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Nutricao_2002.pdf - Jean Peres

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o<br />

Ano I - n 1 • maio/junho de 2002<br />

PERFIL<br />

Aperfeiçoamento<br />

profissional amplia<br />

mercado de trabalho<br />

dos nutricionistas<br />

METABOLISMO<br />

Propriedades<br />

funcionais do amido<br />

resistente<br />

VITAMINA<br />

Comparação de teor<br />

de vitamina C<br />

em sucos de laranjas<br />

DIETA<br />

Comportamento<br />

alimentar<br />

em academia<br />

de ginástica<br />

www.atlanticaeditora.com.br<br />

INDÚSTRIA<br />

Óleo de palma<br />

na indústria<br />

alimentícia


o<br />

Ano I - n 2 • julho / agosto de 2002<br />

ANTIOXIDANTES<br />

CLÍNICA<br />

COMPORTAMENTO<br />

ALIMENTOS FUNCIONAIS<br />

DOSSIÊ FEIJÃO<br />

www.atlanticaeditora.com.br<br />

ISSN 1677-0234<br />

- Efeito antioxidante das vitaminas A,C, E e aterogênese (pg. 77)<br />

- Prevalência de pica em gestantes (pg. 63)<br />

- Caso clínico de anorexia nervosa em paciente masculino (pg. 100)<br />

- Estratégias nutricionais em doenças hepáticas avançadas (pg. 95)<br />

- Perfil dietético de adolescentes de diferentes níveis sociais (pg. 68)<br />

- Atuação dos frutooligossacarídeos (pg. 89)


o<br />

Ano I - n 3 • setembro/outubro de 2002<br />

FIBRA ALIMENTAR<br />

Consumo de fibras nas principais cidades do Brasil (pg.130)<br />

ALIMENTAÇÃO COLETIVA<br />

NUTRIÇÃO ESPORTIVA<br />

VITAMINAS<br />

OBESIDADE<br />

DOSSIÊ SOJA<br />

www.atlanticaeditora.com.br<br />

ISSN 1677-0234<br />

Avaliação do padrão alimentar em restaurantes por quilo ( pg.136)<br />

Avaliação de soluções hidratantes em maratonistas (pg.142)<br />

Hipovitaminose A e anemia ferropriva (pg. 155)<br />

Importância da grelina na homeostase nutricional (pg. 165)<br />

(pg. 177)


o<br />

Ano I - n 4 • novembro/dezembro de 2002<br />

ALIMENTAÇÃO COLETIVA<br />

Aplicação de método de custeio ABC (pg. 196)<br />

NUTRIÇÃO CLÍNICA<br />

TRABALHO<br />

ALIMENTAÇÃO INFANTIL<br />

BIOTECNOLOGIA<br />

DOSSIÊ BATATA<br />

www.atlanticaeditora.com.br<br />

ISSN 1677-0234<br />

Consumo alimentar em pacientes com bulimia nervosa (pg. 204)<br />

Influência do horário de trabalho no consumo alimentar (pg. 218)<br />

Aleitamento materno e desmame (pg. 223)<br />

Potencial dos alimentos geneticamente modificados (pg. 230)<br />

(pg. 234)


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

EDITORIAL 3<br />

Nutrição Brasil, nova revista de pesquisa e informação prática dos nutricionistas, Celeste Elvira Viggiano<br />

ENTREVISTA 4<br />

Critérios para o título profissional de nutricionista especialista, Rosana Nascimento, presidente do CFN<br />

ARTIGOS ORIGINAIS & REVISÕES 34<br />

Teor de vitamina C em suco de cultivares de laranja (citrus sinensis) e em diferentes sucos industrializados,<br />

Vera Lúcia Valente-Mesquita, Maria Lúcia Mendes Lopes, Glauce dos Santos Sabino, Patrícia Teixeira da<br />

Silva, Bianca Costa Alves ( pg. 34)<br />

Amido resistente: propriedades funcionais, Maria Cristina Jesus Freitas (pg. 40)<br />

Estudo do comportamento alimentar de praticantes de atividade física em uma academia de ginástica,<br />

Aliny Stefanuto, Moria Max, Eliana Menegon Zaccarelli, Márcia Daskal Hirschbruch, Juliana Ribeiro Carvalho (pg. 49)<br />

S E Ç Õ E S<br />

RESUMOS DE TRABALHOS 5<br />

INFORMES DA NUTRIÇÃO 15<br />

NOTÍCIAS 18<br />

A utilização do óleo de palma na indústria alimentícia (pg. 18)<br />

Chá, bebida para toda hora (pg. 19)<br />

Aperfeiçoamento profissional amplia mercado de trabalho dos nutricionistas (pg. 21)<br />

Como funciona o setor de alimentação coletiva no Brasil e a atuação do nutricionista (pg. 26)<br />

Índice<br />

Volume 1 número 1 - Maio/Junho de 2002<br />

NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS 28<br />

RECOMENDAÇÕES 32<br />

DRIs: Novas propostas para recomendações nutricionais, Rita de Cássia de Aquino<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO 54<br />

1


2<br />

Expediente Nutrição Brasil<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Conselho científico<br />

Prof a . Dr a . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />

Prof a . Dr a . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Prof a . Dr a . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Prof a . Dr a . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />

Prof a . Ms. Lucia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Prof a . Dr a . Lúcia Marques Alves Vianna (CNPq)<br />

Prof a . Dr a . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Prof a . Dr a . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Prof a . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />

Profa. Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />

Prof a . Dr a . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />

Editor científico<br />

Prof a Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />

Editor executivo<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Rio de Janeiro<br />

Rua Conde de Lages, 27<br />

20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />

Tel: (21) 2221-4164<br />

Fax: (21) 2244-6471<br />

E-mail: nutricao@atlanticaeditora.com.br<br />

www.atlanticaeditora.com.br<br />

São Paulo<br />

Avenida São João, 56, sala 7<br />

12940-000 Atibaia SP<br />

Assinatura da revista:<br />

Assinatura anual (6 números/ano): R$ 80,00<br />

Assinatura 2 anos (12 edições): R$ 150,00<br />

Tel.: (21) 2221-4164 RJ / (11) 3361-5595 SP<br />

www.atlanticaeditora.com.br<br />

Marketing e publicidade<br />

René Caldeira Delpy Jr<br />

Colaboradores da redação<br />

Robson Breviglieri, Ricardo Augusto Ferreira<br />

NUTRIÇÃO BRASIL É UMA<br />

PUBLICAÇÃO BIMESTRAL DA<br />

ATLÂNTICA EDITORA<br />

Redação e administração<br />

(Todo o material a ser publicado deve ser<br />

enviado para o seguinte endereço)<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Rua Conde de Lages, 27 - Glória<br />

20241-080 - Rio de Janeiro - RJ<br />

Tel/Fax: (21) 2221-4164<br />

Cel: (21) 9366-7088<br />

atlantica@atlanticaeditora.com.br<br />

Publicidade e marketing<br />

Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr<br />

(21) 2221-4164 Cel: (21) 9662-9411<br />

Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica e Fisioterapia Brasil.<br />

I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.<br />

© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada<br />

ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do<br />

proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual<br />

prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias<br />

expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os<br />

padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do<br />

valor do produto ou das asserções de seu fabricante.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

A ciência da nutrição tem evoluído em ritmo<br />

acelerado na última década, desvendando dogmas e<br />

desmistificando tabus em várias áreas, desde a<br />

fisiologia da nutrição, a prevenção de doenças<br />

carenciais, a alimentação de atletas, até a terapêutica<br />

nutricional de doenças como as neoplasias e o diabetes.<br />

Esta nova situação exige do nutricionista<br />

atualização constante, criatividade e troca de<br />

experiências, de forma a adaptar-se às necessidades<br />

que surgem da população e da clientela, conforme<br />

nos demonstra a Dr a . Lúcia Andrade Pereira na matéria<br />

“Aperfeiçoamento profissional amplia mercado de trabalho dos<br />

nutricionistas”. Complementando esta matéria, a<br />

entrevista da Dr a . Rosane Nascimento nos orienta<br />

quanto à concessão de título de especialista<br />

promulgado aos nutricionistas, como reflexo do<br />

crescimento profissional da categoria. Estas duas<br />

matérias da nossa primeira edição refletem o nosso<br />

objetivo principal, que é a informação e atualização<br />

em todas as áreas de atuação, possibilitando o<br />

desenvolvimento profissional e estimulando a<br />

produção científica nacional, primordialmente.<br />

Já nesta edição publicamos na seção Artigos<br />

originais, a produção de colegas. No artigo “Teor de<br />

vitamina C em suco de cultivares de laranja (citrus sinensis) e<br />

em diferentes sucos industrializados” de autoria da Dr a . Vera<br />

Lúcia Valente-Mesquita e colaboradores, que avaliou<br />

o teor de ácido ascórbico no suco de cultivares<br />

diferentes de laranja. Uma contribuição para o<br />

conhecimento da demanda dessa vitamina em<br />

diferentes formas de consumo. O artigo “Estudo do<br />

comportamento alimentar de praticantes de atividade física em<br />

EDITORIAL<br />

Nutrição Brasil, nova revista de pesquisa e<br />

informação prática dos nutricionistas<br />

Profa. Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />

Editora científica<br />

uma academia de ginástica” de Aliny Stefanuto e<br />

colaboradores, discute o comportamento alimentar e<br />

o perfil nutricional de praticantes de atividade física<br />

em uma academia de ginástica, em São Paulo,<br />

apontando para a alimentação deficiente em<br />

detrimento do nível sócio-econômico e cultural.<br />

Temos ainda a contribuição da Dr a . Maria Cristina<br />

Jesus Freitas, em um texto de revisão que nos atualiza<br />

sobre a conceituação e utilização de amido resistente<br />

em “Amido resistente: propriedades funcionais”.<br />

Ainda em atualização, trazemos o texto da Dr a .<br />

Rita de Cássia de Aquino, “DRIs: Novas propostas para<br />

recomendações nutricionais”, sobre as principais mudanças<br />

nas novas recomendações, em relação à revisão de<br />

1989, assunto que é ainda tema de muitas discussões<br />

e dúvidas. E no propósito de divulgar produtos e<br />

pesquisas nacionais e internacionais, trazemos as<br />

seções Novos Produtos e Tecnologias, Informes da<br />

Nutrição e Resumos de Trabalhos.<br />

Complementando nossa edição, matérias de<br />

interesse geral, que contemplam profissionais e<br />

acadêmicos de nutrição acerca do uso do óleo de palma<br />

na industrialização de alimentos, o aumento do<br />

consumo e produção do chá de várias espécies, no<br />

Brasil. E o mercado de trabalho do nutricionista, que<br />

vem se ampliando e possibilitando novas inserções<br />

do profissional.<br />

Esperamos que esta edição seja o marco de uma<br />

nova era na produção científica nacional, e que cumpra<br />

seu papel de coadjuvante no crescimento da ciência e<br />

prática da nutrição.<br />

Bem-vindos!<br />

3


4<br />

NB Quais os critérios estabelecidos<br />

pelo Conselho Federal de<br />

Nutricionistas (CFN) para conceder<br />

o título de especialista a um<br />

nutricionista? Quais órgãos de<br />

classe farão a concessão dos<br />

títulos?<br />

Rosane Nascimento – O título<br />

de especialista é concedido ao<br />

nutricionista que tenha curso presencial<br />

de especialização, mestrado, doutorado<br />

ou livre docência, concluído, no<br />

máximo, nos últimos cinco anos. O<br />

requerente deve apresentar, também,<br />

comprovante de atuação na área<br />

pretendida. Os candidatos que<br />

solicitarem reconhecimento por mérito<br />

deverão anexar curriculum vitae específico,<br />

devidamente comprovado. Além disso, deverão<br />

apresentar os originais e cópias de carteira de<br />

identidade profissional, comprovante de quitação de<br />

anuidade do Conselho Regional de Nutricionistas<br />

(CRN) e da Associação de Nutrição filiada à<br />

Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). A<br />

concessão do título é de responsabilidade do CFN e<br />

da Asbran. O projeto piloto da titulação está sendo<br />

efetuado na jurisdição do CRN-3 (São Paulo, Paraná<br />

e Mato Grosso do Sul).<br />

NB O que representa para a categoria o<br />

estabelecimento de títulos?<br />

Rosane Nascimento – Representa a valorização<br />

profissional e objetiva atender uma necessidade<br />

diagnosticada há muito tempo por nutricionistas que<br />

passaram a atuar de uma forma intensa e muito rápida<br />

em diversas áreas. É importante frisar que neste mundo<br />

globalizado, o sucesso pessoal é fruto ou resultado de<br />

ENTREVISTA<br />

Reconhecimento de títulos de<br />

especialista pelo CFN<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Em entrevista a Nutrição Brasil, Rosane Nascimento, presidente do Conselho Federal de<br />

Nutricionistas (CFN), esclarece como se fará a concessão de títulos profissionais de<br />

especialista , que já está em experimentação na jurisdição do CRN-3.<br />

Rosane Nascimento, presidente<br />

do Conselho Federal de<br />

Nutricionistas (CFN).<br />

fatores que podem e devem ser<br />

controlados, ou seja, não é fortuito e<br />

não depende da “sorte”. Não basta<br />

sonhar com o sucesso e<br />

reconhecimento profissional. É<br />

preciso estar acordado, produzi-lo e<br />

fazer ser reconhecido. Neste sentido,<br />

o CFN e a Asbran estabeleceram o<br />

título de especialista que irá reconhecer<br />

legalmente aqueles nutricionistas que<br />

se especializaram através de cursos ou<br />

notório saber na área pretendida, ou<br />

seja, vai dar visibilidade à categoria.<br />

NBO<br />

que pode mudar para a atividade<br />

profissional a concessão de<br />

um título em uma especialidade?<br />

Rosane Nascimento – Além do<br />

reconhecimento científico, o profissional poderá<br />

utilizar-se do título em concursos públicos, exames<br />

de seleção em várias instituições. É importante<br />

lembrar que é vedado ao profissional utilizar-se de<br />

títulos que não possuam Código de Ética do<br />

nutricionista e que não forem reconhecidos pelo<br />

Conselho Nacional de Auto-Regulamentação<br />

Publicitária(CONAR).<br />

NB Quais são as especialidades que serão<br />

contempladas pelo CFN?<br />

Rosane Nascimento- Alimentação coletiva,<br />

nutrição clínica, saúde pública, indústria de alimentos<br />

e educação.<br />

NB O profissional poderá ter mais de uma<br />

especialidade?<br />

Rosane Nascimento – Sim, até duas.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Puddey IB Hodgson JM et al.,<br />

British Journal of Nutrition<br />

2002;87(2):141-145,<br />

fevereiro de 2002<br />

Hodson L et al., European Journal<br />

of Clinical Nutrition<br />

2001;55(10):908-915,<br />

outubro de 2001<br />

Resumos de trabalhos<br />

Chá preto pode reduzir risco de doenças cardíacas<br />

Tomar chá preto pode reduzir o risco de doenças cardíacas ao evitar<br />

que o sangue se aglutine e forme coágulos. As pessoas que beberam cinco<br />

xícaras de chá preto diariamente, durante um mês, apresentaram níveis<br />

mais baixos de selectina P (proteína sanguínea associada à coagulação), do<br />

que os níveis apresentados por pessoas que, durante o mesmo período,<br />

tomaram a mesma quantidade de água quente. Entretanto, outros<br />

componentes sanguíneos associados à aglutinação de sangue não foram<br />

reduzidos pelo chá.<br />

“Os resultados do estudo sugerem que níveis sanguíneos mais baixos<br />

de selectina P podem ser um mecanismo pelo qual o chá preto pode reduzir<br />

o risco cardíaco, mas é muito cedo para fazer recomendações específicas,”<br />

segundo Jonathan M. Hodgson, um dos autores do estudo. “Neste<br />

momento, o peso geral das evidências sugere que um aumento no consumo<br />

de chá – preto, oolong ou verde – está associado à redução do risco de<br />

doença cardiovascular, mas não em todas as populações”, disse Hodgson.<br />

Vários estudos associaram o consumo de chá à saúde cardíaca,<br />

provavelmente por um mecanismo de ação de compostos chamados<br />

polifenóis – antioxidantes poderosos que neutralizam os radicais livres,<br />

substâncias ligadas ao desenvolvimento de doenças. Essas moléculas<br />

prejudiciais às células ocorrem naturalmente no organismo e estão<br />

associadas ao envelhecimento, ao câncer e às doenças cardíacas. O estudo<br />

envolveu 22 adultos saudáveis e não-fumantes. Os pesquisadores mediram<br />

os níveis de vários compostos que servem como marcadores da<br />

coagulação sanguínea. Eles também mediram a presença de compostos<br />

que indicam o consumo de polifenóis na urina. Os voluntários<br />

mantiveram sua dieta rotineira durante o estudo. “O efeito do chá preto<br />

sobre a selectina P solúvel oferece um possível mecanismo para os<br />

benefícios cardiovasculares com seu uso regular”, concluiu a equipe.<br />

Mudança no consumo de gorduras reduz níveis de<br />

colesterol<br />

Uma dieta que substituiu a gordura saturada por gorduras mono ou<br />

poliinsaturadas reduziu drasticamente os níveis de colesterol de um grupo<br />

de adultos jovens em algumas semanas, segundo informaram pesquisadores<br />

da Nova Zelândia. Os adultos jovens respondem muito bem às mudanças<br />

induzidas por dieta nos níveis de colesterol plasmático. Os pesquisadores<br />

avaliaram um grupo de 71 adultos, entre 21 e 40 anos, que se submeteu a<br />

uma dieta com gordura saturada durante 2,5 semanas, e posteriormente a<br />

uma dieta com gordura mono ou poliinsaturada por outras 2,5 semanas. A<br />

proporção total de calorias da dieta derivadas de gordura permaneceu a<br />

mesma, em torno de 1/3. A dieta saturada incluiu grandes quantidades de<br />

manteiga e laticínios. O grupo que fez a dieta com gordura monoinsaturada<br />

evitou laticínios e usou produtos como azeite de oliva. O grupo da dieta<br />

5


6<br />

Continuação<br />

Braga M. et al., Clin Nutr<br />

2002;21(1):59-65,<br />

fevereiro de 2002<br />

Edward Giovannucci et al.,<br />

Departments of Nutrition and<br />

Epidemiology, Harvard School<br />

of Public Health, Boston, Journal<br />

of the National Cancer Institute,<br />

2002; 94: 391-398<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

com gordura poliinsaturada substituiu a manteiga por óleo de girassol. Os<br />

voluntários receberam receitas e manuais com sugestões sobre como ajustar<br />

a dieta. Cada participante preencheu um registro de três dias de dieta.<br />

Todos foram submetidos a exames para medir os níveis de colesterol no<br />

início e final do período da dieta.<br />

Comparados aos níveis de colesterol sob a dieta com gordura saturada,<br />

quem usou gordura poliinsaturada teve uma redução dos níveis de colesterol<br />

de 19%. O grupo da gordura monoinsaturada teve uma redução nos níveis<br />

sanguíneos de colesterol de 12%. No geral, os voluntários tiveram uma<br />

redução na quantidade de gordura saturada consumida diariamente de 28<br />

e 29 gramas quando fizeram a dieta de gordura mono e poliinsaturada,<br />

respectivamente. Além disso, houve uma redução de cerca de 9% de energia<br />

derivada de gordura.<br />

Nutrição enteral precoce após cirurgia digestiva:<br />

resultados de uma experiência de 9 anos<br />

Introdução: A nutrição enteral preoce (NEP) após cirurgia poderia ser<br />

preferível à alimentação parenteral, mas o uso clínico é limitado em razão<br />

de efeitos adversos gastrintestinais e complicações ligadas à alimentação<br />

por tubo. O estudo avaliou a segurança e tolerância de uma alimentação<br />

jejunal pós-cirurgia precoce e os possíveis fatores de risco por efeitos<br />

adversos gastrintestinais.<br />

Métodos: 650 pacientes tratados por NEP após cirurgia digestiva para<br />

câncer foram observados. A NEP foi iniciada 12 horas depois da cirurgia<br />

via tubo naso-jejunal ou cateter de jejunostomia. A taxa de infusão foi<br />

aumentada progressivamente para atingir o objetivo nutricional (25 kcal/<br />

kg/dia) durante o quarto dia pós-cirurgia. Protocolos rigorosos de dieta e<br />

observação dos efeitos adversos gastrintestinais foram aplicados.<br />

Resultados: 402 pacientes tinham uma jejunostomia e 248 um tubo<br />

naso-jejunal. Efeitos adversos gastrintestinais foram observados em 194/<br />

650 pacientes (29,8%). Em 136/194 pacientes, esses eventos foram<br />

resolvidos pelos protocolos de tratamento. O objetivo nutricional foi<br />

atingido em 592/650 pacientes (91,1%). 58 pacientes (8,9%) mudaram<br />

para alimentação parenteral por causa de intolerância à NEP. As<br />

complicações cirúrgicas intra-abdominais e a concentração baixa de<br />

albumina sérica (


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Continuação<br />

David J Baer et al., American<br />

Journal of Clinical Nutrition, 2002;<br />

75: 593-599,<br />

fevereiro de 2002<br />

Pesquisas anteriores sobre a associação entre licopeno e câncer da<br />

próstata não foram conclusivas. Os pesquisadores avaliaram novos dados<br />

do Health Professionals Follow-up Study (HPFS). Este trabalho é um estudo<br />

de coorte de 51.259 profissionais de saúde dos EUA. Os participantes<br />

tinham entre 40 e 75 anos no início do estudo, em 1986. Foram coletados<br />

dados sobre idade, status de casamento, peso e altura, antecedentes medicais,<br />

tratamentos, histórico de tabagismo, atividade física e dieta alimentar.<br />

A equipe fez testes de detecção do câncer da próstata em 47.365<br />

participantes de 1986 até 1998. Eles completaram questionários de dieta<br />

em 1986, 1990 e 1994. No total, 2.481 participantes desenvolveram um<br />

câncer da próstata entre 1986 e janeiro de 1998. O resultado do estudo<br />

concluiu que o consumo freqüente de tomates ou licopeno diminui o risco<br />

de câncer.<br />

Quando foram utilizadas as médias cumulativas dos 3 questionários,<br />

a ingestão de licopeno foi associada com a redução do risco. O risco relativo<br />

era de 0,84 para os quintiles elevados de ingestão vs. quintiles baixos. A<br />

ingestão de molho de tomate foi associada com uma maior diminuição do<br />

risco. O risco relativo para 2 ou mais ingestões por semana vs. menos do<br />

que uma ingestão por mês foi de 0,77. Isso foi especialmente significativo<br />

para os cânceres extra-prostáticos.<br />

Os pesquisadores notaram que o molho de tomate é a fonte primária<br />

de licopeno biodisponível. A magnitude da associação entre os produtos<br />

de tomate e a diminuição do risco de câncer da próstata é moderada e<br />

podia ser facilmente ignorada por estudos menores. Os pesquisadores<br />

insistem no fato que as avaliações repetidas das dietas foram essenciais<br />

para determinar a relação entre a ingestão do licopeno e o risco.<br />

O consumo moderado de álcool diminui o risco<br />

cardiovascular em mulheres idosas<br />

O consumo moderado de álcool – um ou dois drinques por dia –<br />

diminui o risco cardiovascular em mulheres pós-menopausadas em mais<br />

do que 13%, diminuindo as concentrações de LDL-colesterol,<br />

apolipoproteína B e triacilglicerol e aumentando as concentrações de HDLcolesterol<br />

e apolipoproteína A-1, segundo este estudo do US Department<br />

of Agriculture in Beltsville, Maryland. Já foi demonstrado anteriormente<br />

que um aumento de 0,26 mmol/l de HDL-colesterol em mulheres é<br />

associado com uma diminuição em 32 até 42% do risco de doença arterial<br />

coronariana.<br />

“Aplicando a avaliação do risco à magnitude de alterações dos lípides observada<br />

neste estudo, podemos estimar que o consumo de um drinque por dia diminui<br />

potencialmente o risco em 4 ou 5%, e dois drinques em 10 ou 13%”, segundo os<br />

pesquisadores.<br />

Foram medidos os efeitos do consumo moderado de álcool sobre<br />

lípides e lipoproteínas em 51 mulheres menopausadas. Os participantes<br />

consumiram bebidas sem álcool (grupo controle), 15 g (um drinque), ou<br />

30 g (2 drinques) de álcool por dia durante 8 semanas como parte de uma<br />

dieta controlada. Essa dieta forneceu 15% das calorias em proteína, 53%<br />

em carboidratos e 32% em gordura. Os participantes foram randomizados.<br />

Em comparação com as concentrações após a dieta controle, o LDL<br />

colesterol plasmático diminuiu não significativamente de 3,45 para 3,34<br />

7


8<br />

Continuação<br />

Donna Spruijt-Metz et al.,<br />

American Journal of Clinical<br />

Nutrition, 2002; 75: 581-586,<br />

março de 2002<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

mmol/l e o triacilglicerol de 1,43 para 1,34 mmol/l após 15g de álcool por<br />

dia e não foram observadas diminuições significativas em lípides após aumento<br />

da ingestão de álcool de 15 para 30 g/dia. O HDL colesterol plasmático registrou<br />

um aumento não significativo de 1,40 para 1,43 mmol/l após 15 g de álcool/<br />

dia, mas aumentou para 1,48 mmol/l após 30 g álcool/dia.<br />

Apolipoproteína A-1 aumentou significativamente e apolipoproteína<br />

B diminuiu significativamente após 30g de álcool/dia em comparação com<br />

as concentrações após dieta controle.<br />

Segundo os pesquisadores, essas observações são importantes porque<br />

o HDL colesterol aparece em mulheres como um marcador mais<br />

importante de risco de doença cardiovascular do que o LDL colesterol. O<br />

mecanismo de ação do álcool sobre os lípides sanguíneos é ainda pouco<br />

conhecido. As diferenças do efeito do álcool sobre os lípides entre mulheres<br />

pré e pós-menopausa pode ser relacionado ao efeito do álcool sobre as<br />

concentrações de estrogênio.<br />

Relação entre os costumes alimentares maternos<br />

e a adiposidade da criança<br />

Os costumes alimentares maternos explicam mais a variância da<br />

gordura total das crianças do que a ingestão energética. A preocupação da<br />

mãe pelo peso da criança é relacionada com a massa de gordura mais<br />

elevada e a pressão da mãe para comer é relacionada com massa de gordura<br />

menor em crianças, em ambos meninos e meninas brancos ou afroamericanos.<br />

Estudos anteriores encontraram relações entre IMC e práticas<br />

restritivas e monitoraram a relação entre IMC, preocupação com o peso e<br />

pressão para comer. Este estudo sugere que só o interesse pelo peso da<br />

criança e a pressão para comer são diretamente relacionados com a massa<br />

total de gordura.<br />

Esses resultados podem apresentar implicações importantes para os<br />

esforços de prevenção da obesidade porque os dados mostram uma relação<br />

entre comportamentos específicos e suscetíveis de alteração dos pais e a<br />

gordura total da criança.<br />

A equipe estudou 74 crianças brancas e 46 crianças afro-americanas<br />

e suas mães. A idade média dos participantes era 11 anos. Tinham 25<br />

meninos e 49 meninas no grupo branco e 22 meninos e 24 meninas no<br />

grupo afro-americano. A composição corporal foi medida por<br />

absorciometria de raio X e os costumes alimentares das mães foram<br />

avaliados pelo “Questionário de Alimentação Infantil”. Segundo os<br />

resultados, a pressão para comer e a preocupação pelo peso da criança<br />

explicam 15% da variância da massa total de gordura, qualquer seja o grupo,<br />

e a ingestão energética explica 5% da variância. A etnicidade, sexo e status<br />

socioeconômico não contribuem significativamente na variância da massa<br />

total de gordura.<br />

Apesar do fato que as mães afro-americanas reportaram maiores níveis<br />

de controle, responsabilidade, práticas restritivas, pressão para comer e<br />

preocupação com o peso do que as mães brancas, a etnicidade não é um<br />

fator significativo da massa total de gordura nesta amostra. Os achados do<br />

estudo sugerem que mecanismos semelhantes são utilizados através das<br />

duas etnicidades.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Continuação<br />

Leslie M Klevay, David B Milne,<br />

American Journal of Clinical<br />

Nutrition, 2002; 75: 550-554,<br />

fevereiro de 2002<br />

Eileen Birch et al., American<br />

Journal of Clinical Nutrition<br />

2002;75(3):570-580,<br />

fevereiro de 2002<br />

Uma das implicações dês te estudo para a saúde pública é que<br />

intervenções diretas na família, concentradas sobre a educação dos pais<br />

são necessárias para combater a epidemia atual de obesidade infantil.<br />

Segundo os pesquisadores, estratégias de controle elevado da<br />

alimentação podem ser relacionadas a problemas de balanço energético.<br />

Tais estratégias poderiam interferir com a capacidade da criança para autoregular<br />

sua ingestão energética.<br />

Baixas concentrações de magnésio podem alterar o<br />

ritmo cardíaco<br />

A baixa concentração de magnésio na alimentação pode aumentar a<br />

ectopia supraventricular. O estudo pesquisou as concentrações de magnésio<br />

em 22 mulheres pós-menopausa e acharam que as mulheres que ingerem<br />

menos do que a metade da dose diária recomendada (Recommended Dietary<br />

Allowance – RDA) de 320 mg/dia mostraram um aumento significativo dos<br />

batimentos supraventriculares ou ambos supraventriculares e ventriculares.<br />

Os participantes do estudo tomaram uma dieta convencional com<br />

menos do que a metade ou mais que a RDA para magnésio, durante 81<br />

dias. As participantes foram randomizados em grupos paralelos, neste<br />

estudo duplo-cego.<br />

As concentrações de magnésio foram medidas por espectroscopia e<br />

análise iono-específica de eletrólitos. ECG Holter foram usados por período<br />

de 21 horas. Os resultados mostraram que as concentrações de magnésio<br />

em eritrócitos, plasma e urinas foram significativamente menores quando o<br />

magnésio alimentar estava menor. O Holter demonstrou um aumento<br />

significativo dos batimentos supraventriculares ou supra e ventriculares em<br />

participantes com ingestão menor de magnésio. Mas não foram encontrados<br />

diminuição de concentração do magnésio, cálcio ou potássio plasmáticos.<br />

Em conclusão, a RDAS de 320 mg/dia parece correta, e 130 mg/dia<br />

é insuficiente. As pessoas que moram em áreas de água doce, que usam<br />

diuréticos ou que apresentam uma pré-disposição à perda de magnésio ou<br />

batimentos ectópicos, podem necessitar mais magnésio na alimentação.<br />

Fórmula com suplemento em ácidos graxos melhora a<br />

maturação cerebral de crianças<br />

Crianças recebendo formulas contendo ácidos graxos poliinsaturados<br />

de cadeia longa após desmame, mostraram melhor maturação da função<br />

cortical do que as crianças que não receberam esta suplementação.<br />

Durante as 6 primeiras semanas, as crianças receberam uma<br />

alimentação suplementada em ácidos graxos poliinsaturados no leite<br />

materno. O estudo pesquisou se a administração posterior destes ácidos<br />

graxos (após desmame) influencia o desenvolvimento cerebral.<br />

Os pesquisadores observaram o desenvolvimento do córtex visual<br />

durante as 6 primeiras semanas da vida e o compararam com o<br />

desenvolvimento durantes as semanas 7-52, com ou sem suplemento<br />

alimentar. Os participantes foram 65 crianças saudáveis desmamadas da<br />

alimentação maternal na idade de 6 semanas e randomizadas.<br />

Apesar do suplemento alimentar em ácidos graxos no leite maternal<br />

9


10<br />

Continuação<br />

Carol S Johnston et al.,<br />

Journal of the American College<br />

of Nutrition 2002;21(1):55-61,<br />

fevereiro de 2002<br />

Monique Breteler et al.,<br />

Erasmus University Medical<br />

School, Rotterdam, The<br />

Netherlands, Lancet 2002; 359:<br />

281-86, fevereiro de 2002<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

durante as 6 primeiras semanas de vida, as crianças que não receberam<br />

mais o suplemento mostraram uma acuidade visual significativamente<br />

menor nas semanas 17, 26 e 52, e uma steroacuidade significativamente<br />

menor na semana 17 do que as crianças que continuaram recebendo a<br />

suplementação. As melhores acuidade e steroacuidade na idade de 17<br />

semanas foram relacionadas à maior concentração plasmática de ácido<br />

docosahexaenoico. Melhor acuidade na semana 52 foi relacionada à maior<br />

concentração de ácido docosahexaenoico no plasma e nos eritrócitos. Os<br />

resultados sugerem que período crítico durante o qual a suplementação<br />

em ácidos graxos influencia a maturação da função cortical se prolonga<br />

além das 6 semanas de idade.<br />

Perda de peso: As dietas com taxas elevadas de<br />

proteínas superem as dietas de carboidratos<br />

As dietas baixas em gordura e elevadas em proteínas são mais eficazes<br />

para perder peso do que as dietas baixas em gordura e ricas em carboidratos.<br />

Segundo os pesquisadores, que compararam as duas dietas do ponto de<br />

vista da termogênese aguda induzida pela refeição, o resultado poderia ser<br />

explicado pelo gasto energético com a primeira dieta.<br />

Os participantes eram 10 mulheres, 19-22 anos, saudáveis, não<br />

fumantes neste estudo randomizado. As participantes fizeram refeições<br />

com taxas elevadas de proteínas ou de carboidratos durante um dia. Os<br />

testes foram separados por intervalos de 28 ou 56 dias. Dietas de controle<br />

foram consumidas antes de cada dia de teste, com medições da despesa<br />

energética de repouso, o quociente respiratório não protéico e a temperatura<br />

corporal. Amostras de sangue e urina foram coletadas.<br />

As medições foram efetuadas após um jejum de 10 horas, 2,5 horas<br />

depois do café da manhã, almoço e jantar e mostraram que a termogênese<br />

média pós-prandial era aproximadamente 2 vezes maior na dieta protéica<br />

do que na dieta com carboidratos.<br />

Depois do café da manhã e do jantar as diferenças são significativas<br />

(p < 0,05) e depois do jantar a temperatura corporal era mais elevada com<br />

a dieta protéica (p = 0,08). Não foram observadas alterações entre as dietas<br />

no quociente respiratório pós-refeição nem nas taxas de filtração glomerular<br />

de 24 horas.<br />

O consumo moderado de álcool pode diminuir o risco<br />

de demência – Rotterdam Study<br />

Os indivíduos com idade de mais de 55 anos parecem ter risco<br />

reduzido de demência se eles são consumidores leves ou moderados de<br />

bebidas alcoólicas. Segundo os pesquisadores, o tipo de álcool não faz<br />

diferença. O consumo leve ou moderado – 1 a 3 drinques por dia – foi<br />

associado no estudo com uma diminuição em 42% do risco para todas as<br />

demências, e em 70% para o risco de demência vascular.<br />

O consumo leve a moderado de álcool é associado com risco<br />

diminuído de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, e<br />

mortalidade total em homens e mulheres idosos. Esta crescendo a evidência<br />

que a doença vascular é associada com diminuição cognitiva e demência,


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Continuação<br />

Diane Feskanich et al.,<br />

JAMA, 2002; 287: 47-54<br />

e, conseqüentemente, o consumo leve a moderado de álcool poderia<br />

também diminuir o risco de demência e de doença de Alzheimer. Ao<br />

contrário, inúmeros estudos mostram os efeitos neurotóxicos do consumo<br />

de grandes quantidades de álcool.<br />

Os investigadores examinaram a relação entre o consumo de álcool e<br />

o risco de demência em uma coorte do Rotterdam Study – estudo prospectivo<br />

baseado em uma população de 7.983 indivíduos de 55 anos. Encontraram<br />

5.395 pessoas sem demência no início (1990-93) e que entregaram dados<br />

completos sobre o seu consumo alcoólico. O sistema de controle permitiu<br />

conseguir um seguimento quase completo (99,7%) até o fim de 1999. Após<br />

ajuste para idade, sexo, pressão sanguínea sistólica, educação, tabagismo,<br />

IMC, os pesquisadores compararam o risco de desenvolver demência entre<br />

indivíduos bebedores regulares e indivíduos que não bebem álcool.<br />

Durante os 6 anos de seguimento, 197 indivíduos do grupo<br />

desenvolveram demência – 146 doenças de Alzheimer, 29 demências<br />

vasculares, 22 outras demências. O consumo médio de álcool era de 0,29<br />

drinque por dia. O consumo leve ou moderado de álcool foi<br />

significativamente associado com risco menor de qualquer demência ou<br />

demência vascular.<br />

Uma explicação possível é que o álcool pode diminuir os fatores de<br />

risco vasculares, através o efeito inibidor do etanol sobre a agregação<br />

plaquetária, ou através da alteração do perfil lipídico plasmático. Uma<br />

segunda explicação é que o álcool teria um efeito direto sobre a cognição<br />

através da liberação de acetilcolina no hipocampo. Existem evidências do<br />

que acetilcolina facilita a aprendizagem e memória.<br />

Ingestão elevada de vitamina A dobra o risco de<br />

fratura do quadril na pós-menopausa<br />

O risco de fratura do quadril quase dobra em mulheres na pósmenopausa<br />

que consumem elevadas taxas de vitamina A, em comparação<br />

com mulheres com consumo menor desta vitamina. Esta relação forte e<br />

positiva entre consumo de retinol e fratura do quadril foi observada só em<br />

mulheres que não recebem tratamento de reposição hormonal.<br />

Existem evidências que o consumo crônico de vitamina A em excesso,<br />

principalmente a partir de retinol, pode contribuir para o desenvolvimento<br />

de fraturas osteoporóticas no quadril das mulheres. Ao contrário do retinol,<br />

o consumo elevado de beta-caroteno não aumenta significativamente o<br />

risco de fratura do quadril.<br />

O estudo utilizou os dados de 18 anos de acompanhamento de 72.337<br />

mulheres do sistema de saúde. Em razão da taxa elevada de absorção e da<br />

grande capacidade de estoque do retinol no corpo humano, a toxicidade<br />

da vitamina A pode resultar de uma ingestão aguda de dose muito elevada,<br />

geralmente mais do que 100.000 UI ou da exposição repetida durante vários<br />

meses ou semanas a doses inferiores (entre 25.000 e 50.000 UI por dia).<br />

A toxicidade da vitamina A não foi observada após ingestão de doses<br />

elevadas de beta caroteno, provavelmente em razão das limitações à sua<br />

absorção e conversão em retinal.<br />

Os pesquisadores sugerem que as quantidades de retinol nos alimentos<br />

e suplementos de vitaminas precisam de uma reavaliação porque eles aumentam<br />

significativamente o consumo de retinol total nos Estados-Unidos.<br />

11


12<br />

Continuação<br />

Richard S. Strauss et al., JAMA,<br />

2001; 286: 2845-2848<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

A idade das participantes, todas selecionadas dos registros de enfermeiras<br />

de 11 Estados americanos, era entre 34 e 77 anos. Elas apresentaram<br />

603 acidentes de fratura do quadril após trauma leve ou moderado.<br />

Após ajuste dos fatores, mulheres no quintil o mais elevado de ingestão<br />

de vitamina A total, apresentaram um risco significativamente elevado (1,48)<br />

de fratura do quadril em comparação com mulheres no menor quintil.<br />

Esse risco aumentado foi atribuído em primeiro ao retinol, mas o risco é<br />

atenuado em mulheres tratadas com reposição hormonal.<br />

O sobrepeso nas crianças continua aumentando<br />

nos Estados Unidos<br />

A prevalência de crianças com sobrepeso está em alta nos Estados<br />

Unidos. O aumento é mais importante em meninos, crianças afroamericanas<br />

e hispânicos e entre as crianças morando nos Estados do sul.<br />

Em 1998, mais de 21% das crianças afro-americanas e hispânicas do National<br />

Longitudinal Survey of Youth (NLSY) foram classificadas com sobrepeso. As<br />

diferenças em função da raça/etnia são importantes e estatisticamente<br />

significativas após ajuste pela renda da família e outros fatores. Eles<br />

observaram também que a prevalência do sobrepeso aumentou<br />

aproximadamente em 50% em crianças brancas não-hispânicas entre 1986<br />

e 1998. Este aumento aparece modesto quando comparado ao aumento<br />

de 3 dígitos em percentagem em crianças de minorias.<br />

O sobrepeso foi definido como IMC > 95º percentil para idade e<br />

sexo, e prevalência e criança em risco quando > 85º percentil para idade e<br />

sexo. 8.270 crianças foram incluídos no estudo. Entre 1986 e 1998, o<br />

sobrepeso aumentou significativamente entre crianças afro-americanas,<br />

hispânicas e brancas. Em 1998, a prevalência de sobrepeso aumentou para<br />

21,5% em afro-americanas, 21,8% em hispânicas e 12,3% em brancas nãohispânicas.<br />

As crianças com sobrepeso eram mais pesadas em 1998 do<br />

que em 1986.<br />

Os pesquisadores concluem que o sobrepeso em criança, bem como<br />

outros fatos adversos na saúde, refletem a convergência de vários fatores<br />

biológicos, econômicos e sociais. O sobrepeso é a consequência de varias<br />

causas, ‘as vezes intimas’ como o jantar familiar, ou outras sedutoras como<br />

a televisão ou os videogames. Lanches escolares com taxa elevada de gordura<br />

são uma tentação poderosa e um sinal claro de normas nutricionais aceitadas.<br />

Enquanto estratégias inovadoras são avaliadas para lidar com este<br />

tipo de ocorrência, nenhuma intervenção tem se mostrado capaz para<br />

diminuir significativamente a prevalência da obesidade e do sobrepeso em<br />

criança. Como o tabagismo, a gravidez em adolescente e a violência em<br />

jovem, o sobrepeso é prevalente porque as raízes comportamentais são<br />

profundas. Em razão das consequências da inatividade da criança, da<br />

pobreza da nutrição e do sobrepeso, medidas urgentes são necessárias<br />

para combater este epidemia.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Kay-Tee Khaw etal., Department<br />

of Clinical Gerontology, Institute<br />

of Public Health, University of<br />

Cambridge, Cambridge, BMJ<br />

2001;323:1286-8,<br />

dezembro de 2001<br />

Sally D Poppitt et al.,<br />

American Journal of Clinical<br />

Nutrition 2002;75(1):11-20,<br />

Janeiro de 2002<br />

Níveis de colesterol diminuem em indivíduos que<br />

tomam mais refeições<br />

Concentrações de colesterol são aproximadamente 5% inferiores em<br />

homens e mulheres que fazem 6 refeições ou mais por dia, quando<br />

comparados com pessoas que fazem 1 ou 2 refeições por dia.<br />

“Esta diferença persiste apesar da ingestão de quantidades maiores<br />

de calorias – inclusas gorduras – pelos homens e mulheres que fazem mais<br />

refeições. Precisamos considerar não só o que ingerimos mais também a<br />

frequência com qual nos alimentamos,” diz Dr Kay-Tee Khaw.<br />

As concentrações de lípides sanguíneos foram medidas em 14.666<br />

homens e mulheres com idade entre 45 e 75 anos, que participaram do<br />

Norfolk Cohort of the European Prospective Investigation into Cancer (EPIC Norfolk).<br />

Pequenos estudos prévios indicaram que indivíduos que fazem mais<br />

refeições apresentam colesterol total e LDL-colesterol menor do que as<br />

pessoas que tomam uma refeição importante. Os resultados foram menos<br />

conclusivos no que diz respeito às concentrações de HDL-colesterol,<br />

apolipoproteínas, glicose sanguínea e secreção de insulina.<br />

O estudo investigou a relação entre a frequência das refeições e as<br />

concentrações de colesterol total, LDL-colesterol e HDL colesterol em<br />

uma população britânica de homens e mulheres com idade média.<br />

Eles mostraram que as concentrações médias de colesterol total e<br />

LDL-colesterol diminuíram em uma relação continua com o aumento da<br />

frequência diária das refeições em homens e mulheres. Nenhuma relação<br />

consistente foi observada para o HDL-colesterol, IMC, relação cinturaquadril<br />

ou pressão sanguínea.<br />

As concentrações médias de colesterol diferem de aproximadamente<br />

0,25 mmol/l entre os indivíduos tomando 6 refeições por dia em<br />

comparação com 1 ou 2 refeições por dia. Esta diferença foi reduzida para<br />

0,15 mmol/l após ajuste para variáveis como idade, obesidade, tabagismo,<br />

atividade física, ingestão calórica e tipo de nutrientes (álcool, gordura, ácidos<br />

graxos, proteínas e carboidratos).<br />

“Apesar de não serem grande demais, esta diferença na concentração<br />

do colesterol é comparável ao resultado obtido em estudos metabólicos<br />

com alteração da ingestão de gordura ou de colesterol, bem como em<br />

estudos controlados sobre a frequência das refeições,” dizem os<br />

pesquisadores.<br />

Esta diferença é também associada em estudos à diminuição de doença<br />

arterial coronariana em 10-20%. Se aplicadas à população geral, tais<br />

diminuições teriam um impacto substancial, notavelmente em indivíduos<br />

idosos, que têm taxa elevada de doença cardíaca.<br />

Efeitos a longo prazo de uma dieta sem limitação,<br />

pobre em gordura e rica em carboidratos, sobre o peso<br />

corporal e os lípides sanguíneos em indivíduos<br />

portados de síndrome metabólica<br />

Introdução: Indivíduos com sobrepeso e síndrome metabólico<br />

apresentam risco maior de diabetes tipo 2 e doença arterial coronariana.<br />

Ganho de peso e parâmetros da síndrome podem melhorar após<br />

intervenção dietética.<br />

13


14<br />

Continuação<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Objetivo: Investigamos os efeitos da substituição de um quarto da<br />

ingestão diária de gordura por carboidratos simples ou complexos sobre o<br />

peso corporal e o metabolismo intermediário.<br />

Desenho: 46 indivíduos com mais de três fatores de risco de síndrome<br />

metabólico foram randomizados, para receber uma dieta controlada, uma<br />

dieta pobre em gordura e rica em carboidratos complexos (LF-CC), ou<br />

uma dieta pobre em gordura e carboidratos simples (LF-SC) durante 6<br />

meses. 39 indivíduos completaram o estudo. Aproximadamente 60% da<br />

ingestão diária foram fornecidos gratuitamente por um supermercado. Não<br />

tinha limites à quantidade de alimentos. Peso corporal, IMC, pressão<br />

sanguínea e lípides sanguíneos foram medidos no início e nos meses 2, 4 e 6.<br />

Resultados: Foi observada uma ação significativa sobre o peso corporal<br />

e IMC (P < 0,001). A perda de peso foi maior com a dieta LF-CC [alteração<br />

em peso corporal: dieta controlada 1,03 kg (NS); dieta LF-CC, - 4,25 kg (P<br />

< 0,01); dieta LF-SC, -0,28 kg (NS)]. O colesterol total diminuiu em 0,33<br />

mmol/l, 0,63 mmol/l, e 0,06 mmol/l em indivíduos consumindo dietas<br />

controle, LF-CC e LF-SC, respectivamente (diferença entre grupos<br />

LF-CC e LF-SC: P < 0,05). Não foi observada alteração significativa<br />

no LDL-colesterol, enquanto que o HDL-colesterol diminuiu nos<br />

três grupos (P < 0,0001). As concentrações de triacilglicerol foram<br />

maiores no grupo LF-SC do que nos outros dois grupos (P < 0,05).<br />

Conclusões: Uma dieta rica em carboidratos e baixa em gordura em<br />

indivíduos com sobrepeso e metabolismo intermediário anormal, pode<br />

produzir uma perda de peso moderada e melhorar o colesterol plasmático.<br />

O aumento de carboidratos simples na dieta não é responsável de ganho<br />

de peso, mas também não melhora o peso corporal ou o perfil lipídico.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Informes da nutrição<br />

Composição nutricional das hortaliças<br />

A Embrapa Hortaliças, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa<br />

Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,<br />

publicou a primeira Tabela de Composição Nutricional das Hortaliças, a<br />

partir de importantes referências internacionais. A tabela tem informações<br />

sobre a quantidade de calorias, porcentagem de fibras, matéria seca,<br />

vitaminas e sais minerais, e apresenta também a ingestão recomendada de<br />

nutrientes para os indivíduos, feita pela FAO – Food and Agriculture<br />

Organization, órgão da Organização Mundial da Saúde. A aquisição da<br />

tabela pode ser feita diretamente na Embrapa Hortaliças pelo telefone<br />

(61) 385 9110 ou pelo e-mail ac.hortalicas@embrapa.br ao preço de R$<br />

2,50 mais as despesas de envio.<br />

Qualidade de vida com dietas saudáveis<br />

A Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional)<br />

inicia uma série de atividades relacionadas à qualidade de vida nas empresas<br />

com o lançamento das “Dietas saudáveis”. Esse produto consiste em um<br />

material didático com informações nutricionais em formato inédito: são<br />

discos compostos por circunferências sobrepostas que, conforme são<br />

movimentadas, apresentam os alimentos que devem ser consumidos, a<br />

porção diária, seu teor calórico e de fibras.<br />

Elaborada pela nutricionista Maria Inês Marcondes Coelho, a coleção<br />

“Dietas saudáveis” reúne seis discos com os seguintes temas: “Como<br />

manter a boa forma”, “Diabetes”, “Colesterol”, “Pressão Alta”, “Atividades<br />

Diárias” e “Nutrição na Terceira Idade”. Esses rodetes trazem os alimentos<br />

subgrupados em carnes, peixes, laticínios, vegetais, frutas e cereais; dicas<br />

de saúde e o nome e e-mail da nutricionista que esclarece dúvidas<br />

gratuitamente pela Internet.<br />

Essa forma lúdica de<br />

receber orientação sobre<br />

como se alimentar é uma<br />

idéia do empresário Marcelo<br />

Fontenelle que, ao descobrir<br />

ser diabético, percebeu que<br />

não era fácil monitorar suas<br />

refeições. “O produto é uma<br />

forma da empresa estender<br />

a responsabilidade social até<br />

a casa dos funcionários<br />

beneficiando também suas<br />

famílias”, diz Fontenelle.<br />

O investimento no<br />

produto “Dietas Saudáveis”<br />

varia conforme a quantidade<br />

15


16<br />

Continuação<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

solicitada e, como outros benefícios voltados para os trabalhadores, pode<br />

ser deduzido do Imposto de Renda da empresa e está em conformidade<br />

com o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). A Lei 6.321, artigo<br />

3 o , prevê que os programas de alimentação das empresas, PAT´s, devem<br />

propiciar condições de avaliação do teor nutritivo de alimentação de seus<br />

funcionários.<br />

“No pedido mínimo, de 100 unidades, o preço unitário do kit<br />

para empresa é de R$7,50, o que corresponde a um valor menor que um<br />

tíquete alimentação, com a vantagem de ter uma durabilidade de anos”,<br />

compara Fontenelle.<br />

Mais informações podem ser obtidas nas filiais da ABRH em todo o<br />

Brasil ou por meio do site: www.dietasaudavel.com.br<br />

Sistema facilita acesso às leis<br />

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, em parceria<br />

com a Bireme/Opas – Centro Latino-americano e do Caribe de Informação<br />

em Ciência e Saúde, criou um eficiente serviço de acesso rápido interativo<br />

à legislação de vigilância sanitária, com textos completos, atualizados e<br />

comentados, denominado Anvisalegis. O sistema possibilita aos<br />

interessados conhecer as normas produzidas pela Anvisa e demais órgãos<br />

federais normatizadores, de matérias relacionadas com a vigilância sanitária.<br />

Para maiores informações basta consultar o site www.anvisa.gov.br ou email:<br />

infovisa@anvisa.gov.br<br />

Colégio Dante Alighieri recebe o selo SBC/Funcor:<br />

alimentação saudável para os alunos<br />

O Colégio Dante Alighieri é o primeiro da cidade de São Paulo a<br />

receber o selo SBC/Funcor por oferecer aos seus alunos quatro cardápios<br />

dentro de teores considerados não prejudiciais à saúde do coração.<br />

Aprovados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia/Funcor (Fundação<br />

do Coração), os kits fazem parte do serviço de alimentação e nutrição do<br />

colégio, que além de lanchonete tradicional, desenvolve cardápios especiais,<br />

apropriados para suprir as necessidades calóricas dos alunos no período<br />

em que permanecem na escola.<br />

O selo de aprovação médica SBC/Funcor<br />

identifica alimentos saudáveis, com baixo teor de<br />

gordura e colesterol, com o objetivo de reduzir os<br />

riscos para o coração, sendo um indicador de<br />

produtos de boa qualidade. Está em marcas como<br />

Parmalat, Kellogg’s, Becel, Danone, Yakult,<br />

Santalucia, Cargill, entre outras.<br />

De acordo com o presidente do Colégio Dante<br />

Alighieri, Guglielmo Raul Falzoni, “esta conquista<br />

representa o reconhecimento do trabalho<br />

desenvolvido pela entidade, que busca oferecer<br />

qualidade máxima, não só no ensino, mas nas<br />

atividades que o cercam, como a alimentação, o<br />

transporte, a segurança, etc”. O colégio adota desde


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Continuação<br />

1996 um programa de supervisão alimentar, sob a responsabilidade da<br />

nutricionista Dra. Martha Fonseca Paschoa. “Nosso cardápio é rico em<br />

carboidrato e pobre em gordura saturada, o que proporciona aos alunos<br />

energia para gastarem aqui, sem interferir nas refeições posteriores (almoço<br />

ou jantar), que eles farão em casa”, acrescenta Paschoa.<br />

Para o presidente da SBC/Funcor, Dr. Celso Amodeo, é importante<br />

que os pais saibam da qualidade da refeição servida dentro de uma escola.<br />

“O Colégio Dante Alighieri dá um passo importante na prevenção de<br />

doenças cárdio-vasculares, já que muitas delas se iniciam nos primeiros<br />

anos de vida. É na infância e adolescência que os hábitos saudáveis devem<br />

ser incorporados para que se obtenham os benefícios para o resto da vida”,<br />

constata.<br />

Como não existe período integral, os lanches do Colégio Dante<br />

Alighieri foram desenvolvidos como base para as refeições intermediárias<br />

matutinas e vespertinas. Criados para diminuir as filas no momento do<br />

intervalo e atingir também um público que não tinha acesso à lanchonete<br />

(crianças menores), os kits são entregues nas salas de aula, com atendimento<br />

personalizado e individualizado, respeitando os hábitos alimentares dos<br />

alunos, dentro do que é oferecido no cardápio padrão.<br />

O serviço de kit lanche, além de variedade e proporcionalidade,<br />

principalmente na moderação da ingestão de açúcares e gorduras, oferece<br />

aos pais maior tranqüilidade em relação à alimentação dos filhos que, devido<br />

à correria do dia-a-dia, não conseguem variar os lanches e acabam enviando<br />

merendas ricas em gordura saturada e alimentos pouco saudáveis, como<br />

salgadinhos e biscoitos.<br />

Por ser preparado alguns minutos antes do recreio,<br />

as frutas e bebidas estão sempre frescas e alguns lanches<br />

podem ser quentes. Em três versões, os kits podem ainda<br />

sofrer alterações, autorizadas pelos pais, de acordo com<br />

a preferência dos alunos. O kit sabor, composto por um<br />

sanduíche, uma bebida e uma sobremesa, possui em média<br />

400 calorias, 70% de carboidratos, 10% de proteínas e<br />

15% de lípides. As outras duas versões são a light adulto<br />

e light infantil, que possuem menos calorias, lipídeos ou<br />

carboidratos.<br />

Feito e distribuído de acordo com rígidas normas<br />

de higiene e manipulação de alimentos, o kit lanche passa<br />

por um controle de qualidade das nutricionistas do<br />

Colégio Dante Alighieri.<br />

17


18<br />

PRODUTOS<br />

A utilização do óleo de palma<br />

na indústria alimentícia<br />

A crescente demanda de alimentos naturais tem<br />

estimulado a substituição das gorduras hidrogenadas<br />

e de óleos obtidos de sementes geneticamente<br />

modificadas em diversos alimentos pelas gorduras<br />

naturais à base de óleo de palma. “Diferentemente da<br />

maioria dos óleos de semente que ainda são extraídos<br />

com solvente, o óleo de palma é extraído por<br />

prensagem mecânica, o que o eleva à categoria dos<br />

azeites extra-virgens”, explica Homero dos Santos<br />

Sousa, gerente técnico da Agropalma, maior produtor<br />

de palma do Brasil. Além disso, seu refino é físico,<br />

com o uso apenas de insumos naturais e a produção<br />

de gorduras também é feita somente por processo<br />

físico de fracionamento (resfriamento e filtração) e<br />

de mescla de óleo de palma e de suas frações<br />

(estearinas e oleínas). Portanto, não requer processo<br />

de hidrogenação.<br />

Como os processos são puramente físicos, eles<br />

não alteram a estrutura natural dos triglicérides,<br />

fazendo com que a formulação seja somente ajustada<br />

por separação ou adição dos grupos de triglicérides<br />

segundo as características físicas desejadas. Isso difere<br />

do processo convencional de gorduras via<br />

hidrogenação que altera a composição dos ácidos<br />

graxos e ainda cria ácidos graxos que naturalmente<br />

não estavam presentes no óleo tal qual extraído da<br />

semente oleaginosa.<br />

Esses fatores exemplificam por si só as vantagens<br />

na utilização do óleo de palma na indústria alimentícia,<br />

que o aplica em:<br />

Frituras: Os óleos e gorduras são o meio de<br />

transferência de calor e fonte de aroma e energia,<br />

porque inevitavelmente o alimento absorve gordura<br />

durante a fritura. Dentre os atributos requeridos para<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

O óleo de palma é hoje o segundo mais consumido no<br />

mundo, com uma produção anual de cerca de 18 milhões<br />

de toneladas e deve disputar em breve a liderança do<br />

mercado mundial de óleos e gorduras<br />

um bom óleo estão a resistência à oxidação, hidrólise<br />

e polimerização, baixa formação de espuma, taxa<br />

reduzida de escurecimento e composição de ácidos<br />

graxos nutricialmente adequada. O óleo de palma e<br />

suas frações oléicas reúnem tais características.<br />

Biscoitos: as gorduras são utilizadas na<br />

elaboração de massas, no recheio e na aspersão de<br />

biscoitos. As principais funções das gorduras na massa<br />

de biscoitos são a de lubrificação, aeração e de<br />

favorecer a expansão. Já as gorduras para recheio são<br />

utilizadas em biscoitos tipo sanduíche. O creme é<br />

formulado basicamente com gordura, açúcar, aroma<br />

e corante e, em alguns casos, sólidos de leite ou cacau.<br />

Sorvetes: a gordura clássica para aplicação de<br />

sorvetes é a da manteiga, que no Brasil é aplicada<br />

somente em sorvetes finos. A desvantagem do uso<br />

do produto é ser mais susceptível à contaminação<br />

microbiológica, além de ter custo elevado e alto teor<br />

de colesterol. Gorduras naturais formuladas com óleo<br />

de palma e de palmiste atendem com qualidade esse<br />

mercado. Comparada com a manteiga, a gordura para<br />

sorvetes feita com óleo de palma e palmiste apresenta<br />

sabor e cor neutra, não alterando as características do<br />

produto formulado.<br />

Salgadinhos extrusados: após a extrusão do<br />

salgadinho, ele recebe uma aspersão de gordura líquida<br />

com o tempero característico. Além de servir como<br />

veículo de aroma, a gordura proporciona maciez e<br />

lubrificação no produto final.<br />

Alimentos para bebês: vários fabricantes de<br />

alimentos para bebês já têm substituído as gorduras<br />

hidrogenadas e as provenientes de grãos<br />

geneticamente modificados. Dentre os produtos que<br />

usam oleína de palma estão o leite maternizado e os


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

preparados prontos (como as papinhas). Também<br />

existe a preocupação dos fabricantes em fornecer às<br />

crianças de todas as idades alimentos naturais. Dessa<br />

forma, a oleína de palma tem ganho importância na<br />

produção desses alimentos.<br />

Margarinas: são vários os tipos de margarinas<br />

encontrados no mercado, dentre elas as de mesa, panificação,<br />

culinária ou massa folheada. Nos últimos anos,<br />

a tendência principalmente nas de mesa é de reduzir<br />

o teor de lipídios, aumentando a fase aquosa, visando<br />

tanto reduzir os custos de produção, como acompanhar<br />

a tendência de mercado de redução de calorias.<br />

Produtos lácteos: as bases gordurosas de óleo<br />

de palma para produtos lácteos vêm tendo aplicação<br />

na reconstituição do leite de vaca desnatado.<br />

Comercialmente, o leite reconstituído com óleo<br />

vegetal tem o forte apelo de possuir reduzido teor de<br />

“Garçom, um chá e a conta, por favor!” Algum<br />

tempo atrás, essa frase poderia soar estranha.<br />

Atualmente, no entanto, o consumo de chás tem<br />

ocupado um espaço cada vez maior. É o que dizem<br />

maîtres e chefs de restaurantes e bares. Extrapolou<br />

os rituais dos famosos “chás das cinco” e ganha<br />

adeptos que, além do prazer, estão preocupados com<br />

sua qualidade de vida. Afinal, parar para tomar um<br />

chá, no aconchego de casa, num restaurante ou mesmo<br />

no trabalho, significa dar um tempo à própria mente<br />

e se deixar seduzir por aromas e sabores variados.<br />

Além da possibilidade de cultivar um hábito que,<br />

além do prazer, pode aliar benefícios à saúde – a<br />

grande maioria dos chás possui propriedades que<br />

estimulam as defesas do organismo -, outro fator<br />

contribui para a disseminação desse costume. Para<br />

aproveitar os benefícios oferecidos pela natureza, os<br />

fabricantes têm se empenhado numa produção cada<br />

vez mais esmerada, com embalagens atraentes que<br />

colesterol. A produção de queijo contendo óleo<br />

vegetal já é realidade em alguns países. O óleo de palma<br />

é usado para esse fim combinado com óleo de palmiste<br />

e de canola sem hidrogenar.<br />

Melhoradores de pão e preparados para<br />

bolos: para esses casos são exigidas gorduras de alta<br />

resistência à oxidação devido ao produto estar em<br />

forma de pó, sendo altamente expostas ao ar. O óleo<br />

de palma puro dá um excelente resultado no produto<br />

assado, graças ao sabor neutro, maciez, retardamento<br />

da retrogradação do amido e ao volume do assado.<br />

Balas mastigáveis: produtos que consistem em<br />

açúcar, gordura e leite condensado. As gorduras para<br />

esse fim podem ser elaboradas à base de óleo de palma,<br />

óleo de palmiste e óleo de palma fracionado. A<br />

principal função da gordura nessa aplicação é dar<br />

textura ao produto.<br />

Chá, bebida para toda hora<br />

A prática de tomar chá reúne cada vez mais adeptos.<br />

Aroma e sabor agradáveis aliam-se às propriedades naturais<br />

num hábito que envolve prazer e qualidade de vida<br />

permitem aparência, aromas e sabores cada vez mais<br />

apurados.<br />

Por outro lado, pesquisas incessantes buscam<br />

proporcionar aos apreciadores da bebida uma<br />

experiência marcante, onde a mistura de sabores é<br />

cuidadosamente preparada. A Effem, fabricante dos<br />

Chás Castellari, por exemplo, tem procurado<br />

diversificar sua linha de produção, com mais de uma<br />

dúzia de opções. “Temos um cuidado especial para<br />

tratar os ingredientes selecionados da natureza, como<br />

ervas, flores e frutas. A atenção durante o processo<br />

de embalagem também é fundamental, com salas<br />

separadas e climatizadas. Além disso, desenvolvemos<br />

um envelope exclusivo que preserva o aroma, o sabor<br />

e a qualidade do produto”, afirma Alexandre Estefano,<br />

gerente de franchise da Effem.<br />

Gradual, a mudança de comportamento já é<br />

sentida em bares e restaurantes. “As pessoas, de uns<br />

dois ou três anos para cá, se conscientizaram de que<br />

19


20<br />

o chá faz bem, principalmente à noite. É ótimo para<br />

relaxar e dormir. Nosso consumo aumentou<br />

significativamente. Eu mesmo adotei esse hábito e sou<br />

outra pessoa”, afirma o maître do restaurante<br />

paulistano Apollinari, Bertilo Wirth.<br />

O chef do Bar des Arts, em São Paulo,<br />

Waldumiro Alves, concorda: “Antigamente<br />

trabalhávamos com uma pequena variedade de chás.<br />

Do ano passado para cá, multiplicamos a oferta, com<br />

mais sabores e aromas, principalmente dos chás de<br />

ervas”, afirma. “Adotamos, inclusive, o hábito de levar<br />

uma caixa com várias opções diretamente à mesa do<br />

cliente. Foi um sucesso.”<br />

Concentrando o maior volume de vendas de chá<br />

no Brasil, o mate já começou a sentir a concorrência<br />

dos chás de ervas, flores e frutas. Segundo dados do<br />

instituto AC/Nielsen, apesar de corresponder a 20%<br />

do volume de vendas, esse segmento já representa<br />

60% do faturamento. “E tende a crescer mais ainda,<br />

pois é o que reúne maior valor agregado”, afirma<br />

Estefano, da Effem. “As pessoas estão fugindo da<br />

padronização e buscando opções que tenham mais a<br />

ver com o seu jeito de ser”, acrescenta. Ainda segundo<br />

a pesquisa, realizada de dezembro de 1999 a novembro<br />

de 2000, o chá mate fica com 34,8% do faturamento,<br />

e o preto, com 7,3%.<br />

Companheiro de longa data<br />

Há muitas teorias sobre a origem do chá. Afinal,<br />

é difícil precisar quando e quem, pela primeira vez,<br />

fez uma infusão de folhas em água. Os especialistas<br />

entendem por chá a bebida proveniente das folhas da<br />

árvore do chá, a Camellia sinensis, de onde é possível<br />

obter mais de 3 mil diferentes tipos de chá e,<br />

dependendo do tipo de tratamento a que são sujeitos,<br />

dividi-los em quatro grupos principais: branco, verde,<br />

oolong e preto, estando estes divididos em subgrupos,<br />

cada um com características e sabores distintos.<br />

O primeiro povo a cultivá-lo, no entanto, foi o<br />

chinês, cerca de 4 mil anos atrás, a princípio para fins<br />

medicinais. Diz a lenda, que um imperador chamado<br />

Shen Nung, considerado o pai do chá, ferveu água<br />

para beber e não observou algumas folhas caídas<br />

acidentalmente no recipiente. Sentindo-se atraído pelo<br />

aroma, arriscou a beber o conteúdo. Assim, passou a<br />

fazer experiências com várias folhas, dando início a<br />

um hábito que cruzou o mundo. Hoje em dia, o chá é<br />

a bebida mais consumida mundialmente, depois da<br />

água, num volume que alcança 300 bilhões de litros.<br />

Ao angariar apreciadores, a bebida logo adquiriu<br />

status de mercadoria para troca, além de tornar-se<br />

fundamental para a realização de rituais, como o<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Chado (Tchadô, o caminho do chá), no Japão.<br />

Atualmente, os maiores produtores de chá se<br />

encontram basicamente no Japão, China, India, Sri<br />

Lanka e em outros países sul-asiáticos, além da<br />

participação significativa da Rússia e da América do<br />

Sul. No Brasil, as principais áreas de cultivo estão no<br />

Sul do país.<br />

No caso do que comumente se chama de chá de<br />

ervas, trata-se da infusão de ervas, flores ou frutas<br />

não derivadas da Camellia sinensis. Puras ou<br />

misturadas, essas bebidas popularizaram-se e<br />

absorveram a denominação de “chá”.<br />

Chás de ervas, flores e frutas<br />

Além do sabor e do aroma, os chás de ervas, flores<br />

e frutas apresentam propriedades que estimulam<br />

as defesas do organismo. Conheça alguns dos mais<br />

usados pelos brasileiros:<br />

Boldo do Chile<br />

Para estimular as funções digestivas hepáticas e<br />

biliares.<br />

Camomila<br />

Para gases intestinais, febre, fígado e reumatismo.<br />

Funciona bem para a insônia e a tensão prémenstrual.<br />

Carqueja<br />

Digestivo e diurético, auxilia no tratamento de<br />

anemias, problemas renais e inflamações urinárias.<br />

Erva Cidreira<br />

Diurética, abaixa a febre e a pressão arterial e auxilia<br />

no tratamento dos rins e bexiga. Ajuda a combater<br />

as dores de cabeça, a insônia e crises nervosas.<br />

Erva doce<br />

Calmante e estimulante das funções digestivas.<br />

Elimina gases e mau hálito.<br />

Limão<br />

Purifica o sangue, ajudando no metabolismo. Alivia<br />

tosse e bronquite, ajudando nos problemas de gases<br />

e infecções hepáticas.<br />

Hortelã<br />

Auxilia no combate ao reumatismo, e é bom para<br />

o intestino e fígado. Também funciona como<br />

calmante, combate o amarelão e problemas de<br />

menstruação.<br />

Chá preto<br />

Tônico estimulante dos nervos, músculos e cérebro.<br />

É energético e auxilia no tratamento da obesidade.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

PERFIL<br />

Aperfeiçoamento profissional amplia<br />

mercado de trabalho dos nutricionistas<br />

A diversificação e o aprimoramento técnico-científico têm<br />

levado o profissional de nutrição a atuar em novas frentes,<br />

aumentando cada vez mais seu mercado de trabalho.<br />

Por muito tempo o profissional de nutrição<br />

atuou praticamente em quatro frentes básicas: nutrição<br />

clínica, alimentação coletiva, saúde pública e alimentação<br />

infantil. Atualmente o leque se ampliou, como<br />

explica Lúcia Andrade Pereira, presidente do Conselho<br />

Regional de Nutrição-4, que abrange o Rio de Janeiro,<br />

Minas Gerais e Espírito Santo: “O nutricionista passou<br />

a olhar para onde nunca tinha olhado. E novos<br />

mercados foram surgindo, como, por exemplo, em<br />

tecnologia de alimentos, na área de esportes, junto a<br />

terceira idade e em restaurantes comerciais”.<br />

O aperfeiçoamento profissional da categoria foi<br />

fundamental para a conquista destes novos espaços.<br />

Até bem pouco tempo não havia cursos de pósgraduação<br />

ou de especialização do setor. Com o<br />

surgimento das opções de aprimoramento técnico e<br />

científico, o nutricionista foi, e ainda está,<br />

conquistando esta nova realidade. “No setor esportivo,<br />

junto às academias, existe uma demanda muito grande,<br />

onde o nutricionista ainda não exerce totalmente seu<br />

papel. Atualmente os restaurantes comerciais<br />

contratam nutricionistas por perceberem que eles são<br />

um diferencial de qualidade em seu negócio, e não<br />

simplesmente para cumprirem a lei de<br />

responsabilidade técnica”, comenta Lucia Andrade.<br />

Até mesmo para aqueles que saem da faculdade<br />

não deveria haver dificuldade para ingressarem no<br />

mercado. Segundo a presidente do CRN-4, “a<br />

alimentação é uma área que não se esgota. O campo<br />

da nutrição é muito fértil. Os jovens profissionais não<br />

devem ficar aflitos em busca de emprego, mas sim<br />

procurar enxergar a possibilidade de trabalho. Se existe<br />

o problema de desemprego não é devido ao nosso<br />

segmento, mas sim por causa da crise gerada pela<br />

política econômica neoliberal adotada pelo governo<br />

federal”. Situado numa faixa salarial entre R$ 800,00<br />

e 3.000,00, o profissional que cuida da saúde das<br />

pessoas pela alimentação está em alta. Atualmente<br />

cerca de 18 mil alunos estudam nas 99 faculdades<br />

existentes no País, que conta com aproximadamente<br />

30 mil nutricionistas.<br />

Lucia Andrade enfatiza ainda que o nutricionista<br />

retardou muito sua entrada no processo científico e<br />

de pesquisa. Diz ela que “somente nos últimos 15<br />

anos começamos a ter, em número mais significativo,<br />

nutricionistas pós-graduados. Hoje já existem as<br />

pessoas com titulação suficiente para coordenarem<br />

cursos, implantarem novas disciplinas, linhas de<br />

pesquisa para que haja naturalmente o<br />

desenvolvimento científico. Na realidade a questão<br />

do mercado é o saber que você detém. E o<br />

nutricionista está em busca do aprimoramento<br />

acadêmico e da pesquisa científica, o que certamente<br />

fortalecerá cada vez mais a categoria”.<br />

Compromisso social<br />

“Não se sai da faculdade com a receita de bolo<br />

prontinha para se aplicar - explica ainda Lucia. Os<br />

cursos hoje estão diante de um desafio, que é<br />

realmente prestar atenção não só na parte do conteúdo<br />

profissional, mas também nessa questão de formação,<br />

de postura, de como se relacionar com este mundo<br />

multiprofissional. O nutricionista não trabalha<br />

sozinho. Qualquer área em que ele atue, terá sempre<br />

um contra-ponto com outros. Na área de industria,<br />

21


22<br />

por exemplo, tem o médico do trabalho. Na área<br />

clínica têm-se o corpo médico, a enfermagem, o<br />

serviço social. Na área de esporte, com o professor<br />

de educação física, o fisioterapeuta, enfim, as<br />

possibilidades de trabalho são inúmeras, a carência<br />

de informação que a população tem é muito grande.<br />

As pessoas não sabem efetivamente como comer”.<br />

Num País em que existem mais de 50 milhões<br />

de pessoas que estão fora da possibilidade de ter<br />

condições de se viver bem, o compromisso social do<br />

nutricionista é muito grande. E a presidente do<br />

Conselho enfatiza: “Nós temos um papel muito<br />

importante na discussão da política de alimentação<br />

do País. Por um lado temos os desnutridos, por outro<br />

os que se alimentam mal. Temos possibilidade de<br />

trabalhar tanto para os que têm dinheiro quanto para<br />

os que não têm. Pela nossa formação generalista, podemos<br />

trabalhar em qualquer momento da população.<br />

Seja com a gestante, com o recém nascido, com a<br />

criança, com o adolescente, com o adulto, com o idoso,<br />

enfim, o nutricionista é pau pra toda obra. Portanto,<br />

o problema não é mercado, é emprego. E o mercado<br />

é resultado do fortalecimento da categoria. E é isso<br />

que os Conselhos Regionais estão procurando fazer”.<br />

Ainda é pouca a participação do nutricionista<br />

na implementação de uma política de alimentação para<br />

o País, mas alguns profissionais já ocupam importantes<br />

cargos em ministérios afins, possibilitando um maior<br />

engajamento da categoria na busca de soluções e bons<br />

projetos. Atualmente existem alguns programas,<br />

criados com a participação de nutricionistas,<br />

direcionados aos municípios, que por sua vez vêm se<br />

adequando para atender essa nova demanda criada<br />

pelos órgãos superiores, para que haja atendimento à<br />

população. Lucia cita como exemplo o Programa de<br />

Saúde da Família.<br />

No ponto de vista de Lucia Andrade, o processo<br />

de terceirização ocorrido no mercado de alimentação<br />

coletiva não foi positivo para a categoria. E desabafa:<br />

“A terceirização possibilitou empregar mais<br />

profissionais, só que os salários não são compatíveis<br />

com a natureza das atividades exercidas. A gente<br />

percebe que aquilo que poderia ser mais bem cuidado<br />

não é porque foi terceirizado o serviço. O que é<br />

importante para o País? Que você tenha a população<br />

bem alimentada para manter o nível geral de vida. E<br />

o trabalhador bem nutrido é mais produtivo. A<br />

autogestão garantia tudo isso. Até porque existia o<br />

nutricionista que cuidava só desta questão. A<br />

terceirização só facilitou para que a empresa não<br />

fizesse mais este trabalho. Ela manda outro<br />

administrar o serviço. Mas isso só modificou a direção<br />

de onde vem o dinheiro. Então você passou a ter as<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

empresas especializadas em alimentação coletiva, que<br />

atendem a qualidade em um aspecto, mas que deixam<br />

muito a desejar na qualidade de vida do trabalhador.<br />

Hoje nós temos problemas com alguns tipos de<br />

contrato, que ao invés de melhorar a qualidade<br />

nutricional, atendem somente a necessidade<br />

gastronômica dos comensais. Algumas<br />

concessionárias estão preocupadas somente em<br />

vender refeições. Não estão preocupadas se o cliente<br />

está ficando doente ou obeso. Na autogestão isto não<br />

acontecia”.<br />

Educação nutricional<br />

Lucia explica que a grande diferença é quando o<br />

nutricionista faz um trabalho de educação nutricional.<br />

“Além dele dominar todo o processo de produção, o<br />

contato com sua clientela é que vai dizer qual a<br />

qualidade de vida dos comensais. Pode-se ter no<br />

cardápio batata frita e salgadinho, mas tem que<br />

informar ao cliente que aquela alimentação pode<br />

deixá-lo obeso em pouco tempo”.<br />

Lúcia Andrade: “O nutricionista é pau pra toda obra”.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Os Conselhos Regionais de Nutrição existem,<br />

basicamente, para regulamentar e garantir o exercício<br />

da profissão de nutricionista. A atual gestão do CRN-<br />

4, que iniciou em junho de 2001, tem como prioridade<br />

política, atuar em três frentes: ampliar o mercado de<br />

trabalho, sedimentar a imagem profissional e aumentar<br />

a participação político-social da categoria. Para cada<br />

uma dessas metas, existe uma estratégia em<br />

andamento. No que diz respeito à ampliação de<br />

mercado, Lucia Andrade explica que a intenção não é<br />

de aumentar o número de empregos, mas de<br />

instrumentalizar cada vez mais o nutricionista, para<br />

que ele possa realmente pensar em suas possibilidades<br />

de trabalho. “Isto significa aumentar o nosso contato<br />

com a universidade, levando tudo aquilo que captamos<br />

através de nossos processos de fiscalização, para alertála<br />

do que está defasado. Um bom exemplo é o setor<br />

da terceira idade, uma área em franca expansão, onde<br />

o nutricionista só recentemente começou a atuar.<br />

Existe ainda inúmeros asilos que não têm nutricionistas.<br />

Precisamos reaquecer o setor de alimentação<br />

escolar, onde tínhamos uma boa concentração de<br />

profissionais, que por razões políticas acabamos<br />

perdendo o espaço. Na área de alimentação coletiva,<br />

no que diz respeito aos restaurantes comerciais muito<br />

ainda tem que ser feito. E na área do setor público a<br />

realização de programas e bons projetos para que<br />

possamos implementar os cursos”, comenta.<br />

Para sedimentar a imagem profissional da<br />

categoria, a presidente do CRN-4 explica que é<br />

fundamental ampliar a participação dos nutricionistas<br />

na mídia. “O nutricionista é que tem que ser o portavoz<br />

da alimentação e nutrição – diz Lucia. Temos um<br />

cadastro das pessoas credenciadas para falarem dos<br />

mais diversos temas. Quando a imprensa nos solicita,<br />

logo a encaminhamos para um desses profissionais.<br />

É importante ter sempre uma matéria focalizando a<br />

nutrição, com informações dadas por nutricionistas”.<br />

Quanto à questão da participação político-social,<br />

ela enfatiza que “tem que haver mesmo o trabalho de<br />

cavar espaço nos fóruns políticos e sociais. Desde o<br />

conselho distrital, onde se reúne os representantes<br />

do bairro, da região, até às últimas instâncias. Isto<br />

significa desenvolver esta característica política do<br />

nutricionista, para que ele participe das decisões<br />

importantes. Concurso só acontece porque é a<br />

população quem pede e a população só vai pedir se<br />

conhecer o nutricionista. Por isto que a gente tem<br />

que trabalhar para sedimentar a imagem dele”.<br />

Fiscalização orientadora<br />

Lucia Andrade Pereira, que já está em sua<br />

segunda gestão, explica ainda o processo evolutivo<br />

que sofreu a política de fiscalização adotada pelo CRN-<br />

4. “Nossa fiscalização hoje é orientadora e não<br />

punitiva. Receber a visita de um fiscal do CRN-4 é ter<br />

contato com um parceiro, com um consultor técnico<br />

que trará contribuições para a melhoria da prática<br />

profissional e dará visibilidade ao empregador às<br />

vantagens de um serviço de alimentação de qualidade.<br />

Esta guinada se sustenta numa filosofia de trabalho<br />

conjunto, no princípio da cidadania e no compromisso<br />

com a profissão”.<br />

A linha atual seguida pelo CRN-4 é investir onde<br />

existe a possibilidade de efetivamente vir a valorizar<br />

o nutricionista. “E com isso – diz Lucia - a gente<br />

espera que o nutricionista valorize a entidade. Valorizar<br />

é participar dos nossos eventos. O importante é que<br />

o próprio nutricionista seja fiscal dele mesmo. Que<br />

ele perceba qual a responsabilidade que ele tem no<br />

processo de trabalho de valorização profissional.<br />

Obrigar a empresa contratar por causa da lei não<br />

significa nada. O importante é que as empresas<br />

percebam que precisam do nutricionista. Este é o<br />

papel do nutricionista. É perceber o quanto ele vale.<br />

O quanto ele faz parte atuante deste processo. E como<br />

ele pode fortalecer sua profissão”.<br />

O CRN-4 mantém um bom relacionamento tanto<br />

com a Associação dos Nutricionistas quanto com o Sindicato.<br />

“No aspecto científico, estaremos junto com a<br />

Associação, para que ela conduza este trabalho de<br />

discussão curricular junto às universidades e propostas<br />

de projetos de pós-graduação. E com o Sindicato é de<br />

estar sempre buscando esta questão de direitos<br />

trabalhistas. E a tendência e de intensificar cada vez mais<br />

esta aproximação”, finaliza a presidente da entidade.<br />

23


24<br />

Apesar das diversidades de seu campo de atuação,<br />

as principais áreas em que atua o profissional nutricionista<br />

têm sido o hospital, a indústria e a saúde<br />

pública. Cabe a cada profissional, egresso de um<br />

curso superior, saber explorar todas as potencialidades<br />

que lhe permite o conhecimento profissional.<br />

Hospital<br />

Em um hospital o nutricionista atua nos seguintes<br />

setores:<br />

a) Nutrição clínica e cirúrgica<br />

Serviço de nutrição nas enfermarias, organização<br />

(estrutura, instalações, impressos, pessoal); terapia<br />

nutricional através de determinação de diagnóstico<br />

nutricional (a partir de anamnese nutricional,<br />

avaliação antropométrica e bioquímica, exame<br />

físico, e dados da anamnese médica e diagnóstico<br />

clínico), conduta, prescrição dietoterápica;<br />

elaboração e análise de dietas; orientação<br />

nutricional; evolução nutricional, controle<br />

nutricional e de ingesta hídrica; controle de rotina<br />

no pré e pós-operatório; participação em grupos<br />

de estudos; solicitação de exames laboratoriais<br />

para evolução nutricional.<br />

b) Ambulatórios<br />

Rotina, impressos, pessoal; anamnese alimentar e<br />

avaliação nutricional; elaboração da dieta<br />

individual, considerando as condições sócioeconômicas<br />

e hábitos alimentares; atendimento<br />

grupal, solicitação de exames laboratoriais.<br />

c) Nutrição materno-infantil<br />

Gestante, puérpera e nutrizes: serviço de nutrição<br />

na maternidade e rotina; supervisão e controle do<br />

serviço, atualização de mapas; anamnese alimentar;<br />

avaliação e orientação nutricional; elaboração e<br />

análise da dieta.<br />

• Pediatria: serviço de nutrição na enfermaria de<br />

pediatria, supervisão e controle; interpretação e<br />

adequação das prescrições médicas; atualização de<br />

mapas; anamnese alimentar; avaliação e orientação<br />

nutricional; elaboração e análise da dieta.<br />

• Lactário: serviço de nutrição no lactário;<br />

localização, planejamento, equipamentos, higienização,<br />

pessoal; armazenamento e distribuição de<br />

mamadeiras; métodos de esterilização; controle<br />

bacteriológico; cálculo e técnicas de preparo das<br />

fórmulas lácteas e não-lácteas; supervisão e<br />

controle; atualização de mapas.<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Áreas de atuação do nutricionista<br />

• Banco de leite humano: rotina, planejamento,<br />

localização, ventilação e iluminação; área de<br />

atuação técnica de colheita do leite humano e<br />

métodos de conservação; impressos; atualização e<br />

controle das estatísticas; supervisão e controle.<br />

d) Produção<br />

Planejamento do serviço de nutrição (localização,<br />

utensílios, máquinas e equipamentos); tipos de<br />

serviço; elaboração de cardápios (per capita,<br />

custos); sistema de distribuição para pacientes e<br />

servidores; controle de qualidade e aceitabilidade<br />

dos alimentos; impressos; treinamento e seleção<br />

de pessoal; supervisão, coordenação e controle de<br />

atividades desenvolvidas.<br />

Saúde pública<br />

Na área de Saúde pública a atividade é<br />

desenvolvida, principalmente, junto aos órgãos de<br />

governo. Deve sempre estar pronto para prestar<br />

informações ao público através dos veículos de<br />

comunicação de massa; deve conscientizar a<br />

sociedade e mobilizar o governo para a busca de<br />

soluções definitivas, objetivando amenizar a<br />

gravidade da questão alimentar brasileira.<br />

a) Planejamento<br />

Realizado em qualquer nível de atuação: local,<br />

regional e central, elaborando e coordenando<br />

programas de suplementação alimentar e de<br />

merenda escolar, na tentativa de reduzir as<br />

carências nutricionais.<br />

b) Assistência alimentar<br />

Serviços de nutrição em instituições que<br />

comportam coletividade sadia (estrutura,<br />

instalações, impressos, pessoal; elaboração de<br />

cardápios diários: requisição, produção e<br />

distribuição); observação do per capita e da<br />

aceitabilidade da alimentação distribuída.<br />

c) Educação nutricional<br />

Organização e planejamento de atividades;<br />

palestras para a clientela; pesquisas para avaliação<br />

nutricional da clientela; atendimento ambulatorial<br />

(anamnese alimentar, avaliação e orientação<br />

nutricional); elaboração e prescrição de dietas.<br />

d) Alimentação do pré-escolar e escolar<br />

Atividades desenvolvidas em diversas instituições<br />

da comunidade, verificando aspectos nutricionais<br />

na avaliação da alimentação e do estado<br />

nutricional, por serem os membros da


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

comunidade oriundos dos mais diferentes níveis<br />

sócio-econômicos e culturas.<br />

• Centro de saúde: planejamento e ministração de<br />

palestras e cursos sobre temas de nutrição e saúde,<br />

para os usuários que integram os programas e para<br />

a comunidade; atendimento no ambulatório de<br />

puericultura e orientação alimentar para mães e<br />

crianças.<br />

• Escolas: serviço de nutrição (instalações;<br />

confecção e distribuição de refeições); planejamento<br />

e elaboração de cardápios; avaliação da<br />

aceitabilidade da alimentação distribuída; supervisão<br />

da distribuição da merenda escolar; observação do<br />

per capita ingerido, utilizando medidas caseiras;<br />

anotação da freqüência à merenda escolar;<br />

impressos e rotina.<br />

• Creches: administração da unidade de alimentação<br />

e nutrição, responsabilidade por todas as ações<br />

nutricionais referentes à criança e sua família.<br />

Planejamento e ministração de palestras e cursos<br />

sobre alimentação e saúde, dirigidos aos<br />

responsáveis pelas crianças e membros da<br />

comunidade, com demonstrações práticas e técnicas<br />

para a conservação do valor nutritivo dos<br />

alimentos; avaliação nutricional do pré-escolar;<br />

impressos e elaboração de pesquisas.<br />

Restaurante tipo industrial<br />

O nutricionista trabalha conscientizando o<br />

empregador para a importância do serviço de<br />

nutrição em sua empresa, obtendo os recursos<br />

necessários para desenvolvê-lo.<br />

Atividades semelhantes às descritas para a produção<br />

de alimentos em um hospital. O cardápio serve<br />

como um verdadeiro instrumento para a educação<br />

nutricional: deve orientar o comensal para os<br />

processos tecnológicos da fabricação, valor nutricional<br />

e preparo do produto; deve elaborar informes<br />

científicos e técnicas referentes à alimentação em<br />

geral, ampliando a consciência crítica relativa à<br />

propaganda pelos meios de comunicação de massa.<br />

Atuando em empresas, deve seguir, rigorosamente,<br />

o Código Brasileiro de Alimentos.<br />

Consultório de terapia nutricional<br />

Cabe ao nutricionista dar atendimento nutricional<br />

personalizado a indivíduos sadios que necessitam<br />

adequar seu comportamento alimentar, com ênfase<br />

na prevenção de doenças ou a indivíduos doentes<br />

que necessitam de aconselhamento dietoterápico,<br />

determinando diagnóstico nutricional, conduta e<br />

prescrição dietoterápica; atua em clínicas de<br />

recuperação médico-nutricional, clínicas de<br />

ginástica/estética;<br />

Escritório de planejamento, consultoria e assessoria<br />

de serviços de alimentação, indústrias alimentícias,<br />

laboratórios e editoras.<br />

Laboratório bromatológico<br />

O nutricionista participa da equipe de Vigilância<br />

Sanitária na identificação do estado higiênico<br />

sanitário do alimento, quanto ao controle de<br />

qualidade e legislação sanitária vigente.<br />

Desenvolve suas atividades em laboratórios<br />

bromatológicos, físico-químicos e microbiológicos:<br />

identifica os alimentos quanto a sua estrutura e<br />

composição; controle sanitário de alimento de<br />

origem animal; inspeção sanitária e comercial;<br />

provas de esterilidade nos produtos alimentares<br />

enlatados e embutidos; determinação de alterações<br />

diversas e identificação de micro-organismos;<br />

aplicação da legislação bromatológica vigente e<br />

elaboração de relatórios.<br />

Pesquisa<br />

Trabalha na indústria de alimentos pesquisando<br />

processos de confecção, enriquecimento e conservação<br />

de alimentos industrializados. Nas instituições<br />

de ensino, elabora pesquisas acadêmicas nas<br />

diferentes áreas da alimentação, nutrição e saúde.<br />

Ensino<br />

A atividade primordial do nutricionista é a de<br />

educador, podendo desenvolver atividades de<br />

ensino em quaisquer dos níveis de formação<br />

humana, formal ou informal, de simples palestras<br />

na comunidade ao ensino superior. Coordena todos<br />

os campos de ensino de nutrição, sendo exclusivo<br />

do nutricionista a coordenação de cursos de<br />

graduação em nutrição e de nível médio.<br />

Administração<br />

Pode assumir qualquer atividade funcional na sua<br />

área de formação: sendo exclusiva dela a direção de<br />

restaurantes industriais.<br />

Outras<br />

Restaurante comercial, academias, SPAs, hoteis,<br />

marketing, etc.<br />

25


26<br />

MERCADO<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Como funciona o setor de alimentação<br />

coletiva no Brasil<br />

O mercado brasileiro de alimentação posicionase<br />

como o 7º maior do mundo em volume. Estima-se<br />

que 1/4 das refeições realizadas pela população sejam<br />

consumidas fora do lar, algo ao redor de 40 milhões<br />

de serviços diários.<br />

Segundo a Abia – Associação Brasileira das<br />

Indústria de Alimentos (38 mil indústrias de<br />

alimentação do País), o consumo interno foi<br />

responsável por um faturamento anual de cerca de<br />

65 bilhões de dólares nos últimos anos da década de<br />

90 – 51 bilhões no varejo alimentício e 14 bilhões nas<br />

refeições fora do lar (quase 20% do total), fornecidas<br />

em estabelecimentos comerciais (restaurantes, fastfoods,<br />

lanchonetes, etc) e serviços de alimentação<br />

coletiva (em empresas públicas e privadas, hospitais,<br />

catering de passageiros, etc).<br />

Por alimentação coletiva entende-se a produção<br />

de refeições em grande escala para populações<br />

específicas.<br />

No Brasil, sob aspecto de atividade econômica,<br />

esse mercado compreende seis macros segmentos:<br />

alimentação em empresas (indústria, comércio e<br />

serviços); alimentação em serviços de saúde ou<br />

refeições dietoterápicas (hospitais, clubes esportivos<br />

e spas); catering de bordo (refeições servidas em<br />

aviões, navios, trens, plataformas marítimas, etc);<br />

alimentação em instituições de educação ou merenda<br />

escolar (creches, escolas de primeiro grau até<br />

universidades); alimentação das Forças Armadas<br />

(exército, marinha, aeronáutica e polícias militares) e<br />

alimentação comercial (restaurantes, bares, fast-foods,<br />

hotéis, buffets, resorts) que é um segmento de varejo<br />

que, juntamente com o setor de alimentação para<br />

coletividades, compõe o chamado mercado de<br />

alimentação fora do lar.<br />

Esse expressivo nicho de mercado fornece,<br />

atualmente, 10 milhões de refeições/dia e movimenta<br />

cifras ao redor de R$ 9 bilhões anualmente.<br />

Apenas no fornecimento de alimentação em<br />

empresas, por meio da terceirização dos serviços pelas<br />

empresas de refeições coletivas, computam-se<br />

4 milhões de refeições/dia e faturamento anual de R$<br />

3,2 bilhões/ano.<br />

Em torno desses milhões de pratos<br />

movimentam-se quatro setores da economia:<br />

concessionárias de refeições, que terceirizam serviços<br />

de alimentação; indústria de alimentos e agroindústria;<br />

indústria de equipamentos; indústria e comércio de<br />

produtos para cozinhas e restaurantes; e prestadores<br />

de serviços (de higiene, limpeza, sanitização,<br />

microbiologia, assessorias).<br />

O principal indicador (oficial) sobre os números<br />

do segmento de alimentação em empresas é o PAT –<br />

Programa de Alimentação do Trabalhador, com<br />

vínculo tripartite entre Ministério do Trabalho,<br />

Ministério da Fazenda e Receita Federal. Em vigor<br />

desde 1976, o programa subsidia, com a isenção de<br />

impostos, empresas que concedem o benefício da<br />

alimentação aos seus trabalhadores, particularmente<br />

aos de baixa renda.<br />

O PAT ampara cerca de 10 milhões de<br />

trabalhadores. Destes, 5 milhões são beneficiados via<br />

vales de refeição, e os outros 5 milhões recebem<br />

alimentação no local de trabalho, através de serviços<br />

terceirizados ou autogeridos.<br />

O custo médio de uma refeição básica é de R$<br />

3,00 (de R$ 2,00 no Norte/Nordeste/Centro-Oeste,<br />

a R$ 4,00 no Sul/Sudeste).<br />

Sobre esse mercado consumidor ativo de 10<br />

milhões de pessoas/dia, há de se considerar ainda os<br />

trabalhadores de empresas que fornecem alimentação<br />

no local de trabalho e não estão inscritas no PAT,<br />

além dos segmentos não-beneficiados (Forças<br />

Armadas, merenda escolar, etc).<br />

Segundo dados do IBGE, o Brasil registra uma<br />

população economicamente ativa de 55 milhões de<br />

pessoas, sendo que 22 milhões possuem carteira de<br />

trabalho assinada e configuram o mercado potencial<br />

para a oferta de serviços de alimentação.<br />

A Federação dos Trabalhadores nas Empresas<br />

de Refeição Coletiva e Afins afirma que cerca de 350<br />

mil pessoas trabalham nesse mercado, aqui incluído


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

o setor de restaurantes comerciais. Sabe-se, no entanto,<br />

que, no setor de alimentação coletiva em empresas,<br />

para cada 45 refeições produzidas é necessário um<br />

funcionário. Considerando-se 5 milhões de refeições/<br />

dia teríamos 125 mil trabalhadores somente nesse<br />

setor (sem considerar o de refeições comerciais).<br />

Estima-se em US$ 7 bilhões o faturamento anual dos<br />

segmentos de alimentação em empresas, hospitais,<br />

clubes, catering de bordo e Forças Armadas.<br />

O segmento de alimentação em escolas (merenda<br />

escolar) deve consumir cerca de 30 milhões de refeições/<br />

dia neste ano. É um setor onde o processo de produção<br />

e administração dos serviços alimentação apenas agora<br />

começa a ser terceirizado (em Santo André-SP, a<br />

Prefeitura montou uma cozinha central com capacidade<br />

para mil refeições/dia, que são distribuídas às cozinhas<br />

das escolas e daí distribuídas aos alunos).<br />

O grande mercado de refeições comerciais<br />

(restaurantes, bares, fast-foods, hotéis, buffets e<br />

Segmentos da Alimentação Coletiva<br />

Alimentação em empresas<br />

Refeições fornecidas para funcionários de indústrias, comércio e serviços.<br />

Mercado direto - 10 milhões de refeições/dia.<br />

Cinco milhões em vales-refeição e cinco milhões em refeições servidas no local de trabalho - 20 mil grandes<br />

cozinhas.<br />

Serviços de alimentação coletiva no local: autogeridos, administrados pela própria empresa, ou concedidos,<br />

administrados por terceiros.<br />

Refeição transportada - (principalmente na construção civil)<br />

Saúde<br />

1 milhão de refeições/dia (dietoterápica)<br />

Hospitais, clubes esportivos e recreativos (alimentação de atletas e associados), spas, entre outros.<br />

Catering de bordo<br />

Alimentação servida em aeronaves, navios, trens, etc.<br />

Educação<br />

Merenda Escolar - 30 milhões de refeições/dia (iniciando processo de terceirização)<br />

Escolas Públicas - Instituições de primeiro grau até universidades.<br />

Forças Armadas<br />

Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícias Militares e Secretarias de Segurança (responsáveis pela alimentação<br />

dos presos em estabelecimentos penais, cadeias públicas e distritos policiais).<br />

Estimativa de 500 mil refeições/dia (efetivo das forças, sem contar os presos).<br />

Refeições comerciais<br />

Turismo, restaurantes, hotelaria e eventos<br />

Hotéis, resorts, spas, convenções, buffets, restaurantes, fast foods e bares<br />

convenções, com algo em torno de 1 milhão de<br />

estabelecimentos no País) não dispõe de mapeamento<br />

oficial. É um segmento distinto dos outros, inserindose<br />

mais no varejo, com grande visibilidade para o<br />

público em geral.<br />

Os outros setores, especificamente chamado de<br />

alimentação coletiva ou institucional, geram bilhões<br />

de dólares e são desconhecidos do público e analistas<br />

de economia, particularmente porque apenas nos<br />

últimos anos atingiu a maturidade de um volume<br />

expressivo de negócios (é um mercado com cerca de<br />

30 anos de existência no País).<br />

Apenas como parâmetro, nos EUA todos<br />

esses setores juntos movimentaram US$ 254<br />

bilhões, em 1992 (número com base em pesquisa<br />

da Malcom Knapp Inc. feita para National<br />

Restaurant Association). Não há ainda quaisquer<br />

estimativas de volume de negócios nesses setores,<br />

no âmbito do Mercosul.<br />

27


28<br />

NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />

Yoki lança sorvetes de abacaxi e coco<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

A Yoki lançou nesse verão dois novos sabores de sorvetes: abacaxi e<br />

coco. Com a novidade, há a expectativa de que o produto, que registrou<br />

um crescimento de 15% nas vendas no ano passado, cresça outros 30%<br />

nesse ano. Para levar ao público a novidade, a Yoki criou a Sorveteria<br />

Yoki, que vai oferecer nos grandes supermercados o produto para<br />

degustação. Os sorvetes da Yoki têm feito sucesso entre os consumidores<br />

por ser econômico (três vezes mais barato que o sorvete pronto), ter sabor<br />

natural, textura cremosa (não cristaliza) e ser extremamente prático. É<br />

preciso apenas acrescentar 250ml de leite gelado, bater e levar ao congelador,<br />

sem a necessidade de repetir o processo. Rende 1,5 litro de sorvete. São<br />

oferecidos os sabores creme, morango, chocolate e os novos coco e abacaxi.<br />

E, como outras sobremesas da Yoki, o sorvete pode ganhar um toque<br />

pessoal, acrescentando licor, frutas, pedaços de chocolate, frutas<br />

cristalizadas, ou qualquer complemento do gosto do consumidor.<br />

Gelatina com personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo<br />

A Santista, divisão da Bunge Alimentos, preparou uma novidade<br />

especial voltada para o público infantil. Trata-se da gelatina Sol Sítio do<br />

Pica Pau Amarelo, que traz os personagens do famoso seriado para serem<br />

colecionados. O produto é apresentado em quatro sabores diferentes,<br />

identificados pelos principais integrantes do programa: Emília, chicle;<br />

Visconde de Sabugosa, groselha; Narizinho, morango; e Pedrinho, frutas<br />

radicais. As figuras dos personagens estão impressas nas embalagens e<br />

podem ser recortadas. “Procuramos agregar à imagem do produto<br />

personagens fortes e de grande aceitação por parte das crianças”, afirma<br />

Carolina Filli, gerente de produto da empresa.<br />

Além de divertidas, as gelatinas Sol Sítio do Pica Pau Amarelo também<br />

são nutritivas e saborosas. “Possuem em sua formulação, doses de vitamina<br />

C, tornando o produto ainda mais saudável”, diz ela.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />

Novas Pré-Mesclas de panificação e misturas para bolos<br />

A pré-mistura para panificação Pré-Mescla, líder de mercado nessa<br />

categoria, apresenta três novidades: croissant, pão de ló e bolo de aipim.<br />

Além disso, toda a linha ganhou nova embalagem, com aplicação de foto<br />

do produto final para facilitar a identificação e o armazenamento.<br />

A Santista, divisão da Bunge Alimentos, acaba de ampliar uma de<br />

suas mais conhecidas linhas de misturas para bolo. Agora, a tradicional<br />

Bolo Sol, pode ser encontrada em duas novas versões, além da regular: a<br />

Sol+ Coberturas e a Sol+ Confeitos. Mais prática, a Sol+ Coberturas é a<br />

única no mercado a incluir, além da mistura para bolo, um sachê de cobertura<br />

pronta. A linha Sol+ Confeitos traz opções versáteis, que vão desde<br />

sachês com confeitos coloridos até flocos de chocolate e gotas de morango.<br />

A linha Sol+ Coberturas pode ser encontrada nas seguintes versões:<br />

bolo de maracujá com cobertura pronta de maracujá (suco natural da<br />

fruta);bolode abacaxi com cobertura pronta de abacaxi (com suco naturalda<br />

fruta); bolo de chocolate com cobertura pronta de chocolate; bolo de<br />

cenoura com cobertura pronta de chocolate; e bolo mármore com cobertura<br />

pronta de chocolate. A linha Sol+ Confeitos é apresentada nas versões<br />

bolo de café com flocos de chocolate; bolo mesclado com gotas de morango<br />

e bolo arco - íris com confeitos coloridos, além do tradicional formigueiro.<br />

A exemplo do que já acontece com a linha básica, as embalagens dos<br />

novos produtos possuem informações em braile.<br />

Tropical Alimentos lança Suco Tial Light<br />

A Tropical Alimentos, fabricante dos sucos Tial, acaba de lançar o<br />

Suco Tial Light em quatro sabores: abacaxi, goiaba, mamão e pêssego.<br />

Com uma redução média de até 70% nas calorias do suco, a Tial garante<br />

ao consumidor um produto Premium, que conserva as proteínas da fruta,<br />

sem adição de açúcar e sem comprometer a pureza do sabor.<br />

Para a versão light, os sucos Tial ganham também um novo visual. A<br />

embalagem de vidro mantém a quantidade de 300ml, mas<br />

ganhou uma forma mais alongada, para acompanhar o<br />

conceito do produto.<br />

Sabor % de calorias % polpa de fruta<br />

por embalagem por embalagem<br />

Abacaxi 56 50<br />

Goiaba 40 50<br />

Mamão 48 50<br />

Pêssego 28 50<br />

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30<br />

NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />

Linha de Chás Castellari tem 14 sabores<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

