de ginástica deveriam<br />
ser um local de destaque para contribuir e melhorar a<br />
qualidade de vida das pessoas. Porém é grande a<br />
influência dos treinadores sobre os alunos, que não<br />
são preparados para fornecer orientação nutricional<br />
adequada. Admite-se que estes treinadores estejam<br />
preocupados com a saúde e qualidade de vida, porém<br />
podem desconhecer conceitos básicos sobre nutrição [8].<br />
Um estudo realizado com estudantes de educação<br />
física mostrou que estes consideram ter conhecimentos<br />
suficientes de nutrição e se acham aptos para dar<br />
aconselhamento sobre alimentação ou complementação<br />
de nutrientes, porém nesta pesquisa, ficou demonstrado<br />
que possuem conhecimentos insuficientes [9].<br />
Os praticantes de atividade física nas academias<br />
confiam plenamente tanto nas informações nutricionais<br />
que recebem de treinadores como em colegas e revistas<br />
especializadas em condicionamento físico. É menos<br />
provável confiarem nos nutricionistas, como fonte de<br />
orientação nutricional, quando comparados aos não<br />
praticantes de atividade física [10].<br />
Este estudo procura identificar o comportamento<br />
alimentar entre praticantes de atividade<br />
física em academia de ginástica e avaliar a influência<br />
dos treinadores sobre esta alimentação.<br />
Material e métodos<br />
Foram entrevistados 92 freqüentadores de uma<br />
academia de ginástica, situada na cidade de São Paulo,<br />
durante o mês de junho de 2001 por um período de<br />
quinze dias, realizados de forma individual, de participação<br />
voluntária e declaração assinada pelo aluno.<br />
A população estudada foi caracterizada segundo<br />
sexo, idade, estado nutricional, alimentação habitual,<br />
fontes de conhecimento e tipo de orientação nutricional.<br />
Para avaliação do estado nutricional utilizou-se o<br />
IMC que é definido através da relação peso/altura²,<br />
obtidos a partir dos dados referidos pelos participantes.<br />
Na classificação do IMC, segundo a Organização<br />
Mundial da Saúde - OMS [11], foram considerados: de<br />
baixo peso os indivíduos que possuíam um IMC entre<br />
17,0 e 18,49; eutrófico aqueles com IMC entre 18,5 e<br />
24,9; pré – obesidade aqueles com IMC entre 25,0 e<br />
29,9; obesidade I aqueles com IMC entre 30,0 e 34,9; e<br />
obesidade II aqueles com IMC entre 35,0 e 39,9.<br />
Para avaliação do hábito alimentar optou-se<br />
pela aplicação do Recordatório Habitual. O<br />
consumo total de calorias e macronutrientes foram<br />
calculados com base na Tabela para Avaliação de<br />
Consumo Alimentar em Medidas Caseiras<br />
publicada por Pinheiro et al. [12].
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
A análise dos dados obtidos foi realizada<br />
comparando-se a porcentagem de adequação do valor<br />
calórico total (VCT) consumido com o gasto energético<br />
total (GET) obtido através de FAO/OMS [13].<br />
Nos cálculos de adequação calórica, protéica,<br />
lipídica, de carboidratos, baseados no RDA [14], foram<br />
considerados satisfatórios os participantes que ficaram<br />
entre 90 e 110% da adequação e inadequados aqueles<br />
que ficaram abaixo de 90% e acima de 110%.<br />
Resultados<br />
A caracterização dos participantes está<br />
representada na Tabela I e Figuras de 1 a 5.<br />
Tabela I – Distribuição do número e<br />
porcentagem dos participantes segundo idade<br />
e sexo. São Paulo, 2001.<br />
Faixa Etária masculino feminino Total<br />
n % n % n%<br />
15 a 19 26 43,4 10 31,3 36 39,1<br />
20 a 24 28 46,6 20 62,5 48 52,2<br />
25 ou mais 6 10,0 2 6,2 8 8,7<br />
Total 60 100,0 32 100,0 92 100,0<br />
Nota-se que a maioria da população (65,2%) é do sexo<br />
masculino com idade entre 20 e 24 anos (52,2%),<br />
sendo que as idades variaram entre 25 e 52 anos.<br />
Na amostra estudada, 84,8% são eutróficos e 10,8%<br />
são pré-obesos.<br />
Figura 1 - Distribuição dos participantes por<br />
categorias de estado nutricional - São Paulo,<br />
2001.<br />
Figura 2 - Distribuição das principais fontes de<br />
informação sobre nutrição* utilizadas pelos<br />
participantes - São Paulo, 2001<br />
* Alguns participantes indicaram usar mais de uma<br />
alternativa como fonte de informação.<br />
Nota-se que a maioria dos participantes busca as<br />
informações nutricionais em revistas sobre nutrição e<br />
atividade física (37%), seguida de revistas sobre<br />
conhecimentos gerais (31,5%) e TV (31,5%).<br />
Figura 3 - Distribuição das fontes de<br />
orientação nutricional recebidas pelos<br />
participantes - São Paulo, 2001.<br />
A grande maioria dos participantes (55,4%) obtém<br />
orientação nutricional através dos treinadores e personal<br />
trainers.<br />
51
52<br />
Figura 4 - Porcentagem de adequação calórica,<br />
protéica, de carboidratos e de lipídios dos<br />
participantes do sexo masculino - São Paulo, 2001.<br />
Nota-se que 55% da população masculina ingere menos<br />
que 90% da adequação calórica; 70% ingere mais que<br />
110% da adequação protéica; 60% ingere carboidratos<br />
de forma adequada e 40% ingere mais que 110% da<br />
adequação de lipídios.<br />
Figura 5 - Porcentagem de adequação calórica,<br />
protéica, de carboidratos e de lipídios dos<br />
participantes do sexo feminino - São Paulo, 2001<br />
Nota-se que 59,4% da população feminina consome<br />
menos que 90% da adequação calórica; 65,6%<br />
consomem mais que 110% da adequação protéica;<br />
43,7% consome menos que 90% da adequação de<br />
carboidratos e 43,7% consome carboidratos de forma<br />
adequada; 43,7% consome mais que 110% da<br />
adequação de lipídios.<br />
Tabela II – Relação entre a porcentagem de<br />
adequação de proteínas com a fonte de<br />
orientação nutricional recebida. São Paulo,<br />
2001.<br />
Porcentagem de Treinadores Nutricionistas / Total<br />
Adequação Proteínas Endocrinologistas<br />
n n n<br />
> adequação 29 13 42<br />
adequados 7 7 14<br />
Total 36 20 56<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
De acordo com cálculos do odds ratio a associação<br />
entre a adequação de proteínas e a fonte de orientação<br />
nutricional recebida foi de 2,23.<br />
Discussão<br />
A maioria da população estudada (65,2%) é do<br />
sexo masculino e possui entre 20 e 24 anos de idade.<br />
São poucos com mais de 25 anos (8,7%), o que é uma<br />
característica própria das academias em geral, que<br />
atraem uma grande maioria do público mais jovem e<br />
preocupado não só com a saúde, mas também com a<br />
aparência física, mostrando um posto de vista<br />
comportamental do ser humano que pode estar mais<br />
motivado à prática de exercícios quando jovem,<br />
impulsionado pelo fator estético.<br />
A classificação dos participantes segundo o IMC<br />
mostrou que estes se caracterizam, em sua grande<br />
maioria, de pessoas eutróficas. Devido ao fator social<br />
e estético, as academias atraem pessoas mais em forma<br />
do que as obesas que se sentem envergonhadas e<br />
desmotivadas a freqüentarem estes lugares.<br />
Outro fator de importância e relevância é que<br />
10,8% das pessoas estudadas foram classificadas como<br />
pré-obesas, porém é preciso ressaltar que este<br />
resultado pode ser devido ao grupo possuir massa<br />
muscular aumentada, o que não significa<br />
necessariamente excesso de gordura.<br />
Em termos de ingestão calórica, verificou-se um<br />
baixo índice de adequação (55%) entre a população<br />
masculina e (59,4%) entre a população feminina.<br />
Levando-se em consideração que esta população<br />
pertence à classe média e alta, o custo da alimentação<br />
não pode ser considerado como relevante na baixa<br />
ingestão de calorias, portanto outros fatores pesam para<br />
que esta inadequação ocorra: controle de peso,<br />
dificuldades no preparo de refeições adequadas, facilidade<br />
em consumir produtos industrializados, influência de<br />
terceiros (amigos e treinadores), a aparência física ser<br />
mais importante do que a saúde, além de outros.<br />
As fontes de conhecimento em nutrição mais<br />
utilizadas pelos participantes foram as revistas sobre<br />
nutrição e atividade física, representando 37% da<br />
população, seguidas de revistas de conhecimentos gerais<br />
e televisão. As revistas mostraram ser a fonte de<br />
informação preferida pelos participantes, provavelmente<br />
por serem de fácil acesso e compreensão, possuírem<br />
linguagem simples, visual chamativo e estarem sempre<br />
cheias de novidades sobre este as-unto. No entanto, as<br />
informações veiculadas por estas revistas são discutíveis,<br />
pois algumas vezes trazem informações sensacionalistas,<br />
só para atrair o leitor, que podem não estar embasadas<br />
em pesquisas científicas.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Quanto às fontes de orientação nutricional,<br />
55,4% da população estudada é orientada por<br />
treinadores ou personal trainers, o que é preocupante<br />
uma vez que estes não estão habilitados formalmente<br />
a fornecer este tipo de informação. O valor de odds<br />
ratio [2] mostra a influência que a fonte de orientação<br />
nutricional exerce sobre o comportamento alimentar<br />
dos indivíduos estudados, ou seja, aqueles que estavam<br />
consumindo uma quantidade de proteínas maior que<br />
a adequação eram orientados nutricionalmente por<br />
treinadores. Estes fatos decorrem desde a época das<br />
primeiras Olimpíadas (776 a.C.), em que os pedótribas<br />
(treinadores ou técnicos particulares) aconselhavam<br />
os atletas sobre qual alimento consumir, como<br />
exemplo Pitágoras, pedótriba-filósofo, que<br />
recomendava dietas com grandes quantidades de<br />
carnes para os atletas [15].<br />
Conclusão<br />
O grupo estudado, apesar de praticar atividade<br />
física, estar motivado a cuidar do corpo, ter acesso a<br />
informações sobre nutrição, não se alimenta<br />
adequadamente.<br />
A excessiva preocupação em ter um corpo<br />
perfeito, perder gordura e aumentar a massa muscular<br />
agrava ainda mais o comportamento alimentar do<br />
indivíduo, podendo ser esta a razão do baixo consumo<br />
calórico e alto consumo de proteínas.<br />
Pelos motivos acima descritos estes praticantes<br />
de atividade física são bastante vulneráveis a qualquer<br />
tipo de informação com relação a dietas ou a<br />
necessidade de complementações nutricionais,<br />
permitindo que o treinador ou professor da academia<br />
os oriente, em vez de receberem orientações de<br />
profissionais habilitados tais como nutricionistas,<br />
médicos e endocrinologistas.<br />
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53
54<br />
A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />
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e divulgação de artigos científicos das áreas<br />
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as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o<br />
texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes<br />
no site do International Committee of Medical Journal<br />
Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada<br />
de outubro de 2001.<br />
Os autores que desejarem colaborar em alguma<br />
das seções da revista podem enviar sua contribuição<br />
(em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação,<br />
sendo que fica entendido que isto não implica na<br />
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir<br />
trocas ou retorno de acordo com a circunstância,<br />
realizar modificações nos textos recebidos; neste<br />
último caso não se alterará o conteúdo científico,<br />
limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />
1. Editorial<br />
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê<br />
Científico, ou por um de seus membros.<br />
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas<br />
formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte<br />
English Times (Times Roman) com todas as<br />
formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais<br />
que dez referências.<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Normas de publicação Nutrição Brasil<br />
2. Artigos originais<br />
Serão considerados para publicação, aqueles não<br />
publicados anteriormente, tampouco remetidos a<br />
outras publicações, que versem sobre investigação,<br />
clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro<br />
das áreas definidas anteriormente.<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />
12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />
Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />
texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no<br />
formato Excel/Word.<br />
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras,<br />
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />
editados em Power-Point, Excel, etc.<br />
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50<br />
referências bibliográficas.<br />
Os critérios que valorizarão a aceitação dos<br />
trabalhos serão o de rigor metodológico científico,<br />
novidade, originalidade, concisão da exposição, assim<br />
como a qualidade literária do texto.<br />
3. Revisão<br />
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das<br />
áreas relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê<br />
Científico, bem como remetida espontaneamente pelo<br />
autor, cujo interesse e atualidade interessem a<br />
publicação na revista.<br />
Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o<br />
mesmo dos artigos originais.<br />
4. Comunicação breve<br />
Esta seção permitirá a publicação de artigos<br />
curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores<br />
apresentem observações, resultados iniciais de estudos<br />
em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos<br />
já editados na revista, com condições de argumentação<br />
mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />
três páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />
Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />
texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em<br />
Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou<br />
que possam ser editados em Power Point, Excel, etc<br />
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15<br />
referências bibliográficas.<br />
5. Resumos<br />
Nesta seção serão publicados resumos de<br />
trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras<br />
revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive<br />
traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />
6. Correspondência<br />
Esta seção publicará correspondência recebida,<br />
sem que necessariamente haja relação com artigos<br />
publicados, porém relacionados à linha editorial da<br />
revista.<br />
Caso estejam relacionados a artigos<br />
anteriormente publicados, será enviada ao autor do<br />
artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.<br />
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com<br />
as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem<br />
tabelas ou figuras.<br />
Preparação do original<br />
1. Normas gerais<br />
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados<br />
em processador de texto (Word, Wordperfect, etc),<br />
em página de formato A4, formatado da seguinte<br />
maneira: fonte Times Roman (English Times)<br />
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais<br />
como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />
1.2 Numere as tabelas em romano, com as<br />
legendas para cada tabela junto à mesma.<br />
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de<br />
acordo com as especificações anteriores.<br />
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais<br />
coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica –<br />
300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados<br />
e nos formatos .tif ou .gif.<br />
1.4 As seções dos artigos originais são estas:<br />
resumo, introdução, material e métodos, resultados,<br />
discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser<br />
o responsável pela tradução do resumo para o inglês<br />
e também das palavras-chave (key-words). O envio<br />
deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,<br />
zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos<br />
enviados por correio em mídia magnética (disquetes,<br />
etc) anexar uma cópia impressa e identificar com<br />
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo,<br />
data e autor, incluir informação dos arquivos, tais<br />
como o processador de texto utilizado e outros<br />
programas e sistemas.<br />
2. Página de apresentação<br />
A primeira página do artigo apresentará as<br />
seguintes informações:<br />
• Título em português e inglês.<br />
• Nome completo dos autores, com a<br />
qualificação curricular e títulos acadêmicos.<br />
• Local de trabalho dos autores.<br />
•Autor que se responsabiliza pela correspondência,<br />
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />
• Título abreviado do artigo, com não mais de<br />
40 toques, para paginação.<br />
• As fontes de contribuição ao artigo, tais como<br />
equipe, aparelhos, etc.<br />
3. Autoria<br />
Todas as pessoas consignadas como autores<br />
devem ter participado do trabalho o suficiente para<br />
assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />
O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />
contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados;<br />
b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma<br />
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a<br />
aprovação definitiva da versão que será publicada.<br />
Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />
a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção<br />
de recursos ou na coleta de dados não justifica a<br />
participação como autor. A supervisão geral do grupo<br />
de pesquisa também não é suficiente.<br />
4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />
Key-words)<br />
Na segunda página deverá conter um resumo<br />
(com no máximo 150 palavras para resumos não<br />
estruturados e 200 palavras para os estruturados),<br />
seguido da versão em inglês.<br />
55
56<br />
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes<br />
informações:<br />
• Objetivos do estudo.<br />
• Procedimentos básicos empregados<br />
(amostragem, metodologia, análise).<br />
• Descobertas principais do estudo (dados<br />
concretos e estatísticos).<br />
• Conclusão do estudo, destacando os aspectos<br />
de maior novidade.<br />
Em seguida os autores deverão indicar quatro<br />
palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a<br />
indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os<br />
termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias<br />
médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />
Medicus ou, no caso de termos recentes que não<br />
figurem no MeSH, os termos atuais).<br />
5. Agradecimentos<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />
auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />
governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />
devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />
referências, em uma secção especial.<br />
6. Referências<br />
As referências bibliográficas devem seguir o<br />
estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes.<br />
As referências bibliográficas devem ser numeradas por<br />
numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em<br />
ordem na qual aparecem no texto, seguindo as<br />
seguintes normas:<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,<br />
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo,<br />
ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo),<br />
ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local<br />
da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano<br />
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />
Exemplo:<br />
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In:<br />
Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology,<br />
diagnosis and management. 2 nd ed. New-York: Raven<br />
press; 1995. p.465-78.<br />
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)<br />
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos<br />
nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título<br />
da revista ano de publicação seguido de ponto e<br />
vírgula, número do volume seguido de dois pontos,<br />
páginas inicial e final, pon<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />
auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />
governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />
devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />
referências, em uma secção especial.<br />
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />
<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />
Atlantica Editora<br />
Rua Conde Lages, 27 - Glória<br />
20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />
Tel: (21) 2221 4164<br />
E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />
EDITORIAL 59<br />
A nutrição através do tempo, Celeste Elvira Viggiano<br />
RESUMOS DE TRABALHOS 60<br />
ARTIGOS ORIGINAIS 63<br />
Prevalência de pica em gestantes atendidas em instituições públicas e privadas,<br />
Rita Maria Monteiro Goulart, Caroline d’A. Magalhães, Milene M. Cremanesi ( pg. 63)<br />
Comparação do perfil dietético de adolescentes, do sexo feminino, de nível sócio-econômico diferenciado,<br />
Maria Nubia Gama Oliveira, Eliane de Abreu Soares ( pg. 68)<br />
REVISÕES 77<br />
Efeito antioxidante das vitaminas A, C, E e aterogênese,<br />
Rejane Andréa Ramalho, Elizabeth Accioly, Marta Maria Souza Santos, Mirian Ribeiro Baião,<br />
Mirian Martins Gomes, Bianca Amaral dos Santos Silva, Lívia Maria da Silva ( pg. 77)<br />
Indicadores do estado nutricional de vitamina A,<br />
Mirian Martins Gomes, Bianca Amaral dos Santos Silva, Luciana Ferreira Campos, Ana Paula Pereira Thiapó de Lima,<br />
Cláudia Saunders, Elizabeth Accioly, Rejane Andréa Ramalho, Daniela de Lima Bastos ( pg. 83)<br />
A atuação dos frutooligossacarídeos,<br />
Milene Bozzi d’Acunti ( pg. 89)<br />
Estratégias nutricionais em pacientes com doença hepática avançada e candidatos ao transplante hepático,<br />
Tatiana Pereira de Paula, Wilza Arantes Ferreira <strong>Peres</strong>, Rejane Andréa Ramalho ( pg. 95)<br />
CASO CLÍNICO 100<br />
Anorexia nervosa em paciente do sexo masculino: relato de caso,<br />
Núbio Chaves de Carvalho, Paulo A. Amaral Secches, Renata Rezende, Tomaz Camargo Neto<br />
DOSSIÊ ALIMENTOS: O feijão 104<br />
NOTÍCIAS DA PROFISSÃO 113<br />
As Diretrizes Curriculares Nacionais e as mudanças estruturais no ensino de Nutrição<br />
Índice<br />
Volume 1 número 2 - Julho/Agosto de 2002<br />
NORMAS DE PUBLICAÇÃO 117<br />
EVENTOS 120<br />
57
58<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Conselho científico<br />
Profa . Dra . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />
Profa . Dra . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />
Profa . Dra . Lúcia Marques Alves Vianna (UNIRIO / CNPq)<br />
Profa . Dra . Lucia de Fatima Campos Pedrosa Schwazschild (UFRN - Rio Grande do Norte)<br />
Profa . Dra . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Rosemeire Aparecida Victoria Furumoto (UNB - Brasília)<br />
Profa . Dra . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />
Profa . Dra . Tânia Lúcia Montenegro Stamford (UFPE - Pernambuco)<br />
Grupo de acessores<br />
Profa . Ms. Lúcia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />
Profa . Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />
Editor científico<br />
Prof a Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />
Editor executivo<br />
<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />
Editoração de arte<br />
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Rio de Janeiro<br />
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Colaborador da redação<br />
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ISSN 1677-0234<br />
NUTRIÇÃO BRASIL É UMA<br />
PUBLICAÇÃO BIMESTRAL<br />
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(Todo o material a ser publicado deve ser<br />
enviado para o seguinte endereço)<br />
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Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica e Fisioterapia Brasil.<br />
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reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem<br />
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por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos,<br />
métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário<br />
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou<br />
endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />
Em meados do século XVIII, o fenômeno da<br />
nutrição animal era definido como um conjunto de<br />
processos, responsável pela reposição dos materiais<br />
corpóreos gastos continuamente na realização das ações<br />
vitais, assim como pelo acréscimo de matéria<br />
característico do crescimento. O termo “nutrição”<br />
freqüentemente incluía os processos considerados<br />
preparatórios, como mastigação, digestão, quilificação<br />
(o produto da digestão que saía do estômago já era<br />
denominado “quilo”), absorção e formação de sangue<br />
(sanguificação), e os processos de decomposição e<br />
eliminação dos materiais gastos.<br />
Até o final do século XVIII, o fenômeno<br />
nutricional era, de modo geral, objeto de estudo da<br />
fisiologia e, portanto, dos fisiologistas. A fisiologia, por<br />
sua vez, encontrava-se ligada e subordinada à anatomia.<br />
Mas os processos metabólicos não eram acessíveis à<br />
abordagem anatômica e várias explicações diferentes<br />
sobre o fenômeno nutricional coexistiam baseadas em<br />
hipótese ou analogias que não podiam ser testadas<br />
experimentalmente.<br />
Lavoisier em seus estudos sobre combustão,<br />
respiração e calor animal introduziu procedimentos,<br />
apresentou resultados e chegou a conclusões que deram<br />
impulso decisivo à concepção de que processos<br />
relacionados à nutrição eram químicos. Magendie (1816),<br />
retomou a questão da fonte de nitrogênio do organismo<br />
animal, que na época atribuíam à atmosfera, observando<br />
que em grande parte o nitrogênio do organismo animal<br />
provinha de sua alimentação. Seus experimentos têm sido<br />
considerados como o início da investigação científica<br />
sobre nutrição.<br />
O avanço do conhecimento sobre a composição<br />
química dos fluídos e tecidos do organismo animal, levou<br />
ao reconhecimento da presença de elementos minerais,<br />
como constituintes da matéria orgânica e no final da<br />
década de 1830, ficou demonstrado experimentalmente<br />
que os vegetais deviam obter do solo seus elementos<br />
inorgânicos, reforçando a idéia sobre a origem externa<br />
das substâncias inorgânicas constituintes do organismo.<br />
Durante a segunda metade do século XIX, os<br />
experimentos de dieta controlada com animais<br />
difundiram-se de forma crescente, especialmente na<br />
EDITORIAL<br />
A nutrição através do tempo<br />
determinação de requerimentos nutricionais, onde já<br />
havia o conceito de que o homem necessitava de<br />
proteínas, gorduras, carboidratos e determinados<br />
minerais e que eles encontravam-se concentrados nos<br />
alimentos. Algumas observações mais sistemáticas sobre<br />
a incidência, a cura e a prevenção de doenças, tornaram<br />
mais clara sua relação com determinados alimentos. Já<br />
no final do século XIX e início do XX, pesquisas sobre<br />
o escorbuto e o beribéri, em particular, contribuíram<br />
para o desenvolvimento da teoria das doenças de<br />
deficiência nutricional e do conceito de vitaminas.<br />
A partir de então, o conhecimento sobre nutrição<br />
manteve-se em ritmo desacelerado e somente na década<br />
de 90, a partir dos conceitos da biologia molecular, houve<br />
um maior desenvolvimento acerca da nutrição,<br />
enfocando os alimentos como coadjuvantes no processo<br />
saúde-doença e na prevenção de doenças degenerativas,<br />
exigindo do nutricionista uma busca constante de<br />
aprimoramento e atualização. Hoje é evidente que o<br />
profissional deve e precisa aprofundar seus<br />
conhecimentos sobre a ciência da nutrição, enfocando<br />
o alimento como seu principal material de trabalho e<br />
produzindo conhecimento científico, que lhe permita<br />
crescer e frutificar esse conhecimento em prol do<br />
homem. O nutricionista é o especialista em alimentação<br />
e nenhum outro profissional está tão preparado quanto<br />
ele, para a nutrição aplicada. Portanto, é seu dever e<br />
direito exercer a nutrição em todos os âmbitos que ela<br />
atinge. Neste mês em que comemoramos o dia do<br />
nutricionista, peço aos colegas a reflexão sobre qual é o<br />
nosso papel perante o homem e a ciência, quanto ainda<br />
devemos caminhar para ocuparmos o papel de<br />
transformadores da realidade, mediante a produção de<br />
conhecimento e a aplicação da ciência na promoção e<br />
manutenção da saúde e na prevenção de doenças.<br />
Esta edição traz contribuições com foco em<br />
alimentos, nutrientes e prática clínica. Ainda, chamo a<br />
atenção para uma nova seção onde abordaremos<br />
sistematicamente um alimento, desde sua origem,<br />
produção, importância econômica e cultural e seu valor<br />
nutricional, esperando contribuir para ampliar o<br />
conhecimento acerca dos alimentos e sua importância<br />
em vários aspectos.<br />
59
60<br />
Caglar K et al, Vanderbilt<br />
University Medical Center,<br />
Nashville, Renal Care Group,<br />
Tennessee, Kidney Int 2002;<br />
62(3):1054-9, setembro de 2002<br />
Yajnik CS, Diabetes Unit, KEM<br />
Hospital Research Centre,<br />
Rasta Peth, Pune, India Obes Rev<br />
2002;3(3):217-24,<br />
agosto de 2002<br />
Resumos de trabalhos<br />
Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />
Efeitos terapêuticos da suplementação nutricional via<br />
oral durante hemodiálise<br />
Introdução: A desnutrição protéica é comum em pacientes tratados<br />
por hemodiálise crônica e é correlata com morbidade e mortalidade em<br />
esses pacientes. Existem estudos limitados avaliando a eficácia da suplementação<br />
nutricional oral em pacientes desnutridos e tratados por hemodiálise.<br />
Métodos: 85 pacientes em hemodiálise e com evidência de desnutrição<br />
foram incluídos neste estudo prospectivo. Os pacientes foram seguidos<br />
durante um período inicial de 3 meses durante o qual receberam<br />
aconselhamento nutricional convencional. No período de intervenção,<br />
receberam uma suplementação oral nutricional especificamente formulada<br />
para pacientes tratados por hemodiálise durante 6 meses. A suplementação<br />
foi administrada durante a diálise para garantir a complacência. Medições<br />
dos parâmetros nutricionais incluíram concentrações de albumina<br />
plasmática, pré-albumina, transferina bem como IMC e avaliação subjetiva<br />
durante um período de 9 meses.<br />
Resultados: Os parâmetros nutricionais não foram alterados durante<br />
os 3 meses do período inicial. Após administração de suplemento via oral<br />
durante diálise, foram observados aumentos significativos nas concentrações<br />
de albumina sérica (de 3,33 ± 0,32 g/dl no início, para 3,65 ± 0,26 g/dl no<br />
6º mês, P < 0,0001) e préalbumina sérica (de 26,1 +/- 8,6 mg/dl no início,<br />
para 30,7 ± 7,4 mg/dl no 6º mês, P = 0,002). O escore de avaliação subjetiva<br />
melhorou em 14% no final do estudo (P = 0,023). Apesar de que o IMC e<br />
o peso também aumentaram, essas alterações não foram estatisticamente<br />
significativas. A transferina plasmática não foi alterada durante o período<br />
de estudo.<br />
Conclusão: A suplementação nutricional oral administrada durante<br />
hemodiálise melhorou os marcadores nutricionais em pacientes desnutridos.<br />
Efeitos do ciclo de vida de nutrição e tamanho corporal<br />
sobre adiposidade adulta, diabetes e doenças<br />
cardiovasculares<br />
Este estudo foi realizado para observar as relações entre nutrição<br />
maternal, peso de nascimento e propensão à resistência precoce à insulina<br />
e diabetes em adultos indianos. Estudos incluíram comparação da altura e<br />
nutrição maternas com a peso de nascimento nas cidades de Pune, Índia e<br />
Southampton, Reino-Unido. Em Pune, foram avaliados crescimento,<br />
resistência à insulina e pressão sanguínea em crianças de 4 anos. Adultos<br />
com idade > 40 anos, residentes em áreas rurais, foram comparados com<br />
adultos residentes em áreas urbanas para altura, glicemia, lípides sanguíneos<br />
e pressão sanguínea. Adultos diabéticos recentemente diagnosticados em<br />
áreas urbanas foram incluídos no estudo. Altura, peso, circunferência da<br />
cabeça, da cintura, do quadril, pressão sanguínea e dobra de pele foram<br />
medidos. Glicose de jejum, insulina, colesterol total e HDL, triglicérides
Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />
Continuação<br />
Yoshiike N et al, Obes Rev 2002<br />
Aug;3(3):183-90,<br />
agosto de 2002<br />
foram relacionados com glicose e respostas da insulina em testes de<br />
tolerância à glicose. Níveis de citoquina foram medidos em amostras de<br />
plasma em adultos das áreas rurais e urbanas. Recém-nascidos indianos<br />
foram mais leves, magros, pequenos e tinham tecido magro relativamente<br />
menor do que os recém-nascidos caucasianos. Entretanto, as medições da<br />
gordura subcutânea nessas crianças foram comparáveis às de crianças caucasianas.<br />
As mães indianas eram menores, mas as mães relativamente gordas<br />
fizeram crianças maiores. A ingestão maternal de legumes verdes, frutas e<br />
leite e os níveis plasmáticos de vitamina C e folatos são prognosticadores<br />
de tamanho fetal maior. O crescimento rápido da criança é responsável de<br />
resistência à insulina e pressão sanguínea mais elevada. Os adultos das<br />
áreas rurais eram magros, com prevalência de diabetes de 4% e hipertensão<br />
de 14%, mas os riscos aumentaram dentro do intervalo normal de IMC.<br />
Diabetes tipo 2 era comum em adultos jovens das áreas urbanas com idade<br />
< 35 anos. Apesar de que o IMC médio foi de 23,9 kg/m 2 , obesidade<br />
central e membros magros foram observados. Níveis de interleucina-6 e<br />
tumor necrosis factor-α aumentaram em indivíduos urbanos. Existe evidência<br />
de um efeito potente e intergeneracional sobre a altura e a adiposidade<br />
total e central. Indianos são altamente suscetíveis à resistência à insulina e<br />
riscos cardiovasculares, e crianças apresentam peso de nascimento menor,<br />
mas são relativamente gordos. A resistência à insulina é ampliada pelo<br />
crescimento rápido da criança. Fatores dietéticos parecem ter profunda<br />
influência metabólica a longo prazo sobre a gravidez. Superpopulação com<br />
infecções e obesidade central podem ampliar a resistência à insulina induzida<br />
por citoquina e o diabetes precoce em adultos indianos com IMC baixo.<br />
Alterações na prevalência do sobrepeso na população<br />
japonesa adulta: estudo 1976-95<br />
O objetivo deste estudo foi de descrever 20 anos de alteração no IMC e<br />
a prevalência de sobrepeso em adultos japoneses. Estudos nacionais anuais e<br />
cruzadas (National Nutrition Survey, Japão) foram realizados em amostras<br />
representativas da população do Japão. Foram usados dados dos estudos 1976-<br />
95, reunindo 91983 homens e 120822 mulheres (idade e > 20 anos). Os<br />
resultados foram separados em grupos de idade e sexo, e por área residencial<br />
em função do tamanho do município (áreas metropolitanas, cidades e pequenas<br />
cidades). O IMC médio aumentou em homens com 0,44 kg/m 2 /10 anos e<br />
diminuiu lentamente em mulheres em -0,09 kg/m 2 /10 anos, após ajuste para<br />
idade. A diminuição do IMC médio é mais significativa em mulheres de idade<br />
20-29 anos (-0,38 kg/m 2 /10 anos), em contrasto com o grupo de mulheres<br />
idosas (grupo 60-69 e > 70 anos). A prevalência de homens pré-obesos (IMC:<br />
25-29,9 kg/m 2 ) e obesos (IMC e > 30 kg/m 2 ) aumentou em 14,5% e 0,8%,<br />
respectivamente, no período 1976-1980 e em 20,5% e 2,01% durante o período<br />
1991-95. Este aumento foi mais evidente no grupo de jovens (20-29 anos) e<br />
em pessoas de pequenas cidades. A prevalência total de mulheres pré-obesas<br />
ou obesas não mudou durante o período de 20 anos de estudo. A prevalência<br />
diminui em mulheres jovens, especialmente em áreas metropolitanas. Apesar<br />
do que a prevalência do sobrepeso (IMC e > 25 kg/m 2 ) aumentou em homens<br />
e mulheres idosas japoneses durante os últimos 20 anos, o IMC médio diminui<br />
em mulheres jovens, especialmente nas áreas metropolitanas. O controle da<br />
obesidade e das doenças associadas à obesidade deve ser focalizado em homens<br />
e mulheres com idade > 40 anos.<br />
61
62<br />
Mustaioki P et al, Obes Rev<br />
2001;2(1):61-72,<br />
fevereiro de 2002<br />
Linne Y et al, Obes Rev<br />
2002;3(2):75-83,<br />
maio de 2002<br />
Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />
Dietas de baixa caloria no tratamento da obesidade<br />
As dietas de baixa caloria são definidas com dietas de menos do que<br />
800 kcal/dia, apesar de respeitar as quantidades diárias recomendadas de<br />
todos os nutrientes essenciais. Estas dietas são utilizadas há mais de que 20<br />
anos. São empregadas como única fonte de nutrição durante 8-16 semanas,<br />
o que permite uma perda de peso de 1,5-2,5 kg/semana. Antes da prescrição<br />
desse tipo de dieta, é necessário fazer um exame clínico para avaliar eventuais<br />
contra-indicações e o uso de remédios durante a dieta. Para facilitar a<br />
aderência, conselhos comportamentais cognitivos são incluídos em um<br />
programa de redução de peso usando uma dieta de baixa caloria. Esse tipo<br />
de dieta não tem efeitos adversos sérios e pode ser utilizado com segurança<br />
em pacientes portadores de várias doenças crônicas. Programas com dietas<br />
de baixas calorias permitem uma perda de peso a curto prazo maior do<br />
que os programas sem dieta. Entretanto, em estudos randomizados<br />
controlados, os programas de dietas de baixa caloria não atingiram resultado<br />
melhor a longo prazo de que os programas convencionais. Essas dietas<br />
são utilizadas quando a perda de pesa rápida é necessária por causa de uma<br />
doença relacionada à obesidade. Em outros pacientes obesos, é uma<br />
alternativa em comparação a tratamentos conservativos. No diabetes tipo<br />
2, pode melhorar o metabolismo da glicose a longo prazo melhor do que<br />
as dietas convencionais de diminuição de peso. Alguns estudos sugerem<br />
que após programa de dieta de baixa caloria, a manutenção a longo prazo<br />
é melhor em homens de que em mulheres. Essa diferença entre os sexos<br />
pode ser um item importante para pesquisas futura.<br />
Aumento de peso a longo prazo após da gravidez<br />
Para muitas mulheres, a gravidez é um fator determinante para<br />
desenvolver sobrepeso e obesidade. 73% de 128 pacientes mulheres de<br />
nossa Unidade de Obesidade indicaram que engordaram de mais de 10 kg<br />
após cada parto e para este subgrupo a desenvolvimento do peso após<br />
gravidez era de importância crucial para o estado futuro de saúde. Apesar<br />
de que o aumento de peso após a gravidez seja geralmente modesto, existem<br />
grandes variações individuais. Em estudos, foi reportado um ano após<br />
gravidez ganho de peso de 26,5 kg até perda de 12,3 kg, e o ganho médio<br />
de peso é de 0,5 kg. Vários estudos analisaram os fatores explicando o<br />
desenvolvimento do peso após gravidez e parto, em centenas de milhares<br />
de pacientes, mas, surpreendentemente, é difícil identificar fatores de<br />
prognóstico de aumento de peso. Em uma revisão, foram identificados 31<br />
fatores. A lactação não tem um papel significativo para explicar o aumento<br />
de peso um ano após o parto. Poucos estudos investigaram a importância<br />
da atividade física durante a gravidez e pós-parto para explicar o aumento<br />
de peso. Nosso estudo examinou 1423 mulheres que foram grávidas 15<br />
anos atrás, em 1984-85. Gravidez e peso são intricados de uma maneira<br />
complexa, incluindo vários fatores como estilo de vida, comportamento<br />
alimentar, atividade física, cessação do tabagismo e lactação, mas não são<br />
ainda completamente compreensíveis.
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Prevalência de pica em gestantes atendidas<br />
em instituições públicas e privadas<br />
Pica prevalence in pregnant women consulted in public and<br />
private institutions<br />
Rita Maria Monteiro Goulart*, Caroline D’A. Magalhães**, Milene M. Cremanesi**<br />
*Mestre e Doutoranda em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública, USP, São Paulo, **Docente nas Universidades São Judas Tadeu,<br />
Anhembi-Morumbi e Mogi das Cruzes<br />
Resumo<br />
Objetivo: Avaliar a prevalência de pica (compulsão para ingestão persistente de substâncias inadequadas, com pouco ou<br />
nenhum valor nutricional) em gestantes atendidas em instituições públicas e privadas.<br />
Metodologia: Foi realizado um estudo de corte transversal com 70 gestantes atendidas em instituição filantrópica (grupo<br />
A) e 80 gestantes atendidas em duas instituições privadas (grupo B), totalizando 150 indivíduos. As gestantes foram convidadas<br />
a responder um questionário previamente elaborado para este fim.<br />
Resultados: Observou-se piores condições de vida nas gestantes do grupo A, uma vez que 50% não possuíam companheiro<br />
e 57,1% pertenciam à faixa de renda nentre 2 e 5 salários mínimos. Destacando-se ainda, neste grupo, o percentual elevado<br />
(21,4%) de gestantes adolescentes (≤19 anos). A prevalência de pica foi elevada (27%) entre gestantes da instituição filantrópica,<br />
sendo que entre gestantes das instituições privadas, apenas uma (1,4%) apresentou pica.<br />
Conclusão: Em razão da pica ser um comportamento alimentar que pode representar um risco para a saúde da gestante<br />
e do feto, há necessidade de busca ativa nas consultas de pré-natal, a fim de diagnosticar precocemente a existência desta<br />
deficiência e propor intervenções que sejam eficazes para seu controle.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: gestante, anemia, pica, fator de risco.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
u Título abreviado: Prevalência de pica em gestantes<br />
Artigo recebido em 22 de julho; revisado em 10 de agosto e aprovado em 15 de agosto de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Rita Maria Monteiro Goulart, Rua Piraquara, 450, 03688-000 São Paulo SP.<br />
Tel: (11) 6141-8042/9107-6520, E-mail: rmmgoulart@hotmail.com<br />
63
64<br />
Introdução<br />
O organismo feminino, durante a gestação, sofre<br />
alterações progressivas (anatômicas, fisiológicas e<br />
bioquímicas), que têm por objetivo manter um<br />
ambiente adequado para que o bebê se desenvolva.<br />
Ocorre, também, aumento das necessidades<br />
nutricionais da gestante, em especial no que se refere<br />
aos valores de energia, proteínas, vitaminas e minerais<br />
para o crescimento e desenvolvimento do feto, e para<br />
manter reservas teciduais adequadas de nutrientes.<br />
Quando essas necessidades não são plenamente<br />
atendidas, surgem as deficiências nutricionais. Nas<br />
deficiências não aparentes pode ocorrer a pica. Pica<br />
refere-se à compulsão para ingestão persistente de<br />
substâncias, inadequadas, com pouco ou nenhum valor<br />
nutricional.<br />
A pica é vista com maior freqüência em crianças<br />
pequenas e, ocasionalmente, em mulheres grávidas.<br />
Atualmente, vem sendo considerado um transtorno<br />
alimentar, quando pessoas se sentem impulsionadas a<br />
ingerir substâncias não comestíveis (sabonete,<br />
materiais de construção, cera, etc) e, em alguns casos,<br />
substâncias até comestíveis, mas não na sua forma<br />
“normal” (farinha crua, arroz cru, gelo, grãos de café,<br />
fermento em pó químico, entre outros).<br />
A pica em mulheres grávidas pode ser causada<br />
pelo fator emocional, devido às mudanças corporais,<br />
pelas alterações hormonais que ocorrem durante a<br />
gravidez (apresentando alterações no apetite e<br />
despertando vontades específicas devido a falta de um<br />
nutriente), como também pode ser um hábito cultural<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Abstract<br />
Objective: To evaluate the “pica” prevalence (the persistent eating of non-nutritient substances) in pregnant women<br />
consulted in public and private institutions.<br />
Methodology: It has been realized transversal cut study with 70 philanthropic institutions consulted pregnant women<br />
(group A) and 80 private instituions consulted pregnant women (group B). The pregnant women were invited to answer a<br />
previously made questionary.<br />
Results: The results showed pregnant women with worst life conditions were from group A, because 50% were single<br />
and 57.1% of them had familiar income from 2 to 5 m.s. It was noted a high rate (21.4%) of pregnant teenagers (≤19 years<br />
old). The “pica” prevailing was high (27%) among the philanthropic pregnant women as for the private pregnant women this<br />
rate was 1,4%.<br />
Conclusion: Once “pica” is a risky alimentar behavior, there is the need to regurarly make prenatal, related to previously<br />
diagnosticate this disorder and to propose efficient solutions to its control.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: pregnant, pica, anaemia, risk factors.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
de certos povos (pessoas que sentem necessidade de<br />
mastigar gelo, o que pode estar relacionado ao clima<br />
quente da região).<br />
Segundo Horner, citado por Simpson [1], a<br />
anemia pode ser a conseqüência da pica, antes de ser<br />
a causa.<br />
No estudo de Reynolds et al. [2], realizado com<br />
48 mulheres, 23 delas apresentavam anemia ferropriva<br />
e admitiram o consumo excessivo de gelo. Foi realizada<br />
uma ferroterapia, que teve como resultado o<br />
desaparecimento do desejo ardente pelo gelo e apenas<br />
uma continuou apresentando o desejo, mas melhorou<br />
consideravelmente. Neste estudo também foi possível<br />
observar que o ferro parenteral agia mais rápido do<br />
que o ferro oral. Foi também proposto que um desejo<br />
ardente por gelo está relacionado ao fato das enzimas<br />
teciduais dependentes do ferro (catalase e citocromo)<br />
encontrarem-se defeituosas.<br />
Em estudo conduzido com mulheres grávidas<br />
em Houston, com o objetivo de determinar a<br />
prevalência de pica e sua associação com os níveis de<br />
hemoglobina materna, foram entrevistadas 366<br />
mulheres em 3 clínicas, no período de junho a<br />
setembro de 1995, e foram feitos registros dos níveis<br />
de hemoglobina e hematócrito. O percentual de<br />
gestantes que apresentaram pica foi de 11,2%. O grupo<br />
de “pica de gelo” teve como prevalência valores mais<br />
altos de anemia durante a gravidez. O índice de anemia<br />
foi baixo para o grupo que não apresentou pica [3].<br />
Geissler et al. [4] verificaram ainda que
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
mulheres que comem terra têm o apetite diminuido<br />
devido ao volume de terra ingerido e como<br />
consequência apresentam deficiência de nutrientes<br />
e anemia. Sugerem que a deficiência de ferro conduz<br />
a várias formas de pica entre gestantes, incluindo<br />
comer gelo e papel. Finalmente, referem que a<br />
geofagia é mais predominante durante os últimos<br />
estágios da gestação, quando a deficiência de ferro<br />
tende a ser mais comum.<br />
Segundo Simpson et al. [2], as conseqüências da<br />
pica para a mãe e o feto variam de acordo com a<br />
natureza da substância ingerida. Os efeitos na mãe<br />
podem incluir feridas na boca, constipação, obstrução<br />
intestinal, infecções por parasitas, toxemia,<br />
interferência com a absorção de minerais,<br />
envenenamento por chumbo e hipercalcemia.<br />
Possíveis efeitos no feto incluem prematuridade,<br />
mortalidade perinatal, baixo peso ao nascer,<br />
irritabilidade, redução da circunferência cefálica e<br />
efeitos da exposição a produtos químicos, tais como<br />
pesticidas e herbicidas.<br />
Em razão das evidências que demonstram<br />
associação da pica com deficiências nutricionais, este<br />
estudo teve por objetivo avaliar a prevalência de pica<br />
em gestantes atendidas em instituições públicas e<br />
privadas, além de investigar a associação entre a pica<br />
e a anemia ferropriva.<br />
Metodologia<br />
Foi realizado um estudo de corte transversal em<br />
uma instituição filantrópica de atendimento a gestantes<br />
(ambulatório de pré-natal), denominado grupo A,<br />
incluindo 70 pacientes e em duas instituições com fins<br />
lucrativos (medicina fetal), denominado grupo B, com<br />
80 gestantes, no município de São Paulo, no período<br />
de agosto a novembro de 2001, totalizando 150<br />
gestantes.<br />
O perfil e o estado geral de saúde das gestantes<br />
foram avaliados através da aplicação de um<br />
questionário, contendo as seguintes variáveis: estado<br />
civil, anos de estudo, idade, renda familiar, desejos<br />
alimentares, presença de pica.<br />
O questionário foi aplicado pelas autoras da<br />
pesquisa no momento em que as gestantes<br />
compareciam aos serviços, para a realização da<br />
consulta pré-natal (grupo A) e de exames bioquímicos<br />
(grupo B).<br />
As gestantes foram convidadas a participar da<br />
pesquisa e, em caso de aceitação, respondiam ao<br />
questionário. Não tiveram exclusões e não foi<br />
estabelecida restrição quanto à idade gestacional.<br />
Resultados e discussão<br />
Das 150 gestantes incluídas no estudo, ocorreu<br />
maior concentração no grupo A (71,5%), na faixa<br />
etária considerada adequada para reprodução (20-30<br />
anos). No entanto, o percentual de gestantes<br />
adolescentes apresentou-se elevada (21,4%), o que<br />
corrobora as pesquisas que têm mostrado uma<br />
tendência de elevação no índice de gravidez entre<br />
adolescentes de menor nível sócio-econômico. Em<br />
razão destas jovens se encontrarem em fase de<br />
desenvolvimento, a gravidez poderia tornar-se um<br />
fator de risco adicional, pois a ingestão adequada de<br />
nutrientes pode ser prejudicada, uma vez que seu<br />
organismo precisa atender a duas necessidades<br />
paralelas: seu crescimento e desenvolvimento e do feto<br />
em formação, o que demanda atenção nutricional<br />
especial.<br />
No grupo B o percentual de adolescentes<br />
grávidas foi baixo (1,2%), comparativamente ao grupo<br />
A, e o índice de mulheres grávidas, acima de 36 anos,<br />
elevado (22,5%).<br />
Foi investigado junto às gestantes o estado civil<br />
e o número de filhos. No grupo A, observou-se um<br />
equilíbrio no número de gestantes solteiras e casadas,<br />
o que pode sugerir maior susceptibilidade a agravos<br />
nutricionais, uma vez que a falta de um companheiro<br />
poderia representar maiores dificuldades financeiras<br />
e menor apoio familiar.<br />
No grupo B, verificou-se que quase a totalidade<br />
(95%) das gestantes são casadas. A maioria são<br />
primigestas e nenhuma delas tinha mais do que 2<br />
filhos, o que sugere gestações planejadas, lembrando<br />
que 38% destas gestantes apresentavam idade superior<br />
a 30 anos.<br />
Em relação à renda e escolaridade, observou-se<br />
que entre as gestantes do grupo A, houve maior<br />
freqüência na faixa de renda de 2 a 5 salários mínimos<br />
(57,1%), e com relação a escolaridade, 81% tinham<br />
de 5 a 11 anos de estudo. A literatura tem mostrado<br />
que quanto menor o nível de escolaridade, maiores<br />
são as dificuldades de acesso ao mercado de trabalho,<br />
aos serviços de saúde e à informação, o que pode<br />
elevar o risco de deficiências nutricionais.<br />
Para as gestantes do grupo B, 90% das mulheres<br />
entrevistadas possuem renda familiar acima de 10<br />
salários mínimos e 71,2% (57) estudaram 12 anos ou<br />
mais, portanto, cursaram o nível superior. Esses resultados<br />
sugerem que antes de ter um filho elas optaram<br />
por uma estabilidade profissional e financeira.<br />
Em relação à presença de pica, os resultados<br />
podem ser vistos na Fig. 1, onde observa-se que sua<br />
65
66<br />
prevalência foi maior no grupo A (27%). Este percentual<br />
pode ser considerado elevado se comparado aos<br />
resultados obtidos no estudo conduzido por Al-<br />
Kanhal e Bani na Arábia Saudita [5], onde 9% das<br />
mulheres apresentavam pica. Porém, esta prevalência<br />
não pode ser considerada elevada quando comparada<br />
com o estudo de Simpson [1] conduzido com 75<br />
gestantes de baixa renda nascidas no México, onde<br />
44% das gestantes apresentavam o comportamento<br />
de pica, ou no estudo conduzido com 150 mulheres<br />
que moravam no Sudeste da Califórnia (31%). No<br />
entanto, é importante considerar as condições sociais<br />
e ambientais que envolvem estas diferentes<br />
populações.<br />
A presença de pica quase não existiu no grupo<br />
B (1,4%), cuja situação sócio-econômica era melhor,<br />
além das gestantes, quase em sua totalidade, serem<br />
casadas e terem o apoio do companheiro.<br />
Foi investigado junto às gestantes que<br />
apresentaram pica, quais substâncias elas tinham<br />
desejo de ingerir. Os resultados estão demonstrados<br />
na Fig.2.<br />
Neste estudo, o tijolo destacou-se como o<br />
produto mais consumido pelas gestantes (20%). Os<br />
produtos classificados como outros incluem barro, giz,<br />
cal, manga verde, macarrão cru e tripa de porco. E<br />
entre os produtos de limpeza, destacam-se o cloro, o<br />
álcool e o querosene.<br />
No grupo B, apenas uma entre as 80<br />
entrevistadas apresentou pica por gelo. No entanto,<br />
relatou que mesmo antes de engravidar consumia gelo<br />
freqüentemente e não apresentou desejos alimentares.<br />
Estes resultados podem ser comparados com<br />
outros estudos que mostraram a compulsão de<br />
gestantes com pica por gelo, terra, argila entre outras<br />
[6,7]. Segundo Smullian et al. [8], a ingestão de<br />
substâncias não alimentares, leva a risco de<br />
contaminação ou intoxicação por verminoses ou<br />
produtos químicos (presença de chumbo),<br />
ocasionando carências nutricionais, que necessitam de<br />
rápida intervenção.<br />
Conclusão<br />
Através dos resultados obtidos, em ambos os<br />
grupos (150 gestantes) verificou-se uma prevalência<br />
de 12,7% de pica, sendo superior no grupo A, onde<br />
os fatores ambientais e sociais são diferentes das<br />
gestantes do grupo B. No grupo A, as condições sócioeconômicas<br />
são desfavoráveis e grande parte não<br />
contam com a presença de um companheiro. Ao<br />
contrário do grupo B, onde a maioria é casada e com<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
melhores níveis de renda e educação.<br />
A prevalência de pica foi elevada (27%) entre as<br />
gestantes da instituição filantrópica. Entre as gestantes<br />
dos centros médicos, apenas uma (1,4%) apresentou<br />
pica, o que sugere sua associação com carências<br />
nutricionais.<br />
Em razão da presença de pica ser um<br />
comportamento alimentar que pode representar um<br />
risco para a saúde da gestante e do feto, há necessidade<br />
de uma busca ativa nas consultas de pré-natal, com o<br />
intuito de diagnosticar precocemente a existência desta<br />
deficiência, a fim de propor intervenções que sejam<br />
eficazes para seu controle.<br />
A pica pode ser o resultado da combinação de<br />
pobreza e ignorância, portanto o caminho para sua<br />
cura deve ser a melhora dos padrões de vida,<br />
programas de assistência em alimentação, educação<br />
formal, empregos e maior acesso aos cuidados de<br />
saúde e nutrição. Enquanto estes objetivos não são<br />
alcançados, ao diagnosticar gestantes com pica,<br />
recomenda-se a educação nutricional, enfatizando os<br />
elementos de uma alimentação equilibrada e de fácil<br />
acesso.
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Referências<br />
1. Worthington-Roberts, BS. Nutrição na Gravidez e na<br />
Lactação. 3 ª ed. Interamericana, Rio de Janeiro, 1986.<br />
2. Simpson E, et al. Pica During Pregnancy in Lowincome<br />
Women Born in Mexico. Western Journal of<br />
Medicine 2000;173:20-24.<br />
3. Luke B. Compreendendo a malácia em<br />
mulheres.grávidas. Nutrição Materna. São Paulo:<br />
Livraria Roca; 1991. p.75-82.<br />
4. Al-Kanhal MA, Bani IA. Food Habits During<br />
Pregnancy Among Saudi Women. International Journal<br />
for Vitamin and Nutrition Research 1995;65:206-210.<br />
5. Rainville AJ. Pica practices of pregnant women are<br />
associated with lower maternal hemoglobin level at<br />
delivery. J Am Diet Assoc 1998;98:293-6.<br />
6. Geissler PW et al. Geophagy, iron status and anaemia<br />
among pregnant women on the coast of Kenya.<br />
Transations of the Royal Society of Tropical Medicine<br />
and Hygiene 1998;92:549-553.<br />
7. Geissler PW et al. Perceptions of Soil-Eating and<br />
Anaemia Among Pregnant Womem on the Kenyan<br />
Coast. Social Science & Medicine an International<br />
Journal 1999;48: 1069-1079.<br />
8. Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: Alimentos,<br />
Nutrição e Dietoterapia. 9ªed. São Paulo: Roca; 1998.<br />
9. Smulian JC et al. Pica in a Rural Obstretic Population.<br />
Southern Medical Journal 1995;88:1236-1240.<br />
10. Reynold RD et al. Pagophagia and iron-deficiency<br />
anemia. Ann Intern Med 1968;69:435.<br />
Informações sobre pica são disponíveis no site:<br />
Transtornos alimentares na 1ª infância – DSM IV. Pica.<br />
www.psiqweb.med.br/dsm/alimen [out 2001]<br />
67
68<br />
ARTIGO<br />
Artigo recebido em 15 de junho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Rua México, 128 sala 406, Centro, 20031-142 Rio de Janeiro, RJ.<br />
Tel: (21) 2262-4481(ADCD/SUSC/SES/RJ), E-mail: nubiagama@saude.rj.gov.br e eabreu@uerj.br<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Comparação do perfil dietético de<br />
adolescentes, femininas e níveis<br />
sócio-econômico diferenciados<br />
Comparison of the dietary profile of girls teenagers<br />
of different social economic levels<br />
Maria Nubia Gama Oliveira*, Eliane de Abreu Soares**<br />
*Mestre em Nutrição Humana (IN/UFRJ), Nutricionista Assessoria de Doenças Crônico Degenerativas da Secretaria de Estado de Saúde<br />
do Rio de Janeiro; Docente do Curso de Graduação Nutrição – BENNETT, **Doutora em Ciências dos Alimentos –USP, Professora<br />
Adjunta do Instituto de Nutrição da UFRJ/UERJ<br />
Resumo<br />
Este estudo teve como objetivo comparar o perfil dietético de adolescentes do sexo feminino de nível sócio-econômico<br />
diferenciado. Foram avaliadas 320 adolescentes de 11 a 18 anos, do sexo feminino, de níveis sócios econômicos diferenciados.<br />
Para classificação da situação sócio-econômica, utilizaram-se como critérios a ocupação e escolaridade dos pais. Avaliação<br />
sócio-econômica demonstrou que 75% dos pais das alunas de nível sócio-econômico mais elevado, apresentaram nível<br />
superior com ocupação condizente com a escolaridade, enquanto nos outros dois colégios, 49% apresentaram escolaridade<br />
de primeiro grau. Para avaliação dietética, aplicou-se recordatório de 24 horas e questionário de freqüência alimentar. Os<br />
resultados mostraram que as adolescentes apresentaram baixa ingestão de cálcio dietético, independentemente do nível<br />
sócio-econômico. O leite foi o principal alimento mencionado no consumo diário pelas adolescentes de nível sócio-econômico<br />
alto (NSEA), enquanto que no de nível sócio-econômico baixo (NSEB) foram arroz, feijão e açúcar. As bebidas mais<br />
mencionadas foram refrigerantes, suco de frutas e café para as adolescentes (NSEB). Conclui-se, diante destes dados, que há<br />
necessidade de se ampliar estudos sobre o comportamento dietético desta faixa etária.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Adolescentes, nutrição, inquérito dietético, avaliação nutricional.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Abstract<br />
The aim of this study was to compare the dietary profile of girls adolescents of the differents social economic level .<br />
Is was evaluate three hundred and twenty adolescents at the ages 11 to 18 years old from high social economic level and lower<br />
social economic levels to classify of the situation social economic utilized the occupation and parent’s school. The social and<br />
economic appraisal had show that 75% of the student’s parents of high social economic level were university graduates with<br />
occupations appropriates for their years of schooling, whereas, at the other lower social economic levels 49% had show only<br />
primary school and education. The dietary assessment was carried out through food frequency questionnaire. The results<br />
had show dietary calcium consumption, independ the social economic. Milk was the main food consumed daily at the college<br />
of high social economic level, whereas at he college of lower social and economic levels rices, beans, sugar were consumed.<br />
The liquids most drunk by girls from lower social economic levels. It is to be concluded by this study broaden the studies<br />
regarding the dietary behavior at adolescence.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Adolescents, nutrition, nutritional evaluation, dietary assessment.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Introdução<br />
É sabido que a demanda de energia, proteína,<br />
minerais e vitaminas, encontra-se bastante elevada na<br />
adolescência. A determinação das necessidades<br />
nutricionais nesta faixa etária é assunto ainda bastante<br />
complexo e carente de maiores pesquisas. Isto porque<br />
adolescência transcorre em fase bem diferente,<br />
caracterizada por momentos de aceleração do<br />
crescimento, início da puberdade, fase de<br />
desaceleração do crescimento e final da adolescência,<br />
com necessidades nutricionais bem distintas entre si<br />
[1,2].<br />
A preocupação com a saúde do adolescente vem<br />
ganhando atenção, pois é nesta fase que o hábito<br />
alimentar se fortalece com todo tipo de inadequação.<br />
Perante este contexto, a nutrição passa a ter uma<br />
função importante, já que as necessidades nutricionais<br />
são fator primordial para o bom desenvolvimento e<br />
crescimento, além de fortalecer hábitos alimentares<br />
saudáveis para toda a vida [3].<br />
Face a estas argumentações, ratifica-se que o<br />
hábito alimentar pode ser influenciado por alguns<br />
fatores, como aqueles que refletem características<br />
próprias do adolescente: a contestação dos padrões<br />
familiares, podendo, levá–los ao consumo de lanches<br />
nem sempre satisfatórios, em substituição às grandes<br />
refeições [3]. O crescente modismo pela alimentação<br />
fast food, altamente valorizada pela propaganda e a<br />
indestrutibilidade, envolvendo a idéia de não precisar<br />
se alimentar para manter o corpo esbelto, são alguns<br />
dos aspectos que influenciam a formação de hábitos<br />
em adolescentes independentemente de seu nível sócio<br />
– econômico [4,5].<br />
Sabe-se também ser o estado nutricional de uma<br />
população o reflexo do estado de saúde dos indivíduos<br />
e, portanto, de seu estilo de vida, abrangendo<br />
características sócio-culturais, econômicas e/ou<br />
alimentares das suas comunidades [6].<br />
Desse modo, é relevante mencionar que é muito<br />
comum encontrar adolescentes com baixa estatura,<br />
resultante, muitas vezes, dos agravos nutricionais da<br />
infância ou com deficiência de peso, indicando<br />
freqüentemente agravo mais atual ou mesmo a<br />
obesidade, que se torna cada vez mais presente em<br />
todas as camadas sociais [7]. Este enfoque é ainda mais<br />
pertinente, quando se considera a precariedade das<br />
condições sócio-econômicas, que envolvem apreciável<br />
número de brasileiros, em função da distribuição de<br />
renda. A situação do Brasil é bem mais crítica do que<br />
a de uma série de países subdesenvolvidos, como é o<br />
caso de Bangladesh, El Salvador e Quênia. O nosso<br />
país está hoje na mesma faixa que o Panamá e o Peru<br />
e perde de muito longe para Holanda, onde os mais<br />
ricos ganham apenas quatro vezes mais do que os mais<br />
pobres [3]. A alimentação, nestas circunstâncias é<br />
prejudicada, empobrece-se sendo a proteína cada vez<br />
mais substituída pelos carboidratos, com omissão ou<br />
redução acentuada do número de refeições [7]. Para<br />
Jacobson [8], o aumento nas necessidades nutricionais<br />
serão particularmente importantes no período de<br />
estirão de crescimento, em que qualquer restrição<br />
alimentar, sobretudo energético e protéico, irá afetar<br />
o estado nutricional do adolescente.<br />
Ainda, considerando que seqüelas da<br />
desnutrição a níveis populacionais indicam<br />
seguramente más condições pregressas ambientais de<br />
vida, torna–se importante quantificar sua presença na<br />
faixa etária da adolescência [9]. Por esta razão e frente<br />
à análise e dados da literatura apresentados, procurou-<br />
69
70<br />
se desenvolver o presente artigo, que tem como<br />
objetivo comparar o perfil alimentar de adolescentes<br />
do sexo feminino, de nível sócio–econômico<br />
diferenciado.<br />
Metodologia<br />
Foram estudadas 180 adolescentes de um<br />
Colégio situado no Município do Rio de Janeiro,<br />
considerado de nível sócio econômico alto (NSEA) e<br />
mais outros dois grupos de adolescentes (140), que<br />
eram formados por alunas de padrão sócio econômico<br />
baixo (NSEB). Não fizeram parte do estudo as<br />
adolescentes que não estivessem motivadas a<br />
responder ao recordatório alimentar, e/ou preencher<br />
o registro de alimentos e que estivessem grávidas ou<br />
amamentando, ou ainda, que estivessem fazendo<br />
algum tipo de dieta para emagrecer ou para engordar.<br />
Perfil sócio – econômico das adolescentes<br />
O questionário sócio-econômico foi preenchido<br />
com cada adolescente, e as perguntas referiam-se a<br />
dados pessoais, condições sócio-econômicas.<br />
Posteriormente, foi feita a classificação sócioeconômica<br />
dos pais ou responsáveis pelas<br />
adolescentes, utilizando-se a escolaridade e a ocupação<br />
como critério de avaliação [3].<br />
Avaliação dietética<br />
Para traçar o perfil dietético das adolescentes,<br />
foram aplicados os métodos de recordatório de 24<br />
horas e Questionário de Freqüência de Consumo de<br />
Alimentos para cada uma delas. Para facilitar a<br />
aplicação e fidedignidade dos dados obtidos no<br />
recordatório de 24 horas, foi utilizado um “kit”<br />
contendo utensílios de uso comum, como: colheres<br />
de arroz, sopa, sobremesa, chá e café, concha média<br />
de feijão, xícara de chá e café, copos de requeijão e de<br />
geléia, pratos rasos e fundos, com objetivo de facilitar<br />
a precisão do porcionamento dos alimentos<br />
consumidos pelas adolescentes, padronizando as<br />
medidas caseiras para melhor segurança.<br />
O recordatório de 24 horas foi preenchido com<br />
medidas caseiras dos alimentos e bebidas ingeridas<br />
com posterior conversão em gramatura [10,11]. As<br />
informações obtidas através desse formulário, foram<br />
analisadas qualitativa e quantitativamente em relação<br />
aos macronutrientes (proteínas, proteína de alto valor<br />
biológico, carboidratos e lipídeos) e micronutrientes<br />
(cálcio, ferro, zinco, vitamina C, tiamina, riboflavina,<br />
niacina e folato), através do Programa de Apoio à<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Nutrição (CIS-EPM versão 2.5/1995). Em seguida,<br />
foi feita a comparação dos resultados encontrados<br />
com os padrões de referência da Food and Nutrition<br />
Board do National Research Council (FNB/NRC/<br />
RDA-89).<br />
O recordatório de 24 horas foi utilizado como<br />
instrumento a fim de obter informações sobre a<br />
ingestão alimentar individual. Foi necessário ter<br />
conhecimento se o dia anterior teria sido um dia<br />
típico ou não, já que na aplicação do questionário<br />
tomou-se o cuidado de excluir dias atípicos da<br />
investigação (ex: segunda-feira, festas, doenças, ou<br />
mudança do hábito alimentar por qualquer motivo).<br />
Caso um desses aspectos fosse positivo, o<br />
recordatório de 24 horas era realizado,<br />
posteriormente, pois todas essas situações interferem<br />
e alteram o hábito alimentar.<br />
O Questionário de Freqüência de Consumo de<br />
Alimentos foi aplicado pelos entrevistadores,<br />
juntamente com o Recordatório de 24 horas, com a<br />
finalidade de averiguar a qualidade da dieta ingerida,<br />
uma vez que este instrumento informa quantas vezes<br />
por semana a adolescente consome alimentos dos<br />
diferentes grupos. Estes dados auxiliam a verificação<br />
da autenticidade das respostas obtidas no recordatório<br />
de 24 horas, proporcionando maior rigor na avaliação<br />
dietética.<br />
Análise estatística<br />
Para análise estatística dos resultados, foi<br />
empregada a análise de variância multifator, onde<br />
foram avaliados os níveis de significância para a<br />
distribuição F-SNEDECOR. Foi utilizado o programa<br />
Statistica–Stat Solf (1996) da Universidade do Estado<br />
do Rio de Janeiro (UERJ).<br />
Em todos os testes, fixou-se em 5% (p < 0,05) o<br />
nível de rejeição da hipótese de nulidade, uma vez que<br />
foi rejeitada a hipótese de insignificância ente os<br />
grupos de nível sócio-econômico alto e nível sócioeconômico<br />
baixo (NSEA vs. NSEB). A análise de<br />
variância (ANOVA – Estatística F) foi aplicada para<br />
comparação dos dois grupos de adolescentes.<br />
Resultados e discussão<br />
Os estudos de Oliveira et al. [12] demonstraram<br />
que entre os pais das adolescentes, foi encontrado 75%<br />
vs. 8% para NSEA e NSEB, respectivamente com<br />
nível superior, enquanto com os pais das meninas de<br />
nível sócio-econômico desprivilegiado, foi visto uma<br />
proporção de 49% para o primeiro grau. Esta atuação<br />
indireta ocorreria na medida em que a escolaridade se
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
relaciona à oportunidade de trabalho e em última<br />
análise até a níveis de salário [13,14].<br />
Quanto ao nível de ocupação, os pais das<br />
adolescentes de nível sócio-econômico alto (NSEA),<br />
desempenharam atividades determinadas na classe 1<br />
(49%) - engenheiro, nutricionista, médico, professores<br />
universitários, advogados, dentistas -, enquanto 42%<br />
e 34% do nível sócio-econômico baixo (NSEB),<br />
encontram-se nas classes 5 e 9 do imposto de renda,<br />
tendo como ocupação porteiro, pensionista,<br />
empregada doméstica, diarista e motorista (fig.1).<br />
Através dos resultados encontrados no presente<br />
trabalho, percebe-se que quanto melhor o nível de<br />
escolaridade dos pais das adolescentes, melhor a<br />
estratificação social em que estas se encontram, uma<br />
vez que o nível de ocupação é condizente com grau<br />
de instrução.<br />
Para Forbes [15] e Garn et al. [13], um amplo<br />
aspecto de variáveis atua nas relações do indivíduo<br />
com o alimento, destacando-se, entre outros, a renda,<br />
a composição e tamanho da família, as condições de<br />
habitação, saneamento básico e promiscuidade.<br />
São relevantes, ainda, os fatores culturais<br />
(hábitos, crenças, tabus), emocionais (estresse) e<br />
biológicos (presença de doenças, gravidez ou lactação).<br />
Ainda a atividade física, o sono, as drogas como o<br />
álcool e a influência da propaganda, vão atuar sobre<br />
os potenciais de crescimento e desenvolvimento na<br />
vida adulta.<br />
Observou-se no estudo de Oliveira et al. [12],<br />
que 61% das adolescentes de nível sócio-econômico<br />
baixo apresentavam 5, 6 ou mais de 6 pessoas na<br />
mesma residência e que 71% do NSEA apresentavam<br />
famílias com 2, 3 e 4 membros. Esses achados são<br />
importantes, porque é encontrado respaldo na<br />
literatura, que a composição e tamanho da família são<br />
variáveis que atuam nas relações do indivíduo com o<br />
alimento.<br />
Assim, para Monteiro et al. [14], a renda é um<br />
dos determinantes mais poderosos. Dela origina-se a<br />
estratificação em níveis sócio-econômicos,<br />
influenciando a atuação dos demais fatores, podendo<br />
ser elemento de interferência direta, facilitando ou<br />
dificultando o acesso aos bens e aos serviços. Cook et<br />
al. [16] em seus estudos, demonstraram que crianças<br />
de baixo nível sócio-econômico e famílias numerosas<br />
tinham estaturas mais baixas, devido à dieta<br />
inadequada, com reflexos na adolescência e na idade<br />
adulta, em função da necessidade de maior divisão da<br />
renda já precária.<br />
Na fig. 2 pode-se observar que arroz, feijão e<br />
açúcar foram os alimentos mais citados como de<br />
consumo diário pelo grupo de nível sócio-econômico<br />
baixo. O leite foi bastante superior para nível sócioeconômico<br />
alto, com 81% das adolescentes<br />
mencionando que o ingeriam diariamente. Sucos<br />
artificiais de frutas e refrigerantes obtiveram o mesmo<br />
percentual de 23% para NSEA, enquanto que 52%<br />
das adolescentes NSEB faziam consumo diário do<br />
primeiro. Fígado, frango e ovos foram referidos<br />
somente pelas adolescentes de nível sócio-econômico<br />
baixo. Os vegetais mencionados pelas adolescentes<br />
de 11 a 14 anos como de freqüência diária, foram<br />
tomate, por 24% das alunas do NSEB, e alface (16%)<br />
para o NSEA. Ainda, na fig. 2, observa-se que 41%<br />
das adolescentes NSEB e 29% NSEA mencionaram<br />
ingerir diariamente banana e maçã, respectivamente.<br />
Quanto a outros tipos de alimentos mais citados pelas<br />
adolescentes, foram Nescau para NSEA e sorvete para<br />
o NSEB. Para Marino & King [17], os hábitos<br />
Fig. 1 - Percentual dos pais das adolescentes de 11 a 18 anos, de situação sócio-econômica diferenciada,<br />
frente ao nível de ocupação.<br />
71
72<br />
alimentares dos adolescentes baseiam-se em refeições<br />
rápidas e alimentos que poderiam levar a um<br />
desequilíbrio na dieta e, conseqüentemente, a um<br />
estado nutricional inadequado.<br />
Através da fig. 2, vê-se que a distribuição<br />
percentual de freqüência diária da ingestão de leite é<br />
cerca de 81% vs. 35% para as adolescentes de 11 a 14<br />
anos NSEA e NSEB, respectivamente.<br />
Para Greenwood & Richardson [18], os hábitos<br />
alimentares são geralmente desenvolvidos na infância<br />
e, sobretudo, na adolescência, embora a casa e a escola<br />
influenciem no consumo alimentar da criança.<br />
Contudo, cada vez mais os adolescentes estão sendo<br />
constantemente influenciados por propaganda e<br />
modismo, que interferem na formação de seus hábitos<br />
alimentares [3].<br />
A fig. 3 também demonstra que as adolescente<br />
de 15 a 18 anos de nível sócio-econômico baixo,<br />
citaram como os alimentos de maior consumo diário<br />
o arroz, açúcar e feijão. Porém, pão e leite foram<br />
mencionados por um número expressivo de<br />
adolescentes do NSEA. Refrigerantes e suco artificial<br />
de frutas apresentaram o mesmo percentual (17%)<br />
para este mesmo colégio.<br />
Mas o consumo de refrigerantes foi superior para<br />
NSEB, com 41% das alunas entrevistadas fazendo sua<br />
ingestão diariamente. Para outros tipos de alimentos<br />
ingeridos nesta faixa etária de 15 a 18 anos, foram<br />
avaliados o Nescau com 28% para NSEA e<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
salgadinhos com 14% das meninas NESB,<br />
consumindo-os diariamente. Os vegetais tomate e<br />
alface apresentaram o mesmo percentual de estudantes<br />
(14%), ressaltando o seu consumo diário para o NSEA<br />
e NSEB, respectivamente. Estudos feitos em alguns<br />
países da Europa mostraram que a classe socialmente<br />
privilegiada demonstrava preferência por alimentos<br />
como frutas e vegetais. Na classe social baixa a<br />
preferência é maior por alimentos fritos do que aos<br />
cozidos [19].<br />
Um estudo de coorte com 4.760 adolescentes<br />
do Reino Unido, observou que a proteína contribuía<br />
com 12,5% do valor calórico total, sendo que a<br />
principal fonte eram as carnes e produtos derivados<br />
(33%), seguidos dos cereais (24%) e derivados e leite<br />
e produtos lácteos (15%) [20].<br />
Através do método recordatório de 24 horas, observou-se<br />
que o consumo médio de energia, de proteína de<br />
alto valor biológico, de carboidratos e de lipídeos das<br />
adolescentes de nível sócio – econômico alto e baixo,<br />
diferiram estatisticamente, entre si (tabela I).<br />
Na tabela I encontram-se os valores médios dos<br />
macronutrientes consumidos pelas adolescentes de 11<br />
a 18 anos. As necessidades de energia preconizadas<br />
pelas FNB/NRC/RDA/1989, não foram atingidos<br />
pelas meninas com o valor energético médio de 2.114<br />
e 1.435 kcal (NSEA e NSEB), respectivamente.<br />
Verifica-se que as adolescentes de nível sócio-econômico<br />
privilegiado apresentaram melhor ingestão<br />
Fig. 2 - Distribuição percentual de freqüência alimentar diária de adolescentes de 11 a 14 anos, de situação<br />
sócio - econômica diferenciada.
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Tabela I - Ingestão de energia e de macronutrientes<br />
pelas adolescentes de situação sócio-econômica<br />
diferenciada, de acordo com o recordatório de 24<br />
horas (Média ± DP).<br />
Nutrientes NSEA NSEB µ=0,05%<br />
Média DP Média DP (p)<br />
VET(Kcal) 2.114 1.337 1.435 1.101 0,00*<br />
Proteína (g) 86,8 56,7 63,7 69,0 0,06<br />
PTN/AVB (g) 56,4 38,3 34,8 34,7 0,00*<br />
Carboidrato (g) 273,3 177,9 192,0 15,5 0,00*<br />
Lipídeo (g) 74,9 55,4 45,836,7 0,00*<br />
Colesterol (mg) 197,6 96,5 184,4 118,6 0,35<br />
Nota: NSEA= Nível sócio-econômico alto; NSEB= Nível sócioeconômico<br />
baixo; DP= Desvio padrão; PTN/AVB = Proteína de<br />
alto valor biológico; VET = Valor energético total.<br />
energética total, do que as de baixo nível sócioeconômico.<br />
Deve-se salientar que a média do valor energético<br />
total (VET) das adolescentes de nível sócio-econômico<br />
baixo, foi bem discrepante em relação aos valores<br />
estipulado pelo NRC/RDA/1989 para este período<br />
de vida (2.100 a 2.200 kcal/dia). E somente 67% desta<br />
necessidade energética, foi atingida pelas adolescentes<br />
dos colégios NSEB. As adolescentes do NSEA<br />
estavam de acordo com o valor recomendado para<br />
esta faixa etária.<br />
A ingestão protéica da dieta sempre vem sendo<br />
associada às condições sócio-econômicas, pelo fato<br />
dos alimentos fonte, particularmente das proteínas de<br />
alto valor biológico (de origem animal), serem mais<br />
caros e de difícil acesso à população de baixa renda<br />
[2]. Uma grande percentagem das adolescentes de nível<br />
sócio-econômico baixo faz uso de feijão e arroz, que<br />
parecem estar contribuindo como a principal fonte<br />
de proteínas nas suas dietas diariamente. No Brasil,<br />
Saito et al. [21], num estudo sobre a visão<br />
multiprofissional de adolescentes obesos, relataram<br />
que pão, bolachas, sanduíches, chá, café, salgadinhos<br />
(coxinhas e pastéis), sucos artificiais, sorvete e<br />
batatas fritas são os alimentos mais consumidos por<br />
este grupo. As hortaliças, feijão e leite foram os<br />
menos freqüentes, ao contrário do que se observou<br />
no presente estudo, em relação ao leite e ao feijão.<br />
O tomate, o alface e a batata inglesa foram citados<br />
por um percentual pequeno de adolescentes, como<br />
alimentos de consumo diário.<br />
A gordura na dieta é encontrada, tanto nos<br />
alimentos de origem vegetal como animal. As<br />
gorduras saturadas estão comumente presentes nos<br />
diferentes tipos de carnes (vermelhas, de algumas partes<br />
da carne de frango) e nos produtos lácteos (queijo,<br />
manteiga e leite integral). Os lipídeos poliinsaturados<br />
estão nos óleos vegetais, como o de amendoim, de soja,<br />
de algodão, de milho, de girassol e naqueles usados para<br />
produção de margarinas. As gorduras monoinsaturadas<br />
estão presentes nas azeitonas, no azeite, óleo de canola,<br />
amêndoas, avelãs e abacate.<br />
Por outro lado, dada as constantes associações<br />
da ingestão lipídica com o desenvolvimento de<br />
doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer, as<br />
recomendações atuais são no sentido de reduzir a<br />
quantidade deste nutriente na dieta. Conforme WHO<br />
(1990), a quantidade de lipídios não deve ultrapassar<br />
30% do valor energético total, dando preferência às<br />
gorduras monoinsaturados.<br />
Como comprova a tabela II, pode-se ver que a<br />
Fig. 3 - Distribuição percentual de freqüência alimentar diária de adolescentes de 15 a 18 anos, de situação<br />
sócio - econômica diferenciada.<br />
73
74<br />
quantidade de folato ingerido (157µg<br />
± 118,1) vs. (142,3 µg ± 101,9), pelas<br />
adolescentes de 11 a 18 anos, foi menor<br />
do que o recomendado. Atualmente a<br />
inadequação dietética de folato vem<br />
sendo extensamente estudada por duas<br />
razões principais. Primeiramente, pelo<br />
fato do ácido fólico ser indispensável<br />
no processo de divisão, crescimento e<br />
diferenciação celular do feto. A<br />
deficiência de ácido fólico no primeiro<br />
mês de gravidez pode levar a formação<br />
defeituosa do tubo neural, que pode ser<br />
acompanhada por hidrocefalia [22,23].<br />
A segunda razão está na síntese<br />
de metionina pela homocisteína, já que o ácido fólico<br />
é um cofator da metionina sintetase, enzima que<br />
converte homocisteína em metionina.<br />
Conseqüentemente a inadequada ingestão de ácido<br />
fólico pode levar a hiperhomocisteinemia com efeitos<br />
tóxicos, principalmente para as células nervosas [24].<br />
Portanto, a fortificação de alimentos<br />
(principalmente cereais) com ácido fólico vem sendo<br />
realizada na Alemanha, Estados Unidos e em outros<br />
países, como forma de oportunizar um consumo<br />
adequado de folato para mulheres antes mesmo da<br />
concepção [24,22]. Inclusive a fortificação de ácido<br />
fólico na farinha de trigo já vem sendo feita no Brasil.<br />
Deve-se ressaltar que vem cada vez mais aumentando<br />
o número de adolescentes que engravidam e,<br />
geralmente, elas não planejam suas gravidezes.<br />
A outra razão para um estudo mais minucioso<br />
sobre a inadequação dietética de folato é que a<br />
hiperhomocisteinemia está também associada a<br />
agregação plaquetária, levando ao desenvolvimento<br />
precoce da aterosclerose, aumentando o risco de<br />
doenças cardiovasculares [25,23]. Portanto, este<br />
nutriente merece especial atenção na prevenção de<br />
futuros problemas cardiovasculares.<br />
A ingestão de vitamina C, em ambos os colégios,<br />
está acima das recomendações nutricionais, segundo<br />
a FNB/NRC/RDA/1989.<br />
As necessidades de vitaminas para os<br />
adolescentes são grandes, principalmente no período<br />
do estirão de crescimento. As vitaminas tiamina,<br />
riboflavina e niacina têm funções reconhecidas no<br />
metabolismo celular, sendo suas recomendações<br />
relacionadas àquelas da ingestão energética [3]. Em<br />
virtude de maior demanda de energia nesta fase da<br />
vida, as recomendações de niacina, riboflavina e<br />
tiamina estão aumentadas. São consideradas boas<br />
fontes destas vitaminas feijão, carne de frango e fígado.<br />
Ainda, analisando a tabela II, pode-se verificar<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Tabela II - Ingestão de vitaminas e minerais pelas adolescentes<br />
de situação sócio-econômica diferenciada, de acordo com o<br />
recordatório de 24 horas (Média ± DP).<br />
Nutrientes NSEA NSEB µ=0,05%<br />
Média DP Média DP (p)<br />
Ácido ascórbico (mg) 168,9 132,8 141,0 83,3 0,07<br />
Tiamina (mg) 1,0 6,03 0,7 0,5 0,00*<br />
Riboflavina (mg) 1,1 0,80,7 0,6 0,00<br />
Niacina (mg) 16,2 5,4 1,61 5,6 0,87<br />
Folato (mg) 157,0 118,1 142,3 101,9 0,33<br />
Cálcio (mg) 1.072,1 1.563,4 755,7 273,3 0,05*<br />
Ferro (mg) 17,9 6,50 14,9 6,0 0,09<br />
Zinco (mg) 13,5 6,1 12,6 4,80,23<br />
Nota: NSEA = Nível sócio-econômico alto; NSEB= Nível sócio-econômico<br />
baixo; DP = Desvio padrão; VET = Valor energético total.<br />
que as vitaminas tiamina (1,0 mg vs. 0,7 mg) e<br />
riboflavina (1,1 mg vs. 0,7 mg) apresentaram valores<br />
estatisticamente significativos entre os grupos de níveis<br />
sócio-econômicos alto e baixo, respectivamente.<br />
A necessidade de minerais aumenta bastante<br />
durante a fase do estirão da adolescência, sobretudo<br />
de cálcio, ferro e zinco; o cálcio devido ao aumento<br />
na massa esquelética, o ferro devido à expansão da<br />
massa muscular e volume sangüíneo e perdas<br />
menstruais no sexo feminino e o zinco pela<br />
regeneração, tanto da massa esquelética quanto da<br />
massa muscular, além das recentes evidências do seu<br />
papel essencial nos processos de crescimento<br />
[26,17,27].<br />
Verifica – se na tabela de ingestão de vitaminas<br />
e minerais, que o consumo de cálcio é<br />
significativamente diferente, em ambos níveis sócioeconômicos.<br />
Os valores médios encontrados para as<br />
quantidades de cálcio ingeridas estão muito aquém<br />
do recomendado, segundo FNB/NRC/RDA/1989.<br />
Para Veiga [2], o cálcio e o ferro merecem<br />
maiores investigações diante da importância da<br />
ingestão adequada destes minerais para a prevenção<br />
de osteoporose em idades mais avançadas, e de<br />
anemias na adolescência, respectivamente. Ainda<br />
segundo Meredith & Dwyer [28], aproximadamente<br />
1/4 da energia ingerida pelos adolescentes provém<br />
de alimentos que são pobres em vitaminas e minerais,<br />
tais como refrigerantes, doces, balas e outros alimentos<br />
altamente calóricos e de baixa densidade nutricional.<br />
Todavia, nenhuma das adolescentes de alto e<br />
baixo nível sócio-econômico, apresentaram adequada<br />
ingestão de cálcio. O consumo de cálcio pelas<br />
adolescentes do colégio de nível sócio-econômico<br />
desprivilegiado, foi abaixo de 2/3 das recomendações<br />
pela FNB/NRC/RDA/1989. Isto leva a crer,<br />
provavelmente, no baixo consumo dos alimentos<br />
fontes de cálcio e seus derivados.