A linha de Chás Castellari representa uma opção diferenciada na hora<br />

de tomar chá. Criada no começo do ano 2000, trouxe para o mercado uma<br />

embalagem especial, com exclusivo envelope em BOPP (polipropileno<br />

biorientado), que preserva as propriedades naturais das ervas, como sabor,<br />

aroma e frescor. O logotipo da marca vem com um design moderno,<br />

recentemente reformulado, e as embalagens têm cores marcantes que<br />

garantem maior visualização nos pontos de venda e identificação por parte<br />

do consumidor.<br />

A linha é composta por 14 tipos de sabores: Maçã & Canela, Erva-<br />

Doce, Boldo do Chile, Erva-Cidreira, Cítrico, Carqueja, Camomila, Silvestre,<br />

Limão, Tropical, Chá Preto, Chá verde, Chá Mate e Hortelã. As caixas<br />

acondicionam 15 sachês. A matéria-prima, cuidadosamente selecionada,<br />

segundo as especificações do Sistema de Qualidade Effem, vem dos<br />

melhores fornecedores nacionais e internacionais. Somente as partes nobres<br />

da erva são utilizadas, evitando a dispersão do sabor e assegurando a pureza<br />

do produto.<br />

Atualmente, o hábito de tomar chá está associado ao prazer de comer<br />

e beber e à escolha de produtos que fazem bem, são naturais e de boa<br />

procedência. Por isso, o lançamento desta linha completa, com tudo que<br />

os clientes procuram: sabor, aroma, qualidade de matéria-prima, opções<br />

diferenciadas e requinte.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

NOVOS PRODUTOS E TECNOLOGIAS<br />

Primeira barra nutricional produzida no Brasil<br />

Acaba de chegar às prateleiras a primeira barra nutricional<br />

hiperprotéica totalmente desenvolvida e produzida no Brasil, a Protein<br />

Bar. Nos sabores banana e côco – ambos cobertos por chocolate -, é um<br />

alimento com alto teor de proteínas (31%), vitaminas e minerais e baixo<br />

teor de gordura e carboidratos. Na sua composição, destacam-se ainda<br />

ingredientes como proteína isolada da soja (fonte de isoflavonas), proteína<br />

isolada do soro do leite (Whey Protein, rica em aminoácidos de cadeia<br />

ramificada - BCAAs) e colágeno hidrolisado.<br />

Lançado pela Advanced Nutrition, empresa nacional que comercializa<br />

as tradicionais linhas Nutrisport, Fibrocrac, Gelamin e Natural Top, o novo<br />

produto auxilia nas dietas voltadas para hipertrofia muscular, ajuda na<br />

recuperação após os treinos e na melhoria da performance. De fácil digestão,<br />

pode ser consumido durante a atividade física e apresenta-se como uma<br />

alternativa prática e rápida para substituir lanches e pequenas refeições,<br />

mesmo no caso de não praticantes de atividade física, fornecendo ao<br />

organismo um alto teor de proteínas, vitaminas e minerais. O valor calórico<br />

é de 180 kcal/unidade.<br />

Segundo Maria Lúcia Bastos, coordenadora de nutrição da Advanced,<br />

a Protein Bar conseguiu conciliar um alto valor nutritivo a um saboroso<br />

paladar. Para uma dieta que forneça em média 2000 calorias diárias, a<br />

sugestão de consumo é de duas barras/dia. “Essa quantidade supre 56%<br />

da Ingestão Diária Recomendada (IDR) de proteínas, estabelecida pelo<br />

Ministério da Saúde, além de 28% e 14% da mesma recomendação para<br />

vitaminas e minerais, respectivamente”, ressalta.<br />

A nutricionista faz questão de frisar a diferença entre a Protein Bar e<br />

as barrinhas de cereais já tão difundidas no mercado. “Por ambos os<br />

produtos se apresentarem sob a forma de barra, o consumidor tende num<br />

primeiro momento a achar que tratam-se de itens similares. As barras de<br />

cereais são de origem totalmente vegetal e contêm apenas um grama de<br />

proteína, enquanto que a Protein Bar apresenta 14 gramas de proteína por<br />

barra - o que equivale a duas xícaras de chá de leite - além de um blend de<br />

vitaminas e minerais, que a classificam como um alimento nutricionalmente<br />

bem mais completo do que as barras de cereais”, explica.<br />

A chegada do produto ao mercado<br />

demandou seis anos de pesquisas na área<br />

de nutrição. Apesar de ser totalmente<br />

produzida no país, a Protein Bar conta<br />

com a avançada tecnologia da Clinical<br />

Nutrition, empresa com sede na Espanha,<br />

líder de mercado na Europa, com quem a<br />

Advanced Nutrition mantém parceria há<br />

nove anos. O lançamento da nova barra<br />

vem incrementar a linha NutriSport.<br />

31


32<br />

As recomendações nutricionais são importantes<br />

instrumentos para a elaboração e avaliação de dietas<br />

adequadas. Baseadas em várias evidências científicas<br />

como estudos de consumo populacional, observações<br />

epidemiológicas, avaliações bioquímicas de restrição<br />

e saturação de nutrientes, têm sido amplamente<br />

estudadas ao longo dos anos.<br />

Não existem recomendações nutricionais<br />

desenvolvidas em nível nacional e, tradicionalmente<br />

se tem adotado as RDAs (Recommended Dietary<br />

Allowances), utilizadas para a população americana.<br />

Estabelecidas desde 1941 e revisadas<br />

periodicamente, a última e décima edição completa<br />

foi publicada em 1989. Entre 1993 e 1994, a Food and<br />

Nutrition Board do Institute of Medicine da National<br />

Academy of Science iniciaram reuniões e formaram<br />

comitês de especialistas para o desenvolvimento e a<br />

organização de novas recomendações. A partir de<br />

1997, publicações foram realizadas e surgiram as DRIs<br />

(Dietary Reference Intake), introduzindo-se novos e<br />

importantes conceitos de recomendações nutricionais.<br />

A mais significativa diferença entre as RDAs/<br />

89 e as DRIs foi a disponibilização de até quatro valores<br />

de referência de ingestão dietética para um mesmo nutriente,<br />

no qual inclui-se a RDA, diversificando e ampliando<br />

a utilização das recomendações para indivíduos e<br />

grupos populacionais. As referências são as seguintes:<br />

RDA (Recommended Dietary Allowance):<br />

Mantém-se o conceito anteriormente utilizado<br />

Recomendações<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

DRIs: Novas propostas<br />

para recomendações nutricionais<br />

Rita de Cássia de Aquino*<br />

*Nutricionista clínica, mestre em Saúde Pública<br />

de “nível de ingestão dietética diária que é suficiente<br />

para atender às necessidades de praticamente toda a<br />

população saudável (97 a 98%)”, estabelecidas<br />

principalmente a partir de medianas de curvas de<br />

distribuição normal de estudos populacionais de<br />

avaliação de consumo, acrescidas de dois desviospadrão.<br />

Os valores de RDA continuam garantindo o<br />

atendimento às necessidades de indivíduos, evitandose<br />

carências nutricionais.<br />

EAR (Estimated Average Requirement)<br />

É o valor de ingestão dietética diária de um<br />

nutriente que estima-se atender às necessidades de<br />

50% da população, obtido também principalmente a<br />

partir de medianas de curvas de distribuição normal,<br />

mas não acrescidas de dois desvios-padrão. Os valores<br />

de EAR serão úteis para avaliar e/ou planejar o<br />

consumo de grupos populacionais.<br />

AI (Adequate Intake)<br />

É o valor de ingestão dietética diária de um<br />

nutriente cujos estudos atuais não permitiram o<br />

estabelecimento de RDA e EAR, mas a observação<br />

de consumo e/ou experiências possibilitaram<br />

recomendá-lo. Também é usado para estabelecer<br />

quantidades de nutrientes que parecem reduzir o risco<br />

de doenças crônicas não transmissíveis.<br />

UL (Tolerable Upper Intake Level)<br />

É o nível máximo de ingestão diária de um


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

nutriente que é tolerável biologicamente, não trazendo<br />

riscos de efeitos adversos à saúde para praticamente<br />

todos os indivíduos da população. Deve-se considerar<br />

para a avaliação de UL a ingestão de alimentos fontes,<br />

além de alimentos fortificados, suplementos e água.<br />

É importante destacar que o estabelecimento de UL<br />

veio atender às preocupações recentes quanto ao uso<br />

indiscriminado e inadequado de suplementos<br />

nutricionais e seu valor não deve ser utilizado com<br />

referência e/ou recomendação.<br />

Além dos quatro valores de referência de<br />

ingestão dietética, as DRIs apresentaram outras<br />

importantes mudanças. Praticamente todos os<br />

nutrientes tiveram suas quantidades revistas,<br />

diminuídas ou aumentadas, e alguns foram incluídos<br />

como cobre, manganês, cromo, molibdênio, flúor,<br />

ácido pantotênico e biotina, além da colina. Também<br />

foram estudados minerais como vanádio, silício, boro<br />

e arsênio e não foi necessário estabelecer a ingestão<br />

diária desses elementos.<br />

Uma importante proposta atual das DRIs é o<br />

estudo e a recomendação de substâncias naturalmente<br />

presentes nos alimentos (fitoquímicos), cuja ingestão<br />

possa ter um papel significativo na prevenção de<br />

doenças crônicas não transmissíveis.<br />

O agrupamento de idades em faixa etária<br />

também mudou nas DRIs, agora denominadas<br />

“estágios de vida”. A divisão entre meninos e meninas<br />

foi antecipada para 9 anos de idade; o grupo de adultos<br />

foi redistribuído para 19 a 30 e 31 a 50 anos; os idosos<br />

foram divididos em dois grupos: 51 a 70 e 71 e mais.<br />

Uma significativa divisão foi a realizada entre as<br />

gestantes e lactantes (< 19 anos, 19 a 30 e 31 a 50<br />

anos), até então não divididas por idade.<br />

As DRIs não terão um ano “fixo” de publicação<br />

e, a medida que novos estudos forem sendo realizados,<br />

novas DRIs serão divulgadas. As próximas<br />

publicações que deverão ocorrer serão: sódio, potássio,<br />

cloro, proteínas lipídios, carboidratos e energia.<br />

É importante lembrar que as DRIs foram<br />

estabelecidas para a população dos EUA e Canadá e<br />

para sua utilização na população brasileira deve-se<br />

considerar prováveis diferenças e, conseqüentemente,<br />

alguns erros associados.<br />

A partir de agora, nutricionistas ampliarão as<br />

possibilidades de utilização das recomendações<br />

nutricionais. Dependendo do objetivo a ser alcançado<br />

junto ao indivíduo ou grupo, o uso de RDA, EAR,<br />

AI e UL vão permitir uma avaliação e/ou<br />

planejamento mais completo e detalhado da dieta,<br />

possibilitando uma intervenção e aconselhamento<br />

nutricional mais perto da realidade.<br />

O acompanhamento de novas publicações das<br />

DRIs pode ser feito pela internet, no site oficial da<br />

National Academy of Sciences: www.nas.edu<br />

Atenção: Não confundir DRI e IDR<br />

As DRIs não deverão ser traduzidas, assim coma<br />

as RDAs nunca foram. IDR (Ingestão Diária<br />

Recomendada) NÃO é uma recomendação<br />

nutricional. Foi estabelecida pela Portaria 33 em 1998<br />

pelo Minis-tério da Saúde exclusivamente com<br />

finalidades de rotu-lagem. Está baseada em valores<br />

da FAO/OMS e da RDA/89 e, apesar das publicações<br />

recentes das DRIs, deverá ser utilizada para<br />

informações nutricionais nas embalagens, segundo as<br />

Resoluções 39 e 40 (2001).<br />

Bibliografia consultada<br />

Amancio OMS. Novos conceitos das recomendações de<br />

nutrientes. Cadernos de Nutrição 1999;18:55-58.<br />

Dwyer J. Old wine in new bottles? The RDA and the DRI<br />

. Nutrition 2000;16(7/8):488-92.<br />

Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for Calcium,<br />

Phosphorus, Magnesium, Vitamin D and Fluoride..<br />

Food and Nutrition Board. Washington, DC: National<br />

Academy Press; 1997.<br />

Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for<br />

Thiamin, Riboflavin, Niacin, Vitamin B6, Vitamin B12,<br />

Pantothenic Acid, Biotin and Choline. Food and<br />

Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />

Press; 2001.<br />

Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for Vitamin<br />

A, Vitamin K, Arsenic, Boron, Chromium, Iodine, Iron,<br />

Molybdenum, Nickel, Vanadium and Zinc. Food and<br />

Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />

Press; 2001.<br />

Institute of Medicine. Dietary Reference Intake for Vitamin<br />

C, Vitamin E, Selenium and Carotenoids. Food and<br />

Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />

Press; 2001.<br />

Institute of Medicine. Dietary Reference Intake:<br />

Applications in Dietary Assessment. Food and<br />

Nutrition Board. Washington, DC: National Academy<br />

Press; 2001.<br />

Monsen ER. New Dietary Reference Intakes proposed to<br />

replace the Recommended Dietary Allowances. J Am<br />

Diet Assoc 1996;96(8):754-5.<br />

National Research Council. Recommended Dietary<br />

Allowances. 10 th edition. Washington, DC: National<br />

Academy Press; 1989.<br />

Russel MR. New Micronutrient Dietary Reference Intakes<br />

from the National Academy of Sciences. Nutrition<br />

Today 2001;38(3):163-70.<br />

Russel RM. New views on RDAs for older adults. J Am<br />

Diet Assoc 1997;97(5):515-18.<br />

33


34<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Teor de vitamina C em suco de cultivares<br />

de laranja (citrus sinensis) e em diferentes<br />

sucos industrializados<br />

Vitamin C in juices of different orange (citrus sinensis)<br />

cultivars and in industrialized orange juices<br />

Vera Lúcia Valente-Mesquita * , Maria Lúcia Mendes Lopes ** , Glauce dos Santos Sabino *** , Patrícia Teixeira da<br />

Silva *** , Bianca Costa Alves ****<br />

* Doutora em Química Biológica pelo Departamento de Bioquímica Médica/UFRJ, Prof a . Adjunta II do Departamento de Nutrição Básica e<br />

Experimental do Instituto deNutrição/ UFRJ, **Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela UFRRJ, Prof a . Assistente II do<br />

Departamento de Nutrição Básica e Experimental do Instituto de Nutrição/UFRJ, ***Aluna do Curso de Graduação em Nutrição/UFRJ,<br />

Bolsista FAPERJ, ****Aluna do Curso de Graduação em Nutrição/UFRJ, Bolsista CNPq<br />

Resumo<br />

Este trabalho avaliou o teor de vitamina C (ácido ascórbico – AA) no suco das cultivares de laranjas ‘Lima’, ‘Lima da<br />

Pérsia’, ‘Seleta’ e ‘Pêra’, em sucos industrializados de sete diferentes marcas e a variação de seu teor no suco de laranjas ‘Pêra’<br />

íntegras armazenadas a 4 o C por até sete semanas. As amostras foram adquiridas na cidade do Rio de Janeiro. O teor de AA<br />

foi estatisticamente diferente entre as cultivares: ‘Lima’ 61,08mg%, ‘Seleta’ 47,7mg%, ‘Lima da Pérsia’ 45,37mg% e ‘Pêra’<br />

38,64mg%. Foi encontrada variação de até 53% no teor de AA entre as sete marcas de suco de laranja industrializado (28,05<br />

a 53,16 mg%). O teor desta vitamina em suco de laranjas armazenadas sob refrigeração variou entre 38,37 e 27,72 mg% com<br />

taxa de redução de 0,2%/dia. Os resultados ressaltam a importância da obtenção de dados, hoje escassos ou inexistentes na<br />

literatura, sobre a composição de alimentos disponíveis no mercado brasileiro.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Ácido ascórbico, suco de laranja fresco, suco de laranja industrializado, cultivares de laranja.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

Vitamin C (ascorbic acid – AA) was evaluated in juice of orange cultivars ‘Lima’, ‘Lima da Pérsia’, ‘Seleta’ e ‘Pêra’, in seven types<br />

of commercially packaged orange juice and its variation in juice of intact orange ‘Pêra’ stored during seven weeks at 4 o C. Samples were<br />

acquired in Rio de Janeiro city. The AA content was statistically different among cultivars: ‘Lima’ 61,08mg%, ‘Seleta’ 47,7mg%, ‘Lima<br />

da Pérsia’ 45,37mg% and ‘Pêra’ 38,64mg%. Among the industrialized samples, AA content varied from 28,05 to 53,16 mg% (53%). In<br />

juice of oranges stored under refrigeration, the quantity of this vitamin varied from 38,37 to 27,72 mg%, with a loss rate of approximately<br />

0,2%/day. The results show the importance of research related to food composition with foods available in Brazil.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Ascorbic acid, fresh orange juice, industrialized orange juice, orange cultivars.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

u Título abreviado: Vitamina C - diferentes sucos de laranja<br />

Artigo recebido em 1 de março de 2002; aprovado em 10 de março de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Vera Lúcia Valente - Mesquita, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências<br />

da Saúde, Bloco J, 2 o andar, sala 16, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro RJ. Tel: (21) 2562 6602, E-mail: vvalente@nbe.ufrj.br


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Introdução<br />

Os frutos cítricos pertencem ao gênero Citrus<br />

da família Rutaceae. Devido à grande ocorrência de<br />

hibridização e freqüência de mutações espontâneas,<br />

novas cultivares surgiram, como as laranjas ‘Seleta’,<br />

‘Lima da Pérsia’, ‘Lima’ e ‘Pêra’ [1].<br />

A indústria de sucos de frutas é uma das maiores<br />

em todo mundo, sendo o suco de laranja seu produto<br />

de maior destaque. No Brasil, a partir dos anos 90, o<br />

mercado de suco de laranja começou a apresentar<br />

mudanças como o surgimento de novas formas de<br />

comercialização do produto, a tendência à auto-suficiência<br />

e competitividade com os norte-americanos, a<br />

implantação de um programa de estabilidade econômica<br />

no país e os hábitos modernos, que têm levado ao<br />

consumo de produtos naturais, fizeram crescer o<br />

consumo deste produto no mercado nacional [2].<br />

A fácil adaptação aos diferentes tipos de clima e<br />

solo permite a produção de laranja praticamente<br />

durante o ano todo. A grande difusão no consumo<br />

de suco de laranja veio também pela evolução dos<br />

meios de transportes, crescimento das indústrias de<br />

suco e devido à grande aceitabilidade do mesmo<br />

associada às reconhecidas propriedades que a laranja<br />

apresenta, entre as quais a de ser uma das principais<br />

fontes de vitamina C [3].<br />

O efeito protetor da vitamina C é atribuído às<br />

suas propriedades antioxidantes, prevenindo doenças<br />

crônico-degenerativas [4]. Além disto, esta vitamina<br />

aumenta a absorção do ferro pelo organismo, é<br />

essencial para a formação e manutenção do colágeno,<br />

participa da ação leucocitária e atua na conversão do<br />

ácido fólico para seu análogo biologicamente ativo, o<br />

ácido tetraidrofólico [5].<br />

Cabe ressaltar que a vitamina C não é sintetizada<br />

pelo organismo. Por isto, seu consumo na alimentação<br />

diária é indispensável a fim de garantir a manutenção<br />

de suas funções biológicas [6,7].<br />

A vitamina C existe na natureza sob duas formas<br />

ativas (ácido ascórbico - AA e ácido desidroascórbico -<br />

ADA) e uma inativa (ácido dicetogulônico - ADG).<br />

Uma de suas principais características é a instabilidade,<br />

ou seja, as formas ativas podem converter-se à forma<br />

inativa. Ela é suscetível à degradação pelo calor,<br />

oxidação, dessecação, fracionamento, aplicação de frio,<br />

alcalinidade do meio e solubilidade em água [5,6].<br />

A variação no teor de vitamina C em frutas e<br />

hortaliças está relacionada com a espécie, variedade,<br />

condições climáticas, grau de maturidade, condições<br />

de cultivo, manuseio e colheita, armazenamento póscolheita<br />

e transporte.<br />

Técnicas de processamento e armazenamento<br />

podem tornar o alimento mais saudável, seguro,<br />

atraente ao paladar e menos perecível. Entretanto, os<br />

procedimentos utilizados podem afetar<br />

significativamente os teores de vitamina C dos<br />

alimentos [8]. O suco de laranja é um produto<br />

complexo cuja vida de prateleira é influenciada por<br />

diversos fatores que provocam perdas nutricionais,<br />

entre os quais se destacam as reações oxidativas, que<br />

dependem das condições de processo utilizadas, da<br />

presença do oxigênio, da embalagem utilizada, da<br />

relação tempo/temperatura de estocagem, além da<br />

influência da luz [2]. Sadler et al., 1992 [9], avaliando a<br />

estabilidade do AA em sucos de laranja<br />

industrializados submetidos a diferentes tratamentos<br />

térmicos, observaram que não houve alteração<br />

significativa no teor deste nutriente durante a primeira<br />

semana de estocagem a 4 o C, havendo, entretanto,<br />

redução após este período. Goyle & Ojha, 1998 [10]<br />

observaram uma perda de 5 a 8% no teor de vitamina<br />

C de suco de laranja estocado sob refrigeração e à<br />

temperatura ambiente após quatro semanas.<br />

É importante conhecer o teor de vitamina C em<br />

diferentes cultivares de laranja e em sucos industrializados<br />

disponíveis no mercado nacional, bem como<br />

a extensão da perda deste nutriente durante o preparo<br />

dos alimentos pois, desta forma, a ingestão dietética<br />

de vitamina C pode ser estimada e os cardápios<br />

planejados de forma a compensar as perdas esperadas.<br />

Dados sobre a composição de alimentos são<br />

essenciais para diferentes atividades: avaliar o<br />

suprimento e o consumo alimentar de uma população,<br />

verificar a adequação nutricional da dieta de indivíduos<br />

e de populações, avaliar o estado nutricional,<br />

desenvolver pesquisas sobre as relações entre dieta e<br />

doença, na indústria de alimentos, entre outras [11].<br />

Este trabalho teve como objetivo avaliar o<br />

teor de AA em suco de diferentes cultivares de laranja<br />

e em sucos industrializados comercializados na cidade<br />

do Rio de Janeiro, bem como acompanhar a variação<br />

do teor desta vitamina no suco durante o<br />

armazenamento de laranjas íntegras sob refrigeração.<br />

Materiais e métodos<br />

Avaliação do teor de AA em diferentes<br />

cultivares de laranja<br />

Foram adquiridos lotes de laranjas das cultivares<br />

‘Lima’, ‘Lima da Pérsia’, ‘Seleta’ e ‘Pêra’ em diferentes<br />

mercados da cidade do Rio de Janeiro, no mês de<br />

junho de 2001. As amostras foram transportadas para<br />

o Laboratório de Análise e Processamento de<br />

Alimentos (LAPAL) do Instituto de Nutrição da<br />

UFRJ, lavadas em água fria e corrente e o suco de<br />

35


36<br />

cada lote foi extraído numa centrífuga comercial<br />

(Comil) e coado. O teor de AA foi determinado por<br />

titulação com 2,6 diclorofenol indofenol [12] em seis<br />

repetições. Os resultados obtidos foram submetidos<br />

à análise de variância e as médias comparadas pelo<br />

teste de Tukey (p < 0,05). Os resultados obtidos foram<br />

comparados com tabelas de composição química de<br />

alimentos [13,14] e com os valores de referência de<br />

ingestão diária (RDI) de vitamina C [15].<br />

Variação no teor de AA em suco de laranjas<br />

íntegras armazenadas sob refrigeração por até<br />

sete semanas.<br />

Foram adquiridos lotes de laranjas da cultivar<br />

‘Pêra’ em diferentes mercados da cidade do Rio de<br />

Janeiro, no mês de outubro de 2001. As amostras<br />

foram transportadas para o LAPAL, lavadas em água<br />

fria e corrente, e separadas em oito lotes, dos quais<br />

um teve imediatamente o suco extraído numa<br />

centrífuga comercial (Comil), coado e analisado em<br />

três repetições, quanto ao teor de AA [12]. Os demais<br />

foram armazenados sob refrigeração (4 o C) para serem,<br />

posteriormente, submetidos à determinação semanal<br />

por até sete semanas, do teor de AA. Os resultados<br />

foram submetidos à análise de variância e de regressão.<br />

Determinação de AA em diferentes marcas de<br />

sucos industrializados.<br />

As amostras de sete diferentes marcas de sucos<br />

industrializados prontos para o consumo, identificadas<br />

pelas letras A a G, foram adquiridas em diferentes<br />

estabelecimentos do mercado varejista da cidade do<br />

Rio de Janeiro no mês de fevereiro de 2002,<br />

transportadas para o LAPAL e acondicionadas sob<br />

refrigeração até o momento das análises. O teor de<br />

AA foi determinado [12] em sete repetições, os<br />

resultados obtidos foram submetidos à análise de<br />

variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey<br />

(p < 0,05). Foi realizada, ainda, comparação entre os<br />

resultados destas análises e as informações nutricionais<br />

descritas nas embalagens dos produtos.<br />

Resultados e discussão<br />

A laranja é considerada pelos consumidores<br />

como uma das melhores fontes de vitamina C da dieta.<br />

Existe uma escassez de informação sobre os teores<br />

de AA em cultivares nacionais, bem como sobre a<br />

retenção desta vitamina durante a estocagem.<br />

Avaliação do teor de AA em diferentes<br />

cultivares de laranja.<br />

A Tabela I apresenta o teor de AA para as<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

diferentes cultivares de laranja e a Figura 1, a<br />

comparação destes resultados com os valores médios<br />

encontrados em tabelas de composição química de<br />

alimentos [13,14].<br />

Tabela I - Teor médio de AA em suco fresco de<br />

diferentes cultivares de laranja<br />

Cultivares Teor médio de AA(mg%)*<br />

Lima 61,08 a<br />

Seleta 47,70 b<br />

Lima da Pérsia 45,37 c<br />

Pêra 38,64 d<br />

CV% = 2,93<br />

*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si<br />

pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.<br />

Os teores de AA dos sucos das diferentes<br />

cultivares de laranja foram estatisticamente diferentes<br />

entre si, tendo o suco da laranja ‘Lima’ apresentado a<br />

maior concentração de AA (61,08mg%), seguido das<br />

laranjas ‘Seleta’ (47,7mg%), ‘Lima da Pérsia’<br />

(45,37mg%) e ‘Pêra’ (38,64mg%). Tais diferenças<br />

podem estar relacionadas a fatores inerentes às<br />

características de cada cultivar ou à influência de<br />

fatores climáticos e/ou condições de cultivo [16].<br />

Fig. 1 - Comparação entre o teor médio de AA<br />

em suco de diferentes cultivares de laranja e a<br />

média dos valores descritos em tabelas de<br />

composição química de alimentos<br />

Comparando os valores obtidos nas análises com<br />

aqueles descritos em algumas tabelas de composição<br />

química de alimentos (Fig. 2), verifica-se que o teor<br />

de AA obtido para a laranja ‘Lima’ foi 10,5% maior,<br />

enquanto para as laranjas ‘Seleta’ e ‘Pêra’ foram 11,8%<br />

e 3,6% menores, respectivamente. Não foram<br />

encontrados dados disponíveis quanto ao teor de AA<br />

para a laranja ‘Lima da Pérsia’.<br />

Nos últimos anos, pouco se fez no Brasil, para<br />

conhecer melhor nossos alimentos, do ponto de vista<br />

nutricional. Os resultados desta pesquisa ressaltam a


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

importância de obtenção de dados sobre a composição<br />

de alimentos, condizentes com as diferenças regionais<br />

do Brasil, visto que a maioria das tabelas disponíveis<br />

é fruto de compilações de dados internacionais, além<br />

de não contemplarem todas as cultivares disponíveis<br />

no mercado nacional.<br />

Com o objetivo de verificar o volume de suco de<br />

laranja de cada cultivar necessário para suprir os valores<br />

de referência de ingestão diária (RDI) de vitamina C<br />

por faixa etária, sexo e estado fisiológico, foi elaborada,<br />

de acordo com os resultados obtidos neste estudo, a<br />

Tabela II. De acordo com esta, verifica-se que o volume<br />

de suco de laranja fresco, como única fonte alimentar,<br />

para atingir a RDI, varia de acordo com a cultivar. Para<br />

homens adultos (19 a >70 anos), por exemplo, tal<br />

volume varia de 123 a 233 ml entre as cultivares ‘Lima’<br />

e ‘Pêra’, uma diferença de 57,7%.<br />

O volume de suco de laranja ‘Lima’ necessário<br />

para atender ao requerimento nutricional de crianças<br />

na faixa de 7 a 12 meses é de 82 ml. Este volume é<br />

compatível com a capacidade gástrica desta faixa etária,<br />

além de ser esta a cultivar mais adequada devido ao<br />

baixo teor de acidez e sabor mais adocicado. Para o<br />

grupo etário de 4 a 8 anos, em que a necessidade de<br />

vitamina C é de 25 mg/dia, um pequeno volume (41<br />

a 65 ml – 4 a 6 colheres de sopa) de suco é suficiente<br />

para atender tal recomendação. Este fato assume<br />

grande importância considerando que é nesta faixa<br />

de idade que as crianças começam a ingerir outras<br />

bebidas de grande apelo comercial e baixo valor<br />

nutricional e ricas em calorias vazias. A necessidade<br />

de ingestão de vitamina C é mais elevada na fase de<br />

aleitamento (RDI = 115 a 120 mg/dia), que pode ser<br />

suprida pela ingestão diária de apenas um copo de<br />

suco de laranja ‘Lima’. Esta cultivar é indicada nesta<br />

fase, também pelo fato de apresentar menor teor de<br />

acidez, quando comparada às demais, evitando<br />

transtornos gastrointestinais ao lactente, bem como<br />

prevenindo a constipação intestinal, freqüentemente<br />

agravada nesta fase fisiológica.<br />

Embora a laranja ‘Pêra’, tenha apresentado o<br />

menor teor de vitamina C entre as cultivares estudadas,<br />

é a mais utilizada por grande parte da população<br />

brasileira na preparação de sucos, por ser abundante<br />

durante todas as estações do ano e a de menor custo.<br />

O conhecimento do teor de vitamina C das diferentes<br />

cultivares de laranja, seja por leigos, que não têm<br />

acesso a literatura, seja por profissionais da área da<br />

saúde, considerando a escassez ou inexistência destes<br />

dados na literatura especializada, pode levar a<br />

mudanças no consumo de suco de laranja com vistas<br />

a obtenção de uma melhor relação custo/benefício.<br />

Variação no teor de AA em suco de laranjas<br />

íntegras armazenadas sob refrigeração por até<br />

sete semanas<br />

A Figura 2 apresenta a variação do teor de AA<br />

em suco de laranjas, cultivar ‘Pêra’, íntegras<br />

armazenadas sob refrigeração (4 o C) durante 49 dias e<br />

a curva obtida pela análise de regressão.<br />

O teor de AA em suco fresco de laranjas íntegras<br />

armazenadas sob refrigeração durante 49 dias variou<br />

entre 38,37 mg% e 27,72 mg% (retenção de<br />

aproximadamente 72%), diminuindo com o tempo<br />

de armazenamento. De acordo com estes resultados,<br />

Tabela II - Volume de suco de diferentes cultivares de laranja, necessário para atingir a RDI<br />

Faixa etária/ RDI Volume de suco necessário para atingir a DRI (ml)<br />

sexo/estado mg/dia Lima Seleta Lima Pêra<br />

fisiológico da Pérsia<br />

0-6 meses 40 65 84 88 104<br />

7-12 meses 50 82 105 110 129<br />

1-3 anos 15 25 32 33 39<br />

4-8 anos 25 41 52 55 65<br />

Mulheres<br />

9-13 anos 45 74 94 99 117<br />

14-18 anos 75 123 157 165 194<br />

19->70 anos 90 147 189 198 233<br />

Homens<br />

9-13 anos 45 74 94 99 117<br />

14-18 anos 65 106 136 143 168<br />

19->70 anos 75 123 157 165 194<br />

Gestantes<br />

≤ 18 anos 80 131 168 176 207<br />

19-50 anos 85 139 178 187 220<br />

Lactantes<br />

≤ 18 anos 115 188 241 254 298<br />

19-50 anos 120 197 252 265 311<br />

37


38<br />

Fig. 2 - Variação do teor de AA no suco de<br />

laranjas íntegras armazenadas sob<br />

refrigeração por 49 dias<br />

Y = 37,08 – 0,1952X (R 2 = 0,73**)<br />

obteve-se o modelo Y = 37,08 – 0,1952X (R 2 = 0,73),<br />

que indica uma taxa de redução de aproximadamente<br />

0,2%/dia do teor de AA. Shaw & Moshonas, 1991<br />

[17] avaliaram a retenção de AA em suco de laranja<br />

industrializado armazenado sob refrigeração e<br />

verificaram perda de 1,5 a 2%/dia e retenção média<br />

de 88% após 5 a 7 dias. Os resultados do presente<br />

estudo apontam para uma retenção média de 97%<br />

neste mesmo período. A maior taxa de redução obtida<br />

pelos autores pode ser atribuída, entre outros fatores,<br />

ao fato de os mesmos terem trabalhado com amostras<br />

de suco industrializado e à temperatura de 4,5 o C. Por<br />

outro lado, embora no presente estudo as laranjas<br />

tenham sido mantidas íntegras, sob refrigeração, até<br />

o momento da extração do suco, visando evitar<br />

contato com atmosfera e assim evitar perdas por<br />

oxidação, os resultados indicam maior perda quando<br />

comparados com aqueles obtidos por Goyle & Ojha,<br />

1998 [10], que observaram retenção de 95% no teor<br />

de AA em suco de laranja, previamente extraído, após<br />

4 semanas sob refrigeração.<br />

O efeito da temperatura de estocagem sobre o<br />

teor de AA é demonstrado em estudo realizado por<br />

Lee & Coates, 1999 [18], que observaram uma perda<br />

de 0,34%/mês deste nutriente em amostras de suco<br />

de laranja natural congelado, e por Pedrão et al., 1999<br />

[19] que não observaram redução significativa no teor<br />

de AA em suco de limão armazenado sob<br />

congelamento por 60 dias. De acordo com Corrêa<br />

Neto & Faria, 1999 [2], a temperatura de estocagem é<br />

considerada o fator mais importante na estabilidade<br />

e qualidade dos sucos cítricos.<br />

Cabe ressaltar que, embora os meios de<br />

comunicação de massa e a crença popular sugiram<br />

que o suco de laranja deva ser ingerido logo após ser<br />

extraído, sob pena de perda significativa de seu<br />

conteúdo de AA, os resultados deste estudo<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

demonstram o contrário, principalmente ser for<br />

considerado que, em condições domésticas, o suco<br />

de laranja geralmente não permanece na geladeira por<br />

mais de dois dias.<br />

Determinação de AA em diferentes marcas de<br />

sucos industrializados<br />

A Tabela III apresenta o teor de AA para as<br />

diferentes marcas de suco de laranja industrializado e a<br />

Figura 3, a comparação entre estes resultados e os valores<br />

expressos nas embalagens dos respectivos produtos.<br />

Tabela III - Teor de AA em diferentes marcas de<br />

suco de laranja industrializado<br />

Sucos Industrializados Teor de AA (mg%)*<br />

C 53,16 a<br />

E 45,82 b<br />

G 37,04 c<br />

A 32,88 d<br />

B 30,23 e<br />

D 29,86 e<br />

F 28,05 f<br />

CV% = 0,918<br />

*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si<br />

pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.<br />

Os resultados demonstram grande variação (até<br />

53%) no teor de AA entre as sete marcas de suco de<br />

laranja analisadas (28,05 a 53,16 mg%). Somente entre<br />

duas amostras (B e D), não houve diferença<br />

significativa. Cabe ressaltar a importância desta<br />

variação no valor nutritivo do produto, com vistas ao<br />

atendimento às recomendações nutricionais, uma vez<br />

que todas as amostras são comercializadas como suco<br />

pronto para o consumo.<br />

A Fig. 3 apresenta o teor de AA analisado e o<br />

expresso nas embalagens de diferentes marcas de<br />

sucos industrializados.<br />

Fig. 3 - Comparação dos teores de AA<br />

analisados e mencionados nos rótulos de<br />

sucos de laranja industrializados


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Das sete marcas analisadas, duas (C e F) não<br />

apresentaram o teor de AA na embalagem. As marcas<br />

A, B e G mencionaram teores, respectivamente, 15,6,<br />

15,7 e 8% superiores àqueles obtidos nas análises. Não<br />

houve diferença entre o teor de AA analisado e o<br />

mencionado na embalagem do suco da marca D. O<br />

teor de AA mencionado na embalagem do suco da<br />

marca E foi 30,2% inferior ao obtido neste estudo.<br />

Corrêa Neto & Faria, 1999 [2] relataram que<br />

sucos industrializados armazenados em temperaturas<br />

mais baixas (4 o C) apresentaram menor perda de AA<br />

em relação aos que foram armazenados à 15 o C e 25 o C.<br />

Segundo este mesmo autor, a permeabilidade da<br />

embalagem ao oxigênio pode aumentar a perda do<br />

AA no decorrer do prazo de validade.<br />

Reações de natureza oxidativa podem ocorrer<br />

com o AA alterando sensivelmente as características<br />

nutricionais do produto. Estas reações dependem das<br />

condições de processamento utilizadas, da presença<br />

de O 2 , da embalagem utilizada, da relação tempo/<br />

temperatura de estocagem, além da influência da luz<br />

[2]. Assim sendo, as diferenças observadas neste<br />

experimento podem ser decorrentes da interação entre<br />

dois ou mais destes fatores.<br />

Conclusões<br />

O teor de vitamina C diferiu significativamente<br />

entre as diferentes cultivares de laranja estudados,<br />

influenciando na quantidade de suco necessária para<br />

atender as recomendações nutricionais desta vitamina.<br />

O suco extraído de laranjas armazenadas sob<br />

refrigeração durante 49 dias apresentou retenção de<br />

aproximadamente 72% de AA e taxa de redução de<br />

aproximadamente 0,2%/dia. Dados sobre a cinética<br />

de perda de AA em laranjas íntegras não estão<br />

descritos na literatura. Foi observada grande variação<br />

(até 53%) no teor de AA entre as sete marcas<br />

analisadas de suco de laranja industrializado.<br />

Este trabalho contribui com dados para<br />

elaboração de uma tabela nacional de composição<br />

química de alimentos, verificação da adequação<br />

nutricional da dieta de indivíduos e populações,<br />

planejamento dietético para indivíduos e coletividades<br />

sadias e enfermas, desenvolvimento de pesquisas<br />

sobre as relações entre dieta e doença, discussão sobre<br />

a relação custo/benefício dos diferentes processos<br />

tecnológicos de obtenção do suco de laranja, entre<br />

outros.<br />

Agradecimentos<br />

Apoio financeiro: FAPERJ, CNPq, FUJB<br />

Apoio técnico: Maria Teresa Cavalcanti Simões<br />

Apoio estatístico: Prof. Dr. Higino Marcos Lopes<br />

Referências<br />

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Rocco;1993. p.237.<br />

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14. IBGE. Tabela de Composição de Alimentos. 2 a ed.,<br />

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Ferreira SH. Estabilidade físico-química e sensorial do<br />

suco de limão Tahiti natural e adoçado, congelado.<br />

Ciência e Tecnologia de Alimentos 1999;19(2):282-286.<br />

39


40<br />

REVISÃO<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Amido resistente: propriedades funcionais<br />

Resistent starch: functional properties<br />

Maria Cristina Jesus Freitas<br />

Doutora em Ciência da Nutrição pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Professora Adjunto do Departamento<br />

de Nutrição Básica e Experimental, Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro<br />

Resumo<br />

Todo amido ingerido não é sempre digerido e absorvido no intestino delgado. Uma parte do amido de certos alimentos<br />

resiste à digestão enzimática no intestino delgado e ao atingir o intestino grosso é hidrolisado parcialmente pela microflora.<br />

Nesta circunstância será denominado amido resistente (AR). O AR é encontrado em alimentos cozidos, resfriados e processados,<br />

mas ocorre também in natura em batata crua e banana verde e outras fontes naturais. O fruto verde é rico em AR nativo. A<br />

presença de AR na alimentação apresenta efeitos benéficos no metabolismo intestinal, lipídico, glicídico, principalmente no<br />

transporte glicêmico e na microbiota colônica.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Amido resistente, metabolismo intestinal, lipídios, glicídios e microbiota.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

Not all ingested starch is digested and absorbed by the small intestine. Part of the starch from some kinds of food<br />

resists enzymatic digestion, and reaches the large intestine where it is partially hydrolysed by the microflora. This kind of<br />

starch is known as resistant starch (RS). Resistant starch is found in cooked, colded and processed foods, although it is<br />

naturally found in raw potatoes and green bananas and other natural sources. There are some evidence of its positive effect<br />

in the large intestine as well as on lipidic and glycidic metabolism and the microbiotic contents of the colon .<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key words: Resistant starch, intestinal metabolism, lipids, glucose and microbiotic.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 15 de fevereiro de 2002, aprovado em 1 de março de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio de Instituto de Nutrição Josué de Castro - DNBE-CCS.<br />

Av Brigadeiro Trompowsky s/n. Cidade Universitária 21940-590 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)25626602/22808343, E-mail:<br />

cristina@nbe.ufrj.br.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Introdução<br />

O amido é a principal fonte energética dos<br />

humanos. Distinguem-se três principais tipos de<br />

amido ingerido: o amido rapidamente digerido, o<br />

amido lentamente digerido e o amido resistente [1].<br />

Cerca de 10% do amido ingerido escapam à digestão<br />

da α-amilase pancreática no intestino delgado e<br />

chegam ao intestino grosso onde são fermentados<br />

pela microflora alterando o ambiente luminal e<br />

favorecendo o metabolismo dos colonócitos [2-8].<br />

A ingestão de diferentes tipos de AR fornece<br />

respostas nutricionais diferenciadas. Nos últimos anos,<br />

vários trabalhos [9-11] vem ressaltando a participação<br />

do AR na resposta clínica em decorrência da fermentação<br />

colônica demonstrando alteração do metabolismo<br />

lipídico e microbiota intestinal modificada.<br />

Alguns trabalhos verificaram a relação de dietas<br />

ricas em AR com características relevantes da massa<br />

fecal [12-21] e fundamentalmente com o metabolismo<br />

glicídico [22-24]. Finalmente em humanos, os estudos<br />

utilizando dietas com AR de bananas indicaram<br />

respostas semelhantes às encontradas nos estudos<br />

com animais [14].<br />

O amido resistente (AR) é encontrado em<br />

alimentos cozidos, resfriados e processados, mas<br />

ocorre também in natura em batata crua e banana verde<br />

e outras fontes naturais .<br />

Amido<br />

As principais fontes de amido são representadas<br />

pelos grãos de cereais (40-90% do peso seco), pelas<br />

leguminosas (30-70% do peso seco) e pelos tubérculos<br />

(65-85% do peso seco). Fornecem 40-80% da energia<br />

ingerida para a maioria dos povos do mundo.<br />

O amido é composto por cadeias de amilose e<br />

amilopectina. A primeira é um polímero linear de<br />

glicose com ligações glicosídicas do tipo a-1,4 e<br />

compreende 20-30% do amido; a segunda é um<br />

polímero ramificado constituído de ligações<br />

glicosídicas do tipo a-1,4 com cadeias de glicose ligadas<br />

em a-1,6 conferindo uma estrutura esférica, normalmente,<br />

representa 70-80% do grânulo de amido. A<br />

fração não glicídica (proteína, lipídeos e fósforo)<br />

representa 0,5 a 2% da composição química total.<br />

A composição e as propriedades do amido<br />

variam quanto à origem botânica e são alteradas por<br />

modificações químicas ou físicas quando submetido,<br />

por exemplo, a processamentos térmicos e estocagem.<br />

A organização do grânulo de amido depende do modo<br />

pelo qual estão as moléculas de amilose e amilopectina<br />

associadas. Quando as ligações são numerosas e<br />

regulares as cadeias se associam formando zonas<br />

cristalinas, mas se as ligações são pouco numerosas e<br />

irregulares, as cadeias se associam formando as zonas<br />

amorfas. Zobel [25], relatou que 15 a 45% do grânulo<br />

de amido nativo apresenta cristalinidade, sendo assim,<br />

a cristalinidade não é o principal modelo de organização<br />

dos polímeros no grânulo de amido.<br />

Entre as zonas totalmente cristalinas e as zonas<br />

amorfas existem estruturas com densidades variáveis<br />

e progressivas que se evidenciam por apresentarem<br />

níveis distintos de resistência, a saber: uma camada<br />

amorfa seria rapidamente hidrolisada; uma camada<br />

semi-cristalina teria hidrólise mais lenta e finalmente<br />

ocorreriam camadas cristalinas resistentes a hidrólise<br />

ácida e enzimática. Em geral estas estruturas<br />

representam cerca de 40, 30 e 20% do grânulo de<br />

amido, respectivamente [26].<br />

Por muito tempo foi descrito que a organização<br />

estrutural do grânulo de amido era fibrilar. A partir<br />

do final da década de sessenta foi proposto um modelo<br />

de organização em “clusters” das cadeias de<br />

amilopectina [27].<br />

Estudos de Gallant et al. [27], Faisant et al. [5] e<br />

Gallant et al. [28] sobre a organização do grânulo de<br />

amido de vários tamanhos e tipos (feijão e milho)<br />

descrevem que o amido é constituído por regiões<br />

cristalinas alternadas de camadas semicristalinas e que<br />

as regiões cristalinas de amilopectina compõem<br />

“superclusters” ou super hélices, altamente ordenadas,<br />

formando blocos de vários tamanhos com canais<br />

radiais. Essas estruturas estão conectadas por ligações<br />

glicosídicas (a-1, 4-D-glicose), presentes nos canais e<br />

zonas amorfas as quais seriam as regiões mais<br />

suscetíveis à ação hidrolítica de ácidos e enzimas.<br />

A cristalinidade é analisada classicamente pelos<br />

seus padrões de difração de raio-X e tem revelado<br />

em geral que grânulos de amido de tubérculos são<br />

mais cristalinos que de cereais. Assim regiões<br />

altamente ordenadas conferem ao grânulo padrão de<br />

difração de raio-X caracterizado como A, B ou C<br />

dependendo da origem botânica. Os amidos de<br />

cereais, com difração de raios-X padrão do tipo A,<br />

são termodinamicamente mais estáveis e talvez mais<br />

compactos que os do tipo B; amidos de batata crua,<br />

banana verde, amidos retrogradados e grãos ricos em<br />

amilose têm padrão de cristalinidade do tipo B e são<br />

também resistentes à α-amilase pancreática; amidos<br />

de leguminosas e sementes apresentam padrão tipo C<br />

[27], e com freqüência são resistentes à ação enzimática.<br />

No grânulo de amido a região amorfa é menos<br />

densa, absorve água mais rapidamente e é mais<br />

suscetível às modificações químicas e enzimáticas [29].<br />

É necessário lembrar que as modificações que<br />

41


42<br />

ocorrem durante o processamento de produtos<br />

amiláceos afetam a sensibilidade à ação enzimática<br />

tanto in vivo quanto in vitro, fato este que está na origem<br />

do conceito de amido resistente.<br />

No processamento industrial ou doméstico de<br />

alimentos ocorre a gelatinização que consiste em<br />

processo endotérmico de fusão dos cristalitos de<br />

amido [29]. No tratamento térmico o grânulo de<br />

amido sofre hidratação, intumescimento e ruptura da<br />

estrutura granular e consequentemente solubilização<br />

das moléculas. O progressivo resfriamento de uma<br />

suspensão de amido é caracterizado pelo gel viscoelástico<br />

formado pela rede tridimensional de moléculas<br />

associadas fisicamente por pontes de hidrogênio. Os<br />

géis de amido retrogradam, isto é, passam por<br />

transformação estrutural durante a estocagem,<br />

ocorrendo agregação de cadeias, recristalização,<br />

aumento de rigidez e separação de fase entre polímero<br />

e solvente. A retrogradação do amido é influenciada<br />

por diversos fatores e, além da digestibilidade, afeta<br />

também a textura e aceitação dos produtos.<br />

Considerando-se que a gelatinização do amido<br />

facilita a ação enzimática e que a quantidade de enzima<br />

pancreática (α-amilase pancreática) é mais do que<br />

suficiente para a digestão do amido dietético, poderse-ia<br />

esperar que todo amido ingerido fosse totalmente<br />

hidrolizado no duodeno e jejuno, mas não é o que<br />

ocorre. A digestibilidade do amido varia de amido<br />

rapidamente digerido para amido lentamente digerido<br />

e finalmente para o amido resistente à digestão como<br />

demonstrado na Tabela I [30].<br />

Amido resistente<br />

O termo Amido Resistente (AR) foi<br />

originalmente usado para designar a fração do amido<br />

que resiste à degradação pela ação da amilase<br />

pancreática in vitro. Após dispersão e ebulição em água,<br />

seguido de solubilização com hidróxido de potássio<br />

ou dimetilsulfato, esta porção pode ser hidrolizada<br />

pela amiloglicosidase.<br />

Tabela I – Classificação nutricional do amido in vitro<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

EURESTA (European Flair-Concerted Action on<br />

Resistante Starch) em 1992 [31], descreveram que o<br />

amido resistente consiste de três frações (in vivo)<br />

distintas, as quais dependem principalmente do<br />

alimento e do tipo de amido: uma fração seria<br />

composta por oligossacarídeos (incluíndo glicose);<br />

outra fração teria a-glucanas lineares de alto peso<br />

molecular (principalmente nos grânulos de amido) e<br />

a terceira fração teria cadeias longas provavelmente<br />

partes do grânulo de amido [32].<br />

Czuchajwska et al. [33] e Gallant et al. [28] relatam<br />

que o amido resistente é composto por diversas e<br />

variadas formas, sendo estas resultantes de forças de<br />

ligações intermoleculares variáveis. Possuem regiões<br />

cristalinas formando blocos e regiões amorfas de<br />

domínios menos ordenadas interpostas e interelacionadas<br />

com aquelas citadas regiões cristalinas. Por<br />

outro lado, o conceito fisiológico de amido resistente<br />

foi estendido de modo a incluir todo amido ou<br />

produto da degradação de amido não absorvido no<br />

intestino delgado de indivíduos saudáveis.<br />

Englyst e Cummings [14] classificaram o amido<br />

resistente (AR) de acordo com a resistência à digestão:<br />

amido inacessível fisicamente é o amido encapsulado<br />

pela parede celular de alguns vegetais foi identificado<br />

como AR tipo I (AR 1 ) ocorrendo em grãos<br />

parcialmente triturados, (sementes e leguminosas);<br />

amido resistente nativo (menos freqüente, não é<br />

formado hidrotermicamente) e foi identificado como<br />

AR do tipo 2 (AR 2 ), presente em batata crua e bananas<br />

verdes; amido retrogradado, produzido durante ciclos<br />

de cozimento/ resfriamento e estocagem corresponde<br />

ao amido que após ter sido gelatinizado e resfriado,<br />

passa por um processo de recristalização ou seja de<br />

retrogradação. Este processo é irreversível e o amido<br />

é identificado como AR tipo 3 (AR 3 ).<br />

Os produtos amiláceos podem conter um ou<br />

mais tipos de AR, podendo os tipos 1, 2 e 3<br />

coexistirem no mesmo alimento; a quantidade<br />

dependerá de muitos fatores iniciando-se pela origem<br />

botânica e alterando-se pelo processamento e<br />

armazenamento do alimento, por exemplo.<br />

Tipo de amido Exemplo de ocorrência Provável digestão no<br />

intestino delgado<br />

Amido Rapidamente Digerível (ARD) Alimentos amiláceos recentemente cozidos Rápida<br />

Amido Lentamente Digerível (ALD)<br />

Amido resistente(AR)<br />

Principalmente cereais crus Lenta mas completa<br />

Tipo I Amido fisicamente inacessível Grãos e sementes parcialmente moídos Resistente<br />

Tipo II Grânulos amido resistente Batata crua e banana verde Resistente<br />

Tipo III Amido retrogradado Batata cozida e resfriadaPão e flocos de milho Resistente<br />

Fonte: Englyst et al., European Journal of Clinical Nutrition 46:(2), p. 533-50, 1992. [ 1]


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

A presença de AR tem sido detectada em<br />

diversos alimentos comercializados. A análise do teor<br />

de AR, contido nos alimenos brasileiros tem sido<br />

realizada na USP com a finalidade de gerar o Banco<br />

de Dados Brasileiro de AR [34], que contém o teor<br />

de AR de aproximadamente 128 alimentos<br />

consumidos pela população brasileira. Alguns destes<br />

dados e são expostos na Tabela II. Em todos os<br />

alimentos as quantidades são muito variáveis e<br />

influenciadas por diversos fatores: temperatura e<br />

umidade, auto clavagens/resfriamento, presença de<br />

lipídeos, tama-nho da cadeia de amilose e<br />

amilopectina, temperatura/tempo de armazenamento,<br />

teor de açúcar, dentre outros [33, 35-38]. Até o<br />

momento dois produtos foram descritos como sendo<br />

naturalmente ricos em AR, o amido de batata crua e<br />

o de bananas verdes.<br />

Tabela II - Conteúdo de amido resistente em<br />

alimentos brasileiros<br />

ALIMENTOS AR%<br />

Arroz polido , cozido 0,66<br />

Aveia em flocos 1,41<br />

Macarrão Cozido 0,42<br />

Milho Cozido 1,05<br />

Fubá de milho cozido 1,26<br />

Mandioca frita 1,31<br />

Pão francês 1,34<br />

Batata cozida 0,48<br />

Ervilha cozida 1,55<br />

Feijão preto cozido<br />

Fonte: [34]<br />

1,54<br />

Amido Resistente x Propriedades<br />

Funcionais<br />

A ingestão do amido resistente no Brasil na<br />

década de 90 não passou de 3,4 g/dia [34]. Tem sido<br />

recomendado em vários países da Europa um<br />

consumo médio de 4 g/dia/pessoa. De maneira geral<br />

os estudos mostram que 4 a 10% do amido presente<br />

na dieta pode ser resistente à digestão enzimática. Essa<br />

porção significativa de carboidratos ingeridos que<br />

escapam à digestão e à absorção no intestino delgado<br />

passa ao cólon e cerca de 90% desses carboidratos<br />

não absorvidos são fermentados por bactérias,<br />

influenciando a composição dos metabólitos na luz<br />

intestinal, sobretudo dos ácidos graxos de cadeia curta<br />

que estão relacionados com redução do risco de câncer<br />

de cólon. Alguns benefícios potenciais do AR são<br />

descritos a seguir:<br />

Efeito no trato intestinal<br />

Numerosas investigações têm demonstrado o<br />

efeito fisiológico do amido resistente principalmente<br />

pelo grupo de trabalho da EURESTA [31]. Em 1994<br />

este grupo concluiu que o consumo de amido<br />

resistente em quantidades fisiológicas influenciava a<br />

absorção de esterol levando à redução da excreção de<br />

ácidos biliares enquanto que nenhum efeito foi<br />

demonstrado na absorção de vitaminas e minerais.<br />

Quanto à absorção de glicose, o amido resistente por<br />

si só não influenciaria nesse processo, mas em alguns<br />

casos, devido à reduzida suscetibilidade enzimática, a<br />

disponibilidade da glicose foi lenta e gradativa como<br />

descrita na literatura [1 e 39].<br />

Gee et al., [40] utilizaram várias fontes de AR:<br />

amido de milho com alto teor de amilose (Hylon VII),<br />

Hylon VII retrogradado, Hylon VII modificado<br />

(gelatinizado e resfriado em nitrogênio líquido) e<br />

extrusado de Hylon VII, produzidos pela EURESTA<br />

[31], objetivando investigar o efeito fisiológico na<br />

função e estrutura do intestino de ratos alimentados<br />

com dietas acrescidas de 20% desses amidos por três<br />

semanas. O impacto do AR no trato gastrintestinal<br />

foi avaliado segundo parâmetros: mudanças na massa,<br />

dimensão e composição do conteúdo do intestino e<br />

atividade fermentativa. Os autores obtiveram<br />

aumentos similares de excreção fecal em todos os<br />

animais alimentados com AR. Uma das maiores<br />

mudanças foi o aumento da atividade fermentativa<br />

no cécum dos animais submetidos à dieta com AR<br />

com expressivo aumento de butirato e alterações das<br />

dimensões das criptas da mucosa intestinal.<br />

Os mesmos autores relataram que a composição<br />

química hepática dos ratos alimentados com AR não<br />

sofreu alterações, porém o nível de certas enzimas,<br />

principalmente as associadas à lipogênese (glicose-6fosfato<br />

desidrogenase) estavam elevadas. Quanto à<br />

secreção do glucagon, este estava reduzido nos animais<br />

submetidos ao extrusado Hylon VII e amido<br />

modificado Hylon VII, respectivamente. Os autores<br />

concluíram que os efeitos fisiológicos em ratos das<br />

dietas contendo AR estão sobretudo associados ao<br />

processo fermentativo no intestino grosso, o qual seria<br />

um modelador potencial da capacidade proliferativa<br />

dos enterócitos.<br />

Eerlingen e Delcour [41] ao caracterizarem o<br />

AR do conteúdo ileal de humanos revelaram que o<br />

AR consiste em três frações de a-glucanas: a primeira<br />

composta de oligossacarídeos (DP n < 5) ou seja,<br />

produtos da hidrólise do amido; a segunda é uma<br />

43


44<br />

fração cristalina (DP n = 15) composta de amido<br />

retrogradado e a terceira é a fração de a-glucanas de<br />

elevada massa molecular (Dp n > 100) que escapam à<br />

digestão por inacessibilidade ou insuficiência de tempo<br />

de contato com a enzima. Concluíram que tanto in vivo<br />

quanto in vitro o AR excretado é similar. Encontraram<br />

também que os animais submetidos às dietas com AR<br />

apresentaram bolo fecal e conteúdo cecal aumentado<br />

e pH reduzido. Seguindo esta linha, Cummings et al.,<br />

[42], estudaram em humanos a digestão de quatro<br />

fontes de AR: batata, banana, trigo e milho. Os autores<br />

observaram nos indivíduos que ingeriram AR, ocorreu<br />

aumento da massa e nitrogênio fecal, de energia<br />

excretada e ainda relatos de efeito laxativo.<br />

O amido resistente tende a aumentar a excreção<br />

fecal. Shetty e Kurpad [13] mostraram que a suplementação<br />

de 100 g/dia de amido de milho verde aumenta<br />

30% da massa fecal sem modificar o trânsito intestinal.<br />

Estudo com humanos que receberam<br />

diariamente uma dieta contendo 45 g de Hylon VII<br />

(amido de milho com alto teor de amilose) mostrou<br />

mudanças significativas na função colônica e na<br />

proliferação das criptas celulares, incluindo ainda o<br />

aumento da excreção fecal [43].<br />

Johansen et al. [44] demonstraram que a<br />

digestibilidade do AR de amido de milho nativo cru<br />

foi baixa, porém foi compensada pelo aumento da<br />

fermentação no cécum e no cólon de ratos. Vários<br />

autores Brunsgaard et al., [45]; Edwards et al., [4];<br />

Mathers et al., [46]; Muir et al., [5]; Cummings e<br />

MacFarlane et al., [7] concluíram que diferentes tipos<br />

de AR apresentam diferentes taxas de fermentação in<br />

vitro e in vivo e que os produtos da fermentação apresentam<br />

impactos sobre a integridade dos colonócitos.<br />

Freitas e Tavares em 2001 [47], estudaram o<br />

metabolismo intestinal do amido resistente de bananas<br />

(Musa AAA-Nanicão e Musa AAB-Terra) em ratos<br />

durante dez dias. Os resultados expressaram baixa<br />

digestibilidade e alta excreção de AR, sobretudo de<br />

Musa AAA-Nanicão resultou em maior quantidade<br />

de material fecal. As dietas contendo AR Musa AAB-<br />

Terra promoveram “pellets ” fecais de menor tamanho<br />

e em menor quantidade, possuíndo formas irregulares<br />

e friáveis. É pertinente enfatizar que a integridade<br />

histológica permaneceu inalterada, apesar da excessiva<br />

dilatação devido à alta fermentação e sobretudo cecal<br />

e colônica.<br />

Efeito no metabolismo lipídico e glicídico<br />

O amido resistente e outros carboidratos remanescentes<br />

da dieta fermentam no intestino grosso.<br />

Cummings et al., [42] relataram que as mudanças da<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

estrutura física dos distintos tipos de AR podem explicar<br />

os diversos graus de fermentação dos AR no colon.<br />

Cummings et al., [48] observaram aumento da<br />

excreção de ácidos graxos de cadeia curta, quando se<br />

ingere uma dieta rica em AR com produção elevada<br />

de acetato\propionato e sobretudo de butirato. Esses<br />

ácidos graxos voláteis (AGV) alteram o pH local e<br />

influenciam o metabolismo dos colonócitos.<br />

Englyst et al., [49] reforçam que a produção de<br />

ácidos graxos de cadeia curta pela microbiota do<br />

intestino grosso pode também implicar na redução<br />

do colesterol plasmático e na tolerância à glicose. Os<br />

autores relataram que o AR, quando acrescido à dieta,<br />

reduzia a concentração de colesterol sérico, como<br />

também aumentava a excreção biliar, tendo um efeito<br />

comparável ao de fibra solúvel da dieta. Investiga-se<br />

se o efeito do AR pode ser devido ao efeito da<br />

excreção fecal de esteróis neutros e ácidos biliares.<br />

Edwards et al., [4] demonstraram in vitro por<br />

inoculação do material fecal em substratos<br />

fermentáveis como lactulose e AR, a inibição da<br />

conversão de ácidos biliares primários em secundários<br />

e diminuição da concentração de ácido deoxicólico<br />

solúvel e substâncias que provocam litíase biliar.<br />

Van Munster et al., [23] observaram redução na<br />

fração de ácidos biliares secundários no material fecal<br />

de 93 para 82% e diminuição significativa da concentração<br />

de ácidos biliares citotóxicos na fração aquosa<br />

do material cecal de indivíduos submetidos à ingestão<br />

de 45 g de HylonVII (60% de AR) por 14 dias.<br />

Annison e Topping, [50] afirmaram que o<br />

butirato possui efeito sobre a renovação celular dos<br />

colonócitos. A deficiência dessa substância no<br />

intestino grosso tem sido associada ao<br />

desenvolvimento de processos carcinogênicos,<br />

enquanto que o propionato, parece inibir a síntese de<br />

ácidos graxos no fígado e reduzir a taxa de secreção<br />

do triacilglicerol.<br />

De Deckere et al., [51] investigaram o efeito<br />

hipocolesterolêmico do AR, explicando-o pelo<br />

aumento da excreção fecal de ácidos biliares primários<br />

e esteróis neutros. Seus trabalhos confirmaram que a<br />

ingesta aumentada de AR eleva o “pool” de ácidos<br />

biliares no fígado, contribuindo dessa forma para a<br />

redução da concentração do colesterol sérico.<br />

Younes et al., [18] estudaram o efeito do AR de<br />

batata no metabolismo de colesterol e ácidos biliares<br />

em ratos. Verificaram que o AR apresentou maior efeito<br />

na redução do colesterol e triacilgliceróis séricos.<br />

Khallou et al., [52] estudaram a incidência de<br />

colelitíase e o metabolismo do colesterol e ácidos<br />

biliares em hamister alimentados com dietas contendo<br />

AR (amido com alto teor de amilose autoclavada) em


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

proporções crescentes 12, 36, 48 e 72,5%. Verificaram<br />

diminuição significativa dos níveis de colesterol sérico<br />

e do índice litogênico nos animais submetidos às dietas<br />

contendo 36, 48 e 72,5% de AR.<br />

Levrat et al., [19] estudaram o efeito no<br />

metabolismo de colesterol e triacilgliceróis de ratos<br />

submetidos a dietas com goma guar à 8% e AR à<br />

20%. Ambos os polissacarídeos reduziram significativamente<br />

o colesterol e triacilgliceróis plasmáticos<br />

em 40 e 36%, respectivamente.<br />

Lere-Metzger et al., [53] investigaram as<br />

conseqüências metabólicas da ingestão crônica de duas<br />

fontes de amido (Phaseolus aureus e amido de trigo)<br />

por duas semanas em ratos normais. Concluíram que<br />

a ingesta do amido de feijão reduziu a concentração<br />

dos ácidos graxos livres, triacilglicerol e fosfolipídeos,<br />

enquanto que o amido de trigo não alterou as<br />

concentrações séricas estudadas.<br />

Freitas e Tavares [47] verificaram, em ratos, que o<br />

consumo de amido resistente de bananas verdes reduziram<br />

significativamente o colesterol sérico. Estes animais<br />

obtiveram melhor relação das frações LDL/HDL.<br />

Os mecanismos propostos para o efeito<br />

hipocolesterolêmico do AR e de outros<br />

polissacarídeos (fibra solúvel da dieta) saõ abordados<br />

na literatura como: modificação na absorção e metabolismo<br />

dos ácidos biliares; interferência na absorção<br />

e metabolsimo dos lípides; produção de ácidos graxos<br />

voláteis provenientes da fermentação no cólon e<br />

alterações na concentração e na sensibilidade à insulina<br />

e outros hormônios [17 e 51] .<br />

Outros trabalhos Fernandez et al., [55]; Khalou<br />

et al., [52]; Levrat et al., [19]; Smet et al., [54]; Vahoof e<br />

Schrijver [56] e Yamamoto et al., [57], e associados ao<br />

metabolismo do colesterol com amido não digerido<br />

sustentam os mecanismos propostos acima<br />

explicando que há possibilidade da estrutura helicoidal<br />

do AR apresentar sítios de ligação com esteróides,<br />

impossibilitando a hidrólise do AR. Por outro lado<br />

foi considerado que a proliferação das bactérias<br />

colônicas ou de suas enzimas envolvidas com a<br />

redução do colesterol estariam também relacionadas<br />

com a redução do pH, com a produção dos ácidos<br />

graxos voláteis e com a diminuição do potencial redox.<br />

Xue et al., [58] constataram que o teor de amilose<br />

e o teor de AR da cevada estão correlacionados com<br />

a resposta glicêmica. A resposta glicêmica diminuiu<br />

após submeter amostras de cevada à autoclavagem.<br />

Os autores atribuem tal fato à formação de AR.<br />

Truswell, [59] e Faisant et al., [5] não encontraram<br />

correlação da glicemia sangüínea de humanos com<br />

dietas ricas em AR, porém os dados de Englyst et al.,<br />

[49, 64] são contraditórios. Demonstraram que quan-<br />

do a taxa de digestão do amido é diminuída, a elevação<br />

glicêmica pós-prandial é reduzida ou retardada.<br />

Vários autores Jenkins et al., [60]; Lijeberg e<br />

Björck, [61]; Gõni et al., [62]; Akerberg et al., [63];<br />

Englyst et al., [64] verificaram que a ingesta de<br />

diferentes tipos de alimentos produziriam variadas<br />

respostas glicêmicas. As diferenças foram devido ao<br />

tipo de carboidratos ingeridos, ou seja, carboidratos<br />

de lenta digestão freqüentemente apresentam menores<br />

respostas glicêmicas e carboidratos de rápida digestão<br />

geralmente apresentam maiores respostas glicêmicas.<br />

Outros fatores importantes sobre a glicemia pósprandial<br />

é a forma do alimento, a quantidade de fibra<br />

da dieta, a quantidade de amilase, o tipo de<br />

processamento do alimento [60, 65-68].<br />

Menezes et al., [69], em ensaio com humanos,<br />

verificaram que o feijão proporcionou menores<br />

respostas glicêmicas do que o arroz, polenta e arroz<br />

com feijão, reforçando que o aproveitamento do<br />

amido do feijão é reduzido em relação aos amidos<br />

dos outros alimentos.<br />

Efeito na microbiota intestinal<br />

A fermentabilidade do amido depende da<br />

composição da flora colônica e da adaptação desta ao<br />

substrato. Vários estudos [2,30,70,71] têm indicado que<br />

o amido resistente é mais fermentável que as fibras<br />

solúveis da dieta. Uma das explicações é a facilidade<br />

desse substrato ser fermentado à luz intestinal, a outra<br />

é a capacidade da microflora que se adaptou aos demais<br />

substratos que estão regularmente no ambiente luminal.<br />

Cummings e MacFarlane [7] concluíram em<br />

estudos in vitro de inoculação de fezes humanas em<br />

substratos fermetáveis como lactose e AR, que o<br />

amido foi o melhor substrato dentre os polissacarídeos<br />

testados para produção de butirato.<br />

Alles et al., [72], relataram em pacientes com<br />

anastomose retal o efeito de duas fontes de<br />

carboidratos não digeridos: frutooligossacarídeo e<br />

amido resistente (batata crua e banana verde) sobre a<br />

fermentação bacteriana. O amido resistente aumentou<br />

a excreção de butirato. Efeito também encontrado<br />

em outros estudos [3,8,73].<br />

Silvi et al., [8] relataram que o consumo de amido<br />

resistente induziu mudanças na microflora intestinal<br />

principalmente quanto ao aumento de bactérias<br />

lácticas e na redução de enterobactérias bem como<br />

da atividade enzimática das bactérias (bglucuronidase),<br />

na redução da concentração de amônia<br />

e do pH luminal e aumento significativo da<br />

proliferação celular do cólon proximal.<br />

Freitas e Tavares [47], em seus estudos com AR<br />

45


46<br />

de bananas, demonstraram que o consumo do amido<br />

resistente promoveu intensa dilatação do apêndice<br />

cecal, favoreceu o crescimento bacteriano do cécum<br />

e modificou substâncialmente a flora intestinal de ratos<br />

Wistar jovens.<br />

Conclusão<br />

A definição de amido resistente é basicamente<br />

fisiológica. O conteúdo de amido resistente em alguns<br />

alimentos é subestimado. Muitas propriedades funcionais<br />

do amido resistente foram comprovadas, contudo<br />

diversas questões estão sob investigação, principalmente<br />

os possíveis mecanismos dos efeitos enterotróficos e<br />

sistêmico dos ácidos graxos voláteis (AGV) produzidos<br />

durante a fermentação no colonócito.<br />

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Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Estudo do comportamento alimentar de<br />

praticantes de atividade física em uma<br />

academia de ginástica<br />

Study of food habits of people engaged in exercising at a<br />

fitness center<br />

Aliny Stefanuto*, Moria Max*, Eliana Menegon Zaccarelli**, Márcia Daskal Hirschbruch***,<br />

Juliana Ribeiro Carvalho***<br />

*Nutricionista graduada pela Universidade Bandeirante de São Paulo, **Docente da Universidade Bandeirante de São Paulo,<br />

***Nutricionista Recomendo Assessoria em Nutrição e Qualidade de Vida<br />

Resumo<br />

O artigo discute o comportamento alimentar e o perfil nutricional de praticantes de atividade física em uma academia<br />

de ginástica. Foram calculados o Índice de Massa Corporal (IMC) através de peso e altura referidos pelos participantes e<br />

anamnese alimentar através de recordatório habitual. A amostra possuía 92 indivíduos, sendo que sua maioria entre 20 e 24<br />

anos de idade, masculina, eutrófica e busca conhecimentos sobre nutrição em revistas de nutrição e atividade física, além de<br />

obter orientação nutricional de seus treinadores ou personal trainers. Esta população apresentou baixa ingestão calórica apesar<br />

de consumir dieta hiperprotéica e hiperlipídica. O texto aponta para a deficiente alimentação apesar do relevante nível sócioeconômico<br />

e cultural destes praticantes de atividade física.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Nutrição, adequação nutricional, atividade física, comportamento alimentar.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

This paper discusses the nutritional status and food habits of people engaged in exercising at a fitness center in São<br />

Paulo. Body Mass Index (BMI) and food record were accessed from a sample of 92 individuals, most of them males,<br />

eutrophic, ranging from 20-24 years old. Their sources of nutrition information were fitness magazines and trainers. Despite<br />

their high social status, the group presented dietary deficiencies such as low caloric ingestion and a diet high in protein and fat.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Nutrition, nutritional adequacy, physical activity, nutritional behaviour.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

u Título abreviado: Comportamento alimentar em uma academia de ginástica<br />

Artigo recebido em 15 de fevereiro de 2002; aprovado em 1 de março de 2002<br />

Endereço para correspondência: Aliny Stefanuto, Av. Raimundo Pereira de Magalhães, 1652 bl. 3 apto 81, Pirituba,<br />

05145-000 São Paulo SP, Tel: (11) 3832-5109 Cel: (11) 9306-4004.<br />

49


50<br />

Introdução<br />

Uma alimentação adequada e balanceada é de<br />

fundamental importância para uma boa saúde e bem<br />

estar em todos estágios de vida [1].<br />

A formação dos hábitos alimentares é<br />

influenciada por uma série de fatores: fisiológicos,<br />

psicológicos, sócio-culturais e econômicos [2]. Em<br />

estudo realizado nos Estados Unidos [3], alguns dos<br />

maiores obstáculos encontrados na tentativa de uma<br />

nutrição adequada, equilibrada e saudável entre americanos<br />

foram: vontade de continuarem a comer o<br />

que gostam, estarem satisfeitos com sua maneira de<br />

controlar a dieta, dificuldade de compreender e colocar<br />

em prática as informações das embalagens, tempo e<br />

esforço despendido para monitorar a dieta, dúvidas<br />

do que é bom ou ruim, muito tempo fora de casa e<br />

informações nutricionais nem sempre disponíveis nas<br />

embalagens. Para a maioria das pessoas a escolha dos<br />

alimentos que deseja consumir depende ainda do seu<br />

sabor e custo e não da sua qualidade nutricional [4].<br />

A preocupação com a dieta, para praticantes de<br />

atividade física é ressaltada, visto que o corpo funciona<br />

como uma máquina em que o combustível, ou seja, a<br />

energia necessária para a prática do exercício, é fornecida<br />

pelos nutrientes consumidos diariamente [5].<br />

Grande parte dos praticantes de atividade física<br />

não consegue alcançar suas necessidades nutricionais<br />

ideais, tanto por carência de alguns componentes<br />

como por excesso de outros, o que, em ambas<br />

situações pode trazer prejuízos. Estas carências<br />

nutricionais podem levar a deficiências múltiplas, que<br />

pioram o desempenho físico aumentando o risco de<br />

ocorrerem disfunções orgânicas.<br />

Apesar da grande preocupação dos praticantes<br />

de atividade física em se alimentar bem, a falta de<br />

conhecimentos, hábitos alimentares inadequados,<br />

influência dos treinadores, cultura e informações pouco<br />

específicas veiculadas pela mídia, extremismo dietético,<br />

pouca habilidade prática na escolha e preparação de<br />

alimentos e acesso reduzido a alimentos por um estilo<br />

de vida atribulado são fatores que influenciam muito<br />

a conduta nutricional de cada um [6].<br />

A mania das dietas entre praticantes de atividade<br />

física, independentemente da idade, também é<br />

preocupante, pois na busca de uma ótima forma física e<br />

performance cada vez melhor, estes indivíduos não se<br />

preocupam com os altos riscos que estes modismos<br />

acarretam. A desinformação quanto à nutrição e a<br />

perpetuação dos modismos oportunistas e irresponsáveis<br />

estão em grande ascensão, as novidades são numerosas<br />

e estão em constante mutação. Muitas vezes uma dieta<br />

da moda se torna conhecida e utilizada antes mesmo da<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

sua comprovação científica, eficácia e segurança [7].<br />

Em teoria, as academias de ginástica deveriam<br />

ser um local de destaque para contribuir e melhorar a<br />

qualidade de vida das pessoas. Porém é grande a<br />

influência dos treinadores sobre os alunos, que não<br />

são preparados para fornecer orientação nutricional<br />

adequada. Admite-se que estes treinadores estejam<br />

preocupados com a saúde e qualidade de vida, porém<br />

podem desconhecer conceitos básicos sobre nutrição [8].<br />

Um estudo realizado com estudantes de educação<br />

física mostrou que estes consideram ter conhecimentos<br />

suficientes de nutrição e se acham aptos para dar<br />

aconselhamento sobre alimentação ou complementação<br />

de nutrientes, porém nesta pesquisa, ficou demonstrado<br />

que possuem conhecimentos insuficientes [9].<br />

Os praticantes de atividade física nas academias<br />

confiam plenamente tanto nas informações nutricionais<br />

que recebem de treinadores como em colegas e revistas<br />

especializadas em condicionamento físico. É menos<br />

provável confiarem nos nutricionistas, como fonte de<br />

orientação nutricional, quando comparados aos não<br />

praticantes de atividade física [10].<br />

Este estudo procura identificar o comportamento<br />

alimentar entre praticantes de atividade<br />

física em academia de ginástica e avaliar a influência<br />

dos treinadores sobre esta alimentação.<br />

Material e métodos<br />

Foram entrevistados 92 freqüentadores de uma<br />

academia de ginástica, situada na cidade de São Paulo,<br />

durante o mês de junho de 2001 por um período de<br />

quinze dias, realizados de forma individual, de participação<br />

voluntária e declaração assinada pelo aluno.<br />

A população estudada foi caracterizada segundo<br />

sexo, idade, estado nutricional, alimentação habitual,<br />

fontes de conhecimento e tipo de orientação nutricional.<br />

Para avaliação do estado nutricional utilizou-se o<br />

IMC que é definido através da relação peso/altura²,<br />

obtidos a partir dos dados referidos pelos participantes.<br />

Na classificação do IMC, segundo a Organização<br />

Mundial da Saúde - OMS [11], foram considerados: de<br />

baixo peso os indivíduos que possuíam um IMC entre<br />

17,0 e 18,49; eutrófico aqueles com IMC entre 18,5 e<br />

24,9; pré – obesidade aqueles com IMC entre 25,0 e<br />

29,9; obesidade I aqueles com IMC entre 30,0 e 34,9; e<br />

obesidade II aqueles com IMC entre 35,0 e 39,9.<br />

Para avaliação do hábito alimentar optou-se<br />

pela aplicação do Recordatório Habitual. O<br />

consumo total de calorias e macronutrientes foram<br />

calculados com base na Tabela para Avaliação de<br />

Consumo Alimentar em Medidas Caseiras<br />

publicada por Pinheiro et al. [12].


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

A análise dos dados obtidos foi realizada<br />

comparando-se a porcentagem de adequação do valor<br />

calórico total (VCT) consumido com o gasto energético<br />

total (GET) obtido através de FAO/OMS [13].<br />

Nos cálculos de adequação calórica, protéica,<br />

lipídica, de carboidratos, baseados no RDA [14], foram<br />

considerados satisfatórios os participantes que ficaram<br />

entre 90 e 110% da adequação e inadequados aqueles<br />

que ficaram abaixo de 90% e acima de 110%.<br />

Resultados<br />

A caracterização dos participantes está<br />

representada na Tabela I e Figuras de 1 a 5.<br />

Tabela I – Distribuição do número e<br />

porcentagem dos participantes segundo idade<br />

e sexo. São Paulo, 2001.<br />

Faixa Etária masculino feminino Total<br />

n % n % n%<br />

15 a 19 26 43,4 10 31,3 36 39,1<br />

20 a 24 28 46,6 20 62,5 48 52,2<br />

25 ou mais 6 10,0 2 6,2 8 8,7<br />

Total 60 100,0 32 100,0 92 100,0<br />

Nota-se que a maioria da população (65,2%) é do sexo<br />

masculino com idade entre 20 e 24 anos (52,2%),<br />

sendo que as idades variaram entre 25 e 52 anos.<br />

Na amostra estudada, 84,8% são eutróficos e 10,8%<br />

são pré-obesos.<br />

Figura 1 - Distribuição dos participantes por<br />

categorias de estado nutricional - São Paulo,<br />

2001.<br />

Figura 2 - Distribuição das principais fontes de<br />

informação sobre nutrição* utilizadas pelos<br />

participantes - São Paulo, 2001<br />

* Alguns participantes indicaram usar mais de uma<br />

alternativa como fonte de informação.<br />

Nota-se que a maioria dos participantes busca as<br />

informações nutricionais em revistas sobre nutrição e<br />

atividade física (37%), seguida de revistas sobre<br />

conhecimentos gerais (31,5%) e TV (31,5%).<br />

Figura 3 - Distribuição das fontes de<br />

orientação nutricional recebidas pelos<br />

participantes - São Paulo, 2001.<br />

A grande maioria dos participantes (55,4%) obtém<br />

orientação nutricional através dos treinadores e personal<br />

trainers.<br />

51


52<br />

Figura 4 - Porcentagem de adequação calórica,<br />

protéica, de carboidratos e de lipídios dos<br />

participantes do sexo masculino - São Paulo, 2001.<br />

Nota-se que 55% da população masculina ingere menos<br />

que 90% da adequação calórica; 70% ingere mais que<br />

110% da adequação protéica; 60% ingere carboidratos<br />

de forma adequada e 40% ingere mais que 110% da<br />

adequação de lipídios.<br />

Figura 5 - Porcentagem de adequação calórica,<br />

protéica, de carboidratos e de lipídios dos<br />

participantes do sexo feminino - São Paulo, 2001<br />

Nota-se que 59,4% da população feminina consome<br />

menos que 90% da adequação calórica; 65,6%<br />

consomem mais que 110% da adequação protéica;<br />

43,7% consome menos que 90% da adequação de<br />

carboidratos e 43,7% consome carboidratos de forma<br />

adequada; 43,7% consome mais que 110% da<br />

adequação de lipídios.<br />

Tabela II – Relação entre a porcentagem de<br />

adequação de proteínas com a fonte de<br />

orientação nutricional recebida. São Paulo,<br />

2001.<br />

Porcentagem de Treinadores Nutricionistas / Total<br />

Adequação Proteínas Endocrinologistas<br />

n n n<br />

> adequação 29 13 42<br />

adequados 7 7 14<br />

Total 36 20 56<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

De acordo com cálculos do odds ratio a associação<br />

entre a adequação de proteínas e a fonte de orientação<br />

nutricional recebida foi de 2,23.<br />

Discussão<br />

A maioria da população estudada (65,2%) é do<br />

sexo masculino e possui entre 20 e 24 anos de idade.<br />

São poucos com mais de 25 anos (8,7%), o que é uma<br />

característica própria das academias em geral, que<br />

atraem uma grande maioria do público mais jovem e<br />

preocupado não só com a saúde, mas também com a<br />

aparência física, mostrando um posto de vista<br />

comportamental do ser humano que pode estar mais<br />

motivado à prática de exercícios quando jovem,<br />

impulsionado pelo fator estético.<br />

A classificação dos participantes segundo o IMC<br />

mostrou que estes se caracterizam, em sua grande<br />

maioria, de pessoas eutróficas. Devido ao fator social<br />

e estético, as academias atraem pessoas mais em forma<br />

do que as obesas que se sentem envergonhadas e<br />

desmotivadas a freqüentarem estes lugares.<br />

Outro fator de importância e relevância é que<br />

10,8% das pessoas estudadas foram classificadas como<br />

pré-obesas, porém é preciso ressaltar que este<br />

resultado pode ser devido ao grupo possuir massa<br />

muscular aumentada, o que não significa<br />

necessariamente excesso de gordura.<br />

Em termos de ingestão calórica, verificou-se um<br />

baixo índice de adequação (55%) entre a população<br />

masculina e (59,4%) entre a população feminina.<br />

Levando-se em consideração que esta população<br />

pertence à classe média e alta, o custo da alimentação<br />

não pode ser considerado como relevante na baixa<br />

ingestão de calorias, portanto outros fatores pesam para<br />

que esta inadequação ocorra: controle de peso,<br />

dificuldades no preparo de refeições adequadas, facilidade<br />

em consumir produtos industrializados, influência de<br />

terceiros (amigos e treinadores), a aparência física ser<br />

mais importante do que a saúde, além de outros.<br />

As fontes de conhecimento em nutrição mais<br />

utilizadas pelos participantes foram as revistas sobre<br />

nutrição e atividade física, representando 37% da<br />

população, seguidas de revistas de conhecimentos gerais<br />

e televisão. As revistas mostraram ser a fonte de<br />

informação preferida pelos participantes, provavelmente<br />

por serem de fácil acesso e compreensão, possuírem<br />

linguagem simples, visual chamativo e estarem sempre<br />

cheias de novidades sobre este as-unto. No entanto, as<br />

informações veiculadas por estas revistas são discutíveis,<br />

pois algumas vezes trazem informações sensacionalistas,<br />

só para atrair o leitor, que podem não estar embasadas<br />

em pesquisas científicas.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Quanto às fontes de orientação nutricional,<br />

55,4% da população estudada é orientada por<br />

treinadores ou personal trainers, o que é preocupante<br />

uma vez que estes não estão habilitados formalmente<br />

a fornecer este tipo de informação. O valor de odds<br />

ratio [2] mostra a influência que a fonte de orientação<br />

nutricional exerce sobre o comportamento alimentar<br />

dos indivíduos estudados, ou seja, aqueles que estavam<br />

consumindo uma quantidade de proteínas maior que<br />

a adequação eram orientados nutricionalmente por<br />

treinadores. Estes fatos decorrem desde a época das<br />

primeiras Olimpíadas (776 a.C.), em que os pedótribas<br />

(treinadores ou técnicos particulares) aconselhavam<br />

os atletas sobre qual alimento consumir, como<br />

exemplo Pitágoras, pedótriba-filósofo, que<br />

recomendava dietas com grandes quantidades de<br />

carnes para os atletas [15].<br />

Conclusão<br />

O grupo estudado, apesar de praticar atividade<br />

física, estar motivado a cuidar do corpo, ter acesso a<br />

informações sobre nutrição, não se alimenta<br />

adequadamente.<br />

A excessiva preocupação em ter um corpo<br />

perfeito, perder gordura e aumentar a massa muscular<br />

agrava ainda mais o comportamento alimentar do<br />

indivíduo, podendo ser esta a razão do baixo consumo<br />

calórico e alto consumo de proteínas.<br />

Pelos motivos acima descritos estes praticantes<br />

de atividade física são bastante vulneráveis a qualquer<br />

tipo de informação com relação a dietas ou a<br />

necessidade de complementações nutricionais,<br />

permitindo que o treinador ou professor da academia<br />

os oriente, em vez de receberem orientações de<br />

profissionais habilitados tais como nutricionistas,<br />

médicos e endocrinologistas.<br />

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53


54<br />

A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />

periodicidade bimestral e está aberta para a publicação<br />

e divulgação de artigos científicos das áreas<br />

relacionadas à Nutrição.<br />

Os artigos publicados em Nutrição Brasil<br />

poderão também ser publicados na versão eletrônica<br />

da revista (Internet) assim como em outros meios<br />

eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no<br />

futuro, sendo que pela publicação na revista os autores<br />

já aceitem estas condições.<br />

A revista Nutrição Brasil assume o “estilo<br />

Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts<br />

submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;<br />

336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê<br />

Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com<br />

as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o<br />

texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes<br />

no site do International Committee of Medical Journal<br />

Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada<br />

de outubro de 2001.<br />

Os autores que desejarem colaborar em alguma<br />

das seções da revista podem enviar sua contribuição<br />

(em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação,<br />

sendo que fica entendido que isto não implica na<br />

aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />

O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir<br />

trocas ou retorno de acordo com a circunstância,<br />

realizar modificações nos textos recebidos; neste<br />

último caso não se alterará o conteúdo científico,<br />

limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />

1. Editorial<br />

Trabalhos escritos por sugestão do Comitê<br />

Científico, ou por um de seus membros.<br />

Extensão: Não devem ultrapassar três páginas<br />

formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte<br />

English Times (Times Roman) com todas as<br />

formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />

sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais<br />

que dez referências.<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Normas de publicação Nutrição Brasil<br />

2. Artigos originais<br />

Serão considerados para publicação, aqueles não<br />

publicados anteriormente, tampouco remetidos a<br />

outras publicações, que versem sobre investigação,<br />

clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro<br />

das áreas definidas anteriormente.<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />

12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />

Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />

texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no<br />

formato Excel/Word.<br />

Figuras: Considerar no máximo 8 figuras,<br />

digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />

editados em Power-Point, Excel, etc.<br />

Bibliografia: É aconselhável no máximo 50<br />

referências bibliográficas.<br />

Os critérios que valorizarão a aceitação dos<br />

trabalhos serão o de rigor metodológico científico,<br />

novidade, originalidade, concisão da exposição, assim<br />

como a qualidade literária do texto.<br />

3. Revisão<br />

Serão os trabalhos que versem sobre alguma das<br />

áreas relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê<br />

Científico, bem como remetida espontaneamente pelo<br />

autor, cujo interesse e atualidade interessem a<br />

publicação na revista.<br />

Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o<br />

mesmo dos artigos originais.<br />

4. Comunicação breve<br />

Esta seção permitirá a publicação de artigos<br />

curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores<br />

apresentem observações, resultados iniciais de estudos<br />

em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos<br />

já editados na revista, com condições de argumentação<br />

mais extensa que na seção de cartas do leitor.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />

três páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />

Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />

texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em<br />

Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou<br />

que possam ser editados em Power Point, Excel, etc<br />

Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15<br />

referências bibliográficas.<br />

5. Resumos<br />

Nesta seção serão publicados resumos de<br />

trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras<br />

revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive<br />

traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />

6. Correspondência<br />

Esta seção publicará correspondência recebida,<br />

sem que necessariamente haja relação com artigos<br />

publicados, porém relacionados à linha editorial da<br />

revista.<br />

Caso estejam relacionados a artigos<br />

anteriormente publicados, será enviada ao autor do<br />

artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.<br />

Texto: Com no máximo duas páginas A4, com<br />

as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem<br />

tabelas ou figuras.<br />

Preparação do original<br />

1. Normas gerais<br />

1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados<br />

em processador de texto (Word, Wordperfect, etc),<br />

em página de formato A4, formatado da seguinte<br />

maneira: fonte Times Roman (English Times)<br />

tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais<br />

como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />

1.2 Numere as tabelas em romano, com as<br />

legendas para cada tabela junto à mesma.<br />

1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de<br />

acordo com as especificações anteriores.<br />

As imagens devem estar em tons de cinza, jamais<br />

coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica –<br />

300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados<br />

e nos formatos .tif ou .gif.<br />

1.4 As seções dos artigos originais são estas:<br />

resumo, introdução, material e métodos, resultados,<br />

discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser<br />

o responsável pela tradução do resumo para o inglês<br />

e também das palavras-chave (key-words). O envio<br />

deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,<br />

zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos<br />

enviados por correio em mídia magnética (disquetes,<br />

etc) anexar uma cópia impressa e identificar com<br />

etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo,<br />

data e autor, incluir informação dos arquivos, tais<br />

como o processador de texto utilizado e outros<br />

programas e sistemas.<br />

2. Página de apresentação<br />

A primeira página do artigo apresentará as<br />

seguintes informações:<br />

• Título em português e inglês.<br />

• Nome completo dos autores, com a<br />

qualificação curricular e títulos acadêmicos.<br />

• Local de trabalho dos autores.<br />

•Autor que se responsabiliza pela correspondência,<br />

com o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />

• Título abreviado do artigo, com não mais de<br />

40 toques, para paginação.<br />

• As fontes de contribuição ao artigo, tais como<br />

equipe, aparelhos, etc.<br />

3. Autoria<br />

Todas as pessoas consignadas como autores<br />

devem ter participado do trabalho o suficiente para<br />

assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />

O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />

contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />

desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados;<br />

b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma<br />

parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a<br />

aprovação definitiva da versão que será publicada.<br />

Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />

a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção<br />

de recursos ou na coleta de dados não justifica a<br />

participação como autor. A supervisão geral do grupo<br />

de pesquisa também não é suficiente.<br />

4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />

Key-words)<br />

Na segunda página deverá conter um resumo<br />

(com no máximo 150 palavras para resumos não<br />

estruturados e 200 palavras para os estruturados),<br />

seguido da versão em inglês.<br />

55


56<br />

O conteúdo do resumo deve conter as seguintes<br />

informações:<br />

• Objetivos do estudo.<br />

• Procedimentos básicos empregados<br />

(amostragem, metodologia, análise).<br />

• Descobertas principais do estudo (dados<br />

concretos e estatísticos).<br />

• Conclusão do estudo, destacando os aspectos<br />

de maior novidade.<br />

Em seguida os autores deverão indicar quatro<br />

palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a<br />

indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os<br />

termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias<br />

médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />

Medicus ou, no caso de termos recentes que não<br />

figurem no MeSH, os termos atuais).<br />

5. Agradecimentos<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />

auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />

governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />

devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />

referências, em uma secção especial.<br />

6. Referências<br />

As referências bibliográficas devem seguir o<br />

estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes.<br />

As referências bibliográficas devem ser numeradas por<br />

numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em<br />

ordem na qual aparecem no texto, seguindo as<br />

seguintes normas:<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,<br />

letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo,<br />

ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo),<br />

ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local<br />

da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano<br />

da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />

Exemplo:<br />

1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In:<br />

Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology,<br />

diagnosis and management. 2 nd ed. New-York: Raven<br />

press; 1995. p.465-78.<br />

Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)<br />

autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos<br />

nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título<br />

da revista ano de publicação seguido de ponto e<br />

vírgula, número do volume seguido de dois pontos,<br />

páginas inicial e final, pon<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />

auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />

governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />

devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />

referências, em uma secção especial.<br />

Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Atlantica Editora<br />

Rua Conde Lages, 27 - Glória<br />

20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />

Tel: (21) 2221 4164<br />

E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br


Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />

EDITORIAL 59<br />

A nutrição através do tempo, Celeste Elvira Viggiano<br />

RESUMOS DE TRABALHOS 60<br />

ARTIGOS ORIGINAIS 63<br />

Prevalência de pica em gestantes atendidas em instituições públicas e privadas,<br />

Rita Maria Monteiro Goulart, Caroline d’A. Magalhães, Milene M. Cremanesi ( pg. 63)<br />

Comparação do perfil dietético de adolescentes, do sexo feminino, de nível sócio-econômico diferenciado,<br />

Maria Nubia Gama Oliveira, Eliane de Abreu Soares ( pg. 68)<br />

REVISÕES 77<br />

Efeito antioxidante das vitaminas A, C, E e aterogênese,<br />

Rejane Andréa Ramalho, Elizabeth Accioly, Marta Maria Souza Santos, Mirian Ribeiro Baião,<br />

Mirian Martins Gomes, Bianca Amaral dos Santos Silva, Lívia Maria da Silva ( pg. 77)<br />

Indicadores do estado nutricional de vitamina A,<br />

Mirian Martins Gomes, Bianca Amaral dos Santos Silva, Luciana Ferreira Campos, Ana Paula Pereira Thiapó de Lima,<br />

Cláudia Saunders, Elizabeth Accioly, Rejane Andréa Ramalho, Daniela de Lima Bastos ( pg. 83)<br />

A atuação dos frutooligossacarídeos,<br />

Milene Bozzi d’Acunti ( pg. 89)<br />

Estratégias nutricionais em pacientes com doença hepática avançada e candidatos ao transplante hepático,<br />

Tatiana Pereira de Paula, Wilza Arantes Ferreira <strong>Peres</strong>, Rejane Andréa Ramalho ( pg. 95)<br />

CASO CLÍNICO 100<br />

Anorexia nervosa em paciente do sexo masculino: relato de caso,<br />

Núbio Chaves de Carvalho, Paulo A. Amaral Secches, Renata Rezende, Tomaz Camargo Neto<br />

DOSSIÊ ALIMENTOS: O feijão 104<br />

NOTÍCIAS DA PROFISSÃO 113<br />

As Diretrizes Curriculares Nacionais e as mudanças estruturais no ensino de Nutrição<br />

Índice<br />

Volume 1 número 2 - Julho/Agosto de 2002<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO 117<br />

EVENTOS 120<br />

57


58<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Conselho científico<br />

Profa . Dra . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />

Profa . Dra . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />

Profa . Dra . Lúcia Marques Alves Vianna (UNIRIO / CNPq)<br />

Profa . Dra . Lucia de Fatima Campos Pedrosa Schwazschild (UFRN - Rio Grande do Norte)<br />

Profa . Dra . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Rosemeire Aparecida Victoria Furumoto (UNB - Brasília)<br />

Profa . Dra . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />

Profa . Dra . Tânia Lúcia Montenegro Stamford (UFPE - Pernambuco)<br />

Grupo de acessores<br />

Profa . Ms. Lúcia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />

Profa . Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />

Editor científico<br />

Prof a Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />

Editor executivo<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Editoração de arte<br />

Kassina Ribeiro<br />

Rio de Janeiro<br />

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20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />

Tel: (21) 2221-4164<br />

Fax: (21) 2517-2749<br />

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Colaborador da redação<br />

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ISSN 1677-0234<br />

NUTRIÇÃO BRASIL É UMA<br />

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Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica e Fisioterapia Brasil.<br />

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endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.


Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />

Em meados do século XVIII, o fenômeno da<br />

nutrição animal era definido como um conjunto de<br />

processos, responsável pela reposição dos materiais<br />

corpóreos gastos continuamente na realização das ações<br />

vitais, assim como pelo acréscimo de matéria<br />

característico do crescimento. O termo “nutrição”<br />

freqüentemente incluía os processos considerados<br />

preparatórios, como mastigação, digestão, quilificação<br />

(o produto da digestão que saía do estômago já era<br />

denominado “quilo”), absorção e formação de sangue<br />

(sanguificação), e os processos de decomposição e<br />

eliminação dos materiais gastos.<br />

Até o final do século XVIII, o fenômeno<br />

nutricional era, de modo geral, objeto de estudo da<br />

fisiologia e, portanto, dos fisiologistas. A fisiologia, por<br />

sua vez, encontrava-se ligada e subordinada à anatomia.<br />

Mas os processos metabólicos não eram acessíveis à<br />

abordagem anatômica e várias explicações diferentes<br />

sobre o fenômeno nutricional coexistiam baseadas em<br />

hipótese ou analogias que não podiam ser testadas<br />

experimentalmente.<br />

Lavoisier em seus estudos sobre combustão,<br />

respiração e calor animal introduziu procedimentos,<br />

apresentou resultados e chegou a conclusões que deram<br />

impulso decisivo à concepção de que processos<br />

relacionados à nutrição eram químicos. Magendie (1816),<br />

retomou a questão da fonte de nitrogênio do organismo<br />

animal, que na época atribuíam à atmosfera, observando<br />

que em grande parte o nitrogênio do organismo animal<br />

provinha de sua alimentação. Seus experimentos têm sido<br />

considerados como o início da investigação científica<br />

sobre nutrição.<br />

O avanço do conhecimento sobre a composição<br />

química dos fluídos e tecidos do organismo animal, levou<br />

ao reconhecimento da presença de elementos minerais,<br />

como constituintes da matéria orgânica e no final da<br />

década de 1830, ficou demonstrado experimentalmente<br />

que os vegetais deviam obter do solo seus elementos<br />

inorgânicos, reforçando a idéia sobre a origem externa<br />

das substâncias inorgânicas constituintes do organismo.<br />

Durante a segunda metade do século XIX, os<br />

experimentos de dieta controlada com animais<br />

difundiram-se de forma crescente, especialmente na<br />

EDITORIAL<br />

A nutrição através do tempo<br />

determinação de requerimentos nutricionais, onde já<br />

havia o conceito de que o homem necessitava de<br />

proteínas, gorduras, carboidratos e determinados<br />

minerais e que eles encontravam-se concentrados nos<br />

alimentos. Algumas observações mais sistemáticas sobre<br />

a incidência, a cura e a prevenção de doenças, tornaram<br />

mais clara sua relação com determinados alimentos. Já<br />

no final do século XIX e início do XX, pesquisas sobre<br />

o escorbuto e o beribéri, em particular, contribuíram<br />

para o desenvolvimento da teoria das doenças de<br />

deficiência nutricional e do conceito de vitaminas.<br />

A partir de então, o conhecimento sobre nutrição<br />

manteve-se em ritmo desacelerado e somente na década<br />

de 90, a partir dos conceitos da biologia molecular, houve<br />

um maior desenvolvimento acerca da nutrição,<br />

enfocando os alimentos como coadjuvantes no processo<br />

saúde-doença e na prevenção de doenças degenerativas,<br />

exigindo do nutricionista uma busca constante de<br />

aprimoramento e atualização. Hoje é evidente que o<br />

profissional deve e precisa aprofundar seus<br />

conhecimentos sobre a ciência da nutrição, enfocando<br />

o alimento como seu principal material de trabalho e<br />

produzindo conhecimento científico, que lhe permita<br />

crescer e frutificar esse conhecimento em prol do<br />

homem. O nutricionista é o especialista em alimentação<br />

e nenhum outro profissional está tão preparado quanto<br />

ele, para a nutrição aplicada. Portanto, é seu dever e<br />

direito exercer a nutrição em todos os âmbitos que ela<br />

atinge. Neste mês em que comemoramos o dia do<br />

nutricionista, peço aos colegas a reflexão sobre qual é o<br />

nosso papel perante o homem e a ciência, quanto ainda<br />

devemos caminhar para ocuparmos o papel de<br />

transformadores da realidade, mediante a produção de<br />

conhecimento e a aplicação da ciência na promoção e<br />

manutenção da saúde e na prevenção de doenças.<br />

Esta edição traz contribuições com foco em<br />

alimentos, nutrientes e prática clínica. Ainda, chamo a<br />

atenção para uma nova seção onde abordaremos<br />

sistematicamente um alimento, desde sua origem,<br />

produção, importância econômica e cultural e seu valor<br />

nutricional, esperando contribuir para ampliar o<br />

conhecimento acerca dos alimentos e sua importância<br />

em vários aspectos.<br />

59


60<br />

Caglar K et al, Vanderbilt<br />

University Medical Center,<br />

Nashville, Renal Care Group,<br />

Tennessee, Kidney Int 2002;<br />

62(3):1054-9, setembro de 2002<br />

Yajnik CS, Diabetes Unit, KEM<br />

Hospital Research Centre,<br />

Rasta Peth, Pune, India Obes Rev<br />

2002;3(3):217-24,<br />

agosto de 2002<br />

Resumos de trabalhos<br />

Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />

Efeitos terapêuticos da suplementação nutricional via<br />

oral durante hemodiálise<br />

Introdução: A desnutrição protéica é comum em pacientes tratados<br />

por hemodiálise crônica e é correlata com morbidade e mortalidade em<br />

esses pacientes. Existem estudos limitados avaliando a eficácia da suplementação<br />

nutricional oral em pacientes desnutridos e tratados por hemodiálise.<br />

Métodos: 85 pacientes em hemodiálise e com evidência de desnutrição<br />

foram incluídos neste estudo prospectivo. Os pacientes foram seguidos<br />

durante um período inicial de 3 meses durante o qual receberam<br />

aconselhamento nutricional convencional. No período de intervenção,<br />

receberam uma suplementação oral nutricional especificamente formulada<br />

para pacientes tratados por hemodiálise durante 6 meses. A suplementação<br />

foi administrada durante a diálise para garantir a complacência. Medições<br />

dos parâmetros nutricionais incluíram concentrações de albumina<br />

plasmática, pré-albumina, transferina bem como IMC e avaliação subjetiva<br />

durante um período de 9 meses.<br />

Resultados: Os parâmetros nutricionais não foram alterados durante<br />

os 3 meses do período inicial. Após administração de suplemento via oral<br />

durante diálise, foram observados aumentos significativos nas concentrações<br />

de albumina sérica (de 3,33 ± 0,32 g/dl no início, para 3,65 ± 0,26 g/dl no<br />

6º mês, P < 0,0001) e préalbumina sérica (de 26,1 +/- 8,6 mg/dl no início,<br />

para 30,7 ± 7,4 mg/dl no 6º mês, P = 0,002). O escore de avaliação subjetiva<br />

melhorou em 14% no final do estudo (P = 0,023). Apesar de que o IMC e<br />

o peso também aumentaram, essas alterações não foram estatisticamente<br />

significativas. A transferina plasmática não foi alterada durante o período<br />

de estudo.<br />

Conclusão: A suplementação nutricional oral administrada durante<br />

hemodiálise melhorou os marcadores nutricionais em pacientes desnutridos.<br />

Efeitos do ciclo de vida de nutrição e tamanho corporal<br />

sobre adiposidade adulta, diabetes e doenças<br />

cardiovasculares<br />

Este estudo foi realizado para observar as relações entre nutrição<br />

maternal, peso de nascimento e propensão à resistência precoce à insulina<br />

e diabetes em adultos indianos. Estudos incluíram comparação da altura e<br />

nutrição maternas com a peso de nascimento nas cidades de Pune, Índia e<br />

Southampton, Reino-Unido. Em Pune, foram avaliados crescimento,<br />

resistência à insulina e pressão sanguínea em crianças de 4 anos. Adultos<br />

com idade > 40 anos, residentes em áreas rurais, foram comparados com<br />

adultos residentes em áreas urbanas para altura, glicemia, lípides sanguíneos<br />

e pressão sanguínea. Adultos diabéticos recentemente diagnosticados em<br />

áreas urbanas foram incluídos no estudo. Altura, peso, circunferência da<br />

cabeça, da cintura, do quadril, pressão sanguínea e dobra de pele foram<br />

medidos. Glicose de jejum, insulina, colesterol total e HDL, triglicérides


Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />

Continuação<br />

Yoshiike N et al, Obes Rev 2002<br />

Aug;3(3):183-90,<br />

agosto de 2002<br />

foram relacionados com glicose e respostas da insulina em testes de<br />

tolerância à glicose. Níveis de citoquina foram medidos em amostras de<br />

plasma em adultos das áreas rurais e urbanas. Recém-nascidos indianos<br />

foram mais leves, magros, pequenos e tinham tecido magro relativamente<br />

menor do que os recém-nascidos caucasianos. Entretanto, as medições da<br />

gordura subcutânea nessas crianças foram comparáveis às de crianças caucasianas.<br />

As mães indianas eram menores, mas as mães relativamente gordas<br />

fizeram crianças maiores. A ingestão maternal de legumes verdes, frutas e<br />

leite e os níveis plasmáticos de vitamina C e folatos são prognosticadores<br />

de tamanho fetal maior. O crescimento rápido da criança é responsável de<br />

resistência à insulina e pressão sanguínea mais elevada. Os adultos das<br />

áreas rurais eram magros, com prevalência de diabetes de 4% e hipertensão<br />

de 14%, mas os riscos aumentaram dentro do intervalo normal de IMC.<br />

Diabetes tipo 2 era comum em adultos jovens das áreas urbanas com idade<br />

< 35 anos. Apesar de que o IMC médio foi de 23,9 kg/m 2 , obesidade<br />

central e membros magros foram observados. Níveis de interleucina-6 e<br />

tumor necrosis factor-α aumentaram em indivíduos urbanos. Existe evidência<br />

de um efeito potente e intergeneracional sobre a altura e a adiposidade<br />

total e central. Indianos são altamente suscetíveis à resistência à insulina e<br />

riscos cardiovasculares, e crianças apresentam peso de nascimento menor,<br />

mas são relativamente gordos. A resistência à insulina é ampliada pelo<br />

crescimento rápido da criança. Fatores dietéticos parecem ter profunda<br />

influência metabólica a longo prazo sobre a gravidez. Superpopulação com<br />

infecções e obesidade central podem ampliar a resistência à insulina induzida<br />

por citoquina e o diabetes precoce em adultos indianos com IMC baixo.<br />

Alterações na prevalência do sobrepeso na população<br />

japonesa adulta: estudo 1976-95<br />

O objetivo deste estudo foi de descrever 20 anos de alteração no IMC e<br />

a prevalência de sobrepeso em adultos japoneses. Estudos nacionais anuais e<br />

cruzadas (National Nutrition Survey, Japão) foram realizados em amostras<br />

representativas da população do Japão. Foram usados dados dos estudos 1976-<br />

95, reunindo 91983 homens e 120822 mulheres (idade e > 20 anos). Os<br />

resultados foram separados em grupos de idade e sexo, e por área residencial<br />

em função do tamanho do município (áreas metropolitanas, cidades e pequenas<br />

cidades). O IMC médio aumentou em homens com 0,44 kg/m 2 /10 anos e<br />

diminuiu lentamente em mulheres em -0,09 kg/m 2 /10 anos, após ajuste para<br />

idade. A diminuição do IMC médio é mais significativa em mulheres de idade<br />

20-29 anos (-0,38 kg/m 2 /10 anos), em contrasto com o grupo de mulheres<br />

idosas (grupo 60-69 e > 70 anos). A prevalência de homens pré-obesos (IMC:<br />

25-29,9 kg/m 2 ) e obesos (IMC e > 30 kg/m 2 ) aumentou em 14,5% e 0,8%,<br />

respectivamente, no período 1976-1980 e em 20,5% e 2,01% durante o período<br />

1991-95. Este aumento foi mais evidente no grupo de jovens (20-29 anos) e<br />

em pessoas de pequenas cidades. A prevalência total de mulheres pré-obesas<br />

ou obesas não mudou durante o período de 20 anos de estudo. A prevalência<br />

diminui em mulheres jovens, especialmente em áreas metropolitanas. Apesar<br />

do que a prevalência do sobrepeso (IMC e > 25 kg/m 2 ) aumentou em homens<br />

e mulheres idosas japoneses durante os últimos 20 anos, o IMC médio diminui<br />

em mulheres jovens, especialmente nas áreas metropolitanas. O controle da<br />

obesidade e das doenças associadas à obesidade deve ser focalizado em homens<br />

e mulheres com idade > 40 anos.<br />

61


62<br />

Mustaioki P et al, Obes Rev<br />

2001;2(1):61-72,<br />

fevereiro de 2002<br />

Linne Y et al, Obes Rev<br />

2002;3(2):75-83,<br />

maio de 2002<br />

Nutrição Brasil - julho/agosto 2002;1(2)<br />

Dietas de baixa caloria no tratamento da obesidade<br />

As dietas de baixa caloria são definidas com dietas de menos do que<br />

800 kcal/dia, apesar de respeitar as quantidades diárias recomendadas de<br />

todos os nutrientes essenciais. Estas dietas são utilizadas há mais de que 20<br />

anos. São empregadas como única fonte de nutrição durante 8-16 semanas,<br />

o que permite uma perda de peso de 1,5-2,5 kg/semana. Antes da prescrição<br />

desse tipo de dieta, é necessário fazer um exame clínico para avaliar eventuais<br />

contra-indicações e o uso de remédios durante a dieta. Para facilitar a<br />

aderência, conselhos comportamentais cognitivos são incluídos em um<br />

programa de redução de peso usando uma dieta de baixa caloria. Esse tipo<br />

de dieta não tem efeitos adversos sérios e pode ser utilizado com segurança<br />

em pacientes portadores de várias doenças crônicas. Programas com dietas<br />

de baixas calorias permitem uma perda de peso a curto prazo maior do<br />

que os programas sem dieta. Entretanto, em estudos randomizados<br />

controlados, os programas de dietas de baixa caloria não atingiram resultado<br />

melhor a longo prazo de que os programas convencionais. Essas dietas<br />

são utilizadas quando a perda de pesa rápida é necessária por causa de uma<br />

doença relacionada à obesidade. Em outros pacientes obesos, é uma<br />

alternativa em comparação a tratamentos conservativos. No diabetes tipo<br />

2, pode melhorar o metabolismo da glicose a longo prazo melhor do que<br />

as dietas convencionais de diminuição de peso. Alguns estudos sugerem<br />

que após programa de dieta de baixa caloria, a manutenção a longo prazo<br />

é melhor em homens de que em mulheres. Essa diferença entre os sexos<br />

pode ser um item importante para pesquisas futura.<br />

Aumento de peso a longo prazo após da gravidez<br />

Para muitas mulheres, a gravidez é um fator determinante para<br />

desenvolver sobrepeso e obesidade. 73% de 128 pacientes mulheres de<br />

nossa Unidade de Obesidade indicaram que engordaram de mais de 10 kg<br />

após cada parto e para este subgrupo a desenvolvimento do peso após<br />

gravidez era de importância crucial para o estado futuro de saúde. Apesar<br />

de que o aumento de peso após a gravidez seja geralmente modesto, existem<br />

grandes variações individuais. Em estudos, foi reportado um ano após<br />

gravidez ganho de peso de 26,5 kg até perda de 12,3 kg, e o ganho médio<br />

de peso é de 0,5 kg. Vários estudos analisaram os fatores explicando o<br />

desenvolvimento do peso após gravidez e parto, em centenas de milhares<br />

de pacientes, mas, surpreendentemente, é difícil identificar fatores de<br />

prognóstico de aumento de peso. Em uma revisão, foram identificados 31<br />

fatores. A lactação não tem um papel significativo para explicar o aumento<br />

de peso um ano após o parto. Poucos estudos investigaram a importância<br />

da atividade física durante a gravidez e pós-parto para explicar o aumento<br />

de peso. Nosso estudo examinou 1423 mulheres que foram grávidas 15<br />

anos atrás, em 1984-85. Gravidez e peso são intricados de uma maneira<br />

complexa, incluindo vários fatores como estilo de vida, comportamento<br />

alimentar, atividade física, cessação do tabagismo e lactação, mas não são<br />

ainda completamente compreensíveis.


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Prevalência de pica em gestantes atendidas<br />

em instituições públicas e privadas<br />

Pica prevalence in pregnant women consulted in public and<br />

private institutions<br />

Rita Maria Monteiro Goulart*, Caroline D’A. Magalhães**, Milene M. Cremanesi**<br />

*Mestre e Doutoranda em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública, USP, São Paulo, **Docente nas Universidades São Judas Tadeu,<br />

Anhembi-Morumbi e Mogi das Cruzes<br />

Resumo<br />

Objetivo: Avaliar a prevalência de pica (compulsão para ingestão persistente de substâncias inadequadas, com pouco ou<br />

nenhum valor nutricional) em gestantes atendidas em instituições públicas e privadas.<br />

Metodologia: Foi realizado um estudo de corte transversal com 70 gestantes atendidas em instituição filantrópica (grupo<br />

A) e 80 gestantes atendidas em duas instituições privadas (grupo B), totalizando 150 indivíduos. As gestantes foram convidadas<br />

a responder um questionário previamente elaborado para este fim.<br />

Resultados: Observou-se piores condições de vida nas gestantes do grupo A, uma vez que 50% não possuíam companheiro<br />

e 57,1% pertenciam à faixa de renda nentre 2 e 5 salários mínimos. Destacando-se ainda, neste grupo, o percentual elevado<br />

(21,4%) de gestantes adolescentes (≤19 anos). A prevalência de pica foi elevada (27%) entre gestantes da instituição filantrópica,<br />

sendo que entre gestantes das instituições privadas, apenas uma (1,4%) apresentou pica.<br />

Conclusão: Em razão da pica ser um comportamento alimentar que pode representar um risco para a saúde da gestante<br />

e do feto, há necessidade de busca ativa nas consultas de pré-natal, a fim de diagnosticar precocemente a existência desta<br />

deficiência e propor intervenções que sejam eficazes para seu controle.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: gestante, anemia, pica, fator de risco.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

u Título abreviado: Prevalência de pica em gestantes<br />

Artigo recebido em 22 de julho; revisado em 10 de agosto e aprovado em 15 de agosto de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Rita Maria Monteiro Goulart, Rua Piraquara, 450, 03688-000 São Paulo SP.<br />

Tel: (11) 6141-8042/9107-6520, E-mail: rmmgoulart@hotmail.com<br />

63


64<br />

Introdução<br />

O organismo feminino, durante a gestação, sofre<br />

alterações progressivas (anatômicas, fisiológicas e<br />

bioquímicas), que têm por objetivo manter um<br />

ambiente adequado para que o bebê se desenvolva.<br />

Ocorre, também, aumento das necessidades<br />

nutricionais da gestante, em especial no que se refere<br />

aos valores de energia, proteínas, vitaminas e minerais<br />

para o crescimento e desenvolvimento do feto, e para<br />

manter reservas teciduais adequadas de nutrientes.<br />

Quando essas necessidades não são plenamente<br />

atendidas, surgem as deficiências nutricionais. Nas<br />

deficiências não aparentes pode ocorrer a pica. Pica<br />

refere-se à compulsão para ingestão persistente de<br />

substâncias, inadequadas, com pouco ou nenhum valor<br />

nutricional.<br />

A pica é vista com maior freqüência em crianças<br />

pequenas e, ocasionalmente, em mulheres grávidas.<br />

Atualmente, vem sendo considerado um transtorno<br />

alimentar, quando pessoas se sentem impulsionadas a<br />

ingerir substâncias não comestíveis (sabonete,<br />

materiais de construção, cera, etc) e, em alguns casos,<br />

substâncias até comestíveis, mas não na sua forma<br />

“normal” (farinha crua, arroz cru, gelo, grãos de café,<br />

fermento em pó químico, entre outros).<br />

A pica em mulheres grávidas pode ser causada<br />

pelo fator emocional, devido às mudanças corporais,<br />

pelas alterações hormonais que ocorrem durante a<br />

gravidez (apresentando alterações no apetite e<br />

despertando vontades específicas devido a falta de um<br />

nutriente), como também pode ser um hábito cultural<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Abstract<br />

Objective: To evaluate the “pica” prevalence (the persistent eating of non-nutritient substances) in pregnant women<br />

consulted in public and private institutions.<br />

Methodology: It has been realized transversal cut study with 70 philanthropic institutions consulted pregnant women<br />

(group A) and 80 private instituions consulted pregnant women (group B). The pregnant women were invited to answer a<br />

previously made questionary.<br />

Results: The results showed pregnant women with worst life conditions were from group A, because 50% were single<br />

and 57.1% of them had familiar income from 2 to 5 m.s. It was noted a high rate (21.4%) of pregnant teenagers (≤19 years<br />

old). The “pica” prevailing was high (27%) among the philanthropic pregnant women as for the private pregnant women this<br />

rate was 1,4%.<br />

Conclusion: Once “pica” is a risky alimentar behavior, there is the need to regurarly make prenatal, related to previously<br />

diagnosticate this disorder and to propose efficient solutions to its control.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: pregnant, pica, anaemia, risk factors.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

de certos povos (pessoas que sentem necessidade de<br />

mastigar gelo, o que pode estar relacionado ao clima<br />

quente da região).<br />

Segundo Horner, citado por Simpson [1], a<br />

anemia pode ser a conseqüência da pica, antes de ser<br />

a causa.<br />

No estudo de Reynolds et al. [2], realizado com<br />

48 mulheres, 23 delas apresentavam anemia ferropriva<br />

e admitiram o consumo excessivo de gelo. Foi realizada<br />

uma ferroterapia, que teve como resultado o<br />

desaparecimento do desejo ardente pelo gelo e apenas<br />

uma continuou apresentando o desejo, mas melhorou<br />

consideravelmente. Neste estudo também foi possível<br />

observar que o ferro parenteral agia mais rápido do<br />

que o ferro oral. Foi também proposto que um desejo<br />

ardente por gelo está relacionado ao fato das enzimas<br />

teciduais dependentes do ferro (catalase e citocromo)<br />

encontrarem-se defeituosas.<br />

Em estudo conduzido com mulheres grávidas<br />

em Houston, com o objetivo de determinar a<br />

prevalência de pica e sua associação com os níveis de<br />

hemoglobina materna, foram entrevistadas 366<br />

mulheres em 3 clínicas, no período de junho a<br />

setembro de 1995, e foram feitos registros dos níveis<br />

de hemoglobina e hematócrito. O percentual de<br />

gestantes que apresentaram pica foi de 11,2%. O grupo<br />

de “pica de gelo” teve como prevalência valores mais<br />

altos de anemia durante a gravidez. O índice de anemia<br />

foi baixo para o grupo que não apresentou pica [3].<br />

Geissler et al. [4] verificaram ainda que


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

mulheres que comem terra têm o apetite diminuido<br />

devido ao volume de terra ingerido e como<br />

consequência apresentam deficiência de nutrientes<br />

e anemia. Sugerem que a deficiência de ferro conduz<br />

a várias formas de pica entre gestantes, incluindo<br />

comer gelo e papel. Finalmente, referem que a<br />

geofagia é mais predominante durante os últimos<br />

estágios da gestação, quando a deficiência de ferro<br />

tende a ser mais comum.<br />

Segundo Simpson et al. [2], as conseqüências da<br />

pica para a mãe e o feto variam de acordo com a<br />

natureza da substância ingerida. Os efeitos na mãe<br />

podem incluir feridas na boca, constipação, obstrução<br />

intestinal, infecções por parasitas, toxemia,<br />

interferência com a absorção de minerais,<br />

envenenamento por chumbo e hipercalcemia.<br />

Possíveis efeitos no feto incluem prematuridade,<br />

mortalidade perinatal, baixo peso ao nascer,<br />

irritabilidade, redução da circunferência cefálica e<br />

efeitos da exposição a produtos químicos, tais como<br />

pesticidas e herbicidas.<br />

Em razão das evidências que demonstram<br />

associação da pica com deficiências nutricionais, este<br />

estudo teve por objetivo avaliar a prevalência de pica<br />

em gestantes atendidas em instituições públicas e<br />

privadas, além de investigar a associação entre a pica<br />

e a anemia ferropriva.<br />

Metodologia<br />

Foi realizado um estudo de corte transversal em<br />

uma instituição filantrópica de atendimento a gestantes<br />

(ambulatório de pré-natal), denominado grupo A,<br />

incluindo 70 pacientes e em duas instituições com fins<br />

lucrativos (medicina fetal), denominado grupo B, com<br />

80 gestantes, no município de São Paulo, no período<br />

de agosto a novembro de 2001, totalizando 150<br />

gestantes.<br />

O perfil e o estado geral de saúde das gestantes<br />

foram avaliados através da aplicação de um<br />

questionário, contendo as seguintes variáveis: estado<br />

civil, anos de estudo, idade, renda familiar, desejos<br />

alimentares, presença de pica.<br />

O questionário foi aplicado pelas autoras da<br />

pesquisa no momento em que as gestantes<br />

compareciam aos serviços, para a realização da<br />

consulta pré-natal (grupo A) e de exames bioquímicos<br />

(grupo B).<br />

As gestantes foram convidadas a participar da<br />

pesquisa e, em caso de aceitação, respondiam ao<br />

questionário. Não tiveram exclusões e não foi<br />

estabelecida restrição quanto à idade gestacional.<br />

Resultados e discussão<br />

Das 150 gestantes incluídas no estudo, ocorreu<br />

maior concentração no grupo A (71,5%), na faixa<br />

etária considerada adequada para reprodução (20-30<br />

anos). No entanto, o percentual de gestantes<br />

adolescentes apresentou-se elevada (21,4%), o que<br />

corrobora as pesquisas que têm mostrado uma<br />

tendência de elevação no índice de gravidez entre<br />

adolescentes de menor nível sócio-econômico. Em<br />

razão destas jovens se encontrarem em fase de<br />

desenvolvimento, a gravidez poderia tornar-se um<br />

fator de risco adicional, pois a ingestão adequada de<br />

nutrientes pode ser prejudicada, uma vez que seu<br />

organismo precisa atender a duas necessidades<br />

paralelas: seu crescimento e desenvolvimento e do feto<br />

em formação, o que demanda atenção nutricional<br />

especial.<br />

No grupo B o percentual de adolescentes<br />

grávidas foi baixo (1,2%), comparativamente ao grupo<br />

A, e o índice de mulheres grávidas, acima de 36 anos,<br />

elevado (22,5%).<br />

Foi investigado junto às gestantes o estado civil<br />

e o número de filhos. No grupo A, observou-se um<br />

equilíbrio no número de gestantes solteiras e casadas,<br />

o que pode sugerir maior susceptibilidade a agravos<br />

nutricionais, uma vez que a falta de um companheiro<br />

poderia representar maiores dificuldades financeiras<br />

e menor apoio familiar.<br />

No grupo B, verificou-se que quase a totalidade<br />

(95%) das gestantes são casadas. A maioria são<br />

primigestas e nenhuma delas tinha mais do que 2<br />

filhos, o que sugere gestações planejadas, lembrando<br />

que 38% destas gestantes apresentavam idade superior<br />

a 30 anos.<br />

Em relação à renda e escolaridade, observou-se<br />

que entre as gestantes do grupo A, houve maior<br />

freqüência na faixa de renda de 2 a 5 salários mínimos<br />

(57,1%), e com relação a escolaridade, 81% tinham<br />

de 5 a 11 anos de estudo. A literatura tem mostrado<br />

que quanto menor o nível de escolaridade, maiores<br />

são as dificuldades de acesso ao mercado de trabalho,<br />

aos serviços de saúde e à informação, o que pode<br />

elevar o risco de deficiências nutricionais.<br />

Para as gestantes do grupo B, 90% das mulheres<br />

entrevistadas possuem renda familiar acima de 10<br />

salários mínimos e 71,2% (57) estudaram 12 anos ou<br />

mais, portanto, cursaram o nível superior. Esses resultados<br />

sugerem que antes de ter um filho elas optaram<br />

por uma estabilidade profissional e financeira.<br />

Em relação à presença de pica, os resultados<br />

podem ser vistos na Fig. 1, onde observa-se que sua<br />

65


66<br />

prevalência foi maior no grupo A (27%). Este percentual<br />

pode ser considerado elevado se comparado aos<br />

resultados obtidos no estudo conduzido por Al-<br />

Kanhal e Bani na Arábia Saudita [5], onde 9% das<br />

mulheres apresentavam pica. Porém, esta prevalência<br />

não pode ser considerada elevada quando comparada<br />

com o estudo de Simpson [1] conduzido com 75<br />

gestantes de baixa renda nascidas no México, onde<br />

44% das gestantes apresentavam o comportamento<br />

de pica, ou no estudo conduzido com 150 mulheres<br />

que moravam no Sudeste da Califórnia (31%). No<br />

entanto, é importante considerar as condições sociais<br />

e ambientais que envolvem estas diferentes<br />

populações.<br />

A presença de pica quase não existiu no grupo<br />

B (1,4%), cuja situação sócio-econômica era melhor,<br />

além das gestantes, quase em sua totalidade, serem<br />

casadas e terem o apoio do companheiro.<br />

Foi investigado junto às gestantes que<br />

apresentaram pica, quais substâncias elas tinham<br />

desejo de ingerir. Os resultados estão demonstrados<br />

na Fig.2.<br />

Neste estudo, o tijolo destacou-se como o<br />

produto mais consumido pelas gestantes (20%). Os<br />

produtos classificados como outros incluem barro, giz,<br />

cal, manga verde, macarrão cru e tripa de porco. E<br />

entre os produtos de limpeza, destacam-se o cloro, o<br />

álcool e o querosene.<br />

No grupo B, apenas uma entre as 80<br />

entrevistadas apresentou pica por gelo. No entanto,<br />

relatou que mesmo antes de engravidar consumia gelo<br />

freqüentemente e não apresentou desejos alimentares.<br />

Estes resultados podem ser comparados com<br />

outros estudos que mostraram a compulsão de<br />

gestantes com pica por gelo, terra, argila entre outras<br />

[6,7]. Segundo Smullian et al. [8], a ingestão de<br />

substâncias não alimentares, leva a risco de<br />

contaminação ou intoxicação por verminoses ou<br />

produtos químicos (presença de chumbo),<br />

ocasionando carências nutricionais, que necessitam de<br />

rápida intervenção.<br />

Conclusão<br />

Através dos resultados obtidos, em ambos os<br />

grupos (150 gestantes) verificou-se uma prevalência<br />

de 12,7% de pica, sendo superior no grupo A, onde<br />

os fatores ambientais e sociais são diferentes das<br />

gestantes do grupo B. No grupo A, as condições sócioeconômicas<br />

são desfavoráveis e grande parte não<br />

contam com a presença de um companheiro. Ao<br />

contrário do grupo B, onde a maioria é casada e com<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

melhores níveis de renda e educação.<br />

A prevalência de pica foi elevada (27%) entre as<br />

gestantes da instituição filantrópica. Entre as gestantes<br />

dos centros médicos, apenas uma (1,4%) apresentou<br />

pica, o que sugere sua associação com carências<br />

nutricionais.<br />

Em razão da presença de pica ser um<br />

comportamento alimentar que pode representar um<br />

risco para a saúde da gestante e do feto, há necessidade<br />

de uma busca ativa nas consultas de pré-natal, com o<br />

intuito de diagnosticar precocemente a existência desta<br />

deficiência, a fim de propor intervenções que sejam<br />

eficazes para seu controle.<br />

A pica pode ser o resultado da combinação de<br />

pobreza e ignorância, portanto o caminho para sua<br />

cura deve ser a melhora dos padrões de vida,<br />

programas de assistência em alimentação, educação<br />

formal, empregos e maior acesso aos cuidados de<br />

saúde e nutrição. Enquanto estes objetivos não são<br />

alcançados, ao diagnosticar gestantes com pica,<br />

recomenda-se a educação nutricional, enfatizando os<br />

elementos de uma alimentação equilibrada e de fácil<br />

acesso.


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Referências<br />

1. Worthington-Roberts, BS. Nutrição na Gravidez e na<br />

Lactação. 3 ª ed. Interamericana, Rio de Janeiro, 1986.<br />

2. Simpson E, et al. Pica During Pregnancy in Lowincome<br />

Women Born in Mexico. Western Journal of<br />

Medicine 2000;173:20-24.<br />

3. Luke B. Compreendendo a malácia em<br />

mulheres.grávidas. Nutrição Materna. São Paulo:<br />

Livraria Roca; 1991. p.75-82.<br />

4. Al-Kanhal MA, Bani IA. Food Habits During<br />

Pregnancy Among Saudi Women. International Journal<br />

for Vitamin and Nutrition Research 1995;65:206-210.<br />

5. Rainville AJ. Pica practices of pregnant women are<br />

associated with lower maternal hemoglobin level at<br />

delivery. J Am Diet Assoc 1998;98:293-6.<br />

6. Geissler PW et al. Geophagy, iron status and anaemia<br />

among pregnant women on the coast of Kenya.<br />

Transations of the Royal Society of Tropical Medicine<br />

and Hygiene 1998;92:549-553.<br />

7. Geissler PW et al. Perceptions of Soil-Eating and<br />

Anaemia Among Pregnant Womem on the Kenyan<br />

Coast. Social Science & Medicine an International<br />

Journal 1999;48: 1069-1079.<br />

8. Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: Alimentos,<br />

Nutrição e Dietoterapia. 9ªed. São Paulo: Roca; 1998.<br />

9. Smulian JC et al. Pica in a Rural Obstretic Population.<br />

Southern Medical Journal 1995;88:1236-1240.<br />

10. Reynold RD et al. Pagophagia and iron-deficiency<br />

anemia. Ann Intern Med 1968;69:435.<br />

Informações sobre pica são disponíveis no site:<br />

Transtornos alimentares na 1ª infância – DSM IV. Pica.<br />

www.psiqweb.med.br/dsm/alimen [out 2001]<br />

67


68<br />

ARTIGO<br />

Artigo recebido em 15 de junho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Rua México, 128 sala 406, Centro, 20031-142 Rio de Janeiro, RJ.<br />

Tel: (21) 2262-4481(ADCD/SUSC/SES/RJ), E-mail: nubiagama@saude.rj.gov.br e eabreu@uerj.br<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Comparação do perfil dietético de<br />

adolescentes, femininas e níveis<br />

sócio-econômico diferenciados<br />

Comparison of the dietary profile of girls teenagers<br />

of different social economic levels<br />

Maria Nubia Gama Oliveira*, Eliane de Abreu Soares**<br />

*Mestre em Nutrição Humana (IN/UFRJ), Nutricionista Assessoria de Doenças Crônico Degenerativas da Secretaria de Estado de Saúde<br />

do Rio de Janeiro; Docente do Curso de Graduação Nutrição – BENNETT, **Doutora em Ciências dos Alimentos –USP, Professora<br />

Adjunta do Instituto de Nutrição da UFRJ/UERJ<br />

Resumo<br />

Este estudo teve como objetivo comparar o perfil dietético de adolescentes do sexo feminino de nível sócio-econômico<br />

diferenciado. Foram avaliadas 320 adolescentes de 11 a 18 anos, do sexo feminino, de níveis sócios econômicos diferenciados.<br />

Para classificação da situação sócio-econômica, utilizaram-se como critérios a ocupação e escolaridade dos pais. Avaliação<br />

sócio-econômica demonstrou que 75% dos pais das alunas de nível sócio-econômico mais elevado, apresentaram nível<br />

superior com ocupação condizente com a escolaridade, enquanto nos outros dois colégios, 49% apresentaram escolaridade<br />

de primeiro grau. Para avaliação dietética, aplicou-se recordatório de 24 horas e questionário de freqüência alimentar. Os<br />

resultados mostraram que as adolescentes apresentaram baixa ingestão de cálcio dietético, independentemente do nível<br />

sócio-econômico. O leite foi o principal alimento mencionado no consumo diário pelas adolescentes de nível sócio-econômico<br />

alto (NSEA), enquanto que no de nível sócio-econômico baixo (NSEB) foram arroz, feijão e açúcar. As bebidas mais<br />

mencionadas foram refrigerantes, suco de frutas e café para as adolescentes (NSEB). Conclui-se, diante destes dados, que há<br />

necessidade de se ampliar estudos sobre o comportamento dietético desta faixa etária.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Adolescentes, nutrição, inquérito dietético, avaliação nutricional.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Abstract<br />

The aim of this study was to compare the dietary profile of girls adolescents of the differents social economic level .<br />

Is was evaluate three hundred and twenty adolescents at the ages 11 to 18 years old from high social economic level and lower<br />

social economic levels to classify of the situation social economic utilized the occupation and parent’s school. The social and<br />

economic appraisal had show that 75% of the student’s parents of high social economic level were university graduates with<br />

occupations appropriates for their years of schooling, whereas, at the other lower social economic levels 49% had show only<br />

primary school and education. The dietary assessment was carried out through food frequency questionnaire. The results<br />

had show dietary calcium consumption, independ the social economic. Milk was the main food consumed daily at the college<br />

of high social economic level, whereas at he college of lower social and economic levels rices, beans, sugar were consumed.<br />

The liquids most drunk by girls from lower social economic levels. It is to be concluded by this study broaden the studies<br />

regarding the dietary behavior at adolescence.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Adolescents, nutrition, nutritional evaluation, dietary assessment.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Introdução<br />

É sabido que a demanda de energia, proteína,<br />

minerais e vitaminas, encontra-se bastante elevada na<br />

adolescência. A determinação das necessidades<br />

nutricionais nesta faixa etária é assunto ainda bastante<br />

complexo e carente de maiores pesquisas. Isto porque<br />

adolescência transcorre em fase bem diferente,<br />

caracterizada por momentos de aceleração do<br />

crescimento, início da puberdade, fase de<br />

desaceleração do crescimento e final da adolescência,<br />

com necessidades nutricionais bem distintas entre si<br />

[1,2].<br />

A preocupação com a saúde do adolescente vem<br />

ganhando atenção, pois é nesta fase que o hábito<br />

alimentar se fortalece com todo tipo de inadequação.<br />

Perante este contexto, a nutrição passa a ter uma<br />

função importante, já que as necessidades nutricionais<br />

são fator primordial para o bom desenvolvimento e<br />

crescimento, além de fortalecer hábitos alimentares<br />

saudáveis para toda a vida [3].<br />

Face a estas argumentações, ratifica-se que o<br />

hábito alimentar pode ser influenciado por alguns<br />

fatores, como aqueles que refletem características<br />

próprias do adolescente: a contestação dos padrões<br />

familiares, podendo, levá–los ao consumo de lanches<br />

nem sempre satisfatórios, em substituição às grandes<br />

refeições [3]. O crescente modismo pela alimentação<br />

fast food, altamente valorizada pela propaganda e a<br />

indestrutibilidade, envolvendo a idéia de não precisar<br />

se alimentar para manter o corpo esbelto, são alguns<br />

dos aspectos que influenciam a formação de hábitos<br />

em adolescentes independentemente de seu nível sócio<br />

– econômico [4,5].<br />

Sabe-se também ser o estado nutricional de uma<br />

população o reflexo do estado de saúde dos indivíduos<br />

e, portanto, de seu estilo de vida, abrangendo<br />

características sócio-culturais, econômicas e/ou<br />

alimentares das suas comunidades [6].<br />

Desse modo, é relevante mencionar que é muito<br />

comum encontrar adolescentes com baixa estatura,<br />

resultante, muitas vezes, dos agravos nutricionais da<br />

infância ou com deficiência de peso, indicando<br />

freqüentemente agravo mais atual ou mesmo a<br />

obesidade, que se torna cada vez mais presente em<br />

todas as camadas sociais [7]. Este enfoque é ainda mais<br />

pertinente, quando se considera a precariedade das<br />

condições sócio-econômicas, que envolvem apreciável<br />

número de brasileiros, em função da distribuição de<br />

renda. A situação do Brasil é bem mais crítica do que<br />

a de uma série de países subdesenvolvidos, como é o<br />

caso de Bangladesh, El Salvador e Quênia. O nosso<br />

país está hoje na mesma faixa que o Panamá e o Peru<br />

e perde de muito longe para Holanda, onde os mais<br />

ricos ganham apenas quatro vezes mais do que os mais<br />

pobres [3]. A alimentação, nestas circunstâncias é<br />

prejudicada, empobrece-se sendo a proteína cada vez<br />

mais substituída pelos carboidratos, com omissão ou<br />

redução acentuada do número de refeições [7]. Para<br />

Jacobson [8], o aumento nas necessidades nutricionais<br />

serão particularmente importantes no período de<br />

estirão de crescimento, em que qualquer restrição<br />

alimentar, sobretudo energético e protéico, irá afetar<br />

o estado nutricional do adolescente.<br />

Ainda, considerando que seqüelas da<br />

desnutrição a níveis populacionais indicam<br />

seguramente más condições pregressas ambientais de<br />

vida, torna–se importante quantificar sua presença na<br />

faixa etária da adolescência [9]. Por esta razão e frente<br />

à análise e dados da literatura apresentados, procurou-<br />

69


70<br />

se desenvolver o presente artigo, que tem como<br />

objetivo comparar o perfil alimentar de adolescentes<br />

do sexo feminino, de nível sócio–econômico<br />

diferenciado.<br />

Metodologia<br />

Foram estudadas 180 adolescentes de um<br />

Colégio situado no Município do Rio de Janeiro,<br />

considerado de nível sócio econômico alto (NSEA) e<br />

mais outros dois grupos de adolescentes (140), que<br />

eram formados por alunas de padrão sócio econômico<br />

baixo (NSEB). Não fizeram parte do estudo as<br />

adolescentes que não estivessem motivadas a<br />

responder ao recordatório alimentar, e/ou preencher<br />

o registro de alimentos e que estivessem grávidas ou<br />

amamentando, ou ainda, que estivessem fazendo<br />

algum tipo de dieta para emagrecer ou para engordar.<br />

Perfil sócio – econômico das adolescentes<br />

O questionário sócio-econômico foi preenchido<br />

com cada adolescente, e as perguntas referiam-se a<br />

dados pessoais, condições sócio-econômicas.<br />

Posteriormente, foi feita a classificação sócioeconômica<br />

dos pais ou responsáveis pelas<br />

adolescentes, utilizando-se a escolaridade e a ocupação<br />

como critério de avaliação [3].<br />

Avaliação dietética<br />

Para traçar o perfil dietético das adolescentes,<br />

foram aplicados os métodos de recordatório de 24<br />

horas e Questionário de Freqüência de Consumo de<br />

Alimentos para cada uma delas. Para facilitar a<br />

aplicação e fidedignidade dos dados obtidos no<br />

recordatório de 24 horas, foi utilizado um “kit”<br />

contendo utensílios de uso comum, como: colheres<br />

de arroz, sopa, sobremesa, chá e café, concha média<br />

de feijão, xícara de chá e café, copos de requeijão e de<br />

geléia, pratos rasos e fundos, com objetivo de facilitar<br />

a precisão do porcionamento dos alimentos<br />

consumidos pelas adolescentes, padronizando as<br />

medidas caseiras para melhor segurança.<br />

O recordatório de 24 horas foi preenchido com<br />

medidas caseiras dos alimentos e bebidas ingeridas<br />

com posterior conversão em gramatura [10,11]. As<br />

informações obtidas através desse formulário, foram<br />

analisadas qualitativa e quantitativamente em relação<br />

aos macronutrientes (proteínas, proteína de alto valor<br />

biológico, carboidratos e lipídeos) e micronutrientes<br />

(cálcio, ferro, zinco, vitamina C, tiamina, riboflavina,<br />

niacina e folato), através do Programa de Apoio à<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Nutrição (CIS-EPM versão 2.5/1995). Em seguida,<br />

foi feita a comparação dos resultados encontrados<br />

com os padrões de referência da Food and Nutrition<br />

Board do National Research Council (FNB/NRC/<br />

RDA-89).<br />

O recordatório de 24 horas foi utilizado como<br />

instrumento a fim de obter informações sobre a<br />

ingestão alimentar individual. Foi necessário ter<br />

conhecimento se o dia anterior teria sido um dia<br />

típico ou não, já que na aplicação do questionário<br />

tomou-se o cuidado de excluir dias atípicos da<br />

investigação (ex: segunda-feira, festas, doenças, ou<br />

mudança do hábito alimentar por qualquer motivo).<br />

Caso um desses aspectos fosse positivo, o<br />

recordatório de 24 horas era realizado,<br />

posteriormente, pois todas essas situações interferem<br />

e alteram o hábito alimentar.<br />

O Questionário de Freqüência de Consumo de<br />

Alimentos foi aplicado pelos entrevistadores,<br />

juntamente com o Recordatório de 24 horas, com a<br />

finalidade de averiguar a qualidade da dieta ingerida,<br />

uma vez que este instrumento informa quantas vezes<br />

por semana a adolescente consome alimentos dos<br />

diferentes grupos. Estes dados auxiliam a verificação<br />

da autenticidade das respostas obtidas no recordatório<br />

de 24 horas, proporcionando maior rigor na avaliação<br />

dietética.<br />

Análise estatística<br />

Para análise estatística dos resultados, foi<br />

empregada a análise de variância multifator, onde<br />

foram avaliados os níveis de significância para a<br />

distribuição F-SNEDECOR. Foi utilizado o programa<br />

Statistica–Stat Solf (1996) da Universidade do Estado<br />

do Rio de Janeiro (UERJ).<br />

Em todos os testes, fixou-se em 5% (p < 0,05) o<br />

nível de rejeição da hipótese de nulidade, uma vez que<br />

foi rejeitada a hipótese de insignificância ente os<br />

grupos de nível sócio-econômico alto e nível sócioeconômico<br />

baixo (NSEA vs. NSEB). A análise de<br />

variância (ANOVA – Estatística F) foi aplicada para<br />

comparação dos dois grupos de adolescentes.<br />

Resultados e discussão<br />

Os estudos de Oliveira et al. [12] demonstraram<br />

que entre os pais das adolescentes, foi encontrado 75%<br />

vs. 8% para NSEA e NSEB, respectivamente com<br />

nível superior, enquanto com os pais das meninas de<br />

nível sócio-econômico desprivilegiado, foi visto uma<br />

proporção de 49% para o primeiro grau. Esta atuação<br />

indireta ocorreria na medida em que a escolaridade se


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

relaciona à oportunidade de trabalho e em última<br />

análise até a níveis de salário [13,14].<br />

Quanto ao nível de ocupação, os pais das<br />

adolescentes de nível sócio-econômico alto (NSEA),<br />

desempenharam atividades determinadas na classe 1<br />

(49%) - engenheiro, nutricionista, médico, professores<br />

universitários, advogados, dentistas -, enquanto 42%<br />

e 34% do nível sócio-econômico baixo (NSEB),<br />

encontram-se nas classes 5 e 9 do imposto de renda,<br />

tendo como ocupação porteiro, pensionista,<br />

empregada doméstica, diarista e motorista (fig.1).<br />

Através dos resultados encontrados no presente<br />

trabalho, percebe-se que quanto melhor o nível de<br />

escolaridade dos pais das adolescentes, melhor a<br />

estratificação social em que estas se encontram, uma<br />

vez que o nível de ocupação é condizente com grau<br />

de instrução.<br />

Para Forbes [15] e Garn et al. [13], um amplo<br />

aspecto de variáveis atua nas relações do indivíduo<br />

com o alimento, destacando-se, entre outros, a renda,<br />

a composição e tamanho da família, as condições de<br />

habitação, saneamento básico e promiscuidade.<br />

São relevantes, ainda, os fatores culturais<br />

(hábitos, crenças, tabus), emocionais (estresse) e<br />

biológicos (presença de doenças, gravidez ou lactação).<br />

Ainda a atividade física, o sono, as drogas como o<br />

álcool e a influência da propaganda, vão atuar sobre<br />

os potenciais de crescimento e desenvolvimento na<br />

vida adulta.<br />

Observou-se no estudo de Oliveira et al. [12],<br />

que 61% das adolescentes de nível sócio-econômico<br />

baixo apresentavam 5, 6 ou mais de 6 pessoas na<br />

mesma residência e que 71% do NSEA apresentavam<br />

famílias com 2, 3 e 4 membros. Esses achados são<br />

importantes, porque é encontrado respaldo na<br />

literatura, que a composição e tamanho da família são<br />

variáveis que atuam nas relações do indivíduo com o<br />

alimento.<br />

Assim, para Monteiro et al. [14], a renda é um<br />

dos determinantes mais poderosos. Dela origina-se a<br />

estratificação em níveis sócio-econômicos,<br />

influenciando a atuação dos demais fatores, podendo<br />

ser elemento de interferência direta, facilitando ou<br />

dificultando o acesso aos bens e aos serviços. Cook et<br />

al. [16] em seus estudos, demonstraram que crianças<br />

de baixo nível sócio-econômico e famílias numerosas<br />

tinham estaturas mais baixas, devido à dieta<br />

inadequada, com reflexos na adolescência e na idade<br />

adulta, em função da necessidade de maior divisão da<br />

renda já precária.<br />

Na fig. 2 pode-se observar que arroz, feijão e<br />

açúcar foram os alimentos mais citados como de<br />

consumo diário pelo grupo de nível sócio-econômico<br />

baixo. O leite foi bastante superior para nível sócioeconômico<br />

alto, com 81% das adolescentes<br />

mencionando que o ingeriam diariamente. Sucos<br />

artificiais de frutas e refrigerantes obtiveram o mesmo<br />

percentual de 23% para NSEA, enquanto que 52%<br />

das adolescentes NSEB faziam consumo diário do<br />

primeiro. Fígado, frango e ovos foram referidos<br />

somente pelas adolescentes de nível sócio-econômico<br />

baixo. Os vegetais mencionados pelas adolescentes<br />

de 11 a 14 anos como de freqüência diária, foram<br />

tomate, por 24% das alunas do NSEB, e alface (16%)<br />

para o NSEA. Ainda, na fig. 2, observa-se que 41%<br />

das adolescentes NSEB e 29% NSEA mencionaram<br />

ingerir diariamente banana e maçã, respectivamente.<br />

Quanto a outros tipos de alimentos mais citados pelas<br />

adolescentes, foram Nescau para NSEA e sorvete para<br />

o NSEB. Para Marino & King [17], os hábitos<br />

Fig. 1 - Percentual dos pais das adolescentes de 11 a 18 anos, de situação sócio-econômica diferenciada,<br />

frente ao nível de ocupação.<br />

71


72<br />

alimentares dos adolescentes baseiam-se em refeições<br />

rápidas e alimentos que poderiam levar a um<br />

desequilíbrio na dieta e, conseqüentemente, a um<br />

estado nutricional inadequado.<br />

Através da fig. 2, vê-se que a distribuição<br />

percentual de freqüência diária da ingestão de leite é<br />

cerca de 81% vs. 35% para as adolescentes de 11 a 14<br />

anos NSEA e NSEB, respectivamente.<br />

Para Greenwood & Richardson [18], os hábitos<br />

alimentares são geralmente desenvolvidos na infância<br />

e, sobretudo, na adolescência, embora a casa e a escola<br />

influenciem no consumo alimentar da criança.<br />

Contudo, cada vez mais os adolescentes estão sendo<br />

constantemente influenciados por propaganda e<br />

modismo, que interferem na formação de seus hábitos<br />

alimentares [3].<br />

A fig. 3 também demonstra que as adolescente<br />

de 15 a 18 anos de nível sócio-econômico baixo,<br />

citaram como os alimentos de maior consumo diário<br />

o arroz, açúcar e feijão. Porém, pão e leite foram<br />

mencionados por um número expressivo de<br />

adolescentes do NSEA. Refrigerantes e suco artificial<br />

de frutas apresentaram o mesmo percentual (17%)<br />

para este mesmo colégio.<br />

Mas o consumo de refrigerantes foi superior para<br />

NSEB, com 41% das alunas entrevistadas fazendo sua<br />

ingestão diariamente. Para outros tipos de alimentos<br />

ingeridos nesta faixa etária de 15 a 18 anos, foram<br />

avaliados o Nescau com 28% para NSEA e<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

salgadinhos com 14% das meninas NESB,<br />

consumindo-os diariamente. Os vegetais tomate e<br />

alface apresentaram o mesmo percentual de estudantes<br />

(14%), ressaltando o seu consumo diário para o NSEA<br />

e NSEB, respectivamente. Estudos feitos em alguns<br />

países da Europa mostraram que a classe socialmente<br />

privilegiada demonstrava preferência por alimentos<br />

como frutas e vegetais. Na classe social baixa a<br />

preferência é maior por alimentos fritos do que aos<br />

cozidos [19].<br />

Um estudo de coorte com 4.760 adolescentes<br />

do Reino Unido, observou que a proteína contribuía<br />

com 12,5% do valor calórico total, sendo que a<br />

principal fonte eram as carnes e produtos derivados<br />

(33%), seguidos dos cereais (24%) e derivados e leite<br />

e produtos lácteos (15%) [20].<br />

Através do método recordatório de 24 horas, observou-se<br />

que o consumo médio de energia, de proteína de<br />

alto valor biológico, de carboidratos e de lipídeos das<br />

adolescentes de nível sócio – econômico alto e baixo,<br />

diferiram estatisticamente, entre si (tabela I).<br />

Na tabela I encontram-se os valores médios dos<br />

macronutrientes consumidos pelas adolescentes de 11<br />

a 18 anos. As necessidades de energia preconizadas<br />

pelas FNB/NRC/RDA/1989, não foram atingidos<br />

pelas meninas com o valor energético médio de 2.114<br />

e 1.435 kcal (NSEA e NSEB), respectivamente.<br />

Verifica-se que as adolescentes de nível sócio-econômico<br />

privilegiado apresentaram melhor ingestão<br />

Fig. 2 - Distribuição percentual de freqüência alimentar diária de adolescentes de 11 a 14 anos, de situação<br />

sócio - econômica diferenciada.


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Tabela I - Ingestão de energia e de macronutrientes<br />

pelas adolescentes de situação sócio-econômica<br />

diferenciada, de acordo com o recordatório de 24<br />

horas (Média ± DP).<br />

Nutrientes NSEA NSEB µ=0,05%<br />

Média DP Média DP (p)<br />

VET(Kcal) 2.114 1.337 1.435 1.101 0,00*<br />

Proteína (g) 86,8 56,7 63,7 69,0 0,06<br />

PTN/AVB (g) 56,4 38,3 34,8 34,7 0,00*<br />

Carboidrato (g) 273,3 177,9 192,0 15,5 0,00*<br />

Lipídeo (g) 74,9 55,4 45,836,7 0,00*<br />

Colesterol (mg) 197,6 96,5 184,4 118,6 0,35<br />

Nota: NSEA= Nível sócio-econômico alto; NSEB= Nível sócioeconômico<br />

baixo; DP= Desvio padrão; PTN/AVB = Proteína de<br />

alto valor biológico; VET = Valor energético total.<br />

energética total, do que as de baixo nível sócioeconômico.<br />

Deve-se salientar que a média do valor energético<br />

total (VET) das adolescentes de nível sócio-econômico<br />

baixo, foi bem discrepante em relação aos valores<br />

estipulado pelo NRC/RDA/1989 para este período<br />

de vida (2.100 a 2.200 kcal/dia). E somente 67% desta<br />

necessidade energética, foi atingida pelas adolescentes<br />

dos colégios NSEB. As adolescentes do NSEA<br />

estavam de acordo com o valor recomendado para<br />

esta faixa etária.<br />

A ingestão protéica da dieta sempre vem sendo<br />

associada às condições sócio-econômicas, pelo fato<br />

dos alimentos fonte, particularmente das proteínas de<br />

alto valor biológico (de origem animal), serem mais<br />

caros e de difícil acesso à população de baixa renda<br />

[2]. Uma grande percentagem das adolescentes de nível<br />

sócio-econômico baixo faz uso de feijão e arroz, que<br />

parecem estar contribuindo como a principal fonte<br />

de proteínas nas suas dietas diariamente. No Brasil,<br />

Saito et al. [21], num estudo sobre a visão<br />

multiprofissional de adolescentes obesos, relataram<br />

que pão, bolachas, sanduíches, chá, café, salgadinhos<br />

(coxinhas e pastéis), sucos artificiais, sorvete e<br />

batatas fritas são os alimentos mais consumidos por<br />

este grupo. As hortaliças, feijão e leite foram os<br />

menos freqüentes, ao contrário do que se observou<br />

no presente estudo, em relação ao leite e ao feijão.<br />

O tomate, o alface e a batata inglesa foram citados<br />

por um percentual pequeno de adolescentes, como<br />

alimentos de consumo diário.<br />

A gordura na dieta é encontrada, tanto nos<br />

alimentos de origem vegetal como animal. As<br />

gorduras saturadas estão comumente presentes nos<br />

diferentes tipos de carnes (vermelhas, de algumas partes<br />

da carne de frango) e nos produtos lácteos (queijo,<br />

manteiga e leite integral). Os lipídeos poliinsaturados<br />

estão nos óleos vegetais, como o de amendoim, de soja,<br />

de algodão, de milho, de girassol e naqueles usados para<br />

produção de margarinas. As gorduras monoinsaturadas<br />

estão presentes nas azeitonas, no azeite, óleo de canola,<br />

amêndoas, avelãs e abacate.<br />

Por outro lado, dada as constantes associações<br />

da ingestão lipídica com o desenvolvimento de<br />

doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer, as<br />

recomendações atuais são no sentido de reduzir a<br />

quantidade deste nutriente na dieta. Conforme WHO<br />

(1990), a quantidade de lipídios não deve ultrapassar<br />

30% do valor energético total, dando preferência às<br />

gorduras monoinsaturados.<br />

Como comprova a tabela II, pode-se ver que a<br />

Fig. 3 - Distribuição percentual de freqüência alimentar diária de adolescentes de 15 a 18 anos, de situação<br />

sócio - econômica diferenciada.<br />

73


74<br />

quantidade de folato ingerido (157µg<br />

± 118,1) vs. (142,3 µg ± 101,9), pelas<br />

adolescentes de 11 a 18 anos, foi menor<br />

do que o recomendado. Atualmente a<br />

inadequação dietética de folato vem<br />

sendo extensamente estudada por duas<br />

razões principais. Primeiramente, pelo<br />

fato do ácido fólico ser indispensável<br />

no processo de divisão, crescimento e<br />

diferenciação celular do feto. A<br />

deficiência de ácido fólico no primeiro<br />

mês de gravidez pode levar a formação<br />

defeituosa do tubo neural, que pode ser<br />

acompanhada por hidrocefalia [22,23].<br />

A segunda razão está na síntese<br />

de metionina pela homocisteína, já que o ácido fólico<br />

é um cofator da metionina sintetase, enzima que<br />

converte homocisteína em metionina.<br />

Conseqüentemente a inadequada ingestão de ácido<br />

fólico pode levar a hiperhomocisteinemia com efeitos<br />

tóxicos, principalmente para as células nervosas [24].<br />

Portanto, a fortificação de alimentos<br />

(principalmente cereais) com ácido fólico vem sendo<br />

realizada na Alemanha, Estados Unidos e em outros<br />

países, como forma de oportunizar um consumo<br />

adequado de folato para mulheres antes mesmo da<br />

concepção [24,22]. Inclusive a fortificação de ácido<br />

fólico na farinha de trigo já vem sendo feita no Brasil.<br />

Deve-se ressaltar que vem cada vez mais aumentando<br />

o número de adolescentes que engravidam e,<br />

geralmente, elas não planejam suas gravidezes.<br />

A outra razão para um estudo mais minucioso<br />

sobre a inadequação dietética de folato é que a<br />

hiperhomocisteinemia está também associada a<br />

agregação plaquetária, levando ao desenvolvimento<br />

precoce da aterosclerose, aumentando o risco de<br />

doenças cardiovasculares [25,23]. Portanto, este<br />

nutriente merece especial atenção na prevenção de<br />

futuros problemas cardiovasculares.<br />

A ingestão de vitamina C, em ambos os colégios,<br />

está acima das recomendações nutricionais, segundo<br />

a FNB/NRC/RDA/1989.<br />

As necessidades de vitaminas para os<br />

adolescentes são grandes, principalmente no período<br />

do estirão de crescimento. As vitaminas tiamina,<br />

riboflavina e niacina têm funções reconhecidas no<br />

metabolismo celular, sendo suas recomendações<br />

relacionadas àquelas da ingestão energética [3]. Em<br />

virtude de maior demanda de energia nesta fase da<br />

vida, as recomendações de niacina, riboflavina e<br />

tiamina estão aumentadas. São consideradas boas<br />

fontes destas vitaminas feijão, carne de frango e fígado.<br />

Ainda, analisando a tabela II, pode-se verificar<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Tabela II - Ingestão de vitaminas e minerais pelas adolescentes<br />

de situação sócio-econômica diferenciada, de acordo com o<br />

recordatório de 24 horas (Média ± DP).<br />

Nutrientes NSEA NSEB µ=0,05%<br />

Média DP Média DP (p)<br />

Ácido ascórbico (mg) 168,9 132,8 141,0 83,3 0,07<br />

Tiamina (mg) 1,0 6,03 0,7 0,5 0,00*<br />

Riboflavina (mg) 1,1 0,80,7 0,6 0,00<br />

Niacina (mg) 16,2 5,4 1,61 5,6 0,87<br />

Folato (mg) 157,0 118,1 142,3 101,9 0,33<br />

Cálcio (mg) 1.072,1 1.563,4 755,7 273,3 0,05*<br />

Ferro (mg) 17,9 6,50 14,9 6,0 0,09<br />

Zinco (mg) 13,5 6,1 12,6 4,80,23<br />

Nota: NSEA = Nível sócio-econômico alto; NSEB= Nível sócio-econômico<br />

baixo; DP = Desvio padrão; VET = Valor energético total.<br />

que as vitaminas tiamina (1,0 mg vs. 0,7 mg) e<br />

riboflavina (1,1 mg vs. 0,7 mg) apresentaram valores<br />

estatisticamente significativos entre os grupos de níveis<br />

sócio-econômicos alto e baixo, respectivamente.<br />

A necessidade de minerais aumenta bastante<br />

durante a fase do estirão da adolescência, sobretudo<br />

de cálcio, ferro e zinco; o cálcio devido ao aumento<br />

na massa esquelética, o ferro devido à expansão da<br />

massa muscular e volume sangüíneo e perdas<br />

menstruais no sexo feminino e o zinco pela<br />

regeneração, tanto da massa esquelética quanto da<br />

massa muscular, além das recentes evidências do seu<br />

papel essencial nos processos de crescimento<br />

[26,17,27].<br />

Verifica – se na tabela de ingestão de vitaminas<br />

e minerais, que o consumo de cálcio é<br />

significativamente diferente, em ambos níveis sócioeconômicos.<br />

Os valores médios encontrados para as<br />

quantidades de cálcio ingeridas estão muito aquém<br />

do recomendado, segundo FNB/NRC/RDA/1989.<br />

Para Veiga [2], o cálcio e o ferro merecem<br />

maiores investigações diante da importância da<br />

ingestão adequada destes minerais para a prevenção<br />

de osteoporose em idades mais avançadas, e de<br />

anemias na adolescência, respectivamente. Ainda<br />

segundo Meredith & Dwyer [28], aproximadamente<br />

1/4 da energia ingerida pelos adolescentes provém<br />

de alimentos que são pobres em vitaminas e minerais,<br />

tais como refrigerantes, doces, balas e outros alimentos<br />

altamente calóricos e de baixa densidade nutricional.<br />

Todavia, nenhuma das adolescentes de alto e<br />

baixo nível sócio-econômico, apresentaram adequada<br />

ingestão de cálcio. O consumo de cálcio pelas<br />

adolescentes do colégio de nível sócio-econômico<br />

desprivilegiado, foi abaixo de 2/3 das recomendações<br />

pela FNB/NRC/RDA/1989. Isto leva a crer,<br />

provavelmente, no baixo consumo dos alimentos<br />

fontes de cálcio e seus derivados.


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Existem muitos dados na literatura afirmando<br />

que o ferro se relaciona, sobretudo, com a expansão<br />

do volume sangüíneo e o incremento da massa<br />

muscular na adolescência. A inadequação dietética de<br />

ferro reflete-se na alta prevalência da anemia entre<br />

adolescentes de todos os níveis sócio – econômicos,<br />

principalmente os de situação mais baixa [27]. Para as<br />

adolescentes, é preciso levar em conta as perdas<br />

menstruais de 1,4 mg de ferro por dia. Portanto, a<br />

partir da menarca, as necessidades de ferro para o sexo<br />

feminino tornam – se maiores [27]. É sabido que a<br />

carne é a principal fonte de ferro (fígado, frango ou<br />

aves, peixes e carnes vermelhas). A carne e os<br />

alimentos ricos em ácido ascórbico aumentam a<br />

absorção de ferro dos alimentos.<br />

Os estudos dietéticos, geralmente, apresentam<br />

como objetivo principal caracterizar o consumo usual<br />

de alimentos e nutrientes de um indivíduo, ou de um<br />

grupo populacional, tentando possibilitar o<br />

conhecimento de suas inadequações e, a partir daí,<br />

fazer as intervenções nutricionais necessárias [29-32].<br />

Conclusão<br />

Pode-se afirmar, após concluir este estudo, que<br />

os pais das adolescentes com melhor nível de<br />

escolaridade apresentaram melhor posição no<br />

mercado de trabalho; o recordatório alimentar de 24<br />

horas demonstrou que o cálcio dietético ficou aquém<br />

do estipulado pela NRC/RDA/1989, principalmente<br />

para as adolescentes de nível sócio-econômico<br />

desprivilegiado. Foi encontrada baixa ingestão de ferro,<br />

frente ao recordatório de 24 horas para as adolescentes<br />

de nível sócio-econômico baixo, não sendo observado<br />

para as meninas de situação sócio-econômica alta; os<br />

alimentos consumidos diariamente por uma grande<br />

percentagem de adolescentes de 11 a 14 e 15 a 18<br />

anos de nível sócio-econômico baixo foram arroz,<br />

feijão e açúcar, enquanto que um maior percentual de<br />

meninas de 11 a 14 e 15 a 18 anos de nível sócioeconômico<br />

alto referiram ingerir leite diariamente.<br />

Defronte aos resultados, espera-se que este estudo<br />

venha contribuir para despertar interesse para novas<br />

pesquisas, com perspectivas de elaborar diagnóstico e<br />

medidas de intervenção nutricional, que visem à<br />

melhoria das condições de saúde desta faixa etária.<br />

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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Efeito antioxidante das vitaminas A, C, E<br />

e aterogênese<br />

Anti-oxidant effect of vitamins A, C, E and aterogenesis<br />

Rejane Andréa Ramalho * , Elizabeth Accioly ** , Marta Maria Souza Santos *** , Mirian Ribeiro Baião *** ,<br />

Mirian Martins Gomes **** , Bianca Amaral dos Santos Silva **** , Lívia Maria da Silva *****<br />

* Professora Titular do Departamento de Nutrição Social e Aplicada do Instituto de Nutrição da UFRJ – DNSA/IN/UFRJ, Doutora em<br />

Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública – FIOCRUZ, Diretora do Instituto de Nutrição da UFRJ, ** Professora Adjunta do<br />

Departamento de Nutrição e Dietética/IN/UFRJ, Doutora em Ciências pela UNIFESP/EPM, *** Professora Assistente do DNSA/<br />

IN/UFRJ, Mestre em Nutrição Humana pela UFRJ, **** Nutricionista da Maternidade Escola/UFRJ e Aperfeiçoanda pelo Grupo de<br />

Pesquisa em Vitamina A (GPVA) IN/UFRJ, ***** Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica pela Universidade Gama Filho<br />

Resumo<br />

As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morbidade e mortalidade nos países desenvolvidos e em<br />

segmentos cada vez mais crescentes dos países em desenvolvimento. Sua associação com os estilos de vida do mundo<br />

moderno é indiscutível, com especial destaque aos fatores dietéticos antioxidantes. A teoria sobre a formação de depósitos de<br />

placas ateromatosas nas paredes vasculares, responsáveis por grande parte dos eventos cardiovasculares adquiridos, repousa,<br />

na atualidade, no conceito da oxidação de estruturas lipídicas do plasma e das membranas celulares, por substâncias altamente<br />

reativas chamadas radicais livres. Além de defesas antioxidantes naturais de que dispõe o organismo humano, evidências têm<br />

apontado um papel anti-radicais livres de vários componentes dietéticos, especialmente as vitaminas A, C e E. Apesar das<br />

controvérsias sobre o uso em larga escala dessas vitaminas, os autores são concordantes na recomendação de um maior<br />

consumo de hortaliças e frutas, que poderão prover não apenas estes nutrientes, mas também outras substâncias com possível<br />

papel antioxidante.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: antioxidantes, radicais livres, doença cardiovascular, vitaminas, dieta.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

u Título abreviado: Vitaminas antioxidantes e aterogênese<br />

Artigo recebido em 20 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Andréa Ramalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro,<br />

Centro de Ciências da Saúde, Bloco J, 2º andar, Gabinete da Direção, Ilha do Fundão, 21944-050 Rio de Janeiro RJ.<br />

Tel: (21)2562-6599, E-mail: aramalho@rionet.com.br<br />

77


78<br />

Introdução<br />

As enfermidades do coração, principalmente as<br />

degenerativas, podem gerar seqüelas graves, com<br />

diminuição da qualidade e o tempo de vida do<br />

indivíduo acometido, figurando entre as principais<br />

causas de morbidade mundial [1]. As suas formas<br />

mais freqüentes são as doenças coronarianas e<br />

acidentes vasculares cerebrais, que se caracterizam<br />

por obstrução da luz dos vasos sangüíneos por<br />

depósitos de colesterol que perdem, assim, a sua<br />

elasticidade, com modificações da estrutura das<br />

camadas média e íntima das artérias [2,3], como<br />

conseqüência da aterosclerose.<br />

A aterosclerose é uma patologia que acomete<br />

grande parte da população mundial, associada a vários<br />

fatores de risco, como por exemplo: o sedentarismo,<br />

o tabagismo, a hipertensão, o alto consumo de gordura,<br />

principalmente as saturadas e o baixo consumo de<br />

frutas e vegetais [4].<br />

Estudos epidemiológicos [5], ressaltam que a<br />

doença coronária seja responsável por grande parte<br />

da mortalidade em países desenvolvidos, e isto se deve,<br />

principalmente, à dieta da qual a população<br />

freqüentemente faz uso. A patogenia inicia-se desde a<br />

infância, sendo a alimentação adequada considerada<br />

fator de proteção contra o desenvolvimento do<br />

processo no indivíduo adulto [6]. A formação da placa<br />

ateromatosa na fase adulta, é atualmente concebida<br />

como resultado da oxidação de estruturas lipídicas<br />

plasmáticas e de membranas por substâncias altamente<br />

reativas denominadas radicais livres (RL) ou espécies<br />

ativas de oxigênio (EAO). Para contrabalançar a<br />

produção de radicais livres, o organismo lança mão<br />

de mecanismos de defesa, os chamados antioxidantes,<br />

dos quais algumas vitaminas fazem parte. Quando há<br />

um aumento de níveis de radicais livres, seja por<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Abstract<br />

The cardiovascular diseases represent the main cause of morbimortality in the developed and developement countries.<br />

Cardiovascular diseases are associated to life style and the anti-oxidants dietary factors as the A, C and E vitamins. Over the<br />

past 15 years, considerable advances have been made in the understanding of atherosclerotic plaques. It should be emphasized<br />

that these plaques are evolved with plasmatic lipid oxidation and free radicals. There is recent demonstration of the antioxidant<br />

actions of the A, C and E vitamins of diet complementations, as auxiliar in the human organism defenses. As the<br />

result of large use of these vitamins are unclear, the investigators prefer to recommend a larger intake of vegetables and<br />

fruits in order to increase all types of dietary anti-oxidants factors.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: anti-oxidants, free radicals, cardiovascular , diseases, vitamins, diet.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

produção aumentada ou por diminuição de<br />

antioxidantes disponíveis, ocorre um estado de estresse<br />

oxidativo, o que acarreta em lesão tissular [7].<br />

Estudos ressaltam a importância da ingestão de<br />

frutas e vegetais, pois neles encontram-se as vitaminas<br />

antioxidantes, em especial as vitaminas C, E e A,<br />

incluindo seus precursores [7-12].<br />

Diante de tais evidências, este trabalho propõe<br />

revisar o papel dos antioxidantes no combate aos<br />

radicais livres, assim como a participação das vitaminas<br />

A (incluindo o b-caroteno), C e E, na prevenção das<br />

doenças cardiovasculares (DCV).<br />

Os antioxidantes<br />

Os antioxidantes atuam em diferentes estágios<br />

da seqüência oxidativa, em especial sobre a oxidação<br />

lipídica na membrana celular e em produtos ricos em<br />

lipídios [13]. Também atuam na remoção de oxigênio<br />

ou decréscimo da concentração de oxigênio local;<br />

remoção catalítica de íons metais; remoção das<br />

espécies de oxigênio como o superóxido de<br />

hidrogênio; inibição da formação dos RL como<br />

hidroxil, alcoxil e espécie peroxil; quebra da cadeia no<br />

início da seqüência; varredura do oxigênio singlet.<br />

De acordo com a sua localização, são divididos<br />

em antioxidantes celulares (localizados no interior da<br />

célula), antioxidantes de membrana e antioxidantes<br />

extra-celulares.<br />

Sabe-se que o bloqueio em algum dos passos de<br />

formação dos RL promove conseqüências benéficas<br />

em outros pontos de EAO, pois anula outras reações<br />

em cascata, formadoras de mais espécies ativas na<br />

seqüência [14], além de facilitar o trabalho do sistema<br />

antioxidante que está encarregado de desativar as EAO,


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

quando formadas anteriormente [15]. Os escapes de<br />

EAO que persistem são, assim, controlados com mais<br />

segurança [16].<br />

Os antioxidantes biológicos podem exibir dois<br />

modos distintos de ação contra as EAO: como<br />

inibidores da síntese de EAO ou como inativadores das<br />

espécies já formadas [14]. A inibição é um processo<br />

que se dá em vias enzimáticas específicas, pelas quais<br />

se pode controlar a geração explosiva de RL [17,16].<br />

A inativação de espécies radicais já formadas é,<br />

no entanto, o processo antioxidante mais usual [14],<br />

seja por catálise enzimática ou por combinação desta<br />

com a ação dos varredores exógenos. Estes são<br />

compostos altamente hábeis em liberar de suas<br />

moléculas elétrons ou átomos completos de<br />

hidrogênio que, assim, estabilizam prontamente as<br />

espécies reativas [15].<br />

O rol de substâncias envolvidas na ação<br />

inativadora das EAO, compõe um sofisticado aparato<br />

de proteção, que recebe denominações diversas:<br />

substâncias antioxidantes, agentes anti-radicais livres,<br />

varredores de RL ou “oxidant scavengers” [16].<br />

Fatores antioxidantes dietéticos<br />

Além do aparato enzimático, o sistema<br />

antioxidante dispõe de meios complementares<br />

exógenos, destacando-se principalmente as vitaminas<br />

(C, E e A), que possibilitam amplificar as ações no<br />

combate às espécies ativas de oxigênio (EAO), atuando<br />

de modo altamente cooperativo entre si, destacandose<br />

tanto no mecanismo varredor como no aspecto<br />

farmacodinâmico [17,14].<br />

Por serem micronutrientes essenciais, seu<br />

suprimento deve ser feito através da dieta [15].<br />

Felizmente esses nutrientes são largamente<br />

encontrados nos alimentos, especialmente nos frutos<br />

e partes folhosas verdes [14].<br />

Diferentemente das enzimas, regeneráveis ao fim<br />

de uma reação, as vitaminas, em alguns casos, quando<br />

reagem com um RL, são inativadas (consumidas) no<br />

processo [15]. Comumente, uma molécula vitamínica<br />

interage com uma molécula de RL. Essa reação de<br />

1:1, configura uma reação balanceada, onde os<br />

reagentes têm suas concentrações proporcionais [16].<br />

Nesse caso podemos, então, classificar tais varredores<br />

de radicais livres de oxigênio (RLO) como varredores<br />

estequiométricos, por respeitarem uma relação<br />

estequiométrica (entre o números de moléculas) no<br />

mecanismo de reação [15].<br />

São exemplos de varredores estequiométricos a<br />

vitamina E (tocoferóis), que inativa-se ao combinar<br />

com um RL (relação 1:1), transformando-se em<br />

tocoferilquinina [14]. Esta é, contudo, regenerável na<br />

presença de vitamina C. A presença de longa cadeia<br />

carbonada na molécula do a-tocoferol propicia-lhe o<br />

passaporte da lipofilia. É por este motivo que a<br />

vitamina E pode integrar-se às estruturas<br />

membranárias fosfolipídicas, exercendo aí sua decisiva<br />

ação antilipoperoxidativa.<br />

A conhecida inter-relação vitamina E/Selênio<br />

origina-se da estreita participação que ambos detêm<br />

no sistema antilipoperoxidativo. O selênio é o cofator<br />

da enzima glutation-peroxidase, que inativa os<br />

peróxidos lipídicos e a vitamina E. É também um<br />

agente redutor que atua complementando esse<br />

mecanismo, inativando os radicais peróxidos pela<br />

pronta cessão de hidrogênio àqueles compostos.<br />

A vitamina C (ácido ascórbico) é o mais<br />

hidrossolúvel antioxidante e primeiro na defesa contra<br />

os RL no plasma [18,19]. Nas reações de inativação<br />

de RL cede rapidamente hidrogênio e forma, por sua<br />

vez, ácido dehidroascórbico (a sua forma oxidada). O<br />

ácido dehidroascórbico pode ser regenerado pelo<br />

sistema redox da glutation-redutase, configurando a<br />

este mecanismo, um ciclo complexo, eficiente e<br />

cooperativo entre os varredores de RL [14].<br />

A vitamina A e o b-caroteno, varredores de RLO<br />

altamente eficientes, não são estequiométricos. Sua<br />

ação desenvolve-se, principalmente, na inativação do<br />

oxigênio singlet [15]. O modo de inativação desta<br />

espécie ativa de oxigênio pelas moléculas isoprenóides,<br />

como o retinol e o b-caroteno, dá-se por um<br />

mecanismo físico e não químico. Tais retinóides se<br />

caracterizam por exibir isomeria geométrica do tipo<br />

cis-trans. O oxigênio singlet é uma molécula energética<br />

e pode transferir sua energia no processo de<br />

isomerização da cadeia isoprenóide da vitamina A e<br />

b-caroteno. Assim, os retinóides podem ser<br />

convertidos da forma cis à forma trans pela energia do<br />

oxigênio singlet e, inversamente, pela energia de outro<br />

oxigênio singlet num ciclo contínuo [15]. Um grande<br />

número dessa espécie ativa pode, assim, ser inativado<br />

por uma só molécula de um retinóide [14]. Pelo seu<br />

peculiar modo de ação, tais substâncias podem ser<br />

denominadas de varredores isoméricos [16].<br />

A cadeia isoprenóide dos retinóides é, contudo,<br />

altamente lábil pelo grande número de insaturações<br />

que apresenta, podendo sofrer com facilidade as ações<br />

da peroxidação em sua própria molécula. Dessa forma,<br />

a vitamina E novamente exerce outra ação cooperativa<br />

de grande importância: ela protege a vitamina A e<br />

outros retinóides da degradação, impedindo a<br />

peroxidação de sua cadeia carbônica insaturada,<br />

aumentando a eficiência vitamínica de varredura de<br />

tais compostos [16].<br />

79


80<br />

Ação antioxidante das vitaminas A, C e E:<br />

achados epidemiológicos<br />

O interesse pela ação antioxidante de<br />

componentes da dieta é notoriamente crescente nos<br />

últimos anos, com especial ênfase às vitaminas A, C e<br />

E. Os achados epidemiológicos, até então acumulados,<br />

reportam-se a estudos com diferentes metodologias,<br />

empregando-se desde a observação da ingestão usual,<br />

o emprego de doses fisiológicas ou algumas vezes<br />

acima das recomendações nutricionais vigentes, ou até<br />

mesmo níveis plasmáticos destas substâncias.<br />

Parcela expressiva dos autores só aponta<br />

benefícios em grupos que receberam vitaminas sob<br />

forma de suplementos. Sing et al. [20], em estudo casocontrole<br />

com pacientes hindus hospitalizados até 24<br />

horas após sintomas sugestivos de infarto agudo do<br />

miocárdio, concluíram que a administração de<br />

vitaminas A, C e beta-caroteno poucas horas após o<br />

início do quadro, associou-se a um significante declínio<br />

de complicações, incluindo morte cardíaca e recidiva<br />

de infarto e de indicadores enzimáticos de necrose<br />

cardíaca no grupo suplementado, em comparação aos<br />

que não receberam o suplemento. Segundo os autores,<br />

os resultados indicam que em pacientes com alto risco<br />

de DCV, o tratamento com antioxidantes reduz os<br />

riscos nas primeiras semanas e em períodos<br />

posteriores, e que as vitaminas antioxidantes podem<br />

prover proteção contra complicações como arritmias,<br />

angina pectoris e eventos cardíacos relacionados à<br />

disfunção miocárdica além de, possivelmente,<br />

trombose arterial coronariana.<br />

Estudo realizado por Slattery et al. [21], com<br />

pessoas jovens e saudáveis, ao avaliar a ingestão de<br />

vitaminas antioxidantes a partir de doses<br />

suplementares, os níveis de HDL (Lipoproteina de<br />

Alta Densidade) e sua associação com a prevenção de<br />

doenças coronarianas, concluiu que os antioxidantes<br />

estão positivamente associados aos níveis de colesterol<br />

HDL, embora esta associação possa estar operando<br />

em conjunto com outros estilos de vida.<br />

Resultados de estudos com mulheres portadoras<br />

de doenças coronarianas, alternando-se dose de bcaroteno<br />

(50mg) e vitamina E (600mg), assim como<br />

combinação de b-caroteno, vitaminas E e C,<br />

apontaram evidências confiáveis e diretas a respeito<br />

do papel das vitaminas antioxidantes na prevenção<br />

primária e secundária de doenças cardiovasculares em<br />

mulheres [22]. Entretanto, tais evidências parecem<br />

mais consistentes para a vitamina E, do que para bcaroteno<br />

ou vitamina C [8].<br />

A deficiência de vitamina E tem sido associada<br />

a um aumento da viscosidade das plaquetas do sangue,<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

predispondo à formação de coágulos potencialmente<br />

fatais. A vitamina E é apontada como o mais<br />

importante antioxidante endógeno para a lipoproteína<br />

de baixa densidade (LDL) e, por essa razão, sugere-se<br />

que ela pode conferir proteção contra o<br />

desenvolvimento e formação da aterosclerose pela<br />

redução do potencial de oxidação da LDL [23,24].<br />

Killion et al. [25] demonstraram que o<br />

metabolismo da vitamina E está alterado nos pacientes<br />

com várias manifestações de aterosclerose, suportando<br />

a hipótese de que o mecanismo dos RL está envolvido<br />

no processo aterosclerótico.<br />

Steiner et al. [26] constataram redução<br />

significativa na incidência de eventos isquêmicos em<br />

pacientes com uso simultâneo de vitamina E e aspirina,<br />

comparados com grupos de pacientes que receberam<br />

somente aspirina, concluindo os autores pela eficácia<br />

desta combinação na prevenção de ataques isquêmicos<br />

e outros problemas cérebro-vascular-isquêmicos.<br />

A combinação da pró-vitamina A com outros<br />

fatores também demonstrou resultados positivos.<br />

Steinberg [27] encontrou redução de 30 a 40% de<br />

doença coronariana em indivíduos com alta ingestão<br />

de vitamina E e b-caroteno. Apesar de resultados ainda<br />

controversos, Frei [28] considera que os dados<br />

epidemiológicos já acumulados têm demonstrado<br />

diminuição do risco de DCV com o aumento da<br />

ingestão de b-caroteno, podendo este atuar como fator<br />

anti-aterogênico, através de diferentes mecanismos<br />

relacionados não apenas à proteção contra oxidação<br />

da LDL: elemento imprescindível na formação da<br />

placa de ateroma, mas também pelo aumento dos<br />

níveis séricos de HDL ou, ainda, pela inibição da<br />

proliferação de células musculares lisas na camada<br />

íntima arterial.<br />

O aumento da ingestão de vitamina C também<br />

tem sido associado à diminuição substancial da<br />

mortalidade por DCV. Sahyoun et al. [5], em estudo<br />

com idosos variando entre 60 e 101 anos, durante 12<br />

anos, encontraram relação inversa entre vitamina C<br />

plasmática e ingestão total de vitamina C, com a<br />

mortalidade por todas as causas e as mortes por DCV.<br />

Em outros estudos, porém, esta vitamina encontra-se<br />

combinada com a vitamina E e b-caroteno, o que<br />

aumenta o poder anti-oxidante da mistura e,<br />

conseqüentemente, seu papel protetor sobre o sistema<br />

vascular [5,20,29].<br />

Estudos demonstraram níveis celulares de ácido<br />

ascórbico inferiores em indivíduos portadores de DCV<br />

em comparação a indivíduos saudáveis [5,20].<br />

Demonstrou ainda que pacientes pós-cirúrgicos, que<br />

receberam doses suplementares de ácido ascórbico<br />

(1g/dia), desenvolveram um número de coágulos fatais


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

em número significativamente menor quando<br />

comparados ao grupo controle.<br />

Fang et al. [30], constataram redução da<br />

arteriosclerose coronariana, associada a transplantes<br />

cardíacos em mais de 70% dos receptores que<br />

consumiam suplemento de vitaminas C e E,<br />

acreditando que a terapia anti-oxidante poderia<br />

beneficiar pacientes submetidos a transplantes de<br />

outros órgãos.<br />

Estudos realizados com pessoas residentes em<br />

Toulouse e Belfast, concluíram que os habitantes da<br />

primeira cidade, de consumo reconhecidamente alto<br />

de hortaliças e frutas, tinham baixa incidência de<br />

doença coronariana em relação aos da segunda, o que<br />

reforça a tese da ação protetora destes alimentos,<br />

fontes de vitaminas antioxidantes com relação à<br />

enfermidade em questão [31]. Os autores<br />

consideraram que as evidências disponíveis suportam<br />

a hipótese dos benefícios do aumento do consumo<br />

de ampla variedade de frutas e vegetais ricos em<br />

antioxidantes.<br />

Contudo, em alguns estudos os resultados são<br />

contraditórios. Resultados de pesquisa nos EUA, no<br />

período de 1985 a 1991, demonstraram que a<br />

suplementação não foi efetiva na prevenção do câncer<br />

ou doença cardiovascular em homens aparentemente<br />

saudáveis e bem alimentados [32]. Evans et al. [33]<br />

também não encontraram associação entre níveis<br />

séricos de carotenóides, retinol e tocoferóis e a morte<br />

por doença coronariana ou por infarto do miocárdio.<br />

Já em estudo realizado na Finlândia, o uso de<br />

suplemento de vitamina E foi associado ao aumento<br />

significante de acidente vascular hemorrágico e o bcaroteno<br />

com aumento da incidência de doença<br />

coronariana isquêmica [34].<br />

Conclusões<br />

Apesar dos resultados bastante animadores com<br />

relação ao papel das vitaminas A, C e E na prevenção<br />

da DCV, ainda não é possível traçar estratégias de uso<br />

em larga escala dessas substâncias.<br />

Há de se pontuar também os riscos potenciais<br />

de megadoses, o que conduz à discussão do tema no<br />

sentido de maior cautela na interpretação dos achados<br />

até então acumulados na literatura. Há de se destacar,<br />

ainda, que os estudos freqüentemente avaliam o<br />

impacto destas vitaminas sobre a morbi-mortalidade<br />

com base no consumo, a partir da dieta usual ou de<br />

doses suplementares, que em muito se assemelham às<br />

fisiológicas. Tais constatações conduzem muitos<br />

autores a recomendar o uso regular de alimentos de<br />

origem vegetal como frutas e hortaliças, por serem<br />

não apenas fontes das vitaminas em questão, como<br />

de fibras e também de outras substâncias não<br />

nutricionais, apontadas como tendo função<br />

antioxidante. Esta conduta, somada à redução do<br />

consumo de gordura total e, em particular da saturada,<br />

pelo menos minimizaria a produção/disponibilidade<br />

excessiva de radicais livres relacionados à dieta. O<br />

conjunto de medidas dietéticas, a ser fomentado o mais<br />

precocemente possível, aliado a outras mudanças do<br />

estilo de vida, poderão contribuir para a redução do<br />

quadro assustador de seqüelas e perdas de vidas<br />

humanas em decorrência das DCV.<br />

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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

REVISÃO<br />

Indicadores do estado nutricional de vitamina A<br />

Vitamin A nutritional status indicators<br />

Mirian Martins Gomes*, Bianca Amaral dos Santos Silva * , Luciana Ferreira Campos * , Ana Paula Pereira Thiapó<br />

de Lima*, Cláudia Saunders**, Elizabeth Accioly***, Rejane Andréa Ramalho****,<br />

Daniela de Lima Bastos*****<br />

*Nutricionista, Aperfeiçoanda do Grupo de Pesquisa em Vitamina A do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro -<br />

GPVA / IN – UFRJ, **Doutoranda em Ciências (ENSP/FIOCRUZ), Professora Assistente do Departamento de Nutrição e Dietética<br />

e Pesquisadora do GPVA / IN – UFRJ, ***Doutora em Ciências Nutricionais (EPM/UNIFESP), Professora Adjunta do<br />

Departamento de Nutrição e Dietética. Pesquisadora do GPVA / IN – UFRJ, ****Doutora em Ciências (ENSP / FIOCRUZ),<br />

Professora Adjunta do Departamento de Nutrição e Dietética. Coordenadora do GPVA / IN – UFRJ, *****Aluna do Curso de<br />

Graduação, Bolsista PIBIC/UFRJ- GPVA / IN – UFRJ<br />

Resumo<br />

A hipovitaminose A (HA) é um importante problema de saúde pública, cujas manifestações podem ocorrer sem sinais<br />

clínicos detectáveis ou não estarem necessariamente associadas a patologias multicarenciais claramente definidas. Os indicadores<br />

bioquímicos são os mais consagrados em estudos populacionais, porém apresentam limitações operacionais em razão do<br />

caráter invasivo e do relativo alto custo. Mais recentemente a concentração de vitamina A no leite humano, placenta e<br />

amostras de fígado post-mortem têm sido apontados como alternativas aos níveis de retinol sérico em estudos populacionais.<br />

Complementarmente, a prevalência de cegueira noturna apresenta-se como proposta de indicador funcional da carência de<br />

vitamina A no grupo materno-infantil. A utilização de indicadores para avaliação do estado nutricional de vitamina A, que<br />

sejam de baixo custo, com simplicidade metodológica, pouco invasivos e que permitam o diagnóstico em estágios subclínicos<br />

da carência, tem despertado o interesse da comunidade científica no que diz respeito à alternativas de detecção<br />

precoce, tratamento adequado e controle da carência de vitamina A. A reflexão sobre os achados disponíveis na literatura<br />

acerca de indicadores com estas características se constitui o objetivo do presente artigo.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: hipovitaminose A, indicadores, diagnóstico.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

u Título abreviado: Hipovitaminose A e indicadores de carência<br />

Artigo recebido em 2 de maio de 2002, aprovado em 20 de maio de 2002<br />

Endereço para correspondência: Prof a . Dr a . Rejane Andréa Ramalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro,<br />

Centro de Ciências da Saúde, bloco J, 2º andar, Av. Brigadeiro Trompovwsky, s/n, Cidade Universitária, 21941-590,<br />

Rio de Janeiro RJ. Tel: (21)2561-6599, Fax: (21)2581-7229,<br />

E-mail: aramalho@rionet.com.br ou cfcoelho@osite.com.br<br />

83


84<br />

Introdução<br />

A vitamina A é requerida em pequenas<br />

quantidades em importantes processos biológicos. Seu<br />

papel no ciclo visual foi estabelecido por Wald [1] e<br />

parece ser o único totalmente elucidado. A vitamina<br />

A participa também na reprodução, no<br />

desenvolvimento fetal, na função imune, na regulação<br />

da proliferação e diferenciação celular de diferentes<br />

tecidos [2,3], além de muitos outros processos<br />

metabólicos igualmente importantes. Todavia, a<br />

participação nestes outros processos metabólicos foi<br />

praticamente ignorada até o final da década de 80 [4].<br />

A hipovitaminose A é um importante problema<br />

de saúde pública, cujas manifestações podem ocorrer<br />

sem sinais clínicos detectáveis ou não estarem<br />

necessariamente associadas a patologias<br />

multicarenciais claramente definidas. Atualmente,<br />

considera-se a deficiência nutricional marginal ou<br />

subclínica como “concentrações de vitamina A nos tecidos<br />

suficientemente baixas para produzir conseqüências adversas<br />

para a saúde, porém sem sinais de xeroftalmia” [2]. Estimase<br />

que 2,8 a 3 milhões de pré-escolares apresentem<br />

sinais clínicos de carência de vitamina A, 251 milhões<br />

apresentam a deficiência na forma subclínica<br />

moderada ou severa. No mínimo, 254 milhões de<br />

crianças pré-escolares estão sob “risco” de<br />

desenvolvimento da carência, comprometendo sua<br />

saúde e sua sobrevivência [6]. A World Health<br />

Organization (Organização Mundial da Saúde – OMS)<br />

[7] estima que existem atualmente 60 países onde a<br />

hipovitaminose A é um importante problema de<br />

saúde pública, estando o Brasil incluído no referido<br />

grupo, considerando-se o estágio subclínico da<br />

carência [5].<br />

No Brasil acreditou-se durante muito tempo que<br />

a carência estava restrita às áreas pobres da região<br />

Nordeste do país. As evidências disponíveis atualmente<br />

mostram que todas as regiões estudadas, como os<br />

estados de Paraíba [8], Bahia [9], São Paulo [10-14],<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Abstract<br />

Vitamin A deficiency (VAD) is an important public health problem and its out break may happen without detectable<br />

clinical signs or it may not be necessarily associated to nutritional diseases defined clearly. The biochemical indicators are very<br />

much used in populational studies but they present operational limitations because of its invasive methodology and high<br />

cost. Nowadays, liver, placenta and human milk retinol levels are alternatives in VAD diagnosis, instead of serum retinol<br />

levels, in populational surveys. The prevalence of night blindness is a VAD functional indicator that has been proposed for<br />

the maternal child group. The suggestion of indicators for VAD diagnosis which are cheap, simple and less invasive has<br />

caused great interest in the scientific community as an alternative to early VAD diagnosis, control and treatment. The principal<br />

aim of this paper is a reflection on suchlike indicators which are available in the literature.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: hypovitaminosis A, indicators, diagnosis.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Minas Gerais [15], Rio Grande do Sul [16], fazem parte<br />

do “mapa nacional” da hipovitaminose A.<br />

No Rio de Janeiro, o Grupo de Pesquisa em<br />

Vitamina A (GPVA) do Instituto de Nutrição da<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro (IN/UFRJ),<br />

tem-se dedicado ao diagnóstico da carência em grupos<br />

considerados de risco dentre outros, e observaram-se<br />

cifras preocupantes entre gestantes, puérperas, recémnascidos,<br />

pré-escolares, escolares, adolescentes, crianças<br />

portadoras de diabetes mellitus tipo 1 [17-28].<br />

A OMS e UNICEF vêm investindo em<br />

programas de diagnóstico, intervenção e controle da<br />

carência mundial a partir da década de 60, visando o<br />

conhecimento da real magnitude da carência<br />

nutricional de micronutrientes (vitamina A, ferro e<br />

iodo). Desde 1992, a OMS e a UNICEF promoveram<br />

uma série de reuniões técnicas, objetivando revisar os<br />

indicadores, seus pontos de corte e os critérios para<br />

avaliação da carência nutricional que considerem as<br />

formas marginal ou subclínica [6,2,3].<br />

A utilização de indicadores para avaliação do<br />

estado nutricional de vitamina A, que sejam de baixo<br />

custo, com simplicidade metodológica, pouco<br />

invasivos e que permitam o diagnóstico em estágios<br />

sub-clínicos da carência, tem despertado o interesse<br />

da comunidade científica no que diz respeito a<br />

alternativas de detecção precoce, tratamento adequado<br />

e controle da carência de vitamina A. A reflexão sobre<br />

os achados disponíveis na literatura acerca de<br />

indicadores com estas características se constitui o<br />

objetivo do presente artigo.<br />

Indicadores do estado nutricional de vitamina A<br />

Os indicadores mais comumente utilizados no<br />

diagnóstico da deficiência de vitamina A são o dietético<br />

(níveis de ingestão de retinol e carotenóides),<br />

bioquímico (níveis séricos de retinol, níveis de retinol


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

no leite materno, níveis hepáticos de retinol e resposta<br />

a uma dose maciça de vitamina A), funcional<br />

(prevalência de cegueira noturna), histológico<br />

(prevalência de alterações na conjuntiva ocular) e<br />

clínico (prevalência de sinais oculares de deficiência<br />

em estágio terminal – xeroftalmia) [3,29,30].<br />

Na prática, os indicadores bioquímicos são de<br />

grande importância e amplamente empregados em<br />

estudos epidemiológicos, pois, permitem a detecção<br />

de casos precoces de carência. A medida dos níveis<br />

séricos de retinol ou plasmático, é o indicador mais<br />

empregado para avaliar o estado nutricional de<br />

vitamina A e identificar populações em risco de<br />

deficiência para este nutriente [27,28,7]. Porém,<br />

considerado como metodologia relativamente invasiva<br />

e cara, requerem profissionais altamente treinados o<br />

que dificulta o estudo de grandes amostras, devido à<br />

necessidade da coleta e tratamento das amostras antes<br />

de proceder à análise [31].<br />

Níveis de vitamina A no fígado de necropsiados<br />

como indicador do risco de carência de<br />

vitamina A<br />

O fígado é um órgão central no metabolismo<br />

de macro e micronutrientes, dentre eles a vitamina A.<br />

A doença hepática é normalmente acompanhada de<br />

carência de vitamina A, uma vez que o fígado é<br />

responsável pelo seu armazenamento, oxidação,<br />

catabolismo e liberação.<br />

A redução nos níveis séricos de retinol pode ser<br />

explicada pelo estoque hepático reduzido de vitamina<br />

A, ou pela síntese e/ou liberação diminuída das<br />

proteínas de ligação e transporte celular pelo fígado.<br />

Esta redução poderia também ser influenciada pela<br />

conversão enzimática deficiente de b-caroteno em<br />

retinol, que ocorre também neste órgão.<br />

Quando os estoques hepáticos de vitamina A<br />

caem, os níveis séricos, eventualmente, acompanham<br />

sua queda. Entretanto, esta vitamina é ativamente<br />

secretada no fígado e em outros tecidos, razão pela qual<br />

sua utilização por tecidos específicos pode parcialmente<br />

se adaptar à possível diminuição de oferta [32].<br />

Dessa forma, os níveis séricos de retinol não<br />

refletem diretamente a reserva hepática devido à<br />

existência desse controle homeostático, que mantém<br />

as concentrações plasmáticas adequadas mesmo<br />

quando as reservas já se encontram insuficientes. Tais<br />

adaptações servem para manter relativamente<br />

constantes os níveis sanguíneos, até que as reservas<br />

orgânicas se depletem a um ponto em que a adaptação<br />

já não possa ser compensada [32]. Assim, não é<br />

possível através deste indicador convencional<br />

diagnosticar a carência de vitamina A em seus estágios<br />

mais precoces.<br />

Embora seja aceito como o indicador mais<br />

fidedigno do estado de vitamina A, seu uso apresenta<br />

dificuldades de natureza ética por requerer amostras<br />

de tecido hepático em indivíduos vivos. Porém, a<br />

obtenção de amostras por ocasião de necrópsias em<br />

indivíduos falecidos por diferentes causas é mais viável<br />

e eticamente possível. Como não há evidências<br />

científicas de que a hipovitaminose A seja causa<br />

primária ou secundária de morte, elimina-se o principal<br />

obstáculo à sua utilização como indicador precoce da<br />

carência de vitamina A [29].<br />

Níveis de vitamina A placentários como<br />

indicador do risco de carência de vitamina A no<br />

binômio mãe-filho<br />

A placenta é primordial para o desenvolvimento<br />

embrionário e fetal, sendo responsável pela eficiente<br />

transferência de nutrientes e, conseqüentemente,<br />

determinante do bem-estar fetal [33]. Atua como uma<br />

barreira seletiva na transferência de vitamina A para o<br />

feto, evitando provavelmente efeitos teratogênicos, e<br />

ocasionando baixa reserva hepática de vitamina A,<br />

independente da ingestão materna. Assim, pode-se<br />

supor que mesmo os recém-nascidos de mulheres bem<br />

nutridas, nasçam com baixas reservas hepáticas de<br />

vitamina A [34,27,28].<br />

Durante a gestação, a ingestão de vitamina A e<br />

as reservas hepáticas maternas são fundamentais para<br />

garantir a transferência placentária adequada dessa<br />

vitamina para o feto [35]. A transferência placentária<br />

da vitamina A, conjuntamente à proteína carregadora<br />

de retinol (RBP), representa a primeira fonte de<br />

vitamina A para o feto, nos primeiros meses do<br />

processo gestacional até que, este passa a produzir<br />

sua própria RBP, para que a captação da vitamina A<br />

seja realizada intra-útero [36].<br />

Este anexo embrionário assegura um adequado<br />

suprimento de vitamina A para o feto, devido à sua<br />

capacidade adaptativa para variações na ingestão<br />

materna de vitamina A, exceto em situações extremas<br />

de ingestão excessiva ou em caso de deficiência em<br />

nível clínico. Em nível subclínico de carência, acreditase<br />

que não ocorra comprometimento na circulação<br />

fetal de retinol e carotenóides [37,34]. Estudos<br />

experimentais demonstram que estágios carenciais em<br />

períodos críticos da gestação, podem acarretar defeitos<br />

congênitos, devido às alterações no metabolismo no<br />

DNA, e morte fetal, podendo ainda contribuir para o<br />

baixo estoque de vitamina A no recém nascido<br />

[35,27,28,38].<br />

85


86<br />

Investigando o conteúdo placentário de retinol<br />

e sua associação com os níveis séricos de retinol<br />

materno e dos recém-nascidos, em puérperas<br />

atendidas em Maternidade Pública do Município do<br />

Rio de Janeiro, Saunders et al. [39], demonstraram um<br />

teor médio placentário de retinol inferior, em<br />

puérperas com hipovitaminose A, quando comparado<br />

a puérperas com adequação dos níveis séricos de<br />

retinol. Demonstraram ainda, que dentre as puérperas<br />

com cegueira noturna gestacional, os níveis<br />

placentários de retinol também foram inferiores,<br />

quando comparado aos níveis das puérperas sem este<br />

sinal clínico.<br />

Sendo a placenta fundamental para a<br />

transferência de vitamina A para o feto e, ao mesmo<br />

tempo, um reflexo do estado nutricional de vitamina<br />

A materno, pode-se sugerir que esse anexo<br />

embrionário tem potencial para ser um marcador de<br />

carência marginal de vitamina A ao nascimento, uma<br />

das etapas cruciais da vida do binômio mãe-filho.<br />

Leite materno na avaliação do estado<br />

nutricional de vitamina A<br />

É reconhecida a baixa reserva hepática de<br />

vitamina A ao nascimento [40]. Normalmente, a<br />

vitamina A é transferida da mãe para o filho sessenta<br />

vezes mais durante seis meses de lactação, ao se<br />

comparar com o acumulo feito pelo feto durante os<br />

nove meses de gestação. Todavia, a concentração de<br />

vitamina A no leite materno pode ser extremamente<br />

baixa em lactentes de países em desenvolvimento<br />

[27,28]. Conseqüentemente, a gestação e a lactação<br />

são momentos biológicos que merecem o máximo de<br />

atenção em termos de tratamento e prevenção desta<br />

carência nutricional, visto que o atendimento às<br />

necessidades nutricionais de vitamina A fetais e da<br />

criança reduziria a prevalência de hipovitaminose A<br />

nesses segmentos, podendo garantir crescimento e<br />

desenvolvimento saudáveis e maior proteção contra<br />

as infecções, o que têm grande impacto sobre a saúde<br />

e sobrevivência infantis.<br />

A importância do aleitamento materno para a<br />

saúde da criança é indiscutível, principalmente em<br />

populações de baixo nível sócio-econômico, nas quais<br />

os recém-nascidos apresentam maior risco de baixo<br />

peso ao nascer. Além disso, com o desmame precoce,<br />

por vezes são submetidos a um esquema alimentar<br />

inadequado e com precárias condições de higiene [41],<br />

o que pode repercutir negativamente no seu<br />

crescimento e desenvolvimento.<br />

A concentração de vitamina A no leite materno<br />

é suficiente para suprir as necessidades diárias,<br />

supondo condições ideais de aleitamento. Contudo,<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

caso o leite seja proveniente de nutrizes com dieta<br />

pobre em vitamina A, desnutridas, ou caso aconteça<br />

desmame precoce, as reservas desta vitamina no<br />

recém-nascido serão baixas e aumentarão as probabilidades<br />

de desenvolvimento de xeroftalmia [42,3].<br />

A carência de vitamina A materna também altera<br />

a disponibilidade deste nutriente no colostro e leite<br />

materno, que são considerados fontes concentradas de<br />

vitamina A de alta biodisponibilidade. O conhecimento<br />

deste fato é de extrema relevância, dado que os níveis<br />

séricos de retinol do lactente guardam relação direta<br />

com sua dieta [43] e grande contingente de lactentes<br />

depende, quase que exclusivamente, do aleitamento<br />

materno exclusivo nos primeiros meses de vida [34].<br />

Sendo assim, o teor de vitamina A no leite<br />

humano, tem sido sugerido como indicador do estado<br />

nutricional de vitamina A de nutrizes e de lactentes<br />

[34], por ser de fácil obtenção, culturalmente aceito e<br />

permitir o monitoramento da eliminação global da<br />

hipovitaminose A [34].<br />

Cegueira noturna gestacional como indicador<br />

da vulnerabilidade do binômio mãe-filho para a<br />

carência de vitamina A<br />

A cegueira noturna (CN) ou dificuldade de<br />

adaptação da visão no escuro é a primeira manifestação<br />

ocular de deficiência de vitamina A [3]. Tal indicador,<br />

de natureza funcional, pode ser de grande valia para o<br />

diagnóstico do estado nutricional de vitamina A de<br />

comunidades, especialmente de grupos como<br />

gestantes, nutrizes e pré-escolares. Pode ser usado<br />

como um indicador que permita o mapeamento de<br />

áreas em que medidas de intervenção devem ser<br />

implementadas [3].<br />

Segundo tal indicador, a carência de vitamina A<br />

é considerada um problema de saúde pública leve,<br />

quando a prevalência observada em crianças entre 24-<br />

71 meses de idade, atinge até 1%.<br />

Christian et al. [44] constataram que a presença<br />

de CN gestacional é um fator de risco para a<br />

mortalidade a curto e longo prazo para as mulheres,<br />

principalmente associada a processos infecciosos. A<br />

presença de CN nas mães também pode ser adotada<br />

como preditor da vulnerabilidade da família para a<br />

carência de vitamina A, e sua investigação deve ser<br />

rotineira em regiões onde a carência de vitamina A é<br />

prevalente, pois pode contribuir para a definição da<br />

magnitude do problema e fornecer subsídios para os<br />

programas de intervenção [45]. As mulheres que<br />

apresentam o sintoma ocular gestacional têm 4 a 6<br />

vezes mais chances de reapresentar tal sintoma em<br />

gestações subseqüentes, e 10 vezes mais chances de<br />

desenvolver a CN nos primeiros meses pós-parto [46].