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Existem muitos dados na literatura afirmando<br />
que o ferro se relaciona, sobretudo, com a expansão<br />
do volume sangüíneo e o incremento da massa<br />
muscular na adolescência. A inadequação dietética de<br />
ferro reflete-se na alta prevalência da anemia entre<br />
adolescentes de todos os níveis sócio – econômicos,<br />
principalmente os de situação mais baixa [27]. Para as<br />
adolescentes, é preciso levar em conta as perdas<br />
menstruais de 1,4 mg de ferro por dia. Portanto, a<br />
partir da menarca, as necessidades de ferro para o sexo<br />
feminino tornam – se maiores [27]. É sabido que a<br />
carne é a principal fonte de ferro (fígado, frango ou<br />
aves, peixes e carnes vermelhas). A carne e os<br />
alimentos ricos em ácido ascórbico aumentam a<br />
absorção de ferro dos alimentos.<br />
Os estudos dietéticos, geralmente, apresentam<br />
como objetivo principal caracterizar o consumo usual<br />
de alimentos e nutrientes de um indivíduo, ou de um<br />
grupo populacional, tentando possibilitar o<br />
conhecimento de suas inadequações e, a partir daí,<br />
fazer as intervenções nutricionais necessárias [29-32].<br />
Conclusão<br />
Pode-se afirmar, após concluir este estudo, que<br />
os pais das adolescentes com melhor nível de<br />
escolaridade apresentaram melhor posição no<br />
mercado de trabalho; o recordatório alimentar de 24<br />
horas demonstrou que o cálcio dietético ficou aquém<br />
do estipulado pela NRC/RDA/1989, principalmente<br />
para as adolescentes de nível sócio-econômico<br />
desprivilegiado. Foi encontrada baixa ingestão de ferro,<br />
frente ao recordatório de 24 horas para as adolescentes<br />
de nível sócio-econômico baixo, não sendo observado<br />
para as meninas de situação sócio-econômica alta; os<br />
alimentos consumidos diariamente por uma grande<br />
percentagem de adolescentes de 11 a 14 e 15 a 18<br />
anos de nível sócio-econômico baixo foram arroz,<br />
feijão e açúcar, enquanto que um maior percentual de<br />
meninas de 11 a 14 e 15 a 18 anos de nível sócioeconômico<br />
alto referiram ingerir leite diariamente.<br />
Defronte aos resultados, espera-se que este estudo<br />
venha contribuir para despertar interesse para novas<br />
pesquisas, com perspectivas de elaborar diagnóstico e<br />
medidas de intervenção nutricional, que visem à<br />
melhoria das condições de saúde desta faixa etária.<br />
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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Efeito antioxidante das vitaminas A, C, E<br />
e aterogênese<br />
Anti-oxidant effect of vitamins A, C, E and aterogenesis<br />
Rejane Andréa Ramalho * , Elizabeth Accioly ** , Marta Maria Souza Santos *** , Mirian Ribeiro Baião *** ,<br />
Mirian Martins Gomes **** , Bianca Amaral dos Santos Silva **** , Lívia Maria da Silva *****<br />
* Professora Titular do Departamento de Nutrição Social e Aplicada do Instituto de Nutrição da UFRJ – DNSA/IN/UFRJ, Doutora em<br />
Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública – FIOCRUZ, Diretora do Instituto de Nutrição da UFRJ, ** Professora Adjunta do<br />
Departamento de Nutrição e Dietética/IN/UFRJ, Doutora em Ciências pela UNIFESP/EPM, *** Professora Assistente do DNSA/<br />
IN/UFRJ, Mestre em Nutrição Humana pela UFRJ, **** Nutricionista da Maternidade Escola/UFRJ e Aperfeiçoanda pelo Grupo de<br />
Pesquisa em Vitamina A (GPVA) IN/UFRJ, ***** Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica pela Universidade Gama Filho<br />
Resumo<br />
As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morbidade e mortalidade nos países desenvolvidos e em<br />
segmentos cada vez mais crescentes dos países em desenvolvimento. Sua associação com os estilos de vida do mundo<br />
moderno é indiscutível, com especial destaque aos fatores dietéticos antioxidantes. A teoria sobre a formação de depósitos de<br />
placas ateromatosas nas paredes vasculares, responsáveis por grande parte dos eventos cardiovasculares adquiridos, repousa,<br />
na atualidade, no conceito da oxidação de estruturas lipídicas do plasma e das membranas celulares, por substâncias altamente<br />
reativas chamadas radicais livres. Além de defesas antioxidantes naturais de que dispõe o organismo humano, evidências têm<br />
apontado um papel anti-radicais livres de vários componentes dietéticos, especialmente as vitaminas A, C e E. Apesar das<br />
controvérsias sobre o uso em larga escala dessas vitaminas, os autores são concordantes na recomendação de um maior<br />
consumo de hortaliças e frutas, que poderão prover não apenas estes nutrientes, mas também outras substâncias com possível<br />
papel antioxidante.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: antioxidantes, radicais livres, doença cardiovascular, vitaminas, dieta.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
u Título abreviado: Vitaminas antioxidantes e aterogênese<br />
Artigo recebido em 20 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Andréa Ramalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro,<br />
Centro de Ciências da Saúde, Bloco J, 2º andar, Gabinete da Direção, Ilha do Fundão, 21944-050 Rio de Janeiro RJ.<br />
Tel: (21)2562-6599, E-mail: aramalho@rionet.com.br<br />
77
78<br />
Introdução<br />
As enfermidades do coração, principalmente as<br />
degenerativas, podem gerar seqüelas graves, com<br />
diminuição da qualidade e o tempo de vida do<br />
indivíduo acometido, figurando entre as principais<br />
causas de morbidade mundial [1]. As suas formas<br />
mais freqüentes são as doenças coronarianas e<br />
acidentes vasculares cerebrais, que se caracterizam<br />
por obstrução da luz dos vasos sangüíneos por<br />
depósitos de colesterol que perdem, assim, a sua<br />
elasticidade, com modificações da estrutura das<br />
camadas média e íntima das artérias [2,3], como<br />
conseqüência da aterosclerose.<br />
A aterosclerose é uma patologia que acomete<br />
grande parte da população mundial, associada a vários<br />
fatores de risco, como por exemplo: o sedentarismo,<br />
o tabagismo, a hipertensão, o alto consumo de gordura,<br />
principalmente as saturadas e o baixo consumo de<br />
frutas e vegetais [4].<br />
Estudos epidemiológicos [5], ressaltam que a<br />
doença coronária seja responsável por grande parte<br />
da mortalidade em países desenvolvidos, e isto se deve,<br />
principalmente, à dieta da qual a população<br />
freqüentemente faz uso. A patogenia inicia-se desde a<br />
infância, sendo a alimentação adequada considerada<br />
fator de proteção contra o desenvolvimento do<br />
processo no indivíduo adulto [6]. A formação da placa<br />
ateromatosa na fase adulta, é atualmente concebida<br />
como resultado da oxidação de estruturas lipídicas<br />
plasmáticas e de membranas por substâncias altamente<br />
reativas denominadas radicais livres (RL) ou espécies<br />
ativas de oxigênio (EAO). Para contrabalançar a<br />
produção de radicais livres, o organismo lança mão<br />
de mecanismos de defesa, os chamados antioxidantes,<br />
dos quais algumas vitaminas fazem parte. Quando há<br />
um aumento de níveis de radicais livres, seja por<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Abstract<br />
The cardiovascular diseases represent the main cause of morbimortality in the developed and developement countries.<br />
Cardiovascular diseases are associated to life style and the anti-oxidants dietary factors as the A, C and E vitamins. Over the<br />
past 15 years, considerable advances have been made in the understanding of atherosclerotic plaques. It should be emphasized<br />
that these plaques are evolved with plasmatic lipid oxidation and free radicals. There is recent demonstration of the antioxidant<br />
actions of the A, C and E vitamins of diet complementations, as auxiliar in the human organism defenses. As the<br />
result of large use of these vitamins are unclear, the investigators prefer to recommend a larger intake of vegetables and<br />
fruits in order to increase all types of dietary anti-oxidants factors.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: anti-oxidants, free radicals, cardiovascular , diseases, vitamins, diet.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
produção aumentada ou por diminuição de<br />
antioxidantes disponíveis, ocorre um estado de estresse<br />
oxidativo, o que acarreta em lesão tissular [7].<br />
Estudos ressaltam a importância da ingestão de<br />
frutas e vegetais, pois neles encontram-se as vitaminas<br />
antioxidantes, em especial as vitaminas C, E e A,<br />
incluindo seus precursores [7-12].<br />
Diante de tais evidências, este trabalho propõe<br />
revisar o papel dos antioxidantes no combate aos<br />
radicais livres, assim como a participação das vitaminas<br />
A (incluindo o b-caroteno), C e E, na prevenção das<br />
doenças cardiovasculares (DCV).<br />
Os antioxidantes<br />
Os antioxidantes atuam em diferentes estágios<br />
da seqüência oxidativa, em especial sobre a oxidação<br />
lipídica na membrana celular e em produtos ricos em<br />
lipídios [13]. Também atuam na remoção de oxigênio<br />
ou decréscimo da concentração de oxigênio local;<br />
remoção catalítica de íons metais; remoção das<br />
espécies de oxigênio como o superóxido de<br />
hidrogênio; inibição da formação dos RL como<br />
hidroxil, alcoxil e espécie peroxil; quebra da cadeia no<br />
início da seqüência; varredura do oxigênio singlet.<br />
De acordo com a sua localização, são divididos<br />
em antioxidantes celulares (localizados no interior da<br />
célula), antioxidantes de membrana e antioxidantes<br />
extra-celulares.<br />
Sabe-se que o bloqueio em algum dos passos de<br />
formação dos RL promove conseqüências benéficas<br />
em outros pontos de EAO, pois anula outras reações<br />
em cascata, formadoras de mais espécies ativas na<br />
seqüência [14], além de facilitar o trabalho do sistema<br />
antioxidante que está encarregado de desativar as EAO,
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
quando formadas anteriormente [15]. Os escapes de<br />
EAO que persistem são, assim, controlados com mais<br />
segurança [16].<br />
Os antioxidantes biológicos podem exibir dois<br />
modos distintos de ação contra as EAO: como<br />
inibidores da síntese de EAO ou como inativadores das<br />
espécies já formadas [14]. A inibição é um processo<br />
que se dá em vias enzimáticas específicas, pelas quais<br />
se pode controlar a geração explosiva de RL [17,16].<br />
A inativação de espécies radicais já formadas é,<br />
no entanto, o processo antioxidante mais usual [14],<br />
seja por catálise enzimática ou por combinação desta<br />
com a ação dos varredores exógenos. Estes são<br />
compostos altamente hábeis em liberar de suas<br />
moléculas elétrons ou átomos completos de<br />
hidrogênio que, assim, estabilizam prontamente as<br />
espécies reativas [15].<br />
O rol de substâncias envolvidas na ação<br />
inativadora das EAO, compõe um sofisticado aparato<br />
de proteção, que recebe denominações diversas:<br />
substâncias antioxidantes, agentes anti-radicais livres,<br />
varredores de RL ou “oxidant scavengers” [16].<br />
Fatores antioxidantes dietéticos<br />
Além do aparato enzimático, o sistema<br />
antioxidante dispõe de meios complementares<br />
exógenos, destacando-se principalmente as vitaminas<br />
(C, E e A), que possibilitam amplificar as ações no<br />
combate às espécies ativas de oxigênio (EAO), atuando<br />
de modo altamente cooperativo entre si, destacandose<br />
tanto no mecanismo varredor como no aspecto<br />
farmacodinâmico [17,14].<br />
Por serem micronutrientes essenciais, seu<br />
suprimento deve ser feito através da dieta [15].<br />
Felizmente esses nutrientes são largamente<br />
encontrados nos alimentos, especialmente nos frutos<br />
e partes folhosas verdes [14].<br />
Diferentemente das enzimas, regeneráveis ao fim<br />
de uma reação, as vitaminas, em alguns casos, quando<br />
reagem com um RL, são inativadas (consumidas) no<br />
processo [15]. Comumente, uma molécula vitamínica<br />
interage com uma molécula de RL. Essa reação de<br />
1:1, configura uma reação balanceada, onde os<br />
reagentes têm suas concentrações proporcionais [16].<br />
Nesse caso podemos, então, classificar tais varredores<br />
de radicais livres de oxigênio (RLO) como varredores<br />
estequiométricos, por respeitarem uma relação<br />
estequiométrica (entre o números de moléculas) no<br />
mecanismo de reação [15].<br />
São exemplos de varredores estequiométricos a<br />
vitamina E (tocoferóis), que inativa-se ao combinar<br />
com um RL (relação 1:1), transformando-se em<br />
tocoferilquinina [14]. Esta é, contudo, regenerável na<br />
presença de vitamina C. A presença de longa cadeia<br />
carbonada na molécula do a-tocoferol propicia-lhe o<br />
passaporte da lipofilia. É por este motivo que a<br />
vitamina E pode integrar-se às estruturas<br />
membranárias fosfolipídicas, exercendo aí sua decisiva<br />
ação antilipoperoxidativa.<br />
A conhecida inter-relação vitamina E/Selênio<br />
origina-se da estreita participação que ambos detêm<br />
no sistema antilipoperoxidativo. O selênio é o cofator<br />
da enzima glutation-peroxidase, que inativa os<br />
peróxidos lipídicos e a vitamina E. É também um<br />
agente redutor que atua complementando esse<br />
mecanismo, inativando os radicais peróxidos pela<br />
pronta cessão de hidrogênio àqueles compostos.<br />
A vitamina C (ácido ascórbico) é o mais<br />
hidrossolúvel antioxidante e primeiro na defesa contra<br />
os RL no plasma [18,19]. Nas reações de inativação<br />
de RL cede rapidamente hidrogênio e forma, por sua<br />
vez, ácido dehidroascórbico (a sua forma oxidada). O<br />
ácido dehidroascórbico pode ser regenerado pelo<br />
sistema redox da glutation-redutase, configurando a<br />
este mecanismo, um ciclo complexo, eficiente e<br />
cooperativo entre os varredores de RL [14].<br />
A vitamina A e o b-caroteno, varredores de RLO<br />
altamente eficientes, não são estequiométricos. Sua<br />
ação desenvolve-se, principalmente, na inativação do<br />
oxigênio singlet [15]. O modo de inativação desta<br />
espécie ativa de oxigênio pelas moléculas isoprenóides,<br />
como o retinol e o b-caroteno, dá-se por um<br />
mecanismo físico e não químico. Tais retinóides se<br />
caracterizam por exibir isomeria geométrica do tipo<br />
cis-trans. O oxigênio singlet é uma molécula energética<br />
e pode transferir sua energia no processo de<br />
isomerização da cadeia isoprenóide da vitamina A e<br />
b-caroteno. Assim, os retinóides podem ser<br />
convertidos da forma cis à forma trans pela energia do<br />
oxigênio singlet e, inversamente, pela energia de outro<br />
oxigênio singlet num ciclo contínuo [15]. Um grande<br />
número dessa espécie ativa pode, assim, ser inativado<br />
por uma só molécula de um retinóide [14]. Pelo seu<br />
peculiar modo de ação, tais substâncias podem ser<br />
denominadas de varredores isoméricos [16].<br />
A cadeia isoprenóide dos retinóides é, contudo,<br />
altamente lábil pelo grande número de insaturações<br />
que apresenta, podendo sofrer com facilidade as ações<br />
da peroxidação em sua própria molécula. Dessa forma,<br />
a vitamina E novamente exerce outra ação cooperativa<br />
de grande importância: ela protege a vitamina A e<br />
outros retinóides da degradação, impedindo a<br />
peroxidação de sua cadeia carbônica insaturada,<br />
aumentando a eficiência vitamínica de varredura de<br />
tais compostos [16].<br />
79
80<br />
Ação antioxidante das vitaminas A, C e E:<br />
achados epidemiológicos<br />
O interesse pela ação antioxidante de<br />
componentes da dieta é notoriamente crescente nos<br />
últimos anos, com especial ênfase às vitaminas A, C e<br />
E. Os achados epidemiológicos, até então acumulados,<br />
reportam-se a estudos com diferentes metodologias,<br />
empregando-se desde a observação da ingestão usual,<br />
o emprego de doses fisiológicas ou algumas vezes<br />
acima das recomendações nutricionais vigentes, ou até<br />
mesmo níveis plasmáticos destas substâncias.<br />
Parcela expressiva dos autores só aponta<br />
benefícios em grupos que receberam vitaminas sob<br />
forma de suplementos. Sing et al. [20], em estudo casocontrole<br />
com pacientes hindus hospitalizados até 24<br />
horas após sintomas sugestivos de infarto agudo do<br />
miocárdio, concluíram que a administração de<br />
vitaminas A, C e beta-caroteno poucas horas após o<br />
início do quadro, associou-se a um significante declínio<br />
de complicações, incluindo morte cardíaca e recidiva<br />
de infarto e de indicadores enzimáticos de necrose<br />
cardíaca no grupo suplementado, em comparação aos<br />
que não receberam o suplemento. Segundo os autores,<br />
os resultados indicam que em pacientes com alto risco<br />
de DCV, o tratamento com antioxidantes reduz os<br />
riscos nas primeiras semanas e em períodos<br />
posteriores, e que as vitaminas antioxidantes podem<br />
prover proteção contra complicações como arritmias,<br />
angina pectoris e eventos cardíacos relacionados à<br />
disfunção miocárdica além de, possivelmente,<br />
trombose arterial coronariana.<br />
Estudo realizado por Slattery et al. [21], com<br />
pessoas jovens e saudáveis, ao avaliar a ingestão de<br />
vitaminas antioxidantes a partir de doses<br />
suplementares, os níveis de HDL (Lipoproteina de<br />
Alta Densidade) e sua associação com a prevenção de<br />
doenças coronarianas, concluiu que os antioxidantes<br />
estão positivamente associados aos níveis de colesterol<br />
HDL, embora esta associação possa estar operando<br />
em conjunto com outros estilos de vida.<br />
Resultados de estudos com mulheres portadoras<br />
de doenças coronarianas, alternando-se dose de bcaroteno<br />
(50mg) e vitamina E (600mg), assim como<br />
combinação de b-caroteno, vitaminas E e C,<br />
apontaram evidências confiáveis e diretas a respeito<br />
do papel das vitaminas antioxidantes na prevenção<br />
primária e secundária de doenças cardiovasculares em<br />
mulheres [22]. Entretanto, tais evidências parecem<br />
mais consistentes para a vitamina E, do que para bcaroteno<br />
ou vitamina C [8].<br />
A deficiência de vitamina E tem sido associada<br />
a um aumento da viscosidade das plaquetas do sangue,<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
predispondo à formação de coágulos potencialmente<br />
fatais. A vitamina E é apontada como o mais<br />
importante antioxidante endógeno para a lipoproteína<br />
de baixa densidade (LDL) e, por essa razão, sugere-se<br />
que ela pode conferir proteção contra o<br />
desenvolvimento e formação da aterosclerose pela<br />
redução do potencial de oxidação da LDL [23,24].<br />
Killion et al. [25] demonstraram que o<br />
metabolismo da vitamina E está alterado nos pacientes<br />
com várias manifestações de aterosclerose, suportando<br />
a hipótese de que o mecanismo dos RL está envolvido<br />
no processo aterosclerótico.<br />
Steiner et al. [26] constataram redução<br />
significativa na incidência de eventos isquêmicos em<br />
pacientes com uso simultâneo de vitamina E e aspirina,<br />
comparados com grupos de pacientes que receberam<br />
somente aspirina, concluindo os autores pela eficácia<br />
desta combinação na prevenção de ataques isquêmicos<br />
e outros problemas cérebro-vascular-isquêmicos.<br />
A combinação da pró-vitamina A com outros<br />
fatores também demonstrou resultados positivos.<br />
Steinberg [27] encontrou redução de 30 a 40% de<br />
doença coronariana em indivíduos com alta ingestão<br />
de vitamina E e b-caroteno. Apesar de resultados ainda<br />
controversos, Frei [28] considera que os dados<br />
epidemiológicos já acumulados têm demonstrado<br />
diminuição do risco de DCV com o aumento da<br />
ingestão de b-caroteno, podendo este atuar como fator<br />
anti-aterogênico, através de diferentes mecanismos<br />
relacionados não apenas à proteção contra oxidação<br />
da LDL: elemento imprescindível na formação da<br />
placa de ateroma, mas também pelo aumento dos<br />
níveis séricos de HDL ou, ainda, pela inibição da<br />
proliferação de células musculares lisas na camada<br />
íntima arterial.<br />
O aumento da ingestão de vitamina C também<br />
tem sido associado à diminuição substancial da<br />
mortalidade por DCV. Sahyoun et al. [5], em estudo<br />
com idosos variando entre 60 e 101 anos, durante 12<br />
anos, encontraram relação inversa entre vitamina C<br />
plasmática e ingestão total de vitamina C, com a<br />
mortalidade por todas as causas e as mortes por DCV.<br />
Em outros estudos, porém, esta vitamina encontra-se<br />
combinada com a vitamina E e b-caroteno, o que<br />
aumenta o poder anti-oxidante da mistura e,<br />
conseqüentemente, seu papel protetor sobre o sistema<br />
vascular [5,20,29].<br />
Estudos demonstraram níveis celulares de ácido<br />
ascórbico inferiores em indivíduos portadores de DCV<br />
em comparação a indivíduos saudáveis [5,20].<br />
Demonstrou ainda que pacientes pós-cirúrgicos, que<br />
receberam doses suplementares de ácido ascórbico<br />
(1g/dia), desenvolveram um número de coágulos fatais
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
em número significativamente menor quando<br />
comparados ao grupo controle.<br />
Fang et al. [30], constataram redução da<br />
arteriosclerose coronariana, associada a transplantes<br />
cardíacos em mais de 70% dos receptores que<br />
consumiam suplemento de vitaminas C e E,<br />
acreditando que a terapia anti-oxidante poderia<br />
beneficiar pacientes submetidos a transplantes de<br />
outros órgãos.<br />
Estudos realizados com pessoas residentes em<br />
Toulouse e Belfast, concluíram que os habitantes da<br />
primeira cidade, de consumo reconhecidamente alto<br />
de hortaliças e frutas, tinham baixa incidência de<br />
doença coronariana em relação aos da segunda, o que<br />
reforça a tese da ação protetora destes alimentos,<br />
fontes de vitaminas antioxidantes com relação à<br />
enfermidade em questão [31]. Os autores<br />
consideraram que as evidências disponíveis suportam<br />
a hipótese dos benefícios do aumento do consumo<br />
de ampla variedade de frutas e vegetais ricos em<br />
antioxidantes.<br />
Contudo, em alguns estudos os resultados são<br />
contraditórios. Resultados de pesquisa nos EUA, no<br />
período de 1985 a 1991, demonstraram que a<br />
suplementação não foi efetiva na prevenção do câncer<br />
ou doença cardiovascular em homens aparentemente<br />
saudáveis e bem alimentados [32]. Evans et al. [33]<br />
também não encontraram associação entre níveis<br />
séricos de carotenóides, retinol e tocoferóis e a morte<br />
por doença coronariana ou por infarto do miocárdio.<br />
Já em estudo realizado na Finlândia, o uso de<br />
suplemento de vitamina E foi associado ao aumento<br />
significante de acidente vascular hemorrágico e o bcaroteno<br />
com aumento da incidência de doença<br />
coronariana isquêmica [34].<br />
Conclusões<br />
Apesar dos resultados bastante animadores com<br />
relação ao papel das vitaminas A, C e E na prevenção<br />
da DCV, ainda não é possível traçar estratégias de uso<br />
em larga escala dessas substâncias.<br />
Há de se pontuar também os riscos potenciais<br />
de megadoses, o que conduz à discussão do tema no<br />
sentido de maior cautela na interpretação dos achados<br />
até então acumulados na literatura. Há de se destacar,<br />
ainda, que os estudos freqüentemente avaliam o<br />
impacto destas vitaminas sobre a morbi-mortalidade<br />
com base no consumo, a partir da dieta usual ou de<br />
doses suplementares, que em muito se assemelham às<br />
fisiológicas. Tais constatações conduzem muitos<br />
autores a recomendar o uso regular de alimentos de<br />
origem vegetal como frutas e hortaliças, por serem<br />
não apenas fontes das vitaminas em questão, como<br />
de fibras e também de outras substâncias não<br />
nutricionais, apontadas como tendo função<br />
antioxidante. Esta conduta, somada à redução do<br />
consumo de gordura total e, em particular da saturada,<br />
pelo menos minimizaria a produção/disponibilidade<br />
excessiva de radicais livres relacionados à dieta. O<br />
conjunto de medidas dietéticas, a ser fomentado o mais<br />
precocemente possível, aliado a outras mudanças do<br />
estilo de vida, poderão contribuir para a redução do<br />
quadro assustador de seqüelas e perdas de vidas<br />
humanas em decorrência das DCV.<br />
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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
REVISÃO<br />
Indicadores do estado nutricional de vitamina A<br />
Vitamin A nutritional status indicators<br />
Mirian Martins Gomes*, Bianca Amaral dos Santos Silva * , Luciana Ferreira Campos * , Ana Paula Pereira Thiapó<br />
de Lima*, Cláudia Saunders**, Elizabeth Accioly***, Rejane Andréa Ramalho****,<br />
Daniela de Lima Bastos*****<br />
*Nutricionista, Aperfeiçoanda do Grupo de Pesquisa em Vitamina A do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro -<br />
GPVA / IN – UFRJ, **Doutoranda em Ciências (ENSP/FIOCRUZ), Professora Assistente do Departamento de Nutrição e Dietética<br />
e Pesquisadora do GPVA / IN – UFRJ, ***Doutora em Ciências Nutricionais (EPM/UNIFESP), Professora Adjunta do<br />
Departamento de Nutrição e Dietética. Pesquisadora do GPVA / IN – UFRJ, ****Doutora em Ciências (ENSP / FIOCRUZ),<br />
Professora Adjunta do Departamento de Nutrição e Dietética. Coordenadora do GPVA / IN – UFRJ, *****Aluna do Curso de<br />
Graduação, Bolsista PIBIC/UFRJ- GPVA / IN – UFRJ<br />
Resumo<br />
A hipovitaminose A (HA) é um importante problema de saúde pública, cujas manifestações podem ocorrer sem sinais<br />
clínicos detectáveis ou não estarem necessariamente associadas a patologias multicarenciais claramente definidas. Os indicadores<br />
bioquímicos são os mais consagrados em estudos populacionais, porém apresentam limitações operacionais em razão do<br />
caráter invasivo e do relativo alto custo. Mais recentemente a concentração de vitamina A no leite humano, placenta e<br />
amostras de fígado post-mortem têm sido apontados como alternativas aos níveis de retinol sérico em estudos populacionais.<br />
Complementarmente, a prevalência de cegueira noturna apresenta-se como proposta de indicador funcional da carência de<br />
vitamina A no grupo materno-infantil. A utilização de indicadores para avaliação do estado nutricional de vitamina A, que<br />
sejam de baixo custo, com simplicidade metodológica, pouco invasivos e que permitam o diagnóstico em estágios subclínicos<br />
da carência, tem despertado o interesse da comunidade científica no que diz respeito à alternativas de detecção<br />
precoce, tratamento adequado e controle da carência de vitamina A. A reflexão sobre os achados disponíveis na literatura<br />
acerca de indicadores com estas características se constitui o objetivo do presente artigo.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: hipovitaminose A, indicadores, diagnóstico.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
u Título abreviado: Hipovitaminose A e indicadores de carência<br />
Artigo recebido em 2 de maio de 2002, aprovado em 20 de maio de 2002<br />
Endereço para correspondência: Prof a . Dr a . Rejane Andréa Ramalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro,<br />
Centro de Ciências da Saúde, bloco J, 2º andar, Av. Brigadeiro Trompovwsky, s/n, Cidade Universitária, 21941-590,<br />
Rio de Janeiro RJ. Tel: (21)2561-6599, Fax: (21)2581-7229,<br />
E-mail: aramalho@rionet.com.br ou cfcoelho@osite.com.br<br />
83
84<br />
Introdução<br />
A vitamina A é requerida em pequenas<br />
quantidades em importantes processos biológicos. Seu<br />
papel no ciclo visual foi estabelecido por Wald [1] e<br />
parece ser o único totalmente elucidado. A vitamina<br />
A participa também na reprodução, no<br />
desenvolvimento fetal, na função imune, na regulação<br />
da proliferação e diferenciação celular de diferentes<br />
tecidos [2,3], além de muitos outros processos<br />
metabólicos igualmente importantes. Todavia, a<br />
participação nestes outros processos metabólicos foi<br />
praticamente ignorada até o final da década de 80 [4].<br />
A hipovitaminose A é um importante problema<br />
de saúde pública, cujas manifestações podem ocorrer<br />
sem sinais clínicos detectáveis ou não estarem<br />
necessariamente associadas a patologias<br />
multicarenciais claramente definidas. Atualmente,<br />
considera-se a deficiência nutricional marginal ou<br />
subclínica como “concentrações de vitamina A nos tecidos<br />
suficientemente baixas para produzir conseqüências adversas<br />
para a saúde, porém sem sinais de xeroftalmia” [2]. Estimase<br />
que 2,8 a 3 milhões de pré-escolares apresentem<br />
sinais clínicos de carência de vitamina A, 251 milhões<br />
apresentam a deficiência na forma subclínica<br />
moderada ou severa. No mínimo, 254 milhões de<br />
crianças pré-escolares estão sob “risco” de<br />
desenvolvimento da carência, comprometendo sua<br />
saúde e sua sobrevivência [6]. A World Health<br />
Organization (Organização Mundial da Saúde – OMS)<br />
[7] estima que existem atualmente 60 países onde a<br />
hipovitaminose A é um importante problema de<br />
saúde pública, estando o Brasil incluído no referido<br />
grupo, considerando-se o estágio subclínico da<br />
carência [5].<br />
No Brasil acreditou-se durante muito tempo que<br />
a carência estava restrita às áreas pobres da região<br />
Nordeste do país. As evidências disponíveis atualmente<br />
mostram que todas as regiões estudadas, como os<br />
estados de Paraíba [8], Bahia [9], São Paulo [10-14],<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Abstract<br />
Vitamin A deficiency (VAD) is an important public health problem and its out break may happen without detectable<br />
clinical signs or it may not be necessarily associated to nutritional diseases defined clearly. The biochemical indicators are very<br />
much used in populational studies but they present operational limitations because of its invasive methodology and high<br />
cost. Nowadays, liver, placenta and human milk retinol levels are alternatives in VAD diagnosis, instead of serum retinol<br />
levels, in populational surveys. The prevalence of night blindness is a VAD functional indicator that has been proposed for<br />
the maternal child group. The suggestion of indicators for VAD diagnosis which are cheap, simple and less invasive has<br />
caused great interest in the scientific community as an alternative to early VAD diagnosis, control and treatment. The principal<br />
aim of this paper is a reflection on suchlike indicators which are available in the literature.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: hypovitaminosis A, indicators, diagnosis.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Minas Gerais [15], Rio Grande do Sul [16], fazem parte<br />
do “mapa nacional” da hipovitaminose A.<br />
No Rio de Janeiro, o Grupo de Pesquisa em<br />
Vitamina A (GPVA) do Instituto de Nutrição da<br />
Universidade Federal do Rio de Janeiro (IN/UFRJ),<br />
tem-se dedicado ao diagnóstico da carência em grupos<br />
considerados de risco dentre outros, e observaram-se<br />
cifras preocupantes entre gestantes, puérperas, recémnascidos,<br />
pré-escolares, escolares, adolescentes, crianças<br />
portadoras de diabetes mellitus tipo 1 [17-28].<br />
A OMS e UNICEF vêm investindo em<br />
programas de diagnóstico, intervenção e controle da<br />
carência mundial a partir da década de 60, visando o<br />
conhecimento da real magnitude da carência<br />
nutricional de micronutrientes (vitamina A, ferro e<br />
iodo). Desde 1992, a OMS e a UNICEF promoveram<br />
uma série de reuniões técnicas, objetivando revisar os<br />
indicadores, seus pontos de corte e os critérios para<br />
avaliação da carência nutricional que considerem as<br />
formas marginal ou subclínica [6,2,3].<br />
A utilização de indicadores para avaliação do<br />
estado nutricional de vitamina A, que sejam de baixo<br />
custo, com simplicidade metodológica, pouco<br />
invasivos e que permitam o diagnóstico em estágios<br />
sub-clínicos da carência, tem despertado o interesse<br />
da comunidade científica no que diz respeito a<br />
alternativas de detecção precoce, tratamento adequado<br />
e controle da carência de vitamina A. A reflexão sobre<br />
os achados disponíveis na literatura acerca de<br />
indicadores com estas características se constitui o<br />
objetivo do presente artigo.<br />
Indicadores do estado nutricional de vitamina A<br />
Os indicadores mais comumente utilizados no<br />
diagnóstico da deficiência de vitamina A são o dietético<br />
(níveis de ingestão de retinol e carotenóides),<br />
bioquímico (níveis séricos de retinol, níveis de retinol
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
no leite materno, níveis hepáticos de retinol e resposta<br />
a uma dose maciça de vitamina A), funcional<br />
(prevalência de cegueira noturna), histológico<br />
(prevalência de alterações na conjuntiva ocular) e<br />
clínico (prevalência de sinais oculares de deficiência<br />
em estágio terminal – xeroftalmia) [3,29,30].<br />
Na prática, os indicadores bioquímicos são de<br />
grande importância e amplamente empregados em<br />
estudos epidemiológicos, pois, permitem a detecção<br />
de casos precoces de carência. A medida dos níveis<br />
séricos de retinol ou plasmático, é o indicador mais<br />
empregado para avaliar o estado nutricional de<br />
vitamina A e identificar populações em risco de<br />
deficiência para este nutriente [27,28,7]. Porém,<br />
considerado como metodologia relativamente invasiva<br />
e cara, requerem profissionais altamente treinados o<br />
que dificulta o estudo de grandes amostras, devido à<br />
necessidade da coleta e tratamento das amostras antes<br />
de proceder à análise [31].<br />
Níveis de vitamina A no fígado de necropsiados<br />
como indicador do risco de carência de<br />
vitamina A<br />
O fígado é um órgão central no metabolismo<br />
de macro e micronutrientes, dentre eles a vitamina A.<br />
A doença hepática é normalmente acompanhada de<br />
carência de vitamina A, uma vez que o fígado é<br />
responsável pelo seu armazenamento, oxidação,<br />
catabolismo e liberação.<br />
A redução nos níveis séricos de retinol pode ser<br />
explicada pelo estoque hepático reduzido de vitamina<br />
A, ou pela síntese e/ou liberação diminuída das<br />
proteínas de ligação e transporte celular pelo fígado.<br />
Esta redução poderia também ser influenciada pela<br />
conversão enzimática deficiente de b-caroteno em<br />
retinol, que ocorre também neste órgão.<br />
Quando os estoques hepáticos de vitamina A<br />
caem, os níveis séricos, eventualmente, acompanham<br />
sua queda. Entretanto, esta vitamina é ativamente<br />
secretada no fígado e em outros tecidos, razão pela qual<br />
sua utilização por tecidos específicos pode parcialmente<br />
se adaptar à possível diminuição de oferta [32].<br />
Dessa forma, os níveis séricos de retinol não<br />
refletem diretamente a reserva hepática devido à<br />
existência desse controle homeostático, que mantém<br />
as concentrações plasmáticas adequadas mesmo<br />
quando as reservas já se encontram insuficientes. Tais<br />
adaptações servem para manter relativamente<br />
constantes os níveis sanguíneos, até que as reservas<br />
orgânicas se depletem a um ponto em que a adaptação<br />
já não possa ser compensada [32]. Assim, não é<br />
possível através deste indicador convencional<br />
diagnosticar a carência de vitamina A em seus estágios<br />
mais precoces.<br />
Embora seja aceito como o indicador mais<br />
fidedigno do estado de vitamina A, seu uso apresenta<br />
dificuldades de natureza ética por requerer amostras<br />
de tecido hepático em indivíduos vivos. Porém, a<br />
obtenção de amostras por ocasião de necrópsias em<br />
indivíduos falecidos por diferentes causas é mais viável<br />
e eticamente possível. Como não há evidências<br />
científicas de que a hipovitaminose A seja causa<br />
primária ou secundária de morte, elimina-se o principal<br />
obstáculo à sua utilização como indicador precoce da<br />
carência de vitamina A [29].<br />
Níveis de vitamina A placentários como<br />
indicador do risco de carência de vitamina A no<br />
binômio mãe-filho<br />
A placenta é primordial para o desenvolvimento<br />
embrionário e fetal, sendo responsável pela eficiente<br />
transferência de nutrientes e, conseqüentemente,<br />
determinante do bem-estar fetal [33]. Atua como uma<br />
barreira seletiva na transferência de vitamina A para o<br />
feto, evitando provavelmente efeitos teratogênicos, e<br />
ocasionando baixa reserva hepática de vitamina A,<br />
independente da ingestão materna. Assim, pode-se<br />
supor que mesmo os recém-nascidos de mulheres bem<br />
nutridas, nasçam com baixas reservas hepáticas de<br />
vitamina A [34,27,28].<br />
Durante a gestação, a ingestão de vitamina A e<br />
as reservas hepáticas maternas são fundamentais para<br />
garantir a transferência placentária adequada dessa<br />
vitamina para o feto [35]. A transferência placentária<br />
da vitamina A, conjuntamente à proteína carregadora<br />
de retinol (RBP), representa a primeira fonte de<br />
vitamina A para o feto, nos primeiros meses do<br />
processo gestacional até que, este passa a produzir<br />
sua própria RBP, para que a captação da vitamina A<br />
seja realizada intra-útero [36].<br />
Este anexo embrionário assegura um adequado<br />
suprimento de vitamina A para o feto, devido à sua<br />
capacidade adaptativa para variações na ingestão<br />
materna de vitamina A, exceto em situações extremas<br />
de ingestão excessiva ou em caso de deficiência em<br />
nível clínico. Em nível subclínico de carência, acreditase<br />
que não ocorra comprometimento na circulação<br />
fetal de retinol e carotenóides [37,34]. Estudos<br />
experimentais demonstram que estágios carenciais em<br />
períodos críticos da gestação, podem acarretar defeitos<br />
congênitos, devido às alterações no metabolismo no<br />
DNA, e morte fetal, podendo ainda contribuir para o<br />
baixo estoque de vitamina A no recém nascido<br />
[35,27,28,38].<br />
85
86<br />
Investigando o conteúdo placentário de retinol<br />
e sua associação com os níveis séricos de retinol<br />
materno e dos recém-nascidos, em puérperas<br />
atendidas em Maternidade Pública do Município do<br />
Rio de Janeiro, Saunders et al. [39], demonstraram um<br />
teor médio placentário de retinol inferior, em<br />
puérperas com hipovitaminose A, quando comparado<br />
a puérperas com adequação dos níveis séricos de<br />
retinol. Demonstraram ainda, que dentre as puérperas<br />
com cegueira noturna gestacional, os níveis<br />
placentários de retinol também foram inferiores,<br />
quando comparado aos níveis das puérperas sem este<br />
sinal clínico.<br />
Sendo a placenta fundamental para a<br />
transferência de vitamina A para o feto e, ao mesmo<br />
tempo, um reflexo do estado nutricional de vitamina<br />
A materno, pode-se sugerir que esse anexo<br />
embrionário tem potencial para ser um marcador de<br />
carência marginal de vitamina A ao nascimento, uma<br />
das etapas cruciais da vida do binômio mãe-filho.<br />
Leite materno na avaliação do estado<br />
nutricional de vitamina A<br />
É reconhecida a baixa reserva hepática de<br />
vitamina A ao nascimento [40]. Normalmente, a<br />
vitamina A é transferida da mãe para o filho sessenta<br />
vezes mais durante seis meses de lactação, ao se<br />
comparar com o acumulo feito pelo feto durante os<br />
nove meses de gestação. Todavia, a concentração de<br />
vitamina A no leite materno pode ser extremamente<br />
baixa em lactentes de países em desenvolvimento<br />
[27,28]. Conseqüentemente, a gestação e a lactação<br />
são momentos biológicos que merecem o máximo de<br />
atenção em termos de tratamento e prevenção desta<br />
carência nutricional, visto que o atendimento às<br />
necessidades nutricionais de vitamina A fetais e da<br />
criança reduziria a prevalência de hipovitaminose A<br />
nesses segmentos, podendo garantir crescimento e<br />
desenvolvimento saudáveis e maior proteção contra<br />
as infecções, o que têm grande impacto sobre a saúde<br />
e sobrevivência infantis.<br />
A importância do aleitamento materno para a<br />
saúde da criança é indiscutível, principalmente em<br />
populações de baixo nível sócio-econômico, nas quais<br />
os recém-nascidos apresentam maior risco de baixo<br />
peso ao nascer. Além disso, com o desmame precoce,<br />
por vezes são submetidos a um esquema alimentar<br />
inadequado e com precárias condições de higiene [41],<br />
o que pode repercutir negativamente no seu<br />
crescimento e desenvolvimento.<br />
A concentração de vitamina A no leite materno<br />
é suficiente para suprir as necessidades diárias,<br />
supondo condições ideais de aleitamento. Contudo,<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
caso o leite seja proveniente de nutrizes com dieta<br />
pobre em vitamina A, desnutridas, ou caso aconteça<br />
desmame precoce, as reservas desta vitamina no<br />
recém-nascido serão baixas e aumentarão as probabilidades<br />
de desenvolvimento de xeroftalmia [42,3].<br />
A carência de vitamina A materna também altera<br />
a disponibilidade deste nutriente no colostro e leite<br />
materno, que são considerados fontes concentradas de<br />
vitamina A de alta biodisponibilidade. O conhecimento<br />
deste fato é de extrema relevância, dado que os níveis<br />
séricos de retinol do lactente guardam relação direta<br />
com sua dieta [43] e grande contingente de lactentes<br />
depende, quase que exclusivamente, do aleitamento<br />
materno exclusivo nos primeiros meses de vida [34].<br />
Sendo assim, o teor de vitamina A no leite<br />
humano, tem sido sugerido como indicador do estado<br />
nutricional de vitamina A de nutrizes e de lactentes<br />
[34], por ser de fácil obtenção, culturalmente aceito e<br />
permitir o monitoramento da eliminação global da<br />
hipovitaminose A [34].<br />
Cegueira noturna gestacional como indicador<br />
da vulnerabilidade do binômio mãe-filho para a<br />
carência de vitamina A<br />
A cegueira noturna (CN) ou dificuldade de<br />
adaptação da visão no escuro é a primeira manifestação<br />
ocular de deficiência de vitamina A [3]. Tal indicador,<br />
de natureza funcional, pode ser de grande valia para o<br />
diagnóstico do estado nutricional de vitamina A de<br />
comunidades, especialmente de grupos como<br />
gestantes, nutrizes e pré-escolares. Pode ser usado<br />
como um indicador que permita o mapeamento de<br />
áreas em que medidas de intervenção devem ser<br />
implementadas [3].<br />
Segundo tal indicador, a carência de vitamina A<br />
é considerada um problema de saúde pública leve,<br />
quando a prevalência observada em crianças entre 24-<br />
71 meses de idade, atinge até 1%.<br />
Christian et al. [44] constataram que a presença<br />
de CN gestacional é um fator de risco para a<br />
mortalidade a curto e longo prazo para as mulheres,<br />
principalmente associada a processos infecciosos. A<br />
presença de CN nas mães também pode ser adotada<br />
como preditor da vulnerabilidade da família para a<br />
carência de vitamina A, e sua investigação deve ser<br />
rotineira em regiões onde a carência de vitamina A é<br />
prevalente, pois pode contribuir para a definição da<br />
magnitude do problema e fornecer subsídios para os<br />
programas de intervenção [45]. As mulheres que<br />
apresentam o sintoma ocular gestacional têm 4 a 6<br />
vezes mais chances de reapresentar tal sintoma em<br />
gestações subseqüentes, e 10 vezes mais chances de<br />
desenvolver a CN nos primeiros meses pós-parto [46].
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
A metodologia de investigação proposta pela<br />
OMS [3] e reforçada pela OPAS em 1999 [6], é<br />
composta de entrevista estruturada, na qual se investiga<br />
a dificuldade de visão no escuro ou à noite em crianças,<br />
através de questões como: a) Sua criança tem algum<br />
problema para enxergar durante o dia? b) Sua criança<br />
tem algum problema para enxergar durante a noite?<br />
c) Se a 2ª questão tiver como resposta o SIM, perguntar<br />
se este problema é diferente de outras crianças da sua<br />
comunidade? d) Sua criança tem cegueira noturna?<br />
(esta pergunta deve ser feita usando termos regionais).<br />
A entrevista padronizada, proposta pela OMS<br />
[3], é de fácil aplicação, de baixo custo, não requer<br />
profissional especializado, permite a avaliação de<br />
grandes amostras, é pouco invasiva, aceitável<br />
culturalmente, além de permitir a vigilância do sucesso<br />
de programas de intervenção implementados para o<br />
combate à carência [6,7]. Essa metodologia é<br />
facilmente aplicada e permite a detecção do problema<br />
no segmento populacional mais vulnerável às carências<br />
nutricionais, tais como pré-escolares – para os quais a<br />
investigação da CN era considerada problemática –,<br />
gestantes e nutrizes [3,6,46,47,48].<br />
Conclusão<br />
A deficiência de vitamina A tem sido alvo de<br />
crescente interesse no meio científico, sobretudo pelo<br />
reconhecimento do impacto da carência marginal<br />
sobre o metabolismo intermediário.<br />
Os indicadores bioquímicos são os mais<br />
consagrados em estudos populacionais, porém<br />
apresentam limitações operacionais em razão do<br />
caráter invasivo e do relativo alto custo.<br />
Mais recentemente a concentração de vitamina<br />
A no leite humano, placenta e amostras de fígado postmortem,<br />
tem sido apontados como alternativas aos<br />
níveis de retinol sérico em estudos populacionais.<br />
Complementarmente, a prevalência de cegueira<br />
noturna apresenta-se como proposta de indicador<br />
funcional da carência de vitamina A no grupo<br />
materno-infantil.<br />
Mediante o exposto, é de extrema importância a<br />
indicação de novos indicadores para o estudo da HA,<br />
que sejam de baixo custo, com simplicidade<br />
metodológica, pouco invasivos e que permitam o<br />
diagnóstico em estágios iniciais da carência.<br />
Os achados constituem justificativa suficiente para<br />
que se implementem estudos, visando a elucidação de<br />
tais questões, o que poderá contribuir para ampliar o<br />
leque de opções de indicadores do estado nutricional<br />
de vitamina A, sobretudo em nível coletivo.<br />
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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
REVISÃO<br />
A atuação dos frutooligossacarídeos<br />
Actuation of fructooligosaccharides<br />
Milene Bozzi d’Acunti<br />
Nutricionista Especialista em Nutrição Clínica, Hospital Sírio-Libanês, São Paulo SP<br />
Resumo<br />
Os frutooligossacarídeos (FOS) são oligossacarídeos não digeríveis pelos sucos digestivos e degradáveis por bactérias<br />
intestinais no cólon. Os FOS industrializados são produzidos a partir da sacarose. No Japão, inúmeros alimentos são elaborados<br />
com a utilização de FOS, cujo nome comercial é Neosugar. Os FOS são um tipo de fibras solúveis de baixo peso molecular,<br />
fermentados por bifidobactérias ou lactobacillos.<br />
Sugere-se que à medida em que cresce o consumo de FOS, ocorre o aumento das bifidobactérias, as quais impedem a<br />
colonização de bactérias patogênicas, suprimem a atividade de bactérias putrefativas, podem prevenir a diarréia ou a obstipação,<br />
reduzir metabólitos tóxicos, reduzir o desenvolvimento de câncer, melhorar os níveis de lipídeo e glicose séricos, controlar a<br />
pressão arterial, produzir nutrientes e aumentar a biodisponibilidade de minerais. A ingestão média de FOS é baixa em países<br />
ocidentais; a adição de 8 gramas de FOS por dia já pode inibir o crescimento de bactérias patogênicas e melhorar a consistência<br />
das fezes. Grandes quantidades de carboidratos ou de FOS no cólon, podem causar desarranjo através da fermentação<br />
bacteriana. Portanto, doses acima de 20 gramas/dia através de alimentos enriquecidos, podem causar intolerância como<br />
distensão abdominal e flatulência excessiva.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-Chave: oligossacarídeos, frutooligossacarídeos, fibras, bifidobactérias, prebióticos.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
The fructooligosaccharides (FOS) are oligosaccharides not digestible by digestive juices and degradation by intestinal<br />
bacteria in the colon. The industrialized FOS are produced from sugar. In Japan, food is elaborated with them and whose<br />
commercial name is Neosugar. The FOS are a kind of low weight molecular soluble fiber, fermented by bifidobactérias or<br />
lactobacilli. It suggested as increase the consumption of FOS, occurs growth of bifidobactérias that hinder the colonization<br />
of pathogenic bactérias. More over, the use of FOS can prevent the diarrhea or obstipation, reduce toxic metabolites,<br />
development of cancer, improve the level of plasmatic lipids and glucose, control the arterial pressure, produce nutrients and<br />
increase the minerals bioavaliability. The average ingestion of FOS is low in occidental countries, the addition of 8 g of<br />
FOS/day can inhibit the growth of pathogenic bacterias and improve the consistency of dregs. Amount large of carbohydrate<br />
or FOS in the colon, can cause a disorder by bacterian fermentation, therefore foods can cause intolerance as distension and<br />
excessive flatulence.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: oligosaccharides, fructooligisaccharides, fiber, bifidobactérias, prebiotic.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 25 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002<br />
Endereço para correspondência: Milene Bozzi d´Acunti, Hospital Sirio-Libanês, rua Dona Adma Jafet, 91,<br />
Cerqueira César, 01308-050 - São Paulo SP. Tel: (11) 3155 0376/3155 0374, E-mail: sndiet@sbshsl.br<br />
89
90<br />
Introdução<br />
Os frutooligossacarídeos (FOS) são<br />
oligossacarídeos de cadeia curta, não digeríveis pelos<br />
sucos digestivos, sendo degradados por bactérias<br />
intestinais no cólon; consistem de diversos resíduos<br />
frutosil ligados a um terminal glicose. A estrutura<br />
molecular dos FOS é composta de moléculas de<br />
sacarose, que se ligam a uma, duas ou três unidades<br />
adicionais de frutose (F2; F3; F4), à unidade de frutose<br />
da molécula de sacarose, através de uma ligação<br />
glicosídica beta. Podem apresentar-se como 3<br />
estruturas químicas diferentes: GF2, GF3 e GF4<br />
[3,9,12,16,17, 21, 22, 28].<br />
Os FOS, a inulina ou oligofrutoses são<br />
carboidratos complexos de configuração molecular,<br />
que os torna resistentes à ação hidrolítica da enzima<br />
salivar e intestinal, fazendo com que eles atinjam o<br />
cólon com produção de efeitos benéficos sobre a<br />
microflora colônica [1,4,5,8,9,12,30].<br />
São obtidos a partir da hidrólise da inulina pela<br />
enzima inulase. Os FOS industrializados são<br />
produzidos a partir da sacarose por atuação da enzima<br />
frutosil transferase, enzima fúngica obtida do Aspergillus<br />
niger (microorganismo que se produz em forma<br />
natural, não é patogênico e ostenta extensa história<br />
de utilização sem perigo na indústria de alimentos). A<br />
reação enzimática se completa com processos de<br />
descoloração, filtração, eliminação de sais e<br />
concentração. Para determinar a composição do<br />
produto final emprega-se a cromatografia líquida de<br />
alto rendimento [3,4,9,12,21].<br />
Nos últimos anos têm-se intensificado as<br />
pesquisas em relação aos oligossacarídeos, por serem<br />
carboidratos que estimulam o crescimento das<br />
bifidobactérias no intestino. As bifidobactérias<br />
parecem intensificar o sistema imunológico do<br />
hospedeiro, aumentando a atividade fagocítica contra<br />
a Escherichi coli, melhora a flora intestinal prevenindo<br />
a diarréia ou a obstipação por alteração da microflora<br />
colônica, reduz o desenvolvimento de câncer, melhora<br />
os níveis de lipídios séricos, do controle da pressão<br />
arterial, da tolerância à glicose e suprime a produção<br />
de produtos de putrefação; os oligossacarídeos<br />
produzidos em maior quantidade são os<br />
frutooligossacarídeos. No organismo, exercem efeito<br />
benéfico, pois sua ingestão aumentam essas bactérias,<br />
que por efeito adverso, suprimem a atividade de outras<br />
bactérias putrefativas, que fermentam e formam<br />
metabólitos tóxicos [1,2,7,16].<br />
Atualmente, com o acúmulo de informações<br />
sobre a ecologia da microbiota gastrointestinal, sabese<br />
que, cerca de 100 trilhões de bactérias pertencentes<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
a mais de 400 espécies diferentes, de natureza<br />
saprofítica e patogênica, vivem harmoniosamente em<br />
um delicado balanço, até que este seja desequilibrado<br />
pela dieta, consumo de drogas, tratamentos<br />
quimioterápicos e outras situações diferentes [8].<br />
Os FOS são um tipo de fibras solúveis de baixo<br />
peso molecular, fermentadas pelas bifidobactérias ou<br />
lactobacilos, onde, aumentando-se o nível dessas<br />
bactérias saudáveis na microflora, afeta o hospedeiro<br />
através da presença seletiva de um número limitado<br />
de bactérias no cólon, com efeito caritativo para a<br />
saúde, podendo ser classificado como um alimento<br />
prebiótico. Podem estar presentes em fontes<br />
alimentares usuais ou serem produzidos<br />
industrialmente [16].<br />
Sugere-se sua inclusão na alimentação diária, a<br />
partir de alimentos que contenham estes<br />
polissacarídeos ou a partir do enriquecimento de<br />
produtos com oligossacarídeos [16].<br />
Características<br />
Cerca de 40% dos oligossacarídeos são derivados<br />
da lactose do leite ou do soro. As propriedades gerais<br />
dos oligossacarídeos incluem: menor poder<br />
edulcorante (0,3 a 0,6 vezes em relação à sacarose),<br />
incapacidade de degradação por enzimas do trato<br />
gastrintestinal, utilização por bactérias probióticas,<br />
controle intestinal por aumento do número de<br />
bifidobactérias, modificação da viscosidade e redução<br />
do ponto de congelamento de alimentos, alteração da<br />
emulsificação e da capacidade da formação de gel,<br />
capacidade bacteriostática, modificação das<br />
características sensoriais dos alimentos, atuação como<br />
umectantes e controladores de umidade, propriedades<br />
similares às das fibras dietéticas, anticariogênico,<br />
estabilidade ao calor e aos diferentes valores de PH<br />
[1,10, 28,30].<br />
Fonte de obtenção<br />
Os FOS ocorrem naturalmente na cebola<br />
(alimento rico), raiz da chicória, alho, tomate, aspargos,<br />
alcachofra, banana, centeio, trigo, soja, mel e cerveja,<br />
no entanto são baixas as concentrações presentes,<br />
exigindo consumo extremamente elevado para<br />
obtenção dos efeitos fisiológicos desejados<br />
[1,4,9,12,15,16, 21, 28,30].<br />
A quantidade de FOS presente em alguns<br />
alimentos é descrita a seguir: cebola (2,8%); alho<br />
(0,2%); centeio (0,7%); cevada (0,15%); banana (0,3%);<br />
tomate (1,8%); mel (0,75%) [16].
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Utilização comercial<br />
Os FOS também podem ser adquiridos<br />
comercialmente com o nome de Neosugar. São<br />
empregados na elaboração de alguns alimentos,como<br />
bebidas, leite em pó, produtos de confeitaria e<br />
sobremesas lácteas, sendo a maioria encontrados no<br />
Japão. Também podem ter outras aplicações como<br />
produção de cosméticos, alimentos dietéticos,<br />
produtos anticariogênicos e alimentação de animais.<br />
Entretanto, ainda são necessárias mais pesquisas que<br />
garantam seu efeito benéfico e a segurança do<br />
hospedeiro [1,18,21].<br />
O Neosugar é uma mistura de FOS desenvolvido<br />
originalmente como adoçante de baixa caloria, não é<br />
nutritivo, possui cerca de metade do poder adoçante<br />
da sacarose, apresenta propriedades físicas como<br />
ausência de cor, odor, estabilidade em pH neutro e<br />
em temperaturas superiores a 140ºC. Pelo pouco<br />
conhecimento sobre seu potencial cariogênico e a<br />
heterogenicidade dos Estreptococos mutans, procurouse<br />
observar o efeito do Neosugar sobre o crescimento,<br />
fermentação e produção de placa in vitro de diferentes<br />
representantes desse grupo [21].<br />
Linardi [21] verificou através da literatura, que a<br />
fermentação de FOS por Estreptococos orais é muito<br />
comum, onde produziram ácido láctico e ácido acético<br />
a partir dos oligossacarídeos, demonstrando cepas de<br />
estreptococos oralis, Estreptococos mitis, Estreptococos sanguis,<br />
Estreptococos gordionii e Estreptococos mutans. A possível<br />
cariogenicidade foi comprovada com diferentes<br />
representantes do grupo mutans [21].<br />
Foram realizados estudos para determinar os<br />
efeitos de se adicionar FOS ao iogurte para analisar<br />
aspectos sensoriais, resultados de cultivos e medidas<br />
de pH comparados a iogurtes controle. Como<br />
resultado de adição de FOS, não se observou diferença<br />
significativa no conteúdo de microorganismos viáveis<br />
e pH; os FOS se degradaram durante o<br />
armazenamento do iogurte e foi conservada a<br />
aceitabilidade por seu sabor [9,12].<br />
A produção mundial de oligossacarídeos em<br />
1995 foi acima de 85.000 toneladas. Eles são<br />
produzidos em misturas com vários graus de<br />
purificação, na forma de xarope ou pó. Existem<br />
produtos purificados disponíveis no mercado, mas o<br />
custo aumenta consideravelmente. Metade da<br />
produção é utilizada em bebidas, e outra grande parte<br />
em leite em pó para uso infantil, produtos de<br />
confeitaria, balas e sobremesas lácteas [10].<br />
A tendência natural do mercado consumidor é a<br />
busca de alimentos processados, que contenham aditivos<br />
do tipo “natural”, inócuos à saúde e, de preferência, com<br />
propriedades similares ou melhores que os aditivos<br />
químicos tradicionalmente empregados [3].<br />
Benefícios<br />
Um ser humano adulto “carrega” cerca de 100<br />
trilhões de microorganismos de 300 a 400 espécies<br />
diferentes. Dentre eles encontram-se as bactérias do<br />
gênero Bifidobacterium que são bastonetes imóveis, gram<br />
positivos, com variação de temperatura ótima de<br />
crescimento entre 37 a 43ºC e pH de 6,5 a 7,0; embora<br />
sejam consideradas anaeróbias, algumas bifidobactérias<br />
toleram a presença de oxigênio [1,2,8,15, 27].<br />
As bifidobactérias não metabolizam os<br />
carboidratos como as bactérias homoláticas e<br />
heteroláticas. A rota bioquímica de fermentação é<br />
única, com produção de duas moléculas de ácido lático<br />
e três moléculas de ácido acético, a partir de duas<br />
moléculas de glicose [1,29].<br />
Bactérias bífidas são difíceis de serem isoladas e<br />
manipuladas por serem anaeróbias; quando isoladas não<br />
toleram bem o meio ácido, sendo portanto, difíceis de<br />
serem carreadas em produtos lácteos fermentados [8].<br />
As bifidobactérias são predominantes na<br />
microflora intestinal de crianças, constituindo entre<br />
85 a 99%. Além da idade, outros fatores endógenos e<br />
exógenos podem alterar a microbiota intestinal, como<br />
por exemplo: habitat, clima, dieta, estresse,<br />
microorganismos exógenos, mecanismo imunológico<br />
do hospedeiro, procedimentos cirúrgicos, doenças<br />
renais e hepáticas, câncer, alteração da acidez do suco<br />
gástrico, diminuição da motilidade intestinal e<br />
antibioticoterapias [1,35].<br />
Em ecologia microbiana, considera-se que um<br />
microorganismo influi no ecossistema onde ele se<br />
encontra, somente quando a sua população é igual ou<br />
superior a 10 7 unidades formadoras de colônias/g ou<br />
ml do conteúdo [14].<br />
Os FOS estimulam o crescimento das<br />
bifidobactérias, que impedem a colonização de<br />
bactérias patogênicas, como por exemplo, Clostridium<br />
difficile toxigênico, cuja proliferação é favorecida pelo<br />
tratamento antibiótico e causa diarréia associada a<br />
antibiótico e colite pseudomembranosa. Enterococcus e<br />
Eschericchia coli são outros grupos microbianos, que<br />
causam problemas em pacientes hospitalizados, devido<br />
à resistência adquirida [2,6,8,18,19,28,29,30,34].<br />
É interessante salientar que o desenvolvimento<br />
dos prebióticos veio da descoberta dos fatores<br />
“bifidus”, oligossacarídeos presentes apenas no leite<br />
humano, que favorecem a multiplicação de<br />
bifidobactérias de recém-nascidos amamentados ao<br />
seio [2,14, 27].<br />
91
92<br />
A ação bifidogênica dos FOS suprime a atividade<br />
de bactérias putrefativas, como: Escherichia coli,<br />
Strptococos faecales, Proteus e outros. Essas bactérias<br />
putrefativas com suas enzimas azoredutase e beta<br />
glucoronidase, podem levar à formação de substâncias<br />
tóxicas como a amônia, aminas, substâncias que<br />
podem provocar o câncer, como as nitrosaminas,<br />
estrogênios, ácidos biliares secundários, fenóis e cresóis<br />
[4,5,30].<br />
As bifidobactérias parecem intensificar o sistema<br />
imunológico do hospedeiro, como, por exemplo,<br />
quando se administrou leite enriquecido com<br />
bifidobactérias a voluntários humanos, houve<br />
aumentou da atividade fagocítica contra a Escherichia<br />
coli. Assim, vale a pena considerar o potencial dos FOS<br />
para evitar a infecção. O benefício em animais é pouco<br />
conhecido [6, 18,19, 23, 27].<br />
Conforme Duncan [28], a alimentação enteral<br />
suplementada com FOS pode beneficiar ou normalizar<br />
o funcionamento do intestino melhorando a<br />
microflora colônica, melhorando a resposta<br />
imunológica, promovendo a absorção de vitaminas e<br />
minerais, como por exemplo, vitamina B 1 , B 12 , B 6 ,<br />
ácido nicotínico, folato e cálcio.<br />
Segundo Ellen [22], em mulheres pós<br />
menopausadas, uma absorção de cálcio encontra-se<br />
aumentada após o consumo de produtos ricos em FOS<br />
[17, 20, 22, 25, 28,36].<br />
Roberfroid [20], sugere o efeito positivo dos FOS<br />
em relação à absorção de cálcio dietético; homens que<br />
ingerem 850 mg de cálcio/dia, mais suplemento de<br />
FOS (20 gramas/dia), tiveram aumento significante<br />
na absorção de cálcio em mais ou menos 12% [20].<br />
Efeito prebiótico<br />
Os FOS são um tipo de fibra solúvel de baixo<br />
peso molecular, fermentados pelas bifidobactérias e<br />
lactobacilos, aumentando o nível dessas bactérias<br />
saudáveis na microflora, efeito chamado de<br />
“prebiótico” [5,9,12,19,20,24,37].<br />
As bifidobactérias e os lactobacilos são<br />
habitantes normais da flora do cólon em pessoas<br />
saudáveis; o número deles são significativamente<br />
maiores em seres humanos, que consomem 4-8 gramas<br />
de inulina ou FOS diariamente [5].<br />
É definido como prebiótico, o ingrediente<br />
alimentar não digerível, não metabolizável no intestino<br />
delgado, que afeta o hospedeiro, através da presença<br />
seletiva do número limitado de bactérias no cólon,<br />
com efeitos benéficos à saúde [5,6,8,27].<br />
Alguns critérios devem ser considerados para a<br />
classificação de um alimento como prebiótico: não<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
devem sofrer hidrólise ou absorção no intestino<br />
delgado; atingindo o cólon, o prebiótico deve ser<br />
metabolizado seletivamente por um número limitado<br />
de bactérias benéficas; deve ser capaz de alterar a<br />
microflora colônica para uma microflora bacteriana<br />
saudável; deve ser capaz de induzir efeito fisiológico<br />
que seja importante para a saúde [4,8,15,27].<br />
Mecanismo de ação<br />
Estudos clínicos em seres humanos realizados<br />
no Japão, demonstraram que os FOS são<br />
seletivamente utilizados pelas bifidobactérias. Os<br />
autores encontraram que tal atividade melhora a flora<br />
intestinal, previne a diarréia ou a obstipação por<br />
alteração da microflora colônica, alteram o trânsito<br />
intestinal, com efeito de redução de metabólitos<br />
tóxicos, reduz o risco do desenvolvimento de câncer,<br />
melhora os níveis de lipídios séricos, ocorrendo a<br />
redução do colesterol plasmático, do controle da<br />
pressão arterial, da produção de nutrientes, aumenta<br />
a biodisponibilidade de minerais e suprime a<br />
produção de produtos de putrefação. Sugere-se que<br />
à medida em que cresce o consumo dos FOS, ocorra<br />
o aumento das bifidobactérias [1,4,6,9,<br />
11,12,14,20,28,30,33].<br />
A diarréia devido ao crescimento de bactérias<br />
patogênicas, é o efeito adverso mais comum da<br />
utilização de antibióticos. Esse problema ocorre em<br />
20% dos pacientes em que se administra antibiótico,<br />
e uma das indicações clínicas mais comuns é a<br />
introdução de alimentos com função prebiótica, tal<br />
como os FOS [15].<br />
Vêm sendo estudadas várias espécies de<br />
microorganismos como possíveis agentes terapêuticos<br />
no tratamento e na prevenção da diarréia associada a<br />
antibióticos; entre elas estão S. boulardii, alguns<br />
Lactobacillus e as bifidobactérias [15].<br />
Existe evidência preliminar de que os FOS<br />
podem diminuir os níveis de glicose no sangue,<br />
melhorando a tolerância à glicose, através da<br />
propriedade de viscosidade elevada, que retarda a<br />
digestão e a absorção de carboidrato [6,28,30].<br />
Estudos em animais indicam que os FOS podem<br />
diminuir os triglicérides no sangue, possivelmente ao<br />
inibir a síntese hepática de lipídios. A ingestão de níveis<br />
moderados de FOS poderia afetar o metabolismo dos<br />
lipídios em uma direção benéfica [5,6,30,31].<br />
Uma mistura de fibras solúveis, fibras insolúveis<br />
e FOS proporcionam capacidade de reter água,<br />
produzir ácidos graxos de cadeia curta e proliferar<br />
bifidobactérias, o que poderia contribuir para a<br />
supressão das fezes líquidas [6].
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Estudos in vivo em ratas sugerem que, além de<br />
serem indigeríveis, os FOS podem ter certas funções<br />
similares das fibras da dieta, pois causam diminuição<br />
da hidrólise da sacarose e da maltose [9,12].<br />
Recomendação e consumo<br />
A ingestão média de FOS é baixa nos países<br />
ocidentais (1 a 11 gramas/dia). Embora não haja<br />
nenhuma recomendação dietética formal para os FOS,<br />
achados recentes sugerem que cerca de 10 gramas/<br />
dia constitui uma dose ideal e bem tolerada [6,28].<br />
Conforme Borges [16], para efeito positivo no<br />
equilíbrio da microflora intestinal, sugere-se ingerir a<br />
quantidade de oligossacarídeos de sua estrutura, ou<br />
seja, 3 gramas/dia (FOS) ou 2–2,25 gramas/dia<br />
(galactooligossacarídeo).<br />
Segundo Modler [11], a adição de 8 gramas de<br />
FOS por dia na dieta humana aumenta a produção<br />
de ácidos graxos voláteis, que reduzem o pH<br />
intestinal, inibindo o crescimento de bactérias<br />
patogênicas e putrefativas.<br />
Estudos em crianças com diarréia mostram que<br />
a ingestão de 8 gramas de FOS/dia, durante 8 dias,<br />
levou à melhora da consistência das fezes e diminuição<br />
da freqüência de evacuação [5,6]. Para se evitar o efeito<br />
laxativo, a dose máxima recomendada é de 0,64-0,96<br />
gramas/kg/dia [16].<br />
Uma recente revisão sugeriu que os FOS<br />
poderiam ter uma ação laxativa; alegou-se que sua<br />
suplementação com 3 a 10 gramas/dia reduziu uma<br />
constipação moderada [6]. Doses acima de 20 gramas/<br />
dia, através de alimentos enriquecidos com FOS,<br />
podem causar intolerância, como distensão abdominal<br />
e flatulência excessiva [17].<br />
As fórmulas enterais contêm um só tipo de fibra<br />
ou tipos de fibras misturados em uma concentração<br />
de 8-15 gramas/1000 kcal. Algumas contêm FOS 4-8<br />
gramas/1000 kcal. As fórmulas contendo FOS<br />
fornecem cerca de 6-15 gramas/dia desta substância,<br />
que é suficiente para produzir melhora no equilíbrio<br />
da flora intestinal [6].<br />
As misturas de fibras incluindo os FOS e as fibras<br />
solúveis seriam, provavelmente, mais eficazes no<br />
controle da diarréia associada com a alimentação por<br />
sonda. Uma mistura de fibras solúveis, fibras insolúveis<br />
e os FOS proporcionariam capacidade de reter água,<br />
produção de ácidos graxos de cadeia curta e produção<br />
de bifidobactérias, o que poderia contribuir para a<br />
supressão das fezes líquidas. Os FOS são úteis no<br />
combate à diarréia, ou seja, uma dose de 8 gramas/<br />
dia, pode normalizar as fezes líquidas em pacientes<br />
idosos. FOS como alimento funcional têm suas<br />
limitações, pois podem produzir efeitos adversos<br />
conforme a quantidade ingerida (>20 gramas/dia)<br />
[1,24,32].<br />
Grandes quantidades de carboidratos ou FOS<br />
no cólon, podem causar um desarranjo através da<br />
fermentação bacteriana, seguido por um aumento<br />
pronunciado de concentrações de hidrogênio, que<br />
promovem peristaltismo aumentado. Esses efeitos, em<br />
pessoas com intolerância à lactose, produzem sintomas<br />
semelhantes à síndrome do intestino irritável, como<br />
distensão abdominal, flatulência e um padrão de<br />
defecação irregular [24].<br />
O valor calórico estimado para estes complexos<br />
de fibras é de aproximadamente 1,5 kcal/g [4,26].<br />
Conclusão<br />
Os FOS fazem parte da recém criada categoria<br />
de alimentos funcionais, que, além de “nutrir”,<br />
assumem outras funções específicas, como por<br />
exemplo, o de aumentar o número de bifibobactérias<br />
intestinais, a fim de impedir a colonização de bactérias<br />
patogênicas e putrefativas.<br />
A ausência de informações minuciosas sobre os<br />
mecanismos de ação desses alimentos funcionais, e as<br />
leis que governam o equilíbrio populacional nos<br />
ecossistemas em que eles agem, impedem a ampla<br />
disseminação de seu uso.<br />
O emprego de prebióticos associados ou não às<br />
terapias já existentes, poderá representar uma estratégia<br />
eficiente no combate às infecções, que acometem<br />
humanos e animais.<br />
Esses novos métodos de tratamento ganham<br />
relevo diante do quadro preocupante da resistência a<br />
antibióticos, cada vez maior entre os microorganismos<br />
patogênicos.<br />
Novos dados sobre as interações dos FOS com<br />
seus hospedeiros e a microbiota normal, alargarão o<br />
horizonte de possibilidades na prevenção e no<br />
tratamento de infecções.<br />
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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Estratégias nutricionais em pacientes com<br />
doença hepática avançada e candidatos ao<br />
transplante hepático<br />
Nutritional strategies in advanced chronic liver<br />
disease’patients and liver transplant candidates<br />
Tatiana Pereira de Paula * , Wilza Arantes Ferreira <strong>Peres</strong> ** , Rejane Andréa Ramalho ***<br />
*Mestranda em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina/UFRJ, Prof a . Substituta do Departamento de Nutrição e Dietética do Instituto<br />
de Nutrição/UFRJ – DND/INUFRJ, **Doutoranda em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina/UFRJ, Prof a Assistente da IN/<br />
UERJ, ***Doutora em Ciências pela FIOCRUZ, Prof a Titular do Departamento de Nutrição Social e Aplicada/IN/UFRJ<br />
Resumo<br />
Pacientes portadores de doença hepática avançada, independente do fator etiológico, apresentam, em sua maioria,<br />
comprometimento do estado nutricional. Existem vários fatores envolvidos na gênese da desnutrição nestes pacientes. A<br />
ingestão alimentar inadequada é um dos principais fatores e pode ser precipitada por várias situações, como náuseas, vômitos,<br />
anorexia, saciedade precoce e orientações alimentares impróprias. O melhor conhecimento das alterações metabólicas na<br />
doença hepática, bem como dos fatores envolvidos no aparecimento da desnutrição, possibilitam um tratamento nutricional<br />
mais adequado, o que motivou a elaboração do presente artigo.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: doença hepática, desnutrição, tratamento nutricional<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
Regardless of etiology, chronic liver disease is likely to cause patient to have abnormal nutritional status. This nutritional<br />
deficiencies arise as result of inadequate dietary intake related to one or more of the following factors: nausea, vomiting,<br />
anorexia, early saciety and inadequate nutritional therapy. The suitable nutritional treatment in this patients depends on the<br />
understanding of both metabolic changes and malnutrition’ etiology.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key words: liver disease, malnutrition, nutritional treatment.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
u Título abreviado: Estratégias nutricionais e doença hepática<br />
Artigo recebido em 21 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002<br />
Endereço para correspondência: Andréa Ramalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências<br />
da Saúde, Bloco J, 2º andar, Gabinete da Direção, Ilha do Fundão, 21944-050 Rio de Janeiro RJ.<br />
Tel: (21)2562-6599, E-mail: aramalho@rionet.com.br<br />
95
96<br />
Introdução<br />
O prognóstico da doença hepática é determinado<br />
pelo fator etiológico, pelas complicações associadas,<br />
pela função hepática comprometida e também pela<br />
desnutrição [1]. Esta última, por sua vez, está<br />
relacionada ao aparecimento de complicações como<br />
ascite, a encefalopatia, a síndrome hepatorrenal, o<br />
diabetes, a hemorragia digestiva e o comprometimento<br />
do sistema imunológico [1].<br />
A desnutrição energético protéica, comum na<br />
doença hepática avançada [1,2], interfere na capacidade<br />
de regeneração e restauração funcional do fígado. E<br />
nos pacientes candidatos ao transplante, pode ser<br />
considerada fator prognóstico de sobrevida no pós<br />
operatório. A causa da desnutrição na doença hepática<br />
avançada é multifatorial e normalmente os fatores<br />
estão associados [1,3,4] (fig.10).<br />
Desta forma, o acompanhamento do estado<br />
nutricional deve ser mandatório para estes pacientes,<br />
objetivando recuperação e/ou manutenção do estado<br />
nutricional, garantindo, assim, melhor qualidade de<br />
vida durante a espera por um transplante hepático.<br />
Objetivos do tratamento nutricional<br />
§ Prevenção ou tratamento da desnutrição;<br />
§ Retardar a deterioração do estado clínico;<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
§ Diminuir o risco de complicações;<br />
§ Evitar deficiência de vitaminas e minerais;<br />
§ Melhorar o estado nutricional pré-transplante<br />
e o prognóstico no pós-transplante.<br />
Necessidades nutricionais<br />
Proteínas<br />
A encefalopatia hepática (EH) define-se como<br />
um conjunto de sinais e sintomas neurológicos, que<br />
podem acompanhar a insuficiência hepática aguda ou<br />
crônica. Considera-se que o desenvolvimento da EH<br />
deve-se, principalmente, ao acúmulo de substâncias<br />
tóxicas na circulação, que atravessam a barreira<br />
hematoencefálica comprometendo a<br />
neurotransmissão [5].<br />
A oferta de proteína para pacientes com doença<br />
hepática avançada, constitui-se em objeto de<br />
discussões e de dúvidas no seu tratamento nutricional.<br />
Isto porque atribui-se o aparecimento da EH, aos<br />
compostos nitrogenados derivados do metabolismo<br />
deste nutriente. Uma das principais alterações<br />
metabólicas na insuficiência hepática é a inabilidade<br />
do fígado de metabolizar aminoácidos de cadeia<br />
aromática (AAA) e de converter amônia em uréia.<br />
Além disso, a hiperinsulinemia e o catabolismo<br />
muscular acentuado resulta em depleção dos níveis<br />
Gênese da desnutrição na doença hepática<br />
Anorexia Colestase Complicações<br />
Náuseas e Vômitos Enteropatia Estado hipercatabólico<br />
dietas não palatáveis<br />
dificuldades mecânicas<br />
(ascite)<br />
u<br />
Diminuição Diminuição Aumento do gasto<br />
da Ingestão da digestão/absorção energético<br />
u<br />
u<br />
u<br />
Desnutrição<br />
u<br />
u<br />
Fig.1
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
de aminoácidos de cadeia ramificada (AACR),<br />
justificando metabolicamente os níveis aumentados<br />
de AAAs e a redução de AACRs [6].<br />
A encefalopatia hepática, entretanto, pode ser<br />
desencadeada por várias situações - e não<br />
necessariamente pela ingestão protéica -, tais como:<br />
constipação, infecção, desequilíbrio hidroeletrolítico,<br />
hemorragia digestiva, diarréia, vômitos, procedimentos<br />
cirúrgicos e uso de álcool e de sedativos [7]. Desta<br />
forma, a restrição protéica desnecessária poderia<br />
comprometer ou agravar o estado nutricional destes<br />
pacientes. Além disto, o balanço nitrogenado (BN)<br />
negativo, induzido por uma ingestão protéica<br />
inadequada, pode agravar a EH, por aumentar os níveis<br />
de aminoácidos de cadeia aromática no plasma e no<br />
cérebro[8].<br />
Deve-se considerar que pacientes com quadro<br />
compensado, parecem ter um requerimento<br />
aumentado de proteína, necessário para manter um<br />
balanço nitrogenado positivo. Isto parece estar<br />
relacionado ao aumento da degradação de proteína<br />
corporal, observada nestes pacientes [9,10]. Pacientes<br />
desnutridos com cirrose, geralmente toleram<br />
quantidades aumentadas de proteína sem desenvolver<br />
a EH [9,11]. A proteína administrada de forma<br />
fracionada (4 a 6 refeições/dia), melhora<br />
significativamente o BN quando comparada a mesma<br />
quantidade fornecida em 3 refeições [12]. A quantidade<br />
e o tipo de proteína ofertada, depende do grau de<br />
desnutrição, do grau de EH e da história de tolerância<br />
a proteína [13]. Nestes pacientes, estágios iniciais da<br />
EH (graus I e II) não devem ser considerados contraindicação<br />
para terapia nutricional, incluindo uma oferta<br />
protéica adequada [10,14].<br />
Antes de considerar o indivíduo como<br />
intolerante à proteína, devem-se excluir outras<br />
possíveis causas de EH. Em pacientes com intolerância<br />
à proteína, a ingestão deve ser reduzida<br />
temporariamente para 0,5g/kg. Neste caso, o balanço<br />
nitrogenado positivo pode ser alcançado pela<br />
suplementação de AACR (0,25g/kg), sem risco de<br />
agravar a encefalopatia [10].<br />
A restrição protéica não deve ser instituída como<br />
forma de prevenir a encefalopatia hepática. Sua<br />
utilização deve ser feita somente após a exclusão de<br />
todos os fatores que possam precipitar este quadro<br />
clínico.<br />
Recomendações de proteína(g/kg/dia)<br />
na doença hepática [20]<br />
Cirrose compensada 1,0-1,5<br />
Desnutrição 1,0-1,8<br />
Encefalopatia I-II 0,5-1,2<br />
Encefalopatia III-IV 0,5<br />
Proteínas de origem vegetal<br />
Dietas contendo unicamente proteínas de origem<br />
vegetal vêm sendo aventadas por alguns autores no<br />
tratamento da encefalopatia hepática [3,15,16]. As<br />
vantagens deste tipo de dieta estariam relacionadas a<br />
redução da formação de amônia e menor teor de<br />
metionina, já que esta dá origem as mercaptanas,<br />
compostos tóxicos derivados do metabolismo<br />
intestinal deste aminoácido. Além disso, este tipo de<br />
dieta poderia acelerar o trânsito intestinal, reduzindo<br />
a absorção luminal de substâncias tóxicas. Entretanto,<br />
a aceitabilidade e a adesão a este tipo de tratamento<br />
devem ser avaliadas individualmente.<br />
Energia<br />
A cirrose é considerada uma doença catabólica<br />
associada a uma grande prevalência de desnutrição<br />
energético protéica [17].<br />
A oferta adequada de energia é importante para<br />
otimizar a síntese de proteínas [3]. A presença de ascite<br />
pode estar associada, em alguns pacientes, ao aumento<br />
do gasto energético basal e, conseqüentemente, pode<br />
acelerar o aparecimento de desnutrição [18]. Em<br />
pacientes clinicamente estáveis a oferta de 30-40 kcal/<br />
kg de peso, pode manter o balanço energético e<br />
prevenir a desnutrição. Já em pacientes desnutridos,<br />
esta oferta pode chegar a 50 kcal/kg de peso [1,19].<br />
Deve-se usar o peso atual e, no caso da ascite e edema,<br />
usar o peso ideal, uma vez que a utilização do peso<br />
seco poderia subestimar as necessidades calóricas [20].<br />
A estimativa dos requerimentos energéticos pela<br />
fórmula de Harris Benedict pode subestimar as<br />
necessidades energéticas, quando comparado a<br />
calorimetria indireta. Neste caso, alguns autores<br />
sugerem o aumento do gasto energético basal em 20%<br />
ou mais [21,22].<br />
Lipídeos<br />
A oferta de lipídeos na dieta pode estar entre<br />
25-30% das calorias estimadas [20] e irá depender da<br />
tolerância relatada pelo paciente a este nutriente.<br />
A restrição de lipídeos só é fundamentada em<br />
pacientes com doença hepática de etiologia colestática,<br />
esteatorréia ou insuficiência pancreática associada [7].<br />
Nestes casos, deve-se ofertar 50% dos lipídeos na<br />
forma de triglicerídeos de cadeia média [1], uma vez<br />
que eles são absorvidos diretamente na veia porta,<br />
sem presença de sais biliares intraluminais.<br />
A restrição desnecessária de lipídeos pode<br />
agravar o estado nutricional destes pacientes, já que<br />
os lipídeos constituem-se em fonte concentrada de<br />
97
98<br />
calorias e são necessários para absorção de vitaminas<br />
lipossolúveis, além de serem responsáveis pela<br />
palatabilidade da dieta.<br />
Carboidratos<br />
A intolerância a glicose é comum no paciente<br />
cirrótico e está relacionada a resistência a insulina.<br />
Entretanto, a hiperglicemia e a resistência a insulina<br />
normalmente não produzem complicações clínicas [2].<br />
A dieta deve conter entre 50% e 60% das quilocalorias<br />
na forma de carboidratos, para minimizar o uso de<br />
reservas lipídicas e protéicas como energia.<br />
Vitaminas e minerais<br />
Na cirrose, a deficiência de vitaminas e minerais<br />
é explicada por vários fatores, incluindo ingestão<br />
alimentar inadequada, má absorção, metabolismo<br />
reduzido, requerimentos aumentados, diminuição da<br />
conversão de vitaminas para suas formas ativas,<br />
redução do estoque hepático, síntese reduzida de<br />
proteínas de transporte, interação droga-nutrientes e<br />
alcoolismo crônico [1,10]. Entretanto, não existem<br />
recomendações estabelecidas para estes pacientes.<br />
Pacientes com doença de Wilson e colestase crônica<br />
(cirrose biliar primária, por exemplo) têm excesso de<br />
cobre acumulado no fígado [23]. Logo, é importante<br />
a restrição de alimentos fontes deste mineral associada<br />
ao uso de quelantes. Na colestase crônica, a<br />
suplementação de vitaminas lipossolúveis pode<br />
prevenir ou corrigir quadros de carência [10].<br />
O acompanhamento da ingestão alimentar destes<br />
pacientes por meio de inquéritos dietéticos, bem como<br />
de sua história clínica, podem ajudar a detectar<br />
precocemente carências de vitaminas e minerais, e<br />
avaliar a pertinência da suplementação.<br />
Características gerais da dieta<br />
Fracionamento e consistência da dieta<br />
Modificações no padrão alimentar, aumentando<br />
o número de refeições durante o dia, incluindo um<br />
lanche noturno (ceia), são importantes uma vez que<br />
diminuem a proteólise muscular e melhoram o balanço<br />
nitrogenado [12,24].<br />
A hipertensão porta é uma das seqüelas da<br />
cirrose e costuma tornar-se evidente com<br />
aparecimento de varizes de esôfago, dentre outras<br />
manifestações. Alterações na consistência da dieta na<br />
presença de varizes esofagianas irão depender da<br />
aceitação do paciente, do calibre das varizes<br />
esofagianas e da história prévia de sangramento.<br />
Normalmente, logo após as sessões de escleroterapia,<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
que objetivam obliteração das varizes, os pacientes<br />
toleram melhor dieta de consistência líquida/ semilíquida<br />
[7].<br />
Sódio e líquidos<br />
A restrição de líquidos (500 a 1500ml) é<br />
necessária somente quando existir hiponatremia. Esta<br />
restrição pode limitar a terapia nutricional e os<br />
pacientes devem ser orientados a preferir líquidos mais<br />
nutritivos e calóricos [7].<br />
Os pacientes cirróticos com sobrecarga hídrica<br />
podem necessitar de restrição de sódio. Entretanto,<br />
esta restrição pode diminuir significativamente a<br />
palatabilidade da dieta e, conseqüentemente, diminuir<br />
a ingestão alimentar. Em pacientes hospitalizados,<br />
grandes restrições de sódio (500mg/dia) podem ser<br />
apropriadas, porém por tempo limitado. Em pacientes<br />
não hospitalizados, é recomendada uma restrição de<br />
2,0 a 2,5g/ dia [22].<br />
No entanto, deve-se considerar que o uso de<br />
diuréticos pode minimizar estas restrições, de acordo<br />
com o quadro clínico apresentado.<br />
Terapia nutricional<br />
Muitos pacientes cirróticos e desnutridos não<br />
conseguem atingir suas necessidades nutricionais por<br />
via oral de forma espontânea, por anorexia ou,<br />
principalmente, por saciedade precoce. A utilização<br />
de suplementos via oral e refeições mais freqüentes,<br />
podem garantir a oferta adequada de nutrientes e<br />
contribui para recuperação e/ ou manutenção do<br />
estado nutricional.<br />
A via enteral por sonda, quando necessária, não<br />
é contra-indicada na presença de varizes esofagianas<br />
[7,10]. Deve-se, entretanto, priorizar sondas de<br />
pequeno calibre a fim de evitar sangramentos [7].<br />
Quanto ao posicionamento da sonda, deve-se<br />
considerar a presença de alterações neurológicas e o<br />
retardo no esvaziamento gástrico observado nestes<br />
pacientes [25,26]. Nestes casos, deve-se preferir o<br />
jejuno para evitar-se broncoaspiração. As fórmulas<br />
enterais para estes pacientes normalmente possuem<br />
densidade calórica elevada e teor reduzido de sódio<br />
[7]. Para pacientes com encefalopatia, existem, no<br />
mercado, fórmulas com teor aumentado de AACR e<br />
baixo teor de AAA (Fresubin Hepa, Hepato diet). A<br />
gastrostomia e a jejunostomia são contra indicadas na<br />
presença de ascite.<br />
A nutrição parenteral deve ser reservada para<br />
aqueles em que o aparelho digestório não esteja<br />
funcionando, que apresentem intolerância à nutrição<br />
enteral ou hemorragia digestiva.
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Conclusão<br />
A desnutrição protéico-calórica é um achado<br />
comum na doença hepática avançada. A ingestão<br />
alimentar inadequada é um dos principais fatores<br />
responsáveis pelo aparecimento deste quadro.<br />
Entretanto, condutas nutricionais sem respaldo<br />
científico ainda são adotadas na prática clínica,<br />
contribuindo para o agravamento da desnutrição<br />
nestes pacientes. Dentre estas condutas, a restrição<br />
inapropriada de proteína é comumente encontrada, o<br />
que dificulta a aceitação da dieta, reduz o aporte<br />
protéico, retarda a regeneração tecidual, podendo<br />
inclusive agravar a encefalopatia hepática.<br />
Este trabalho recebeu apoio financeiro da FAPERJ<br />
(processoE-26-170.199/2001).<br />
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99
100<br />
CASO CLÍNICO<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Anorexia nervosa em paciente do sexo<br />
masculino: relato de caso<br />
Anorexia in male patient – Case report<br />
Núbio Chaves de Carvalho * , Paulo A. Amaral Secches**, Renata Rezende***,<br />
Tomaz Camargo Neto***<br />
*Nutricionista, Professor e Coordenador do curso de Nutrição do Centro Universitário de Itajubá – Universitas, **Médico endocrinologista,<br />
Professor do Centro Universitário de Itajubá – Universitas, ***Médico<br />
Resumo<br />
No presente relato de caso, é apresentada a evolução de um paciente de 19 anos com perda ponderal de cerca de 20 kg<br />
em 3 meses. É um caso raro de anorexia nervosa, pois esta entidade é descrita como predominante em mulheres. São<br />
discutidos os aspectos fisiopatológicos, sintomas e complicações da referida doença. É salientada a importância de um<br />
diagnóstico precoce e de um acompanhamento médico e psicológico prolongado, devido à grande complexidade da patologia.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Distúrbios alimentares, anorexia, peso, adolescentes.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
In this reported case, the evolution of a 19-years-old male patient who lost 20 kg in three months is presented. It’s a<br />
rare case of anorexia that is seen mainly in women. The physiopathology, symptoms and complications of this disease are<br />
discussed. Strong emphasis is placed on the importance of an early diagnosis and a medical and psychological long term<br />
follow-up due to the complexity of this disease.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Keywords: Alimentary disturbances, anorexia, weight, adolescents.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 1 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Prof. Núbio Chaves de Carvalho, Universitas, Av. Antônio Braga Filho, 687<br />
37501-002 Itajubá MG. Tel: (35) 3622-0844, E-mail: nubiocc@fepi.br
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Introdução<br />
Anorexia nervosa é um distúrbio caracterizado<br />
por um senso deturpado da imagem corpórea,<br />
acentuada perda de peso, medo mórbido da obesidade<br />
e amenorréia em mulheres. É uma desordem alimentar<br />
na qual há uma severa e prolongada incapacidade de<br />
comer levando a uma marcada perda de peso. É uma<br />
patologia que apresenta maior incidência em<br />
adolescentes e adultos jovens, sendo a maioria dos<br />
casos representados pelo sexo feminino.<br />
Muitos dos pacientes são acometidos por<br />
distúrbio alimentar misto, manifestando características<br />
da anorexia nervosa associadas à bulimia, na qual há<br />
um grande consumo alimentar seguido de vômito<br />
induzido, abuso de laxantes, diuréticos ou exercícios<br />
físicos. Este grupo de pacientes representa 50% dos<br />
anoréxicos. A recuperação destes pacientes é mais lenta<br />
e eles são mais susceptíveis ao suicídio.<br />
Apresentação do caso<br />
Paciente: G.I.; Idade: 19 anos; Sexo: Masculino;<br />
Cor: Branca; Estado Civil: Solteiro; Naturalidade e<br />
Residência: Passa Quatro – MG.<br />
Queixa principal e duração: Perda de peso há<br />
cerca de 3 meses<br />
História pregressa da moléstia atual: O paciente<br />
foi encaminhado, no dia 14/03/96, ao consultório<br />
médico, proveniente de Passa Quatro, com queixa de<br />
astenia e caquexia. Referiu perda ponderal de cerca de<br />
20 kg num período de 3 meses. Afirmou ter boa alimentação.<br />
Relatou dificuldade de realizar atividades habituais.<br />
Referiu peso médio variável entre 55 a 57 kg.<br />
Inquérito sobre diversos aparelhos: Aparelho<br />
gênito-urinário: referiu nictúria.<br />
História patológica pregressa: Referiu alergia à<br />
acetona. Drenagem de abscesso na nádega há 2 meses.<br />
Negou história de transfusão e passado cirúrgico.<br />
História cardiovascular: Negou tabagismo.<br />
Distensão abdominal e edema de membros<br />
inferiores e maleolar.<br />
O paciente fora encaminhado com os seguintes<br />
exames laboratoriais:<br />
Hemograma normal<br />
Glicose 71 mg/dl<br />
Toxoplasmose negativo<br />
T3 44 mg/dl<br />
T4 5,8 mg/dl<br />
TSH<br />
Exame físico:<br />
4,28 mUI/dl<br />
Altura 172 cm<br />
Peso 36.300 g<br />
Conduta: O paciente foi encaminhado para<br />
internação hospitalar; dieta hiperprotéica e<br />
hipercalórica; orientação dietética com nutricionista;<br />
avaliação e psicoterapia com psicólogo; orexígenos:<br />
ciproheptadine 4 mg, arginina 100 mg, carnitina 100<br />
mg, complexo B 100 mg, Ac. glutâmico 100 mg;<br />
antidepressivo: clordiazepóxido.<br />
Exames laboratoriais:<br />
Hemograma e leucograma normal<br />
Bioquímica: hipopotassemia 3,2 mg/l<br />
Hipofosfatemia<br />
Proteínas:<br />
2,3 mg/dl; TGO e TGP<br />
elevados<br />
Totais 6,1 g %<br />
Albumina 3,46 g %<br />
α1 globulina 0,23 g %<br />
α2 globulina 0,57 g %<br />
β globulina 0,73 g %<br />
γ globulina 1,10 g %<br />
Relação A/G 1,32<br />
TSH 1,76 mUI/l<br />
T4 livre 1,62 mg/dl<br />
T3 livre 0,29 mg/dl<br />
Anti-HIV negativo<br />
Urina tipo 1 normal<br />
Bioimpedância intensa desnutrição,<br />
alteração grave de peso<br />
na antropometria e na<br />
bioimpedância<br />
Densitometria osteoporose<br />
A avaliação psicológica revelou impressão<br />
diagnóstica de depressão com comportamento<br />
esquizóide.<br />
Nova bioquímica foi realizada no dia 18/03/96,<br />
com melhora dos níveis de potássio e diminuição dos<br />
níveis de magnésio, sendo instituída formulação com<br />
vitaminas e magnésio. Antígeno Austrália: negativo.<br />
No dia 20/03/96, o paciente apresentou um<br />
episódio de crise convulsiva com hipótese diagnóstica<br />
de crise convulsiva metabólica (hipoglicemia,<br />
hiponatremia, distúrbio neuro-vegetativo). Foram<br />
realizados exames de tomografia computadorizada e<br />
EEG, ambos com resultados normais. Na avaliação<br />
neurológica o paciente apresentava polineurite<br />
periférica.<br />
No dia 23/03/96, o paciente recebeu alta<br />
hospitalar com diagnóstico de anorexia nervosa. O<br />
paciente retornou mensalmente ao consultório médico<br />
por um período de 1 ano e meio. A partir de 17/07/<br />
97, o paciente abandonou o tratamento, apesar de<br />
retornar ao peso normal. No dia 16/07/98, o paciente<br />
foi a óbito, por suicídio.<br />
Diagnóstico diferencial à internação hospitalar:<br />
101
102<br />
AIDS; neoplasia; diabetes descompensado; outras<br />
doenças consumptivas.<br />
Discussão<br />
A anorexia nervosa é uma entidade bastante<br />
complexa. Conseqüentemente existem diversos fatores<br />
que interagem na etiologia da doença.<br />
A personalidade do paciente anoréxico é bastante<br />
peculiar: baixa auto-estima, medo de engordar e<br />
sentimento de desamparo. Raramente são<br />
desobedientes e tendem a ser perfeccionistas. Alguns<br />
estudiosos acreditam que a restrição alimentar é uma<br />
forma de auto-controle.<br />
Fatores genéticos também são citados como<br />
componentes da anorexia nervosa. Alguns achados<br />
sugerem que fatores genéticos podem predispor<br />
algumas pessoas a distúrbios alimentares. Recentes<br />
pesquisas têm demonstrado que adolescentes do sexo<br />
feminino que possuem familiares obesos ou cuja<br />
preocupação materna quanto à obesidade é grande,<br />
são mais predispostas a desenvolver distúrbios<br />
alimentares.<br />
A bioquímica do sistema neuroendócrino é outro<br />
fator de suma importância nos estudos das desordens<br />
alimentares. Os neurotransmissores serotonina e<br />
norepinefrina funcionam anormalmente em pessoas<br />
afetadas pela depressão. Esses neurotransmissores<br />
também apresentam baixos níveis em pacientes com<br />
anorexia e bulimia. Alguns cientistas acreditam que<br />
este seja o elo entre as duas patologias. Estes pacientes<br />
também exprimem elevados níveis de cortisol,<br />
hormônio relacionado à resposta ao estresse. A<br />
vasopressina, outro hormônio cerebral, foi encontrada<br />
em níveis anormais na anorexia e nas desordens<br />
obssessivo-compulsivas.<br />
Os sintomas mais comuns da anorexia nervosa<br />
são a perda ponderal maior que 15% do peso corporal<br />
ideal para a idade ou altura, ou IMC igual ou inferior a<br />
17,5, o medo intenso da obesidade e amenorréia em<br />
mulheres por pelo menos 3 meses consecutivos. Na<br />
maioria das vezes, a menstruação cessa antes da<br />
diminuição grave de peso, ou seja, a desnutrição não é<br />
a única causa da amenorréia. Outros sintomas incluem<br />
restrição alimentar e líquida, vômitos induzidos, uso<br />
de laxantes e diuréticos e excesso de exercícios físicos.<br />
Ocorre uma grande variedade de modificações físicas<br />
como baixa temperatura corporal, ritmo cardíaco e<br />
pressão arterial baixos, distensão abdominal e<br />
constipação, lanugem, alopecia, unhas quebradiças,<br />
cabelos secos, pele seca, desidratação, intolerância a<br />
baixas temperaturas, distúrbios do sono e alterações<br />
metabólicas. Mesmo quando caquéticos, permanecem<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
ativos. Há acidose metabólica e potássio sérico baixo.<br />
Pode ocorrer morte súbita provavelmente por<br />
taquiarritmias ventriculares. Os hormônios<br />
reprodutivos estão em baixa, mas os níveis normais<br />
são restabelecidos quando instituída nutrição<br />
adequada. No homem, há impotência ou perda de<br />
interesse pelo sexo. A desnutrição também tende a<br />
aumentar os sentimentos de depressão, ansiedade,<br />
irritabilidade e raiva.<br />
Instalada a inanição, aparecem as alterações<br />
cerebrais. Os traçados eletroencefalográficos têm sua<br />
amplitude diminuída. Observa-se, através de<br />
tomografia computadorizada ou ressonância<br />
magnética, atrofia cortical, que pode ser revertida<br />
quando o estado nutricional do paciente for<br />
estabilizado. Por causas ainda não conhecidas, alguns<br />
pacientes não se recuperam da atrofia, o que traz<br />
grandes conseqüências.<br />
As principais complicações são cardíacas,<br />
cerebrais e ósseas. O ritmo cardíaco é irregular,<br />
podendo ocorrer falência cardíaca, arritmias e morte<br />
súbita, principalmente devido à hipopotassemia. O uso<br />
de drogas para induzir vômito, laxantes e diuréticos<br />
aumentam o risco de falência cardíaca. A atividade<br />
cerebral torna-se muito reduzida, sendo comum o<br />
surgimento de alterações comportamentais. Se a<br />
desordem for muito severa, os pacientes podem perder<br />
cálcio dos ossos, levando à osteoporose. A diminuição<br />
da ingestão de proteínas e as alterações dos níveis de<br />
hormônio paratireoideano, vitamina D e hormônio<br />
do crescimento também contribuem para a<br />
osteoporose.<br />
Outras complicações citadas são leucopenia e<br />
anemia em graus variáveis, alteração da função<br />
digestiva, hipercolesterolemia e hipoglicemia. A<br />
desidratação crônica e a hipocalcemia podem, a longo<br />
prazo, causar danos irreversíveis aos túbulos renais.<br />
Um, em cada dez casos de anorexia nervosa,<br />
evolui para óbito por inanição, por complicações<br />
cardíacas ou suicídio.<br />
Distúrbios alimentares no sexo masculino são<br />
relativamente raros. Cerca de 5 a 10% da população<br />
anoréxica é masculina. A patologia inicia-se em idades<br />
mais avançadas, em pacientes que apresentam um<br />
histórico de obesidade e são extremamente relutantes<br />
ao tratamento. O abuso de laxantes é menos freqüente.<br />
Homens anoréxicos exercitam-se vigorosamente para<br />
alcançar a forma física.<br />
Tratamento<br />
O tratamento da anorexia terá sucesso quando<br />
o diagnóstico for precoce. Em homens, o problema é
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
ainda maior, uma vez que falta experiência ao meio<br />
científico, por ser a anorexia relativamente rara no sexo<br />
masculino.<br />
O tratamento geralmente é a longo prazo e<br />
requer auxílio de amigos e familiares. Este é<br />
desenvolvido em várias etapas:<br />
a) Ganho de peso: é iniciado com uma dieta líquida<br />
e fracionamento das refeições. Com a evolução há<br />
um aumento progressivo da ingesta alimentar. Alguns<br />
casos requerem hospitalização: quando a perda ponderal<br />
for maior que 20% do peso ideal, os sintomas físicos<br />
forem graves ou quando houver risco de suicídio.<br />
b) Psicoterapia: a terapia mais eficaz é a cognitivacomportamental.<br />
c) Uso de antidepressivos, medicamentos que<br />
corrigem o metabolismo dos neurotransmissores.<br />
d) Internação hospitalar, com a finalidade de<br />
ganhar peso, tratar as intercorrências da desnutrição e<br />
salvar a vida do paciente.<br />
Conclusão<br />
Mesmo com todos os avanços médicos<br />
alcançados na área dos distúrbios alimentares, são<br />
necessárias mais pesquisas com a finalidade de se<br />
estabelecer diagnóstico preciso, tratamento adequado<br />
e reconhecimento de recidivas. Por ser uma patologia<br />
complexa e de difícil diagnóstico, o acompanhamento<br />
do paciente deve ser feito a longo prazo para que sejam<br />
tomadas as medidas necessárias para salvar a vida do<br />
anoréxico. Para isso, o apoio de amigos e familiares<br />
do paciente representam uma das principais formas<br />
de ajuda.<br />
O tratamento pode salvar o paciente.<br />
Encorajamento, carinho, persistência, bem como<br />
informações sobre os riscos das desordens alimentares<br />
são necessários para convencer a pessoa enferma a<br />
procurar ajuda, iniciar, manter – ou recomeçar – o<br />
tratamento.<br />
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11. Zerbe KJ. Biological Factors Influence Eating<br />
Disorders. Meninger Letter 1993;1(8).<br />
103
104<br />
História do feijão<br />
DOSSIÊ<br />
Feijão: Um alimento completo<br />
da cozinha brasileira<br />
Existem diversas hipóteses para explicar a origem<br />
e domesticação do feijoeiro. Tipos selvagens,<br />
encontrados no México e a existência de tipos<br />
domesticados, datados de cerca de 7.000 a.C., na<br />
Mesoamérica, suportam a hipótese de que o feijoeiro<br />
teria sido domesticado na Mesoamérica e disseminado,<br />
posteriormente, na América do Sul. Por outro lado,<br />
achados arqueológicos mais antigos, cerca de 10.000<br />
a.C., de feijões domesticados na América do Sul (sítio<br />
de Guitarrero, no Peru) são indícios de que o feijoeiro<br />
teria sido domesticado na América do Sul e<br />
transportado para a América do Norte.<br />
Dados mais recentes, com base em padrões<br />
eletroforéticos de faseolina, sugerem a existência de<br />
três centros primários de diversidade genética, tanto<br />
para espécies silvestres como cultivadas: o<br />
mesoamericano, que se estende desde o sudeste dos<br />
Estados Unidos até o Panamá, tendo como zonas<br />
principais o México e a Guatemala; o sul dos Andes,<br />
que abrange desde o norte do Peru até as províncias<br />
do noroeste da Argentina; e o norte dos Andes, que<br />
abrange desde a Colômbia e Venezuela até o norte do<br />
Peru. Além destes três centros americanos primários,<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
O feijão, alimento tradicional das populações da América do Sul, e principalmente<br />
no Brasil, maior produtor e consumidor mundial, ocupa ainda um lugar central na<br />
alimentação. Observa-se uma tendência mundial à substituição progressiva do<br />
clássico arroz-feijão por pratos mais modernos, com carnes e massas - pelo<br />
menos nas classes de maior renda -, substituição que não é sempre<br />
interessante ou desejável do ponto de vista da nutrição.<br />
O feijão, por sua riqueza em proteínas vegetais, fibras, vitaminas e compostos<br />
recentemente valorizados, como os fitoestrogenos, é um alimento completo,<br />
saudável e que deveria continuar predominando na cozinha brasileira. Vários estudos<br />
estão em andamento para melhorar o cultivo do feijão, principalmente na Embrapa.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Ficha Técnica: Feijão (frijol, bean)<br />
Gênero: Phaseolus L.<br />
Espécie:Phaseolus vulgaris, P. lunatus, P.<br />
acutifolius, P. coccineus e P. polynthus<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
podem ser identificados vários outros centros<br />
secundários em algumas regiões da Europa, Ásia e<br />
África, onde foram introduzidos genótipos<br />
americanos.<br />
O gênero Phaseolus compreende aproximadamente<br />
55 espécies, das quais apenas cinco são<br />
cultivadas: o feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris); o<br />
feijão de lima (P. lunatus); o feijão ayocote (P. coccineus);<br />
o feijão tepari (P. acutifolius); e o P. polyanthus.<br />
Os feijões estão entre os alimentos mais antigos,<br />
remontando aos primeiros registros da história da<br />
humanidade. Eram cultivados no antigo Egito e na<br />
Grécia, sendo, também, cultuados como símbolo da<br />
vida. Os antigos romanos usavam extensivamente<br />
feijões nas suas festas gastronômicas, utilizando-os até<br />
mesmo como pagamento de apostas. Foram<br />
encontradas referências aos feijões na Idade do<br />
Bronze, na Suíça, e entre os hebraicos, cerca de 1.000<br />
a.C. As ruínas da antiga Tróia revelam evidências de<br />
que os feijões eram o prato favorito dos robustos<br />
guerreiros troianos. A maioria dos historiadores atribui<br />
a disseminação dos feijões no mundo em decorrência<br />
das guerras, uma vez que esse alimento fazia parte<br />
essencial da dieta dos guerreiros em marcha. Os<br />
grandes exploradores ajudaram a difundir o uso e o<br />
cultivo de feijão para as mais remotas regiões do<br />
planeta.<br />
Aspectos gerais<br />
O feijão é um dos mais importantes alimentos<br />
da população brasileira, especialmente a de baixa
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
renda, constituindo-se em sua principal fonte de<br />
proteína vegetal, cujo o consumo anual per capta chega<br />
a 14 quilogramas.. A cultura do feijoeiro ocupa uma<br />
área de 12 milhões de hectares e constitui-se na<br />
leguminosa mais importante para a alimentação de<br />
mais de 500 milhões de pessoas na América Latina e<br />
África. O Brasil é o maior produtor, com uma<br />
produção anual de aproximadamente 2,6 milhões de<br />
toneladas, o que equivale a cerca de 20% da produção<br />
mundial de feijão.O teor de proteína das sementes varia<br />
de 20 a 33%, sendo também um alimento energético,<br />
contendo cerca de 340cal/100g. Na maioria das regiões<br />
produtoras predomina a exploração do feijoeiro por<br />
pequenos produtores, com uso reduzido de insumos,<br />
obtendo-se baixas produções. Aproximadamente 80%<br />
da produção e da área cultivada encontram-se em<br />
propriedades menores que 100ha. O feijão é<br />
produzido em todas as regiões do país. A Região<br />
Nordeste detém a maior área plantada (45%), seguida<br />
das Regiões Sul (26%) e Sudeste (21%). A Região<br />
Nordeste detém o mais baixo índice de produtividade,<br />
decorrente de problemas com a seca, além da baixa<br />
utilização de insumos agrícolas. Os maiores estados<br />
produtores são Paraná, Bahia, Minas Gerais, São Paulo,<br />
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás.<br />
Usos<br />
O grão do feijoeiro é utilizado na alimentação<br />
do homem, na maioria das ocasiões de modo<br />
obrigatório, no cardápio diário. Cozido ele é<br />
consumido em mistura com arroz e farinha, em saladas<br />
frias, transformado em pastas (tutu) ou ainda<br />
compondo feijoadas.O grão pode servir como<br />
componente de rações animais bem como a planta<br />
pós colheita. Restos de cultura podem ser<br />
incorporados ao solo para melhoria das suas condições<br />
físicas.<br />
Necessidades da planta<br />
Clima: Tropical, com temperatura média em<br />
25ºC (18º a 30ºC) com chuvas de 100 mm mensais<br />
bem distribuídas.<br />
Solos: Férteis, areno-argilosos, com bom teor de<br />
matéria orgânica, bem arejados, pH em torno de 6,0<br />
(5,0 a 6,5).<br />
Preparo do solo<br />
O feijoeiro é planta exigente e não deve ser<br />
plantado no mesmo terreno por mais de 2 anos<br />
seguidos; os restos da cultura anterior devem ser<br />
incorporados ao solo e nunca queimados. Para<br />
correção da acidez do solo e adubação, amostras de<br />
solo devem ser enviadas a laboratórios para orientar<br />
quantidades, tipos de corretivo e adubo e épocas de<br />
sua aplicação.<br />
Correção da acidez<br />
Com recomendações provenientes da análise de<br />
solos, tipo e quantidade de calcário - este deve ser<br />
aplicado antes da aração (metade da dose) e antes da<br />
gradagem (metade restante), esparramado ao solo via<br />
aplicações manuais ou com aplicadores de calcários.<br />
Movimentação do solo<br />
Para facilitar a germinação das sementes e<br />
aprofundamento das raízes, indica-se aração e<br />
gradagem. A aração em terreno sem uso por muito<br />
tempo deve ser feita com arado de aiveca; em terrenos<br />
trabalhados, aração com 20 cm de profundidade é<br />
suficiente (segundo tipo de solo). A gradagem é feita<br />
com grade niveladora de discos à profundidade de 10<br />
cm. Essas operações podem ser feitas com<br />
equipamentos de tração animal ou tratorizada<br />
(segundo tamanho da área).<br />
Sistema de plantio/Espaçamentos/Covas<br />
Dois sistemas: feijão solteiro e feijão consorciado.<br />
Cultivo solteiro<br />
As fileiras devem estar espaçadas de 50 cm, com<br />
14-15 sementes/m; em espaçamentos de 40 cm entre<br />
fileiras deve-se usar 10-12 sementes por metro corrido<br />
(linear) no plantio em sulco. No plantio em covas,<br />
com espaçamento de 40 cm x 40 cm coloca-se 2-3<br />
sementes por cova. Dessa forma alcança-se a<br />
população de 200 mil a 240 mil plantas por hectare.<br />
Cultivo consorciado<br />
Em alguns lugares, o consorcio mais comum é<br />
feito com o milho. O milho deve ter espaçamento de<br />
1m entre fileiras e 4 plantas / metro linear enquanto<br />
o feijão é semeado nas linhas do milho com 10 plantas<br />
por metro.<br />
Primeira safra - Plantio “das águas”<br />
A ampla dispersão da cultura do feijão na variada<br />
fisiografia e diversidade climática do país faz com que<br />
seu cultivo, tanto solteiro quanto consorciado, inclusive<br />
dentro de uma mesma microrregião, seja realizado em<br />
épocas diferentes, a fim de adequar o desenvolvimento<br />
das plantas ao período que melhor satisfaça suas<br />
necessidades hídricas e, como conseqüência, diminua<br />
o risco de insucesso da cultura. A maioria dos estados<br />
105
106<br />
da Federação estabeleceu recomendações com base<br />
na melhor época de plantio do feijão das águas. No<br />
Paraná varia de 15 de julho a 15 de novembro com<br />
épocas de plantio diferenciadas, dentro desse período,<br />
para a maioria das 20 regiões estabelecidas nesse<br />
estado. No Estado de Santa Catarina, a melhor época<br />
para o plantio do feijão das águas, se estende de agosto<br />
a novembro. Nos Estados de Minas Gerais e Bahia o<br />
período vai de outubro a dezembro, em Goiás e<br />
Distrito Federal de outubro a novembro, no Mato<br />
Grosso do Sul e São Paulo de outubro a novembro e<br />
no Rio de Janeiro de setembro a novembro. Em cada<br />
um desses estados existem variações, dependendo da<br />
geografia regional, sendo necessário, portanto, um<br />
bom conhecimento, dentre outros, do regime de<br />
chuvas predominante na região ou do local de plantio.<br />
É importante salientar que, dentro das cultivares<br />
recomendadas para esse sistema de plantio, existem<br />
cultivares com características morfológicas melhor<br />
adaptadas a esse sistema.<br />
Segunda safra - Plantio “da seca”<br />
A safra da seca, tanto no sistema solteiro quanto<br />
consorciado, representa a maior área de cultivo e<br />
contribuição na produção nacional de feijão. Devido<br />
à expressiva abrangência geográfica desta safra,<br />
apresenta alta variabilidade de épocas de plantio, as<br />
quais dependem do grau de disponibilidade de água<br />
para suprir as necessidades das plantas nas diversas<br />
fases de desenvolvimento. A importância e alto risco<br />
desta safra fez com que o governo, através de seus<br />
órgãos competentes, promovesse um programa de<br />
zoneamento agro-climático para a cultura do feijão<br />
da seca, nos principais estados e regiões produtoras<br />
do país.<br />
Terceira safra – Plantio “do inverno”<br />
As primeiras experiências com a cultura do feijão<br />
de inverno, na década de 40, em Minas Gerais<br />
demonstraram a sua viabilidade de plantio nas<br />
condições ecológicas da Região Centro-Oeste e<br />
Sudeste do país. Posteriormente pesquisas realizadas<br />
pela Embrapa Arroz e Feijão constataram a viabilidade<br />
e importância econômica desta terceira época de<br />
plantio. A partir daí, sua expansão tem sido altamente<br />
expressiva, até o ponto de hoje contribuir com 10%<br />
da produção nacional. O advento da terceira safra,<br />
além de diminuir a sazonalidade da produção e do<br />
abastecimento do mercado interno de feijão,<br />
contribuiu para um grande avanço tecnológico da<br />
cultura que implica, para uma boa produção, a<br />
utilização de alta tecnologia e a administração da<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
lavoura em moldes empresariais. A produção de feijão<br />
de inverno, no sistema irrigado por aspersão, com<br />
predominância do pivô central, está concentrada nas<br />
regiões Centro-Oeste e Sudeste, nos estados de Minas<br />
Gerais, Goiás e São Paulo. Recentemente no estado<br />
da Bahia surgiram algumas áreas com muito bom<br />
potencial para a produção de feijão irrigado. Naquelas<br />
regiões a época de plantio é realizada de março a julho<br />
com algumas variações dependendo das condições de<br />
clima do local dentro de cada região.<br />
Sementes<br />
Devem ser usadas com bom poder germinativo<br />
e de boa procedência. A germinação deve estar em<br />
torno de 90%. Se possível usar sementes tratadas com<br />
fungicidas.<br />
Adubação<br />
Caso haja possibilidade de utilização de esterco<br />
para adubação orgânica ele pode ser incorporado ao<br />
terreno com antecedência de 30-40 dias. A adubação<br />
mineral, por recomendação de análise de solos, deve<br />
conter NPK: metade do adubo nitrogenado mais<br />
totalidade de adubo com fósforo e adubo com potássio<br />
devem ser aplicados ao solo (cova ou sulco) antes do<br />
plantio. Em cobertura ao lado da planta, a outra<br />
metade do adubo com nitrogênio é aplicada antes da<br />
floração. A adubação básica, pré-plantio, deve ser feita<br />
a uma profundidade de 15 cm. E a semeadura a 5 cm.<br />
Tratos culturais<br />
Controle das plantas daninhas: importante<br />
manter a lavoura a limpo até início da floração. A<br />
limpeza pode ser feita manualmente (enxada), com<br />
cultivador (tração animal ou tratorizada) ou com<br />
herbicida. As capinas (manual e cultivador) devem<br />
revolver o solo até 3 cm de profundidade.<br />
Pragas e doenças<br />
De ordinário as pragas mais comuns são:<br />
Lagarta-elasmo (mariposa), larva-alfinete (besouro) no<br />
solo. Vaquinhas (besouro), lagarta-da-folha (mariposa),<br />
acaro branco, cigarrinha verde, mosca-branca, mosca<br />
minadora nas folhas. Lagarta (mariposa) e percevejo<br />
nas vagens. Caruncho (besouro) no grão armazenado.<br />
O controle químico deve ser feito no momento em<br />
que as pragas atinjam níveis de danos econômicos.<br />
Alguns produtos químicos defensivos agrícolas<br />
indicados para controle de pragas de feijão são:<br />
cigarrinha e vaquinhas; carbaryl (Carvim 85 M, Sevin<br />
480 SC), fenitrotion ( Sumithion 500 CE). Mosca
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
branca: monocrotophos (Nuvacron 400) metamidofós<br />
(Tamaron BR). Acaro branco: triazophos (Hostathion)<br />
tetradion (Tedion 80). Lagartas: Cloropirifós (Lorsban<br />
480 BR) Carbaryl (Carvim 85 M, Sevin 480 SC),<br />
triclorfom (Diplerex 50). Percevejos; fenitrotion<br />
(Sumithion 500 CE), triclorfom (Dipterex 50).<br />
O feijoeiro é atacado por doenças causadas por<br />
fungos, bactérias, vírus e nematoide. O controle das<br />
doenças é feito com plantio de variedades resistentes,<br />
de sementes livres de doenças e de uso de produtos<br />
químicos. Pulverizações foliares protetoras com<br />
produtos químicos com base química Benomyl<br />
(Benlate), Captan (Captan), Mancozeb (Manzate,<br />
Dithane) tiofonato metílico (Cerconil) entre outros<br />
podem ser de utilidade. As doenças mais comuns são<br />
ferrugem, antracnose, oídio, mela, tombamento,<br />
mosaico dourado.<br />
Colheita<br />
A colheita do feijão pode ser feita, manualmente:<br />
plantas pós arranquio são postas a secar, com raízes<br />
para cima no solo e depois vão para o terreiro para a<br />
trilha c/ varas flexíveis. Semi mecanizada: arranquio<br />
manual ou automotriz. Mecanizada: arranquio e trilha<br />
com maquina colhedora-trilhadeira. Melhor colher o<br />
feijão pela manhã e em horas frescas; de ordinário o<br />
feijão é colhido com 18% de umidade. O ciclo de<br />
produção dentre as variedades de feijão situa-se entre<br />
70 e 95 dias.<br />
Armazenamento<br />
Para o armazenamento a curto prazo a umidade<br />
do feijão deve ficar em 14-15%; para armazenamento<br />
a longo prazo a umidade deve ficar em torno de 11%.<br />
O ambiente para estocagem deve ficar seco, fresco e<br />
escuro; se bem construídos tulhas e paióis são eficazes.<br />
Os locais de armazenamento devem estar<br />
rigorosamente limpos (livres de resíduos de colheitas<br />
anteriores) e os grãos tratados com produtos<br />
apropriados (fumigação e proteção). Para<br />
comercialização o grão é acondicionado em sacos com<br />
60 kg de peso.<br />
Aptidão climática<br />
O feijão é originário da América, tendo como<br />
centro principal a região sulmexicana e<br />
centroamericana, compreendendo o sul do México,<br />
Guatemala, Honduras e Costa Rica, e como secundária<br />
a sulamericana, abrangendo as áreas montanhosas<br />
elevadas do Equador, Peru e Bolívia.<br />
A localidade de Guanajauto, no México, a 21º10’<br />
norte e a 2100 metros de altitude, com verão chuvoso<br />
de temperaturas amenas com cerca de 20ºC, representa<br />
a condição climática típica do centro sulamericano. O<br />
balanço hídrico de Guanajauto, segundo método de<br />
Thornthwaite & Mather (1955) – 125mm acusa<br />
excedentes hídricos de 124 mm no verão, trazendo<br />
condições térmicas e hídricas favoráveis à vegetação<br />
e produção do feijão. No resto do ano prevalecem<br />
deficiências hídricas elevadas totalizando 261 mm, que<br />
condicionam ambiente de elevada aridez, favoráveis à<br />
sanidade da cultura.<br />
Exigências climáticas<br />
Pode-se considerar o feijão como cultura das<br />
mais exigentes em clima. Todavia, como é de ciclo<br />
bastante curto, apenas três meses, e como se mostra<br />
indiferente ao fotoperiodismo, possibilitando a escolha<br />
do período ou estação do ano favorável ao cultivo,<br />
não é difícil encontrar áreas climaticamente aptas à<br />
cultura comercial, na região estudada.<br />
Martin & Leonard (1949) consideram que<br />
temperaturas muito elevadas prejudicam a frutificação<br />
e as muito baixas retardam demasiadamente o<br />
desenvolvimento das plantas. A temperatura média<br />
mensal de 21ºC durante o ciclo vegetativo, seria o ideal.<br />
Com respeito ao fator hídrico considera-se que<br />
o mais importante é não faltar umidade no solo, em<br />
todo o período vegetativo desde o plantio até a<br />
maturação das vagens. A cultura é beneficiada com a<br />
diminuição das precipitações após a maturação e<br />
durante a colheita do produto. Analisando o clima e<br />
solo para o feijoeiro, acentua que o excesso de<br />
umidade, aliado a temperaturas elevadas, favorece a<br />
epifitas de moléstias de fungos e bacterianas,<br />
particularmente da antracnose e da podridão<br />
bacteriana.<br />
Nos Estados Unidos, considera-se que toda a<br />
produção comercial de feijão está restrita às áreas do<br />
país em que a temperatura média do mês mais quente,<br />
setembro, não ultrapassa 21ºC.<br />
Feijão Carioca<br />
O Feijão é, sem dúvida, o produto alimentício<br />
mais popular e conhecido no Brasil. Foi considerado,<br />
por muito tempo, o alimento básico de maior<br />
importância para a população brasileira, tanto da zona<br />
rural como das cidades.<br />
No Estado de São Paulo, um dos principais<br />
produtores do país, a cultura é ainda bastante<br />
tradicional. Atualmente existe um bom suporte<br />
tecnológico, mas até a bem pouco tempo a cultura era<br />
107
108<br />
realizada como atividade secundária, de subsistência;<br />
era intercalada ao café ou consorciada com o milho e<br />
outras culturas consideradas de maior importância.<br />
No Instituto Agronômico de Campinas, até o<br />
fim da década de 40, os trabalhos com o feijoeiro eram<br />
incipientes, limitando-se a alguns testes comparativos<br />
entre as variedades existentes na coleção. A partir dos<br />
anos 50, os estudos com o feijoeiro foram<br />
intensificados, pelas antigas Seções de Genética e de<br />
Leguminosas, quando alguns pesquisadores foram<br />
destacados para estudos mais completos.<br />
Com as primeiras informações geradas e<br />
transferidas aos agricultores interessados, sobre tratos<br />
culturais mais adequados e variedades mais produtivas,<br />
alguns produtores passaram, mesmo que timidamente,<br />
a cultivar o feijoeiro de forma exclusiva ou “solteira”,<br />
como é mais conhecida.<br />
Na década seguinte, graças ao aporte de recursos<br />
financeiros, os estudos com o feijoeiro tomaram novos<br />
rumos, tanto na área do melhoramento genético como<br />
nas de fertilidade, fitossanidade, práticas culturais e<br />
outras, com a obtenção de resultados práticos, que<br />
foram colocados à disposição dos agricultores, visando<br />
à melhoria nas condições de produção.<br />
Apesar dos esforços empreendidos, os<br />
rendimentos obtidos com as variedades existentes<br />
eram muito baixos se comparados aos de outros países<br />
produtores. Levantamentos mostravam rendimentos<br />
médios da ordem de 500 a 600 kg/ha, nas décadas de<br />
50 e 60.<br />
Até o fim dos anos 60, utilizavam-se para plantio<br />
no estado de São Paulo, principalmente, feijões dos<br />
tipos Rosinha, Bico-de-Ouro, Mulatinho, Chumbinho<br />
e Jalo, que possuíam tegumento de uma única<br />
coloração e dominavam a preferência das donas-decasa.<br />
Deve-se ressaltar que tais variedades foram<br />
cultivadas por muitos anos, sempre com baixa<br />
produtividade, por não possuírem características<br />
genéticas de resistência aos patógenos das principais<br />
moléstias do feijoeiro e, também, pelo baixo índice<br />
de adoção de tecnologia por parte dos produtores que,<br />
na sua maioria, cultivavam o feijoeiro para a própria<br />
subsistência.<br />
Em 1967, a coleção de variedades de feijão da<br />
Seção de Leguminosas do Instituto Agronômico de<br />
Campinas foi enriquecida pela introdução de novo<br />
material denominado “carioca”. Após as seleções e<br />
estudos iniciais, verificou-se que esse material<br />
apresentava bom potencial produtivo, destacando-se<br />
dos demais por suas características de alta<br />
produtividade e resistência a moléstias, especialmente<br />
ao mosaico-comum e ferrugem do feijoeiro.<br />
O material foi então incluído nos ensaios de<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
competição de cultivares de feijão instalados em<br />
diversas regiões do estado de São Paulo, nas épocas<br />
de plantio, conhecidas como “das águas” e “da seca”.<br />
Em anos agrícolas consecutivos, a nova variedade<br />
apresentou produtividade bem superior às demais que<br />
já vinham sendo utilizadas para plantio.<br />
Com ótima produtividade e outras características<br />
de boa qualidade, o novo material, que apresenta<br />
sementes com tegumento de coloração bicolor, ou<br />
seja, fundo creme com listras havana, fator que, na<br />
opinião de muitos técnicos, não seria bem aceito por<br />
produtores e donas-de-casa, pois não estavam<br />
acostumados a utilizar feijões do tipo bicolor ou<br />
mesmo rajados. O temor atingiu até alguns membros<br />
da Comissão Técnica Permanente de Leguminosas da<br />
Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, que<br />
julgavam temeroso incluir o novo material para<br />
multiplicação no Plano Estadual de Sementes.<br />
Foi necessária uma série de reuniões com<br />
apresentação dos resultados experimentais, aliás de<br />
forma incontestável, para que a Comissão aceitasse a<br />
introdução do novo cultivar para multiplicação pelo<br />
Departamento de Sementes e Mudas da CATI.<br />
Após essas reuniões, estabeleceu-se, no fim de<br />
1969, um plano de distribuição de amostras de<br />
sementes, juntamente com um folheto demonstrando<br />
as características do novo cultivar, sobretudo para<br />
agricultores da região sudoeste do estado de São Paulo,<br />
onde se concentrava cerca de 60% da produção de<br />
feijão. Além disso, foram realizadas muitas reuniões<br />
com agricultores e técnicos das regiões produtoras,<br />
visando à divulgação da nova variedade.<br />
A primeira noticia oficial sobre o novo cultivar e<br />
suas boas características foi divulgada em 1968, no<br />
Terceiro Encontro de Técnicos em Agricultura,<br />
realizado em Serra Negra (SP). Em meados de 1970,<br />
antes da publicação oficial na revista científica<br />
Bragantia, os resultados foram divulgados por um<br />
artigo do autor no Suplemento Agrícola do jornal O<br />
Estado de São Paulo, atingindo, portanto, alcance<br />
nacional.<br />
Nos anos seguintes, o novo cultivar foi incluído<br />
nos ensaios nacionais de competição de variedades,<br />
conseguindo sempre sobressair-se em produtividade,<br />
sendo indicado para plantio em outros estados<br />
brasileiros, principalmente Paraná e Minas Gerais.<br />
Também, naquela ocasião, o novo material começou<br />
a ser incluído em todos os programas de<br />
melhoramento existentes no país, em vista de suas<br />
ótimas características.<br />
Em 1977, o novo cultivar foi colocado para<br />
competir nos ensaios internacionais, coordenados pelo<br />
Centro Internacional de Agricultura Tropical - CIAT,
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
com sede na Colômbia, figurando entre os mais<br />
produtivos por diversos anos, e considerado por aquele<br />
Centro como testemunha internacional nos ensaios<br />
de avaliação nos anos de 1980 a 1983. O Carioca<br />
passou a ser incluído nos programas de melhoramento<br />
do CIAT, e foi levado para outros países.<br />
Deve-se destacar que a partir da divulgação e da<br />
multiplicação das sementes em 1969, a aceitação do<br />
novo cultivar pelos produtores e também pelas donasde-casa,<br />
foi tão grande que, por volta de 1976, já era o<br />
cultivar mais plantado e comercializado no estado. A<br />
existência de um volume considerável de sementes<br />
de um cultivar de alta produtividade e com a<br />
preferência dos produtores e donas-de-casa permitiu<br />
a criação, em 1980, do Programa de Feijão Irrigado<br />
do Estado de São Paulo, que depois se estendeu para<br />
os estados de Minas Gerais e Goiás. O cultivar Carioca<br />
passou a ser, praticamente, o único plantado nas três<br />
épocas de cultivo, incluindo-se a “de inverno”.<br />
Atualmente, a variedade mais conhecida,<br />
difundida e plantada nos principais estados produtores<br />
de feijão no Brasil é, sem dúvida, o Carioca ou uma<br />
de suas derivadas, que foram despontando nos<br />
programas de pesquisa em melhoramento genético.<br />
O lançamento do cultivar de feijão Carioca,<br />
realizado pelo Instituto Agronômico de Campinas, em<br />
1969, foi um marco histórico na evolução da cultura<br />
no País, podendo-se considerar, que o cultivo do<br />
feijoeiro no Brasil divide-se em duas fases, ou seja,<br />
antes e depois da introdução do feijão Carioca.<br />
O programa de melhoramento genético do<br />
feijoeiro, no Instituto Agronômico, teve continuidade,<br />
desenvolvendo cultivares do tipo Carioca, e nos<br />
últimos anos, colocou à disposição dos produtores<br />
novas variedades com características mais modernas,<br />
possibilidade de colheita mecânica e mais resistentes<br />
aos patógenos prevalecentes nas regiões de plantio.<br />
Destacam-se o Carioca 80, IAC Carioca Aruã, IAC<br />
Carioca Akitá, IAC Carioca Pyatá, e em 1999 foi<br />
lançado o IAC Carioca Eté, com alta produtividade e<br />
resistência às principais moléstias que atacam o<br />
feijoeiro, e ótima aceitação pelos produtores. Este ano,<br />
o Instituto Agronômico lançou uma nova variedade<br />
de feijão, o IAC-Carioca Tybatã. Recomendada para<br />
o plantio nas três épocas de cultivo e com<br />
características de alta produtividade e resistência, a<br />
novidade será benéfica para o mercado e também para<br />
o ambiente.<br />
Seguindo a tradição que os pesquisadores têm<br />
de dar nomes Tupi-Guarani às novas variedades,<br />
Tybatã significa fartura. A expectativa dos<br />
pesquisadores é que com a redução do custo de<br />
produção para o agricultor, o preço para o consumidor<br />
também sofra queda e, com isso, permita maior<br />
consumo da principal fonte de proteína vegetal na<br />
alimentação do brasileiro.<br />
Feijão com arroz<br />
Um prato tipicamente brasileiro é o nosso feijão<br />
com arroz. Tido como um prato de classes menos<br />
abastadas, o feijão com arroz representa um casamento<br />
de sucesso. Esse prato deve sua origem às raças que<br />
formam o nosso país. Os negros já apreciavam o feijão<br />
indígena e passaram a plantá-lo e a comê-lo com<br />
farinha, base da alimentação brasileira até o século<br />
XVIII. Posteriormente foi complementado com arroz<br />
branco por influência portuguesa, principalmente com<br />
Dom João VI.<br />
Qual o valor biológico dessa mistura tão<br />
nacional? O nosso organismo precisa ingerir<br />
aminoácidos essenciais, como a lisina, a metionina e a<br />
cistina. A proteína do feijão é rica em lisina, pouco<br />
presente no arroz, por sua vez, o feijão é deficiente<br />
em aminoácidos sulfurados, como a metionina e a<br />
cistina, os quais têm excelente fonte no arroz. Além<br />
disso, a mistura feijão com arroz é rica em carboidratos,<br />
o componente energético de nossa alimentação.<br />
Em um país como o Brasil, onde a população<br />
em sua maioria é de baixa renda, o ideal seria apoiar a<br />
base alimentar em feijão e arroz, obtendo assim uma<br />
boa qualidade protéica a de baixo custo.<br />
O feijão e a saúde<br />
Comer feijão pode beneficiar o coração<br />
O feijão, normalmente presente na mesa do<br />
brasileiro todos os dias, pode ajudar a reduzir os riscos<br />
de doenças do coração. Aliás, não só o feijão, mas<br />
também a ervilha e o amendoim, todos grãos de<br />
plantas leguminosas. Essa é a conclusão de um estudo<br />
apresentado na 40ª Conferência Anual da Associação<br />
Americana do Coração sobre Epidemiologia e<br />
Prevenção de Doenças Cardiovasculares, nos EUA.<br />
“Pessoas que comem feijão pelo menos quatro vezes<br />
por semana têm uma incidência 20% menor de<br />
doenças do coração do que aquelas que comem apenas<br />
uma vez por semana”, disse Lydia Bazzano, da<br />
Universidade Tulane, em Nova Orleans, EUA. A<br />
pesquisa analisou os efeitos dos grãos de leguminosas<br />
sobre vários tipos de doenças cardiovasculares, como<br />
enfermidades cardíacas e derrames. Um grupo de<br />
11.924 pessoas foi avaliado por 19 anos. Os<br />
participantes tinham idades entre 25 e 74 anos e não<br />
apresentavam nenhum tipo de doença do coração. Eles<br />
109
110<br />
foram divididos em quatro grupos: os que comiam<br />
feijão menos de uma vez por semana, uma vez por<br />
semana, duas a três vezes por semana e, no mínimo,<br />
quatro vezes por semana. Bazzano diz acreditar que<br />
esse resultado esteja associado ao tipo de proteína que<br />
existe no feijão e citou como exemplo estudos que<br />
mostram que proteínas de soja reduzem os níveis de<br />
colesterol total. O estudo envolvendo os possíveis<br />
benefícios do feijão traz informações interessantes,<br />
mas outros fatores como atividade física ou diabetes<br />
podem afetar os resultados da pesquisa.<br />
Feijão x câncer<br />
Por sua riqueza em fibras solúveis e vitaminas<br />
antioxidantes, o feijão é um alimento que deve ser<br />
privilegiado para a prevenção dos cânceres intestinais.<br />
Fatores alimentares são considerados como meios de<br />
diminuir o risco de doenças comuns na população<br />
ocidental, como por exemplo o câncer de mama,<br />
próstata, endométrio e vários outros.<br />
Além de vitaminas e minerais, alguns compostos<br />
biologicamente ativos, chamados fitoquímicos, têm<br />
sido identificados em plantas comestíveis e podem<br />
ser responsáveis pela redução dos riscos de<br />
desenvolvimento de uma dessas doenças. Os<br />
fitoquímicos mais estudados atualmente são os<br />
fitoestrógenos, especialmente como uma forma<br />
alternativa para a terapia de reposição hormonal<br />
durante a menopausa.<br />
Os fitoestrógenos são substâncias ambientais<br />
naturais (produzidas pelas plantas), que apresentam<br />
uma estrutura química diferente dos estrógenos, mas<br />
que atuam da mesma maneira. São encontrados<br />
principalmente em leguminosas como: Soja, feijões,<br />
grãos e brotos. A descoberta dos fitoestrógenos vem<br />
da observação da baixa taxa de câncer de mama e<br />
Feijões carioca, bolinha, rajado, rosinha e jalo<br />
Porção de 30g (2 colheres de sopa) %VD(*)<br />
Valor Calórico 100 kcal 4%<br />
Carboidratos 16g 4%<br />
Proteínas 7g 14%<br />
Gorduras totais 0g 0%<br />
Gorduras saturadas 0g 0%<br />
Colesterol 0mg 0%<br />
Fibra alimentar 8g 27%<br />
Cálcio 31mg 4%<br />
Ferro 2mg 14%<br />
Sódio 0mg 0%<br />
* Valores diários de referência com base em uma dieta<br />
de 2500 calorias.<br />
Fonte: ANVISA, ENDEF, <strong>Jean</strong>, Franco e USDA<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
próstata, e também da taxa pouco elevada de sintomas<br />
ligados à menopausa, nas populações asiáticas<br />
consumidores de soja.<br />
Feijão transgênico<br />
A melhora da feijão por métodos transgênicos é<br />
uma pesquisa importante. No Brasil, a CTNBio<br />
(Comissão Técnica Nacional de Biossegurança)<br />
autorizou recentemente a Embrapa a plantar<br />
experimentalmente um novo tipo de feijão<br />
geneticamente modificado, num sítio localizado em<br />
Goiânia. Depois de quase nove anos em<br />
desenvolvimento, a linhagem testada (8/4MI) é imune<br />
ao vírus que causa uma das principais doenças no<br />
feijão, o mosaico dourado. Segundo o pesquisador da<br />
Embrapa de Recursos Genéticos e Biotecnologia,<br />
Francisco Aragão, a linhagem contendo genes do vírus<br />
agora será cruzada com outras variedades de feijão,<br />
como o jalo, o carioca e o preto. “O passo seguinte é<br />
a obtenção de linhagens puras desses cruzamentos,<br />
que poderão ser comercializadas”. O feijão foi<br />
transformado com genes defeituosos da proteína que<br />
copia o DNA do vírus. A planta passa a produzir uma<br />
proteína chamada “preguiçosa”, que se liga ao DNA<br />
do vírus, mas não o multiplica. Os primeiros resultados<br />
virão em quatro meses, mas a pesquisa não tem prazo<br />
para conclusão.<br />
Feijão e nutrição<br />
Informação nutricional<br />
Chamado pelos italianos de “carne dos pobres”,<br />
o feijão é um importante componente da nossa<br />
alimentação, pois é rico em proteínas, não contém<br />
colesterol, fornece as vitaminas B2 e B5, do complexo<br />
Feijão preto<br />
Porção de 30g (2 colheres de sopa) %VD(*)<br />
Valor Calórico 100 kcal 4%<br />
Carboidratos 19g 5%<br />
Proteínas 6g 14%<br />
Gorduras totais 0,5g 1%<br />
Gorduras saturadas 0g 0%<br />
Colesterol 0mg 0%<br />
Fibra alimentar 8g 27%<br />
Cálcio 43mg 4%<br />
Ferro 1mg 7%<br />
Sódio 50mg 2%<br />
* Valores diários de referência com base em uma dieta<br />
de 2500 calorias.<br />
Fonte: ANVISA, ENDEF, <strong>Jean</strong>, Franco e USDA
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
B, e sais minerais indispensáveis à vida, como o ferro,<br />
sódio e potássio.<br />
O feijão contém cerca de 22 a 26% de proteína<br />
vegetal, 62 a 67% de carboidratos, 3,8 a 4,5% de cinzas,<br />
1,0 a 2,0% de lipídios, 3,8 a 5,7% de fibra bruta,<br />
Feijão e micronutrientes na alimentação brasileira<br />
Analisando a dieta de grupos da população<br />
brasileira, com maior ênfase nos minerais, a Prof a<br />
Dr a Silvia Maria Franciscato Cozzolino, do<br />
Laboratório de Nutrição e Minerais da Faculdade<br />
de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e<br />
Presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação<br />
e Nutrição, tem buscado elaborar um guia de<br />
alimentação adequado para a população brasileira.<br />
A pesquisa quer relacionar a dieta, através de análise<br />
nos alimentos consumidos, com o estado nutricional<br />
das pessoas.<br />
Segundo Silvia Cozzolino, os atuais estudos de<br />
nutrição avaliam a dieta por tabela de composição.<br />
Mas os alimentos variam, principalmente com<br />
relação a esses micronutrientes, dependendo do solo,<br />
do clima, da época da colheita e de outros fatores.<br />
O feijão é uma importante fonte de proteína<br />
e de ferro. Cultivado na região de São Paulo, contém<br />
muito menos selênio do que o feijão cultivado na<br />
região sul ou nordeste, onde o solo é mais rico deste<br />
mineral. “A diferença não é tão grande, a ponto de<br />
interferir na nutrição, porque existe um lado genético<br />
do grão que é responsável pela incorporação de<br />
determinados nutrientes”, explica Silvia. Essa<br />
diferença é encontrada principalmente em minerais<br />
e vitaminas. Além disso, o modo de preparo do<br />
alimento pode ocasionar perdas.<br />
O trabalho de pesquisa é feito com pequenos<br />
grupos da população considerados de maior risco.<br />
São exames para saber qual a quantidade de<br />
carboidratos, proteínas, fibras e minerais que são<br />
consumidos, analisando uma fração idêntica de tudo<br />
que é consumido num dia por essas pessoas.<br />
A dieta usual tem um excesso de gordura que<br />
é uma caloria vazia. Isso leva a uma deficiência de<br />
micronutrientes, principalmente minerais e<br />
vitaminas. “Dentre esses, o que tem mais deficiência<br />
na nossa dieta é o cálcio. O ferro é mal absorvido,<br />
apesar de se apresentar dentro da dieta. O magnésio<br />
está no limite mínimo. O zinco e o selênio, que são<br />
dois minerais muito importantes para o metabolismo<br />
do organismo, também estão limítrofes na região<br />
sudeste”. A recomendação é de que exista uma<br />
ingestão maior de cálcio e uma suplementação de<br />
colesterina, caseína vegetal, globulina, ácido cítrico,<br />
sacarose, além de conter teor relativamente alto de<br />
fibra alimentar — que ajuda a diminuir o nível do LDL<br />
- colesterol, no sangue.<br />
O feijão também é uma excelente fonte de<br />
ferro, que depende da biodisponibilidade do<br />
organismo ser aproveitado. Para Silvia Cozzolino, a<br />
expressão comumente utilizada de que “sempre<br />
consome quem não precisa” não é real, por exemplo,<br />
com relação ao ferro. Estudos mostram que sua<br />
deficiência, de outros minerais e vitaminas, conhecida<br />
como “fome oculta”, já atinge jovens da classe média<br />
e alta.<br />
Para Silvia Cozzolino, a fortificação de<br />
alimentos com o acréscimo de cálcio e ferro, por<br />
exemplo, seria o ideal. A suplementação de vitaminas<br />
e minerais através de medicamentos não é adequada<br />
porque, muitas vezes, pode causar uma interação<br />
entre os nutrientes que poderia interferir no<br />
aproveitamento.<br />
Por esses micronutrientes estarem num limite<br />
mínimo, qualquer desequilíbrio do organismo pode<br />
provocar uma maior suscetibilidade a uma série de<br />
problemas e agravamento de determinadas<br />
patologias. Por esse motivo, os pesquisadores estão<br />
realizando estudos também em populações que<br />
tenham algum tipo de doença, como no caso dos<br />
diabéticos que, por todas as restrições alimentares e<br />
pelas alterações que têm no metabolismo, também<br />
têm uma alteração no metabolismo do zinco. “E<br />
alguns sintomas que ocorrem com o agravamento<br />
da doença poderiam ter uma relação com a<br />
deficiência de zinco, como problemas<br />
cardiovasculares”, diz Sílvia.<br />
A pesquisadora acredita que se o brasileiro<br />
continuar a consumir uma dieta segundo seu hábito<br />
alimentar, baseada no arroz, no feijão, um pouco de<br />
carne, verdura e fruta, ele estaria consumindo a<br />
quantidade adequada e se alimentando bem. A<br />
recomendação é de que se aumentasse a quantidade<br />
de leite ou derivados, sem aumentar a quantidade de<br />
gordura, utilizando a ricota, o queijo minas ou o leite<br />
desnatado.<br />
A carne, mesmo em pequena quantidade,<br />
facilita a absorção do ferro e do zinco. O leite não<br />
deve ser consumido numa refeição principal porque<br />
prejudica a absorção do ferro. Já a vitamina C contida<br />
na laranja ajuda o aproveitamento do ferro numa<br />
refeição principal.<br />
111
112<br />
Feijão branco<br />
Porção de 30g (2 colheres de sopa) %VD(*)<br />
Valor Calórico 110 kcal 4%<br />
Carboidratos 18g 4%<br />
Proteínas 8g 16%<br />
Gorduras totais 0g 0%<br />
Gorduras saturadas 0g 0%<br />
Colesterol 0mg 0%<br />
Fibra alimentar 0g 0%<br />
Cálcio 24mg 2%<br />
Ferro 2mg 12%<br />
Sódio 0mg 0%<br />
* Valores diários de referência com base em uma dieta<br />
de 2500 calorias. Fonte: ANVISA, ENDEF e USDA<br />
vitaminas hidrossolúveis como a tiamina, a riboflavina,<br />
a niacina e a folacina, porém é pobre em ácido<br />
ascórbico (vitamina A) e aminoácidos sulfurados.<br />
Uma porção de 170 g de feijão com um conteúdo<br />
de 65% de umidade equivale a 10% das necessidades<br />
diárias de cálcio e zinco e 20% das de fósforo,<br />
magnésio e manganês. Essa mesma porção de feijão<br />
supre 29% e 55% das necessidades diárias de,<br />
respectivamente, mulheres e homens.<br />
Segundo o ENDEF (Estudo Nacional de Despesa<br />
Familiar), 18,5% do consumo de proteínas no País<br />
é suprido pelo feijão; e no Nordeste brasileiro, 34% do<br />
ferro consumido pela população advém do feijão.<br />
Informação nutricional<br />
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Arroz<br />
Composição média de arroz cru (100g)<br />
Carboidratos 79,9g<br />
Proteínas 7,2g<br />
Lipídios 0,6g<br />
Colesterol 0mg<br />
Fósforo 104g<br />
Cálcio 9mg<br />
Ferro 1,3mg<br />
Em 100g de arroz cozido, 109,7 calorias<br />
Valores referentes à média de amostragem de grãos<br />
longo fino. Fonte: IBGE<br />
Fontes: EMBRAPA, IBGE, ANVISA, ENDEF,<br />
USDA,Universidade Estadual de Campinas, Jornal O<br />
Estado de São Paulo, Universidade Federal de São Paulo,<br />
Instituto Agronômico de Campinas, Centro Internacional de<br />
Agricultura Tropical, Secretaria de Agricultura e Abastecimento<br />
de São Paulo, EMATER, Atlas de Zoneamento<br />
Agroclimático do Estado de Minas Gerais,<br />
Zoneamento Agrícola do Estado de São Paulo, Secretaria de<br />
Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia,<br />
Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e<br />
Biotecnologia.<br />
Dossiê realizado por Ricardo Augusto da Silva Ferreira
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Notícias da Profissão<br />
As Diretrizes Curriculares Nacionais e as<br />
mudanças estruturais no ensino de Nutrição<br />
Iº Fórum Nacional sobre a Construção da Identidade do Nutricionista,<br />
2 a 4 de julho de 2002 - Rio de Janeiro<br />
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais –<br />
DCN, estabelecidas pelo MEC para os cursos de<br />
graduação em Nutrição (CNE/CES/MEC, 2001),<br />
motivam profundas mudanças, seja para as instituições<br />
da rede pública ou privada. Estas Diretrizes fornecem<br />
as bases filosóficas, conceituais, e metodológicas para<br />
que se construa, no período de formação, um conjunto<br />
de habilidades e competências, estruturando o<br />
conhecimento nesta área do saber. “Ao se pensar uma<br />
disciplina deve-se considerar sua flexibilidade em propiciar ao<br />
aluno o constante trânsito entre teoria e prática, prática e teoria.<br />
Além disto, seu conteúdo deve ter inter-relação de fato as demais<br />
disciplinas. Os aspectos de relação interpessoal também poderiam<br />
ser valorizados na construção da formação integral do aluno,<br />
contribuindo assim na identificação deste com a carreira e,<br />
conseqüentemente, levando ao fortalecimento de sua postura<br />
profissional. A relação formal clássica do professor, que transmite<br />
conhecimentos para alunos aptos a recebê-los como pacientes,<br />
não condiz com o perfil crítico desejado. As diretrizes apontam<br />
para uma metodologia que garanta ao aluno desenvolver<br />
capacidade para lidar com situações reais, buscando sua<br />
transformação, viver a universidade pensando seu papel no<br />
mundo extra-muros”, comenta Lucia Andrade,<br />
presidente do CRN-4, professora da UFRJ e<br />
participante da Comissão de Reestruturação Curricular<br />
do Instituto de Nutrição.<br />
Esse repensar do ensino, pelo que se configura<br />
pelas DCN, deverá reverter o desequilíbrio entre o<br />
investimento na base teórica e prática – um dado muito<br />
apontado pelo egresso que entra em contato com o<br />
mercado de trabalho e pelos próprios alunos. “Como<br />
os conteúdos das disciplinas não estão articulados,<br />
apesar de bastante atualizados, o aluno não percebe a<br />
aplicabilidade do que lhe é ensinado em sala de aula”,<br />
explica Lucia, citando a disciplina pela qual é<br />
responsável - “Para o discente, determinados<br />
conteúdos da disciplina de administração de serviços<br />
parece algo dispensável, já que ele não entende para<br />
que serve. Saber sobre custos, por exemplo, não se<br />
resume às técnicas para seu controle, mas se refere<br />
também à capacidade de relacionar esse dado à análise<br />
da política econômica atual e suas conseqüências no<br />
processo de tabelamento de preços, disponibilidade<br />
de alimentos, acesso da população a estes produtos,<br />
relação da alta do dólar com a cesta básica e tudo<br />
mais”. Em seu trabalho junto aos alunos do período<br />
de estágio, Lucia observa que é neste momento que<br />
começa a fazer sentido para eles os vários conteúdos<br />
ministrados, o que os obriga a um resgate de tudo<br />
que já foi visto anteriormente nas disciplinas. Uma<br />
constatação tardia de que muitas aulas poderiam ter<br />
sido melhor aproveitadas se tivessem se dado conta<br />
de que o que estava sendo apresentado seria realmente<br />
útil um dia.<br />
Sendo assim, uma dinâmica mais equilibrada<br />
entre o que é ministrado em sala de aula e o que é<br />
vivenciado em outras situações, como estágio e<br />
pesquisa, enriqueceria o aprendizado do graduando.<br />
Outro caminho importante, segundo Lucia, seria a<br />
constante troca de informações entre professores de<br />
períodos diferenciados.<br />
Falando ainda sobre o perfil do nutricionista que<br />
se quer, Lucia considera relevante dividir, com os<br />
formadores, o momento de apreensão gerado pela<br />
abertura, em ritmo cada vez maior, de novos cursos<br />
de Nutrição. Sua preocupação é que o atendimento a<br />
uma demanda potencial de formação de nível superior<br />
venha a priorizar a preparação de mão-de-obra para<br />
suprir necessidades do mercado - cursos voltados para<br />
a empregabilidade e não para as demandas da<br />
113
114 Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
sociedade. “Esta tendência agravará ainda mais vários<br />
problemas, como a pouca experiência na área de saúde<br />
pública, não identificação e distaciamento da realidade<br />
da população das diversas regiões. Os Conselhos<br />
Regionais de Nutricionistas observam que, quando<br />
se gera oportunidade de emprego no interior, não há<br />
profissionais para atender ao campo da Nutrição. Ou<br />
seja, o período de formação deveria considerar a<br />
proposta de promover saúde, levando em conta as<br />
relações sócio-políticas deste país, com seus contrastes<br />
geradores de grandes problemas de saúde pública,<br />
como a dualidade desnutrição/obesidade. Precisamos,<br />
portanto, estar preparados para intervir nesta realidade,<br />
mas não sob a ótica de atender apenas às demandas<br />
dos grandes centros”, pondera Lucia.<br />
As conseqüências de todas estas mudanças<br />
incidirão sobre a formação técnica e identidade do<br />
profissional. Daí a iniciativa do Instituto de Nutrição<br />
Josué de Castro, da UFRJ, e Conselho Regional de<br />
Nutricionistas-4a Região de criar um espaço que<br />
permitisse a discussão da reforma curricular.<br />
Promovido em julho deste ano, o I Fórum Nacional<br />
sobre a Construção da Identidade do Nutricionista<br />
teve como tema O projeto pedagógico e o impacto<br />
das Diretrizes Curriculares, reunindo profissionais de<br />
ensino e pesquisa na Nutrição, professores e cientistas<br />
de áreas como história, sociologia e pedagogia, que<br />
trabalham sobre métodos didáticos. “Uma mudança<br />
curricular como esta dificilmente se faz sozinho. Nossa<br />
intenção foi contribuir com instrumentos didáticopedagógicos,<br />
já que a Comissão de Reestruturação<br />
Curricular formada na UFRJ avaliou de forma muito<br />
positiva os trabalhos que realizou até agora, os quais<br />
contaram com a consultoria de especialistas da área<br />
de pedagogia”.<br />
Instituída em agosto de 1999, a Comissão<br />
ampliou suas discussões para todos os docentes e<br />
discentes, buscando a adequação de conteúdos, ou seja,<br />
inserção e exclusão de conteúdos curriculares e<br />
redistribuição da carga horária. Em continuidade, ao<br />
processo vêm sendo realizadas oficinas e workshops<br />
sobre as metodologias de ensino que favorecem uma<br />
maior integração do eixo docente-discente. Como uma<br />
das ações adotadas, o Instituto de Nutrição, em<br />
parceria com o Núcleo de Tecnologia Educacional<br />
para a Saúde (NUTES/UFRJ), promoveu o I<br />
Workshop sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais<br />
para os Cursos de Graduação em Nutrição, cujos<br />
resultados foram publicados no número 4 - volume<br />
II, da revista Cadernos de Currículo e Ensino do<br />
Laboratório de Currículo e Ensino do NUTES.<br />
A partir da avaliação do contexto interno e<br />
externo à Instituição, a Comissão de Reestruturação<br />
Curricular apontou deficiências que, de um modo<br />
geral, são comuns a grande parte das Instituições de<br />
Ensino Superior brasileiras: sensível desarticulação<br />
entre os ciclos básico e profissionalizante do curso;<br />
desequilíbrio entre a carga horária teórica e prática,<br />
com acentuado privilegiamento da primeira; inserção<br />
tardia do discente na prática profissional; metodologia<br />
desenvolvida que reforça a atitude passiva no discente;<br />
rigidez da grade curricular e, conseqüentemente, do<br />
discente que não dispõe de horários previstos para<br />
atividades acadêmicas extraclasse, bem como a<br />
inserção de disciplinas optativas e eletivas que visam<br />
à formação de um profissional sintonizado com as<br />
exigências da sociedade e com o acelerado<br />
desenvolvimento técnico-científico.<br />
Como próximo passo, a Comissão irá<br />
instrumentalizar os docentes para o desenvolvimento<br />
de métodos didáticos, em consonância com uma sólida<br />
formação do graduado, a fim de que venha a exercer<br />
com competência, autonomia e liberdade as suas<br />
atribuições profissionais, bem como a corporificação<br />
do objetivo de implementação de uma metodologia<br />
pedagógica que leve o aluno a desenvolver em<br />
plenitude as competências e habilidades preconizadas<br />
nas Diretrizes Curriculares Nacionais.<br />
Composta pela coordenadora de Graduação, Prof a<br />
Marta Maria Souza Santos, representantes dos três<br />
departamentos que compõem o Instituto de Nutrição,<br />
representante dos alunos e representante do Conselho<br />
Regional de Nutricionistas da 4ª Região – CRN-4, a<br />
Comissão de Reestruturação Curricular tem, em sua<br />
origem, a proposta de ser um organismo participativo.<br />
O convite para que o CRN-4 integrasse o grupo veio<br />
logo que se iniciaram os trabalhos. “A ocasião em que<br />
recebemos este convite foi muito oportuna, porque o<br />
Conselho estava secretariando as reuniões do Colegiado<br />
dos Conselhos Profissionais do Estado do Rio de<br />
Janeiro, que tinha em sua pauta questões relacionadas<br />
aos cursos seqüenciais. Naturalmente, dentro da<br />
universidade este tema também estava presente. Assim,<br />
pude compartilhar a visão de outras categorias e<br />
sedimentar o entendimento de que, por acompanhar a<br />
atuação do profissional, o CRN-4 não deveria ficar à<br />
parte desse processo”. Lucia esclarece que a abordagem<br />
de assuntos relacionados à atuação profissional, como<br />
legislação e Código de Ética, tem muito a contribuir<br />
para a formação, dado que estas legislações foram<br />
criadas como parâmetro de uma prática adequada. Para<br />
ela, este contato da entidade com as instituições de<br />
ensino também facilitaria uma aproximação com o<br />
futuro nutricionista e seu conseqüentemente engajamento<br />
nos diversos programas de valorização<br />
profissional.
Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Fórum democratiza as discussões<br />
Realizado entre os dias 2 e 4 de julho de 2002, o I<br />
Fórum Nacional sobre a Construção da Identidade<br />
do Nutricionista teve como tema “O Projeto<br />
Pedagógico e o Impacto das Diretrizes Curriculares”.<br />
Seu objetivo foi contribuir para a reflexão acerca das<br />
características, contexto de criação, conteúdo e<br />
implicações das novas Diretrizes Curriculares<br />
Nacionais para a formação, identidade, papel social<br />
e valorização do nutricionista. Constitui um espaço<br />
democrático de discussão e tomada de conclusões e<br />
recomendações concernentes ao campo do ensino<br />
de Nutrição, trazendo a público o conhecimento e o<br />
referencial teórico de especialistas que dominam<br />
áreas estratégicas do tema ensino de Nutrição no<br />
país. Iniciativa da UFRJ e CRN-4, o evento contou<br />
com a presença dos seguintes representantes e<br />
palestrantes:<br />
Composição mesa de abertura:<br />
— Prof. Sérgio Fracalanzza<br />
Decano do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ<br />
— Profª Andréa Ramalho<br />
Diretora do Instituto de Nutrição/UFRJ<br />
— Profª. Lucia Andrade<br />
Presidente do CRN-4<br />
— Rosana Nascimento<br />
Presidente do Conselho Federal de Nutricionistas<br />
— Profa Maysa Beltrame Pedroso<br />
Representante da FNN<br />
— Profa Maria Luiza Sampaio Banduk,<br />
Representante da ASBRAN<br />
— Renata Ferreira, aluna da UFRJ,<br />
Representando o ENEN<br />
Conferência:<br />
Política atual de ensino superior<br />
— Prof. Roberto Leher<br />
Faculdade de Educação da UFRJ; ex-presidente<br />
da ANDES<br />
Mesa redonda:<br />
Panorama da atuação profissional:<br />
§ Nas distintas áreas de trabalho do nutricionista<br />
no Brasil.<br />
Profa. Sandra Chemin - Conselho Federal de<br />
Nutricionistas<br />
§ Nas distintas áreas de trabalho do nutricionista,<br />
no âmbito da jurisdição do Conselho Regional de<br />
Nutricionistas - 4ª Região (CRN-4)<br />
— Profª Lucia Andrade – Presidente do CRN-4<br />
Valorização da identidade profissional<br />
— Profª Marise Ramos<br />
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ<br />
— Prof. André Pereira Neto<br />
Pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/<br />
FIOCRUZ<br />
— Profª Eronides da Silva Lima<br />
Instituto de Nutrição/UFRJ<br />
Diretrizes Curriculares Nacionais para Nutrição<br />
Contexto de formulação<br />
Estrutura e características do modelo de<br />
organização curricular aprovado pelo Conselho<br />
Nacional de Educação<br />
Implicações para a prática curricular e pedagógica,<br />
e condições de implantação.<br />
— Prof. Gilberto Paixão - Universidade Federal de<br />
Viçosa (UFV); membro da Comissão de<br />
Especialistas – MEC/SESu<br />
— Prof. Camilo Adalton Mariano da Silva -<br />
Membro da Comissão de Avaliação de Cursos<br />
de Nutrição, instituída pelo Conselho Estadual<br />
de Educação de Minas Gerais<br />
Questões para as Diretrizes Curriculares<br />
§ Problemas concretos, dinâmica e movimentos de<br />
mudança nos cursos de Nutrição, com base nas<br />
Diretrizes Curriculares<br />
— Profª Sandra Maria Chaves<br />
Escola de Nutrição/ Universidade Federal da<br />
Bahia (UFBA)<br />
A função docente, o egresso dos cursos de<br />
Nutrição e a realidade da pesquisa, da extensão e<br />
dos serviços<br />
— Profª Rosana Magalhães<br />
ENSP/FIOCRUZ<br />
— Nutricionista Rosangela Banharo<br />
Alimentação Coletiva/INFOGLOBO<br />
— Nutricionista Ana Lucia Cunha<br />
Nutrição Clínica/Consultório<br />
115
116 Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />
Sessão de palestras<br />
Etapas do projeto pedagógico<br />
— Profª Victoria Maria Brant Ribeiro – Núcleo<br />
de Tecnologia Educacional para a Saúde/UFRJ<br />
A experiência da UFRJ na reforma curricular do curso<br />
de graduação em Nutrição<br />
— Profª Marta Maria Antonieta de Souza Santos<br />
Instituto de Nutrição/UFRJ<br />
— Profª Victoria Maria Brant Ribeiro<br />
NUTES/UFRJ<br />
§ Determinantes da expansão dos cursos de nível<br />
superior no país - Núcleo de Pesquisas sobre<br />
Ensino Superior/USP<br />
§ A expansão dos cursos de Nutrição no Brasil<br />
— Profª Alcina Saldanha da Gama – Faculdade<br />
Arthur Sá Earp Neto/Petrópolis<br />
Encerramento:<br />
Criação da Comissão Nacional Permanente de<br />
Ensino em Nutrição.<br />
A mesa fez a leitura da proposta da Presidente da<br />
Asbran, Albaneide Peixinho, considerando que esta<br />
comissão fique ligada à Asbran e incorpore todas as<br />
demandas da área de ensino. A deliberação quanto à<br />
composição desta comissão deverá ocorrer no<br />
próximo ENAEN - Encontro Nacional de<br />
Entidades de Nutrição, previsto para ocorrer ainda<br />
este ano.<br />
O Fórum contou com o apoio do Conselho Federal<br />
de Nutricionistas -CFN, Conselhos Regionais de<br />
Nutricionistas, Associação Brasileira de Nutrição –<br />
ASBRAN, Associação de Nutrição do Estado do Rio<br />
de Janeiro – ANERJ, Federação Nacional de<br />
Nutricionistas – FNN, Sindicato dos Nutricionistas<br />
do Estado do Rio de Janeiro – SINERJ, Sindicato dos<br />
Nutricionistas do Estado de São Paulo – SINESP e<br />
Executiva Nacional de Estudantes de Nutrição –<br />
ENEN. A organização do evento foi resultado de uma<br />
parceria com o Conselho Regional de Relações<br />
Públicas – CONRERP.<br />
As informações compiladas com base nas palestras e materiais de apoio, apresentados no I Fórum<br />
Nacional sobre a Construção da Identidade do Nutricionista - “O Projeto Pedagógico e o Impacto<br />
das Diretrizes Curriculares”, estarão disponíveis para os interessados, a partir da segunda semana<br />
de setembro. Como desdobramento desta iniciativa, serão realizados, pelo CRN-4, seminários<br />
regionais nos estados de sua jurisdição: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.<br />
Maiores informações pelo telefone (21) 2262-8678.
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
Normas de publicação Nutrição Brasil<br />
A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação<br />
e divulgação de artigos científicos das áreas<br />
relacionadas à Nutrição.<br />
Os artigos publicados em Nutrição Brasil<br />
poderão também ser publicados na versão eletrônica<br />
da revista (Internet) assim como em outros meios<br />
eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no<br />
futuro, sendo que pela publicação na revista os autores<br />
já aceitem estas condições.<br />
A revista Nutrição Brasil assume o “estilo<br />
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts<br />
submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;<br />
336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê<br />
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com<br />
as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o<br />
texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes<br />
no site do International Committee of Medical Journal<br />
Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada<br />
de outubro de 2001.<br />
Os autores que desejarem colaborar em alguma<br />
das seções da revista podem enviar sua contribuição<br />
(em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação,<br />
sendo que fica entendido que isto não implica na<br />
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir<br />
trocas ou retorno de acordo com a circunstância,<br />
realizar modificações nos textos recebidos; neste<br />
último caso não se alterará o conteúdo científico,<br />
limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />
1. Editorial<br />
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê<br />
Científico, ou por um de seus membros.<br />
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas<br />
formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte<br />
English Times (Times Roman) com todas as<br />
formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais<br />
que dez referências.<br />
2. Artigos originais<br />
Serão considerados para publicação, aqueles não<br />
publicados anteriormente, tampouco remetidos a<br />
outras publicações, que versem sobre as áreas<br />
relacionadas à Nutrição.<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />
12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />
Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />
texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no<br />
formato Excel/Word.<br />
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras,<br />
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />
editados em Power-Point, Excel, etc.<br />
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50<br />
referências bibliográficas.<br />
Os critérios que valorizarão a aceitação dos<br />
trabalhos serão o de rigor metodológico científico,<br />
novidade, originalidade, concisão da exposição, assim<br />
como a qualidade literária do texto.<br />
3. Revisão<br />
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das<br />
áreas relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê<br />
Científico, bem como remetida espontaneamente pelo<br />
autor, cujo interesse e atualidade interessem a<br />
publicação na revista.<br />
Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o<br />
mesmo dos artigos originais.<br />
4. Comunicação breve<br />
Esta seção permitirá a publicação de artigos<br />
curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores<br />
apresentem observações, resultados iniciais de estudos<br />
em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos<br />
já editados na revista, com condições de argumentação<br />
mais extensa que na seção de cartas do leitor.<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />
117
118<br />
três páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />
Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />
texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em<br />
Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou<br />
que possam ser editados em Power Point, Excel, etc<br />
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15<br />
referências bibliográficas.<br />
5. Resumos<br />
Nesta seção serão publicados resumos de<br />
trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras<br />
revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive<br />
traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />
6. Correspondência<br />
Esta seção publicará correspondência recebida,<br />
sem que necessariamente haja relação com artigos<br />
publicados, porém relacionados à linha editorial da<br />
revista.<br />
Caso estejam relacionados a artigos<br />
anteriormente publicados, será enviada ao autor do<br />
artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.<br />
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com<br />
as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem<br />
tabelas ou figuras.<br />
Preparação do original<br />
1. Normas gerais<br />
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados<br />
em processador de texto (Word, Wordperfect, etc),<br />
em página de formato A4, formatado da seguinte<br />
maneira: fonte Times Roman (English Times)<br />
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais<br />
como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />
1.2 Numere as tabelas em romano, com as<br />
legendas para cada tabela junto à mesma.<br />
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de<br />
acordo com as especificações anteriores.<br />
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais<br />
coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica –<br />
300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados<br />
e nos formatos .tif ou .gif.<br />
1.4 As seções dos artigos originais são estas:<br />
resumo, introdução, material e métodos, resultados,<br />
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser<br />
o responsável pela tradução do resumo para o inglês<br />
e também das palavras-chave (key-words). O envio<br />
deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,<br />
zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos<br />
enviados por correio em mídia magnética (disquetes,<br />
etc) anexar uma cópia impressa e identificar com<br />
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo,<br />
data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como<br />
o processador de texto utilizado e outros programas<br />
e sistemas.<br />
2. Página de apresentação<br />
A primeira página do artigo apresentará as<br />
seguintes informações:<br />
• Título em português e inglês.<br />
• Nome completo dos autores, com a<br />
qualificação curricular e títulos acadêmicos.<br />
• Local de trabalho dos autores.<br />
•Autor que se responsabiliza pela correspondência,<br />
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />
• Título abreviado do artigo, com não mais de<br />
40 toques, para paginação.<br />
• As fontes de contribuição ao artigo, tais como<br />
equipe, aparelhos, etc.<br />
3. Autoria<br />
Todas as pessoas consignadas como autores<br />
devem ter participado do trabalho o suficiente para<br />
assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />
O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />
contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados;<br />
b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma<br />
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a<br />
aprovação definitiva da versão que será publicada.<br />
Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />
a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção<br />
de recursos ou na coleta de dados não justifica a<br />
participação como autor. A supervisão geral do grupo<br />
de pesquisa também não é suficiente.<br />
4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />
Key-words)<br />
Na segunda página deverá conter um resumo<br />
(com no máximo 150 palavras para resumos não<br />
estruturados e 200 palavras para os estruturados),<br />
seguido da versão em inglês.<br />
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />
informações:<br />
• Objetivos do estudo.<br />
• Procedimentos básicos empregados<br />
(amostragem, metodologia, análise).<br />
• Descobertas principais do estudo (dados<br />
concretos e estatísticos).<br />
• Conclusão do estudo, destacando os aspectos<br />
de maior novidade.<br />
Em seguida os autores deverão indicar quatro<br />
palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a<br />
indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os<br />
termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias<br />
médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />
Medicus ou, no caso de termos recentes que não<br />
figurem no MeSH, os termos atuais).<br />
5. Agradecimentos<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />
auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />
governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />
devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />
referências, em uma secção especial.<br />
6. Referências<br />
As referências bibliográficas devem seguir o<br />
estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes.<br />
As referências bibliográficas devem ser numeradas por<br />
numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em<br />
ordem na qual aparecem no texto, seguindo as<br />
seguintes normas:<br />
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,<br />
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo,<br />
ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo),<br />
ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local<br />
da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano<br />
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />
Exemplo:<br />
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In:<br />
Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology,<br />
diagnosis and management. 2 nd ed. New-York: Raven<br />
press; 1995. p.465-78.<br />
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)<br />
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos<br />
nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título<br />
da revista ano de publicação seguido de ponto e<br />
vírgula, número do volume seguido de dois pontos,<br />
páginas inicial e final, pon<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />
auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />
governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />
devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />
referências, em uma secção especial.<br />
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />
<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />
Atlantica Editora<br />
Rua Conde Lages, 27 - Glória<br />
20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />
Tel: (21) 2221 4164<br />
E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br<br />
119
AGOSTO<br />
2002<br />
21 de agosto de 2002<br />
O impacto da Síndrome plurimetabólica<br />
nas doenças cardiovasculares<br />
Informações : (13) 3286-2266<br />
SOCESP -Sociedade de Cardiologia do<br />
Estado de SP- Regional de Santos<br />
www.socesp.org.br<br />
24 a 29 de agosto<br />
9 th International Congress on Obesity<br />
Hotel Transamérica, São Paulo, SP<br />
Informações: www.abeso.org.br<br />
Tel: (11) 3079-2298<br />
Fax: (11) 3079-4232<br />
26 a 28 de agosto<br />
IIº Encontro de Nutrição da Sociedade<br />
Portuguesa de Beneficência de Santos<br />
Salão Nobre da SPB de Santos<br />
Av. Bernardino de Campos, 47<br />
Santos SP<br />
Tel: (13) 3229-3430<br />
29 de agosto<br />
IIº Encontro de Nutrição<br />
Teatro Sesi de Santo André<br />
Praça Armando de Arruda Pereira, 100<br />
Santo André - SP<br />
(11) 4996-2065 / 49972188<br />
ramal 2039<br />
Email: bancodealimentos@craisa.com.br<br />
30 a 31 de agosto<br />
9 th International Congress on Obesity<br />
Satellite Symposium – Obesity,<br />
Hormones and the Metabolic Syndrome<br />
Hotel Glória, Rio de Janeiro – RJ<br />
Informações (21) 2286-2846<br />
www.jz.com.br<br />
SETEMBRO<br />
21 a 25 de setembro<br />
25º Congresso Brasileiro de<br />
Endocrinologia e Metabologia<br />
Calendário de eventos<br />
Blue Towers, Brasília - DF<br />
Informações : SBEM (21) 07-5189/<br />
(21)2221-7577 ramal 1193<br />
21 a 24 de setembro<br />
Fórum de Nutrição / 57º Congresso da<br />
Sociedade Brasileira de Cardiologia<br />
Centro de Exposições Imigrantes,<br />
São Paulo<br />
Informações : www.cardiol.br<br />
27 e 28 de setembro<br />
Nutrição Clínica nas Alterações do<br />
Sistema Digestório<br />
Sheraton Mofarrej Hotel<br />
Informações: Núcleo (11) 5055-8061<br />
OUTUBRO<br />
1 a 4 de outubro<br />
9 th European Nutrition Conference<br />
Roma, Itália<br />
Informações: mailsinu@tin.it<br />
3 a 5 de outubro<br />
16 th International Symposium “In Vivo<br />
Body Composition Studies”<br />
Roma, Itália<br />
Informações: www.uniroma2.it/eventi/<br />
BodyComp2002<br />
9 a 13 de outubro<br />
Feira Internacional de Nutrição e<br />
Alimentação<br />
Expo Center Norte (Pavilhão branco),<br />
São Paulo – SP<br />
17 e 18 de Outubro<br />
II o Simpósio nacional sobre alimentos<br />
transgênicos<br />
Universidade Federal de Viçosa<br />
Viçosa, Minas Gerais<br />
Informações: Agromark - Secretaria do<br />
Evento<br />
Departamento de Fitotecnia<br />
Tel: (31)899-2916<br />
Fax: (31)3899-2917<br />
E-mail: Aluízioborem@ufv.br<br />
17 a 19 de outubro<br />
I o Congresso paulista de Nutrição<br />
Clínica<br />
Centro de Convenções Rebouças<br />
Tel: (11) 3839-7100<br />
E-mail: alsp@promocoes.com.br ou<br />
imen@hcor.com.br<br />
NOVEMBRO<br />
7 a 9 de novembro<br />
III o Congresso Internacional de<br />
Nutrição, Longevidade e Qualidade<br />
de Vida<br />
Sheraton Mofarrej, São Paulo - SP<br />
Informações: Núcleo (11) 5055-8061<br />
10 a 13 de novembro<br />
III o Conferência Regional Latino-<br />
Americana de Promoção da Saúde e<br />
Educação para Saúde<br />
Memorial da América Latina, São Paulo<br />
Informações : (11) 3079-6724<br />
www.fsp.usp.br/cepedoc<br />
2004<br />
XIV th International Congress of<br />
Dietetics<br />
Chicago, EUA<br />
Informações:<br />
2004Congress@catright.org<br />
Fax: 312/899-4772<br />
SETEMBRO<br />
2005<br />
19 a 24 de setembro<br />
18 th International Congress of Nutrition<br />
Durban, África do Sul<br />
Informações:<br />
jlochner@mcd4330medunsa.ac.za
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
EDITORIAL 123<br />
Papel estratégico do nutricionista no desenvolvimento das ciências dos alimentos e da saúde, Celeste Elvira Viggiano<br />
RESUMOS DE TRABALHOS 124<br />
ARTIGOS ORIGINAIS 130<br />
Estimativa de consumo diário de fibra alimentar na população adulta, em regiões metropolitanas do Brasil,<br />
Wilma Turano, Sílvia Regina Novaes Louzada, Sandra Casa Nova Derevi, Maria Heidi Marques Mendez,<br />
Wanda Lopes Mendes, Isabel Portugal Barbosa, Ellen Pereira da Silva, Aline Vasques da Costa (pg. 130)<br />
A dieta como fator de risco de obesidade e doença cardiovascular: Uma avaliação do padrão alimentar<br />
em restaurante “por quilo”,<br />
Edeli Simioni de Abreu, Elizabeth A. F. S. Torres (pg. 136)<br />
Efeitos da ingestão de diferentes soluções contendo carboidratos, eletrólitos, e glicerol sobre os parâmetros<br />
fisiológicos e bioquímicos de atletas submetidos a uma corrida de 30 km em ambiente de calor intenso,<br />
Reinaldo Abunasser Bassit, Mara Assis Malverdi, Miguel Luiz Batista Júnior,<br />
Luiz Fernando Bicudo Pereira Costa Rosa (pg. 142)<br />
REVISÕES 155<br />
Inter-relação entre hipovitaminose A e anemia ferropriva,<br />
Carina de Aquino Paes, Rejane Andréa Ramalho, Cláudia Saunders,<br />
Letícia de Oliveira Cardoso, Daniel Alves Natalizi (pg. 155)<br />
A influência das vitaminas D e E na composição dos fosfolipídios de membrana e sua<br />
repercussão sobre a hipertensão arterial,<br />
Lucia Marques A. Vianna (pg. 161)<br />
Grelina é o novo regulador da homeostase nutricional,<br />
Sandra Bragança Coelho, Josefina Bressan Resende Monteiro (pg. 165)<br />
O metabolismo energético como fator preditor da obesidade,<br />
Eliane Lopes Rosado, Josefina Bressan Resende Monteiro (pg. 170)<br />
DOSSIÊ ALIMENTOS: A soja 177<br />
NOTÍCIAS DA PROFISSÃO 187<br />
CRN4 - Ética e responsabilidade técnica<br />
Índice<br />
Volume 1 número 3 - setembro/outubro de 2002<br />
NORMAS DE PUBLICAÇÃO 189<br />
EVENTOS 192<br />
121
122<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Conselho científico<br />
Profa . Dra . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />
Profa . Dra . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />
Profa . Dra . Lúcia Marques Alves Vianna (UNIRIO / CNPq)<br />
Profa . Dra . Lucia de Fatima Campos Pedrosa Schwazschild (UFRN - Rio Grande do Norte)<br />
Profa . Dra . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Rosemeire Aparecida Victoria Furumoto (UNB - Brasília)<br />
Profa . Dra . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />
Profa . Dra . Tânia Lúcia Montenegro Stamford (UFPE - Pernambuco)<br />
Grupo de assessores<br />
Profa . Ms. Lúcia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />
Profa . Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />
Profa . Ms. Ana Cristina Miguez Teixeira Ribeiro (PUC-PR)<br />
Profa . Ms. Cilene da Silva Gomes Ribeiro (PUC-PR)<br />
Profa . Ms. Helena Maria Simonard Loureiro (PUC-PR)<br />
Editor científico<br />
Prof a Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />
Editor executivo<br />
<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />
Rio de Janeiro<br />
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Assinatura anual (6 números/ano):<br />
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Colaborador da redação<br />
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ISSN 1677-0234<br />
NUTRIÇÃO BRASIL É UMA<br />
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endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
O desenvolvimento da ciência da Nutrição<br />
trouxe novas expectativas de mercado para o<br />
nutricionista, ampliando e diversificando sua atividade<br />
profissional, e evidenciando para a sociedade a<br />
importância desta ciência e de seu tradutor: o<br />
nutricionista. Ao mesmo tempo, chamou a atenção<br />
de outros seguimentos, como a indústria, o marketing,<br />
a imprensa e outros profissionais da área de saúde ou<br />
não, para um novo campo de trabalho. Obviamente,<br />
dentro de um extenso mercado cabe outras atividades<br />
ligadas a Nutrição, que não somente o nutricionista<br />
pode desempenhar, como já acontece com o técnico<br />
de Nutrição. O desempenho de outros profissionais<br />
que lidam com o alimento, seja no processamento,<br />
cultivo, industrialização, comercialização ou quais<br />
outros processos, devem ter a orientação, supervisão<br />
e avaliação do nutricionista, que é, na nossa realidade,<br />
o especialista em Nutrição e alimentação. Neste<br />
contexto vale lembrar que a contribuição destes<br />
EDITORIAL<br />
Papel estratégico do nutricionista no<br />
desenvolvimento das ciências dos alimentos<br />
e da saúde<br />
Prof a. Ms. Celeste Elvira Viggiano, editor científico<br />
profissionais, faz valer ainda mais a importância de<br />
conscientizar e oferecer ao ser humano, melhor<br />
qualidade de vida a partir da alimentação consciente e<br />
prazerosa e, assim, todos aqueles que vierem a integrar<br />
equipes de Nutrição, desde o técnico, o tecnólogo, o<br />
gastrônomo, o culinarista, o cozinheiro, copeiro, o<br />
nutrólogo, devem ser liderados pelo nutricionista, que<br />
dará o encaminhamento mais adequado às questões<br />
concernentes ao alimento e tudo que o cerca.<br />
O aprimoramento constante e a extensão do<br />
conhecimento devem ser prioritários na carreira do<br />
nutricionista, assim como a elaboração de currículos<br />
de graduação e pós-graduação, que devem estar<br />
voltados para esta nova dimensão de conhecimento e<br />
atuação do profissional, já que o aprofundamento do<br />
saber em ciências da saúde, do comportamento e do<br />
alimento e tudo o que o envolve, dará a amplitude de<br />
atuação a que o nutricionista tem o direito e o dever<br />
de realizar.<br />
123
124<br />
Marcia R. D. Urbano, Maria S. S.<br />
Vitalle, Yara Juliano, Olga M. S.<br />
Amâncio, Departamento de<br />
Pediatria da Universidade Federal<br />
de São Paulo/Escola Paulista de<br />
Medicina(UNIFESP/EPM),<br />
Faculdade de Medicina da<br />
Universidade de Santo Amaro<br />
Resumos de trabalhos<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Ferro, cobre e zinco em adolescentes no estirão<br />
pubertário,<br />
Objetivo: Verificar o estado nutricional relativo ao ferro, cobre e zinco<br />
e a correlação entre Índice de Massa Corporal, níveis séricos e dietéticos<br />
desses elementos, em adolescentes durante o estirão pubertário.<br />
Métodos: Estudo descritivo do tipo corte transversal envolvendo uma<br />
amostra de 47 adolescentes atendidos em Ambulatório de Adolescência<br />
Clínica, durante o período de março a dezembro de 1999, que se<br />
apresentavam no estirão pubertário, do total de 360 que freqüentaram o<br />
ambulatório no período, sendo 19 rapazes na faixa etária de 12,3 a 16 anos<br />
e 28 moças na faixa etária de 11,1 a 13,6 anos. Variáveis analisadas: Dietética<br />
(Recordatório de 24 horas, Freqüência e Registro Alimentar) para determinar<br />
a ingestão de ferro, cobre e zinco; Antropométrica (peso e altura) para<br />
aferição do Índice de Massa Corporal; Bioquímica (dosagem sérica de ferro<br />
pelo kit in Vitro Diagnóstica, ferritina pelo kit Immulite, cobre e zinco por<br />
espectrofotometria de absorção atômica). Utilizou-se o coeficiente de<br />
Spearman para análise estatistíca.<br />
Resultados: Dos quarenta e sete adolescentes em estirão pubertário,<br />
apresentaram ingestão adequada de: ferro (95% e 36%), cobre (53% e<br />
57%) e zinco (21% e 21%) nos sexos masculino e feminino, respectivamente.<br />
A maioria dos adolescentes era eutrófica segundo os percentis do IMC.<br />
Bioquimicamente, os rapazes apresentaram valores normais para ferro e<br />
zinco em toda a amostra; para cobre em 95% e para ferritina em 84%. As<br />
moças também apresentaram valores normais de ferro e zinco; para cobre<br />
em 96,4% e para ferritina em 96%. Não houve correlação estatisticamente<br />
significante entre IMC e concentração sérica de Fe, ferritina, Cu e Zn e<br />
entre concentração sérica e ingestão dietética dos minerais estudados, nem<br />
tampouco para a relação ferro sérico e ferritina.<br />
Conclusäo: Não se sabe, até o momento, se os níveis séricos de zinco e<br />
cobre flutuam durante o crescimento ou se cada indivíduo tem um nível<br />
estável destes minerais durante o estirão. Os níveis séricos normais de Fe,<br />
Cu e Zn na maioria dos adolescentes avaliados podem estar refletindo a<br />
habilidade do organismo em fazer ajustes homeostáticos.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Regina Brigelius-Flohé, Frank J<br />
Kelly, Jukka T Salonen, Jiri Neuzil,<br />
<strong>Jean</strong>-Marc Zingg, Angelo Azzi,<br />
American Journal of Clinical<br />
Nutrition 2002;76(4):703-716,<br />
outubro de 2002<br />
Anne Raben, Tatjana H Vasilaras, A<br />
Christina Møller and Arne Astrup,<br />
American Journal of Clinical<br />
Nutrition 2002;76(4):721-729,<br />
outubro de 2002<br />
As perspectivas européias para vitamina E:<br />
Conhecimento atual e pesquisas futuras<br />
Vitamina E é indispensável para reprodução em fêmeas de ratos. Em<br />
humanos, a deficiência primária causa disfunções neurológicas, mas os<br />
mecanismos moleculares são obscuros. Devido às suas propriedades<br />
antioxidativas, acredita-se que a vitamina E ajude a prevenir doenças<br />
associadas ao estresse oxidativo, como doenças cardiovasculares, câncer,<br />
inflamação crônica e desordens neurológicas. Entretanto, estudos clínicos<br />
recentes realizados para comprovar esta hipótese não verificaram um<br />
benefício consistente. Perante estas descobertas, um grupo de cientistas<br />
europeus se encontrou para analisar os mais recentes estudos da função e<br />
do metabolismo da vitamina E. Uma visão geral é apresentada, incluindo<br />
considerações sobre os mecanismos de absorção, distribuição, e<br />
metabolismo das diferentes formas de vitamina E, incluindo a proteína de<br />
transferência do α-tocoferol e proteínas associadas ao α-tocoferol; o<br />
mecanismo de degradação de cadeias laterais do tocoferol e sua interação<br />
putativa com o metabolismo de drogas; o uso dos metabólitos do tocoferol<br />
como marcadores biológicos; e o novo mecanismo das propriedades<br />
antiateroscleróticas e anticarcinogênicas da vitamina E, que envolve a<br />
modulação de sinalizadores celulares, regulação transcricional e indução<br />
de apoptose. Estudos clínicos foram analisados com base na seleção dos<br />
indivíduos, estágio da doença e forma de administração, dosagem e forma<br />
química da vitamina E. Além disso, o parco conhecimento do papel da<br />
vitamina E na reprodução foi resumido. Concluindo, os cientistas<br />
concordaram que as funções da vitamina E foram subestimadas, se<br />
considerarmos somente suas propriedades antioxidativas. Pesquisas futuras<br />
sobre essa vitamina essencial devem focar no que a faz essencial para<br />
humanos, porque o corpo preferencialmente utiliza -tocoferol, além de<br />
quais funções teriam outras formas de vitamina E.<br />
Sacarose comparada com adoçantes artificiais:<br />
Diferentes efeitos na ingestão de alimentos<br />
“ad libitum” e peso corporal, após 10 semanas de<br />
suplementação em indivíduos com sobrepeso<br />
Introdução e objetivo: O papel dos adoçantes artificiais na regulação do<br />
peso corporal ainda está obscuro. Foi investigado o efeito da suplementação,<br />
à longo prazo, com bebidas e alimentos contendo tanto sacarose como<br />
adoçantes artificiais, na ingestão de alimentos “ad libitum” e peso corporal<br />
de indivíduos sobrepeso.<br />
Desenho: Durante 10 semanas, homens e mulheres com sobrepeso<br />
consumiram diariamente suplementos com sacarose [n = 21, índice de<br />
massa corporal (IMC; em kg/m 2 ) = 28,0] ou adoçantes artificiais (n = 20,<br />
IMC = 27,6). No máximo, suplementos de sacarose forneceram 3,4 MJ e<br />
152 g sacarose/d e os suplementos adoçantes forneceram 1,0 MJ e 0 g<br />
sacarose/d.<br />