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

A metodologia de investigação proposta pela<br />

OMS [3] e reforçada pela OPAS em 1999 [6], é<br />

composta de entrevista estruturada, na qual se investiga<br />

a dificuldade de visão no escuro ou à noite em crianças,<br />

através de questões como: a) Sua criança tem algum<br />

problema para enxergar durante o dia? b) Sua criança<br />

tem algum problema para enxergar durante a noite?<br />

c) Se a 2ª questão tiver como resposta o SIM, perguntar<br />

se este problema é diferente de outras crianças da sua<br />

comunidade? d) Sua criança tem cegueira noturna?<br />

(esta pergunta deve ser feita usando termos regionais).<br />

A entrevista padronizada, proposta pela OMS<br />

[3], é de fácil aplicação, de baixo custo, não requer<br />

profissional especializado, permite a avaliação de<br />

grandes amostras, é pouco invasiva, aceitável<br />

culturalmente, além de permitir a vigilância do sucesso<br />

de programas de intervenção implementados para o<br />

combate à carência [6,7]. Essa metodologia é<br />

facilmente aplicada e permite a detecção do problema<br />

no segmento populacional mais vulnerável às carências<br />

nutricionais, tais como pré-escolares – para os quais a<br />

investigação da CN era considerada problemática –,<br />

gestantes e nutrizes [3,6,46,47,48].<br />

Conclusão<br />

A deficiência de vitamina A tem sido alvo de<br />

crescente interesse no meio científico, sobretudo pelo<br />

reconhecimento do impacto da carência marginal<br />

sobre o metabolismo intermediário.<br />

Os indicadores bioquímicos são os mais<br />

consagrados em estudos populacionais, porém<br />

apresentam limitações operacionais em razão do<br />

caráter invasivo e do relativo alto custo.<br />

Mais recentemente a concentração de vitamina<br />

A no leite humano, placenta e amostras de fígado postmortem,<br />

tem sido apontados como alternativas aos<br />

níveis de retinol sérico em estudos populacionais.<br />

Complementarmente, a prevalência de cegueira<br />

noturna apresenta-se como proposta de indicador<br />

funcional da carência de vitamina A no grupo<br />

materno-infantil.<br />

Mediante o exposto, é de extrema importância a<br />

indicação de novos indicadores para o estudo da HA,<br />

que sejam de baixo custo, com simplicidade<br />

metodológica, pouco invasivos e que permitam o<br />

diagnóstico em estágios iniciais da carência.<br />

Os achados constituem justificativa suficiente para<br />

que se implementem estudos, visando a elucidação de<br />

tais questões, o que poderá contribuir para ampliar o<br />

leque de opções de indicadores do estado nutricional<br />

de vitamina A, sobretudo em nível coletivo.<br />

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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

REVISÃO<br />

A atuação dos frutooligossacarídeos<br />

Actuation of fructooligosaccharides<br />

Milene Bozzi d’Acunti<br />

Nutricionista Especialista em Nutrição Clínica, Hospital Sírio-Libanês, São Paulo SP<br />

Resumo<br />

Os frutooligossacarídeos (FOS) são oligossacarídeos não digeríveis pelos sucos digestivos e degradáveis por bactérias<br />

intestinais no cólon. Os FOS industrializados são produzidos a partir da sacarose. No Japão, inúmeros alimentos são elaborados<br />

com a utilização de FOS, cujo nome comercial é Neosugar. Os FOS são um tipo de fibras solúveis de baixo peso molecular,<br />

fermentados por bifidobactérias ou lactobacillos.<br />

Sugere-se que à medida em que cresce o consumo de FOS, ocorre o aumento das bifidobactérias, as quais impedem a<br />

colonização de bactérias patogênicas, suprimem a atividade de bactérias putrefativas, podem prevenir a diarréia ou a obstipação,<br />

reduzir metabólitos tóxicos, reduzir o desenvolvimento de câncer, melhorar os níveis de lipídeo e glicose séricos, controlar a<br />

pressão arterial, produzir nutrientes e aumentar a biodisponibilidade de minerais. A ingestão média de FOS é baixa em países<br />

ocidentais; a adição de 8 gramas de FOS por dia já pode inibir o crescimento de bactérias patogênicas e melhorar a consistência<br />

das fezes. Grandes quantidades de carboidratos ou de FOS no cólon, podem causar desarranjo através da fermentação<br />

bacteriana. Portanto, doses acima de 20 gramas/dia através de alimentos enriquecidos, podem causar intolerância como<br />

distensão abdominal e flatulência excessiva.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-Chave: oligossacarídeos, frutooligossacarídeos, fibras, bifidobactérias, prebióticos.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

The fructooligosaccharides (FOS) are oligosaccharides not digestible by digestive juices and degradation by intestinal<br />

bacteria in the colon. The industrialized FOS are produced from sugar. In Japan, food is elaborated with them and whose<br />

commercial name is Neosugar. The FOS are a kind of low weight molecular soluble fiber, fermented by bifidobactérias or<br />

lactobacilli. It suggested as increase the consumption of FOS, occurs growth of bifidobactérias that hinder the colonization<br />

of pathogenic bactérias. More over, the use of FOS can prevent the diarrhea or obstipation, reduce toxic metabolites,<br />

development of cancer, improve the level of plasmatic lipids and glucose, control the arterial pressure, produce nutrients and<br />

increase the minerals bioavaliability. The average ingestion of FOS is low in occidental countries, the addition of 8 g of<br />

FOS/day can inhibit the growth of pathogenic bacterias and improve the consistency of dregs. Amount large of carbohydrate<br />

or FOS in the colon, can cause a disorder by bacterian fermentation, therefore foods can cause intolerance as distension and<br />

excessive flatulence.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: oligosaccharides, fructooligisaccharides, fiber, bifidobactérias, prebiotic.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 25 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002<br />

Endereço para correspondência: Milene Bozzi d´Acunti, Hospital Sirio-Libanês, rua Dona Adma Jafet, 91,<br />

Cerqueira César, 01308-050 - São Paulo SP. Tel: (11) 3155 0376/3155 0374, E-mail: sndiet@sbshsl.br<br />

89


90<br />

Introdução<br />

Os frutooligossacarídeos (FOS) são<br />

oligossacarídeos de cadeia curta, não digeríveis pelos<br />

sucos digestivos, sendo degradados por bactérias<br />

intestinais no cólon; consistem de diversos resíduos<br />

frutosil ligados a um terminal glicose. A estrutura<br />

molecular dos FOS é composta de moléculas de<br />

sacarose, que se ligam a uma, duas ou três unidades<br />

adicionais de frutose (F2; F3; F4), à unidade de frutose<br />

da molécula de sacarose, através de uma ligação<br />

glicosídica beta. Podem apresentar-se como 3<br />

estruturas químicas diferentes: GF2, GF3 e GF4<br />

[3,9,12,16,17, 21, 22, 28].<br />

Os FOS, a inulina ou oligofrutoses são<br />

carboidratos complexos de configuração molecular,<br />

que os torna resistentes à ação hidrolítica da enzima<br />

salivar e intestinal, fazendo com que eles atinjam o<br />

cólon com produção de efeitos benéficos sobre a<br />

microflora colônica [1,4,5,8,9,12,30].<br />

São obtidos a partir da hidrólise da inulina pela<br />

enzima inulase. Os FOS industrializados são<br />

produzidos a partir da sacarose por atuação da enzima<br />

frutosil transferase, enzima fúngica obtida do Aspergillus<br />

niger (microorganismo que se produz em forma<br />

natural, não é patogênico e ostenta extensa história<br />

de utilização sem perigo na indústria de alimentos). A<br />

reação enzimática se completa com processos de<br />

descoloração, filtração, eliminação de sais e<br />

concentração. Para determinar a composição do<br />

produto final emprega-se a cromatografia líquida de<br />

alto rendimento [3,4,9,12,21].<br />

Nos últimos anos têm-se intensificado as<br />

pesquisas em relação aos oligossacarídeos, por serem<br />

carboidratos que estimulam o crescimento das<br />

bifidobactérias no intestino. As bifidobactérias<br />

parecem intensificar o sistema imunológico do<br />

hospedeiro, aumentando a atividade fagocítica contra<br />

a Escherichi coli, melhora a flora intestinal prevenindo<br />

a diarréia ou a obstipação por alteração da microflora<br />

colônica, reduz o desenvolvimento de câncer, melhora<br />

os níveis de lipídios séricos, do controle da pressão<br />

arterial, da tolerância à glicose e suprime a produção<br />

de produtos de putrefação; os oligossacarídeos<br />

produzidos em maior quantidade são os<br />

frutooligossacarídeos. No organismo, exercem efeito<br />

benéfico, pois sua ingestão aumentam essas bactérias,<br />

que por efeito adverso, suprimem a atividade de outras<br />

bactérias putrefativas, que fermentam e formam<br />

metabólitos tóxicos [1,2,7,16].<br />

Atualmente, com o acúmulo de informações<br />

sobre a ecologia da microbiota gastrointestinal, sabese<br />

que, cerca de 100 trilhões de bactérias pertencentes<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

a mais de 400 espécies diferentes, de natureza<br />

saprofítica e patogênica, vivem harmoniosamente em<br />

um delicado balanço, até que este seja desequilibrado<br />

pela dieta, consumo de drogas, tratamentos<br />

quimioterápicos e outras situações diferentes [8].<br />

Os FOS são um tipo de fibras solúveis de baixo<br />

peso molecular, fermentadas pelas bifidobactérias ou<br />

lactobacilos, onde, aumentando-se o nível dessas<br />

bactérias saudáveis na microflora, afeta o hospedeiro<br />

através da presença seletiva de um número limitado<br />

de bactérias no cólon, com efeito caritativo para a<br />

saúde, podendo ser classificado como um alimento<br />

prebiótico. Podem estar presentes em fontes<br />

alimentares usuais ou serem produzidos<br />

industrialmente [16].<br />

Sugere-se sua inclusão na alimentação diária, a<br />

partir de alimentos que contenham estes<br />

polissacarídeos ou a partir do enriquecimento de<br />

produtos com oligossacarídeos [16].<br />

Características<br />

Cerca de 40% dos oligossacarídeos são derivados<br />

da lactose do leite ou do soro. As propriedades gerais<br />

dos oligossacarídeos incluem: menor poder<br />

edulcorante (0,3 a 0,6 vezes em relação à sacarose),<br />

incapacidade de degradação por enzimas do trato<br />

gastrintestinal, utilização por bactérias probióticas,<br />

controle intestinal por aumento do número de<br />

bifidobactérias, modificação da viscosidade e redução<br />

do ponto de congelamento de alimentos, alteração da<br />

emulsificação e da capacidade da formação de gel,<br />

capacidade bacteriostática, modificação das<br />

características sensoriais dos alimentos, atuação como<br />

umectantes e controladores de umidade, propriedades<br />

similares às das fibras dietéticas, anticariogênico,<br />

estabilidade ao calor e aos diferentes valores de PH<br />

[1,10, 28,30].<br />

Fonte de obtenção<br />

Os FOS ocorrem naturalmente na cebola<br />

(alimento rico), raiz da chicória, alho, tomate, aspargos,<br />

alcachofra, banana, centeio, trigo, soja, mel e cerveja,<br />

no entanto são baixas as concentrações presentes,<br />

exigindo consumo extremamente elevado para<br />

obtenção dos efeitos fisiológicos desejados<br />

[1,4,9,12,15,16, 21, 28,30].<br />

A quantidade de FOS presente em alguns<br />

alimentos é descrita a seguir: cebola (2,8%); alho<br />

(0,2%); centeio (0,7%); cevada (0,15%); banana (0,3%);<br />

tomate (1,8%); mel (0,75%) [16].


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Utilização comercial<br />

Os FOS também podem ser adquiridos<br />

comercialmente com o nome de Neosugar. São<br />

empregados na elaboração de alguns alimentos,como<br />

bebidas, leite em pó, produtos de confeitaria e<br />

sobremesas lácteas, sendo a maioria encontrados no<br />

Japão. Também podem ter outras aplicações como<br />

produção de cosméticos, alimentos dietéticos,<br />

produtos anticariogênicos e alimentação de animais.<br />

Entretanto, ainda são necessárias mais pesquisas que<br />

garantam seu efeito benéfico e a segurança do<br />

hospedeiro [1,18,21].<br />

O Neosugar é uma mistura de FOS desenvolvido<br />

originalmente como adoçante de baixa caloria, não é<br />

nutritivo, possui cerca de metade do poder adoçante<br />

da sacarose, apresenta propriedades físicas como<br />

ausência de cor, odor, estabilidade em pH neutro e<br />

em temperaturas superiores a 140ºC. Pelo pouco<br />

conhecimento sobre seu potencial cariogênico e a<br />

heterogenicidade dos Estreptococos mutans, procurouse<br />

observar o efeito do Neosugar sobre o crescimento,<br />

fermentação e produção de placa in vitro de diferentes<br />

representantes desse grupo [21].<br />

Linardi [21] verificou através da literatura, que a<br />

fermentação de FOS por Estreptococos orais é muito<br />

comum, onde produziram ácido láctico e ácido acético<br />

a partir dos oligossacarídeos, demonstrando cepas de<br />

estreptococos oralis, Estreptococos mitis, Estreptococos sanguis,<br />

Estreptococos gordionii e Estreptococos mutans. A possível<br />

cariogenicidade foi comprovada com diferentes<br />

representantes do grupo mutans [21].<br />

Foram realizados estudos para determinar os<br />

efeitos de se adicionar FOS ao iogurte para analisar<br />

aspectos sensoriais, resultados de cultivos e medidas<br />

de pH comparados a iogurtes controle. Como<br />

resultado de adição de FOS, não se observou diferença<br />

significativa no conteúdo de microorganismos viáveis<br />

e pH; os FOS se degradaram durante o<br />

armazenamento do iogurte e foi conservada a<br />

aceitabilidade por seu sabor [9,12].<br />

A produção mundial de oligossacarídeos em<br />

1995 foi acima de 85.000 toneladas. Eles são<br />

produzidos em misturas com vários graus de<br />

purificação, na forma de xarope ou pó. Existem<br />

produtos purificados disponíveis no mercado, mas o<br />

custo aumenta consideravelmente. Metade da<br />

produção é utilizada em bebidas, e outra grande parte<br />

em leite em pó para uso infantil, produtos de<br />

confeitaria, balas e sobremesas lácteas [10].<br />

A tendência natural do mercado consumidor é a<br />

busca de alimentos processados, que contenham aditivos<br />

do tipo “natural”, inócuos à saúde e, de preferência, com<br />

propriedades similares ou melhores que os aditivos<br />

químicos tradicionalmente empregados [3].<br />

Benefícios<br />

Um ser humano adulto “carrega” cerca de 100<br />

trilhões de microorganismos de 300 a 400 espécies<br />

diferentes. Dentre eles encontram-se as bactérias do<br />

gênero Bifidobacterium que são bastonetes imóveis, gram<br />

positivos, com variação de temperatura ótima de<br />

crescimento entre 37 a 43ºC e pH de 6,5 a 7,0; embora<br />

sejam consideradas anaeróbias, algumas bifidobactérias<br />

toleram a presença de oxigênio [1,2,8,15, 27].<br />

As bifidobactérias não metabolizam os<br />

carboidratos como as bactérias homoláticas e<br />

heteroláticas. A rota bioquímica de fermentação é<br />

única, com produção de duas moléculas de ácido lático<br />

e três moléculas de ácido acético, a partir de duas<br />

moléculas de glicose [1,29].<br />

Bactérias bífidas são difíceis de serem isoladas e<br />

manipuladas por serem anaeróbias; quando isoladas não<br />

toleram bem o meio ácido, sendo portanto, difíceis de<br />

serem carreadas em produtos lácteos fermentados [8].<br />

As bifidobactérias são predominantes na<br />

microflora intestinal de crianças, constituindo entre<br />

85 a 99%. Além da idade, outros fatores endógenos e<br />

exógenos podem alterar a microbiota intestinal, como<br />

por exemplo: habitat, clima, dieta, estresse,<br />

microorganismos exógenos, mecanismo imunológico<br />

do hospedeiro, procedimentos cirúrgicos, doenças<br />

renais e hepáticas, câncer, alteração da acidez do suco<br />

gástrico, diminuição da motilidade intestinal e<br />

antibioticoterapias [1,35].<br />

Em ecologia microbiana, considera-se que um<br />

microorganismo influi no ecossistema onde ele se<br />

encontra, somente quando a sua população é igual ou<br />

superior a 10 7 unidades formadoras de colônias/g ou<br />

ml do conteúdo [14].<br />

Os FOS estimulam o crescimento das<br />

bifidobactérias, que impedem a colonização de<br />

bactérias patogênicas, como por exemplo, Clostridium<br />

difficile toxigênico, cuja proliferação é favorecida pelo<br />

tratamento antibiótico e causa diarréia associada a<br />

antibiótico e colite pseudomembranosa. Enterococcus e<br />

Eschericchia coli são outros grupos microbianos, que<br />

causam problemas em pacientes hospitalizados, devido<br />

à resistência adquirida [2,6,8,18,19,28,29,30,34].<br />

É interessante salientar que o desenvolvimento<br />

dos prebióticos veio da descoberta dos fatores<br />

“bifidus”, oligossacarídeos presentes apenas no leite<br />

humano, que favorecem a multiplicação de<br />

bifidobactérias de recém-nascidos amamentados ao<br />

seio [2,14, 27].<br />

91


92<br />

A ação bifidogênica dos FOS suprime a atividade<br />

de bactérias putrefativas, como: Escherichia coli,<br />

Strptococos faecales, Proteus e outros. Essas bactérias<br />

putrefativas com suas enzimas azoredutase e beta<br />

glucoronidase, podem levar à formação de substâncias<br />

tóxicas como a amônia, aminas, substâncias que<br />

podem provocar o câncer, como as nitrosaminas,<br />

estrogênios, ácidos biliares secundários, fenóis e cresóis<br />

[4,5,30].<br />

As bifidobactérias parecem intensificar o sistema<br />

imunológico do hospedeiro, como, por exemplo,<br />

quando se administrou leite enriquecido com<br />

bifidobactérias a voluntários humanos, houve<br />

aumentou da atividade fagocítica contra a Escherichia<br />

coli. Assim, vale a pena considerar o potencial dos FOS<br />

para evitar a infecção. O benefício em animais é pouco<br />

conhecido [6, 18,19, 23, 27].<br />

Conforme Duncan [28], a alimentação enteral<br />

suplementada com FOS pode beneficiar ou normalizar<br />

o funcionamento do intestino melhorando a<br />

microflora colônica, melhorando a resposta<br />

imunológica, promovendo a absorção de vitaminas e<br />

minerais, como por exemplo, vitamina B 1 , B 12 , B 6 ,<br />

ácido nicotínico, folato e cálcio.<br />

Segundo Ellen [22], em mulheres pós<br />

menopausadas, uma absorção de cálcio encontra-se<br />

aumentada após o consumo de produtos ricos em FOS<br />

[17, 20, 22, 25, 28,36].<br />

Roberfroid [20], sugere o efeito positivo dos FOS<br />

em relação à absorção de cálcio dietético; homens que<br />

ingerem 850 mg de cálcio/dia, mais suplemento de<br />

FOS (20 gramas/dia), tiveram aumento significante<br />

na absorção de cálcio em mais ou menos 12% [20].<br />

Efeito prebiótico<br />

Os FOS são um tipo de fibra solúvel de baixo<br />

peso molecular, fermentados pelas bifidobactérias e<br />

lactobacilos, aumentando o nível dessas bactérias<br />

saudáveis na microflora, efeito chamado de<br />

“prebiótico” [5,9,12,19,20,24,37].<br />

As bifidobactérias e os lactobacilos são<br />

habitantes normais da flora do cólon em pessoas<br />

saudáveis; o número deles são significativamente<br />

maiores em seres humanos, que consomem 4-8 gramas<br />

de inulina ou FOS diariamente [5].<br />

É definido como prebiótico, o ingrediente<br />

alimentar não digerível, não metabolizável no intestino<br />

delgado, que afeta o hospedeiro, através da presença<br />

seletiva do número limitado de bactérias no cólon,<br />

com efeitos benéficos à saúde [5,6,8,27].<br />

Alguns critérios devem ser considerados para a<br />

classificação de um alimento como prebiótico: não<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

devem sofrer hidrólise ou absorção no intestino<br />

delgado; atingindo o cólon, o prebiótico deve ser<br />

metabolizado seletivamente por um número limitado<br />

de bactérias benéficas; deve ser capaz de alterar a<br />

microflora colônica para uma microflora bacteriana<br />

saudável; deve ser capaz de induzir efeito fisiológico<br />

que seja importante para a saúde [4,8,15,27].<br />

Mecanismo de ação<br />

Estudos clínicos em seres humanos realizados<br />

no Japão, demonstraram que os FOS são<br />

seletivamente utilizados pelas bifidobactérias. Os<br />

autores encontraram que tal atividade melhora a flora<br />

intestinal, previne a diarréia ou a obstipação por<br />

alteração da microflora colônica, alteram o trânsito<br />

intestinal, com efeito de redução de metabólitos<br />

tóxicos, reduz o risco do desenvolvimento de câncer,<br />

melhora os níveis de lipídios séricos, ocorrendo a<br />

redução do colesterol plasmático, do controle da<br />

pressão arterial, da produção de nutrientes, aumenta<br />

a biodisponibilidade de minerais e suprime a<br />

produção de produtos de putrefação. Sugere-se que<br />

à medida em que cresce o consumo dos FOS, ocorra<br />

o aumento das bifidobactérias [1,4,6,9,<br />

11,12,14,20,28,30,33].<br />

A diarréia devido ao crescimento de bactérias<br />

patogênicas, é o efeito adverso mais comum da<br />

utilização de antibióticos. Esse problema ocorre em<br />

20% dos pacientes em que se administra antibiótico,<br />

e uma das indicações clínicas mais comuns é a<br />

introdução de alimentos com função prebiótica, tal<br />

como os FOS [15].<br />

Vêm sendo estudadas várias espécies de<br />

microorganismos como possíveis agentes terapêuticos<br />

no tratamento e na prevenção da diarréia associada a<br />

antibióticos; entre elas estão S. boulardii, alguns<br />

Lactobacillus e as bifidobactérias [15].<br />

Existe evidência preliminar de que os FOS<br />

podem diminuir os níveis de glicose no sangue,<br />

melhorando a tolerância à glicose, através da<br />

propriedade de viscosidade elevada, que retarda a<br />

digestão e a absorção de carboidrato [6,28,30].<br />

Estudos em animais indicam que os FOS podem<br />

diminuir os triglicérides no sangue, possivelmente ao<br />

inibir a síntese hepática de lipídios. A ingestão de níveis<br />

moderados de FOS poderia afetar o metabolismo dos<br />

lipídios em uma direção benéfica [5,6,30,31].<br />

Uma mistura de fibras solúveis, fibras insolúveis<br />

e FOS proporcionam capacidade de reter água,<br />

produzir ácidos graxos de cadeia curta e proliferar<br />

bifidobactérias, o que poderia contribuir para a<br />

supressão das fezes líquidas [6].


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Estudos in vivo em ratas sugerem que, além de<br />

serem indigeríveis, os FOS podem ter certas funções<br />

similares das fibras da dieta, pois causam diminuição<br />

da hidrólise da sacarose e da maltose [9,12].<br />

Recomendação e consumo<br />

A ingestão média de FOS é baixa nos países<br />

ocidentais (1 a 11 gramas/dia). Embora não haja<br />

nenhuma recomendação dietética formal para os FOS,<br />

achados recentes sugerem que cerca de 10 gramas/<br />

dia constitui uma dose ideal e bem tolerada [6,28].<br />

Conforme Borges [16], para efeito positivo no<br />

equilíbrio da microflora intestinal, sugere-se ingerir a<br />

quantidade de oligossacarídeos de sua estrutura, ou<br />

seja, 3 gramas/dia (FOS) ou 2–2,25 gramas/dia<br />

(galactooligossacarídeo).<br />

Segundo Modler [11], a adição de 8 gramas de<br />

FOS por dia na dieta humana aumenta a produção<br />

de ácidos graxos voláteis, que reduzem o pH<br />

intestinal, inibindo o crescimento de bactérias<br />

patogênicas e putrefativas.<br />

Estudos em crianças com diarréia mostram que<br />

a ingestão de 8 gramas de FOS/dia, durante 8 dias,<br />

levou à melhora da consistência das fezes e diminuição<br />

da freqüência de evacuação [5,6]. Para se evitar o efeito<br />

laxativo, a dose máxima recomendada é de 0,64-0,96<br />

gramas/kg/dia [16].<br />

Uma recente revisão sugeriu que os FOS<br />

poderiam ter uma ação laxativa; alegou-se que sua<br />

suplementação com 3 a 10 gramas/dia reduziu uma<br />

constipação moderada [6]. Doses acima de 20 gramas/<br />

dia, através de alimentos enriquecidos com FOS,<br />

podem causar intolerância, como distensão abdominal<br />

e flatulência excessiva [17].<br />

As fórmulas enterais contêm um só tipo de fibra<br />

ou tipos de fibras misturados em uma concentração<br />

de 8-15 gramas/1000 kcal. Algumas contêm FOS 4-8<br />

gramas/1000 kcal. As fórmulas contendo FOS<br />

fornecem cerca de 6-15 gramas/dia desta substância,<br />

que é suficiente para produzir melhora no equilíbrio<br />

da flora intestinal [6].<br />

As misturas de fibras incluindo os FOS e as fibras<br />

solúveis seriam, provavelmente, mais eficazes no<br />

controle da diarréia associada com a alimentação por<br />

sonda. Uma mistura de fibras solúveis, fibras insolúveis<br />

e os FOS proporcionariam capacidade de reter água,<br />

produção de ácidos graxos de cadeia curta e produção<br />

de bifidobactérias, o que poderia contribuir para a<br />

supressão das fezes líquidas. Os FOS são úteis no<br />

combate à diarréia, ou seja, uma dose de 8 gramas/<br />

dia, pode normalizar as fezes líquidas em pacientes<br />

idosos. FOS como alimento funcional têm suas<br />

limitações, pois podem produzir efeitos adversos<br />

conforme a quantidade ingerida (>20 gramas/dia)<br />

[1,24,32].<br />

Grandes quantidades de carboidratos ou FOS<br />

no cólon, podem causar um desarranjo através da<br />

fermentação bacteriana, seguido por um aumento<br />

pronunciado de concentrações de hidrogênio, que<br />

promovem peristaltismo aumentado. Esses efeitos, em<br />

pessoas com intolerância à lactose, produzem sintomas<br />

semelhantes à síndrome do intestino irritável, como<br />

distensão abdominal, flatulência e um padrão de<br />

defecação irregular [24].<br />

O valor calórico estimado para estes complexos<br />

de fibras é de aproximadamente 1,5 kcal/g [4,26].<br />

Conclusão<br />

Os FOS fazem parte da recém criada categoria<br />

de alimentos funcionais, que, além de “nutrir”,<br />

assumem outras funções específicas, como por<br />

exemplo, o de aumentar o número de bifibobactérias<br />

intestinais, a fim de impedir a colonização de bactérias<br />

patogênicas e putrefativas.<br />

A ausência de informações minuciosas sobre os<br />

mecanismos de ação desses alimentos funcionais, e as<br />

leis que governam o equilíbrio populacional nos<br />

ecossistemas em que eles agem, impedem a ampla<br />

disseminação de seu uso.<br />

O emprego de prebióticos associados ou não às<br />

terapias já existentes, poderá representar uma estratégia<br />

eficiente no combate às infecções, que acometem<br />

humanos e animais.<br />

Esses novos métodos de tratamento ganham<br />

relevo diante do quadro preocupante da resistência a<br />

antibióticos, cada vez maior entre os microorganismos<br />

patogênicos.<br />

Novos dados sobre as interações dos FOS com<br />

seus hospedeiros e a microbiota normal, alargarão o<br />

horizonte de possibilidades na prevenção e no<br />

tratamento de infecções.<br />

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Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Estratégias nutricionais em pacientes com<br />

doença hepática avançada e candidatos ao<br />

transplante hepático<br />

Nutritional strategies in advanced chronic liver<br />

disease’patients and liver transplant candidates<br />

Tatiana Pereira de Paula * , Wilza Arantes Ferreira <strong>Peres</strong> ** , Rejane Andréa Ramalho ***<br />

*Mestranda em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina/UFRJ, Prof a . Substituta do Departamento de Nutrição e Dietética do Instituto<br />

de Nutrição/UFRJ – DND/INUFRJ, **Doutoranda em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina/UFRJ, Prof a Assistente da IN/<br />

UERJ, ***Doutora em Ciências pela FIOCRUZ, Prof a Titular do Departamento de Nutrição Social e Aplicada/IN/UFRJ<br />

Resumo<br />

Pacientes portadores de doença hepática avançada, independente do fator etiológico, apresentam, em sua maioria,<br />

comprometimento do estado nutricional. Existem vários fatores envolvidos na gênese da desnutrição nestes pacientes. A<br />

ingestão alimentar inadequada é um dos principais fatores e pode ser precipitada por várias situações, como náuseas, vômitos,<br />

anorexia, saciedade precoce e orientações alimentares impróprias. O melhor conhecimento das alterações metabólicas na<br />

doença hepática, bem como dos fatores envolvidos no aparecimento da desnutrição, possibilitam um tratamento nutricional<br />

mais adequado, o que motivou a elaboração do presente artigo.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: doença hepática, desnutrição, tratamento nutricional<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

Regardless of etiology, chronic liver disease is likely to cause patient to have abnormal nutritional status. This nutritional<br />

deficiencies arise as result of inadequate dietary intake related to one or more of the following factors: nausea, vomiting,<br />

anorexia, early saciety and inadequate nutritional therapy. The suitable nutritional treatment in this patients depends on the<br />

understanding of both metabolic changes and malnutrition’ etiology.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key words: liver disease, malnutrition, nutritional treatment.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

u Título abreviado: Estratégias nutricionais e doença hepática<br />

Artigo recebido em 21 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002<br />

Endereço para correspondência: Andréa Ramalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências<br />

da Saúde, Bloco J, 2º andar, Gabinete da Direção, Ilha do Fundão, 21944-050 Rio de Janeiro RJ.<br />

Tel: (21)2562-6599, E-mail: aramalho@rionet.com.br<br />

95


96<br />

Introdução<br />

O prognóstico da doença hepática é determinado<br />

pelo fator etiológico, pelas complicações associadas,<br />

pela função hepática comprometida e também pela<br />

desnutrição [1]. Esta última, por sua vez, está<br />

relacionada ao aparecimento de complicações como<br />

ascite, a encefalopatia, a síndrome hepatorrenal, o<br />

diabetes, a hemorragia digestiva e o comprometimento<br />

do sistema imunológico [1].<br />

A desnutrição energético protéica, comum na<br />

doença hepática avançada [1,2], interfere na capacidade<br />

de regeneração e restauração funcional do fígado. E<br />

nos pacientes candidatos ao transplante, pode ser<br />

considerada fator prognóstico de sobrevida no pós<br />

operatório. A causa da desnutrição na doença hepática<br />

avançada é multifatorial e normalmente os fatores<br />

estão associados [1,3,4] (fig.10).<br />

Desta forma, o acompanhamento do estado<br />

nutricional deve ser mandatório para estes pacientes,<br />

objetivando recuperação e/ou manutenção do estado<br />

nutricional, garantindo, assim, melhor qualidade de<br />

vida durante a espera por um transplante hepático.<br />

Objetivos do tratamento nutricional<br />

§ Prevenção ou tratamento da desnutrição;<br />

§ Retardar a deterioração do estado clínico;<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

§ Diminuir o risco de complicações;<br />

§ Evitar deficiência de vitaminas e minerais;<br />

§ Melhorar o estado nutricional pré-transplante<br />

e o prognóstico no pós-transplante.<br />

Necessidades nutricionais<br />

Proteínas<br />

A encefalopatia hepática (EH) define-se como<br />

um conjunto de sinais e sintomas neurológicos, que<br />

podem acompanhar a insuficiência hepática aguda ou<br />

crônica. Considera-se que o desenvolvimento da EH<br />

deve-se, principalmente, ao acúmulo de substâncias<br />

tóxicas na circulação, que atravessam a barreira<br />

hematoencefálica comprometendo a<br />

neurotransmissão [5].<br />

A oferta de proteína para pacientes com doença<br />

hepática avançada, constitui-se em objeto de<br />

discussões e de dúvidas no seu tratamento nutricional.<br />

Isto porque atribui-se o aparecimento da EH, aos<br />

compostos nitrogenados derivados do metabolismo<br />

deste nutriente. Uma das principais alterações<br />

metabólicas na insuficiência hepática é a inabilidade<br />

do fígado de metabolizar aminoácidos de cadeia<br />

aromática (AAA) e de converter amônia em uréia.<br />

Além disso, a hiperinsulinemia e o catabolismo<br />

muscular acentuado resulta em depleção dos níveis<br />

Gênese da desnutrição na doença hepática<br />

Anorexia Colestase Complicações<br />

Náuseas e Vômitos Enteropatia Estado hipercatabólico<br />

dietas não palatáveis<br />

dificuldades mecânicas<br />

(ascite)<br />

u<br />

Diminuição Diminuição Aumento do gasto<br />

da Ingestão da digestão/absorção energético<br />

u<br />

u<br />

u<br />

Desnutrição<br />

u<br />

u<br />

Fig.1


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

de aminoácidos de cadeia ramificada (AACR),<br />

justificando metabolicamente os níveis aumentados<br />

de AAAs e a redução de AACRs [6].<br />

A encefalopatia hepática, entretanto, pode ser<br />

desencadeada por várias situações - e não<br />

necessariamente pela ingestão protéica -, tais como:<br />

constipação, infecção, desequilíbrio hidroeletrolítico,<br />

hemorragia digestiva, diarréia, vômitos, procedimentos<br />

cirúrgicos e uso de álcool e de sedativos [7]. Desta<br />

forma, a restrição protéica desnecessária poderia<br />

comprometer ou agravar o estado nutricional destes<br />

pacientes. Além disto, o balanço nitrogenado (BN)<br />

negativo, induzido por uma ingestão protéica<br />

inadequada, pode agravar a EH, por aumentar os níveis<br />

de aminoácidos de cadeia aromática no plasma e no<br />

cérebro[8].<br />

Deve-se considerar que pacientes com quadro<br />

compensado, parecem ter um requerimento<br />

aumentado de proteína, necessário para manter um<br />

balanço nitrogenado positivo. Isto parece estar<br />

relacionado ao aumento da degradação de proteína<br />

corporal, observada nestes pacientes [9,10]. Pacientes<br />

desnutridos com cirrose, geralmente toleram<br />

quantidades aumentadas de proteína sem desenvolver<br />

a EH [9,11]. A proteína administrada de forma<br />

fracionada (4 a 6 refeições/dia), melhora<br />

significativamente o BN quando comparada a mesma<br />

quantidade fornecida em 3 refeições [12]. A quantidade<br />

e o tipo de proteína ofertada, depende do grau de<br />

desnutrição, do grau de EH e da história de tolerância<br />

a proteína [13]. Nestes pacientes, estágios iniciais da<br />

EH (graus I e II) não devem ser considerados contraindicação<br />

para terapia nutricional, incluindo uma oferta<br />

protéica adequada [10,14].<br />

Antes de considerar o indivíduo como<br />

intolerante à proteína, devem-se excluir outras<br />

possíveis causas de EH. Em pacientes com intolerância<br />

à proteína, a ingestão deve ser reduzida<br />

temporariamente para 0,5g/kg. Neste caso, o balanço<br />

nitrogenado positivo pode ser alcançado pela<br />

suplementação de AACR (0,25g/kg), sem risco de<br />

agravar a encefalopatia [10].<br />

A restrição protéica não deve ser instituída como<br />

forma de prevenir a encefalopatia hepática. Sua<br />

utilização deve ser feita somente após a exclusão de<br />

todos os fatores que possam precipitar este quadro<br />

clínico.<br />

Recomendações de proteína(g/kg/dia)<br />

na doença hepática [20]<br />

Cirrose compensada 1,0-1,5<br />

Desnutrição 1,0-1,8<br />

Encefalopatia I-II 0,5-1,2<br />

Encefalopatia III-IV 0,5<br />

Proteínas de origem vegetal<br />

Dietas contendo unicamente proteínas de origem<br />

vegetal vêm sendo aventadas por alguns autores no<br />

tratamento da encefalopatia hepática [3,15,16]. As<br />

vantagens deste tipo de dieta estariam relacionadas a<br />

redução da formação de amônia e menor teor de<br />

metionina, já que esta dá origem as mercaptanas,<br />

compostos tóxicos derivados do metabolismo<br />

intestinal deste aminoácido. Além disso, este tipo de<br />

dieta poderia acelerar o trânsito intestinal, reduzindo<br />

a absorção luminal de substâncias tóxicas. Entretanto,<br />

a aceitabilidade e a adesão a este tipo de tratamento<br />

devem ser avaliadas individualmente.<br />

Energia<br />

A cirrose é considerada uma doença catabólica<br />

associada a uma grande prevalência de desnutrição<br />

energético protéica [17].<br />

A oferta adequada de energia é importante para<br />

otimizar a síntese de proteínas [3]. A presença de ascite<br />

pode estar associada, em alguns pacientes, ao aumento<br />

do gasto energético basal e, conseqüentemente, pode<br />

acelerar o aparecimento de desnutrição [18]. Em<br />

pacientes clinicamente estáveis a oferta de 30-40 kcal/<br />

kg de peso, pode manter o balanço energético e<br />

prevenir a desnutrição. Já em pacientes desnutridos,<br />

esta oferta pode chegar a 50 kcal/kg de peso [1,19].<br />

Deve-se usar o peso atual e, no caso da ascite e edema,<br />

usar o peso ideal, uma vez que a utilização do peso<br />

seco poderia subestimar as necessidades calóricas [20].<br />

A estimativa dos requerimentos energéticos pela<br />

fórmula de Harris Benedict pode subestimar as<br />

necessidades energéticas, quando comparado a<br />

calorimetria indireta. Neste caso, alguns autores<br />

sugerem o aumento do gasto energético basal em 20%<br />

ou mais [21,22].<br />

Lipídeos<br />

A oferta de lipídeos na dieta pode estar entre<br />

25-30% das calorias estimadas [20] e irá depender da<br />

tolerância relatada pelo paciente a este nutriente.<br />

A restrição de lipídeos só é fundamentada em<br />

pacientes com doença hepática de etiologia colestática,<br />

esteatorréia ou insuficiência pancreática associada [7].<br />

Nestes casos, deve-se ofertar 50% dos lipídeos na<br />

forma de triglicerídeos de cadeia média [1], uma vez<br />

que eles são absorvidos diretamente na veia porta,<br />

sem presença de sais biliares intraluminais.<br />

A restrição desnecessária de lipídeos pode<br />

agravar o estado nutricional destes pacientes, já que<br />

os lipídeos constituem-se em fonte concentrada de<br />

97


98<br />

calorias e são necessários para absorção de vitaminas<br />

lipossolúveis, além de serem responsáveis pela<br />

palatabilidade da dieta.<br />

Carboidratos<br />

A intolerância a glicose é comum no paciente<br />

cirrótico e está relacionada a resistência a insulina.<br />

Entretanto, a hiperglicemia e a resistência a insulina<br />

normalmente não produzem complicações clínicas [2].<br />

A dieta deve conter entre 50% e 60% das quilocalorias<br />

na forma de carboidratos, para minimizar o uso de<br />

reservas lipídicas e protéicas como energia.<br />

Vitaminas e minerais<br />

Na cirrose, a deficiência de vitaminas e minerais<br />

é explicada por vários fatores, incluindo ingestão<br />

alimentar inadequada, má absorção, metabolismo<br />

reduzido, requerimentos aumentados, diminuição da<br />

conversão de vitaminas para suas formas ativas,<br />

redução do estoque hepático, síntese reduzida de<br />

proteínas de transporte, interação droga-nutrientes e<br />

alcoolismo crônico [1,10]. Entretanto, não existem<br />

recomendações estabelecidas para estes pacientes.<br />

Pacientes com doença de Wilson e colestase crônica<br />

(cirrose biliar primária, por exemplo) têm excesso de<br />

cobre acumulado no fígado [23]. Logo, é importante<br />

a restrição de alimentos fontes deste mineral associada<br />

ao uso de quelantes. Na colestase crônica, a<br />

suplementação de vitaminas lipossolúveis pode<br />

prevenir ou corrigir quadros de carência [10].<br />

O acompanhamento da ingestão alimentar destes<br />

pacientes por meio de inquéritos dietéticos, bem como<br />

de sua história clínica, podem ajudar a detectar<br />

precocemente carências de vitaminas e minerais, e<br />

avaliar a pertinência da suplementação.<br />

Características gerais da dieta<br />

Fracionamento e consistência da dieta<br />

Modificações no padrão alimentar, aumentando<br />

o número de refeições durante o dia, incluindo um<br />

lanche noturno (ceia), são importantes uma vez que<br />

diminuem a proteólise muscular e melhoram o balanço<br />

nitrogenado [12,24].<br />

A hipertensão porta é uma das seqüelas da<br />

cirrose e costuma tornar-se evidente com<br />

aparecimento de varizes de esôfago, dentre outras<br />

manifestações. Alterações na consistência da dieta na<br />

presença de varizes esofagianas irão depender da<br />

aceitação do paciente, do calibre das varizes<br />

esofagianas e da história prévia de sangramento.<br />

Normalmente, logo após as sessões de escleroterapia,<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

que objetivam obliteração das varizes, os pacientes<br />

toleram melhor dieta de consistência líquida/ semilíquida<br />

[7].<br />

Sódio e líquidos<br />

A restrição de líquidos (500 a 1500ml) é<br />

necessária somente quando existir hiponatremia. Esta<br />

restrição pode limitar a terapia nutricional e os<br />

pacientes devem ser orientados a preferir líquidos mais<br />

nutritivos e calóricos [7].<br />

Os pacientes cirróticos com sobrecarga hídrica<br />

podem necessitar de restrição de sódio. Entretanto,<br />

esta restrição pode diminuir significativamente a<br />

palatabilidade da dieta e, conseqüentemente, diminuir<br />

a ingestão alimentar. Em pacientes hospitalizados,<br />

grandes restrições de sódio (500mg/dia) podem ser<br />

apropriadas, porém por tempo limitado. Em pacientes<br />

não hospitalizados, é recomendada uma restrição de<br />

2,0 a 2,5g/ dia [22].<br />

No entanto, deve-se considerar que o uso de<br />

diuréticos pode minimizar estas restrições, de acordo<br />

com o quadro clínico apresentado.<br />

Terapia nutricional<br />

Muitos pacientes cirróticos e desnutridos não<br />

conseguem atingir suas necessidades nutricionais por<br />

via oral de forma espontânea, por anorexia ou,<br />

principalmente, por saciedade precoce. A utilização<br />

de suplementos via oral e refeições mais freqüentes,<br />

podem garantir a oferta adequada de nutrientes e<br />

contribui para recuperação e/ ou manutenção do<br />

estado nutricional.<br />

A via enteral por sonda, quando necessária, não<br />

é contra-indicada na presença de varizes esofagianas<br />

[7,10]. Deve-se, entretanto, priorizar sondas de<br />

pequeno calibre a fim de evitar sangramentos [7].<br />

Quanto ao posicionamento da sonda, deve-se<br />

considerar a presença de alterações neurológicas e o<br />

retardo no esvaziamento gástrico observado nestes<br />

pacientes [25,26]. Nestes casos, deve-se preferir o<br />

jejuno para evitar-se broncoaspiração. As fórmulas<br />

enterais para estes pacientes normalmente possuem<br />

densidade calórica elevada e teor reduzido de sódio<br />

[7]. Para pacientes com encefalopatia, existem, no<br />

mercado, fórmulas com teor aumentado de AACR e<br />

baixo teor de AAA (Fresubin Hepa, Hepato diet). A<br />

gastrostomia e a jejunostomia são contra indicadas na<br />

presença de ascite.<br />

A nutrição parenteral deve ser reservada para<br />

aqueles em que o aparelho digestório não esteja<br />

funcionando, que apresentem intolerância à nutrição<br />

enteral ou hemorragia digestiva.


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Conclusão<br />

A desnutrição protéico-calórica é um achado<br />

comum na doença hepática avançada. A ingestão<br />

alimentar inadequada é um dos principais fatores<br />

responsáveis pelo aparecimento deste quadro.<br />

Entretanto, condutas nutricionais sem respaldo<br />

científico ainda são adotadas na prática clínica,<br />

contribuindo para o agravamento da desnutrição<br />

nestes pacientes. Dentre estas condutas, a restrição<br />

inapropriada de proteína é comumente encontrada, o<br />

que dificulta a aceitação da dieta, reduz o aporte<br />

protéico, retarda a regeneração tecidual, podendo<br />

inclusive agravar a encefalopatia hepática.<br />

Este trabalho recebeu apoio financeiro da FAPERJ<br />

(processoE-26-170.199/2001).<br />

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99


100<br />

CASO CLÍNICO<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Anorexia nervosa em paciente do sexo<br />

masculino: relato de caso<br />

Anorexia in male patient – Case report<br />

Núbio Chaves de Carvalho * , Paulo A. Amaral Secches**, Renata Rezende***,<br />

Tomaz Camargo Neto***<br />

*Nutricionista, Professor e Coordenador do curso de Nutrição do Centro Universitário de Itajubá – Universitas, **Médico endocrinologista,<br />

Professor do Centro Universitário de Itajubá – Universitas, ***Médico<br />

Resumo<br />

No presente relato de caso, é apresentada a evolução de um paciente de 19 anos com perda ponderal de cerca de 20 kg<br />

em 3 meses. É um caso raro de anorexia nervosa, pois esta entidade é descrita como predominante em mulheres. São<br />

discutidos os aspectos fisiopatológicos, sintomas e complicações da referida doença. É salientada a importância de um<br />

diagnóstico precoce e de um acompanhamento médico e psicológico prolongado, devido à grande complexidade da patologia.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Distúrbios alimentares, anorexia, peso, adolescentes.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

In this reported case, the evolution of a 19-years-old male patient who lost 20 kg in three months is presented. It’s a<br />

rare case of anorexia that is seen mainly in women. The physiopathology, symptoms and complications of this disease are<br />

discussed. Strong emphasis is placed on the importance of an early diagnosis and a medical and psychological long term<br />

follow-up due to the complexity of this disease.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Keywords: Alimentary disturbances, anorexia, weight, adolescents.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 1 de julho de 2002; aprovado em 30 de julho de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Prof. Núbio Chaves de Carvalho, Universitas, Av. Antônio Braga Filho, 687<br />

37501-002 Itajubá MG. Tel: (35) 3622-0844, E-mail: nubiocc@fepi.br


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Introdução<br />

Anorexia nervosa é um distúrbio caracterizado<br />

por um senso deturpado da imagem corpórea,<br />

acentuada perda de peso, medo mórbido da obesidade<br />

e amenorréia em mulheres. É uma desordem alimentar<br />

na qual há uma severa e prolongada incapacidade de<br />

comer levando a uma marcada perda de peso. É uma<br />

patologia que apresenta maior incidência em<br />

adolescentes e adultos jovens, sendo a maioria dos<br />

casos representados pelo sexo feminino.<br />

Muitos dos pacientes são acometidos por<br />

distúrbio alimentar misto, manifestando características<br />

da anorexia nervosa associadas à bulimia, na qual há<br />

um grande consumo alimentar seguido de vômito<br />

induzido, abuso de laxantes, diuréticos ou exercícios<br />

físicos. Este grupo de pacientes representa 50% dos<br />

anoréxicos. A recuperação destes pacientes é mais lenta<br />

e eles são mais susceptíveis ao suicídio.<br />

Apresentação do caso<br />

Paciente: G.I.; Idade: 19 anos; Sexo: Masculino;<br />

Cor: Branca; Estado Civil: Solteiro; Naturalidade e<br />

Residência: Passa Quatro – MG.<br />

Queixa principal e duração: Perda de peso há<br />

cerca de 3 meses<br />

História pregressa da moléstia atual: O paciente<br />

foi encaminhado, no dia 14/03/96, ao consultório<br />

médico, proveniente de Passa Quatro, com queixa de<br />

astenia e caquexia. Referiu perda ponderal de cerca de<br />

20 kg num período de 3 meses. Afirmou ter boa alimentação.<br />

Relatou dificuldade de realizar atividades habituais.<br />

Referiu peso médio variável entre 55 a 57 kg.<br />

Inquérito sobre diversos aparelhos: Aparelho<br />

gênito-urinário: referiu nictúria.<br />

História patológica pregressa: Referiu alergia à<br />

acetona. Drenagem de abscesso na nádega há 2 meses.<br />

Negou história de transfusão e passado cirúrgico.<br />

História cardiovascular: Negou tabagismo.<br />

Distensão abdominal e edema de membros<br />

inferiores e maleolar.<br />

O paciente fora encaminhado com os seguintes<br />

exames laboratoriais:<br />

Hemograma normal<br />

Glicose 71 mg/dl<br />

Toxoplasmose negativo<br />

T3 44 mg/dl<br />

T4 5,8 mg/dl<br />

TSH<br />

Exame físico:<br />

4,28 mUI/dl<br />

Altura 172 cm<br />

Peso 36.300 g<br />

Conduta: O paciente foi encaminhado para<br />

internação hospitalar; dieta hiperprotéica e<br />

hipercalórica; orientação dietética com nutricionista;<br />

avaliação e psicoterapia com psicólogo; orexígenos:<br />

ciproheptadine 4 mg, arginina 100 mg, carnitina 100<br />

mg, complexo B 100 mg, Ac. glutâmico 100 mg;<br />

antidepressivo: clordiazepóxido.<br />

Exames laboratoriais:<br />

Hemograma e leucograma normal<br />

Bioquímica: hipopotassemia 3,2 mg/l<br />

Hipofosfatemia<br />

Proteínas:<br />

2,3 mg/dl; TGO e TGP<br />

elevados<br />

Totais 6,1 g %<br />

Albumina 3,46 g %<br />

α1 globulina 0,23 g %<br />

α2 globulina 0,57 g %<br />

β globulina 0,73 g %<br />

γ globulina 1,10 g %<br />

Relação A/G 1,32<br />

TSH 1,76 mUI/l<br />

T4 livre 1,62 mg/dl<br />

T3 livre 0,29 mg/dl<br />

Anti-HIV negativo<br />

Urina tipo 1 normal<br />

Bioimpedância intensa desnutrição,<br />

alteração grave de peso<br />

na antropometria e na<br />

bioimpedância<br />

Densitometria osteoporose<br />

A avaliação psicológica revelou impressão<br />

diagnóstica de depressão com comportamento<br />

esquizóide.<br />

Nova bioquímica foi realizada no dia 18/03/96,<br />

com melhora dos níveis de potássio e diminuição dos<br />

níveis de magnésio, sendo instituída formulação com<br />

vitaminas e magnésio. Antígeno Austrália: negativo.<br />

No dia 20/03/96, o paciente apresentou um<br />

episódio de crise convulsiva com hipótese diagnóstica<br />

de crise convulsiva metabólica (hipoglicemia,<br />

hiponatremia, distúrbio neuro-vegetativo). Foram<br />

realizados exames de tomografia computadorizada e<br />

EEG, ambos com resultados normais. Na avaliação<br />

neurológica o paciente apresentava polineurite<br />

periférica.<br />

No dia 23/03/96, o paciente recebeu alta<br />

hospitalar com diagnóstico de anorexia nervosa. O<br />

paciente retornou mensalmente ao consultório médico<br />

por um período de 1 ano e meio. A partir de 17/07/<br />

97, o paciente abandonou o tratamento, apesar de<br />

retornar ao peso normal. No dia 16/07/98, o paciente<br />

foi a óbito, por suicídio.<br />

Diagnóstico diferencial à internação hospitalar:<br />

101


102<br />

AIDS; neoplasia; diabetes descompensado; outras<br />

doenças consumptivas.<br />

Discussão<br />

A anorexia nervosa é uma entidade bastante<br />

complexa. Conseqüentemente existem diversos fatores<br />

que interagem na etiologia da doença.<br />

A personalidade do paciente anoréxico é bastante<br />

peculiar: baixa auto-estima, medo de engordar e<br />

sentimento de desamparo. Raramente são<br />

desobedientes e tendem a ser perfeccionistas. Alguns<br />

estudiosos acreditam que a restrição alimentar é uma<br />

forma de auto-controle.<br />

Fatores genéticos também são citados como<br />

componentes da anorexia nervosa. Alguns achados<br />

sugerem que fatores genéticos podem predispor<br />

algumas pessoas a distúrbios alimentares. Recentes<br />

pesquisas têm demonstrado que adolescentes do sexo<br />

feminino que possuem familiares obesos ou cuja<br />

preocupação materna quanto à obesidade é grande,<br />

são mais predispostas a desenvolver distúrbios<br />

alimentares.<br />

A bioquímica do sistema neuroendócrino é outro<br />

fator de suma importância nos estudos das desordens<br />

alimentares. Os neurotransmissores serotonina e<br />

norepinefrina funcionam anormalmente em pessoas<br />

afetadas pela depressão. Esses neurotransmissores<br />

também apresentam baixos níveis em pacientes com<br />

anorexia e bulimia. Alguns cientistas acreditam que<br />

este seja o elo entre as duas patologias. Estes pacientes<br />

também exprimem elevados níveis de cortisol,<br />

hormônio relacionado à resposta ao estresse. A<br />

vasopressina, outro hormônio cerebral, foi encontrada<br />

em níveis anormais na anorexia e nas desordens<br />

obssessivo-compulsivas.<br />

Os sintomas mais comuns da anorexia nervosa<br />

são a perda ponderal maior que 15% do peso corporal<br />

ideal para a idade ou altura, ou IMC igual ou inferior a<br />

17,5, o medo intenso da obesidade e amenorréia em<br />

mulheres por pelo menos 3 meses consecutivos. Na<br />

maioria das vezes, a menstruação cessa antes da<br />

diminuição grave de peso, ou seja, a desnutrição não é<br />

a única causa da amenorréia. Outros sintomas incluem<br />

restrição alimentar e líquida, vômitos induzidos, uso<br />

de laxantes e diuréticos e excesso de exercícios físicos.<br />

Ocorre uma grande variedade de modificações físicas<br />

como baixa temperatura corporal, ritmo cardíaco e<br />

pressão arterial baixos, distensão abdominal e<br />

constipação, lanugem, alopecia, unhas quebradiças,<br />

cabelos secos, pele seca, desidratação, intolerância a<br />

baixas temperaturas, distúrbios do sono e alterações<br />

metabólicas. Mesmo quando caquéticos, permanecem<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

ativos. Há acidose metabólica e potássio sérico baixo.<br />

Pode ocorrer morte súbita provavelmente por<br />

taquiarritmias ventriculares. Os hormônios<br />

reprodutivos estão em baixa, mas os níveis normais<br />

são restabelecidos quando instituída nutrição<br />

adequada. No homem, há impotência ou perda de<br />

interesse pelo sexo. A desnutrição também tende a<br />

aumentar os sentimentos de depressão, ansiedade,<br />

irritabilidade e raiva.<br />

Instalada a inanição, aparecem as alterações<br />

cerebrais. Os traçados eletroencefalográficos têm sua<br />

amplitude diminuída. Observa-se, através de<br />

tomografia computadorizada ou ressonância<br />

magnética, atrofia cortical, que pode ser revertida<br />

quando o estado nutricional do paciente for<br />

estabilizado. Por causas ainda não conhecidas, alguns<br />

pacientes não se recuperam da atrofia, o que traz<br />

grandes conseqüências.<br />

As principais complicações são cardíacas,<br />

cerebrais e ósseas. O ritmo cardíaco é irregular,<br />

podendo ocorrer falência cardíaca, arritmias e morte<br />

súbita, principalmente devido à hipopotassemia. O uso<br />

de drogas para induzir vômito, laxantes e diuréticos<br />

aumentam o risco de falência cardíaca. A atividade<br />

cerebral torna-se muito reduzida, sendo comum o<br />

surgimento de alterações comportamentais. Se a<br />

desordem for muito severa, os pacientes podem perder<br />

cálcio dos ossos, levando à osteoporose. A diminuição<br />

da ingestão de proteínas e as alterações dos níveis de<br />

hormônio paratireoideano, vitamina D e hormônio<br />

do crescimento também contribuem para a<br />

osteoporose.<br />

Outras complicações citadas são leucopenia e<br />

anemia em graus variáveis, alteração da função<br />

digestiva, hipercolesterolemia e hipoglicemia. A<br />

desidratação crônica e a hipocalcemia podem, a longo<br />

prazo, causar danos irreversíveis aos túbulos renais.<br />

Um, em cada dez casos de anorexia nervosa,<br />

evolui para óbito por inanição, por complicações<br />

cardíacas ou suicídio.<br />

Distúrbios alimentares no sexo masculino são<br />

relativamente raros. Cerca de 5 a 10% da população<br />

anoréxica é masculina. A patologia inicia-se em idades<br />

mais avançadas, em pacientes que apresentam um<br />

histórico de obesidade e são extremamente relutantes<br />

ao tratamento. O abuso de laxantes é menos freqüente.<br />

Homens anoréxicos exercitam-se vigorosamente para<br />

alcançar a forma física.<br />

Tratamento<br />

O tratamento da anorexia terá sucesso quando<br />

o diagnóstico for precoce. Em homens, o problema é


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

ainda maior, uma vez que falta experiência ao meio<br />

científico, por ser a anorexia relativamente rara no sexo<br />

masculino.<br />

O tratamento geralmente é a longo prazo e<br />

requer auxílio de amigos e familiares. Este é<br />

desenvolvido em várias etapas:<br />

a) Ganho de peso: é iniciado com uma dieta líquida<br />

e fracionamento das refeições. Com a evolução há<br />

um aumento progressivo da ingesta alimentar. Alguns<br />

casos requerem hospitalização: quando a perda ponderal<br />

for maior que 20% do peso ideal, os sintomas físicos<br />

forem graves ou quando houver risco de suicídio.<br />

b) Psicoterapia: a terapia mais eficaz é a cognitivacomportamental.<br />

c) Uso de antidepressivos, medicamentos que<br />

corrigem o metabolismo dos neurotransmissores.<br />

d) Internação hospitalar, com a finalidade de<br />

ganhar peso, tratar as intercorrências da desnutrição e<br />

salvar a vida do paciente.<br />

Conclusão<br />

Mesmo com todos os avanços médicos<br />

alcançados na área dos distúrbios alimentares, são<br />

necessárias mais pesquisas com a finalidade de se<br />

estabelecer diagnóstico preciso, tratamento adequado<br />

e reconhecimento de recidivas. Por ser uma patologia<br />

complexa e de difícil diagnóstico, o acompanhamento<br />

do paciente deve ser feito a longo prazo para que sejam<br />

tomadas as medidas necessárias para salvar a vida do<br />

anoréxico. Para isso, o apoio de amigos e familiares<br />

do paciente representam uma das principais formas<br />

de ajuda.<br />

O tratamento pode salvar o paciente.<br />

Encorajamento, carinho, persistência, bem como<br />

informações sobre os riscos das desordens alimentares<br />

são necessários para convencer a pessoa enferma a<br />

procurar ajuda, iniciar, manter – ou recomeçar – o<br />

tratamento.<br />

Bibliografia<br />

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Males with Eating Disorders, Anred,1998.<br />

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5. Long PW. Eating Disorders. The Harvard Mental<br />

Health Letter 1992;9(6).<br />

6. Long PW. Eating Disorders. The Harvard Mental<br />

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7. Mahan LK, Arlin MT. Krause: Alimentos, Nutrição e<br />

Dietoterapia. 8 o ed. São Paulo: Roca, 1995.<br />

8. Medical Sciences Bulletin. Serotonin and Eating<br />

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10. The New York Hospital. Cornell Medical Center,<br />

Department of Psychiatric Nursing. Mental Help 1996.<br />

11. Zerbe KJ. Biological Factors Influence Eating<br />

Disorders. Meninger Letter 1993;1(8).<br />

103


104<br />

História do feijão<br />

DOSSIÊ<br />

Feijão: Um alimento completo<br />

da cozinha brasileira<br />

Existem diversas hipóteses para explicar a origem<br />

e domesticação do feijoeiro. Tipos selvagens,<br />

encontrados no México e a existência de tipos<br />

domesticados, datados de cerca de 7.000 a.C., na<br />

Mesoamérica, suportam a hipótese de que o feijoeiro<br />

teria sido domesticado na Mesoamérica e disseminado,<br />

posteriormente, na América do Sul. Por outro lado,<br />

achados arqueológicos mais antigos, cerca de 10.000<br />

a.C., de feijões domesticados na América do Sul (sítio<br />

de Guitarrero, no Peru) são indícios de que o feijoeiro<br />

teria sido domesticado na América do Sul e<br />

transportado para a América do Norte.<br />

Dados mais recentes, com base em padrões<br />

eletroforéticos de faseolina, sugerem a existência de<br />

três centros primários de diversidade genética, tanto<br />

para espécies silvestres como cultivadas: o<br />

mesoamericano, que se estende desde o sudeste dos<br />

Estados Unidos até o Panamá, tendo como zonas<br />

principais o México e a Guatemala; o sul dos Andes,<br />

que abrange desde o norte do Peru até as províncias<br />

do noroeste da Argentina; e o norte dos Andes, que<br />

abrange desde a Colômbia e Venezuela até o norte do<br />

Peru. Além destes três centros americanos primários,<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

O feijão, alimento tradicional das populações da América do Sul, e principalmente<br />

no Brasil, maior produtor e consumidor mundial, ocupa ainda um lugar central na<br />

alimentação. Observa-se uma tendência mundial à substituição progressiva do<br />

clássico arroz-feijão por pratos mais modernos, com carnes e massas - pelo<br />

menos nas classes de maior renda -, substituição que não é sempre<br />

interessante ou desejável do ponto de vista da nutrição.<br />

O feijão, por sua riqueza em proteínas vegetais, fibras, vitaminas e compostos<br />

recentemente valorizados, como os fitoestrogenos, é um alimento completo,<br />

saudável e que deveria continuar predominando na cozinha brasileira. Vários estudos<br />

estão em andamento para melhorar o cultivo do feijão, principalmente na Embrapa.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Ficha Técnica: Feijão (frijol, bean)<br />

Gênero: Phaseolus L.<br />

Espécie:Phaseolus vulgaris, P. lunatus, P.<br />

acutifolius, P. coccineus e P. polynthus<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

podem ser identificados vários outros centros<br />

secundários em algumas regiões da Europa, Ásia e<br />

África, onde foram introduzidos genótipos<br />

americanos.<br />

O gênero Phaseolus compreende aproximadamente<br />

55 espécies, das quais apenas cinco são<br />

cultivadas: o feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris); o<br />

feijão de lima (P. lunatus); o feijão ayocote (P. coccineus);<br />

o feijão tepari (P. acutifolius); e o P. polyanthus.<br />

Os feijões estão entre os alimentos mais antigos,<br />

remontando aos primeiros registros da história da<br />

humanidade. Eram cultivados no antigo Egito e na<br />

Grécia, sendo, também, cultuados como símbolo da<br />

vida. Os antigos romanos usavam extensivamente<br />

feijões nas suas festas gastronômicas, utilizando-os até<br />

mesmo como pagamento de apostas. Foram<br />

encontradas referências aos feijões na Idade do<br />

Bronze, na Suíça, e entre os hebraicos, cerca de 1.000<br />

a.C. As ruínas da antiga Tróia revelam evidências de<br />

que os feijões eram o prato favorito dos robustos<br />

guerreiros troianos. A maioria dos historiadores atribui<br />

a disseminação dos feijões no mundo em decorrência<br />

das guerras, uma vez que esse alimento fazia parte<br />

essencial da dieta dos guerreiros em marcha. Os<br />

grandes exploradores ajudaram a difundir o uso e o<br />

cultivo de feijão para as mais remotas regiões do<br />

planeta.<br />

Aspectos gerais<br />

O feijão é um dos mais importantes alimentos<br />

da população brasileira, especialmente a de baixa


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

renda, constituindo-se em sua principal fonte de<br />

proteína vegetal, cujo o consumo anual per capta chega<br />

a 14 quilogramas.. A cultura do feijoeiro ocupa uma<br />

área de 12 milhões de hectares e constitui-se na<br />

leguminosa mais importante para a alimentação de<br />

mais de 500 milhões de pessoas na América Latina e<br />

África. O Brasil é o maior produtor, com uma<br />

produção anual de aproximadamente 2,6 milhões de<br />

toneladas, o que equivale a cerca de 20% da produção<br />

mundial de feijão.O teor de proteína das sementes varia<br />

de 20 a 33%, sendo também um alimento energético,<br />

contendo cerca de 340cal/100g. Na maioria das regiões<br />

produtoras predomina a exploração do feijoeiro por<br />

pequenos produtores, com uso reduzido de insumos,<br />

obtendo-se baixas produções. Aproximadamente 80%<br />

da produção e da área cultivada encontram-se em<br />

propriedades menores que 100ha. O feijão é<br />

produzido em todas as regiões do país. A Região<br />

Nordeste detém a maior área plantada (45%), seguida<br />

das Regiões Sul (26%) e Sudeste (21%). A Região<br />

Nordeste detém o mais baixo índice de produtividade,<br />

decorrente de problemas com a seca, além da baixa<br />

utilização de insumos agrícolas. Os maiores estados<br />

produtores são Paraná, Bahia, Minas Gerais, São Paulo,<br />

Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás.<br />

Usos<br />

O grão do feijoeiro é utilizado na alimentação<br />

do homem, na maioria das ocasiões de modo<br />

obrigatório, no cardápio diário. Cozido ele é<br />

consumido em mistura com arroz e farinha, em saladas<br />

frias, transformado em pastas (tutu) ou ainda<br />

compondo feijoadas.O grão pode servir como<br />

componente de rações animais bem como a planta<br />

pós colheita. Restos de cultura podem ser<br />

incorporados ao solo para melhoria das suas condições<br />

físicas.<br />

Necessidades da planta<br />

Clima: Tropical, com temperatura média em<br />

25ºC (18º a 30ºC) com chuvas de 100 mm mensais<br />

bem distribuídas.<br />

Solos: Férteis, areno-argilosos, com bom teor de<br />

matéria orgânica, bem arejados, pH em torno de 6,0<br />

(5,0 a 6,5).<br />

Preparo do solo<br />

O feijoeiro é planta exigente e não deve ser<br />

plantado no mesmo terreno por mais de 2 anos<br />

seguidos; os restos da cultura anterior devem ser<br />

incorporados ao solo e nunca queimados. Para<br />

correção da acidez do solo e adubação, amostras de<br />

solo devem ser enviadas a laboratórios para orientar<br />

quantidades, tipos de corretivo e adubo e épocas de<br />

sua aplicação.<br />

Correção da acidez<br />

Com recomendações provenientes da análise de<br />

solos, tipo e quantidade de calcário - este deve ser<br />

aplicado antes da aração (metade da dose) e antes da<br />

gradagem (metade restante), esparramado ao solo via<br />

aplicações manuais ou com aplicadores de calcários.<br />

Movimentação do solo<br />

Para facilitar a germinação das sementes e<br />

aprofundamento das raízes, indica-se aração e<br />

gradagem. A aração em terreno sem uso por muito<br />

tempo deve ser feita com arado de aiveca; em terrenos<br />

trabalhados, aração com 20 cm de profundidade é<br />

suficiente (segundo tipo de solo). A gradagem é feita<br />

com grade niveladora de discos à profundidade de 10<br />

cm. Essas operações podem ser feitas com<br />

equipamentos de tração animal ou tratorizada<br />

(segundo tamanho da área).<br />

Sistema de plantio/Espaçamentos/Covas<br />

Dois sistemas: feijão solteiro e feijão consorciado.<br />

Cultivo solteiro<br />

As fileiras devem estar espaçadas de 50 cm, com<br />

14-15 sementes/m; em espaçamentos de 40 cm entre<br />

fileiras deve-se usar 10-12 sementes por metro corrido<br />

(linear) no plantio em sulco. No plantio em covas,<br />

com espaçamento de 40 cm x 40 cm coloca-se 2-3<br />

sementes por cova. Dessa forma alcança-se a<br />

população de 200 mil a 240 mil plantas por hectare.<br />

Cultivo consorciado<br />

Em alguns lugares, o consorcio mais comum é<br />

feito com o milho. O milho deve ter espaçamento de<br />

1m entre fileiras e 4 plantas / metro linear enquanto<br />

o feijão é semeado nas linhas do milho com 10 plantas<br />

por metro.<br />

Primeira safra - Plantio “das águas”<br />

A ampla dispersão da cultura do feijão na variada<br />

fisiografia e diversidade climática do país faz com que<br />

seu cultivo, tanto solteiro quanto consorciado, inclusive<br />

dentro de uma mesma microrregião, seja realizado em<br />

épocas diferentes, a fim de adequar o desenvolvimento<br />

das plantas ao período que melhor satisfaça suas<br />

necessidades hídricas e, como conseqüência, diminua<br />

o risco de insucesso da cultura. A maioria dos estados<br />

105


106<br />

da Federação estabeleceu recomendações com base<br />

na melhor época de plantio do feijão das águas. No<br />

Paraná varia de 15 de julho a 15 de novembro com<br />

épocas de plantio diferenciadas, dentro desse período,<br />

para a maioria das 20 regiões estabelecidas nesse<br />

estado. No Estado de Santa Catarina, a melhor época<br />

para o plantio do feijão das águas, se estende de agosto<br />

a novembro. Nos Estados de Minas Gerais e Bahia o<br />

período vai de outubro a dezembro, em Goiás e<br />

Distrito Federal de outubro a novembro, no Mato<br />

Grosso do Sul e São Paulo de outubro a novembro e<br />

no Rio de Janeiro de setembro a novembro. Em cada<br />

um desses estados existem variações, dependendo da<br />

geografia regional, sendo necessário, portanto, um<br />

bom conhecimento, dentre outros, do regime de<br />

chuvas predominante na região ou do local de plantio.<br />

É importante salientar que, dentro das cultivares<br />

recomendadas para esse sistema de plantio, existem<br />

cultivares com características morfológicas melhor<br />

adaptadas a esse sistema.<br />

Segunda safra - Plantio “da seca”<br />

A safra da seca, tanto no sistema solteiro quanto<br />

consorciado, representa a maior área de cultivo e<br />

contribuição na produção nacional de feijão. Devido<br />

à expressiva abrangência geográfica desta safra,<br />

apresenta alta variabilidade de épocas de plantio, as<br />

quais dependem do grau de disponibilidade de água<br />

para suprir as necessidades das plantas nas diversas<br />

fases de desenvolvimento. A importância e alto risco<br />

desta safra fez com que o governo, através de seus<br />

órgãos competentes, promovesse um programa de<br />

zoneamento agro-climático para a cultura do feijão<br />

da seca, nos principais estados e regiões produtoras<br />

do país.<br />

Terceira safra – Plantio “do inverno”<br />

As primeiras experiências com a cultura do feijão<br />

de inverno, na década de 40, em Minas Gerais<br />

demonstraram a sua viabilidade de plantio nas<br />

condições ecológicas da Região Centro-Oeste e<br />

Sudeste do país. Posteriormente pesquisas realizadas<br />

pela Embrapa Arroz e Feijão constataram a viabilidade<br />

e importância econômica desta terceira época de<br />

plantio. A partir daí, sua expansão tem sido altamente<br />

expressiva, até o ponto de hoje contribuir com 10%<br />

da produção nacional. O advento da terceira safra,<br />

além de diminuir a sazonalidade da produção e do<br />

abastecimento do mercado interno de feijão,<br />

contribuiu para um grande avanço tecnológico da<br />

cultura que implica, para uma boa produção, a<br />

utilização de alta tecnologia e a administração da<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

lavoura em moldes empresariais. A produção de feijão<br />

de inverno, no sistema irrigado por aspersão, com<br />

predominância do pivô central, está concentrada nas<br />

regiões Centro-Oeste e Sudeste, nos estados de Minas<br />

Gerais, Goiás e São Paulo. Recentemente no estado<br />

da Bahia surgiram algumas áreas com muito bom<br />

potencial para a produção de feijão irrigado. Naquelas<br />

regiões a época de plantio é realizada de março a julho<br />

com algumas variações dependendo das condições de<br />

clima do local dentro de cada região.<br />

Sementes<br />

Devem ser usadas com bom poder germinativo<br />

e de boa procedência. A germinação deve estar em<br />

torno de 90%. Se possível usar sementes tratadas com<br />

fungicidas.<br />

Adubação<br />

Caso haja possibilidade de utilização de esterco<br />

para adubação orgânica ele pode ser incorporado ao<br />

terreno com antecedência de 30-40 dias. A adubação<br />

mineral, por recomendação de análise de solos, deve<br />

conter NPK: metade do adubo nitrogenado mais<br />

totalidade de adubo com fósforo e adubo com potássio<br />

devem ser aplicados ao solo (cova ou sulco) antes do<br />

plantio. Em cobertura ao lado da planta, a outra<br />

metade do adubo com nitrogênio é aplicada antes da<br />

floração. A adubação básica, pré-plantio, deve ser feita<br />

a uma profundidade de 15 cm. E a semeadura a 5 cm.<br />

Tratos culturais<br />

Controle das plantas daninhas: importante<br />

manter a lavoura a limpo até início da floração. A<br />

limpeza pode ser feita manualmente (enxada), com<br />

cultivador (tração animal ou tratorizada) ou com<br />

herbicida. As capinas (manual e cultivador) devem<br />

revolver o solo até 3 cm de profundidade.<br />

Pragas e doenças<br />

De ordinário as pragas mais comuns são:<br />

Lagarta-elasmo (mariposa), larva-alfinete (besouro) no<br />

solo. Vaquinhas (besouro), lagarta-da-folha (mariposa),<br />

acaro branco, cigarrinha verde, mosca-branca, mosca<br />

minadora nas folhas. Lagarta (mariposa) e percevejo<br />

nas vagens. Caruncho (besouro) no grão armazenado.<br />

O controle químico deve ser feito no momento em<br />

que as pragas atinjam níveis de danos econômicos.<br />

Alguns produtos químicos defensivos agrícolas<br />

indicados para controle de pragas de feijão são:<br />

cigarrinha e vaquinhas; carbaryl (Carvim 85 M, Sevin<br />

480 SC), fenitrotion ( Sumithion 500 CE). Mosca


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

branca: monocrotophos (Nuvacron 400) metamidofós<br />

(Tamaron BR). Acaro branco: triazophos (Hostathion)<br />

tetradion (Tedion 80). Lagartas: Cloropirifós (Lorsban<br />

480 BR) Carbaryl (Carvim 85 M, Sevin 480 SC),<br />

triclorfom (Diplerex 50). Percevejos; fenitrotion<br />

(Sumithion 500 CE), triclorfom (Dipterex 50).<br />

O feijoeiro é atacado por doenças causadas por<br />

fungos, bactérias, vírus e nematoide. O controle das<br />

doenças é feito com plantio de variedades resistentes,<br />

de sementes livres de doenças e de uso de produtos<br />

químicos. Pulverizações foliares protetoras com<br />

produtos químicos com base química Benomyl<br />

(Benlate), Captan (Captan), Mancozeb (Manzate,<br />

Dithane) tiofonato metílico (Cerconil) entre outros<br />

podem ser de utilidade. As doenças mais comuns são<br />

ferrugem, antracnose, oídio, mela, tombamento,<br />

mosaico dourado.<br />

Colheita<br />

A colheita do feijão pode ser feita, manualmente:<br />

plantas pós arranquio são postas a secar, com raízes<br />

para cima no solo e depois vão para o terreiro para a<br />

trilha c/ varas flexíveis. Semi mecanizada: arranquio<br />

manual ou automotriz. Mecanizada: arranquio e trilha<br />

com maquina colhedora-trilhadeira. Melhor colher o<br />

feijão pela manhã e em horas frescas; de ordinário o<br />

feijão é colhido com 18% de umidade. O ciclo de<br />

produção dentre as variedades de feijão situa-se entre<br />

70 e 95 dias.<br />

Armazenamento<br />

Para o armazenamento a curto prazo a umidade<br />

do feijão deve ficar em 14-15%; para armazenamento<br />

a longo prazo a umidade deve ficar em torno de 11%.<br />

O ambiente para estocagem deve ficar seco, fresco e<br />

escuro; se bem construídos tulhas e paióis são eficazes.<br />

Os locais de armazenamento devem estar<br />

rigorosamente limpos (livres de resíduos de colheitas<br />

anteriores) e os grãos tratados com produtos<br />

apropriados (fumigação e proteção). Para<br />

comercialização o grão é acondicionado em sacos com<br />

60 kg de peso.<br />

Aptidão climática<br />

O feijão é originário da América, tendo como<br />

centro principal a região sulmexicana e<br />

centroamericana, compreendendo o sul do México,<br />

Guatemala, Honduras e Costa Rica, e como secundária<br />

a sulamericana, abrangendo as áreas montanhosas<br />

elevadas do Equador, Peru e Bolívia.<br />

A localidade de Guanajauto, no México, a 21º10’<br />

norte e a 2100 metros de altitude, com verão chuvoso<br />

de temperaturas amenas com cerca de 20ºC, representa<br />

a condição climática típica do centro sulamericano. O<br />

balanço hídrico de Guanajauto, segundo método de<br />

Thornthwaite & Mather (1955) – 125mm acusa<br />

excedentes hídricos de 124 mm no verão, trazendo<br />

condições térmicas e hídricas favoráveis à vegetação<br />

e produção do feijão. No resto do ano prevalecem<br />

deficiências hídricas elevadas totalizando 261 mm, que<br />

condicionam ambiente de elevada aridez, favoráveis à<br />

sanidade da cultura.<br />

Exigências climáticas<br />

Pode-se considerar o feijão como cultura das<br />

mais exigentes em clima. Todavia, como é de ciclo<br />

bastante curto, apenas três meses, e como se mostra<br />

indiferente ao fotoperiodismo, possibilitando a escolha<br />

do período ou estação do ano favorável ao cultivo,<br />

não é difícil encontrar áreas climaticamente aptas à<br />

cultura comercial, na região estudada.<br />

Martin & Leonard (1949) consideram que<br />

temperaturas muito elevadas prejudicam a frutificação<br />

e as muito baixas retardam demasiadamente o<br />

desenvolvimento das plantas. A temperatura média<br />

mensal de 21ºC durante o ciclo vegetativo, seria o ideal.<br />

Com respeito ao fator hídrico considera-se que<br />

o mais importante é não faltar umidade no solo, em<br />

todo o período vegetativo desde o plantio até a<br />

maturação das vagens. A cultura é beneficiada com a<br />

diminuição das precipitações após a maturação e<br />

durante a colheita do produto. Analisando o clima e<br />

solo para o feijoeiro, acentua que o excesso de<br />

umidade, aliado a temperaturas elevadas, favorece a<br />

epifitas de moléstias de fungos e bacterianas,<br />

particularmente da antracnose e da podridão<br />

bacteriana.<br />

Nos Estados Unidos, considera-se que toda a<br />

produção comercial de feijão está restrita às áreas do<br />

país em que a temperatura média do mês mais quente,<br />

setembro, não ultrapassa 21ºC.<br />

Feijão Carioca<br />

O Feijão é, sem dúvida, o produto alimentício<br />

mais popular e conhecido no Brasil. Foi considerado,<br />

por muito tempo, o alimento básico de maior<br />

importância para a população brasileira, tanto da zona<br />

rural como das cidades.<br />

No Estado de São Paulo, um dos principais<br />

produtores do país, a cultura é ainda bastante<br />

tradicional. Atualmente existe um bom suporte<br />

tecnológico, mas até a bem pouco tempo a cultura era<br />

107


108<br />

realizada como atividade secundária, de subsistência;<br />

era intercalada ao café ou consorciada com o milho e<br />

outras culturas consideradas de maior importância.<br />

No Instituto Agronômico de Campinas, até o<br />

fim da década de 40, os trabalhos com o feijoeiro eram<br />

incipientes, limitando-se a alguns testes comparativos<br />

entre as variedades existentes na coleção. A partir dos<br />

anos 50, os estudos com o feijoeiro foram<br />

intensificados, pelas antigas Seções de Genética e de<br />

Leguminosas, quando alguns pesquisadores foram<br />

destacados para estudos mais completos.<br />

Com as primeiras informações geradas e<br />

transferidas aos agricultores interessados, sobre tratos<br />

culturais mais adequados e variedades mais produtivas,<br />

alguns produtores passaram, mesmo que timidamente,<br />

a cultivar o feijoeiro de forma exclusiva ou “solteira”,<br />

como é mais conhecida.<br />

Na década seguinte, graças ao aporte de recursos<br />

financeiros, os estudos com o feijoeiro tomaram novos<br />

rumos, tanto na área do melhoramento genético como<br />

nas de fertilidade, fitossanidade, práticas culturais e<br />

outras, com a obtenção de resultados práticos, que<br />

foram colocados à disposição dos agricultores, visando<br />

à melhoria nas condições de produção.<br />

Apesar dos esforços empreendidos, os<br />

rendimentos obtidos com as variedades existentes<br />

eram muito baixos se comparados aos de outros países<br />

produtores. Levantamentos mostravam rendimentos<br />

médios da ordem de 500 a 600 kg/ha, nas décadas de<br />

50 e 60.<br />

Até o fim dos anos 60, utilizavam-se para plantio<br />

no estado de São Paulo, principalmente, feijões dos<br />

tipos Rosinha, Bico-de-Ouro, Mulatinho, Chumbinho<br />

e Jalo, que possuíam tegumento de uma única<br />

coloração e dominavam a preferência das donas-decasa.<br />

Deve-se ressaltar que tais variedades foram<br />

cultivadas por muitos anos, sempre com baixa<br />

produtividade, por não possuírem características<br />

genéticas de resistência aos patógenos das principais<br />

moléstias do feijoeiro e, também, pelo baixo índice<br />

de adoção de tecnologia por parte dos produtores que,<br />

na sua maioria, cultivavam o feijoeiro para a própria<br />

subsistência.<br />

Em 1967, a coleção de variedades de feijão da<br />

Seção de Leguminosas do Instituto Agronômico de<br />

Campinas foi enriquecida pela introdução de novo<br />

material denominado “carioca”. Após as seleções e<br />

estudos iniciais, verificou-se que esse material<br />

apresentava bom potencial produtivo, destacando-se<br />

dos demais por suas características de alta<br />

produtividade e resistência a moléstias, especialmente<br />

ao mosaico-comum e ferrugem do feijoeiro.<br />

O material foi então incluído nos ensaios de<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

competição de cultivares de feijão instalados em<br />

diversas regiões do estado de São Paulo, nas épocas<br />

de plantio, conhecidas como “das águas” e “da seca”.<br />

Em anos agrícolas consecutivos, a nova variedade<br />

apresentou produtividade bem superior às demais que<br />

já vinham sendo utilizadas para plantio.<br />

Com ótima produtividade e outras características<br />

de boa qualidade, o novo material, que apresenta<br />

sementes com tegumento de coloração bicolor, ou<br />

seja, fundo creme com listras havana, fator que, na<br />

opinião de muitos técnicos, não seria bem aceito por<br />

produtores e donas-de-casa, pois não estavam<br />

acostumados a utilizar feijões do tipo bicolor ou<br />

mesmo rajados. O temor atingiu até alguns membros<br />

da Comissão Técnica Permanente de Leguminosas da<br />

Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, que<br />

julgavam temeroso incluir o novo material para<br />

multiplicação no Plano Estadual de Sementes.<br />

Foi necessária uma série de reuniões com<br />

apresentação dos resultados experimentais, aliás de<br />

forma incontestável, para que a Comissão aceitasse a<br />

introdução do novo cultivar para multiplicação pelo<br />

Departamento de Sementes e Mudas da CATI.<br />

Após essas reuniões, estabeleceu-se, no fim de<br />

1969, um plano de distribuição de amostras de<br />

sementes, juntamente com um folheto demonstrando<br />

as características do novo cultivar, sobretudo para<br />

agricultores da região sudoeste do estado de São Paulo,<br />

onde se concentrava cerca de 60% da produção de<br />

feijão. Além disso, foram realizadas muitas reuniões<br />

com agricultores e técnicos das regiões produtoras,<br />

visando à divulgação da nova variedade.<br />

A primeira noticia oficial sobre o novo cultivar e<br />

suas boas características foi divulgada em 1968, no<br />

Terceiro Encontro de Técnicos em Agricultura,<br />

realizado em Serra Negra (SP). Em meados de 1970,<br />

antes da publicação oficial na revista científica<br />

Bragantia, os resultados foram divulgados por um<br />

artigo do autor no Suplemento Agrícola do jornal O<br />

Estado de São Paulo, atingindo, portanto, alcance<br />

nacional.<br />

Nos anos seguintes, o novo cultivar foi incluído<br />

nos ensaios nacionais de competição de variedades,<br />

conseguindo sempre sobressair-se em produtividade,<br />

sendo indicado para plantio em outros estados<br />

brasileiros, principalmente Paraná e Minas Gerais.<br />

Também, naquela ocasião, o novo material começou<br />

a ser incluído em todos os programas de<br />

melhoramento existentes no país, em vista de suas<br />

ótimas características.<br />

Em 1977, o novo cultivar foi colocado para<br />

competir nos ensaios internacionais, coordenados pelo<br />

Centro Internacional de Agricultura Tropical - CIAT,


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

com sede na Colômbia, figurando entre os mais<br />

produtivos por diversos anos, e considerado por aquele<br />

Centro como testemunha internacional nos ensaios<br />

de avaliação nos anos de 1980 a 1983. O Carioca<br />

passou a ser incluído nos programas de melhoramento<br />

do CIAT, e foi levado para outros países.<br />

Deve-se destacar que a partir da divulgação e da<br />

multiplicação das sementes em 1969, a aceitação do<br />

novo cultivar pelos produtores e também pelas donasde-casa,<br />

foi tão grande que, por volta de 1976, já era o<br />

cultivar mais plantado e comercializado no estado. A<br />

existência de um volume considerável de sementes<br />

de um cultivar de alta produtividade e com a<br />

preferência dos produtores e donas-de-casa permitiu<br />

a criação, em 1980, do Programa de Feijão Irrigado<br />

do Estado de São Paulo, que depois se estendeu para<br />

os estados de Minas Gerais e Goiás. O cultivar Carioca<br />

passou a ser, praticamente, o único plantado nas três<br />

épocas de cultivo, incluindo-se a “de inverno”.<br />

Atualmente, a variedade mais conhecida,<br />

difundida e plantada nos principais estados produtores<br />

de feijão no Brasil é, sem dúvida, o Carioca ou uma<br />

de suas derivadas, que foram despontando nos<br />

programas de pesquisa em melhoramento genético.<br />

O lançamento do cultivar de feijão Carioca,<br />

realizado pelo Instituto Agronômico de Campinas, em<br />

1969, foi um marco histórico na evolução da cultura<br />

no País, podendo-se considerar, que o cultivo do<br />

feijoeiro no Brasil divide-se em duas fases, ou seja,<br />

antes e depois da introdução do feijão Carioca.<br />

O programa de melhoramento genético do<br />

feijoeiro, no Instituto Agronômico, teve continuidade,<br />

desenvolvendo cultivares do tipo Carioca, e nos<br />

últimos anos, colocou à disposição dos produtores<br />

novas variedades com características mais modernas,<br />

possibilidade de colheita mecânica e mais resistentes<br />

aos patógenos prevalecentes nas regiões de plantio.<br />

Destacam-se o Carioca 80, IAC Carioca Aruã, IAC<br />

Carioca Akitá, IAC Carioca Pyatá, e em 1999 foi<br />

lançado o IAC Carioca Eté, com alta produtividade e<br />

resistência às principais moléstias que atacam o<br />

feijoeiro, e ótima aceitação pelos produtores. Este ano,<br />

o Instituto Agronômico lançou uma nova variedade<br />

de feijão, o IAC-Carioca Tybatã. Recomendada para<br />

o plantio nas três épocas de cultivo e com<br />

características de alta produtividade e resistência, a<br />

novidade será benéfica para o mercado e também para<br />

o ambiente.<br />

Seguindo a tradição que os pesquisadores têm<br />

de dar nomes Tupi-Guarani às novas variedades,<br />

Tybatã significa fartura. A expectativa dos<br />

pesquisadores é que com a redução do custo de<br />

produção para o agricultor, o preço para o consumidor<br />

também sofra queda e, com isso, permita maior<br />

consumo da principal fonte de proteína vegetal na<br />

alimentação do brasileiro.<br />

Feijão com arroz<br />

Um prato tipicamente brasileiro é o nosso feijão<br />

com arroz. Tido como um prato de classes menos<br />

abastadas, o feijão com arroz representa um casamento<br />

de sucesso. Esse prato deve sua origem às raças que<br />

formam o nosso país. Os negros já apreciavam o feijão<br />

indígena e passaram a plantá-lo e a comê-lo com<br />

farinha, base da alimentação brasileira até o século<br />

XVIII. Posteriormente foi complementado com arroz<br />

branco por influência portuguesa, principalmente com<br />

Dom João VI.<br />

Qual o valor biológico dessa mistura tão<br />

nacional? O nosso organismo precisa ingerir<br />

aminoácidos essenciais, como a lisina, a metionina e a<br />

cistina. A proteína do feijão é rica em lisina, pouco<br />

presente no arroz, por sua vez, o feijão é deficiente<br />

em aminoácidos sulfurados, como a metionina e a<br />

cistina, os quais têm excelente fonte no arroz. Além<br />

disso, a mistura feijão com arroz é rica em carboidratos,<br />

o componente energético de nossa alimentação.<br />

Em um país como o Brasil, onde a população<br />

em sua maioria é de baixa renda, o ideal seria apoiar a<br />

base alimentar em feijão e arroz, obtendo assim uma<br />

boa qualidade protéica a de baixo custo.<br />

O feijão e a saúde<br />

Comer feijão pode beneficiar o coração<br />

O feijão, normalmente presente na mesa do<br />

brasileiro todos os dias, pode ajudar a reduzir os riscos<br />

de doenças do coração. Aliás, não só o feijão, mas<br />

também a ervilha e o amendoim, todos grãos de<br />

plantas leguminosas. Essa é a conclusão de um estudo<br />

apresentado na 40ª Conferência Anual da Associação<br />

Americana do Coração sobre Epidemiologia e<br />

Prevenção de Doenças Cardiovasculares, nos EUA.<br />

“Pessoas que comem feijão pelo menos quatro vezes<br />

por semana têm uma incidência 20% menor de<br />

doenças do coração do que aquelas que comem apenas<br />

uma vez por semana”, disse Lydia Bazzano, da<br />

Universidade Tulane, em Nova Orleans, EUA. A<br />

pesquisa analisou os efeitos dos grãos de leguminosas<br />

sobre vários tipos de doenças cardiovasculares, como<br />

enfermidades cardíacas e derrames. Um grupo de<br />

11.924 pessoas foi avaliado por 19 anos. Os<br />

participantes tinham idades entre 25 e 74 anos e não<br />

apresentavam nenhum tipo de doença do coração. Eles<br />

109


110<br />

foram divididos em quatro grupos: os que comiam<br />

feijão menos de uma vez por semana, uma vez por<br />

semana, duas a três vezes por semana e, no mínimo,<br />

quatro vezes por semana. Bazzano diz acreditar que<br />

esse resultado esteja associado ao tipo de proteína que<br />

existe no feijão e citou como exemplo estudos que<br />

mostram que proteínas de soja reduzem os níveis de<br />

colesterol total. O estudo envolvendo os possíveis<br />

benefícios do feijão traz informações interessantes,<br />

mas outros fatores como atividade física ou diabetes<br />

podem afetar os resultados da pesquisa.<br />

Feijão x câncer<br />

Por sua riqueza em fibras solúveis e vitaminas<br />

antioxidantes, o feijão é um alimento que deve ser<br />

privilegiado para a prevenção dos cânceres intestinais.<br />

Fatores alimentares são considerados como meios de<br />

diminuir o risco de doenças comuns na população<br />

ocidental, como por exemplo o câncer de mama,<br />

próstata, endométrio e vários outros.<br />

Além de vitaminas e minerais, alguns compostos<br />

biologicamente ativos, chamados fitoquímicos, têm<br />

sido identificados em plantas comestíveis e podem<br />

ser responsáveis pela redução dos riscos de<br />

desenvolvimento de uma dessas doenças. Os<br />

fitoquímicos mais estudados atualmente são os<br />

fitoestrógenos, especialmente como uma forma<br />

alternativa para a terapia de reposição hormonal<br />

durante a menopausa.<br />

Os fitoestrógenos são substâncias ambientais<br />

naturais (produzidas pelas plantas), que apresentam<br />

uma estrutura química diferente dos estrógenos, mas<br />

que atuam da mesma maneira. São encontrados<br />

principalmente em leguminosas como: Soja, feijões,<br />

grãos e brotos. A descoberta dos fitoestrógenos vem<br />

da observação da baixa taxa de câncer de mama e<br />

Feijões carioca, bolinha, rajado, rosinha e jalo<br />

Porção de 30g (2 colheres de sopa) %VD(*)<br />

Valor Calórico 100 kcal 4%<br />

Carboidratos 16g 4%<br />

Proteínas 7g 14%<br />

Gorduras totais 0g 0%<br />

Gorduras saturadas 0g 0%<br />

Colesterol 0mg 0%<br />

Fibra alimentar 8g 27%<br />

Cálcio 31mg 4%<br />

Ferro 2mg 14%<br />

Sódio 0mg 0%<br />

* Valores diários de referência com base em uma dieta<br />

de 2500 calorias.<br />

Fonte: ANVISA, ENDEF, <strong>Jean</strong>, Franco e USDA<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

próstata, e também da taxa pouco elevada de sintomas<br />

ligados à menopausa, nas populações asiáticas<br />

consumidores de soja.<br />

Feijão transgênico<br />

A melhora da feijão por métodos transgênicos é<br />

uma pesquisa importante. No Brasil, a CTNBio<br />

(Comissão Técnica Nacional de Biossegurança)<br />

autorizou recentemente a Embrapa a plantar<br />

experimentalmente um novo tipo de feijão<br />

geneticamente modificado, num sítio localizado em<br />

Goiânia. Depois de quase nove anos em<br />

desenvolvimento, a linhagem testada (8/4MI) é imune<br />

ao vírus que causa uma das principais doenças no<br />

feijão, o mosaico dourado. Segundo o pesquisador da<br />

Embrapa de Recursos Genéticos e Biotecnologia,<br />

Francisco Aragão, a linhagem contendo genes do vírus<br />

agora será cruzada com outras variedades de feijão,<br />

como o jalo, o carioca e o preto. “O passo seguinte é<br />

a obtenção de linhagens puras desses cruzamentos,<br />

que poderão ser comercializadas”. O feijão foi<br />

transformado com genes defeituosos da proteína que<br />

copia o DNA do vírus. A planta passa a produzir uma<br />

proteína chamada “preguiçosa”, que se liga ao DNA<br />

do vírus, mas não o multiplica. Os primeiros resultados<br />

virão em quatro meses, mas a pesquisa não tem prazo<br />

para conclusão.<br />

Feijão e nutrição<br />

Informação nutricional<br />

Chamado pelos italianos de “carne dos pobres”,<br />

o feijão é um importante componente da nossa<br />

alimentação, pois é rico em proteínas, não contém<br />

colesterol, fornece as vitaminas B2 e B5, do complexo<br />

Feijão preto<br />

Porção de 30g (2 colheres de sopa) %VD(*)<br />

Valor Calórico 100 kcal 4%<br />

Carboidratos 19g 5%<br />

Proteínas 6g 14%<br />

Gorduras totais 0,5g 1%<br />

Gorduras saturadas 0g 0%<br />

Colesterol 0mg 0%<br />

Fibra alimentar 8g 27%<br />

Cálcio 43mg 4%<br />

Ferro 1mg 7%<br />

Sódio 50mg 2%<br />

* Valores diários de referência com base em uma dieta<br />

de 2500 calorias.<br />

Fonte: ANVISA, ENDEF, <strong>Jean</strong>, Franco e USDA


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

B, e sais minerais indispensáveis à vida, como o ferro,<br />

sódio e potássio.<br />

O feijão contém cerca de 22 a 26% de proteína<br />

vegetal, 62 a 67% de carboidratos, 3,8 a 4,5% de cinzas,<br />

1,0 a 2,0% de lipídios, 3,8 a 5,7% de fibra bruta,<br />

Feijão e micronutrientes na alimentação brasileira<br />

Analisando a dieta de grupos da população<br />

brasileira, com maior ênfase nos minerais, a Prof a<br />

Dr a Silvia Maria Franciscato Cozzolino, do<br />

Laboratório de Nutrição e Minerais da Faculdade<br />

de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e<br />

Presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação<br />

e Nutrição, tem buscado elaborar um guia de<br />

alimentação adequado para a população brasileira.<br />

A pesquisa quer relacionar a dieta, através de análise<br />

nos alimentos consumidos, com o estado nutricional<br />

das pessoas.<br />

Segundo Silvia Cozzolino, os atuais estudos de<br />

nutrição avaliam a dieta por tabela de composição.<br />

Mas os alimentos variam, principalmente com<br />

relação a esses micronutrientes, dependendo do solo,<br />

do clima, da época da colheita e de outros fatores.<br />

O feijão é uma importante fonte de proteína<br />

e de ferro. Cultivado na região de São Paulo, contém<br />

muito menos selênio do que o feijão cultivado na<br />

região sul ou nordeste, onde o solo é mais rico deste<br />

mineral. “A diferença não é tão grande, a ponto de<br />

interferir na nutrição, porque existe um lado genético<br />

do grão que é responsável pela incorporação de<br />

determinados nutrientes”, explica Silvia. Essa<br />

diferença é encontrada principalmente em minerais<br />

e vitaminas. Além disso, o modo de preparo do<br />

alimento pode ocasionar perdas.<br />

O trabalho de pesquisa é feito com pequenos<br />

grupos da população considerados de maior risco.<br />

São exames para saber qual a quantidade de<br />

carboidratos, proteínas, fibras e minerais que são<br />

consumidos, analisando uma fração idêntica de tudo<br />

que é consumido num dia por essas pessoas.<br />

A dieta usual tem um excesso de gordura que<br />

é uma caloria vazia. Isso leva a uma deficiência de<br />

micronutrientes, principalmente minerais e<br />

vitaminas. “Dentre esses, o que tem mais deficiência<br />

na nossa dieta é o cálcio. O ferro é mal absorvido,<br />

apesar de se apresentar dentro da dieta. O magnésio<br />

está no limite mínimo. O zinco e o selênio, que são<br />

dois minerais muito importantes para o metabolismo<br />

do organismo, também estão limítrofes na região<br />

sudeste”. A recomendação é de que exista uma<br />

ingestão maior de cálcio e uma suplementação de<br />

colesterina, caseína vegetal, globulina, ácido cítrico,<br />

sacarose, além de conter teor relativamente alto de<br />

fibra alimentar — que ajuda a diminuir o nível do LDL<br />

- colesterol, no sangue.<br />

O feijão também é uma excelente fonte de<br />

ferro, que depende da biodisponibilidade do<br />

organismo ser aproveitado. Para Silvia Cozzolino, a<br />

expressão comumente utilizada de que “sempre<br />

consome quem não precisa” não é real, por exemplo,<br />

com relação ao ferro. Estudos mostram que sua<br />

deficiência, de outros minerais e vitaminas, conhecida<br />

como “fome oculta”, já atinge jovens da classe média<br />

e alta.<br />

Para Silvia Cozzolino, a fortificação de<br />

alimentos com o acréscimo de cálcio e ferro, por<br />

exemplo, seria o ideal. A suplementação de vitaminas<br />

e minerais através de medicamentos não é adequada<br />

porque, muitas vezes, pode causar uma interação<br />

entre os nutrientes que poderia interferir no<br />

aproveitamento.<br />

Por esses micronutrientes estarem num limite<br />

mínimo, qualquer desequilíbrio do organismo pode<br />

provocar uma maior suscetibilidade a uma série de<br />

problemas e agravamento de determinadas<br />

patologias. Por esse motivo, os pesquisadores estão<br />

realizando estudos também em populações que<br />

tenham algum tipo de doença, como no caso dos<br />

diabéticos que, por todas as restrições alimentares e<br />

pelas alterações que têm no metabolismo, também<br />

têm uma alteração no metabolismo do zinco. “E<br />

alguns sintomas que ocorrem com o agravamento<br />

da doença poderiam ter uma relação com a<br />

deficiência de zinco, como problemas<br />

cardiovasculares”, diz Sílvia.<br />

A pesquisadora acredita que se o brasileiro<br />

continuar a consumir uma dieta segundo seu hábito<br />

alimentar, baseada no arroz, no feijão, um pouco de<br />

carne, verdura e fruta, ele estaria consumindo a<br />

quantidade adequada e se alimentando bem. A<br />

recomendação é de que se aumentasse a quantidade<br />

de leite ou derivados, sem aumentar a quantidade de<br />

gordura, utilizando a ricota, o queijo minas ou o leite<br />

desnatado.<br />

A carne, mesmo em pequena quantidade,<br />

facilita a absorção do ferro e do zinco. O leite não<br />

deve ser consumido numa refeição principal porque<br />

prejudica a absorção do ferro. Já a vitamina C contida<br />

na laranja ajuda o aproveitamento do ferro numa<br />

refeição principal.<br />

111


112<br />

Feijão branco<br />

Porção de 30g (2 colheres de sopa) %VD(*)<br />

Valor Calórico 110 kcal 4%<br />

Carboidratos 18g 4%<br />

Proteínas 8g 16%<br />

Gorduras totais 0g 0%<br />

Gorduras saturadas 0g 0%<br />

Colesterol 0mg 0%<br />

Fibra alimentar 0g 0%<br />

Cálcio 24mg 2%<br />

Ferro 2mg 12%<br />

Sódio 0mg 0%<br />

* Valores diários de referência com base em uma dieta<br />

de 2500 calorias. Fonte: ANVISA, ENDEF e USDA<br />

vitaminas hidrossolúveis como a tiamina, a riboflavina,<br />

a niacina e a folacina, porém é pobre em ácido<br />

ascórbico (vitamina A) e aminoácidos sulfurados.<br />

Uma porção de 170 g de feijão com um conteúdo<br />

de 65% de umidade equivale a 10% das necessidades<br />

diárias de cálcio e zinco e 20% das de fósforo,<br />

magnésio e manganês. Essa mesma porção de feijão<br />

supre 29% e 55% das necessidades diárias de,<br />

respectivamente, mulheres e homens.<br />

Segundo o ENDEF (Estudo Nacional de Despesa<br />

Familiar), 18,5% do consumo de proteínas no País<br />

é suprido pelo feijão; e no Nordeste brasileiro, 34% do<br />

ferro consumido pela população advém do feijão.<br />

Informação nutricional<br />

Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Arroz<br />

Composição média de arroz cru (100g)<br />

Carboidratos 79,9g<br />

Proteínas 7,2g<br />

Lipídios 0,6g<br />

Colesterol 0mg<br />

Fósforo 104g<br />

Cálcio 9mg<br />

Ferro 1,3mg<br />

Em 100g de arroz cozido, 109,7 calorias<br />

Valores referentes à média de amostragem de grãos<br />

longo fino. Fonte: IBGE<br />

Fontes: EMBRAPA, IBGE, ANVISA, ENDEF,<br />

USDA,Universidade Estadual de Campinas, Jornal O<br />

Estado de São Paulo, Universidade Federal de São Paulo,<br />

Instituto Agronômico de Campinas, Centro Internacional de<br />

Agricultura Tropical, Secretaria de Agricultura e Abastecimento<br />

de São Paulo, EMATER, Atlas de Zoneamento<br />

Agroclimático do Estado de Minas Gerais,<br />

Zoneamento Agrícola do Estado de São Paulo, Secretaria de<br />

Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia,<br />

Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e<br />

Biotecnologia.<br />

Dossiê realizado por Ricardo Augusto da Silva Ferreira


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Notícias da Profissão<br />

As Diretrizes Curriculares Nacionais e as<br />

mudanças estruturais no ensino de Nutrição<br />

Iº Fórum Nacional sobre a Construção da Identidade do Nutricionista,<br />

2 a 4 de julho de 2002 - Rio de Janeiro<br />

As novas Diretrizes Curriculares Nacionais –<br />

DCN, estabelecidas pelo MEC para os cursos de<br />

graduação em Nutrição (CNE/CES/MEC, 2001),<br />

motivam profundas mudanças, seja para as instituições<br />

da rede pública ou privada. Estas Diretrizes fornecem<br />

as bases filosóficas, conceituais, e metodológicas para<br />

que se construa, no período de formação, um conjunto<br />

de habilidades e competências, estruturando o<br />

conhecimento nesta área do saber. “Ao se pensar uma<br />

disciplina deve-se considerar sua flexibilidade em propiciar ao<br />

aluno o constante trânsito entre teoria e prática, prática e teoria.<br />

Além disto, seu conteúdo deve ter inter-relação de fato as demais<br />

disciplinas. Os aspectos de relação interpessoal também poderiam<br />

ser valorizados na construção da formação integral do aluno,<br />

contribuindo assim na identificação deste com a carreira e,<br />

conseqüentemente, levando ao fortalecimento de sua postura<br />

profissional. A relação formal clássica do professor, que transmite<br />

conhecimentos para alunos aptos a recebê-los como pacientes,<br />

não condiz com o perfil crítico desejado. As diretrizes apontam<br />

para uma metodologia que garanta ao aluno desenvolver<br />

capacidade para lidar com situações reais, buscando sua<br />

transformação, viver a universidade pensando seu papel no<br />

mundo extra-muros”, comenta Lucia Andrade,<br />

presidente do CRN-4, professora da UFRJ e<br />

participante da Comissão de Reestruturação Curricular<br />

do Instituto de Nutrição.<br />

Esse repensar do ensino, pelo que se configura<br />

pelas DCN, deverá reverter o desequilíbrio entre o<br />

investimento na base teórica e prática – um dado muito<br />

apontado pelo egresso que entra em contato com o<br />

mercado de trabalho e pelos próprios alunos. “Como<br />

os conteúdos das disciplinas não estão articulados,<br />

apesar de bastante atualizados, o aluno não percebe a<br />

aplicabilidade do que lhe é ensinado em sala de aula”,<br />

explica Lucia, citando a disciplina pela qual é<br />

responsável - “Para o discente, determinados<br />

conteúdos da disciplina de administração de serviços<br />

parece algo dispensável, já que ele não entende para<br />

que serve. Saber sobre custos, por exemplo, não se<br />

resume às técnicas para seu controle, mas se refere<br />

também à capacidade de relacionar esse dado à análise<br />

da política econômica atual e suas conseqüências no<br />

processo de tabelamento de preços, disponibilidade<br />

de alimentos, acesso da população a estes produtos,<br />

relação da alta do dólar com a cesta básica e tudo<br />

mais”. Em seu trabalho junto aos alunos do período<br />

de estágio, Lucia observa que é neste momento que<br />

começa a fazer sentido para eles os vários conteúdos<br />

ministrados, o que os obriga a um resgate de tudo<br />

que já foi visto anteriormente nas disciplinas. Uma<br />

constatação tardia de que muitas aulas poderiam ter<br />

sido melhor aproveitadas se tivessem se dado conta<br />

de que o que estava sendo apresentado seria realmente<br />

útil um dia.<br />

Sendo assim, uma dinâmica mais equilibrada<br />

entre o que é ministrado em sala de aula e o que é<br />

vivenciado em outras situações, como estágio e<br />

pesquisa, enriqueceria o aprendizado do graduando.<br />

Outro caminho importante, segundo Lucia, seria a<br />

constante troca de informações entre professores de<br />

períodos diferenciados.<br />

Falando ainda sobre o perfil do nutricionista que<br />

se quer, Lucia considera relevante dividir, com os<br />

formadores, o momento de apreensão gerado pela<br />

abertura, em ritmo cada vez maior, de novos cursos<br />

de Nutrição. Sua preocupação é que o atendimento a<br />

uma demanda potencial de formação de nível superior<br />

venha a priorizar a preparação de mão-de-obra para<br />

suprir necessidades do mercado - cursos voltados para<br />

a empregabilidade e não para as demandas da<br />

113


114 Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

sociedade. “Esta tendência agravará ainda mais vários<br />

problemas, como a pouca experiência na área de saúde<br />

pública, não identificação e distaciamento da realidade<br />

da população das diversas regiões. Os Conselhos<br />

Regionais de Nutricionistas observam que, quando<br />

se gera oportunidade de emprego no interior, não há<br />

profissionais para atender ao campo da Nutrição. Ou<br />

seja, o período de formação deveria considerar a<br />

proposta de promover saúde, levando em conta as<br />

relações sócio-políticas deste país, com seus contrastes<br />

geradores de grandes problemas de saúde pública,<br />

como a dualidade desnutrição/obesidade. Precisamos,<br />

portanto, estar preparados para intervir nesta realidade,<br />

mas não sob a ótica de atender apenas às demandas<br />

dos grandes centros”, pondera Lucia.<br />

As conseqüências de todas estas mudanças<br />

incidirão sobre a formação técnica e identidade do<br />

profissional. Daí a iniciativa do Instituto de Nutrição<br />

Josué de Castro, da UFRJ, e Conselho Regional de<br />

Nutricionistas-4a Região de criar um espaço que<br />

permitisse a discussão da reforma curricular.<br />

Promovido em julho deste ano, o I Fórum Nacional<br />

sobre a Construção da Identidade do Nutricionista<br />

teve como tema O projeto pedagógico e o impacto<br />

das Diretrizes Curriculares, reunindo profissionais de<br />

ensino e pesquisa na Nutrição, professores e cientistas<br />

de áreas como história, sociologia e pedagogia, que<br />

trabalham sobre métodos didáticos. “Uma mudança<br />

curricular como esta dificilmente se faz sozinho. Nossa<br />

intenção foi contribuir com instrumentos didáticopedagógicos,<br />

já que a Comissão de Reestruturação<br />

Curricular formada na UFRJ avaliou de forma muito<br />

positiva os trabalhos que realizou até agora, os quais<br />

contaram com a consultoria de especialistas da área<br />

de pedagogia”.<br />

Instituída em agosto de 1999, a Comissão<br />

ampliou suas discussões para todos os docentes e<br />

discentes, buscando a adequação de conteúdos, ou seja,<br />

inserção e exclusão de conteúdos curriculares e<br />

redistribuição da carga horária. Em continuidade, ao<br />

processo vêm sendo realizadas oficinas e workshops<br />

sobre as metodologias de ensino que favorecem uma<br />

maior integração do eixo docente-discente. Como uma<br />

das ações adotadas, o Instituto de Nutrição, em<br />

parceria com o Núcleo de Tecnologia Educacional<br />

para a Saúde (NUTES/UFRJ), promoveu o I<br />

Workshop sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais<br />

para os Cursos de Graduação em Nutrição, cujos<br />

resultados foram publicados no número 4 - volume<br />

II, da revista Cadernos de Currículo e Ensino do<br />

Laboratório de Currículo e Ensino do NUTES.<br />

A partir da avaliação do contexto interno e<br />

externo à Instituição, a Comissão de Reestruturação<br />

Curricular apontou deficiências que, de um modo<br />

geral, são comuns a grande parte das Instituições de<br />

Ensino Superior brasileiras: sensível desarticulação<br />

entre os ciclos básico e profissionalizante do curso;<br />

desequilíbrio entre a carga horária teórica e prática,<br />

com acentuado privilegiamento da primeira; inserção<br />

tardia do discente na prática profissional; metodologia<br />

desenvolvida que reforça a atitude passiva no discente;<br />

rigidez da grade curricular e, conseqüentemente, do<br />

discente que não dispõe de horários previstos para<br />

atividades acadêmicas extraclasse, bem como a<br />

inserção de disciplinas optativas e eletivas que visam<br />

à formação de um profissional sintonizado com as<br />

exigências da sociedade e com o acelerado<br />

desenvolvimento técnico-científico.<br />

Como próximo passo, a Comissão irá<br />

instrumentalizar os docentes para o desenvolvimento<br />

de métodos didáticos, em consonância com uma sólida<br />

formação do graduado, a fim de que venha a exercer<br />

com competência, autonomia e liberdade as suas<br />

atribuições profissionais, bem como a corporificação<br />

do objetivo de implementação de uma metodologia<br />

pedagógica que leve o aluno a desenvolver em<br />

plenitude as competências e habilidades preconizadas<br />

nas Diretrizes Curriculares Nacionais.<br />

Composta pela coordenadora de Graduação, Prof a<br />

Marta Maria Souza Santos, representantes dos três<br />

departamentos que compõem o Instituto de Nutrição,<br />

representante dos alunos e representante do Conselho<br />

Regional de Nutricionistas da 4ª Região – CRN-4, a<br />

Comissão de Reestruturação Curricular tem, em sua<br />

origem, a proposta de ser um organismo participativo.<br />

O convite para que o CRN-4 integrasse o grupo veio<br />

logo que se iniciaram os trabalhos. “A ocasião em que<br />

recebemos este convite foi muito oportuna, porque o<br />

Conselho estava secretariando as reuniões do Colegiado<br />

dos Conselhos Profissionais do Estado do Rio de<br />

Janeiro, que tinha em sua pauta questões relacionadas<br />

aos cursos seqüenciais. Naturalmente, dentro da<br />

universidade este tema também estava presente. Assim,<br />

pude compartilhar a visão de outras categorias e<br />

sedimentar o entendimento de que, por acompanhar a<br />

atuação do profissional, o CRN-4 não deveria ficar à<br />

parte desse processo”. Lucia esclarece que a abordagem<br />

de assuntos relacionados à atuação profissional, como<br />

legislação e Código de Ética, tem muito a contribuir<br />

para a formação, dado que estas legislações foram<br />

criadas como parâmetro de uma prática adequada. Para<br />

ela, este contato da entidade com as instituições de<br />

ensino também facilitaria uma aproximação com o<br />

futuro nutricionista e seu conseqüentemente engajamento<br />

nos diversos programas de valorização<br />

profissional.


Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Fórum democratiza as discussões<br />

Realizado entre os dias 2 e 4 de julho de 2002, o I<br />

Fórum Nacional sobre a Construção da Identidade<br />

do Nutricionista teve como tema “O Projeto<br />

Pedagógico e o Impacto das Diretrizes Curriculares”.<br />

Seu objetivo foi contribuir para a reflexão acerca das<br />

características, contexto de criação, conteúdo e<br />

implicações das novas Diretrizes Curriculares<br />

Nacionais para a formação, identidade, papel social<br />

e valorização do nutricionista. Constitui um espaço<br />

democrático de discussão e tomada de conclusões e<br />

recomendações concernentes ao campo do ensino<br />

de Nutrição, trazendo a público o conhecimento e o<br />

referencial teórico de especialistas que dominam<br />

áreas estratégicas do tema ensino de Nutrição no<br />

país. Iniciativa da UFRJ e CRN-4, o evento contou<br />

com a presença dos seguintes representantes e<br />

palestrantes:<br />

Composição mesa de abertura:<br />

— Prof. Sérgio Fracalanzza<br />

Decano do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ<br />

— Profª Andréa Ramalho<br />

Diretora do Instituto de Nutrição/UFRJ<br />

— Profª. Lucia Andrade<br />

Presidente do CRN-4<br />

— Rosana Nascimento<br />

Presidente do Conselho Federal de Nutricionistas<br />

— Profa Maysa Beltrame Pedroso<br />

Representante da FNN<br />

— Profa Maria Luiza Sampaio Banduk,<br />

Representante da ASBRAN<br />

— Renata Ferreira, aluna da UFRJ,<br />

Representando o ENEN<br />

Conferência:<br />

Política atual de ensino superior<br />

— Prof. Roberto Leher<br />

Faculdade de Educação da UFRJ; ex-presidente<br />

da ANDES<br />

Mesa redonda:<br />

Panorama da atuação profissional:<br />

§ Nas distintas áreas de trabalho do nutricionista<br />

no Brasil.<br />

Profa. Sandra Chemin - Conselho Federal de<br />

Nutricionistas<br />

§ Nas distintas áreas de trabalho do nutricionista,<br />

no âmbito da jurisdição do Conselho Regional de<br />

Nutricionistas - 4ª Região (CRN-4)<br />

— Profª Lucia Andrade – Presidente do CRN-4<br />

Valorização da identidade profissional<br />

— Profª Marise Ramos<br />

Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ<br />

— Prof. André Pereira Neto<br />

Pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/<br />

FIOCRUZ<br />

— Profª Eronides da Silva Lima<br />

Instituto de Nutrição/UFRJ<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais para Nutrição<br />

Contexto de formulação<br />

Estrutura e características do modelo de<br />

organização curricular aprovado pelo Conselho<br />

Nacional de Educação<br />

Implicações para a prática curricular e pedagógica,<br />

e condições de implantação.<br />

— Prof. Gilberto Paixão - Universidade Federal de<br />

Viçosa (UFV); membro da Comissão de<br />

Especialistas – MEC/SESu<br />

— Prof. Camilo Adalton Mariano da Silva -<br />

Membro da Comissão de Avaliação de Cursos<br />

de Nutrição, instituída pelo Conselho Estadual<br />

de Educação de Minas Gerais<br />

Questões para as Diretrizes Curriculares<br />

§ Problemas concretos, dinâmica e movimentos de<br />

mudança nos cursos de Nutrição, com base nas<br />

Diretrizes Curriculares<br />

— Profª Sandra Maria Chaves<br />

Escola de Nutrição/ Universidade Federal da<br />

Bahia (UFBA)<br />

A função docente, o egresso dos cursos de<br />

Nutrição e a realidade da pesquisa, da extensão e<br />

dos serviços<br />

— Profª Rosana Magalhães<br />

ENSP/FIOCRUZ<br />

— Nutricionista Rosangela Banharo<br />

Alimentação Coletiva/INFOGLOBO<br />

— Nutricionista Ana Lucia Cunha<br />

Nutrição Clínica/Consultório<br />

115


116 Nutrição Brasil - Julho/Agosto 2002;1(2)<br />

Sessão de palestras<br />

Etapas do projeto pedagógico<br />

— Profª Victoria Maria Brant Ribeiro – Núcleo<br />

de Tecnologia Educacional para a Saúde/UFRJ<br />

A experiência da UFRJ na reforma curricular do curso<br />

de graduação em Nutrição<br />

— Profª Marta Maria Antonieta de Souza Santos<br />

Instituto de Nutrição/UFRJ<br />

— Profª Victoria Maria Brant Ribeiro<br />

NUTES/UFRJ<br />

§ Determinantes da expansão dos cursos de nível<br />

superior no país - Núcleo de Pesquisas sobre<br />

Ensino Superior/USP<br />

§ A expansão dos cursos de Nutrição no Brasil<br />

— Profª Alcina Saldanha da Gama – Faculdade<br />

Arthur Sá Earp Neto/Petrópolis<br />

Encerramento:<br />

Criação da Comissão Nacional Permanente de<br />

Ensino em Nutrição.<br />

A mesa fez a leitura da proposta da Presidente da<br />

Asbran, Albaneide Peixinho, considerando que esta<br />

comissão fique ligada à Asbran e incorpore todas as<br />

demandas da área de ensino. A deliberação quanto à<br />

composição desta comissão deverá ocorrer no<br />

próximo ENAEN - Encontro Nacional de<br />

Entidades de Nutrição, previsto para ocorrer ainda<br />

este ano.<br />

O Fórum contou com o apoio do Conselho Federal<br />

de Nutricionistas -CFN, Conselhos Regionais de<br />

Nutricionistas, Associação Brasileira de Nutrição –<br />

ASBRAN, Associação de Nutrição do Estado do Rio<br />

de Janeiro – ANERJ, Federação Nacional de<br />

Nutricionistas – FNN, Sindicato dos Nutricionistas<br />

do Estado do Rio de Janeiro – SINERJ, Sindicato dos<br />

Nutricionistas do Estado de São Paulo – SINESP e<br />

Executiva Nacional de Estudantes de Nutrição –<br />

ENEN. A organização do evento foi resultado de uma<br />

parceria com o Conselho Regional de Relações<br />

Públicas – CONRERP.<br />

As informações compiladas com base nas palestras e materiais de apoio, apresentados no I Fórum<br />

Nacional sobre a Construção da Identidade do Nutricionista - “O Projeto Pedagógico e o Impacto<br />

das Diretrizes Curriculares”, estarão disponíveis para os interessados, a partir da segunda semana<br />

de setembro. Como desdobramento desta iniciativa, serão realizados, pelo CRN-4, seminários<br />

regionais nos estados de sua jurisdição: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.<br />

Maiores informações pelo telefone (21) 2262-8678.


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

Normas de publicação Nutrição Brasil<br />

A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />

periodicidade bimestral e está aberta para a publicação<br />

e divulgação de artigos científicos das áreas<br />

relacionadas à Nutrição.<br />

Os artigos publicados em Nutrição Brasil<br />

poderão também ser publicados na versão eletrônica<br />

da revista (Internet) assim como em outros meios<br />

eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no<br />

futuro, sendo que pela publicação na revista os autores<br />

já aceitem estas condições.<br />

A revista Nutrição Brasil assume o “estilo<br />

Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts<br />

submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;<br />

336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê<br />

Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com<br />

as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o<br />

texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes<br />

no site do International Committee of Medical Journal<br />

Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada<br />

de outubro de 2001.<br />

Os autores que desejarem colaborar em alguma<br />

das seções da revista podem enviar sua contribuição<br />

(em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação,<br />

sendo que fica entendido que isto não implica na<br />

aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />

O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir<br />

trocas ou retorno de acordo com a circunstância,<br />

realizar modificações nos textos recebidos; neste<br />

último caso não se alterará o conteúdo científico,<br />

limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />

1. Editorial<br />

Trabalhos escritos por sugestão do Comitê<br />

Científico, ou por um de seus membros.<br />

Extensão: Não devem ultrapassar três páginas<br />

formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte<br />

English Times (Times Roman) com todas as<br />

formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />

sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais<br />

que dez referências.<br />

2. Artigos originais<br />

Serão considerados para publicação, aqueles não<br />

publicados anteriormente, tampouco remetidos a<br />

outras publicações, que versem sobre as áreas<br />

relacionadas à Nutrição.<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />

12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />

Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />

texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no<br />

formato Excel/Word.<br />

Figuras: Considerar no máximo 8 figuras,<br />

digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />

editados em Power-Point, Excel, etc.<br />

Bibliografia: É aconselhável no máximo 50<br />

referências bibliográficas.<br />

Os critérios que valorizarão a aceitação dos<br />

trabalhos serão o de rigor metodológico científico,<br />

novidade, originalidade, concisão da exposição, assim<br />

como a qualidade literária do texto.<br />

3. Revisão<br />

Serão os trabalhos que versem sobre alguma das<br />

áreas relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê<br />

Científico, bem como remetida espontaneamente pelo<br />

autor, cujo interesse e atualidade interessem a<br />

publicação na revista.<br />

Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o<br />

mesmo dos artigos originais.<br />

4. Comunicação breve<br />

Esta seção permitirá a publicação de artigos<br />

curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores<br />

apresentem observações, resultados iniciais de estudos<br />

em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos<br />

já editados na revista, com condições de argumentação<br />

mais extensa que na seção de cartas do leitor.<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />

117


118<br />

três páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />

Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />

texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em<br />

Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou<br />

que possam ser editados em Power Point, Excel, etc<br />

Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15<br />

referências bibliográficas.<br />

5. Resumos<br />

Nesta seção serão publicados resumos de<br />

trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras<br />

revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive<br />

traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />

6. Correspondência<br />

Esta seção publicará correspondência recebida,<br />

sem que necessariamente haja relação com artigos<br />

publicados, porém relacionados à linha editorial da<br />

revista.<br />

Caso estejam relacionados a artigos<br />

anteriormente publicados, será enviada ao autor do<br />

artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.<br />

Texto: Com no máximo duas páginas A4, com<br />

as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem<br />

tabelas ou figuras.<br />

Preparação do original<br />

1. Normas gerais<br />

1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados<br />

em processador de texto (Word, Wordperfect, etc),<br />

em página de formato A4, formatado da seguinte<br />

maneira: fonte Times Roman (English Times)<br />

tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais<br />

como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />

1.2 Numere as tabelas em romano, com as<br />

legendas para cada tabela junto à mesma.<br />

1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de<br />

acordo com as especificações anteriores.<br />

As imagens devem estar em tons de cinza, jamais<br />

coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica –<br />

300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados<br />

e nos formatos .tif ou .gif.<br />

1.4 As seções dos artigos originais são estas:<br />

resumo, introdução, material e métodos, resultados,<br />

Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser<br />

o responsável pela tradução do resumo para o inglês<br />

e também das palavras-chave (key-words). O envio<br />

deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,<br />

zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos<br />

enviados por correio em mídia magnética (disquetes,<br />

etc) anexar uma cópia impressa e identificar com<br />

etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo,<br />

data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como<br />

o processador de texto utilizado e outros programas<br />

e sistemas.<br />

2. Página de apresentação<br />

A primeira página do artigo apresentará as<br />

seguintes informações:<br />

• Título em português e inglês.<br />

• Nome completo dos autores, com a<br />

qualificação curricular e títulos acadêmicos.<br />

• Local de trabalho dos autores.<br />

•Autor que se responsabiliza pela correspondência,<br />

com o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />

• Título abreviado do artigo, com não mais de<br />

40 toques, para paginação.<br />

• As fontes de contribuição ao artigo, tais como<br />

equipe, aparelhos, etc.<br />

3. Autoria<br />

Todas as pessoas consignadas como autores<br />

devem ter participado do trabalho o suficiente para<br />

assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />

O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />

contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />

desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados;<br />

b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma<br />

parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a<br />

aprovação definitiva da versão que será publicada.<br />

Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />

a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção<br />

de recursos ou na coleta de dados não justifica a<br />

participação como autor. A supervisão geral do grupo<br />

de pesquisa também não é suficiente.<br />

4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />

Key-words)<br />

Na segunda página deverá conter um resumo<br />

(com no máximo 150 palavras para resumos não<br />

estruturados e 200 palavras para os estruturados),<br />

seguido da versão em inglês.<br />

O conteúdo do resumo deve conter as seguintes


Nutrição Brasil - maio/junho 2002;1(1)<br />

informações:<br />

• Objetivos do estudo.<br />

• Procedimentos básicos empregados<br />

(amostragem, metodologia, análise).<br />

• Descobertas principais do estudo (dados<br />

concretos e estatísticos).<br />

• Conclusão do estudo, destacando os aspectos<br />

de maior novidade.<br />

Em seguida os autores deverão indicar quatro<br />

palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a<br />

indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os<br />

termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias<br />

médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />

Medicus ou, no caso de termos recentes que não<br />

figurem no MeSH, os termos atuais).<br />

5. Agradecimentos<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />

auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />

governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />

devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />

referências, em uma secção especial.<br />

6. Referências<br />

As referências bibliográficas devem seguir o<br />

estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes.<br />

As referências bibliográficas devem ser numeradas por<br />

numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em<br />

ordem na qual aparecem no texto, seguindo as<br />

seguintes normas:<br />

Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,<br />

letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo,<br />

ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo),<br />

ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local<br />

da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano<br />

da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />

Exemplo:<br />

1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In:<br />

Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology,<br />

diagnosis and management. 2 nd ed. New-York: Raven<br />

press; 1995. p.465-78.<br />

Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)<br />

autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos<br />

nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título<br />

da revista ano de publicação seguido de ponto e<br />

vírgula, número do volume seguido de dois pontos,<br />

páginas inicial e final, pon<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />

auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />

governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />

devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />

referências, em uma secção especial.<br />

Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Atlantica Editora<br />

Rua Conde Lages, 27 - Glória<br />

20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />

Tel: (21) 2221 4164<br />

E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br<br />

119


AGOSTO<br />

2002<br />

21 de agosto de 2002<br />

O impacto da Síndrome plurimetabólica<br />

nas doenças cardiovasculares<br />

Informações : (13) 3286-2266<br />

SOCESP -Sociedade de Cardiologia do<br />

Estado de SP- Regional de Santos<br />

www.socesp.org.br<br />

24 a 29 de agosto<br />

9 th International Congress on Obesity<br />

Hotel Transamérica, São Paulo, SP<br />

Informações: www.abeso.org.br<br />

Tel: (11) 3079-2298<br />

Fax: (11) 3079-4232<br />

26 a 28 de agosto<br />

IIº Encontro de Nutrição da Sociedade<br />

Portuguesa de Beneficência de Santos<br />

Salão Nobre da SPB de Santos<br />

Av. Bernardino de Campos, 47<br />

Santos SP<br />

Tel: (13) 3229-3430<br />

29 de agosto<br />

IIº Encontro de Nutrição<br />

Teatro Sesi de Santo André<br />

Praça Armando de Arruda Pereira, 100<br />

Santo André - SP<br />

(11) 4996-2065 / 49972188<br />

ramal 2039<br />

Email: bancodealimentos@craisa.com.br<br />

30 a 31 de agosto<br />

9 th International Congress on Obesity<br />

Satellite Symposium – Obesity,<br />

Hormones and the Metabolic Syndrome<br />

Hotel Glória, Rio de Janeiro – RJ<br />

Informações (21) 2286-2846<br />

www.jz.com.br<br />

SETEMBRO<br />

21 a 25 de setembro<br />

25º Congresso Brasileiro de<br />

Endocrinologia e Metabologia<br />

Calendário de eventos<br />

Blue Towers, Brasília - DF<br />

Informações : SBEM (21) 07-5189/<br />

(21)2221-7577 ramal 1193<br />

21 a 24 de setembro<br />

Fórum de Nutrição / 57º Congresso da<br />

Sociedade Brasileira de Cardiologia<br />

Centro de Exposições Imigrantes,<br />

São Paulo<br />

Informações : www.cardiol.br<br />

27 e 28 de setembro<br />

Nutrição Clínica nas Alterações do<br />

Sistema Digestório<br />

Sheraton Mofarrej Hotel<br />

Informações: Núcleo (11) 5055-8061<br />

OUTUBRO<br />

1 a 4 de outubro<br />

9 th European Nutrition Conference<br />

Roma, Itália<br />

Informações: mailsinu@tin.it<br />

3 a 5 de outubro<br />

16 th International Symposium “In Vivo<br />

Body Composition Studies”<br />

Roma, Itália<br />

Informações: www.uniroma2.it/eventi/<br />

BodyComp2002<br />

9 a 13 de outubro<br />

Feira Internacional de Nutrição e<br />

Alimentação<br />

Expo Center Norte (Pavilhão branco),<br />

São Paulo – SP<br />

17 e 18 de Outubro<br />

II o Simpósio nacional sobre alimentos<br />

transgênicos<br />

Universidade Federal de Viçosa<br />

Viçosa, Minas Gerais<br />

Informações: Agromark - Secretaria do<br />

Evento<br />

Departamento de Fitotecnia<br />

Tel: (31)899-2916<br />

Fax: (31)3899-2917<br />

E-mail: Aluízioborem@ufv.br<br />

17 a 19 de outubro<br />

I o Congresso paulista de Nutrição<br />

Clínica<br />

Centro de Convenções Rebouças<br />

Tel: (11) 3839-7100<br />

E-mail: alsp@promocoes.com.br ou<br />

imen@hcor.com.br<br />

NOVEMBRO<br />

7 a 9 de novembro<br />

III o Congresso Internacional de<br />

Nutrição, Longevidade e Qualidade<br />

de Vida<br />

Sheraton Mofarrej, São Paulo - SP<br />

Informações: Núcleo (11) 5055-8061<br />

10 a 13 de novembro<br />

III o Conferência Regional Latino-<br />

Americana de Promoção da Saúde e<br />

Educação para Saúde<br />

Memorial da América Latina, São Paulo<br />

Informações : (11) 3079-6724<br />

www.fsp.usp.br/cepedoc<br />

2004<br />

XIV th International Congress of<br />

Dietetics<br />

Chicago, EUA<br />

Informações:<br />

2004Congress@catright.org<br />

Fax: 312/899-4772<br />

SETEMBRO<br />

2005<br />

19 a 24 de setembro<br />

18 th International Congress of Nutrition<br />

Durban, África do Sul<br />

Informações:<br />

jlochner@mcd4330medunsa.ac.za


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

EDITORIAL 123<br />

Papel estratégico do nutricionista no desenvolvimento das ciências dos alimentos e da saúde, Celeste Elvira Viggiano<br />

RESUMOS DE TRABALHOS 124<br />

ARTIGOS ORIGINAIS 130<br />

Estimativa de consumo diário de fibra alimentar na população adulta, em regiões metropolitanas do Brasil,<br />

Wilma Turano, Sílvia Regina Novaes Louzada, Sandra Casa Nova Derevi, Maria Heidi Marques Mendez,<br />

Wanda Lopes Mendes, Isabel Portugal Barbosa, Ellen Pereira da Silva, Aline Vasques da Costa (pg. 130)<br />

A dieta como fator de risco de obesidade e doença cardiovascular: Uma avaliação do padrão alimentar<br />

em restaurante “por quilo”,<br />

Edeli Simioni de Abreu, Elizabeth A. F. S. Torres (pg. 136)<br />

Efeitos da ingestão de diferentes soluções contendo carboidratos, eletrólitos, e glicerol sobre os parâmetros<br />

fisiológicos e bioquímicos de atletas submetidos a uma corrida de 30 km em ambiente de calor intenso,<br />

Reinaldo Abunasser Bassit, Mara Assis Malverdi, Miguel Luiz Batista Júnior,<br />

Luiz Fernando Bicudo Pereira Costa Rosa (pg. 142)<br />

REVISÕES 155<br />

Inter-relação entre hipovitaminose A e anemia ferropriva,<br />

Carina de Aquino Paes, Rejane Andréa Ramalho, Cláudia Saunders,<br />

Letícia de Oliveira Cardoso, Daniel Alves Natalizi (pg. 155)<br />

A influência das vitaminas D e E na composição dos fosfolipídios de membrana e sua<br />

repercussão sobre a hipertensão arterial,<br />

Lucia Marques A. Vianna (pg. 161)<br />

Grelina é o novo regulador da homeostase nutricional,<br />

Sandra Bragança Coelho, Josefina Bressan Resende Monteiro (pg. 165)<br />

O metabolismo energético como fator preditor da obesidade,<br />

Eliane Lopes Rosado, Josefina Bressan Resende Monteiro (pg. 170)<br />

DOSSIÊ ALIMENTOS: A soja 177<br />

NOTÍCIAS DA PROFISSÃO 187<br />

CRN4 - Ética e responsabilidade técnica<br />

Índice<br />

Volume 1 número 3 - setembro/outubro de 2002<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO 189<br />

EVENTOS 192<br />

121


122<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Conselho científico<br />

Profa . Dra . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />

Profa . Dra . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />

Profa . Dra . Lúcia Marques Alves Vianna (UNIRIO / CNPq)<br />

Profa . Dra . Lucia de Fatima Campos Pedrosa Schwazschild (UFRN - Rio Grande do Norte)<br />

Profa . Dra . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Rosemeire Aparecida Victoria Furumoto (UNB - Brasília)<br />

Profa . Dra . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />

Profa . Dra . Tânia Lúcia Montenegro Stamford (UFPE - Pernambuco)<br />

Grupo de assessores<br />

Profa . Ms. Lúcia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />

Profa . Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />

Profa . Ms. Ana Cristina Miguez Teixeira Ribeiro (PUC-PR)<br />

Profa . Ms. Cilene da Silva Gomes Ribeiro (PUC-PR)<br />

Profa . Ms. Helena Maria Simonard Loureiro (PUC-PR)<br />

Editor científico<br />

Prof a Ms. Celeste Elvira Viggiano<br />

Editor executivo<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Rio de Janeiro<br />

Rua Conde de Lages, 27<br />

20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />

Tel: (21) 2221-4164<br />

Fax: (21) 2517-2749<br />

E-mail: nutricao@atlanticaeditora.com.br<br />

São Paulo<br />

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01037-010 São Paulo SP<br />

(11) 3361-5595<br />

Assinatura anual (6 números/ano):<br />

R$ 80,00<br />

Assinatura 2 anos (12 edições):<br />

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Marketing e publicidade<br />

René Caldeira Delpy Jr<br />

Colaborador da redação<br />

Ricardo Augusto Ferreira<br />

Editoração de arte<br />

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ISSN 1677-0234<br />

NUTRIÇÃO BRASIL É UMA<br />

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enviado para o seguinte endereço)<br />

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endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

O desenvolvimento da ciência da Nutrição<br />

trouxe novas expectativas de mercado para o<br />

nutricionista, ampliando e diversificando sua atividade<br />

profissional, e evidenciando para a sociedade a<br />

importância desta ciência e de seu tradutor: o<br />

nutricionista. Ao mesmo tempo, chamou a atenção<br />

de outros seguimentos, como a indústria, o marketing,<br />

a imprensa e outros profissionais da área de saúde ou<br />

não, para um novo campo de trabalho. Obviamente,<br />

dentro de um extenso mercado cabe outras atividades<br />

ligadas a Nutrição, que não somente o nutricionista<br />

pode desempenhar, como já acontece com o técnico<br />

de Nutrição. O desempenho de outros profissionais<br />

que lidam com o alimento, seja no processamento,<br />

cultivo, industrialização, comercialização ou quais<br />

outros processos, devem ter a orientação, supervisão<br />

e avaliação do nutricionista, que é, na nossa realidade,<br />

o especialista em Nutrição e alimentação. Neste<br />

contexto vale lembrar que a contribuição destes<br />

EDITORIAL<br />

Papel estratégico do nutricionista no<br />

desenvolvimento das ciências dos alimentos<br />

e da saúde<br />

Prof a. Ms. Celeste Elvira Viggiano, editor científico<br />

profissionais, faz valer ainda mais a importância de<br />

conscientizar e oferecer ao ser humano, melhor<br />

qualidade de vida a partir da alimentação consciente e<br />

prazerosa e, assim, todos aqueles que vierem a integrar<br />

equipes de Nutrição, desde o técnico, o tecnólogo, o<br />

gastrônomo, o culinarista, o cozinheiro, copeiro, o<br />

nutrólogo, devem ser liderados pelo nutricionista, que<br />

dará o encaminhamento mais adequado às questões<br />

concernentes ao alimento e tudo que o cerca.<br />

O aprimoramento constante e a extensão do<br />

conhecimento devem ser prioritários na carreira do<br />

nutricionista, assim como a elaboração de currículos<br />

de graduação e pós-graduação, que devem estar<br />

voltados para esta nova dimensão de conhecimento e<br />

atuação do profissional, já que o aprofundamento do<br />

saber em ciências da saúde, do comportamento e do<br />

alimento e tudo o que o envolve, dará a amplitude de<br />

atuação a que o nutricionista tem o direito e o dever<br />

de realizar.<br />

123


124<br />

Marcia R. D. Urbano, Maria S. S.<br />

Vitalle, Yara Juliano, Olga M. S.<br />

Amâncio, Departamento de<br />

Pediatria da Universidade Federal<br />

de São Paulo/Escola Paulista de<br />

Medicina(UNIFESP/EPM),<br />

Faculdade de Medicina da<br />

Universidade de Santo Amaro<br />

Resumos de trabalhos<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Ferro, cobre e zinco em adolescentes no estirão<br />

pubertário,<br />

Objetivo: Verificar o estado nutricional relativo ao ferro, cobre e zinco<br />

e a correlação entre Índice de Massa Corporal, níveis séricos e dietéticos<br />

desses elementos, em adolescentes durante o estirão pubertário.<br />

Métodos: Estudo descritivo do tipo corte transversal envolvendo uma<br />

amostra de 47 adolescentes atendidos em Ambulatório de Adolescência<br />

Clínica, durante o período de março a dezembro de 1999, que se<br />

apresentavam no estirão pubertário, do total de 360 que freqüentaram o<br />

ambulatório no período, sendo 19 rapazes na faixa etária de 12,3 a 16 anos<br />

e 28 moças na faixa etária de 11,1 a 13,6 anos. Variáveis analisadas: Dietética<br />

(Recordatório de 24 horas, Freqüência e Registro Alimentar) para determinar<br />

a ingestão de ferro, cobre e zinco; Antropométrica (peso e altura) para<br />

aferição do Índice de Massa Corporal; Bioquímica (dosagem sérica de ferro<br />

pelo kit in Vitro Diagnóstica, ferritina pelo kit Immulite, cobre e zinco por<br />

espectrofotometria de absorção atômica). Utilizou-se o coeficiente de<br />

Spearman para análise estatistíca.<br />

Resultados: Dos quarenta e sete adolescentes em estirão pubertário,<br />

apresentaram ingestão adequada de: ferro (95% e 36%), cobre (53% e<br />

57%) e zinco (21% e 21%) nos sexos masculino e feminino, respectivamente.<br />

A maioria dos adolescentes era eutrófica segundo os percentis do IMC.<br />

Bioquimicamente, os rapazes apresentaram valores normais para ferro e<br />

zinco em toda a amostra; para cobre em 95% e para ferritina em 84%. As<br />

moças também apresentaram valores normais de ferro e zinco; para cobre<br />

em 96,4% e para ferritina em 96%. Não houve correlação estatisticamente<br />

significante entre IMC e concentração sérica de Fe, ferritina, Cu e Zn e<br />

entre concentração sérica e ingestão dietética dos minerais estudados, nem<br />

tampouco para a relação ferro sérico e ferritina.<br />

Conclusäo: Não se sabe, até o momento, se os níveis séricos de zinco e<br />

cobre flutuam durante o crescimento ou se cada indivíduo tem um nível<br />

estável destes minerais durante o estirão. Os níveis séricos normais de Fe,<br />

Cu e Zn na maioria dos adolescentes avaliados podem estar refletindo a<br />

habilidade do organismo em fazer ajustes homeostáticos.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Regina Brigelius-Flohé, Frank J<br />

Kelly, Jukka T Salonen, Jiri Neuzil,<br />

<strong>Jean</strong>-Marc Zingg, Angelo Azzi,<br />

American Journal of Clinical<br />

Nutrition 2002;76(4):703-716,<br />

outubro de 2002<br />

Anne Raben, Tatjana H Vasilaras, A<br />

Christina Møller and Arne Astrup,<br />

American Journal of Clinical<br />

Nutrition 2002;76(4):721-729,<br />

outubro de 2002<br />

As perspectivas européias para vitamina E:<br />

Conhecimento atual e pesquisas futuras<br />

Vitamina E é indispensável para reprodução em fêmeas de ratos. Em<br />

humanos, a deficiência primária causa disfunções neurológicas, mas os<br />

mecanismos moleculares são obscuros. Devido às suas propriedades<br />

antioxidativas, acredita-se que a vitamina E ajude a prevenir doenças<br />

associadas ao estresse oxidativo, como doenças cardiovasculares, câncer,<br />

inflamação crônica e desordens neurológicas. Entretanto, estudos clínicos<br />

recentes realizados para comprovar esta hipótese não verificaram um<br />

benefício consistente. Perante estas descobertas, um grupo de cientistas<br />

europeus se encontrou para analisar os mais recentes estudos da função e<br />

do metabolismo da vitamina E. Uma visão geral é apresentada, incluindo<br />

considerações sobre os mecanismos de absorção, distribuição, e<br />

metabolismo das diferentes formas de vitamina E, incluindo a proteína de<br />

transferência do α-tocoferol e proteínas associadas ao α-tocoferol; o<br />

mecanismo de degradação de cadeias laterais do tocoferol e sua interação<br />

putativa com o metabolismo de drogas; o uso dos metabólitos do tocoferol<br />

como marcadores biológicos; e o novo mecanismo das propriedades<br />

antiateroscleróticas e anticarcinogênicas da vitamina E, que envolve a<br />

modulação de sinalizadores celulares, regulação transcricional e indução<br />

de apoptose. Estudos clínicos foram analisados com base na seleção dos<br />

indivíduos, estágio da doença e forma de administração, dosagem e forma<br />

química da vitamina E. Além disso, o parco conhecimento do papel da<br />

vitamina E na reprodução foi resumido. Concluindo, os cientistas<br />

concordaram que as funções da vitamina E foram subestimadas, se<br />

considerarmos somente suas propriedades antioxidativas. Pesquisas futuras<br />

sobre essa vitamina essencial devem focar no que a faz essencial para<br />

humanos, porque o corpo preferencialmente utiliza -tocoferol, além de<br />

quais funções teriam outras formas de vitamina E.<br />

Sacarose comparada com adoçantes artificiais:<br />

Diferentes efeitos na ingestão de alimentos<br />

“ad libitum” e peso corporal, após 10 semanas de<br />

suplementação em indivíduos com sobrepeso<br />

Introdução e objetivo: O papel dos adoçantes artificiais na regulação do<br />

peso corporal ainda está obscuro. Foi investigado o efeito da suplementação,<br />

à longo prazo, com bebidas e alimentos contendo tanto sacarose como<br />

adoçantes artificiais, na ingestão de alimentos “ad libitum” e peso corporal<br />

de indivíduos sobrepeso.<br />

Desenho: Durante 10 semanas, homens e mulheres com sobrepeso<br />

consumiram diariamente suplementos com sacarose [n = 21, índice de<br />

massa corporal (IMC; em kg/m 2 ) = 28,0] ou adoçantes artificiais (n = 20,<br />

IMC = 27,6). No máximo, suplementos de sacarose forneceram 3,4 MJ e<br />

152 g sacarose/d e os suplementos adoçantes forneceram 1,0 MJ e 0 g<br />

sacarose/d.<br />

Resultados: Após 10 semanas, o grupo da sacarose teve aumento na<br />

energia total (aproximadamente 1,6 MJ/d), sacarose (28% do gasto<br />

energético), e ingestão de carboidratos e decréscimo de ingestão de<br />

gordura e proteína. O grupo de adoçante teve um decréscimo pequeno,<br />

125


126<br />

Continuação<br />

Roland L Weinsier, Gary R Hunter,<br />

Yves Schutz, Paul A Zuckerman<br />

and Betty E Darnell, American<br />

Journal of Clinical Nutrition,<br />

2002;76(4):736-742,<br />

outubro de 2002<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

mas significativo da ingestão de sacarose e densidade energética. Peso<br />

corporal e massa gorda aumentaram no grupo da sacarose<br />

(aproximadamente 1,6 e 1,3 kg, respectivamente) e um decréscimo no<br />

grupo com adoçante (aproximadamente 1.0 e 0.3 kg, respectivamente);<br />

as diferenças entre os grupos foram significativas P < 0,001 (peso<br />

corporal) e P < 0,01 (massa gorda). Pressão sangüínea sistólica e diastólica<br />

aumentou no grupo com sacarose (aproximadamente 3,8 e 4,1 mm Hg,<br />

respectivamente) e diminuiu no grupo com adoçante (aproximadamente<br />

3,1 e 1,2 mm Hg, respectivamente).<br />

Conclusões: Indivíduos com sobrepeso que consumiram grandes<br />

quantidades de sacarose (28% do gasto energético), maioria como bebidas,<br />

tiveram um aumento no aporte energético, peso corporal, massa gorda, e<br />

pressão sangüínea após 10 semanas. Esses efeitos não foram observados<br />

num grupo similar de indivíduos que consumiram adoçantes artificiais.<br />

Atividade física em homens e mulheres brancos e<br />

negros com sobrepeso: Diferentes respostas para<br />

perda de peso induzida por dieta<br />

Introdução: Mulheres negras estão sob um risco maior de obesidade<br />

do que mulheres brancas, talvez por causa de menores níveis de atividade<br />

física.<br />

Objetivo: Foi comparado gasto energético em atividade (GET) em<br />

mulheres sedentárias brancas e negras (com sobrepeso e peso normal) e<br />

em indivíduos que nunca foram submetidos a controle de peso.<br />

Desenho: Indivíduos incluíram 46 mulheres (23 brancas, 23 negras)<br />

estudadas, enquanto com sobrepeso e após atingirem peso normal e 38<br />

indivíduos controle do sexo feminino (23 brancas, 15 negras). Dieta, sem<br />

exercício físico, resultou numa média de perda de peso de 13 Kg e índice<br />

de massa corporal (em kg/m 2 ) < 25. Composição corporal, gasto<br />

energético durante o sono, gasto energético total e energia requerida para<br />

a atividade e a capacidade aeróbica, foram determinadas antes e depois da<br />

perda de peso durante 4 semanas. Dieta controlada, condições de peso<br />

estáveis e nos indivíduos controle. GET foi definido como gasto energético<br />

após o sono.<br />

Resultados: Nenhuma diferença significativa na composição corporal<br />

entre as raças, antes e depois da perda de peso, foi encontrada. Após perda<br />

de peso, o GET e a capacidade aeróbica aumentaram nas mulheres brancas<br />

e diminuíram nas mulheres negras (P < 0,05 e P < 0,02, respectivamente).<br />

Após perda de peso, mas não antes, as mulheres brancas apresentavam<br />

uma média de GET maior do que as mulheres negras (2448 ± 979 e 1728<br />

± 1373 kJ/d, respectivamente; P < 0,05), aproximadamente GET em<br />

brancas (2314 ± 1105) e em negras (2310 ± 1251) indivíduos controle.<br />

Conclusäo: Em relação às respostas das mulheres brancas com perda<br />

de peso induzida por dieta, as mulheres negras emagreceram menos e<br />

mostraram-se menos ativas fisicamente. Indução de peso normal em<br />

mulheres negras com sobrepeso mostrou provocar um estado maior de<br />

indução de obesidade, favorecendo a recuperação do peso.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Karamanos B et al, European<br />

Journal of Clinical Nutrition<br />

2002;56(10):983-991<br />

Cooke MS et al, Nutrition Research<br />

Reviews 2002;15(1):19-41<br />

Hábitos nutricionais na região mediterrânea. A<br />

composição de macronutrientes da dieta e a relação<br />

com a dieta mediterrânea tradicional. Estudo<br />

multicêntrico do Grupo Mediterrâneo para Estudo do<br />

Diabetes (MGSD)<br />

Objetivo: Comparar os hábitos nutricionais entre seis países do<br />

Mediterrâneo e também com as várias recomendações oficiais e com a<br />

dieta do Mediterrâneo originalmente descrita.<br />

Materiais: Estudo cruzado em três centros na Grécia, dois na Itália e<br />

um na Algéria, Egito, Bulgária e Iugoslávia.<br />

Indivíduos: Indivíduos não diabéticos, selecionados aleatoriamente da<br />

população geral, de idade 35-60, sem dieta pelo menos por 3 meses antes<br />

do estudo.<br />

Intervenções: Foi utilizado um questionário alimentar validado em relação<br />

ao “3-Day Diet Diary”. Dados demográficos foram coletados e mensurações<br />

antropométricas realizadas.<br />

Resultados: Todos os resultados foram ajustados para idade. O consumo<br />

de energia variou em homens, de 1825 kcal/dia na Itália (Roma) para 3322<br />

kcal/dia na Bulgária e em mulheres, de 1561 kcal/dia na Itália (Roma) para<br />

2550 kcal/dia na Algéria. A contribuição protéica (%) do consumo<br />

energético variou sensivelmente, ficando em 13,a% na Grécia para 18,5%<br />

na Itália (Roma), enquanto os níveis de gordura variaram de 25.3% no<br />

Egito até 40,2% na Bulgária e carboidratos de 41,5% na Bulgária a 58,6%<br />

no Egito. A ingestão de fibras, g/1000 kcal, variou de 6,8 na Bulgária a<br />

13,3 no Egito e a taxa de gordura vegetal em relação à animal foi de 1,2 na<br />

Bulgária a 2,8 na Grécia. A proporção de seguidores da dieta WHO e do<br />

Grupo de Estudo de Diabetes e Nutrição - Diabetes and Nutrition Study<br />

Group (DNSG) -, que utilizam as recomendações do EASD para<br />

carboidratos, gordura e proteína, variou de 4,2% na Bulgária a 75,7% no<br />

Egito. Comparações com as dietas do Mediterrâneo, como definidas no<br />

Estudo dos Sete Países, mostraram diferenças significativas especialmente<br />

para frutas, 123–377 vs 464 g/dia da dieta do Mediterrâneo, carne, 72–193<br />

vs 35 g/dia, queijo, 15–79 vs 13 g/dia, pão, 126–367 vs 380 g/dia.<br />

Conclusäo: a) Hábitos dietéticos da ‘população normal’ variam bastante<br />

entre os países do Mediterrâneo estudados. b) O Egito é o mais próximo<br />

das recomendações do DNSG. c) Diferenças significativas da dieta do<br />

Mediterrâneo originalmente descrita, são documentadas na maioria dos<br />

países do Mediterrâneo, mostrando regionalização dos hábitos dietéticos.<br />

Papel dos antioxidantes da dieta na prevenção de dano<br />

oxidativo do DNA in vivo<br />

Evidências epidemiológicas mostram, consistentemente, que a dieta<br />

rica em frutas frescas e vegetais diminui significativamente o risco de câncer.<br />

Dado o papel postulado do dano oxidativo do DNA na carcinogênese, foi<br />

assumido que são as propriedades antioxidantes dos constituintes dos<br />

alimentos, como vitamina C, E e carotenóides, que conferem proteção.<br />

Entretanto, estudos epidemiológicos com antioxidantes específicos, tanto<br />

sozinhos como combinados, não demonstraram, num todo, suporte para<br />

esta hipótese. Por outro lado, estudos examinando o efeito in vitro dos<br />

127


128<br />

Continuação<br />

Leigh Gibson E. et al, Nutrition<br />

Research Reviews<br />

2002;15(1):169-206<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

antioxidantes sobre o dano oxidativo do DNA foram em geral suficientes,<br />

em termos da prevenção da indução do dano. O mesmo, entretanto, não<br />

pode ser dito para estudos de intervenção in vivo onde em sua maioria os<br />

resultados foram equivocados. Contudo, um trabalho recente sugeriu que<br />

alguns antioxidantes da dieta podem conferir propriedades protetoras por<br />

um novo mecanismo, não relacionado com sua habilidades anti-radicais<br />

livres. Regulaçäo da defesa antioxidante, metabolismo de xenobióticos, ou<br />

genes de reparo do DNA, podem limitar o dano celular, além de promover<br />

a manutenção da integridade celular. Apesar disso, antes que mais trabalhos<br />

sejam esclarecidos no sentido de que uma dieta suplementada com<br />

antioxidantes possa reduzir o risco de câncer e o mecanismo pelo qual isto<br />

é realizado, a recomendação para uma dieta rica em frutas e vegetais se<br />

mantém válida empiricamente.<br />

Influências nutricionais na função cognitiva:<br />

Mecanismos de susceptibilidade<br />

É considerado o impacto da variação nutricional, nas populações não<br />

totalmente desnutridas, na função cognitiva e no crescimento. A ênfase é<br />

na susceptibilidade a efeitos agudos das refeições e taxas de glicose, além<br />

dos efeitos crônicos da dieta, na performance mental, efeitos dos níveis de<br />

colesterol e vitaminas na diminuição da função cognitiva. Novas descobertas<br />

na compreensão da influência dietética nos sistemas neurohormonais, e<br />

suas implicações na cognição, permite uma nova interpretação, tanto das<br />

mais antigas como das mais recentes descobertas. Evidências para se<br />

determinar um efeito de detrimento da performance cognitiva, quando se<br />

omite uma refeição continua equivocada, permanece desde o início, a<br />

idiossincrasia. Ainda para crianças pequenas e vulneráveis nutricionalmente,<br />

o desjejum parece estar mais sujeito a ser um beneficio do que ter uma<br />

performance incerta. Em relação a composição dos nutrientes, apesar das<br />

inconsistências, algumas precauções podem ser feitas. Agudamente,<br />

refeições pobres em proteínas e ricas em carboidratos podem ser sedativas<br />

e ansiolíticas; em comparação, refeições ricas em proteínas podem promover<br />

o desenvolvimento, melhorando o tempo de reação e aumentando a<br />

vigilância. Refeições ricas em gorduras podem levar a um declínio no estado<br />

de alerta, especialmente quando elas diferem da ingestão de gordura habitual.<br />

Estes efeitos agudos podem variar com a hora do dia e o status nutricional.<br />

Cronicamente, dietas ricas em proteínas têm sido associadas com aumento<br />

de afetividade, quando comparadas com dietas ricas em carboidratos.<br />

Prováveis mecanismos incluem modificações induzidas pela dieta nas<br />

monoaminas, especialmente na atividade de neurotransmissores<br />

serotoninérgicos, e no funcionamento do eixo hipotálamo-pituitárioadrenal.<br />

Os efeitos são interpretados no contexto de cada indivíduo e na<br />

susceptibilidade a mudanças, mesmo estressantes, e testes de performance.<br />

Há uma preocupação da dieta dificultar a cognição por interferir na<br />

capacidade de trabalho da memória, independente do status nutricional.<br />

Uma modificação na performance cognitiva após a administração de glicose,<br />

além de outros alimentos, pode depender dos níveis de ativação simpática,<br />

secreção de glicocorticóides e função das células b do pâncreas, ao invés<br />

de simplesmente, servirem de combustível para a atividade neuronal. Além<br />

disso, novas descobertas podem ser preditas através de desafios estressantes,


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Continuação<br />

Buemann B. et al, Nutrition Research<br />

Reviews 2002;15(1):91-121<br />

interagindo a história nutricional e o status neuroendócrino. O<br />

funcionamento de tais sistemas pode estar susceptível à influências dietéticas<br />

na fluidez da membrana neuronal, e na saúde cerebrovascular vitaminodependente,<br />

com a vulnerabilidade cognitiva aumentando com a idade.<br />

Bebidas alcoólicas e risco cardíaco<br />

Esta revisão da literatura demonstra o impacto da ingestão de álcool<br />

nas doenças cardiovasculares. Tanto um estudo cruzado seccional como<br />

estudos prospectivos, revelaram uma associação negativa entre ingestão<br />

moderada de álcool e doenças cardiovasculares. A relação parece estar<br />

presente tanto para vinho, cerveja e licores. Tem sido sugerido que o álcool<br />

afeta beneficamente o aparecimento de lipídeos no sangue, já que ele<br />

aumenta os níveis de HDL-colesterol no plasma. Além disso, ele pode<br />

inibir a trombogênese, por reduzir a formação de tromboxana e diminuir<br />

os níveis plasmáticos de fibrinogênio. Entretanto, elevadas concentrações<br />

sangüíneas de álcool podem impedir a fibrinólise por aumentar os níveis<br />

plasmáticos do inibidor-1 de ativação do plasminogênio. Essa ação pode<br />

contribuir para explicar a associação em forma de U entre ingestão de<br />

álcool e eventos cardíacos. O álcool parece promover a distribuição de<br />

gordura no abdômen, mas a importância desse efeito em indivíduos não<br />

obesos é incerta. O vinho em particular, mas também a cerveja, contêm<br />

polifenóis que agem como antioxidantes. Sua ação pode manter a integridade<br />

da função endotelial, reduzindo a formação de superóxidos. Além disso,<br />

esses antioxidantes podem proteger contra oxidação do LDL e modular o<br />

ataque do macrófago no endotélio. Apesar do efeito cardioprotetor do<br />

álcool ser dificilmente determinado em indivíduos saudáveis, por estudos<br />

de intervenção com pontos finais obscuros, existem várias descobertas<br />

observacionais e experimentais, que indicam que o consumo moderado de<br />

álcool possui propriedades preventivas nas doenças cardiovasculares.<br />

129


130<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Título abreviado: Estimativa de consumo diário de fibra alimentar<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Estimativa de consumo diário de fibra<br />

alimentar na população adulta, em regiões<br />

metropolitanas do Brasil<br />

Estimative of daily dietary fiber in adult population,<br />

in metropolitans regions of Brazil<br />

Wilma Turano*, Sílvia Regina Novaes Louzada**, Sandra Casa Nova Derevi***, Maria Heidi Marques<br />

Mendez****, Wanda Lopes Mendes*****, Isabel Portugal Barbosa******, Ellen Pereira da Silva******,<br />

Aline Vasques da Costa******<br />

*Livre Docente e Doutora, prof Adjunto IV da UniRio, Rio de Janeiro, **Doutoranda em Saúde Pública, Prof Adjunto IV da UniRio,<br />

***PhD Doutora com pós-doutoramento em Ciência de Alimentos, Prof. Titular da UFF, **** PhD Doutora com pós-doutoramento em<br />

Ciência de Alimentos, Prof. Adjunto IV da UFF, *****Nutricionista, Especialista em Ciência de Alimento, UniRio,<br />

****** Nutricionista, bolsista de aperfeiçoamento em pesquisa.<br />

Resumo<br />

O presente trabalho tem como objetivo estimar o consumo médio diário de fibra alimentar total, fibra alimentar<br />

insolúvel e pectina solúvel, por populações adultas de 11 regiões metropolitanas do país, identificando as principais fontes<br />

alimentares e verificando a adequação nutricional destes componentes nas regiões estudadas. O estudo foi realizado com<br />

base nos dados fornecidos pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE ( 1988). Os teores de fibra alimentar total, fibra<br />

alimentar insolúvel e pectina solúvel foram analisados por meio de tabela de composição de alimentos. Os resultados<br />

encontrados, em relação à adequação nutricional, mostram inadequação para a fibra alimentar total e para a pectina solúvel<br />

uma, em todas regiões estudadas, e para a fibra insolúvel uma adequação em todas as regiões. Os alimentos identificados<br />

como principais fontes de fibra alimentar total, entre as 11 regiões estudadas foram: arroz branco, banana-prata, batatainglesa,<br />

farinha de mandioca, farinha de trigo, feijão comum var. mulatinho, preto e roxo, feijão fradinho e pão francês; de<br />

fibra insolúvel foram os mesmos identificados para fibra alimentar total, acrescido da banana-d’água, e para a pectina solúvel<br />

foram banana-d’água, banana-prata, banana-maçã, batata-inglesa, ervilha, feijão fradinho, feijão comum var. mulatinho, preto<br />

e roxo, mamão Hawai, mandioca e inhame.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel, pectina solúvel, população adulta.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 1 de setembro; aprovado em 15 de setembro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Prof a Dra. Wilma Turano, UNIRIO, Rua Dr. Xavier Sigaud, 290 Térreo, Urca, 22290-180<br />

- Rio de Janeiro - RJ.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Abstract<br />

This work aimed to estimate the average dayly intake of dietary fiber, the insoluble fiber fraction and soluble pectin in<br />

adult population and identify the main sources of dietary fiber, the insoluble fiber fraction and soluble pectin in the regions<br />

studied. The diets were analyzed for the dietary fiber, the insoluble fiber fraction and soluble pectin using the table of food<br />

composition.The results indicated nutricional inadequacy of dietary fiber and soluble pectin and nutricional adequacy of the<br />

insoluble fiber fraction, in all regions studied. The foods identyfied as sources of dietary fiber, in the 11 regions, were rice<br />

white, common banana, wheat and sweet cassava flour , cowpea, common “mulatinho”, black and red bean and french<br />

bread; insoluble fiber fraction sources were the same identifyed to dietary fiber increased of dwarf banana; soluble pectin<br />

sources were common, dwarf and “maçã” banana, potato, pea, cowpea, common “mulatinho”, black and red bean, sweet<br />

cassava, papaya and dasheen.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Dietary fiber, insoluble dietary fiber, pectin soluble, adult population.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Introdução<br />

Nos dias de hoje, muitos interesses têm sido<br />

focalizados no potencial terapêutico da fibra alimentar,<br />

especialmente para o controle de condições como<br />

doenças gastrintestinais, hiperlipidemias, diabetes,<br />

obesidade e doenças cardiovasculares [24]. Estudos<br />

experimentais com a finalidade de indicar a quantidade<br />

e o tipo de alimento que devem ser incluídos nas dietas<br />

para indivíduos portadores destas doenças, têm sido<br />

realizados por diversos pesquisadores<br />

[1,4,5,14,22,23,27,28,29].<br />

Baseados nos dados da Food and Agriculture<br />

Organization, Bright-See & Mckeown-Eyssen [6,8]<br />

estimaram o consumo diário de fibra alimentar total<br />

em 38 países. Os autores verificaram que a maioria<br />

dos países, 26, apresentavam um consumo abaixo,<br />

cerca de 30g diárias, e em apenas 4 países o consumo<br />

foi acima de 35g diárias.<br />

No entanto, estudos para indicar as<br />

recomendações dietéticas para populações sadias são<br />

menos freqüentes. Trabalho realizado no Município<br />

do Rio de Janeiro por Turano et al. [26], envolvendo<br />

uma população adulta e sadia, na faixa etária de 20 a<br />

40 anos, num total de 200 indivíduos de nível sócioeconômico<br />

médio e que foram submetidos a<br />

inquéritos dietéticos, sugeriu as seguintes<br />

recomendações dietéticas de ingestão diária de fibra<br />

alimentar e de seus componentes: Fibra alimentar total<br />

(25 – 30g), celulose e hemiceluloses (4 – 6g), lignina<br />

(2-4g) e pectina solúvel (0,7 – 1,6).<br />

O presente trabalho tem como objetivos estimar<br />

o consumo de fibra alimentar total e de seus<br />

componentes pela população adulta (faixa etária entre<br />

20 em 40 anos) do país, e comparar com as<br />

recomendações sugeridas por Turano et al. [26],<br />

identificando as principais fontes de fibra alimentar<br />

total, fibra alimentar insolúvel e de pectina solúvel<br />

destas regiões.<br />

Quadro 1 - Consumo (em g) médio diário de fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel e pectina solúvel e<br />

de adequação nutricional (%) , nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto<br />

Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo, Fortaleza, Belém e Recife.<br />

Regiões Fibra Adequação Fibra Adequação Pectina Adequação<br />

metropolitanas total nutricional(%) insolúvel nutricional(%) solúvel nutricional(%)<br />

Rio de Janeiro 22,19 96,85 12,46 124,43 0,65 92,86<br />

Salvador 21,62 86,47 12,93 129,31 0,44 62,43<br />

Goiânia 18,00 72,01 10,13 101,27 0,48 62,43<br />

Brasília 18,02 72,08 10,29 102,87 0,45 64,14<br />

Porto Alegre 19,87 79,48 10,81 108,14 0,54 76,43<br />

Belo Horizonte 20,12 80,49 11,67 116,69 0,46 66,29<br />

Curitiba 19,07 76,2810,11 101,11 0,42 59,71<br />

São Paulo 20,34 8135 10,35 103,45 0,61 87,29<br />

Fortaleza 21,93 87,72 12,98 129,84 0,42 60,29<br />

Belém 24,52 98,86 13,76 137,60 0,36 51,14<br />

Recife 22,32 89,27 13,80 138,02 0,61 87,00<br />

131


132<br />

Material<br />

O trabalho foi realizado com base nos dados<br />

da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE –<br />

1987/88 [12] , abrangendo 11 áreas metropolitanas<br />

(Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto<br />

Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />

Fortaleza, Belém, Recife), com 13.611 domicílios<br />

pesquisados, através de questionários sobre consumo<br />

alimentar. Os domicílios estavam assim distribuídos:<br />

1310 no Rio de Janeiro,1247 em Salvador, 1277 em<br />

Goiânia ,782 em Brasília , 1064 em Porto Alegre,1074<br />

em Belo Horizonte, 1291 em Curitiba,1464 em São<br />

Paulo, 1726 em Fortaleza, 1023 em Belém e 1353<br />

em Recife .<br />

Métodos<br />

A análise dos macro e micronutrientes foi feita<br />

utilizando a Tabela de Composição Química de<br />

Franco [9], para os alimentos de origem animal e<br />

para os de origem vegetal, a Tabela de Composição<br />

de Alimentos de Mendez et al. [16]. Os dados obtidos<br />

para fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel e<br />

pectina solúvel, foram comparados com as<br />

estimativas de recomendação diária propostas por<br />

Turano et al. [26].<br />

Resultados e discussão<br />

Dietas<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

A avaliação da adequação nutricional dos<br />

macronutrientes e de vitaminas e minerais, foi feita<br />

de acordo com Food and Nutrition Board [9], National<br />

Academy of Sciences [17] e National Research Council [19].<br />

As dietas analisadas apresentaram variação de<br />

1719 a 2031 Kcal, mostrando um baixo consumo<br />

energético em todas as regiões metropolitanas<br />

estudadas.<br />

O consumo médio de proteína foi de 1,02,<br />

considerado satisfatório em relação a recomendação<br />

mínima diária do Comitê FAO/OMS/UNU [8], com<br />

exceção da região metropolitana de Goiânia, em que<br />

o consumo médio registrado foi de 0,88g /kg de peso<br />

corporal.<br />

O consumo médio de lipídeos foi satisfatório<br />

em todas as regiões metropolitanas do país, não<br />

ultrapassando aos 30% do valor energético total da<br />

dieta consumida. O consumo médio de glicídeos foi<br />

adequado em 8 das 11 regiões metropolitanas, com<br />

exceção de Salvador, Recife e Fortaleza, em que foi<br />

Tabela 1 - Fonte alimentar de fibra total, fonte alimentar de fibra insolúvel e pectina solúvel, consumo per<br />

capita médio diário (g) e porcentagem de recomendação mínima, de leguminosas e amiláceos, nas regiões<br />

metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />

Fortaleza, Belém e Recife.<br />

% de recomendação mínima<br />

Alimentos Per capita Fibra Fibra Pectina Regiões<br />

médio (g) alimentar alimentar solúvel Metropolitanas<br />

total insolúvel<br />

Ervilha em grão 2,05 5,14 São Paulo<br />

Feijão fradinho 32,2815,13 33,47 15,14 Fortaleza<br />

Feijão mulatinho 34,73 11,52 23,61 15,29 Salvador<br />

13,13 8,93 5,86 Fortaleza<br />

33,01 10,94 22,44 14,57 Recife<br />

Feijão preto 36,74 17,14 25,45 35,57 Rio de Janeiro<br />

10,36 7,1810,00 Goiânia<br />

11,79 5,50 8,17 11,43 Brasília<br />

25,04 11,6817,35 24,29 Porto Alegre<br />

7,23 5,01 7,00 Belo Horizonte<br />

17,50 8,16 12,13 17,00 Curitiba<br />

24,90 11,61 17,25 24,14 Belém<br />

Feijão roxo 25,19 9,61 20,1813,70 Belo Horizonte<br />

25,44 9,71 20,3813,86 São Paulo<br />

9,41 7,54 5,14 Goiânia<br />

11,92 9,55 6,43 Brasília<br />

Farinha de mandioca 49,29 20,52 29,18Salvador<br />

26,93 11,22 15,94 Fortaleza<br />

103,53 43,11 61,29 Belém<br />

40,37 16,81 23,90 Recife


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

verificado um excesso de consumo, apresentando<br />

valores de 61,66%, 64,46% e 64,96%, respectivamente.<br />

Os teores de vitaminas e minerais no entanto,<br />

nem sempre atenderam as recomendações da RDA<br />

(Recommended Dietary Allowances) [19]. Em todas<br />

as regiões estudadas, a relação cálcio/fósforo foi<br />

inferior as recomendações do Food and Nutrition<br />

Board [9], National Academy of Sciences [17],<br />

National Research Council [19], sendo registrado os<br />

seguintes quocientes de Ca/P: 0,26 em Belém, 0,40<br />

em Fortaleza, 0,38 em Recife, 0,35 em Salvador, 0,46<br />

em Belo Horizonte, 0,46 no Rio de Janeiro, 0,52 em<br />

São Paulo, 0,52 em Curitiba, 0,52 em Porto Alegre,<br />

0,54 em Brasília e 0,52 em Goiânia .<br />

Em relação ao consumo médio de ferro, os<br />

teores encontrados foram: 14,7 mg em Salvador , 13,07<br />

mg em Belo Horizonte, 13,30 mg no Rio de Janeiro,<br />

13,23 mg em São Paulo e 13,03 mg em Porto Alegre,<br />

estando dentro das recomendações médias diárias,<br />

enquanto as outras regiões, Belém, Fortaleza, Recife,<br />

Curitiba, Brasília e Goiânia apresentam valores abaixo<br />

dos recomendados.<br />

O consumo médio diário de vitamina C atende<br />

as recomendações nas regiões metropolitanas de São<br />

Paulo (74,28 mg), Rio de Janeiro (66,72 mg), Recife<br />

(65,80 mg), Goiânia (62,71 mg) e Salvador (60,42 mg).<br />

No entanto, nas outras regiões, Belém, Fortaleza,<br />

Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte, o<br />

consumo médio está abaixo do recomendado.<br />

Em relação a vitamina A, todas as regiões<br />

apresentam valores abaixo das recomendações médias<br />

diárias. O consumo médio de riboflavina foi deficitário<br />

em todas as regiões, enquanto somente em Belém, a<br />

tiamina e a niacina estão dentro das recomendações<br />

médias diárias.<br />

Os dados computados neste inquérito foram<br />

analisados, e calculado o consumo médio diário de<br />

fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel e pectina<br />

solúvel, além de sua adequação nutricional , de acordo<br />

com as estimativas de recomendação diária propostas<br />

Tabela 2 - Fonte alimentar de fibra total, fonte alimentar de fibra insolúvel e pectina solúvel, consumo per<br />

capita médio diário (g) e porcentagem de recomendação mínima, de cereais e derivados, nas regiões<br />

metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />

Fortaleza, Belém e Recife.<br />

% de recomendação mínima<br />

Alimentos Per capita Fibra alimentar Fibra alimentar Regiões<br />

médio (g) total insolúvel Metropolitanas<br />

Arroz branco 167,96 19,35 25,52 Rio de Janeiro<br />

69,40 8,00 10,55 Salvador<br />

211,66 24,3832,17 Goiânia<br />

194,95 22,46 29,63 Brasília<br />

141,75 16,33 21,55 Porto Alegre<br />

204,12 23,52 31,03 Belo Horizonte<br />

143,03 16,4821,74 Curitiba<br />

189,11 21,78 28,74 São Paulo<br />

159,92 18,42 8,32 Fortaleza<br />

97,45 11,22 5,07 Belém<br />

63,02 7,26 9,57 Recife<br />

Farinha de trigo 33,63 9,12 8,47 Porto Alegre<br />

41,27 11,19 10,40 Curitiba<br />

2,84 8,73 Fortaleza<br />

2,82 6,88 Belém<br />

Pão francês 58,35 14,82 22,45 Rio de Janeiro<br />

66,50 16,89 25,60 Salvador<br />

36,089,16 13,89 Goiânia<br />

42,41 10,77 16,33 Brasília<br />

51,52 13,0819,83 Porto Alegre<br />

42,13 10,70 16,22 Belo Horizonte<br />

43,59 11,07 16,78Curitiba<br />

57,43 14,586,20 São Paulo<br />

53,67 13,63 20,66 Fortaleza<br />

60,12 15,27 23,15 Belém<br />

68,23 17,33 26,27 Recife<br />

133


134<br />

por Turano et al. [26], que encontram-se no quadro 1.<br />

Os resultados encontrados mostram que apenas<br />

a região de Belém apresentou adequação nutricional<br />

em fibra alimentar total, e que todas as regiões<br />

estudadas estão adequadas em fibra alimentar<br />

insolúvel. Foi verificada uma inadequação em pectina<br />

solúvel em todas as regiões.<br />

A identificação das fontes alimentares da fração<br />

fibra alimentar total, fibra alimentar insolúvel (celulose,<br />

hemiceluloses e lignina) e pectina solúvel, consumo<br />

per capita médio diário (g) e porcentagem de<br />

recomendação mínima, nas 11 regiões estudadas,<br />

encontram-se respectivamente, nas tabelas 1, 2 e 3.<br />

Estes resultados evidenciam que o hábito<br />

alimentar de consumo de feijão e arroz , em todas as<br />

regiões estudadas, contribui de maneira significativa<br />

para a adequação nutricional destas populações no que<br />

se refere a fibra alimentar total (com exceção de Belém)<br />

e a fibra alimentar insolúvel, enquanto que a ausência<br />

de frutas e hortaliças (alimentos que fornecem maiores<br />

quantidades de pectina solúvel), refletem a<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Tabela 3 - Fonte alimentar de fibra total, fonte alimentar de fibra insolúvel e pectina solúvel, consumo per<br />

capita médio diário (g) e porcentagem de recomendação mínima, de frutas e hortaliças, nas regiões<br />

metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo,<br />

Fortaleza, Belém e Recife.<br />

% de recomendação mínima<br />

Alimentos Per capita Fibra Fibra Pectina Regiões<br />

médio (g) alimentar alimentar solúvel Metropolitanas<br />

total insolúvel<br />

Banana -d’ água 10,87 5,57 Brasília<br />

19,92 10,29 Porto Alegre<br />

9,785,00 Belo Horizonte<br />

18,27 9,43 Curitiba<br />

22,57 5,26 11,60 São Paulo<br />

Banana- maçã 6,785,29 Goiânia<br />

Banana- prata 22,03 5,35 9,43 Rio de Janeiro<br />

44,01 6,69 10,74 18,86 Salvador<br />

12,31 5,28 Belo Horizonte<br />

47,22 7,1811,52 20,29 Fortaleza<br />

23,67 5,7810,14 Belém<br />

33,31 5,06 8,13 14,29 Recife<br />

Batata- inglesa 49,17 5,88 9,48 11,86 Rio de Janeiro<br />

26,66 5,14 6,43 Goiânia<br />

26,53 5,12 6,43 Brasília<br />

47,20 5,64 9,11 11,43 Porto Alegre<br />

40,26 7,77 9,71 Belo Horizonte<br />

36,49 7,04 8,86 Curitiba<br />

36,587,06 8,57 São Paulo<br />

Inhame cozido 14,4823,43 Recife<br />

Mandioca cozida 10,087,71 Porto Alegre<br />

Mamão Hawai 17,54 9,86 Rio de Janeiro<br />

10,686,00 Brasília<br />

11,80 6,57 Belo Horizonte<br />

19,23 10,70 São Paulo<br />

10,31 5,71 Recife<br />

inadequação nutricional registrada para este<br />

componente da fração fibra solúvel.<br />

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– 320.<br />

135


136<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Título abreviado: Refeições por quilo e risco de obesidade<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

A dieta como fator de risco de obesidade e<br />

doença cardiovascular: Uma avaliação do<br />

padrão alimentar em restaurante “por quilo”<br />

Diet as risk factor of obesity and cardiovascular disease: An<br />

assessment of dietary patterns in self—service restaurants<br />

Edeli Simioni de Abreu*, Elizabeth A. F. S. Torres**<br />

*Mestre e Doutoranda em Nutrição em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, **Professora<br />

Associada, Livre Docente do Depto. de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, SP.<br />

Trabalho extraído de Dissertação de Mestrado: Abreu ES. Restaurante “por quilo”: Vale quanto pesa? Uma avaliação do padrão alimentar<br />

em restaurantes de Cerqueira César, São Paulo, SP. São Paulo; 2000 (Dissertação de Mestrado - Faculdade de Saúde Pública da<br />

Universidade de São Paulo) e da tese de Livre Docência: Torres EAFS. Teor de lipídeos em alimentos e sua importância na nutrição. São<br />

Paulo; 2000. (Tese de Livre Docência - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo), apresentado em forma de Pôster, no VI o<br />

Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, de 16 a 19 de Setembro de 2001- Florianópolis SC.<br />

Resumo<br />

Objetivo: Conhecer a composição nutricional das preparações oferecidas em restaurantes “por quilo” e verificar a adequação<br />

com relação às recomendações.<br />

Metodologia: Os dados foram colhidos durante cinco dias consecutivos, em quatro restaurantes e analisados por meio de<br />

tabelas de composição de alimentos e por análises bromatológicas. A adequação nutricional seguiu as recomendações do<br />

NRC e SBAN.<br />

Resultados: Constatou-se uma densidade energética, em torno de 1400 kcal. O consumo de lipídeos, proteínas e<br />

carboidratos representaram 78% e 144%, 102% e 95%, 30% e 48% da recomendação diária da RDA da SBAN, respectivamente.<br />

O consumo médio de fibras cobriu 69,2% da recomendação da SBAN e 39,5% da RDA. O aporte de ácidos graxos saturados,<br />

insaturados e colesterol cobriram 52% e 80%, 68% e 111%, 66% e 95% da RDA e SBAN respectivamente. Os açúcares<br />

simples representaram 31% do total de carboidratos.<br />

Conclusão: A alimentação apresentou alta densidade energética, elevado teor de gorduras, ácidos graxos saturados,<br />

colesterol, proteínas e açúcares simples, com pouca contribuição dos carboidratos no VCT da dieta e adequação em fibras,<br />

ou seja, excetuando o teor de fibras, apresenta certas características aterogênicas, podendo contribuir como um dos fatores<br />

de risco ao aparecimento da obesidade e de doença cardiovascular.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Restaurantes “por quilo”, adequação nutricional, obesidade, riscos de DCV.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 1 de outubro de 2002; aprovado em 15 de outubro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Elizabeth A. F. S. Torres, Av. Dr. Arnaldo 715 - Depto. de Nutrição da Faculdade de<br />

Saúde Pública da Universidade de São Paulo – 01246-904 São Paulo SP, Tel: (11) 3066-7705 Ramal: 230,<br />

E-mail: eatorres@usp.br


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Abstract<br />

Objetive: This study evaluated the composition of foods offered in self-service restaurants and verified the adjustments<br />

to nutritional recommendations.<br />

Methodology: Data were taken during five days and analysed according to specific food composition. The adjustments to<br />

nutritional recommendations were checked.<br />

Results: The results of the meals analysis verified a high energetical density, elevated levels of fat, saturated fat acids,<br />

cholesterol, protein and simple sugar, little contribution of carboydrats to Diet’s Total Energetic value and adjustment of<br />

fibers.<br />

Conclusion: This kind of meal showed atherogenic characteristics and it can contribute to the appearance of obesity and<br />

cardiovascular diseases.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Self-service restaurants, nutritional adjustments, obesity, cardiovascular diseases risks.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Introdução<br />

As mudanças na composição da dieta dos<br />

brasileiros vêm rapidamente substituindo o problema<br />

da escassez pelo excesso dietético. O aumento da<br />

prevalência da obesidade, entre adultos, ocorre em<br />

todos estratos sócio-econômicos, com aumento<br />

significativo nas famílias de baixa renda [1,2], uma<br />

transição no estado nutricional da população pouco<br />

encontrada em países em desenvolvimento [3]. Em<br />

países industrializados, o controle de peso é parte<br />

integrante das principais prioridades de saúde<br />

identificadas para o futuro [4]. Na maioria dos países<br />

europeus há programas que enfocam especialmente<br />

os riscos cardiovasculares na obesidade [3]. No Brasil,<br />

é certo que esse problema determina importantes<br />

implicações para a definição de prioridades e de<br />

estratégias de ação de Saúde Pública, reservando-se<br />

lugar de destaque à prevenção e ao controle das<br />

doenças crônico-degenerativas, através de ações de<br />

educação em alimentação e nutrição, que alcancem<br />

de modo eficaz todos os estratos econômicos da<br />

população [1].<br />

Nos países ocidentais encontram-se disponíveis<br />

uma culinária variada, assim como uma enorme<br />

variedade de alimentos [5].<br />

Com o surgimento das novas gerações de<br />

balanças, e principalmente das eletrônicas, nasceu, no<br />

Brasil, um novo tipo de restaurante chamado “por<br />

quilo”. A média de consumo “per capita” gira em torno<br />

de 420g [6]. Esse tipo de restaurante, cujo atendimento<br />

é self-service, passa a ser mais interessante que o selfservice<br />

simples, pois o cliente escolhe apenas aquilo que<br />

pretende consumir, ciente de que os restos sairão de<br />

seu próprio orçamento. Por outro lado, a possibilidade<br />

de escolher por peso, faz com que se gaste na medida<br />

da disposição financeira [6]. Assim, esse tipo de<br />

mercado passou a ser bastante procurado nos grandes<br />

centros urbanos do País.<br />

Popkin [3] relata que as transformações nas<br />

preferências, ao longo do tempo, podem ser<br />

facilmente visualizadas nos países em<br />

desenvolvimento. A redução da fertilidade, o<br />

envelhecimento da população e o surgimento de um<br />

novo cenário epidemiológico, conduzem a uma<br />

acelerada transição nos padrões dietéticos. Passam a<br />

coexistir, simultaneamente, quadros endêmicos de<br />

subnutrição e de obesidade. Num momento<br />

posterior, a difusão e o acesso ao conhecimento<br />

levam a uma reavaliação dos hábitos adotados,<br />

motivada essencialmente por razões vinculadas ao<br />

prolongamento da vida e da saúde. Qualquer que<br />

seja a natureza da predisposição genética à obesidade,<br />

está claro que os níveis relativos de ingestão e<br />

dispêndio de energia são cruciais no desenvolvimento<br />

do excesso de peso [8]. Ao mesmo tempo é<br />

impossível que a genética sozinha seja suficiente para<br />

explicar o aumento maciço da obesidade, como tem<br />

ocorrido mundialmente nos últimos 20 anos e,<br />

inquestionavelmente, o meio ambiente desempenha<br />

um papel importante, quando permite a expressão<br />

da predisposição genética [9]. Neste contexto, a<br />

mudança ambiental mais importante dos últimos<br />

tempos pode ser a bem documentada alteração no<br />

padrão típico da dieta e atividades físicas, que têm<br />

ocorrido nos países industrializados. Tem havido um<br />

grande aumento no consumo de gorduras e sacarose,<br />

baixa ingestão de fibras, acompanhados do<br />

sedentarismo da vida da maioria das pessoas. Essas<br />

tendências foram percebidas primeiramente nos<br />

Estados Unidos e se espalharam para outros países<br />

[10]. A longo prazo, a obesidade impõe uma série de<br />

perigos médicos, entre os quais a resistência à insulina<br />

e o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2;<br />

diminuição da tolerância à glicose; hiperinsulinemia;<br />

hiperlipidemias em geral, elevados níveis de<br />

137


138<br />

triglicérides e de colesterol, em especial a fração LDL;<br />

e, hipertensão arterial [11].<br />

Esse estudo realizou uma avaliação da<br />

composição das preparações oferecidas nesses<br />

restaurantes na região de Cerqueira César, São Paulo,<br />

na alimentação de seus clientes e verificou a adequação<br />

dessa alimentação com relação às recomendações<br />

sugeridas.<br />

Metodologia<br />

O objeto de estudo foi constituído por alimentos<br />

e preparações oferecidas em quatro restaurantes “por<br />

quilo” do Bairro de Cerqueira César, na cidade de São<br />

Paulo. Os dados foram colhidos durante 5 dias<br />

consecutivos por 4 semanas, sendo destinada uma<br />

semana para cada restaurante. Foram anotadas, em<br />

cada restaurante, as saídas de gêneros e/ou produtos<br />

alimentícios do estoque, que se destinavam à produção<br />

das preparações. Os dados foram coletados por peso,<br />

em kg. Para cada produto foi aplicado um Indicador<br />

de Parte Comestível (Indicador que prevê as perdas<br />

inevitáveis como casca, aparas, ossos, entre outros),<br />

para obtenção do peso líquido. A quantidade de<br />

alimentos disponível para consumo foi estimada com<br />

base no peso líquido, dividido pelo número de<br />

refeições servidas durante o período de coleta de dados<br />

- uma semana -, para a determinação da quantidade<br />

individual comestível (QIC). Os alimentos foram<br />

agrupados em um pool de nutrientes, utilizando-se as<br />

QICs obtidas, do qual se conseguiu a composição<br />

nutricional do padrão alimentar estimado em cada<br />

restaurante. E, assim, foi possível a compilação de<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

todas as informações nutricionais dos alimentos e<br />

bebidas servidos nos estabelecimentos, durante o<br />

período da pesquisa. O cálculo da composição química<br />

dos alimentos utilizados nas preparações disponíveis<br />

para consumo, foi feito por meio de tabelas de<br />

composição de alimentos e por análises<br />

bromatológicas. Foi calculado o CSI - Índice de<br />

Gordura Saturada e Colesterol - das preparações [12].<br />

A adequação nutricional seguiu as recomendações do<br />

RDA [13] e SBAN [14]. Foi elaborado um prato<br />

controle para representar uma refeição<br />

nutricionalmente equilibrada, constituído de salada de<br />

alface e tomate, bife grelhado, legumes mistos, arroz,<br />

feijão, pão, salada de fruta com granola e água. Os<br />

dados foram analisados por meio da estatística<br />

descritiva e analítica. As médias dos nutrientes controle<br />

e de consumo foram comparadas de acordo com<br />

técnicas estatísticas recomendadas no Advanced do<br />

Software para Análise Estatística SPSS, versão 10.0 e<br />

Microcal Origin.<br />

Resultados<br />

Os dados referentes aos alimentos e preparações<br />

disponíveis para consumo nos quatro restaurantes<br />

estudados, provêm de informações cedidas pelos<br />

próprios restaurantes, e, com base nessas informações,<br />

foram realizados cálculos sobre a composição<br />

nutricional, como já mencionado anteriormente. A<br />

tabela I demonstra a contribuição nutricional média<br />

desses alimentos. A figura 1 demonstra a participação<br />

relativa dos macronutrientes nos restaurantes “por<br />

quilo”.<br />

Fig. 1 - Participação relativa dos nutrientes energéticos sobre o VET dos alimentos e preparações oferecidos<br />

nos restaurantes estudados.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Tabela I - Distribuição média dos teores de<br />

nutrientes contidos nas preparações servidas no<br />

almoço, dos restaurantes “por quilo”, durante o<br />

período de pesquisa no “prato controle”.<br />

Nutrientes Restaurantes<br />

1 2 3 4<br />

Energia (kcal) 1482,00 1310,00 1351,00 1468,00<br />

Proteína (g) 61,37 54,26 56,04 59,66<br />

Lipídeo (g) 67,57 58,64 73,26 66,37<br />

CHO (g) 160,15 151,34 129,16 161,56<br />

Fibra (g) 12,32 11,74 18,25 13,05<br />

AGSat. (g) 19,29 17,87 22,22 18,69<br />

AGIns. (g) 40,41 36,34 39,44 37,39<br />

Colesterol (mg) 168,83 224,90 211,10 183,20<br />

Açúcares (g) 49,56 51,80 35,56 48,61<br />

Os pratos mais consumidos foram arroz, nas<br />

mais variadas formas de preparação; o feijão como<br />

“tutu” é mais consumido que o feijão comum; feijoada;<br />

diversos tipos de massa; carnes em geral; batata frita;<br />

pastel, coxinha e produtos de pastelaria em geral.<br />

Dentre as saladas, as mais consumidas foram de alface,<br />

brócolis, cenoura, palmito e as com molho de<br />

maionese. As sobremesas mais requisitadas foram<br />

pudim de leite condensado, salada de frutas, morango,<br />

frutas em calda e a confeitaria do dia. As bebidas mais<br />

ingeridas foram os refrigerantes light. A tabela II<br />

demonstra a contribuição nutricional do “prato<br />

controle”. A figura 2 demonstra a participação relativa<br />

dos macronutrientes no “prato controle”.<br />

Tabela II - Distribuição média dos teores de<br />

nutrientes contidos no “prato controle”.<br />

Nutrientes Prato Controle<br />

Energia (kcal) 970,00<br />

Proteína (g) 39,10<br />

Lipídeo (g) 27,53<br />

CHO (g) 135,55<br />

Fibra (g) 15,86<br />

AGSat. (g) 9,92<br />

AGIns. (g) 13,61<br />

Colesterol 63,00<br />

Açúcares (g) 39,06<br />

CSI 13,17<br />

Fig. 2 - Participação relativa dos nutrientes<br />

energéticos sobre o Valor Energético Total do “prato<br />

controle”.<br />

Utilizando-se os dados das tabelas I e II, foi<br />

realizada uma Análise de Agrupamento de dados, para<br />

o “prato controle”, alimentos e preparações oferecidas<br />

nos restaurantes pertencentes à amostra, cujo<br />

dendrograma está demonstrado na figura 3.<br />

Fig. 3 - Agrupamento de dados do “prato controle”<br />

e dos alimentos e preparações oferecidos nos<br />

restaurantes pesquisados.<br />

Discussão<br />

Os resultados da análise das preparações,<br />

apresentados na tabela I, constataram:<br />

Energia em torno de 1400 kcal - 55% da RDA e<br />

67,5% da SBAN; Lipídeos - 78% da RDA e 144% da<br />

SBAN; Proteínas - 102% da RDA e 95% da SBAN;<br />

Carboidratos - 30% da RDA e 48% da SBAN; Fibras<br />

- 69,2% da SBAN e 39,5% da RDA; Ácidos graxos<br />

saturados - 52% da RDA e 80% da SBAN; Ácidos<br />

graxos insaturados - 68% da RDA e 111% da SBAN;<br />

Colesterol - 66% da RDA e 95% da SBAN; Açúcares<br />

simples - 31% do total de carboidratos. Considerandose<br />

que a refeição almoço não deveria ultrapassar 40%<br />

do Valor Energético Total (VET), pode-se dizer que<br />

essa alimentação possui alta concentração energética<br />

e lipídica.<br />

Ao analisar a contribuição percentual dos<br />

nutrientes energéticos no VET médio consumido, a<br />

figura 1 demonstra que os alimentos e preparações<br />

oferecidos nos restaurantes “por quilo” estudados,<br />

encontram-se um pouco acima do recomendado pelo<br />

NRC e SBAN para proteínas, com excesso de gorduras<br />

e subdimensionados em carboidratos, com<br />

desequilíbrio um pouco mais acentuado para o<br />

Restaurante 3.<br />

Utilizando-se os dados das preparações, realizouse<br />

uma análise estatística através do teste t para amostras<br />

independentes, com o objetivo de verificar se há diferença<br />

significativa entre os restaurantes. Esse cálculo foi feito<br />

sobre o conjunto total de cada variável medida. O<br />

resultado dessa análise indica que o teor de lipídeos<br />

(Restaurante 1 e Restaurante 3; Restaurante 1 e<br />

Restaurante 4), ácidos graxos insaturados (Restaurante<br />

1 e Restaurante 3; Restaurante 1 e Restaurante 4) e<br />

ácidos graxos saturados (Restaurante 1 e Restaurante<br />

3; Restaurante 1 e Restaurante 4; Restaurante 2 e<br />

139


140<br />

Restaurante 4) se mostram significativamente<br />

diferentes. A figura 3 (Análise de Agrupamento de<br />

dados) aponta o resultado obtido pelo teste t, onde<br />

foram plotados a média e o erro padrão dos<br />

restaurantes em relação a lipídeos. Tal resultado pode<br />

ser atribuído à diferenciação das receitas entre os<br />

restaurantes, que utilizam proporções distintas de<br />

lipídeos em preparações semelhantes, além de<br />

diferentes tipos de gorduras.<br />

Foi elaborada uma refeição equilibrada,<br />

denominada prato controle, cuja composição<br />

nutricional está na tabela II / figura 2, e demonstra<br />

harmonia entre os diferentes nutrientes, guardando<br />

correta relação entre si.<br />

Considerando-se o prato controle, uma refeição<br />

balanceada, pode-se inferir que as preparações<br />

estudadas, disponíveis para consumo nos<br />

estabelecimentos pesquisados, estão muito longe de<br />

constituir uma refeição equilibrada, apresentando<br />

características aterogênicas, principalmente quando<br />

verificamos os valores de CSI, apresentados na tabela<br />

III, podendo contribuir como um dos fatores de risco<br />

ao aparecimento da obesidade e de doença<br />

cardiovascular.<br />

Conclusão<br />

A avaliação dos alimentos e preparações<br />

disponíveis para consumo nos restaurantes “por quilo”<br />

permitiu concluir que:<br />

• Os alimentos e bebidas oferecidos nesses<br />

estabelecimentos contribuem com 67,5% da<br />

necessidade energética diária de seus clientes, ou seja,<br />

muito além do recomendado para a refeição almoço,<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Tabela III - Valor calórico e teores de lipídeos contidos em 100g das preparações analisadas em laboratório,<br />

dos restaurantes “por quilo”.<br />

Preparação Ene. Col. AGT AGS AGMT AGPT AGTR AGI CSI<br />

(kcal) (mg) (g) (g) (g) (g) (g) (g)<br />

Alcatra 170,79 115,17 2,67 0,84 1,40 0,43 0,31 1,83 6,61<br />

Canelone frango c/catup. 117,16 56,75 7,84 0,42 7,23 0,19 6,00 7,42 3,26<br />

Contra filé 208,78 111,98 4,83 2,22 1,15 1,46 0,82 2,61 7,84<br />

Escalope frango surprise 201,65 97,782,25 0,92 0,30 1,03 1,20 1,33 5,82<br />

Feijoada 159,46 107,01 4,47 2,44 0,14 1,89 1,63 2,03 7,81<br />

Frango grelhado 157,23 93,41 4,32 0,13 4,10 0,09 0,09 4,19 4,48<br />

Frango recheado 319,64 131,81 17,33 5,10 5,86 6,37 5,74 12,23 11,74<br />

Macarrão c/ calabresa 98,91 50,61 0,75 0,22 0,27 0,26 0,51 0,53 2,75<br />

Picanha 252,52 140,19 5,69 1,71 3,36 0,62 0,29 3,988,74<br />

Rondeli c/ presunto 186,94 91,90 11,281,76 7,54 1,98 6,11 9,52 6,37<br />

Legenda: Ene = energia; Col = colesterol; AGT = ácido graxo total; AGS = ácido graxo saturado; AGMT = ácido graxo<br />

monoinsaturado total; AGPT = ácido graxo poinsaturado total; AGTR = ácido graxo trans; AGI=ácido graxo insaturado; CSI<br />

= índice de colesterol e gordura saturada.<br />

mostrando-se uma alimentação de alta densidade<br />

calórica.<br />

• A composição centesimal desses alimentos<br />

e preparações revelou que não há harmonia entre os<br />

nutrientes energéticos, apresentando-se com elevado<br />

teor de gorduras, pobre em carboidratos e pouco<br />

acima em proteínas. A oferta de fibras está adequada,<br />

enquanto que a de ácidos graxos saturados e<br />

insaturados possuem um desbalanceamento, com<br />

oferta elevada de saturados. O colesterol e açúcares<br />

simples também são oferecidos em quantidades<br />

elevadas para uma refeição.<br />

• Quando comparadas ao prato controle, que<br />

foi baseado nas recomendações do NRC e SBAN, não<br />

podem ser a melhor recomendação nutricional, tendo<br />

em vista que essa prática pode levar a uma falta de<br />

equilíbrio na composição nutricional da dieta e seu<br />

consumo continuado pode trazer prejuízo à saúde.<br />

• Através de análises estatísticas, pode-se<br />

observar que o “prato controle” está muito distante<br />

dos alimentos e preparações oferecidos nos quatro<br />

restaurantes pertencentes à amostra, conotando outra<br />

vez o desequilíbrio da alimentação praticada nesses<br />

estabelecimentos.<br />

• A avaliação demonstra que esta alimentação<br />

é de alta densidade energética, elevado teor de<br />

gorduras, ácidos graxos saturados, colesterol, proteínas<br />

e açúcares simples, com pouca contribuição dos<br />

carboidratos no VCT da dieta e adequação em fibras,<br />

ou seja, excetuando o teor de fibras, apresenta<br />

características aterogênicas, podendo contribuir como<br />

um dos fatores de risco ao aparecimento da obesidade<br />

e de doença cardiovascular.<br />

• Cabe salientar que o tipo de venda e a<br />

disposição das preparações no balcão induzem à


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

escolha inadequada dos alimentos, levando ao<br />

desbalanceamento da dieta.<br />

Agradecimentos<br />

Aos órgãos financiadores da pesquisa: CAPES,<br />

CNPq e FAPESP.<br />

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alimentação. In: Monteiro CA, organizador. Velhos e<br />

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Aplicações das recomendações nutricionais adaptadas<br />

à população brasileira. Ribeirão Preto, Sociedade<br />

Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), 1990.<br />

141


142<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Efeitos da ingestão de diferentes soluções<br />

contendo carboidratos, eletrólitos e glicerol<br />

sobre os parâmetros fisiológicos e bioquímicos<br />

de atletas submetidos a uma corrida de 30 km<br />

em ambiente de calor intenso<br />

Effects of beverages containing carbohydrates, electrolytes<br />

and glycerol upon physiological and biochemical parameters in<br />

athletes during a 30 km run with high temperature<br />

Reinaldo Abunasser Bassit*, Mara Assis Malverdi**, Miguel Luiz Batista Júnior***,<br />

Luiz Fernando Bicudo Pereira Costa Rosa****<br />

*Nutricionista, professor de educação física, Mestre em ciências e douturando pelo Instituto de ciências biomédicas da USP, **nutricionista e<br />

prof de educação, ***Mestrando pelo Departamento de fisiologia do Instituto de ciências biomédicas da USP, ****Prof. Dr. do laboratório de<br />

metabolismo do Instituto de ciências biomédicas da USP<br />

Resumo<br />

O desempenho físico durante corrida de longa duração em ambiente quente é afetado por dois parâmetros: hidratação<br />

e glicemia. A ingestão de bebidas contendo íons, carboidratos, ou glicerol é utilizada para evitar a desidratação, a hipoglicemia<br />

e a conseqüente queda no desempenho. Dessa forma, avaliou-se o efeito da ingestão de diferentes soluções em atletas<br />

durante 30 km de corrida em ambiente quente. Foram avaliados 20 corredores separados em 4 grupos de igual número. O<br />

grupo 1 recebeu solução contendo carboidrato a 10% (1g.kg -1 .h -1 ); o grupo 2 isotônico comercial; o grupo 3 apenas água, e<br />

o grupo 4 água + Glicerol (5%). Os atletas ingeriram 400ml das respectivas soluções a cada volta de 6 Km (5 voltas).<br />

Observou-se redução na concentração de Na + no grupo 3, e manutenção de Cl - e K + , que não se modificaram nos demais<br />

grupos. Houve aumento da glicemia no grupo 1 no pós-exercício, contrariamente ao obtido no grupo 3. Concomitantemente,<br />

observou-se progressiva diminuição no tempo de corrida no grupo 1, e manutenção do volume hídrico nos grupos 1 e 2,<br />

associado a uma menor perda de peso em percentual nestes grupos. Dessa forma, a solução contendo carboidrato foi<br />

eficiente em aumentar a glicemia e manter a intensidade do esforço, assim como, diminuir a perda hídrica durante a corrida<br />

no calor. A solução isotônica foi capaz de evitar a perda hídrica, mas não foi eficiente em aumentar a glicemia e manter a<br />

intensidade do esforço.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Hidratação, glicemia, atletas<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 1 de outubro; aprovado em 15 de outubro de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Reinaldo Abunasser Bassit, Total Nutrition, Av. Horacio Lafer, 245 Itaim Bibi 04538-081<br />

São Paulo SP, Tel: 3078-1687, 9912 2530, E-mail: tubaraousp@.com.br


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Abstract<br />

Athletic performance during long distance running is affected by several physiological conditions, among them hydration<br />

and plasma glucose concentration. A common strategy used to postpone fatigue in such circumstances is the consumption<br />

of beverages containing ions, carbohydrates or a solution of glycerol. In the present study we evaluated the effect of such<br />

beverages upon performance, glicaemia and plasma ions concentrations during a 30km run. Twenty athletes were divided<br />

into 4 groups: group 1- receiving a 10% carbohydrate solution (1g.kg -1 .h -1 ); group 2- commercial beverage for athletes; group<br />

3- plain water and group 4- glycerol solution (5%). The athletes ingested 400ml of each solution every 6km. Peripheral blood<br />

was collected before and immediately after the exercise bout. We observed a reduction in Na + plasma concentration in group<br />

3, after the run, and no more changes in K + and Cl - concentrations. The athletes from group 1 presented an augmented<br />

plasma glucose concentration, paralleled with a reduction in the time for each 6km step. Group 1 and 2 presented, also, a<br />

sustained body weight, indicating a decreased loss of water. These data indicates that carbohydrate solution was effective in<br />

postpone fatigue and keeps constant plasma glucose and ions concentration during a 30km run.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Hydration, plasma glucose, athletes<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Introdução<br />