Resultados: Após 10 semanas, o grupo da sacarose teve aumento na<br />
energia total (aproximadamente 1,6 MJ/d), sacarose (28% do gasto<br />
energético), e ingestão de carboidratos e decréscimo de ingestão de<br />
gordura e proteína. O grupo de adoçante teve um decréscimo pequeno,<br />
125
126<br />
Continuação<br />
Roland L Weinsier, Gary R Hunter,<br />
Yves Schutz, Paul A Zuckerman<br />
and Betty E Darnell, American<br />
Journal of Clinical Nutrition,<br />
2002;76(4):736-742,<br />
outubro de 2002<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
mas significativo da ingestão de sacarose e densidade energética. Peso<br />
corporal e massa gorda aumentaram no grupo da sacarose<br />
(aproximadamente 1,6 e 1,3 kg, respectivamente) e um decréscimo no<br />
grupo com adoçante (aproximadamente 1.0 e 0.3 kg, respectivamente);<br />
as diferenças entre os grupos foram significativas P < 0,001 (peso<br />
corporal) e P < 0,01 (massa gorda). Pressão sangüínea sistólica e diastólica<br />
aumentou no grupo com sacarose (aproximadamente 3,8 e 4,1 mm Hg,<br />
respectivamente) e diminuiu no grupo com adoçante (aproximadamente<br />
3,1 e 1,2 mm Hg, respectivamente).<br />
Conclusões: Indivíduos com sobrepeso que consumiram grandes<br />
quantidades de sacarose (28% do gasto energético), maioria como bebidas,<br />
tiveram um aumento no aporte energético, peso corporal, massa gorda, e<br />
pressão sangüínea após 10 semanas. Esses efeitos não foram observados<br />
num grupo similar de indivíduos que consumiram adoçantes artificiais.<br />
Atividade física em homens e mulheres brancos e<br />
negros com sobrepeso: Diferentes respostas para<br />
perda de peso induzida por dieta<br />
Introdução: Mulheres negras estão sob um risco maior de obesidade<br />
do que mulheres brancas, talvez por causa de menores níveis de atividade<br />
física.<br />
Objetivo: Foi comparado gasto energético em atividade (GET) em<br />
mulheres sedentárias brancas e negras (com sobrepeso e peso normal) e<br />
em indivíduos que nunca foram submetidos a controle de peso.<br />
Desenho: Indivíduos incluíram 46 mulheres (23 brancas, 23 negras)<br />
estudadas, enquanto com sobrepeso e após atingirem peso normal e 38<br />
indivíduos controle do sexo feminino (23 brancas, 15 negras). Dieta, sem<br />
exercício físico, resultou numa média de perda de peso de 13 Kg e índice<br />
de massa corporal (em kg/m 2 ) < 25. Composição corporal, gasto<br />
energético durante o sono, gasto energético total e energia requerida para<br />
a atividade e a capacidade aeróbica, foram determinadas antes e depois da<br />
perda de peso durante 4 semanas. Dieta controlada, condições de peso<br />
estáveis e nos indivíduos controle. GET foi definido como gasto energético<br />
após o sono.<br />
Resultados: Nenhuma diferença significativa na composição corporal<br />
entre as raças, antes e depois da perda de peso, foi encontrada. Após perda<br />
de peso, o GET e a capacidade aeróbica aumentaram nas mulheres brancas<br />
e diminuíram nas mulheres negras (P < 0,05 e P < 0,02, respectivamente).<br />
Após perda de peso, mas não antes, as mulheres brancas apresentavam<br />
uma média de GET maior do que as mulheres negras (2448 ± 979 e 1728<br />
± 1373 kJ/d, respectivamente; P < 0,05), aproximadamente GET em<br />
brancas (2314 ± 1105) e em negras (2310 ± 1251) indivíduos controle.<br />
Conclusäo: Em relação às respostas das mulheres brancas com perda<br />
de peso induzida por dieta, as mulheres negras emagreceram menos e<br />
mostraram-se menos ativas fisicamente. Indução de peso normal em<br />
mulheres negras com sobrepeso mostrou provocar um estado maior de<br />
indução de obesidade, favorecendo a recuperação do peso.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Karamanos B et al, European<br />
Journal of Clinical Nutrition<br />
2002;56(10):983-991<br />
Cooke MS et al, Nutrition Research<br />
Reviews 2002;15(1):19-41<br />
Hábitos nutricionais na região mediterrânea. A<br />
composição de macronutrientes da dieta e a relação<br />
com a dieta mediterrânea tradicional. Estudo<br />
multicêntrico do Grupo Mediterrâneo para Estudo do<br />
Diabetes (MGSD)<br />
Objetivo: Comparar os hábitos nutricionais entre seis países do<br />
Mediterrâneo e também com as várias recomendações oficiais e com a<br />
dieta do Mediterrâneo originalmente descrita.<br />
Materiais: Estudo cruzado em três centros na Grécia, dois na Itália e<br />
um na Algéria, Egito, Bulgária e Iugoslávia.<br />
Indivíduos: Indivíduos não diabéticos, selecionados aleatoriamente da<br />
população geral, de idade 35-60, sem dieta pelo menos por 3 meses antes<br />
do estudo.<br />
Intervenções: Foi utilizado um questionário alimentar validado em relação<br />
ao “3-Day Diet Diary”. Dados demográficos foram coletados e mensurações<br />
antropométricas realizadas.<br />
Resultados: Todos os resultados foram ajustados para idade. O consumo<br />
de energia variou em homens, de 1825 kcal/dia na Itália (Roma) para 3322<br />
kcal/dia na Bulgária e em mulheres, de 1561 kcal/dia na Itália (Roma) para<br />
2550 kcal/dia na Algéria. A contribuição protéica (%) do consumo<br />
energético variou sensivelmente, ficando em 13,a% na Grécia para 18,5%<br />
na Itália (Roma), enquanto os níveis de gordura variaram de 25.3% no<br />
Egito até 40,2% na Bulgária e carboidratos de 41,5% na Bulgária a 58,6%<br />
no Egito. A ingestão de fibras, g/1000 kcal, variou de 6,8 na Bulgária a<br />
13,3 no Egito e a taxa de gordura vegetal em relação à animal foi de 1,2 na<br />
Bulgária a 2,8 na Grécia. A proporção de seguidores da dieta WHO e do<br />
Grupo de Estudo de Diabetes e Nutrição - Diabetes and Nutrition Study<br />
Group (DNSG) -, que utilizam as recomendações do EASD para<br />
carboidratos, gordura e proteína, variou de 4,2% na Bulgária a 75,7% no<br />
Egito. Comparações com as dietas do Mediterrâneo, como definidas no<br />
Estudo dos Sete Países, mostraram diferenças significativas especialmente<br />
para frutas, 123–377 vs 464 g/dia da dieta do Mediterrâneo, carne, 72–193<br />
vs 35 g/dia, queijo, 15–79 vs 13 g/dia, pão, 126–367 vs 380 g/dia.<br />
Conclusäo: a) Hábitos dietéticos da ‘população normal’ variam bastante<br />
entre os países do Mediterrâneo estudados. b) O Egito é o mais próximo<br />
das recomendações do DNSG. c) Diferenças significativas da dieta do<br />
Mediterrâneo originalmente descrita, são documentadas na maioria dos<br />
países do Mediterrâneo, mostrando regionalização dos hábitos dietéticos.<br />
Papel dos antioxidantes da dieta na prevenção de dano<br />
oxidativo do DNA in vivo<br />
Evidências epidemiológicas mostram, consistentemente, que a dieta<br />
rica em frutas frescas e vegetais diminui significativamente o risco de câncer.<br />
Dado o papel postulado do dano oxidativo do DNA na carcinogênese, foi<br />
assumido que são as propriedades antioxidantes dos constituintes dos<br />
alimentos, como vitamina C, E e carotenóides, que conferem proteção.<br />
Entretanto, estudos epidemiológicos com antioxidantes específicos, tanto<br />
sozinhos como combinados, não demonstraram, num todo, suporte para<br />
esta hipótese. Por outro lado, estudos examinando o efeito in vitro dos<br />
127
128<br />
Continuação<br />
Leigh Gibson E. et al, Nutrition<br />
Research Reviews<br />
2002;15(1):169-206<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
antioxidantes sobre o dano oxidativo do DNA foram em geral suficientes,<br />
em termos da prevenção da indução do dano. O mesmo, entretanto, não<br />
pode ser dito para estudos de intervenção in vivo onde em sua maioria os<br />
resultados foram equivocados. Contudo, um trabalho recente sugeriu que<br />
alguns antioxidantes da dieta podem conferir propriedades protetoras por<br />
um novo mecanismo, não relacionado com sua habilidades anti-radicais<br />
livres. Regulaçäo da defesa antioxidante, metabolismo de xenobióticos, ou<br />
genes de reparo do DNA, podem limitar o dano celular, além de promover<br />
a manutenção da integridade celular. Apesar disso, antes que mais trabalhos<br />
sejam esclarecidos no sentido de que uma dieta suplementada com<br />
antioxidantes possa reduzir o risco de câncer e o mecanismo pelo qual isto<br />
é realizado, a recomendação para uma dieta rica em frutas e vegetais se<br />
mantém válida empiricamente.<br />
Influências nutricionais na função cognitiva:<br />
Mecanismos de susceptibilidade<br />
É considerado o impacto da variação nutricional, nas populações não<br />
totalmente desnutridas, na função cognitiva e no crescimento. A ênfase é<br />
na susceptibilidade a efeitos agudos das refeições e taxas de glicose, além<br />
dos efeitos crônicos da dieta, na performance mental, efeitos dos níveis de<br />
colesterol e vitaminas na diminuição da função cognitiva. Novas descobertas<br />
na compreensão da influência dietética nos sistemas neurohormonais, e<br />
suas implicações na cognição, permite uma nova interpretação, tanto das<br />
mais antigas como das mais recentes descobertas. Evidências para se<br />
determinar um efeito de detrimento da performance cognitiva, quando se<br />
omite uma refeição continua equivocada, permanece desde o início, a<br />
idiossincrasia. Ainda para crianças pequenas e vulneráveis nutricionalmente,<br />
o desjejum parece estar mais sujeito a ser um beneficio do que ter uma<br />
performance incerta. Em relação a composição dos nutrientes, apesar das<br />
inconsistências, algumas precauções podem ser feitas. Agudamente,<br />
refeições pobres em proteínas e ricas em carboidratos podem ser sedativas<br />
e ansiolíticas; em comparação, refeições ricas em proteínas podem promover<br />
o desenvolvimento, melhorando o tempo de reação e aumentando a<br />
vigilância. Refeições ricas em gorduras podem levar a um declínio no estado<br />
de alerta, especialmente quando elas diferem da ingestão de gordura habitual.<br />
Estes efeitos agudos podem variar com a hora do dia e o status nutricional.<br />
Cronicamente, dietas ricas em proteínas têm sido associadas com aumento<br />
de afetividade, quando comparadas com dietas ricas em carboidratos.<br />
Prováveis mecanismos incluem modificações induzidas pela dieta nas<br />
monoaminas, especialmente na atividade de neurotransmissores<br />
serotoninérgicos, e no funcionamento do eixo hipotálamo-pituitárioadrenal.<br />
Os efeitos são interpretados no contexto de cada indivíduo e na<br />
susceptibilidade a mudanças, mesmo estressantes, e testes de performance.<br />
Há uma preocupação da dieta dificultar a cognição por interferir na<br />
capacidade de trabalho da memória, independente do status nutricional.<br />
Uma modificação na performance cognitiva após a administração de glicose,<br />
além de outros alimentos, pode depender dos níveis de ativação simpática,<br />
secreção de glicocorticóides e função das células b do pâncreas, ao invés<br />
de simplesmente, servirem de combustível para a atividade neuronal. Além<br />
disso, novas descobertas podem ser preditas através de desafios estressantes,
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Continuação<br />
Buemann B. et al, Nutrition Research<br />
Reviews 2002;15(1):91-121<br />
interagindo a história nutricional e o status neuroendócrino. O<br />
funcionamento de tais sistemas pode estar susceptível à influências dietéticas<br />
na fluidez da membrana neuronal, e na saúde cerebrovascular vitaminodependente,<br />
com a vulnerabilidade cognitiva aumentando com a idade.<br />
Bebidas alcoólicas e risco cardíaco<br />
Esta revisão da literatura demonstra o impacto da ingestão de álcool<br />
nas doenças cardiovasculares. Tanto um estudo cruzado seccional como<br />
estudos prospectivos, revelaram uma associação negativa entre ingestão<br />
moderada de álcool e doenças cardiovasculares. A relação parece estar<br />
presente tanto para vinho, cerveja e licores. Tem sido sugerido que o álcool<br />
afeta beneficamente o aparecimento de lipídeos no sangue, já que ele<br />
aumenta os níveis de HDL-colesterol no plasma. Além disso, ele pode<br />
inibir a trombogênese, por reduzir a formação de tromboxana e diminuir<br />
os níveis plasmáticos de fibrinogênio. Entretanto, elevadas concentrações<br />
sangüíneas de álcool podem impedir a fibrinólise por aumentar os níveis<br />
plasmáticos do inibidor-1 de ativação do plasminogênio. Essa ação pode<br />
contribuir para explicar a associação em forma de U entre ingestão de<br />
álcool e eventos cardíacos. O álcool parece promover a distribuição de<br />
gordura no abdômen, mas a importância desse efeito em indivíduos não<br />
obesos é incerta. O vinho em particular, mas também a cerveja, contêm<br />
polifenóis que agem como antioxidantes. Sua ação pode manter a integridade<br />
da função endotelial, reduzindo a formação de superóxidos. Além disso,<br />
esses antioxidantes podem proteger contra oxidação do LDL e modular o<br />
ataque do macrófago no endotélio. Apesar do efeito cardioprotetor do<br />
álcool ser dificilmente determinado em indivíduos saudáveis, por estudos<br />
de intervenção com pontos finais obscuros, existem várias descobertas<br />
observacionais e experimentais, que indicam que o consumo moderado de<br />
álcool possui propriedades preventivas nas doenças cardiovasculares.<br />
129
130<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Título abreviado: Estimativa de consumo diário de fibra alimentar<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Estimativa de consumo diário de fibra<br />
alimentar na população adulta, em regiões<br />
metropolitanas do Brasil<br />
Estimative of daily dietary fiber in adult population,<br />
in metropolitans regions of Brazil<br />
Wilma Turano*, Sílvia Regina Novaes Louzada**, Sandra Casa Nova Derevi***, Maria Heidi Marques<br />
Mendez****, Wanda Lopes Mendes*****, Isabel Portugal Barbosa******, Ellen Pereira da Silva******,<br />
Aline Vasques da Costa******<br />
*Livre Docente e Doutora, prof Adjunto IV da UniRio, Rio de Janeiro, **Doutoranda em Saúde Pública, Prof Adjunto IV da UniRio,<br />
***PhD Doutora com pós-doutoramento em Ciência de Alimentos, Prof. Titular da UFF, **** PhD Doutora com pós-doutoramento em<br />
Ciência de Alimentos, Prof. Adjunto IV da UFF, *****Nutricionista, Especialista em Ciência de Alimento, UniRio,<br />
****** Nutricionista, bolsista de aperfeiçoamento em pesquisa.<br />
Resumo<br />
O presente trabalho tem como objetivo estimar o consumo médio diário de fibra alimentar total, fibra alimentar<br />
insolúvel e pectina solúvel, por populações adultas de 11 regiões metropolitanas do país, identificando as principais fontes<br />
alimentares e verificando a adequação nutricional destes componentes nas regiões estudadas. O estudo foi realizado com<br />
base nos dados fornecidos pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE ( 1988). Os teores de fibra alimentar total, fibra<br />
alimentar insolúvel e pectina solúvel foram analisados por meio de tabela de composição de alimentos. Os resultados<br />
encontrados, em relação à adequação nutricional, mostram inadequação para a fibra alimentar total e para a pectina solúvel<br />
uma, em todas regiões estudadas, e para a fibra insolúvel uma adequação em todas as regiões. Os alimentos identificados<br />
como principais fontes de fibra alimentar total, entre as 11 regiões estudadas foram: arroz branco, banana-prata, batatainglesa,<br />
farinha de mandioca, farinha de trigo, feijão comum var. mulatinho, preto e roxo, feijão fradinho e pão francês; de<br />
fibra insolúvel foram os mesmos identificados para fibra alimentar total, acrescido da banana-d’água, e para a pectina solúvel<br />
foram banana-d’água, banana-prata, banana-maçã, batata-inglesa, ervilha, feijão fradinho, feijão comum var. mulatinho, preto<br />
e roxo, mamão Hawai, mandioca e inhame.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel, pectina solúvel, população adulta.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 1 de setembro; aprovado em 15 de setembro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Prof a Dra. Wilma Turano, UNIRIO, Rua Dr. Xavier Sigaud, 290 Térreo, Urca, 22290-180<br />
- Rio de Janeiro - RJ.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Abstract<br />
This work aimed to estimate the average dayly intake of dietary fiber, the insoluble fiber fraction and soluble pectin in<br />
adult population and identify the main sources of dietary fiber, the insoluble fiber fraction and soluble pectin in the regions<br />
studied. The diets were analyzed for the dietary fiber, the insoluble fiber fraction and soluble pectin using the table of food<br />
composition.The results indicated nutricional inadequacy of dietary fiber and soluble pectin and nutricional adequacy of the<br />
insoluble fiber fraction, in all regions studied. The foods identyfied as sources of dietary fiber, in the 11 regions, were rice<br />
white, common banana, wheat and sweet cassava flour , cowpea, common “mulatinho”, black and red bean and french<br />
bread; insoluble fiber fraction sources were the same identifyed to dietary fiber increased of dwarf banana; soluble pectin<br />
sources were common, dwarf and “maçã” banana, potato, pea, cowpea, common “mulatinho”, black and red bean, sweet<br />
cassava, papaya and dasheen.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Dietary fiber, insoluble dietary fiber, pectin soluble, adult population.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Introdução<br />
Nos dias de hoje, muitos interesses têm sido<br />
focalizados no potencial terapêutico da fibra alimentar,<br />
especialmente para o controle de condições como<br />
doenças gastrintestinais, hiperlipidemias, diabetes,<br />
obesidade e doenças cardiovasculares [24]. Estudos<br />
experimentais com a finalidade de indicar a quantidade<br />
e o tipo de alimento que devem ser incluídos nas dietas<br />
para indivíduos portadores destas doenças, têm sido<br />
realizados por diversos pesquisadores<br />
[1,4,5,14,22,23,27,28,29].<br />
Baseados nos dados da Food and Agriculture<br />
Organization, Bright-See & Mckeown-Eyssen [6,8]<br />
estimaram o consumo diário de fibra alimentar total<br />
em 38 países. Os autores verificaram que a maioria<br />
dos países, 26, apresentavam um consumo abaixo,<br />
cerca de 30g diárias, e em apenas 4 países o consumo<br />
foi acima de 35g diárias.<br />
No entanto, estudos para indicar as<br />
recomendações dietéticas para populações sadias são<br />
menos freqüentes. Trabalho realizado no Município<br />
do Rio de Janeiro por Turano et al. [26], envolvendo<br />
uma população adulta e sadia, na faixa etária de 20 a<br />
40 anos, num total de 200 indivíduos de nível sócioeconômico<br />
médio e que foram submetidos a<br />
inquéritos dietéticos, sugeriu as seguintes<br />
recomendações dietéticas de ingestão diária de fibra<br />
alimentar e de seus componentes: Fibra alimentar total<br />
(25 – 30g), celulose e hemiceluloses (4 – 6g), lignina<br />
(2-4g) e pectina solúvel (0,7 – 1,6).<br />
O presente trabalho tem como objetivos estimar<br />
o consumo de fibra alimentar total e de seus<br />
componentes pela população adulta (faixa etária entre<br />
20 em 40 anos) do país, e comparar com as<br />
recomendações sugeridas por Turano et al. [26],<br />
identificando as principais fontes de fibra alimentar<br />
total, fibra alimentar insolúvel e de pectina solúvel<br />
destas regiões.<br />
Quadro 1 - Consumo (em g) médio diário de fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel e pectina solúvel e<br />
de adequação nutricional (%) , nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto<br />
Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo, Fortaleza, Belém e Recife.<br />
Regiões Fibra Adequação Fibra Adequação Pectina Adequação<br />
metropolitanas total nutricional(%) insolúvel nutricional(%) solúvel nutricional(%)<br />
Rio de Janeiro 22,19 96,85 12,46 124,43 0,65 92,86<br />
Salvador 21,62 86,47 12,93 129,31 0,44 62,43<br />
Goiânia 18,00 72,01 10,13 101,27 0,48 62,43<br />
Brasília 18,02 72,08 10,29 102,87 0,45 64,14<br />
Porto Alegre 19,87 79,48 10,81 108,14 0,54 76,43<br />
Belo Horizonte 20,12 80,49 11,67 116,69 0,46 66,29<br />
Curitiba 19,07 76,2810,11 101,11 0,42 59,71<br />
São Paulo 20,34 8135 10,35 103,45 0,61 87,29<br />
Fortaleza 21,93 87,72 12,98 129,84 0,42 60,29<br />
Belém 24,52 98,86 13,76 137,60 0,36 51,14<br />
Recife 22,32 89,27 13,80 138,02 0,61 87,00<br />
131
132<br />
Material<br />
O trabalho foi realizado com base nos dados<br />
da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE –<br />
1987/88 [12] , abrangendo 11 áreas metropolitanas<br />
(Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto<br />
Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />
Fortaleza, Belém, Recife), com 13.611 domicílios<br />
pesquisados, através de questionários sobre consumo<br />
alimentar. Os domicílios estavam assim distribuídos:<br />
1310 no Rio de Janeiro,1247 em Salvador, 1277 em<br />
Goiânia ,782 em Brasília , 1064 em Porto Alegre,1074<br />
em Belo Horizonte, 1291 em Curitiba,1464 em São<br />
Paulo, 1726 em Fortaleza, 1023 em Belém e 1353<br />
em Recife .<br />
Métodos<br />
A análise dos macro e micronutrientes foi feita<br />
utilizando a Tabela de Composição Química de<br />
Franco [9], para os alimentos de origem animal e<br />
para os de origem vegetal, a Tabela de Composição<br />
de Alimentos de Mendez et al. [16]. Os dados obtidos<br />
para fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel e<br />
pectina solúvel, foram comparados com as<br />
estimativas de recomendação diária propostas por<br />
Turano et al. [26].<br />
Resultados e discussão<br />
Dietas<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
A avaliação da adequação nutricional dos<br />
macronutrientes e de vitaminas e minerais, foi feita<br />
de acordo com Food and Nutrition Board [9], National<br />
Academy of Sciences [17] e National Research Council [19].<br />
As dietas analisadas apresentaram variação de<br />
1719 a 2031 Kcal, mostrando um baixo consumo<br />
energético em todas as regiões metropolitanas<br />
estudadas.<br />
O consumo médio de proteína foi de 1,02,<br />
considerado satisfatório em relação a recomendação<br />
mínima diária do Comitê FAO/OMS/UNU [8], com<br />
exceção da região metropolitana de Goiânia, em que<br />
o consumo médio registrado foi de 0,88g /kg de peso<br />
corporal.<br />
O consumo médio de lipídeos foi satisfatório<br />
em todas as regiões metropolitanas do país, não<br />
ultrapassando aos 30% do valor energético total da<br />
dieta consumida. O consumo médio de glicídeos foi<br />
adequado em 8 das 11 regiões metropolitanas, com<br />
exceção de Salvador, Recife e Fortaleza, em que foi<br />
Tabela 1 - Fonte alimentar de fibra total, fonte alimentar de fibra insolúvel e pectina solúvel, consumo per<br />
capita médio diário (g) e porcentagem de recomendação mínima, de leguminosas e amiláceos, nas regiões<br />
metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />
Fortaleza, Belém e Recife.<br />
% de recomendação mínima<br />
Alimentos Per capita Fibra Fibra Pectina Regiões<br />
médio (g) alimentar alimentar solúvel Metropolitanas<br />
total insolúvel<br />
Ervilha em grão 2,05 5,14 São Paulo<br />
Feijão fradinho 32,2815,13 33,47 15,14 Fortaleza<br />
Feijão mulatinho 34,73 11,52 23,61 15,29 Salvador<br />
13,13 8,93 5,86 Fortaleza<br />
33,01 10,94 22,44 14,57 Recife<br />
Feijão preto 36,74 17,14 25,45 35,57 Rio de Janeiro<br />
10,36 7,1810,00 Goiânia<br />
11,79 5,50 8,17 11,43 Brasília<br />
25,04 11,6817,35 24,29 Porto Alegre<br />
7,23 5,01 7,00 Belo Horizonte<br />
17,50 8,16 12,13 17,00 Curitiba<br />
24,90 11,61 17,25 24,14 Belém<br />
Feijão roxo 25,19 9,61 20,1813,70 Belo Horizonte<br />
25,44 9,71 20,3813,86 São Paulo<br />
9,41 7,54 5,14 Goiânia<br />
11,92 9,55 6,43 Brasília<br />
Farinha de mandioca 49,29 20,52 29,18Salvador<br />
26,93 11,22 15,94 Fortaleza<br />
103,53 43,11 61,29 Belém<br />
40,37 16,81 23,90 Recife
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
verificado um excesso de consumo, apresentando<br />
valores de 61,66%, 64,46% e 64,96%, respectivamente.<br />
Os teores de vitaminas e minerais no entanto,<br />
nem sempre atenderam as recomendações da RDA<br />
(Recommended Dietary Allowances) [19]. Em todas<br />
as regiões estudadas, a relação cálcio/fósforo foi<br />
inferior as recomendações do Food and Nutrition<br />
Board [9], National Academy of Sciences [17],<br />
National Research Council [19], sendo registrado os<br />
seguintes quocientes de Ca/P: 0,26 em Belém, 0,40<br />
em Fortaleza, 0,38 em Recife, 0,35 em Salvador, 0,46<br />
em Belo Horizonte, 0,46 no Rio de Janeiro, 0,52 em<br />
São Paulo, 0,52 em Curitiba, 0,52 em Porto Alegre,<br />
0,54 em Brasília e 0,52 em Goiânia .<br />
Em relação ao consumo médio de ferro, os<br />
teores encontrados foram: 14,7 mg em Salvador , 13,07<br />
mg em Belo Horizonte, 13,30 mg no Rio de Janeiro,<br />
13,23 mg em São Paulo e 13,03 mg em Porto Alegre,<br />
estando dentro das recomendações médias diárias,<br />
enquanto as outras regiões, Belém, Fortaleza, Recife,<br />
Curitiba, Brasília e Goiânia apresentam valores abaixo<br />
dos recomendados.<br />
O consumo médio diário de vitamina C atende<br />
as recomendações nas regiões metropolitanas de São<br />
Paulo (74,28 mg), Rio de Janeiro (66,72 mg), Recife<br />
(65,80 mg), Goiânia (62,71 mg) e Salvador (60,42 mg).<br />
No entanto, nas outras regiões, Belém, Fortaleza,<br />
Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte, o<br />
consumo médio está abaixo do recomendado.<br />
Em relação a vitamina A, todas as regiões<br />
apresentam valores abaixo das recomendações médias<br />
diárias. O consumo médio de riboflavina foi deficitário<br />
em todas as regiões, enquanto somente em Belém, a<br />
tiamina e a niacina estão dentro das recomendações<br />
médias diárias.<br />
Os dados computados neste inquérito foram<br />
analisados, e calculado o consumo médio diário de<br />
fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel e pectina<br />
solúvel, além de sua adequação nutricional , de acordo<br />
com as estimativas de recomendação diária propostas<br />
Tabela 2 - Fonte alimentar de fibra total, fonte alimentar de fibra insolúvel e pectina solúvel, consumo per<br />
capita médio diário (g) e porcentagem de recomendação mínima, de cereais e derivados, nas regiões<br />
metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />
Fortaleza, Belém e Recife.<br />
% de recomendação mínima<br />
Alimentos Per capita Fibra alimentar Fibra alimentar Regiões<br />
médio (g) total insolúvel Metropolitanas<br />
Arroz branco 167,96 19,35 25,52 Rio de Janeiro<br />
69,40 8,00 10,55 Salvador<br />
211,66 24,3832,17 Goiânia<br />
194,95 22,46 29,63 Brasília<br />
141,75 16,33 21,55 Porto Alegre<br />
204,12 23,52 31,03 Belo Horizonte<br />
143,03 16,4821,74 Curitiba<br />
189,11 21,78 28,74 São Paulo<br />
159,92 18,42 8,32 Fortaleza<br />
97,45 11,22 5,07 Belém<br />
63,02 7,26 9,57 Recife<br />
Farinha de trigo 33,63 9,12 8,47 Porto Alegre<br />
41,27 11,19 10,40 Curitiba<br />
2,84 8,73 Fortaleza<br />
2,82 6,88 Belém<br />
Pão francês 58,35 14,82 22,45 Rio de Janeiro<br />
66,50 16,89 25,60 Salvador<br />
36,089,16 13,89 Goiânia<br />
42,41 10,77 16,33 Brasília<br />
51,52 13,0819,83 Porto Alegre<br />
42,13 10,70 16,22 Belo Horizonte<br />
43,59 11,07 16,78Curitiba<br />
57,43 14,586,20 São Paulo<br />
53,67 13,63 20,66 Fortaleza<br />
60,12 15,27 23,15 Belém<br />
68,23 17,33 26,27 Recife<br />
133
134<br />
por Turano et al. [26], que encontram-se no quadro 1.<br />
Os resultados encontrados mostram que apenas<br />
a região de Belém apresentou adequação nutricional<br />
em fibra alimentar total, e que todas as regiões<br />
estudadas estão adequadas em fibra alimentar<br />
insolúvel. Foi verificada uma inadequação em pectina<br />
solúvel em todas as regiões.<br />
A identificação das fontes alimentares da fração<br />
fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel (celulose,<br />
hemiceluloses e lignina) e pectina solúvel, consumo<br />
per capita médio diário (g) e porcentagem de<br />
recomendação mínima, nas 11 regiões estudadas,<br />
encontram-se respectivamente, nas tabelas 1, 2 e 3.<br />
Estes resultados evidenciam que o hábito<br />
alimentar de consumo de feijão e arroz , em todas as<br />
regiões estudadas, contribui de maneira significativa<br />
para a adequação nutricional destas populações no que<br />
se refere a fibra alimentar total (com exceção de Belém)<br />
e a fibra alimentar insolúvel, enquanto que a ausência<br />
de frutas e hortaliças (alimentos que fornecem maiores<br />
quantidades de pectina solúvel), refletem a<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Tabela 3 - Fonte alimentar de fibra total, fonte alimentar de fibra insolúvel e pectina solúvel, consumo per<br />
capita médio diário (g) e porcentagem de recomendação mínima, de frutas e hortaliças, nas regiões<br />
metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />
Fortaleza, Belém e Recife.<br />
% de recomendação mínima<br />
Alimentos Per capita Fibra Fibra Pectina Regiões<br />
médio (g) alimentar alimentar solúvel Metropolitanas<br />
total insolúvel<br />
Banana -d’ água 10,87 5,57 Brasília<br />
19,92 10,29 Porto Alegre<br />
9,785,00 Belo Horizonte<br />
18,27 9,43 Curitiba<br />
22,57 5,26 11,60 São Paulo<br />
Banana- maçã 6,785,29 Goiânia<br />
Banana- prata 22,03 5,35 9,43 Rio de Janeiro<br />
44,01 6,69 10,74 18,86 Salvador<br />
12,31 5,28 Belo Horizonte<br />
47,22 7,1811,52 20,29 Fortaleza<br />
23,67 5,7810,14 Belém<br />
33,31 5,06 8,13 14,29 Recife<br />
Batata- inglesa 49,17 5,88 9,48 11,86 Rio de Janeiro<br />
26,66 5,14 6,43 Goiânia<br />
26,53 5,12 6,43 Brasília<br />
47,20 5,64 9,11 11,43 Porto Alegre<br />
40,26 7,77 9,71 Belo Horizonte<br />
36,49 7,04 8,86 Curitiba<br />
36,587,06 8,57 São Paulo<br />
Inhame cozido 14,4823,43 Recife<br />
Mandioca cozida 10,087,71 Porto Alegre<br />
Mamão Hawai 17,54 9,86 Rio de Janeiro<br />
10,686,00 Brasília<br />
11,80 6,57 Belo Horizonte<br />
19,23 10,70 São Paulo<br />
10,31 5,71 Recife<br />
inadequação nutricional registrada para este<br />
componente da fração fibra solúvel.<br />
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135
136<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Título abreviado: Refeições por quilo e risco de obesidade<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
A dieta como fator de risco de obesidade e<br />
doença cardiovascular: Uma avaliação do<br />
padrão alimentar em restaurante “por quilo”<br />
Diet as risk factor of obesity and cardiovascular disease: An<br />
assessment of dietary patterns in self—service restaurants<br />
Edeli Simioni de Abreu*, Elizabeth A. F. S. Torres**<br />
*Mestre e Doutoranda em Nutrição em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, **Professora<br />
Associada, Livre Docente do Depto. de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, SP.<br />
Trabalho extraído de Dissertação de Mestrado: Abreu ES. Restaurante “por quilo”: Vale quanto pesa? Uma avaliação do padrão alimentar<br />
em restaurantes de Cerqueira César, São Paulo, SP. São Paulo; 2000 (Dissertação de Mestrado - Faculdade de Saúde Pública da<br />
Universidade de São Paulo) e da tese de Livre Docência: Torres EAFS. Teor de lipídeos em alimentos e sua importância na nutrição. São<br />
Paulo; 2000. (Tese de Livre Docência - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo), apresentado em forma de Pôster, no VI o<br />
Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, de 16 a 19 de Setembro de 2001- Florianópolis SC.<br />
Resumo<br />
Objetivo: Conhecer a composição nutricional das preparações oferecidas em restaurantes “por quilo” e verificar a adequação<br />
com relação às recomendações.<br />
Metodologia: Os dados foram colhidos durante cinco dias consecutivos, em quatro restaurantes e analisados por meio de<br />
tabelas de composição de alimentos e por análises bromatológicas. A adequação nutricional seguiu as recomendações do<br />
NRC e SBAN.<br />
Resultados: Constatou-se uma densidade energética, em torno de 1400 kcal. O consumo de lipídeos, proteínas e<br />
carboidratos representaram 78% e 144%, 102% e 95%, 30% e 48% da recomendação diária da RDA da SBAN, respectivamente.<br />
O consumo médio de fibras cobriu 69,2% da recomendação da SBAN e 39,5% da RDA. O aporte de ácidos graxos saturados,<br />
insaturados e colesterol cobriram 52% e 80%, 68% e 111%, 66% e 95% da RDA e SBAN respectivamente. Os açúcares<br />
simples representaram 31% do total de carboidratos.<br />
Conclusão: A alimentação apresentou alta densidade energética, elevado teor de gorduras, ácidos graxos saturados,<br />
colesterol, proteínas e açúcares simples, com pouca contribuição dos carboidratos no VCT da dieta e adequação em fibras,<br />
ou seja, excetuando o teor de fibras, apresenta certas características aterogênicas, podendo contribuir como um dos fatores<br />
de risco ao aparecimento da obesidade e de doença cardiovascular.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Restaurantes “por quilo”, adequação nutricional, obesidade, riscos de DCV.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 1 de outubro de 2002; aprovado em 15 de outubro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Elizabeth A. F. S. Torres, Av. Dr. Arnaldo 715 - Depto. de Nutrição da Faculdade de<br />
Saúde Pública da Universidade de São Paulo – 01246-904 São Paulo SP, Tel: (11) 3066-7705 Ramal: 230,<br />
E-mail: eatorres@usp.br
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Abstract<br />
Objetive: This study evaluated the composition of foods offered in self-service restaurants and verified the adjustments<br />
to nutritional recommendations.<br />
Methodology: Data were taken during five days and analysed according to specific food composition. The adjustments to<br />
nutritional recommendations were checked.<br />
Results: The results of the meals analysis verified a high energetical density, elevated levels of fat, saturated fat acids,<br />
cholesterol, protein and simple sugar, little contribution of carboydrats to Diet’s Total Energetic value and adjustment of<br />
fibers.<br />
Conclusion: This kind of meal showed atherogenic characteristics and it can contribute to the appearance of obesity and<br />
cardiovascular diseases.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Self-service restaurants, nutritional adjustments, obesity, cardiovascular diseases risks.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Introdução<br />
As mudanças na composição da dieta dos<br />
brasileiros vêm rapidamente substituindo o problema<br />
da escassez pelo excesso dietético. O aumento da<br />
prevalência da obesidade, entre adultos, ocorre em<br />
todos estratos sócio-econômicos, com aumento<br />
significativo nas famílias de baixa renda [1,2], uma<br />
transição no estado nutricional da população pouco<br />
encontrada em países em desenvolvimento [3]. Em<br />
países industrializados, o controle de peso é parte<br />
integrante das principais prioridades de saúde<br />
identificadas para o futuro [4]. Na maioria dos países<br />
europeus há programas que enfocam especialmente<br />
os riscos cardiovasculares na obesidade [3]. No Brasil,<br />
é certo que esse problema determina importantes<br />
implicações para a definição de prioridades e de<br />
estratégias de ação de Saúde Pública, reservando-se<br />
lugar de destaque à prevenção e ao controle das<br />
doenças crônico-degenerativas, através de ações de<br />
educação em alimentação e nutrição, que alcancem<br />
de modo eficaz todos os estratos econômicos da<br />
população [1].<br />
Nos países ocidentais encontram-se disponíveis<br />
uma culinária variada, assim como uma enorme<br />
variedade de alimentos [5].<br />
Com o surgimento das novas gerações de<br />
balanças, e principalmente das eletrônicas, nasceu, no<br />
Brasil, um novo tipo de restaurante chamado “por<br />
quilo”. A média de consumo “per capita” gira em torno<br />
de 420g [6]. Esse tipo de restaurante, cujo atendimento<br />
é self-service, passa a ser mais interessante que o selfservice<br />
simples, pois o cliente escolhe apenas aquilo que<br />
pretende consumir, ciente de que os restos sairão de<br />
seu próprio orçamento. Por outro lado, a possibilidade<br />
de escolher por peso, faz com que se gaste na medida<br />
da disposição financeira [6]. Assim, esse tipo de<br />
mercado passou a ser bastante procurado nos grandes<br />
centros urbanos do País.<br />
Popkin [3] relata que as transformações nas<br />
preferências, ao longo do tempo, podem ser<br />
facilmente visualizadas nos países em<br />
desenvolvimento. A redução da fertilidade, o<br />
envelhecimento da população e o surgimento de um<br />
novo cenário epidemiológico, conduzem a uma<br />
acelerada transição nos padrões dietéticos. Passam a<br />
coexistir, simultaneamente, quadros endêmicos de<br />
subnutrição e de obesidade. Num momento<br />
posterior, a difusão e o acesso ao conhecimento<br />
levam a uma reavaliação dos hábitos adotados,<br />
motivada essencialmente por razões vinculadas ao<br />
prolongamento da vida e da saúde. Qualquer que<br />
seja a natureza da predisposição genética à obesidade,<br />
está claro que os níveis relativos de ingestão e<br />
dispêndio de energia são cruciais no desenvolvimento<br />
do excesso de peso [8]. Ao mesmo tempo é<br />
impossível que a genética sozinha seja suficiente para<br />
explicar o aumento maciço da obesidade, como tem<br />
ocorrido mundialmente nos últimos 20 anos e,<br />
inquestionavelmente, o meio ambiente desempenha<br />
um papel importante, quando permite a expressão<br />
da predisposição genética [9]. Neste contexto, a<br />
mudança ambiental mais importante dos últimos<br />
tempos pode ser a bem documentada alteração no<br />
padrão típico da dieta e atividades físicas, que têm<br />
ocorrido nos países industrializados. Tem havido um<br />
grande aumento no consumo de gorduras e sacarose,<br />
baixa ingestão de fibras, acompanhados do<br />
sedentarismo da vida da maioria das pessoas. Essas<br />
tendências foram percebidas primeiramente nos<br />
Estados Unidos e se espalharam para outros países<br />
[10]. A longo prazo, a obesidade impõe uma série de<br />
perigos médicos, entre os quais a resistência à insulina<br />
e o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2;<br />
diminuição da tolerância à glicose; hiperinsulinemia;<br />
hiperlipidemias em geral, elevados níveis de<br />
137
138<br />
triglicérides e de colesterol, em especial a fração LDL;<br />
e, hipertensão arterial [11].<br />
Esse estudo realizou uma avaliação da<br />
composição das preparações oferecidas nesses<br />
restaurantes na região de Cerqueira César, São Paulo,<br />
na alimentação de seus clientes e verificou a adequação<br />
dessa alimentação com relação às recomendações<br />
sugeridas.<br />
Metodologia<br />
O objeto de estudo foi constituído por alimentos<br />
e preparações oferecidas em quatro restaurantes “por<br />
quilo” do Bairro de Cerqueira César, na cidade de São<br />
Paulo. Os dados foram colhidos durante 5 dias<br />
consecutivos por 4 semanas, sendo destinada uma<br />
semana para cada restaurante. Foram anotadas, em<br />
cada restaurante, as saídas de gêneros e/ou produtos<br />
alimentícios do estoque, que se destinavam à produção<br />
das preparações. Os dados foram coletados por peso,<br />
em kg. Para cada produto foi aplicado um Indicador<br />
de Parte Comestível (Indicador que prevê as perdas<br />
inevitáveis como casca, aparas, ossos, entre outros),<br />
para obtenção do peso líquido. A quantidade de<br />
alimentos disponível para consumo foi estimada com<br />
base no peso líquido, dividido pelo número de<br />
refeições servidas durante o período de coleta de dados<br />
- uma semana -, para a determinação da quantidade<br />
individual comestível (QIC). Os alimentos foram<br />
agrupados em um pool de nutrientes, utilizando-se as<br />
QICs obtidas, do qual se conseguiu a composição<br />
nutricional do padrão alimentar estimado em cada<br />
restaurante. E, assim, foi possível a compilação de<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
todas as informações nutricionais dos alimentos e<br />
bebidas servidos nos estabelecimentos, durante o<br />
período da pesquisa. O cálculo da composição química<br />
dos alimentos utilizados nas preparações disponíveis<br />
para consumo, foi feito por meio de tabelas de<br />
composição de alimentos e por análises<br />
bromatológicas. Foi calculado o CSI - Índice de<br />
Gordura Saturada e Colesterol - das preparações [12].<br />
A adequação nutricional seguiu as recomendações do<br />
RDA [13] e SBAN [14]. Foi elaborado um prato<br />
controle para representar uma refeição<br />
nutricionalmente equilibrada, constituído de salada de<br />
alface e tomate, bife grelhado, legumes mistos, arroz,<br />
feijão, pão, salada de fruta com granola e água. Os<br />
dados foram analisados por meio da estatística<br />
descritiva e analítica. As médias dos nutrientes controle<br />
e de consumo foram comparadas de acordo com<br />
técnicas estatísticas recomendadas no Advanced do<br />
Software para Análise Estatística SPSS, versão 10.0 e<br />
Microcal Origin.<br />
Resultados<br />
Os dados referentes aos alimentos e preparações<br />
disponíveis para consumo nos quatro restaurantes<br />
estudados, provêm de informações cedidas pelos<br />
próprios restaurantes, e, com base nessas informações,<br />
foram realizados cálculos sobre a composição<br />
nutricional, como já mencionado anteriormente. A<br />
tabela I demonstra a contribuição nutricional média<br />
desses alimentos. A figura 1 demonstra a participação<br />
relativa dos macronutrientes nos restaurantes “por<br />
quilo”.<br />
Fig. 1 - Participação relativa dos nutrientes energéticos sobre o VET dos alimentos e preparações oferecidos<br />
nos restaurantes estudados.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Tabela I - Distribuição média dos teores de<br />
nutrientes contidos nas preparações servidas no<br />
almoço, dos restaurantes “por quilo”, durante o<br />
período de pesquisa no “prato controle”.<br />
Nutrientes Restaurantes<br />
1 2 3 4<br />
Energia (kcal) 1482,00 1310,00 1351,00 1468,00<br />
Proteína (g) 61,37 54,26 56,04 59,66<br />
Lipídeo (g) 67,57 58,64 73,26 66,37<br />
CHO (g) 160,15 151,34 129,16 161,56<br />
Fibra (g) 12,32 11,74 18,25 13,05<br />
AGSat. (g) 19,29 17,87 22,22 18,69<br />
AGIns. (g) 40,41 36,34 39,44 37,39<br />
Colesterol (mg) 168,83 224,90 211,10 183,20<br />
Açúcares (g) 49,56 51,80 35,56 48,61<br />
Os pratos mais consumidos foram arroz, nas<br />
mais variadas formas de preparação; o feijão como<br />
“tutu” é mais consumido que o feijão comum; feijoada;<br />
diversos tipos de massa; carnes em geral; batata frita;<br />
pastel, coxinha e produtos de pastelaria em geral.<br />
Dentre as saladas, as mais consumidas foram de alface,<br />
brócolis, cenoura, palmito e as com molho de<br />
maionese. As sobremesas mais requisitadas foram<br />
pudim de leite condensado, salada de frutas, morango,<br />
frutas em calda e a confeitaria do dia. As bebidas mais<br />
ingeridas foram os refrigerantes light. A tabela II<br />
demonstra a contribuição nutricional do “prato<br />
controle”. A figura 2 demonstra a participação relativa<br />
dos macronutrientes no “prato controle”.<br />
Tabela II - Distribuição média dos teores de<br />
nutrientes contidos no “prato controle”.<br />
Nutrientes Prato Controle<br />
Energia (kcal) 970,00<br />
Proteína (g) 39,10<br />
Lipídeo (g) 27,53<br />
CHO (g) 135,55<br />
Fibra (g) 15,86<br />
AGSat. (g) 9,92<br />
AGIns. (g) 13,61<br />
Colesterol 63,00<br />
Açúcares (g) 39,06<br />
CSI 13,17<br />
Fig. 2 - Participação relativa dos nutrientes<br />
energéticos sobre o Valor Energético Total do “prato<br />
controle”.<br />
Utilizando-se os dados das tabelas I e II, foi<br />
realizada uma Análise de Agrupamento de dados, para<br />
o “prato controle”, alimentos e preparações oferecidas<br />
nos restaurantes pertencentes à amostra, cujo<br />
dendrograma está demonstrado na figura 3.<br />
Fig. 3 - Agrupamento de dados do “prato controle”<br />
e dos alimentos e preparações oferecidos nos<br />
restaurantes pesquisados.<br />
Discussão<br />
Os resultados da análise das preparações,<br />
apresentados na tabela I, constataram:<br />
Energia em torno de 1400 kcal - 55% da RDA e<br />
67,5% da SBAN; Lipídeos - 78% da RDA e 144% da<br />
SBAN; Proteínas - 102% da RDA e 95% da SBAN;<br />
Carboidratos - 30% da RDA e 48% da SBAN; Fibras<br />
- 69,2% da SBAN e 39,5% da RDA; Ácidos graxos<br />
saturados - 52% da RDA e 80% da SBAN; Ácidos<br />
graxos insaturados - 68% da RDA e 111% da SBAN;<br />
Colesterol - 66% da RDA e 95% da SBAN; Açúcares<br />
simples - 31% do total de carboidratos. Considerandose<br />
que a refeição almoço não deveria ultrapassar 40%<br />
do Valor Energético Total (VET), pode-se dizer que<br />
essa alimentação possui alta concentração energética<br />
e lipídica.<br />
Ao analisar a contribuição percentual dos<br />
nutrientes energéticos no VET médio consumido, a<br />
figura 1 demonstra que os alimentos e preparações<br />
oferecidos nos restaurantes “por quilo” estudados,<br />
encontram-se um pouco acima do recomendado pelo<br />
NRC e SBAN para proteínas, com excesso de gorduras<br />
e subdimensionados em carboidratos, com<br />
desequilíbrio um pouco mais acentuado para o<br />
Restaurante 3.<br />
Utilizando-se os dados das preparações, realizouse<br />
uma análise estatística através do teste t para amostras<br />
independentes, com o objetivo de verificar se há diferença<br />
significativa entre os restaurantes. Esse cálculo foi feito<br />
sobre o conjunto total de cada variável medida. O<br />
resultado dessa análise indica que o teor de lipídeos<br />
(Restaurante 1 e Restaurante 3; Restaurante 1 e<br />
Restaurante 4), ácidos graxos insaturados (Restaurante<br />
1 e Restaurante 3; Restaurante 1 e Restaurante 4) e<br />
ácidos graxos saturados (Restaurante 1 e Restaurante<br />
3; Restaurante 1 e Restaurante 4; Restaurante 2 e<br />
139
140<br />
Restaurante 4) se mostram significativamente<br />
diferentes. A figura 3 (Análise de Agrupamento de<br />
dados) aponta o resultado obtido pelo teste t, onde<br />
foram plotados a média e o erro padrão dos<br />
restaurantes em relação a lipídeos. Tal resultado pode<br />
ser atribuído à diferenciação das receitas entre os<br />
restaurantes, que utilizam proporções distintas de<br />
lipídeos em preparações semelhantes, além de<br />
diferentes tipos de gorduras.<br />
Foi elaborada uma refeição equilibrada,<br />
denominada prato controle, cuja composição<br />
nutricional está na tabela II / figura 2, e demonstra<br />
harmonia entre os diferentes nutrientes, guardando<br />
correta relação entre si.<br />
Considerando-se o prato controle, uma refeição<br />
balanceada, pode-se inferir que as preparações<br />
estudadas, disponíveis para consumo nos<br />
estabelecimentos pesquisados, estão muito longe de<br />
constituir uma refeição equilibrada, apresentando<br />
características aterogênicas, principalmente quando<br />
verificamos os valores de CSI, apresentados na tabela<br />
III, podendo contribuir como um dos fatores de risco<br />
ao aparecimento da obesidade e de doença<br />
cardiovascular.<br />
Conclusão<br />
A avaliação dos alimentos e preparações<br />
disponíveis para consumo nos restaurantes “por quilo”<br />
permitiu concluir que:<br />
• Os alimentos e bebidas oferecidos nesses<br />
estabelecimentos contribuem com 67,5% da<br />
necessidade energética diária de seus clientes, ou seja,<br />
muito além do recomendado para a refeição almoço,<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Tabela III - Valor calórico e teores de lipídeos contidos em 100g das preparações analisadas em laboratório,<br />
dos restaurantes “por quilo”.<br />
Preparação Ene. Col. AGT AGS AGMT AGPT AGTR AGI CSI<br />
(kcal) (mg) (g) (g) (g) (g) (g) (g)<br />
Alcatra 170,79 115,17 2,67 0,84 1,40 0,43 0,31 1,83 6,61<br />
Canelone frango c/catup. 117,16 56,75 7,84 0,42 7,23 0,19 6,00 7,42 3,26<br />
Contra filé 208,78 111,98 4,83 2,22 1,15 1,46 0,82 2,61 7,84<br />
Escalope frango surprise 201,65 97,782,25 0,92 0,30 1,03 1,20 1,33 5,82<br />
Feijoada 159,46 107,01 4,47 2,44 0,14 1,89 1,63 2,03 7,81<br />
Frango grelhado 157,23 93,41 4,32 0,13 4,10 0,09 0,09 4,19 4,48<br />
Frango recheado 319,64 131,81 17,33 5,10 5,86 6,37 5,74 12,23 11,74<br />
Macarrão c/ calabresa 98,91 50,61 0,75 0,22 0,27 0,26 0,51 0,53 2,75<br />
Picanha 252,52 140,19 5,69 1,71 3,36 0,62 0,29 3,988,74<br />
Rondeli c/ presunto 186,94 91,90 11,281,76 7,54 1,98 6,11 9,52 6,37<br />
Legenda: Ene = energia; Col = colesterol; AGT = ácido graxo total; AGS = ácido graxo saturado; AGMT = ácido graxo<br />
monoinsaturado total; AGPT = ácido graxo poinsaturado total; AGTR = ácido graxo trans; AGI=ácido graxo insaturado; CSI<br />
= índice de colesterol e gordura saturada.<br />
mostrando-se uma alimentação de alta densidade<br />
calórica.<br />
• A composição centesimal desses alimentos<br />
e preparações revelou que não há harmonia entre os<br />
nutrientes energéticos, apresentando-se com elevado<br />
teor de gorduras, pobre em carboidratos e pouco<br />
acima em proteínas. A oferta de fibras está adequada,<br />
enquanto que a de ácidos graxos saturados e<br />
insaturados possuem um desbalanceamento, com<br />
oferta elevada de saturados. O colesterol e açúcares<br />
simples também são oferecidos em quantidades<br />
elevadas para uma refeição.<br />
• Quando comparadas ao prato controle, que<br />
foi baseado nas recomendações do NRC e SBAN, não<br />
podem ser a melhor recomendação nutricional, tendo<br />
em vista que essa prática pode levar a uma falta de<br />
equilíbrio na composição nutricional da dieta e seu<br />
consumo continuado pode trazer prejuízo à saúde.<br />
• Através de análises estatísticas, pode-se<br />
observar que o “prato controle” está muito distante<br />
dos alimentos e preparações oferecidos nos quatro<br />
restaurantes pertencentes à amostra, conotando outra<br />
vez o desequilíbrio da alimentação praticada nesses<br />
estabelecimentos.<br />
• A avaliação demonstra que esta alimentação<br />
é de alta densidade energética, elevado teor de<br />
gorduras, ácidos graxos saturados, colesterol, proteínas<br />
e açúcares simples, com pouca contribuição dos<br />
carboidratos no VCT da dieta e adequação em fibras,<br />
ou seja, excetuando o teor de fibras, apresenta<br />
características aterogênicas, podendo contribuir como<br />
um dos fatores de risco ao aparecimento da obesidade<br />
e de doença cardiovascular.<br />
• Cabe salientar que o tipo de venda e a<br />
disposição das preparações no balcão induzem à
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
escolha inadequada dos alimentos, levando ao<br />
desbalanceamento da dieta.<br />
Agradecimentos<br />
Aos órgãos financiadores da pesquisa: CAPES,<br />
CNPq e FAPESP.<br />
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alimentação. In: Monteiro CA, organizador. Velhos e<br />
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à população brasileira. Ribeirão Preto, Sociedade<br />
Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), 1990.<br />
141
142<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Efeitos da ingestão de diferentes soluções<br />
contendo carboidratos, eletrólitos e glicerol<br />
sobre os parâmetros fisiológicos e bioquímicos<br />
de atletas submetidos a uma corrida de 30 km<br />
em ambiente de calor intenso<br />
Effects of beverages containing carbohydrates, electrolytes<br />
and glycerol upon physiological and biochemical parameters in<br />
athletes during a 30 km run with high temperature<br />
Reinaldo Abunasser Bassit*, Mara Assis Malverdi**, Miguel Luiz Batista Júnior***,<br />
Luiz Fernando Bicudo Pereira Costa Rosa****<br />
*Nutricionista, professor de educação física, Mestre em ciências e douturando pelo Instituto de ciências biomédicas da USP, **nutricionista e<br />
prof de educação, ***Mestrando pelo Departamento de fisiologia do Instituto de ciências biomédicas da USP, ****Prof. Dr. do laboratório de<br />
metabolismo do Instituto de ciências biomédicas da USP<br />
Resumo<br />
O desempenho físico durante corrida de longa duração em ambiente quente é afetado por dois parâmetros: hidratação<br />
e glicemia. A ingestão de bebidas contendo íons, carboidratos, ou glicerol é utilizada para evitar a desidratação, a hipoglicemia<br />
e a conseqüente queda no desempenho. Dessa forma, avaliou-se o efeito da ingestão de diferentes soluções em atletas<br />
durante 30 km de corrida em ambiente quente. Foram avaliados 20 corredores separados em 4 grupos de igual número. O<br />
grupo 1 recebeu solução contendo carboidrato a 10% (1g.kg -1 .h -1 ); o grupo 2 isotônico comercial; o grupo 3 apenas água, e<br />
o grupo 4 água + Glicerol (5%). Os atletas ingeriram 400ml das respectivas soluções a cada volta de 6 Km (5 voltas).<br />
Observou-se redução na concentração de Na + no grupo 3, e manutenção de Cl - e K + , que não se modificaram nos demais<br />
grupos. Houve aumento da glicemia no grupo 1 no pós-exercício, contrariamente ao obtido no grupo 3. Concomitantemente,<br />
observou-se progressiva diminuição no tempo de corrida no grupo 1, e manutenção do volume hídrico nos grupos 1 e 2,<br />
associado a uma menor perda de peso em percentual nestes grupos. Dessa forma, a solução contendo carboidrato foi<br />
eficiente em aumentar a glicemia e manter a intensidade do esforço, assim como, diminuir a perda hídrica durante a corrida<br />
no calor. A solução isotônica foi capaz de evitar a perda hídrica, mas não foi eficiente em aumentar a glicemia e manter a<br />
intensidade do esforço.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Hidratação, glicemia, atletas<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 1 de outubro; aprovado em 15 de outubro de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Reinaldo Abunasser Bassit, Total Nutrition, Av. Horacio Lafer, 245 Itaim Bibi 04538-081<br />
São Paulo SP, Tel: 3078-1687, 9912 2530, E-mail: tubaraousp@.com.br
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Abstract<br />
Athletic performance during long distance running is affected by several physiological conditions, among them hydration<br />
and plasma glucose concentration. A common strategy used to postpone fatigue in such circumstances is the consumption<br />
of beverages containing ions, carbohydrates or a solution of glycerol. In the present study we evaluated the effect of such<br />
beverages upon performance, glicaemia and plasma ions concentrations during a 30km run. Twenty athletes were divided<br />
into 4 groups: group 1- receiving a 10% carbohydrate solution (1g.kg -1 .h -1 ); group 2- commercial beverage for athletes; group<br />
3- plain water and group 4- glycerol solution (5%). The athletes ingested 400ml of each solution every 6km. Peripheral blood<br />
was collected before and immediately after the exercise bout. We observed a reduction in Na + plasma concentration in group<br />
3, after the run, and no more changes in K + and Cl - concentrations. The athletes from group 1 presented an augmented<br />
plasma glucose concentration, paralleled with a reduction in the time for each 6km step. Group 1 and 2 presented, also, a<br />
sustained body weight, indicating a decreased loss of water. These data indicates that carbohydrate solution was effective in<br />
postpone fatigue and keeps constant plasma glucose and ions concentration during a 30km run.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Hydration, plasma glucose, athletes<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Introdução<br />
Os exercícios de endurance, caracterizados por um<br />
tempo prolongado de esforço, induzem a adaptações<br />
profundas em vários sistemas fisiológicos, como por<br />
exemplo, nos sistemas cardiovascular, muscular e<br />
endócrino [25]. Um importante efeito dessas<br />
adaptações é a mudança que ocorre na taxa de<br />
utilização dos substratos energéticos (carboidratos,<br />
gorduras e proteínas) durante o esforço físico.<br />
Quando comparamos um indivíduo treinado em<br />
exercícios de endurance (ex: um maratonista) com um<br />
sedentário, o primeiro oxida menos carboidrato e mais<br />
gordura durante um esforço, na mesma intensidade<br />
absoluta, ou seja, na mesma potência absoluta ou taxa<br />
de consumo de oxigênio (VO 2 ) e, possivelmente,<br />
também, na mesma intensidade relativa de esforço<br />
[23,28].<br />
Sabidamente, a diminuição das reservas<br />
corporais de glicogênio muscular e hepático é fator<br />
importante no desenvolvimento de um estado de<br />
fadiga. Dessa forma, o treinamento de endurance<br />
direciona a utilização de substratos, atuando como<br />
principal fator no aumento da capacidade física em<br />
exercícios prolongados [25]. De fato, há muito tempo<br />
cientistas vêm demonstrando esse quadro. Christensen<br />
& Hansen [7], publicaram as primeiras evidências de<br />
que o treinamento diminui a necessidade de utilização<br />
de carboidratos como combustível durante exercícios<br />
prolongados. Novas informações relevantes surgiram<br />
nos anos 60, quando foi re-introduzido o<br />
procedimento de biópsia muscular. Num estudo<br />
desenvolvido por Hermansen et al. [27], foi encontrado<br />
que a média de utilização de glicogênio muscular era<br />
similar em sujeitos treinados e não treinados, quando<br />
em um esforço físico com a mesma intensidade relativa<br />
(75-80% do VO2 máx.), mas devido à média absoluta<br />
do gasto energético ter sido 20% maior no grupo<br />
treinado, pode-se concluir que havia marcadamente<br />
um efeito poupador de glicogênio (glycogen-sparing),<br />
induzido pelo treinamento de endurance. Atualmente<br />
já é bem estabelecido que o treinamento reduz a<br />
utilização do glicogênio muscular e da glicose<br />
plasmática, quando o exercício é executado na mesma<br />
intensidade absoluta, tanto antes, quanto após o<br />
treinamento [25].<br />
Além da menor concentração de glicogênio<br />
muscular e hepático, e da glicose sanguínea estarem<br />
relacionados com o aparecimento precoce da fadiga<br />
metabólica, outros elementos estão, também,<br />
relacionados com o surgimento da fadiga.<br />
A fadiga pode ser identificada pela falha em<br />
manter o nível desejado de trabalho ou performance,<br />
sendo que variáveis individuais podem estar relacionadas<br />
com esse quadro, como por exemplo, a massa muscular<br />
envolvida, a intensidade da contração muscular, a<br />
velocidade do movimento executado, a taxa de<br />
amplitude do movimento, a freqüência de contração e<br />
relaxamento muscular, além da grande diferença<br />
individual e vulnerabilidade ao aparecimento desse<br />
quadro. Além disso, a idade, sexo, estado de saúde<br />
prévio, composição corporal, e particularmente o estado<br />
de hidratação do indivíduo, também podem contribuir<br />
de maneira significativa para o aparecimento da fadiga.<br />
Também, características genéticas em termos de<br />
estrutura, organização e composição do sistema neural<br />
e muscular, são variáveis relacionadas ao próprio esforço<br />
que estão envolvidas com o quadro de fadiga [25].<br />
143
144<br />
O exercício de endurance e o surgimento da fadiga<br />
são criticamente dependentes da composição física e<br />
química do ambiente no qual o esforço é realizado.<br />
Dessa forma, a exaustão prematura aparece como<br />
resultado do esforço físico realizado em ambiente<br />
quente e úmido ou em condição de altitude,<br />
particularmente quando o indivíduo não está<br />
aclimatado [23].<br />
Adicionalmente, os eletrólitos, também têm<br />
potencial importância participando do ciclo da fadiga,<br />
notadamente alguns cátions como o potássio (K + ), o<br />
sódio (Na + ), o magnésio (Mg 2+ ), e o cálcio (Ca 2+ ), assim<br />
como, alguns ânions como o bicarbonato (HCO - ) e o<br />
cloreto (CL - ).<br />
Carboidratos<br />
Desde 1924 a importância da suplementação<br />
com carboidratos já havia sido demonstrada, quando<br />
foi encontrado, em um experimento realizado com<br />
12 atletas que participaram da Maratona de Boston<br />
em 1923, uma diminuição da concentração plasmática<br />
de glicose (< 50mg/dl), e um efeito preventivo da<br />
ingestão de carboidratos antes e durante a maratona,<br />
levando ao aumento da performance [32].<br />
Os efeitos e possibilidades da suplementação de<br />
carboidratos são conhecidos e estudados desde a<br />
década de 60, quando foi descrita pela primeira vez a<br />
estratégia conhecida como supercompensação [57].<br />
Este tipo de dieta foi utilizada com sucesso por muitos<br />
atletas durante provas com mais de uma hora de<br />
duração e alta intensidade, onde a utilização de<br />
carboidratos como fonte energética é determinante<br />
da performance [47]. A ingestão de carboidratos<br />
durante provas longas mantém o rendimento elevado<br />
e, durante os treinos, permite ao atleta trabalhar com<br />
maior carga por mais tempo. As estratégias possíveis<br />
são variadas e específicas [29].<br />
É fato que quando a concentração de glicogênio<br />
muscular ou de glicose sanguínea diminui durante o<br />
exercício prolongado, a intensidade do esforço<br />
obrigatoriamente tem que ser reduzida ou o exercício<br />
tem que ser interrompido [30]. Sabidamente os<br />
carboidratos da dieta têm influência significativa nas<br />
suas reservas corporais (glicogênio muscular e<br />
hepático), fato que tem estimulado uma série de<br />
experimentos com manipulação nutricional, com a<br />
finalidade de otimizar os estoques de carboidrato<br />
corporal e aumentar a capacidade de treinamento,<br />
assim como a performance durante o esforço.<br />
Contrariamente a isso, quando o conteúdo de<br />
carboidrato da dieta de atletas é menor que o ideal,<br />
gera o aparecimento precoce da fadiga, que durante o<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
exercício é freqüentemente atribuída à diminuição<br />
das concentrações de glicogênio muscular e da glicose<br />
sangüínea (
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Sabidamente, a evaporação constitui o principal<br />
fator capaz de levar o corpo humano a uma perda<br />
eficiente de calor. Dessa forma, o calor é transferido<br />
continuamente para o meio ambiente, à medida em<br />
que a água é vaporizada a partir das vias respiratórias<br />
e da superfície da pele. Quando em ambientes com<br />
temperaturas elevadas, a perda de calor pelos processos<br />
de condução, convecção e irradiação está<br />
comprometida [37]. Assim, o único mecanismo de<br />
perda de calor, além da pequena contribuição da<br />
evaporação da água pelo sistema respiratório, é a<br />
evaporação através do suor na pele, fato que gera uma<br />
grande perda de água corporal.<br />
Durante o exercício físico prolongado, sem a<br />
ingestão de água, existem duas fontes que adicionam<br />
água ao suprimento total de água corporal. A primeira<br />
refere-se a um aumento na produção metabólica de<br />
água, que é uma função do gasto energético. Dessa<br />
forma, conforme a intensidade do esforço aumenta,<br />
também aumenta a quantidade metabólica de água<br />
produzida (100g/h). A segunda fonte de água durante<br />
o esforço é aquela liberada quando o glicogênio<br />
muscular é utilizado como substrato energético<br />
durante o exercício, ou seja, para cada grama de<br />
glicogênio oxidado, 4 gramas de água serão liberadas,<br />
totalizando aproximadamente ½ litro de água por<br />
hora [50,57].<br />
Deve ser ressaltado que a água formada por<br />
esses processos, na realidade não é uma água<br />
adicionada, mas sim uma água formada a partir dos<br />
processos de liberação de hidrogênio e oxigênio do<br />
metabolismo, e dos estoques de água corporal<br />
previamente ligada ao glicogênio muscular.<br />
Infelizmente, a quantidade de água formada pelos dois<br />
processos não é suficiente para reposição de fluídos<br />
durante o exercício [52].<br />
Visto que a geração de calor pelo músculo ativo<br />
equivale a 75-80% de toda a energia produzida, a perda<br />
de líquidos através do suor é de suma importância<br />
para a manutenção do equilíbrio térmico corporal.<br />
Sabendo-se que para cada litro de suor evaporado,<br />
um total de 580 Kcal é removido do corpo, e que um<br />
indivíduo (média de 70Kg de peso corpóreo) durante<br />
uma corrida é capaz de produzir 720 kcal/h, se tiver<br />
uma eficiência mecânica de 20%, esse indivíduo perderá<br />
1,25 litros de água/hora. Dessa maneira, embora a taxa<br />
de suor possa ser afetada por vários fatores (temperatura<br />
ambiente e umidade relativa do ar), a taxa máxima de<br />
suor da média dos indivíduos fica por volta de 1,5 litros/<br />
h, e está amplamente relacionada com a intensidade e<br />
duração do esforço [5].<br />
O suor é composto principalmente de água e<br />
quantidades significativas de eletrólitos. A maior<br />
concentração de íons presente no suor é atribuída ao<br />
Na + e CL - , e correspondem a cerca de um terço ou a<br />
metade daquelas encontradas no plasma, ao contrário<br />
do K + e Mg 2+, que se encontram em quantidades<br />
menores no suor. Dessa maneira, uma taxa de suor<br />
elevada, devido ao aumento da intensidade e duração<br />
do esforço, combinado, ainda, com uma temperatura<br />
ambiente e umidade relativa do ar alta, irá depletar os<br />
depósitos totais de Na + e CL - , numa extensão muito<br />
maior do que qualquer outro eletrólito [57].<br />
Esta situação gera um quadro de “conflito<br />
fisiológico”, uma vez que durante o exercício, na<br />
tentativa de atender às demandas metabólicas do<br />
músculo ativo, o fluxo sangüíneo é desviado para o<br />
tecido muscular, ao mesmo tempo. No entanto, parte<br />
desse fluxo deverá ser direcionado aos tecidos<br />
periféricos, para aumentar a perda de calor para o meio<br />
ambiente, e evitar o aumento da temperatura corporal<br />
central. Assim, o fluxo total gerado é atendido pelo<br />
aumento do débito cardíaco. Com o aumento da<br />
intensidade e duração do esforço, associado a um<br />
aumento na taxa de suor (perda de água do corpo), o<br />
débito cardíaco passa a não dar mais conta da perfusão<br />
exigida pelo músculo e pelos processos de regulação<br />
térmica. O atleta se vê, então, obrigado a diminuir ou<br />
interromper o esforço, devido a uma falha em seu<br />
sistema de fornecimento de oxigênio para o trabalho<br />
muscular, e o seu sistema de refrigeração corporal [45].<br />
Assim, fica claro que a ingestão de líquidos é de<br />
fundamental importância durante esforços intensos e<br />
prolongados, principalmente em ambiente quente, e<br />
que a reposição hídrica é capaz de afetar<br />
significantemente a performance de atletas de<br />
endurance.<br />
Considerando-se, então, que a composição do<br />
suor é hipotônica em relação ao plasma sangüíneo, a<br />
conseqüência do suor prolongado é um aumento da<br />
osmolaridade plasmática, que pode ter um efeito<br />
significativo na capacidade de manutenção da<br />
temperatura corporal [24,26]. A hiperosmolaridade do<br />
plasma, induzida antes do exercício, tem mostrado uma<br />
diminuição da resposta efetora termorregulatória,<br />
resultando em uma elevação do limiar para o suor e<br />
reduzindo a vasodilatação cutânea. Contudo, a resposta<br />
cardiovascular e termorregulatória, durante esforços<br />
de curta duração (30 min), se mostram indiferentes às<br />
mudanças na osmolaridade induzida pelo exercício<br />
[18,19].<br />
As concentrações plasmáticas de potássio<br />
permanecem constantes após uma maratona, podendo<br />
aumentar ligeiramente quando é oferecido ao atleta<br />
uma solução com grande quantidade de potássio ou<br />
nenhum eletrólito. Sabidamente a concentração de<br />
145
146<br />
potássio retorna rapidamente à situação normal<br />
(4–5mmol/L) no período pós-exercício. Esse fato,<br />
provavelmente, está relacionado com a maior<br />
concentração intracelular desse elemento (150-<br />
160mmolL), que é liberado pelo fígado, músculo, e<br />
células vermelhas do sangue, que tendem a elevar sua<br />
concentração no plasma durante o esforço, apesar das<br />
perdas ocorridas através do suor [30,56].<br />
O conteúdo plasmático de potássio representa<br />
apenas uma pequena fração de todo o estoque<br />
corporal, e está estimado em apenas 1% dos estoques<br />
corporais de eletrólitos, que é perdido quando um<br />
indivíduo está desidratado com perda de peso<br />
equivalente a cerca de 5,8% do seu peso corporal [10].<br />
Bebidas utilizadas durante os exercícios de<br />
endurance<br />
O objetivo primário da ingestão de bebidas<br />
durante o exercício prolongado é fornecer substrato<br />
para o trabalho muscular e água para evitar os efeitos<br />
da desidratação. O suprimento de eletrólitos para repor<br />
as perdas pelo suor não é usualmente a prioridade<br />
durante esse tipo de esforço, sendo que, quando<br />
adicionados em altas concentrações, poderão surtir<br />
efeitos negativos no rendimento. Apesar da ingestão<br />
de água ser considerada efetiva durante os esforços<br />
de endurance, a adição de açúcares, eletrólitos e<br />
possivelmente outros componentes (ex: Glicerol)<br />
podem trazer benefícios adicionais para o atleta [30].<br />
Segundo Noakes [48], o volume de líquidos<br />
ingeridos voluntariamente durante o exercício é capaz<br />
de repor apenas a metade da água que é perdida.<br />
Indiscutivelmente, a conseqüência mais séria da<br />
reposição inadequada de líquidos durante o exercício<br />
é a hipertermia. Quando o organismo está<br />
superaquecido pode ocorrer exaustão devido ao calor<br />
e até morte. Em geral a maioria dos corredores<br />
ingerem menos do que 500 mL de líquidos por hora.<br />
Esse fato está relacionado com o desconforto causado<br />
por uma ingestão maior de líquidos, que irá obrigar o<br />
atleta a diminuir o seu passo até que esse deixe o<br />
estômago, assim como, com o tempo que é perdido<br />
(segundos) para ingestão de água nas estações de<br />
abastecimento [12].<br />
Em um estudo feito por Coyle & Montain [15],<br />
com ciclistas exercitados (temperatura ambiente de<br />
30ºC, umidade relativa do ar de 50%, intensidade<br />
média de 62-67 % do VO2 máx., por um tempo de 2<br />
horas), em diferentes situações de ingestão de líquidos<br />
[nenhum tipo de bebida, apenas 300mL/h, quantidade<br />
moderada de bebida (700mL/h), e grandes<br />
quantidades de líquidos (1,2 L/h)], demonstrou que<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
ocorreu uma diminuição gradativa da temperatura<br />
corporal central, do batimento cardíaco e da percepção<br />
do esforço, conforme a ingestão de líquidos<br />
aumentava. Concomitantemente a isso, a média<br />
percentual de desidratação se mostrou inversamente<br />
proporcional à ingestão de quantidades crescentes de<br />
líquidos: 3%, 2% e 1%, respectivamente. A bebida<br />
esportiva ingerida continha 6% de carboidratos e baixa<br />
concentração de eletrólitos, sendo que os volumes<br />
ingeridos repunham aproximadamente 20, 50 e 80%<br />
da perda de líquidos durante as 2 horas de ciclismo.<br />
Assim, esses autores concluíram que a magnitude do<br />
aumento natural da desidratação após o ciclismo, foi<br />
o principal fator associado com a hipertermia e o<br />
estresse cardiovascular.<br />
É consenso que a desidratação e a diminuição<br />
dos estoques corporais de carboidratos são fatores<br />
limitantes para a realização de esforços físicos intensos<br />
e prolongados. Dessa maneira, a formulação de<br />
bebidas contendo carboidratos e eletrólitos, assim<br />
como a recomendação de ingestão (volume e o tempo<br />
de ingestão), vêm sendo extensamente estudadas. Por<br />
vários anos foi comumente sustentado que bebidas<br />
contendo concentrações maiores do que 2,5% de<br />
carboidratos, poderiam comprometer a reposição de<br />
água pela diminuição na média do esvaziamento<br />
gástrico, dessa forma, aumentando o risco de<br />
desidratação, hipertermia e sensação de estômago<br />
embrulhado. Também, acreditava-se que soluções<br />
contendo polímeros de glicose (maltodextrina)<br />
poderiam oferecer vantagens aos atletas, devido à baixa<br />
osmolaridade e rápido esvaziamento gástrico<br />
atribuídos a essas soluções [16]. Contudo, evidências<br />
recentes têm sugerido que essas suposições não estão<br />
corretas [51].<br />
Um estudo realizado por Davis [16], onde foram<br />
administradas cinco soluções diferentes, uma<br />
contendo apenas água e as outras contendo eletrólitos<br />
e diferentes tipos e concentrações de carboidratos (6%<br />
de maltodextrina; 6, 8, e 10% de mistura contendo<br />
glicose e frutose), demonstrou que bebidas contendo<br />
concentrações iguais ou menores do que 10% desses<br />
açúcares (contendo baixa concentração de eletrólitos),<br />
têm uma taxa de esvaziamento gástrico e absorção<br />
similares. De acordo com esses achados, Neufer et al.<br />
& Mitchell et al. [46,38], não encontraram diferenças<br />
na taxa de esvaziamento gástrico, quando compararam<br />
soluções contendo diferentes concentrações (entre 5<br />
e 7,5%) e tipos de carboidratos (glicose, frutose,<br />
sacarose, e maltodextrina), com a ingestão de água,<br />
durante o exercício.<br />
Sabidamente, o principal fator determinante da<br />
média do esvaziamento gástrico é a concentração
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
calórica da solução ingerida, sendo que os diferentes<br />
tipos de carboidratos têm pequena participação nesse<br />
processo [4,51]. Outros investigadores mostraram não<br />
haver diferenças na taxa de esvaziamento gástrico,<br />
assim como em vários marcadores das funções<br />
cardiovasculares e termorregulatórias durante o<br />
exercício, quando indivíduos ingeriram quantidades<br />
moderadas de bebidas contendo carboidratos (6%-<br />
10%) [17,51]. Contudo, a média de reposição de<br />
líquidos é dependente não apenas da velocidade média<br />
pela qual a solução é esvaziada do estômago, mas,<br />
também, pela velocidade com que essa substância é<br />
absorvida pelo intestino [16]. Desta forma, é<br />
necessário considerar esses dois processos quando se<br />
investiga a capacidade de reposição de líquidos por<br />
meio de diferentes bebidas. Assim, um pequeno atraso<br />
no esvaziamento gástrico, quando se ingere uma<br />
solução contendo carboidratos e eletrólitos, é<br />
compensado pelo aumento da absorção intestinal da<br />
água resultante do efeito estimulatório da presença da<br />
glicose e do sódio [34].<br />
A formulação ideal de bebidas utilizadas durante<br />
o esforço físico, permanece ainda uma questão a ser<br />
respondida. Porém, até o momento, bebidas com<br />
concentrações de carboidratos maiores do que 2,5% e<br />
menores ou iguais a 10%, não irão comprometer a<br />
reposição de fluidos corporais. Dentro dessa idéia,<br />
bebidas contendo uma concentração maior de<br />
carboidrato podem fornecer vantagens adicionais<br />
durante o exercício prolongado. Além disso, a utilização<br />
de maltodextrina ao invés de quantidades iguais de<br />
açúcares simples, adicionados às bebidas esportivas,<br />
parece não fornecer nenhum benefício em termos de<br />
reposição de fluidos, devido às moderadas<br />
concentrações desses açúcares não influenciarem a taxa<br />
de esvaziamento gástrico e absorção [16].<br />
Além da comprovada importância da adição de<br />
carboidratos e eletrólitos nas bebidas esportivas, uma<br />
outra substância tem sido utilizada quando atletas são<br />
submetidos a exercícios de endurance em ambiente quente<br />
e úmido por mais de 1 hora. Nessa situação, o<br />
organismo humano pode perder até 3 litros de água,<br />
quantidade incapaz de ser reposta pela ingestão de água.<br />
Assim, a adição de glicerol à água pode prolongar o<br />
período de hiperidratação por mais de quatro horas<br />
[33,53].<br />
O glicerol é uma molécula contendo 3 carbonos,<br />
similar ao álcool, que ocorre naturalmente no organismo<br />
como componente dos estoques de gordura na forma<br />
de triglicerídeos (3 ácidos graxos + 1 molécula de<br />
glicerol). Uma pequena quantidade se encontra,<br />
também, presente nos fluidos corporais na forma de<br />
glicerol livre. Quando o glicerol é ingerido, ocorre<br />
aumento da osmolaridade dos fluidos do sangue e dos<br />
tecidos. A osmolaridade desses tecidos pode se manter<br />
constante se a água consumida com o glicerol não for<br />
excretada, até que a quantidade extra de glicerol seja<br />
removida pelos rins ou oxidada pelo organismo [21].<br />
Riedesel et al. [53] foram os primeiros a<br />
documentar o efeito do aumento do conteúdo de água<br />
corporal através da adição de glicerol. Dados similares<br />
têm sido documentados por outras pesquisas, onde o<br />
ganho de água corporal está tipicamente acima de 1<br />
litro, dependendo da quantidade e do tempo de ingestão<br />
[21,41].<br />
O glicerol também tem sido utilizado como<br />
tratamento de edema cerebral e no estado de glaucoma<br />
(aumento da pressão intra-ocular), uma vez que não<br />
penetra facilmente no cérebro e nos olhos. Assim, o<br />
aumento da concentração de glicerol no sangue, devido<br />
à sua ingestão, ajuda a remover o excesso de líquidos<br />
acumulado nesses órgãos pelo processo conhecido por<br />
osmose [20]. A aplicação clínica da ingestão de glicerol<br />
explica os dois principais efeitos colaterais devido à<br />
ingestão excessiva desse elemento: dor de cabeça e visão<br />
“turva”, que são resultados da retirada de fluídos desses<br />
compartimentos [21].<br />
Os efeitos benéficos atribuídos ao glicerol são a<br />
redução da produção de urina, redução da temperatura<br />
corporal, aumento da taxa de sudorese e,<br />
conseqüentemente, aumento do suor e resfriamento<br />
corporal, manutenção da volemia, diminuição da<br />
freqüência cardíaca durante o esforço e redução da carga<br />
térmica [41]. Contrariamente aos efeitos benéficos, além<br />
dos dois principais efeitos colaterais causados pelo<br />
excesso de glicerol (acima de 1,2g/kg de peso), outro<br />
efeito negativo dessa ingestão é o desconforto<br />
gastrintestinal, além do aumento da incidência de<br />
vômitos atribuídos à ingestão de concentrações elevadas<br />
desse elemento.<br />
No entanto, a maneira pela qual o glicerol pode<br />
aumentar o desempenho físico ainda necessita ser<br />
totalmente esclarecida [54]. A ingestão de solução<br />
contendo glicerol antes de um evento de endurance, em<br />
ambiente quente e úmido, provavelmente beneficiará<br />
aqueles atletas que não conseguem ingerir quantidades<br />
suficientes de líquidos, tanto antes quanto durante o<br />
evento [54].<br />
Assim, optou-se, neste estudo, por avaliar a<br />
ingestão de diferentes soluções durante um evento de<br />
endurance, em ambiente quente e úmido, com a finalidade<br />
de elucidar qual situação de ingestão estaria favorecendo<br />
a manutenção do estado hídrico normal, assim como a<br />
manutenção da glicemia e, conseqüentemente, o<br />
desempenho físico na atividade imposta (corrida de<br />
30 km).<br />
147
148<br />
Objetivo<br />
Avaliar os efeitos da ingestão de água, solução<br />
de glicerol e diferentes soluções de carboidratos (6<br />
e 10%), sobre os parâmetros fisiológicos e<br />
bioquímicos de atletas submetidos a uma corrida<br />
de 30km em ambiente de calor intenso.<br />
Material e métodos<br />
Aprovação do protocolo experimental<br />
O protocolo experimental foi aprovado pela<br />
Comissão de Ética em Pesquisas com Seres<br />
Humanos do Instituto de Ciências Biomédicas da<br />
Universidade de São Paulo. Todos os atletas<br />
assinaram um termo declarando estar ciente que as<br />
amostras de sangue coletadas seriam utilizadas para<br />
experimentos realizados em nosso laboratório,<br />
tendo esses atletas amplo acesso aos resultados<br />
finais obtidos, que seriam utilizados para posterior<br />
publicação e confecção de trabalhos científicos.<br />
Sujeitos<br />
Avaliaram-se 20 atletas maratonistas, do sexo<br />
masculino, com idade entre 20 e 30 anos, com o<br />
peso médio de 70,00 ± 5kg, antes e após uma<br />
corrida de 30Km, em ambiente com temperatura<br />
de 37ºC e umidade relativa do ar de 60%. Os atletas<br />
estavam seguindo suas dietas normalmente, apenas<br />
foram orientados a realizar a última refeição, antes<br />
da corrida, com um intervalo mínimo de 2 horas.<br />
O protocolo experimental consistiu em 5<br />
voltas de 6 km, percorridos por cada atleta,<br />
totalizando 30 km de corrida a pé. Antes da largada,<br />
os atletas foram orientados a correr os 30 km o<br />
mais rápido possível, com a intenção de induzir ao<br />
aumento da intensidade do esforço.<br />
Esquema de ingestão de líquidos durante a<br />
corrida<br />
Os 20 atletas foram separados em 4 grupos<br />
de igual número, e cada grupo ingeriu um tipo<br />
específico de solução. O volume da solução<br />
ingerida, por cada atleta, foi padronizado em 400ml<br />
a cada volta de 6 km, totalizando 2 litros de líquidos<br />
ingeridos durante um tempo médio de 140 minutos.<br />
As diferentes soluções foram:<br />
Grupo 1 - solução contendo sacarose a 10%(1g.kg -1 .h -1 )<br />
Grupo 2 - solução isotônica (vendida comercialmente)<br />
contendo carboidrato a 6%.<br />
Grupo 3 - solução contendo apenas água<br />
Grupo 4 - solução contendo água + glicerol a 5%.<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Todas as soluções foram ingeridas com<br />
temperatura média de 4ºC e continham o mesmo sabor<br />
(limão), o que permitiu que os atletas acreditassem que<br />
estavam ingerindo a mesma solução, a fim de evitar<br />
qualquer tipo de interferência sobre o teste.<br />
Peso corporal<br />
O peso corporal foi avaliado antes e logo após a<br />
corrida em balança Filizola digital, em três medições,<br />
onde o resultado anotado foi a média delas.<br />
Tempo de corrida<br />
Foi anotado o tempo percorrido, de cada atleta a<br />
cada volta de 6km e, posteriormente, somado o tempo<br />
total de prova.<br />
Índice de fadiga<br />
Esse índice refere-se a subtração do tempo obtido,<br />
na última volta (volta E), denominado T5, do tempo<br />
obtido na primeira volta (volta A), denominado T1.<br />
Dessa forma, utilizou-se a fórmula (T5-T1), onde um<br />
índice positivo representa uma melhora em minutos<br />
do tempo inicial T1, e um valor negativo nesse índice<br />
significa piora em minutos do tempo inicial T1.<br />
Separação do plasma sangüíneo<br />
No dia da competição foram coletadas 2 amostras<br />
de 15 ml de sangue de cada atleta, por profissional<br />
habilitado, da veia antecubital, por punção venosa, 30<br />
minutos antes e imediatamente ao final da corrida de<br />
30 km. O sangue foi obtido em tubos heparinizados<br />
(50 UI) e centrifugado em até uma hora após a coleta,<br />
a 3.000 rpm numa temperatura de 4ºC por 15 minutos.<br />
O plasma foi separado e acondicionado em eppendorfs,<br />
devidamente identificados, e posteriormente<br />
armazenado em freezer a –70ºC.<br />
Hematócrito<br />
Após a coleta de sangue, em tubos heparinizados,<br />
uma alíquota de sangue foi coletada em capilares, e<br />
centrifugada em rotor específico para capilares<br />
(Hettisch-1650), por 5 minutos a uma temperatura de<br />
22ºC a 10.000rpm. Posteriormente, foi avaliado o<br />
hematócrito utilizando-se cartão de leitura de<br />
hematócritos - FANEM.<br />
Dosagem do sódio e potássio plasmáticos<br />
Após a centrifugação do sangue, o plasma foi<br />
separado e uma alíquota de 50 ul foi diluída em 10ml
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
de água destilada (1/200). Posteriormente avaliou-se<br />
a concentração de sódio e potássio em fotômetro de<br />
chama B262.<br />
Dosagem de cloreto plasmático<br />
Para essa dosagem foi utilizado Kit comercial<br />
Bioclin - Quibasa Ltda, por método colorimétrico que<br />
consiste em adicionar, na presença de íons cloreto, o<br />
Tiocianato de mercúrio, em meio ácido, formando<br />
cloreto de mercúrio e íons Tiocianato. Os íons<br />
Tiocianatos reagem com os íons férricos, formando<br />
Tiocianato férrico, de cor amarelo-laranja, que é<br />
proporcional à concentração de cloretos da amostra.<br />
As amostras foram lidas em espectrofotômetro (U-<br />
2001–Hitachi) à 340nM.<br />
Dosagem de glicose (glicemia)<br />
Utilizou-se o método enzimático Glicose<br />
oxidase, por Kit comercial Bioclin - Quibasa Ltda,<br />
onde a glicose é oxidada enzimaticamente pela glicoseoxidase<br />
(GOD), e o peróxido de hidrogênio formado<br />
pela peroxidase (POD) segundo a reação:<br />
GOD<br />
Glicose+O +H O ácido glucônico+H O 2 2 2 2<br />
POD<br />
2H 2 O 2 +Fenol+ cromógeno cereja +<br />
4amino-antipirina 4H 2 O<br />
Dessa forma, a intensidade da cor gerada através<br />
da reação (Cromógeno Cereja) é proporcional a<br />
concentração de glicose. As amostras foram lidas em<br />
espectrofotômetro (U-2001–Hitachi) à 340nM.<br />
Análise estatística<br />
Os dados obtidos foram comparados, utilizando<br />
o teste-t de Student pareado e ANOVA com pós-teste<br />
de Tukey, sendo que o nível de significância empregado<br />
foi de p ≤ 0,05 para todas as análises.<br />
Resultados<br />
Observa-se, no grupo que ingeriu solução<br />
contendo carboidrato (CHO), que houve aumento<br />
significativo na concentração plasmática de glicose<br />
(figura 1) no pós-exercício, fato que não ocorreu nos<br />
outros grupos. Porém, pode-se notar tendência ao<br />
aumento da glicemia para o grupo que ingeriu solução<br />
contendo isotônico comercial (ISO) e glicerol (Glicer),<br />
assim como, diminuição no grupo que ingeriu apenas<br />
água (H 2 O).<br />
Fig. 1 - Concentração plasmática de glicose de<br />
corredores - 30 km.<br />
p
150<br />
Fig. 4 - Concentração plasmática de cloreto de<br />
corredores - 30 km.<br />
As amostras obtidas para o hematócrito (figura<br />
5) demonstraram diminuição significativa nesse<br />
parâmetro, observada apenas nos grupos CHO e<br />
ISSO. No entanto, pode-se notar nos grupos H 2 O e<br />
Glicer, uma tendência ao aumento do hematócrito,<br />
que não foi estatisticamente significativa.<br />
Fig. 5 - Hematócrito de corredores - 30 km.<br />
p
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Discussão<br />
Levando-se em consideração o resultado obtido<br />
nesse estudo, a respeito da concentração da glicose<br />
plasmática obtida após o esforço, quando comparado<br />
com aquela observada antes do teste (figura 1),<br />
observa-se os efeitos da maior concentração de<br />
carboidratos, relatado pela literatura, propiciando a<br />
manutenção ou aumento da intensidade do esforço,<br />
por atletas envolvidos em atividades prolongadas<br />
[8,35]. De fato, ao observarmos as figuras números 8<br />
e 9, notamos diferença significativa na diminuição do<br />
tempo da última volta de 6 km (grupo CHO), quando<br />
comparado com a primeira volta, evidenciando, assim,<br />
a capacidade de aumento do esforço nas fases finais<br />
do teste.<br />
A maioria dos estudos tem demonstrado que<br />
quantidades entre 30 e 60 gramas de carboidrato/hora,<br />
podem aumentar a performance durante o exercício<br />
de endurance, e recomendam que isso seja ingerido na<br />
forma de glicose, sacarose ou amido [8,44]. Ainda<br />
olhando para a figura 1, observamos que houve<br />
tendência ao aumento da glicemia no grupo ISO, no<br />
pós-exercício, que também foi atribuída à adição de<br />
carboidratos. No entanto, essa diferença encontrada<br />
não se mostrou estatisticamente significativa,<br />
provavelmente em função da menor concentração de<br />
carboidrato ingerido neste grupo (6%), quando<br />
comparado ao grupo CHO (10%).<br />
Além do carboidrato, outro aspecto que<br />
influencia de maneira direta a capacidade de realizar e<br />
manter um esforço de endurance é o estado hídrico do<br />
organismo [36]. Assim, a diminuição da concentração<br />
plasmática de sódio (figura 2), observada no grupo<br />
H 2 O no pós-exercício, quando comparado com a<br />
situação anterior ao teste, se mostrou diretamente<br />
proporcional à perda de água corporal nesse grupo,<br />
avaliada pela perda de peso absoluto (2,2kg) e relativo<br />
(3,5%) (figuras 6 e 7, respectivamente). Considerandose<br />
os resultados obtidos nas figuras 8 e 9, notamos<br />
aumento significativo do tempo de corrida na última<br />
volta (grupo H 2 O). Esses dados estão de acordo com<br />
aqueles apresentados pela literatura onde, sabidamente,<br />
uma pequena redução percentual (1 a 2%) ou absoluta<br />
(1,5kg) de peso já é capaz de comprometer o<br />
desempenho físico e desencadear o estado<br />
denominado de desidratação e está, nesse trabalho,<br />
associado à diminuição plasmática de sódio [35].<br />
Com relação às concentrações plasmáticas de<br />
sódio, não foram observadas alterações nos demais<br />
grupos avaliados, assim como não houve nenhuma<br />
diferença nas concentrações de cloreto e potássio em<br />
todos os grupos estudados. Sugere-se que o perfil<br />
plasmático das concentrações de potássio observado<br />
(figura 3) nesse estudo, provavelmente está relacionado<br />
com a liberação desse elemento pelos tecidos corporais<br />
(fígado e músculo) e células vermelhas do sangue,<br />
envolvidos na manutenção da sua concentração no<br />
plasma [30,56].<br />
Associando a estabilidade da concentração dos<br />
íons estudados (figura 2 exceto para o grupo H 2 O, e<br />
figuras 3 e 4), com os resultados obtidos para a<br />
dosagem do hematócrito, assim como com a perda<br />
do peso (absoluto e relativo, figuras 8 e 9<br />
respectivamente), observa-se que para o grupo CHO<br />
e ISO, a diminuição significativa do hematócrito (figura<br />
5), demonstra a eficácia destas soluções na manutenção<br />
ou mesmo ampliação da quantidade de fluídos<br />
plasmáticos, quando comparado com o grupo H 2 O.<br />
Assim, podemos concluir que tanto a bebida isotônica<br />
como a contendo carboidrato 10%, foram efetivas para<br />
evitar uma grande redução do conteúdo de água<br />
corporal. O fato de bebidas contendo carboidratos e<br />
sódio terem uma melhor absorção intestinal, por existir<br />
um sistema de co-transporte entre esses elementos,<br />
provavelmente permitiu esse melhor estado de<br />
hidratação no grupo ISO. Porém, o melhor estado<br />
hídrico atribuído à solução contendo carboidratos 10%<br />
residiu no fato de ser a glicose o principal fator<br />
determinante da absorção intestinal de água, quando<br />
comparada ao sódio [22]. Isso sugere que a adição de<br />
sódio a soluções repositoras pode não ser o principal<br />
fator responsável pela absorção de água. Além disso,<br />
alguns pesquisadores sustentam a idéia de que a<br />
absorção de água não depende do tipo de carboidrato<br />
presente na solução isocalórica (concentração de 6%<br />
de carboidrato), e que o aumento na concentração de<br />
carboidrato acima de 8% pode reduzir a absorção de<br />
água significativamente, exceto para soluções contendo<br />
sacarose [22].<br />
Como o carboidrato oferecido na solução<br />
contendo 10% estava na forma de sacarose, esse fato<br />
poderia permitir que não houvesse um prejuízo na<br />
absorção de água presente nessa solução, contribuindo<br />
para a manutenção ou menor diminuição hídrica<br />
observada no grupo CHO.<br />
Indiscutivelmente, a fadiga durante o exercício<br />
prolongado está associada à desidratação, hipertermia,<br />
hipoglicemia e diminuição nos estoques de glicogênio<br />
muscular. Adicionalmente, durante eventos de<br />
endurance alguns atletas podem sofrer com o<br />
aparecimento de hiponatremia e um estado de<br />
hipoglicemia [2]. Dessa maneira, com a finalidade de<br />
promover a função circulatória normal, evitar a injúria<br />
térmica e aumentar a performance, devem ser<br />
151
152<br />
ingeridos líquidos durante o exercício para repor as<br />
perdas de água e sódio pelo suor, assim como fornecer<br />
fonte adicional de energia, de forma exógena, com a<br />
adição de carboidratos a essa solução [42,49]. A<br />
ingestão de eletrólitos, no entanto, deve ser feita com<br />
cautela, considerando-se a adoção de dietas pobres<br />
em sódio, ou períodos de adaptação a um clima quente<br />
e úmido e a prática de esforços prolongados (várias<br />
horas) [43].<br />
Ao observarmos as figuras 8 e 9, fica claro que<br />
apesar das duas soluções oferecidas (CHO e ISO)<br />
serem capazes de manter melhor estado hídrico dos<br />
atletas avaliados durante os 30Km, apenas a solução<br />
ingerida pelo grupo CHO (sacarose 10%) foi capaz<br />
de permitir que esses atletas aumentassem a<br />
intensidade da corrida na última volta. Mesmo assim,<br />
quando se compara o grupo H 2 O com os demais<br />
grupos, nota-se que esse foi o único a piorar o tempo<br />
da última volta de maneira significativa, confirmando,<br />
dessa forma, as recomendações observadas na<br />
literatura que sustentam a adição de carboidratos e<br />
eletrólitos quando atletas estão engajados em esforços<br />
físicos de endurance, por um tempo maior do que uma<br />
hora [35].<br />
Apesar da reposição de líquidos comprovadamente<br />
aumentar o tempo de resistência ao esforço,<br />
como observado por Montain & Coyle [39], poucos<br />
estudos têm documentado os benefícios dessa<br />
reposição sobre a performance durante exercícios mais<br />
intensos realizados em laboratório e durante eventos<br />
competitivos [1]. Montain & Coyle [40], demonstraram<br />
que durante 2 horas de exercício no calor a 65% do<br />
VO2 máx., os efeitos fisiológicos atribuídos à<br />
reposição de líquidos apareceram após uma hora de<br />
esforço. Esse trabalho concluiu que houve aumento<br />
de 6% na performance quando foi ingerida grande<br />
quantidade de fluidos (1.3L/h). Da mesma forma,<br />
um outro estudo demonstrou que a ingestão de<br />
carboidratos adicionados a uma solução, também<br />
aumentava a performance em torno de 6% [12]. Essa<br />
reposição com carboidratos associada com reposição<br />
de líquidos, conjuntamente pode aumentar a<br />
performance em 12% (6% para cada um), sendo que<br />
os mecanismos envolvidos nesse aumento da<br />
aparentemente operam de maneira independente [12].<br />
Conclusão<br />
· A ingestão de solução contendo carboidrato<br />
foi eficiente em aumentar a glicemia e manter a<br />
intensidade do esforço, assim como diminuir a perda<br />
hídrica durante a corrida no calor.<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
· A solução isotônica foi capaz de evitar a perda<br />
hídrica do organismo durante a corrida no calor, mas<br />
não foi eficiente em aumentar a glicemia e manter a<br />
intensidade do esforço dos atletas avaliados.<br />
· Dessa forma, entendemos que uma bebida<br />
contendo 10% de carboidrato (sacarose), com adição<br />
de íons (principalmente o sódio) em pequenas<br />
concentrações, seria a solução ideal a ser ingerida<br />
durante um esforço prolongado (corrida de 30km)<br />
no calor, devido a sua capacidade de aumentar a<br />
glicemia e diminuir a perda de líquidos corporais.<br />
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Título abreviado: Hipovitaminose A e anemia<br />
REVISÃO<br />
Inter-relação entre hipovitaminose A e<br />
anemia ferropriva<br />
Interrelationship between hypovitaminosis A and anemia<br />
Carina de Aquino Paes*, Rejane Andréa Ramalho**, Cláudia Saunders***, Letícia de Oliveira Cardoso **** ,<br />
Daniel Alves Natalizi ****<br />
*Mestranda em Nutrição Humana, Grupo de Pesquisa em Vitamina A, Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio<br />
de Janeiro – GPVA/IN/UFRJ, **Doutora em Ciências da Saúde Pública, Departamento de Nutrição e Dietética - GPVA/IN/UFRJ,<br />
***Doutoranda em Ciências da Saúde Pública, Departamento de Nutrição e Dietética - GPVA/IN/UFRJ, ****Mestrandos em Saúde<br />
Coletiva - GPVA/IN/UFRJ<br />
Resumo<br />
A vitamina A é requerida em pequena quantidade em importantes processos biológicos. Seu papel no ciclo visual<br />
parece ser o único totalmente elucidado. Entretanto, mais recentemente, tem sido objeto de interesse a associação entre a<br />
carência de vitamina A e a anemia ferropriva, devido à magnitude e o impacto destas carências específicas, em nível de saúde<br />
pública e a inter-relação metabólica entre a vitamina A e o ferro. Objetivando verificar o volume de evidências na literatura de<br />
tal associação, foi realizada revisão bibliográfica nas bases de dados Medline e Lilacs, dos últimos dez anos, sobre a interrelação<br />
entre hipovitaminose A e anemia ferropriva. Os achados acumulados até então, indicam que a mobilização do ferro<br />
para o tecido hematopoiético está intimamente relacionada com o nível de ingestão de vitamina A. Sugere-se que esta<br />
participação se dá na absorção e transporte do ferro, assim como na sua liberação hepática e transferência do ferro para<br />
medula óssea e síntese de hemoglobina. Alguns autores sugerem que a deficiência de ferro pode ocasionar prejuízos na<br />
absorção de vitamina A e, por outro lado, a deficiência de vitamina A pode contribuir para o aparecimento da anemia em<br />
crianças e gestantes. Os pesquisadores têm enfatizado a conveniência do uso de ferro e vitamina A conjuntamente no<br />
combate destas carências de ampla magnitude.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Hipovitaminose A, anemia, vitamina A, micronutrientes<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 15 de maio; aprovado em 1 de julho de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Prof. Dra. Rejane Andréa Ramalho, Av. Brigadeiro Trompovwsky, s/nº, Centro de<br />
Ciências da Saúde, bloco J, 2º andar, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 21941-590 Rio de Janeiro, Brasil.<br />
Tel: (21) 2561-6599, Fax: (21) 2581-7229, e-mail: aramalho@rionet.com.br ou cfcoelho@osite.com.br<br />
155
156<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Abstract<br />
The vitamin A is requested in small amount in important biological processes. Its role in the visual cycle seems to be<br />
the only totally elucidated. However, more recently, it has been object of interest the association between the vitamin A<br />
deficiency and the anemia, due to the magnitude and the impact of these specific deficiencies in public health level and the<br />
metabolic interrelation between vitamin A and iron. A bibliographical review was conducted in Medline and Lilacs databases,<br />
searching articles published on the last ten years, about the interrelation between hipovitaminosis A and anemia. The<br />
accumulated discoveries until then indicate that iron mobilization to the hematopoiethic tissue is intimately related to the<br />
level of vitamin A ingestion. It suggests that this participation occurs in the iron absorption and transport, as well as in its<br />
release from the liver and transfer to bone marrow and hemoglobin synthesis. Some authors suggest that the deficiency of<br />
iron can compromise the vitamin A absorption and that, on the other hand, the vitamin A deficiency can contribute to the<br />
emergence of anemia in children and pregnant women. The researchers have been emphasizing the convenience of the use<br />
of iron and vitamin A in the combat to the these deficiencies of wide magnitude.<br />
Key-words: Hypovitaminosis A, anemia, vitamin A, micronutrients<br />
Introdução<br />
A hipovitaminose A e a anemia são dois<br />
problemas de saúde pública mais prevalentes no<br />
mundo, sendo mais grave nos países em<br />
desenvolvimento, podendo levar os grupos de risco<br />
destes distúrbios nutricionais, a diversos prejuízos para<br />
saúde, inclusive à morte. No Brasil estes agravos<br />
atingem grande proporção de gestantes, crianças em<br />
idade pré-escolar e escolar, com tendência ao<br />
agravamento desta situação, quer por mudanças das<br />
práticas alimentares, quer pelo acesso cada vez mais<br />
difícil à alimentação adequada. A WHO [1] ratifica<br />
que a carência de vitamina A é um importante<br />
problema de saúde e ao lado da anemia, e da deficiência<br />
de iodo, constituem a fome oculta, que representam<br />
grande impacto no desenvolvimento dos indivíduos<br />
e nos índices de morbi-mortalidade associados [2,3].<br />
Gebreil et al [4] corroboram estes achados e explicitam<br />
que em partes do mundo, particularmente nos países<br />
com menor grau de desenvolvimento, são as crianças<br />
e gestantes, os dois grupos de maior vulnerabilidade,<br />
devido a uma maior necessidade fisiológica não só de<br />
ferro, como também de ácido fólico.<br />
Sob o ponto de vista biológico, a hipovitaminose<br />
A constitui um quadro de carência específica de retinol,<br />
caracterizado pela diminuição ou esgotamento<br />
completo das reservas hepáticas e, conseqüentemente,<br />
redução ou desaparecimento de vitamina A no sangue,<br />
produzindo manifestações funcionais e morfológicas<br />
próprias da deficiência . Já a anemia, é um estado em<br />
que a concentração de hemoglobina é baixa, podendo<br />
ser decorrente da carência de nutrientes, tais como<br />
ferro, ácido fólico e vitamina B12, na alimentação<br />
habitual da população [5].<br />
Atualmente, novos achados na literatura vêm<br />
apontando para a existência de uma possível relação<br />
entre a deficiência de vitamina A e a ocorrência da<br />
anemia. Assim, trabalhos têm sido desenvolvidos a<br />
fim de compreender a atuação da vitamina A na<br />
formação da hemoglobina e o impacto nos níveis<br />
séricos de ferro. Roodenburg et al [6] observaram que<br />
em crianças e mulheres grávidas, em áreas onde a<br />
deficiência de vitamina A, é endêmica. E contataram<br />
que baixos níveis de retinol no plasma estavam<br />
associados com baixas concentrações de hemoglobina<br />
e ferro sérico e também verificaram níveis diminuídos<br />
de transferrina saturada. Para crianças que<br />
apresentaram baixos níveis de hemoglobina, que foram<br />
suplementadas com vitamina A, observou-se um<br />
aumento dos níveis de hemoglobina. Quando a<br />
vitamina A foi administrada conjuntamente com o<br />
ferro, comparada a suplementação de ferro<br />
isoladamente, foi observado que a concentração de<br />
ferro sérico, transferrina saturada e os níveis de<br />
hemoglobina do sangue, alcançaram valores<br />
significativamente maiores. Mejia & Arroyave [7]<br />
mostram, em resultados semelhantes, que crianças<br />
com deficiência de vitamina A apresentam uma<br />
ausência de resposta à suplementação com ferro para<br />
reverter a anemia.<br />
Estudos discutem o papel da vitamina A na<br />
diferenciação e maturação celular, incluindo aquelas<br />
do sistema hematopoiético [8]. Estudos in vitro têm<br />
sugerido que a vitamina A atua como estimulante do<br />
crescimento das células progenitoras dos eritrócitos,<br />
precursores de células vermelhas do sangue<br />
(hemácias). Além disso, a vitamina A influencia a
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
disponibilidade, mobilização ou reutilização do ferro,<br />
vindo dos estoques corporais para hematopoiese [8].<br />
Por outro lado, o ferro também influencia na<br />
biodisponibilidade da vitamina A. A função da mucosa<br />
intestinal é comprometida pela deficiência de ferro, o<br />
que dificulta a absorção da vitamina A oriunda da<br />
alimentação. Assim, a suplementação de ferro se<br />
faz necessária para que a integridade do tecido<br />
grastrointestinal e sua função absortiva sejam<br />
recuperadas [26].<br />
A relevância deste tipo de pesquisa vai além<br />
do entendimento das reações bioquímicas<br />
envolvidas neste processo. Considerando que a<br />
mortalidade e morbidade são elevadas em casos de<br />
deficiência de vitamina A, é indispensável ter pleno<br />
conhecimento de todos os efeitos que esta depleção<br />
pode causar, já que as nações em desenvolvimento<br />
são alvos fáceis deste problema, uma vez que a<br />
carência é suficientemente disseminada entre a<br />
população.<br />
Atuação da vitamina A no metabolismo do<br />
ferro<br />
Segundo Gerbriel et al. [4], a vitamina A<br />
participa no metabolismo do ferro em diversas<br />
etapas, dentre elas destacam-se: absorção intestinal<br />
do ferro, transporte no soro, liberação do ferro<br />
existente nas reservas hepáticas, mobilização do<br />
ferro para a medula óssea e síntese de hemoglobina.<br />
A disponibilidade da utilização do ferro para o<br />
tecido hematopoiético é inibida durante a<br />
deficiência de vitamina A, ocorrendo, assim,<br />
prejuízo na síntese deste tecido. Na ausência de<br />
quantidades adequadas de vitamina A, o ferro tende<br />
a acumular no fígado com um conseqüente<br />
decréscimo dos valores séricos [9,10,11].<br />
Roodenburg et al [6] sugerem, a partir da<br />
realização de estudos experimentais, que em ratos<br />
anêmicos, a vitamina A controla a síntese de<br />
transferrina, maior proteína transportadora de ferro<br />
dos depósitos corporais, como no fígado, para o<br />
sistema eritropoiético na medula óssea. Um prejuízo<br />
na síntese de transferrina durante a deficiência de<br />
vitamina A é compatível com a observação de que<br />
esta vitamina está envolvida na síntese do radical<br />
glicosil da molécula de transferrina. O presente<br />
estudo demostrou que a suplementação de vitamina<br />
A em ratos, com deficiência de ferro e alto grau de<br />
hipovitaminose A, proporcionou elevação do ferro<br />
plasmático e da capacidade total de ferro ligado.<br />
Este resultado foi superior ao da suplementação<br />
apenas com ferro, ratificando o envolvimento da<br />
vitamina A no metabolismo deste mineral. Outros<br />
estudos, realizados em animais de laboratórios e em<br />
humanos, têm corroborado a interação entre a<br />
hipovitaminose A e o metabolismo do ferro, com<br />
uma dieta pobre em vitamina A, podendo levar ao<br />
desenvolvimento de anemia [7,12,13,14].<br />
Influência das fontes alimentares na<br />
caracterização da anemia e na<br />
biodisponibilidade do ferro, da vitamina A e<br />
carotenóides<br />
Objetivando consolidar os aspectos relacionados<br />
a biodisponibilidade dos micronutrientes envolvidos<br />
no desenvolvimento da anemia, Bloem [15]<br />
aprofundou o conhecimento acerca dos tipos de ferro<br />
(heme e não-heme) disponíveis nos alimentos. Nos<br />
países em desenvolvimento, a forma de ferro menos<br />
disponível na dieta habitual dos indivíduos é o ferro<br />
heme, que é derivado primário da hemoglobina e<br />
mioglobina da carne, sendo este melhor absorvido,<br />
proveniente de alimentos de origem animal. O tipo<br />
mais disponível de ferro dietético está na forma de<br />
sais aromáticos de ferro, referido como ferro não<br />
heme. A absorção de ambos os tipos de ferro<br />
provindos da dieta, dependem do status de ferro do<br />
indivíduo e de outros componentes da dieta. Somente<br />
10% do ferro ingerido normalmente nos alimentos<br />
são absorvidos.<br />
A anemia associada com a deficiência de vitamina<br />
A não prejudica a absorção de ferro da dieta. De fato,<br />
alguns estudos mostraram um aumento no ferro<br />
absorvido como um resultado da deficiência de<br />
vitamina A [21].<br />
Stuijvenberg et al [16] avaliaram a utilização de<br />
biscoitos fortificados com ferro, iodo e beta-caroteno,<br />
em crianças com idade entre 6 e 11 anos. Esta<br />
combinação promoveu uma queda na prevalência de<br />
baixas concentrações de retinol sérico. Embora a<br />
absorção do beta-caroteno não seja tão eficiente como<br />
a do retinol pré-formado, oriundo dos produtos de<br />
origem animal, os biscoitos constituíram um bom<br />
veículo para ingestão destes nutrientes pelas crianças,<br />
por sua praticidade na utilização, pois não exigem<br />
preparo, são de fácil distribuição e têm longa vida de<br />
prateleira.<br />
Pee [17], estudando nutrizes anêmicas, testou a<br />
ingestão de um biscoito tipo wafer, enriquecido com<br />
beta-caroteno, ferro, vitamina C e ácido fólico. E<br />
comparando a taxa de absorção do beta-caroteno,<br />
proveniente de vegetais verde-escuro e do biscoito<br />
enriquecido, constatou que a absorção do nutriente<br />
157
158<br />
no alimento enriquecido foi significativamente maior.<br />
O autor aponta alguns fatores que podem ter<br />
influenciando tal achado, tais como: a estrutura<br />
química apresentada pelos carotenóides no tecido<br />
vegetal, que promove uma redução de sua<br />
biodisponibilidade. Nos vegetais verdes, o betacaroteno<br />
está organizado em moléculas de proteínas<br />
complexas que formam pigmentos, localizados no<br />
interior dos cloroplastos. O cozimento dos vegetais<br />
pode aumentar a biodisponibilidade dos mesmos,<br />
mas caso esta ação ocorra por muito tempo, pode<br />
haver a produção de isômeros de all-trans betacaroteno<br />
(13-cis beta-caroteno ou 9-cis betacaroteno),<br />
que possuem baixa atividade de próvitamina<br />
A. A quantidade de gordura consumida com<br />
os carotenóides guarda relação direta com sua<br />
absorção, que pode ser influenciada ainda pelo tipo<br />
de gordura ingerida.<br />
Outros fatores que afetam a biodisponibilidade<br />
da vitamina A, são os parasitas intestinais, infecções<br />
bacterianas, viroses, protozoários e a má-absorção<br />
intestinal [1].<br />
Suharno et al [18] verificaram alta prevalência<br />
de anemia em gestantes do Oeste de Java, em<br />
comparação com o Leste e centro da ilha. No<br />
primeiro grupo, o arroz era a base alimentar dessa<br />
população, diferente da segunda e da terceira região<br />
que tinham o milho, o arroz e a mandioca,<br />
respectivamente, como produtos agrícolas<br />
constituintes de suas bases alimentares. Em geral,<br />
estudos realizados na Indonésia, com mulheres<br />
grávidas, têm associado este quadro com a má<br />
nutrição.<br />
Impacto da anemia e hipovitaminose A no<br />
resultado da gestação<br />
A anemia severa durante a gestação é associada<br />
ao aumento do risco de mortalidade e morbidade<br />
para o binômio mãe-filho, além de outros riscos,<br />
como baixo peso ao nascer, hipertrofia da placenta<br />
e redução da excreção de estriol [18].<br />
Níveis adequados de hemoglobina são<br />
particularmente necessários durante a gestação, para<br />
que o feto possa desenvolver-se adequadamente; caso<br />
contrário, o recém-nascido terá mais chances de<br />
desenvolver baixo peso e, conseqüentemente, no<br />
futuro se tornar desnutrido. A anemia na gestação<br />
também favorece a ocorrência de muitas<br />
complicações, como sangramento excessivo antes e<br />
durante o parto, apresentando maior risco de morrer<br />
na ocasião do parto, do que as gestantes não<br />
anêmicas. A anemia não é somente causada pela<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
deficiência de ferro, mas também pela deficiência de<br />
outras vitaminas, como a deficiência da vitamina B12<br />
e deficiência de folato (que, depois da deficiência de<br />
ferro, é a causa mais comum de anemia em mulheres<br />
grávidas). Doenças infecciosas e hemoglobinopatias,<br />
são algumas das situações que também podem<br />
promover a anemia [5].<br />
O diagnóstico da anemia ferropriva, é melhor<br />
verificado quando são constatadas duas ou três<br />
anormalidades indexadas para o status de ferro (como<br />
ferritina sérica e transferrina sérica), pois são mais<br />
específicas que somente o uso da concentração de<br />
hemoglobina [18]. Porém, a avaliação dos níveis de<br />
hemoglobina tem sido empregada no diagnóstico da<br />
anemia, pois é de metodologia rápida e fácil, cujos<br />
pontos de corte para o diagnóstico têm sido<br />
recentemente revisados [5].<br />
A ingestão inadequada de vitamina A, associada<br />
com o aumento das necessidades fisiológicas da<br />
vitamina durante a gestação, propicia o<br />
desenvolvimento da cegueira noturna, aumentando<br />
o risco da mulher de desenvolver infecções, anemia,<br />
complicações na gravidez e de ter baixo ganho de<br />
peso. Este conjunto de fatores estão associados com<br />
maiores taxas de morbi-mortalidade no grupo em<br />
questão e nos lactentes nos primeiros seis meses de<br />
vida, cujas mães foram expostas durante o processo<br />
reprodutivo [20,22].<br />
Adicionalmente, é reconhecido que as altas<br />
prevalências da mortalidade materna observadas no<br />
Brasil, estão associadas com infecções e sabe-se,<br />
também, que a vitamina A é essencial para o bom<br />
funcionamento do sistema imunológico, podendo<br />
reduzir a severidade da infecção [1,19,23,24,25]. Com<br />
isso, chama-se atenção dos profissionais de saúde<br />
para a relevância da avaliação do estado nutricional<br />
deste micronutriente, na assistência prestada à este<br />
grupo populacional, na busca de melhores condições<br />
de saúde e nutrição, orientando para o aumento da<br />
ingestão de alimentos-fonte [26].<br />
Efeitos da suplementação de micronutrientes<br />
nos componentes do soro em estados anêmicos<br />
Hodges et al [27] avaliaram crianças da<br />
Guatemala, sendo divididas em quatro grupos. O<br />
grupo I recebeu suplementação apenas de 10.000 UI<br />
de vitamina A por dia. O grupo II apenas 3 mg/kg de<br />
peso por dia de ferro. O grupo III foi associado 10.000<br />
UI de vitamina A e 3 mg/kg de peso por dia de ferro.<br />
E no grupo IV nenhum suplemento foi administrado.<br />
Com a administração de vitamina A no grupo I,<br />
observou-se elevação dos níveis de retinol e ferro
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
séricos, hemoglobina e a porcentagem de transferrina<br />
saturada, mas não observou-se efeito no total de ferro<br />
ligado ou ferritina no soro. A suplementação de ferro<br />
no grupo II também ocasionou aumento no ferro<br />
sérico, hemoglobina e transferrina saturada, mas ao<br />
contrário da suplementação de vitamina A, este não<br />
teve efeito nos níveis de retinol sérico. A combinação<br />
de vitamina A e ferro no grupo III produziu resposta<br />
similar a qualquer outro suplemento sozinho, mas a<br />
diferença é que as crianças que receberam ambos,<br />
apresentaram elevadas concentrações de retinol,<br />
hemoglobina, e ferritina. Alem disso, o ferro sérico e<br />
a transferrina saturada aumentaram mais do que<br />
quando os suplementos foram administrados<br />
isoladamente. No grupo IV, que não recebeu nenhum<br />
dos suplementos, não foram observadas mudanças nos<br />
níveis de retinol sérico e de hemoglobina; além disso<br />
o ferro sérico, a transferrina saturada e os níveis de<br />
ferritina diminuíram. O autor afirma, ainda, que a<br />
terapêutica adotada neste estudo, com adição de<br />
vitamina A e ferro nos processos de suplementação,<br />
não provocou qualquer alteração nos índices<br />
antropométricos.<br />
A melhora da anemia, a partir da suplementação<br />
associada de vitamina A e ferro, é ratificada por<br />
Suharno et al [18], a partir de estudos feitos com<br />
gestantes de Java, na Indonésia. Após a suplementação,<br />
a proporção de mulheres que reverteu à anemia apenas<br />
com a vitamina A foi de 35%. Com o grupo que<br />
recebeu somente o ferro, a melhora foi de 68%,<br />
enquanto o grupo que recebeu os dois suplementos<br />
combinadas alcançou 97% de melhora do quadro.<br />
Roodenburg et al [6], também descrevem a eficácia da<br />
suplementação combinada de ferro com vitamina A<br />
no combate à anemia em crianças de classe sócioeconômica<br />
baixa, residentes na Indonésia e América<br />
Central.<br />
Conclusão<br />
Conclui-se a partir desses achados, que<br />
intervenções associando vitamina A e ferro no<br />
tratamento da anemia, são capazes de promover<br />
resultados mais eficazes na recuperação desse<br />
distúrbio, o mesmo pode ser dito para níveis baixos<br />
de retinol sérico. Sugerindo, assim, a necessidade de<br />
estudos sobre custo-benefício dessa terapêutica, com<br />
o objetivo de inclusão da mesma na assistência do<br />
setor público de saúde, visando o combate desses<br />
importantes problemas de saúde pública: a Anemia e<br />
a Hipovitaminose A, duas grandes endemias que ainda<br />
acometem a população de nosso país.<br />
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Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
REVISÃO<br />
A influência das vitaminas D e E na<br />
composição dos fosfolipídios de membrana e<br />
sua repercussão sobre a hipertensão arterial<br />
The influence of vitamins D and E in the membrane<br />
phospholipid composition and its importance on arterial<br />
hypertension<br />
Lucia Marques A. Vianna<br />
PhD, Prof a Adj. Resp. pelo Lab. de Investigação em Nutrição e Doenças Crônico-Degenerativas, Universidade do Rio de Janeiro,<br />
Pesquisador CNPq<br />
Resumo<br />
O autor apresenta uma breve revisão sobre o papel das vitaminas lipossoluveis na composição dos fosfolipidios de<br />
membrana e a conseqüente influencia estado físico.<br />
Desse sitio. Identifica os modelos de atuação dessas vitaminas em especial a vitamina D e E na modulação de parâmetros<br />
fisiológicos tais como o potencial de membrana,reatividade vascular e viscosidade do sangue que estão alterados em<br />
determinadas condições patológicas como na hipertensão arterial. O autor conclui reafirmando a importância da manutenção<br />
da integridade da membrana celular para a homeostase, e a possibilidade da modulação das características fisico-quimicas da<br />
membrana pela dieta e sugere que a continuação das pesquisas nessa área possibilitara determinar quando e como proceder<br />
a prescrição de suplementos vitaminicos.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: membrana, fosfolipidios, colecalciferol, tocoferol, hipertensão<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
The author presents a brief review emphasizing the importance of cellular membrane integrity to human physiology<br />
and the role of lipossoluble vitamins (cholecalciferol and tocopherol) in the maintenance of that structure .The findings<br />
suggest that hypertension is one of the pathological conditions characterized by alterations in the cell membranes which<br />
could be modulated by those vitamins.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Tell membrane, fluidity, cholecalciferol, tocopherol<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 20 de julho de 2002; reviisado em 30 de julho; aprovado em 30 de agosto de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Prof a Dr a Lucia Marques A Vianna, UNIRIO, Rua Dr. Xavier Sigaud, 290 Térreo, Urca,<br />
22290-180 - Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2295 5737 ramal 283, E-mail : vianna_lm@ig.com.br<br />
161
162<br />
A membrana celular<br />
A partir da década de 70, especial ênfase vem<br />
sendo dado à fisiologia da membrana celular, estrutura<br />
que está envolvida na função mais básica do organismo<br />
humano: a manutenção da homeostase.<br />
Assim, o equilíbrio no fluxo de ions, a<br />
transmissão de sinais elétricos e outras vias<br />
metabólicas, estão na dependência de condições<br />
ótimas de integridade da membrana celular.<br />
Tal estrutura é dinâmica e, através da microscopia<br />
eletrônica, podemos observar um aspecto mosaico,<br />
que deu nome ao modelo fluido-mosaico de Singer e<br />
Nicholson. Nesse modelo as moléculas lipidicas estão<br />
dispostas em bicamadas, onde encontram-se<br />
“encaixadas” proteínas, que podem ser carreadoras,<br />
canais e receptores. Na realidade, a composição e<br />
disposição das proteínas na face interna e externa da<br />
membrana, diferem o que explica as diferentes<br />
funções. Devemos entender que a estrutura da<br />
membrana é complexa: A composição dos lipídios<br />
(colesterol, fosfolipidios, glicolipidios) também difere<br />
entre espécies e mesmo dentro da mesma espécie entre<br />
organelas [1].<br />
Em linhas gerais é importante entender um<br />
conceito básico da fisiologia celular: “A composição<br />
dos fosfolipidios (relação fosfatidilcolina/etanolamina)<br />
e a composição de ácidos graxos (relação insaturados/<br />
saturados), definem o grau de fluidez da membrana<br />
(fluidez versus rigidez), interferindo na atividade das<br />
proteínas de membrana” [1].<br />
Resumidamente, um maior conteúdo de<br />
fosfatidilcolina aumenta a fluidez da membrana. No<br />
que se refere aos ácidos graxos, o grau de instauração<br />
ou o tamanho da cadeia igualmente favorecem esse<br />
estado. Dessa forma, os ácidos graxos poliinsaturados<br />
(PUFA) ou de cadeia curta, trazidos pela alimentação,<br />
diminuem a possibilidade de interação de um acido<br />
graxo com outro (package), permitindo que a estrutura<br />
da membrana permaneça fluida, facilitando a atividade<br />
das enzimas e os processos de transporte. Ademais,<br />
apreciamos na literatura estudos bem documentados<br />
demonstrando que os ácidos graxos da dieta são<br />
incorporados pelos fosfolipidios da membrana,<br />
facilitando a ligação aos receptores e ativando a<br />
sinalização intracelular [2-4].<br />
Interferência das vitaminas lipossolúveis na<br />
estrutura dos lipidios de membrana<br />
Uma série de trabalhos vem ao longo dos anos<br />
demonstrando que as vitaminas lipossoluveis<br />
incorporam-se às membranas, reforçando a<br />
possibilidade de ação direta nesse sitio.<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
No que se refere a isso, atualmente<br />
reconhecemos que a vitamina D pode atuar sob dois<br />
modelos: um genomico (via indução de síntese<br />
proteica) e o outro membranofilico (ação direta sobre<br />
a membrana), no qual nos deteremos.<br />
Na década de 70, Spencer et al. [5] sugeriam que<br />
a ação da vitamina D sobre o fluxo de íons, poderia<br />
envolver outro mecanismo, além da indução de síntese<br />
de proteínas ligantes de cálcio, uma vez que os ensaios<br />
realizados em presença de ciclohexamida (um potente<br />
inibidor de síntese protéica), não provocava inibição<br />
do transporte de cálcio.<br />
Em seguida, Doberty [6] demonstrou que a<br />
vitamina D aumenta o ciclo de deacilação-reacilação<br />
da fosfatidilcolina, reforçando a hipótese do modelo<br />
membranofilico [7]. Ao mesmo tempo, interessantes<br />
achados de Hay et al. [8] comprovavam que a ação da<br />
vitamina D sobre o transporte de cálcio através da<br />
membrana, poderia ser inibida em ocorrência de<br />
restrição de ácidos graxos essenciais.<br />
Em 1982, Rasmussen et al. [9] demonstraram que<br />
a vitamina D estimula a incorporação de diglicerideo<br />
(DG) e citidina-difosfocolina (CDP) na fração<br />
fosfatidilcolina (PC), induzindo a síntese de novo desse<br />
fosfolipidio e estimula as enzimas envolvidas nas<br />
reações de deacilação e reacilação, que mantém uma<br />
continua incorporação de ácidos graxos insaturados<br />
(AGPi) às moléculas da PC (Fig. 1).<br />
Vitamina D<br />
⊕<br />
⊕<br />
AGPi → PC CDP-colina → PC<br />
Fig. 1 - A vitamina D interfere no processo de<br />
deacilação- reacilação da fosfatidilcolina (PC)<br />
estimulando tanto a incorporação da citidinadifosfocolina<br />
(CDP-colina) quanto a de ácidos graxos<br />
poli-instaturados (AGPi) à molécula de fosfatidilcolina.<br />
Dessa forma, teremos um aumento do conteúdo<br />
de AGPi e da relação fosfatidilcolina/<br />
fosfatidiletanolamina na membrana celular, mantendo<br />
a fluidez dessa membrana. Tal condição é vital para o<br />
bom funcionamento das proteínas de membrana:<br />
canais ionicos, bombas que têm por função a<br />
manutenção do fluxo de diversos ions: Na, K, Ca, etc,<br />
de importância na patogenese da hipertensão arterial.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
A nível experimental e clínico podemos perceber<br />
a repercussão fisiológica de tais evidências, uma vez<br />
que animais espontanêamente hipertensos, modelo de<br />
estudo da hipertensão arterial essencial humana e<br />
determinados grupos portadores de hipertensão<br />
arterial, que cursa com dismetabolismo da vitamina<br />
D, se beneficiam com a suplementação dessa vitamina<br />
[10-14].<br />
Em linhas gerais, nossos resultados vem<br />
demonstrando que o tratamento com colecalciferol é<br />
capaz de corrigir a atividade da Na + /K + ATPase, da<br />
Cálcio ATPase e dos canais de K + calcio-calmodulina<br />
dependente, corrigindo, assim, os mecanismos de<br />
troca ionica alterados na hipertensão arterial,<br />
conforme modelo apresentado nos trabalhos prévios<br />
[13], que reproduziremos a seguir (Fig. 2).<br />
Fig. 2<br />
Hipertensão Vit. D<br />
Arterial<br />
∅ ⊕<br />
Invertida normaliza<br />
∅ ⊕<br />
Ø ⊕<br />
⊕ ∅<br />
Ademais, recentemente demonstramos que o<br />
relaxamento induzido pela bradicinina, mecanismo<br />
dependente de canal de K e que está inibido em<br />
animais hipertensos, é igualmente corrigido pela<br />
suplementação de vitamina D [15].<br />
Ainda em relação aos efeitos fisiológicos dessa<br />
vitamina, sua administração a ratos SHR também foi<br />
capaz de reduzir, significativamente, a viscosidade<br />
sangüínea desses animais [10], que normalmente<br />
apresentam alteração dos parâmetros reológicos,<br />
traduzida por aumento do hematócrito e da agregação<br />
plaquetária.<br />
As evidências experimentais encontradas até o<br />
momento, reforçam a conduta clínica proposta por<br />
Butler et al. [14], que desde 1995 já defendiam a<br />
suplementação de vitamina D para mulheres<br />
menopausadas, com a finalidade de inibir a<br />
osteoporose e a hipertensão arterial nesse grupo de<br />
risco.<br />
Paralelamente, no que se refere à vitamina E,<br />
recentes estudos vêm sugerindo que esse nutriente<br />
parece não somente atuar como antioxidante,<br />
protegendo os lipídios da membrana contra a<br />
oxidação, mas também como estabilizador, formando<br />
complexos com lisofosfolipidios e ácidos graxos livres,<br />
interferindo no estado físico dessas membranas [16].<br />
Tal propriedade pode explicar os relatos referentes à<br />
modulação de parâmetros reologicos pelo tocoferol<br />
[17], tais como a viscosidade sangüínea e a agregação<br />
plaquetária, que se encontram elevadas na hipertensão<br />
arterial experimental e humana [18].<br />
Conclusão<br />
Os achados experimentais confirmam a<br />
repercussão fisiológica decorrente da integridade da<br />
membrana celular, tanto a nível de fluxo iônico em<br />
musculatura lisa visceral e vascular, quanto em relação<br />
a reologia do sangue. O efeito das vitaminas<br />
lipossoluveis sugere a possibilidade de um modelo de<br />
ação membranofilica comum, e os achados<br />
decorrentes de preparações in vitro e in vivo,<br />
fundamentam que a dieta é capaz de modular as<br />
características físicas da membrana.<br />
Reconhecemos que a hipertensão arterial é uma<br />
das patologias que já demonstrou apresentar<br />
importantes alterações na membrana celular e a<br />
prescrição de vitaminas pode ser uma terapia<br />
coadjuvante. Entretanto, somente a continuidade de<br />
investigações nessa área, permitirá determinar quando<br />
e como deveremos proceder a prescrição de<br />
suplementos vitamínicos.<br />
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vascular homeostasis: implications for<br />
atherosclerosis.FASEB 1999;13:965-976.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
REVISÃO<br />
Grelina é o novo regulador da homeostase<br />
nutricional<br />
Ghrelin is the new nutritional homeotasis regulator<br />
Sandra Bragança Coelho * , Josefina Bressan Resende Monteiro**<br />
*Mestranda em Ciência da Nutrição do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa,Viçosa MG, **Professora<br />
adjunta do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa, MS, PhD. Viçosa MG<br />
Resumo<br />
Grelina vem sendo definida como um peptídeo cérebro-intestinal que se liga ao receptor de liberação do hormônio de<br />
crescimento, funcionando como regulador do hormônio de crescimento e do consumo alimentar. Por se tratar de substância<br />
descoberta recentemente, se conhecem apenas algumas características concernentes a este peptídeo. Grelina estimula ganho<br />
de energia e secreção de hormônio de crescimento (GH), oferecendo condições para produzir um estado anabólico. O<br />
aumento de peso corporal estimulado pela grelina é conseqüência de um aumento de massa de gordura. Grelina é o novo<br />
regulador da homeostase nutricional. Os efeitos clássicos do GH em promover o crescimento dos tecidos moles, como os<br />
ossos e cartilagens, em conjunto com o efeito orexígeno (aumento de apetite) da grelina, sugerem que fatores centrais e<br />
periféricos ativados pela grelina podem estar na base do processo de crescimento de uma maneira integrada. Maiores<br />
investigações das funções da grelina vão ajudar na compreensão dos mecanismos fisiológicos da alimentação e facilitarão o<br />
estudo de vários temas, entre eles as desordens alimentares.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Grelina, hormônio do crescimento, liberadores do hormônio de crescimento.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
Ghrelin is defined as a brain-intestinal peptide that links to the growth hormone receptor, working as regulator of the<br />
growth hormone and alimentary consumption. Once this substance was discovery quite recently, researches know only few<br />
characteristics regarding this peptide. Ghrelin stimulates both gain of energy and secretion of growth hormone (GH) offering<br />
conditions to produce an anabolic state. The increase of corporal weight stimulated by ghrelin is consequence of an increase<br />
of fat mass. Ghrelin is the new regulator of nutritional homeostasis. The classic effects of the GH in promoting the growth<br />
of the soft fabrics, as the bones and cartilages, together with the orexigenic effect (appetite increase) of ghrelin suggest that<br />
central and peripheral factors activated by ghrelin can be in the base of the process of growth in an integrated way. Larger<br />
investigations of ghrelin functions will help the understanding of the feeding physiologic mechanisms and they will facilitate<br />
study of several themes, among them alimentary disorders.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Ghrelin, growth hormone, growth hormone secretagogues.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 15 de setembro; aprovado em 1 de outubro de 2002.<br />
Endereço para correspondência: Sandra Bragança Coelho, Condomínio Parque do Ipê, 24, Bairro Silvestre, Viçosa - MG,<br />
36570-000, Tel: (31) 3891-2261, E-mail: sandrabraganca@yahoo.com.br<br />
165
166<br />
Introdução<br />
Na literatura especializada encontram-se várias<br />
definições para o peptídeo grelina (ghre vem da raiz<br />
Proto-Indo-Européia grow, que significa crescer). A<br />
seguir estão algumas delas.<br />
- peptídeo acilado liberador do hormônio de<br />
crescimento [1];<br />
- ligante endógeno para o receptor de liberação<br />
do hormônio de crescimento [2];<br />
- peptídeo cérebro-intestinal que se liga ao<br />
receptor de liberação do hormônio de crescimento,<br />
funcionando como regulador do hormônio de<br />
crescimento e consumo alimentar [3].<br />
Este peptídeo foi isolado em estômago de ratos<br />
[4] e posteriormente em estômago de humanos. As<br />
células produtoras de grelina são mais abundantes nas<br />
glândulas oxínticas do estômago, mas também estão<br />
presentes no núcleo arqueado do hipotálamo [5]. Mori<br />
et al. [6] encontraram grelina em rim e glomérulos de<br />
ratos, mostrando que estes também produzem o<br />
peptídeo.<br />
A grelina é um peptídeo de 28 aminoácidos, que<br />
apresenta uma estrutura única com um n-octanoil éster<br />
no terceiro resíduo de serina, o qual é essencial para<br />
sua potente atividade estimulatória na secreção<br />
somatotrófica [7]. A grelina humana é homóloga a<br />
grelina de roedores, diferenciando-se em apenas 2<br />
aminoácidos [8].<br />
Este peptídeo acilado libera, especificamente,<br />
hormônio do crescimento (GH) [9] in vivo e in vitro<br />
[8], sendo que não se encontrou dose de saturação<br />
para esta estimulação [10].<br />
Após injeções de grelina, pode-se observar<br />
também um aumento do peso corporal, quando estes<br />
ratos foram comparados com o grupo controle, sem,<br />
no entanto, induzir hiperfagia após a administração<br />
periférica do peptídeo.<br />
A análise da composição corporal por<br />
absorciometria dupla de raio X (DXA) após duas<br />
semanas, revelou um ganho significante de massa<br />
gordurosa, mas não mudança em massa magra e massa<br />
óssea, nem de área ou comprimento ósseo, indicando<br />
ausência de uma estimulação ao crescimento linear.<br />
Como o ganho de gordura parecia não resultar da<br />
hiperfagia, investigou-se, então, se a grelina alterava o<br />
gasto energético ou diminuía a proporção da gordura<br />
como “combustível” corporal. Para tanto, foram<br />
administradas injeções subcutâneas de grelina durante<br />
o fotoperíodo de claro (fase de descanso para os<br />
roedores), induzindo um aumento no quociente<br />
respiratório (RQ) (P = 0,001). Tal aumento na<br />
utilização de carboidratos e redução na utilização de<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
gordura para alcançar os requerimentos energéticos,<br />
é congruente com o aumento observado de gordura<br />
corporal. Nem o gasto energético ou a atividade<br />
motora sofreram mudanças após a aplicação de grelina.<br />
Um aumento seletivo no RQ, sem um aumento<br />
concomitante no consumo de carboidratos, não é usual<br />
e pode refletir atividade diminuída do sistema nervoso<br />
simpático. Além disto, estimulação direta de áreas<br />
hipotalâmicas pode induzir a uma mudança seletiva<br />
no RQ [11].<br />
Para garantir que estes dados metabólicos eram<br />
conseqüência da liberação do GH, injetou-se em ratos<br />
tipo selvagem hormônio de crescimento (8mg k -1 )<br />
subcutâneamente. O GH não alterou o quociente<br />
respiratório (RQ) durante os fotoperíodos de claro e<br />
escuro. Em contraste, uma única injeção de GH<br />
aumentou, significativamente, o gasto energético<br />
durante o período de claro, refletindo um aumento<br />
na utilização energética sem alterações na atividade<br />
locomotora. Portanto, a indução do balanço energético<br />
positivo parece não estar relacionado à habilidade da<br />
grelina em estimular a liberação do hormônio de<br />
crescimento [11].<br />
A utilização diária de gorduras nos ratos tratados<br />
com grelina (30,6 ± 10,5 kcal kg -1 d -1 ) foi<br />
significantemente menor do que a utilização medida<br />
pelos ratos tratados com hormônio de crescimento<br />
(68,8 ± 8,5 kcal kg -1 d -1 , P=0,024) ou ratos controle<br />
(65,6 ± 5,6 kcal kg -1 d -1 , P=0,038). Os ratos tratados<br />
com grelina ganharam 29,3kcal kg -1 d -1 de gordura<br />
(consumo de gordura - utilização de gorduras),<br />
enquanto que os ratos controles e os tratados com<br />
hormônio de crescimento perderam 5,7kcal kg -1 d -1 e<br />
7,2kcal kg -1 d -1 de gordura, respectivamente. Ratos<br />
tratados com grelina também tenderam a aumentar a<br />
utilização diária de carboidratos (130,9 ± 13,6 kcal kg -1 d -1 ,<br />
P > 0,17), quando comparados com os ratos controle<br />
(103,5 ± 7,7 kcal kg -1 d -1 ) e ratos tratados com GH<br />
(108,4 ± 8,17 kcal kg -1 d -1 ) [11].<br />
Estes dados expandem a função da grelina como<br />
apenas liberadora do hormônio de crescimento, para<br />
participante na regulação do balanço energético. Mais<br />
evidências que a grelina induz adiposidade<br />
independentemente da liberação do GH, foram<br />
obtidas com estudos usando ratos anões, que são<br />
deficientes neste hormônio. Um aumento no peso<br />
corporal de fêmeas anãs, foi observado durante uma<br />
semana com tratamento de grelina (4,5µg kg -1 d -1 )<br />
subcutâneamente. Nenhum aumento, significante, de<br />
consumo alimentar foi observado, apesar de que houve<br />
uma tendência a comer mais. Como os ratos tipo<br />
selvagem, tratados com grelina, o RQ dos ratos anões<br />
aumentou, após uma única injeção periférica de
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
grelina. Gasto de energia e atividade locomotora não<br />
sofreram modificações [11]. Para estabelecer a<br />
população neural ativada pela ação da grelina, mapeouse<br />
a expressão da c-fos (marcador de atividade neural),<br />
após a administração intracerebroventricularmente<br />
(ICV) de grelina. Os neurônios fos-imunoreativos<br />
foram observados primariamente em regiões<br />
relacionadas à regulação do comportamento alimentar<br />
[12]. Esta distribuição é coincidente aos receptores<br />
de hormônio de crescimento (GHS-R) e foi, a partir<br />
destes dados, que postulou-se que a grelina apresentava<br />
uma ação no comportamento alimentar [12].<br />
O receptor GHS está presente nos neurônios<br />
de neuropeptídeo Y (NPY). O NPY é uma das<br />
moléculas mais efetivas que induzem ganho de peso<br />
corpóreo e parece mediar a fisiologia metabólica da<br />
grelina. Para investigar se a grelina requer NPY para<br />
estimular o aumento de gordura, injetou-se grelina<br />
(2,4µM kg -1 d -1 ) em ratos deficientes de NPY por uma<br />
semana e comparou-se com os controles. O ganho<br />
de peso corporal foi similar ao ganho dos ratos tipo<br />
selvagem (P=0,007), após uma semana de tratamento<br />
com grelina em ratos deficientes de NPY (+1.34 ±<br />
0,30g), quando comparado com os controles.(-0,14 ±<br />
0,36g). Um pequeno, mas significante aumento<br />
(P=0,032), no consumo alimentar também foi<br />
encontrado nos ratos deficientes em NPY tratados<br />
com grelina. Por isso, concluiu-se que a presença de<br />
NPY não é obrigatória no acréscimo de gordura<br />
induzida pela grelina [11].<br />
Outro experimento conduzido por Nakazato et<br />
al. [12], investigou a relação funcional entre a grelina<br />
e o NPY, através do bloqueio da grelina ou do NPY.<br />
Receptores de NPY Y 1 e Y 5 estão envolvidos na<br />
regulação da alimentação via NPY. Inicialmente<br />
determinou-se as doses de IgG anti-NPY e de dois<br />
antagonistas de receptores Y 1 e Y 5 necessários para<br />
bloquear a alimentação induzida pelo neuropeptídeo<br />
Y, não induzindo nenhum outro comportamento<br />
anormal. Administração ICV de 1mg de IgG anti-NPY<br />
4 horas antes da administração de grelina, “cancelou”<br />
o efeito sob a alimentação induzido pela grelina.<br />
Administração conjunta de dois antagonistas para os<br />
receptotres Y 1 e Y 5 também “cancelou” o efeito sob a<br />
alimentação induzida pela grelina. Em contraste, IgG<br />
anti-grelina não afetou o efeito sob a alimentação<br />
induzido pelo NPY. Devido ao fato da proteína Agouti<br />
(AGRP), que é um antagonista endógeno do sistema<br />
hipotalâmico melacortina, se localizar nos neurônios<br />
de NPY do núcleo arqueado, estudou-se a relação<br />
entre grelina e AGRP na regulação da alimentação. A<br />
alimentação induzida pela grelina foi suprimida em<br />
ambos os tratamentos com hormônio estimulador do<br />
melanócito (a-MSH), que é um receptor agonista do<br />
sistema melacortina, e bloqueando o AGRP, um<br />
receptor antagonista, com IgG anti-AGRP. Estes<br />
resultados indicam que a inibição endógena de NPY<br />
e AGRP pode modular o efeito estimulador da grelina<br />
sob a alimentação, o que sugere que a grelina interage<br />
anatomicamente e/ou funcionalmente com as rotas<br />
destes dois peptídeos.<br />
Inibição na síntese e liberação do NPY é o<br />
principal mecanismo de redução do consumo de<br />
alimentos mediado pela leptina. O nível de mRNA<br />
para NPY encontra-se aumentado após administração<br />
de grelina. A alimentação induzida pela grelina na fase<br />
de claro foi suprimida pela administração ICV de<br />
leptina. A leptina reduz a alimentação de ratos em<br />
jejum, enquanto a grelina substancialmente bloqueia<br />
esta redução em ratos pré-tratados com leptina. Estes<br />
resultados mostram que a grelina pode antagonizar a<br />
ação da leptina na regulação do sistema NPY [12].<br />
Para determinar se a adiposidade induzida pela<br />
grelina é controlada centralmente, administrou-se pelo<br />
sistema nervoso central grelina em doses muito baixas<br />
(@ 1000 vezes menor do que a administração<br />
periférica) e ICV por uma semana em ratos normais<br />
adultos (n=5 por grupo). A administração central<br />
contínua de grelina gerou um aumento dosedependente,<br />
altamente significante no peso corporal<br />
(1,2 nmol kg -1 d -1 : +26,7 ± 10,9g semana –1 (P = 0,006);<br />
12nmol kg -1 d -1 : +37,8 ± 4,8g semana -1 (P < 0,001) e<br />
controles (água): +8,6 ± 5,0g semana -1 ), aumentando<br />
o consumo alimentar)(1,2 nmol kg -1 d -1 : 189,9 ± 18,5g<br />
semana –1 (P = 0,002); 12nmol kg -1 d -1 : 204,36g semana -<br />
1 (P < 0,001) e controles: 149,5 ± 4,4g semana -1 ) e<br />
estimulando a média de quociente respiratório)(1,2<br />
nmol kg -1 d -1 : 0,957 ± 0,018 (P = 0,026); 12nmol kg -<br />
1 d -1 : 0,981 ± 0,007(P=0,02) e controles: 0,907 ± 0,006).<br />
Não foi encontrada nenhuma diferença no gasto de<br />
energia ou na atividade locomotora [11].<br />
A administração intracerebroventricular de<br />
grelina acima de um nível mínimo de 10 pmol para<br />
ratos, alimentando-se livremente durante a fase inicial<br />
de claro (saciada), aumentou o consumo alimentar de<br />
maneira dose-dependente. Ratos tratados com grelina<br />
não mostram comportamento anormal quando<br />
comparados com os controles. A administração de<br />
grelina também aumenta, significantemente, o<br />
consumo alimentar na fase de escuro (fase de<br />
alimentação) [12].<br />
Para examinar se a grelina endógena é<br />
influenciada pelo estado alimentar, mediu-se o nível<br />
de grelina circulante em ratos macho Sprague-Dawley<br />
após 48h de jejum, após jejum seguido por<br />
realimentação por 12 horas e durante alimentação ad<br />
167
168<br />
libitum. Níveis séricos de grelina estavam aumentados<br />
nos ratos em jejum (2,86 ± 28ng/ml -1 , P < 0,001) e<br />
foram reduzidos aos níveis dos ratos alimentados ad<br />
libitum (1,26 ± 14ng ml –1 ), após realimentação (0,95<br />
± 5ng ml -1 , n=9 por grupo). Para investigar se os<br />
níveis de grelina circulantes são regulados pelo<br />
enchimento do estômago ou consumo de nutrientes,<br />
comparou-se a administração oral de água (5ml) com<br />
solução de 50% de dextrose. O enchimento do<br />
estômago com água não alterou os níveis de grelina,<br />
mas quando cheio com a solução de dextrose, reduziu<br />
significantemente os níveis séricos de grelina (P =<br />
0,001) [11].<br />
Portanto, a grelina, um ligante endógeno para<br />
o receptor do hormônio de crescimento, induz um<br />
balanço energético positivo em roedores por meio<br />
da diminuição da utilização de lipídios, sem alterar,<br />
significantemente, o gasto energético ou a atividade<br />
motora. Os níveis séricos de grelina após<br />
administração periférica subcutânea de 2,4µmol<br />
kg -1 , foi significantemente maior que os níveis<br />
medidos durante o jejum, apenas na primeira hora<br />
após a administração. Isto indica que a grelina tem<br />
uma curta meia-vida. A rápida degradação pode<br />
explicar a falta de hiperfagia mensurável após a<br />
administração periférica [11].<br />
Em alguns estudos examinou-se o efeito da<br />
grelina sob a secreção ácida e motilidade em ratos<br />
[4]. Administrações intravenosas de grelina (0,8, 4 e<br />
20 µg/kg) aumentou de maneira dose-dependente,<br />
a secreção ácida do estômago. Além disto, as mesmas<br />
doses do peptídeo também aumentaram a motilidade<br />
gástrica da amplitude e freqüência de maneira dosedependente.<br />
Estas mudanças foram observadas logo<br />
após a administração da grelina. Na dose de 20µg/<br />
kg, a secreção ácida aumentou até atingir o pico em<br />
20 minutos, e decaiu gradualmente após 90 minutos<br />
da administração [5].<br />
Além disto, o efeito estimulatório da grelina a<br />
20µg/kg sob a secreção ácida do estômago e sob a<br />
motilidade gástrica, foi completamente abolido após<br />
um pré-tratamento com atropina ou vagotomia<br />
bilateral cervical, sugerindo que a grelina estimula a<br />
secreção ácida do estômago e a motilidade gástrica<br />
por meio da ativação do nervo vago em ratos [5].<br />
Um dos poucos estudos conduzidos com<br />
humanos foi realizado por Tschörp et al. [13], que<br />
investigaram o possível envolvimento da grelina na<br />
patogênese da obesidade humana. Para tanto, mediuse<br />
a composição corporal, por absorbância dupla de<br />
raio X, e também concentrações de grelina<br />
plasmática, por radioimunoensaio em 8 homens e 7<br />
mulheres caucasianos, com média de idade de 31±9<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
anos e massa gordurosa de 29±10% e, também, de<br />
15 índios Pima (8 homens e 7 mulheres), com média<br />
de idade de 33±5 anos e massa gordurosa de 30±8%.<br />
Entre os resultados, encontrou-se que a grelina<br />
plasmática de jejum correlacionou-se negativamente<br />
com o percentual de gordura corporal e com a<br />
concentração de insulina e leptina. Concentrações<br />
de grelina plasmática estavam menores em obesos<br />
caucasianos em comparação com caucasianos<br />
magros. Observou-se ainda, que as concentrações<br />
de grelina plasmática foram menores entre os índios<br />
Pima, população com alta prevalência de obesidade<br />
quando comparada com indivíduos caucasianos.<br />
Conclusão<br />
A resposta aguda no quociente respiratório<br />
(QR) pode ser a conseqüência do ritmo diurno da<br />
grelina, em resposta a absorção pós-prandial de<br />
nutrientes e ao esvaziamento do estômago, durante<br />
o período de sono dos roedores. Apesar do clearance<br />
da grelina ser rápido após administração periférica,<br />
ela induz hiperfagia marcadamente após infusões<br />
contínuas centrais de doses tão baixas quanto 1,2<br />
nmol kg -1 dia -1 , indicando uma ação central. A grelina<br />
induz mudanças metabólicas que levam a um<br />
eficiente estado metabólico, resultando no aumento<br />
de peso corporal e massa de gordura. Estes efeitos<br />
são independentes do GH e não requerem a presença<br />
de NPY. Como a grelina estimula ambos, ganho de<br />
energia e secreção de GH, ela oferece condições para<br />
produzir um estado anabólico.<br />
O jejum aumenta os níveis séricos de grelina<br />
enquanto a realimentação interrompe este aumento,<br />
sugerindo uma função de mudança para um<br />
metabolismo mais eficiente metabolicamente durante<br />
os estados de fome, para a grelina. O consumo de<br />
açúcar, mas não a distensão estomacal, diminui os<br />
níveis de grelina circulantes. Apesar da grelina ser,<br />
indubitavelmente, um regulador do hormônio de<br />
crescimento, os dados mostrados indicam que este<br />
novo hormônio gástrico também sinaliza a centros<br />
hipotalâmicos regulatórios, que controlam o balanço<br />
energético.<br />
A grelina é o novo regulador da homeostase<br />
nutricional. Os efeitos clássicos do hormônio de<br />
crescimento em promover o crescimento dos tecidos<br />
moles, como os ossos e cartilagens, em conjunto com<br />
o efeito orexígeno da grelina, sugerem que fatores<br />
centrais e periféricos ativados pela grelina podem<br />
estar na base do processo de crescimento de uma<br />
maneira integrada. Maiores investigações das funções<br />
da grelina vão ajudar na compreensão dos
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
mecanismos fisiológicos da alimentação e facilitarão<br />
o estudo de vários temas, entre eles as desordens<br />
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169
170<br />
Título abreviado: Obesidade e metabolismo energético<br />
Apoio: FAPEMIG e CAPES<br />
REVISÃO<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
O metabolismo energético como fator<br />
preditor da obesidade<br />
Energetic metabolism like predisposition for obesity<br />
Eliane Lopes Rosado*, Josefina Bressan Resende Monteiro**<br />
* Nutricionista. Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Estudante de Doutorado no Departamento de Ciência e Tecnologia de<br />
Alimentos, Universidade Federal de Viçosa MG,**Nutricionista, MSc, Ph.D em Fisiologia e Nutrição - Departamento de Nutrição e<br />
Saúde, Universidade Federal de Viçosa MG<br />
Resumo<br />
A obesidade, definida como o excesso de deposição de lipídios no tecido adiposo, é resultado de uma situação onde a<br />
ingestão energética excede a produção total de energia, sendo que este desequilíbrio pode resultar de uma ingestão excessiva<br />
de alimentos ou de um defeito no gasto energético. Entre as causas responsáveis pelo gasto energético reduzido, destacamos<br />
os fatores metabólicos, sendo o quociente respiratório particularmente importante por representar a oxidação dos nutrientes<br />
no organismo. A redução no gasto energético predispõe o indivíduo à recuperação do peso corporal perdido. O aumento do<br />
quociente respiratório, em indivíduos obesos ou pós-obesos, revela a redução na oxidação de lipídios e conseqüente ganho<br />
ou recuperação do peso corporal perdido. Propõe-se discutir a importância da avaliação do metabolismo energético em<br />
indivíduos normais, obesos e pós-obesos quanto à predisposição ao ganho de peso corporal.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Obesidade, metabolismo energético, quociente respiratório, oxidação de nutrientes.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 15 de setembro; aprovado em 1 de outubro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Josefina Bressan R. Monteiro, Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade<br />
Federal de Viçosa, 36570-000 Viçosa MG, Tel: (31)3899.2692, E-mail: jbrm@ufv.br
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Abstract<br />
Obesity, defined as an excess of fat accumulation in adipose tissue, is a result of a situation where the ingestion of<br />
energy exceeds the total energy utilization. This imbalance can result from either excess in energy intake or a deficit in energy<br />
expenditure. Among the factors responsible for a reduction in energy utilization, we emphasize metabolic factors, where the<br />
respiratory quotient is an important factor representing the fuel oxidation in the organism. The reduction in energy expenditure,<br />
increasing the possibility of recovering the weight lost following a reduction in body weight. The increase of the respiratory<br />
quotient, in the obese or postobese subjects can lead to a reduction in fat oxidation and a consequent gain or recovery of the<br />
lost body weight. The aim of this manuscript is to discuss the importance of energy metabolism in normal, obese and<br />
postobese subjects in relation to their predisposition to weight gain.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Obesity, energetic metabolism, respiratory quotient, nutrients oxidation.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Introdução<br />
A maioria dos adultos mantém o peso corporal<br />
constante, graças ao complexo sistema de mecanismos<br />
neurais, hormonais e químicos, que mantêm o<br />
equilíbrio entre a ingestão e o gasto energético, dentro<br />
de limites precisamente regulados, sendo que os fatores<br />
genéticos podem contribuir para tais diferenças<br />
individuais [1,2,3]. Alterações nestes mecanismos,<br />
muitas não completamente conhecidas, resultando em<br />
flutuações exageradas no peso corporal. Destas, as<br />
mais comuns são o excesso de peso e a obesidade [4].<br />
A obesidade tem sido considerada a alteração<br />
nutricional mais importante do mundo atual.<br />
Conceitualmente é um problema sensível, definido<br />
como um acúmulo excessivo de tecido adiposo,<br />
causado pela ingestão excessiva de calorias. No<br />
entanto, estudos revelam que a obesidade resulta de<br />
uma situação onde a ingestão energética excede a<br />
produção total de energia, sendo difícil estabelecer se<br />
este desequilíbrio resulta do excesso de ingestão ou<br />
de um defeito no gasto energético [5]. Outra definição,<br />
descreve a obesidade como sendo um excesso de<br />
deposição de lipídios no tecido adiposo [6].<br />
Vários autores [2,7,8], evidenciaram a relação<br />
entre os graus de obesidade e adiposidade com a<br />
morbimortalidade, incluindo a hipertensão arterial, a<br />
diabetes tipo 2 e enfermidades cardiovasculares.<br />
Também se relata que um aumento de 10% no peso<br />
corporal, resulta em aumento da pressão arterial<br />
sistólica em 6,5 mmHg, do colesterol plasmático em<br />
12 mg/dl e da glicemia em jejum em 2 mg/dl [9].<br />
O aumento importante na incidência da<br />
obesidade tem sido relatado desde décadas passadas<br />
em muitos países e, em particular, nos Estados Unidos,<br />
onde a proporção de indivíduos obesos aumentou de<br />
25 para 33%, durante a última década[10]. Relata-se<br />
[11] que 32 milhões de mulheres e 26 milhões de<br />
homens, aproximadamente 1/3 da população adulta<br />
dos Estados Unidos, apresentam excesso de peso, com<br />
peso mínimo de 20% acima do nível desejado.<br />
No Brasil, apesar dos graves problemas de déficit<br />
nutricional, a PNSN (Pesquisa Nacional sobre Saúde<br />
e Nutrição) realizada em 1989, mostrou que 32,9%<br />
da população, com idade superior a 18 anos,<br />
apresentava algum grau de obesidade (índice de massa<br />
corporal - IMC >25,0 kg/m 2 ), com maior predomínio<br />
no sexo feminino (55%) e a obesidade, considerandose<br />
o IMC acima de 30 kg/ m 2 , alcançou 8,3% da<br />
população. Estes resultados são diferentes,<br />
comparados aos dados encontrados pelo ENDEF<br />
(Estudo Nacional sobre Gasto Familiar), realizado no<br />
período de 74/75, onde 21,1% da população<br />
apresentou algum grau de obesidade, prevalecendo<br />
entre as mulheres [12], que atualmente alcançam 13,3%<br />
[13], indicando um aumento de 11,8% de obesidade<br />
na população brasileira num período de 14 anos,<br />
podendo ser explicado, dentro de uma visão simplista,<br />
pelo aumento na ingestão energética e/ou redução<br />
na atividade física, além de fatores metabólicos e<br />
psicológicos associados. Em outros países do mundo<br />
também se observam estes resultados [12].<br />
A susceptibilidade à obesidade advém de vários<br />
mecanismos que resultam no excesso energético,<br />
promovendo o ganho de peso, incluindo a hiperfagia,<br />
o baixo gasto energético basal, em repouso e em<br />
atividade física [14]. Vários estudos têm demonstrado<br />
que o baixo gasto energético pode ser um fator<br />
importante, que contribui para o excessivo ganho de<br />
peso, em indivíduos geneticamente susceptíveis, por<br />
meio da promoção do balanço energético positivo<br />
[14,14,16,17].<br />
Entre os fatores metabólicos destaca-se o quociente<br />
respiratório (QR), que é um reflexo da oxidação de<br />
carboidratos e lipídios e tem sido sugerido como índice<br />
metabólico, que prediz o ganho de peso [18].<br />
171
172<br />
Ao indivíduo obeso, é recomendado manter ou<br />
aumentar sua taxa metabólica, objetivando evitar a<br />
recuperação do peso corporal, sendo objetivo da<br />
revisão, discutir a influência do metabolismo<br />
energético em indivíduos não obesos, obesos e pósobesos<br />
estáveis.<br />
Etiologia da obesidade<br />
Os fatores econômicos, sociais, ambientais,<br />
familiares, genéticos, hormonais e metabólicos [19]<br />
têm sido considerados preditores da obesidade. O<br />
desequilíbrio entre a ingestão e o gasto energético<br />
representa o maior distúrbio que resulta no aumento<br />
da deposição de lipídios corporais [15,20]. No<br />
entanto, deve-se destacar a complexidade dos<br />
problemas que incluem diversos genes que, direta<br />
ou indiretamente, podem induzir a obesidade<br />
[6,21,22].<br />
Vários estudos realizados nos Estados Unidos,<br />
Oriente Médio e em países do norte da Europa<br />
Ocidental, têm associado a obesidade com a idade,<br />
o sexo, as condições socio-econômicas e<br />
comportamentais, como o tabagismo e o consumo<br />
de bebidas alcoólicas [7]. Portanto, o<br />
desenvolvimento de estratégias para a prevenção da<br />
obesidade, depende geralmente da identificação dos<br />
fatores preditores do ganho de peso [23].<br />
Estudos demonstram que existem períodos<br />
críticos na vida para o desenvolvimento da obesidade,<br />
incluindo o desenvolvimento fetal, a infância (entre<br />
5 e 7 anos de idade) e a adolescência. Ressalta-se o<br />
segundo período, na infância, onde existe maior<br />
influência da ingestão alimentar e da atividade física.<br />
Na adolescência, o terceiro período crítico, ocorre<br />
aumento da gordura corporal total (GCT) nas<br />
meninas, e sua redistribução das regiões periféricas<br />
para a visceral, sugerindo-se que vários processos<br />
metabólicos podem ser afetados [6]. Portanto, é<br />
importante a influência do sexo nos processos<br />
metabólicos.<br />
A idade da população também é um fator que<br />
contribui para o aumento da prevalência da obesidade<br />
24,25]. Com a idade ocorre acúmulo de lipídios na<br />
zona central do corpo, estando associada com a<br />
redução na taxa metabólica basal (TMB), na<br />
termogênese induzida pela dieta (TID), na atividade<br />
física, além da menor propensão para a oxidação de<br />
lipídios e carboidratos dietéticos. A baixa oxidação<br />
de lipídios resulta no aumento do QR em 24 horas,<br />
o que pode ser observado em indivíduos pós-obesos.<br />
O QR em 24 horas correlaciona-se positivamente<br />
com a idade, assim como da gordura corporal [25].<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Em vários estudos observa-se que o ganho de<br />
peso não se encontra relacionado com a redução da<br />
taxa metabólica em repouso (TMR) e pós-prandial,<br />
mas com a atividade física, sugerindo-se que o<br />
componente ativo do gasto energético total (GET)<br />
pode ser importante na etiologia da obesidade [18,26].<br />
A redução no gasto energético com atividade física,<br />
explica 70% da redução do GET [18].<br />
A atividade física é o componente mais variável<br />
do GET e seu efeito depende do peso corporal, da<br />
composição corporal, da intensidade e duração do<br />
exercício. Estudos que avaliaram a atividade física, por<br />
meio de métodos indiretos como acelerômetros,<br />
cinematografia e registro de freqüência cardíaca,<br />
demonstraram redução significativa da atividade física,<br />
em certos grupos de indivíduos obesos, comparados<br />
com indivíduos normais.<br />
O gasto energético com atividade física pode<br />
afetar a GCT, devido sua influência na oxidação de<br />
lipídios e na resistência à insulina [14]. O estilo de<br />
vida sedentário aumenta a atividade do eixo adrenal<br />
pituitário hipotalâmico, reduzindo a atividade do<br />
sistema nervoso simpático (SNS), a oxidação de<br />
lipídios e os hormônios esteróides em homens e<br />
mulheres, os quais estão relacionados com o acúmulo<br />
de tecido adiposo visceral [27].<br />
O baixo gasto energético tem contribuído para<br />
o aumento da incidência da obesidade, em algumas<br />
famílias [3], visto que a mesma pode ser considerada<br />
uma desordem familiar geneticamente determinada<br />
[3,6]. A ocorrência familiar da obesidade pode resultar<br />
da semelhança no excesso de ingestão energética, no<br />
déficit no gasto energético ou em ambos. No entanto,<br />
Fontaine et al [28] relataram que, em gêmeos mono e<br />
dizigóticos, a TMB foi influenciada, em último plano,<br />
pela genética.<br />
No entanto, indivíduos com GET baixo<br />
apresentaram maior probabilidade de recuperar o peso<br />
corporal, comparados com os indivíduos da mesma<br />
família com GET elevado, sugerindo-se que o gasto<br />
energético não esteja diretamente relacionado com<br />
fatores genéticos [3].<br />
Outros estudos indicam que indivíduos com<br />
predisposição genética à obesidade, seriam normais<br />
em ambiente de privação alimentar e alta demanda de<br />
atividade física, do contrário, indivíduos sem<br />
predisposição genética à obesidade podem tornar-se<br />
obesos em ambiente que inclua alimentos com alta<br />
densidade energética e/ou baixa atividade física.<br />
Portanto, o ambiente é fator crítico para o<br />
desenvolvimento da obesidade [6,29].<br />
Estudos realizados com animais comprovaram<br />
a existência de duas formas de obesidade, uma de
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
origem genética e outra por influência da dieta, sendo<br />
ambas marcadas pela hipertrofia e hiperplasia dos<br />
adipócitos, condições similares caracterizadas na<br />
obesidade humana [26,30].<br />
Estudos epidemiológicos indicam correlação<br />
entre a ingestão de lipídios pela população e a<br />
obesidade [1,10,26,31,32]. No entanto, existem<br />
indivíduos que utilizam dietas ricas em lipídios e<br />
apresentam peso normal ou baixo, sugerindo-se que,<br />
possivelmente, o excesso de lipídios ingerido pode<br />
estar em equilíbrio com o gasto corporal. Esta<br />
proteção pode ser fisiológica, devido a alteração na<br />
taxa metabólica ou na oxidação de lipídios, ou ainda<br />
comportamental, com aumento na atividade física<br />
[1,10,31]. Em estudos realizados com humanos,<br />
observou-se que o alto conteúdo de lipídios dietéticos<br />
está associado ao aumento da GCT, independente da<br />
ingestão energética [14].<br />
Influência do metabolismo energético na<br />
obesidade e os fatores relacionados à sua<br />
alteração<br />
A TMB e a TID refletem a oxidação do<br />
substrato, sendo a mesma distinta nos diferentes<br />
tecidos corporais. Em torno de 1/4 da TMR<br />
corresponde ao gasto energético durante o sono, 10%<br />
ao funcionamento cardíaco e 20 a 30% ao tecido<br />
muscular [33].<br />
Como relatado anteriormente, o QR reflete a<br />
oxidação de nutrientes, sendo considerado um índice<br />
metabólico que prediz o ganho de peso [4]. O QR<br />
oferece somente o índice da proporção do substrato<br />
oxidado, mas não a quantidade total da oxidação do<br />
mesmo [35].<br />
O alto QR correlaciona-se com o ganho de peso<br />
e reflete a alta oxidação de carboidratos e a baixa<br />
oxidação de lipídios. A redução na oxidação de lipídios<br />
pós-prandiais pode facilitar o acúmulo dos mesmos,<br />
podendo ser um dos mecanismos relacionados à<br />
recuperação do peso corporal [23].<br />
Nagy et al [36] sugerem que o máximo volume<br />
de oxigênio (VO 2 ) esteja correlacionado com a<br />
oxidação de lipídios, independente da massa livre de<br />
gordura (MLG). No entanto, pode-se prever que a<br />
MLG tenha maior efeito na oxidação de lipídios,<br />
comparado ao volume máximo de O 2 , pois explica<br />
grande proporção das mudanças na TMR.<br />
A taxa de acúmulo de lipídios, resultante do<br />
ganho de 1 kg de tecido adiposo durante o ano,<br />
representa a retenção de somente 1% da energia<br />
ingerida. No entanto, existem indivíduos com<br />
tendência ao alto QR em 24 horas, gastando mais<br />
glicose que lipídios, aumentando o risco do ganho<br />
de peso durante os anos subsequentes. Outro fator<br />
importante é a baixa capacidade de oxidação do<br />
músculo esquelético, que está associado ao aumento<br />
na adiposidade, e a utilização dos ácidos graxos pelo<br />
músculo que se encontra reduzida em mulheres, que<br />
apresentam obesidade visceral [33]. As reservas de<br />
tecido adiposo são normalmente 100 vezes<br />
superiores às reservas de energia na forma de<br />
glicogênio [9].<br />
Existe uma tendência de aumento no QR<br />
durante o exercício, indicando que o carboidrato é o<br />
principal substrato que contribui para o aumento da<br />
produção energética. O QR, durante o exercício,<br />
sofre a influência de vários fatores, como a<br />
intensidade e duração do mesmo. O QR aumenta,<br />
em grande proporção, em exercícios de alta<br />
intensidade, comparados com aqueles de baixa ou<br />
moderada intensidade, e que se reduz<br />
progressivamente quando a duração do exercício é<br />
aumentada. O QR também tende a ser inferior em<br />
indivíduos treinados, comparados àqueles não<br />
treinados. O exercício induz maior perda de gordura<br />
em indivíduos obesos, que apresentam alta<br />
capacidade para oxidar lipídios, durante e depois do<br />
exercício[33].<br />
O exercício físico, devido ao fato de reduzir as<br />
reservas de glicogênio, encontra-se relacionado a<br />
alterações metabólicas, com a redução<br />
(neoglicogênese) ou aumento do QR (lipogênese)<br />
[35]. A queda do QR está relacionada ao aumento<br />
na oxidação lipídica, havendo formação de glicogênio<br />
a partir dos lipídios, enquanto que o aumento no<br />
QR resulta na formação de lipídios a partir da glicose.<br />
Nos índios Pima obesos, tem-se demonstrado<br />
uma relação significativa, mas modesta, entre o QR<br />
em 24 horas, avaliado após o controle da dieta, e o<br />
subseqüente ganho de peso, num período de 5 meses<br />
a 4 anos de acompanhamento. A baixa TMB, o alto<br />
QR e o aumento da sensibilidade à insulina foram<br />
fatores preditores do ganho de peso e estes fatores<br />
têm contribuído para a redução na oxidação de<br />
lipídios [15].<br />
Segundo Valteueña et al [37], a maior perda de<br />
peso resultou num aumento acentuado no QR, o qual<br />
foi maior com o aumento do período de duração da<br />
dieta. O QR, medido no final do período de uma<br />
dieta hipocalórica, somente se correlacionou<br />
significativamente com as mudanças de peso durante<br />
a dieta. Outras variáveis relacionadas com o QR são<br />
a resistência à insulina, o grau de adiposidade e o<br />
balanço energético. Larson et al [4] também<br />
encontraram correlação entre o QR em 24 horas e a<br />
173
174<br />
atividade da lipase lipoprotéica (LPL) do músculo<br />
esquelético.<br />
O QR, após um período de restrição dietética,<br />
poderia explicar parcialmente as diferenças observadas<br />
nas mudanças do peso corporal, por meio de três<br />
mecanismos: 1) os indivíduos com alta atividade das<br />
enzimas lipolíticas poderiam apresentar maior habilidade<br />
no aumento da oxidação lipídica, em resposta à dieta<br />
rica em lipídios, limitando a quantidade das reservas<br />
lipídicas e o ganho de peso; 2) o aumento nas taxas de<br />
oxidação de carboidratos e lipídios poderia causar<br />
aumento e/ou rápida redução pós-prandial das reservas<br />
de glicogênio, resultando na supressão da saciedade,<br />
aumento do apetite e, conseqüêntemente, do consumo<br />
alimentar; e 3) o aumento no QR poderia desviar a<br />
capacidade do indivíduo de manter seu peso e<br />
composição corporal. Em resumo, indivíduos com alto<br />
QR (>0,75), após o período de restrição dietética, revelam<br />
maior risco de recuperação do peso, comparados com<br />
os indivíduos com baixo QR (
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
de peso. O alto QR, representado pela baixa oxidação<br />
de lipídios, predispõe o indivíduo à obesidade.<br />
Recomenda-se, ao indivíduo obeso, manter ou<br />
aumentar sua taxa metabólica, a fim de evitar a<br />
recuperação do peso corporal perdido, após um<br />
período de restrição dietética. Durante um programa<br />
de perda de peso, recomenda-se dieta hipocalórica,<br />
com controle dos lipídios dietéticos, e aumento da<br />
atividade física, visando minimizar a redução da MLG<br />
e, conseqüentemente, do gasto energético basal e em<br />
repouso, além do aumento do gasto energético total,<br />
por meio do incremento no gasto energético com<br />
atividade física, resultando na regulação do equilíbrio<br />
energético e evitando a recuperação do peso corporal.<br />
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Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
DOSSIÊ<br />
Soja: Além do valor nutricional é muito<br />
utilizada na prevenção de várias doenças<br />
A soja é um alimento completo que pode perfeitamente contribuir com a redução dos índices<br />
de mortalidade por desnutrição. Alimento super nutritivo, a soja contém proteínas, vitaminas,<br />
minerais, fibras e pode ser utilizada de inúmeras formas na culinária. Seu alto teor de ferro é<br />
ótimo para combater a anemia. Ela tem várias vantagens sobre as carnes, tais como: não<br />
excita os centros nervosos e não aumenta a pressão sangüínea, além de ser utilizada em<br />
dietas e nos tratamentos que retardam o processo de envelhecimento. Além disso, produtos à<br />
base de soja reduzem o risco do câncer de mama e de próstata. Aliviam os sintomas da<br />
menopausa, como ondas de calor e suores noturnos. E ajudam a controlar o diabetes, a<br />
osteoporose e a aterosclerose.<br />
Ficha Técnica: Soja (soya, soybean)<br />
Família: Fabaceae<br />
Gênero: Glycine<br />
Espécie: Glycine max (L.)Merr.<br />
História<br />
Salsicha, tinta, leite, farinha, quibe, esmalte, ração<br />
animal, medicamento, queijo, margarina, maionese,<br />
hambúrguer, sabão, salame. Sabe o que todos esse itens<br />
têm em comum? Um mesmo grão, originário do<br />
Oriente, cuja existência remonta há 5 mil anos: a soja.<br />
A soja é uma leguminosa domesticada pelos<br />
chineses há cerca de cinco mil anos. Sua espécie mais<br />
antiga, a soja selvagem, crescia principalmente nas<br />
terras baixas e úmidas, junto aos juncos nas<br />
proximidades dos lagos e rios da China Central. Há<br />
três mil anos a soja se espalhou pela Ásia, onde<br />
começou a ser utilizada como alimento. Foi no início<br />
do século XX que passou a ser cultivada<br />
comercialmente nos Estados Unidos. A partir de<br />
então, houve um rápido crescimento na produção, com<br />
o desenvolvimento das primeiras cultivares comerciais.<br />
No Brasil, o grão chegou com os primeiros<br />
imigrantes japoneses em 1908, mas foi introduzida<br />
oficialmente no Rio Grande do Sul em 1914. Porém,<br />
a expansão da soja no Brasil aconteceu nos anos 70,<br />
com o interesse crescente da indústria de óleo e a<br />
demanda do mercado internacional.<br />
Prima do feijão<br />
A soja é parente da fava portuguesa, da lentilha, da<br />
ervilha fresca do grão de bico e do feijão, entre outras<br />
inúmeras espécies de leguminosas. A planta - a Glycine<br />
max - é um pequeno arbusto com flores brancas, amarelas<br />
ou cor de violeta, repleta de folhas. No Brasil, por muitos<br />
anos, o cultivo da soja manteve apenas um caráter<br />
experimental, sendo mantida “confinada” em algumas<br />
instituições de pesquisa. Foi só a partir da década de 60<br />
que os agricultores brasileiros do Sul se interessaram em<br />
plantá-la de forma extensiva. A Glycine max se dá bem<br />
nos mais variados tipos de solo, resistente à seca e, em<br />
geral, é pouco afetada por doenças ou pragas. Por todas<br />
essas condições favoráveis, o cultivo da soja é uma das<br />
maiores riquezas do país. A tal ponto que o Brasil, junto<br />
com os Estados Unidos e a China, figura na lista dos<br />
primeiros produtores mundiais do grão.<br />
A soja é um grão de aspecto arredondado, muito<br />
similar ao grão de bico em sua cor e forma, tendo uma<br />
camada superficial mais lisa do que a do grão de bico. A<br />
soja, hoje, não é considerada somente um alimento de<br />
alta qualidade protéica, mas tem papel fundamental como<br />
alimento funcional prevenindo várias doenças. Dentre<br />
os compostos funcionais da soja podem ser citados os<br />
inibidores de protease, os fitoesteróis, as saponinas, os<br />
177
178<br />
ácidos fenólicos e os isoflavonóides ou fitoesteróides<br />
(também chamados de isoflavona). Dentre estes<br />
compostos, as isoflavonas (genisteína e daidzeína) são<br />
os mais notáveis, pois a soja é a única fonte significativa<br />
destes compostos. A soja também é uma fonte rica em<br />
vitamina B, ácido fólico, cálcio, ferro, iodo, magnésio,<br />
potássio, e fósforo. Em 100g de soja encontramos: 35g<br />
de proteína; 16g de carboidrato; 18g de gordura; 15g de<br />
fibra; 16g de outros componentes.<br />
A soja é uma planta herbácea e tem<br />
aproximadamente 10.000 variedades. É da família das<br />
leguminosas (popularmente é um feijão) e teve sua origem<br />
na China, onde é bastante utilizada desde o século XI<br />
a.C. Foi considerada uma das 5 sementes sagradas, sendolhe<br />
atribuída a própria sobrevivência da China, devido<br />
ao seu uso nutricional como principal fonte proteíca.<br />
É também de extrema importância para a<br />
agricultura, pois tem uma bactéria que fixa o nitrogénio<br />
no solo. A sua parte comercializada é a semente, variando<br />
de tamanho, cor e forma, como também quanto ao teor<br />
de óleo e proteínas.<br />
A soja é rica em proteínas, hidratos de carbono,<br />
gordura, fibras, vitaminas e minerais.<br />
Leguminosas Proteínas Gorduras Hidrato de carbono Minerais<br />
Soja 38,0g 19,0g 11,0g 5,0g<br />
Amendoim 26,0g 39,0g 24,0g 2,0g<br />
Lentilha 26,0g 2,0g 53,0g 3,4g<br />
Ervilha 23,0g 2,0g 53,0g 2,9g<br />
Feijão 24,0g 2,0g 52,0g 3,5g<br />
Proteínas<br />
A quantidade de proteína que a soja contém está<br />
em torno de 30 a 45%. Ou seja, 100 gramas de soja<br />
temos de 30 a 45% de proteína vegetal. Possui duas vezes<br />
mais proteínas do que a carne e uma e meia mais do que<br />
o feijão comum, a lentilha, a ervilha ou o amendoim,<br />
três vezes mais que o trigo integral, demais cereais e ovos,<br />
além de dez vezes mais que o leite de vaca.<br />
Gorduras<br />
Depois do amendoim, a soja é de alto teor de<br />
gordura e de ótima qualidade. Entram em sua constituição<br />
ácidos gordurosos não saturados, ácido linoleíco e<br />
arquidômico, essencial a alimentação humana.<br />
Hidrato de carbono<br />
A soja tem em torno de 10 a 17% de hidratos de<br />
carbono. Porém, apenas a quantidade de 2% desta cota,<br />
é sob forma de amido absorvível pelo organismo<br />
humano. Por esta razão, a soja é o alimento excelente<br />
para pessoas diabéticas, obesas ou em regimes para perda<br />
ou manutenção do peso.<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Vitaminas<br />
Em 100 gramas do feijão soja encontra-se: caroteno,<br />
tiamina ou vitamina B1, riboflavina ou vitamina B2,<br />
niacina ou vitamina B3, ácido nicotínico e ácido ascórbico.<br />
Minerais<br />
Para cada 100 gramas de soja, seca ou cru, temos 5<br />
gramas de minerais, dentre eles: sódio, potássio, fósforo,<br />
ferro, magnésio e zinco. A farinha de soja contém fósforo<br />
e cálcio em proporções mais elevadas do que o leite ou o<br />
trigo integral, na proporção de duas vezes mais cálcio e<br />
cinco vezes mais fósforo que o leite de vaca.<br />
Fibra<br />
Cada xícara de feijão soja cozido contém 3 gramas<br />
de fibras. A casca da soja é rica em fibra, não dispõe de<br />
substâncias nocivas ao organismo, pois não é tóxica.<br />
Outros produtos da soja<br />
Óleo Refinado<br />
Uso Comestível Uso Técnico<br />
Manufatura Ingredientes para Calefação<br />
Antibióticos Óleo Refugado<br />
Óleo de Cozinha Desinfetantes<br />
Margarina Isolação Elétrica<br />
Produtos Farmacêuticos Inseticidas<br />
Tempêros para Salada Fundos de Linóleo<br />
Óleo para Salada Tecidos para Impressão<br />
Pasta para Sanduíche Tintas para Impressão<br />
Gordura Vegetal Revestimentos<br />
Produtos Medicinais Plastificadores<br />
Massa para Vidraceiro<br />
Sabão<br />
Cimento à Prova de Água<br />
Lecitina<br />
Uso Comestível Uso Técnico<br />
Agente Emulsificante Agente Antiespumante<br />
Produtos de Padaria Fabricação de Escuma<br />
Produção de Balas Fabricação de Álcool<br />
Agente Ativo de Superfície Agente Dispersante<br />
Revestimento de Chocolate Fabricação de Tintas<br />
Produtos Farmacêuticos Inseticidas<br />
Nutrição Fabricação Umidificante<br />
Uso Médico Cosméticos<br />
Uso Doméstico Pigmentos<br />
Agente Contra Salpiqueiro Substituto do Leite para<br />
Fabricação de Margarina Bezerros<br />
Agente Estabilizador Metais em Pó<br />
Gorduras Têxteis<br />
Produtos Químicos<br />
Agente Estabilizante<br />
Emulsões<br />
Agente Anti-Derrapante<br />
Gasolina
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Soja: muitas utilidades<br />
O grão da soja dá origem a produtos e<br />
subprodutos utilizados atualmente pela<br />
agroindústria de alimentos e indústria química. A<br />
proteína de soja dá origem a produtos comestíveis<br />
(ingredientes de padaria, massas, produtos de carne,<br />
cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação<br />
para bebês, confecções e alimentos dietéticos). É<br />
utilizada também pela indústria de adesivos e<br />
nutrientes, alimentação animal, adubos, formulador<br />
de espumas, fabricação de fibra, revestimento, papel<br />
emulsão de água para tintas.<br />
A soja integral é utilizada pela indústria de<br />
alimentos em geral e o óleo cru se transforma em<br />
óleo refinado e lecitina, que dá origem a inúmeros<br />
outros produtos.<br />
A expansão da soja<br />
O interesse do governo brasileiro pela<br />
expansão na produção da soja para atender à<br />
indústria, fez com que a leguminosa ganhasse cada<br />
vez mais incentivos oficiais. Para atender às<br />
exigências de produção de uma cultura altamente<br />
técnica, foi criado, em 1975, o Centro Nacional de<br />
Pesquisa de Soja, como uma das unidades da<br />
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária<br />
(Embrapa), estrategicamente localizado para que<br />
pudesse atender às demandas da produção nacional.<br />
Sua principal incumbência era conquistar a<br />
independência tecnológica para a produção<br />
brasileira, que até então estava concentrada nos<br />
estados do Sul do País, aproveitando a entressafra<br />
da cultura do trigo que, na época, recebia incentivos<br />
do governo. A boa adaptação da soja nas terras do<br />
Sul do país e a crescente demanda dos mercados<br />
interno e externo deram estabilidade aos preços do<br />
produto no mercado, o que incentivou o aumento<br />
de área.<br />
Em pouco tempo, os cientistas da Embrapa<br />
Soja não só criaram tecnologias específicas para as<br />
condições de solo e clima do País, como<br />
conseguiram criar a primeira cultivar genuinamente<br />
brasileira, a Doko, que permitiu que a soja<br />
produzisse em regiões tropicais (Cerrados), onde<br />
antes a planta não se desenvolvia.<br />
A criação da cultivar Doko fez muito mais que<br />
desbravar as novas fronteiras agrícolas do Brasil,<br />
até então consideradas improdutivas. A Doko, e<br />
mais tarde a cultivar Tropical, levaram a soja a todas<br />
as regiões de clima tropical do mundo. Hoje, a soja<br />
tem uma utilização diversificada no mundo todo.<br />
Tecnologia melhora o sabor<br />
A soja é um alimento marcante na culinária<br />
oriental. Embora os maiores produtores dessa<br />
leguminosa sejam os países ocidentais - Estados<br />
Unidos (45%), Brasil (20%) e Argentina (14%) -,<br />
grande parte da produção, neste lado do globo, é<br />
exportada ou destinada à alimentação animal.<br />
Não é por falta de nutrientes ou substâncias<br />
benéficas à sua saúde que o homem ocidental prefere<br />
outros alimentos à soja. Afinal, o chamado “grão<br />
mágico” possui, em média, 40% de proteína e é uma<br />
alternativa à proteína de origem animal, pois tem<br />
elevado teor nutritivo, baixo conteúdo de gorduras e<br />
não contém colesterol nem lactose - que provoca<br />
alergia em muitas pessoas. A leguminosa é bem aceita<br />
em quase todas as dietas e suas qualidades são<br />
equivalentes às da proteína da carne, do leite e do ovo.<br />
A soja possui, ainda, importantes propriedades<br />
terapêuticas.<br />
O que torna a soja um alimento raro nos<br />
supermercados brasileiros, ao contrário do que se<br />
pensa, não é a qualidade, o preço nem a produção, é o<br />
sabor. O grão é rançoso e tem um gosto forte de mato,<br />
o beany-flavor. A solução encontrada por pesquisadores<br />
foi aperfeiçoar técnicas de preparo que eliminam uma<br />
das mais sérias barreiras ao consumo de soja: o sabor<br />
inadequado ao paladar do brasileiro, além de<br />
desenvolver variedades sem as substâncias que<br />
provocam o sabor desagradável.<br />
O segredo para se obter alimentos saborosos é<br />
o tratamento do grão para inativar a enzima<br />
lipoxigenase, responsável pelo sabor característico da<br />
soja.<br />
A enzima lipoxigenase é facilmente inativada pelo<br />
calor. Assim, basta que grãos inteiros e secos, sejam<br />
colocados diretamente em água fervente e após em<br />
água fria. Com isto, a enzima perde a capacidade de<br />
desenvolver uma reação que ativa o gosto característico<br />
que a soja tem. Ao se utilizar soja como alimento,<br />
deve-se escolher grãos selecionados e limpos. Eles<br />
devem ser colocados em uma panela com água já<br />
fervente, onde devem permanecer por cinco minutos,<br />
contados após levantar a nova fervura.<br />
Depois da fervura, a água deve ser jogada fora e<br />
os grãos, lavados em água fria corrente. Esses grãos<br />
tratados termicamente poderão, então, ser cozidos ou<br />
torrados, dependendo da receita a ser elaborada.<br />
A farinha de soja e produtos industrializados,<br />
como a Proteína Vegetal Texturizada (PVT), o extrato<br />
solúvel (leite) em pó, já foram submetidos a<br />
tratamentos térmicos durante seu processamento<br />
industrial e não precisam ser tratados.<br />
179
180<br />
Desde 1986, a Embrapa Soja desenvolve<br />
atividades para incentivar o consumo de soja pela<br />
população brasileira. Em 1995, a Embrapa<br />
incrementou seu trabalho, com o lançamento do<br />
“Programa Soja na Mesa”.<br />
O principal objetivo do Programa é dar ao grão<br />
uma função mais nobre: a de complementar a<br />
alimentação da população brasileira. Pronta para<br />
atender às necessidades calórico-protéicas da dieta das<br />
famílias, a soja é, também, alternativa para diminuir<br />
os índices de desnutrição, principalmente entre as<br />
crianças. Ao mesmo tempo, a soja pode ser utilizada<br />
na prevenção e no tratamento de inúmeras doenças.<br />
Embora o Brasil seja o 2º maior produtor de<br />
soja do mundo, o grão vem sendo utilizado em larga<br />
escala apenas pela indústria de alimentos, onde o<br />
produto é ingrediente na fabricação de embutidos,<br />
chocolates, bolachas.<br />
Do total de grãos produzidos, cerca de 72% são<br />
transformados em farelo, principal componente<br />
protéico de rações para suínos e aves.<br />
A Embrapa Soja, através de parcerias, vem<br />
incentivando a utilização da soja na alimentação da<br />
população. Seus especialistas ministram cursos<br />
transferindo técnicas que tornam a soja um produto<br />
saboroso.<br />
A Empresa está disponível para o<br />
desenvolvimento de programas cooperativos com<br />
outras instituições públicas e privadas, clubes de<br />
serviços e outras entidades, para parcerias que visem<br />
a utilização de soja como alimento. Exemplo de um<br />
dos programas cooperativos que a instituição mantém<br />
é o convênio firmado em 1997 com o Rotary Club<br />
Londrina Universidade e a Escola Profissionalizante<br />
e Social do Menor de Londrina (Epesmel). A escola<br />
utiliza a soja como alimento (pão, “leite”, bolos e<br />
outros derivados do grão) na alimentação de cerca de<br />
900 crianças e adolescentes carentes de Londrina e<br />
suas famílias.<br />
A Embrapa oferece também cursos voltados à<br />
elaboração de pratos à base de soja nos quais utiliza: a<br />
farinha de soja, o leite em pó e a proteína texturizada<br />
de soja (PTS).<br />
Pesquisa melhora variedade<br />
O Programa Soja, coordenado pelo professor<br />
do Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária<br />
(Bioagro/UFV), Maurílio Alves Moreira, foi criado<br />
em 1986, com o objetivo de melhorar as propriedades<br />
da soja e de seus derivados. O primeiro passo foi<br />
buscar novas variedades do grão, sem aquele gosto<br />
forte e desagradável. Os pesquisadores identificaram<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
as três enzimas responsáveis pelo sabor ruim e, por<br />
meio de melhoramento genético molecular,<br />
desenvolveram as UFV TNs, que não contêm essas<br />
enzimas. O resultado é um grão de sabor suave e<br />
mais atraente ao nosso paladar.<br />
O pesquisador explica que o gosto de mato está<br />
diretamente ligado à presença de compostos como<br />
aldeídos e hidrocarbonetos, que são produzidos<br />
durante o processamento do grão. Eles grudam na<br />
proteína da soja e, quando o grão é aquecido, é ainda<br />
mais difícil removê-los. Isso acontece nos produtos<br />
primários, como a farinha integral e o leite de soja.<br />
“Se você cheirar o leite de soja, não toma”, brinca o<br />
Prof. Maurílio.<br />
Esses compostos são derivados da oxidação do<br />
óleo, processo iniciado pela ação de enzimas<br />
presentes no grão, denominadas lipoxigenases. Além<br />
de alterar o sabor da soja, provocam a rancificação<br />
do óleo e diminuem a vida de prateleira dos<br />
alimentos. A exceção é a soja processada. Durante o<br />
processamento do grão, os aldeídos, hidrocarbonetos<br />
e demais compostos ligados ao beany-flavor são<br />
eliminados gradativamente. A proteína de soja isolada<br />
é um exemplo e, por isso, não tem gosto de mato.<br />
O choque térmico é outra forma de reduzir o<br />
beany-flavor. Esse processo reduz o gosto ruim, mas<br />
também reduz a quantidade de nutrientes do grão.<br />
Essas novas variedades dispensam o tratamento<br />
térmico e, ainda, interferem o mínimo possível em<br />
outros ingredientes misturados a elas. Assim, é<br />
possível usar porcentagens relativamente altas da soja<br />
no preparo de bolos, pães, farinhas e outros<br />
alimentos, sem comprometer o seu sabor.<br />
As UFV TNs são também produtivas e bastante<br />
valorizadas comercialmente. Elas ainda não foram<br />
lançadas no mercado, mas estão sendo preparadas<br />
para isso. Segundo o Prof. Maurílio, o lançamento<br />
será realizado somente depois que os pesquisadores<br />
se sentirem seguros para monitorar a sua produção.<br />
Ele diz que o cultivo dessa soja deve ser controlado<br />
para impedir que o produtor a misture com outras<br />
variedades, porque há o risco de contaminação. “Essa<br />
soja não é uma commodity, que pode ser liberada para<br />
qualquer produtor. É uma soja especial, por isso a<br />
produção de grãos e sementes tem que ser<br />
controlada”, explica o pesquisador.<br />
A equipe já desenvolveu seis variedades sem<br />
sabor indicadas para o cultivo em Minas Gerais.<br />
Todas foram obtidas por meio de cruzamentos entre<br />
variedades comerciais e mutantes silvestres, que não<br />
tinham as enzimas responsáveis pelo sabor ruim.<br />
Nenhuma delas é transgênica, mas o Prof. Maurílio<br />
não descarta a possibilidade de usar a transgênia no
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Programa de Melhoramento da Qualidade da Soja -<br />
para outras características -, caso seja necessário.<br />
Mais proteína e isoflavona<br />
Melhorar o sabor do grão não é a única meta do<br />
Programa Soja. Há uma série de pesquisas em<br />
desenvolvimento nos laboratórios da UFV. Os<br />
pesquisadores pretendem aumentar o teor de proteína<br />
do grão e também de isoflavona - uma espécie de<br />
fitohormônio (hormônio de plantas) que contém<br />
propriedades terapêuticas. É a isoflavona que provoca<br />
a redução do nível do mau colesterol, ameniza os<br />
sintomas da menopausa, diminui o risco de diversos<br />
tipos de câncer, distúrbios cardiovasculares e, ainda,<br />
previne a osteoporose. Mas, de acordo com<br />
pesquisadores americanos, essas propriedades só<br />
funcionam quando a isoflavona está associada ao grão.<br />
Ao todo, são 20 variedades de soja em processo<br />
de aumento do teor da proteína. A meta dos<br />
pesquisadores é atender à exigência do mercado<br />
internacional: 45% no grão, 48% no farelo e 61% em<br />
farinhas desengorduradas sem casca, sendo que o<br />
comum é que esse teor oscile entre 35 e 40%. “Esse é<br />
o diferencial do nosso trabalho. Os programas de<br />
melhoramento genético tradicionais trabalham,<br />
prioritariamente, com produtividade e resistência a<br />
doenças da planta. Em nosso programa, o objetivo<br />
principal é melhorar o grão para uso na agroindústria”,<br />
diz o Prof. Maurílio.<br />
Em todas as variedades, o método adotado pelos<br />
pesquisadores é o melhoramento genético molecular.<br />
Ao contrário do melhoramento tradicional, que se<br />
concentra na pesquisa de campo, o melhoramento<br />
molecular é assistido por análises bioquímicas e<br />
moleculares. Nos laboratórios, são realizados<br />
experimentos de quantificação e qualificação do grão.<br />
A técnica também é usada para melhorar a qualidade<br />
do óleo de soja e eliminar componentes indesejáveis<br />
do grão, como os fatores antinutricionais dos açúcares<br />
que não são digeridos pelo homem, nem animais<br />
domésticos, e provocam mal-estar, formação de gases<br />
intestinais e diarréia.<br />
Segundo o Prof. Maurílio, o Programa procura<br />
solucionar os obstáculos enfrentados pela indústria<br />
alimentícia da soja - não só na alimentação humana,<br />
mas também animal -, como aumentar o teor dos<br />
nutrientes do grão e amenizar a ação de substâncias<br />
que encurtam a vida de prateleira dos produtos à base<br />
de soja ou encarecem a sua comercialização. Tudo isso,<br />
associado à produtividade e à resistência a doenças.<br />
Outra meta dos pesquisadores é disponibilizar a<br />
soja melhorada e seus derivados para a população. “A<br />
soja vem sendo divulgada cada vez mais e, hoje, as<br />
pessoas já sabem do seu valor nutricional. No entanto,<br />
é difícil encontrá-la no mercado”, lembra o<br />
pesquisador Newton Deniz Piovesan. Daí surgiu a<br />
idéia de incubar uma empresa. O projeto está sendo<br />
elaborado pela equipe do Prof. Maurílio e o objetivo<br />
é apresentar ao mercado, com o apoio da Incubadora<br />
de Empresas da UFV, não só as variedades da soja<br />
melhorada, mas também as suas formas de uso e de<br />
preparo. “No Brasil, a soja exerce um papel<br />
duplamente importante na alimentação humana.<br />
Primeiro, devido aos seus efeitos na saúde e, segundo,<br />
porque pode tornar a nossa alimentação mais<br />
nutritiva. Afinal, não há outra fonte vegetal com<br />
tamanha quantidade de proteína”, diz o pesquisador.<br />
Soja é Saúde<br />
Muitos países do mundo estudam a soja como<br />
um produto capaz de prevenir uma série de doenças,<br />
além de reabilitar doentes. Congressos médicos<br />
mundiais já incluem a soja em suas pautas de<br />
discussões e sinalizam a leguminosa como sinônimo<br />
de saúde.<br />
Pesquisas do mundo inteiro já confirmaram: as<br />
dietas ricas em fibras e com baixos teores de gordura<br />
saturada, aliadas a exercícios físicos e um estilo de<br />
vida saudável, podem auxiliar no controle da<br />
obesidade e proteger contra doenças<br />
cardiovasculares. O coração é comprovadamente o<br />
maior beneficiado pelo consumo de soja. Mas ele<br />
não é o único órgão favorecido. Produtos à base de<br />
soja reduzem o risco do câncer de mama e de<br />
próstata. Aliviam os sintomas da menopausa, como<br />
ondas de calor e suores noturnos. Ajudam a controlar<br />
o diabetes, a osteoporose e a aterosclerose.<br />
Inúmeras pesquisas realizadas pela área médica<br />
no Japão, China, Estados Unidos e Europa<br />
comprovam cientificamente os benefícios da soja na<br />
prevenção de doenças crônicas, tais como:<br />
Colesterol - Os altos níveis de colesterol<br />
sangüíneo e do LDL-colesterol estão associados a<br />
doenças cardiovasculares, como o infarto do<br />
miocárdio e a arterioesclerose. Pesquisas da American<br />
Heart Association -AHA (Associação Americana do<br />
Coração) têm demonstrado que a ingestão de<br />
proteínas de soja reduz as taxas de LDL-colesterol.<br />
Pacientes acompanhados durante quatro semanas,<br />
por médicos da AHA, que tiveram a adição de<br />
proteínas de soja nas suas dietas - sem outra alteração<br />
-, apresentaram uma redução nos níveis de LDLcolesterol<br />
em torno de 33%. Assim, a introdução de<br />
181
182<br />
pequena quantidade de proteína de soja na dieta diária,<br />
cerca de 20g que equivalem a 50 g de grãos, é suficiente<br />
para melhorar a hipercolesterolemias.<br />
Prevenção do câncer - Os grãos de soja contêm um<br />
composto singular denominado genisteína, também<br />
chamado de fitoestrógeno ou hormônio vegetal, que<br />
possui uma ação estrogênica moderada, que atua na<br />
prevenção de câncer relacionado com o estrogênio.<br />
Pesquisas realizadas no Japão, Estados Unidos e<br />
Europa têm mostrado que a ingestão diária de<br />
alimentos à base de soja, como tofu (queijo de soja),<br />
miso, natto e tempe (especialidades da cozinha<br />
oriental), reduz os riscos de câncer de mama e próstata<br />
em 50%.<br />
A soja e seus derivados também possuem uma<br />
ação preventiva quanto aos cânceres de cólon, reto,<br />
estômago e pulmão. Para que os tumores aumentem<br />
seu tamanho, é necessário o desenvolvimento de novos<br />
vasos sangüíneos. O bloqueio desse processo é visto<br />
como uma maneira potencialmente importante para<br />
controlar o câncer. A genisteína também inibe a<br />
formação desses vasos e, conseqüentemente, o<br />
desenvolvimento dos tumores cancerígenos.<br />
Osteoporose - Com o envelhecimento, as pessoas<br />
perdem cálcio, o que resulta, muitas vezes, em<br />
osteoporose. Na menopausa, esse processo se agrava<br />
com a deficiência hormonal ovariana. Devido sua ação<br />
estrogênica, a genisteína da soja pode manter a<br />
estrutura óssea. Exames de densiometria óssea<br />
comprovam que o consumo de soja retarda a<br />
osteoporose decorrente da idade, como também reduz<br />
significativamente a perda óssea total.<br />
Diabetes e outras doenças - As fibras de soja exercem<br />
importante papel na regulação dos níveis de glicose<br />
no sangue, pois retardam sua absorção. Essa redução<br />
na velocidade de absorção da glicose auxilia no<br />
controle de diabetes. Há evidências de que o consumo<br />
da soja tem efeito positivo no controle de outras<br />
doenças como hipertensão, litíase (cálculos biliares) e<br />
doenças renais.<br />
Soja alivia dores de trauma nos nervos<br />
Pode estar próximo o dia em que a soja, além de<br />
reforçar o nosso cardápio, será prescrita pelos médicos<br />
como eficaz remédio contra dores causadas por<br />
nervos lesionados. A conclusão é de cientistas da<br />
Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos,<br />
após estudo em parceria com laboratórios de Israel.<br />
“Apesar de o estudo ter sido feito, até agora, apenas<br />
com camundongos, podemos dizer que os<br />
mecanismos relacionados à dor daqueles animais e de<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
seres humanos são semelhantes”, explica o<br />
neurocirurgião James Campbell, coordenador da<br />
pesquisa. Por isso, os resultados obtidos com as<br />
cobaias poderão ser adaptados ao homem.<br />
“Descobrimos a atuação da soja ao comparar a reação<br />
à dor de camundongos criados em laboratórios de<br />
Israel e dos Estados Unidos”, informa. Em todos os<br />
animais foram provocadas lesões no nervo ciático, mas<br />
os de Israel mostraram menos resistência à dor. Após<br />
procurar as possíveis causas da diferença, os cientistas<br />
concluíram que a dieta era o fator provável. Os animais<br />
da experiência americana consumiram mais soja do<br />
que os outros. Quando foi retirada a soja da<br />
alimentação das cobaias americanas, elas também<br />
ficaram mais sensíveis. “Não identificamos, ainda, qual<br />
substância da soja age contra a dor”, adverte Campbell.<br />
“Quando obtivermos a resposta, poderemos explicar<br />
porque a dor varia de pessoa para pessoa e criar novas<br />
terapias.”<br />
Pesquisas apontam benefícios<br />
Pesquisas realizadas nos EUA e no Japão indicam<br />
que os benefícios da soja à saúde não se limitam ao<br />
coração e as artérias. O consumo de soja também ajuda<br />
a prevenir alguns tipos de câncer, a osteoporose, além<br />
de atenuar os desconfortos provocados pela<br />
menopausa.<br />
Autor de vários trabalhos sobre o assunto, o<br />
cientista Stephen Barnes, da Universidade do Alabama,<br />
nos EUA, diz que o isoflavonóide, fitormônio presente<br />
na soja, tem estrutura semelhante ao estrógeno.<br />
O organismo humano assimilaria o isoflavonóide<br />
da mesma forma que o estrógeno, com a vantagem de<br />
não favorecer o surgimento do câncer.<br />
Para a professora Jocelem Mastrodi Salgado,<br />
professora titular de nutrição humana e alimentos da<br />
Esalq-USP de Piracicaba, o homem do Terceiro Milênio<br />
vai buscar a preservação da saúde não mais na farmácia,<br />
mas nas feiras e nos supermercados.<br />
Pesquisadora desde 1976 dos chamados alimentos<br />
funcionais (aqueles que têm propriedades nutritivas e<br />
previnem doenças), Jocelem diz que o segredo da saúde<br />
está na dieta balanceada e no controle do peso.<br />
A professora da USP dá uma receita simples para<br />
quem pretende incluir a soja no cardápio do dia-a-dia.<br />
“Escolha uma soja de boa qualidade e deixe de<br />
molho na água. Depois, jogue fora a água e cozinhe os<br />
grãos em panela de pressão (uma parte de soja para<br />
duas de água) por aproximadamente 45 minutos.<br />
Quando estiver pronto, pegue três conchas de soja da<br />
panela, bata no liquidificador, e devolva essa mistura<br />
ao caldo da panela. Tempere como se fosse feijão.”