Os exercícios de endurance, caracterizados por um<br />

tempo prolongado de esforço, induzem a adaptações<br />

profundas em vários sistemas fisiológicos, como por<br />

exemplo, nos sistemas cardiovascular, muscular e<br />

endócrino [25]. Um importante efeito dessas<br />

adaptações é a mudança que ocorre na taxa de<br />

utilização dos substratos energéticos (carboidratos,<br />

gorduras e proteínas) durante o esforço físico.<br />

Quando comparamos um indivíduo treinado em<br />

exercícios de endurance (ex: um maratonista) com um<br />

sedentário, o primeiro oxida menos carboidrato e mais<br />

gordura durante um esforço, na mesma intensidade<br />

absoluta, ou seja, na mesma potência absoluta ou taxa<br />

de consumo de oxigênio (VO 2 ) e, possivelmente,<br />

também, na mesma intensidade relativa de esforço<br />

[23,28].<br />

Sabidamente, a diminuição das reservas<br />

corporais de glicogênio muscular e hepático é fator<br />

importante no desenvolvimento de um estado de<br />

fadiga. Dessa forma, o treinamento de endurance<br />

direciona a utilização de substratos, atuando como<br />

principal fator no aumento da capacidade física em<br />

exercícios prolongados [25]. De fato, há muito tempo<br />

cientistas vêm demonstrando esse quadro. Christensen<br />

& Hansen [7], publicaram as primeiras evidências de<br />

que o treinamento diminui a necessidade de utilização<br />

de carboidratos como combustível durante exercícios<br />

prolongados. Novas informações relevantes surgiram<br />

nos anos 60, quando foi re-introduzido o<br />

procedimento de biópsia muscular. Num estudo<br />

desenvolvido por Hermansen et al. [27], foi encontrado<br />

que a média de utilização de glicogênio muscular era<br />

similar em sujeitos treinados e não treinados, quando<br />

em um esforço físico com a mesma intensidade relativa<br />

(75-80% do VO2 máx.), mas devido à média absoluta<br />

do gasto energético ter sido 20% maior no grupo<br />

treinado, pode-se concluir que havia marcadamente<br />

um efeito poupador de glicogênio (glycogen-sparing),<br />

induzido pelo treinamento de endurance. Atualmente<br />

já é bem estabelecido que o treinamento reduz a<br />

utilização do glicogênio muscular e da glicose<br />

plasmática, quando o exercício é executado na mesma<br />

intensidade absoluta, tanto antes, quanto após o<br />

treinamento [25].<br />

Além da menor concentração de glicogênio<br />

muscular e hepático, e da glicose sanguínea estarem<br />

relacionados com o aparecimento precoce da fadiga<br />

metabólica, outros elementos estão, também,<br />

relacionados com o surgimento da fadiga.<br />

A fadiga pode ser identificada pela falha em<br />

manter o nível desejado de trabalho ou performance,<br />

sendo que variáveis individuais podem estar relacionadas<br />

com esse quadro, como por exemplo, a massa muscular<br />

envolvida, a intensidade da contração muscular, a<br />

velocidade do movimento executado, a taxa de<br />

amplitude do movimento, a freqüência de contração e<br />

relaxamento muscular, além da grande diferença<br />

individual e vulnerabilidade ao aparecimento desse<br />

quadro. Além disso, a idade, sexo, estado de saúde<br />

prévio, composição corporal, e particularmente o estado<br />

de hidratação do indivíduo, também podem contribuir<br />

de maneira significativa para o aparecimento da fadiga.<br />

Também, características genéticas em termos de<br />

estrutura, organização e composição do sistema neural<br />

e muscular, são variáveis relacionadas ao próprio esforço<br />

que estão envolvidas com o quadro de fadiga [25].<br />

143


144<br />

O exercício de endurance e o surgimento da fadiga<br />

são criticamente dependentes da composição física e<br />

química do ambiente no qual o esforço é realizado.<br />

Dessa forma, a exaustão prematura aparece como<br />

resultado do esforço físico realizado em ambiente<br />

quente e úmido ou em condição de altitude,<br />

particularmente quando o indivíduo não está<br />

aclimatado [23].<br />

Adicionalmente, os eletrólitos, também têm<br />

potencial importância participando do ciclo da fadiga,<br />

notadamente alguns cátions como o potássio (K + ), o<br />

sódio (Na + ), o magnésio (Mg 2+ ), e o cálcio (Ca 2+ ), assim<br />

como, alguns ânions como o bicarbonato (HCO - ) e o<br />

cloreto (CL - ).<br />

Carboidratos<br />

Desde 1924 a importância da suplementação<br />

com carboidratos já havia sido demonstrada, quando<br />

foi encontrado, em um experimento realizado com<br />

12 atletas que participaram da Maratona de Boston<br />

em 1923, uma diminuição da concentração plasmática<br />

de glicose (< 50mg/dl), e um efeito preventivo da<br />

ingestão de carboidratos antes e durante a maratona,<br />

levando ao aumento da performance [32].<br />

Os efeitos e possibilidades da suplementação de<br />

carboidratos são conhecidos e estudados desde a<br />

década de 60, quando foi descrita pela primeira vez a<br />

estratégia conhecida como supercompensação [57].<br />

Este tipo de dieta foi utilizada com sucesso por muitos<br />

atletas durante provas com mais de uma hora de<br />

duração e alta intensidade, onde a utilização de<br />

carboidratos como fonte energética é determinante<br />

da performance [47]. A ingestão de carboidratos<br />

durante provas longas mantém o rendimento elevado<br />

e, durante os treinos, permite ao atleta trabalhar com<br />

maior carga por mais tempo. As estratégias possíveis<br />

são variadas e específicas [29].<br />

É fato que quando a concentração de glicogênio<br />

muscular ou de glicose sanguínea diminui durante o<br />

exercício prolongado, a intensidade do esforço<br />

obrigatoriamente tem que ser reduzida ou o exercício<br />

tem que ser interrompido [30]. Sabidamente os<br />

carboidratos da dieta têm influência significativa nas<br />

suas reservas corporais (glicogênio muscular e<br />

hepático), fato que tem estimulado uma série de<br />

experimentos com manipulação nutricional, com a<br />

finalidade de otimizar os estoques de carboidrato<br />

corporal e aumentar a capacidade de treinamento,<br />

assim como a performance durante o esforço.<br />

Contrariamente a isso, quando o conteúdo de<br />

carboidrato da dieta de atletas é menor que o ideal,<br />

gera o aparecimento precoce da fadiga, que durante o<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

exercício é freqüentemente atribuída à diminuição<br />

das concentrações de glicogênio muscular e da glicose<br />

sangüínea (


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Sabidamente, a evaporação constitui o principal<br />

fator capaz de levar o corpo humano a uma perda<br />

eficiente de calor. Dessa forma, o calor é transferido<br />

continuamente para o meio ambiente, à medida em<br />

que a água é vaporizada a partir das vias respiratórias<br />

e da superfície da pele. Quando em ambientes com<br />

temperaturas elevadas, a perda de calor pelos processos<br />

de condução, convecção e irradiação está<br />

comprometida [37]. Assim, o único mecanismo de<br />

perda de calor, além da pequena contribuição da<br />

evaporação da água pelo sistema respiratório, é a<br />

evaporação através do suor na pele, fato que gera uma<br />

grande perda de água corporal.<br />

Durante o exercício físico prolongado, sem a<br />

ingestão de água, existem duas fontes que adicionam<br />

água ao suprimento total de água corporal. A primeira<br />

refere-se a um aumento na produção metabólica de<br />

água, que é uma função do gasto energético. Dessa<br />

forma, conforme a intensidade do esforço aumenta,<br />

também aumenta a quantidade metabólica de água<br />

produzida (100g/h). A segunda fonte de água durante<br />

o esforço é aquela liberada quando o glicogênio<br />

muscular é utilizado como substrato energético<br />

durante o exercício, ou seja, para cada grama de<br />

glicogênio oxidado, 4 gramas de água serão liberadas,<br />

totalizando aproximadamente ½ litro de água por<br />

hora [50,57].<br />

Deve ser ressaltado que a água formada por<br />

esses processos, na realidade não é uma água<br />

adicionada, mas sim uma água formada a partir dos<br />

processos de liberação de hidrogênio e oxigênio do<br />

metabolismo, e dos estoques de água corporal<br />

previamente ligada ao glicogênio muscular.<br />

Infelizmente, a quantidade de água formada pelos dois<br />

processos não é suficiente para reposição de fluídos<br />

durante o exercício [52].<br />

Visto que a geração de calor pelo músculo ativo<br />

equivale a 75-80% de toda a energia produzida, a perda<br />

de líquidos através do suor é de suma importância<br />

para a manutenção do equilíbrio térmico corporal.<br />

Sabendo-se que para cada litro de suor evaporado,<br />

um total de 580 Kcal é removido do corpo, e que um<br />

indivíduo (média de 70Kg de peso corpóreo) durante<br />

uma corrida é capaz de produzir 720 kcal/h, se tiver<br />

uma eficiência mecânica de 20%, esse indivíduo perderá<br />

1,25 litros de água/hora. Dessa maneira, embora a taxa<br />

de suor possa ser afetada por vários fatores (temperatura<br />

ambiente e umidade relativa do ar), a taxa máxima de<br />

suor da média dos indivíduos fica por volta de 1,5 litros/<br />

h, e está amplamente relacionada com a intensidade e<br />

duração do esforço [5].<br />

O suor é composto principalmente de água e<br />

quantidades significativas de eletrólitos. A maior<br />

concentração de íons presente no suor é atribuída ao<br />

Na + e CL - , e correspondem a cerca de um terço ou a<br />

metade daquelas encontradas no plasma, ao contrário<br />

do K + e Mg 2+, que se encontram em quantidades<br />

menores no suor. Dessa maneira, uma taxa de suor<br />

elevada, devido ao aumento da intensidade e duração<br />

do esforço, combinado, ainda, com uma temperatura<br />

ambiente e umidade relativa do ar alta, irá depletar os<br />

depósitos totais de Na + e CL - , numa extensão muito<br />

maior do que qualquer outro eletrólito [57].<br />

Esta situação gera um quadro de “conflito<br />

fisiológico”, uma vez que durante o exercício, na<br />

tentativa de atender às demandas metabólicas do<br />

músculo ativo, o fluxo sangüíneo é desviado para o<br />

tecido muscular, ao mesmo tempo. No entanto, parte<br />

desse fluxo deverá ser direcionado aos tecidos<br />

periféricos, para aumentar a perda de calor para o meio<br />

ambiente, e evitar o aumento da temperatura corporal<br />

central. Assim, o fluxo total gerado é atendido pelo<br />

aumento do débito cardíaco. Com o aumento da<br />

intensidade e duração do esforço, associado a um<br />

aumento na taxa de suor (perda de água do corpo), o<br />

débito cardíaco passa a não dar mais conta da perfusão<br />

exigida pelo músculo e pelos processos de regulação<br />

térmica. O atleta se vê, então, obrigado a diminuir ou<br />

interromper o esforço, devido a uma falha em seu<br />

sistema de fornecimento de oxigênio para o trabalho<br />

muscular, e o seu sistema de refrigeração corporal [45].<br />

Assim, fica claro que a ingestão de líquidos é de<br />

fundamental importância durante esforços intensos e<br />

prolongados, principalmente em ambiente quente, e<br />

que a reposição hídrica é capaz de afetar<br />

significantemente a performance de atletas de<br />

endurance.<br />

Considerando-se, então, que a composição do<br />

suor é hipotônica em relação ao plasma sangüíneo, a<br />

conseqüência do suor prolongado é um aumento da<br />

osmolaridade plasmática, que pode ter um efeito<br />

significativo na capacidade de manutenção da<br />

temperatura corporal [24,26]. A hiperosmolaridade do<br />

plasma, induzida antes do exercício, tem mostrado uma<br />

diminuição da resposta efetora termorregulatória,<br />

resultando em uma elevação do limiar para o suor e<br />

reduzindo a vasodilatação cutânea. Contudo, a resposta<br />

cardiovascular e termorregulatória, durante esforços<br />

de curta duração (30 min), se mostram indiferentes às<br />

mudanças na osmolaridade induzida pelo exercício<br />

[18,19].<br />

As concentrações plasmáticas de potássio<br />

permanecem constantes após uma maratona, podendo<br />

aumentar ligeiramente quando é oferecido ao atleta<br />

uma solução com grande quantidade de potássio ou<br />

nenhum eletrólito. Sabidamente a concentração de<br />

145


146<br />

potássio retorna rapidamente à situação normal<br />

(4–5mmol/L) no período pós-exercício. Esse fato,<br />

provavelmente, está relacionado com a maior<br />

concentração intracelular desse elemento (150-<br />

160mmolL), que é liberado pelo fígado, músculo, e<br />

células vermelhas do sangue, que tendem a elevar sua<br />

concentração no plasma durante o esforço, apesar das<br />

perdas ocorridas através do suor [30,56].<br />

O conteúdo plasmático de potássio representa<br />

apenas uma pequena fração de todo o estoque<br />

corporal, e está estimado em apenas 1% dos estoques<br />

corporais de eletrólitos, que é perdido quando um<br />

indivíduo está desidratado com perda de peso<br />

equivalente a cerca de 5,8% do seu peso corporal [10].<br />

Bebidas utilizadas durante os exercícios de<br />

endurance<br />

O objetivo primário da ingestão de bebidas<br />

durante o exercício prolongado é fornecer substrato<br />

para o trabalho muscular e água para evitar os efeitos<br />

da desidratação. O suprimento de eletrólitos para repor<br />

as perdas pelo suor não é usualmente a prioridade<br />

durante esse tipo de esforço, sendo que, quando<br />

adicionados em altas concentrações, poderão surtir<br />

efeitos negativos no rendimento. Apesar da ingestão<br />

de água ser considerada efetiva durante os esforços<br />

de endurance, a adição de açúcares, eletrólitos e<br />

possivelmente outros componentes (ex: Glicerol)<br />

podem trazer benefícios adicionais para o atleta [30].<br />

Segundo Noakes [48], o volume de líquidos<br />

ingeridos voluntariamente durante o exercício é capaz<br />

de repor apenas a metade da água que é perdida.<br />

Indiscutivelmente, a conseqüência mais séria da<br />

reposição inadequada de líquidos durante o exercício<br />

é a hipertermia. Quando o organismo está<br />

superaquecido pode ocorrer exaustão devido ao calor<br />

e até morte. Em geral a maioria dos corredores<br />

ingerem menos do que 500 mL de líquidos por hora.<br />

Esse fato está relacionado com o desconforto causado<br />

por uma ingestão maior de líquidos, que irá obrigar o<br />

atleta a diminuir o seu passo até que esse deixe o<br />

estômago, assim como, com o tempo que é perdido<br />

(segundos) para ingestão de água nas estações de<br />

abastecimento [12].<br />

Em um estudo feito por Coyle & Montain [15],<br />

com ciclistas exercitados (temperatura ambiente de<br />

30ºC, umidade relativa do ar de 50%, intensidade<br />

média de 62-67 % do VO2 máx., por um tempo de 2<br />

horas), em diferentes situações de ingestão de líquidos<br />

[nenhum tipo de bebida, apenas 300mL/h, quantidade<br />

moderada de bebida (700mL/h), e grandes<br />

quantidades de líquidos (1,2 L/h)], demonstrou que<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

ocorreu uma diminuição gradativa da temperatura<br />

corporal central, do batimento cardíaco e da percepção<br />

do esforço, conforme a ingestão de líquidos<br />

aumentava. Concomitantemente a isso, a média<br />

percentual de desidratação se mostrou inversamente<br />

proporcional à ingestão de quantidades crescentes de<br />

líquidos: 3%, 2% e 1%, respectivamente. A bebida<br />

esportiva ingerida continha 6% de carboidratos e baixa<br />

concentração de eletrólitos, sendo que os volumes<br />

ingeridos repunham aproximadamente 20, 50 e 80%<br />

da perda de líquidos durante as 2 horas de ciclismo.<br />

Assim, esses autores concluíram que a magnitude do<br />

aumento natural da desidratação após o ciclismo, foi<br />

o principal fator associado com a hipertermia e o<br />

estresse cardiovascular.<br />

É consenso que a desidratação e a diminuição<br />

dos estoques corporais de carboidratos são fatores<br />

limitantes para a realização de esforços físicos intensos<br />

e prolongados. Dessa maneira, a formulação de<br />

bebidas contendo carboidratos e eletrólitos, assim<br />

como a recomendação de ingestão (volume e o tempo<br />

de ingestão), vêm sendo extensamente estudadas. Por<br />

vários anos foi comumente sustentado que bebidas<br />

contendo concentrações maiores do que 2,5% de<br />

carboidratos, poderiam comprometer a reposição de<br />

água pela diminuição na média do esvaziamento<br />

gástrico, dessa forma, aumentando o risco de<br />

desidratação, hipertermia e sensação de estômago<br />

embrulhado. Também, acreditava-se que soluções<br />

contendo polímeros de glicose (maltodextrina)<br />

poderiam oferecer vantagens aos atletas, devido à baixa<br />

osmolaridade e rápido esvaziamento gástrico<br />

atribuídos a essas soluções [16]. Contudo, evidências<br />

recentes têm sugerido que essas suposições não estão<br />

corretas [51].<br />

Um estudo realizado por Davis [16], onde foram<br />

administradas cinco soluções diferentes, uma<br />

contendo apenas água e as outras contendo eletrólitos<br />

e diferentes tipos e concentrações de carboidratos (6%<br />

de maltodextrina; 6, 8, e 10% de mistura contendo<br />

glicose e frutose), demonstrou que bebidas contendo<br />

concentrações iguais ou menores do que 10% desses<br />

açúcares (contendo baixa concentração de eletrólitos),<br />

têm uma taxa de esvaziamento gástrico e absorção<br />

similares. De acordo com esses achados, Neufer et al.<br />

& Mitchell et al. [46,38], não encontraram diferenças<br />

na taxa de esvaziamento gástrico, quando compararam<br />

soluções contendo diferentes concentrações (entre 5<br />

e 7,5%) e tipos de carboidratos (glicose, frutose,<br />

sacarose, e maltodextrina), com a ingestão de água,<br />

durante o exercício.<br />

Sabidamente, o principal fator determinante da<br />

média do esvaziamento gástrico é a concentração


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

calórica da solução ingerida, sendo que os diferentes<br />

tipos de carboidratos têm pequena participação nesse<br />

processo [4,51]. Outros investigadores mostraram não<br />

haver diferenças na taxa de esvaziamento gástrico,<br />

assim como em vários marcadores das funções<br />

cardiovasculares e termorregulatórias durante o<br />

exercício, quando indivíduos ingeriram quantidades<br />

moderadas de bebidas contendo carboidratos (6%-<br />

10%) [17,51]. Contudo, a média de reposição de<br />

líquidos é dependente não apenas da velocidade média<br />

pela qual a solução é esvaziada do estômago, mas,<br />

também, pela velocidade com que essa substância é<br />

absorvida pelo intestino [16]. Desta forma, é<br />

necessário considerar esses dois processos quando se<br />

investiga a capacidade de reposição de líquidos por<br />

meio de diferentes bebidas. Assim, um pequeno atraso<br />

no esvaziamento gástrico, quando se ingere uma<br />

solução contendo carboidratos e eletrólitos, é<br />

compensado pelo aumento da absorção intestinal da<br />

água resultante do efeito estimulatório da presença da<br />

glicose e do sódio [34].<br />

A formulação ideal de bebidas utilizadas durante<br />

o esforço físico, permanece ainda uma questão a ser<br />

respondida. Porém, até o momento, bebidas com<br />

concentrações de carboidratos maiores do que 2,5% e<br />

menores ou iguais a 10%, não irão comprometer a<br />

reposição de fluidos corporais. Dentro dessa idéia,<br />

bebidas contendo uma concentração maior de<br />

carboidrato podem fornecer vantagens adicionais<br />

durante o exercício prolongado. Além disso, a utilização<br />

de maltodextrina ao invés de quantidades iguais de<br />

açúcares simples, adicionados às bebidas esportivas,<br />

parece não fornecer nenhum benefício em termos de<br />

reposição de fluidos, devido às moderadas<br />

concentrações desses açúcares não influenciarem a taxa<br />

de esvaziamento gástrico e absorção [16].<br />

Além da comprovada importância da adição de<br />

carboidratos e eletrólitos nas bebidas esportivas, uma<br />

outra substância tem sido utilizada quando atletas são<br />

submetidos a exercícios de endurance em ambiente quente<br />

e úmido por mais de 1 hora. Nessa situação, o<br />

organismo humano pode perder até 3 litros de água,<br />

quantidade incapaz de ser reposta pela ingestão de água.<br />

Assim, a adição de glicerol à água pode prolongar o<br />

período de hiperidratação por mais de quatro horas<br />

[33,53].<br />

O glicerol é uma molécula contendo 3 carbonos,<br />

similar ao álcool, que ocorre naturalmente no organismo<br />

como componente dos estoques de gordura na forma<br />

de triglicerídeos (3 ácidos graxos + 1 molécula de<br />

glicerol). Uma pequena quantidade se encontra,<br />

também, presente nos fluidos corporais na forma de<br />

glicerol livre. Quando o glicerol é ingerido, ocorre<br />

aumento da osmolaridade dos fluidos do sangue e dos<br />

tecidos. A osmolaridade desses tecidos pode se manter<br />

constante se a água consumida com o glicerol não for<br />

excretada, até que a quantidade extra de glicerol seja<br />

removida pelos rins ou oxidada pelo organismo [21].<br />

Riedesel et al. [53] foram os primeiros a<br />

documentar o efeito do aumento do conteúdo de água<br />

corporal através da adição de glicerol. Dados similares<br />

têm sido documentados por outras pesquisas, onde o<br />

ganho de água corporal está tipicamente acima de 1<br />

litro, dependendo da quantidade e do tempo de ingestão<br />

[21,41].<br />

O glicerol também tem sido utilizado como<br />

tratamento de edema cerebral e no estado de glaucoma<br />

(aumento da pressão intra-ocular), uma vez que não<br />

penetra facilmente no cérebro e nos olhos. Assim, o<br />

aumento da concentração de glicerol no sangue, devido<br />

à sua ingestão, ajuda a remover o excesso de líquidos<br />

acumulado nesses órgãos pelo processo conhecido por<br />

osmose [20]. A aplicação clínica da ingestão de glicerol<br />

explica os dois principais efeitos colaterais devido à<br />

ingestão excessiva desse elemento: dor de cabeça e visão<br />

“turva”, que são resultados da retirada de fluídos desses<br />

compartimentos [21].<br />

Os efeitos benéficos atribuídos ao glicerol são a<br />

redução da produção de urina, redução da temperatura<br />

corporal, aumento da taxa de sudorese e,<br />

conseqüentemente, aumento do suor e resfriamento<br />

corporal, manutenção da volemia, diminuição da<br />

freqüência cardíaca durante o esforço e redução da carga<br />

térmica [41]. Contrariamente aos efeitos benéficos, além<br />

dos dois principais efeitos colaterais causados pelo<br />

excesso de glicerol (acima de 1,2g/kg de peso), outro<br />

efeito negativo dessa ingestão é o desconforto<br />

gastrintestinal, além do aumento da incidência de<br />

vômitos atribuídos à ingestão de concentrações elevadas<br />

desse elemento.<br />

No entanto, a maneira pela qual o glicerol pode<br />

aumentar o desempenho físico ainda necessita ser<br />

totalmente esclarecida [54]. A ingestão de solução<br />

contendo glicerol antes de um evento de endurance, em<br />

ambiente quente e úmido, provavelmente beneficiará<br />

aqueles atletas que não conseguem ingerir quantidades<br />

suficientes de líquidos, tanto antes quanto durante o<br />

evento [54].<br />

Assim, optou-se, neste estudo, por avaliar a<br />

ingestão de diferentes soluções durante um evento de<br />

endurance, em ambiente quente e úmido, com a finalidade<br />

de elucidar qual situação de ingestão estaria favorecendo<br />

a manutenção do estado hídrico normal, assim como a<br />

manutenção da glicemia e, conseqüentemente, o<br />

desempenho físico na atividade imposta (corrida de<br />

30 km).<br />

147


148<br />

Objetivo<br />

Avaliar os efeitos da ingestão de água, solução<br />

de glicerol e diferentes soluções de carboidratos (6<br />

e 10%), sobre os parâmetros fisiológicos e<br />

bioquímicos de atletas submetidos a uma corrida<br />

de 30km em ambiente de calor intenso.<br />

Material e métodos<br />

Aprovação do protocolo experimental<br />

O protocolo experimental foi aprovado pela<br />

Comissão de Ética em Pesquisas com Seres<br />

Humanos do Instituto de Ciências Biomédicas da<br />

Universidade de São Paulo. Todos os atletas<br />

assinaram um termo declarando estar ciente que as<br />

amostras de sangue coletadas seriam utilizadas para<br />

experimentos realizados em nosso laboratório,<br />

tendo esses atletas amplo acesso aos resultados<br />

finais obtidos, que seriam utilizados para posterior<br />

publicação e confecção de trabalhos científicos.<br />

Sujeitos<br />

Avaliaram-se 20 atletas maratonistas, do sexo<br />

masculino, com idade entre 20 e 30 anos, com o<br />

peso médio de 70,00 ± 5kg, antes e após uma<br />

corrida de 30Km, em ambiente com temperatura<br />

de 37ºC e umidade relativa do ar de 60%. Os atletas<br />

estavam seguindo suas dietas normalmente, apenas<br />

foram orientados a realizar a última refeição, antes<br />

da corrida, com um intervalo mínimo de 2 horas.<br />

O protocolo experimental consistiu em 5<br />

voltas de 6 km, percorridos por cada atleta,<br />

totalizando 30 km de corrida a pé. Antes da largada,<br />

os atletas foram orientados a correr os 30 km o<br />

mais rápido possível, com a intenção de induzir ao<br />

aumento da intensidade do esforço.<br />

Esquema de ingestão de líquidos durante a<br />

corrida<br />

Os 20 atletas foram separados em 4 grupos<br />

de igual número, e cada grupo ingeriu um tipo<br />

específico de solução. O volume da solução<br />

ingerida, por cada atleta, foi padronizado em 400ml<br />

a cada volta de 6 km, totalizando 2 litros de líquidos<br />

ingeridos durante um tempo médio de 140 minutos.<br />

As diferentes soluções foram:<br />

Grupo 1 - solução contendo sacarose a 10%(1g.kg -1 .h -1 )<br />

Grupo 2 - solução isotônica (vendida comercialmente)<br />

contendo carboidrato a 6%.<br />

Grupo 3 - solução contendo apenas água<br />

Grupo 4 - solução contendo água + glicerol a 5%.<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Todas as soluções foram ingeridas com<br />

temperatura média de 4ºC e continham o mesmo sabor<br />

(limão), o que permitiu que os atletas acreditassem que<br />

estavam ingerindo a mesma solução, a fim de evitar<br />

qualquer tipo de interferência sobre o teste.<br />

Peso corporal<br />

O peso corporal foi avaliado antes e logo após a<br />

corrida em balança Filizola digital, em três medições,<br />

onde o resultado anotado foi a média delas.<br />

Tempo de corrida<br />

Foi anotado o tempo percorrido, de cada atleta a<br />

cada volta de 6km e, posteriormente, somado o tempo<br />

total de prova.<br />

Índice de fadiga<br />

Esse índice refere-se a subtração do tempo obtido,<br />

na última volta (volta E), denominado T5, do tempo<br />

obtido na primeira volta (volta A), denominado T1.<br />

Dessa forma, utilizou-se a fórmula (T5-T1), onde um<br />

índice positivo representa uma melhora em minutos<br />

do tempo inicial T1, e um valor negativo nesse índice<br />

significa piora em minutos do tempo inicial T1.<br />

Separação do plasma sangüíneo<br />

No dia da competição foram coletadas 2 amostras<br />

de 15 ml de sangue de cada atleta, por profissional<br />

habilitado, da veia antecubital, por punção venosa, 30<br />

minutos antes e imediatamente ao final da corrida de<br />

30 km. O sangue foi obtido em tubos heparinizados<br />

(50 UI) e centrifugado em até uma hora após a coleta,<br />

a 3.000 rpm numa temperatura de 4ºC por 15 minutos.<br />

O plasma foi separado e acondicionado em eppendorfs,<br />

devidamente identificados, e posteriormente<br />

armazenado em freezer a –70ºC.<br />

Hematócrito<br />

Após a coleta de sangue, em tubos heparinizados,<br />

uma alíquota de sangue foi coletada em capilares, e<br />

centrifugada em rotor específico para capilares<br />

(Hettisch-1650), por 5 minutos a uma temperatura de<br />

22ºC a 10.000rpm. Posteriormente, foi avaliado o<br />

hematócrito utilizando-se cartão de leitura de<br />

hematócritos - FANEM.<br />

Dosagem do sódio e potássio plasmáticos<br />

Após a centrifugação do sangue, o plasma foi<br />

separado e uma alíquota de 50 ul foi diluída em 10ml


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

de água destilada (1/200). Posteriormente avaliou-se<br />

a concentração de sódio e potássio em fotômetro de<br />

chama B262.<br />

Dosagem de cloreto plasmático<br />

Para essa dosagem foi utilizado Kit comercial<br />

Bioclin - Quibasa Ltda, por método colorimétrico que<br />

consiste em adicionar, na presença de íons cloreto, o<br />

Tiocianato de mercúrio, em meio ácido, formando<br />

cloreto de mercúrio e íons Tiocianato. Os íons<br />

Tiocianatos reagem com os íons férricos, formando<br />

Tiocianato férrico, de cor amarelo-laranja, que é<br />

proporcional à concentração de cloretos da amostra.<br />

As amostras foram lidas em espectrofotômetro (U-<br />

2001–Hitachi) à 340nM.<br />

Dosagem de glicose (glicemia)<br />

Utilizou-se o método enzimático Glicose<br />

oxidase, por Kit comercial Bioclin - Quibasa Ltda,<br />

onde a glicose é oxidada enzimaticamente pela glicoseoxidase<br />

(GOD), e o peróxido de hidrogênio formado<br />

pela peroxidase (POD) segundo a reação:<br />

GOD<br />

Glicose+O +H O ácido glucônico+H O 2 2 2 2<br />

POD<br />

2H 2 O 2 +Fenol+ cromógeno cereja +<br />

4amino-antipirina 4H 2 O<br />

Dessa forma, a intensidade da cor gerada através<br />

da reação (Cromógeno Cereja) é proporcional a<br />

concentração de glicose. As amostras foram lidas em<br />

espectrofotômetro (U-2001–Hitachi) à 340nM.<br />

Análise estatística<br />

Os dados obtidos foram comparados, utilizando<br />

o teste-t de Student pareado e ANOVA com pós-teste<br />

de Tukey, sendo que o nível de significância empregado<br />

foi de p ≤ 0,05 para todas as análises.<br />

Resultados<br />

Observa-se, no grupo que ingeriu solução<br />

contendo carboidrato (CHO), que houve aumento<br />

significativo na concentração plasmática de glicose<br />

(figura 1) no pós-exercício, fato que não ocorreu nos<br />

outros grupos. Porém, pode-se notar tendência ao<br />

aumento da glicemia para o grupo que ingeriu solução<br />

contendo isotônico comercial (ISO) e glicerol (Glicer),<br />

assim como, diminuição no grupo que ingeriu apenas<br />

água (H 2 O).<br />

Fig. 1 - Concentração plasmática de glicose de<br />

corredores - 30 km.<br />

p


150<br />

Fig. 4 - Concentração plasmática de cloreto de<br />

corredores - 30 km.<br />

As amostras obtidas para o hematócrito (figura<br />

5) demonstraram diminuição significativa nesse<br />

parâmetro, observada apenas nos grupos CHO e<br />

ISSO. No entanto, pode-se notar nos grupos H 2 O e<br />

Glicer, uma tendência ao aumento do hematócrito,<br />

que não foi estatisticamente significativa.<br />

Fig. 5 - Hematócrito de corredores - 30 km.<br />

p


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Discussão<br />

Levando-se em consideração o resultado obtido<br />

nesse estudo, a respeito da concentração da glicose<br />

plasmática obtida após o esforço, quando comparado<br />

com aquela observada antes do teste (figura 1),<br />

observa-se os efeitos da maior concentração de<br />

carboidratos, relatado pela literatura, propiciando a<br />

manutenção ou aumento da intensidade do esforço,<br />

por atletas envolvidos em atividades prolongadas<br />

[8,35]. De fato, ao observarmos as figuras números 8<br />

e 9, notamos diferença significativa na diminuição do<br />

tempo da última volta de 6 km (grupo CHO), quando<br />

comparado com a primeira volta, evidenciando, assim,<br />

a capacidade de aumento do esforço nas fases finais<br />

do teste.<br />

A maioria dos estudos tem demonstrado que<br />

quantidades entre 30 e 60 gramas de carboidrato/hora,<br />

podem aumentar a performance durante o exercício<br />

de endurance, e recomendam que isso seja ingerido na<br />

forma de glicose, sacarose ou amido [8,44]. Ainda<br />

olhando para a figura 1, observamos que houve<br />

tendência ao aumento da glicemia no grupo ISO, no<br />

pós-exercício, que também foi atribuída à adição de<br />

carboidratos. No entanto, essa diferença encontrada<br />

não se mostrou estatisticamente significativa,<br />

provavelmente em função da menor concentração de<br />

carboidrato ingerido neste grupo (6%), quando<br />

comparado ao grupo CHO (10%).<br />

Além do carboidrato, outro aspecto que<br />

influencia de maneira direta a capacidade de realizar e<br />

manter um esforço de endurance é o estado hídrico do<br />

organismo [36]. Assim, a diminuição da concentração<br />

plasmática de sódio (figura 2), observada no grupo<br />

H 2 O no pós-exercício, quando comparado com a<br />

situação anterior ao teste, se mostrou diretamente<br />

proporcional à perda de água corporal nesse grupo,<br />

avaliada pela perda de peso absoluto (2,2kg) e relativo<br />

(3,5%) (figuras 6 e 7, respectivamente). Considerandose<br />

os resultados obtidos nas figuras 8 e 9, notamos<br />

aumento significativo do tempo de corrida na última<br />

volta (grupo H 2 O). Esses dados estão de acordo com<br />

aqueles apresentados pela literatura onde, sabidamente,<br />

uma pequena redução percentual (1 a 2%) ou absoluta<br />

(1,5kg) de peso já é capaz de comprometer o<br />

desempenho físico e desencadear o estado<br />

denominado de desidratação e está, nesse trabalho,<br />

associado à diminuição plasmática de sódio [35].<br />

Com relação às concentrações plasmáticas de<br />

sódio, não foram observadas alterações nos demais<br />

grupos avaliados, assim como não houve nenhuma<br />

diferença nas concentrações de cloreto e potássio em<br />

todos os grupos estudados. Sugere-se que o perfil<br />

plasmático das concentrações de potássio observado<br />

(figura 3) nesse estudo, provavelmente está relacionado<br />

com a liberação desse elemento pelos tecidos corporais<br />

(fígado e músculo) e células vermelhas do sangue,<br />

envolvidos na manutenção da sua concentração no<br />

plasma [30,56].<br />

Associando a estabilidade da concentração dos<br />

íons estudados (figura 2 exceto para o grupo H 2 O, e<br />

figuras 3 e 4), com os resultados obtidos para a<br />

dosagem do hematócrito, assim como com a perda<br />

do peso (absoluto e relativo, figuras 8 e 9<br />

respectivamente), observa-se que para o grupo CHO<br />

e ISO, a diminuição significativa do hematócrito (figura<br />

5), demonstra a eficácia destas soluções na manutenção<br />

ou mesmo ampliação da quantidade de fluídos<br />

plasmáticos, quando comparado com o grupo H 2 O.<br />

Assim, podemos concluir que tanto a bebida isotônica<br />

como a contendo carboidrato 10%, foram efetivas para<br />

evitar uma grande redução do conteúdo de água<br />

corporal. O fato de bebidas contendo carboidratos e<br />

sódio terem uma melhor absorção intestinal, por existir<br />

um sistema de co-transporte entre esses elementos,<br />

provavelmente permitiu esse melhor estado de<br />

hidratação no grupo ISO. Porém, o melhor estado<br />

hídrico atribuído à solução contendo carboidratos 10%<br />

residiu no fato de ser a glicose o principal fator<br />

determinante da absorção intestinal de água, quando<br />

comparada ao sódio [22]. Isso sugere que a adição de<br />

sódio a soluções repositoras pode não ser o principal<br />

fator responsável pela absorção de água. Além disso,<br />

alguns pesquisadores sustentam a idéia de que a<br />

absorção de água não depende do tipo de carboidrato<br />

presente na solução isocalórica (concentração de 6%<br />

de carboidrato), e que o aumento na concentração de<br />

carboidrato acima de 8% pode reduzir a absorção de<br />

água significativamente, exceto para soluções contendo<br />

sacarose [22].<br />

Como o carboidrato oferecido na solução<br />

contendo 10% estava na forma de sacarose, esse fato<br />

poderia permitir que não houvesse um prejuízo na<br />

absorção de água presente nessa solução, contribuindo<br />

para a manutenção ou menor diminuição hídrica<br />

observada no grupo CHO.<br />

Indiscutivelmente, a fadiga durante o exercício<br />

prolongado está associada à desidratação, hipertermia,<br />

hipoglicemia e diminuição nos estoques de glicogênio<br />

muscular. Adicionalmente, durante eventos de<br />

endurance alguns atletas podem sofrer com o<br />

aparecimento de hiponatremia e um estado de<br />

hipoglicemia [2]. Dessa maneira, com a finalidade de<br />

promover a função circulatória normal, evitar a injúria<br />

térmica e aumentar a performance, devem ser<br />

151


152<br />

ingeridos líquidos durante o exercício para repor as<br />

perdas de água e sódio pelo suor, assim como fornecer<br />

fonte adicional de energia, de forma exógena, com a<br />

adição de carboidratos a essa solução [42,49]. A<br />

ingestão de eletrólitos, no entanto, deve ser feita com<br />

cautela, considerando-se a adoção de dietas pobres<br />

em sódio, ou períodos de adaptação a um clima quente<br />

e úmido e a prática de esforços prolongados (várias<br />

horas) [43].<br />

Ao observarmos as figuras 8 e 9, fica claro que<br />

apesar das duas soluções oferecidas (CHO e ISO)<br />

serem capazes de manter melhor estado hídrico dos<br />

atletas avaliados durante os 30Km, apenas a solução<br />

ingerida pelo grupo CHO (sacarose 10%) foi capaz<br />

de permitir que esses atletas aumentassem a<br />

intensidade da corrida na última volta. Mesmo assim,<br />

quando se compara o grupo H 2 O com os demais<br />

grupos, nota-se que esse foi o único a piorar o tempo<br />

da última volta de maneira significativa, confirmando,<br />

dessa forma, as recomendações observadas na<br />

literatura que sustentam a adição de carboidratos e<br />

eletrólitos quando atletas estão engajados em esforços<br />

físicos de endurance, por um tempo maior do que uma<br />

hora [35].<br />

Apesar da reposição de líquidos comprovadamente<br />

aumentar o tempo de resistência ao esforço,<br />

como observado por Montain & Coyle [39], poucos<br />

estudos têm documentado os benefícios dessa<br />

reposição sobre a performance durante exercícios mais<br />

intensos realizados em laboratório e durante eventos<br />

competitivos [1]. Montain & Coyle [40], demonstraram<br />

que durante 2 horas de exercício no calor a 65% do<br />

VO2 máx., os efeitos fisiológicos atribuídos à<br />

reposição de líquidos apareceram após uma hora de<br />

esforço. Esse trabalho concluiu que houve aumento<br />

de 6% na performance quando foi ingerida grande<br />

quantidade de fluidos (1.3L/h). Da mesma forma,<br />

um outro estudo demonstrou que a ingestão de<br />

carboidratos adicionados a uma solução, também<br />

aumentava a performance em torno de 6% [12]. Essa<br />

reposição com carboidratos associada com reposição<br />

de líquidos, conjuntamente pode aumentar a<br />

performance em 12% (6% para cada um), sendo que<br />

os mecanismos envolvidos nesse aumento da<br />

aparentemente operam de maneira independente [12].<br />

Conclusão<br />

· A ingestão de solução contendo carboidrato<br />

foi eficiente em aumentar a glicemia e manter a<br />

intensidade do esforço, assim como diminuir a perda<br />

hídrica durante a corrida no calor.<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

· A solução isotônica foi capaz de evitar a perda<br />

hídrica do organismo durante a corrida no calor, mas<br />

não foi eficiente em aumentar a glicemia e manter a<br />

intensidade do esforço dos atletas avaliados.<br />

· Dessa forma, entendemos que uma bebida<br />

contendo 10% de carboidrato (sacarose), com adição<br />

de íons (principalmente o sódio) em pequenas<br />

concentrações, seria a solução ideal a ser ingerida<br />

durante um esforço prolongado (corrida de 30km)<br />

no calor, devido a sua capacidade de aumentar a<br />

glicemia e diminuir a perda de líquidos corporais.<br />

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Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Título abreviado: Hipovitaminose A e anemia<br />

REVISÃO<br />

Inter-relação entre hipovitaminose A e<br />

anemia ferropriva<br />

Interrelationship between hypovitaminosis A and anemia<br />

Carina de Aquino Paes*, Rejane Andréa Ramalho**, Cláudia Saunders***, Letícia de Oliveira Cardoso **** ,<br />

Daniel Alves Natalizi ****<br />

*Mestranda em Nutrição Humana, Grupo de Pesquisa em Vitamina A, Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio<br />

de Janeiro – GPVA/IN/UFRJ, **Doutora em Ciências da Saúde Pública, Departamento de Nutrição e Dietética - GPVA/IN/UFRJ,<br />

***Doutoranda em Ciências da Saúde Pública, Departamento de Nutrição e Dietética - GPVA/IN/UFRJ, ****Mestrandos em Saúde<br />

Coletiva - GPVA/IN/UFRJ<br />

Resumo<br />

A vitamina A é requerida em pequena quantidade em importantes processos biológicos. Seu papel no ciclo visual<br />

parece ser o único totalmente elucidado. Entretanto, mais recentemente, tem sido objeto de interesse a associação entre a<br />

carência de vitamina A e a anemia ferropriva, devido à magnitude e o impacto destas carências específicas, em nível de saúde<br />

pública e a inter-relação metabólica entre a vitamina A e o ferro. Objetivando verificar o volume de evidências na literatura de<br />

tal associação, foi realizada revisão bibliográfica nas bases de dados Medline e Lilacs, dos últimos dez anos, sobre a interrelação<br />

entre hipovitaminose A e anemia ferropriva. Os achados acumulados até então, indicam que a mobilização do ferro<br />

para o tecido hematopoiético está intimamente relacionada com o nível de ingestão de vitamina A. Sugere-se que esta<br />

participação se dá na absorção e transporte do ferro, assim como na sua liberação hepática e transferência do ferro para<br />

medula óssea e síntese de hemoglobina. Alguns autores sugerem que a deficiência de ferro pode ocasionar prejuízos na<br />

absorção de vitamina A e, por outro lado, a deficiência de vitamina A pode contribuir para o aparecimento da anemia em<br />

crianças e gestantes. Os pesquisadores têm enfatizado a conveniência do uso de ferro e vitamina A conjuntamente no<br />

combate destas carências de ampla magnitude.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Hipovitaminose A, anemia, vitamina A, micronutrientes<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 15 de maio; aprovado em 1 de julho de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Prof. Dra. Rejane Andréa Ramalho, Av. Brigadeiro Trompovwsky, s/nº, Centro de<br />

Ciências da Saúde, bloco J, 2º andar, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 21941-590 Rio de Janeiro, Brasil.<br />

Tel: (21) 2561-6599, Fax: (21) 2581-7229, e-mail: aramalho@rionet.com.br ou cfcoelho@osite.com.br<br />

155


156<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Abstract<br />

The vitamin A is requested in small amount in important biological processes. Its role in the visual cycle seems to be<br />

the only totally elucidated. However, more recently, it has been object of interest the association between the vitamin A<br />

deficiency and the anemia, due to the magnitude and the impact of these specific deficiencies in public health level and the<br />

metabolic interrelation between vitamin A and iron. A bibliographical review was conducted in Medline and Lilacs databases,<br />

searching articles published on the last ten years, about the interrelation between hipovitaminosis A and anemia. The<br />

accumulated discoveries until then indicate that iron mobilization to the hematopoiethic tissue is intimately related to the<br />

level of vitamin A ingestion. It suggests that this participation occurs in the iron absorption and transport, as well as in its<br />

release from the liver and transfer to bone marrow and hemoglobin synthesis. Some authors suggest that the deficiency of<br />

iron can compromise the vitamin A absorption and that, on the other hand, the vitamin A deficiency can contribute to the<br />

emergence of anemia in children and pregnant women. The researchers have been emphasizing the convenience of the use<br />

of iron and vitamin A in the combat to the these deficiencies of wide magnitude.<br />

Key-words: Hypovitaminosis A, anemia, vitamin A, micronutrients<br />

Introdução<br />

A hipovitaminose A e a anemia são dois<br />

problemas de saúde pública mais prevalentes no<br />

mundo, sendo mais grave nos países em<br />

desenvolvimento, podendo levar os grupos de risco<br />

destes distúrbios nutricionais, a diversos prejuízos para<br />

saúde, inclusive à morte. No Brasil estes agravos<br />

atingem grande proporção de gestantes, crianças em<br />

idade pré-escolar e escolar, com tendência ao<br />

agravamento desta situação, quer por mudanças das<br />

práticas alimentares, quer pelo acesso cada vez mais<br />

difícil à alimentação adequada. A WHO [1] ratifica<br />

que a carência de vitamina A é um importante<br />

problema de saúde e ao lado da anemia, e da deficiência<br />

de iodo, constituem a fome oculta, que representam<br />

grande impacto no desenvolvimento dos indivíduos<br />

e nos índices de morbi-mortalidade associados [2,3].<br />

Gebreil et al [4] corroboram estes achados e explicitam<br />

que em partes do mundo, particularmente nos países<br />

com menor grau de desenvolvimento, são as crianças<br />

e gestantes, os dois grupos de maior vulnerabilidade,<br />

devido a uma maior necessidade fisiológica não só de<br />

ferro, como também de ácido fólico.<br />

Sob o ponto de vista biológico, a hipovitaminose<br />

A constitui um quadro de carência específica de retinol,<br />

caracterizado pela diminuição ou esgotamento<br />

completo das reservas hepáticas e, conseqüentemente,<br />

redução ou desaparecimento de vitamina A no sangue,<br />

produzindo manifestações funcionais e morfológicas<br />

próprias da deficiência . Já a anemia, é um estado em<br />

que a concentração de hemoglobina é baixa, podendo<br />

ser decorrente da carência de nutrientes, tais como<br />

ferro, ácido fólico e vitamina B12, na alimentação<br />

habitual da população [5].<br />

Atualmente, novos achados na literatura vêm<br />

apontando para a existência de uma possível relação<br />

entre a deficiência de vitamina A e a ocorrência da<br />

anemia. Assim, trabalhos têm sido desenvolvidos a<br />

fim de compreender a atuação da vitamina A na<br />

formação da hemoglobina e o impacto nos níveis<br />

séricos de ferro. Roodenburg et al [6] observaram que<br />

em crianças e mulheres grávidas, em áreas onde a<br />

deficiência de vitamina A, é endêmica. E contataram<br />

que baixos níveis de retinol no plasma estavam<br />

associados com baixas concentrações de hemoglobina<br />

e ferro sérico e também verificaram níveis diminuídos<br />

de transferrina saturada. Para crianças que<br />

apresentaram baixos níveis de hemoglobina, que foram<br />

suplementadas com vitamina A, observou-se um<br />

aumento dos níveis de hemoglobina. Quando a<br />

vitamina A foi administrada conjuntamente com o<br />

ferro, comparada a suplementação de ferro<br />

isoladamente, foi observado que a concentração de<br />

ferro sérico, transferrina saturada e os níveis de<br />

hemoglobina do sangue, alcançaram valores<br />

significativamente maiores. Mejia & Arroyave [7]<br />

mostram, em resultados semelhantes, que crianças<br />

com deficiência de vitamina A apresentam uma<br />

ausência de resposta à suplementação com ferro para<br />

reverter a anemia.<br />

Estudos discutem o papel da vitamina A na<br />

diferenciação e maturação celular, incluindo aquelas<br />

do sistema hematopoiético [8]. Estudos in vitro têm<br />

sugerido que a vitamina A atua como estimulante do<br />

crescimento das células progenitoras dos eritrócitos,<br />

precursores de células vermelhas do sangue<br />

(hemácias). Além disso, a vitamina A influencia a


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

disponibilidade, mobilização ou reutilização do ferro,<br />

vindo dos estoques corporais para hematopoiese [8].<br />

Por outro lado, o ferro também influencia na<br />

biodisponibilidade da vitamina A. A função da mucosa<br />

intestinal é comprometida pela deficiência de ferro, o<br />

que dificulta a absorção da vitamina A oriunda da<br />

alimentação. Assim, a suplementação de ferro se<br />

faz necessária para que a integridade do tecido<br />

grastrointestinal e sua função absortiva sejam<br />

recuperadas [26].<br />

A relevância deste tipo de pesquisa vai além<br />

do entendimento das reações bioquímicas<br />

envolvidas neste processo. Considerando que a<br />

mortalidade e morbidade são elevadas em casos de<br />

deficiência de vitamina A, é indispensável ter pleno<br />

conhecimento de todos os efeitos que esta depleção<br />

pode causar, já que as nações em desenvolvimento<br />

são alvos fáceis deste problema, uma vez que a<br />

carência é suficientemente disseminada entre a<br />

população.<br />

Atuação da vitamina A no metabolismo do<br />

ferro<br />

Segundo Gerbriel et al. [4], a vitamina A<br />

participa no metabolismo do ferro em diversas<br />

etapas, dentre elas destacam-se: absorção intestinal<br />

do ferro, transporte no soro, liberação do ferro<br />

existente nas reservas hepáticas, mobilização do<br />

ferro para a medula óssea e síntese de hemoglobina.<br />

A disponibilidade da utilização do ferro para o<br />

tecido hematopoiético é inibida durante a<br />

deficiência de vitamina A, ocorrendo, assim,<br />

prejuízo na síntese deste tecido. Na ausência de<br />

quantidades adequadas de vitamina A, o ferro tende<br />

a acumular no fígado com um conseqüente<br />

decréscimo dos valores séricos [9,10,11].<br />

Roodenburg et al [6] sugerem, a partir da<br />

realização de estudos experimentais, que em ratos<br />

anêmicos, a vitamina A controla a síntese de<br />

transferrina, maior proteína transportadora de ferro<br />

dos depósitos corporais, como no fígado, para o<br />

sistema eritropoiético na medula óssea. Um prejuízo<br />

na síntese de transferrina durante a deficiência de<br />

vitamina A é compatível com a observação de que<br />

esta vitamina está envolvida na síntese do radical<br />

glicosil da molécula de transferrina. O presente<br />

estudo demostrou que a suplementação de vitamina<br />

A em ratos, com deficiência de ferro e alto grau de<br />

hipovitaminose A, proporcionou elevação do ferro<br />

plasmático e da capacidade total de ferro ligado.<br />

Este resultado foi superior ao da suplementação<br />

apenas com ferro, ratificando o envolvimento da<br />

vitamina A no metabolismo deste mineral. Outros<br />

estudos, realizados em animais de laboratórios e em<br />

humanos, têm corroborado a interação entre a<br />

hipovitaminose A e o metabolismo do ferro, com<br />

uma dieta pobre em vitamina A, podendo levar ao<br />

desenvolvimento de anemia [7,12,13,14].<br />

Influência das fontes alimentares na<br />

caracterização da anemia e na<br />

biodisponibilidade do ferro, da vitamina A e<br />

carotenóides<br />

Objetivando consolidar os aspectos relacionados<br />

a biodisponibilidade dos micronutrientes envolvidos<br />

no desenvolvimento da anemia, Bloem [15]<br />

aprofundou o conhecimento acerca dos tipos de ferro<br />

(heme e não-heme) disponíveis nos alimentos. Nos<br />

países em desenvolvimento, a forma de ferro menos<br />

disponível na dieta habitual dos indivíduos é o ferro<br />

heme, que é derivado primário da hemoglobina e<br />

mioglobina da carne, sendo este melhor absorvido,<br />

proveniente de alimentos de origem animal. O tipo<br />

mais disponível de ferro dietético está na forma de<br />

sais aromáticos de ferro, referido como ferro não<br />

heme. A absorção de ambos os tipos de ferro<br />

provindos da dieta, dependem do status de ferro do<br />

indivíduo e de outros componentes da dieta. Somente<br />

10% do ferro ingerido normalmente nos alimentos<br />

são absorvidos.<br />

A anemia associada com a deficiência de vitamina<br />

A não prejudica a absorção de ferro da dieta. De fato,<br />

alguns estudos mostraram um aumento no ferro<br />

absorvido como um resultado da deficiência de<br />

vitamina A [21].<br />

Stuijvenberg et al [16] avaliaram a utilização de<br />

biscoitos fortificados com ferro, iodo e beta-caroteno,<br />

em crianças com idade entre 6 e 11 anos. Esta<br />

combinação promoveu uma queda na prevalência de<br />

baixas concentrações de retinol sérico. Embora a<br />

absorção do beta-caroteno não seja tão eficiente como<br />

a do retinol pré-formado, oriundo dos produtos de<br />

origem animal, os biscoitos constituíram um bom<br />

veículo para ingestão destes nutrientes pelas crianças,<br />

por sua praticidade na utilização, pois não exigem<br />

preparo, são de fácil distribuição e têm longa vida de<br />

prateleira.<br />

Pee [17], estudando nutrizes anêmicas, testou a<br />

ingestão de um biscoito tipo wafer, enriquecido com<br />

beta-caroteno, ferro, vitamina C e ácido fólico. E<br />

comparando a taxa de absorção do beta-caroteno,<br />

proveniente de vegetais verde-escuro e do biscoito<br />

enriquecido, constatou que a absorção do nutriente<br />

157


158<br />

no alimento enriquecido foi significativamente maior.<br />

O autor aponta alguns fatores que podem ter<br />

influenciando tal achado, tais como: a estrutura<br />

química apresentada pelos carotenóides no tecido<br />

vegetal, que promove uma redução de sua<br />

biodisponibilidade. Nos vegetais verdes, o betacaroteno<br />

está organizado em moléculas de proteínas<br />

complexas que formam pigmentos, localizados no<br />

interior dos cloroplastos. O cozimento dos vegetais<br />

pode aumentar a biodisponibilidade dos mesmos,<br />

mas caso esta ação ocorra por muito tempo, pode<br />

haver a produção de isômeros de all-trans betacaroteno<br />

(13-cis beta-caroteno ou 9-cis betacaroteno),<br />

que possuem baixa atividade de próvitamina<br />

A. A quantidade de gordura consumida com<br />

os carotenóides guarda relação direta com sua<br />

absorção, que pode ser influenciada ainda pelo tipo<br />

de gordura ingerida.<br />

Outros fatores que afetam a biodisponibilidade<br />

da vitamina A, são os parasitas intestinais, infecções<br />

bacterianas, viroses, protozoários e a má-absorção<br />

intestinal [1].<br />

Suharno et al [18] verificaram alta prevalência<br />

de anemia em gestantes do Oeste de Java, em<br />

comparação com o Leste e centro da ilha. No<br />

primeiro grupo, o arroz era a base alimentar dessa<br />

população, diferente da segunda e da terceira região<br />

que tinham o milho, o arroz e a mandioca,<br />

respectivamente, como produtos agrícolas<br />

constituintes de suas bases alimentares. Em geral,<br />

estudos realizados na Indonésia, com mulheres<br />

grávidas, têm associado este quadro com a má<br />

nutrição.<br />

Impacto da anemia e hipovitaminose A no<br />

resultado da gestação<br />

A anemia severa durante a gestação é associada<br />

ao aumento do risco de mortalidade e morbidade<br />

para o binômio mãe-filho, além de outros riscos,<br />

como baixo peso ao nascer, hipertrofia da placenta<br />

e redução da excreção de estriol [18].<br />

Níveis adequados de hemoglobina são<br />

particularmente necessários durante a gestação, para<br />

que o feto possa desenvolver-se adequadamente; caso<br />

contrário, o recém-nascido terá mais chances de<br />

desenvolver baixo peso e, conseqüentemente, no<br />

futuro se tornar desnutrido. A anemia na gestação<br />

também favorece a ocorrência de muitas<br />

complicações, como sangramento excessivo antes e<br />

durante o parto, apresentando maior risco de morrer<br />

na ocasião do parto, do que as gestantes não<br />

anêmicas. A anemia não é somente causada pela<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

deficiência de ferro, mas também pela deficiência de<br />

outras vitaminas, como a deficiência da vitamina B12<br />

e deficiência de folato (que, depois da deficiência de<br />

ferro, é a causa mais comum de anemia em mulheres<br />

grávidas). Doenças infecciosas e hemoglobinopatias,<br />

são algumas das situações que também podem<br />

promover a anemia [5].<br />

O diagnóstico da anemia ferropriva, é melhor<br />

verificado quando são constatadas duas ou três<br />

anormalidades indexadas para o status de ferro (como<br />

ferritina sérica e transferrina sérica), pois são mais<br />

específicas que somente o uso da concentração de<br />

hemoglobina [18]. Porém, a avaliação dos níveis de<br />

hemoglobina tem sido empregada no diagnóstico da<br />

anemia, pois é de metodologia rápida e fácil, cujos<br />

pontos de corte para o diagnóstico têm sido<br />

recentemente revisados [5].<br />

A ingestão inadequada de vitamina A, associada<br />

com o aumento das necessidades fisiológicas da<br />

vitamina durante a gestação, propicia o<br />

desenvolvimento da cegueira noturna, aumentando<br />

o risco da mulher de desenvolver infecções, anemia,<br />

complicações na gravidez e de ter baixo ganho de<br />

peso. Este conjunto de fatores estão associados com<br />

maiores taxas de morbi-mortalidade no grupo em<br />

questão e nos lactentes nos primeiros seis meses de<br />

vida, cujas mães foram expostas durante o processo<br />

reprodutivo [20,22].<br />

Adicionalmente, é reconhecido que as altas<br />

prevalências da mortalidade materna observadas no<br />

Brasil, estão associadas com infecções e sabe-se,<br />

também, que a vitamina A é essencial para o bom<br />

funcionamento do sistema imunológico, podendo<br />

reduzir a severidade da infecção [1,19,23,24,25]. Com<br />

isso, chama-se atenção dos profissionais de saúde<br />

para a relevância da avaliação do estado nutricional<br />

deste micronutriente, na assistência prestada à este<br />

grupo populacional, na busca de melhores condições<br />

de saúde e nutrição, orientando para o aumento da<br />

ingestão de alimentos-fonte [26].<br />

Efeitos da suplementação de micronutrientes<br />

nos componentes do soro em estados anêmicos<br />

Hodges et al [27] avaliaram crianças da<br />

Guatemala, sendo divididas em quatro grupos. O<br />

grupo I recebeu suplementação apenas de 10.000 UI<br />

de vitamina A por dia. O grupo II apenas 3 mg/kg de<br />

peso por dia de ferro. O grupo III foi associado 10.000<br />

UI de vitamina A e 3 mg/kg de peso por dia de ferro.<br />

E no grupo IV nenhum suplemento foi administrado.<br />

Com a administração de vitamina A no grupo I,<br />

observou-se elevação dos níveis de retinol e ferro


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

séricos, hemoglobina e a porcentagem de transferrina<br />

saturada, mas não observou-se efeito no total de ferro<br />

ligado ou ferritina no soro. A suplementação de ferro<br />

no grupo II também ocasionou aumento no ferro<br />

sérico, hemoglobina e transferrina saturada, mas ao<br />

contrário da suplementação de vitamina A, este não<br />

teve efeito nos níveis de retinol sérico. A combinação<br />

de vitamina A e ferro no grupo III produziu resposta<br />

similar a qualquer outro suplemento sozinho, mas a<br />

diferença é que as crianças que receberam ambos,<br />

apresentaram elevadas concentrações de retinol,<br />

hemoglobina, e ferritina. Alem disso, o ferro sérico e<br />

a transferrina saturada aumentaram mais do que<br />

quando os suplementos foram administrados<br />

isoladamente. No grupo IV, que não recebeu nenhum<br />

dos suplementos, não foram observadas mudanças nos<br />

níveis de retinol sérico e de hemoglobina; além disso<br />

o ferro sérico, a transferrina saturada e os níveis de<br />

ferritina diminuíram. O autor afirma, ainda, que a<br />

terapêutica adotada neste estudo, com adição de<br />

vitamina A e ferro nos processos de suplementação,<br />

não provocou qualquer alteração nos índices<br />

antropométricos.<br />

A melhora da anemia, a partir da suplementação<br />

associada de vitamina A e ferro, é ratificada por<br />

Suharno et al [18], a partir de estudos feitos com<br />

gestantes de Java, na Indonésia. Após a suplementação,<br />

a proporção de mulheres que reverteu à anemia apenas<br />

com a vitamina A foi de 35%. Com o grupo que<br />

recebeu somente o ferro, a melhora foi de 68%,<br />

enquanto o grupo que recebeu os dois suplementos<br />

combinadas alcançou 97% de melhora do quadro.<br />

Roodenburg et al [6], também descrevem a eficácia da<br />

suplementação combinada de ferro com vitamina A<br />

no combate à anemia em crianças de classe sócioeconômica<br />

baixa, residentes na Indonésia e América<br />

Central.<br />

Conclusão<br />

Conclui-se a partir desses achados, que<br />

intervenções associando vitamina A e ferro no<br />

tratamento da anemia, são capazes de promover<br />

resultados mais eficazes na recuperação desse<br />

distúrbio, o mesmo pode ser dito para níveis baixos<br />

de retinol sérico. Sugerindo, assim, a necessidade de<br />

estudos sobre custo-benefício dessa terapêutica, com<br />

o objetivo de inclusão da mesma na assistência do<br />

setor público de saúde, visando o combate desses<br />

importantes problemas de saúde pública: a Anemia e<br />

a Hipovitaminose A, duas grandes endemias que ainda<br />

acometem a população de nosso país.<br />

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Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

REVISÃO<br />

A influência das vitaminas D e E na<br />

composição dos fosfolipídios de membrana e<br />

sua repercussão sobre a hipertensão arterial<br />

The influence of vitamins D and E in the membrane<br />

phospholipid composition and its importance on arterial<br />

hypertension<br />

Lucia Marques A. Vianna<br />

PhD, Prof a Adj. Resp. pelo Lab. de Investigação em Nutrição e Doenças Crônico-Degenerativas, Universidade do Rio de Janeiro,<br />

Pesquisador CNPq<br />

Resumo<br />

O autor apresenta uma breve revisão sobre o papel das vitaminas lipossoluveis na composição dos fosfolipidios de<br />

membrana e a conseqüente influencia estado físico.<br />

Desse sitio. Identifica os modelos de atuação dessas vitaminas em especial a vitamina D e E na modulação de parâmetros<br />

fisiológicos tais como o potencial de membrana,reatividade vascular e viscosidade do sangue que estão alterados em<br />

determinadas condições patológicas como na hipertensão arterial. O autor conclui reafirmando a importância da manutenção<br />

da integridade da membrana celular para a homeostase, e a possibilidade da modulação das características fisico-quimicas da<br />

membrana pela dieta e sugere que a continuação das pesquisas nessa área possibilitara determinar quando e como proceder<br />

a prescrição de suplementos vitaminicos.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: membrana, fosfolipidios, colecalciferol, tocoferol, hipertensão<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

The author presents a brief review emphasizing the importance of cellular membrane integrity to human physiology<br />

and the role of lipossoluble vitamins (cholecalciferol and tocopherol) in the maintenance of that structure .The findings<br />

suggest that hypertension is one of the pathological conditions characterized by alterations in the cell membranes which<br />

could be modulated by those vitamins.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Tell membrane, fluidity, cholecalciferol, tocopherol<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 20 de julho de 2002; reviisado em 30 de julho; aprovado em 30 de agosto de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Prof a Dr a Lucia Marques A Vianna, UNIRIO, Rua Dr. Xavier Sigaud, 290 Térreo, Urca,<br />

22290-180 - Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2295 5737 ramal 283, E-mail : vianna_lm@ig.com.br<br />

161


162<br />

A membrana celular<br />

A partir da década de 70, especial ênfase vem<br />

sendo dado à fisiologia da membrana celular, estrutura<br />

que está envolvida na função mais básica do organismo<br />

humano: a manutenção da homeostase.<br />

Assim, o equilíbrio no fluxo de ions, a<br />

transmissão de sinais elétricos e outras vias<br />

metabólicas, estão na dependência de condições<br />

ótimas de integridade da membrana celular.<br />

Tal estrutura é dinâmica e, através da microscopia<br />

eletrônica, podemos observar um aspecto mosaico,<br />

que deu nome ao modelo fluido-mosaico de Singer e<br />

Nicholson. Nesse modelo as moléculas lipidicas estão<br />

dispostas em bicamadas, onde encontram-se<br />

“encaixadas” proteínas, que podem ser carreadoras,<br />

canais e receptores. Na realidade, a composição e<br />

disposição das proteínas na face interna e externa da<br />

membrana, diferem o que explica as diferentes<br />

funções. Devemos entender que a estrutura da<br />

membrana é complexa: A composição dos lipídios<br />

(colesterol, fosfolipidios, glicolipidios) também difere<br />

entre espécies e mesmo dentro da mesma espécie entre<br />

organelas [1].<br />

Em linhas gerais é importante entender um<br />

conceito básico da fisiologia celular: “A composição<br />

dos fosfolipidios (relação fosfatidilcolina/etanolamina)<br />

e a composição de ácidos graxos (relação insaturados/<br />

saturados), definem o grau de fluidez da membrana<br />

(fluidez versus rigidez), interferindo na atividade das<br />

proteínas de membrana” [1].<br />

Resumidamente, um maior conteúdo de<br />

fosfatidilcolina aumenta a fluidez da membrana. No<br />

que se refere aos ácidos graxos, o grau de instauração<br />

ou o tamanho da cadeia igualmente favorecem esse<br />

estado. Dessa forma, os ácidos graxos poliinsaturados<br />

(PUFA) ou de cadeia curta, trazidos pela alimentação,<br />

diminuem a possibilidade de interação de um acido<br />

graxo com outro (package), permitindo que a estrutura<br />

da membrana permaneça fluida, facilitando a atividade<br />

das enzimas e os processos de transporte. Ademais,<br />

apreciamos na literatura estudos bem documentados<br />

demonstrando que os ácidos graxos da dieta são<br />

incorporados pelos fosfolipidios da membrana,<br />

facilitando a ligação aos receptores e ativando a<br />

sinalização intracelular [2-4].<br />

Interferência das vitaminas lipossolúveis na<br />

estrutura dos lipidios de membrana<br />

Uma série de trabalhos vem ao longo dos anos<br />

demonstrando que as vitaminas lipossoluveis<br />

incorporam-se às membranas, reforçando a<br />

possibilidade de ação direta nesse sitio.<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

No que se refere a isso, atualmente<br />

reconhecemos que a vitamina D pode atuar sob dois<br />

modelos: um genomico (via indução de síntese<br />

proteica) e o outro membranofilico (ação direta sobre<br />

a membrana), no qual nos deteremos.<br />

Na década de 70, Spencer et al. [5] sugeriam que<br />

a ação da vitamina D sobre o fluxo de íons, poderia<br />

envolver outro mecanismo, além da indução de síntese<br />

de proteínas ligantes de cálcio, uma vez que os ensaios<br />

realizados em presença de ciclohexamida (um potente<br />

inibidor de síntese protéica), não provocava inibição<br />

do transporte de cálcio.<br />

Em seguida, Doberty [6] demonstrou que a<br />

vitamina D aumenta o ciclo de deacilação-reacilação<br />

da fosfatidilcolina, reforçando a hipótese do modelo<br />

membranofilico [7]. Ao mesmo tempo, interessantes<br />

achados de Hay et al. [8] comprovavam que a ação da<br />

vitamina D sobre o transporte de cálcio através da<br />

membrana, poderia ser inibida em ocorrência de<br />

restrição de ácidos graxos essenciais.<br />

Em 1982, Rasmussen et al. [9] demonstraram que<br />

a vitamina D estimula a incorporação de diglicerideo<br />

(DG) e citidina-difosfocolina (CDP) na fração<br />

fosfatidilcolina (PC), induzindo a síntese de novo desse<br />

fosfolipidio e estimula as enzimas envolvidas nas<br />

reações de deacilação e reacilação, que mantém uma<br />

continua incorporação de ácidos graxos insaturados<br />

(AGPi) às moléculas da PC (Fig. 1).<br />

Vitamina D<br />

⊕<br />

⊕<br />

AGPi → PC CDP-colina → PC<br />

Fig. 1 - A vitamina D interfere no processo de<br />

deacilação- reacilação da fosfatidilcolina (PC)<br />

estimulando tanto a incorporação da citidinadifosfocolina<br />

(CDP-colina) quanto a de ácidos graxos<br />

poli-instaturados (AGPi) à molécula de fosfatidilcolina.<br />

Dessa forma, teremos um aumento do conteúdo<br />

de AGPi e da relação fosfatidilcolina/<br />

fosfatidiletanolamina na membrana celular, mantendo<br />

a fluidez dessa membrana. Tal condição é vital para o<br />

bom funcionamento das proteínas de membrana:<br />

canais ionicos, bombas que têm por função a<br />

manutenção do fluxo de diversos ions: Na, K, Ca, etc,<br />

de importância na patogenese da hipertensão arterial.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

A nível experimental e clínico podemos perceber<br />

a repercussão fisiológica de tais evidências, uma vez<br />

que animais espontanêamente hipertensos, modelo de<br />

estudo da hipertensão arterial essencial humana e<br />

determinados grupos portadores de hipertensão<br />

arterial, que cursa com dismetabolismo da vitamina<br />

D, se beneficiam com a suplementação dessa vitamina<br />

[10-14].<br />

Em linhas gerais, nossos resultados vem<br />

demonstrando que o tratamento com colecalciferol é<br />

capaz de corrigir a atividade da Na + /K + ATPase, da<br />

Cálcio ATPase e dos canais de K + calcio-calmodulina<br />

dependente, corrigindo, assim, os mecanismos de<br />

troca ionica alterados na hipertensão arterial,<br />

conforme modelo apresentado nos trabalhos prévios<br />

[13], que reproduziremos a seguir (Fig. 2).<br />

Fig. 2<br />

Hipertensão Vit. D<br />

Arterial<br />

∅ ⊕<br />

Invertida normaliza<br />

∅ ⊕<br />

Ø ⊕<br />

⊕ ∅<br />

Ademais, recentemente demonstramos que o<br />

relaxamento induzido pela bradicinina, mecanismo<br />

dependente de canal de K e que está inibido em<br />

animais hipertensos, é igualmente corrigido pela<br />

suplementação de vitamina D [15].<br />

Ainda em relação aos efeitos fisiológicos dessa<br />

vitamina, sua administração a ratos SHR também foi<br />

capaz de reduzir, significativamente, a viscosidade<br />

sangüínea desses animais [10], que normalmente<br />

apresentam alteração dos parâmetros reológicos,<br />

traduzida por aumento do hematócrito e da agregação<br />

plaquetária.<br />

As evidências experimentais encontradas até o<br />

momento, reforçam a conduta clínica proposta por<br />

Butler et al. [14], que desde 1995 já defendiam a<br />

suplementação de vitamina D para mulheres<br />

menopausadas, com a finalidade de inibir a<br />

osteoporose e a hipertensão arterial nesse grupo de<br />

risco.<br />

Paralelamente, no que se refere à vitamina E,<br />

recentes estudos vêm sugerindo que esse nutriente<br />

parece não somente atuar como antioxidante,<br />

protegendo os lipídios da membrana contra a<br />

oxidação, mas também como estabilizador, formando<br />

complexos com lisofosfolipidios e ácidos graxos livres,<br />

interferindo no estado físico dessas membranas [16].<br />

Tal propriedade pode explicar os relatos referentes à<br />

modulação de parâmetros reologicos pelo tocoferol<br />

[17], tais como a viscosidade sangüínea e a agregação<br />

plaquetária, que se encontram elevadas na hipertensão<br />

arterial experimental e humana [18].<br />

Conclusão<br />

Os achados experimentais confirmam a<br />

repercussão fisiológica decorrente da integridade da<br />

membrana celular, tanto a nível de fluxo iônico em<br />

musculatura lisa visceral e vascular, quanto em relação<br />

a reologia do sangue. O efeito das vitaminas<br />

lipossoluveis sugere a possibilidade de um modelo de<br />

ação membranofilica comum, e os achados<br />

decorrentes de preparações in vitro e in vivo,<br />

fundamentam que a dieta é capaz de modular as<br />

características físicas da membrana.<br />

Reconhecemos que a hipertensão arterial é uma<br />

das patologias que já demonstrou apresentar<br />

importantes alterações na membrana celular e a<br />

prescrição de vitaminas pode ser uma terapia<br />

coadjuvante. Entretanto, somente a continuidade de<br />

investigações nessa área, permitirá determinar quando<br />

e como deveremos proceder a prescrição de<br />

suplementos vitamínicos.<br />

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Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

REVISÃO<br />

Grelina é o novo regulador da homeostase<br />

nutricional<br />

Ghrelin is the new nutritional homeotasis regulator<br />

Sandra Bragança Coelho * , Josefina Bressan Resende Monteiro**<br />

*Mestranda em Ciência da Nutrição do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa,Viçosa MG, **Professora<br />

adjunta do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa, MS, PhD. Viçosa MG<br />

Resumo<br />

Grelina vem sendo definida como um peptídeo cérebro-intestinal que se liga ao receptor de liberação do hormônio de<br />

crescimento, funcionando como regulador do hormônio de crescimento e do consumo alimentar. Por se tratar de substância<br />

descoberta recentemente, se conhecem apenas algumas características concernentes a este peptídeo. Grelina estimula ganho<br />

de energia e secreção de hormônio de crescimento (GH), oferecendo condições para produzir um estado anabólico. O<br />

aumento de peso corporal estimulado pela grelina é conseqüência de um aumento de massa de gordura. Grelina é o novo<br />

regulador da homeostase nutricional. Os efeitos clássicos do GH em promover o crescimento dos tecidos moles, como os<br />

ossos e cartilagens, em conjunto com o efeito orexígeno (aumento de apetite) da grelina, sugerem que fatores centrais e<br />

periféricos ativados pela grelina podem estar na base do processo de crescimento de uma maneira integrada. Maiores<br />

investigações das funções da grelina vão ajudar na compreensão dos mecanismos fisiológicos da alimentação e facilitarão o<br />

estudo de vários temas, entre eles as desordens alimentares.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Grelina, hormônio do crescimento, liberadores do hormônio de crescimento.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

Ghrelin is defined as a brain-intestinal peptide that links to the growth hormone receptor, working as regulator of the<br />

growth hormone and alimentary consumption. Once this substance was discovery quite recently, researches know only few<br />

characteristics regarding this peptide. Ghrelin stimulates both gain of energy and secretion of growth hormone (GH) offering<br />

conditions to produce an anabolic state. The increase of corporal weight stimulated by ghrelin is consequence of an increase<br />

of fat mass. Ghrelin is the new regulator of nutritional homeostasis. The classic effects of the GH in promoting the growth<br />

of the soft fabrics, as the bones and cartilages, together with the orexigenic effect (appetite increase) of ghrelin suggest that<br />

central and peripheral factors activated by ghrelin can be in the base of the process of growth in an integrated way. Larger<br />

investigations of ghrelin functions will help the understanding of the feeding physiologic mechanisms and they will facilitate<br />

study of several themes, among them alimentary disorders.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Ghrelin, growth hormone, growth hormone secretagogues.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 15 de setembro; aprovado em 1 de outubro de 2002.<br />

Endereço para correspondência: Sandra Bragança Coelho, Condomínio Parque do Ipê, 24, Bairro Silvestre, Viçosa - MG,<br />

36570-000, Tel: (31) 3891-2261, E-mail: sandrabraganca@yahoo.com.br<br />

165


166<br />

Introdução<br />

Na literatura especializada encontram-se várias<br />

definições para o peptídeo grelina (ghre vem da raiz<br />

Proto-Indo-Européia grow, que significa crescer). A<br />

seguir estão algumas delas.<br />

- peptídeo acilado liberador do hormônio de<br />

crescimento [1];<br />

- ligante endógeno para o receptor de liberação<br />

do hormônio de crescimento [2];<br />

- peptídeo cérebro-intestinal que se liga ao<br />

receptor de liberação do hormônio de crescimento,<br />

funcionando como regulador do hormônio de<br />

crescimento e consumo alimentar [3].<br />

Este peptídeo foi isolado em estômago de ratos<br />

[4] e posteriormente em estômago de humanos. As<br />

células produtoras de grelina são mais abundantes nas<br />

glândulas oxínticas do estômago, mas também estão<br />

presentes no núcleo arqueado do hipotálamo [5]. Mori<br />

et al. [6] encontraram grelina em rim e glomérulos de<br />

ratos, mostrando que estes também produzem o<br />

peptídeo.<br />

A grelina é um peptídeo de 28 aminoácidos, que<br />

apresenta uma estrutura única com um n-octanoil éster<br />

no terceiro resíduo de serina, o qual é essencial para<br />

sua potente atividade estimulatória na secreção<br />

somatotrófica [7]. A grelina humana é homóloga a<br />

grelina de roedores, diferenciando-se em apenas 2<br />

aminoácidos [8].<br />

Este peptídeo acilado libera, especificamente,<br />

hormônio do crescimento (GH) [9] in vivo e in vitro<br />

[8], sendo que não se encontrou dose de saturação<br />

para esta estimulação [10].<br />

Após injeções de grelina, pode-se observar<br />

também um aumento do peso corporal, quando estes<br />

ratos foram comparados com o grupo controle, sem,<br />

no entanto, induzir hiperfagia após a administração<br />

periférica do peptídeo.<br />

A análise da composição corporal por<br />

absorciometria dupla de raio X (DXA) após duas<br />

semanas, revelou um ganho significante de massa<br />

gordurosa, mas não mudança em massa magra e massa<br />

óssea, nem de área ou comprimento ósseo, indicando<br />

ausência de uma estimulação ao crescimento linear.<br />

Como o ganho de gordura parecia não resultar da<br />

hiperfagia, investigou-se, então, se a grelina alterava o<br />

gasto energético ou diminuía a proporção da gordura<br />

como “combustível” corporal. Para tanto, foram<br />

administradas injeções subcutâneas de grelina durante<br />

o fotoperíodo de claro (fase de descanso para os<br />

roedores), induzindo um aumento no quociente<br />

respiratório (RQ) (P = 0,001). Tal aumento na<br />

utilização de carboidratos e redução na utilização de<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

gordura para alcançar os requerimentos energéticos,<br />

é congruente com o aumento observado de gordura<br />

corporal. Nem o gasto energético ou a atividade<br />

motora sofreram mudanças após a aplicação de grelina.<br />

Um aumento seletivo no RQ, sem um aumento<br />

concomitante no consumo de carboidratos, não é usual<br />

e pode refletir atividade diminuída do sistema nervoso<br />

simpático. Além disto, estimulação direta de áreas<br />

hipotalâmicas pode induzir a uma mudança seletiva<br />

no RQ [11].<br />

Para garantir que estes dados metabólicos eram<br />

conseqüência da liberação do GH, injetou-se em ratos<br />

tipo selvagem hormônio de crescimento (8mg k -1 )<br />

subcutâneamente. O GH não alterou o quociente<br />

respiratório (RQ) durante os fotoperíodos de claro e<br />

escuro. Em contraste, uma única injeção de GH<br />

aumentou, significativamente, o gasto energético<br />

durante o período de claro, refletindo um aumento<br />

na utilização energética sem alterações na atividade<br />

locomotora. Portanto, a indução do balanço energético<br />

positivo parece não estar relacionado à habilidade da<br />

grelina em estimular a liberação do hormônio de<br />

crescimento [11].<br />

A utilização diária de gorduras nos ratos tratados<br />

com grelina (30,6 ± 10,5 kcal kg -1 d -1 ) foi<br />

significantemente menor do que a utilização medida<br />

pelos ratos tratados com hormônio de crescimento<br />

(68,8 ± 8,5 kcal kg -1 d -1 , P=0,024) ou ratos controle<br />

(65,6 ± 5,6 kcal kg -1 d -1 , P=0,038). Os ratos tratados<br />

com grelina ganharam 29,3kcal kg -1 d -1 de gordura<br />

(consumo de gordura - utilização de gorduras),<br />

enquanto que os ratos controles e os tratados com<br />

hormônio de crescimento perderam 5,7kcal kg -1 d -1 e<br />

7,2kcal kg -1 d -1 de gordura, respectivamente. Ratos<br />

tratados com grelina também tenderam a aumentar a<br />

utilização diária de carboidratos (130,9 ± 13,6 kcal kg -1 d -1 ,<br />

P > 0,17), quando comparados com os ratos controle<br />

(103,5 ± 7,7 kcal kg -1 d -1 ) e ratos tratados com GH<br />

(108,4 ± 8,17 kcal kg -1 d -1 ) [11].<br />

Estes dados expandem a função da grelina como<br />

apenas liberadora do hormônio de crescimento, para<br />

participante na regulação do balanço energético. Mais<br />

evidências que a grelina induz adiposidade<br />

independentemente da liberação do GH, foram<br />

obtidas com estudos usando ratos anões, que são<br />

deficientes neste hormônio. Um aumento no peso<br />

corporal de fêmeas anãs, foi observado durante uma<br />

semana com tratamento de grelina (4,5µg kg -1 d -1 )<br />

subcutâneamente. Nenhum aumento, significante, de<br />

consumo alimentar foi observado, apesar de que houve<br />

uma tendência a comer mais. Como os ratos tipo<br />

selvagem, tratados com grelina, o RQ dos ratos anões<br />

aumentou, após uma única injeção periférica de


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

grelina. Gasto de energia e atividade locomotora não<br />

sofreram modificações [11]. Para estabelecer a<br />

população neural ativada pela ação da grelina, mapeouse<br />

a expressão da c-fos (marcador de atividade neural),<br />

após a administração intracerebroventricularmente<br />

(ICV) de grelina. Os neurônios fos-imunoreativos<br />

foram observados primariamente em regiões<br />

relacionadas à regulação do comportamento alimentar<br />

[12]. Esta distribuição é coincidente aos receptores<br />

de hormônio de crescimento (GHS-R) e foi, a partir<br />

destes dados, que postulou-se que a grelina apresentava<br />

uma ação no comportamento alimentar [12].<br />

O receptor GHS está presente nos neurônios<br />

de neuropeptídeo Y (NPY). O NPY é uma das<br />

moléculas mais efetivas que induzem ganho de peso<br />

corpóreo e parece mediar a fisiologia metabólica da<br />

grelina. Para investigar se a grelina requer NPY para<br />

estimular o aumento de gordura, injetou-se grelina<br />

(2,4µM kg -1 d -1 ) em ratos deficientes de NPY por uma<br />

semana e comparou-se com os controles. O ganho<br />

de peso corporal foi similar ao ganho dos ratos tipo<br />

selvagem (P=0,007), após uma semana de tratamento<br />

com grelina em ratos deficientes de NPY (+1.34 ±<br />

0,30g), quando comparado com os controles.(-0,14 ±<br />

0,36g). Um pequeno, mas significante aumento<br />

(P=0,032), no consumo alimentar também foi<br />

encontrado nos ratos deficientes em NPY tratados<br />

com grelina. Por isso, concluiu-se que a presença de<br />

NPY não é obrigatória no acréscimo de gordura<br />

induzida pela grelina [11].<br />

Outro experimento conduzido por Nakazato et<br />

al. [12], investigou a relação funcional entre a grelina<br />

e o NPY, através do bloqueio da grelina ou do NPY.<br />

Receptores de NPY Y 1 e Y 5 estão envolvidos na<br />

regulação da alimentação via NPY. Inicialmente<br />

determinou-se as doses de IgG anti-NPY e de dois<br />

antagonistas de receptores Y 1 e Y 5 necessários para<br />

bloquear a alimentação induzida pelo neuropeptídeo<br />

Y, não induzindo nenhum outro comportamento<br />

anormal. Administração ICV de 1mg de IgG anti-NPY<br />

4 horas antes da administração de grelina, “cancelou”<br />

o efeito sob a alimentação induzido pela grelina.<br />

Administração conjunta de dois antagonistas para os<br />

receptotres Y 1 e Y 5 também “cancelou” o efeito sob a<br />

alimentação induzida pela grelina. Em contraste, IgG<br />

anti-grelina não afetou o efeito sob a alimentação<br />

induzido pelo NPY. Devido ao fato da proteína Agouti<br />

(AGRP), que é um antagonista endógeno do sistema<br />

hipotalâmico melacortina, se localizar nos neurônios<br />

de NPY do núcleo arqueado, estudou-se a relação<br />

entre grelina e AGRP na regulação da alimentação. A<br />

alimentação induzida pela grelina foi suprimida em<br />

ambos os tratamentos com hormônio estimulador do<br />

melanócito (a-MSH), que é um receptor agonista do<br />

sistema melacortina, e bloqueando o AGRP, um<br />

receptor antagonista, com IgG anti-AGRP. Estes<br />

resultados indicam que a inibição endógena de NPY<br />

e AGRP pode modular o efeito estimulador da grelina<br />

sob a alimentação, o que sugere que a grelina interage<br />

anatomicamente e/ou funcionalmente com as rotas<br />

destes dois peptídeos.<br />

Inibição na síntese e liberação do NPY é o<br />

principal mecanismo de redução do consumo de<br />

alimentos mediado pela leptina. O nível de mRNA<br />

para NPY encontra-se aumentado após administração<br />

de grelina. A alimentação induzida pela grelina na fase<br />

de claro foi suprimida pela administração ICV de<br />

leptina. A leptina reduz a alimentação de ratos em<br />

jejum, enquanto a grelina substancialmente bloqueia<br />

esta redução em ratos pré-tratados com leptina. Estes<br />

resultados mostram que a grelina pode antagonizar a<br />

ação da leptina na regulação do sistema NPY [12].<br />

Para determinar se a adiposidade induzida pela<br />

grelina é controlada centralmente, administrou-se pelo<br />

sistema nervoso central grelina em doses muito baixas<br />

(@ 1000 vezes menor do que a administração<br />

periférica) e ICV por uma semana em ratos normais<br />

adultos (n=5 por grupo). A administração central<br />

contínua de grelina gerou um aumento dosedependente,<br />

altamente significante no peso corporal<br />

(1,2 nmol kg -1 d -1 : +26,7 ± 10,9g semana –1 (P = 0,006);<br />

12nmol kg -1 d -1 : +37,8 ± 4,8g semana -1 (P < 0,001) e<br />

controles (água): +8,6 ± 5,0g semana -1 ), aumentando<br />

o consumo alimentar)(1,2 nmol kg -1 d -1 : 189,9 ± 18,5g<br />

semana –1 (P = 0,002); 12nmol kg -1 d -1 : 204,36g semana -<br />

1 (P < 0,001) e controles: 149,5 ± 4,4g semana -1 ) e<br />

estimulando a média de quociente respiratório)(1,2<br />

nmol kg -1 d -1 : 0,957 ± 0,018 (P = 0,026); 12nmol kg -<br />

1 d -1 : 0,981 ± 0,007(P=0,02) e controles: 0,907 ± 0,006).<br />

Não foi encontrada nenhuma diferença no gasto de<br />

energia ou na atividade locomotora [11].<br />

A administração intracerebroventricular de<br />

grelina acima de um nível mínimo de 10 pmol para<br />

ratos, alimentando-se livremente durante a fase inicial<br />

de claro (saciada), aumentou o consumo alimentar de<br />

maneira dose-dependente. Ratos tratados com grelina<br />

não mostram comportamento anormal quando<br />

comparados com os controles. A administração de<br />

grelina também aumenta, significantemente, o<br />

consumo alimentar na fase de escuro (fase de<br />

alimentação) [12].<br />

Para examinar se a grelina endógena é<br />

influenciada pelo estado alimentar, mediu-se o nível<br />

de grelina circulante em ratos macho Sprague-Dawley<br />

após 48h de jejum, após jejum seguido por<br />

realimentação por 12 horas e durante alimentação ad<br />

167


168<br />

libitum. Níveis séricos de grelina estavam aumentados<br />

nos ratos em jejum (2,86 ± 28ng/ml -1 , P < 0,001) e<br />

foram reduzidos aos níveis dos ratos alimentados ad<br />

libitum (1,26 ± 14ng ml –1 ), após realimentação (0,95<br />

± 5ng ml -1 , n=9 por grupo). Para investigar se os<br />

níveis de grelina circulantes são regulados pelo<br />

enchimento do estômago ou consumo de nutrientes,<br />

comparou-se a administração oral de água (5ml) com<br />

solução de 50% de dextrose. O enchimento do<br />

estômago com água não alterou os níveis de grelina,<br />

mas quando cheio com a solução de dextrose, reduziu<br />

significantemente os níveis séricos de grelina (P =<br />

0,001) [11].<br />

Portanto, a grelina, um ligante endógeno para<br />

o receptor do hormônio de crescimento, induz um<br />

balanço energético positivo em roedores por meio<br />

da diminuição da utilização de lipídios, sem alterar,<br />

significantemente, o gasto energético ou a atividade<br />

motora. Os níveis séricos de grelina após<br />

administração periférica subcutânea de 2,4µmol<br />

kg -1 , foi significantemente maior que os níveis<br />

medidos durante o jejum, apenas na primeira hora<br />

após a administração. Isto indica que a grelina tem<br />

uma curta meia-vida. A rápida degradação pode<br />

explicar a falta de hiperfagia mensurável após a<br />

administração periférica [11].<br />

Em alguns estudos examinou-se o efeito da<br />

grelina sob a secreção ácida e motilidade em ratos<br />

[4]. Administrações intravenosas de grelina (0,8, 4 e<br />

20 µg/kg) aumentou de maneira dose-dependente,<br />

a secreção ácida do estômago. Além disto, as mesmas<br />

doses do peptídeo também aumentaram a motilidade<br />

gástrica da amplitude e freqüência de maneira dosedependente.<br />

Estas mudanças foram observadas logo<br />

após a administração da grelina. Na dose de 20µg/<br />

kg, a secreção ácida aumentou até atingir o pico em<br />

20 minutos, e decaiu gradualmente após 90 minutos<br />

da administração [5].<br />

Além disto, o efeito estimulatório da grelina a<br />

20µg/kg sob a secreção ácida do estômago e sob a<br />

motilidade gástrica, foi completamente abolido após<br />

um pré-tratamento com atropina ou vagotomia<br />

bilateral cervical, sugerindo que a grelina estimula a<br />

secreção ácida do estômago e a motilidade gástrica<br />

por meio da ativação do nervo vago em ratos [5].<br />

Um dos poucos estudos conduzidos com<br />

humanos foi realizado por Tschörp et al. [13], que<br />

investigaram o possível envolvimento da grelina na<br />

patogênese da obesidade humana. Para tanto, mediuse<br />

a composição corporal, por absorbância dupla de<br />

raio X, e também concentrações de grelina<br />

plasmática, por radioimunoensaio em 8 homens e 7<br />

mulheres caucasianos, com média de idade de 31±9<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

anos e massa gordurosa de 29±10% e, também, de<br />

15 índios Pima (8 homens e 7 mulheres), com média<br />

de idade de 33±5 anos e massa gordurosa de 30±8%.<br />

Entre os resultados, encontrou-se que a grelina<br />

plasmática de jejum correlacionou-se negativamente<br />

com o percentual de gordura corporal e com a<br />

concentração de insulina e leptina. Concentrações<br />

de grelina plasmática estavam menores em obesos<br />

caucasianos em comparação com caucasianos<br />

magros. Observou-se ainda, que as concentrações<br />

de grelina plasmática foram menores entre os índios<br />

Pima, população com alta prevalência de obesidade<br />

quando comparada com indivíduos caucasianos.<br />

Conclusão<br />

A resposta aguda no quociente respiratório<br />

(QR) pode ser a conseqüência do ritmo diurno da<br />

grelina, em resposta a absorção pós-prandial de<br />

nutrientes e ao esvaziamento do estômago, durante<br />

o período de sono dos roedores. Apesar do clearance<br />

da grelina ser rápido após administração periférica,<br />

ela induz hiperfagia marcadamente após infusões<br />

contínuas centrais de doses tão baixas quanto 1,2<br />

nmol kg -1 dia -1 , indicando uma ação central. A grelina<br />

induz mudanças metabólicas que levam a um<br />

eficiente estado metabólico, resultando no aumento<br />

de peso corporal e massa de gordura. Estes efeitos<br />

são independentes do GH e não requerem a presença<br />

de NPY. Como a grelina estimula ambos, ganho de<br />

energia e secreção de GH, ela oferece condições para<br />

produzir um estado anabólico.<br />

O jejum aumenta os níveis séricos de grelina<br />

enquanto a realimentação interrompe este aumento,<br />

sugerindo uma função de mudança para um<br />

metabolismo mais eficiente metabolicamente durante<br />

os estados de fome, para a grelina. O consumo de<br />

açúcar, mas não a distensão estomacal, diminui os<br />

níveis de grelina circulantes. Apesar da grelina ser,<br />

indubitavelmente, um regulador do hormônio de<br />

crescimento, os dados mostrados indicam que este<br />

novo hormônio gástrico também sinaliza a centros<br />

hipotalâmicos regulatórios, que controlam o balanço<br />

energético.<br />

A grelina é o novo regulador da homeostase<br />

nutricional. Os efeitos clássicos do hormônio de<br />

crescimento em promover o crescimento dos tecidos<br />

moles, como os ossos e cartilagens, em conjunto com<br />

o efeito orexígeno da grelina, sugerem que fatores<br />

centrais e periféricos ativados pela grelina podem<br />

estar na base do processo de crescimento de uma<br />

maneira integrada. Maiores investigações das funções<br />

da grelina vão ajudar na compreensão dos


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

mecanismos fisiológicos da alimentação e facilitarão<br />

o estudo de vários temas, entre eles as desordens<br />

alimentares.<br />

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169


170<br />

Título abreviado: Obesidade e metabolismo energético<br />

Apoio: FAPEMIG e CAPES<br />

REVISÃO<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

O metabolismo energético como fator<br />

preditor da obesidade<br />

Energetic metabolism like predisposition for obesity<br />

Eliane Lopes Rosado*, Josefina Bressan Resende Monteiro**<br />

* Nutricionista. Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Estudante de Doutorado no Departamento de Ciência e Tecnologia de<br />

Alimentos, Universidade Federal de Viçosa MG,**Nutricionista, MSc, Ph.D em Fisiologia e Nutrição - Departamento de Nutrição e<br />

Saúde, Universidade Federal de Viçosa MG<br />

Resumo<br />

A obesidade, definida como o excesso de deposição de lipídios no tecido adiposo, é resultado de uma situação onde a<br />

ingestão energética excede a produção total de energia, sendo que este desequilíbrio pode resultar de uma ingestão excessiva<br />

de alimentos ou de um defeito no gasto energético. Entre as causas responsáveis pelo gasto energético reduzido, destacamos<br />

os fatores metabólicos, sendo o quociente respiratório particularmente importante por representar a oxidação dos nutrientes<br />

no organismo. A redução no gasto energético predispõe o indivíduo à recuperação do peso corporal perdido. O aumento do<br />

quociente respiratório, em indivíduos obesos ou pós-obesos, revela a redução na oxidação de lipídios e conseqüente ganho<br />

ou recuperação do peso corporal perdido. Propõe-se discutir a importância da avaliação do metabolismo energético em<br />

indivíduos normais, obesos e pós-obesos quanto à predisposição ao ganho de peso corporal.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Obesidade, metabolismo energético, quociente respiratório, oxidação de nutrientes.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 15 de setembro; aprovado em 1 de outubro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Josefina Bressan R. Monteiro, Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade<br />

Federal de Viçosa, 36570-000 Viçosa MG, Tel: (31)3899.2692, E-mail: jbrm@ufv.br


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Abstract<br />

Obesity, defined as an excess of fat accumulation in adipose tissue, is a result of a situation where the ingestion of<br />

energy exceeds the total energy utilization. This imbalance can result from either excess in energy intake or a deficit in energy<br />

expenditure. Among the factors responsible for a reduction in energy utilization, we emphasize metabolic factors, where the<br />

respiratory quotient is an important factor representing the fuel oxidation in the organism. The reduction in energy expenditure,<br />

increasing the possibility of recovering the weight lost following a reduction in body weight. The increase of the respiratory<br />

quotient, in the obese or postobese subjects can lead to a reduction in fat oxidation and a consequent gain or recovery of the<br />

lost body weight. The aim of this manuscript is to discuss the importance of energy metabolism in normal, obese and<br />

postobese subjects in relation to their predisposition to weight gain.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Obesity, energetic metabolism, respiratory quotient, nutrients oxidation.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Introdução<br />

A maioria dos adultos mantém o peso corporal<br />

constante, graças ao complexo sistema de mecanismos<br />

neurais, hormonais e químicos, que mantêm o<br />

equilíbrio entre a ingestão e o gasto energético, dentro<br />

de limites precisamente regulados, sendo que os fatores<br />

genéticos podem contribuir para tais diferenças<br />

individuais [1,2,3]. Alterações nestes mecanismos,<br />

muitas não completamente conhecidas, resultando em<br />

flutuações exageradas no peso corporal. Destas, as<br />

mais comuns são o excesso de peso e a obesidade [4].<br />

A obesidade tem sido considerada a alteração<br />

nutricional mais importante do mundo atual.<br />

Conceitualmente é um problema sensível, definido<br />

como um acúmulo excessivo de tecido adiposo,<br />

causado pela ingestão excessiva de calorias. No<br />

entanto, estudos revelam que a obesidade resulta de<br />

uma situação onde a ingestão energética excede a<br />

produção total de energia, sendo difícil estabelecer se<br />

este desequilíbrio resulta do excesso de ingestão ou<br />

de um defeito no gasto energético [5]. Outra definição,<br />

descreve a obesidade como sendo um excesso de<br />

deposição de lipídios no tecido adiposo [6].<br />

Vários autores [2,7,8], evidenciaram a relação<br />

entre os graus de obesidade e adiposidade com a<br />

morbimortalidade, incluindo a hipertensão arterial, a<br />

diabetes tipo 2 e enfermidades cardiovasculares.<br />

Também se relata que um aumento de 10% no peso<br />

corporal, resulta em aumento da pressão arterial<br />

sistólica em 6,5 mmHg, do colesterol plasmático em<br />

12 mg/dl e da glicemia em jejum em 2 mg/dl [9].<br />

O aumento importante na incidência da<br />

obesidade tem sido relatado desde décadas passadas<br />

em muitos países e, em particular, nos Estados Unidos,<br />

onde a proporção de indivíduos obesos aumentou de<br />

25 para 33%, durante a última década[10]. Relata-se<br />

[11] que 32 milhões de mulheres e 26 milhões de<br />

homens, aproximadamente 1/3 da população adulta<br />

dos Estados Unidos, apresentam excesso de peso, com<br />

peso mínimo de 20% acima do nível desejado.<br />

No Brasil, apesar dos graves problemas de déficit<br />

nutricional, a PNSN (Pesquisa Nacional sobre Saúde<br />

e Nutrição) realizada em 1989, mostrou que 32,9%<br />

da população, com idade superior a 18 anos,<br />

apresentava algum grau de obesidade (índice de massa<br />

corporal - IMC >25,0 kg/m 2 ), com maior predomínio<br />

no sexo feminino (55%) e a obesidade, considerandose<br />

o IMC acima de 30 kg/ m 2 , alcançou 8,3% da<br />

população. Estes resultados são diferentes,<br />

comparados aos dados encontrados pelo ENDEF<br />

(Estudo Nacional sobre Gasto Familiar), realizado no<br />

período de 74/75, onde 21,1% da população<br />

apresentou algum grau de obesidade, prevalecendo<br />

entre as mulheres [12], que atualmente alcançam 13,3%<br />

[13], indicando um aumento de 11,8% de obesidade<br />

na população brasileira num período de 14 anos,<br />

podendo ser explicado, dentro de uma visão simplista,<br />

pelo aumento na ingestão energética e/ou redução<br />

na atividade física, além de fatores metabólicos e<br />

psicológicos associados. Em outros países do mundo<br />

também se observam estes resultados [12].<br />

A susceptibilidade à obesidade advém de vários<br />

mecanismos que resultam no excesso energético,<br />

promovendo o ganho de peso, incluindo a hiperfagia,<br />

o baixo gasto energético basal, em repouso e em<br />

atividade física [14]. Vários estudos têm demonstrado<br />

que o baixo gasto energético pode ser um fator<br />

importante, que contribui para o excessivo ganho de<br />

peso, em indivíduos geneticamente susceptíveis, por<br />

meio da promoção do balanço energético positivo<br />

[14,14,16,17].<br />

Entre os fatores metabólicos destaca-se o quociente<br />

respiratório (QR), que é um reflexo da oxidação de<br />

carboidratos e lipídios e tem sido sugerido como índice<br />

metabólico, que prediz o ganho de peso [18].<br />

171


172<br />

Ao indivíduo obeso, é recomendado manter ou<br />

aumentar sua taxa metabólica, objetivando evitar a<br />

recuperação do peso corporal, sendo objetivo da<br />

revisão, discutir a influência do metabolismo<br />

energético em indivíduos não obesos, obesos e pósobesos<br />

estáveis.<br />

Etiologia da obesidade<br />

Os fatores econômicos, sociais, ambientais,<br />

familiares, genéticos, hormonais e metabólicos [19]<br />

têm sido considerados preditores da obesidade. O<br />

desequilíbrio entre a ingestão e o gasto energético<br />

representa o maior distúrbio que resulta no aumento<br />

da deposição de lipídios corporais [15,20]. No<br />

entanto, deve-se destacar a complexidade dos<br />

problemas que incluem diversos genes que, direta<br />

ou indiretamente, podem induzir a obesidade<br />

[6,21,22].<br />

Vários estudos realizados nos Estados Unidos,<br />

Oriente Médio e em países do norte da Europa<br />

Ocidental, têm associado a obesidade com a idade,<br />

o sexo, as condições socio-econômicas e<br />

comportamentais, como o tabagismo e o consumo<br />

de bebidas alcoólicas [7]. Portanto, o<br />

desenvolvimento de estratégias para a prevenção da<br />

obesidade, depende geralmente da identificação dos<br />

fatores preditores do ganho de peso [23].<br />

Estudos demonstram que existem períodos<br />

críticos na vida para o desenvolvimento da obesidade,<br />

incluindo o desenvolvimento fetal, a infância (entre<br />

5 e 7 anos de idade) e a adolescência. Ressalta-se o<br />

segundo período, na infância, onde existe maior<br />

influência da ingestão alimentar e da atividade física.<br />

Na adolescência, o terceiro período crítico, ocorre<br />

aumento da gordura corporal total (GCT) nas<br />

meninas, e sua redistribução das regiões periféricas<br />

para a visceral, sugerindo-se que vários processos<br />

metabólicos podem ser afetados [6]. Portanto, é<br />

importante a influência do sexo nos processos<br />

metabólicos.<br />

A idade da população também é um fator que<br />

contribui para o aumento da prevalência da obesidade<br />

24,25]. Com a idade ocorre acúmulo de lipídios na<br />

zona central do corpo, estando associada com a<br />

redução na taxa metabólica basal (TMB), na<br />

termogênese induzida pela dieta (TID), na atividade<br />

física, além da menor propensão para a oxidação de<br />

lipídios e carboidratos dietéticos. A baixa oxidação<br />

de lipídios resulta no aumento do QR em 24 horas,<br />

o que pode ser observado em indivíduos pós-obesos.<br />

O QR em 24 horas correlaciona-se positivamente<br />

com a idade, assim como da gordura corporal [25].<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Em vários estudos observa-se que o ganho de<br />

peso não se encontra relacionado com a redução da<br />

taxa metabólica em repouso (TMR) e pós-prandial,<br />

mas com a atividade física, sugerindo-se que o<br />

componente ativo do gasto energético total (GET)<br />

pode ser importante na etiologia da obesidade [18,26].<br />

A redução no gasto energético com atividade física,<br />

explica 70% da redução do GET [18].<br />

A atividade física é o componente mais variável<br />

do GET e seu efeito depende do peso corporal, da<br />

composição corporal, da intensidade e duração do<br />

exercício. Estudos que avaliaram a atividade física, por<br />

meio de métodos indiretos como acelerômetros,<br />

cinematografia e registro de freqüência cardíaca,<br />

demonstraram redução significativa da atividade física,<br />

em certos grupos de indivíduos obesos, comparados<br />

com indivíduos normais.<br />

O gasto energético com atividade física pode<br />

afetar a GCT, devido sua influência na oxidação de<br />

lipídios e na resistência à insulina [14]. O estilo de<br />

vida sedentário aumenta a atividade do eixo adrenal<br />

pituitário hipotalâmico, reduzindo a atividade do<br />

sistema nervoso simpático (SNS), a oxidação de<br />

lipídios e os hormônios esteróides em homens e<br />

mulheres, os quais estão relacionados com o acúmulo<br />

de tecido adiposo visceral [27].<br />

O baixo gasto energético tem contribuído para<br />

o aumento da incidência da obesidade, em algumas<br />

famílias [3], visto que a mesma pode ser considerada<br />

uma desordem familiar geneticamente determinada<br />

[3,6]. A ocorrência familiar da obesidade pode resultar<br />

da semelhança no excesso de ingestão energética, no<br />

déficit no gasto energético ou em ambos. No entanto,<br />

Fontaine et al [28] relataram que, em gêmeos mono e<br />

dizigóticos, a TMB foi influenciada, em último plano,<br />

pela genética.<br />

No entanto, indivíduos com GET baixo<br />

apresentaram maior probabilidade de recuperar o peso<br />

corporal, comparados com os indivíduos da mesma<br />

família com GET elevado, sugerindo-se que o gasto<br />

energético não esteja diretamente relacionado com<br />

fatores genéticos [3].<br />

Outros estudos indicam que indivíduos com<br />

predisposição genética à obesidade, seriam normais<br />

em ambiente de privação alimentar e alta demanda de<br />

atividade física, do contrário, indivíduos sem<br />

predisposição genética à obesidade podem tornar-se<br />

obesos em ambiente que inclua alimentos com alta<br />

densidade energética e/ou baixa atividade física.<br />

Portanto, o ambiente é fator crítico para o<br />

desenvolvimento da obesidade [6,29].<br />

Estudos realizados com animais comprovaram<br />

a existência de duas formas de obesidade, uma de


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

origem genética e outra por influência da dieta, sendo<br />

ambas marcadas pela hipertrofia e hiperplasia dos<br />

adipócitos, condições similares caracterizadas na<br />

obesidade humana [26,30].<br />

Estudos epidemiológicos indicam correlação<br />

entre a ingestão de lipídios pela população e a<br />

obesidade [1,10,26,31,32]. No entanto, existem<br />

indivíduos que utilizam dietas ricas em lipídios e<br />

apresentam peso normal ou baixo, sugerindo-se que,<br />

possivelmente, o excesso de lipídios ingerido pode<br />

estar em equilíbrio com o gasto corporal. Esta<br />

proteção pode ser fisiológica, devido a alteração na<br />

taxa metabólica ou na oxidação de lipídios, ou ainda<br />

comportamental, com aumento na atividade física<br />

[1,10,31]. Em estudos realizados com humanos,<br />

observou-se que o alto conteúdo de lipídios dietéticos<br />

está associado ao aumento da GCT, independente da<br />

ingestão energética [14].<br />

Influência do metabolismo energético na<br />

obesidade e os fatores relacionados à sua<br />

alteração<br />

A TMB e a TID refletem a oxidação do<br />

substrato, sendo a mesma distinta nos diferentes<br />

tecidos corporais. Em torno de 1/4 da TMR<br />

corresponde ao gasto energético durante o sono, 10%<br />

ao funcionamento cardíaco e 20 a 30% ao tecido<br />

muscular [33].<br />

Como relatado anteriormente, o QR reflete a<br />

oxidação de nutrientes, sendo considerado um índice<br />

metabólico que prediz o ganho de peso [4]. O QR<br />

oferece somente o índice da proporção do substrato<br />

oxidado, mas não a quantidade total da oxidação do<br />

mesmo [35].<br />

O alto QR correlaciona-se com o ganho de peso<br />

e reflete a alta oxidação de carboidratos e a baixa<br />

oxidação de lipídios. A redução na oxidação de lipídios<br />

pós-prandiais pode facilitar o acúmulo dos mesmos,<br />

podendo ser um dos mecanismos relacionados à<br />

recuperação do peso corporal [23].<br />

Nagy et al [36] sugerem que o máximo volume<br />

de oxigênio (VO 2 ) esteja correlacionado com a<br />

oxidação de lipídios, independente da massa livre de<br />

gordura (MLG). No entanto, pode-se prever que a<br />

MLG tenha maior efeito na oxidação de lipídios,<br />

comparado ao volume máximo de O 2 , pois explica<br />

grande proporção das mudanças na TMR.<br />

A taxa de acúmulo de lipídios, resultante do<br />

ganho de 1 kg de tecido adiposo durante o ano,<br />

representa a retenção de somente 1% da energia<br />

ingerida. No entanto, existem indivíduos com<br />

tendência ao alto QR em 24 horas, gastando mais<br />

glicose que lipídios, aumentando o risco do ganho<br />

de peso durante os anos subsequentes. Outro fator<br />

importante é a baixa capacidade de oxidação do<br />

músculo esquelético, que está associado ao aumento<br />

na adiposidade, e a utilização dos ácidos graxos pelo<br />

músculo que se encontra reduzida em mulheres, que<br />

apresentam obesidade visceral [33]. As reservas de<br />

tecido adiposo são normalmente 100 vezes<br />

superiores às reservas de energia na forma de<br />

glicogênio [9].<br />

Existe uma tendência de aumento no QR<br />

durante o exercício, indicando que o carboidrato é o<br />

principal substrato que contribui para o aumento da<br />

produção energética. O QR, durante o exercício,<br />

sofre a influência de vários fatores, como a<br />

intensidade e duração do mesmo. O QR aumenta,<br />

em grande proporção, em exercícios de alta<br />

intensidade, comparados com aqueles de baixa ou<br />

moderada intensidade, e que se reduz<br />

progressivamente quando a duração do exercício é<br />

aumentada. O QR também tende a ser inferior em<br />

indivíduos treinados, comparados àqueles não<br />

treinados. O exercício induz maior perda de gordura<br />

em indivíduos obesos, que apresentam alta<br />

capacidade para oxidar lipídios, durante e depois do<br />

exercício[33].<br />

O exercício físico, devido ao fato de reduzir as<br />

reservas de glicogênio, encontra-se relacionado a<br />

alterações metabólicas, com a redução<br />

(neoglicogênese) ou aumento do QR (lipogênese)<br />

[35]. A queda do QR está relacionada ao aumento<br />

na oxidação lipídica, havendo formação de glicogênio<br />

a partir dos lipídios, enquanto que o aumento no<br />

QR resulta na formação de lipídios a partir da glicose.<br />

Nos índios Pima obesos, tem-se demonstrado<br />

uma relação significativa, mas modesta, entre o QR<br />

em 24 horas, avaliado após o controle da dieta, e o<br />

subseqüente ganho de peso, num período de 5 meses<br />

a 4 anos de acompanhamento. A baixa TMB, o alto<br />

QR e o aumento da sensibilidade à insulina foram<br />

fatores preditores do ganho de peso e estes fatores<br />

têm contribuído para a redução na oxidação de<br />

lipídios [15].<br />

Segundo Valteueña et al [37], a maior perda de<br />

peso resultou num aumento acentuado no QR, o qual<br />

foi maior com o aumento do período de duração da<br />

dieta. O QR, medido no final do período de uma<br />

dieta hipocalórica, somente se correlacionou<br />

significativamente com as mudanças de peso durante<br />

a dieta. Outras variáveis relacionadas com o QR são<br />

a resistência à insulina, o grau de adiposidade e o<br />

balanço energético. Larson et al [4] também<br />

encontraram correlação entre o QR em 24 horas e a<br />

173


174<br />

atividade da lipase lipoprotéica (LPL) do músculo<br />

esquelético.<br />

O QR, após um período de restrição dietética,<br />

poderia explicar parcialmente as diferenças observadas<br />

nas mudanças do peso corporal, por meio de três<br />

mecanismos: 1) os indivíduos com alta atividade das<br />

enzimas lipolíticas poderiam apresentar maior habilidade<br />

no aumento da oxidação lipídica, em resposta à dieta<br />

rica em lipídios, limitando a quantidade das reservas<br />

lipídicas e o ganho de peso; 2) o aumento nas taxas de<br />

oxidação de carboidratos e lipídios poderia causar<br />

aumento e/ou rápida redução pós-prandial das reservas<br />

de glicogênio, resultando na supressão da saciedade,<br />

aumento do apetite e, conseqüêntemente, do consumo<br />

alimentar; e 3) o aumento no QR poderia desviar a<br />

capacidade do indivíduo de manter seu peso e<br />

composição corporal. Em resumo, indivíduos com alto<br />

QR (>0,75), após o período de restrição dietética, revelam<br />

maior risco de recuperação do peso, comparados com<br />

os indivíduos com baixo QR (


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

de peso. O alto QR, representado pela baixa oxidação<br />

de lipídios, predispõe o indivíduo à obesidade.<br />

Recomenda-se, ao indivíduo obeso, manter ou<br />

aumentar sua taxa metabólica, a fim de evitar a<br />

recuperação do peso corporal perdido, após um<br />

período de restrição dietética. Durante um programa<br />

de perda de peso, recomenda-se dieta hipocalórica,<br />

com controle dos lipídios dietéticos, e aumento da<br />

atividade física, visando minimizar a redução da MLG<br />

e, conseqüentemente, do gasto energético basal e em<br />

repouso, além do aumento do gasto energético total,<br />

por meio do incremento no gasto energético com<br />

atividade física, resultando na regulação do equilíbrio<br />

energético e evitando a recuperação do peso corporal.<br />

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Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