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
A soja que salva<br />
Tofu, missô e outros derivados da soja podem<br />
substituir o estrógeno no corpo das mulheres que<br />
chegaram à menopausa.<br />
Ondas de calor, desconforto generalizado,<br />
mudança de humor. Antes de se decidir pela reposição<br />
hormonal para combater os sintomas da menopausa,<br />
considere uma pequena mudança nos seus hábitos<br />
alimentares. Cientistas americanos concluíram que<br />
produtos derivados da soja são armas eficazes contra<br />
a falta de estrógeno no corpo. O melhor: sem efeitos<br />
colaterais.<br />
Na menopausa, quando os níveis de estrógeno<br />
no corpo diminuem em até 70%, muitas optam pela<br />
reposição hormonal feita com medicamentos. Esse<br />
tipo de tratamento aumenta os riscos de a mulher<br />
desenvolver um câncer de mama, por exemplo.<br />
Já os alimentos como queijo de soja (tofu), pasta<br />
de soja (missô), leite de soja e a própria soja contêm<br />
fitoestrôgeno, um composto vegetal que se liga aos<br />
receptores de estrógeno nas células e simula a ação<br />
do hormônio.<br />
Um estudo recente conduzido pela Bowman Gray<br />
School of Medicine, nos Estados Unidos, concluiu que<br />
os efeitos benéficos do fitoestrógeno se fazem sentir<br />
com um consumo diário de 20 gramas de proteína<br />
de soja. Mulheres com idades entre 45 e 55 anos que<br />
receberam o complemento alimentar afirmaram<br />
sentir desconforto com menos freqüência e<br />
intensidade do que as que não foram submetidas ao<br />
tratamento.<br />
A descoberta explica por que mulheres asiáticas<br />
sofrem muito menos com a menopausa. As<br />
japonesas, por exemplo, consomem entre 50 e 70<br />
gramas de soja ou derivados por dia.<br />
Uma nova pesquisa realizada na Universidade<br />
Berkeley pode melhorar ainda mais a reputação<br />
nutricional da soja. Um estudo publicado no<br />
periódico Cancer Research, mostra que a incidência de<br />
câncer de pele em camundongos diminui com a<br />
aplicação da lunasina, uma proteína da soja.<br />
Mais de dois anos atrás, os mesmos<br />
pesquisadores descobriram que a injeção do gene da<br />
lunasina em células cancerosas em cultura,<br />
interrompia a divisão celular. No seu mais recente<br />
trabalho, testaram a possibilidade da proteína<br />
prevenir células normais de se tornarem cancerosas<br />
tanto em cultura como em camundongos.<br />
No estudo, doses variadas de lunasina foram<br />
aplicadas em grupos de camundongos durante 19<br />
semanas. Esses grupos foram comparados a um<br />
grupo controle que não recebeu a proteína. Depois<br />
de expostos a cancerígenos químicos, o grupo que<br />
havia recebido a maior dose de lunasina (125<br />
microgramas duas vezes por semana) apresentou<br />
70% menos incidência de tumores do que o grupo<br />
controle.<br />
“No grupo que recebeu a dose mais alta, alguns<br />
camundongos desenvolveram tumores, mas eram<br />
menos tumores por camundongo e sugiram duas<br />
semanas depois dos surgidos no grupo controle,”<br />
segundo Ben O. de Lumen, professor de ciências<br />
nutricionais na UC Berkeley e pesquisador do estudo.<br />
A lunasina se prende a histonas deacetiladas.<br />
uma forma específica de proteína celular, que ajuda<br />
a encerrar as longas seqüências de DNA em espirais.<br />
A lunasina parece atingir as células antes destas<br />
histonas sofrerem acetilação, um passo crucial<br />
recentemente ligado a proliferação celular e a<br />
formação de câncer.<br />
“As mudanças químicas que ocorrem em células<br />
normais antes e durante a formação do câncer<br />
sinalizam a lunasina. Acreditamos que a lunasina é<br />
como um cão de guarda. Quando vê uma célula<br />
normal se transformando, ataca essa célula.” disse<br />
de Lumen.<br />
Segundo de Lumen, muitos agentes anti-câncer<br />
testados em laboratório nunca chegaram às farmácias<br />
e a pesquisa sobre a lunasina ainda é recente, mas<br />
esse estudo sugere diretrizes interessantes para<br />
estudos futuros e para a aplicação dessa proteína.<br />
Excesso de soja pode levar a pedras nos rins<br />
Apesar de todos os benefícios, uma nova<br />
pesquisa indica que a soja e alimentos a base de soja,<br />
podem promover pedras nos rins em pessoas com<br />
tendência a essa condição. As descobertas foram<br />
publicadas na edição de setembro do periódico<br />
Journal of Agricultural and Food Chemistry.<br />
Os pesquisadores avaliaram cerca de uma dúzia<br />
de variedades de soja em busca de oxalato, um<br />
composto que se liga ao cálcio nos rins, formando<br />
cálculos. Também avaliaram 13 tipos de alimentos a<br />
base de soja, encontrando oxalato suficiente em cada<br />
um deles para, potencialmente, causar problemas<br />
para pessoas com histórico de pedras nos rins, de<br />
acordo com Linda Massey, Ph.D., da Universidade<br />
do Estado de Washington.<br />
A quantidade de oxalato nos produtos<br />
comerciais, facilmente obscureceu a recomendação<br />
da Associação Dietética Americana de 10 miligramas<br />
por porção para pacientes com pedras nos rins, com<br />
alguns deles superando mais de 50 vezes o limite<br />
sugerido.<br />
183
184<br />
“Com base nessas informações, nenhum dos<br />
produtos a base de soja ou a soja em si, que foram<br />
testados, poderiam ser recomendados para o<br />
consumo de pacientes com histórico de pedras nos<br />
rins”, diz Linda.<br />
Ninguém havia examinado anteriormente<br />
alimentos a base de soja em busca de oxalato. Assim,<br />
os pesquisadores são os primeiros a identificar o<br />
oxalato em produtos comerciais, como o tofú, o<br />
queijo de soja e bebidas a base de soja. Outros<br />
alimentos, como espinafre e o ruibarbo, também<br />
contêm quantidades significativas de oxalato, mas não<br />
são amplamente consumidos.<br />
Durante os testes, os pesquisadores<br />
encontraram os níveis mais elevados de oxalato na<br />
proteína texturizada da soja, que contém até 638<br />
miligramas de oxalato a cada 85 gramas de porção.<br />
O queijo de soja apresentou o conteúdo mais<br />
reduzido, ao redor de 16 miligramas por porção. O<br />
espinafre, avaliado em estudos anteriores, apresenta<br />
cerca de 543 miligramas a cada porção<br />
(aproximadamente 62 gramas).<br />
O oxalato não pode ser metabolizado pelo<br />
corpo, sendo excretado através da urina. O composto<br />
não tem valor nutricional e se liga ao cálcio, formando<br />
uma massa (cálculos renais) que pode bloquear o<br />
sistema urinário. Mais pesquisas são necessárias para<br />
encontrar tipos de soja com menor quantidade de<br />
oxalato ou desenvolver um método de extração da<br />
substância.<br />
FDA reconhece valor da soja<br />
Que a soja é um alimento saudável os chineses<br />
e os japoneses já sabem há milênios. Mas agora a<br />
leguminosa vai ganhar respeito também no Ocidente.<br />
Um documento do FDA (agência dos EUA que<br />
regulamenta os remédios e os alimentos), reconheceu<br />
que o consumo de proteínas de soja (25 gramas<br />
diárias) contribui para a prevenção de doenças<br />
cardíacas e pode reduzir o nível de colesterol no<br />
sangue.<br />
O FDA foi mais longe: autorizou as empresas<br />
que produzem alimentos à base de soja a indicar esses<br />
benefícios no rótulo.<br />
Bastou o sinal verde da agência para as indústrias<br />
de alimentos dos EUA rechearem as páginas de jornais<br />
e revistas com anúncios de hambúrgueres, shakes,<br />
cereais e biscoitos, todos feitos com soja.<br />
“Agora é oficial. Soja é saudável para o coração”,<br />
proclamava a Boca Burger, uma empresa que produz<br />
hambúrguer vegetal, em anúncio de página inteira<br />
publicado, no USA Today, o jornal de maior circulação<br />
nos EUA.<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Para utilizar o health claim (a indicação de que o<br />
produto traz benefícios à saúde), os alimentos devem<br />
conter pelo menos 6,25 g de proteína de soja, além de<br />
baixos teores de gordura saturada.<br />
Com a resolução, o FDA referendou estudos que<br />
vêm sendo conduzidos desde a década de 70. Um deles,<br />
do cientista James Anderson, da Universidade de<br />
Kentucky (EUA), concluiu que a proteína de soja não<br />
apenas reduz o teor médio de colesterol no sangue como<br />
também altera o seu perfil, diminuindo o “mau”<br />
colesterol (LDL) e aumentando o “bom” (HDL).<br />
Outros trabalhos indicam ainda que um<br />
fitormônio presente na soja, o isoflavonóide, favorece<br />
as artérias, tornando-as mais flexíveis e contribuindo<br />
para a prevenção da aterosclerose.<br />
Oportunidades<br />
A resolução do FDA pode trazer oportunidades<br />
de negócios para o Brasil, segundo maior produtor de<br />
soja do mundo.<br />
“A notícia pode ter um efeito multiplicador e até<br />
provocar uma mudança nos hábitos alimentares”, diz<br />
César Borges de Sousa, presidente da Associação<br />
Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove).<br />
Por aqui, a soja ainda é vista como comida para o<br />
gado ou como um ingrediente empregado pela indústria<br />
alimentícia, para dar textura a produtos como biscoitos<br />
e salsichas e reduzir custos.<br />
Dos 30,5 milhões de toneladas de grãos que o<br />
país colheu na safra passada, 9,5 milhões de toneladas<br />
foram exportados. A maior parte da soja que fica por<br />
aqui é destinada à produção de óleo e de ração animal.<br />
“Apenas 1% da safra vai para o consumo humano<br />
direto”, diz José Zílio, diretor da Ceval.<br />
Para ele, o aval do FDA deve aumentar a demanda<br />
por alimentos feitos com soja, inclusive no mercado<br />
interno, embora o “health claim” não tenha validade no<br />
Brasil.<br />
“Há vários produtos que podem ser<br />
desenvolvidos, como achocolatados, derivados de carne<br />
magra (peito de peru, presunto, frangos), lácteos<br />
(iogurtes e tofus) e barras dietéticas.”<br />
No mercado externo, acrescenta Zílio, o Brasil<br />
pode aumentar a exportação de proteínas de soja<br />
(isoladas, concentradas e texturizadas), de maior valor<br />
agregado.<br />
“A proteína isolada de soja vale cerca de US$<br />
2.500/t no mercado internacional, enquanto a<br />
exportação de grãos rende apenas US$ 200/t”, diz ele.<br />
Este ano, as exportações de soja e derivados devem<br />
render ao país US$ 3,7 bilhões.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Soja conquista todos os públicos<br />
A soja comprovou, nas últimas três décadas, que<br />
chegou para ficar na mesa do consumidor brasileiro.<br />
Primeiro, foram os óleos e margarinas à base do<br />
produto, que aos poucos substituíram os derivados de<br />
amendoim, milho e algodão, até então as únicas<br />
alternativas à gordura animal. Hoje, a oleaginosa está<br />
presente em uma infinidade de produtos, desde os<br />
chamados funcionais — como leite de soja, bebidas<br />
com sucos de frutas, farinhas e complementos<br />
alimentares — até sopas industrializadas, bombons,<br />
sorvetes, iogurtes, hambúrgueres, pratos congelados,<br />
pães, massas e biscoitos.<br />
O primeiro incentivo ao ingresso da soja no país<br />
veio dos médicos, que passaram a prescrever óleos e<br />
margarinas à base do produto como alternativas mais<br />
saudáveis para o controle de problemas digestivos e do<br />
colesterol. Houve resistência no início, por causa do<br />
forte odor do óleo de soja, como lembra Omar Assaf,<br />
presidente da Apas (Associação Paulista de<br />
Supermercados). Mas a rápida evolução do processo<br />
industrial eliminou o problema e a soja avançou no<br />
mercado doméstico.<br />
Na última década, relata Assaf, os produtos<br />
preparados com a oleaginosa deixaram o nicho<br />
específico dos alimentos funcionais — como o leite de<br />
soja, indicado para quem tem intolerância à lactose – e<br />
conquistaram definitivamente consumidores de todos<br />
os perfis. “Tudo que vem da soja já tem uma rotulação<br />
cultural de mercado, de que se trata de produto saudável.<br />
Esse é o grande fator que alavancou e continuará<br />
impulsionando as vendas”, diz o presidente da Apas.<br />
Para completar, o grão encontrou no Brasil condições<br />
de solo e clima que permitiram o desenvolvimento<br />
excepcional da cultura, o que baixou consideravelmente<br />
os custos de produção. Resultado: um produto bom e<br />
barato, combinação perfeita para agricultores, industrias<br />
e consumidores.<br />
Um exemplo são as bebidas prontas para beber à<br />
base de soja com sabor de frutas, que já concorrem,<br />
em preço, com os sucos de frutas nas gôndolas dos<br />
supermercados. E o leite de soja, em pó ou em<br />
embalagem longa vida, disputa espaço com os leites<br />
especiais (enriquecidos com ferro e vitaminas).<br />
Soja: produto orgânico mais plantado no<br />
Brasil<br />
Dois estudos em fase de conclusão, estão<br />
mostrando o que é a cadeia de produção de alimentos<br />
orgânicos no Brasil. Levantamentos do Banco Nacional<br />
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),<br />
estima que o Brasil tenha hoje 13,1 mil produtores<br />
certificados, com 227 mil hectares de terra dedicados à<br />
produção orgânica - 158 mil de plantações e 119 mil<br />
de pastagens.<br />
O tamanho do mercado brasileiro, no entanto,<br />
continua uma incógnita. O Departamento de<br />
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que<br />
chega a US$ 100 milhões. “Mas há quem acredite<br />
que pode ser mais ser até US$ 300 milhões”, diz a<br />
professora Elizabeth Farina, do Programa de<br />
Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial<br />
(Pensa/USP), outro grupo que está estudando o<br />
assunto.<br />
Num ponto todos concordam: as vendas estão<br />
crescendo muito, tanto para consumo interno quanto<br />
para exportação, que hoje absorve 85% da produção<br />
nacional. Por ser um bom negócio, que paga prêmio<br />
médio de 30% em média aos produtores, vem atraindo<br />
muita gente disposta a participar. O estudo do<br />
BNDES, desmistifica alguns conceitos: não são os<br />
legumes e hortaliças os setores com maior volume de<br />
produção em orgânicos. A soja ganha com 31%,<br />
seguida de hortaliças (27%) e café (25%). A maior<br />
área plantada é com frutas (26%), depois cana (23%)<br />
e palmito (18%).<br />
Outro ponto esclarecido, desta vez no<br />
levantamento do Pensa/USP, feito com produtores<br />
paulistas, é que 48% dos agricultores estão no negócio<br />
por causa de preço e mercado promissor. Somente<br />
17% deles escolheram o cultivo orgânico por causa<br />
da preservação da natureza e sustentabilidade.<br />
Se os estados do Sul do País são os que<br />
concentram o maior número de produtores, a maior<br />
área plantada está em São Paulo (30 mil hectares) e<br />
no Ceará (21 mil hectares). “A diferença na proporção<br />
se dá principalmente por causa da área de cana em<br />
São Paulo e de caju no Ceará, culturas que precisam<br />
de muito espaço”, explica Paulo Faveret, gerente de<br />
Estudos de Agroindústria do BNDES.<br />
Os dados de crescimento do setor ainda são<br />
precários, mas Dennis Ditchfield, presidente do<br />
Instituto Biodinâmico (IBD), uma das principais<br />
certificadoras do Brasil, diz que o número de<br />
agricultores que usam os serviços de sua empresa<br />
cresceu 40% em 2001 e 35% no ano anterior. “Não<br />
sabemos o tamanho do mercado, mas é certo que<br />
hoje a demanda é bem maior que a oferta”, diz<br />
Ditchfield.<br />
A soja transgênica<br />
No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de<br />
Biossegurança (CTNBio) - vinculada ao Ministério da<br />
185
186<br />
Ciência e Tecnologia, deu parecer favorável,<br />
recentemente, à produção e comercialização da soja<br />
transgênica resistente a um herbicida, o Roundup Realy.<br />
Alguns estudiosos consideram que ainda falta<br />
promover um debate junto à sociedade sobre o que<br />
são produtos transgênicos e aprofundar as pesquisas<br />
sobre os efeitos causados ao meio ambiente e à saúde<br />
pelo seu cultivo e consumo. Outros acham que os<br />
transgênicos já chegam tarde. Discussões à parte, vale<br />
a pena saber os motivos que levaram a CTNBio dar o<br />
parecer favorável:<br />
A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de<br />
Biossegurança) jamais emite pareceres genéricos<br />
sobre, por exemplo “soja transgênica” ou “milho<br />
transgênico” em geral, mas unicamente sobre<br />
determinada linhagem de soja modificada para<br />
expressar determinadas características. As normas de<br />
biossegurança foram estabelecidas exatamente para<br />
orientar a análise e controle de risco. A conclusão<br />
favorável acerca da ausência de risco para a segurança<br />
ambiental decorrente do uso da soja Roundup Ready,<br />
pautou-se nos seguintes elementos:<br />
a) A soja é uma espécie predominantemente<br />
autopolinizável, cuja taxa de polinização cruzada é da<br />
ordem de 1%. Por tratar-se de espécie exótica, sem<br />
parentes silvestres no Brasil, não se verifica a<br />
possibilidade de ocorrência de polinização cruzada da<br />
soja transgênica com espécies silvestres no meio<br />
ambiente;<br />
b) Existem no Brasil pelo menos três espécies<br />
conhecidas de ervas daninhas naturalmente resistentes<br />
ao herbicida glifosato. A utilização do glifosato no país,<br />
ao longo das últimas duas décadas, não ensejou o<br />
aparecimento de outras espécies de ervas daninhas a<br />
ele resistentes. A introdução para o plantio do cultivar<br />
da soja transgênica Roundup Ready, não aumentaria a<br />
pressão de seleção sobre as espécies daninhas, em<br />
termos de concentração de produto/área.<br />
Composição química média da soja em grão<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
c) A soja é uma espécie domesticada, cuja<br />
sobrevivência depende em alto grau do ser humano.<br />
Não há razões científicas para se prever a sobrevivência<br />
de plantas derivadas da linhagem em questão, fora de<br />
ambientes agrícolas. Além disso, na ausência de<br />
pressão seletiva – no caso o uso do herbicida glifosato<br />
–, a expressão do gene inserido não confere à planta<br />
vantagem adaptativa.<br />
d) A utilização do herbicida glifosato, de uso<br />
rotineiro nas lavouras de soja no Brasil, não teve efeito<br />
negativo no processo de fixação biológica de<br />
nitrogênio, seja relativamente ao comportamento dos<br />
cultivares de soja expostos ao herbicida, seja com<br />
respeito ao comportamento dos microrganismos<br />
fixadores de nitrogênio. Além disso, o gene marcador<br />
nptii, de resistência a antibiótico, não foi transferido<br />
para a espécie transgênica.<br />
e) Ainda quanto à questão ambiental, não há<br />
nenhum efeito documentado de variações de<br />
comportamento populacional de insetos benéficos ou<br />
de insetos pragas decorrente do uso desse herbicida.<br />
f) Além da avaliação da segurança ambiental, a<br />
CTNBio concluiu que, salvo com relação aos riscos<br />
inerentes ao consumo da soja para a parcela da<br />
população que apresenta reações alérgicas à ingestão<br />
da soja em geral, o consumo da variedade<br />
geneticamente modificada não consiste risco para a<br />
segurança alimentar, tanto na dieta de humanos,<br />
quanto na dieta de animais.<br />
Fontes: EMBRAPA, IBGE, EMATER, USP,<br />
BNDES, BBC, UNESP, UNIFESP, UNICAMP,<br />
CTNBio, Instituto de Biotecnologia Aplicada a<br />
Agropecuária (BIAGRO/UFV), American Heart<br />
Association (AHA), FDA (Food and Drugs<br />
Administration), Folha de São Paulo, Archives of Internal<br />
Medicine, American Journal of Clinical Nutrition,<br />
Instituto Agronômico de Campinas (IAC).<br />
Dossiê realizado por Ricardo Augusto da S. Ferreira<br />
Minerais Vitaminas Fibra Alimentar *<br />
Energia Umidade Proteínas Lipídios Carboidratos Cinza Ca P Fe Na K Mg Zn Cu A E B1 B2 Niacina Solúveis Não Solúveis Totais<br />
Açucares,<br />
fibras<br />
H20 H20<br />
Kcal G/100g g/100g g/100g mg/100g ug/100g u/100g mg/100g g/100g<br />
417 11,0 38,0 19,0 23,0|4,0 5,0 240 580 9,4 1 1900 220 3200 980 12 1,8 0,83 0,30 2,2 1,8 15,3 17,1<br />
* A fibra alimentar é constituída pelo teor das fibras propiamente ditas e pelo teor dos carboidratos insolúveis<br />
Fonte: kawaga, 1995<br />
kagawa, A. ed. Standard table of food composition in Japan. Tokyo: University of Nutrition for women, 1995. p. 104-105.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Notícias da Profissão<br />
Ética e responsabilidade técnica<br />
O compromisso pessoal, com a profissão e a sociedade<br />
Segundo Daniel Romero Muñoz e Marcos de<br />
Almeida (in: Bioética – 1995), o profissional da área<br />
de saúde tem responsabilidades para consigo mesmo,<br />
para com o paciente e para com terceiros – sociedade,<br />
profissão e, até mesmo, com o meio ambiente. A<br />
questão da responsabilidade profissional é discutida<br />
no capítulo 6 da referida publicação, onde os autores<br />
consideram que a responsabilidade para consigo<br />
mesmo é o compromisso do indivíduo com sua<br />
realização pessoal e com seus princípios de verdade.<br />
A responsabilidade para com o paciente, no sentido<br />
autógeno, são os deveres que o profissional se impõe<br />
com relação ao seu paciente.<br />
Ampliando a abordagem dos autores sobre<br />
responsabilidade com a sociedade para toda a área de<br />
saúde, poderíamos dizer que esta, quando de caráter<br />
autógeno, é a tomada de consciência de que o<br />
profissional não é tão somente um ser que reproduz a<br />
ciência, mas um agente gerador ou transformador de<br />
valores sociais, com influência política decisiva na vida<br />
da comunidade a que pertence.<br />
Para José Fernández Tejada (palestra para o<br />
Encontro de Nutricionistas, Anerj, 29/05/96), a<br />
ciência como atividade intelectual surgiu quando se<br />
perguntou pelo porquê da natureza. Porém, ao limitarse<br />
ao como fazer, foi-se afastando do que as coisas<br />
são. “Transformamos nosso saber num afazer<br />
mecânico do mundo dos fenômenos, enquanto a<br />
natureza e o homem são coisas reais que se manifestam<br />
numa multiplicidade de efeitos”. Como poderia se<br />
dar então este lidar do homem com a dinâmica social<br />
e da natureza? Entendemos que a recomendação de<br />
Fernández Tejada é de uma postura de encontro com<br />
as questões que a realidade nos coloca, e não de<br />
confronto, de coisas a serem feitas e não de problemas<br />
a serem solucionados. “O homem, ao abrir-se à<br />
realidade nas suas múltiplas possibilidades, vai escolher<br />
a melhor delas, através de normas legítimas, para que<br />
sua vida seja boa e justa. (...) Estará aberto a outras<br />
realidades e a si próprio (...) através dos mais variados<br />
atos intelectivos e volitivos. Entretanto, só será pessoa<br />
se tais atos forem assumidos como de autoria própria<br />
e, portanto, inalienáveis. (..) Desta forma, o homem é<br />
pessoa não porque possa se conhecer, mas porque se<br />
pertence plenamente. Assim, esta propriedade pessoal<br />
abre-se e atualiza-se nos seus atos, como o eu que é<br />
agente, autor e ator de sua vida”.<br />
Aplicando esta autoria à prática profissional,<br />
citamos a opinião de Rita Maria Monteiro Goulart<br />
(mestre em Saúde Pública – Faculdade de Saúde<br />
Pública/USP; integrou a Comissão de Fiscalização do<br />
CRN-3), para quem o exercício da profissão sempre<br />
exigirá uma visão de responsabilidade, independente<br />
de qualquer formalização perante o Conselho<br />
Regional. “O responsável técnico assegura a realização<br />
adequada de todas as atribuições relacionadas a um<br />
determinado produto ou serviço”. Ainda segundo Rita<br />
Maria Monteiro, a responsabilidade técnica se reveste<br />
de especial importância quando o produto ou serviço<br />
a ela vinculada envolve riscos para a saúde ou<br />
integridade física de um indivíduo ou coletividade,<br />
tornando-se necessário o estabelecimento de controles<br />
sistematizados que assegurem a qualidade do serviço.<br />
“Segundo este enfoque, pode-se observar que a<br />
responsabilidade técnica deve ser assumida como uma<br />
questão de ética” (revista Nutrição em Pauta, coluna<br />
187
188 Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Legislação). É a ética que nos leva a perceber, processar<br />
e encaminhar nossos entendimento e atitude frente<br />
ao mundo que nos cerca. É a ética que estabelece<br />
nossas relações, juízos de valor e visão de mundo.<br />
Pode-se concluir, então, que o comportamento do<br />
profissional e as relações advindas daí nortearão para<br />
o conjunto da sociedade o perfil da profissão e o seu<br />
compromisso social. Ou seja, a partir do entendimento<br />
e relacionamento estabelecido entre o profissional e a<br />
sociedade é que se identificará este responsável técnico<br />
como alguém comprometido com a saúde, a nutrição<br />
e a categoria.<br />
Num momento em que o país passa por uma<br />
crise - não apenas econômica, mas também de<br />
descrédito em suas instituições, com reflexos das<br />
pressões de um mundo globalizado e marcado pelo<br />
individualismo – o nutricionista tem o compromisso<br />
de se colocar em defesa da qualidade de vida e de<br />
trabalho, assumindo-se como autor de um processo<br />
de transformação.<br />
Não tomar para si este compromisso é se omitir<br />
diante da possibilidade de escolha por um Brasil<br />
diferente.<br />
A revisão do Código de Ética do Nutricionista<br />
A ética permeia as atitudes e está presente,<br />
portanto, em cada momento da vida profissional.<br />
Não sendo um conceito estanque, deve refletir a<br />
dinâmica social e a evolução da profissão. Por isto,<br />
discutir neste momento o Código de Ética do<br />
Nutricionista, além de atender a uma proposta do<br />
CFN, traz a oportunidade de aprimorar a prática<br />
profissional, em consonância com uma realidade<br />
que exprime - em dados estatísticos e nas cenas que<br />
se vê nas ruas - uma necessidade de mudança.<br />
Na 4 a Região (Rio de Janeiro, Minas Gerais e<br />
Espírito Santo), o Conselho Regional está propondo<br />
que esta discussão seja ampla, resultando em um<br />
documento que expresse a identidade do<br />
nutricionista. Contando com o engajamento da<br />
categoria, o CRN-4 estabeleceu e divulgou um<br />
cronograma para o envio das contribuições dos<br />
profissionais, as quais estão sendo analisadas e<br />
compiladas pela Comissão de texto. Compõem esta<br />
comissão: Glória Maria Roque Nascimento -<br />
nutricionista da área de alimentação coletiva; Márcia<br />
Lessa - representante da Comissão de Ética do<br />
Conselho; Maria Conceição da Rocha Diniz -<br />
nutricionista do Ministério da Saúde, ex-Conselheira<br />
Diretora do CRN-4 e CFN; Mônica do Valle -<br />
professora da UniRio, ex-Conselheira Diretora do<br />
CRN-4 - e Nadima Zeidan - chefe do Serviço de<br />
Nutrição do Hospital Municipal Salles Neto, ex-<br />
Conselheira Diretora do CRN-4.<br />
O material preparado por este grupo será<br />
apresentado em um seminário, aberto a todos os<br />
profissionais, a se realizar no dia 19 de novembro,<br />
no Rio de Janeiro (hora e local serão informados<br />
posteriormente, através de correspondência). Nos<br />
dias 7 e 8 de dezembro, o CFN reunirá todos os<br />
representantes indicados pelos Conselhos Regionais<br />
de Nutricionistas no Seminário Nacional de Revisão<br />
do Código de Ética, quando serão realizados os<br />
trabalhos de conclusão das análises e redação do<br />
novo texto.
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
Normas de publicação Nutrição Brasil<br />
A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação<br />
e divulgação de artigos científicos das áreas<br />
relacionadas à Nutrição.<br />
Os artigos publicados em Nutrição Brasil<br />
poderão também ser publicados na versão eletrônica<br />
da revista (Internet) assim como em outros meios<br />
eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no<br />
futuro, sendo que pela publicação na revista os autores<br />
já aceitem estas condições.<br />
A revista Nutrição Brasil assume o “estilo<br />
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts<br />
submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;<br />
336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê<br />
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com<br />
as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o<br />
texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes<br />
no site do International Committee of Medical Journal<br />
Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada<br />
de outubro de 2001.<br />
Os autores que desejarem colaborar em alguma<br />
das seções da revista podem enviar sua contribuição<br />
(em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação,<br />
sendo que fica entendido que isto não implica na<br />
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir<br />
trocas ou retorno de acordo com a circunstância,<br />
realizar modificações nos textos recebidos; neste<br />
último caso não se alterará o conteúdo científico,<br />
limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />
1. Editorial<br />
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê<br />
Científico, ou por um de seus membros.<br />
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas<br />
formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte<br />
English Times (Times Roman) com todas as<br />
formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais<br />
que dez referências.<br />
2. Artigos originais<br />
Serão considerados para publicação, aqueles não<br />
publicados anteriormente, tampouco remetidos a<br />
outras publicações, que versem sobre as áreas<br />
relacionadas à Nutrição.<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />
12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />
Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />
texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no<br />
formato Excel/Word.<br />
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras,<br />
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />
editados em Power-Point, Excel, etc.<br />
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50<br />
referências bibliográficas.<br />
Os critérios que valorizarão a aceitação dos<br />
trabalhos serão o de rigor metodológico científico,<br />
novidade, originalidade, concisão da exposição, assim<br />
como a qualidade literária do texto.<br />
3. Revisão<br />
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das<br />
áreas relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê<br />
Científico, bem como remetida espontaneamente pelo<br />
autor, cujo interesse e atualidade interessem a<br />
publicação na revista.<br />
Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o<br />
mesmo dos artigos originais.<br />
4. Comunicação breve<br />
Esta seção permitirá a publicação de artigos<br />
curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores<br />
apresentem observações, resultados iniciais de estudos<br />
em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos<br />
já editados na revista, com condições de argumentação<br />
mais extensa que na seção de cartas do leitor.<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />
189
190<br />
três páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />
Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />
texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em<br />
Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou<br />
que possam ser editados em Power Point, Excel, etc<br />
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15<br />
referências bibliográficas.<br />
5. Resumos<br />
Nesta seção serão publicados resumos de<br />
trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras<br />
revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive<br />
traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />
6. Correspondência<br />
Esta seção publicará correspondência recebida,<br />
sem que necessariamente haja relação com artigos<br />
publicados, porém relacionados à linha editorial da<br />
revista.<br />
Caso estejam relacionados a artigos<br />
anteriormente publicados, será enviada ao autor do<br />
artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.<br />
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com<br />
as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem<br />
tabelas ou figuras.<br />
Preparação do original<br />
1. Normas gerais<br />
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados<br />
em processador de texto (Word, Wordperfect, etc),<br />
em página de formato A4, formatado da seguinte<br />
maneira: fonte Times Roman (English Times)<br />
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais<br />
como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />
1.2 Numere as tabelas em romano, com as<br />
legendas para cada tabela junto à mesma.<br />
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de<br />
acordo com as especificações anteriores.<br />
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais<br />
coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica –<br />
300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados<br />
e nos formatos .tif ou .gif.<br />
1.4 As seções dos artigos originais são estas:<br />
resumo, introdução, material e métodos, resultados,<br />
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser<br />
o responsável pela tradução do resumo para o inglês<br />
e também das palavras-chave (key-words). O envio<br />
deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,<br />
zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos<br />
enviados por correio em mídia magnética (disquetes,<br />
etc) anexar uma cópia impressa e identificar com<br />
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo,<br />
data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como<br />
o processador de texto utilizado e outros programas<br />
e sistemas.<br />
2. Página de apresentação<br />
A primeira página do artigo apresentará as<br />
seguintes informações:<br />
• Título em português e inglês.<br />
• Nome completo dos autores, com a<br />
qualificação curricular e títulos acadêmicos.<br />
• Local de trabalho dos autores.<br />
•Autor que se responsabiliza pela correspondência,<br />
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />
• Título abreviado do artigo, com não mais de<br />
40 toques, para paginação.<br />
• As fontes de contribuição ao artigo, tais como<br />
equipe, aparelhos, etc.<br />
3. Autoria<br />
Todas as pessoas consignadas como autores<br />
devem ter participado do trabalho o suficiente para<br />
assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />
O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />
contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados;<br />
b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma<br />
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a<br />
aprovação definitiva da versão que será publicada.<br />
Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />
a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção<br />
de recursos ou na coleta de dados não justifica a<br />
participação como autor. A supervisão geral do grupo<br />
de pesquisa também não é suficiente.<br />
4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />
Key-words)<br />
Na segunda página deverá conter um resumo<br />
(com no máximo 150 palavras para resumos não<br />
estruturados e 200 palavras para os estruturados),<br />
seguido da versão em inglês.<br />
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />
informações:<br />
• Objetivos do estudo.<br />
• Procedimentos básicos empregados<br />
(amostragem, metodologia, análise).<br />
• Descobertas principais do estudo (dados<br />
concretos e estatísticos).<br />
• Conclusão do estudo, destacando os aspectos<br />
de maior novidade.<br />
Em seguida os autores deverão indicar quatro<br />
palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a<br />
indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os<br />
termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias<br />
médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />
Medicus ou, no caso de termos recentes que não<br />
figurem no MeSH, os termos atuais).<br />
5. Agradecimentos<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />
auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />
governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />
devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />
referências, em uma secção especial.<br />
6. Referências<br />
As referências bibliográficas devem seguir o<br />
estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes.<br />
As referências bibliográficas devem ser numeradas por<br />
numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em<br />
ordem na qual aparecem no texto, seguindo as<br />
seguintes normas:<br />
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,<br />
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo,<br />
ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo),<br />
ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local<br />
da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano<br />
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />
Exemplo:<br />
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In:<br />
Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology,<br />
diagnosis and management. 2 nd ed. New-York: Raven<br />
press; 1995. p.465-78.<br />
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)<br />
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos<br />
nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título<br />
da revista ano de publicação seguido de ponto e<br />
vírgula, número do volume seguido de dois pontos,<br />
páginas inicial e final, pon<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />
auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />
governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />
devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />
referências, em uma secção especial.<br />
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />
<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />
Atlantica Editora<br />
Rua Conde Lages, 27 - Glória<br />
20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />
Tel: (21) 2221 4164<br />
E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br<br />
191
NOVEMBRO<br />
2002<br />
7 a 9 de novembro<br />
III o Congresso Internacional de<br />
Nutrição, Longevidade e Qualidade<br />
de Vida<br />
Sheraton Mofarrej, São Paulo - SP<br />
Informações: Núcleo (11) 5055-8061<br />
10 a 13 de novembro<br />
III o Conferência Regional Latino-<br />
Americana de Promoção da Saúde e<br />
Educação para Saúde<br />
Memorial da América Latina, São Paulo<br />
Informações : (11) 3079-6724<br />
www.fsp.usp.br/cepedoc<br />
17 de novembro<br />
5ª Campanha Nacional Gratuita de<br />
Diabetes, de Detecção, Orientação,<br />
Educação e Prevenção das<br />
Complicações<br />
Colégio Madre Cabrini. Rua Madre Cabrini,<br />
36 - Vila Mariana - São Paulo - SP<br />
Organização: ANAD<br />
Informações: (11) 55726559<br />
DEZEMBRO<br />
5 a 7 de dezembro<br />
VII o Congresso Brasileiro de Nutrologia<br />
I o Simpósio interdisciplinar de apoio<br />
nutricional para enfermeiros,<br />
nutricionistas, psicólogos, professores<br />
de educação física e fisioterapeutas<br />
Othon Palace Hotel, Salvador – BA<br />
Informações: ABRAN (Associação<br />
Brasileira de Nutrologia)<br />
Tel: (17) 523 9732 e 523 3645<br />
E-mail: abran.sp@ig.com.br<br />
Calendário de eventos<br />
ABRIL<br />
2003<br />
26 a 30 de abril<br />
6 th European Congress of Endocrinology<br />
Lyon, França<br />
Informações: W.M. Wiersinga<br />
Department of Endocrinology &<br />
Metabolism<br />
Academic Medical Center F5-171<br />
Meibergdreef 9<br />
1105 AZ Amsterdam - The Netherlands<br />
Tel.: 31 20 566 6071<br />
Fax: 31 20 691 7682<br />
w.m.wiersinga@amc.uva.nl<br />
17 a 21 de abril<br />
V o Congresso Brasileiro Pediátrico de<br />
Endocrinologia e Metabologia<br />
V o Cobrapem<br />
Mar Hotel, Recife, Pernambuco<br />
Presidente: Prof a . Dr a . Elcy Falcão<br />
Informações: (81) 3423-1300<br />
E-mail: andrealatache@assessor5pe.com.br<br />
MAIO<br />
29 de maio a 1 de junho<br />
12 th European Congress on Obesity<br />
Helsinki, Finland<br />
Informações: Dr. Mikael Fogelholm<br />
UKK Institute for Health Promotion<br />
Research, POB 30, 33501 Tampere,<br />
Finland<br />
Tel: + 358 3 2829 201<br />
Fax: + 358 3 2829 559<br />
e-mail: mikael.fogelholm@uta.fi<br />
JUNHO<br />
14 a 17 de junho<br />
63 th Annual Scientific Sessions of the<br />
American Diabetes Association<br />
New Orleans, Louisiana<br />
Informações: +1 800 232 3472<br />
E-mail: meetings@diabetes.org<br />
www.diabetes.org<br />
AGOSTO<br />
24 a 29 de agosto4 a 29 de agosto<br />
18 th Internacional Diabetes Federation<br />
Congress<br />
Paris, França<br />
Informações: Prof. Dr. Gerard<br />
Cathelineau, Hopital Saint-Louis, 1<br />
avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris,<br />
França<br />
Tel : +33 1 4249 9697<br />
www.idf.org<br />
2004<br />
XIV th International Congress of<br />
Dietetics<br />
Chicago, EUA<br />
Informações:<br />
2004Congress@catright.org<br />
Fax: 312/899-4772<br />
SETEMBRO<br />
2005<br />
19 a 24 de setembro<br />
18 th International Congress of Nutrition<br />
Durban, África do Sul<br />
Informações:<br />
jlochner@mcd4330medunsa.ac.za
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
EDITORIAL 195<br />
Quem tem fome, tem pressa,<br />
Celeste Elvira Viggiano<br />
ARTIGOS ORIGINAIS 196<br />
Aplicação de método de custeio ABC em uma unidade de alimentação<br />
e nutrição – restaurante industrial, Cilene da Silva Gomes Ribeiro<br />
Perfil do consumo alimentar em pacientes com bulimia nervosa em São Paulo,<br />
Marle Alvarenga, Sonia Tucunduva Philippi<br />
Teores de colesterol e lipídeos totais em maçunin<br />
(Anomalocardia brasiliana) cru e cozido, Giselda Macena Lira, Antônio Euzébio de Goulart Sant¢ana,<br />
Daniela Cristina de Souza Araújo, Fabiana Rodrigues de Oliveira, Maria de Lourdes da Silva Neta<br />
A influência do horário de trabalho no consumo alimentar<br />
de trabalhadores em turnos, Iara Cecília Pasqua, Cláudia Roberta de Castro Moreno<br />
REVISÕES 223<br />
Aleitamento materno e desmame - aspectos históricos e perspectivas futuras,<br />
Mônica Glória Neumann Spinelli, Sônia Buongermino de Souza<br />
CARTA AO EDITOR 228<br />
Cálcio, um nutriente necessário para todas as idades,<br />
Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho<br />
CONGRESSOS 230<br />
Potencial nutricional e funcional dos alimentos geneticamente modificados,<br />
Aluízio Borém, Neuza Maria Brunoro Costa<br />
Índice<br />
Volume 1 número 4 - novembro/dezembro de 2002<br />
DOSSIÊ ALIMENTOS: A batata 234<br />
RESUMOS DE TRABALHOS 245<br />
NORMAS DE PUBLICAÇÃO 250<br />
EVENTOS 252<br />
193
194<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Conselho científico<br />
Profa . Dra . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />
Profa . Dra . Cintia Biechl Serôa da Motta (UVA – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />
Profa . Dra . Lúcia Marques Alves Vianna (UNIRIO / CNPq)<br />
Profa . Dra . Lucia de Fatima Campos Pedrosa Schwazschild (UFRN - Rio Grande do Norte)<br />
Profa . Dra . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Dra . Rosemeire Aparecida Victoria Furumoto (UNB - Brasília)<br />
Profa . Dra . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />
Profa . Dra . Tânia Lúcia Montenegro Stamford (UFPE - Pernambuco)<br />
Grupo de assessores<br />
Profa . Ms. Lúcia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />
Profa . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />
Profa . Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />
Profa . Ms. Ana Cristina Miguez Teixeira Ribeiro (PUC-PR)<br />
Profa . Ms. Cilene da Silva Gomes Ribeiro (PUC-PR)<br />
Profa . Ms. Helena Maria Simonard Loureiro (PUC-PR)<br />
Editor científico<br />
Prof a Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />
Editor executivo<br />
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Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Segurança alimentar: Esta é a palavra de<br />
ordem. Não há dignidade, respeito e cidadania se<br />
houver fome. Não podemos e não devemos ser um<br />
país de desvalidos. Afinal, um país que já vislumbrou<br />
ser o celeiro do mundo não se permite mais ser lugar<br />
de fome e desnutrição.<br />
Chamo os colegas para a reflexão: Se juramos<br />
atender ao ser humano em suas necessidades,<br />
principalmente nutricionais e alimentares, porque nos<br />
omitimos perante a fome? Ser nutricionista é ser antes<br />
de tudo, o profissional comprometido com questões<br />
de saúde, nutricionais e de qualidade de vida, e isto<br />
envolve posições políticas e técnicas, que revertam em<br />
favor da população do país, da comunidade que<br />
EDITORIAL<br />
Quem tem fome, tem pressa<br />
Prof a. Ms. Celeste Elvira Viggiano, editor científico<br />
atendemos, e mesmo daquele indivíduo que está à<br />
frente de nossa mesa no consultório.<br />
Nos deparamos como uma situação única em<br />
toda a nossa história: O chamamento para<br />
arregaçarmos as mangas e engajarmos na luta contra<br />
a fome. Este é o momento de enviarmos ao senado,<br />
às assembléias legislativas e a presidência da República,<br />
nossas sugestões, disponibilizarmos nossos<br />
conhecimentos técnicos e mostrarmos para o que<br />
viemos, pois o Brasil precisa de uma classe profissional<br />
comprometida com as questões sociais e da saúde, e<br />
afinal como dizia nosso inesquecível Herbert de Souza,<br />
o Betinho: “Quem tem fome, tem pressa”.<br />
Boa leitura!<br />
195
196<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Aplicação de método de custeio ABC<br />
em uma unidade de alimentação<br />
e nutrição – restaurante industrial<br />
Cost method application ABC in alimentation and<br />
nutrition unit – corporative restaurant<br />
Cilene da Silva Gomes Ribeiro<br />
Ms. Nutricionista pela UFPR, Especialista em Administração Industrial pela UFPR, Especialista em Qualidade e Produtividade pela<br />
FAE/PR, Especialista em Qualidade de Alimentos pelo CBES/IPCE, Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela FESP/PR,<br />
Mestre em Engenharia de Produção pela UFSC, Professora Universitária da PUC/PR, Uniandrade e Cesumar para os cursos de Nutrição<br />
e Turismo, Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação em Nutrição do CBES/IPCE, Coordenadora da Agência Júnior de Nutrição do<br />
Curso de Nutrição da PUC/PR e Cesumar, Coordenadora de Estágios da Uniandrade, Consultora em UANs<br />
Resumo<br />
O presente trabalho tem como objetivo analisar variantes de sistemas de custos de restaurantes de coletividade, a partir<br />
de metas e regras pré-definidas, passando pelo seu desenvolvimento e processo, bem como o resultado final, e análise dos<br />
mesmos, aplicando em especial o sistema de custeio baseado em atividades (ABC).<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Custeio baseado em atividades, controle de custo, unidades de alimentação e nutrição.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
The aim of this work was to analyze costs systems parameters in collectivities restaurants , starting from goals and rules<br />
pre-defined, passing by development and process, as well as the final result, and analysis of the same, applying especially the<br />
system of costbased on activities (ABC).<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Cost based on activities, cost based, units of alimentation and nutrition.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 9 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Rua Augusto Stembock, 492/202 bl.22, Uberaba 81550-080 Curitiba PR, Tel: (41)<br />
3692905, E-mail: cilenex@hotmail.com ou cilene@netpar.com.br
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Introdução<br />
Muitas questões e hipóteses giram em torno da<br />
caracterização e conceituação do pouco conhecido e<br />
complexo mercado das empresas prestadoras de<br />
serviços de alimentação de coletividade, negócios estes<br />
caracterizados como Unidades de Alimentação e<br />
Nutrição (UANs), independentemente do segmento<br />
que estão inseridos. Essas questões vão desde a<br />
definição, especificação e segmentação dos hábitos<br />
alimentares dos diferentes tipos de consumidores ou<br />
clientes, passam pela disponibilidade e acordo com<br />
fornecedores em fornecer e investir em novos<br />
produtos e tecnologias, a capacidade orçamentária das<br />
empresas até a mensuração de todas as suas perdas e<br />
dos seus desperdícios.<br />
Nenhum sistema de custo é capaz de resolver<br />
todos os problemas, porque para atingir sua capacidade<br />
de funcionar como um instrumento de administração,<br />
este precisa desenvolver-se e aprimorar-se [4]. Mas, é<br />
preciso implementar metodologias de análise de<br />
custos, ou adaptar métodos de custeio já tão utilizados<br />
nas áreas fabris, a fim de tornar este tão desconhecido<br />
e complexo segmento em nicho de lucratividade<br />
assegurada.<br />
Diferenças consideráveis entre a indústria em<br />
geral e a de serviços são, atualmente, percebidas<br />
[31,32]. O segmento de produção ou transformação<br />
de alimentos tem conceitos e características<br />
diferenciadas e extremamente complexas, que<br />
dificultam a mensuração de seus custos e intervenções<br />
sobre o mesmo. Mesmo que a base de cálculos e os<br />
demonstrativos de resultados sejam realizados de<br />
forma igual ou similar, as características e<br />
interpretações se fazem de forma diferenciada e<br />
inusitada.<br />
Se analisarmos que dentro da área fabril tem-se<br />
a produção de um número X de produtos, com linhas<br />
de produção específicas e bem distribuídas, com<br />
procedimentos e funcionários direcionados, estes<br />
sempre com programações de produção acordadas à<br />
procura, com possibilidades de estocagem e com<br />
saídas de produtos programados e que, mesmo com<br />
pequena diversidade de processos, há muita dificuldade<br />
em se atribuir métodos de custeio, constata-se que a<br />
área de transformação de alimentos ou de restauração<br />
é muito complexa em todos os sentidos. Enquanto<br />
na indústria de produtos duráveis a produção é<br />
limitada, padronizada e definida, muitas vezes<br />
totalizando, no máximo, 20 produtos por mês, a área<br />
de restauração se caracteriza por produções ilimitadas,<br />
com dificuldade de padronizações e raramente<br />
definidas, além de produzir, em média, 20 produtos<br />
diferentes por dia, sem equipamentos, funcionários e<br />
linhas de produção específicas para cada produto.<br />
Por si só, estas constatações podem parecer<br />
irrelevantes. Entretanto, conseqüências importantes<br />
decorrem daí, permitindo abordagens práticas na<br />
formação de um custo “padrão” das mercadorias e<br />
serviços vendidos e, principalmente, na formação dos<br />
preços de venda de cada um dos diferentes produtos<br />
ofertados.<br />
O presente trabalho tem como objetivo analisar<br />
variantes de sistemas de custos de restaurantes de<br />
coletividade, a partir de metas e regras pré-definidas,<br />
passando pelo seu desenvolvimento e processo, bem<br />
como o resultado final e análise dos mesmos, aplicando<br />
em especial o sistema de custeio baseado em atividades<br />
(ABC).<br />
Segundo Bornia [4], “das informações necessárias para<br />
o efetivo auxilio ao controle e avaliação da empresa moderna, a<br />
mensuração dos desperdícios e das atividades que não agregam<br />
valor aos produtos é das mais importantes ferramentas para<br />
controle de custos. Através da identificação e aplicação de<br />
ferramentas, é possível tomar atitudes corretivas, ações em prol<br />
da melhoria contínua e otimização de resultados”.<br />
O trabalho realizou investigação e análise dos<br />
custos inerentes aos serviços de alimentação e<br />
nutrição, prestados e servidos por uma empresa<br />
terceirizada de refeições industriais, utilizando<br />
observação de todos os processos definidos por um<br />
cardápio de 30 dias; elegendo pontuações que<br />
agregavam o valor a cada atividade, de acordo com<br />
o tempo de execução e complexidade, além da<br />
percepção do cargo e valores financeiros<br />
correlacionados às atividades.<br />
Conforme o que cita Bornia [4], para enfrentar<br />
a nova situação mercadológica, é necessário que os<br />
sistemas de gestão (planejamento) e de informações<br />
gerenciais (controle e avaliação) adaptem-se ao novo<br />
ambiente, desenvolvendo-se novos princípios e<br />
métodos apropriados ao novo contexto. A integração<br />
entre os sistemas de planejamento e controle é<br />
essencial para o bom desempenho da empresa.<br />
Justificativa<br />
Os sistemas de mensuração de custos presentes<br />
nas Unidades de Alimentação e Nutrição<br />
normalmente, quando existentes, são baseados no<br />
uso tradicional da contabilidade de custos, os quais<br />
apresentam certa ineficiência quando se percebem a<br />
diversidade de processos e detalhes presentes em<br />
cada atividade e etapa operacional. Estes sistemas<br />
197
198<br />
ou métodos de análises de custos não apresentam<br />
bons subsídios para a determinação das performances<br />
por atividades ou tipo de serviço, não indicando os<br />
locais onde melhoramentos e aperfeiçoamentos são<br />
mais relevantes.<br />
É nítida a necessidade de se utilizar ferramentas<br />
gerenciais diferenciadas para melhor definir os custos<br />
em UANs.<br />
Objetivos<br />
Aplicar metodologia de custeio ABC em UAN<br />
do tipo industrial, proporcionando comparação entre<br />
a eficiência dos métodos de custeio, atualmente<br />
utilizados por empresas prestadoras de serviço em<br />
UAN de coletividade sadia e o método ABC de custeio.<br />
Para atingir esta meta, é necessário desdobrar-se<br />
nos seguintes objetivos específicos:<br />
- Definir os princípios e técnicas de controle de custos<br />
utilizados na Unidade de Alimentação em questão;<br />
- Estudar os sistemas de custeio em questão;<br />
- Identificar os processos e atividades operacionais<br />
existentes no restaurante industrial em questão;<br />
- Mensurar custos diretos e indiretos existentes no<br />
restaurante de coletividade;<br />
- Analisar fluxos de produção e pontuar os mesmos,<br />
de acordo com importância do processo/ atividade.<br />
Método de trabalho<br />
Para a realização do trabalho, primeiramente,<br />
efetuou-se um estudo teórico sobre as necessidades e<br />
características das empresas de alimentação industriais,<br />
concentrando-se nas atividades desenvolvidas e<br />
ocorridas no processo. Observou-se a necessidade de<br />
análise e avaliação de perdas em UAN’s, para seu<br />
controle de custos e conseqüente competitividade e<br />
sobrevivência.<br />
A posteriori, um estudo teórico dos principais<br />
métodos de custeio utilizados em processos industriais,<br />
com intuito de definir qual método de avaliação de<br />
custos poderia ser mais aplicável às UAN’s.<br />
Foi realizado estudo de casos em empresa de<br />
alimentação, onde foram obtidos dados práticos para<br />
o ajuste do modelo proposto, entre eles, o cardápio<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
do mês estudado, custos pré-estabelecidos por<br />
contrato, contrato de serviços, relatórios de pré-custo<br />
do cardápio, processos existentes, atividades<br />
relacionadas com os processos, históricos de<br />
faturamento e de vendas de serviços.<br />
Com isto, adquiriu-se embasamento teórico para<br />
se propor uma sistemática de mensuração dos<br />
processos, através de aplicação de matrizes interrelacionadas<br />
de dados, onde cada atividade foi avaliada<br />
através de pontuações de valor agregado por<br />
complexidade, tempo ou utilização.<br />
Dados de CIF’s, Mão de Obra e Material Direto<br />
foram mensurados através de matrizes do custo ABC<br />
e, posteriormente, comparados ao sistema de custeio<br />
tradicional à unidade.<br />
Dados de valores gastos em gás, foram<br />
considerados nos CIF’s e não em materiais diretos.<br />
Sistemas de custeio<br />
Custeio por atividade (ABC)<br />
Segundo Bornia [1], o custeio por atividade<br />
(Activity-Based Costing - ABC) surgiu nos Estados Unidos<br />
há alguns anos, formalizado pelos professores Robert<br />
Kaplan e Robin Cooper, da Harvard Business School, com<br />
o objetivo principal de aprimorar a alocação dos custos<br />
e despesas indiretos fixos (overhead) aos produtos.<br />
Nakagawa [4] afirma que as origens do método datam<br />
da década de 60.<br />
A base do ABC é capturar os custos existentes<br />
nas várias atividades da empresa e entender seu<br />
comportamento, observando as correlações que<br />
representem as relações entre os produtos e estas<br />
atividades [1]. O objetivo do ABC é atribuir de forma<br />
pontual e correta todos os gastos e custos que<br />
normalmente são rateados de forma arbitrária, como<br />
por exemplo os custos indiretos de fabricação (CIF),<br />
custos da mão-de-obra direta (MOD) ou horasmáquina.<br />
Nesta situação, a utilização de horas ou custo<br />
de MOD como base de rateio, distorce<br />
sistematicamente os custos dos produtos, há uma ilusão<br />
dos custos e lucratividade de produtos e serviços.<br />
Para superar as deficiências que se apresentam<br />
pelos sistemas tradicionais, criou-se um sistema de<br />
custos de duas fases: primeiramente, os custos são<br />
alocados nas várias atividades da em-presa<br />
(recebimento e movimentação de materiais,<br />
preparação de máquinas, inspeções de qualidade, etc)<br />
para, a seguir, serem transferidos aos produtos por<br />
bases que representem as relações entre as atividades<br />
e os custos decorrentes [1,5].