DOSSIÊ<br />

Soja: Além do valor nutricional é muito<br />

utilizada na prevenção de várias doenças<br />

A soja é um alimento completo que pode perfeitamente contribuir com a redução dos índices<br />

de mortalidade por desnutrição. Alimento super nutritivo, a soja contém proteínas, vitaminas,<br />

minerais, fibras e pode ser utilizada de inúmeras formas na culinária. Seu alto teor de ferro é<br />

ótimo para combater a anemia. Ela tem várias vantagens sobre as carnes, tais como: não<br />

excita os centros nervosos e não aumenta a pressão sangüínea, além de ser utilizada em<br />

dietas e nos tratamentos que retardam o processo de envelhecimento. Além disso, produtos à<br />

base de soja reduzem o risco do câncer de mama e de próstata. Aliviam os sintomas da<br />

menopausa, como ondas de calor e suores noturnos. E ajudam a controlar o diabetes, a<br />

osteoporose e a aterosclerose.<br />

Ficha Técnica: Soja (soya, soybean)<br />

Família: Fabaceae<br />

Gênero: Glycine<br />

Espécie: Glycine max (L.)Merr.<br />

História<br />

Salsicha, tinta, leite, farinha, quibe, esmalte, ração<br />

animal, medicamento, queijo, margarina, maionese,<br />

hambúrguer, sabão, salame. Sabe o que todos esse itens<br />

têm em comum? Um mesmo grão, originário do<br />

Oriente, cuja existência remonta há 5 mil anos: a soja.<br />

A soja é uma leguminosa domesticada pelos<br />

chineses há cerca de cinco mil anos. Sua espécie mais<br />

antiga, a soja selvagem, crescia principalmente nas<br />

terras baixas e úmidas, junto aos juncos nas<br />

proximidades dos lagos e rios da China Central. Há<br />

três mil anos a soja se espalhou pela Ásia, onde<br />

começou a ser utilizada como alimento. Foi no início<br />

do século XX que passou a ser cultivada<br />

comercialmente nos Estados Unidos. A partir de<br />

então, houve um rápido crescimento na produção, com<br />

o desenvolvimento das primeiras cultivares comerciais.<br />

No Brasil, o grão chegou com os primeiros<br />

imigrantes japoneses em 1908, mas foi introduzida<br />

oficialmente no Rio Grande do Sul em 1914. Porém,<br />

a expansão da soja no Brasil aconteceu nos anos 70,<br />

com o interesse crescente da indústria de óleo e a<br />

demanda do mercado internacional.<br />

Prima do feijão<br />

A soja é parente da fava portuguesa, da lentilha, da<br />

ervilha fresca do grão de bico e do feijão, entre outras<br />

inúmeras espécies de leguminosas. A planta - a Glycine<br />

max - é um pequeno arbusto com flores brancas, amarelas<br />

ou cor de violeta, repleta de folhas. No Brasil, por muitos<br />

anos, o cultivo da soja manteve apenas um caráter<br />

experimental, sendo mantida “confinada” em algumas<br />

instituições de pesquisa. Foi só a partir da década de 60<br />

que os agricultores brasileiros do Sul se interessaram em<br />

plantá-la de forma extensiva. A Glycine max se dá bem<br />

nos mais variados tipos de solo, resistente à seca e, em<br />

geral, é pouco afetada por doenças ou pragas. Por todas<br />

essas condições favoráveis, o cultivo da soja é uma das<br />

maiores riquezas do país. A tal ponto que o Brasil, junto<br />

com os Estados Unidos e a China, figura na lista dos<br />

primeiros produtores mundiais do grão.<br />

A soja é um grão de aspecto arredondado, muito<br />

similar ao grão de bico em sua cor e forma, tendo uma<br />

camada superficial mais lisa do que a do grão de bico. A<br />

soja, hoje, não é considerada somente um alimento de<br />

alta qualidade protéica, mas tem papel fundamental como<br />

alimento funcional prevenindo várias doenças. Dentre<br />

os compostos funcionais da soja podem ser citados os<br />

inibidores de protease, os fitoesteróis, as saponinas, os<br />

177


178<br />

ácidos fenólicos e os isoflavonóides ou fitoesteróides<br />

(também chamados de isoflavona). Dentre estes<br />

compostos, as isoflavonas (genisteína e daidzeína) são<br />

os mais notáveis, pois a soja é a única fonte significativa<br />

destes compostos. A soja também é uma fonte rica em<br />

vitamina B, ácido fólico, cálcio, ferro, iodo, magnésio,<br />

potássio, e fósforo. Em 100g de soja encontramos: 35g<br />

de proteína; 16g de carboidrato; 18g de gordura; 15g de<br />

fibra; 16g de outros componentes.<br />

A soja é uma planta herbácea e tem<br />

aproximadamente 10.000 variedades. É da família das<br />

leguminosas (popularmente é um feijão) e teve sua origem<br />

na China, onde é bastante utilizada desde o século XI<br />

a.C. Foi considerada uma das 5 sementes sagradas, sendolhe<br />

atribuída a própria sobrevivência da China, devido<br />

ao seu uso nutricional como principal fonte proteíca.<br />

É também de extrema importância para a<br />

agricultura, pois tem uma bactéria que fixa o nitrogénio<br />

no solo. A sua parte comercializada é a semente, variando<br />

de tamanho, cor e forma, como também quanto ao teor<br />

de óleo e proteínas.<br />

A soja é rica em proteínas, hidratos de carbono,<br />

gordura, fibras, vitaminas e minerais.<br />

Leguminosas Proteínas Gorduras Hidrato de carbono Minerais<br />

Soja 38,0g 19,0g 11,0g 5,0g<br />

Amendoim 26,0g 39,0g 24,0g 2,0g<br />

Lentilha 26,0g 2,0g 53,0g 3,4g<br />

Ervilha 23,0g 2,0g 53,0g 2,9g<br />

Feijão 24,0g 2,0g 52,0g 3,5g<br />

Proteínas<br />

A quantidade de proteína que a soja contém está<br />

em torno de 30 a 45%. Ou seja, 100 gramas de soja<br />

temos de 30 a 45% de proteína vegetal. Possui duas vezes<br />

mais proteínas do que a carne e uma e meia mais do que<br />

o feijão comum, a lentilha, a ervilha ou o amendoim,<br />

três vezes mais que o trigo integral, demais cereais e ovos,<br />

além de dez vezes mais que o leite de vaca.<br />

Gorduras<br />

Depois do amendoim, a soja é de alto teor de<br />

gordura e de ótima qualidade. Entram em sua constituição<br />

ácidos gordurosos não saturados, ácido linoleíco e<br />

arquidômico, essencial a alimentação humana.<br />

Hidrato de carbono<br />

A soja tem em torno de 10 a 17% de hidratos de<br />

carbono. Porém, apenas a quantidade de 2% desta cota,<br />

é sob forma de amido absorvível pelo organismo<br />

humano. Por esta razão, a soja é o alimento excelente<br />

para pessoas diabéticas, obesas ou em regimes para perda<br />

ou manutenção do peso.<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Vitaminas<br />

Em 100 gramas do feijão soja encontra-se: caroteno,<br />

tiamina ou vitamina B1, riboflavina ou vitamina B2,<br />

niacina ou vitamina B3, ácido nicotínico e ácido ascórbico.<br />

Minerais<br />

Para cada 100 gramas de soja, seca ou cru, temos 5<br />

gramas de minerais, dentre eles: sódio, potássio, fósforo,<br />

ferro, magnésio e zinco. A farinha de soja contém fósforo<br />

e cálcio em proporções mais elevadas do que o leite ou o<br />

trigo integral, na proporção de duas vezes mais cálcio e<br />

cinco vezes mais fósforo que o leite de vaca.<br />

Fibra<br />

Cada xícara de feijão soja cozido contém 3 gramas<br />

de fibras. A casca da soja é rica em fibra, não dispõe de<br />

substâncias nocivas ao organismo, pois não é tóxica.<br />

Outros produtos da soja<br />

Óleo Refinado<br />

Uso Comestível Uso Técnico<br />

Manufatura Ingredientes para Calefação<br />

Antibióticos Óleo Refugado<br />

Óleo de Cozinha Desinfetantes<br />

Margarina Isolação Elétrica<br />

Produtos Farmacêuticos Inseticidas<br />

Tempêros para Salada Fundos de Linóleo<br />

Óleo para Salada Tecidos para Impressão<br />

Pasta para Sanduíche Tintas para Impressão<br />

Gordura Vegetal Revestimentos<br />

Produtos Medicinais Plastificadores<br />

Massa para Vidraceiro<br />

Sabão<br />

Cimento à Prova de Água<br />

Lecitina<br />

Uso Comestível Uso Técnico<br />

Agente Emulsificante Agente Antiespumante<br />

Produtos de Padaria Fabricação de Escuma<br />

Produção de Balas Fabricação de Álcool<br />

Agente Ativo de Superfície Agente Dispersante<br />

Revestimento de Chocolate Fabricação de Tintas<br />

Produtos Farmacêuticos Inseticidas<br />

Nutrição Fabricação Umidificante<br />

Uso Médico Cosméticos<br />

Uso Doméstico Pigmentos<br />

Agente Contra Salpiqueiro Substituto do Leite para<br />

Fabricação de Margarina Bezerros<br />

Agente Estabilizador Metais em Pó<br />

Gorduras Têxteis<br />

Produtos Químicos<br />

Agente Estabilizante<br />

Emulsões<br />

Agente Anti-Derrapante<br />

Gasolina


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Soja: muitas utilidades<br />

O grão da soja dá origem a produtos e<br />

subprodutos utilizados atualmente pela<br />

agroindústria de alimentos e indústria química. A<br />

proteína de soja dá origem a produtos comestíveis<br />

(ingredientes de padaria, massas, produtos de carne,<br />

cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação<br />

para bebês, confecções e alimentos dietéticos). É<br />

utilizada também pela indústria de adesivos e<br />

nutrientes, alimentação animal, adubos, formulador<br />

de espumas, fabricação de fibra, revestimento, papel<br />

emulsão de água para tintas.<br />

A soja integral é utilizada pela indústria de<br />

alimentos em geral e o óleo cru se transforma em<br />

óleo refinado e lecitina, que dá origem a inúmeros<br />

outros produtos.<br />

A expansão da soja<br />

O interesse do governo brasileiro pela<br />

expansão na produção da soja para atender à<br />

indústria, fez com que a leguminosa ganhasse cada<br />

vez mais incentivos oficiais. Para atender às<br />

exigências de produção de uma cultura altamente<br />

técnica, foi criado, em 1975, o Centro Nacional de<br />

Pesquisa de Soja, como uma das unidades da<br />

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária<br />

(Embrapa), estrategicamente localizado para que<br />

pudesse atender às demandas da produção nacional.<br />

Sua principal incumbência era conquistar a<br />

independência tecnológica para a produção<br />

brasileira, que até então estava concentrada nos<br />

estados do Sul do País, aproveitando a entressafra<br />

da cultura do trigo que, na época, recebia incentivos<br />

do governo. A boa adaptação da soja nas terras do<br />

Sul do país e a crescente demanda dos mercados<br />

interno e externo deram estabilidade aos preços do<br />

produto no mercado, o que incentivou o aumento<br />

de área.<br />

Em pouco tempo, os cientistas da Embrapa<br />

Soja não só criaram tecnologias específicas para as<br />

condições de solo e clima do País, como<br />

conseguiram criar a primeira cultivar genuinamente<br />

brasileira, a Doko, que permitiu que a soja<br />

produzisse em regiões tropicais (Cerrados), onde<br />

antes a planta não se desenvolvia.<br />

A criação da cultivar Doko fez muito mais que<br />

desbravar as novas fronteiras agrícolas do Brasil,<br />

até então consideradas improdutivas. A Doko, e<br />

mais tarde a cultivar Tropical, levaram a soja a todas<br />

as regiões de clima tropical do mundo. Hoje, a soja<br />

tem uma utilização diversificada no mundo todo.<br />

Tecnologia melhora o sabor<br />

A soja é um alimento marcante na culinária<br />

oriental. Embora os maiores produtores dessa<br />

leguminosa sejam os países ocidentais - Estados<br />

Unidos (45%), Brasil (20%) e Argentina (14%) -,<br />

grande parte da produção, neste lado do globo, é<br />

exportada ou destinada à alimentação animal.<br />

Não é por falta de nutrientes ou substâncias<br />

benéficas à sua saúde que o homem ocidental prefere<br />

outros alimentos à soja. Afinal, o chamado “grão<br />

mágico” possui, em média, 40% de proteína e é uma<br />

alternativa à proteína de origem animal, pois tem<br />

elevado teor nutritivo, baixo conteúdo de gorduras e<br />

não contém colesterol nem lactose - que provoca<br />

alergia em muitas pessoas. A leguminosa é bem aceita<br />

em quase todas as dietas e suas qualidades são<br />

equivalentes às da proteína da carne, do leite e do ovo.<br />

A soja possui, ainda, importantes propriedades<br />

terapêuticas.<br />

O que torna a soja um alimento raro nos<br />

supermercados brasileiros, ao contrário do que se<br />

pensa, não é a qualidade, o preço nem a produção, é o<br />

sabor. O grão é rançoso e tem um gosto forte de mato,<br />

o beany-flavor. A solução encontrada por pesquisadores<br />

foi aperfeiçoar técnicas de preparo que eliminam uma<br />

das mais sérias barreiras ao consumo de soja: o sabor<br />

inadequado ao paladar do brasileiro, além de<br />

desenvolver variedades sem as substâncias que<br />

provocam o sabor desagradável.<br />

O segredo para se obter alimentos saborosos é<br />

o tratamento do grão para inativar a enzima<br />

lipoxigenase, responsável pelo sabor característico da<br />

soja.<br />

A enzima lipoxigenase é facilmente inativada pelo<br />

calor. Assim, basta que grãos inteiros e secos, sejam<br />

colocados diretamente em água fervente e após em<br />

água fria. Com isto, a enzima perde a capacidade de<br />

desenvolver uma reação que ativa o gosto característico<br />

que a soja tem. Ao se utilizar soja como alimento,<br />

deve-se escolher grãos selecionados e limpos. Eles<br />

devem ser colocados em uma panela com água já<br />

fervente, onde devem permanecer por cinco minutos,<br />

contados após levantar a nova fervura.<br />

Depois da fervura, a água deve ser jogada fora e<br />

os grãos, lavados em água fria corrente. Esses grãos<br />

tratados termicamente poderão, então, ser cozidos ou<br />

torrados, dependendo da receita a ser elaborada.<br />

A farinha de soja e produtos industrializados,<br />

como a Proteína Vegetal Texturizada (PVT), o extrato<br />

solúvel (leite) em pó, já foram submetidos a<br />

tratamentos térmicos durante seu processamento<br />

industrial e não precisam ser tratados.<br />

179


180<br />

Desde 1986, a Embrapa Soja desenvolve<br />

atividades para incentivar o consumo de soja pela<br />

população brasileira. Em 1995, a Embrapa<br />

incrementou seu trabalho, com o lançamento do<br />

“Programa Soja na Mesa”.<br />

O principal objetivo do Programa é dar ao grão<br />

uma função mais nobre: a de complementar a<br />

alimentação da população brasileira. Pronta para<br />

atender às necessidades calórico-protéicas da dieta das<br />

famílias, a soja é, também, alternativa para diminuir<br />

os índices de desnutrição, principalmente entre as<br />

crianças. Ao mesmo tempo, a soja pode ser utilizada<br />

na prevenção e no tratamento de inúmeras doenças.<br />

Embora o Brasil seja o 2º maior produtor de<br />

soja do mundo, o grão vem sendo utilizado em larga<br />

escala apenas pela indústria de alimentos, onde o<br />

produto é ingrediente na fabricação de embutidos,<br />

chocolates, bolachas.<br />

Do total de grãos produzidos, cerca de 72% são<br />

transformados em farelo, principal componente<br />

protéico de rações para suínos e aves.<br />

A Embrapa Soja, através de parcerias, vem<br />

incentivando a utilização da soja na alimentação da<br />

população. Seus especialistas ministram cursos<br />

transferindo técnicas que tornam a soja um produto<br />

saboroso.<br />

A Empresa está disponível para o<br />

desenvolvimento de programas cooperativos com<br />

outras instituições públicas e privadas, clubes de<br />

serviços e outras entidades, para parcerias que visem<br />

a utilização de soja como alimento. Exemplo de um<br />

dos programas cooperativos que a instituição mantém<br />

é o convênio firmado em 1997 com o Rotary Club<br />

Londrina Universidade e a Escola Profissionalizante<br />

e Social do Menor de Londrina (Epesmel). A escola<br />

utiliza a soja como alimento (pão, “leite”, bolos e<br />

outros derivados do grão) na alimentação de cerca de<br />

900 crianças e adolescentes carentes de Londrina e<br />

suas famílias.<br />

A Embrapa oferece também cursos voltados à<br />

elaboração de pratos à base de soja nos quais utiliza: a<br />

farinha de soja, o leite em pó e a proteína texturizada<br />

de soja (PTS).<br />

Pesquisa melhora variedade<br />

O Programa Soja, coordenado pelo professor<br />

do Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária<br />

(Bioagro/UFV), Maurílio Alves Moreira, foi criado<br />

em 1986, com o objetivo de melhorar as propriedades<br />

da soja e de seus derivados. O primeiro passo foi<br />

buscar novas variedades do grão, sem aquele gosto<br />

forte e desagradável. Os pesquisadores identificaram<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

as três enzimas responsáveis pelo sabor ruim e, por<br />

meio de melhoramento genético molecular,<br />

desenvolveram as UFV TNs, que não contêm essas<br />

enzimas. O resultado é um grão de sabor suave e<br />

mais atraente ao nosso paladar.<br />

O pesquisador explica que o gosto de mato está<br />

diretamente ligado à presença de compostos como<br />

aldeídos e hidrocarbonetos, que são produzidos<br />

durante o processamento do grão. Eles grudam na<br />

proteína da soja e, quando o grão é aquecido, é ainda<br />

mais difícil removê-los. Isso acontece nos produtos<br />

primários, como a farinha integral e o leite de soja.<br />

“Se você cheirar o leite de soja, não toma”, brinca o<br />

Prof. Maurílio.<br />

Esses compostos são derivados da oxidação do<br />

óleo, processo iniciado pela ação de enzimas<br />

presentes no grão, denominadas lipoxigenases. Além<br />

de alterar o sabor da soja, provocam a rancificação<br />

do óleo e diminuem a vida de prateleira dos<br />

alimentos. A exceção é a soja processada. Durante o<br />

processamento do grão, os aldeídos, hidrocarbonetos<br />

e demais compostos ligados ao beany-flavor são<br />

eliminados gradativamente. A proteína de soja isolada<br />

é um exemplo e, por isso, não tem gosto de mato.<br />

O choque térmico é outra forma de reduzir o<br />

beany-flavor. Esse processo reduz o gosto ruim, mas<br />

também reduz a quantidade de nutrientes do grão.<br />

Essas novas variedades dispensam o tratamento<br />

térmico e, ainda, interferem o mínimo possível em<br />

outros ingredientes misturados a elas. Assim, é<br />

possível usar porcentagens relativamente altas da soja<br />

no preparo de bolos, pães, farinhas e outros<br />

alimentos, sem comprometer o seu sabor.<br />

As UFV TNs são também produtivas e bastante<br />

valorizadas comercialmente. Elas ainda não foram<br />

lançadas no mercado, mas estão sendo preparadas<br />

para isso. Segundo o Prof. Maurílio, o lançamento<br />

será realizado somente depois que os pesquisadores<br />

se sentirem seguros para monitorar a sua produção.<br />

Ele diz que o cultivo dessa soja deve ser controlado<br />

para impedir que o produtor a misture com outras<br />

variedades, porque há o risco de contaminação. “Essa<br />

soja não é uma commodity, que pode ser liberada para<br />

qualquer produtor. É uma soja especial, por isso a<br />

produção de grãos e sementes tem que ser<br />

controlada”, explica o pesquisador.<br />

A equipe já desenvolveu seis variedades sem<br />

sabor indicadas para o cultivo em Minas Gerais.<br />

Todas foram obtidas por meio de cruzamentos entre<br />

variedades comerciais e mutantes silvestres, que não<br />

tinham as enzimas responsáveis pelo sabor ruim.<br />

Nenhuma delas é transgênica, mas o Prof. Maurílio<br />

não descarta a possibilidade de usar a transgênia no


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Programa de Melhoramento da Qualidade da Soja -<br />

para outras características -, caso seja necessário.<br />

Mais proteína e isoflavona<br />

Melhorar o sabor do grão não é a única meta do<br />

Programa Soja. Há uma série de pesquisas em<br />

desenvolvimento nos laboratórios da UFV. Os<br />

pesquisadores pretendem aumentar o teor de proteína<br />

do grão e também de isoflavona - uma espécie de<br />

fitohormônio (hormônio de plantas) que contém<br />

propriedades terapêuticas. É a isoflavona que provoca<br />

a redução do nível do mau colesterol, ameniza os<br />

sintomas da menopausa, diminui o risco de diversos<br />

tipos de câncer, distúrbios cardiovasculares e, ainda,<br />

previne a osteoporose. Mas, de acordo com<br />

pesquisadores americanos, essas propriedades só<br />

funcionam quando a isoflavona está associada ao grão.<br />

Ao todo, são 20 variedades de soja em processo<br />

de aumento do teor da proteína. A meta dos<br />

pesquisadores é atender à exigência do mercado<br />

internacional: 45% no grão, 48% no farelo e 61% em<br />

farinhas desengorduradas sem casca, sendo que o<br />

comum é que esse teor oscile entre 35 e 40%. “Esse é<br />

o diferencial do nosso trabalho. Os programas de<br />

melhoramento genético tradicionais trabalham,<br />

prioritariamente, com produtividade e resistência a<br />

doenças da planta. Em nosso programa, o objetivo<br />

principal é melhorar o grão para uso na agroindústria”,<br />

diz o Prof. Maurílio.<br />

Em todas as variedades, o método adotado pelos<br />

pesquisadores é o melhoramento genético molecular.<br />

Ao contrário do melhoramento tradicional, que se<br />

concentra na pesquisa de campo, o melhoramento<br />

molecular é assistido por análises bioquímicas e<br />

moleculares. Nos laboratórios, são realizados<br />

experimentos de quantificação e qualificação do grão.<br />

A técnica também é usada para melhorar a qualidade<br />

do óleo de soja e eliminar componentes indesejáveis<br />

do grão, como os fatores antinutricionais dos açúcares<br />

que não são digeridos pelo homem, nem animais<br />

domésticos, e provocam mal-estar, formação de gases<br />

intestinais e diarréia.<br />

Segundo o Prof. Maurílio, o Programa procura<br />

solucionar os obstáculos enfrentados pela indústria<br />

alimentícia da soja - não só na alimentação humana,<br />

mas também animal -, como aumentar o teor dos<br />

nutrientes do grão e amenizar a ação de substâncias<br />

que encurtam a vida de prateleira dos produtos à base<br />

de soja ou encarecem a sua comercialização. Tudo isso,<br />

associado à produtividade e à resistência a doenças.<br />

Outra meta dos pesquisadores é disponibilizar a<br />

soja melhorada e seus derivados para a população. “A<br />

soja vem sendo divulgada cada vez mais e, hoje, as<br />

pessoas já sabem do seu valor nutricional. No entanto,<br />

é difícil encontrá-la no mercado”, lembra o<br />

pesquisador Newton Deniz Piovesan. Daí surgiu a<br />

idéia de incubar uma empresa. O projeto está sendo<br />

elaborado pela equipe do Prof. Maurílio e o objetivo<br />

é apresentar ao mercado, com o apoio da Incubadora<br />

de Empresas da UFV, não só as variedades da soja<br />

melhorada, mas também as suas formas de uso e de<br />

preparo. “No Brasil, a soja exerce um papel<br />

duplamente importante na alimentação humana.<br />

Primeiro, devido aos seus efeitos na saúde e, segundo,<br />

porque pode tornar a nossa alimentação mais<br />

nutritiva. Afinal, não há outra fonte vegetal com<br />

tamanha quantidade de proteína”, diz o pesquisador.<br />

Soja é Saúde<br />

Muitos países do mundo estudam a soja como<br />

um produto capaz de prevenir uma série de doenças,<br />

além de reabilitar doentes. Congressos médicos<br />

mundiais já incluem a soja em suas pautas de<br />

discussões e sinalizam a leguminosa como sinônimo<br />

de saúde.<br />

Pesquisas do mundo inteiro já confirmaram: as<br />

dietas ricas em fibras e com baixos teores de gordura<br />

saturada, aliadas a exercícios físicos e um estilo de<br />

vida saudável, podem auxiliar no controle da<br />

obesidade e proteger contra doenças<br />

cardiovasculares. O coração é comprovadamente o<br />

maior beneficiado pelo consumo de soja. Mas ele<br />

não é o único órgão favorecido. Produtos à base de<br />

soja reduzem o risco do câncer de mama e de<br />

próstata. Aliviam os sintomas da menopausa, como<br />

ondas de calor e suores noturnos. Ajudam a controlar<br />

o diabetes, a osteoporose e a aterosclerose.<br />

Inúmeras pesquisas realizadas pela área médica<br />

no Japão, China, Estados Unidos e Europa<br />

comprovam cientificamente os benefícios da soja na<br />

prevenção de doenças crônicas, tais como:<br />

Colesterol - Os altos níveis de colesterol<br />

sangüíneo e do LDL-colesterol estão associados a<br />

doenças cardiovasculares, como o infarto do<br />

miocárdio e a arterioesclerose. Pesquisas da American<br />

Heart Association -AHA (Associação Americana do<br />

Coração) têm demonstrado que a ingestão de<br />

proteínas de soja reduz as taxas de LDL-colesterol.<br />

Pacientes acompanhados durante quatro semanas,<br />

por médicos da AHA, que tiveram a adição de<br />

proteínas de soja nas suas dietas - sem outra alteração<br />

-, apresentaram uma redução nos níveis de LDLcolesterol<br />

em torno de 33%. Assim, a introdução de<br />

181


182<br />

pequena quantidade de proteína de soja na dieta diária,<br />

cerca de 20g que equivalem a 50 g de grãos, é suficiente<br />

para melhorar a hipercolesterolemias.<br />

Prevenção do câncer - Os grãos de soja contêm um<br />

composto singular denominado genisteína, também<br />

chamado de fitoestrógeno ou hormônio vegetal, que<br />

possui uma ação estrogênica moderada, que atua na<br />

prevenção de câncer relacionado com o estrogênio.<br />

Pesquisas realizadas no Japão, Estados Unidos e<br />

Europa têm mostrado que a ingestão diária de<br />

alimentos à base de soja, como tofu (queijo de soja),<br />

miso, natto e tempe (especialidades da cozinha<br />

oriental), reduz os riscos de câncer de mama e próstata<br />

em 50%.<br />

A soja e seus derivados também possuem uma<br />

ação preventiva quanto aos cânceres de cólon, reto,<br />

estômago e pulmão. Para que os tumores aumentem<br />

seu tamanho, é necessário o desenvolvimento de novos<br />

vasos sangüíneos. O bloqueio desse processo é visto<br />

como uma maneira potencialmente importante para<br />

controlar o câncer. A genisteína também inibe a<br />

formação desses vasos e, conseqüentemente, o<br />

desenvolvimento dos tumores cancerígenos.<br />

Osteoporose - Com o envelhecimento, as pessoas<br />

perdem cálcio, o que resulta, muitas vezes, em<br />

osteoporose. Na menopausa, esse processo se agrava<br />

com a deficiência hormonal ovariana. Devido sua ação<br />

estrogênica, a genisteína da soja pode manter a<br />

estrutura óssea. Exames de densiometria óssea<br />

comprovam que o consumo de soja retarda a<br />

osteoporose decorrente da idade, como também reduz<br />

significativamente a perda óssea total.<br />

Diabetes e outras doenças - As fibras de soja exercem<br />

importante papel na regulação dos níveis de glicose<br />

no sangue, pois retardam sua absorção. Essa redução<br />

na velocidade de absorção da glicose auxilia no<br />

controle de diabetes. Há evidências de que o consumo<br />

da soja tem efeito positivo no controle de outras<br />

doenças como hipertensão, litíase (cálculos biliares) e<br />

doenças renais.<br />

Soja alivia dores de trauma nos nervos<br />

Pode estar próximo o dia em que a soja, além de<br />

reforçar o nosso cardápio, será prescrita pelos médicos<br />

como eficaz remédio contra dores causadas por<br />

nervos lesionados. A conclusão é de cientistas da<br />

Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos,<br />

após estudo em parceria com laboratórios de Israel.<br />

“Apesar de o estudo ter sido feito, até agora, apenas<br />

com camundongos, podemos dizer que os<br />

mecanismos relacionados à dor daqueles animais e de<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

seres humanos são semelhantes”, explica o<br />

neurocirurgião James Campbell, coordenador da<br />

pesquisa. Por isso, os resultados obtidos com as<br />

cobaias poderão ser adaptados ao homem.<br />

“Descobrimos a atuação da soja ao comparar a reação<br />

à dor de camundongos criados em laboratórios de<br />

Israel e dos Estados Unidos”, informa. Em todos os<br />

animais foram provocadas lesões no nervo ciático, mas<br />

os de Israel mostraram menos resistência à dor. Após<br />

procurar as possíveis causas da diferença, os cientistas<br />

concluíram que a dieta era o fator provável. Os animais<br />

da experiência americana consumiram mais soja do<br />

que os outros. Quando foi retirada a soja da<br />

alimentação das cobaias americanas, elas também<br />

ficaram mais sensíveis. “Não identificamos, ainda, qual<br />

substância da soja age contra a dor”, adverte Campbell.<br />

“Quando obtivermos a resposta, poderemos explicar<br />

porque a dor varia de pessoa para pessoa e criar novas<br />

terapias.”<br />

Pesquisas apontam benefícios<br />

Pesquisas realizadas nos EUA e no Japão indicam<br />

que os benefícios da soja à saúde não se limitam ao<br />

coração e as artérias. O consumo de soja também ajuda<br />

a prevenir alguns tipos de câncer, a osteoporose, além<br />

de atenuar os desconfortos provocados pela<br />

menopausa.<br />

Autor de vários trabalhos sobre o assunto, o<br />

cientista Stephen Barnes, da Universidade do Alabama,<br />

nos EUA, diz que o isoflavonóide, fitormônio presente<br />

na soja, tem estrutura semelhante ao estrógeno.<br />

O organismo humano assimilaria o isoflavonóide<br />

da mesma forma que o estrógeno, com a vantagem de<br />

não favorecer o surgimento do câncer.<br />

Para a professora Jocelem Mastrodi Salgado,<br />

professora titular de nutrição humana e alimentos da<br />

Esalq-USP de Piracicaba, o homem do Terceiro Milênio<br />

vai buscar a preservação da saúde não mais na farmácia,<br />

mas nas feiras e nos supermercados.<br />

Pesquisadora desde 1976 dos chamados alimentos<br />

funcionais (aqueles que têm propriedades nutritivas e<br />

previnem doenças), Jocelem diz que o segredo da saúde<br />

está na dieta balanceada e no controle do peso.<br />

A professora da USP dá uma receita simples para<br />

quem pretende incluir a soja no cardápio do dia-a-dia.<br />

“Escolha uma soja de boa qualidade e deixe de<br />

molho na água. Depois, jogue fora a água e cozinhe os<br />

grãos em panela de pressão (uma parte de soja para<br />

duas de água) por aproximadamente 45 minutos.<br />

Quando estiver pronto, pegue três conchas de soja da<br />

panela, bata no liquidificador, e devolva essa mistura<br />

ao caldo da panela. Tempere como se fosse feijão.”


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

A soja que salva<br />

Tofu, missô e outros derivados da soja podem<br />

substituir o estrógeno no corpo das mulheres que<br />

chegaram à menopausa.<br />

Ondas de calor, desconforto generalizado,<br />

mudança de humor. Antes de se decidir pela reposição<br />

hormonal para combater os sintomas da menopausa,<br />

considere uma pequena mudança nos seus hábitos<br />

alimentares. Cientistas americanos concluíram que<br />

produtos derivados da soja são armas eficazes contra<br />

a falta de estrógeno no corpo. O melhor: sem efeitos<br />

colaterais.<br />

Na menopausa, quando os níveis de estrógeno<br />

no corpo diminuem em até 70%, muitas optam pela<br />

reposição hormonal feita com medicamentos. Esse<br />

tipo de tratamento aumenta os riscos de a mulher<br />

desenvolver um câncer de mama, por exemplo.<br />

Já os alimentos como queijo de soja (tofu), pasta<br />

de soja (missô), leite de soja e a própria soja contêm<br />

fitoestrôgeno, um composto vegetal que se liga aos<br />

receptores de estrógeno nas células e simula a ação<br />

do hormônio.<br />

Um estudo recente conduzido pela Bowman Gray<br />

School of Medicine, nos Estados Unidos, concluiu que<br />

os efeitos benéficos do fitoestrógeno se fazem sentir<br />

com um consumo diário de 20 gramas de proteína<br />

de soja. Mulheres com idades entre 45 e 55 anos que<br />

receberam o complemento alimentar afirmaram<br />

sentir desconforto com menos freqüência e<br />

intensidade do que as que não foram submetidas ao<br />

tratamento.<br />

A descoberta explica por que mulheres asiáticas<br />

sofrem muito menos com a menopausa. As<br />

japonesas, por exemplo, consomem entre 50 e 70<br />

gramas de soja ou derivados por dia.<br />

Uma nova pesquisa realizada na Universidade<br />

Berkeley pode melhorar ainda mais a reputação<br />

nutricional da soja. Um estudo publicado no<br />

periódico Cancer Research, mostra que a incidência de<br />

câncer de pele em camundongos diminui com a<br />

aplicação da lunasina, uma proteína da soja.<br />

Mais de dois anos atrás, os mesmos<br />

pesquisadores descobriram que a injeção do gene da<br />

lunasina em células cancerosas em cultura,<br />

interrompia a divisão celular. No seu mais recente<br />

trabalho, testaram a possibilidade da proteína<br />

prevenir células normais de se tornarem cancerosas<br />

tanto em cultura como em camundongos.<br />

No estudo, doses variadas de lunasina foram<br />

aplicadas em grupos de camundongos durante 19<br />

semanas. Esses grupos foram comparados a um<br />

grupo controle que não recebeu a proteína. Depois<br />

de expostos a cancerígenos químicos, o grupo que<br />

havia recebido a maior dose de lunasina (125<br />

microgramas duas vezes por semana) apresentou<br />

70% menos incidência de tumores do que o grupo<br />

controle.<br />

“No grupo que recebeu a dose mais alta, alguns<br />

camundongos desenvolveram tumores, mas eram<br />

menos tumores por camundongo e sugiram duas<br />

semanas depois dos surgidos no grupo controle,”<br />

segundo Ben O. de Lumen, professor de ciências<br />

nutricionais na UC Berkeley e pesquisador do estudo.<br />

A lunasina se prende a histonas deacetiladas.<br />

uma forma específica de proteína celular, que ajuda<br />

a encerrar as longas seqüências de DNA em espirais.<br />

A lunasina parece atingir as células antes destas<br />

histonas sofrerem acetilação, um passo crucial<br />

recentemente ligado a proliferação celular e a<br />

formação de câncer.<br />

“As mudanças químicas que ocorrem em células<br />

normais antes e durante a formação do câncer<br />

sinalizam a lunasina. Acreditamos que a lunasina é<br />

como um cão de guarda. Quando vê uma célula<br />

normal se transformando, ataca essa célula.” disse<br />

de Lumen.<br />

Segundo de Lumen, muitos agentes anti-câncer<br />

testados em laboratório nunca chegaram às farmácias<br />

e a pesquisa sobre a lunasina ainda é recente, mas<br />

esse estudo sugere diretrizes interessantes para<br />

estudos futuros e para a aplicação dessa proteína.<br />

Excesso de soja pode levar a pedras nos rins<br />

Apesar de todos os benefícios, uma nova<br />

pesquisa indica que a soja e alimentos a base de soja,<br />

podem promover pedras nos rins em pessoas com<br />

tendência a essa condição. As descobertas foram<br />

publicadas na edição de setembro do periódico<br />

Journal of Agricultural and Food Chemistry.<br />

Os pesquisadores avaliaram cerca de uma dúzia<br />

de variedades de soja em busca de oxalato, um<br />

composto que se liga ao cálcio nos rins, formando<br />

cálculos. Também avaliaram 13 tipos de alimentos a<br />

base de soja, encontrando oxalato suficiente em cada<br />

um deles para, potencialmente, causar problemas<br />

para pessoas com histórico de pedras nos rins, de<br />

acordo com Linda Massey, Ph.D., da Universidade<br />

do Estado de Washington.<br />

A quantidade de oxalato nos produtos<br />

comerciais, facilmente obscureceu a recomendação<br />

da Associação Dietética Americana de 10 miligramas<br />

por porção para pacientes com pedras nos rins, com<br />

alguns deles superando mais de 50 vezes o limite<br />

sugerido.<br />

183


184<br />

“Com base nessas informações, nenhum dos<br />

produtos a base de soja ou a soja em si, que foram<br />

testados, poderiam ser recomendados para o<br />

consumo de pacientes com histórico de pedras nos<br />

rins”, diz Linda.<br />

Ninguém havia examinado anteriormente<br />

alimentos a base de soja em busca de oxalato. Assim,<br />

os pesquisadores são os primeiros a identificar o<br />

oxalato em produtos comerciais, como o tofú, o<br />

queijo de soja e bebidas a base de soja. Outros<br />

alimentos, como espinafre e o ruibarbo, também<br />

contêm quantidades significativas de oxalato, mas não<br />

são amplamente consumidos.<br />

Durante os testes, os pesquisadores<br />

encontraram os níveis mais elevados de oxalato na<br />

proteína texturizada da soja, que contém até 638<br />

miligramas de oxalato a cada 85 gramas de porção.<br />

O queijo de soja apresentou o conteúdo mais<br />

reduzido, ao redor de 16 miligramas por porção. O<br />

espinafre, avaliado em estudos anteriores, apresenta<br />

cerca de 543 miligramas a cada porção<br />

(aproximadamente 62 gramas).<br />

O oxalato não pode ser metabolizado pelo<br />

corpo, sendo excretado através da urina. O composto<br />

não tem valor nutricional e se liga ao cálcio, formando<br />

uma massa (cálculos renais) que pode bloquear o<br />

sistema urinário. Mais pesquisas são necessárias para<br />

encontrar tipos de soja com menor quantidade de<br />

oxalato ou desenvolver um método de extração da<br />

substância.<br />

FDA reconhece valor da soja<br />

Que a soja é um alimento saudável os chineses<br />

e os japoneses já sabem há milênios. Mas agora a<br />

leguminosa vai ganhar respeito também no Ocidente.<br />

Um documento do FDA (agência dos EUA que<br />

regulamenta os remédios e os alimentos), reconheceu<br />

que o consumo de proteínas de soja (25 gramas<br />

diárias) contribui para a prevenção de doenças<br />

cardíacas e pode reduzir o nível de colesterol no<br />

sangue.<br />

O FDA foi mais longe: autorizou as empresas<br />

que produzem alimentos à base de soja a indicar esses<br />

benefícios no rótulo.<br />

Bastou o sinal verde da agência para as indústrias<br />

de alimentos dos EUA rechearem as páginas de jornais<br />

e revistas com anúncios de hambúrgueres, shakes,<br />

cereais e biscoitos, todos feitos com soja.<br />

“Agora é oficial. Soja é saudável para o coração”,<br />

proclamava a Boca Burger, uma empresa que produz<br />

hambúrguer vegetal, em anúncio de página inteira<br />

publicado, no USA Today, o jornal de maior circulação<br />

nos EUA.<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Para utilizar o health claim (a indicação de que o<br />

produto traz benefícios à saúde), os alimentos devem<br />

conter pelo menos 6,25 g de proteína de soja, além de<br />

baixos teores de gordura saturada.<br />

Com a resolução, o FDA referendou estudos que<br />

vêm sendo conduzidos desde a década de 70. Um deles,<br />

do cientista James Anderson, da Universidade de<br />

Kentucky (EUA), concluiu que a proteína de soja não<br />

apenas reduz o teor médio de colesterol no sangue como<br />

também altera o seu perfil, diminuindo o “mau”<br />

colesterol (LDL) e aumentando o “bom” (HDL).<br />

Outros trabalhos indicam ainda que um<br />

fitormônio presente na soja, o isoflavonóide, favorece<br />

as artérias, tornando-as mais flexíveis e contribuindo<br />

para a prevenção da aterosclerose.<br />

Oportunidades<br />

A resolução do FDA pode trazer oportunidades<br />

de negócios para o Brasil, segundo maior produtor de<br />

soja do mundo.<br />

“A notícia pode ter um efeito multiplicador e até<br />

provocar uma mudança nos hábitos alimentares”, diz<br />

César Borges de Sousa, presidente da Associação<br />

Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove).<br />

Por aqui, a soja ainda é vista como comida para o<br />

gado ou como um ingrediente empregado pela indústria<br />

alimentícia, para dar textura a produtos como biscoitos<br />

e salsichas e reduzir custos.<br />

Dos 30,5 milhões de toneladas de grãos que o<br />

país colheu na safra passada, 9,5 milhões de toneladas<br />

foram exportados. A maior parte da soja que fica por<br />

aqui é destinada à produção de óleo e de ração animal.<br />

“Apenas 1% da safra vai para o consumo humano<br />

direto”, diz José Zílio, diretor da Ceval.<br />

Para ele, o aval do FDA deve aumentar a demanda<br />

por alimentos feitos com soja, inclusive no mercado<br />

interno, embora o “health claim” não tenha validade no<br />

Brasil.<br />

“Há vários produtos que podem ser<br />

desenvolvidos, como achocolatados, derivados de carne<br />

magra (peito de peru, presunto, frangos), lácteos<br />

(iogurtes e tofus) e barras dietéticas.”<br />

No mercado externo, acrescenta Zílio, o Brasil<br />

pode aumentar a exportação de proteínas de soja<br />

(isoladas, concentradas e texturizadas), de maior valor<br />

agregado.<br />

“A proteína isolada de soja vale cerca de US$<br />

2.500/t no mercado internacional, enquanto a<br />

exportação de grãos rende apenas US$ 200/t”, diz ele.<br />

Este ano, as exportações de soja e derivados devem<br />

render ao país US$ 3,7 bilhões.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Soja conquista todos os públicos<br />

A soja comprovou, nas últimas três décadas, que<br />

chegou para ficar na mesa do consumidor brasileiro.<br />

Primeiro, foram os óleos e margarinas à base do<br />

produto, que aos poucos substituíram os derivados de<br />

amendoim, milho e algodão, até então as únicas<br />

alternativas à gordura animal. Hoje, a oleaginosa está<br />

presente em uma infinidade de produtos, desde os<br />

chamados funcionais — como leite de soja, bebidas<br />

com sucos de frutas, farinhas e complementos<br />

alimentares — até sopas industrializadas, bombons,<br />

sorvetes, iogurtes, hambúrgueres, pratos congelados,<br />

pães, massas e biscoitos.<br />

O primeiro incentivo ao ingresso da soja no país<br />

veio dos médicos, que passaram a prescrever óleos e<br />

margarinas à base do produto como alternativas mais<br />

saudáveis para o controle de problemas digestivos e do<br />

colesterol. Houve resistência no início, por causa do<br />

forte odor do óleo de soja, como lembra Omar Assaf,<br />

presidente da Apas (Associação Paulista de<br />

Supermercados). Mas a rápida evolução do processo<br />

industrial eliminou o problema e a soja avançou no<br />

mercado doméstico.<br />

Na última década, relata Assaf, os produtos<br />

preparados com a oleaginosa deixaram o nicho<br />

específico dos alimentos funcionais — como o leite de<br />

soja, indicado para quem tem intolerância à lactose – e<br />

conquistaram definitivamente consumidores de todos<br />

os perfis. “Tudo que vem da soja já tem uma rotulação<br />

cultural de mercado, de que se trata de produto saudável.<br />

Esse é o grande fator que alavancou e continuará<br />

impulsionando as vendas”, diz o presidente da Apas.<br />

Para completar, o grão encontrou no Brasil condições<br />

de solo e clima que permitiram o desenvolvimento<br />

excepcional da cultura, o que baixou consideravelmente<br />

os custos de produção. Resultado: um produto bom e<br />

barato, combinação perfeita para agricultores, industrias<br />

e consumidores.<br />

Um exemplo são as bebidas prontas para beber à<br />

base de soja com sabor de frutas, que já concorrem,<br />

em preço, com os sucos de frutas nas gôndolas dos<br />

supermercados. E o leite de soja, em pó ou em<br />

embalagem longa vida, disputa espaço com os leites<br />

especiais (enriquecidos com ferro e vitaminas).<br />

Soja: produto orgânico mais plantado no<br />

Brasil<br />

Dois estudos em fase de conclusão, estão<br />

mostrando o que é a cadeia de produção de alimentos<br />

orgânicos no Brasil. Levantamentos do Banco Nacional<br />

de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),<br />

estima que o Brasil tenha hoje 13,1 mil produtores<br />

certificados, com 227 mil hectares de terra dedicados à<br />

produção orgânica - 158 mil de plantações e 119 mil<br />

de pastagens.<br />

O tamanho do mercado brasileiro, no entanto,<br />

continua uma incógnita. O Departamento de<br />

Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que<br />

chega a US$ 100 milhões. “Mas há quem acredite<br />

que pode ser mais ser até US$ 300 milhões”, diz a<br />

professora Elizabeth Farina, do Programa de<br />

Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial<br />

(Pensa/USP), outro grupo que está estudando o<br />

assunto.<br />

Num ponto todos concordam: as vendas estão<br />

crescendo muito, tanto para consumo interno quanto<br />

para exportação, que hoje absorve 85% da produção<br />

nacional. Por ser um bom negócio, que paga prêmio<br />

médio de 30% em média aos produtores, vem atraindo<br />

muita gente disposta a participar. O estudo do<br />

BNDES, desmistifica alguns conceitos: não são os<br />

legumes e hortaliças os setores com maior volume de<br />

produção em orgânicos. A soja ganha com 31%,<br />

seguida de hortaliças (27%) e café (25%). A maior<br />

área plantada é com frutas (26%), depois cana (23%)<br />

e palmito (18%).<br />

Outro ponto esclarecido, desta vez no<br />

levantamento do Pensa/USP, feito com produtores<br />

paulistas, é que 48% dos agricultores estão no negócio<br />

por causa de preço e mercado promissor. Somente<br />

17% deles escolheram o cultivo orgânico por causa<br />

da preservação da natureza e sustentabilidade.<br />

Se os estados do Sul do País são os que<br />

concentram o maior número de produtores, a maior<br />

área plantada está em São Paulo (30 mil hectares) e<br />

no Ceará (21 mil hectares). “A diferença na proporção<br />

se dá principalmente por causa da área de cana em<br />

São Paulo e de caju no Ceará, culturas que precisam<br />

de muito espaço”, explica Paulo Faveret, gerente de<br />

Estudos de Agroindústria do BNDES.<br />

Os dados de crescimento do setor ainda são<br />

precários, mas Dennis Ditchfield, presidente do<br />

Instituto Biodinâmico (IBD), uma das principais<br />

certificadoras do Brasil, diz que o número de<br />

agricultores que usam os serviços de sua empresa<br />

cresceu 40% em 2001 e 35% no ano anterior. “Não<br />

sabemos o tamanho do mercado, mas é certo que<br />

hoje a demanda é bem maior que a oferta”, diz<br />

Ditchfield.<br />

A soja transgênica<br />

No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de<br />

Biossegurança (CTNBio) - vinculada ao Ministério da<br />

185


186<br />

Ciência e Tecnologia, deu parecer favorável,<br />

recentemente, à produção e comercialização da soja<br />

transgênica resistente a um herbicida, o Roundup Realy.<br />

Alguns estudiosos consideram que ainda falta<br />

promover um debate junto à sociedade sobre o que<br />

são produtos transgênicos e aprofundar as pesquisas<br />

sobre os efeitos causados ao meio ambiente e à saúde<br />

pelo seu cultivo e consumo. Outros acham que os<br />

transgênicos já chegam tarde. Discussões à parte, vale<br />

a pena saber os motivos que levaram a CTNBio dar o<br />

parecer favorável:<br />

A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de<br />

Biossegurança) jamais emite pareceres genéricos<br />

sobre, por exemplo “soja transgênica” ou “milho<br />

transgênico” em geral, mas unicamente sobre<br />

determinada linhagem de soja modificada para<br />

expressar determinadas características. As normas de<br />

biossegurança foram estabelecidas exatamente para<br />

orientar a análise e controle de risco. A conclusão<br />

favorável acerca da ausência de risco para a segurança<br />

ambiental decorrente do uso da soja Roundup Ready,<br />

pautou-se nos seguintes elementos:<br />

a) A soja é uma espécie predominantemente<br />

autopolinizável, cuja taxa de polinização cruzada é da<br />

ordem de 1%. Por tratar-se de espécie exótica, sem<br />

parentes silvestres no Brasil, não se verifica a<br />

possibilidade de ocorrência de polinização cruzada da<br />

soja transgênica com espécies silvestres no meio<br />

ambiente;<br />

b) Existem no Brasil pelo menos três espécies<br />

conhecidas de ervas daninhas naturalmente resistentes<br />

ao herbicida glifosato. A utilização do glifosato no país,<br />

ao longo das últimas duas décadas, não ensejou o<br />

aparecimento de outras espécies de ervas daninhas a<br />

ele resistentes. A introdução para o plantio do cultivar<br />

da soja transgênica Roundup Ready, não aumentaria a<br />

pressão de seleção sobre as espécies daninhas, em<br />

termos de concentração de produto/área.<br />

Composição química média da soja em grão<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

c) A soja é uma espécie domesticada, cuja<br />

sobrevivência depende em alto grau do ser humano.<br />

Não há razões científicas para se prever a sobrevivência<br />

de plantas derivadas da linhagem em questão, fora de<br />

ambientes agrícolas. Além disso, na ausência de<br />

pressão seletiva – no caso o uso do herbicida glifosato<br />

–, a expressão do gene inserido não confere à planta<br />

vantagem adaptativa.<br />

d) A utilização do herbicida glifosato, de uso<br />

rotineiro nas lavouras de soja no Brasil, não teve efeito<br />

negativo no processo de fixação biológica de<br />

nitrogênio, seja relativamente ao comportamento dos<br />

cultivares de soja expostos ao herbicida, seja com<br />

respeito ao comportamento dos microrganismos<br />

fixadores de nitrogênio. Além disso, o gene marcador<br />

nptii, de resistência a antibiótico, não foi transferido<br />

para a espécie transgênica.<br />

e) Ainda quanto à questão ambiental, não há<br />

nenhum efeito documentado de variações de<br />

comportamento populacional de insetos benéficos ou<br />

de insetos pragas decorrente do uso desse herbicida.<br />

f) Além da avaliação da segurança ambiental, a<br />

CTNBio concluiu que, salvo com relação aos riscos<br />

inerentes ao consumo da soja para a parcela da<br />

população que apresenta reações alérgicas à ingestão<br />

da soja em geral, o consumo da variedade<br />

geneticamente modificada não consiste risco para a<br />

segurança alimentar, tanto na dieta de humanos,<br />

quanto na dieta de animais.<br />

Fontes: EMBRAPA, IBGE, EMATER, USP,<br />

BNDES, BBC, UNESP, UNIFESP, UNICAMP,<br />

CTNBio, Instituto de Biotecnologia Aplicada a<br />

Agropecuária (BIAGRO/UFV), American Heart<br />

Association (AHA), FDA (Food and Drugs<br />

Administration), Folha de São Paulo, Archives of Internal<br />

Medicine, American Journal of Clinical Nutrition,<br />

Instituto Agronômico de Campinas (IAC).<br />

Dossiê realizado por Ricardo Augusto da S. Ferreira<br />

Minerais Vitaminas Fibra Alimentar *<br />

Energia Umidade Proteínas Lipídios Carboidratos Cinza Ca P Fe Na K Mg Zn Cu A E B1 B2 Niacina Solúveis Não Solúveis Totais<br />

Açucares,<br />

fibras<br />

H20 H20<br />

Kcal G/100g g/100g g/100g mg/100g ug/100g u/100g mg/100g g/100g<br />

417 11,0 38,0 19,0 23,0|4,0 5,0 240 580 9,4 1 1900 220 3200 980 12 1,8 0,83 0,30 2,2 1,8 15,3 17,1<br />

* A fibra alimentar é constituída pelo teor das fibras propiamente ditas e pelo teor dos carboidratos insolúveis<br />

Fonte: kawaga, 1995<br />

kagawa, A. ed. Standard table of food composition in Japan. Tokyo: University of Nutrition for women, 1995. p. 104-105.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Notícias da Profissão<br />

Ética e responsabilidade técnica<br />

O compromisso pessoal, com a profissão e a sociedade<br />

Segundo Daniel Romero Muñoz e Marcos de<br />

Almeida (in: Bioética – 1995), o profissional da área<br />

de saúde tem responsabilidades para consigo mesmo,<br />

para com o paciente e para com terceiros – sociedade,<br />

profissão e, até mesmo, com o meio ambiente. A<br />

questão da responsabilidade profissional é discutida<br />

no capítulo 6 da referida publicação, onde os autores<br />

consideram que a responsabilidade para consigo<br />

mesmo é o compromisso do indivíduo com sua<br />

realização pessoal e com seus princípios de verdade.<br />

A responsabilidade para com o paciente, no sentido<br />

autógeno, são os deveres que o profissional se impõe<br />

com relação ao seu paciente.<br />

Ampliando a abordagem dos autores sobre<br />

responsabilidade com a sociedade para toda a área de<br />

saúde, poderíamos dizer que esta, quando de caráter<br />

autógeno, é a tomada de consciência de que o<br />

profissional não é tão somente um ser que reproduz a<br />

ciência, mas um agente gerador ou transformador de<br />

valores sociais, com influência política decisiva na vida<br />

da comunidade a que pertence.<br />

Para José Fernández Tejada (palestra para o<br />

Encontro de Nutricionistas, Anerj, 29/05/96), a<br />

ciência como atividade intelectual surgiu quando se<br />

perguntou pelo porquê da natureza. Porém, ao limitarse<br />

ao como fazer, foi-se afastando do que as coisas<br />

são. “Transformamos nosso saber num afazer<br />

mecânico do mundo dos fenômenos, enquanto a<br />

natureza e o homem são coisas reais que se manifestam<br />

numa multiplicidade de efeitos”. Como poderia se<br />

dar então este lidar do homem com a dinâmica social<br />

e da natureza? Entendemos que a recomendação de<br />

Fernández Tejada é de uma postura de encontro com<br />

as questões que a realidade nos coloca, e não de<br />

confronto, de coisas a serem feitas e não de problemas<br />

a serem solucionados. “O homem, ao abrir-se à<br />

realidade nas suas múltiplas possibilidades, vai escolher<br />

a melhor delas, através de normas legítimas, para que<br />

sua vida seja boa e justa. (...) Estará aberto a outras<br />

realidades e a si próprio (...) através dos mais variados<br />

atos intelectivos e volitivos. Entretanto, só será pessoa<br />

se tais atos forem assumidos como de autoria própria<br />

e, portanto, inalienáveis. (..) Desta forma, o homem é<br />

pessoa não porque possa se conhecer, mas porque se<br />

pertence plenamente. Assim, esta propriedade pessoal<br />

abre-se e atualiza-se nos seus atos, como o eu que é<br />

agente, autor e ator de sua vida”.<br />

Aplicando esta autoria à prática profissional,<br />

citamos a opinião de Rita Maria Monteiro Goulart<br />

(mestre em Saúde Pública – Faculdade de Saúde<br />

Pública/USP; integrou a Comissão de Fiscalização do<br />

CRN-3), para quem o exercício da profissão sempre<br />

exigirá uma visão de responsabilidade, independente<br />

de qualquer formalização perante o Conselho<br />

Regional. “O responsável técnico assegura a realização<br />

adequada de todas as atribuições relacionadas a um<br />

determinado produto ou serviço”. Ainda segundo Rita<br />

Maria Monteiro, a responsabilidade técnica se reveste<br />

de especial importância quando o produto ou serviço<br />

a ela vinculada envolve riscos para a saúde ou<br />

integridade física de um indivíduo ou coletividade,<br />

tornando-se necessário o estabelecimento de controles<br />

sistematizados que assegurem a qualidade do serviço.<br />

“Segundo este enfoque, pode-se observar que a<br />

responsabilidade técnica deve ser assumida como uma<br />

questão de ética” (revista Nutrição em Pauta, coluna<br />

187


188 Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Legislação). É a ética que nos leva a perceber, processar<br />

e encaminhar nossos entendimento e atitude frente<br />

ao mundo que nos cerca. É a ética que estabelece<br />

nossas relações, juízos de valor e visão de mundo.<br />

Pode-se concluir, então, que o comportamento do<br />

profissional e as relações advindas daí nortearão para<br />

o conjunto da sociedade o perfil da profissão e o seu<br />

compromisso social. Ou seja, a partir do entendimento<br />

e relacionamento estabelecido entre o profissional e a<br />

sociedade é que se identificará este responsável técnico<br />

como alguém comprometido com a saúde, a nutrição<br />

e a categoria.<br />

Num momento em que o país passa por uma<br />

crise - não apenas econômica, mas também de<br />

descrédito em suas instituições, com reflexos das<br />

pressões de um mundo globalizado e marcado pelo<br />

individualismo – o nutricionista tem o compromisso<br />

de se colocar em defesa da qualidade de vida e de<br />

trabalho, assumindo-se como autor de um processo<br />

de transformação.<br />

Não tomar para si este compromisso é se omitir<br />

diante da possibilidade de escolha por um Brasil<br />

diferente.<br />

A revisão do Código de Ética do Nutricionista<br />

A ética permeia as atitudes e está presente,<br />

portanto, em cada momento da vida profissional.<br />

Não sendo um conceito estanque, deve refletir a<br />

dinâmica social e a evolução da profissão. Por isto,<br />

discutir neste momento o Código de Ética do<br />

Nutricionista, além de atender a uma proposta do<br />

CFN, traz a oportunidade de aprimorar a prática<br />

profissional, em consonância com uma realidade<br />

que exprime - em dados estatísticos e nas cenas que<br />

se vê nas ruas - uma necessidade de mudança.<br />

Na 4 a Região (Rio de Janeiro, Minas Gerais e<br />

Espírito Santo), o Conselho Regional está propondo<br />

que esta discussão seja ampla, resultando em um<br />

documento que expresse a identidade do<br />

nutricionista. Contando com o engajamento da<br />

categoria, o CRN-4 estabeleceu e divulgou um<br />

cronograma para o envio das contribuições dos<br />

profissionais, as quais estão sendo analisadas e<br />

compiladas pela Comissão de texto. Compõem esta<br />

comissão: Glória Maria Roque Nascimento -<br />

nutricionista da área de alimentação coletiva; Márcia<br />

Lessa - representante da Comissão de Ética do<br />

Conselho; Maria Conceição da Rocha Diniz -<br />

nutricionista do Ministério da Saúde, ex-Conselheira<br />

Diretora do CRN-4 e CFN; Mônica do Valle -<br />

professora da UniRio, ex-Conselheira Diretora do<br />

CRN-4 - e Nadima Zeidan - chefe do Serviço de<br />

Nutrição do Hospital Municipal Salles Neto, ex-<br />

Conselheira Diretora do CRN-4.<br />

O material preparado por este grupo será<br />

apresentado em um seminário, aberto a todos os<br />

profissionais, a se realizar no dia 19 de novembro,<br />

no Rio de Janeiro (hora e local serão informados<br />

posteriormente, através de correspondência). Nos<br />

dias 7 e 8 de dezembro, o CFN reunirá todos os<br />

representantes indicados pelos Conselhos Regionais<br />

de Nutricionistas no Seminário Nacional de Revisão<br />

do Código de Ética, quando serão realizados os<br />

trabalhos de conclusão das análises e redação do<br />

novo texto.


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

Normas de publicação Nutrição Brasil<br />

A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />

periodicidade bimestral e está aberta para a publicação<br />

e divulgação de artigos científicos das áreas<br />

relacionadas à Nutrição.<br />

Os artigos publicados em Nutrição Brasil<br />

poderão também ser publicados na versão eletrônica<br />

da revista (Internet) assim como em outros meios<br />

eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no<br />

futuro, sendo que pela publicação na revista os autores<br />

já aceitem estas condições.<br />

A revista Nutrição Brasil assume o “estilo<br />

Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts<br />

submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;<br />

336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê<br />

Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com<br />

as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o<br />

texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes<br />

no site do International Committee of Medical Journal<br />

Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada<br />

de outubro de 2001.<br />

Os autores que desejarem colaborar em alguma<br />

das seções da revista podem enviar sua contribuição<br />

(em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação,<br />

sendo que fica entendido que isto não implica na<br />

aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />

O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir<br />

trocas ou retorno de acordo com a circunstância,<br />

realizar modificações nos textos recebidos; neste<br />

último caso não se alterará o conteúdo científico,<br />

limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />

1. Editorial<br />

Trabalhos escritos por sugestão do Comitê<br />

Científico, ou por um de seus membros.<br />

Extensão: Não devem ultrapassar três páginas<br />

formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte<br />

English Times (Times Roman) com todas as<br />

formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />

sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais<br />

que dez referências.<br />

2. Artigos originais<br />

Serão considerados para publicação, aqueles não<br />

publicados anteriormente, tampouco remetidos a<br />

outras publicações, que versem sobre as áreas<br />

relacionadas à Nutrição.<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />

12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />

Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />

texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no<br />

formato Excel/Word.<br />

Figuras: Considerar no máximo 8 figuras,<br />

digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />

editados em Power-Point, Excel, etc.<br />

Bibliografia: É aconselhável no máximo 50<br />

referências bibliográficas.<br />

Os critérios que valorizarão a aceitação dos<br />

trabalhos serão o de rigor metodológico científico,<br />

novidade, originalidade, concisão da exposição, assim<br />

como a qualidade literária do texto.<br />

3. Revisão<br />

Serão os trabalhos que versem sobre alguma das<br />

áreas relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê<br />

Científico, bem como remetida espontaneamente pelo<br />

autor, cujo interesse e atualidade interessem a<br />

publicação na revista.<br />

Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o<br />

mesmo dos artigos originais.<br />

4. Comunicação breve<br />

Esta seção permitirá a publicação de artigos<br />

curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores<br />

apresentem observações, resultados iniciais de estudos<br />

em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos<br />

já editados na revista, com condições de argumentação<br />

mais extensa que na seção de cartas do leitor.<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a<br />

189


190<br />

três páginas, formato A4, fonte English Times (Times<br />

Roman) tamanho 12, com todas as formatações de<br />

texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em<br />

Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou<br />

que possam ser editados em Power Point, Excel, etc<br />

Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15<br />

referências bibliográficas.<br />

5. Resumos<br />

Nesta seção serão publicados resumos de<br />

trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras<br />

revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive<br />

traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />

6. Correspondência<br />

Esta seção publicará correspondência recebida,<br />

sem que necessariamente haja relação com artigos<br />

publicados, porém relacionados à linha editorial da<br />

revista.<br />

Caso estejam relacionados a artigos<br />

anteriormente publicados, será enviada ao autor do<br />

artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.<br />

Texto: Com no máximo duas páginas A4, com<br />

as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem<br />

tabelas ou figuras.<br />

Preparação do original<br />

1. Normas gerais<br />

1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados<br />

em processador de texto (Word, Wordperfect, etc),<br />

em página de formato A4, formatado da seguinte<br />

maneira: fonte Times Roman (English Times)<br />

tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais<br />

como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />

1.2 Numere as tabelas em romano, com as<br />

legendas para cada tabela junto à mesma.<br />

1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de<br />

acordo com as especificações anteriores.<br />

As imagens devem estar em tons de cinza, jamais<br />

coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica –<br />

300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados<br />

e nos formatos .tif ou .gif.<br />

1.4 As seções dos artigos originais são estas:<br />

resumo, introdução, material e métodos, resultados,<br />

Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser<br />

o responsável pela tradução do resumo para o inglês<br />

e também das palavras-chave (key-words). O envio<br />

deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,<br />

zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos<br />

enviados por correio em mídia magnética (disquetes,<br />

etc) anexar uma cópia impressa e identificar com<br />

etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo,<br />

data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como<br />

o processador de texto utilizado e outros programas<br />

e sistemas.<br />

2. Página de apresentação<br />

A primeira página do artigo apresentará as<br />

seguintes informações:<br />

• Título em português e inglês.<br />

• Nome completo dos autores, com a<br />

qualificação curricular e títulos acadêmicos.<br />

• Local de trabalho dos autores.<br />

•Autor que se responsabiliza pela correspondência,<br />

com o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />

• Título abreviado do artigo, com não mais de<br />

40 toques, para paginação.<br />

• As fontes de contribuição ao artigo, tais como<br />

equipe, aparelhos, etc.<br />

3. Autoria<br />

Todas as pessoas consignadas como autores<br />

devem ter participado do trabalho o suficiente para<br />

assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />

O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />

contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />

desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados;<br />

b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma<br />

parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a<br />

aprovação definitiva da versão que será publicada.<br />

Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />

a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção<br />

de recursos ou na coleta de dados não justifica a<br />

participação como autor. A supervisão geral do grupo<br />

de pesquisa também não é suficiente.<br />

4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />

Key-words)<br />

Na segunda página deverá conter um resumo<br />

(com no máximo 150 palavras para resumos não<br />

estruturados e 200 palavras para os estruturados),<br />

seguido da versão em inglês.<br />

O conteúdo do resumo deve conter as seguintes


Nutrição Brasil - setembro/outubro 2002;1(3)<br />

informações:<br />

• Objetivos do estudo.<br />

• Procedimentos básicos empregados<br />

(amostragem, metodologia, análise).<br />

• Descobertas principais do estudo (dados<br />

concretos e estatísticos).<br />

• Conclusão do estudo, destacando os aspectos<br />

de maior novidade.<br />

Em seguida os autores deverão indicar quatro<br />

palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a<br />

indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os<br />

termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias<br />

médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />

Medicus ou, no caso de termos recentes que não<br />

figurem no MeSH, os termos atuais).<br />

5. Agradecimentos<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />

auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />

governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />

devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />

referências, em uma secção especial.<br />

6. Referências<br />

As referências bibliográficas devem seguir o<br />

estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes.<br />

As referências bibliográficas devem ser numeradas por<br />

numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em<br />

ordem na qual aparecem no texto, seguindo as<br />

seguintes normas:<br />

Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,<br />

letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo,<br />

ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo),<br />

ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local<br />

da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano<br />

da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />

Exemplo:<br />

1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In:<br />

Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology,<br />

diagnosis and management. 2 nd ed. New-York: Raven<br />

press; 1995. p.465-78.<br />

Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)<br />

autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos<br />

nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título<br />

da revista ano de publicação seguido de ponto e<br />

vírgula, número do volume seguido de dois pontos,<br />

páginas inicial e final, pon<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,<br />

auxílio financeiro e material, incluindo auxílio<br />

governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos<br />

devem ser inseridos no final do artigo, antes as<br />

referências, em uma secção especial.<br />

Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Atlantica Editora<br />

Rua Conde Lages, 27 - Glória<br />

20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />

Tel: (21) 2221 4164<br />

E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br<br />

191


NOVEMBRO<br />

2002<br />

7 a 9 de novembro<br />

III o Congresso Internacional de<br />

Nutrição, Longevidade e Qualidade<br />

de Vida<br />

Sheraton Mofarrej, São Paulo - SP<br />

Informações: Núcleo (11) 5055-8061<br />

10 a 13 de novembro<br />

III o Conferência Regional Latino-<br />

Americana de Promoção da Saúde e<br />

Educação para Saúde<br />

Memorial da América Latina, São Paulo<br />

Informações : (11) 3079-6724<br />

www.fsp.usp.br/cepedoc<br />

17 de novembro<br />

5ª Campanha Nacional Gratuita de<br />

Diabetes, de Detecção, Orientação,<br />

Educação e Prevenção das<br />

Complicações<br />

Colégio Madre Cabrini. Rua Madre Cabrini,<br />

36 - Vila Mariana - São Paulo - SP<br />

Organização: ANAD<br />

Informações: (11) 55726559<br />

DEZEMBRO<br />

5 a 7 de dezembro<br />

VII o Congresso Brasileiro de Nutrologia<br />

I o Simpósio interdisciplinar de apoio<br />

nutricional para enfermeiros,<br />

nutricionistas, psicólogos, professores<br />

de educação física e fisioterapeutas<br />

Othon Palace Hotel, Salvador – BA<br />

Informações: ABRAN (Associação<br />

Brasileira de Nutrologia)<br />

Tel: (17) 523 9732 e 523 3645<br />

E-mail: abran.sp@ig.com.br<br />

Calendário de eventos<br />

ABRIL<br />

2003<br />

26 a 30 de abril<br />

6 th European Congress of Endocrinology<br />

Lyon, França<br />

Informações: W.M. Wiersinga<br />

Department of Endocrinology &<br />

Metabolism<br />

Academic Medical Center F5-171<br />

Meibergdreef 9<br />

1105 AZ Amsterdam - The Netherlands<br />

Tel.: 31 20 566 6071<br />

Fax: 31 20 691 7682<br />

w.m.wiersinga@amc.uva.nl<br />

17 a 21 de abril<br />

V o Congresso Brasileiro Pediátrico de<br />

Endocrinologia e Metabologia<br />

V o Cobrapem<br />

Mar Hotel, Recife, Pernambuco<br />

Presidente: Prof a . Dr a . Elcy Falcão<br />

Informações: (81) 3423-1300<br />

E-mail: andrealatache@assessor5pe.com.br<br />

MAIO<br />

29 de maio a 1 de junho<br />

12 th European Congress on Obesity<br />

Helsinki, Finland<br />

Informações: Dr. Mikael Fogelholm<br />

UKK Institute for Health Promotion<br />

Research, POB 30, 33501 Tampere,<br />

Finland<br />

Tel: + 358 3 2829 201<br />

Fax: + 358 3 2829 559<br />

e-mail: mikael.fogelholm@uta.fi<br />

JUNHO<br />

14 a 17 de junho<br />

63 th Annual Scientific Sessions of the<br />

American Diabetes Association<br />

New Orleans, Louisiana<br />

Informações: +1 800 232 3472<br />

E-mail: meetings@diabetes.org<br />

www.diabetes.org<br />

AGOSTO<br />

24 a 29 de agosto4 a 29 de agosto<br />

18 th Internacional Diabetes Federation<br />

Congress<br />

Paris, França<br />

Informações: Prof. Dr. Gerard<br />

Cathelineau, Hopital Saint-Louis, 1<br />

avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris,<br />

França<br />

Tel : +33 1 4249 9697<br />

www.idf.org<br />

2004<br />

XIV th International Congress of<br />

Dietetics<br />

Chicago, EUA<br />

Informações:<br />

2004Congress@catright.org<br />

Fax: 312/899-4772<br />

SETEMBRO<br />

2005<br />

19 a 24 de setembro<br />

18 th International Congress of Nutrition<br />

Durban, África do Sul<br />

Informações:<br />

jlochner@mcd4330medunsa.ac.za


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

EDITORIAL 195<br />

Quem tem fome, tem pressa,<br />

Celeste Elvira Viggiano<br />

ARTIGOS ORIGINAIS 196<br />

Aplicação de método de custeio ABC em uma unidade de alimentação<br />

e nutrição – restaurante industrial, Cilene da Silva Gomes Ribeiro<br />

Perfil do consumo alimentar em pacientes com bulimia nervosa em São Paulo,<br />

Marle Alvarenga, Sonia Tucunduva Philippi<br />

Teores de colesterol e lipídeos totais em maçunin<br />

(Anomalocardia brasiliana) cru e cozido, Giselda Macena Lira, Antônio Euzébio de Goulart Sant¢ana,<br />

Daniela Cristina de Souza Araújo, Fabiana Rodrigues de Oliveira, Maria de Lourdes da Silva Neta<br />

A influência do horário de trabalho no consumo alimentar<br />

de trabalhadores em turnos, Iara Cecília Pasqua, Cláudia Roberta de Castro Moreno<br />

REVISÕES 223<br />

Aleitamento materno e desmame - aspectos históricos e perspectivas futuras,<br />

Mônica Glória Neumann Spinelli, Sônia Buongermino de Souza<br />

CARTA AO EDITOR 228<br />

Cálcio, um nutriente necessário para todas as idades,<br />

Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho<br />

CONGRESSOS 230<br />

Potencial nutricional e funcional dos alimentos geneticamente modificados,<br />

Aluízio Borém, Neuza Maria Brunoro Costa<br />

Índice<br />

Volume 1 número 4 - novembro/dezembro de 2002<br />

DOSSIÊ ALIMENTOS: A batata 234<br />

RESUMOS DE TRABALHOS 245<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO 250<br />

EVENTOS 252<br />

193


194<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Conselho científico<br />

Profa . Dra . Ana Maria Pitta Lottenberg (USP – São Paulo)<br />

Profa . Dra . Cintia Biechl Serôa da Motta (UVA – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Elizabeth Accioly (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Eronides Lima da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Josefina Bressan Resende Monteiro (UFV – Minas Gerais)<br />

Profa . Dra . Lúcia Marques Alves Vianna (UNIRIO / CNPq)<br />

Profa . Dra . Lucia de Fatima Campos Pedrosa Schwazschild (UFRN - Rio Grande do Norte)<br />

Profa . Dra . Maria Cristina de Jesus Freitas (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Rejane Andréa Ramalho Nunes da Silva (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Dra . Rosemeire Aparecida Victoria Furumoto (UNB - Brasília)<br />

Profa . Dra . Silvia Maria Franciscato Cozzollino (USP – São Paulo)<br />

Profa . Dra . Tânia Lúcia Montenegro Stamford (UFPE - Pernambuco)<br />

Grupo de assessores<br />

Profa . Ms. Lúcia Andrade (UFRJ – Rio de Janeiro)<br />

Profa . Ms. Rita de Cássia de Aquino (USJT – São Paulo)<br />

Profa . Ms. Rita Maria Monteiro Goulart (USJT- São Paulo)<br />

Profa . Ms. Ana Cristina Miguez Teixeira Ribeiro (PUC-PR)<br />

Profa . Ms. Cilene da Silva Gomes Ribeiro (PUC-PR)<br />

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Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Segurança alimentar: Esta é a palavra de<br />

ordem. Não há dignidade, respeito e cidadania se<br />

houver fome. Não podemos e não devemos ser um<br />

país de desvalidos. Afinal, um país que já vislumbrou<br />

ser o celeiro do mundo não se permite mais ser lugar<br />

de fome e desnutrição.<br />

Chamo os colegas para a reflexão: Se juramos<br />

atender ao ser humano em suas necessidades,<br />

principalmente nutricionais e alimentares, porque nos<br />

omitimos perante a fome? Ser nutricionista é ser antes<br />

de tudo, o profissional comprometido com questões<br />

de saúde, nutricionais e de qualidade de vida, e isto<br />

envolve posições políticas e técnicas, que revertam em<br />

favor da população do país, da comunidade que<br />

EDITORIAL<br />

Quem tem fome, tem pressa<br />

Prof a. Ms. Celeste Elvira Viggiano, editor científico<br />

atendemos, e mesmo daquele indivíduo que está à<br />

frente de nossa mesa no consultório.<br />

Nos deparamos como uma situação única em<br />

toda a nossa história: O chamamento para<br />

arregaçarmos as mangas e engajarmos na luta contra<br />

a fome. Este é o momento de enviarmos ao senado,<br />

às assembléias legislativas e a presidência da República,<br />

nossas sugestões, disponibilizarmos nossos<br />

conhecimentos técnicos e mostrarmos para o que<br />

viemos, pois o Brasil precisa de uma classe profissional<br />

comprometida com as questões sociais e da saúde, e<br />

afinal como dizia nosso inesquecível Herbert de Souza,<br />

o Betinho: “Quem tem fome, tem pressa”.<br />

Boa leitura!<br />

195


196<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Aplicação de método de custeio ABC<br />

em uma unidade de alimentação<br />

e nutrição – restaurante industrial<br />

Cost method application ABC in alimentation and<br />

nutrition unit – corporative restaurant<br />

Cilene da Silva Gomes Ribeiro<br />

Ms. Nutricionista pela UFPR, Especialista em Administração Industrial pela UFPR, Especialista em Qualidade e Produtividade pela<br />

FAE/PR, Especialista em Qualidade de Alimentos pelo CBES/IPCE, Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela FESP/PR,<br />

Mestre em Engenharia de Produção pela UFSC, Professora Universitária da PUC/PR, Uniandrade e Cesumar para os cursos de Nutrição<br />

e Turismo, Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação em Nutrição do CBES/IPCE, Coordenadora da Agência Júnior de Nutrição do<br />

Curso de Nutrição da PUC/PR e Cesumar, Coordenadora de Estágios da Uniandrade, Consultora em UANs<br />

Resumo<br />

O presente trabalho tem como objetivo analisar variantes de sistemas de custos de restaurantes de coletividade, a partir<br />

de metas e regras pré-definidas, passando pelo seu desenvolvimento e processo, bem como o resultado final, e análise dos<br />

mesmos, aplicando em especial o sistema de custeio baseado em atividades (ABC).<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Custeio baseado em atividades, controle de custo, unidades de alimentação e nutrição.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

The aim of this work was to analyze costs systems parameters in collectivities restaurants , starting from goals and rules<br />

pre-defined, passing by development and process, as well as the final result, and analysis of the same, applying especially the<br />

system of costbased on activities (ABC).<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Cost based on activities, cost based, units of alimentation and nutrition.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 9 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Rua Augusto Stembock, 492/202 bl.22, Uberaba 81550-080 Curitiba PR, Tel: (41)<br />

3692905, E-mail: cilenex@hotmail.com ou cilene@netpar.com.br


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Introdução<br />

Muitas questões e hipóteses giram em torno da<br />

caracterização e conceituação do pouco conhecido e<br />

complexo mercado das empresas prestadoras de<br />

serviços de alimentação de coletividade, negócios estes<br />

caracterizados como Unidades de Alimentação e<br />

Nutrição (UANs), independentemente do segmento<br />

que estão inseridos. Essas questões vão desde a<br />

definição, especificação e segmentação dos hábitos<br />

alimentares dos diferentes tipos de consumidores ou<br />

clientes, passam pela disponibilidade e acordo com<br />

fornecedores em fornecer e investir em novos<br />

produtos e tecnologias, a capacidade orçamentária das<br />

empresas até a mensuração de todas as suas perdas e<br />

dos seus desperdícios.<br />

Nenhum sistema de custo é capaz de resolver<br />

todos os problemas, porque para atingir sua capacidade<br />

de funcionar como um instrumento de administração,<br />

este precisa desenvolver-se e aprimorar-se [4]. Mas, é<br />

preciso implementar metodologias de análise de<br />

custos, ou adaptar métodos de custeio já tão utilizados<br />

nas áreas fabris, a fim de tornar este tão desconhecido<br />

e complexo segmento em nicho de lucratividade<br />

assegurada.<br />

Diferenças consideráveis entre a indústria em<br />

geral e a de serviços são, atualmente, percebidas<br />

[31,32]. O segmento de produção ou transformação<br />

de alimentos tem conceitos e características<br />

diferenciadas e extremamente complexas, que<br />

dificultam a mensuração de seus custos e intervenções<br />

sobre o mesmo. Mesmo que a base de cálculos e os<br />

demonstrativos de resultados sejam realizados de<br />

forma igual ou similar, as características e<br />

interpretações se fazem de forma diferenciada e<br />

inusitada.<br />

Se analisarmos que dentro da área fabril tem-se<br />

a produção de um número X de produtos, com linhas<br />

de produção específicas e bem distribuídas, com<br />

procedimentos e funcionários direcionados, estes<br />

sempre com programações de produção acordadas à<br />

procura, com possibilidades de estocagem e com<br />

saídas de produtos programados e que, mesmo com<br />

pequena diversidade de processos, há muita dificuldade<br />

em se atribuir métodos de custeio, constata-se que a<br />

área de transformação de alimentos ou de restauração<br />

é muito complexa em todos os sentidos. Enquanto<br />

na indústria de produtos duráveis a produção é<br />

limitada, padronizada e definida, muitas vezes<br />

totalizando, no máximo, 20 produtos por mês, a área<br />

de restauração se caracteriza por produções ilimitadas,<br />

com dificuldade de padronizações e raramente<br />

definidas, além de produzir, em média, 20 produtos<br />

diferentes por dia, sem equipamentos, funcionários e<br />

linhas de produção específicas para cada produto.<br />

Por si só, estas constatações podem parecer<br />

irrelevantes. Entretanto, conseqüências importantes<br />

decorrem daí, permitindo abordagens práticas na<br />

formação de um custo “padrão” das mercadorias e<br />

serviços vendidos e, principalmente, na formação dos<br />

preços de venda de cada um dos diferentes produtos<br />

ofertados.<br />

O presente trabalho tem como objetivo analisar<br />

variantes de sistemas de custos de restaurantes de<br />

coletividade, a partir de metas e regras pré-definidas,<br />

passando pelo seu desenvolvimento e processo, bem<br />

como o resultado final e análise dos mesmos, aplicando<br />

em especial o sistema de custeio baseado em atividades<br />

(ABC).<br />

Segundo Bornia [4], “das informações necessárias para<br />

o efetivo auxilio ao controle e avaliação da empresa moderna, a<br />

mensuração dos desperdícios e das atividades que não agregam<br />

valor aos produtos é das mais importantes ferramentas para<br />

controle de custos. Através da identificação e aplicação de<br />

ferramentas, é possível tomar atitudes corretivas, ações em prol<br />

da melhoria contínua e otimização de resultados”.<br />

O trabalho realizou investigação e análise dos<br />

custos inerentes aos serviços de alimentação e<br />

nutrição, prestados e servidos por uma empresa<br />

terceirizada de refeições industriais, utilizando<br />

observação de todos os processos definidos por um<br />

cardápio de 30 dias; elegendo pontuações que<br />

agregavam o valor a cada atividade, de acordo com<br />

o tempo de execução e complexidade, além da<br />

percepção do cargo e valores financeiros<br />

correlacionados às atividades.<br />

Conforme o que cita Bornia [4], para enfrentar<br />

a nova situação mercadológica, é necessário que os<br />

sistemas de gestão (planejamento) e de informações<br />

gerenciais (controle e avaliação) adaptem-se ao novo<br />

ambiente, desenvolvendo-se novos princípios e<br />

métodos apropriados ao novo contexto. A integração<br />

entre os sistemas de planejamento e controle é<br />

essencial para o bom desempenho da empresa.<br />

Justificativa<br />

Os sistemas de mensuração de custos presentes<br />

nas Unidades de Alimentação e Nutrição<br />

normalmente, quando existentes, são baseados no<br />

uso tradicional da contabilidade de custos, os quais<br />

apresentam certa ineficiência quando se percebem a<br />

diversidade de processos e detalhes presentes em<br />

cada atividade e etapa operacional. Estes sistemas<br />

197


198<br />

ou métodos de análises de custos não apresentam<br />

bons subsídios para a determinação das performances<br />

por atividades ou tipo de serviço, não indicando os<br />

locais onde melhoramentos e aperfeiçoamentos são<br />

mais relevantes.<br />

É nítida a necessidade de se utilizar ferramentas<br />

gerenciais diferenciadas para melhor definir os custos<br />

em UANs.<br />

Objetivos<br />

Aplicar metodologia de custeio ABC em UAN<br />

do tipo industrial, proporcionando comparação entre<br />

a eficiência dos métodos de custeio, atualmente<br />

utilizados por empresas prestadoras de serviço em<br />

UAN de coletividade sadia e o método ABC de custeio.<br />

Para atingir esta meta, é necessário desdobrar-se<br />

nos seguintes objetivos específicos:<br />

- Definir os princípios e técnicas de controle de custos<br />

utilizados na Unidade de Alimentação em questão;<br />

- Estudar os sistemas de custeio em questão;<br />

- Identificar os processos e atividades operacionais<br />

existentes no restaurante industrial em questão;<br />

- Mensurar custos diretos e indiretos existentes no<br />

restaurante de coletividade;<br />

- Analisar fluxos de produção e pontuar os mesmos,<br />

de acordo com importância do processo/ atividade.<br />

Método de trabalho<br />

Para a realização do trabalho, primeiramente,<br />

efetuou-se um estudo teórico sobre as necessidades e<br />

características das empresas de alimentação industriais,<br />

concentrando-se nas atividades desenvolvidas e<br />

ocorridas no processo. Observou-se a necessidade de<br />

análise e avaliação de perdas em UAN’s, para seu<br />

controle de custos e conseqüente competitividade e<br />

sobrevivência.<br />

A posteriori, um estudo teórico dos principais<br />

métodos de custeio utilizados em processos industriais,<br />

com intuito de definir qual método de avaliação de<br />

custos poderia ser mais aplicável às UAN’s.<br />

Foi realizado estudo de casos em empresa de<br />

alimentação, onde foram obtidos dados práticos para<br />

o ajuste do modelo proposto, entre eles, o cardápio<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

do mês estudado, custos pré-estabelecidos por<br />

contrato, contrato de serviços, relatórios de pré-custo<br />

do cardápio, processos existentes, atividades<br />

relacionadas com os processos, históricos de<br />

faturamento e de vendas de serviços.<br />

Com isto, adquiriu-se embasamento teórico para<br />

se propor uma sistemática de mensuração dos<br />

processos, através de aplicação de matrizes interrelacionadas<br />

de dados, onde cada atividade foi avaliada<br />

através de pontuações de valor agregado por<br />

complexidade, tempo ou utilização.<br />

Dados de CIF’s, Mão de Obra e Material Direto<br />

foram mensurados através de matrizes do custo ABC<br />

e, posteriormente, comparados ao sistema de custeio<br />

tradicional à unidade.<br />

Dados de valores gastos em gás, foram<br />

considerados nos CIF’s e não em materiais diretos.<br />

Sistemas de custeio<br />

Custeio por atividade (ABC)<br />

Segundo Bornia [1], o custeio por atividade<br />

(Activity-Based Costing - ABC) surgiu nos Estados Unidos<br />

há alguns anos, formalizado pelos professores Robert<br />

Kaplan e Robin Cooper, da Harvard Business School, com<br />

o objetivo principal de aprimorar a alocação dos custos<br />

e despesas indiretos fixos (overhead) aos produtos.<br />

Nakagawa [4] afirma que as origens do método datam<br />

da década de 60.<br />

A base do ABC é capturar os custos existentes<br />

nas várias atividades da empresa e entender seu<br />

comportamento, observando as correlações que<br />

representem as relações entre os produtos e estas<br />

atividades [1]. O objetivo do ABC é atribuir de forma<br />

pontual e correta todos os gastos e custos que<br />

normalmente são rateados de forma arbitrária, como<br />

por exemplo os custos indiretos de fabricação (CIF),<br />

custos da mão-de-obra direta (MOD) ou horasmáquina.<br />

Nesta situação, a utilização de horas ou custo<br />

de MOD como base de rateio, distorce<br />

sistematicamente os custos dos produtos, há uma ilusão<br />

dos custos e lucratividade de produtos e serviços.<br />

Para superar as deficiências que se apresentam<br />

pelos sistemas tradicionais, criou-se um sistema de<br />

custos de duas fases: primeiramente, os custos são<br />

alocados nas várias atividades da em-presa<br />

(recebimento e movimentação de materiais,<br />

preparação de máquinas, inspeções de qualidade, etc)<br />

para, a seguir, serem transferidos aos produtos por<br />

bases que representem as relações entre as atividades<br />

e os custos decorrentes [1,5].