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Assim, o modelo do custeio por atividade separa<br />
a empresa em atividades, calcula o custo de cada<br />
atividade, compreende o comportamento destas<br />
atividades, identificando as causas dos custos<br />
relacionados com elas (direcionadores de custos) e,<br />
em seguida, aloca os custos aos produtos de acordo<br />
com a importância e apropriação de uso, mensuradas<br />
pelo número de transações feitas.<br />
A primeira fase do sistema é calcular o custo de<br />
cada atividade. Isto é feito de forma semelhante aos<br />
sistemas tradicionais de duas fases, rateando-se os itens<br />
de custos para as atividades através de bases de rateio.<br />
Deste modo, chega-se a um custo por atividade [1].<br />
Para a alocação dos custos das atividades aos<br />
produtos, utiliza-se o conceito de direcionadores de<br />
custos, os quais podem ser definidos como aquelas<br />
atividades ou transações que determinam os custos<br />
das atividades, ou seja, são as causas principais dos<br />
custos das ati-vidades [10,11].<br />
Com a utilização dos direcionadores de custos,<br />
o ABC objetiva encontrar os fatores que causam os<br />
custos, isto é, determinar a origem dos custos de cada<br />
atividade para, desta maneira, alocá-los corretamente<br />
aos produtos, considerando o “uso” das atividades<br />
por eles [1].<br />
Bornia [1] ainda cita que: Para cada direcionador de<br />
custos empregado, calcula-se um custo unitário, di-vidindo-se o<br />
custo total associado com a atividade considerada pelo número<br />
de transações efetuadas, neste caso refeições ou serviços. Em<br />
seguida, atribui-se o custo aos produtos, determinando-se quantas<br />
unidades, volumes ou lotes estão relacionados com cada produto.<br />
Princípio de custeio<br />
O ABC foi desenvolvido tendo-se em mente o<br />
princípio do custeio por absorção, na medida em que<br />
não atribui os custos da capacidade ociosa aos<br />
produtos [8]. De fato, o custeio por atividade baseiase<br />
num modelo de consumo de recursos e não de<br />
gastos com recursos.<br />
O ABC defende que a análise de custos estendase<br />
às despesas de estrutura (administrativas, comerciais<br />
e financeiras). Cooper e Kaplan [8] argumentam que,<br />
em muitas companhias, tais despesas ultrapassam 20<br />
% do faturamento, e a não alocação de tais despesas<br />
aos produtos, embora requerida pela contabilidade<br />
financeira, é inadequada para medir os custos dos<br />
produtos.<br />
A não apropriação dos custos e despesas fixos<br />
indiretos aos produtos, defendida pelo custeio direto,<br />
é considerada como não correta pelo custeio por<br />
atividade [8]. Além disso, o custeio direto fornece<br />
informações relevantes para a tomada de decisões de<br />
curto prazo, mas o impacto das decisões no médio e<br />
longo prazo não é mensurado. O modelo de consumo<br />
de recursos usado pelo ABC permite detectar as<br />
conseqüências de decisões no longo prazo.<br />
No método tradicional de custos, os custos fixos<br />
atribuídos à produção são alocados aos produtos<br />
através de uma base de rateio.<br />
Análise in loco do método de custeio ABC<br />
em UAN<br />
Contrato de serviço de alimentação firmado entre as empresas<br />
contratante e contratada<br />
Através de um contrato de prestação de serviços<br />
firmado entre as empresas contratante e contratada,<br />
definiram-se itens relevantes para o bom andamento<br />
dos processos. Através destes itens, muitos fatores<br />
ficaram pré-definidos e determinados, podendo<br />
nortear os sistemas produtivos e orçamentários.<br />
Alguns fatores determinados em contrato são<br />
relevantes, como por exemplo as políticas de compra,<br />
recebimento e armazenamento de matérias-primas,<br />
períodos e horários de funcionamento, turnos e picos<br />
de servimento, procedimentos de cobrança e controles<br />
de qualidade e quantidade, controle integrado de<br />
pragas, reajustes percentuais do preço de venda, ponto<br />
de equilíbrio, dentre outros.<br />
Para que os dados sejam comparativos, fez-se<br />
levantamento de dados históricos através da evolução<br />
real dos serviços prestados pela UAN e seu<br />
faturamento respectivo, conforme tabela 1.<br />
Com esta evolução pode-se demonstrar ainda<br />
os números relacionados às receitas, aos serviços<br />
prestados nesta UAN, gerando as evoluções dos<br />
faturamentos demonstrados nas tabelas 2 e 3.<br />
Realizou-se, para o período de um mês, análise<br />
de custeio baseado em atividades para um restaurante<br />
industrial, baseando-se em cardápio mensal, de<br />
segunda à domingo.<br />
Evolução dos custos<br />
Nesta UAN, de acordo com todos os requisitos<br />
contratuais, características do setor e diferenciais<br />
apresentados em relação ao processo produtivo,<br />
necessidade de colaboradores, número de comensais,<br />
apresenta-se uma tabela (4) representativa da<br />
prestadora de serviços, desde outubro/2000 a<br />
fevereiro/2001, como fator exemplificativo deste<br />
trabalho.<br />
Observa-se que há uma lucratividade média de<br />
1,71% do faturamento bruto.<br />
199
200<br />
Tabela 1 - Quantidade de refeições servidas<br />
(refeição por pessoa)<br />
Ano Jan-Dez Média Mensal<br />
1996 259.422 21.619<br />
1997 202.065 16.839<br />
1998 200.315 16.693<br />
1999 133.249 11.104<br />
2000 156.120 13.010<br />
Média 190.234 15.853<br />
Fonte: Empresa contratante<br />
Tabela 2 - Faturamento (em R$ 1,00)<br />
Ano Refeições Copa Todos os Serviços<br />
Out/2000 30.450 1.182 31.632<br />
Nov/2000 40.903 1.302 42.205<br />
Dez/2000 53.253 1.479 54.732<br />
Jan/2001 41.795 1.420 43.215<br />
Fev/2001 * 30.250 1.125 31.375<br />
Média 39.330 1.302 40.632<br />
Total 2001 * 471.960<br />
Fonte: Empresa contratada<br />
* Valor estimado<br />
15.620 487.580<br />
Tabela 3 - Faturamento (em % participação)<br />
Ano Refeições Copa Todos os Serviços<br />
Out/2000 96,26 3,74 100,00<br />
Nov/2000 96,92 3,08 100,00<br />
Dez/2000 97,30 2,70 100,00<br />
Jan/2001 96,71 3,29 100,00<br />
Fev/2001 * 96,42 3,58 100,00<br />
Média 96,80 3,20 100,00<br />
Total 2001 * 96,80 3,20 100,00<br />
Fonte: Empresa contratada<br />
* Valor estimado<br />
Tabela 4 - Custos apurados dos serviços prestados (em R$ 1,00)<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Sistemas de Custo Utilizados pela UAN<br />
- Custo padrão: Custo padrão para cada receita do<br />
trabalho;<br />
- Custo-meta (custeio ideal): custo máximo permitido<br />
por unidade de serviço expresso no contrato;<br />
- Apuração Integral: custo total da prestação de<br />
serviços.<br />
Aplicação do método ABC em UAN<br />
Foram elaborados vários fluxogramas dos<br />
processos e atividades efetuadas dentro da UAN, e<br />
também um questionário sobre a complexidade da<br />
elaboração do cardápio do mês de janeiro/2001, junto<br />
à nutricionista e funcionários.<br />
Levantamento das atividades<br />
Através do levantamento realizado com base nas<br />
atividades desenvolvidas, comumente, chegou-se a<br />
processos macro. Isto é, processos maiores que<br />
englobam processos pequenos.<br />
O estudo identificou 83 processos, sendo que 4<br />
estão diretamente relacionados ao planejamento dos<br />
cardápios, 5 em atividades com o pré-preparo, 54 nas<br />
atividades relacionadas com a preparação em si, 13 ao<br />
pós-processo e 7 na apuração dos resultados.<br />
Ano Out Nov Dez Jan Fev Média Total %<br />
2000 2000 2000 2000 2001* Mensal 2001*<br />
Matéria-prima 17.880 22.472 28.220 22.460 16.150 21.436 257.237 53,68<br />
Gás 1.500 1.531 1.550 1.810 1.550 1.588 19.058 3,98<br />
Colaboradores 9.717 9.717 10.614 10.614 10.614 10.255 123.062 25,68<br />
Benfícios<br />
Departamento<br />
749 769 761 709 749 747 8.969 1,87<br />
de Apoio 608 608 538 763 608 625 7.500 1,56<br />
Impostos<br />
Custos<br />
2.023 2.685 3.470 2.749 2.005 2.586 31.037 6,48<br />
Indiretos 1.721 2.296 2.977 2.351 1.707 2.210 26.525 5,53<br />
Gastos Diversos<br />
Total dos<br />
386 743 430 387 490 487 5.846 1,22<br />
Custos Apurados 34.584 40.821 48.560 41.843 33.873 39.936 479.234 100,00<br />
Fonte: Empresa contratada
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Tabela 5 - Resultados apurados dos serviços prestados (em R$ 1,00)<br />
Ano Out/2000 Nov/2000 Dez/2000 Jan/2001 Fev/2001* Média Mensal Total 2001* %<br />
Receitas 31.632 42.205 54.732 43.215 31.375 40.632 487.580 100,00<br />
Despesas<br />
Total dos<br />
Custos<br />
(34.584) (40.821) (48.560) (41.843) (33.873) (39.936) (479.234) 98,29<br />
Apurados (2.952) 1.384 6.172 1.372 (2.498) 695 8.345 1,71<br />
Fonte: Empresa contratada<br />
* Valor estimado<br />
Estrutura de custos - base média mensal<br />
Fig. 5 - Alocação de mão de obra e custo indiretos de fabricação.<br />
Resultados e discussão<br />
Demonstrativos entre o método ABC e o custeio variável<br />
As figuras 5 e 6 demonstram os resultados e<br />
comparativos alcançados e realizados na UAN em<br />
questão, como exemplo de todas as comparações e<br />
análises realizadas durante todo o mês.<br />
A figura 7 identifica um comparativo das decisões<br />
do cardápio, em referência aos custos dos diferentes<br />
serviços e setores. Ao se elaborar um cardápio, faz-se<br />
um custo prévio de toda a matéria-prima, que será<br />
utilizada no processo produtivo de transformação e<br />
distribuição de refeições. A partir deste pré-custo de<br />
matéria-prima, atribui-se uma média desta conta para<br />
o mês em questão, além de atribuir-se os custos fixos<br />
e demais variáveis, de forma equivalente ao número<br />
de serviços estimados, tendo-se, assim, um pré-custo<br />
médio per capita.<br />
201
202<br />
Fig. 6 - Comparativo das decisões de cardápio, dos dias 02 à 06.<br />
No método de custeio ABC, evidencia-se que,<br />
ao apropriar-se pesos a cada tipo de serviço, em virtude<br />
do tempo de trabalho “consumido”, custos<br />
“consumidos” e ações despendidas, sejam elas de<br />
matéria-prima, equipamentos, mão-de-obra ou gás,<br />
percebem-se oscilações financeiras nem sempre<br />
sugestionadas, quando o método de custeio de<br />
gerenciamento é o de rateio dos custos fixos, conforme<br />
figura 8. As diferenciações são evidenciadas tanto<br />
quando a análise é feita para cada tipo de serviço,<br />
quanto na comparação entre os serviços existentes.<br />
Análise da aplicação do método ABC<br />
- Identificou as atividades e processos que consomem<br />
mais esforços;<br />
- Identificou a importância do princípio da absorção<br />
total dos custos nas decisões operacionais;<br />
- Evidenciou a lucratividade dos serviços prestados.<br />
Conclusão<br />
O processo, dentro de uma Unidade<br />
de Alimentação e Nutrição, no que se<br />
refere a analise de gestão de negócios,<br />
controle de processos e custos, é bastante<br />
detalhado e complexo. A variedade de<br />
processos diários acaba dificultando<br />
todos os apontamentos. É preciso muita<br />
dedicação e metodologia para uma análise<br />
fidedigna e que norteie resultados para a<br />
UAN.<br />
Fig. 7 - Comparativo das decisões de cardápio.<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Como já dito anteriormente, é fácil mensurar,<br />
através de métodos de custeio comumente utilizados<br />
em indústrias de produtos ou serviços, a precificação<br />
e os custos de produção de bens de prateleira.<br />
Entretanto, mensurar os custos reais e preços de venda<br />
corretos, de uma gama incomensurável de processos<br />
e serviços, que se alteram diariamente, é tarefa árdua<br />
e delicada. Mensurar o paladar, o prazer da<br />
alimentação, não se faz de forma fácil e rápida.<br />
As empresas, hoje em dia, precisam correr contra<br />
suas falhas e limitações, assegurando sua sobrevivência<br />
ou fixação no mercado de consumo. Atingir excelência<br />
é condição sine qua non para a sobrevivência e<br />
manutenção das empresas transformadoras de<br />
alimentos e, portanto, tão procurada e almejada por<br />
todos que fazem parte deste segmento industrial.<br />
A competição está cada vez mais árdua,<br />
tornando-se uma guerra de foices entre as áreas<br />
produtivas e comerciais de todas as concorrentes.<br />
Quem souber de forma mais eficaz, identificar seus<br />
processos, suas perdas, seus negócios, terá mais<br />
chances de sobreviver e ganhar a batalha pelos clientes.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Fig. 8 - estrutura de custos pelo método ABC para o serviço de refeição e copa.<br />
No trabalho apresentado, de análise comparativa<br />
do método de gestão de custos ABC, que é inovador,<br />
com os métodos normalmente de custeio utilizados,<br />
dentro de uma UAN, percebeu-se:<br />
- A margem de contribuição demonstrada pelo custeio<br />
variável pode ser irreal e desanimadora, se comparada<br />
com a lucratividade positiva das operações da empresa;<br />
- Os serviços de copa não são lucrativos para a UAN.<br />
Pela realização deste estudo, sugere-se que as<br />
UAN’s:<br />
1) ajustem seus métodos de controle contábil para:<br />
- Contemplar a MO e os CIFs;<br />
- Contemplar o controle de gás como insumo direto;<br />
- Conter na sua receita os tempos médios de preparo<br />
de cada prato (além de fornecer a base da matriz de<br />
direcionadores de recursos de MO e possibilitem o<br />
planejamento de trabalho);<br />
2) Efetuem o cálculo pelo método em vários períodos<br />
para confirmar a eficácia do método ABC em UAN;<br />
3) Efetuem a aplicação do método em diversas UANs<br />
para verificar o comportamento dos custos das<br />
atividades.<br />
Embora os custos diretos da UAN<br />
sejam superiores a 57% dos custos totais, a aplicação<br />
do método ABC apresentou-se mais eficaz e justificouse<br />
como a melhor alternativa da empresa para<br />
obtenção de resultados positivos em suas operações.<br />
Como este trabalho fundamentou-se em um<br />
período de um mês e em apenas uma UAN, sugere-se<br />
que sejam feitos outros estudos e análises de todos os<br />
processos, por atividades gerais e específicas, por<br />
produtos e serviços, a fim de confirmar a eficiência<br />
do método.<br />
Importante citar, a importância de que a empresa<br />
em questão executasse algumas avaliações, como<br />
ferramentas pró-ativas, a fim de que as metas<br />
previamente definidas, seja com análises por custo<br />
ABC ou tradicional, fossem atingidas facilmente.<br />
Dentre estas ferramentas, estão a revisão contratual<br />
de serviços e preços de venda, controle de desperdícios<br />
existentes e análise de fluxos.<br />
Referências<br />
1. Bornia AC. Mensuração das perdas dos processos<br />
produtivos: uma abordagem metodológica de controle<br />
interno. Tese de Doutorado. Programa de Pós-<br />
Graduação em Engenharia de Produção da<br />
Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEP/<br />
UFSC), Florianópolis, 2000.<br />
2. Santos JJ. Análise de custos. Editora Atlas, São Paulo,<br />
1986.<br />
3. Santos JJ. Formação de preços e do lucro empresarial.<br />
Editora Atlas, São Paulo, 1988.<br />
4. Nakagawa M. Gestão estratégica de custos: conceitos,<br />
sistemas e implementação. Editora Atlas, São Paulo,<br />
1991.<br />
5. Brimson JA. Contabilidade por atividade: uma<br />
abordagem de custeio baseado em atividades. Editora<br />
Atlas, São Paulo, 1996.<br />
6. Drucker P. Uma nova teoria de produção. Revista<br />
Exame, 27 de junho de 1990:64-72.<br />
7. Drucker P. Desafios gerenciais para o século XXI.<br />
Editora Pioneira, São Paulo, 1999.<br />
8. Kaplan RS & Cooper R. Custo e desempenho:<br />
administre seus custos para ser mais competitivo.<br />
Editora Futura, São Paulo, 1998.<br />
203
204<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Perfil do consumo alimentar em pacientes<br />
com bulimia nervosa em São Paulo<br />
Patterns of food consumption of bulimic<br />
patients from São Paulo<br />
Marle Alvarenga*, Sonia Tucunduva Philippi**<br />
*Doutora em Nutrição Humana Aplicada pela USP, Nutricionista do Grupo de Estudos em Nutrição e Transtornos Alimentares –<br />
GENTA - do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares – AMBULIM– IpQ-HC-FMUSP, **Professor Livre Docente do<br />
Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Conselho Científico do Grupo de Estudos em<br />
Nutrição e Transtornos Alimentares – GENTA.<br />
Resumo<br />
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por grandes alterações no padrão e comportamento alimentar.<br />
Os pacientes têm uma série de restrições alimentares e ao mesmo tempo compulsões repetidas. As escolhas alimentares são<br />
bastante influenciadas pelo comportamento patológico da doença. Este trabalho objetivou estudar a freqüência de consumo<br />
de diferentes alimentos em pacientes com bulimia nervosa, acompanhados num serviço de referência em São Paulo-SP, bem<br />
como seus alimentos favoritos, suas aversões e crenças em alimentos saudáveis ou não, antes e depois de intervenção<br />
multiprofissional. Foram estudadas 39 pacientes, que responderam questões sobre consumo alimentar em 3 diferentes<br />
momentos, num seguimento de 6 meses. Encontrou-se alguma mudança significativa no consumo de alimentos pós intervenção,<br />
com aumento de consumo de alimentos básicos para uma dieta balanceada – que eram antes restringidos, bem como inclusão<br />
de alguns alimentos considerados “proibidos”, provavelmente por seu conteúdo calórico. Concluiu-se que embora o padrão<br />
e comportamento alimentar na bulimia sejam bastante caóticos, pode-se alcançar um melhor padrão de escolhas alimentares<br />
após terapia nutricional.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Bulimia nervosa, transtorno alimentar, consumo alimentar, hábitos alimentares, compulsão alimentar.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 10 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Marle Alvarenga, Rua Dr. Augusto de Miranda, 1107/151, Pompéia, 05026-001 São<br />
Paulo SP, Tel: (11) 3862-4278/9196-1994, E-mail: marlealv@uol.com.br
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Abstract<br />
Bulimia nervosa is an eating disorder marked by significant changes in dietary patterns and eating behavior. Patients<br />
present a series of food restrictions followed by binge eating. Food choices are strongly affected by the pathological behavior<br />
that characterizes this illness. This paper aims to study the frequency of different food items consumed by bulimic patients<br />
during a six-month follow-up provided by a reference service in the city of São Paulo, SP. Patients´ favorite foods, aversions,<br />
and beliefs about healthy or unhealthy food before and after the multiprofessional intervention were also studied. Thirtynine<br />
patients answered a questionnaire about their food consumption at three different moments during the follow-up.<br />
There were some significant changes in food consumption after the intervention, with an increase of basic food items -<br />
previously restricted - that make up a balanced diet as well as the inclusion of some foods considered “prohibited” because<br />
of their caloric content. Despite the chaotic eating patterns and behavior of bulimics; a better standard of food choices can<br />
be achieved after nutritional therapy.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Bulimia nervosa, eating disorder, food consumption, eating habits, binge eating.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Introdução<br />
A Bulimia Nervosa (BN) é um transtorno<br />
alimentar caracterizado por episódios compulsivos<br />
seguidos de comportamentos compensatórios<br />
recorrentes. A bulimia nervosa é o quadro mais<br />
prevalente dentre os transtornos alimentares (1-4%<br />
em mulheres jovens) [1] e é uma doença quase que<br />
exclusivamente feminina. Suas principais<br />
características são os episódios do comer compulsivo<br />
ou episódios bulímicos, caracterizados pela ingestão<br />
compulsiva e rápida de grandes quantidades de<br />
alimento, além dos comportamentos de compensação<br />
ou purgação para evitar o ganho de peso; são eles:<br />
vômito auto-induzido, abuso de laxantes e diuréticos,<br />
enemas (ou uso de outros medicamentos), jejum (ou<br />
períodos de restrição alimentar) e exercícios físicos<br />
excessivos. Outros comportamentos podem ser<br />
citados, como dietas restritivas rigorosas<br />
(hipocalóricas), abuso de cafeína e uso de hormônios<br />
tiroideanos, drogas anorexígenas e, eventualmente,<br />
cocaína [2]. Para o critério diagnóstico do DSM-IV,<br />
tanto os episódios do comer compulsivo como os<br />
comportamentos purgativos, devem ocorrer com a<br />
freqüência mínima de duas vezes por semana, por no<br />
mínimo, três meses [3]. Os indivíduos com bulimia<br />
nervosa são ainda excessivamente influenciados, em<br />
sua auto-avaliação, pelo peso e forma corporal [1,5].<br />
Os transtornos alimentares são doenças descritas<br />
na literatura desde há muito tempo, datando de 1694<br />
a primeira descrição da anorexia nervosa [6]. A bulimia<br />
recebeu nomes alternativos ao longo da história por<br />
falta de uma definição diagnóstica, que só aconteceu<br />
em 1980 [7,9]. Essas doenças são de etiologia<br />
multifatorial, onde fatores genéticos, familiares,<br />
psicológicos e socioculturais se somam. A incidência<br />
aumentada das últimas décadas, está estritamente<br />
relacionada aos padrões estéticos atuais, que<br />
relacionam a magreza com sucesso e felicidade,<br />
principalmente, para as mulheres [1].<br />
A BN tem a possibilidade de uma série de<br />
complicações clínicas, além de prejuízo na vida como<br />
um todo: social, sexual, trabalhista, familiar [10]. A<br />
mortalidade na BN é estimada em torno dos 3% [11].<br />
O consumo alimentar de pacientes com BN varia<br />
muito, dependendo da fase - compulsiva ou restritiva<br />
- em que o paciente se encontra. Freqüentemente o<br />
padrão alimentar na doença é descrito como “caótico/<br />
bizarro”, isto porque os pacientes insistem em<br />
começar uma “nova dieta”, consumindo quantidades<br />
extremamente pequenas de alimentos (restritos em<br />
sua qualidade e chamados “alimentos proibidos”), e<br />
na seqüência consomem grandes quantidades de<br />
alimento, desencadeando um episódio bulímico. No<br />
episódio, o valor calórico total ingerido é alto, com<br />
consumo dos chamados alimentos “proibidos”. O<br />
exagero no consumo calórico desencadeia extrema<br />
ansiedade e medo de engordar, levando aos recursos<br />
purgativos (vômito, medicamentos) e/ou aos recursos<br />
compensatórios, como um novo período de restrição<br />
alimentar - uma “nova dieta”. Desta forma, instala-se<br />
o ciclo “dieta ⇒ episódio ⇒ purgação”, que serve<br />
para ilustrar o fluxo da patologia alimentar [12].<br />
205
206<br />
Os alimentos mais freqüentes nos episódios<br />
bulímicos são doces, tortas, sorvete, chocolates, leite<br />
condensado, biscoitos, salgadinhos - alimentos que o<br />
paciente tende a excluir de sua dieta habitual por medo<br />
de ganho de peso. Por outro lado, na fase restritiva,<br />
podem ter uma ingestão bastante restrita do ponto de<br />
vista quantitativo e qualitativo, excluindo<br />
principalmente carboidratos e gorduras [13].<br />
Uma série de mitos e crenças alimentares podem<br />
ser também encontrados nestas pacientes, além de<br />
preconceito, ódio e incompetência para lidar com os<br />
alimentos, o que caracteriza não só um<br />
comportamento alimentar inadequado como, também,<br />
um padrão alimentar irregular e desequilibrado [14 –<br />
16].<br />
Metodologia<br />
O presente estudo foi realizado no Ambulatório<br />
de Bulimia e Transtornos Alimentares – AMBULIM–<br />
IpQ-HC-FMUSP. O tratamento dos transtornos<br />
alimentares, neste ambulatório, segue o modelo<br />
internacionalmente preconizado, com equipe<br />
multiprofissional, composta de psiquiatras, clínicos,<br />
psicólogos, nutricionistas e enfermeiros. O AMBULIM<br />
pertence a um hospital público universitário –<br />
HCFMUSP -, efetua tratamento multiprofissional<br />
gratuito, ambulatorial, de hospital-dia e de enfermaria<br />
para transtornos alimentares [1].<br />
Participaram do estudo 39 pacientes do sexo<br />
feminino, com diagnóstico de bulimia nervosa pelo<br />
DSM–IV [3], que passaram pela triagem para<br />
atendimento ambulatorial no AMBULIM e foram<br />
convidadas a fazer parte de um projeto de pesquisa do<br />
projeto temático AMBULIM, preenchendo os critérios<br />
de inclusão e exclusão fixados por ele.<br />
A pesquisa nutricional foi um estudo de seguimento<br />
de 6 meses, que objetivou avaliar o padrão alimentar e o<br />
comportamento alimentar de pacientes com bulimia nervosa<br />
(BN), antes e após intervenção multiprofissional.<br />
As pacientes preencheram uma lista de freqüência<br />
de consumo de alimentos (figura 1) e responderam as<br />
seguintes questões:<br />
1) Qual seu alimento favorito? Por que?<br />
2) Você tem alguma aversão alimentar? Qual? Por que?<br />
3) Quais alimentos você considera mais saudáveis? Por que?<br />
4) Quais alimentos você considera menos saudáveis? Por que?<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Os resultados de 3 fases de seguimento são<br />
apresentados como FASE 1, que se refere as respostas<br />
das pacientes ao chegarem para atendimento (n=39).<br />
A FASE 2 corresponde as respostas para as mesmas<br />
questões após 3 meses de tratamento (n=20). Nestes<br />
3 meses houve aconselhamento nutricional sobre<br />
diversos temas. A FASE 3 refere-se as respostas após<br />
6 meses de seguimento, em acompanhamento com a<br />
equipe multiprofissional (n=15).<br />
Resultados<br />
Os alimentos mais consumidos (freqüência<br />
diária), na FASE 1, foram (em ordem decrescente):<br />
pão, leite, café e adoçante (55,00%); biscoitos<br />
(45,00%); verduras, legumes e sucos (40,00%). Na<br />
FASE 2, os alimentos mais citados como tendo<br />
freqüência diária foram: verduras, legumes e adoçante<br />
(58,80%); café (55,00%); pão e leite (52,90%); balas,<br />
iogurtes, frutas e sucos (41,20%). Na FASE 3, os<br />
alimentos mais citados como tendo freqüência diária<br />
foram: verduras e legumes (76,50%), frutas (64,70%);<br />
pães, queijos e adoçantes (58,80%); leite, suco e café<br />
(52,90%); balas e arroz (41,20%).<br />
Os alimentos mais citados como tendo<br />
freqüência de consumo rara, na FASE 1, foram:<br />
sorvete e ovos (55,00%); arroz (50,00%); doces,<br />
salgadinhos e peixe (45,00%); massas, feijão e doces<br />
dietéticos (40,00%). Para a FASE 2, os alimentos com<br />
resposta “raramente”, foram: sorvetes, salgadinhos e<br />
peixe (47,10%); ovos (41,20%). Na FASE 3, os grupos<br />
alimentares citados para “raramente” foram: sorvete<br />
(76,50%); ovos (47,10%); chocolate, doces em geral,<br />
salgadinhos e feijão (41,20%). Para a resposta “nunca”,<br />
os grupos de alimentos mais citados, na FASE 1,<br />
foram: doces dietéticos e cereais matinais (40,00%).<br />
Na FASE 2, os mais citados foram: doces dietéticos,<br />
adoçantes e salgadinhos (41,20%). E, na FASE 3,<br />
foram: doces dietéticos (52,90%) e salgadinhos<br />
(41,20%).<br />
Observou-se que a freqüência de respostas<br />
“todos os dias” para o consumo de biscoitos diminuiu<br />
de uma fase para outra (45,00% para 23,50%), e a<br />
maior parte das pacientes afirmaram consumir de 1-3<br />
vezes por semana, em todas as fases. Em relação aos<br />
chocolates, não houve um padrão de alteração, as<br />
respostas tenderam a raramente e 1-3 vezes por<br />
semana, em todas as fases. Para os sorvetes, observouse<br />
que, deixaram de ser citados como “nunca”<br />
consumidos, na FASE 3, e que a freqüência mais citada<br />
foi raramente.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Observou-se também que as respostas de<br />
freqüência do consumo diário de balas aumentou, da<br />
FASE 1 (30,00%) para FASE 2 (47,10%), e diminuiu<br />
na FASE 3 (41, 20%); este grupo de alimentos deixou<br />
de ser citado como “nunca” consumido na FASE 3,<br />
sendo que a freqüência mais citada, depois da diária,<br />
foi 1-3 vezes por semana. O consumo diário (nas<br />
respostas de freqüência) de “outros doces” diminuiu,<br />
da FASE 1 para FASE 3 (35,00% para 5,90%),<br />
concentrando-se as respostas em 1-3 vezes por semana<br />
ou raramente; apenas na FASE 2, eles foram citados<br />
como “nunca consumidos”.<br />
Observou-se, um aumento progressivo nas<br />
respostas de freqüência de consumo diária de arroz<br />
Fig. 1 – Quadro de freqüência de consumo de diferentes alimentos.<br />
Biscoitos<br />
Chocolates<br />
Sorvetes<br />
Balas e chicletes<br />
Outros doces (tortas..)<br />
Arroz<br />
Massas<br />
Pães<br />
Salgadinhos (ElmaChips)<br />
Cereais matinais<br />
Carne vermelha (bovina, suína..)<br />
Salsichas, lingüiça, presunto, salame...<br />
Frango<br />
Peixe<br />
Ovos<br />
Feijão<br />
Leite<br />
Iogurtes<br />
Queijo<br />
Frutas<br />
Verduras e Legumes<br />
Refrigerantes<br />
Sucos<br />
Bebidas Alcoólicas<br />
Bebidas dietéticas (sucos, isotônicos)<br />
Café<br />
Adoçantes<br />
Doces dietéticos<br />
Fonte: Alvarenga [14].<br />
(20,0% para 29,4% para 41,2%), embora também<br />
tenha aumentado o número de pacientes que<br />
responderam “nunca” para o seu consumo. Para as<br />
massas, observou-se aumento importante nas<br />
respostas de freqüência de consumo diário (15,00%<br />
para 16,70% para 33,30%) e diminuição na resposta<br />
“raramente”, ao longo das fases, sendo que a maior<br />
parte respondeu consumir de 1-3 vezes por semana<br />
em todas as fases. Para os pães, a maior parte das<br />
respostas se concentraram em “todos os dias” e houve<br />
uma diminuição nas respostas “raramente”, da FASE<br />
1 (20,0%) para FASE 3 (11,8%).<br />
Quanto ao consumo de salgadinhos (tipo snack),<br />
houve aumento de freqüência de respostas de<br />
Todos os dias 1-3 vezes/semana Raramente Nunca<br />
207
208<br />
consumo diário, nas FASES 2 e 3 (5,90%); na FASE<br />
1, nenhuma paciente respondeu comer salgadinhos<br />
diariamente; por outro lado, houve um aumento nas<br />
respostas “nunca”, da FASE 1 para as FASES 2 e 3<br />
(41,20%). A maioria das pacientes permaneceu<br />
respondendo “raramente” ao longo das fases. Para o<br />
consumo de cereais matinais, houve diminuição na<br />
freqüência de respostas de consumo diário (20,0% para<br />
11,8% para 5,9%) e uma diminuição importante nas<br />
respostas “nunca” ao longo das fases; a resposta de<br />
1-3 vezes por semana foi freqüente em todas as fases.<br />
Para as carnes (vermelhas), houve diminuição nas<br />
respostas de freqüência de consumo diário (25,0% para<br />
17,6% para 11,8%) e diminuição das respostas<br />
“nunca”, da FASE 1 (15,0%) para FASES 2 e 3 (5,9%);<br />
a maior freqüência de respostas foi para 1-3 vezes por<br />
semana. Para os embutidos, houve diminuição nas<br />
respostas de freqüência de consumo diário ao longo<br />
das fases (20,0% para 11,8% para 5,9%), sendo que a<br />
maior freqüência foi também para 1-3 vezes por<br />
semana. Para o frango, houve aumento importante<br />
nas respostas de freqüência de consumo diário (5,0%<br />
para 11,8% para 23,5%), um aumento das respostas<br />
“nunca”, ao longo das fases, e uma diminuição das<br />
respostas “raramente” ao longo das fases, com a maior<br />
freqüência novamente em 1-3 vezes por semana.<br />
Para o peixe, aumentou a freqüência de respostas<br />
para “1-3 vezes/semana”, ao longo das fases (40,0%<br />
para 47,0% para 70,6%), e diminuiu as respostas<br />
“raramente”, da FASE 1 (45,0%) para FASE 3 (11,8%).<br />
Para os ovos, não houve alterações muito importantes<br />
na freqüência de respostas de consumo, a maior<br />
freqüência citada foi raramente. Para os feijões, houve<br />
aumento nas respostas de freqüência de consumo<br />
diário ao longo das fases (10,0% para 11,8% para<br />
17,6%) e também das respostas de 1-3 vezes por<br />
semana (15,0% para 29,4% para 23,5%); diminuiu o<br />
número de respostas “nunca”, ao longo das fases, e a<br />
freqüência mais citada foi “raramente”.<br />
As respostas de freqüência para o consumo de<br />
leite não se alteraram significantemente ao longo das<br />
fases, sendo que a maior parte das pacientes afirmou<br />
consumi-lo diariamente. O mesmo ocorreu com o<br />
consumo de iogurtes, a maior parte declarou consumo<br />
de 1-3 vezes por semana em todas as fases. Para o<br />
consumo de queijos, a freqüência de respostas de<br />
ingestão diária aumentou ao longo das fases: 35,0%<br />
para 41,2% para 58,8% (embora não se saiba de qual<br />
queijo estavam falando).<br />
A reposta para ingestão diária de frutas aumentou<br />
de modo importante ao longo das fases (35,0% para<br />
41,2% para 64,7%), sendo esta resposta a mais<br />
freqüente. Verificou-se também que a freqüência de<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
respostas de ingestão diária de verduras e legumes<br />
aumentou progressivamente ao longo das fases (40,0%<br />
para 58,8% para 76,5%), sendo que, ao fim do<br />
seguimento, era a resposta mais freqüente no lugar de<br />
1-3 vezes por semana, das FASES 1 e 2.<br />
Para a ingestão de refrigerantes, as respostas<br />
de freqüência do consumo não se alteraram de<br />
modo significativo ao longo das fases. A maior parte<br />
respondeu consumi-lo diariamente ou de 1-3 vezes<br />
por semana, nas três fases. Já para os sucos, a<br />
afirmação da ingestão diária aumentou, ao longo<br />
das fases, e as respostas “nunca” zeraram, da FASE<br />
1 para 2. A maior parte respondeu ter freqüência<br />
diária ou de 1-3 vezes por semana. Para as bebidas<br />
alcoólicas, as respostas “nunca” aumentaram, da<br />
FASE 1 para 2; a resposta de freqüência de ingestão<br />
diária zerou, da FASE 1 para 2. A maior parte<br />
respondeu ter freqüência de 1-3 vezes por semana.<br />
Em relação às bebidas dietéticas (isotônicos,<br />
energéticos), a resposta de ingestão diária diminuiu,<br />
ao longo das fases (20,0% para 17,6% para 11,8%),<br />
bem como diminuiu o número de respostas<br />
“nunca”, do início para o fim do seguimento. Para<br />
o café, não houve grande oscilação na freqüência<br />
de resposta da ingestão, sendo que a maioria<br />
respondeu freqüência diária.<br />
Para os adoçantes, houve ligeira diminuição<br />
da freqüência de consumo diário da FASE 1 para 2<br />
(65,00% para 58,80%); o número de respostas<br />
“nunca” diminuiu, da FASE 1 para 2, e aumentou<br />
na FASE 3. A grande maioria, de qualquer forma,<br />
relatou consumo diário nas três fases. Para os doces<br />
dietéticos, a resposta de freqüência diária foi zero,<br />
nas FASES 2 e 3, e aumentou o número de respostas<br />
“nunca” ao longo das fases, sendo que a maior parte<br />
registrou “raramente” ou “nunca”, nas três fases.<br />
Sobre os alimentos favoritos e aversões nas<br />
três fases do programa, os mais citados como<br />
favoritos foram: massas, pão, pizza, doces e<br />
chocolates, na FASE 1; massas, leite, pizza, e doces,<br />
na FASE 2; massas e doces, na FASE 3. As respostas<br />
para aversão de alguma alimento foram: vísceras,<br />
frituras e carnes, na FASE 1, com a referência de<br />
que frituras e carnes são gordurosas, não trazem<br />
nada e engordam; vísceras, carnes, gorduras e<br />
frituras, na FASE 2, com a referência de que gordura<br />
e frituras engordam; vísceras, alimentos gordurosos<br />
e carnes, na FASE 3, com explicações relacionadas<br />
a preferências pessoais e “nojo”. Nenhuma paciente<br />
respondeu “porque engorda”. Os alimentos mais<br />
citados como saudáveis e não saudáveis foram<br />
também levantados nas três fases, as respostas<br />
podem ser verificadas no quadro 1.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Quadro 1 – Relação dos alimentos considerados saudáveis e não saudáveis, nas diferentes fases de<br />
seguimento de pacientes com Bulimia Nervosa, acompanhados no AMBULIM – São Paulo, 2001.<br />
FASE 1 FASE 2 FASE 3<br />
SAUDÁVEL NÃO SAUDÁVEL SAUDÁVEL NÃO SAUDÁVEL SAUDÁVEL NÃO SAUDÁVEL<br />
FRUTAS CHOCOLATES FRUTAS AÇÚCAR FRUTAS FRITURAS<br />
VERDURAS CARNES VERDURAS DOCES VERDURAS DOCES<br />
LEGUMES MASSAS LEGUMES FRITURA LEGUMES MASSAS<br />
CEREAIS GORDUROSOS LEITE CHOCOLATE CEREAIS CARNES<br />
PEIXES AÇÚCAR CARBOIDRATOS GORDURA REFRIGERANTES<br />
TODOS DOCES PÃO INTEGRAL SALGADINHOS BATATA FRITA<br />
SALGADINHOS PEIXE<br />
As frutas foram associadas com o fato de serem<br />
“naturais”, “não terem gordura e nem açúcar”, “terem poucas<br />
calorias”, “não engordarem”, “limparem o organismo”,<br />
“auxiliarem o metabolismo”, “serem fonte de frutose e de glicose”.<br />
As verduras foram associadas com o fato de<br />
“terem celulose, vitaminas, minerais”, “poucas calorias”, “serem<br />
leves”, “terem ferro”, “potássio”, “fibras”, “não terem gordura”,<br />
“não engordarem”, “manterem a forma”, “conterem fibras e<br />
ajudarem o funcionamento do intestino”. Também, os<br />
legumes foram associados com o fato de “terem<br />
vitaminas, minerais”, “não terem gordura”, “não engordarem”,<br />
“serem pouco calóricos”, “terem nutrientes e ajudarem o<br />
metabolismo”.<br />
O peixe foi associado com o fato de “não<br />
engordar”, “não ser muito calórico”, “ser rico em nutrientes”,<br />
“ser leve e não ser gorduroso”. O leite foi associado com o<br />
fato de “ter vitaminas e cálcio”.<br />
O pão integral foi associado com o fato de “ter<br />
fibras” e “ter opções para recheio”. Os cereais foram<br />
associados ao fato de “fazerem bem ao organismo” e “serem<br />
energéticos”.<br />
Os carboidratos foram associados ao fato de<br />
“fornecerem energia e combustível para os músculos”.<br />
Os chamados alimentos gordurosos foram<br />
associados ao fato de “engordarem”, “aumentarem<br />
colesterol”, “causarem má digestão e problemas de estômago e<br />
coração”.<br />
O açúcar foi associado ao fato de “engordar”,<br />
“favorecer o aparecimento de diabetes” e “causar dependência”.<br />
As carnes foram associadas ao fato de “serem de<br />
difícil digestão”, “terem muita gordura”, “não serem saudáveis”,<br />
“engordarem” e “não serem confiáveis”.<br />
As massas foram associadas ao fato de<br />
“engordarem”, “fazerem mal a saúde”, “não terem vitaminas”<br />
e serem de “difícil digestão”. Os doces foram associados<br />
ao fato de “engordarem”, “serem muito calóricos”, “terem<br />
excesso de carboidratos”, “terem química”, “terem pouca<br />
vitamina” e só “fornecerem açúcar simples”.<br />
Os salgadinhos foram associados ao fato de “não<br />
terem nada de bom”, “serem muito calóricos”, “terem muito<br />
carboidrato” e “terem química” e “reterem líquidos”. O<br />
chocolate foi associado com o fato de “engordar”, “ser<br />
gorduroso”, “não ter vitaminas”, “ser muito calórico” e “não<br />
acrescentar nada”.<br />
Os refrigerantes foram associados com o fato<br />
de “não terem nada de bom”, “engordarem”, “por estufarem”,<br />
“terem muito carboidrato”, “não alimentarem”, “terem<br />
gordura”, “pouca vitamina” e “terem muitas calorias”. As<br />
frituras foram associadas com o fato de “engordarem”,<br />
“aumentar o colesterol”, “ter muita gordura”, “ter pouca<br />
vitamina”, “fazerem mal”, “serem de difícil digestão” e “não<br />
acrescentarem nada”.<br />
Discussão<br />
Quanto a freqüência de ingestão dos diferentes<br />
grupos de alimentos, observou-se, através dos<br />
resultados nas diferentes fases, o perfil de consumo<br />
destas pacientes. Os trabalhos da literatura<br />
concentram-se em detectar os alimentos mais<br />
freqüentes nos episódios bulímicos e não exatamente<br />
um levantamento da freqüência de consumo por<br />
grupos. Alguns autores [17] afirmaram que snacks e<br />
sobremesas apareciam mais nos episódios; outros [13]<br />
que as refeições não purgadas eram constituídas<br />
principalmente de saladas e refrigerantes dietéticos.<br />
Um estudo de 1981 [18], apontou que os alimentos<br />
preferidos nos episódios foram: sorvete, torrada,<br />
doces, donut´s, refrigerantes, salada, sanduíches, cookies,<br />
pipoca, leite, queijo e cereal. Outro estudo de 1997<br />
[19], afirmou que quando não estão em compulsão,<br />
os pacientes têm uma ingestão bastante restritiva, com<br />
alta freqüência de alimentos “saudáveis” e que os<br />
alimentos mais freqüentes nas compulsões eram<br />
sorvetes, tortas, pães, chocolates e batata chips. Um<br />
estudo realizado com bulímicas no Brasil [20],<br />
encontrou que os alimentos mais freqüentes nos<br />
episódios eram: bolachas, bolos e doces, leite, arroz,<br />
carne, queijos, refrigerantes e frutas.<br />
209
210<br />
Foram indicados nesta pesquisa, resultados<br />
positivos no aumento da freqüência de resposta de<br />
consumo para o arroz, as massas, o frango, peixe, feijões,<br />
queijos, frutas, legumes, verduras e sucos. Todos estes<br />
alimentos são considerados básicos e de grande<br />
importância na composição de uma dieta balanceada [21].<br />
Para as carnes, observou-se uma tendência no maior<br />
consumo das brancas em detrimento das vermelhas,<br />
como já apontado por um estudo de 1995 [13] e que, de<br />
qualquer forma, para nenhum tipo houve grande<br />
freqüência de resposta de consumo diário, e sim de 1-3<br />
vezes por semana. O aumento na afirmação do consumo<br />
diário de feijão também mostra-se importante,<br />
juntamente com a desmistificação do arroz, tornando o<br />
par brasileiro “arroz-feijão”, uma combinação mais aceita<br />
por estas pacientes. O aumento das respostas diárias para<br />
o consumo de queijo pode ser entendido como uma<br />
diminuição do medo de enfrentar este alimento,<br />
classicamente mais “gordo” que leite e iogurte – que são<br />
amplamente consumidos. Embora não se tenha feito<br />
diferenciação do tipo de queijo, nesta anamnese, pode<br />
ser que o aumento de freqüência esteja apenas relacionado<br />
aos queijos brancos.<br />
O consumo diário de frutas dobrou do início para<br />
o fim do seguimento e houve também aumento<br />
considerável do consumo diário referido de legumes e<br />
verduras, mostrando uma tendência de ingestão de<br />
alimentos mais leves e saudáveis; estes alimentos são<br />
classicamente considerados seguros pelas pacientes [13].<br />
Mas devido ao padrão “tudo ou nada” da bulimia nervosa,<br />
muitas vezes a ingestão destes grupos é reduzida nas<br />
fases de comportamento bulímico típico. O consumo<br />
diário de sucos também teve pequeno aumento, que pode<br />
ser considerado importante, caso esta bebida tenha sido<br />
colocada em substituição a outras menos saudáveis, como<br />
as alcoólicas e as bebidas dietéticas – que diminuíram ao<br />
longo das fases. É interessante notar, no entanto, além<br />
das bebidas dietéticas (sucos, isotônicos, etc), que os<br />
refrigerantes consumidos eram essencialmente os diet ou<br />
light, muitas vezes inclusive nos episódios compulsivos.<br />
Um estudo de 1994 [22], também encontrou a preferência<br />
por refrigerante dietético e leite desnatado em seus<br />
pacientes, mesmo nas compulsões. O consumo excessivo<br />
de líquidos nos episódios é conhecido pelo seu uso de<br />
diluir o conteúdo gástrico e facilitar o vômito; pode-se<br />
considerar também que as pacientes, devido às suas<br />
preocupações com calorias e dieta, tenham apenas<br />
refrigerantes dietéticos e leite desnatado em casa e, por<br />
isso, sejam consumidos nos episódios bulímicos.<br />
Puderam ser observados, também, resultados<br />
positivos de diminuição de freqüência, para os embutidos,<br />
bebidas alcoólicas, dietéticas e doces dietéticos; alimentos<br />
considerados pouco saudáveis ou até chamados de<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
“calorias vazias”, tendo recomendação de consumo<br />
esporádico, de acordo com a pirâmide dos alimentos [21].<br />
Analisando os alimentos que receberam mais<br />
respostas de consumo diário, observa-se que a mudança<br />
mais significante nos alimentos mais citados para<br />
freqüência diária, nas diferentes fases, foi a inclusão do<br />
arroz, após seis meses de seguimento. Terminar o<br />
seguimento vendo que aproximadamente metade das<br />
pacientes (o dobro do início do estudo) estava ingerindo<br />
arroz todos os dias – um alimento tão carregado de<br />
crenças e preconceitos –, é um dado de mudança de<br />
padrão alimentar importante. O mesmo pode-se afirmar<br />
para o aumento do consumo de massas diariamente –<br />
que também dobrou.<br />
O fato dos adoçantes dietéticos estarem entre os<br />
“alimentos” mais consumidos e terem apresentado<br />
diminuição de apenas 6,20%, após 3 meses, é dado<br />
preocupante. No entanto, não parece ser uma<br />
característica exclusiva de pacientes com bulimia nervosa,<br />
mas também da população de mulheres como um todo.<br />
Quanto aos alimentos mais citados, como tendo<br />
freqüência de consumo raro, ao final de seis meses,<br />
encontrou-se o sorvete, ovos, chocolate, doces em geral,<br />
salgadinhos e feijão.<br />
Os alimentos considerados como os mais saudáveis<br />
(frutas, legumes e verduras), estiveram longe de serem<br />
os citados como os favoritos (massas, pizza e doces).<br />
Estes dados demonstram que as pacientes bulímicas –<br />
assim como muitas outras pessoas –, acreditam que<br />
alimentação saudável é comer exclusivamente alimentos<br />
ricos em nutrientes essenciais (vitaminas e minerais) e<br />
pobres em açúcares e gorduras. Esta observação foi feita<br />
por um estudo de 1990 [23], alertando que, desta forma,<br />
fatalmente existiria uma frustração por não seguir a<br />
“dieta”, colocada como um padrão alimentar tão restritivo<br />
e perfeccionista.<br />
Observa-se pelas respostas de “saudáveis” e “não<br />
saudáveis” que as pacientes fazem uma distinção entre<br />
alimentos seguros e perigosos, como afirmado por outro<br />
pesquisador [12]. Outros autores [13] provaram esta<br />
divisão em seus estudos, apontando que as pacientes<br />
chamavam de seguros os vegetais, frutas e carne magra;<br />
e de perigosos cookies, pão, bolos e frituras.<br />
Conclusão<br />
A análise da freqüência de ingestão dos diferentes<br />
grupos de alimentos, mostrou resultados positivos no<br />
aumento da freqüência de resposta de consumo para:<br />
o arroz, as massas, o frango, o peixe, os feijões, os<br />
queijos, as frutas, os legumes, as verduras e os sucos.<br />
Mostrou ainda, resultados positivos de diminuição de
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
freqüência para: os embutidos, as bebidas alcoólicas,<br />
as bebidas dietéticas e os doces dietéticos. Pode-se<br />
concluir, portanto, que a abordagem nutricional<br />
melhora o padrão de ingestão de diferentes alimentos,<br />
possibilitando uma dieta mais balanceada e<br />
desmistificando certos alimentos.<br />
A análise das respostas para os alimentos<br />
favoritos, os aversivos e, àqueles que as pacientes<br />
julgavam mais ou menos saudáveis, não mostrou<br />
alteração importante de respostas ao longo das fases.<br />
Encontrou-se que, tanto os alimentos citados como<br />
favoritos e como aversivos (massas e doces,<br />
principalmente) se encaixaram na categoria de “não<br />
saudáveis”, relacionados essencialmente ao fato de<br />
serem ricos em calorias e “engordarem”. As aversões<br />
foram, a não ser no caso das vísceras, relacionadas<br />
diretamente ao conteúdo calórico e/ou de gordura.<br />
Os alimentos considerados como os mais saudáveis,<br />
estiveram longe de serem os citados como os favoritos.<br />
Conclui-se destes resultados, que preferências e<br />
aversões são questões difíceis de serem mudadas, até<br />
porque, são muito mais emocionais e fazem parte de<br />
um sistema de crenças pessoais. Idealmente, o<br />
tratamento nutricional deveria melhorar estas aversões<br />
a alimentos, por conta de seu conteúdo calórico ou<br />
“potencial engordativo”. Mas para isto, certamente o<br />
tempo de seguimento com terapia nutricional deve<br />
ser maior.<br />
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19.<br />
211
212<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Teores de colesterol e lipídeos totais em<br />
maçunin (Anomalocardia brasiliana)<br />
cru e cozido<br />
Levels of cholesterol and total lipids in maçunin<br />
(Anomalocardia brasiliana) raw and cooked<br />
Giselda Macena Lira * , Antônio Euzébio de Goulart Sant¢ana ** , Daniela Cristina de Souza Araújo *** , Fabiana<br />
Rodrigues de Oliveira *** , Maria de Lourdes da Silva Neta****<br />
*Professora Adjunto do Departamento de Nutrição – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal de Alagoas. Doutora em Ciência<br />
de Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas, USP, São Paulo, ** Professor Adjunto do Departamento de Química – Centro de<br />
Ciências Exatas e Naturais – Universidade Federal de Alagoas. Doutor em Química Orgânica pelo Departamento de Química da<br />
Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Doutorado pelo Departament of Chemistry do Queen Mary University of London, *** Bolsistas<br />
de Iniciação Científica PIBIC/CNPq/UFAL, Curso de Nutrição, ****Estagiária Curso de Nutrição UFAL<br />
Resumo<br />
O conhecimento dos teores de colesterol e lipídeos totais nos alimentos é fundamental para uma orientação dietética<br />
que atenda a recomendação do “National Cholesterol Education Program”. O maçunin (Anomalocardia brasiliana) é um molusco<br />
amplamente consumido em Maceió, porém inexistem dados sobre estes componentes. No presente trabalho foram<br />
determinados os teores de colesterol e lipídeos totais em maçunin cru e cozido. Analizaram-se 20 amostras “in natura” e 20<br />
cozidas, oriundas do mesmo lote, em base seca e úmida. Os resultados obtidos para lipídeos e colesterol, em base seca,<br />
apresentaram redução após o cozimento e os teores de colesterol estão acima da recomendação do NEP. A variabilidade<br />
entre os valores de colesterol obtidos atribui-se às variações sazonais e características da própria espécie.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Colesterol, lipídeos, moluscos, frutos do mar.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Alagoas – FAPEAL, Processo n° 2002.02.005-05<br />
Artigo recebido em 15 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Giselda Macena Lira, Universidade Federal de Alagoas, Centro de Ciências da Saúde,<br />
Departamento de Nutrição, Tabuleiro do Martins - BR 101, km 14, 57072-900 Maceió AL, Tel: (82) 214-1158,<br />
E-mail: gmlira@.ofm.com.br.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Abstract<br />
The knowledge of cholesterol and lipids levels in the food is fundamental for diet orientation under the recommendation<br />
of the National Cholesterol Education Program. In Maceió, northeast of Brazil, one of the most important foods is the<br />
mollusk maçunin (Anomalocardia brasiliana), however no data about its nutritional components is available. The present<br />
work reports the determination of the level of cholesterol and total lipids in maçunin raw and cooked. Twenty samples raw<br />
and twenty samples after decoction from the same batch, on dry and humid basis, were analysed. Lipid and cholesterol<br />
levels when measured, on dry basis, for the samples “in natura” and cooked ones, suffered losses on cooking. Values of<br />
cholesterol are higher than recommendation of the NEP. The variability of detected cholesterol values could be attributed<br />
to seasonality and characteristics of the species.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Cholesterol, lipids, mollusks, seafood.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Introdução<br />
Os lipídeos exercem funções estruturais,<br />
energéticas, coenzimáticas e hormonais nos seres<br />
vivos. O colesterol representa um lipídeo muito<br />
importante na alimentação, se diferencia dos<br />
triglicerídeos por não apresentar ácidos graxos e ser<br />
insaponificável; constitui o mais importante e<br />
abundante dos esteróides, desempenha funções<br />
estruturais e funcionais nas membranas celulares.<br />
É o precursor de substâncias de importância<br />
vital, como a vitamina D, os sais biliares, os estrógenos,<br />
a aldosterona, o cortisol, entre outras [1]. Os alimentos<br />
de origem animal são as principais fontes de colesterol<br />
na dieta. A maior parte do colesterol encontrado no<br />
sangue e nos tecidos é de origem endógena, sintetizado<br />
no próprio organismo. Os elevados índices de<br />
colesterol no sangue são altamente relacionados com<br />
o aumento da incidência de acidentes vasculares.<br />
Apesar do aumento do nível de colesterol sérico sofrer<br />
influência de uma série de fatores (estresse,<br />
hipertensão, tabagismo, sedentarismo e fatores<br />
genéticos), o consumo moderado do mesmo deve ser<br />
praticado [2].<br />
A dieta, ainda que haja alguma controvérsia [3],<br />
tem assumido um papel primordial na medida em que<br />
o alto teor de colesterol, o baixo consumo de fibra<br />
alimentar, a alta proporção de calorias lipídicas e ácidos<br />
graxos saturados, têm sido associados com o aumento<br />
da colesterolemia [4,5]. Por outro lado, a redução da<br />
colesterolemia, mesmo que pequena, parece ser<br />
eficiente na diminuição dos índices de mortalidade<br />
por doenças cardiovasculares [6].<br />
No Brasil, as mortes por doenças<br />
cardiovasculares contribuem significativamente como<br />
causa de morte em todas as regiões [7,8]. É necessário<br />
avaliar o perfil lipídico das dietas e a sua relação com<br />
os níveis de colesterol do sangue, uma vez que o<br />
colesterol dietético contribui aproximadamente com<br />
15% na formação do colesterol endógeno [9] e que,<br />
principalmente a intervenção educativa precoce, pode<br />
contribuir para um melhor estado de saúde.<br />
O maçunin é um molusco bivalve amplamente<br />
consumido em Maceió, estando ligado a própria<br />
história da cultura alagoana e enraizado nos hábitos<br />
alimentares da região [10]. No entanto, inexistem<br />
dados na literatura sobre os seus teores de lipídeos<br />
totais e colesterol. O tipo de processamento, mesmo<br />
caseiro, pode alterar o conteúdo e valor nutritivo dos<br />
alimentos, tornando-se importante o conhecimento<br />
destas alterações [11]. Como os hábitos alimentares<br />
contribuem para a etiologia das morbidades<br />
anteriormente citadas, o conhecimento dos teores<br />
destes componentes no maçunin é fundamental para<br />
uma adequada orientação dietética. Recentemente,<br />
avaliamos estes teores no molusco sururu (Mytella<br />
falcata), [12]. Nesta oportunidade, estamos relatando<br />
os níveis destes constituintes no maçunin cru e<br />
cozido.<br />
Material e métodos<br />
Material<br />
Maçunin (Anomalocardia brasiliana), parte<br />
comestível, procedente da Lagoa Mundaú, Maceió-<br />
AL (outubro de 2001 a maio de 2002). Adquiriramse<br />
20 amostras, pesando cerca de 500g que foram<br />
divididas em 2 porções de 250g. Os moluscos crus<br />
constituíram o grupo I e os produtos após cocção<br />
em água à 100° C por 20 minutos corresponderam<br />
ao grupo II, ambos oriundos do mesmo lote. As<br />
amostras foram conduzidas aos Laboratórios de<br />
213
214<br />
Bromatologia, do Departamento de Nutrição e<br />
Laboratório de Produtos Naturais do Departamento<br />
de Química, ambos da Universidade Federal de<br />
Alagoas, onde as análises foram realizadas.<br />
Métodos<br />
Em amostras dos grupos I e II, após<br />
homogeneização, realizaram-se as seguintes<br />
determinações em triplicata:<br />
Lipídeos totais – Utilizando 2 extrações com<br />
clorofórmio:metanol (2:1), lavagem do resíduo<br />
(clorofórmio:metanol 2:1), adição de KCl 0,88% em<br />
H 2 O, separação das fases, adição de metanol H 2 O (1:1),<br />
evaporação do clorofórmio em rota-evaporador,<br />
fração lipídica ressuspendida em clorofórmio [13].<br />
Alíquotas foram tomadas para determinações<br />
gravimétricas.<br />
Colesterol – Uma alíquota de 5 ml do extrato<br />
lipídico foi tomada para análise, através de<br />
saponificação, extração da matéria insaponificável,<br />
reação de cor, leitura da absorvância em<br />
espectrofotômetro a 490 nm, contra um branco. As<br />
observações obtidas foram comparadas às da curva<br />
padrão utilizada [14,15].<br />
Umidade – Determinada pela perda de peso em<br />
estufa regulada a 105 0 C [16].<br />
Resultados e discussão<br />
Na tabela I, são visualizados os resultados<br />
obtidos para umidade, lipídeos e colesterol em<br />
maçunin cru e cozido. Ao compararmos os resultados<br />
obtidos em base seca, utilizada para eliminar a<br />
influência da umidade, podemos observar que o<br />
cozimento levou a uma redução nos teores de lipídeos<br />
e colesterol.<br />
Com relação aos teores de lipídeos, ao se<br />
comparar os valores encontrados com dados de outras<br />
pesquisas, encontramos algumas semelhanças, bem<br />
como níveis discrepantes. Gordon [17], obteve níveis<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
de 1,8% para mexilhões frescos e cerca de 2,5 a 3,9%<br />
para ostras frescas analisadas durante 1 ano. Masson<br />
et al. [18], encontraram 2,3% de lipídeos para ostras<br />
(Ostrea chilensis) e 4,9% para gônadas de ouriço-domar<br />
(Loxechinus albus). Bragagnolo [19], encontrou teor<br />
médio de lipídeos de 1%, variando de 0,8 a 1,1% em<br />
camarão rosa “in natura” (Penaeus brasiliensis). Moura e<br />
Tenuta Filho [20], encontraram níveis de 1,13 e 1,33%<br />
para camarão rosa (Penaeus brasiliensis e Penaeus paulensis)<br />
“in natura” e cozido, respectivamente. Krzeczkowski<br />
[21], obteve 2,8 a 3,0 % de lipídeos totais, quando<br />
todo o camarão “in natura” (Pandalus borealis) foi<br />
analisado, e 1,2 a 1,5% quando apenas a carne foi<br />
analisada. Franco [22], registrou teores de lipídeos para<br />
camarão “in natura”, cozido e ostra de 1,8 , 0,8 e 2,0%<br />
, respectivamente. Lira et al. [12], encontraram níveis<br />
de 2,9 e 3,6% para o molusco sururu (Mytella falcata)<br />
cru e cozido.<br />
A redução nas concentrações de colesterol pode<br />
estar relacionada com a sua oxidação e,<br />
conseqüentemente, formação de óxidos, e/ou com a<br />
sua degradação térmica [20]. O colesterol encontrase<br />
no alimento intimamente associado a outros lípides.<br />
A oxidação desses lípides pode levar à oxidação do<br />
colesterol, principalmente se estiverem presentes<br />
ácidos graxos poliinsaturados, que são mais facilmente<br />
oxidáveis [23,24].<br />
Observou-se a influência do período de coleta<br />
nos resultados analíticos de colesterol, evidenciada<br />
através do elevado desvio-padrão obtido. Os níveis<br />
de colesterol no maçunin variaram de 206,5 mg/100g<br />
a 557,21 mg/100g nas amostras cruas e entre 212,18<br />
mg/100g e 553,25 mg/100g nas cozidas. A<br />
variabilidade entre os resultados pode ser atribuída a<br />
variações sazonais e características da própria espécie.<br />
Leonel et al. [25], demonstraram os efeitos da<br />
variação da salinidade sobre duas espécies de bivalves<br />
comestíveis do gênero Mytella. Durante o inverno ocorre<br />
redução da salinidade, a qual influencia diretamente a<br />
reprodução dos organismos aquáticos [26]. Correia [27],<br />
constatou uma relação direta entre a redução da fixação<br />
do sururu com a diminuição da salinidade, durante os<br />
meses de inverno (período de chuvas).<br />
Como os moluscos não são livres para migrar,<br />
estão à mercê dos alimentos que os rodeiam e o<br />
conteúdo de gordura, colesterol e composição de<br />
Tabela I. Teores de umidade, lipídeos e colesterol em maçunin cru e cozido.<br />
Maçunin Amostras(nº) Umidade(%) Lipídeos (%) Colesterol (mg/100g)<br />
base úmida base seca *base úmida base seca *<br />
Cru 20 75,72 (± 1,91) 2,5 (± 0,01) 10,29 (± 3,91) 371,59 (± 81,66) 1.530,43(± 382,18)<br />
Cozido 20 71,4 (± 1,83) 2,5 (± 0,01) 8,75 (± 5,39) 382,26 (± 56,00) 1.351,50(± 251,45)<br />
Média de amostras analisadas em triplicata, com desvio-padrão entre parênteses.<br />
* Obtida através de cálculos
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
ácidos graxos é marcadamente dependente da estação<br />
do ano [28]. Gordon [17], encontrou variações nos<br />
níveis de colesterol em ostras examinadas por um<br />
período de 9 meses, os menores níveis foram<br />
encontrados em amostras coletadas em fevereiro. Lira<br />
et al. [12], constataram variabilidade entre os níveis de<br />
colesterol em sururu, analisados durante 9 meses. A<br />
influência da sazonalidade também foi detectada por<br />
Miranda e Santos [29], na composição de mariscos<br />
procedentes da Baía de Todos os Santos.<br />
Na tabela II, são apresentados valores de<br />
colesterol citados na literatura para outros frutos do<br />
mar, podendo-se verificar que, com exceção do<br />
molusco sururu (Mytella falcata) onde verificou-se<br />
similaridade, os resultados obtidos no presente estudo<br />
foram mais elevados e, também, estão acima dos<br />
limites recomendados pelo National Cholesterol<br />
Education Program (NEP-1989) [30], que estabelece um<br />
consumo máximo de 300mg/dia de colesterol; no<br />
entanto, nos moluscos são encontrados outros esteróis<br />
além do colesterol [31,32,17,18]. Pode-se inferir que<br />
valores menores provavelmente poderiam ser obtidos<br />
através da utilização do método de cromatografia<br />
líquida de alta eficiência (HPLC), por ser mais preciso<br />
e exato, visto sua capacidade de separar o colesterol<br />
dos outros esteróis.<br />
É importante salientar que frutos do mar<br />
apresentam altos teores de colesterol, no entanto são<br />
ricos em ácidos graxos poliinsaturados, principalmente<br />
da série ômega-3, os quais apresentam efeito anticolesterolêmico<br />
[33,34,35]. A ênfase atual em nutrição<br />
humana é no sentido de uma ingestão reduzida de<br />
gorduras e ácidos graxos saturados, assim como uma<br />
ingestão moderada de ácidos graxos “w-3” – aqueles<br />
com dupla ligação inicial no terceiro carbono contado<br />
a partir do grupo metila –, os principais representantes<br />
deste grupo são os ácidos eicosapentanóico (EPA) e<br />
o docosahexaenóico (DHA). Estas substâncias<br />
apresentam propriedades que podem retardar o<br />
processo de agregação das plaquetas, prorrogando,<br />
assim, o tempo de coagulação sangüínea e,<br />
conseqüentemente, dificultando a formação de<br />
trombos na circulação [36].<br />
Conclusão<br />
Com base nos resultados obtidos, as seguintes<br />
conclusões podem ser apresentadas: O cozimento, nas<br />
condições empregadas neste estudo, levou a uma<br />
redução nos teores de lipídeos e colesterol; Os teores<br />
de colesterol em maçunin crus e cozidos ultrapassam<br />
os limites recomendados pelo NEP; Finalizando,<br />
pode-se concluir que os resultados encontrados<br />
fornecem informações relevantes aos profissionais da<br />
área de saúde, permitindo a elaboração de dietas que<br />
não ultrapassem os limites recomendados, além de<br />
poder servir de subsídios para a inclusão em tabelas<br />
de composição química de alimentos regionais/<br />
nacionais e à rotulagem nutricional.<br />
Tabela II - Teores de colesterol em frutos do mar “in natura” e cozidos encontrados na literatura.<br />
PARÂMETROS REFERÊNCIA AMOSTRA COLESTEROL (mg/100g)<br />
“In natura” Okey, 1945 [37] Ostra 230-470<br />
Kritchevsky et al., 1967 [31] Ostra 150,0<br />
Camarão 200,0<br />
Lagosta 170,0<br />
Caranguejo 140,0<br />
Johnston et al. , 1983 [38] Camarão (P. azteus) 201,0<br />
Masson et al., 1990 [18] Ostras (Ostrea chilensis) 60,8<br />
Franco, 1992 [22] Camarão fresco 124,0<br />
Ostra 230,0<br />
Mexilhão cru 214,0<br />
Lagosta crua 145,0<br />
Bragagnolo, 1997 [19] Camarão rosa (P. brasiliensis) 127,0<br />
Barni et al., 2001 [39] Escargot (Helix aspersa maxima) 116,45<br />
Miranda et al., 2002 [29] Ostra (Ostrea crassostrea) 267,00<br />
Lira et al. , 2002 [12] Sururu (Mytella falcata) 358,27<br />
Cozida Saldanha et al., 2001[40] Escargot (Achatina fulica) 41,98<br />
Franco, 1992 [22] Lagosta cozida 134,0<br />
Mexilhão cozido 108,0<br />
Camarão cozido 128,9<br />
Camarão enlatado 160,5<br />
Lira et al., 2002 [12] Sururu cozido 374,02<br />
215
216<br />
Agradecimentos<br />
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado<br />
de Alagoas (FAPEAL) pelo auxílio financeiro<br />
(Processo n° 2002.02.005-05), ao Conselho Nacional<br />
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)<br />
pelas Bolsas de Iniciação Científica.<br />
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217
218<br />
ARTIGO ORIGINAL<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
A influência do horário de trabalho<br />
no consumo alimentar<br />
de trabalhadores em turnos<br />
Impact of working time on food consumption<br />
Iara Cecília Pasqua*, Cláudia Roberta de Castro Moreno **<br />
*Nutricionista, Mestranda do Departamento de Saúde Ambiental, Setor de Saúde do Trabalhador, Faculdade de Saúde Pública,<br />
Universidade de São Paulo, **Bióloga, Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo.<br />
Pesquisadora do Departamento de Psicobiologia, Escola Paulista de Medicina, Unifesp<br />
Resumo<br />
Horários de trabalho podem determinar a distribuição do consumo calórico de trabalhadores devido a alterações dos<br />
horários das refeições. Estas, por sua vez, quando realizadas em horários não usuais podem levar a distúrbios gastrintestinais.<br />
O objetivo deste trabalho foi verificar a distribuição, ao longo de 24 horas, do consumo alimentar de 3 grupos de trabalhadores<br />
em turnos fixos no trabalho e na folga. Os resultados mostraram que a distribuição das calorias ao longo das 24 horas, varia<br />
em função do turno, sendo que os trabalhadores do turno noturno apresentaram um consumo excessivo de calorias durante<br />
à noite . Esse resultado evidencia a necessidade de dietas adequadas aos horários de trabalho.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave:Trabalho em turnos, trabalhador noturno, consumo alimentar<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
Working time may influence the distribution of worker’s caloric consumption. There is increasing the evidence of<br />
health disorders, mainly digestive, as a reflect of unusual meal time. The main objective of the present study was to verify the<br />
distribution of food consumption among shiftworkers throughout 24 hours. The results showed that the caloric distribution<br />
is related to each shift. Night workers showed an excessive caloric consumption during night time. Changing meal time and/<br />
or diet may be a countermeasure to prevent digestive disorders among shiftworkers.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Shiftwork, night worker, food consumption.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 15 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Iara Cecília Pasqua, Rua Apeninos, 539/52 Paraíso, 01533-000 São Paulo SP, Tel:<br />
(11) 3262 1502/9213 5110, E-mail: ipasqua@usp.br
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Introdução<br />
Distribuição do consumo alimentar de<br />
trabalhadores em turnos ao longo de 24 horas<br />
A existência de ritmos biológicos na ingestão<br />
alimentar de alguns mamíferos já foi verificada por<br />
vários pesquisadores [1,2,3,4,5,6]. O consumo<br />
alimentar parece ser influenciado pela hora do dia,<br />
pelo dia da semana e pelo mês do ano [7].<br />
Para Costa [8], o horário das refeições é um<br />
importante sincronizador da vida humana do ponto<br />
de vista fisiológico e social, e representa ponto crucial<br />
na vida de trabalhadores em turnos 1 . Há turnos fixos<br />
e alternantes com escalas de trabalho préestabelecidas<br />
e existe, ainda, os que trabalham em<br />
horários irregulares. Tepas [10], sugere que<br />
trabalhadores em turnos apresentam algumas<br />
diferenças no hábito alimentar em relação aos<br />
trabalhadores diurnos. Os trabalhadores em turnos<br />
fazem, no mínimo, uma das duas refeições principais<br />
durante o trabalho e, freqüentemente, essas refeições<br />
consistem de pequenos lanches e nem sempre são<br />
de boa qualidade [8].<br />
Estudando trabalhadores em turnos irregulares<br />
e trabalhadores em turno fixo-diurno, Moreno et al.<br />
[11] não encontraram diferenças estatisticamente<br />
significantes entre o consumo alimentar desses grupos.<br />
No entanto, comparando-se o consumo alimentar de<br />
trabalhadores dos turnos matutino, vespertino e<br />
noturno, Assis [12] observou que a ingestão calórica<br />
média, estimada para 24 horas, foi maior para os<br />
trabalhadores do turno noturno em relação aos<br />
trabalhadores dos outros turnos. Romon-Rousseaux<br />
et al.[13], encontraram uma alta ingestão calórica por<br />
trabalhadores em turnos alternantes, principalmente<br />
durante o dia de fola e durante o turno vespertino.<br />
Segundo Tepas [10], trabalhadores em turnos<br />
diferem, não somente em relação ao valor calórico<br />
total, como também no horário e número de refeições.<br />
Assis [12] também observou que os trabalhadores do<br />
turno matutino consumiam, significativamente,<br />
refeições e lanches de maior valor calórico no período<br />
da manhã do que trabalhadores em turnos vespertino<br />
e noturno. Os trabalhadores do turno noturno<br />
apresentaram um consumo calórico, fornecido<br />
pelos carboidratos, significativamente maior no<br />
período da tarde em relação aos trabalhadores dos<br />
outros turnos. Além disso, esses trabalhadores do<br />
turno noturno faziam refeições e lanches de maior<br />
teor calórico, com uma maior ingestão de gorduras<br />
e carboidratos, durante à noite, quando comparados<br />
aos outros grupos.<br />
A possível associação do trabalho em turnos e<br />
doenças cardiovasculares ainda está sendo discutida,<br />
porém um dos fatores que pode levar ao aparecimento<br />
dessas doenças são os distúrbios alimentares, como<br />
colesterol sérico e glicemia em níveis alterados, comuns<br />
em trabalhadores em turnos, principalmente em<br />
trabalhadores do turno noturno [8]. Segundo Geliebter<br />
et al. [14], há evidências de que os trabalhadores em<br />
turnos alternantes apresentam altos níveis séricos de<br />
triglicérides e é alta a incidência de doenças coronárias<br />
entre estes trabalhadores. Da mesma forma, são<br />
poucos os estudos que verificaram o efeito do horário<br />
de trabalho na quantidade de calorias consumidas por<br />
trabalhadores em turnos [13], e a nutrição é uma das<br />
áreas mais importantes para a saúde e o bem-estar da<br />
população [15]. Além disso, dietas adequadas poderiam<br />
ser usadas para promover a adaptação ao trabalho em<br />
turnos [10].<br />
Como pôde ser observado, vários estudos<br />
sugerem que há uma variação do consumo alimentar<br />
ao longo das 24 horas em humanos. Além disso, de<br />
acordo com a literatura, há uma variação ao longo das<br />
24 horas do consumo alimentar, quando se compara<br />
trabalhadores submetidos a turnos fixo-diurnos e<br />
trabalhadores noturnos ou com esquema de trabalho<br />
em turnos. A investigação destas evidências pode ser<br />
de grande importância, já que muitos trabalhadores<br />
fazem suas refeições no local de trabalho. O<br />
oferecimento de uma dieta equilibrada, além de<br />
orientações sobre o consumo alimentar, poderia<br />
contribuir para um adequado fracionamento da dieta<br />
e, conseqüentemente, para a prevenção de ganho<br />
desnecessário de massa corporal e de desenvolvimento<br />
de doenças cardiovasculares.<br />
Objetivos<br />
O objetivo deste trabalho foi verificar a<br />
distribuição do consumo alimentar ao longo de 24<br />
horas, de 3 grupos de trabalhadores em turnos fixos<br />
no trabalho e na folga.<br />
Metodologia<br />
Amostra<br />
No presente estudo foram estudados<br />
trabalhadores do sexo masculino do departamento de<br />
manutenção de uma companhia de transportes do<br />
estado de São Paulo. Estes trabalhadores estão em<br />
1 O trabalho em turnos caracteriza-se pela não interrupção da produção devido à saída do trabalhador do seu posto de trabalho ao término de uma jornada diária,<br />
pois outro ocupará seu lugar [9].<br />
219
220<br />
turnos fixos que podem ser das 7:00 às 15:30 horas<br />
(turno matutino), 15:15 às 23:15 horas (turno<br />
vespertino) ou 23:00 às 7:30 (turno noturno).<br />
O departamento de manutenção desta<br />
empresa conta com cerca de 65 funcionários no<br />
turno matutino, 62 no turno vespertino e 62 no<br />
turno noturno, todos do sexo masculino.<br />
A tarefa consiste em consertos e reparos de<br />
equipamentos envolvendo atividades que variam<br />
quanto ao equipamento a ser reparado e local, pois<br />
eles podem trabalhar tanto em locais exteriores<br />
quanto no interior da empresa. Geralmente, os<br />
funcionários ficam de plantão em 8 bases e saem<br />
para a realização de tarefas à medida que são<br />
solicitados.<br />
A coleta de dados foi realizada nessas bases e<br />
a data e horário estabelecidos com antecedência<br />
pelos supervisores. Uma das exigências da empresa<br />
é de que a coleta fosse realizada durante a troca de<br />
turnos, para evitar atrasos no trabalho dos<br />
funcionários. Não houve sorteio para a escolha dos<br />
entrevistados. Todos os funcionários foram<br />
convidados a participar. 55 trabalhadores (17 do<br />
turno matutino, 22 do turno vespertino e 16 do<br />
turno noturno) preencheram os instrumentos de<br />
coleta dos dados de consumo alimentar, durante<br />
um dia de trabalho e destes, 52 trabalhadores (15<br />
do turno matutino, 21 do turno vespertino e 16 do<br />
turno noturno) preencheram os mesmos<br />
instrumentos relatando o consumo num dia de<br />
folga.<br />
Variação ao longo das 24 horas do consumo<br />
alimentar – Diário alimentar<br />
Foi usado o Diário Alimentar de 3 dias (2 dias<br />
de trabalho e 1 de folga) para avaliar o consumo<br />
alimentar dos trabalhadores estudados. As<br />
informações necessárias para o preenchimento<br />
foram dadas aos trabalhadores no momento da<br />
entrega do Diário Alimentar, que foi recolhido cerca<br />
de 10 dias após sua entrega. A análise da<br />
composição nutricional da dieta foi realizada através<br />
do Programa de Composição<br />
Nutricional Vitual Nutri [16].<br />
Como os trabalhadores<br />
não faziam refeições no<br />
mesmo horário, foram<br />
estabelecidas faixas de horários<br />
para avaliar o valor calórico de<br />
refeições realizadas em vários<br />
momentos do dia, permitindo<br />
a análise do consumo alimentar<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
durante as 24 horas. As faixas de horário<br />
estabelecidas foram: entre 00:00 e 04:59 h; entre<br />
05:00 e 09:59 h; entre 10:00 e 14:59 h; entre 15:00 e<br />
19:59 h e entre 20:00 e 24:59 h.<br />
Análises dos dados<br />
No presente estudo apresenta-se as análises<br />
descritivas do consumo alimentar dos trabalhadores<br />
estudados.<br />
Resultados<br />
Consumo alimentar e distribuição do valor<br />
calórico total (VCT) ao longo de 24 horas<br />
A análise da dieta dos trabalhadores em turnos<br />
revelou que eles consomem, em média, 2.470 calorias<br />
em um dia de folga e 2394 calorias em um dia de<br />
trabalho, como pode ser observado na tabela I.<br />
No entanto, a análise da distribuição ao longo<br />
das 24 horas das calorias consumidas pelos<br />
trabalhadores do turno noturno, mostrou que nos<br />
dias de trabalho eles consumiam 22% das calorias<br />
consumidas nas 24 horas entre 0 e 4:59 h, enquanto<br />
que os trabalhadores dos turnos vespertino<br />
consumiam 3% das calorias deste horário. Já os<br />
trabalhadores matutinos não faziam refeições neste<br />
horário (figura 1).<br />
Entre 5 e 9:59 h, os trabalhadores matutinos<br />
consumiam 23% das calorias consumidas num dia<br />
inteiro de trabalho. Neste mesmo horário, os<br />
trabalhadores do turno vespertino consumiam 11% e<br />
os trabalhadores do turno noturno 20% das calorias<br />
consumidas em 24 horas (figura 1).<br />
Na figura 1 pode-se observar, também, que entre<br />
10 e 14:59 h, os trabalhadores do turno matutino e<br />
vespertino consumiam, respectivamente, 34 e 35% das<br />
calorias consumidas em um dia inteiro de trabalho.<br />
As refeições realizadas pelos trabalhadores do turno<br />
Tabela I - Valor calórico total (VCT) da dieta dos trabalhadores segundo turno<br />
de trabalho e dia de folga ou trabalho.<br />
Folga Trabalho<br />
Turnos média n dp média n dp<br />
(calorias) (calorias) (calorias) (calorias)<br />
Matutino 2251 15 737 2365 17 654<br />
Vespertino 2721 21 1321 2343 22 693<br />
Noturno 2345 16 1161 2494 16 769<br />
Todos 2470 52 1129 2394 55 694
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Fig. 1 - Distribuição das calorias consumidas pelos<br />
trabalhadores em um dia de trabalho segundo<br />
turno de trabalho<br />
noturno, neste horário, forneciam 21% das calorias<br />
consumidas em 24 horas.<br />
Assim, como nos dias de trabalho, nos dias de<br />
folga os trabalhadores do turno matutino não faziam<br />
refeições entre 0 e 4:59 h. Os trabalhadores do turno<br />
vespertino consumiam 1% das calorias neste horário.<br />
Já os trabalhadores em turnos consumiam 13% das<br />
calorias consumidas em 24 horas entre 0 e 4:59 h,<br />
como pode ser observado na figura 2.<br />
Os resultados mostram também que entre 5 e<br />
10:59 h, os trabalhadores dos turnos matutino,<br />
vespertino e noturnos consumiam, respectivamente,<br />
14, 10 e 8% das calorias de um dia inteiro de folga<br />
(figura 2).<br />
A figura 2 mostra, ainda, que entre 20 e 23:59 h,<br />
os trabalhadores do turno matutino consumiam 28%<br />
das calorias totais. Os trabalhadores do turno<br />
vespertino e noturno tinham refeições, neste horário,<br />
que forneciam 32 e 31%, respectivamente, das calorias<br />
consumidas em um dia inteiro de folga.<br />
Discussão<br />
Os trabalhadores noturnos não apresentaram<br />
VCT maior do que os trabalhadores de outros grupos,<br />
ao contrário dos resultados encontrados por Assis [12].<br />
Porém, o presente resultado sugere que existe a<br />
influência do horário de trabalho na distribuição ao<br />
longo das 24 horas do consumo alimentar,<br />
corroborando o estudo de Tepas [10]. Isso fica<br />
evidente ao observar-se que os trabalhadores noturnos<br />
apresentaram, durante à noite, um consumo calórico<br />
mais elevado do que os trabalhadores dos outros<br />
Fig. 2 - Distribuição das calorias consumidas pelos<br />
trabalhadores em um dia de folga segundo turno<br />
de trabalho<br />
grupos. Este resultado corrobora a hipótese de<br />
Reinberg [1], de que os trabalhadores noturnos<br />
geralmente apresentam o hábito de beliscar durante o<br />
turno, enquanto os trabalhadores matutinos e<br />
vespertinos, provavelmente, dormem neste horário.<br />
Mas segundo Reinberg [1], o comportamento de<br />
beliscar poderia aumentar o VCT da dieta dos<br />
trabalhadores noturnos, o que não aconteceu com os<br />
trabalhadores noturnos aqui estudados. Além disso, a<br />
dificuldade de acesso a restaurantes que forneçam<br />
alimentação equilibrada, pode levar os trabalhadores<br />
deste horário de trabalho a realizarem lanches mais<br />
calóricos. Essa é uma das hipóteses sugeridas por<br />
Costa [8], para explicar o alto consumo de calorias<br />
por trabalhadores noturnos durante à noite.<br />
Embora não tenham apresentado VCT mais<br />
elevado do que os trabalhadores dos outros grupos,<br />
os trabalhadores noturnos do atual estudo merecem<br />
atenção pelo fato de fazerem refeições em horários<br />
não usuais, o que pode causar, segundo Cipolla-Neto<br />
et al [17], distúrbios que se caracterizam, entre outros<br />
sintomas, por distúrbios gastrintestinais e astenia e/<br />
ou sensação de fome em horários não adequados.<br />
Conclusão<br />
Os trabalhadores do turno noturno demandam<br />
maior atenção, por realizarem refeições em horários<br />
não adequados, o que poderia ser a causa do excesso<br />
de peso que está associado a doenças nãotransmissíveis<br />
(ou crônico-degenerativas), como<br />
diabetes, hipertensão arterial e doenças<br />
cardiovasculares.<br />
221
222<br />
Estudos sobre a alimentação ideal para<br />
trabalhadores em turnos são de grande importância<br />
para a prevenção de doenças relacionadas à<br />
alimentação, já que vem crescendo cada vez mais o<br />
número de pessoas que trabalham em horários nãousuais.<br />
A continuidade deste estudo pode levar à<br />
informações de dietas e padrões alimentares<br />
adequados para esta população.<br />
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15. Leal MC, Bittencourt AS. Informações nutricionais: o<br />
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16. Phillippi ST, Szarfarc SC, Laterzza AR. Virtual Nutri<br />
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São Paulo: Departamento de Nutrição FSP-USP; 1996.<br />
17. Cippola-Neto J, Menna-Barreto L, Marques N, Afeche<br />
SC, Silva AAB. Cronobiologia do ciclo vigília-sono. In:<br />
Reimão R. Sono: Estudo abrangente. 2 a ed. São Paulo:<br />
Atheneu 1995:50-87.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
REVISÃO<br />
Aleitamento materno e desmame - aspectos<br />
históricos e perspectivas futuras<br />
Breast feeding and weaning – historical aspects<br />
and future perspectives<br />
Mônica Glória Neumann Spinelli *, Sônia Buongermino de Souza**<br />
*Mestre e Doutoranda em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública da USP, professora assistente da Universidade de Mogi das Cruzes e<br />
da Universidade Metodista de São Paulo, **Professora Doutora do Departamento de Nutrição da Faculdade<br />
de Saúde Pública da USP, São Paulo<br />
Resumo<br />
O artigo faz uma abordagem em seqüência cronológica de aspectos históricos do aleitamento materno e do período de<br />
desmame, e enfoca perspectivas futuras da alimentação infantil nessa fase de transição para a alimentação do adulto.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Palavras-chave: Aleitamento materno, desmame, história da alimentação infantil.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Abstract<br />
The paper carries out a cronological review of the breastfeeding and weaning and an approach to future perspectives<br />
in infant nutrition in this time of transition into adult food.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○<br />
Key-words: Brastfeeding, weaning, infant nutrition history.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Artigo recebido em 10 de outubro; aprovado em 15 de outubro de 2002<br />
Endereço para correspondência: Mônica G. N. Spinelli, Rua dos Ingleses 222/162, Bela Vista 01329-000 São Paulo<br />
SP. Tel:: (11) 288-4162, Fax: (11) 3258-5074, E-mail: spinelli@usp.br<br />
223
224<br />
Em todas as épocas houve a preocupação com<br />
a alimentação da criança recém-nascida, como pode<br />
ser atestado em diversos documentos e pesquisas<br />
históricas.<br />
Apesar da recomendação do aleitamento<br />
materno ser proposta como um dos princípios da<br />
nutrição em diversas religiões, além de ser uma tradição<br />
das civilizações mais antigas, há evidências de que<br />
sempre houve mães que não amamentaram seus filhos,<br />
como descrito na legislação feita por Hamurabi, sexto<br />
rei da primeira dinastia da Babilônia (1793-1759 a.C.),<br />
onde era possível encontrar orientações sobre formas<br />
de redigir um contrato com amas de leite [1,2]. A<br />
substituição por amas de leite, tanto pela<br />
impossibilidade ou falta de interesse da mãe em<br />
amamentar, quanto pela morbi-mortalidade durante<br />
o parto ou puerpério, foi uma das soluções mais<br />
utilizadas por vários séculos.<br />
Da época do Egito (888 a.C.), encontraram-se<br />
desenhos em ruínas, mostrando a utilização de<br />
mamadeiras na alimentação das crianças [3] e da Grécia<br />
clássica, encontraram-se nos túmulos, um grande<br />
número de crianças enterradas junto com suas<br />
mamadeiras, apesar de ser generalizado, nessa época,<br />
o uso de amas de leite. A Roma antiga seguia os<br />
costumes gregos do final desse período [4] e um dos<br />
mais conceituados médicos dessa época, Soranus,<br />
proveniente de Éfeso, que lá se estabeleceu durante o<br />
primeiro século, prescrevia alimentos que deveriam<br />
ser utilizados como suplemento ao aleitamento<br />
materno, tais como migalhas de pão amolecidas com<br />
mel e amassadas, sopa feita com farinha triturada e<br />
fervida, papa de arroz aguado e mole, além de ovos<br />
cozidos moles. Recomendava, ainda, que não fosse<br />
oferecido alimento a criança por dois dias após o<br />
nascimento e leite humano antes dos vinte dias, pois<br />
seria prejudicial pela sua espessura e difícil degustação<br />
[1,5]. Soranus criou o teste da unha, para verificar a<br />
qualidade do leite materno (uma gota do leite deveria<br />
ser colocada na unha e sua qualidade seria avaliada<br />
pela cor e consistência). Esse teste foi tão popular,<br />
que foi utilizado por aproximadamente 15 séculos [5].<br />
Médicos muçulmanos medievais, como Rhazes<br />
e Avicenna, aconselhavam que, dependendo da<br />
quantidade de leite de peito, primeiro fossem<br />
oferecidas à criança misturas parecidas ao leite e, mais<br />
tardiamente, alimentos sólidos. Avicenna<br />
recomendava, também, que a mãe mastigasse os<br />
alimentos antes de oferecê-los à criança. Essas<br />
recomendações, publicadas no livro Cânon da<br />
Medicina, traduzido para o latim, tiveram grande<br />
influência na Europa, perdurando por 15 séculos [5],<br />
sendo utilizadas até hoje, em sociedades primitivas.<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Na Bíblia, encontra-se o relato de Isaias (7:15) referente<br />
a alimentos de desmame, quando revelado o<br />
nascimento de Cristo: “Ele comerá coalhada e mel”.<br />
Passada a primeira metade do século XV, a<br />
alimentação infantil, que pouca alteração havia sofrido<br />
até então, começa a ser tratada com uma conotação<br />
mais científica, passando a ser publicada em diferentes<br />
tratados de medicina. Como conduta, foi descrita pela<br />
primeira vez em 1472, no livro de Pietro Baggalardo<br />
– “The Aegritudinibus Infantum” [5] . Nessa mesma<br />
época, Bartholomaeus Metlinger (Alemanha 1450-<br />
1492) escreveu dois capítulos a respeito da nutrição<br />
do bebê e de crianças maiores. Seu livro, publicado<br />
em 1473, trata-se do texto pediátrico mais antigo<br />
conhecido e incluía conselhos, tais como, alimentar a<br />
criança somente com leite e papa até o nascimento<br />
do primeiro dente e, depois, com pão molhado no<br />
leite ou caldo de carne [3].<br />
As primeiras descrições de alimentos de<br />
desmame e como prepará-los surgiram entre 1500 e<br />
1800. Os dois alimentos de desmame mais populares<br />
na época eram as papas e mucilagens, que datam do<br />
século XV, sendo que as mucilagens surgiram um<br />
pouco antes das papas [5] .<br />
Na Inglaterra, Thomas Phaire, conhecido como<br />
o pai da pediatria inglesa (1510-1560), dedicou o<br />
primeiro capítulo de seu livro a nutrição do bebê [1].<br />
Na França, o primeiro livro de pediatria foi<br />
escrito por Simon de Valembert, em 1565, e descreve<br />
o uso do tubo de sugar. Esse utensílio em forma de<br />
cachimbo, feito de chifre, deveria ser usado por<br />
crianças acima de três meses de idade. Esse pediatra<br />
também se posicionou contra o sistema, instituído<br />
pelos médicos medievais, de alimentar as crianças com<br />
alimentos pré-mastigados pela pessoa que oferecia o<br />
alimento, afirmando que isso favorecia a transmissão<br />
de doenças parasitárias. Ele sugeria que se dessem<br />
frutas e vegetais mais precocemente e leite fervido<br />
com pão branco e gema de ovo aos três meses de<br />
idade [1,5]. Mercurialis, em seu livro escrito em 1583,<br />
recomendava que o aleitamento materno deveria<br />
continuar até os 2 ou 3 anos, e criticava o fato de<br />
certas mães darem papas após o terceiro mês e pararem<br />
de amamentar no décimo terceiro mês. John Peachy,<br />
que em 1697 publicou “General Treatise of Disease of<br />
Children”, recomendava introdução de alimentos<br />
sólidos entre os 18 e 24 meses. Até o século XVII, os<br />
alimentos mais comumente utilizados eram misturas<br />
de féculas, como mucilagens ou papas. Mucilagem era<br />
um alimento infantil feito de pão ou farinha fervida<br />
na água e raramente acrescida de leite. A papa era<br />
preparada com caldo ou leite, cereal, óleo ou manteiga<br />
e eventualmente de ovos. Algumas vezes essas misturas
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
eram acrescidas com vinho ou cerveja. Não se<br />
encontra até nessa época, nenhum registro de<br />
alimentação artificial de bebês [5].<br />
O uso na nutrição infantil de leite de animais<br />
foi, pela primeira vez, concebido na Itália.<br />
Provavelmente, a dificuldade de obtenção e utilização<br />
desse alimento, fortaleceu a crença de que<br />
características físicas eram transmitidas pelo leite. Ou<br />
seja, a criança adquiriria as feições do animal, cujo<br />
leite havia recebido. Num orfanato, aberto em Paris<br />
em 1689, utilizou-se leite de vaca como alimentação<br />
infantil, pois era de mais fácil obtenção [5].<br />
Conta a história, que Ana Stuart (1665-1714),<br />
rainha da Grã-Bretanha e da Irlanda, perdeu 18 filhos<br />
na infância de “alimentação com colher e ama de leite”.<br />
A grande mortalidade decorrente desse sistema, deviase,<br />
principalmente, aos poucos cuidados higiênicos<br />
aliados à inadequação da alimentação.<br />
Somente nos fins do século XVIII a mamadeira<br />
entrou formalmente para o uso na alimentação infantil.<br />
Em 1799, a química do leite foi tratada pela primeira<br />
vez, na quarta edição do livro de Underwood, “Treatise<br />
of the Diseases of Children”. Esse fato marcou o início<br />
do estudo científico da alimentação infantil [5].<br />
No século XVIII, juntamente com a alimentação<br />
artificial, teve início a ciência da estatística. A<br />
mortalidade infantil começou, então, a ser estudada<br />
em vários países e um grande número de mortes foi<br />
atribuída a alimentação com leite de animais [1].<br />
Underwood, em 1784, fez a primeira recomendação<br />
sobre o leite de vaca como alternativa para o leite<br />
humano [3].<br />
Podemos dizer que o século XVIII foi o<br />
período em que o aleitamento materno voltou a ser<br />
reconhecido e que o progresso na química orgânica<br />
também influenciou a nutrição [1]. Cadogan, entre<br />
outros, começou a encorajar o aleitamento materno,<br />
apesar de advogar um esquema alimentar de somente<br />
quatro mamadas diárias e proibir mamadas noturnas.<br />
Se posicionava, também, contra a crença existente,<br />
de que vegetais e frutas eram perigosos para crianças<br />
[1,3].<br />
No século XIX, quando a revolução industrial<br />
estava em curso, houve várias mudanças sociais<br />
relevantes em relação aos eventos nutricionais. Entre<br />
eles, o fato das mulheres entrarem no mercado<br />
profissional. Mães e, talvez de alguma forma mais<br />
importante, mulheres que serviam de amas-de-leite,<br />
descobriam que poderiam procurar por um trabalho<br />
mais bem remunerado. A disponibilidade para<br />
alimentar ao peito uma criança, que era a única fonte<br />
de renda até então, passou a ser desprezada, pois as<br />
mulheres procuravam empregos nas indústrias.<br />
Em 1884, Elijah Pratt inventou o bico de<br />
borracha para garrafas, substituindo o uso da amade-leite.<br />
Em 1867, o químico alemão Justis von Lietbig<br />
iniciou o mercado da alimentação infantil, com o<br />
produto denominado “a perfeita alimentação da<br />
criança”, preparado com farinha de trigo, leite de vaca<br />
e farinha de malte. Esse alimento se apresentava sob<br />
a forma líquida e não se mantinha bem em suspensão.<br />
Essa mistura começou a ser utilizada levando a um<br />
aumento de mortalidade, fato similar ao que ainda<br />
ocorre nos dias de hoje, em países subdesenvolvidos,<br />
com as crianças não amamentadas ao peito [5,6].<br />
Thomas Morgan Rotch (1849-1914), primeiro<br />
professor de pediatria da Faculdade de Medicina de<br />
Harvard, criou um cálculo matemático complexo, para<br />
calcular diariamente as quantidades dos principais<br />
componentes do leite de vaca, para formular<br />
compostos alimentares infantis. Dessa experiência,<br />
vem a palavra fórmula para designar os leites<br />
modificados.<br />
Com o advento da alimentação alternativa e<br />
industrializada, a amamentação começou a declinar<br />
[6,7], tornando-se uma preocupação médica e de saúde<br />
pública, pela alta mortalidade causada.<br />
Apesar da superioridade do leite materno sempre<br />
ter sido reconhecida e o primeiro banco de leite<br />
humano ter sido criado em Boston em 1910, até o<br />
presente, o aleitamento natural não ocorre na<br />
freqüência desejada por motivos biológicos, sociais<br />
e/ou psicológicos.<br />
Com os avanços técnicos, tais como refrigeração<br />
elétrica e modificação das proteínas, a popularidade<br />
das fórmulas lácteas voltou a aumentar nas duas<br />
primeiras décadas do século XX, pois essas alterações<br />
permitiram um decréscimo no número de mortes e<br />
doenças causadas pela mamadeira [8]. Nesse período,<br />
nos EUA, as crianças não recebiam alimentação sólida<br />
até por volta do primeiro ano. Jacoby, pai da pediatria<br />
americana, aconselhava que antes dos dois anos de<br />
idade, não deveriam ser oferecidos vegetais. Já Griffith,<br />
em seu livro escrito para enfermeiras e pais,<br />
aconselhava o desmame aos 10 – 12 meses [5].<br />
A tendência de introduzir precocemente<br />
alimentos sólidos, que teve início no século IX,<br />
culminou com os excessos cometidos nos anos 50 e<br />
60. O caso extremo dessa corrente, aconteceu em<br />
1953, quando Sacket descreveu suas experiências com<br />
introdução de alimentos sólidos no berçário [5].<br />
Entre as décadas de 40 e 70, coincidindo com<br />
um importante decréscimo do aleitamento materno,<br />
era feita a introdução, mais precocemente, de uma<br />
quantidade maior de alimentos e de alternativas para<br />
225
226<br />
o leite. Em vários países, nessa época, a introdução de<br />
alimentos não lácteos se deu por volta das três ou<br />
quatro semanas de vida. O tempo de introdução e o<br />
tipo de alimento variavam, dependendo de fatores<br />
culturais, sócio-econômicos e tradições de cada país.<br />
Nessa época, todas as classes sociais e muitos pediatras<br />
foram influenciados pela propaganda direta e indireta,<br />
veiculada pelas indústrias de alimentos, sobre as<br />
vantagens da introdução precoce da alimentação<br />
complementar. Surgiram ainda, nessa época, os<br />
concursos de bebês, associando a beleza da criança<br />
robusta e saudável à alimentação com leite em pó [9].<br />
Segundo Fisberg [10], em nosso país, no século<br />
XX, paralelamente ao uso indiscriminado do leite em<br />
pó, começa-se a preconizar a introdução de outros<br />
alimentos, a partir dos dois meses de idade e,<br />
independentemente da região ou da classe social, a<br />
mãe era orientada a administrar frutas, que naquela<br />
época eram importadas, tais como, pêra ou maçã e<br />
uma extensa lista de verduras e legumes, sem mesmo<br />
ser considerada a disponibilidade de recursos para<br />
aquisição desses alimentos.<br />
Em 1954, a Academia Americana de Pediatria<br />
criou o Comitê de Nutrição, visando estabelecer<br />
recomendações sobre a prática da alimentação infantil.<br />
A partir de 1970, paralelamente ao progressivo<br />
aumento do aleitamento materno, os inconvenientes<br />
da administração precoce dos alimentos de desmame<br />
ficaram evidentes, observando-se, então, uma<br />
tendência de prolongar o aleitamento [9].<br />
Em 1982, o Comitê de Nutrição da Sociedade<br />
Européia de Gastroenterologia e Nutrição<br />
recomendou que a alimentação de desmame não<br />
deveria ser introduzida antes dos três meses e nem<br />
depois dos seis meses.<br />
Em 1983, no Brasil, os Comitês de Nutrição da<br />
Sociedade de Pediatria de São Paulo e da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria lançam novas normas para o<br />
esquema de alimentação infantil, incentivando o<br />
aleitamento materno exclusivo até o sexto mês.<br />
Em 1998, a Sociedade de Pediatria de São Paulo<br />
– SPSP [11], publica novas recomendações sobre a<br />
alimentação infantil até o terceiro ano de vida,<br />
ratificando o aleitamento materno, exclusivo até o<br />
sexto mês, conforme orientações da Organização<br />
Mundial de Saúde, e orientando o período de transição<br />
da mamadeira para a alimentação do adulto.<br />
A introdução de alimentos de desmame é de<br />
fundamental importância nutricional; as necessidades<br />
energéticas tornam-se mais críticas entre os seis e doze<br />
meses. Normalmente o aleitamento materno ou<br />
fórmulas infantis, fornecem energia suficiente dos<br />
primeiros 4 a 6 meses de vida. A introdução de<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
alimentos complementares deve ser feita da mesma<br />
forma, tanto para as crianças que recebem leite<br />
materno, quanto para as alimentadas com fórmulas<br />
infantis. Por outro lado, é aconselhável diversificar mais<br />
precocemente a alimentação de crianças alimentadas<br />
com leite de vaca não-modificado, de modo a adequar<br />
as necessidades de ferro, vitamina C, ácido linoleico e<br />
de elementos traço. Para tanto, faz-se necessário a<br />
introdução de suco de frutas, após o primeiro mês de<br />
vida e de cereais, vegetais e carnes a partir dos quatro<br />
meses.<br />
Essas recomendações, baseadas nos<br />
conhecimentos atuais e que deveriam vigorar para a<br />
maioria das crianças, acabam, nos dias de hoje, sendo<br />
alteradas em função de diversos fatores, tais como:<br />
condições sócio-econômicas, hábitos alimentares do<br />
adulto, maior inserção da mulher no mercado de<br />
trabalho e grande diversificação e publicidade de leites<br />
e alimentos infantis.<br />
A condição financeira desfavorável pode limitar<br />
a aquisição da quantidade e qualidade dos alimentos.<br />
Por sua vez, uma renda maior também pode favorecer<br />
uma inadequação da alimentação na medida em que,<br />
muitas vezes, ocorre a substituição de alimentos<br />
naturais por alimentos industrializados, que podem<br />
ter acréscimo de aditivos químicos ou consistência<br />
inadequada.<br />
Como perspectiva futura vemos a crescente<br />
inserção da mulher no mercado de trabalho, como<br />
risco para a tendência de crescimento da amamentação,<br />
pois a concorrência acirrada faz com que muitas<br />
mulheres acabem antecipando sua volta ao trabalho,<br />
antes do término do período de licença maternidade<br />
[12], abandonando o aleitamento materno. Ainda<br />
fazendo projeções, a introdução cada vez mais precoce<br />
de alimentos não adequados, tais como refrigerantes,<br />
guloseimas, salgadinhos, embutidos e outros produtos<br />
industrializados supérfluos, parece estar aumentando,<br />
como têm demonstrado em trabalhos publicados<br />
[13,14], que o avanço do conhecimento científico, por<br />
si só, não é condição suficiente para que as crianças<br />
recebam a alimentação ideal. Para tal, faz-se necessário<br />
investir em programas educativos para a população,<br />
em maior capacitação para os técnicos em relação às<br />
formas de transmissão de informações, além de maior<br />
controle sobre a propaganda de alimentos que possam<br />
ser oferecidos às crianças.<br />
Referências<br />
1. Gürson CT, Saner G. Historical introduction. In: Burman<br />
D, Mc Laren DS, editores. Textbook of paediatric<br />
nutrition. London, Churchill Livingstone 1982:1-17.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
2. Enciclopédia Larousse Cultural. Hámurabi<br />
1995;12:2904.<br />
3. Rea MF. Substitutos do leite materno: passado e<br />
presente. Rev Saúde Pública 1990;24:241-9.<br />
4. Davidson WD: A brief history of infant feeding. J<br />
Pediatr 1953;43:74-87.<br />
5. Hervada AR, Newman DR. Weaning: historical<br />
perspectives, practical recommendations, and current<br />
controversies. Current Probl Pediatr 1992:223-40.<br />
6. Finberg L. Historical overview and future perspectives<br />
on pediatric nutrition science. In: Lifshitz F,<br />
coordinator. Childhood nutrition. Boca Raton: CRC<br />
Press;1995.<br />
7. Monteiro LAG, Barbieri MA, Bettiol H, Ciampo LAD,<br />
Ricco RG. Alimentação do lactente: a propósito da<br />
introdução de alimentos não lácteos. Medicina<br />
(Ribeirão Preto) 1990;23:209-18.<br />
8. Barness LA. History of infant feeding practices. Am J<br />
Clin Nutr 1987;46:168-70.<br />
9. Ballabriga A, Schmidt E. Tendencias actuales de la<br />
diversificación de la alimentación infantil en los paises<br />
industrializados de Europa. In:Nestlé Nutrición-<br />
Destete; Porque, cómo, cuándo? Barcelona;1988:30-<br />
4.<br />
10. Fisberg M. Alimentos industrializados. In: Wehba J,<br />
coordenador. Nutrição da criança. São Paulo:Fundo<br />
Editorial BYK 1991:227-33.<br />
11. [SPSP] Sociedade de Pediatria de São Paulo.<br />
Departamento de Nutrição. Alimentação da criança<br />
nos primeiros anos de vida; recomendação. Rev Paul<br />
Pediatr 1998;16:112-7.<br />
12. Kanitz S. Férias nem pensar (Ponto de Vista). Revista<br />
Veja 2002;736(4):30.<br />
13. Tabai KC, Carvalho JF, Salay E. Aleitamento materno<br />
e prática de desmame em duas comunidades rurais de<br />
Piracicaba. Rev Nutr Campinas 1998;11:173-83.<br />
14. Spinelli MGN, Souza SB, Souza JMP. Consumo, por<br />
crianças menores de um ano de idade, de alimentos<br />
industrializados considerados supérfluos. Pediatria<br />
Moderna 2001;37(12):666-72.<br />
227
228<br />
CARTA AO EDITOR<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Cálcio, um nutriente necessário<br />
para todas as idades<br />
Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho<br />
Doutora em Ciência da Nutrição pela UNICAMP, Profa. Adjunto Departamento de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde,<br />
Universidade Federal do Piauí<br />
Dentre os nutrientes necessários ao crescimento<br />
e controle das funções do organismo, o cálcio ocupa<br />
lugar de destaque: é o elemento inorgânico mais<br />
comum do organismo humano e desempenha diversas<br />
funções vitais.<br />
O cálcio é um nutriente essencial para a saúde<br />
dos ossos, sendo necessário durante toda a vida para<br />
manter a massa óssea forte e saudável. Cerca de 98%<br />
encontra-se nos ossos, 1% concentra-se nos dentes e<br />
1% está distribuído no sangue, líquidos extracelulares<br />
e intracelulares regulando muitas funções metabólicas.<br />
A necessidade orgânica de cálcio ocorre<br />
especialmente na infância e durante o<br />
desenvolvimento de pico da massa óssea, na fase de<br />
crescimento. Acredita-se que o aumento do consumo<br />
de cálcio possa ser usado para prevenir ou controlar o<br />
aparecimento da osteoporose e raquitismo. Além de<br />
evitar perda de massa óssea, tem sido observada<br />
relação inversa entre a ingestão de cálcio e a freqüência<br />
de fraturas, câncer de cólon e hipertensão arterial.<br />
O mineral não é importante apenas para as<br />
crianças e não atua somente na formação dos ossos.<br />
É também necessário para o processo de coagulação<br />
sanguínea, transporte de oxigênio e substâncias ao<br />
nível de membrana plasmática e para o desempenho<br />
dos sistemas cardiovascular e muscular. Atua sobre as<br />
membranas dos neurônios como estabilizador dos<br />
impulsos nervosos e sua deficiência pode provocar<br />
hiper-excitabilidade, ocasionando até convulsões [5].<br />
Apesar do cálcio estar amplamente distribuído<br />
na natureza, seu consumo alimentar encontra-se<br />
abaixo do recomendado. Em pesquisa realizada em<br />
diversos estados do Brasil, foi demonstrado o baixo<br />
consumo de cálcio proveniente de alimentos como<br />
leite, vegetais folhosos de cor verde-escuro e de<br />
hortaliças [4]. A pesquisa Hábito alimentar de Teresina,<br />
publicada pela UNICEF em 1994, também apontou<br />
insuficiente consumo de cálcio, principalmente em<br />
famílias com renda entre 2 e 5 salários mínimos [1].<br />
O recente estudo realizado por professores e<br />
acadêmicos dos Cursos de Nutrição e Química da<br />
Universidade Federal do Piauí (UFPI), sobre o<br />
consumo de cálcio por crianças atendidas em creches<br />
municipais de Teresina, mostrou consumo médio de<br />
cálcio (mg/dia) insuficiente, com valores variando<br />
entre 227,68 ± 30,98 e 448,99 ± 42,61, representando<br />
51,58 e 64,75% da ingestão recomendado pela<br />
Recommended Dietary Allowances (1989), demonstrando<br />
a necessidade de ações que contribuam para melhorar<br />
a oferta de cálcio na dieta das crianças [3]. Das 17<br />
creches municipais de Teresina, assistidas<br />
integralmente pela Secretaria Municipal da Criança e<br />
do Adolescente (SEMCAD) no ano de 1997,<br />
participaram do estudo três creches em regime de<br />
tempo integral com 473 crianças e três creches em<br />
regime de tempo parcial, com 573 crianças, perfazendo<br />
um total de seis creches selecionadas para o estudo,<br />
atendendo 1046 crianças, sendo 528 meninos e 518<br />
Artigo recebido em 20 de outubro<br />
Endereço para correspondência: Universidade Federal do Piauí, Departamento de Nutrição, SG 13, Campus Petrônio<br />
Portela, 64049-550 Teresina PI, E-mail: cecilia@webone.com.br
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
meninas. Para avaliar o consumo de cálcio pelas<br />
crianças utilizou-se a pesagem direta dos alimentos<br />
(1997/1998), determinando-se o teor de cálcio pelo<br />
método de titulação complexométrica com EDTA no<br />
laboratório de química da UFPI [2].<br />
O consumo insuficiente do mineral aumenta a<br />
reabsorção do tecido ósseo, diminuindo a densidade<br />
óssea, podendo contribuir, em longo prazo, para o<br />
aumento do risco de osteoporose. A ingestão reduzida<br />
de cálcio durante a infância pode afetar entre 5 e 10%<br />
da formação do osso na vida adulta, contribuindo em<br />
até 50% para o risco de fraturas. O baixo consumo de<br />
cálcio ainda pode ser considerado fator de risco para as<br />
doenças cardiovasculares, assim como pode, também,<br />
diminuir a proteção contra o câncer de cólon.<br />
Vale destacar que em 1995 as crianças assistidas<br />
pela Secretaria Municipal da Criança e do Adolescente<br />
(SEMCAD), já apresentavam prevalência de retardo de<br />
crescimento em cerca de 17%, conforme consta em<br />
relatórios da própria Secretaria, demonstrando que<br />
muitas dessas crianças recebem alimentos em<br />
quantidades insuficientes, inclusive daqueles que são<br />
fontes de cálcio [8].<br />
Cuidados redobrados na oferta alimentar diária<br />
de cálcio para evitar a deficiência grave do mineral,<br />
tendo em vista que o consumo insuficiente (< 400<br />
mg/dia), além de aumentar o riscos de osteoporose<br />
e diminuir a velocidade de crescimento, poderá<br />
propiciar a substituição de cálcio por metais tóxicos,<br />
como chumbo ou estrôncio nos osteócitos e<br />
osteoblastos [7].<br />
Assegurar uma alimentação equilibrada e rica<br />
em cálcio para que não se debilitem os ossos é um<br />
cuidado que sempre deve-se ter. De acordo com o<br />
National Institutes of Health Consensus Development Panel<br />
on Optimal Calcium Intake [6], tanto as mulheres como<br />
os homens necessitam consumir 1000 mg de cálcio<br />
todos os dias. A partir dos 50 anos de idade, ambos<br />
necessitam de 1200 mg de cálcio diariamente. Mas a<br />
preocupação não deve ser apenas com os valores<br />
recomendados de cálcio, visto que muitos outros<br />
constituintes alimentares podem afetar o balanço do<br />
nutriente no organismo [6].<br />
Para adicionar o mineral na alimentação, é<br />
necessário consumir alimentos de diversas fontes de<br />
cálcio, como iogurte, leite, queijos, pudim de leite,<br />
brócolis, soja, vegetais de cor verde-escura, salmon em<br />
lata com espinhas, sucos de frutas e cereais matinais,<br />
que tenham sido enriquecidas com cálcio. Para suprir<br />
cerca de 800 mg de cálcio são necessárias 2 a 3 porções<br />
diárias de leite e derivados, correspondendo a 2-3 xícaras<br />
de leite (480 a 720 ml) ou 2-3 xícaras de iogurte (460-<br />
690 ml) ou 2-3 fatias de queijo (90 a 135 g).<br />
Para situações onde se faz uso de refeições<br />
rápidas, pode-se tomar iogurte com baixo teor de<br />
gordura ou preparações feitas com iogurte ou queijo.<br />
Cerca de 70% dos adultos podem não digerir bem<br />
produtos lácteos porque têm intolerância a lactose,<br />
uma condição que resulta da deficiência da lactase ou<br />
produção insuficiente da enzima pelas células da<br />
mucosa intestinal, necessária a digestão da lactose, o<br />
açúcar natural presente no leite. A lactose não digerida<br />
no intestino tem um efeito laxativo e estimula o<br />
crescimento de bactérias produtoras de gás, levando<br />
freqüentemente a dores abdominais e diarréia após<br />
30 minutos de sua ingestão. Nestas situações é<br />
necessário consumir produtos lácteos em pequenas<br />
quantidades durante o dia, modificar a sua forma de<br />
consumo, por exemplo, usando queijo ralado que tem<br />
menos lactose que o leite integral, consumir alimentos<br />
não lácteos que sejam ricos em cálcio ou fazer uso de<br />
produtos lácteos mais digeríveis (isentos ou com pouca<br />
lactose).<br />
Se não for possível atingir suas necessidades de<br />
cálcio pela alimentação, pode-se tomar suplementos de<br />
cálcio, desde que recomendados por profissionais<br />
especializados.<br />
“Mostre a você mesmo o quanto você é<br />
importante cuidando de sua alimentação”.<br />
Referências<br />
1. Brandim MRR. Pesquisa hábito alimentar de Teresina,<br />
Teresina: UNICEF/UFPI, 1994:50.<br />
2. Santos RS, Carvalho CMRG, Cruz GF, Moita GC.<br />
Estudo da ingestão de cálcio por crianças atendidas em<br />
creches municipais de Teresina, Piauí. Alim Nutr<br />
2001;12:69-82.<br />
3. Nacional Research Council. Recomended dietary<br />
allowances. 10th ed. Washingto, DC:Nacional Academy<br />
of Science 1989:284.<br />
4. Galeazzi MAM, Domene SMA, Sichieri R. Estudo<br />
multicêntrico sobre consumo alimentar. Cad. Debate,<br />
Edição especial 1997:62.<br />
5. Lipkin M, Newmark H. Calcium and the prevention of<br />
colon cancer. J Cell Biochem, 1995;22:65-73<br />
(Suplemento).<br />
6. NIH. Osteoporosis Prevention, Diagnosis, and Therapy.<br />
Consensus Statements NIH Consensus Development<br />
Program, National Institutes of Health 2000:27-29.<br />
7. Stephebs R, Waldron HA. The influence of milk and<br />
related dietary constituents on lead metabolism. Food<br />
Cosment Toxicol 1975;13:555-563.<br />
8. Prefeitura Municipal de Terezina. Secretaria Municipal<br />
da Criança e do Adolescente. Determinação do estado<br />
nutricional das crianças assistidas pela Secretaria<br />
Municipal da Criança e do Adolescente, Teresina,<br />
Governo do Estado 1997:20 (Relatório).<br />
229
230<br />
CONGRESSOS<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Potencial nutricional e funcional dos<br />
alimentos geneticamente modificados<br />
II o Simpósio sobre Alimentos Transgênicos da Universidade de<br />
Viçosa, 17-18 de outubro de 2002<br />
Aluízio Borém*, Neuza Maria Brunoro Costa**<br />
*Eng.-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa,<br />
**Nutricionista, M.S., Ph.D. e Professora da Universidade Federal de Viçosa<br />
O II o Simpósio sobre Alimentos Transgênicos,<br />
iniciativa e promoção do Departamento de Nutrição<br />
da Universidade Federal de Viçosa, foi realizado, em<br />
Viçosa, MG, nos dias 17 e 18 de outubro de 2002. À<br />
semelhança do I o Simpósio, o evento foi prestigiado<br />
por grande público, constituído de especialistas em<br />
nutrição, saúde pública, direito e biotecnologia do<br />
Brasil, da Alemanha e da Austrália, contando também<br />
com a presença de nutricionistas, engenheiros de<br />
alimentos, representantes da indústria de alimentos,<br />
pesquisadores e estudantes universitários, dentre<br />
outros.<br />
Conforme discutido e apresentado durante o<br />
Simpósio, as técnicas do DNA recombinante<br />
constituem meios poderosos e seguros para a<br />
modificação de microrganismos e plantas, e podem<br />
contribuir para a melhoria da qualidade e segurança<br />
nutricionais.<br />
A Dr a . Cristina Possas, em sua apresentação,<br />
ressaltou o fato de que, na agricultura brasileira, a<br />
biotecnologia vem passando por rápidas e importantes<br />
transformações, em particular na última década.<br />
Programas de pesquisa e desenvolvimento nesta área<br />
vêm se beneficiando da aplicação de importantes<br />
ferramentas biotecnológicas: desenvolvimento de<br />
plantas assistidas por marcadores genéticos,<br />
mapeamento do genoma de várias espécies,<br />
transferência nuclear gerando embriões de diversas<br />
espécies animais, caracterização e conservação de<br />
recursos genéticos e desenvolvimento de muitos<br />
organismos geneticamente modificados (OGMs).<br />
Comentou ainda que, em 1995, foi criada a Comissão<br />
Técnica Nacional de Biossegurança, CTNBio. O<br />
desempenho dessa comissão resultou em crescimento<br />
significativo do setor biotecnológico nacional,<br />
reconhecido internacionalmente. Tal situação só se<br />
tornou possível mediante a capacitação de<br />
profissionais atuantes na análise de risco, na avaliação<br />
da biossegurança e no estudo das implicações<br />
resultantes, nos diferentes setores de atividade, da<br />
tecnologia do DNA recombinante.<br />
A crescente ampliação da pesquisa<br />
biotecnológica no país, se intensificou desde a criação<br />
Endereço para correspondência: Aluízio Borém, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa 36571-<br />
000 Viçosa, MG, Tel: (31) 3899-1163, E-mail: borem@ufv.br, Neuza Maria Brunoro Costa E-mail: nmbc@mail.ufv.br
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
da CTNBio em 1995, resultando em expressivo<br />
aumento do volume de trabalho realizado pela<br />
comissão. A CTNBio já avaliou, até o momento, 1.015<br />
solicitações de liberação planejada de OGMs no meio<br />
ambiente, das quais 923 foram autorizadas e emitiu,<br />
nesse período, 163 Certificados de Qualidade em<br />
Biossegurança – CQB.<br />
Conforme apresentado pelo Dr. Franco Lajolo<br />
em sua palestra sobre Alimentos Funcionais, a<br />
possibilidade do uso de alimentos na redução de risco<br />
de doenças crônico-degenerativas tem sido assunto<br />
constante em eventos na área de nutrição e<br />
alimentação.<br />
Diversos fatos vêm motivando, ou justificando,<br />
esse interesse, tais como: o reconhecimento da relação<br />
saúde-nutrição-doença, pesquisas clínicas e<br />
levantamentos epidemiológicos, evolução de conceitos<br />
relativos às recomendações nutricionais, fenômenos<br />
sócio-econômicos e epidemiológicos e, ainda,<br />
perspectivas industriais.<br />
Na perspectiva de Lajolo, conceituar alimentos<br />
funcionais é difícil e polêmico. É possível, porém,<br />
adotar uma definição de trabalho: “Alimento<br />
semelhante em aparência ao alimento convencional,<br />
consumido como parte da dieta usual, capaz de<br />
produzir demonstrados efeitos metabólicos ou<br />
fisiológicos úteis na manutenção de uma boa saúde<br />
física e mental, podendo auxiliar na redução do risco<br />
de doenças crônico-degenerativas, além das suas<br />
funções nutricionais básicas”. Complementando essa<br />
definição, pode-se falar em “ingrediente funcional”,<br />
que seria o composto responsável pela ação biológica<br />
contida no alimento. Esse composto, também<br />
chamado de nutracêutico ou composto bioativo pela<br />
recente legislação brasileira, aparece normalmente em<br />
forma não-alimentar, farmacêutica.<br />
Na visão do Dr. Lajolo, a engenharia genética é<br />
uma via muito promissora para o desenvolvimento<br />
de alimentos funcionais. É o caso da alteração de teores<br />
de macro e micronutrientes e de sua<br />
biodisponibilidade. Por exemplo, redução no teor de<br />
graxos saturados em sementes, como soja, canola e<br />
algodão, e elevação de teores de oléico, ou de ácidos<br />
graxos da série n-3, como o a-linolênico, interessante<br />
nutricionalmente. É também o caso da introdução de<br />
frutoligossacarídios em alimentos como a beterraba,<br />
através da introdução de genes que codificam enzimas<br />
para a síntese de frutanas.<br />
O caso do arroz dourado, que é rico em próvitamina<br />
A, foi também apresentado pelo Dr. Lajolo.<br />
Ainda, nesse arroz, conseguiu-se introduzir proteínas<br />
como a ferritina e metalotioneínas, que aumentam o<br />
teor e biodisponibilidade de ferro.<br />
A Dra. Lúcia F. Aleixo relatou que o termo<br />
Segurança Alimentar (acesso a fontes adequadas e<br />
sustentáveis de alimentos) começou a ser utilizado<br />
após o final da 1ª Guerra Mundial. Falava-se em<br />
segurança alimentar com a preocupação com o fato<br />
de as nações ficarem enfraquecidas em decorrência<br />
de sua incapacidade para alimentar a população em<br />
caso de guerra ou de cercos econômicos. Assim, essa<br />
questão adquiria significado de segurança nacional,<br />
apontando para a necessidade de formação de<br />
estoques “estratégicos” de alimentos e fortalecendo a<br />
idéia de que a soberania de cada país depende, em<br />
grande parte, de sua capacidade de auto-suprimento.<br />
Relatou, ainda, que qualquer alimento é considerado<br />
seguro desde que nenhum dano, ou efeito indesejável,<br />
resulte de seu consumo. Historicamente, com base na<br />
experiência de uso ao longo dos anos, tem se<br />
considerado que os alimentos preparados e utilizados<br />
por meio de métodos convencionais sejam seguros,<br />
mesmo que apresentem substâncias naturalmente<br />
prejudiciais ao ser humano. Como exemplo, citam-se<br />
os alimentos que possuem elevado teor de gorduras:<br />
apesar da comprovação científica da associação da<br />
ingestão desses víveres com o aumento do risco de<br />
ocorrência de doenças cardíacas, nem todas as pessoas<br />
evitam o consumo de tais alimentos.<br />
A avaliação dos produtos derivados da moderna<br />
biotecnologia não implica alterações significativas nos<br />
princípios estabelecidos para avaliação da segurança<br />
alimentar de produtos convencionais. A utilização de<br />
modernas tecnologias tem resultado produtos<br />
semelhantes ou equivalentes aos seus contrapartes<br />
convencionais, no que diz respeito à segurança<br />
alimentar.<br />
Para que a segurança de novos alimentos<br />
produzidos por meio de qualquer tecnologia seja<br />
estabelecida, recomenda-se avaliar a toxicidade e o<br />
potencial alergênico da nova proteína expressa no<br />
produto. Para tal, uma análise criteriosa deve ser<br />
realizada caso a caso. Não se pode, assim, afirmar que<br />
um produto não seja seguro apenas com base na<br />
técnica utilizada para sua obtenção, seja ela a técnica<br />
de DNA recombinante, seja o melhoramento<br />
convencional de plantas.<br />
231
232<br />
Também abordando o tema segurança alimentar,<br />
o Dr. Edson Watanabe afirmou que a avaliação da<br />
segurança de alimentos GM inicia-se já no momento<br />
da concepção da idéia da característica a ser<br />
desenvolvida/pesquisada. Por característica, entendase<br />
o resultado da modificação genética, isto é (na maior<br />
parte das vezes), a expressão de uma proteína<br />
específica pelo novo gene inserido, que irá, por<br />
exemplo, conferir ao produto GM tolerância a um<br />
herbicida. Se já no início da pesquisa for constatado<br />
que a nova proteína expressa apresenta similaridade<br />
de seqüência de aminoácidos com algum alérgeno e/<br />
ou toxina conhecidos, o projeto terá que ser<br />
necessariamente interrompido. Essa tem sido a<br />
conduta dos pesquisadores, tanto na iniciativa privada<br />
quanto no setor público. Como exemplo, tem-se o<br />
caso de uma empresa privada que estava<br />
desenvolvendo uma variedade de soja GM com alto<br />
teor de um aminoácido normalmente adicionado a<br />
rações animais, a metionina. Para que isso fosse<br />
possível, um gene da castanha-do-pará foi inserido<br />
no genoma da soja convencional. Entretanto, devido<br />
a suspeitas de que tal gene pudesse expressar uma<br />
proteína que provocasse reações alérgicas, o projeto<br />
não foi continuado.<br />
O Dr. Watanabe reportou alguns exemplos de<br />
produtos com melhoria de sua qualidade nutricional<br />
em desenvolvimento nos Estados Unidos, como: a) o<br />
milho, com modificação no seu perfil lipídico, para<br />
obtenção de óleo mais nutritivo; modificação no perfil<br />
de seus aminoácidos, com aumento nos teores de<br />
triptofano e lisina, implicando proteína de maior valor<br />
biológico e aumento no teor de carotenóides, para<br />
aumento de vitamina A; e alteração no metabolismo<br />
dos carboidratos e redução no nível de fitatos,<br />
otimizando o produto para ração animal. b) A soja,<br />
com modificação no seu perfil lipídico, para obtenção<br />
de óleo mais nutritivo; e modificação no seu perfil de<br />
aminoácido, para aumento do teor de metionina. c) A<br />
batata, com aumento no seu teor de amido e sólidos,<br />
para redução da absorção de gordura na fritura. d) A<br />
mandioca, com modificação no perfil de aminoácidos,<br />
para obtenção de proteína de maior valor biológico.<br />
e) O arroz, com modificação nos teores de amido e<br />
outros carboidratos e produção de novas proteínas,<br />
para fins farmacêuticos. f) O café, com redução do<br />
seu teor de cafeína. g) A canola, com modificação no<br />
seu perfil lipídico, para obtenção de óleo mais nutritivo.<br />
h) O trigo, com modificação no seu perfil de<br />
aminoácidos, para melhoria da qualidade nutricional<br />
e da digestibilidade e produção de novas proteínas<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
para fins farmacêuticos. i) O girassol, com<br />
modificações idênticas às do trigo, para melhoria na<br />
sua qualidade nutricional para arraçoamento animal,<br />
j) A uva, a maçã e o melão, para aumento do teor de<br />
açúcares e para melhoria da qualidade do fruto,<br />
respectivamente. j) O tomate, com aumento no teor<br />
de sólidos e açúcares, para melhoria da qualidade do<br />
fruto.<br />
O Dr. Everaldo Gonçalves de Barros discutiu,<br />
no evento, sobre as técnicas de detecção de produtos<br />
geneticamente modificados, informando que o<br />
método da reação em cadeia da DNA polimerase<br />
(PCR) tem sido o mais aceito no mundo inteiro para<br />
detecção de transgênicos em alimentos. É um método<br />
preciso, direto, extremamente sensível e que vem<br />
sendo utilizado em procedimentos que exigem<br />
altíssima precisão, como em testes de paternidade em<br />
humanos e na determinação de carga viral. Tal método<br />
se baseia na amplificação de um fragmento de DNA<br />
específico contido no transgene ou em algum<br />
segmento de DNA exógeno a ele associado. Essa<br />
amplificação é catalisada pela enzima DNA<br />
polimerase, utilizando-se um par de oligonucleotídios<br />
(primers) que flanqueia a região do DNA que se deseja<br />
amplificar. No processo de amplificação, o DNA<br />
extraído do alimento é submetido a uma temperatura<br />
próxima a 90 o C, quando as duas fitas do DNA se<br />
separam. A temperatura é diminuída para cerca de 55<br />
o C, e os primers se ligam ao DNA-alvo em fitas opostas.<br />
Em seguida, a temperatura é elevada a 72 o C, e uma<br />
enzima DNA polimerase termorresistente estende os<br />
primers, sintetizando duas novas fitas na região<br />
flanqueada por estes, tomando como molde as fitas<br />
originais. Esse ciclo de variação de temperatura é<br />
repetido entre 30 e 40 vezes, de tal forma que a<br />
quantidade de DNA amplificado aumenta<br />
exponencialmente a cada ciclo. Dada a<br />
complementaridade entre os primers e as regiões<br />
flanqueadoras do DNA-alvo, a reação é bastante<br />
específica, e essa especificidade garante a amplificação<br />
apenas do fragmento desejado.<br />
O DNA-alvo é encontrado em todas as células<br />
e em qualquer estágio de desenvolvimento do OGM<br />
utilizado na fabricação do alimento. Logo, qualquer<br />
tipo de alimento transgênico conterá, potencialmente,<br />
fragmentos de DNA que podem ser detectados, desde<br />
que sejam utilizados primers específicos para esse fim.<br />
Na análise de alimentos, a técnica de PCR pode<br />
ser utilizada de modo qualitativo, semiquantitativo ou
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
quantitativo. As análises qualitativas permitem dizer<br />
se um alimento contém ou não resíduos de<br />
transgênicos dentro de determinado limite, o qual é<br />
estabelecido levando-se em conta a capacidade de<br />
detecção do método (sensibilidade). Com o método<br />
qualitativo, pode-se afirmar, por exemplo, se dado<br />
alimento contém um teor maior ou menor do que<br />
1% de resíduos de transgênicos. No entanto, para<br />
determinar a quantidade precisa de transgênicos, é<br />
necessário um teste quantitativo, como o método PCR<br />
em tempo real.<br />
Conforme mencionado pela Dra. Roberta Jardim<br />
de Morais, uma política de propriedade intelectual,<br />
combinada com uma política industrial voltada para<br />
o setor de biotecnologia, pode ser um forte<br />
instrumento de política econômica nas mãos do<br />
Estado, uma verdadeira forma de intervenção<br />
econômica indireta. Relatou que o Brasil possui<br />
eficiente legislação referente à proteção dos direitos<br />
de propriedade industrial. Entretanto, tal fato não é<br />
suficiente para que o país alcance competitividade<br />
internacional nesse setor. A Dra. Roberta ressaltou<br />
que é necessária a consciência de que o país precisa<br />
apropriar-se de suas potencialidades, através do<br />
fortalecimento de suas empresas e do<br />
desenvolvimento de pesquisas. Por meio de uma<br />
política industrial voltada para esse setor, poder-se-ão<br />
estimular o processo criativo e o reagrupamento dos<br />
fatores de produção, possibilitando, dessa feita, a<br />
promoção do desenvolvimento real e não apenas o<br />
crescimento econômico, na maioria das vezes<br />
dependente de fatores exógenos.<br />
Concluindo, os dados apresentados por<br />
pesquisadores brasileiros e internacionais durante o<br />
II Simpósio Internacional sobre Alimentos<br />
Transgênicos indicaram que os alimentos<br />
geneticamente modificados representam um grande<br />
potencial para aumentar o fornecimento de alimentos<br />
com elevado valor nutricional e funcional. Os OGMs<br />
liberados para comercialização em outros países e que<br />
aguardam liberação de comércio também no Brasil,<br />
foram exaustivamente estudados e são seguros tanto<br />
para a saúde humana quanto para o meio ambiente.<br />
233
234<br />
DOSSIÊ<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Batata: o vegetal mais cultivado e de maior<br />
importância econômica do mundo<br />
Apesar de serem, em geral, associadas à Inglaterra, as batatas são nativas dos Andes e<br />
foram cultivadas pela primeira vez por índios peruanos, há pelo menos 4.000 anos. No<br />
século XVI, exploradores espanhóis levaram-nas para a Europa. Atualmente, é o alimento<br />
contemporâneo mais usado tanto nas mesas européias como nas americanas.<br />
Transformou-se também no alimento mais importante para as populações pobres de vários<br />
países, pelo seu custo relativamente barato e por ser altamente nutritiva. A batata é um<br />
alimento tão útil e necessário nos tempos modernos, que deve ser amplamente pesquisada<br />
para um melhor aproveitamento.<br />
Ficha Técnica: Batata (papa, potato)<br />
Família: Solanaceae<br />
Gênero: Solanum L<br />
Espécie: Solanum tuberosum L.<br />
História<br />
As tropas do espanhol Francisco Pizarro<br />
conquistam o Império Inca, no atual Peru, e conhecem<br />
a batata. Há muito tempo, os nativos dos altiplanos<br />
andinos cultivavam esse nutritivo tubérculo.<br />
Os espanhóis levaram rapidamente a batata para<br />
a Europa onde ela foi usada até como medicamento.<br />
De fato, registros da história revelam que o Papa Pio<br />
IV recuperou-se de uma doença por volta de 1570,<br />
após ter sido prescrita uma dieta de batatas, rica em<br />
carboidratos. Coube, no entanto, aos portugueses,<br />
espalharem a cultura da batata pelo restante do planeta.<br />
Os espanhóis chamaram a batata de “tartufo<br />
blanco” (tubérculo branco). Os alemães ainda usam a<br />
palavra “Kartoffeln”, pois acreditavam ser derivado da<br />
palavra tartufo. Os ingleses a chamam de “Potato” e<br />
os franceses de “patate” ou “Pomme de terre” (“fruto da<br />
terra”, do latim “pomum”, fruta).<br />
Batata conquista o mundo<br />
Aproximadamente nessa mesma época, os<br />
ingleses descobriram a batata doce (Patata Dulce) no<br />
Caribe. No início do século XVII algumas pessoas<br />
acreditavam que a lepra, tuberculose e a sífilis poderiam<br />
ser curadas pelas batatas. Outras vêem as batatas como<br />
a causa de doenças. Isso não surpreende, uma vez que<br />
se pode ver a batata ser consumida crua. Como nós<br />
sabemos, não é recomendado em uma alimentação<br />
saudável.<br />
Especialmente na Irlanda, a batata foi usada em<br />
grande escala na produção alimentícia no século<br />
XVIII. Uma desastrosa seca da batata nos plantios<br />
no século XIX causou a morte de milhões pela fome.<br />
Cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram seus países,<br />
a maioria migraram para a América do Norte.<br />
No fim do século XVIII, agricultores de toda<br />
Europa começaram a cultivar batata. O rei da Rússia<br />
Frederick O Grande ordenou que utilizassem somente<br />
a batata na alimentação do povo.<br />
Uma guerra entre os anos 1778 e 1780 entre a<br />
Prússia e Áustria ficou conhecida como a<br />
“Kartoffelkrieg” (Guerra da Batata), pois os soldados<br />
só se alimentavam de batatas.<br />
O plantio de batata sofreu um grande impulso<br />
com a Revolução Industrial. Hoje em dia, cerca de<br />
150 países cultivam a batata. Além de ser um alimento<br />
nutritivo, o amido e o álcool da batata pode ser<br />
utilizado para outras finalidades.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Atualmente são os vegetais mais cultivados e<br />
economicamente importantes do mundo.<br />
Maravilhosamente nutritivas, as batatas possuem<br />
poucas calorias. Quando comidas com casca, são ricas<br />
em carboidratos complexos e fibras; uma batata assada<br />
de tamanho médio (com casca) fornece 25 mg de<br />
vitamina C, mais de 40% da RDA para adultos, além<br />
de 20% da RDA de vitamina B6, 10% de niacina, ferro<br />
e magnésio, 840mg de potássio e uma quantidade<br />
moderada de zinco. Uma batata de tamanho médio<br />
assada ou cozida tem entre 60 e 100 calorias, uma<br />
pequena quantidade de proteínas e quase nenhuma<br />
gordura.<br />
A batata é hoje o quarto alimento mais<br />
consumido pela humanidade, depois do arroz, do trigo<br />
e do milho.<br />
Cronologia<br />
10.000 AC - tubérculos selvagens são colhidos<br />
pelos nativos, nas montanhas e nos platôs andinos do<br />
Peru;<br />
2.500 AC – nativos andinos cultivam batatas e<br />
criam novas variedades de tubérculos. Desenvolvem<br />
novos métodos de armazenamento e implementam<br />
seu cultivo;<br />
1536 – Os espanhóis chegam ao Peru e<br />
conhecem a batata;<br />
1663 – A batata é introduzida na Irlanda;<br />
1740 – Frederico, “o Grande”, Rei da Prússia e<br />
o Imperador Guilherme, da Alemanha, iniciam<br />
campanhas para produzir batatas em seus países;<br />
1743 – O Presidente norte-americano Thomas<br />
Jefferson introduz na cultura americana a “batata frita”<br />
(“french fries” = francesas fritas), que ele havia provado<br />
na França;<br />
1757 - Antoine Parmentier, um farmacêutico<br />
francês, promove a batata na França. Parmentier<br />
desenvolve um papel importante na implantação da<br />
cultura da batata não só na França, mas como em<br />
toda a Europa;<br />
1778 – A Prússia e a Áustria travam uma guerra<br />
que ficou conhecida como a “Guerra da Batata”, onde<br />
os soldados de ambos os lados, devoravam as<br />
plantações de batatas, por onde passavam.<br />
Mais sucesso na Europa do que na<br />
América Latina<br />
Originário da região dos Andes, na América do<br />
Sul, esse produto agrícola despertou a atenção e a<br />
curiosidade dos primeiros exploradores europeus e<br />
até hoje faz mais sucesso lá do que no continente sulamericano.<br />
Em poucos anos, a batata tornou-se presença<br />
obrigatória nas mesas européias e, por tabela, suas<br />
lavouras foram incorporadas à paisagem rural da<br />
Europa, principalmente em países como Inglaterra e<br />
Holanda. Foi lá no final do século passado, que o<br />
pintor holandês, Vincent Van Gogh inspirou-se para<br />
compor algumas de suas mais famosas obras, como<br />
“Os comedores de batata” ou “Dois camponeses<br />
arrancando batatas”.<br />
Depois de conquistar a Europa, a batata iniciou<br />
um lento retorno ao continente de origem, sem exibir,<br />
porém, a mesma popularidade ou a mesma qualidade.<br />
Produto extremamente sensível, a batata exige<br />
um acompanhamento cuidadoso desde o plantio até<br />
a colheita. A primeira, e talvez a mais importante<br />
preocupação de um produtor, é seguramente o clima.<br />
Dias quentes, noites frias e abundância de água são<br />
ingredientes vitais para o sucesso da lavoura. No Brasil,<br />
o clima irregular é um fator de risco constante. O calor<br />
excessivo, por exemplo, pode impedir que a lavoura<br />
tenha água suficiente para se desenvolver. A batata<br />
tem normalmente de 80 a 90% de líquido em sua<br />
composição, o restante são elementos sólidos. Daí a<br />
necessidade de muita água.<br />
Para um analista mais apressado, uma região de<br />
alto índice pluviométrico pode parecer ideal para a<br />
batata; engano; um dos principais componentes<br />
sólidos da batata é o amido, produzido a partir da<br />
fotossíntese da folha. Logo é necessário muita luz para<br />
que este processo ocorra. São justamente estas<br />
características que garantem, em parte, a alta<br />
produtividade das terras européias.<br />
Custo elevado<br />
Empurrado pelos fatores - adubação e<br />
tratamento agroquímico constantes e intensivos, o<br />
custo de produção da batata tornou-se um dos mais<br />
elevados da agricultura. O custo de um alqueire de<br />
batata é o mesmo de 10 a 12 alqueires de cereais. É<br />
uma atividade que necessita de maquinários caros e<br />
apresenta altos riscos.<br />
Consumida em todo mundo<br />
Por suas qualidades nutritivas e por se adaptar<br />
facilmente a qualquer tipo de solo, em pouco tempo a<br />
batata tornou-se bem consumida em todo o mundo.<br />
Atualmente pode ser encontrada nos mais diferentes<br />
pratos da cozinha internacional. Ela tem casca<br />
marrom, algumas vezes ligeiramente amarelada e com<br />
pequenos pontos, chamados nódulos ou olhos, por<br />
235
236<br />
onde ela brota quando começa a envelhecer. Embaixo<br />
da casca há uma polpa meio granulada que, conforme<br />
a variedade, pode ser branca ou amarela. Também o<br />
seu tamanho varia de espécie para espécie, sendo<br />
possível encontrar desde batatas pequenas, com 3 cm<br />
de diâmetro, até grandes, com aproximadamente 14<br />
ou 15 cm. As variedades de batatas são tantas que só<br />
no Brasil é possível encontrar mais de 100 tipos<br />
diferentes, sendo que no mundo todo, existem mais<br />
de 600 tipos.<br />
Ela é considerada um dos alimentos mais<br />
importantes como fonte de energia. É muito rica em<br />
carboidratos, o nutriente necessário para executar os<br />
movimentos e manter a temperatura do corpo. A<br />
batata tem bastante água, vitamina B1 (essencial para<br />
o crescimento e estimulante do apetite), vitamina B2<br />
(importante para a pele e para combater infecções),<br />
Vitamina C e alguns sais minerais, principalmente<br />
potássio. Contudo, grande parte desses nutrientes se<br />
perdem durante o cozimento. Como é pobre em<br />
proteínas e gorduras, a batata é um alimento de fácil<br />
digestão, recomendada para pessoas que precisem de<br />
dietas com baixo teor de colesterol.<br />
A batata boa para o consumo, qualquer que seja<br />
a espécie escolhida, deve ter casca lisa e fina e não<br />
deve ceder à pressão dos dedos. Não compre batatas<br />
com manchas ou muitos pontos escuros, pois elas não<br />
são de boa qualidade. Evite também as que têm brotos,<br />
pois já estão velhas e sem sabor e podem provocar<br />
intoxicação. Evite também as batatas de cor<br />
esverdeada, pois essa coloração é motivada pelo<br />
excesso de exposição ao sol, o que também provoca<br />
alteração no sabor, que fica muito amargo. Como cada<br />
variedade de batata tem características bem especiais,<br />
é importante saber em que prato vai ser usada, pois<br />
cada tipo se adapta melhor a cada tipo de preparo.<br />
Tenha em mente essas diferenças na hora da compra,<br />
para garantir um aproveitamento mais adequado. A<br />
batata com poupa branca e farinhosa é ideal para fazer<br />
purês. A de polpa mais compacta e amarela é melhor<br />
para ser amassada. Se vai ser usada com casca, escolha<br />
as batatas pequenas. Já a que tem casca amarela se<br />
caracteriza por ter pouca água, sendo ótima para<br />
frituras. Se a casca for de um amarelo bem claro, o<br />
interior tem muita água e, portanto, ela é mais adequada<br />
para o cozimento. A batata holandesa (grande, com<br />
casca fina e amarela) e a batata casca lavada, são<br />
espécies que rendem bem em quase todos os tipos de<br />
preparo.<br />
Na hora da compra não convém adquirir muitos<br />
quilos de uma só vez. Leve também em conta o tipo<br />
de preparo. No forno a batata perde 1/4 de seu peso,<br />
frita perde mais da metade, se for fervida aumenta 1/<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
10 devido à água que absorve, e na preparação de<br />
purês seu peso dobra.<br />
O armazenamento da batata exige alguns<br />
cuidados especiais, para que ela se conserve em boas<br />
condições. Procure guardá-la em lugar seco e arejado,<br />
caso contrário ela começará a brotar. Proteja-a de<br />
insetos e da luz direta do sol, para que a superfície<br />
não fique esverdeada e com gosto amargo. O lugar de<br />
armazenamento também não deve ser muito quente.<br />
Nunca guarde a batata na geladeira, pois a baixa<br />
temperatura transforma o amido do tubérculo em<br />
açúcar, depois de cozida, ela fica com sabor adocicado.<br />
Tome também cuidado para que não fiquem<br />
amontoadas, pois o abafamento provoca o seu<br />
envelhecimento. Para evitar esse problema, adquira<br />
gavetas de metal trançado, próprias para guardar<br />
batatas, e que podem ser fixadas em armários ou na<br />
despensa. Levando em conta todos esses cuidados, a<br />
batata se conserva em perfeitas condições durante 15<br />
dias.<br />
Particularidades<br />
As dificuldades para o desenvolvimento de<br />
novas variedades de cultivares são muitas, entre elas<br />
destacam-se: recursos limitados para pesquisas;<br />
variações climáticas, ou seja, é quase impossível se<br />
desenvolver uma variedade que se adapte a todas as<br />
regiões brasileiras; tempo: pois são necessários em<br />
média dez anos para que uma nova variedade seja<br />
aprovada.<br />
A maior vantagem das cultivares importadas é que<br />
elas provêm de regiões mais frias como Holanda, Suécia<br />
e Alemanha, que tem uma menor concentração de<br />
pulgões, os principais vetores das doenças (como por<br />
exemplo o vírus Y da batata, conhecido como Mosaico,<br />
o vírus do enrolamento das folhas da batata e o vírus X<br />
da batata). No Brasil para se ter a mesma qualidade é<br />
necessário que as sementes sejam produzidas em estufas<br />
revestidas com telas antiafídicas, que impedem a<br />
contaminação das sementes pré-básicas.<br />
Diversas variedades de cultivares nacionais já estão<br />
sendo pregadas, como a “Baronesa” ou a “Contenda”<br />
ou ainda a “Itararé”, mais ainda há muito o que se<br />
pesquisar, e somente através da pesquisa genética<br />
poderemos associar em uma variedade as características<br />
necessárias.<br />
O mercado de sementes é dominado pelas<br />
cultivares importadas, principalmente as européias. Mas<br />
o que poucos sabem, ou sabem e não acreditam é que<br />
no Brasil já são produzidas sementes com igual ou<br />
melhor qualidade que as importadas e com um custo<br />
cerca de 30% mais baratos.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Plantio: No Brasil é possível, devido ao clima,<br />
fazer até 3 plantios ao ano, ou como são mais<br />
conhecidas, a de Secas, que são plantadas no período<br />
de estiagem; a da Águas que são plantadas no período<br />
das chuvas e as Temporonas ou de Inverno que são<br />
plantadas no período de inverno.<br />
O ciclo vegetativo da cultura da batata varia de<br />
90 a 120 dias dependendo da cultivar, do clima e do<br />
solo. A interrupção do ciclo pode ocorrer de forma<br />
natural ou artificial utilizando-se de desfolhantes ou<br />
dessecantes, que vão matar a rama e as ervas daninhas<br />
facilitando a colheita e evitando futuras contaminações<br />
do tubérculo através da parte aérea da planta (rama).<br />
Outra vantagem da dessecação é a do produtor<br />
poder antecipar a colheita, aproveitando o preço de<br />
mercado se estiver favorável.<br />
Após a dessecação deve-se esperar um período<br />
que varia de 10 a 15 dias para que a pele da batata se<br />
fortaleça ou “se firme”, facilitando o arranquio e<br />
conseguir um bom valor no mercado consumidor.<br />
Espaçamento: 80 x 35cm.<br />
Batatas - Sementes necessárias: (peso médio de<br />
35g): 1,3t/ha ou 43 caixas de 30kg ou 26 sacas de<br />
60kg/ha.<br />
Combate à erosão: plantio em linhas de nível e,<br />
nos terrenos mais declivosos, em curvas de nível.<br />
Adubação e calagem: a escolha da fórmula de<br />
adubação e a calagem devem basear-se na análise de<br />
solo. Nessa impossibilidade, de maneira geral<br />
empregar, por hectare, 2t de calcário e 120kg de N,<br />
300kg de P2O5, 90kg de K2O. Empregar adubos de<br />
fácil solubilização. Recomenda-se o uso de tortas em<br />
mistura, Incorporar bem os adubos ao terreno,<br />
evitando que entrem em contato direto com as batatassemente,<br />
sobretudo nos solos arenosos. Aplicar<br />
metade do nitrogênio em cobertura, antes do<br />
chegamento, quando as plantas devem estar com cerca<br />
de 30cm de altura.<br />
Tratos culturais: capinas e amontoas com<br />
sulcadores; emprego de herbicidas; tratamentos<br />
fitossanitários.<br />
Irrigação: dispensável no plantio das águas e<br />
necessária no de fevereiro - março e maio - junho.<br />
Pode ser por aspersão, por infiltração e levantamento<br />
do lençol freático.<br />
Combate à moléstias e pragas: requeima - usar<br />
Maneb (Manzate D) e Dithane M-45 e cúpricos: oito<br />
ou mais aspersões preventivas; pinta-preta: intercalar<br />
produtos à base de estanho (Batasan, Brestan etc.);<br />
vaquinha: Parathion; ácaro: enxofre duplamente<br />
ventilado a 40% em talco, Thiovit , Kelthane; vírus,<br />
murcha, nematóides: usar batatas-semente, sadias,<br />
preferivelmente certificadas, e rotação de cultura.<br />
Época de colheita: três a quatro meses após o<br />
plantio, quando as ramas secarem ou,<br />
antecipadamente, com o uso d e desfolhante.<br />
Produção normal: tubérculos: águas: 8 a 14t/ha;<br />
seca, com irrigação: 15 a 20t/ha.<br />
Melhor rotação: gramíneas, adubos verdes pasto<br />
ou capineiras, desde que as plantas em rotação não<br />
sejam suscetíveis aos nematóides ou moléstias que<br />
atacam a batatinha.<br />
Batata semente: As mudas são replantadas em<br />
canteiros de alvenaria suspensos contendo substrato<br />
estéril e cercadas por telas antiafídicas para evitar a<br />
presença de insetos (pulgões), transmissores das<br />
viroses (“mosaico”, “enrolamento” e vírus x da batata).<br />
Todos esses cuidados são necessários para que<br />
não haja contaminação das sementes pré básicas que<br />
são produzidas em sua estufa de 520m².<br />
O futuro da bataticultura depende muito do<br />
produtor. Quem não utilizar da tecnologia disponível<br />
no mercado não sobreviverá, pois a concorrência é<br />
Conheça os diversos tipos de batata, com suas diferentes características de casca, polpa, cor e<br />
consistência, com seu melhor uso :<br />
TIPOS DE BATATA<br />
TIPO FORMA POLPA MELHOR USO<br />
Bintje Alongada Amarela Clara Cozinhar, Assar, Fritar<br />
Atlantic Redonda Branca Fritar<br />
Monalisa Oval Alongada Amarela Clara Cozinhar, Assar<br />
Araucária Alongada Amarela Cozinhar, Assar<br />
Asterix Oval Alongada Amarela Clara Fritar<br />
Elvira Alongada Amarela Cozinhar, Assar<br />
Baraka Oval Amarela Clara Cozinhar, Assar, Fritar<br />
237
238<br />
cada vez maior e a política de preços é muito instável<br />
ou seja, o produtor só sabe quando vai ganhar ou<br />
perder quando já não há mais tempo para nada.<br />
No Brasil o preço pode variar de 6 a 60 reais em<br />
questão de 24hs, e vice-versa, o que leva muitos<br />
produtores a ruína ou pararem de plantar, o que faz<br />
com que as importações aumentem.<br />
Ação da batata conforme seus nutrientes:<br />
- Potássio - Previne câimbras e regula a<br />
quantidade de água do organismo.<br />
- Vitamina A - Previne a cegueira noturna.<br />
- Vitamina B1 - Atua como repelente<br />
de mosquitos.<br />
- Gorduras - Possui menos de 1%, por isso, seu<br />
consumo é tão recomendado para as dietas.<br />
Tabela de nutrientes para o consumo médio de<br />
100 g - Idade de 23 a 50 anos<br />
Nutrientes Necessidades Batata<br />
diárias (100 g)<br />
Calorias (Kcal) 2700 78,5<br />
Proteínas (g) 56 1,8<br />
Vitamina C (mg) 45 17,4<br />
Vitamina B1 (mg) 1,4 0,9<br />
Vitamina B2 (mg) 1,6 0,3<br />
Vitamina A (mg) 750 6,0<br />
Cálcio (mg) 800 9,0<br />
Potássio (mg) 2000 1.538,16<br />
Fósforo (mg) 800 69,0<br />
Magnésio (mg) 350 46,0<br />
Ferro (mg) 10 1,0<br />
Sódio (mg) 500 47,4<br />
Processamento<br />
O processamento da batata é hoje uma indústria<br />
muito forte e competitiva, principalmente na Europa<br />
e Estados Unidos, onde o consumo de batata nas suas<br />
diferentes formas industrializadas, faz com que<br />
grandes complexos industriais transformem a batata<br />
in natura em toneladas de chips, french fries, amido, fécula,<br />
etc.<br />
No Brasil, onde o consumo de batata é por<br />
excelência feito na forma in natura, somente de vinte<br />
anos para cá é que esta indústria vem se instalando<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
com o objetivo de abastecer o mercado de fast food,<br />
basicamente na forma de french fries congelados, batata<br />
palha, e chips.<br />
Portanto, nesses últimos anos, produtos<br />
congelados derivados da batata, vem aparecendo no<br />
mercado nacional, se fazendo conhecidos, e criando<br />
uma nova demanda por parte das donas de casa, o<br />
que tem levado produtores e industriais a buscarem<br />
novas perspectivas de industrialização do produto,<br />
aumentando a oferta, baixando os preços, reduzindo<br />
perdas e aumentando o consumo.<br />
O setor, entretanto, tem encontrado dificuldades<br />
para o processamento, uma vez que, a batata é um<br />
produto de muita variabilidade qualitativa, variabilidade<br />
esta que influencia diretamente a qualidade final do<br />
produto processado. Assim sendo, as variedades de<br />
batata utilizadas no consumo in natura no Brasil, em<br />
sua grande maioria não se prestam ao processamento.<br />
Hoje, a variedade que mais se adapta ao<br />
processamento é a Bintje, variedade de origem<br />
holandesa, muito susceptível a doenças, muito exigente<br />
em nutrientes e de difícil produção nas regiões quentes<br />
e no verão. Entretanto, é a variedade de mais alto teor<br />
de sólidos solúveis e um nível razoável de açúcares<br />
redutores, características propícias para o<br />
processamento. Outras variedades passíveis de serem<br />
utilizadas no processamento tais como; Atlantic,<br />
Baronesa, Russet Burbank, etc, têm sua produção<br />
limitada pela dificuldade na aquisição de batatasemente<br />
ou ainda pelo desconhecimento das mesmas<br />
pelos produtores.<br />
Chips<br />
A batata chips é uma das diversas formas de se<br />
processar a batata e consta basicamente da batata<br />
cortada em fatias finas de 1 a 2 mm de espessura,<br />
fritas em óleo e salgada. É largamente consumida em<br />
lanches ou no acompanhamento de algumas refeições<br />
leves. As variedades mais aconselhadas para este tipo<br />
de processamento são aquelas que apresentam o mais<br />
baixo teor de açúcar redutor, tal como; Bintje,<br />
Baronesa, Baraka, Desireé, Russet Burbank, Atlantic,<br />
etc. Apesar do teor de açúcar redutor ser um ponto<br />
fundamental, o formato da batata também é<br />
importante, principalmente se o descascamento é<br />
mecânico. As variedades redondas podem ser<br />
descascadas com mais facilidade e com menores<br />
perdas.<br />
A qualidade da batata tipo chips é medida pela<br />
sua coloração e pela quantidade de óleo absorvida. A<br />
coloração é influenciada pela quantidade de açúcar<br />
redutor na matéria prima. O açúcar durante o processo
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
de fritura se carameliza, dando um sabor amargo e<br />
uma coloração marrom ao produto. Já a quantidade<br />
de óleo absorvida, depende do tempo de fritura, da<br />
temperatura do óleo e da quantidade de matéria seca<br />
existente na batata.<br />
O processamento de batata na forma de chips é<br />
relativamente trabalhoso, porém bastante simples.<br />
Consta de várias fases das quais podemos enumerar:<br />
Lavagem: Consiste na retirada dos excessos de<br />
sujeira tais como: terra, restos de culturas e outras<br />
sujeiras aderidas às cascas do produto. Deve ser feita<br />
com água limpa e preferencialmente tratada e corrente.<br />
Descascamento: Poderá ser feito<br />
automaticamente com equipamentos específicos e<br />
destinados para tal fim, ou manualmente, retirandose<br />
a película externa da batata com facas afiadas. Os<br />
equipamentos existentes no mercado, podem ir desde<br />
pequenas máquinas abrasivas para poucas quantidades,<br />
até descascadores para grandes indústrias que retiram<br />
a película da batata após uma rápida cocção.<br />
Acabamento: No caso do descascamento<br />
automático esta fase não se faz necessário, pois o<br />
produto segue uma linha de processamento em que<br />
não comporta a retirada de pequenas partes da película<br />
aderida, ou ainda os “olhos” da batata. Já no caso do<br />
descascamento manual ou em pequenos equipamentos<br />
de descascar, esta fase pode perfeitamente<br />
complementar a toalete do produto, o que aumentará<br />
o nível qualitativo do produto final e diminuirá as<br />
perdas e por conseqüência, os custos.<br />
Lavagem: É um ítem importante na fabricação<br />
do chips, pois após o descascamento ou o corte, as<br />
células danificadas liberam amido, o qual durante o<br />
processo de fritura, funcionará como uma “cola”,<br />
fazendo com que as fatias fiquem aderidas umas às<br />
outras. Portanto, uma boa lavagem com água limpa,<br />
de preferencia tratada e corrente.<br />
Fatiamento: Mesmo em processamentos<br />
artezanais, o fatiamento deverá ser feito mecanicamente,<br />
pois só assim teremos fatias de uma mesma espessura,<br />
o que nos trará uma maior uniformidade de fritura e<br />
uma melhor qualidade final do produto. Recomendase<br />
que as fatias não tenham menos de 1 nem mais de 2<br />
milímetros de espessura. Menos de 1 mm de espessura<br />
as fatias ficarão muito susceptíveis a se quebrarem<br />
durante o processamento, mais de 2 mm, as fatias<br />
poderão ficar com a parte interna sem fritar, o que traria<br />
características indesejáveis para o produto.<br />
Lavagem: Após o fatiamento, é grande a<br />
exudação de seiva do produto contendo grandes<br />
quantidades de amido. A não retirada desse excesso<br />
de amido das fatias, fará com que as mesmas colem<br />
umas nas outras durante a fritura. Portanto, nesta fase<br />
do processo uma lavagem com água limpa, tratada e<br />
corrente deverá ser feita com bastante critério.<br />
Secagem: O processo de secagem deve ser feito<br />
logo após a lavagem com o objetivo de eliminar o<br />
excesso de água que, além de provocar o<br />
borbulhamento do óleo de fritura, poderá quando em<br />
excesso, diminuir em alguns graus a temperatura ideal<br />
de fritura. Poderá ser feito com a exposição das fatias<br />
a uma corrente de ar morno, ou no caso artezanal, até<br />
com um pano limpo, exugando-se as fatias<br />
manualmente.<br />
Fritura: Para se obter uma boa batata tipo chips, a<br />
fritura não deve ultrapassar em 2 minutos a uma<br />
temperatura de 185º C. As fatias devem ser imersas<br />
totalmente no óleo e devem guardar uma proporção<br />
de 1 kg de fatias para 25 litros de óleo. Tendo em vista<br />
preço e facilidade de aquisição, o óleo mais<br />
recomendado é o óleo de soja.<br />
Drenagem do excesso de óleo: A realização<br />
desta fase do processamento é importante à medida<br />
em que se elimina parte do óleo da fritura,<br />
melhorando-se a qualidade do produto. Deve ser feita<br />
deitando-se as fatias recém tiradas da fritadeira em<br />
uma peneira de arame, ou em cima de papel<br />
absorvente.<br />
Adição de sal: Ainda quente as batatas devem<br />
ser salgadas, de preferência com sal fino iodado numa<br />
percentagem de 100 a 200 gramas de sal para cada<br />
10 quilos de batata já frita. O sal deve ser aspergido<br />
por cima das batatas as quais devem estar depositadas<br />
em uma peneira em finas camadas.<br />
Esfriamento: Após a salga, deve-se deixar as<br />
fatias em repouso por um determinado tempo, até<br />
que estas esfriem e possam ser manuseadas.<br />
Seleção: Depois de frias, para melhorar a<br />
qualidade do produto final, deve-se fazer uma seleção<br />
criteriosa das fatias, eliminando-se as fatias<br />
manchadas, escuras, moles e cruas. Dar preferência<br />
a fazer isto em uma superfície limpa, plana e com<br />
boa iluminação. As fatias de boa qualidade devem<br />
ser redondas ou ovais, inteiras, de coloração dourada,<br />
crocantes e sem manchas.<br />
239
240<br />
Embalagem: Em grandes indústrias, a<br />
embalagem é feita automaticamente por máquinas de<br />
alto rendimento, e que até colocam em cada<br />
embalagem a exata quantidade. Entretanto, existem<br />
pequenas máquinas para embalar, as quais<br />
devidamente acopladas a balanças poderão dar um<br />
bom rendimento à última etapa da fabricação de chips.<br />
O tamanho das embalagens e o peso do produto nelas<br />
contido, deve variar de acordo com o mercado<br />
consumidor. Se o objetivo é atingir o varejo, as<br />
embalagens devem pesar de 50 a 100 gramas.<br />
Embalagens com pesos maiores podem ser utilizadas<br />
quando se tem por objetivo atingir atacadistas,<br />
restaurantes, etc.<br />
Armazenamento: Após a embalagem o produto<br />
poderá ficar armazenado em local fresco e seco, por<br />
um prazo não maior do que 15 dias. A partir daí o<br />
óleo começa a rancidificar tornando o produto<br />
imprestável para o consumo.<br />
French fries (palito)<br />
O processamento da batata para a fabricação de<br />
french fries, mais conhecidos como batata palito, é muito<br />
semelhante ao processamento da batata chips.<br />
Entretanto, algumas etapas do processamento são um<br />
pouco diferentes e, para efeito didático, descreveremos<br />
aqui somente aquelas que fazem a diferença.<br />
Corte: O processo de corte para obtenção de<br />
palitos, é diferente do corte para chips. Geralmente feito<br />
por uma máquina complexa, mas que no caso artezanal<br />
pode ser feito em pequenos cortadores manuais,<br />
sempre com o cuidado de cortar a batata no seu maior<br />
comprimento visando obter palitos compridos. Este<br />
é um ponto importante, pois um dos aspectos de<br />
qualidade da batata palito é o comprimento médio<br />
dos mesmos, que deve ser de no mínimo 5 cm. As<br />
dimensões do corte transversal já vêm preestabelecidas<br />
no aparelho, ou seja: 1 cm por 1 cm de corte<br />
transversal.<br />
Branqueamento: Se o interessado quiser<br />
melhorar a qualidade do produto final, entre a secagem<br />
e a fritura, pode ser feito o que é chamado de<br />
branqueamento e que consiste em ferver os palitos<br />
por 2 minutos. Tal processo inibe a ação de algumas<br />
enzimas as quais são responsáveis pelo escurecimento<br />
do produto final.<br />
Fritura: Da mesma forma que os chips, após o<br />
enxugamento do excesso de água dos palitos, os<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
mesmos são fritos em óleo de soja, a uma temperatura<br />
de 190º C durante 4 minutos. Procurar manter sempre<br />
a proporção de 1 kg de palitos para 25 litros de óleo,<br />
pois tal proporção evitará o esfriamento do óleo<br />
quando da colocação da batata para fritar.<br />
Pré-fritura: Os palitos podem, dependendo do<br />
tipo de mercado, serem pré-fritos embalados e<br />
congelados para serem vendidos desta forma. Para<br />
isso, a fritura deve ser mais rápida e em uma<br />
temperatura de óleo mais baixa de modo que os palitos<br />
não fiquem totalmente fritos, operação esta que deverá<br />
ser completada pelo consumidor final. A temperatura<br />
do óleo para pré-fritura deve ser de 180° centígrados<br />
e o tempo não deve ultrapassar 1 minuto.<br />
Congelamento: O processo de congelamento<br />
deve ser feito em duas etapas. Nos grandes<br />
processadores industriais os palitos são transportados<br />
por uma esteira através de um túnel de ar frio, onde o<br />
produto é resfriado até uma temperatura de 2 a 3 graus<br />
centígrados e, após embalados, são congelados a uma<br />
temperatura de 20 graus negativos. No processamento<br />
artezanal, este resfriamento deve ser feito em freezer<br />
com temperatura controlada ou em uma boa geladeira<br />
bem perto da placa de refrigeração e posteriormente<br />
congelado em freezer que alcance a temperatura<br />
indicada.<br />
Batata palha<br />
Praticamente não existe diferença de<br />
processamento entre este produto final e os demais<br />
descritos anteriormente. Somente o tipo de corte, e<br />
um cuidado maior na lavagem pós corte, são os pontos<br />
a serem mais cuidados.<br />
Corte: Após o descascamento a batata deve ser<br />
ralada em um processador de modo a formar um<br />
conjunto uniforme de pedaços compridos e finos de<br />
batata. Tanto o comprimento quanto a espessura dos<br />
pedaços será função do ralador utilizado.<br />
Lavagem: O processo de lavagem da batata ralada<br />
e destinada a batata palha deve ser mais cuidadoso e<br />
mais criterioso. O cuidado se deve ao fato que os<br />
pedaços ralados são mais frágeis e mais susceptíveis à<br />
quebra. Pedaços quebrados ou ralados muito pequenos<br />
e muito finos dão uma qualidade inferior ao produto<br />
final. Por outro lado, tendo em vista que a batata foi<br />
ralada em pedaços muito pequenos, uma quantidade<br />
de amido muito grande foi exudada pelas superfícies<br />
dos pedaços. Assim sendo deve-se procurar lavar ao
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
máximo a batata após o processo de ralação, com o<br />
objetivo de se evitar que os mesmos, quando da<br />
operação de fritura, “colem” uns nos outros,<br />
prejudicando as demais fases do processo quais sejam:<br />
seleção, salga, embalagem, etc.<br />
O gosto pela batata-palha<br />
A batata é o quarto alimento mais consumido<br />
no mundo, depois do trigo, do arroz e do milho. Na<br />
mesa do brasileiro, porém, ainda não tem tanto<br />
destaque. O consumo nacional per capita é de 12 a 13<br />
quilos por ano, enquanto na maior parte dos países<br />
desenvolvidos a média anual por habitante é superior<br />
a 60 quilos. Mas esses números tendem a aumentar<br />
por aqui, principalmente os dos produtos<br />
industrializados ou semiprocessados, explica o<br />
pesquisador Arione da Silva Pereira, responsável pelo<br />
setor de Melhoramento Genético da Embrapa Clima<br />
Temperado e envolvido na pesquisa de novos<br />
cultivares do tubérculo.<br />
Um exemplo é a demanda apresentada por<br />
agricultores, em busca de uma variedade adequada para<br />
a preparação da batata-palha. Ingrediente<br />
indispensável em pratos como o estrogonofe e usada<br />
também no recheio de cachorro-quente, ela acabava<br />
sendo preparada com os cultivares normais na cozinha<br />
de casa ou dos restaurantes. “Ficam com a cor escura<br />
depois de fritas”, explica o pesquisador. Para que isso<br />
não aconteça, o ideal é que a batata utilizada apresente<br />
alto teor de matéria seca e menor porcentagem de<br />
açúcar. Esses fatores garantem baixa absorção de<br />
gordura, melhor textura, sabor e cor amarelo-clara<br />
após a fritura. Não será agora que o agricultor terá<br />
uma cultivar com todas essas características. Mas com<br />
a BRS Pérola, que a Embrapa lançou no início<br />
recentemente, a batata-palha já não ficará tão escura.<br />
Batata-doce<br />
De cor branca, amarela ou roxa e batata-doce se<br />
destaca entre as raízes e tubérculos como em alimentos<br />
de grande importância nutricional.<br />
Tendo valor nutritivo semelhante ao da batatinha<br />
e ao da mandioca, pois os três são feculentas e,<br />
portanto ricas em hidrato de carbono (açúcar), a batata<br />
doce atinge maior valor calórico do que estas. Isto se<br />
explica por esta conter uma quantidade de hidrato de<br />
carbono um pouco mais elevada e também por conter<br />
menor quantidade de água de que a batatinha<br />
formando uma massa mais concentrada.<br />
Entre as vitaminas B1, B2 e um pouco de<br />
vitamina C, a que realmente se sobressai com relevância<br />
é a vitamina. Esta vitamina tão importante para a pele e<br />
para os olhos está contida na batata doce com muita<br />
significância. Para termos uma idéia mais precisa deste<br />
valor basta dizermos que em 100 gramas da batata-doce<br />
temos quase a metade das necessidades diárias de<br />
vitamina A exigidas para um adulto normal (preconizada<br />
pela FAO/OMS).<br />
Além de vitaminas ela também contém minerais<br />
como fósforo, ferro e cálcio. É importante lembrarmos<br />
que a quantidade de cálcio da batata - doce é vezes maior<br />
que a da batatinha. Outro fator importante que não deve<br />
ser esquecido, é que as folhas da batata-doce são muito<br />
nutritivas, e elas contém o dobro de cálcio desta, portanto<br />
onze vezes mais do que a batatinha, e ainda tem três<br />
vezes mais ferro que a batatinha doce: por isso estas<br />
podem e devem ser aproveitadas para enriquecer nossa<br />
alimentação.<br />
Pela quantidade de carboidratos que possui e<br />
também pelo seu valor nutritivo, a batata doce pode<br />
substituir tanto as raízes e tubérculos (batata, mandioca,<br />
batata salsa, cará, inhame, mandioquinha) como também<br />
cereais (arroz, milho, trigo): não só nas principais<br />
refeições, bem como no café da manhã merenda e lanche<br />
com manteiga ou margarina, com açúcar, mel melado: e<br />
ainda pode substituir as mais sofisticadas sobremesas pelo<br />
famoso marrom glacê (doce de batata-doce). As<br />
preparações também são pouco exploradas se resumindo<br />
em cozidas ou fritas quando podemos faze-la assada,<br />
ensopada, purê, bolinho, nhoque, suflê, sopa, etc.<br />
Nas dietas de emagrecimento, a batata-doce deve<br />
ser evitada por ser muito calórica, ou então, o médico ou<br />
o nutricionista deverá estipular a quantidade que poderá<br />
ser ingerida para não ultrapassar as calorias da dieta.<br />
Não se esquecendo que a batata-doce é uma<br />
hortaliça que cresce junto ao solo e tem a possibilidade<br />
de estar contaminada pela terra, inseticidas e<br />
microorganismos, a higiene desta deve ser bem rígida.<br />
Lava se bem em água corrente e com o auxílio de uma<br />
escovinha, escova-se para retirar todo resíduo. Se ela for<br />
armazenada para consumir posteriormente pode ser<br />
envolta em sacos plásticos e mante-las sempre secas, pois<br />
molhadas deterioram com maior facilidade.<br />
No momento da compra devemos escolher as que<br />
apresentam melhor aspecto quando à consistência,<br />
tamanho, integridade, sem manchas escuras ou sinais de<br />
insetos, pois é sem dúvida as que têm maior valor nutritivo<br />
e são mais econômicas, pois rendem mais.<br />
A batata-doce pó ser rica em amido, exige tempo<br />
mais prolongado de cozimento: 20 a 30 minutos. Para<br />
economizar tempo e também combustível utiliza-se a<br />
panela de pressão. Sempre que possível deve se cozinhar<br />
com casca para maior conservação das vitaminas e<br />
minerais.<br />
241
242<br />
De fácil plantio e colheita, e com valor nutritivo<br />
elevado, o brasileiro ainda prefere ficar com a batatinha<br />
mesmo quando a batata-doce se apresenta mais barata.<br />
A batata-doce deve entrar na substituição de diversos<br />
alimentos, pois desta maneira ajuda a variar o seu<br />
cardápio quebrando assim a monotonia alimentar.<br />
A batata-doce é a 4ª hortaliça mais consumida<br />
no Brasil. É uma cultura tipicamente tropical e<br />
subtropical, rústica, de fácil manutenção, boa<br />
resistência contra a seca e ampla adaptação. Apresenta<br />
custo de produção relativamente baixo, com<br />
investimentos mínimos, e de retorno elevado. É<br />
também uma das hortaliças com maior capacidade de<br />
produzir energia por unidade de área e tempo (kcal/<br />
ha/dia).<br />
Vários fatores, entre eles a ocorrência de doenças<br />
e pragas, tecnologia de produção inadequada e a falta<br />
de cultivares selecionadas são responsáveis pela baixa<br />
produtividade média brasileira, que está em torno de<br />
8,7 t/ha. Entretanto, produtividade superior a 25 t/<br />
ha pode ser facilmente alcançada, desde que a cultura<br />
seja conduzida com tecnologia adequada.<br />
O CNPH vem desenvolvendo, desde 1979,<br />
pesquisas visando solucionar estes problemas.<br />
A partir de uma coleção de cultivares com 36<br />
introduções de diversos estados brasileiros, foram<br />
selecionadas quatro, que apresentaram produtividade,<br />
boas características agronômicas e comerciais, e que,<br />
indicadas para cultivo na região do Distrito Federal,<br />
receberam os seguintes nomes: ‘Coquinho’,<br />
‘Brazlândia Roxa’, ‘Brazlândia Branca’, ‘Brazlândia<br />
Rosada’.<br />
A batata e a saúde<br />
Rica em carboidratos, a batata é grande fonte de<br />
energia. Contém ainda sais minerais, vitamina C e, em<br />
pequenas quantidades, vitaminas do complexo B.<br />
Esses nutrientes, porém, podem perder-se no<br />
cozimento. Isso pode ser evitado da seguinte maneira:<br />
lava-se as batatas para retirar a terra, sem descascá-las e<br />
nem cortá-las. Leva-se ao fogo com água suficiente para<br />
cobri-las, até cozinharem completamente.<br />
Quando cortadas e descascadas devem ser cozidas<br />
em pouca água, que deve depois ser aproveitada, por<br />
exemplo, em sopas.<br />
A batata crua acaba com dores de estômago e<br />
enfermidades do intestino. O suco de batatas cruas,<br />
tomado vez ou outra em jejum, combate úlceras do<br />
estômago, duodeno e intestinos. A água de batatas ajuda<br />
a dissolver e expulsar substâncias venenosas contidas<br />
no aparelho digestivo.<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
As batatas esverdeadas e as que estão em<br />
germinação nunca devem ser consumidas, pois<br />
produzem intoxicações que se manifestam através de<br />
cólicas, gastrites e até mesmo disenterias.<br />
As batatas fritas, apesar de saborosas, absorvem<br />
muita gordura, o que torna sua digestão lenta e difícil.<br />
Quando crua e ralada, combate infecções, picadas de<br />
insetos e quaisquer irritações da pele. Cozida, amassada<br />
e em aplicações quentes, ajuda a amadurecer<br />
furúnculos. Rodelas de batata crua sobre a testa<br />
eliminam dores de cabeça.<br />
No entanto, se consumida em quantidade<br />
excessiva, a batata provoca obstrução do ventre e a<br />
dilatação do estômago.<br />
Vacina comestível<br />
A simples batata da mesa do dia-a-dia pode ajudar<br />
cientistas a tratar o papilomavírus, ou HPV, bastante<br />
comum em mulheres e freqüentemente associado ao<br />
câncer de colo de útero.<br />
Cientistas nos Estados Unidos anunciaram<br />
recentemente que pretendem criar uma batata<br />
transgênica capaz de transportar uma vacina contra o<br />
HPV.<br />
Na teoria do pesquisador Robert Rose, o fato de<br />
a batata carregar a vacina simplificaria a aplicação da<br />
imunização, já que a mulher poderia comê-la.<br />
Batatas produzidas e testadas por cientistas das<br />
universidades de Rochester, Cornell e Tulane<br />
mostraram-se capaz de proteger ratos que as comiam<br />
do papilomavírus.<br />
Os anticorpos produzidos nos ratos foram os<br />
mesmos que seriam necessários para proteger as<br />
mulheres. “A beleza dessa vacina é que ela não precisaria<br />
ser aplicada com uma agulha. Em muitos casos, nem<br />
um médico ou técnico seria necessário”, explica Rose.<br />
Segundo ele, a vacina em forma de batata poderia ser<br />
um método eficaz para controlar os casos de câncer de<br />
colo de útero nos países em desenvolvimento,<br />
responsáveis por 80% dos casos da doença.<br />
Hoje, não existe uma vacina contra o HPV. A única<br />
forma de prevenção ao vírus é a prática do sexo seguro.<br />
Os cientistas também examinam a possibilidade de<br />
bananas serem vetores de vacinas. Potencialmente, a<br />
fruta seria um melhor transmissor de vacinas do que a<br />
batata porque é comida crua e não cozida, o que pode<br />
conservar melhor o medicamento.<br />
Freda Stevenson, que pesquisa vacinas contra o<br />
câncer na Universidade de Southampton, na Grã-<br />
Bretanha, disse que a vacina em forma de batata é apenas<br />
mais um método que vem sendo estudado contra o<br />
câncer de colo de útero.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
“Nós precisamos mudar a forma como vemos a<br />
vacina como uma substância líquida em um recipiente,<br />
aplicada com uma seringa”, acha ela.<br />
O HPV é um vírus extremamente transmissível.<br />
Em homens, ele não leva a doenças. Mas em mulheres<br />
ele pode levar a uma divisão anormal das células do<br />
colo do útero, levando ao câncer. Nos países em<br />
desenvolvimento, o problema é mais grave pois o<br />
câncer demora a ser detectado, já que menos mulheres<br />
fazem o preventivo, ou exame ginecológico capaz de<br />
diagnosticar a lesão.<br />
Extrato de batata: novo rumo para antibióticos<br />
Um extrato de batata pode oferecer uma nova<br />
estratégia para a pesquisa de antibióticos. A idéia<br />
consiste em não matar as bactérias, mas apenas<br />
prevenir que as mesmas se liguem às células humanas.<br />
Os resultados desse estudo, conduzido pela Dra.<br />
Marjorie Cowan, da Universidade de Ohio, foram<br />
apresentados neste ano na 100ª reunião geral da<br />
Sociedade Americana de Microbiologia.<br />
“Nos últimos anos, muitos cientistas acreditaram<br />
que existe uma outra forma de prevenir ou curar<br />
infecções, além de simplesmente eliminar o agente<br />
causador da doença. A maioria dos microorganismos<br />
deve se fixar firmemente no tecido-alvo para causar a<br />
doença. Prevenindo-se ou desfazendo-se esta fixação<br />
ao tecido hospedeiro, pode-se criar uma abordagem<br />
mais branda para a cura ou prevenção da doença”,<br />
afirma Cowan.<br />
Todos os antibióticos atuais essencialmente<br />
eliminam bactérias. Na pesquisa de novos antibióticos,<br />
uma nova estratégia era a análise de extratos de plantas,<br />
utilizado há muito tempo por curandeiros tradicionais,<br />
com relação a sua habilidade de eliminar<br />
microorganismos. Os pesquisadores deste estudo<br />
resolveram seguir outra estratégia: analisar o extrato<br />
de plantas que possuísse propriedades contra a<br />
infecção, mas que não fosse capaz de matar as<br />
bactérias. Descobriram que um extrato (feito com<br />
água) da camada de alguns milímetros de espessura<br />
da batata inibia a fixação de um estreptococos oral a<br />
uma substância da superfície do dente. A substância<br />
também preveniu a fixação da E. coli, causadora de<br />
infecções do trato urinário.<br />
Os pesquisadores identificaram um composto<br />
específico presente no extrato responsável por inibir<br />
a adesão da bactéria. É denominado polifenol oxidase<br />
(em inglês, PPO), sendo uma enzima comum em<br />
plantas, responsável pelo escurecimento (ou<br />
amadurecimento) de uma variedade de frutas e<br />
vegetais, incluindo-se maçãs, batatas e cogumelos. O<br />
uso de substâncias como a PPO para tratar infecções<br />
também pode resolver o problema da resistência a<br />
antibióticos. A destruição das bactérias sensíveis a<br />
antibióticos é um requisito primário para o surgimento<br />
de mutantes resistentes. Como esses compostos não<br />
eliminam as bactérias sensíveis, estas continuam<br />
presentes para competir e excluir pela força de número<br />
qualquer tipo de bactéria resistente que possa se<br />
desenvolver.<br />
Uma batata diet poderosa para diabéticos<br />
A batata Yacon, de nome científico Polymnia<br />
sonchifolia, da família Asteraceae, também chamada<br />
batata “diet” ou polínia, é uma planta herbácea, perene,<br />
originária dos Andes, sendo cultivada na Colômbia,<br />
Equador e Peru em altitudes de 900 a 2.750m, mas<br />
alguns cultivos são feitos a mais de 3.400m. Por ser<br />
originária de grandes altitudes, a planta tolera baixas<br />
temperaturas e prefere solos aerados, soltos, arenoargilosos<br />
e com pH em torno de 6,0.<br />
O tubérculo tem sabor de pêra e melão, sendo<br />
bastante consumido no oriente na forma in natura e<br />
também na forma de chips. As folhas e as túberas são<br />
indicadas para o tratamento da diabetes e do colesterol.<br />
Importância da inulina<br />
A batata yacon está sendo considerada um<br />
alimento nutracêutico em decorrência dos estudos<br />
sobre a diminuição dos níveis de açúcar no sangue,<br />
após consumo repetido da mesma. Esta batata,<br />
diferentemente da maioria dos tubérculos que<br />
armazenam amido, acumula inulina, uma forma de<br />
oligofrutano com alto poder adoçante e baixo poder<br />
calórico.<br />
A inulina é um carboidrato cuja cadeia é<br />
composta predominantemente por unidades de<br />
frutose (frutana), com uma unidade de glicose<br />
terminal, sendo a ligação entre as moléculas de frutose<br />
do tipo b(2->1), ou seja, uma molécula de sacarose<br />
associada a n moléculas de frutose (n = 30-50).<br />
A inulina e a oligofrutose apresentam valores<br />
calóricos reduzidos (1kcal/g e 1,5 kcal/g). Não são<br />
digestíveis porque as ligações b(2->1) entre as unidades<br />
de frutose não podem ser hidrolisadas pelas enzimas<br />
digestíveis humanas; após serem ingeridas chegam<br />
quase que integralmente no cólon. Lá, são fermentadas<br />
pela microflora e transformadas em gases (10%),<br />
ácidos graxos voláteis (50%) ou encontram-se (40%)<br />
na biomassa bacteriana excretada. Assim, a inulina não<br />
aumenta nem a glicemia nem a taxa de insulina no<br />
sangue, sendo, consequentemente, indicada para os<br />
diabéticos.<br />
243
244<br />
Hoje, a maioria dos países europeus consideram<br />
a inulina uma fibra alimentar. Essa fibra solúvel é<br />
encontrada em muitas fontes na natureza e constitui<br />
a reserva energética de cerca de 36.000 vegetais (alho,<br />
banana, cebola, yacon , chicória, alcachofra, etc)<br />
Dores de úlcera<br />
Não basta ter uma boa noite de sono para<br />
começar o dia de bom humor. O corpo tem de estar<br />
bem, sem dores. Enfim, saudável. Que tal umas batatas<br />
para ajudar?<br />
Para aliviar as dores da úlcera, a dica é bater no<br />
liqüidificador uma fatia de batata crua com um copo<br />
d´água. Tome quatro vezes por dia durante um mês.<br />
A raiz também combate a anemia, pois tem alto teor<br />
de ferro. Para pessoas com desnutrição, vale tomar<br />
todos os dias suco de batata crua, que é rica em<br />
vitaminas, proteínas e sais minerais.<br />
Pesquisa confirma que batata frita pode dar<br />
câncer<br />
Pesquisa publicada em junho 2002, revela que<br />
cerca de 30 noruegueses contraem câncer por ano<br />
devido à ingestão de alguns alimentos fritos.<br />
A Autoridade de Controle de Alimentos da<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Conteúdo em inulina e oligofrutose de vegetais comumente usados na alimentação humana<br />
Fonte Parte Conteúdo em Contúdo em Inulina (%) Contédo em<br />
material seco (%) oligofrutose (%)<br />
Yacon Raiz 13-31 3-19 3-19<br />
Alho Bulbo 40-45 9-16 3-6<br />
Banana Fruta 24-26 0,3-0,7 0,3-0,7<br />
Cebola Bulbo 6-12 2-6 2-6<br />
Chicória Raiz 20-25 15-20 5-10<br />
Alcachofra Folha/Coração 14-16 3-10 < 1<br />
Noruega encomendou o estudo logo após os cientistas<br />
suecos terem informado em abril, que batatas fritas e<br />
outros alimentos ricos em carboidratos, contêm uma<br />
substância chamada acrilamida, que pode provocar o<br />
câncer.<br />
A acrilamida se forma quando os carboidratos<br />
são aquecidos em certos processos culinários, como<br />
o de fritar batatas ou assar o pão, segundo o estudo.<br />
O comunicado à imprensa diz que a análise feita<br />
em 30 alimentos confirma a descoberta dos cientistas<br />
suecos e um estudo posterior realizado na Grã-<br />
Bretanha.<br />
Entre os alimentos estudados, as batatas fritas<br />
foram as que apresentaram o maior nível de acrilamida<br />
- 90 vezes mais do que o pão, que está no nível mais<br />
baixo.<br />
Fontes:<br />
EMBRAPA, EMATER, IBGE, CTNBio, IAC, USP,<br />
UNICAMP, FDA, Folha de São Paulo, Revista Isto É,<br />
O Estado de São Paulo, American Journal of Clinical<br />
Nutrition, Archives of Internal Medicine, Instituto<br />
de Biotecnologia Aplicada a Agropecuária, Centro<br />
Internacional de Agricultura Tropical e American Heart<br />
Association.<br />
Dossiê realizado por Ricardo Augusto Ferreira
Nutrição Brasil - snovembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Sam J Bhathena and Manuel T<br />
Velasquez, American Journal of<br />
Clinical Nutrition 2002;76:1191-<br />
1201, dezembro de 2002<br />
Barbara J Rolls, Erin L Morris and<br />
Liane S Roe, American Journal of<br />
Clinical Nutrition 2002;76:1207-<br />
1213, dezembro de 2002<br />
Resumos de trabalhos<br />
Benefícios dos fitoestrógenos da dieta na obesidade e<br />
no diabetes<br />
Evidências sugerem que os fitoestrógenos da dieta exercem um papel<br />
benéfico na obesidade e no diabetes. Estudos de intervenção nutricional<br />
realizados em animais e em humanos, sugerem que a ingestão de proteína<br />
da soja associada à isoflavonas e semente de flax ricas em lignanas, melhoram<br />
o controle glicêmico e a resistência à insulina. Em modelos de animais<br />
com obesidade e diabetes, a proteína da soja tem redizido a insulina sérica<br />
e a resistência à insulina. Em estudos com humanos com ou sem diabetes,<br />
a proteína da soja também parece moderar a hiperglicemia e reduzir peso<br />
corporal, hiperlipidemia e hiperinsulinemia, embasando seus efeitos<br />
benéficos na obesidade e no diabetes. Entretanto, muitos destes estudos<br />
clínicos foram relativamente curtos e envolveram um número pequeno de<br />
pacientes. Além disso, não está claro se os efeitos benéficos da proteína da<br />
soja e das sementes de flax são atribuídos às isoflavonas (daidzeina e<br />
genisteina), lignanas (matairesinol e secoisolariciresinol) ou algum outro<br />
componente. Isoflavonas e lignanas parecem agir através de vários<br />
mecanismos que modulam a secreção pancreática de insulina ou através de<br />
ações antioxidantes. Eles podem também agir via mecanismos de mediação<br />
de receptores de estrogênio. Algumas dessas ações foram mostradas in<br />
vitro, mas a relevância desses estudos em relação às doenças em vivo não é<br />
conhecida. A diversidade das ações celulares das isoflavonas e das lignanas<br />
sustentam seus possíveis efeitos benéficos em várias doenças crônicas. Mais<br />
investigações são necessárias para avaliar os efeitos a longo prazo dos<br />
fitoestrógenos na obesidade e no diabetes mellitus e suas possíveis<br />
complicações associadas.<br />
O tamanho da porção do alimento afeta a ingestão de<br />
energia em mulheres e homens com peso normal e<br />
sobrepeso<br />
Introdução: Grandes porções de alimentos podem contribuir para ingestão<br />
excessiva de energia e promover a obesidade. Entretanto, pesquisas sobre os<br />
efeitos de tamanho das porções na ingestão alimentar de adultos são limitadas.<br />
Objetivos: Nós examinamos o efeito do tamanho da porção ingerida<br />
durante uma única refeição. Nós também investigamos se a resposta ao<br />
tamanho da porção dependia em que a pessoa, indivíduo ou pesquisador,<br />
determinava a quantidade de alimento no prato.<br />
245
246<br />
Continuação<br />
Louise I Mennen et al, American<br />
Journal of Clinical Nutrition<br />
2002;76:1279-1289, dezembro de<br />
2002<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Desenho: Foram servidos almoço, para 51 homens e mulheres, 1 vez<br />
por semana, durante 4 semanas, que incluía entrada de macarrão e queijo<br />
consumida ad libitum. Em cada refeição, os indivíduos poderiam escolher<br />
entre 1 das 4 porções de entrada: 500, 625, 750, ou 1000 g. Um grupo de<br />
indivíduos recebeu a porção num prato, e um segundo grupo recebeu numa<br />
travessa e se serviu da quantidade desejada em seus pratos.<br />
Resultados: O tamanho da porção influenciou significativamente a<br />
ingestão de energia no almoço (P < 0,0001). Os indivíduos consumiram<br />
30% mais energia (676 kJ), quando era oferecida a maior porção ao invés<br />
da menor porção. A resposta às variações no tamanho da porção não foi<br />
influenciada por quem determinou a quantidade de alimento no prato ou<br />
pela características individuais como sexo, índice de massa corporal ou<br />
scores para restrição dietética ou desinibição.<br />
Conclusão: Porções grandes levaram a uma maior ingestão energética,<br />
independentemente do método que foram servidas e das características<br />
individuais. O tamanho da porção é um determinante modificável da<br />
ingestão de energia, que deve ser colocado em conexão com a prevenção e<br />
o tratamento da obesidade.<br />
Homocisteína, fatores de risco para doença<br />
cardiovascular, e dieta habitual em estudo de<br />
suplementação de vitaminas e minerais antioxidantes<br />
na França<br />
Introdução: Uma concentração elevada de homocisteína plasmática<br />
total (tHcy) parece aumentar o risco de doença cardiovascular.<br />
Objetivo: Nós avaliamos os determinantes de tHcy em adultos<br />
franceses saudáveis.<br />
Desenho: Os níveis de tHcy foram medidos por HPLC e detecção<br />
fluorimétrica em 1.139 mulheres e 931 homens com idade entre 35-60<br />
anos. Os indivíduos eram participantes do Estudo de Suplementação<br />
com Vitaminas e Minerais Antioxidantes, que investiga os efeitos da<br />
suplementação de antioxidantes em doenças crônicas. Folato das hemácias<br />
(RBCF), vitaminas B6 e B12 plasmáticas, além de fatores de risco para<br />
doença cardiovascular também foram mensurados. A dieta habitual foi<br />
avaliada em 616 indivíduos. Análise cruzada seccional foi ajustada para<br />
idade, fumo, consumo energético e a concentração ou ingestão de folato<br />
e vitamina B6, quando apropriado.<br />
Resultados: A concentração média (±DP) de tHcy foi 8,74 ± 2,71<br />
µmol/l nas mulheres e 10,82 ± 3,49 µmol/l nos homens. Nas mulheres,<br />
o tHcy foi relacionado positivamente à idade (P = 0.001), apolipoproteína<br />
B (P < 0,01), triacilglicerol do soro (P < 0,01), glicose de jejum (P =<br />
0,02), consumo de café e álcool (ambos P < 0,01), inversamente<br />
relacionado ao RBCF (P = 0,11), vitamina B12 plasmática (P = 0,08) e<br />
ingestão de vitamina B6 (P = 0,01). Nos homens, tHcy foi positivamente<br />
associado ao índice de massa corporal (P = 0,03), pressão sangüínea (P<br />
< 0,02), triacilglecerol do soro (P < 0,01), glicose de jejum (P = 0,01),<br />
e consumo energético (P < 0,01) e inversamente associado à atividade<br />
física (P = 0,04), RCBF (P = 0,02), vitamina B-12 plasmática (P = 0,09),<br />
e ingestão de fibra dietética (P < 0,01), folato (P = 0,03), e vitamina B-<br />
6 (P = 0,09).
Nutrição Brasil - snovembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Continuação<br />
Ingibjorg Gunnarsdottir et al,<br />
American Journal of Clinical<br />
Nutrition 2002:76:1290-1294,<br />
dezembro de 2002<br />
Mary C Gannon, Jennifer A Nuttall<br />
and Frank Q Nuttall, American<br />
Journal of Clinical Nutrition<br />
2002;76:1302-1307, dezembro de<br />
2002<br />
Conclusão: Para controlar tHcy, diminuir o consumo de café e álcool<br />
podem ser importante para as mulheres, enquanto o aumento da atividade<br />
física, fibra dietética e ingestão de folato podem ser importante para os<br />
homens.<br />
Tamanho e alto peso ao nascer e doença arterial<br />
coronariana<br />
Introdução: Estudos epidemiológicos sugerem uma ligação entre o<br />
crescimento fetal e na infância, com o aparecimento posterior de doença<br />
arterial coronariana (DAC). A influência do tamanho corporal do adulto,<br />
na relação entre tamanho de nascimento e DAC, ainda não foi<br />
profundamente estudada.<br />
Objetivo: Nós investigamos a associação entre tamanhos ao nascer e<br />
em adultos e CAD, em uma população com alto peso de nascimento e<br />
uma baixa incidência e taxa de mortalidade relacionada à DAC, do que<br />
aquelas vistas em outras populações da Escandinávia.<br />
Desenho: DAC fatal não foi encontrado em 2399 homens e 2376<br />
mulheres nascidos na área do grande Reykjavik entre 1914 e 1935. O<br />
tamanho do nascimento foi obtido a partir do Arquivo Nacional. Medidas<br />
antropométricas nos adultos foram obtidas a partir de estudo prospectivo<br />
randomizado - Reykjavik Study.<br />
Resultados: DAC foi inversamente relacionado ao cumprimento de<br />
nascimento (P = 0,029) em homens, mas não significativamente<br />
relacionados ao peso de nascimento ou índice ponderal (kg/m 3 ). Nos<br />
homens nascidos pequenos (≤ 50,5 cm) e que ficaram altos quando adultos<br />
(175–180,5 ou > 180,5 cm), o odds ratios (95% IC) para DAC foi 1,9 (1,1,<br />
3,1) e 2,2 (1,2, 4,0), respectivamente, quando comparado com os homens<br />
do grupo de referência (nascidos 52,5-54,0 cm). A relação de curva em U<br />
entre tamanho no nascimento e DAC foi encontrada para mulheres.<br />
Conclusões: O tamanho no nascimento possui um efeito em DAC, mas<br />
o efeito é modificado com o tamanho corporal do adulto. Isto confirma<br />
que fatores ambientais atuam tanto no período pré-natal como no pósnatal,<br />
com conseqüências no desenvolvimento de DAC. O grande tamanho<br />
de nascimento entre os islandeses, pode explicar a baixa incidência e taxa<br />
de mortalidade de DAC na Islândia, do que as vistas em outra populações<br />
brancas.<br />
A resposta metabólica à glicina ingerida<br />
Introdução: Os efeitos metabólicos da proteína dietética são complexos.<br />
Em pessoas com diabetes tipo 2, a ingestão protéica resulta num pequeno<br />
ou não aumento das concentrações de glicose plasmática, mas uma<br />
estimulação das secreções de insulina e glucagon. Além disso, quando a<br />
proteína é ingerida com glicose, um efeito sinérgico na secreção de insulina<br />
é observado. A proteína mais potente é a gelatina, que consiste de 30% de<br />
resíduos de glicina.<br />
Objetivo: O objetivo do presente estudo foi determinar o quanto a<br />
glicina estimula a secreção de insulina ou reduz a resposta da glicose quando<br />
ingerida com glicose.<br />
247
248<br />
Continuação<br />
Julie A. Ross et al, Annu Rev Nutr<br />
2002;22:19-34, novembro de<br />
2002<br />
Richard E. Ostlund Jr, Annu Rev<br />
Nutr 2002;22:533-549, novembro<br />
de 2002<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Desenho: 9 indivíduos saudáveis foram testados em 4 ocasiões em<br />
separado. Glicose plasmática, insulina, glucagon, e concentrações de glicina<br />
foram medidas em vários momentos, durante um período de 2h após a<br />
ingestão de 1 mmol de glicina/kg de massa corporal total, 25g de glicose,<br />
1 mmol de glicina/kg de massa corporal total + 25g de glicose ou somente<br />
água.<br />
Resultados: As concentrações plasmáticas de glicina e glucagon foram<br />
elevadas após a ingestão de glicina como esperado. A concentração sérica<br />
de insulina também foi levemente elevada após a ingestão de glicina. Quando<br />
a glicina foi ingerida com glicose, a área de resposta à glicose plasmática foi<br />
atenuada por > 50% comparada com a resposta após a ingestão de glicose<br />
sozinha. A dinâmica da resposta à insulina após a ingestão de glicina mais<br />
glicose, foi modestamente diferente daquela após ingestão de glicose<br />
sozinha, mas a área de resposta não foi significativamente diferente.<br />
Conclusão: Os dados são compatíveis com a hipótese de que glicina<br />
oral estimula a secreção dos hormônios pancreáticos, que potencializam<br />
os efeitos da insulina na remoção da glicose da circulação.<br />
Flavanóides dietéticos: biodisponibilidade, efeitos<br />
metabólicos e segurança<br />
Os flavonóides constituem o maior grupo de polifenóis de plantas e<br />
são responsáveis pela maior parte do sabor e da cor das frutas e dos vegetais.<br />
Mais de 5.000 diferentes flavonóides foram descritos. As seis maiores<br />
subclasses de flavonóides incluem as flavonas (e.g., apigenina, luteolina),<br />
flavonois (e.g., quercetina, myricetina), flavanonas (e.g., naringenina,<br />
hesperidina), catequinas ou flavanois (e.g., epicatequina, gallocatequina),<br />
anthocyanidinas (e.g., cyanidina, pelargonidina) e isoflavonas (e.g., genisteina,<br />
daidzeina). A maioria dos flavonóides presentes nas plantas estão ligados à<br />
açúcares (glicosídios), apesar de ocasionalmente serem encontrados como<br />
agliconas. Tem aumentado o interesse nos possíveis benefícios para saúde<br />
dos flavonóides, devido suas atividades como antioxidante potente e<br />
captador de radical livre, observadas in vitro. Há evidência crescente, a partir<br />
de estudos de alimentação humana, de que a absorção e a biodisponibilidade<br />
de flavonóides específicos são bem maiores do que se acreditava<br />
originalmente. Entretanto, estudos epidemiológicos explorando o papel<br />
dos flavonóides na saúde humana não têm sido conclusivos. Alguns estudos<br />
sustentam um efeito protetor do consumo de flavonóides em doenças<br />
cardiovasculares e câncer, outros estudos não demonstram nenhum efeito,<br />
e alguns estudos sugerem potenciais danos. Como existem várias atividades<br />
biológicas atribuídas aos flavonóides, algumas delas podem ser benéficas<br />
ou deteriorantes, dependendo de circunstâncias específicas. São requeridos<br />
mais estudos, tanto em laboratório como com populações.<br />
Fitoesteróis na nutrição humana<br />
Os fitoesteróis são moléculas semelhantes ao colesterol encontrada<br />
em todas as plantas alimentícias, com as maiores concentrações ocorrendo<br />
nos óleos vegetais. Eles são absorvidos somente em pequenas quantidades,<br />
mas inibem a absorção intestinal do colesterol, incluindo o colesterol biliar
Nutrição Brasil - snovembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Continuação endógeno recirculante, um passo importante na eliminação do colesterol.<br />
A ingestão dietética natural varia entre aproximadamente 167–437 mg/<br />
dia. Tentativas de mensurar os efeitos biológicos na alimentação foram<br />
impedidas pela solubilidade limitada em água e gordura. A esterificação<br />
dos fitoesteróis com ácidos graxos de cadeia longa, aumenta a solubilidade<br />
em gordura em 10 vezes e permite o fornecimento de várias gramas diárias<br />
em alimentos gordurosos, como a margarina. Uma dose de 2 g/dia com<br />
éster reduz a proteína de baixa densidade-colesterol em 10%, e uma pequena<br />
diferença é observada entre ∆ 5 -esteróis e 5α-esteróis reduzidos (estanois).<br />
Os fitoesteróis também podem ser dispersos na água após emulsificação<br />
com lecitina, além de reduzir a absorção do colesterol quando adicionados<br />
à alimentos não graxos. Em contraste a esses estudos de suplementação,<br />
muito menos é conhecido sobre o efeito de níveis baixos de fitoesteróis na<br />
dieta natural. Entretanto, a redução da absorção de colesterol pode ser<br />
medida com uma dose de somente 150 mg durante refeições-teste sem<br />
esteróis, sugerindo que os fitoesteróis dos alimentos naturais podem ser<br />
clinicamente importantes. A literatura usual sugere que os fitoesteróis são<br />
seguros quando adicionados à dieta, e a absorção medida e os níveis<br />
plasmáticos são muito pequenos. O aumento a quantidade agregada de<br />
fitoesteróis consumidos em vários alimentos, pode ser um caminho<br />
importante para a redução dos níveis de colesterol da população e na<br />
prevenção de doença cardíaca coronariana.<br />
Debra J. Moorhead, Inc Int J Eat<br />
Disord 2003;33:1-9, janeiro de<br />
2003<br />
Preditores de disordens alimentares em crianças e<br />
adolescentes em comunidade de população de<br />
mulheres adultas jovens<br />
Objetivo:<br />
Este estudo investiga preditores precoces do desenvolvimento de<br />
desordens alimentares em adultos jovens, numa amostra de mulheres de<br />
uma comunidade participando de um estudo longitudinal de 22 anos.<br />
Método: 21 mulheres foram identificadas na idade de 27 anos com<br />
total ou parcial desordem alimentar. Essas mulheres foram comparadas<br />
com 47 mulheres sem história de desordem alimentar ou fatores preditivos<br />
circunvizinhos.<br />
Resultados: As mulheres com desordens alimentares apresentaram<br />
problemas de saúde mais sérios antes de 5 anos e as mães reportaram<br />
ansiedade-depressão aos 9 anos. Aos 15, as mães as descreveram como<br />
tendo maiores problemas comportamentais. Antes dos 15, as famílias dos<br />
grupos com desordens alimentares tiveram mais história de depressão,<br />
problemas alimentares e mudanças nas circunstâncias financeiras das<br />
famílias.<br />
Discussão: Este estudo identifica preditores precoces distinguindo<br />
garotas que desenvolvem desordens alimentares. As descobertas apontam<br />
para uma necessidade de pesquisa continuada na área de saúde precoce,<br />
para examinar compreensivamente fatores biológicos, comportamentais e<br />
riscos ambientais para desordens alimentares.<br />
249
250<br />
A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação<br />
de artigos científicos das áreas relacionadas à Nutrição.<br />
Os artigos publicados em Nutrição Brasil poderão também<br />
ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim<br />
como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que<br />
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores<br />
já aceitem estas condições.<br />
A revista Nutrição Brasil assume o “estilo Vancouver”<br />
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical<br />
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo<br />
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as<br />
especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo<br />
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International<br />
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org,<br />
na versão atualizada de outubro de 2001.<br />
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções<br />
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/<br />
e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não<br />
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou<br />
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos<br />
textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo<br />
científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />
1. Editorial<br />
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou<br />
por um de seus membros.<br />
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4<br />
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times<br />
Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito,<br />
itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que<br />
dez referências.<br />
2. Artigos originais<br />
Serão considerados para publicação, aqueles não publicados<br />
anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que<br />
versem sobre as áreas relacionadas à Nutrição.<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,<br />
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,<br />
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />
sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato<br />
Excel/Word.<br />
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas<br />
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point,<br />
Excel, etc.<br />
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Normas de publicação Nutrição Brasil<br />
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências<br />
bibliográficas.<br />
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão<br />
o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade,<br />
concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto.<br />
3. Revisão<br />
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas<br />
relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê Científico, bem<br />
como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e<br />
atualidade interessem a publicação na revista.<br />
Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos<br />
artigos originais.<br />
4. Comunicação breve<br />
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com<br />
maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,<br />
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar<br />
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de<br />
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.<br />
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,<br />
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,<br />
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />
sobre-escrito, etc.<br />
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e<br />
figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />
editados em Power Point, Excel, etc<br />
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências<br />
bibliográficas.<br />
5. Resumos<br />
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos<br />
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê<br />
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />
6. Correspondência<br />
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que<br />
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém<br />
relacionados à linha editorial da revista.<br />
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,<br />
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a<br />
carta.<br />
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as<br />
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />
Preparação do original<br />
1. Normas gerais<br />
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em<br />
processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de<br />
formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman<br />
(English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto,<br />
tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para<br />
cada tabela junto à mesma.<br />
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com<br />
as especificações anteriores.<br />
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,<br />
e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e<br />
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.<br />
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,<br />
introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão<br />
e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do<br />
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).<br />
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive,<br />
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio<br />
em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e<br />
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do<br />
artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o<br />
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.<br />
2. Página de apresentação<br />
A primeira página do artigo apresentará as seguintes<br />
informações:<br />
• Título em português e inglês.<br />
• Nome completo dos autores, com a qualificação curricular<br />
e títulos acadêmicos.<br />
• Local de trabalho dos autores.<br />
•Autor que se responsabiliza pela correspon-dência, com<br />
o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />
• Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,<br />
para paginação.<br />
• As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,<br />
aparelhos, etc.<br />
3. Autoria<br />
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter<br />
participado do trabalho o suficiente para assumir a<br />
responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />
O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />
contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação<br />
do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu<br />
conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será<br />
publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />
a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos<br />
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A<br />
supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.<br />
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />
4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />
Key-words)<br />
Na segunda página deverá conter um resumo (com no<br />
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras<br />
para os estruturados), seguido da versão em inglês.<br />
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes<br />
informações:<br />
• Objetivos do estudo.<br />
• Procedimentos básicos empregados (amostragem,<br />
metodologia, análise).<br />
• Descobertas principais do estudo (dados concretos e<br />
estatísticos).<br />
• Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior<br />
novidade.<br />
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave<br />
(ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para<br />
tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos<br />
de matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />
Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no<br />
MeSH, os termos atuais).<br />
5. Agradecimentos<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio<br />
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de<br />
laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,<br />
antes as referências, em uma secção especial.<br />
6. Referências<br />
As referências bibliográficas devem seguir o estilo<br />
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências<br />
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre<br />
parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto,<br />
seguindo as seguintes normas:<br />
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras<br />
iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor<br />
do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo<br />
- itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e<br />
vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />
Exemplo:<br />
<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />
Atlantica Editora - Rua Conde Lages, 27 - Glória - 20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />
Tel: (21) 2221 4164 - E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br<br />
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,<br />
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and<br />
management. 2 nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.<br />
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),<br />
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.<br />
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação<br />
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois<br />
pontos, páginas inicial e final, pon<br />
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio<br />
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de<br />
laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,<br />
antes as referências, em uma secção especial.<br />
251
ABRIL<br />
2003<br />
2 a 4 de abril<br />
Dietética – Expo Diet Light<br />
Congresso paulista de nutrição<br />
Congresso de soja<br />
Exposição e Congresso de Nutrição,<br />
Produtos Diet, Light e Especiais<br />
ITM Expo - São Paulo SP<br />
Informações: (47)326 4267<br />
E-mail: latineve@latinevent.com.br<br />
www.latinevent.com.br<br />
17 a 21 de abril<br />
V o Congresso Brasileiro Pediátrico de<br />
Endocrinologia e Metabologia<br />
V o Cobrapem<br />
Mar Hotel, Recife, Pernambuco<br />
Presidente: Prof a . Dr a . Elcy Falcão<br />
Informações: (81) 3423-1300<br />
E-mail: andrealatache@assessor5pe.com.br<br />
26 a 30 de abril<br />
6 th European Congress of Endocrinology<br />
Lyon, França<br />
Informações: W.M. Wiersinga<br />
Department of Endocrinology &<br />
Metabolism<br />
Academic Medical Center F5-171<br />
Meibergdreef 9<br />
1105 AZ Amsterdam - The Netherlands<br />
Tel.: 31 20 566 6071<br />
Fax: 31 20 691 7682<br />
w.m.wiersinga@amc.uva.nl<br />
17 a 21 de abril<br />
V o Congresso Brasileiro Pediátrico de<br />
Endocrinologia e Metabologia<br />
V o Cobrapem<br />
Mar Hotel, Recife, Pernambuco<br />
Presidente: Prof a . Dr a . Elcy Falcão<br />
Informações: (81) 3423-1300<br />
E-mail: andrealatache@assessor5pe.com.br<br />
Calendário de eventos<br />
MAIO<br />
29 de maio a 1 de junho<br />
12 th European Congress on Obesity<br />
Helsinki, Finland<br />
Informações: Dr. Mikael Fogelholm<br />
UKK Institute for Health Promotion<br />
Research, POB 30, 33501 Tampere,<br />
Finland<br />
Tel: + 358 3 2829 201<br />
Fax: + 358 3 2829 559<br />
e-mail: mikael.fogelholm@uta.fi<br />
JUNHO<br />
14 a 17 de junho<br />
63 th Annual Scientific Sessions of the<br />
American Diabetes Association<br />
New Orleans, Louisiana<br />
Informações: +1 800 232 3472<br />
E-mail: meetings@diabetes.org<br />
www.diabetes.org<br />
AGOSTO<br />
6 a 10 de agosto<br />
30 th Annual Meeting of the American<br />
Association of Diabetes Educators<br />
Salt Palace Convention Center, Salt<br />
Lake City, Utah<br />
Tel: (312) 424 2426<br />
www.aadenet.org<br />
24 a 29 de agosto4 a 29 de agosto<br />
18 th Internacional Diabetes Federation<br />
Congress<br />
Paris, França<br />
Informações: Prof. Dr. Gerard<br />
Cathelineau, Hopital Saint-Louis, 1<br />
avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris,<br />
França<br />
Tel : +33 1 4249 9697<br />
www.idf.org<br />
NOVEMBRO<br />
12 a 15 de novembro<br />
VIII o Congresso Brasileiro de Nutrologia<br />
Centro de Convenções, Goiânia GO<br />
Informações: (17) 3524 4929 / 523<br />
9732 / 523 3645<br />
2004<br />
XIV th International Congress of<br />
Dietetics<br />
Chicago, EUA<br />
Informações:<br />
2004Congress@catright.org<br />
Fax: 312/899-4772<br />
SETEMBRO<br />
2005<br />
19 a 24 de setembro<br />
18 th International Congress of Nutrition<br />
Durban, África do Sul<br />
Informações:<br />
jlochner@mcd4330medunsa.ac.za