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Assim, o modelo do custeio por atividade separa<br />

a empresa em atividades, calcula o custo de cada<br />

atividade, compreende o comportamento destas<br />

atividades, identificando as causas dos custos<br />

relacionados com elas (direcionadores de custos) e,<br />

em seguida, aloca os custos aos produtos de acordo<br />

com a importância e apropriação de uso, mensuradas<br />

pelo número de transações feitas.<br />

A primeira fase do sistema é calcular o custo de<br />

cada atividade. Isto é feito de forma semelhante aos<br />

sistemas tradicionais de duas fases, rateando-se os itens<br />

de custos para as atividades através de bases de rateio.<br />

Deste modo, chega-se a um custo por atividade [1].<br />

Para a alocação dos custos das atividades aos<br />

produtos, utiliza-se o conceito de direcionadores de<br />

custos, os quais podem ser definidos como aquelas<br />

atividades ou transações que determinam os custos<br />

das atividades, ou seja, são as causas principais dos<br />

custos das ati-vidades [10,11].<br />

Com a utilização dos direcionadores de custos,<br />

o ABC objetiva encontrar os fatores que causam os<br />

custos, isto é, determinar a origem dos custos de cada<br />

atividade para, desta maneira, alocá-los corretamente<br />

aos produtos, considerando o “uso” das atividades<br />

por eles [1].<br />

Bornia [1] ainda cita que: Para cada direcionador de<br />

custos empregado, calcula-se um custo unitário, di-vidindo-se o<br />

custo total associado com a atividade considerada pelo número<br />

de transações efetuadas, neste caso refeições ou serviços. Em<br />

seguida, atribui-se o custo aos produtos, determinando-se quantas<br />

unidades, volumes ou lotes estão relacionados com cada produto.<br />

Princípio de custeio<br />

O ABC foi desenvolvido tendo-se em mente o<br />

princípio do custeio por absorção, na medida em que<br />

não atribui os custos da capacidade ociosa aos<br />

produtos [8]. De fato, o custeio por atividade baseiase<br />

num modelo de consumo de recursos e não de<br />

gastos com recursos.<br />

O ABC defende que a análise de custos estendase<br />

às despesas de estrutura (administrativas, comerciais<br />

e financeiras). Cooper e Kaplan [8] argumentam que,<br />

em muitas companhias, tais despesas ultrapassam 20<br />

% do faturamento, e a não alocação de tais despesas<br />

aos produtos, embora requerida pela contabilidade<br />

financeira, é inadequada para medir os custos dos<br />

produtos.<br />

A não apropriação dos custos e despesas fixos<br />

indiretos aos produtos, defendida pelo custeio direto,<br />

é considerada como não correta pelo custeio por<br />

atividade [8]. Além disso, o custeio direto fornece<br />

informações relevantes para a tomada de decisões de<br />

curto prazo, mas o impacto das decisões no médio e<br />

longo prazo não é mensurado. O modelo de consumo<br />

de recursos usado pelo ABC permite detectar as<br />

conseqüências de decisões no longo prazo.<br />

No método tradicional de custos, os custos fixos<br />

atribuídos à produção são alocados aos produtos<br />

através de uma base de rateio.<br />

Análise in loco do método de custeio ABC<br />

em UAN<br />

Contrato de serviço de alimentação firmado entre as empresas<br />

contratante e contratada<br />

Através de um contrato de prestação de serviços<br />

firmado entre as empresas contratante e contratada,<br />

definiram-se itens relevantes para o bom andamento<br />

dos processos. Através destes itens, muitos fatores<br />

ficaram pré-definidos e determinados, podendo<br />

nortear os sistemas produtivos e orçamentários.<br />

Alguns fatores determinados em contrato são<br />

relevantes, como por exemplo as políticas de compra,<br />

recebimento e armazenamento de matérias-primas,<br />

períodos e horários de funcionamento, turnos e picos<br />

de servimento, procedimentos de cobrança e controles<br />

de qualidade e quantidade, controle integrado de<br />

pragas, reajustes percentuais do preço de venda, ponto<br />

de equilíbrio, dentre outros.<br />

Para que os dados sejam comparativos, fez-se<br />

levantamento de dados históricos através da evolução<br />

real dos serviços prestados pela UAN e seu<br />

faturamento respectivo, conforme tabela 1.<br />

Com esta evolução pode-se demonstrar ainda<br />

os números relacionados às receitas, aos serviços<br />

prestados nesta UAN, gerando as evoluções dos<br />

faturamentos demonstrados nas tabelas 2 e 3.<br />

Realizou-se, para o período de um mês, análise<br />

de custeio baseado em atividades para um restaurante<br />

industrial, baseando-se em cardápio mensal, de<br />

segunda à domingo.<br />

Evolução dos custos<br />

Nesta UAN, de acordo com todos os requisitos<br />

contratuais, características do setor e diferenciais<br />

apresentados em relação ao processo produtivo,<br />

necessidade de colaboradores, número de comensais,<br />

apresenta-se uma tabela (4) representativa da<br />

prestadora de serviços, desde outubro/2000 a<br />

fevereiro/2001, como fator exemplificativo deste<br />

trabalho.<br />

Observa-se que há uma lucratividade média de<br />

1,71% do faturamento bruto.<br />

199


200<br />

Tabela 1 - Quantidade de refeições servidas<br />

(refeição por pessoa)<br />

Ano Jan-Dez Média Mensal<br />

1996 259.422 21.619<br />

1997 202.065 16.839<br />

1998 200.315 16.693<br />

1999 133.249 11.104<br />

2000 156.120 13.010<br />

Média 190.234 15.853<br />

Fonte: Empresa contratante<br />

Tabela 2 - Faturamento (em R$ 1,00)<br />

Ano Refeições Copa Todos os Serviços<br />

Out/2000 30.450 1.182 31.632<br />

Nov/2000 40.903 1.302 42.205<br />

Dez/2000 53.253 1.479 54.732<br />

Jan/2001 41.795 1.420 43.215<br />

Fev/2001 * 30.250 1.125 31.375<br />

Média 39.330 1.302 40.632<br />

Total 2001 * 471.960<br />

Fonte: Empresa contratada<br />

* Valor estimado<br />

15.620 487.580<br />

Tabela 3 - Faturamento (em % participação)<br />

Ano Refeições Copa Todos os Serviços<br />

Out/2000 96,26 3,74 100,00<br />

Nov/2000 96,92 3,08 100,00<br />

Dez/2000 97,30 2,70 100,00<br />

Jan/2001 96,71 3,29 100,00<br />

Fev/2001 * 96,42 3,58 100,00<br />

Média 96,80 3,20 100,00<br />

Total 2001 * 96,80 3,20 100,00<br />

Fonte: Empresa contratada<br />

* Valor estimado<br />

Tabela 4 - Custos apurados dos serviços prestados (em R$ 1,00)<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Sistemas de Custo Utilizados pela UAN<br />

- Custo padrão: Custo padrão para cada receita do<br />

trabalho;<br />

- Custo-meta (custeio ideal): custo máximo permitido<br />

por unidade de serviço expresso no contrato;<br />

- Apuração Integral: custo total da prestação de<br />

serviços.<br />

Aplicação do método ABC em UAN<br />

Foram elaborados vários fluxogramas dos<br />

processos e atividades efetuadas dentro da UAN, e<br />

também um questionário sobre a complexidade da<br />

elaboração do cardápio do mês de janeiro/2001, junto<br />

à nutricionista e funcionários.<br />

Levantamento das atividades<br />

Através do levantamento realizado com base nas<br />

atividades desenvolvidas, comumente, chegou-se a<br />

processos macro. Isto é, processos maiores que<br />

englobam processos pequenos.<br />

O estudo identificou 83 processos, sendo que 4<br />

estão diretamente relacionados ao planejamento dos<br />

cardápios, 5 em atividades com o pré-preparo, 54 nas<br />

atividades relacionadas com a preparação em si, 13 ao<br />

pós-processo e 7 na apuração dos resultados.<br />

Ano Out Nov Dez Jan Fev Média Total %<br />

2000 2000 2000 2000 2001* Mensal 2001*<br />

Matéria-prima 17.880 22.472 28.220 22.460 16.150 21.436 257.237 53,68<br />

Gás 1.500 1.531 1.550 1.810 1.550 1.588 19.058 3,98<br />

Colaboradores 9.717 9.717 10.614 10.614 10.614 10.255 123.062 25,68<br />

Benfícios<br />

Departamento<br />

749 769 761 709 749 747 8.969 1,87<br />

de Apoio 608 608 538 763 608 625 7.500 1,56<br />

Impostos<br />

Custos<br />

2.023 2.685 3.470 2.749 2.005 2.586 31.037 6,48<br />

Indiretos 1.721 2.296 2.977 2.351 1.707 2.210 26.525 5,53<br />

Gastos Diversos<br />

Total dos<br />

386 743 430 387 490 487 5.846 1,22<br />

Custos Apurados 34.584 40.821 48.560 41.843 33.873 39.936 479.234 100,00<br />

Fonte: Empresa contratada


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Tabela 5 - Resultados apurados dos serviços prestados (em R$ 1,00)<br />

Ano Out/2000 Nov/2000 Dez/2000 Jan/2001 Fev/2001* Média Mensal Total 2001* %<br />

Receitas 31.632 42.205 54.732 43.215 31.375 40.632 487.580 100,00<br />

Despesas<br />

Total dos<br />

Custos<br />

(34.584) (40.821) (48.560) (41.843) (33.873) (39.936) (479.234) 98,29<br />

Apurados (2.952) 1.384 6.172 1.372 (2.498) 695 8.345 1,71<br />

Fonte: Empresa contratada<br />

* Valor estimado<br />

Estrutura de custos - base média mensal<br />

Fig. 5 - Alocação de mão de obra e custo indiretos de fabricação.<br />

Resultados e discussão<br />

Demonstrativos entre o método ABC e o custeio variável<br />

As figuras 5 e 6 demonstram os resultados e<br />

comparativos alcançados e realizados na UAN em<br />

questão, como exemplo de todas as comparações e<br />

análises realizadas durante todo o mês.<br />

A figura 7 identifica um comparativo das decisões<br />

do cardápio, em referência aos custos dos diferentes<br />

serviços e setores. Ao se elaborar um cardápio, faz-se<br />

um custo prévio de toda a matéria-prima, que será<br />

utilizada no processo produtivo de transformação e<br />

distribuição de refeições. A partir deste pré-custo de<br />

matéria-prima, atribui-se uma média desta conta para<br />

o mês em questão, além de atribuir-se os custos fixos<br />

e demais variáveis, de forma equivalente ao número<br />

de serviços estimados, tendo-se, assim, um pré-custo<br />

médio per capita.<br />

201


202<br />

Fig. 6 - Comparativo das decisões de cardápio, dos dias 02 à 06.<br />

No método de custeio ABC, evidencia-se que,<br />

ao apropriar-se pesos a cada tipo de serviço, em virtude<br />

do tempo de trabalho “consumido”, custos<br />

“consumidos” e ações despendidas, sejam elas de<br />

matéria-prima, equipamentos, mão-de-obra ou gás,<br />

percebem-se oscilações financeiras nem sempre<br />

sugestionadas, quando o método de custeio de<br />

gerenciamento é o de rateio dos custos fixos, conforme<br />

figura 8. As diferenciações são evidenciadas tanto<br />

quando a análise é feita para cada tipo de serviço,<br />

quanto na comparação entre os serviços existentes.<br />

Análise da aplicação do método ABC<br />

- Identificou as atividades e processos que consomem<br />

mais esforços;<br />

- Identificou a importância do princípio da absorção<br />

total dos custos nas decisões operacionais;<br />

- Evidenciou a lucratividade dos serviços prestados.<br />

Conclusão<br />

O processo, dentro de uma Unidade<br />

de Alimentação e Nutrição, no que se<br />

refere a analise de gestão de negócios,<br />

controle de processos e custos, é bastante<br />

detalhado e complexo. A variedade de<br />

processos diários acaba dificultando<br />

todos os apontamentos. É preciso muita<br />

dedicação e metodologia para uma análise<br />

fidedigna e que norteie resultados para a<br />

UAN.<br />

Fig. 7 - Comparativo das decisões de cardápio.<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Como já dito anteriormente, é fácil mensurar,<br />

através de métodos de custeio comumente utilizados<br />

em indústrias de produtos ou serviços, a precificação<br />

e os custos de produção de bens de prateleira.<br />

Entretanto, mensurar os custos reais e preços de venda<br />

corretos, de uma gama incomensurável de processos<br />

e serviços, que se alteram diariamente, é tarefa árdua<br />

e delicada. Mensurar o paladar, o prazer da<br />

alimentação, não se faz de forma fácil e rápida.<br />

As empresas, hoje em dia, precisam correr contra<br />

suas falhas e limitações, assegurando sua sobrevivência<br />

ou fixação no mercado de consumo. Atingir excelência<br />

é condição sine qua non para a sobrevivência e<br />

manutenção das empresas transformadoras de<br />

alimentos e, portanto, tão procurada e almejada por<br />

todos que fazem parte deste segmento industrial.<br />

A competição está cada vez mais árdua,<br />

tornando-se uma guerra de foices entre as áreas<br />

produtivas e comerciais de todas as concorrentes.<br />

Quem souber de forma mais eficaz, identificar seus<br />

processos, suas perdas, seus negócios, terá mais<br />

chances de sobreviver e ganhar a batalha pelos clientes.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Fig. 8 - estrutura de custos pelo método ABC para o serviço de refeição e copa.<br />

No trabalho apresentado, de análise comparativa<br />

do método de gestão de custos ABC, que é inovador,<br />

com os métodos normalmente de custeio utilizados,<br />

dentro de uma UAN, percebeu-se:<br />

- A margem de contribuição demonstrada pelo custeio<br />

variável pode ser irreal e desanimadora, se comparada<br />

com a lucratividade positiva das operações da empresa;<br />

- Os serviços de copa não são lucrativos para a UAN.<br />

Pela realização deste estudo, sugere-se que as<br />

UAN’s:<br />

1) ajustem seus métodos de controle contábil para:<br />

- Contemplar a MO e os CIFs;<br />

- Contemplar o controle de gás como insumo direto;<br />

- Conter na sua receita os tempos médios de preparo<br />

de cada prato (além de fornecer a base da matriz de<br />

direcionadores de recursos de MO e possibilitem o<br />

planejamento de trabalho);<br />

2) Efetuem o cálculo pelo método em vários períodos<br />

para confirmar a eficácia do método ABC em UAN;<br />

3) Efetuem a aplicação do método em diversas UANs<br />

para verificar o comportamento dos custos das<br />

atividades.<br />

Embora os custos diretos da UAN<br />

sejam superiores a 57% dos custos totais, a aplicação<br />

do método ABC apresentou-se mais eficaz e justificouse<br />

como a melhor alternativa da empresa para<br />

obtenção de resultados positivos em suas operações.<br />

Como este trabalho fundamentou-se em um<br />

período de um mês e em apenas uma UAN, sugere-se<br />

que sejam feitos outros estudos e análises de todos os<br />

processos, por atividades gerais e específicas, por<br />

produtos e serviços, a fim de confirmar a eficiência<br />

do método.<br />

Importante citar, a importância de que a empresa<br />

em questão executasse algumas avaliações, como<br />

ferramentas pró-ativas, a fim de que as metas<br />

previamente definidas, seja com análises por custo<br />

ABC ou tradicional, fossem atingidas facilmente.<br />

Dentre estas ferramentas, estão a revisão contratual<br />

de serviços e preços de venda, controle de desperdícios<br />

existentes e análise de fluxos.<br />

Referências<br />

1. Bornia AC. Mensuração das perdas dos processos<br />

produtivos: uma abordagem metodológica de controle<br />

interno. Tese de Doutorado. Programa de Pós-<br />

Graduação em Engenharia de Produção da<br />

Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEP/<br />

UFSC), Florianópolis, 2000.<br />

2. Santos JJ. Análise de custos. Editora Atlas, São Paulo,<br />

1986.<br />

3. Santos JJ. Formação de preços e do lucro empresarial.<br />

Editora Atlas, São Paulo, 1988.<br />

4. Nakagawa M. Gestão estratégica de custos: conceitos,<br />

sistemas e implementação. Editora Atlas, São Paulo,<br />

1991.<br />

5. Brimson JA. Contabilidade por atividade: uma<br />

abordagem de custeio baseado em atividades. Editora<br />

Atlas, São Paulo, 1996.<br />

6. Drucker P. Uma nova teoria de produção. Revista<br />

Exame, 27 de junho de 1990:64-72.<br />

7. Drucker P. Desafios gerenciais para o século XXI.<br />

Editora Pioneira, São Paulo, 1999.<br />

8. Kaplan RS & Cooper R. Custo e desempenho:<br />

administre seus custos para ser mais competitivo.<br />

Editora Futura, São Paulo, 1998.<br />

203


204<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Perfil do consumo alimentar em pacientes<br />

com bulimia nervosa em São Paulo<br />

Patterns of food consumption of bulimic<br />

patients from São Paulo<br />

Marle Alvarenga*, Sonia Tucunduva Philippi**<br />

*Doutora em Nutrição Humana Aplicada pela USP, Nutricionista do Grupo de Estudos em Nutrição e Transtornos Alimentares –<br />

GENTA - do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares – AMBULIM– IpQ-HC-FMUSP, **Professor Livre Docente do<br />

Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Conselho Científico do Grupo de Estudos em<br />

Nutrição e Transtornos Alimentares – GENTA.<br />

Resumo<br />

A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por grandes alterações no padrão e comportamento alimentar.<br />

Os pacientes têm uma série de restrições alimentares e ao mesmo tempo compulsões repetidas. As escolhas alimentares são<br />

bastante influenciadas pelo comportamento patológico da doença. Este trabalho objetivou estudar a freqüência de consumo<br />

de diferentes alimentos em pacientes com bulimia nervosa, acompanhados num serviço de referência em São Paulo-SP, bem<br />

como seus alimentos favoritos, suas aversões e crenças em alimentos saudáveis ou não, antes e depois de intervenção<br />

multiprofissional. Foram estudadas 39 pacientes, que responderam questões sobre consumo alimentar em 3 diferentes<br />

momentos, num seguimento de 6 meses. Encontrou-se alguma mudança significativa no consumo de alimentos pós intervenção,<br />

com aumento de consumo de alimentos básicos para uma dieta balanceada – que eram antes restringidos, bem como inclusão<br />

de alguns alimentos considerados “proibidos”, provavelmente por seu conteúdo calórico. Concluiu-se que embora o padrão<br />

e comportamento alimentar na bulimia sejam bastante caóticos, pode-se alcançar um melhor padrão de escolhas alimentares<br />

após terapia nutricional.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Bulimia nervosa, transtorno alimentar, consumo alimentar, hábitos alimentares, compulsão alimentar.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 10 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Marle Alvarenga, Rua Dr. Augusto de Miranda, 1107/151, Pompéia, 05026-001 São<br />

Paulo SP, Tel: (11) 3862-4278/9196-1994, E-mail: marlealv@uol.com.br


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Abstract<br />

Bulimia nervosa is an eating disorder marked by significant changes in dietary patterns and eating behavior. Patients<br />

present a series of food restrictions followed by binge eating. Food choices are strongly affected by the pathological behavior<br />

that characterizes this illness. This paper aims to study the frequency of different food items consumed by bulimic patients<br />

during a six-month follow-up provided by a reference service in the city of São Paulo, SP. Patients´ favorite foods, aversions,<br />

and beliefs about healthy or unhealthy food before and after the multiprofessional intervention were also studied. Thirtynine<br />

patients answered a questionnaire about their food consumption at three different moments during the follow-up.<br />

There were some significant changes in food consumption after the intervention, with an increase of basic food items -<br />

previously restricted - that make up a balanced diet as well as the inclusion of some foods considered “prohibited” because<br />

of their caloric content. Despite the chaotic eating patterns and behavior of bulimics; a better standard of food choices can<br />

be achieved after nutritional therapy.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Bulimia nervosa, eating disorder, food consumption, eating habits, binge eating.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Introdução<br />

A Bulimia Nervosa (BN) é um transtorno<br />

alimentar caracterizado por episódios compulsivos<br />

seguidos de comportamentos compensatórios<br />

recorrentes. A bulimia nervosa é o quadro mais<br />

prevalente dentre os transtornos alimentares (1-4%<br />

em mulheres jovens) [1] e é uma doença quase que<br />

exclusivamente feminina. Suas principais<br />

características são os episódios do comer compulsivo<br />

ou episódios bulímicos, caracterizados pela ingestão<br />

compulsiva e rápida de grandes quantidades de<br />

alimento, além dos comportamentos de compensação<br />

ou purgação para evitar o ganho de peso; são eles:<br />

vômito auto-induzido, abuso de laxantes e diuréticos,<br />

enemas (ou uso de outros medicamentos), jejum (ou<br />

períodos de restrição alimentar) e exercícios físicos<br />

excessivos. Outros comportamentos podem ser<br />

citados, como dietas restritivas rigorosas<br />

(hipocalóricas), abuso de cafeína e uso de hormônios<br />

tiroideanos, drogas anorexígenas e, eventualmente,<br />

cocaína [2]. Para o critério diagnóstico do DSM-IV,<br />

tanto os episódios do comer compulsivo como os<br />

comportamentos purgativos, devem ocorrer com a<br />

freqüência mínima de duas vezes por semana, por no<br />

mínimo, três meses [3]. Os indivíduos com bulimia<br />

nervosa são ainda excessivamente influenciados, em<br />

sua auto-avaliação, pelo peso e forma corporal [1,5].<br />

Os transtornos alimentares são doenças descritas<br />

na literatura desde há muito tempo, datando de 1694<br />

a primeira descrição da anorexia nervosa [6]. A bulimia<br />

recebeu nomes alternativos ao longo da história por<br />

falta de uma definição diagnóstica, que só aconteceu<br />

em 1980 [7,9]. Essas doenças são de etiologia<br />

multifatorial, onde fatores genéticos, familiares,<br />

psicológicos e socioculturais se somam. A incidência<br />

aumentada das últimas décadas, está estritamente<br />

relacionada aos padrões estéticos atuais, que<br />

relacionam a magreza com sucesso e felicidade,<br />

principalmente, para as mulheres [1].<br />

A BN tem a possibilidade de uma série de<br />

complicações clínicas, além de prejuízo na vida como<br />

um todo: social, sexual, trabalhista, familiar [10]. A<br />

mortalidade na BN é estimada em torno dos 3% [11].<br />

O consumo alimentar de pacientes com BN varia<br />

muito, dependendo da fase - compulsiva ou restritiva<br />

- em que o paciente se encontra. Freqüentemente o<br />

padrão alimentar na doença é descrito como “caótico/<br />

bizarro”, isto porque os pacientes insistem em<br />

começar uma “nova dieta”, consumindo quantidades<br />

extremamente pequenas de alimentos (restritos em<br />

sua qualidade e chamados “alimentos proibidos”), e<br />

na seqüência consomem grandes quantidades de<br />

alimento, desencadeando um episódio bulímico. No<br />

episódio, o valor calórico total ingerido é alto, com<br />

consumo dos chamados alimentos “proibidos”. O<br />

exagero no consumo calórico desencadeia extrema<br />

ansiedade e medo de engordar, levando aos recursos<br />

purgativos (vômito, medicamentos) e/ou aos recursos<br />

compensatórios, como um novo período de restrição<br />

alimentar - uma “nova dieta”. Desta forma, instala-se<br />

o ciclo “dieta ⇒ episódio ⇒ purgação”, que serve<br />

para ilustrar o fluxo da patologia alimentar [12].<br />

205


206<br />

Os alimentos mais freqüentes nos episódios<br />

bulímicos são doces, tortas, sorvete, chocolates, leite<br />

condensado, biscoitos, salgadinhos - alimentos que o<br />

paciente tende a excluir de sua dieta habitual por medo<br />

de ganho de peso. Por outro lado, na fase restritiva,<br />

podem ter uma ingestão bastante restrita do ponto de<br />

vista quantitativo e qualitativo, excluindo<br />

principalmente carboidratos e gorduras [13].<br />

Uma série de mitos e crenças alimentares podem<br />

ser também encontrados nestas pacientes, além de<br />

preconceito, ódio e incompetência para lidar com os<br />

alimentos, o que caracteriza não só um<br />

comportamento alimentar inadequado como, também,<br />

um padrão alimentar irregular e desequilibrado [14 –<br />

16].<br />

Metodologia<br />

O presente estudo foi realizado no Ambulatório<br />

de Bulimia e Transtornos Alimentares – AMBULIM–<br />

IpQ-HC-FMUSP. O tratamento dos transtornos<br />

alimentares, neste ambulatório, segue o modelo<br />

internacionalmente preconizado, com equipe<br />

multiprofissional, composta de psiquiatras, clínicos,<br />

psicólogos, nutricionistas e enfermeiros. O AMBULIM<br />

pertence a um hospital público universitário –<br />

HCFMUSP -, efetua tratamento multiprofissional<br />

gratuito, ambulatorial, de hospital-dia e de enfermaria<br />

para transtornos alimentares [1].<br />

Participaram do estudo 39 pacientes do sexo<br />

feminino, com diagnóstico de bulimia nervosa pelo<br />

DSM–IV [3], que passaram pela triagem para<br />

atendimento ambulatorial no AMBULIM e foram<br />

convidadas a fazer parte de um projeto de pesquisa do<br />

projeto temático AMBULIM, preenchendo os critérios<br />

de inclusão e exclusão fixados por ele.<br />

A pesquisa nutricional foi um estudo de seguimento<br />

de 6 meses, que objetivou avaliar o padrão alimentar e o<br />

comportamento alimentar de pacientes com bulimia nervosa<br />

(BN), antes e após intervenção multiprofissional.<br />

As pacientes preencheram uma lista de freqüência<br />

de consumo de alimentos (figura 1) e responderam as<br />

seguintes questões:<br />

1) Qual seu alimento favorito? Por que?<br />

2) Você tem alguma aversão alimentar? Qual? Por que?<br />

3) Quais alimentos você considera mais saudáveis? Por que?<br />

4) Quais alimentos você considera menos saudáveis? Por que?<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Os resultados de 3 fases de seguimento são<br />

apresentados como FASE 1, que se refere as respostas<br />

das pacientes ao chegarem para atendimento (n=39).<br />

A FASE 2 corresponde as respostas para as mesmas<br />

questões após 3 meses de tratamento (n=20). Nestes<br />

3 meses houve aconselhamento nutricional sobre<br />

diversos temas. A FASE 3 refere-se as respostas após<br />

6 meses de seguimento, em acompanhamento com a<br />

equipe multiprofissional (n=15).<br />

Resultados<br />

Os alimentos mais consumidos (freqüência<br />

diária), na FASE 1, foram (em ordem decrescente):<br />

pão, leite, café e adoçante (55,00%); biscoitos<br />

(45,00%); verduras, legumes e sucos (40,00%). Na<br />

FASE 2, os alimentos mais citados como tendo<br />

freqüência diária foram: verduras, legumes e adoçante<br />

(58,80%); café (55,00%); pão e leite (52,90%); balas,<br />

iogurtes, frutas e sucos (41,20%). Na FASE 3, os<br />

alimentos mais citados como tendo freqüência diária<br />

foram: verduras e legumes (76,50%), frutas (64,70%);<br />

pães, queijos e adoçantes (58,80%); leite, suco e café<br />

(52,90%); balas e arroz (41,20%).<br />

Os alimentos mais citados como tendo<br />

freqüência de consumo rara, na FASE 1, foram:<br />

sorvete e ovos (55,00%); arroz (50,00%); doces,<br />

salgadinhos e peixe (45,00%); massas, feijão e doces<br />

dietéticos (40,00%). Para a FASE 2, os alimentos com<br />

resposta “raramente”, foram: sorvetes, salgadinhos e<br />

peixe (47,10%); ovos (41,20%). Na FASE 3, os grupos<br />

alimentares citados para “raramente” foram: sorvete<br />

(76,50%); ovos (47,10%); chocolate, doces em geral,<br />

salgadinhos e feijão (41,20%). Para a resposta “nunca”,<br />

os grupos de alimentos mais citados, na FASE 1,<br />

foram: doces dietéticos e cereais matinais (40,00%).<br />

Na FASE 2, os mais citados foram: doces dietéticos,<br />

adoçantes e salgadinhos (41,20%). E, na FASE 3,<br />

foram: doces dietéticos (52,90%) e salgadinhos<br />

(41,20%).<br />

Observou-se que a freqüência de respostas<br />

“todos os dias” para o consumo de biscoitos diminuiu<br />

de uma fase para outra (45,00% para 23,50%), e a<br />

maior parte das pacientes afirmaram consumir de 1-3<br />

vezes por semana, em todas as fases. Em relação aos<br />

chocolates, não houve um padrão de alteração, as<br />

respostas tenderam a raramente e 1-3 vezes por<br />

semana, em todas as fases. Para os sorvetes, observouse<br />

que, deixaram de ser citados como “nunca”<br />

consumidos, na FASE 3, e que a freqüência mais citada<br />

foi raramente.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Observou-se também que as respostas de<br />

freqüência do consumo diário de balas aumentou, da<br />

FASE 1 (30,00%) para FASE 2 (47,10%), e diminuiu<br />

na FASE 3 (41, 20%); este grupo de alimentos deixou<br />

de ser citado como “nunca” consumido na FASE 3,<br />

sendo que a freqüência mais citada, depois da diária,<br />

foi 1-3 vezes por semana. O consumo diário (nas<br />

respostas de freqüência) de “outros doces” diminuiu,<br />

da FASE 1 para FASE 3 (35,00% para 5,90%),<br />

concentrando-se as respostas em 1-3 vezes por semana<br />

ou raramente; apenas na FASE 2, eles foram citados<br />

como “nunca consumidos”.<br />

Observou-se, um aumento progressivo nas<br />

respostas de freqüência de consumo diária de arroz<br />

Fig. 1 – Quadro de freqüência de consumo de diferentes alimentos.<br />

Biscoitos<br />

Chocolates<br />

Sorvetes<br />

Balas e chicletes<br />

Outros doces (tortas..)<br />

Arroz<br />

Massas<br />

Pães<br />

Salgadinhos (ElmaChips)<br />

Cereais matinais<br />

Carne vermelha (bovina, suína..)<br />

Salsichas, lingüiça, presunto, salame...<br />

Frango<br />

Peixe<br />

Ovos<br />

Feijão<br />

Leite<br />

Iogurtes<br />

Queijo<br />

Frutas<br />

Verduras e Legumes<br />

Refrigerantes<br />

Sucos<br />

Bebidas Alcoólicas<br />

Bebidas dietéticas (sucos, isotônicos)<br />

Café<br />

Adoçantes<br />

Doces dietéticos<br />

Fonte: Alvarenga [14].<br />

(20,0% para 29,4% para 41,2%), embora também<br />

tenha aumentado o número de pacientes que<br />

responderam “nunca” para o seu consumo. Para as<br />

massas, observou-se aumento importante nas<br />

respostas de freqüência de consumo diário (15,00%<br />

para 16,70% para 33,30%) e diminuição na resposta<br />

“raramente”, ao longo das fases, sendo que a maior<br />

parte respondeu consumir de 1-3 vezes por semana<br />

em todas as fases. Para os pães, a maior parte das<br />

respostas se concentraram em “todos os dias” e houve<br />

uma diminuição nas respostas “raramente”, da FASE<br />

1 (20,0%) para FASE 3 (11,8%).<br />

Quanto ao consumo de salgadinhos (tipo snack),<br />

houve aumento de freqüência de respostas de<br />

Todos os dias 1-3 vezes/semana Raramente Nunca<br />

207


208<br />

consumo diário, nas FASES 2 e 3 (5,90%); na FASE<br />

1, nenhuma paciente respondeu comer salgadinhos<br />

diariamente; por outro lado, houve um aumento nas<br />

respostas “nunca”, da FASE 1 para as FASES 2 e 3<br />

(41,20%). A maioria das pacientes permaneceu<br />

respondendo “raramente” ao longo das fases. Para o<br />

consumo de cereais matinais, houve diminuição na<br />

freqüência de respostas de consumo diário (20,0% para<br />

11,8% para 5,9%) e uma diminuição importante nas<br />

respostas “nunca” ao longo das fases; a resposta de<br />

1-3 vezes por semana foi freqüente em todas as fases.<br />

Para as carnes (vermelhas), houve diminuição nas<br />

respostas de freqüência de consumo diário (25,0% para<br />

17,6% para 11,8%) e diminuição das respostas<br />

“nunca”, da FASE 1 (15,0%) para FASES 2 e 3 (5,9%);<br />

a maior freqüência de respostas foi para 1-3 vezes por<br />

semana. Para os embutidos, houve diminuição nas<br />

respostas de freqüência de consumo diário ao longo<br />

das fases (20,0% para 11,8% para 5,9%), sendo que a<br />

maior freqüência foi também para 1-3 vezes por<br />

semana. Para o frango, houve aumento importante<br />

nas respostas de freqüência de consumo diário (5,0%<br />

para 11,8% para 23,5%), um aumento das respostas<br />

“nunca”, ao longo das fases, e uma diminuição das<br />

respostas “raramente” ao longo das fases, com a maior<br />

freqüência novamente em 1-3 vezes por semana.<br />

Para o peixe, aumentou a freqüência de respostas<br />

para “1-3 vezes/semana”, ao longo das fases (40,0%<br />

para 47,0% para 70,6%), e diminuiu as respostas<br />

“raramente”, da FASE 1 (45,0%) para FASE 3 (11,8%).<br />

Para os ovos, não houve alterações muito importantes<br />

na freqüência de respostas de consumo, a maior<br />

freqüência citada foi raramente. Para os feijões, houve<br />

aumento nas respostas de freqüência de consumo<br />

diário ao longo das fases (10,0% para 11,8% para<br />

17,6%) e também das respostas de 1-3 vezes por<br />

semana (15,0% para 29,4% para 23,5%); diminuiu o<br />

número de respostas “nunca”, ao longo das fases, e a<br />

freqüência mais citada foi “raramente”.<br />

As respostas de freqüência para o consumo de<br />

leite não se alteraram significantemente ao longo das<br />

fases, sendo que a maior parte das pacientes afirmou<br />

consumi-lo diariamente. O mesmo ocorreu com o<br />

consumo de iogurtes, a maior parte declarou consumo<br />

de 1-3 vezes por semana em todas as fases. Para o<br />

consumo de queijos, a freqüência de respostas de<br />

ingestão diária aumentou ao longo das fases: 35,0%<br />

para 41,2% para 58,8% (embora não se saiba de qual<br />

queijo estavam falando).<br />

A reposta para ingestão diária de frutas aumentou<br />

de modo importante ao longo das fases (35,0% para<br />

41,2% para 64,7%), sendo esta resposta a mais<br />

freqüente. Verificou-se também que a freqüência de<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

respostas de ingestão diária de verduras e legumes<br />

aumentou progressivamente ao longo das fases (40,0%<br />

para 58,8% para 76,5%), sendo que, ao fim do<br />

seguimento, era a resposta mais freqüente no lugar de<br />

1-3 vezes por semana, das FASES 1 e 2.<br />

Para a ingestão de refrigerantes, as respostas<br />

de freqüência do consumo não se alteraram de<br />

modo significativo ao longo das fases. A maior parte<br />

respondeu consumi-lo diariamente ou de 1-3 vezes<br />

por semana, nas três fases. Já para os sucos, a<br />

afirmação da ingestão diária aumentou, ao longo<br />

das fases, e as respostas “nunca” zeraram, da FASE<br />

1 para 2. A maior parte respondeu ter freqüência<br />

diária ou de 1-3 vezes por semana. Para as bebidas<br />

alcoólicas, as respostas “nunca” aumentaram, da<br />

FASE 1 para 2; a resposta de freqüência de ingestão<br />

diária zerou, da FASE 1 para 2. A maior parte<br />

respondeu ter freqüência de 1-3 vezes por semana.<br />

Em relação às bebidas dietéticas (isotônicos,<br />

energéticos), a resposta de ingestão diária diminuiu,<br />

ao longo das fases (20,0% para 17,6% para 11,8%),<br />

bem como diminuiu o número de respostas<br />

“nunca”, do início para o fim do seguimento. Para<br />

o café, não houve grande oscilação na freqüência<br />

de resposta da ingestão, sendo que a maioria<br />

respondeu freqüência diária.<br />

Para os adoçantes, houve ligeira diminuição<br />

da freqüência de consumo diário da FASE 1 para 2<br />

(65,00% para 58,80%); o número de respostas<br />

“nunca” diminuiu, da FASE 1 para 2, e aumentou<br />

na FASE 3. A grande maioria, de qualquer forma,<br />

relatou consumo diário nas três fases. Para os doces<br />

dietéticos, a resposta de freqüência diária foi zero,<br />

nas FASES 2 e 3, e aumentou o número de respostas<br />

“nunca” ao longo das fases, sendo que a maior parte<br />

registrou “raramente” ou “nunca”, nas três fases.<br />

Sobre os alimentos favoritos e aversões nas<br />

três fases do programa, os mais citados como<br />

favoritos foram: massas, pão, pizza, doces e<br />

chocolates, na FASE 1; massas, leite, pizza, e doces,<br />

na FASE 2; massas e doces, na FASE 3. As respostas<br />

para aversão de alguma alimento foram: vísceras,<br />

frituras e carnes, na FASE 1, com a referência de<br />

que frituras e carnes são gordurosas, não trazem<br />

nada e engordam; vísceras, carnes, gorduras e<br />

frituras, na FASE 2, com a referência de que gordura<br />

e frituras engordam; vísceras, alimentos gordurosos<br />

e carnes, na FASE 3, com explicações relacionadas<br />

a preferências pessoais e “nojo”. Nenhuma paciente<br />

respondeu “porque engorda”. Os alimentos mais<br />

citados como saudáveis e não saudáveis foram<br />

também levantados nas três fases, as respostas<br />

podem ser verificadas no quadro 1.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Quadro 1 – Relação dos alimentos considerados saudáveis e não saudáveis, nas diferentes fases de<br />

seguimento de pacientes com Bulimia Nervosa, acompanhados no AMBULIM – São Paulo, 2001.<br />

FASE 1 FASE 2 FASE 3<br />

SAUDÁVEL NÃO SAUDÁVEL SAUDÁVEL NÃO SAUDÁVEL SAUDÁVEL NÃO SAUDÁVEL<br />

FRUTAS CHOCOLATES FRUTAS AÇÚCAR FRUTAS FRITURAS<br />

VERDURAS CARNES VERDURAS DOCES VERDURAS DOCES<br />

LEGUMES MASSAS LEGUMES FRITURA LEGUMES MASSAS<br />

CEREAIS GORDUROSOS LEITE CHOCOLATE CEREAIS CARNES<br />

PEIXES AÇÚCAR CARBOIDRATOS GORDURA REFRIGERANTES<br />

TODOS DOCES PÃO INTEGRAL SALGADINHOS BATATA FRITA<br />

SALGADINHOS PEIXE<br />

As frutas foram associadas com o fato de serem<br />

“naturais”, “não terem gordura e nem açúcar”, “terem poucas<br />

calorias”, “não engordarem”, “limparem o organismo”,<br />

“auxiliarem o metabolismo”, “serem fonte de frutose e de glicose”.<br />

As verduras foram associadas com o fato de<br />

“terem celulose, vitaminas, minerais”, “poucas calorias”, “serem<br />

leves”, “terem ferro”, “potássio”, “fibras”, “não terem gordura”,<br />

“não engordarem”, “manterem a forma”, “conterem fibras e<br />

ajudarem o funcionamento do intestino”. Também, os<br />

legumes foram associados com o fato de “terem<br />

vitaminas, minerais”, “não terem gordura”, “não engordarem”,<br />

“serem pouco calóricos”, “terem nutrientes e ajudarem o<br />

metabolismo”.<br />

O peixe foi associado com o fato de “não<br />

engordar”, “não ser muito calórico”, “ser rico em nutrientes”,<br />

“ser leve e não ser gorduroso”. O leite foi associado com o<br />

fato de “ter vitaminas e cálcio”.<br />

O pão integral foi associado com o fato de “ter<br />

fibras” e “ter opções para recheio”. Os cereais foram<br />

associados ao fato de “fazerem bem ao organismo” e “serem<br />

energéticos”.<br />

Os carboidratos foram associados ao fato de<br />

“fornecerem energia e combustível para os músculos”.<br />

Os chamados alimentos gordurosos foram<br />

associados ao fato de “engordarem”, “aumentarem<br />

colesterol”, “causarem má digestão e problemas de estômago e<br />

coração”.<br />

O açúcar foi associado ao fato de “engordar”,<br />

“favorecer o aparecimento de diabetes” e “causar dependência”.<br />

As carnes foram associadas ao fato de “serem de<br />

difícil digestão”, “terem muita gordura”, “não serem saudáveis”,<br />

“engordarem” e “não serem confiáveis”.<br />

As massas foram associadas ao fato de<br />

“engordarem”, “fazerem mal a saúde”, “não terem vitaminas”<br />

e serem de “difícil digestão”. Os doces foram associados<br />

ao fato de “engordarem”, “serem muito calóricos”, “terem<br />

excesso de carboidratos”, “terem química”, “terem pouca<br />

vitamina” e só “fornecerem açúcar simples”.<br />

Os salgadinhos foram associados ao fato de “não<br />

terem nada de bom”, “serem muito calóricos”, “terem muito<br />

carboidrato” e “terem química” e “reterem líquidos”. O<br />

chocolate foi associado com o fato de “engordar”, “ser<br />

gorduroso”, “não ter vitaminas”, “ser muito calórico” e “não<br />

acrescentar nada”.<br />

Os refrigerantes foram associados com o fato<br />

de “não terem nada de bom”, “engordarem”, “por estufarem”,<br />

“terem muito carboidrato”, “não alimentarem”, “terem<br />

gordura”, “pouca vitamina” e “terem muitas calorias”. As<br />

frituras foram associadas com o fato de “engordarem”,<br />

“aumentar o colesterol”, “ter muita gordura”, “ter pouca<br />

vitamina”, “fazerem mal”, “serem de difícil digestão” e “não<br />

acrescentarem nada”.<br />

Discussão<br />

Quanto a freqüência de ingestão dos diferentes<br />

grupos de alimentos, observou-se, através dos<br />

resultados nas diferentes fases, o perfil de consumo<br />

destas pacientes. Os trabalhos da literatura<br />

concentram-se em detectar os alimentos mais<br />

freqüentes nos episódios bulímicos e não exatamente<br />

um levantamento da freqüência de consumo por<br />

grupos. Alguns autores [17] afirmaram que snacks e<br />

sobremesas apareciam mais nos episódios; outros [13]<br />

que as refeições não purgadas eram constituídas<br />

principalmente de saladas e refrigerantes dietéticos.<br />

Um estudo de 1981 [18], apontou que os alimentos<br />

preferidos nos episódios foram: sorvete, torrada,<br />

doces, donut´s, refrigerantes, salada, sanduíches, cookies,<br />

pipoca, leite, queijo e cereal. Outro estudo de 1997<br />

[19], afirmou que quando não estão em compulsão,<br />

os pacientes têm uma ingestão bastante restritiva, com<br />

alta freqüência de alimentos “saudáveis” e que os<br />

alimentos mais freqüentes nas compulsões eram<br />

sorvetes, tortas, pães, chocolates e batata chips. Um<br />

estudo realizado com bulímicas no Brasil [20],<br />

encontrou que os alimentos mais freqüentes nos<br />

episódios eram: bolachas, bolos e doces, leite, arroz,<br />

carne, queijos, refrigerantes e frutas.<br />

209


210<br />

Foram indicados nesta pesquisa, resultados<br />

positivos no aumento da freqüência de resposta de<br />

consumo para o arroz, as massas, o frango, peixe, feijões,<br />

queijos, frutas, legumes, verduras e sucos. Todos estes<br />

alimentos são considerados básicos e de grande<br />

importância na composição de uma dieta balanceada [21].<br />

Para as carnes, observou-se uma tendência no maior<br />

consumo das brancas em detrimento das vermelhas,<br />

como já apontado por um estudo de 1995 [13] e que, de<br />

qualquer forma, para nenhum tipo houve grande<br />

freqüência de resposta de consumo diário, e sim de 1-3<br />

vezes por semana. O aumento na afirmação do consumo<br />

diário de feijão também mostra-se importante,<br />

juntamente com a desmistificação do arroz, tornando o<br />

par brasileiro “arroz-feijão”, uma combinação mais aceita<br />

por estas pacientes. O aumento das respostas diárias para<br />

o consumo de queijo pode ser entendido como uma<br />

diminuição do medo de enfrentar este alimento,<br />

classicamente mais “gordo” que leite e iogurte – que são<br />

amplamente consumidos. Embora não se tenha feito<br />

diferenciação do tipo de queijo, nesta anamnese, pode<br />

ser que o aumento de freqüência esteja apenas relacionado<br />

aos queijos brancos.<br />

O consumo diário de frutas dobrou do início para<br />

o fim do seguimento e houve também aumento<br />

considerável do consumo diário referido de legumes e<br />

verduras, mostrando uma tendência de ingestão de<br />

alimentos mais leves e saudáveis; estes alimentos são<br />

classicamente considerados seguros pelas pacientes [13].<br />

Mas devido ao padrão “tudo ou nada” da bulimia nervosa,<br />

muitas vezes a ingestão destes grupos é reduzida nas<br />

fases de comportamento bulímico típico. O consumo<br />

diário de sucos também teve pequeno aumento, que pode<br />

ser considerado importante, caso esta bebida tenha sido<br />

colocada em substituição a outras menos saudáveis, como<br />

as alcoólicas e as bebidas dietéticas – que diminuíram ao<br />

longo das fases. É interessante notar, no entanto, além<br />

das bebidas dietéticas (sucos, isotônicos, etc), que os<br />

refrigerantes consumidos eram essencialmente os diet ou<br />

light, muitas vezes inclusive nos episódios compulsivos.<br />

Um estudo de 1994 [22], também encontrou a preferência<br />

por refrigerante dietético e leite desnatado em seus<br />

pacientes, mesmo nas compulsões. O consumo excessivo<br />

de líquidos nos episódios é conhecido pelo seu uso de<br />

diluir o conteúdo gástrico e facilitar o vômito; pode-se<br />

considerar também que as pacientes, devido às suas<br />

preocupações com calorias e dieta, tenham apenas<br />

refrigerantes dietéticos e leite desnatado em casa e, por<br />

isso, sejam consumidos nos episódios bulímicos.<br />

Puderam ser observados, também, resultados<br />

positivos de diminuição de freqüência, para os embutidos,<br />

bebidas alcoólicas, dietéticas e doces dietéticos; alimentos<br />

considerados pouco saudáveis ou até chamados de<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

“calorias vazias”, tendo recomendação de consumo<br />

esporádico, de acordo com a pirâmide dos alimentos [21].<br />

Analisando os alimentos que receberam mais<br />

respostas de consumo diário, observa-se que a mudança<br />

mais significante nos alimentos mais citados para<br />

freqüência diária, nas diferentes fases, foi a inclusão do<br />

arroz, após seis meses de seguimento. Terminar o<br />

seguimento vendo que aproximadamente metade das<br />

pacientes (o dobro do início do estudo) estava ingerindo<br />

arroz todos os dias – um alimento tão carregado de<br />

crenças e preconceitos –, é um dado de mudança de<br />

padrão alimentar importante. O mesmo pode-se afirmar<br />

para o aumento do consumo de massas diariamente –<br />

que também dobrou.<br />

O fato dos adoçantes dietéticos estarem entre os<br />

“alimentos” mais consumidos e terem apresentado<br />

diminuição de apenas 6,20%, após 3 meses, é dado<br />

preocupante. No entanto, não parece ser uma<br />

característica exclusiva de pacientes com bulimia nervosa,<br />

mas também da população de mulheres como um todo.<br />

Quanto aos alimentos mais citados, como tendo<br />

freqüência de consumo raro, ao final de seis meses,<br />

encontrou-se o sorvete, ovos, chocolate, doces em geral,<br />

salgadinhos e feijão.<br />

Os alimentos considerados como os mais saudáveis<br />

(frutas, legumes e verduras), estiveram longe de serem<br />

os citados como os favoritos (massas, pizza e doces).<br />

Estes dados demonstram que as pacientes bulímicas –<br />

assim como muitas outras pessoas –, acreditam que<br />

alimentação saudável é comer exclusivamente alimentos<br />

ricos em nutrientes essenciais (vitaminas e minerais) e<br />

pobres em açúcares e gorduras. Esta observação foi feita<br />

por um estudo de 1990 [23], alertando que, desta forma,<br />

fatalmente existiria uma frustração por não seguir a<br />

“dieta”, colocada como um padrão alimentar tão restritivo<br />

e perfeccionista.<br />

Observa-se pelas respostas de “saudáveis” e “não<br />

saudáveis” que as pacientes fazem uma distinção entre<br />

alimentos seguros e perigosos, como afirmado por outro<br />

pesquisador [12]. Outros autores [13] provaram esta<br />

divisão em seus estudos, apontando que as pacientes<br />

chamavam de seguros os vegetais, frutas e carne magra;<br />

e de perigosos cookies, pão, bolos e frituras.<br />

Conclusão<br />

A análise da freqüência de ingestão dos diferentes<br />

grupos de alimentos, mostrou resultados positivos no<br />

aumento da freqüência de resposta de consumo para:<br />

o arroz, as massas, o frango, o peixe, os feijões, os<br />

queijos, as frutas, os legumes, as verduras e os sucos.<br />

Mostrou ainda, resultados positivos de diminuição de


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

freqüência para: os embutidos, as bebidas alcoólicas,<br />

as bebidas dietéticas e os doces dietéticos. Pode-se<br />

concluir, portanto, que a abordagem nutricional<br />

melhora o padrão de ingestão de diferentes alimentos,<br />

possibilitando uma dieta mais balanceada e<br />

desmistificando certos alimentos.<br />

A análise das respostas para os alimentos<br />

favoritos, os aversivos e, àqueles que as pacientes<br />

julgavam mais ou menos saudáveis, não mostrou<br />

alteração importante de respostas ao longo das fases.<br />

Encontrou-se que, tanto os alimentos citados como<br />

favoritos e como aversivos (massas e doces,<br />

principalmente) se encaixaram na categoria de “não<br />

saudáveis”, relacionados essencialmente ao fato de<br />

serem ricos em calorias e “engordarem”. As aversões<br />

foram, a não ser no caso das vísceras, relacionadas<br />

diretamente ao conteúdo calórico e/ou de gordura.<br />

Os alimentos considerados como os mais saudáveis,<br />

estiveram longe de serem os citados como os favoritos.<br />

Conclui-se destes resultados, que preferências e<br />

aversões são questões difíceis de serem mudadas, até<br />

porque, são muito mais emocionais e fazem parte de<br />

um sistema de crenças pessoais. Idealmente, o<br />

tratamento nutricional deveria melhorar estas aversões<br />

a alimentos, por conta de seu conteúdo calórico ou<br />

“potencial engordativo”. Mas para isto, certamente o<br />

tempo de seguimento com terapia nutricional deve<br />

ser maior.<br />

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19.<br />

211


212<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Teores de colesterol e lipídeos totais em<br />

maçunin (Anomalocardia brasiliana)<br />

cru e cozido<br />

Levels of cholesterol and total lipids in maçunin<br />

(Anomalocardia brasiliana) raw and cooked<br />

Giselda Macena Lira * , Antônio Euzébio de Goulart Sant¢ana ** , Daniela Cristina de Souza Araújo *** , Fabiana<br />

Rodrigues de Oliveira *** , Maria de Lourdes da Silva Neta****<br />

*Professora Adjunto do Departamento de Nutrição – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal de Alagoas. Doutora em Ciência<br />

de Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas, USP, São Paulo, ** Professor Adjunto do Departamento de Química – Centro de<br />

Ciências Exatas e Naturais – Universidade Federal de Alagoas. Doutor em Química Orgânica pelo Departamento de Química da<br />

Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Doutorado pelo Departament of Chemistry do Queen Mary University of London, *** Bolsistas<br />

de Iniciação Científica PIBIC/CNPq/UFAL, Curso de Nutrição, ****Estagiária Curso de Nutrição UFAL<br />

Resumo<br />

O conhecimento dos teores de colesterol e lipídeos totais nos alimentos é fundamental para uma orientação dietética<br />

que atenda a recomendação do “National Cholesterol Education Program”. O maçunin (Anomalocardia brasiliana) é um molusco<br />

amplamente consumido em Maceió, porém inexistem dados sobre estes componentes. No presente trabalho foram<br />

determinados os teores de colesterol e lipídeos totais em maçunin cru e cozido. Analizaram-se 20 amostras “in natura” e 20<br />

cozidas, oriundas do mesmo lote, em base seca e úmida. Os resultados obtidos para lipídeos e colesterol, em base seca,<br />

apresentaram redução após o cozimento e os teores de colesterol estão acima da recomendação do NEP. A variabilidade<br />

entre os valores de colesterol obtidos atribui-se às variações sazonais e características da própria espécie.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Colesterol, lipídeos, moluscos, frutos do mar.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Alagoas – FAPEAL, Processo n° 2002.02.005-05<br />

Artigo recebido em 15 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Giselda Macena Lira, Universidade Federal de Alagoas, Centro de Ciências da Saúde,<br />

Departamento de Nutrição, Tabuleiro do Martins - BR 101, km 14, 57072-900 Maceió AL, Tel: (82) 214-1158,<br />

E-mail: gmlira@.ofm.com.br.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Abstract<br />

The knowledge of cholesterol and lipids levels in the food is fundamental for diet orientation under the recommendation<br />

of the National Cholesterol Education Program. In Maceió, northeast of Brazil, one of the most important foods is the<br />

mollusk maçunin (Anomalocardia brasiliana), however no data about its nutritional components is available. The present<br />

work reports the determination of the level of cholesterol and total lipids in maçunin raw and cooked. Twenty samples raw<br />

and twenty samples after decoction from the same batch, on dry and humid basis, were analysed. Lipid and cholesterol<br />

levels when measured, on dry basis, for the samples “in natura” and cooked ones, suffered losses on cooking. Values of<br />

cholesterol are higher than recommendation of the NEP. The variability of detected cholesterol values could be attributed<br />

to seasonality and characteristics of the species.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Cholesterol, lipids, mollusks, seafood.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Introdução<br />

Os lipídeos exercem funções estruturais,<br />

energéticas, coenzimáticas e hormonais nos seres<br />

vivos. O colesterol representa um lipídeo muito<br />

importante na alimentação, se diferencia dos<br />

triglicerídeos por não apresentar ácidos graxos e ser<br />

insaponificável; constitui o mais importante e<br />

abundante dos esteróides, desempenha funções<br />

estruturais e funcionais nas membranas celulares.<br />

É o precursor de substâncias de importância<br />

vital, como a vitamina D, os sais biliares, os estrógenos,<br />

a aldosterona, o cortisol, entre outras [1]. Os alimentos<br />

de origem animal são as principais fontes de colesterol<br />

na dieta. A maior parte do colesterol encontrado no<br />

sangue e nos tecidos é de origem endógena, sintetizado<br />

no próprio organismo. Os elevados índices de<br />

colesterol no sangue são altamente relacionados com<br />

o aumento da incidência de acidentes vasculares.<br />

Apesar do aumento do nível de colesterol sérico sofrer<br />

influência de uma série de fatores (estresse,<br />

hipertensão, tabagismo, sedentarismo e fatores<br />

genéticos), o consumo moderado do mesmo deve ser<br />

praticado [2].<br />

A dieta, ainda que haja alguma controvérsia [3],<br />

tem assumido um papel primordial na medida em que<br />

o alto teor de colesterol, o baixo consumo de fibra<br />

alimentar, a alta proporção de calorias lipídicas e ácidos<br />

graxos saturados, têm sido associados com o aumento<br />

da colesterolemia [4,5]. Por outro lado, a redução da<br />

colesterolemia, mesmo que pequena, parece ser<br />

eficiente na diminuição dos índices de mortalidade<br />

por doenças cardiovasculares [6].<br />

No Brasil, as mortes por doenças<br />

cardiovasculares contribuem significativamente como<br />

causa de morte em todas as regiões [7,8]. É necessário<br />

avaliar o perfil lipídico das dietas e a sua relação com<br />

os níveis de colesterol do sangue, uma vez que o<br />

colesterol dietético contribui aproximadamente com<br />

15% na formação do colesterol endógeno [9] e que,<br />

principalmente a intervenção educativa precoce, pode<br />

contribuir para um melhor estado de saúde.<br />

O maçunin é um molusco bivalve amplamente<br />

consumido em Maceió, estando ligado a própria<br />

história da cultura alagoana e enraizado nos hábitos<br />

alimentares da região [10]. No entanto, inexistem<br />

dados na literatura sobre os seus teores de lipídeos<br />

totais e colesterol. O tipo de processamento, mesmo<br />

caseiro, pode alterar o conteúdo e valor nutritivo dos<br />

alimentos, tornando-se importante o conhecimento<br />

destas alterações [11]. Como os hábitos alimentares<br />

contribuem para a etiologia das morbidades<br />

anteriormente citadas, o conhecimento dos teores<br />

destes componentes no maçunin é fundamental para<br />

uma adequada orientação dietética. Recentemente,<br />

avaliamos estes teores no molusco sururu (Mytella<br />

falcata), [12]. Nesta oportunidade, estamos relatando<br />

os níveis destes constituintes no maçunin cru e<br />

cozido.<br />

Material e métodos<br />

Material<br />

Maçunin (Anomalocardia brasiliana), parte<br />

comestível, procedente da Lagoa Mundaú, Maceió-<br />

AL (outubro de 2001 a maio de 2002). Adquiriramse<br />

20 amostras, pesando cerca de 500g que foram<br />

divididas em 2 porções de 250g. Os moluscos crus<br />

constituíram o grupo I e os produtos após cocção<br />

em água à 100° C por 20 minutos corresponderam<br />

ao grupo II, ambos oriundos do mesmo lote. As<br />

amostras foram conduzidas aos Laboratórios de<br />

213


214<br />

Bromatologia, do Departamento de Nutrição e<br />

Laboratório de Produtos Naturais do Departamento<br />

de Química, ambos da Universidade Federal de<br />

Alagoas, onde as análises foram realizadas.<br />

Métodos<br />

Em amostras dos grupos I e II, após<br />

homogeneização, realizaram-se as seguintes<br />

determinações em triplicata:<br />

Lipídeos totais – Utilizando 2 extrações com<br />

clorofórmio:metanol (2:1), lavagem do resíduo<br />

(clorofórmio:metanol 2:1), adição de KCl 0,88% em<br />

H 2 O, separação das fases, adição de metanol H 2 O (1:1),<br />

evaporação do clorofórmio em rota-evaporador,<br />

fração lipídica ressuspendida em clorofórmio [13].<br />

Alíquotas foram tomadas para determinações<br />

gravimétricas.<br />

Colesterol – Uma alíquota de 5 ml do extrato<br />

lipídico foi tomada para análise, através de<br />

saponificação, extração da matéria insaponificável,<br />

reação de cor, leitura da absorvância em<br />

espectrofotômetro a 490 nm, contra um branco. As<br />

observações obtidas foram comparadas às da curva<br />

padrão utilizada [14,15].<br />

Umidade – Determinada pela perda de peso em<br />

estufa regulada a 105 0 C [16].<br />

Resultados e discussão<br />

Na tabela I, são visualizados os resultados<br />

obtidos para umidade, lipídeos e colesterol em<br />

maçunin cru e cozido. Ao compararmos os resultados<br />

obtidos em base seca, utilizada para eliminar a<br />

influência da umidade, podemos observar que o<br />

cozimento levou a uma redução nos teores de lipídeos<br />

e colesterol.<br />

Com relação aos teores de lipídeos, ao se<br />

comparar os valores encontrados com dados de outras<br />

pesquisas, encontramos algumas semelhanças, bem<br />

como níveis discrepantes. Gordon [17], obteve níveis<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

de 1,8% para mexilhões frescos e cerca de 2,5 a 3,9%<br />

para ostras frescas analisadas durante 1 ano. Masson<br />

et al. [18], encontraram 2,3% de lipídeos para ostras<br />

(Ostrea chilensis) e 4,9% para gônadas de ouriço-domar<br />

(Loxechinus albus). Bragagnolo [19], encontrou teor<br />

médio de lipídeos de 1%, variando de 0,8 a 1,1% em<br />

camarão rosa “in natura” (Penaeus brasiliensis). Moura e<br />

Tenuta Filho [20], encontraram níveis de 1,13 e 1,33%<br />

para camarão rosa (Penaeus brasiliensis e Penaeus paulensis)<br />

“in natura” e cozido, respectivamente. Krzeczkowski<br />

[21], obteve 2,8 a 3,0 % de lipídeos totais, quando<br />

todo o camarão “in natura” (Pandalus borealis) foi<br />

analisado, e 1,2 a 1,5% quando apenas a carne foi<br />

analisada. Franco [22], registrou teores de lipídeos para<br />

camarão “in natura”, cozido e ostra de 1,8 , 0,8 e 2,0%<br />

, respectivamente. Lira et al. [12], encontraram níveis<br />

de 2,9 e 3,6% para o molusco sururu (Mytella falcata)<br />

cru e cozido.<br />

A redução nas concentrações de colesterol pode<br />

estar relacionada com a sua oxidação e,<br />

conseqüentemente, formação de óxidos, e/ou com a<br />

sua degradação térmica [20]. O colesterol encontrase<br />

no alimento intimamente associado a outros lípides.<br />

A oxidação desses lípides pode levar à oxidação do<br />

colesterol, principalmente se estiverem presentes<br />

ácidos graxos poliinsaturados, que são mais facilmente<br />

oxidáveis [23,24].<br />

Observou-se a influência do período de coleta<br />

nos resultados analíticos de colesterol, evidenciada<br />

através do elevado desvio-padrão obtido. Os níveis<br />

de colesterol no maçunin variaram de 206,5 mg/100g<br />

a 557,21 mg/100g nas amostras cruas e entre 212,18<br />

mg/100g e 553,25 mg/100g nas cozidas. A<br />

variabilidade entre os resultados pode ser atribuída a<br />

variações sazonais e características da própria espécie.<br />

Leonel et al. [25], demonstraram os efeitos da<br />

variação da salinidade sobre duas espécies de bivalves<br />

comestíveis do gênero Mytella. Durante o inverno ocorre<br />

redução da salinidade, a qual influencia diretamente a<br />

reprodução dos organismos aquáticos [26]. Correia [27],<br />

constatou uma relação direta entre a redução da fixação<br />

do sururu com a diminuição da salinidade, durante os<br />

meses de inverno (período de chuvas).<br />

Como os moluscos não são livres para migrar,<br />

estão à mercê dos alimentos que os rodeiam e o<br />

conteúdo de gordura, colesterol e composição de<br />

Tabela I. Teores de umidade, lipídeos e colesterol em maçunin cru e cozido.<br />

Maçunin Amostras(nº) Umidade(%) Lipídeos (%) Colesterol (mg/100g)<br />

base úmida base seca *base úmida base seca *<br />

Cru 20 75,72 (± 1,91) 2,5 (± 0,01) 10,29 (± 3,91) 371,59 (± 81,66) 1.530,43(± 382,18)<br />

Cozido 20 71,4 (± 1,83) 2,5 (± 0,01) 8,75 (± 5,39) 382,26 (± 56,00) 1.351,50(± 251,45)<br />

Média de amostras analisadas em triplicata, com desvio-padrão entre parênteses.<br />

* Obtida através de cálculos


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

ácidos graxos é marcadamente dependente da estação<br />

do ano [28]. Gordon [17], encontrou variações nos<br />

níveis de colesterol em ostras examinadas por um<br />

período de 9 meses, os menores níveis foram<br />

encontrados em amostras coletadas em fevereiro. Lira<br />

et al. [12], constataram variabilidade entre os níveis de<br />

colesterol em sururu, analisados durante 9 meses. A<br />

influência da sazonalidade também foi detectada por<br />

Miranda e Santos [29], na composição de mariscos<br />

procedentes da Baía de Todos os Santos.<br />

Na tabela II, são apresentados valores de<br />

colesterol citados na literatura para outros frutos do<br />

mar, podendo-se verificar que, com exceção do<br />

molusco sururu (Mytella falcata) onde verificou-se<br />

similaridade, os resultados obtidos no presente estudo<br />

foram mais elevados e, também, estão acima dos<br />

limites recomendados pelo National Cholesterol<br />

Education Program (NEP-1989) [30], que estabelece um<br />

consumo máximo de 300mg/dia de colesterol; no<br />

entanto, nos moluscos são encontrados outros esteróis<br />

além do colesterol [31,32,17,18]. Pode-se inferir que<br />

valores menores provavelmente poderiam ser obtidos<br />

através da utilização do método de cromatografia<br />

líquida de alta eficiência (HPLC), por ser mais preciso<br />

e exato, visto sua capacidade de separar o colesterol<br />

dos outros esteróis.<br />

É importante salientar que frutos do mar<br />

apresentam altos teores de colesterol, no entanto são<br />

ricos em ácidos graxos poliinsaturados, principalmente<br />

da série ômega-3, os quais apresentam efeito anticolesterolêmico<br />

[33,34,35]. A ênfase atual em nutrição<br />

humana é no sentido de uma ingestão reduzida de<br />

gorduras e ácidos graxos saturados, assim como uma<br />

ingestão moderada de ácidos graxos “w-3” – aqueles<br />

com dupla ligação inicial no terceiro carbono contado<br />

a partir do grupo metila –, os principais representantes<br />

deste grupo são os ácidos eicosapentanóico (EPA) e<br />

o docosahexaenóico (DHA). Estas substâncias<br />

apresentam propriedades que podem retardar o<br />

processo de agregação das plaquetas, prorrogando,<br />

assim, o tempo de coagulação sangüínea e,<br />

conseqüentemente, dificultando a formação de<br />

trombos na circulação [36].<br />

Conclusão<br />

Com base nos resultados obtidos, as seguintes<br />

conclusões podem ser apresentadas: O cozimento, nas<br />

condições empregadas neste estudo, levou a uma<br />

redução nos teores de lipídeos e colesterol; Os teores<br />

de colesterol em maçunin crus e cozidos ultrapassam<br />

os limites recomendados pelo NEP; Finalizando,<br />

pode-se concluir que os resultados encontrados<br />

fornecem informações relevantes aos profissionais da<br />

área de saúde, permitindo a elaboração de dietas que<br />

não ultrapassem os limites recomendados, além de<br />

poder servir de subsídios para a inclusão em tabelas<br />

de composição química de alimentos regionais/<br />

nacionais e à rotulagem nutricional.<br />

Tabela II - Teores de colesterol em frutos do mar “in natura” e cozidos encontrados na literatura.<br />

PARÂMETROS REFERÊNCIA AMOSTRA COLESTEROL (mg/100g)<br />

“In natura” Okey, 1945 [37] Ostra 230-470<br />

Kritchevsky et al., 1967 [31] Ostra 150,0<br />

Camarão 200,0<br />

Lagosta 170,0<br />

Caranguejo 140,0<br />

Johnston et al. , 1983 [38] Camarão (P. azteus) 201,0<br />

Masson et al., 1990 [18] Ostras (Ostrea chilensis) 60,8<br />

Franco, 1992 [22] Camarão fresco 124,0<br />

Ostra 230,0<br />

Mexilhão cru 214,0<br />

Lagosta crua 145,0<br />

Bragagnolo, 1997 [19] Camarão rosa (P. brasiliensis) 127,0<br />

Barni et al., 2001 [39] Escargot (Helix aspersa maxima) 116,45<br />

Miranda et al., 2002 [29] Ostra (Ostrea crassostrea) 267,00<br />

Lira et al. , 2002 [12] Sururu (Mytella falcata) 358,27<br />

Cozida Saldanha et al., 2001[40] Escargot (Achatina fulica) 41,98<br />

Franco, 1992 [22] Lagosta cozida 134,0<br />

Mexilhão cozido 108,0<br />

Camarão cozido 128,9<br />

Camarão enlatado 160,5<br />

Lira et al., 2002 [12] Sururu cozido 374,02<br />

215


216<br />

Agradecimentos<br />

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado<br />

de Alagoas (FAPEAL) pelo auxílio financeiro<br />

(Processo n° 2002.02.005-05), ao Conselho Nacional<br />

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)<br />

pelas Bolsas de Iniciação Científica.<br />

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217


218<br />

ARTIGO ORIGINAL<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

A influência do horário de trabalho<br />

no consumo alimentar<br />

de trabalhadores em turnos<br />

Impact of working time on food consumption<br />

Iara Cecília Pasqua*, Cláudia Roberta de Castro Moreno **<br />

*Nutricionista, Mestranda do Departamento de Saúde Ambiental, Setor de Saúde do Trabalhador, Faculdade de Saúde Pública,<br />

Universidade de São Paulo, **Bióloga, Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo.<br />

Pesquisadora do Departamento de Psicobiologia, Escola Paulista de Medicina, Unifesp<br />

Resumo<br />

Horários de trabalho podem determinar a distribuição do consumo calórico de trabalhadores devido a alterações dos<br />

horários das refeições. Estas, por sua vez, quando realizadas em horários não usuais podem levar a distúrbios gastrintestinais.<br />

O objetivo deste trabalho foi verificar a distribuição, ao longo de 24 horas, do consumo alimentar de 3 grupos de trabalhadores<br />

em turnos fixos no trabalho e na folga. Os resultados mostraram que a distribuição das calorias ao longo das 24 horas, varia<br />

em função do turno, sendo que os trabalhadores do turno noturno apresentaram um consumo excessivo de calorias durante<br />

à noite . Esse resultado evidencia a necessidade de dietas adequadas aos horários de trabalho.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave:Trabalho em turnos, trabalhador noturno, consumo alimentar<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

Working time may influence the distribution of worker’s caloric consumption. There is increasing the evidence of<br />

health disorders, mainly digestive, as a reflect of unusual meal time. The main objective of the present study was to verify the<br />

distribution of food consumption among shiftworkers throughout 24 hours. The results showed that the caloric distribution<br />

is related to each shift. Night workers showed an excessive caloric consumption during night time. Changing meal time and/<br />

or diet may be a countermeasure to prevent digestive disorders among shiftworkers.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Shiftwork, night worker, food consumption.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 15 de outubro; aprovado em 15 de novembro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Iara Cecília Pasqua, Rua Apeninos, 539/52 Paraíso, 01533-000 São Paulo SP, Tel:<br />

(11) 3262 1502/9213 5110, E-mail: ipasqua@usp.br


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Introdução<br />

Distribuição do consumo alimentar de<br />

trabalhadores em turnos ao longo de 24 horas<br />

A existência de ritmos biológicos na ingestão<br />

alimentar de alguns mamíferos já foi verificada por<br />

vários pesquisadores [1,2,3,4,5,6]. O consumo<br />

alimentar parece ser influenciado pela hora do dia,<br />

pelo dia da semana e pelo mês do ano [7].<br />

Para Costa [8], o horário das refeições é um<br />

importante sincronizador da vida humana do ponto<br />

de vista fisiológico e social, e representa ponto crucial<br />

na vida de trabalhadores em turnos 1 . Há turnos fixos<br />

e alternantes com escalas de trabalho préestabelecidas<br />

e existe, ainda, os que trabalham em<br />

horários irregulares. Tepas [10], sugere que<br />

trabalhadores em turnos apresentam algumas<br />

diferenças no hábito alimentar em relação aos<br />

trabalhadores diurnos. Os trabalhadores em turnos<br />

fazem, no mínimo, uma das duas refeições principais<br />

durante o trabalho e, freqüentemente, essas refeições<br />

consistem de pequenos lanches e nem sempre são<br />

de boa qualidade [8].<br />

Estudando trabalhadores em turnos irregulares<br />

e trabalhadores em turno fixo-diurno, Moreno et al.<br />

[11] não encontraram diferenças estatisticamente<br />

significantes entre o consumo alimentar desses grupos.<br />

No entanto, comparando-se o consumo alimentar de<br />

trabalhadores dos turnos matutino, vespertino e<br />

noturno, Assis [12] observou que a ingestão calórica<br />

média, estimada para 24 horas, foi maior para os<br />

trabalhadores do turno noturno em relação aos<br />

trabalhadores dos outros turnos. Romon-Rousseaux<br />

et al.[13], encontraram uma alta ingestão calórica por<br />

trabalhadores em turnos alternantes, principalmente<br />

durante o dia de fola e durante o turno vespertino.<br />

Segundo Tepas [10], trabalhadores em turnos<br />

diferem, não somente em relação ao valor calórico<br />

total, como também no horário e número de refeições.<br />

Assis [12] também observou que os trabalhadores do<br />

turno matutino consumiam, significativamente,<br />

refeições e lanches de maior valor calórico no período<br />

da manhã do que trabalhadores em turnos vespertino<br />

e noturno. Os trabalhadores do turno noturno<br />

apresentaram um consumo calórico, fornecido<br />

pelos carboidratos, significativamente maior no<br />

período da tarde em relação aos trabalhadores dos<br />

outros turnos. Além disso, esses trabalhadores do<br />

turno noturno faziam refeições e lanches de maior<br />

teor calórico, com uma maior ingestão de gorduras<br />

e carboidratos, durante à noite, quando comparados<br />

aos outros grupos.<br />

A possível associação do trabalho em turnos e<br />

doenças cardiovasculares ainda está sendo discutida,<br />

porém um dos fatores que pode levar ao aparecimento<br />

dessas doenças são os distúrbios alimentares, como<br />

colesterol sérico e glicemia em níveis alterados, comuns<br />

em trabalhadores em turnos, principalmente em<br />

trabalhadores do turno noturno [8]. Segundo Geliebter<br />

et al. [14], há evidências de que os trabalhadores em<br />

turnos alternantes apresentam altos níveis séricos de<br />

triglicérides e é alta a incidência de doenças coronárias<br />

entre estes trabalhadores. Da mesma forma, são<br />

poucos os estudos que verificaram o efeito do horário<br />

de trabalho na quantidade de calorias consumidas por<br />

trabalhadores em turnos [13], e a nutrição é uma das<br />

áreas mais importantes para a saúde e o bem-estar da<br />

população [15]. Além disso, dietas adequadas poderiam<br />

ser usadas para promover a adaptação ao trabalho em<br />

turnos [10].<br />

Como pôde ser observado, vários estudos<br />

sugerem que há uma variação do consumo alimentar<br />

ao longo das 24 horas em humanos. Além disso, de<br />

acordo com a literatura, há uma variação ao longo das<br />

24 horas do consumo alimentar, quando se compara<br />

trabalhadores submetidos a turnos fixo-diurnos e<br />

trabalhadores noturnos ou com esquema de trabalho<br />

em turnos. A investigação destas evidências pode ser<br />

de grande importância, já que muitos trabalhadores<br />

fazem suas refeições no local de trabalho. O<br />

oferecimento de uma dieta equilibrada, além de<br />

orientações sobre o consumo alimentar, poderia<br />

contribuir para um adequado fracionamento da dieta<br />

e, conseqüentemente, para a prevenção de ganho<br />

desnecessário de massa corporal e de desenvolvimento<br />

de doenças cardiovasculares.<br />

Objetivos<br />

O objetivo deste trabalho foi verificar a<br />

distribuição do consumo alimentar ao longo de 24<br />

horas, de 3 grupos de trabalhadores em turnos fixos<br />

no trabalho e na folga.<br />

Metodologia<br />

Amostra<br />

No presente estudo foram estudados<br />

trabalhadores do sexo masculino do departamento de<br />

manutenção de uma companhia de transportes do<br />

estado de São Paulo. Estes trabalhadores estão em<br />

1 O trabalho em turnos caracteriza-se pela não interrupção da produção devido à saída do trabalhador do seu posto de trabalho ao término de uma jornada diária,<br />

pois outro ocupará seu lugar [9].<br />

219


220<br />

turnos fixos que podem ser das 7:00 às 15:30 horas<br />

(turno matutino), 15:15 às 23:15 horas (turno<br />

vespertino) ou 23:00 às 7:30 (turno noturno).<br />

O departamento de manutenção desta<br />

empresa conta com cerca de 65 funcionários no<br />

turno matutino, 62 no turno vespertino e 62 no<br />

turno noturno, todos do sexo masculino.<br />

A tarefa consiste em consertos e reparos de<br />

equipamentos envolvendo atividades que variam<br />

quanto ao equipamento a ser reparado e local, pois<br />

eles podem trabalhar tanto em locais exteriores<br />

quanto no interior da empresa. Geralmente, os<br />

funcionários ficam de plantão em 8 bases e saem<br />

para a realização de tarefas à medida que são<br />

solicitados.<br />

A coleta de dados foi realizada nessas bases e<br />

a data e horário estabelecidos com antecedência<br />

pelos supervisores. Uma das exigências da empresa<br />

é de que a coleta fosse realizada durante a troca de<br />

turnos, para evitar atrasos no trabalho dos<br />

funcionários. Não houve sorteio para a escolha dos<br />

entrevistados. Todos os funcionários foram<br />

convidados a participar. 55 trabalhadores (17 do<br />

turno matutino, 22 do turno vespertino e 16 do<br />

turno noturno) preencheram os instrumentos de<br />

coleta dos dados de consumo alimentar, durante<br />

um dia de trabalho e destes, 52 trabalhadores (15<br />

do turno matutino, 21 do turno vespertino e 16 do<br />

turno noturno) preencheram os mesmos<br />

instrumentos relatando o consumo num dia de<br />

folga.<br />

Variação ao longo das 24 horas do consumo<br />

alimentar – Diário alimentar<br />

Foi usado o Diário Alimentar de 3 dias (2 dias<br />

de trabalho e 1 de folga) para avaliar o consumo<br />

alimentar dos trabalhadores estudados. As<br />

informações necessárias para o preenchimento<br />

foram dadas aos trabalhadores no momento da<br />

entrega do Diário Alimentar, que foi recolhido cerca<br />

de 10 dias após sua entrega. A análise da<br />

composição nutricional da dieta foi realizada através<br />

do Programa de Composição<br />

Nutricional Vitual Nutri [16].<br />

Como os trabalhadores<br />

não faziam refeições no<br />

mesmo horário, foram<br />

estabelecidas faixas de horários<br />

para avaliar o valor calórico de<br />

refeições realizadas em vários<br />

momentos do dia, permitindo<br />

a análise do consumo alimentar<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

durante as 24 horas. As faixas de horário<br />

estabelecidas foram: entre 00:00 e 04:59 h; entre<br />

05:00 e 09:59 h; entre 10:00 e 14:59 h; entre 15:00 e<br />

19:59 h e entre 20:00 e 24:59 h.<br />

Análises dos dados<br />

No presente estudo apresenta-se as análises<br />

descritivas do consumo alimentar dos trabalhadores<br />

estudados.<br />

Resultados<br />

Consumo alimentar e distribuição do valor<br />

calórico total (VCT) ao longo de 24 horas<br />

A análise da dieta dos trabalhadores em turnos<br />

revelou que eles consomem, em média, 2.470 calorias<br />

em um dia de folga e 2394 calorias em um dia de<br />

trabalho, como pode ser observado na tabela I.<br />

No entanto, a análise da distribuição ao longo<br />

das 24 horas das calorias consumidas pelos<br />

trabalhadores do turno noturno, mostrou que nos<br />

dias de trabalho eles consumiam 22% das calorias<br />

consumidas nas 24 horas entre 0 e 4:59 h, enquanto<br />

que os trabalhadores dos turnos vespertino<br />

consumiam 3% das calorias deste horário. Já os<br />

trabalhadores matutinos não faziam refeições neste<br />

horário (figura 1).<br />

Entre 5 e 9:59 h, os trabalhadores matutinos<br />

consumiam 23% das calorias consumidas num dia<br />

inteiro de trabalho. Neste mesmo horário, os<br />

trabalhadores do turno vespertino consumiam 11% e<br />

os trabalhadores do turno noturno 20% das calorias<br />

consumidas em 24 horas (figura 1).<br />

Na figura 1 pode-se observar, também, que entre<br />

10 e 14:59 h, os trabalhadores do turno matutino e<br />

vespertino consumiam, respectivamente, 34 e 35% das<br />

calorias consumidas em um dia inteiro de trabalho.<br />

As refeições realizadas pelos trabalhadores do turno<br />

Tabela I - Valor calórico total (VCT) da dieta dos trabalhadores segundo turno<br />

de trabalho e dia de folga ou trabalho.<br />

Folga Trabalho<br />

Turnos média n dp média n dp<br />

(calorias) (calorias) (calorias) (calorias)<br />

Matutino 2251 15 737 2365 17 654<br />

Vespertino 2721 21 1321 2343 22 693<br />

Noturno 2345 16 1161 2494 16 769<br />

Todos 2470 52 1129 2394 55 694


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Fig. 1 - Distribuição das calorias consumidas pelos<br />

trabalhadores em um dia de trabalho segundo<br />

turno de trabalho<br />

noturno, neste horário, forneciam 21% das calorias<br />

consumidas em 24 horas.<br />

Assim, como nos dias de trabalho, nos dias de<br />

folga os trabalhadores do turno matutino não faziam<br />

refeições entre 0 e 4:59 h. Os trabalhadores do turno<br />

vespertino consumiam 1% das calorias neste horário.<br />

Já os trabalhadores em turnos consumiam 13% das<br />

calorias consumidas em 24 horas entre 0 e 4:59 h,<br />

como pode ser observado na figura 2.<br />

Os resultados mostram também que entre 5 e<br />

10:59 h, os trabalhadores dos turnos matutino,<br />

vespertino e noturnos consumiam, respectivamente,<br />

14, 10 e 8% das calorias de um dia inteiro de folga<br />

(figura 2).<br />

A figura 2 mostra, ainda, que entre 20 e 23:59 h,<br />

os trabalhadores do turno matutino consumiam 28%<br />

das calorias totais. Os trabalhadores do turno<br />

vespertino e noturno tinham refeições, neste horário,<br />

que forneciam 32 e 31%, respectivamente, das calorias<br />

consumidas em um dia inteiro de folga.<br />

Discussão<br />

Os trabalhadores noturnos não apresentaram<br />

VCT maior do que os trabalhadores de outros grupos,<br />

ao contrário dos resultados encontrados por Assis [12].<br />

Porém, o presente resultado sugere que existe a<br />

influência do horário de trabalho na distribuição ao<br />

longo das 24 horas do consumo alimentar,<br />

corroborando o estudo de Tepas [10]. Isso fica<br />

evidente ao observar-se que os trabalhadores noturnos<br />

apresentaram, durante à noite, um consumo calórico<br />

mais elevado do que os trabalhadores dos outros<br />

Fig. 2 - Distribuição das calorias consumidas pelos<br />

trabalhadores em um dia de folga segundo turno<br />

de trabalho<br />

grupos. Este resultado corrobora a hipótese de<br />

Reinberg [1], de que os trabalhadores noturnos<br />

geralmente apresentam o hábito de beliscar durante o<br />

turno, enquanto os trabalhadores matutinos e<br />

vespertinos, provavelmente, dormem neste horário.<br />

Mas segundo Reinberg [1], o comportamento de<br />

beliscar poderia aumentar o VCT da dieta dos<br />

trabalhadores noturnos, o que não aconteceu com os<br />

trabalhadores noturnos aqui estudados. Além disso, a<br />

dificuldade de acesso a restaurantes que forneçam<br />

alimentação equilibrada, pode levar os trabalhadores<br />

deste horário de trabalho a realizarem lanches mais<br />

calóricos. Essa é uma das hipóteses sugeridas por<br />

Costa [8], para explicar o alto consumo de calorias<br />

por trabalhadores noturnos durante à noite.<br />

Embora não tenham apresentado VCT mais<br />

elevado do que os trabalhadores dos outros grupos,<br />

os trabalhadores noturnos do atual estudo merecem<br />

atenção pelo fato de fazerem refeições em horários<br />

não usuais, o que pode causar, segundo Cipolla-Neto<br />

et al [17], distúrbios que se caracterizam, entre outros<br />

sintomas, por distúrbios gastrintestinais e astenia e/<br />

ou sensação de fome em horários não adequados.<br />

Conclusão<br />

Os trabalhadores do turno noturno demandam<br />

maior atenção, por realizarem refeições em horários<br />

não adequados, o que poderia ser a causa do excesso<br />

de peso que está associado a doenças nãotransmissíveis<br />

(ou crônico-degenerativas), como<br />

diabetes, hipertensão arterial e doenças<br />

cardiovasculares.<br />

221


222<br />

Estudos sobre a alimentação ideal para<br />

trabalhadores em turnos são de grande importância<br />

para a prevenção de doenças relacionadas à<br />

alimentação, já que vem crescendo cada vez mais o<br />

número de pessoas que trabalham em horários nãousuais.<br />

A continuidade deste estudo pode levar à<br />

informações de dietas e padrões alimentares<br />

adequados para esta população.<br />

Referências<br />

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5. Yoshihara T, Honma S, Mitome M, Honma K.<br />

Independence of feeding-associated circadian rhythm<br />

from light conditions and meal intervals in SCN<br />

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exposed to chronic short days. J Biol Rhythms<br />

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8. Costa G. The impact of shift and night work on health.<br />

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10. Tepas DI. Do eating and drinking habits interact with<br />

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211.<br />

11. Moreno CRC, Pasqua IC, Cristofoletti MF. Turnos<br />

irregulares de trabalho e sua influência nos hábitos<br />

alimentares: o caso dos motoristas de caminhão. Revista<br />

da ABRAMET – Associação Brasileira de Acidentes e<br />

Medicina de Tráfego 2001:17-24.<br />

12. Assis MAA. Comportamento alimentar e ritmos<br />

circadianos de consumo nutricional dos coletores de<br />

lixo da cidade de Florianópolis: relações entre os turnos<br />

de trabalho. Florianópolis 1998, Tese de Doutorado -<br />

Centro Tecnológico da UFSC.<br />

13. Romon-Rousseaux M, Beuscart R, Thuilliez JC, Frimat<br />

P, Furon D. Influence of different shift on eating<br />

behavior and weight in edible oil refinery workers. In:<br />

Proceedings of the VII International Symposium on<br />

night and shiftwork, Áustria 1985:433-40.<br />

14. Geliebter A et al. Work-shift period and weight change.<br />

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15. Leal MC, Bittencourt AS. Informações nutricionais: o<br />

que se tem no país? Cadernos de Saúde Pública.<br />

Periódico on line Scielo 1997;13(3).<br />

16. Phillippi ST, Szarfarc SC, Laterzza AR. Virtual Nutri<br />

(programa de computador). Versão 1.0 for windows.<br />

São Paulo: Departamento de Nutrição FSP-USP; 1996.<br />

17. Cippola-Neto J, Menna-Barreto L, Marques N, Afeche<br />

SC, Silva AAB. Cronobiologia do ciclo vigília-sono. In:<br />

Reimão R. Sono: Estudo abrangente. 2 a ed. São Paulo:<br />

Atheneu 1995:50-87.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

REVISÃO<br />

Aleitamento materno e desmame - aspectos<br />

históricos e perspectivas futuras<br />

Breast feeding and weaning – historical aspects<br />

and future perspectives<br />

Mônica Glória Neumann Spinelli *, Sônia Buongermino de Souza**<br />

*Mestre e Doutoranda em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública da USP, professora assistente da Universidade de Mogi das Cruzes e<br />

da Universidade Metodista de São Paulo, **Professora Doutora do Departamento de Nutrição da Faculdade<br />

de Saúde Pública da USP, São Paulo<br />

Resumo<br />

O artigo faz uma abordagem em seqüência cronológica de aspectos históricos do aleitamento materno e do período de<br />

desmame, e enfoca perspectivas futuras da alimentação infantil nessa fase de transição para a alimentação do adulto.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Palavras-chave: Aleitamento materno, desmame, história da alimentação infantil.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Abstract<br />

The paper carries out a cronological review of the breastfeeding and weaning and an approach to future perspectives<br />

in infant nutrition in this time of transition into adult food.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○<br />

Key-words: Brastfeeding, weaning, infant nutrition history.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Artigo recebido em 10 de outubro; aprovado em 15 de outubro de 2002<br />

Endereço para correspondência: Mônica G. N. Spinelli, Rua dos Ingleses 222/162, Bela Vista 01329-000 São Paulo<br />

SP. Tel:: (11) 288-4162, Fax: (11) 3258-5074, E-mail: spinelli@usp.br<br />

223


224<br />

Em todas as épocas houve a preocupação com<br />

a alimentação da criança recém-nascida, como pode<br />

ser atestado em diversos documentos e pesquisas<br />

históricas.<br />

Apesar da recomendação do aleitamento<br />

materno ser proposta como um dos princípios da<br />

nutrição em diversas religiões, além de ser uma tradição<br />

das civilizações mais antigas, há evidências de que<br />

sempre houve mães que não amamentaram seus filhos,<br />

como descrito na legislação feita por Hamurabi, sexto<br />

rei da primeira dinastia da Babilônia (1793-1759 a.C.),<br />

onde era possível encontrar orientações sobre formas<br />

de redigir um contrato com amas de leite [1,2]. A<br />

substituição por amas de leite, tanto pela<br />

impossibilidade ou falta de interesse da mãe em<br />

amamentar, quanto pela morbi-mortalidade durante<br />

o parto ou puerpério, foi uma das soluções mais<br />

utilizadas por vários séculos.<br />

Da época do Egito (888 a.C.), encontraram-se<br />

desenhos em ruínas, mostrando a utilização de<br />

mamadeiras na alimentação das crianças [3] e da Grécia<br />

clássica, encontraram-se nos túmulos, um grande<br />

número de crianças enterradas junto com suas<br />

mamadeiras, apesar de ser generalizado, nessa época,<br />

o uso de amas de leite. A Roma antiga seguia os<br />

costumes gregos do final desse período [4] e um dos<br />

mais conceituados médicos dessa época, Soranus,<br />

proveniente de Éfeso, que lá se estabeleceu durante o<br />

primeiro século, prescrevia alimentos que deveriam<br />

ser utilizados como suplemento ao aleitamento<br />

materno, tais como migalhas de pão amolecidas com<br />

mel e amassadas, sopa feita com farinha triturada e<br />

fervida, papa de arroz aguado e mole, além de ovos<br />

cozidos moles. Recomendava, ainda, que não fosse<br />

oferecido alimento a criança por dois dias após o<br />

nascimento e leite humano antes dos vinte dias, pois<br />

seria prejudicial pela sua espessura e difícil degustação<br />

[1,5]. Soranus criou o teste da unha, para verificar a<br />

qualidade do leite materno (uma gota do leite deveria<br />

ser colocada na unha e sua qualidade seria avaliada<br />

pela cor e consistência). Esse teste foi tão popular,<br />

que foi utilizado por aproximadamente 15 séculos [5].<br />

Médicos muçulmanos medievais, como Rhazes<br />

e Avicenna, aconselhavam que, dependendo da<br />

quantidade de leite de peito, primeiro fossem<br />

oferecidas à criança misturas parecidas ao leite e, mais<br />

tardiamente, alimentos sólidos. Avicenna<br />

recomendava, também, que a mãe mastigasse os<br />

alimentos antes de oferecê-los à criança. Essas<br />

recomendações, publicadas no livro Cânon da<br />

Medicina, traduzido para o latim, tiveram grande<br />

influência na Europa, perdurando por 15 séculos [5],<br />

sendo utilizadas até hoje, em sociedades primitivas.<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Na Bíblia, encontra-se o relato de Isaias (7:15) referente<br />

a alimentos de desmame, quando revelado o<br />

nascimento de Cristo: “Ele comerá coalhada e mel”.<br />

Passada a primeira metade do século XV, a<br />

alimentação infantil, que pouca alteração havia sofrido<br />

até então, começa a ser tratada com uma conotação<br />

mais científica, passando a ser publicada em diferentes<br />

tratados de medicina. Como conduta, foi descrita pela<br />

primeira vez em 1472, no livro de Pietro Baggalardo<br />

– “The Aegritudinibus Infantum” [5] . Nessa mesma<br />

época, Bartholomaeus Metlinger (Alemanha 1450-<br />

1492) escreveu dois capítulos a respeito da nutrição<br />

do bebê e de crianças maiores. Seu livro, publicado<br />

em 1473, trata-se do texto pediátrico mais antigo<br />

conhecido e incluía conselhos, tais como, alimentar a<br />

criança somente com leite e papa até o nascimento<br />

do primeiro dente e, depois, com pão molhado no<br />

leite ou caldo de carne [3].<br />

As primeiras descrições de alimentos de<br />

desmame e como prepará-los surgiram entre 1500 e<br />

1800. Os dois alimentos de desmame mais populares<br />

na época eram as papas e mucilagens, que datam do<br />

século XV, sendo que as mucilagens surgiram um<br />

pouco antes das papas [5] .<br />

Na Inglaterra, Thomas Phaire, conhecido como<br />

o pai da pediatria inglesa (1510-1560), dedicou o<br />

primeiro capítulo de seu livro a nutrição do bebê [1].<br />

Na França, o primeiro livro de pediatria foi<br />

escrito por Simon de Valembert, em 1565, e descreve<br />

o uso do tubo de sugar. Esse utensílio em forma de<br />

cachimbo, feito de chifre, deveria ser usado por<br />

crianças acima de três meses de idade. Esse pediatra<br />

também se posicionou contra o sistema, instituído<br />

pelos médicos medievais, de alimentar as crianças com<br />

alimentos pré-mastigados pela pessoa que oferecia o<br />

alimento, afirmando que isso favorecia a transmissão<br />

de doenças parasitárias. Ele sugeria que se dessem<br />

frutas e vegetais mais precocemente e leite fervido<br />

com pão branco e gema de ovo aos três meses de<br />

idade [1,5]. Mercurialis, em seu livro escrito em 1583,<br />

recomendava que o aleitamento materno deveria<br />

continuar até os 2 ou 3 anos, e criticava o fato de<br />

certas mães darem papas após o terceiro mês e pararem<br />

de amamentar no décimo terceiro mês. John Peachy,<br />

que em 1697 publicou “General Treatise of Disease of<br />

Children”, recomendava introdução de alimentos<br />

sólidos entre os 18 e 24 meses. Até o século XVII, os<br />

alimentos mais comumente utilizados eram misturas<br />

de féculas, como mucilagens ou papas. Mucilagem era<br />

um alimento infantil feito de pão ou farinha fervida<br />

na água e raramente acrescida de leite. A papa era<br />

preparada com caldo ou leite, cereal, óleo ou manteiga<br />

e eventualmente de ovos. Algumas vezes essas misturas


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

eram acrescidas com vinho ou cerveja. Não se<br />

encontra até nessa época, nenhum registro de<br />

alimentação artificial de bebês [5].<br />

O uso na nutrição infantil de leite de animais<br />

foi, pela primeira vez, concebido na Itália.<br />

Provavelmente, a dificuldade de obtenção e utilização<br />

desse alimento, fortaleceu a crença de que<br />

características físicas eram transmitidas pelo leite. Ou<br />

seja, a criança adquiriria as feições do animal, cujo<br />

leite havia recebido. Num orfanato, aberto em Paris<br />

em 1689, utilizou-se leite de vaca como alimentação<br />

infantil, pois era de mais fácil obtenção [5].<br />

Conta a história, que Ana Stuart (1665-1714),<br />

rainha da Grã-Bretanha e da Irlanda, perdeu 18 filhos<br />

na infância de “alimentação com colher e ama de leite”.<br />

A grande mortalidade decorrente desse sistema, deviase,<br />

principalmente, aos poucos cuidados higiênicos<br />

aliados à inadequação da alimentação.<br />

Somente nos fins do século XVIII a mamadeira<br />

entrou formalmente para o uso na alimentação infantil.<br />

Em 1799, a química do leite foi tratada pela primeira<br />

vez, na quarta edição do livro de Underwood, “Treatise<br />

of the Diseases of Children”. Esse fato marcou o início<br />

do estudo científico da alimentação infantil [5].<br />

No século XVIII, juntamente com a alimentação<br />

artificial, teve início a ciência da estatística. A<br />

mortalidade infantil começou, então, a ser estudada<br />

em vários países e um grande número de mortes foi<br />

atribuída a alimentação com leite de animais [1].<br />

Underwood, em 1784, fez a primeira recomendação<br />

sobre o leite de vaca como alternativa para o leite<br />

humano [3].<br />

Podemos dizer que o século XVIII foi o<br />

período em que o aleitamento materno voltou a ser<br />

reconhecido e que o progresso na química orgânica<br />

também influenciou a nutrição [1]. Cadogan, entre<br />

outros, começou a encorajar o aleitamento materno,<br />

apesar de advogar um esquema alimentar de somente<br />

quatro mamadas diárias e proibir mamadas noturnas.<br />

Se posicionava, também, contra a crença existente,<br />

de que vegetais e frutas eram perigosos para crianças<br />

[1,3].<br />

No século XIX, quando a revolução industrial<br />

estava em curso, houve várias mudanças sociais<br />

relevantes em relação aos eventos nutricionais. Entre<br />

eles, o fato das mulheres entrarem no mercado<br />

profissional. Mães e, talvez de alguma forma mais<br />

importante, mulheres que serviam de amas-de-leite,<br />

descobriam que poderiam procurar por um trabalho<br />

mais bem remunerado. A disponibilidade para<br />

alimentar ao peito uma criança, que era a única fonte<br />

de renda até então, passou a ser desprezada, pois as<br />

mulheres procuravam empregos nas indústrias.<br />

Em 1884, Elijah Pratt inventou o bico de<br />

borracha para garrafas, substituindo o uso da amade-leite.<br />

Em 1867, o químico alemão Justis von Lietbig<br />

iniciou o mercado da alimentação infantil, com o<br />

produto denominado “a perfeita alimentação da<br />

criança”, preparado com farinha de trigo, leite de vaca<br />

e farinha de malte. Esse alimento se apresentava sob<br />

a forma líquida e não se mantinha bem em suspensão.<br />

Essa mistura começou a ser utilizada levando a um<br />

aumento de mortalidade, fato similar ao que ainda<br />

ocorre nos dias de hoje, em países subdesenvolvidos,<br />

com as crianças não amamentadas ao peito [5,6].<br />

Thomas Morgan Rotch (1849-1914), primeiro<br />

professor de pediatria da Faculdade de Medicina de<br />

Harvard, criou um cálculo matemático complexo, para<br />

calcular diariamente as quantidades dos principais<br />

componentes do leite de vaca, para formular<br />

compostos alimentares infantis. Dessa experiência,<br />

vem a palavra fórmula para designar os leites<br />

modificados.<br />

Com o advento da alimentação alternativa e<br />

industrializada, a amamentação começou a declinar<br />

[6,7], tornando-se uma preocupação médica e de saúde<br />

pública, pela alta mortalidade causada.<br />

Apesar da superioridade do leite materno sempre<br />

ter sido reconhecida e o primeiro banco de leite<br />

humano ter sido criado em Boston em 1910, até o<br />

presente, o aleitamento natural não ocorre na<br />

freqüência desejada por motivos biológicos, sociais<br />

e/ou psicológicos.<br />

Com os avanços técnicos, tais como refrigeração<br />

elétrica e modificação das proteínas, a popularidade<br />

das fórmulas lácteas voltou a aumentar nas duas<br />

primeiras décadas do século XX, pois essas alterações<br />

permitiram um decréscimo no número de mortes e<br />

doenças causadas pela mamadeira [8]. Nesse período,<br />

nos EUA, as crianças não recebiam alimentação sólida<br />

até por volta do primeiro ano. Jacoby, pai da pediatria<br />

americana, aconselhava que antes dos dois anos de<br />

idade, não deveriam ser oferecidos vegetais. Já Griffith,<br />

em seu livro escrito para enfermeiras e pais,<br />

aconselhava o desmame aos 10 – 12 meses [5].<br />

A tendência de introduzir precocemente<br />

alimentos sólidos, que teve início no século IX,<br />

culminou com os excessos cometidos nos anos 50 e<br />

60. O caso extremo dessa corrente, aconteceu em<br />

1953, quando Sacket descreveu suas experiências com<br />

introdução de alimentos sólidos no berçário [5].<br />

Entre as décadas de 40 e 70, coincidindo com<br />

um importante decréscimo do aleitamento materno,<br />

era feita a introdução, mais precocemente, de uma<br />

quantidade maior de alimentos e de alternativas para<br />

225


226<br />

o leite. Em vários países, nessa época, a introdução de<br />

alimentos não lácteos se deu por volta das três ou<br />

quatro semanas de vida. O tempo de introdução e o<br />

tipo de alimento variavam, dependendo de fatores<br />

culturais, sócio-econômicos e tradições de cada país.<br />

Nessa época, todas as classes sociais e muitos pediatras<br />

foram influenciados pela propaganda direta e indireta,<br />

veiculada pelas indústrias de alimentos, sobre as<br />

vantagens da introdução precoce da alimentação<br />

complementar. Surgiram ainda, nessa época, os<br />

concursos de bebês, associando a beleza da criança<br />

robusta e saudável à alimentação com leite em pó [9].<br />

Segundo Fisberg [10], em nosso país, no século<br />

XX, paralelamente ao uso indiscriminado do leite em<br />

pó, começa-se a preconizar a introdução de outros<br />

alimentos, a partir dos dois meses de idade e,<br />

independentemente da região ou da classe social, a<br />

mãe era orientada a administrar frutas, que naquela<br />

época eram importadas, tais como, pêra ou maçã e<br />

uma extensa lista de verduras e legumes, sem mesmo<br />

ser considerada a disponibilidade de recursos para<br />

aquisição desses alimentos.<br />

Em 1954, a Academia Americana de Pediatria<br />

criou o Comitê de Nutrição, visando estabelecer<br />

recomendações sobre a prática da alimentação infantil.<br />

A partir de 1970, paralelamente ao progressivo<br />

aumento do aleitamento materno, os inconvenientes<br />

da administração precoce dos alimentos de desmame<br />

ficaram evidentes, observando-se, então, uma<br />

tendência de prolongar o aleitamento [9].<br />

Em 1982, o Comitê de Nutrição da Sociedade<br />

Européia de Gastroenterologia e Nutrição<br />

recomendou que a alimentação de desmame não<br />

deveria ser introduzida antes dos três meses e nem<br />

depois dos seis meses.<br />

Em 1983, no Brasil, os Comitês de Nutrição da<br />

Sociedade de Pediatria de São Paulo e da Sociedade<br />

Brasileira de Pediatria lançam novas normas para o<br />

esquema de alimentação infantil, incentivando o<br />

aleitamento materno exclusivo até o sexto mês.<br />

Em 1998, a Sociedade de Pediatria de São Paulo<br />

– SPSP [11], publica novas recomendações sobre a<br />

alimentação infantil até o terceiro ano de vida,<br />

ratificando o aleitamento materno, exclusivo até o<br />

sexto mês, conforme orientações da Organização<br />

Mundial de Saúde, e orientando o período de transição<br />

da mamadeira para a alimentação do adulto.<br />

A introdução de alimentos de desmame é de<br />

fundamental importância nutricional; as necessidades<br />

energéticas tornam-se mais críticas entre os seis e doze<br />

meses. Normalmente o aleitamento materno ou<br />

fórmulas infantis, fornecem energia suficiente dos<br />

primeiros 4 a 6 meses de vida. A introdução de<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

alimentos complementares deve ser feita da mesma<br />

forma, tanto para as crianças que recebem leite<br />

materno, quanto para as alimentadas com fórmulas<br />

infantis. Por outro lado, é aconselhável diversificar mais<br />

precocemente a alimentação de crianças alimentadas<br />

com leite de vaca não-modificado, de modo a adequar<br />

as necessidades de ferro, vitamina C, ácido linoleico e<br />

de elementos traço. Para tanto, faz-se necessário a<br />

introdução de suco de frutas, após o primeiro mês de<br />

vida e de cereais, vegetais e carnes a partir dos quatro<br />

meses.<br />

Essas recomendações, baseadas nos<br />

conhecimentos atuais e que deveriam vigorar para a<br />

maioria das crianças, acabam, nos dias de hoje, sendo<br />

alteradas em função de diversos fatores, tais como:<br />

condições sócio-econômicas, hábitos alimentares do<br />

adulto, maior inserção da mulher no mercado de<br />

trabalho e grande diversificação e publicidade de leites<br />

e alimentos infantis.<br />

A condição financeira desfavorável pode limitar<br />

a aquisição da quantidade e qualidade dos alimentos.<br />

Por sua vez, uma renda maior também pode favorecer<br />

uma inadequação da alimentação na medida em que,<br />

muitas vezes, ocorre a substituição de alimentos<br />

naturais por alimentos industrializados, que podem<br />

ter acréscimo de aditivos químicos ou consistência<br />

inadequada.<br />

Como perspectiva futura vemos a crescente<br />

inserção da mulher no mercado de trabalho, como<br />

risco para a tendência de crescimento da amamentação,<br />

pois a concorrência acirrada faz com que muitas<br />

mulheres acabem antecipando sua volta ao trabalho,<br />

antes do término do período de licença maternidade<br />

[12], abandonando o aleitamento materno. Ainda<br />

fazendo projeções, a introdução cada vez mais precoce<br />

de alimentos não adequados, tais como refrigerantes,<br />

guloseimas, salgadinhos, embutidos e outros produtos<br />

industrializados supérfluos, parece estar aumentando,<br />

como têm demonstrado em trabalhos publicados<br />

[13,14], que o avanço do conhecimento científico, por<br />

si só, não é condição suficiente para que as crianças<br />

recebam a alimentação ideal. Para tal, faz-se necessário<br />

investir em programas educativos para a população,<br />

em maior capacitação para os técnicos em relação às<br />

formas de transmissão de informações, além de maior<br />

controle sobre a propaganda de alimentos que possam<br />

ser oferecidos às crianças.<br />

Referências<br />

1. Gürson CT, Saner G. Historical introduction. In: Burman<br />

D, Mc Laren DS, editores. Textbook of paediatric<br />

nutrition. London, Churchill Livingstone 1982:1-17.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

2. Enciclopédia Larousse Cultural. Hámurabi<br />

1995;12:2904.<br />

3. Rea MF. Substitutos do leite materno: passado e<br />

presente. Rev Saúde Pública 1990;24:241-9.<br />

4. Davidson WD: A brief history of infant feeding. J<br />

Pediatr 1953;43:74-87.<br />

5. Hervada AR, Newman DR. Weaning: historical<br />

perspectives, practical recommendations, and current<br />

controversies. Current Probl Pediatr 1992:223-40.<br />

6. Finberg L. Historical overview and future perspectives<br />

on pediatric nutrition science. In: Lifshitz F,<br />

coordinator. Childhood nutrition. Boca Raton: CRC<br />

Press;1995.<br />

7. Monteiro LAG, Barbieri MA, Bettiol H, Ciampo LAD,<br />

Ricco RG. Alimentação do lactente: a propósito da<br />

introdução de alimentos não lácteos. Medicina<br />

(Ribeirão Preto) 1990;23:209-18.<br />

8. Barness LA. History of infant feeding practices. Am J<br />

Clin Nutr 1987;46:168-70.<br />

9. Ballabriga A, Schmidt E. Tendencias actuales de la<br />

diversificación de la alimentación infantil en los paises<br />

industrializados de Europa. In:Nestlé Nutrición-<br />

Destete; Porque, cómo, cuándo? Barcelona;1988:30-<br />

4.<br />

10. Fisberg M. Alimentos industrializados. In: Wehba J,<br />

coordenador. Nutrição da criança. São Paulo:Fundo<br />

Editorial BYK 1991:227-33.<br />

11. [SPSP] Sociedade de Pediatria de São Paulo.<br />

Departamento de Nutrição. Alimentação da criança<br />

nos primeiros anos de vida; recomendação. Rev Paul<br />

Pediatr 1998;16:112-7.<br />

12. Kanitz S. Férias nem pensar (Ponto de Vista). Revista<br />

Veja 2002;736(4):30.<br />

13. Tabai KC, Carvalho JF, Salay E. Aleitamento materno<br />

e prática de desmame em duas comunidades rurais de<br />

Piracicaba. Rev Nutr Campinas 1998;11:173-83.<br />

14. Spinelli MGN, Souza SB, Souza JMP. Consumo, por<br />

crianças menores de um ano de idade, de alimentos<br />

industrializados considerados supérfluos. Pediatria<br />

Moderna 2001;37(12):666-72.<br />

227


228<br />

CARTA AO EDITOR<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Cálcio, um nutriente necessário<br />

para todas as idades<br />

Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho<br />

Doutora em Ciência da Nutrição pela UNICAMP, Profa. Adjunto Departamento de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde,<br />

Universidade Federal do Piauí<br />

Dentre os nutrientes necessários ao crescimento<br />

e controle das funções do organismo, o cálcio ocupa<br />

lugar de destaque: é o elemento inorgânico mais<br />

comum do organismo humano e desempenha diversas<br />

funções vitais.<br />

O cálcio é um nutriente essencial para a saúde<br />

dos ossos, sendo necessário durante toda a vida para<br />

manter a massa óssea forte e saudável. Cerca de 98%<br />

encontra-se nos ossos, 1% concentra-se nos dentes e<br />

1% está distribuído no sangue, líquidos extracelulares<br />

e intracelulares regulando muitas funções metabólicas.<br />

A necessidade orgânica de cálcio ocorre<br />

especialmente na infância e durante o<br />

desenvolvimento de pico da massa óssea, na fase de<br />

crescimento. Acredita-se que o aumento do consumo<br />

de cálcio possa ser usado para prevenir ou controlar o<br />

aparecimento da osteoporose e raquitismo. Além de<br />

evitar perda de massa óssea, tem sido observada<br />

relação inversa entre a ingestão de cálcio e a freqüência<br />

de fraturas, câncer de cólon e hipertensão arterial.<br />

O mineral não é importante apenas para as<br />

crianças e não atua somente na formação dos ossos.<br />

É também necessário para o processo de coagulação<br />

sanguínea, transporte de oxigênio e substâncias ao<br />

nível de membrana plasmática e para o desempenho<br />

dos sistemas cardiovascular e muscular. Atua sobre as<br />

membranas dos neurônios como estabilizador dos<br />

impulsos nervosos e sua deficiência pode provocar<br />

hiper-excitabilidade, ocasionando até convulsões [5].<br />

Apesar do cálcio estar amplamente distribuído<br />

na natureza, seu consumo alimentar encontra-se<br />

abaixo do recomendado. Em pesquisa realizada em<br />

diversos estados do Brasil, foi demonstrado o baixo<br />

consumo de cálcio proveniente de alimentos como<br />

leite, vegetais folhosos de cor verde-escuro e de<br />

hortaliças [4]. A pesquisa Hábito alimentar de Teresina,<br />

publicada pela UNICEF em 1994, também apontou<br />

insuficiente consumo de cálcio, principalmente em<br />

famílias com renda entre 2 e 5 salários mínimos [1].<br />

O recente estudo realizado por professores e<br />

acadêmicos dos Cursos de Nutrição e Química da<br />

Universidade Federal do Piauí (UFPI), sobre o<br />

consumo de cálcio por crianças atendidas em creches<br />

municipais de Teresina, mostrou consumo médio de<br />

cálcio (mg/dia) insuficiente, com valores variando<br />

entre 227,68 ± 30,98 e 448,99 ± 42,61, representando<br />

51,58 e 64,75% da ingestão recomendado pela<br />

Recommended Dietary Allowances (1989), demonstrando<br />

a necessidade de ações que contribuam para melhorar<br />

a oferta de cálcio na dieta das crianças [3]. Das 17<br />

creches municipais de Teresina, assistidas<br />

integralmente pela Secretaria Municipal da Criança e<br />

do Adolescente (SEMCAD) no ano de 1997,<br />

participaram do estudo três creches em regime de<br />

tempo integral com 473 crianças e três creches em<br />

regime de tempo parcial, com 573 crianças, perfazendo<br />

um total de seis creches selecionadas para o estudo,<br />

atendendo 1046 crianças, sendo 528 meninos e 518<br />

Artigo recebido em 20 de outubro<br />

Endereço para correspondência: Universidade Federal do Piauí, Departamento de Nutrição, SG 13, Campus Petrônio<br />

Portela, 64049-550 Teresina PI, E-mail: cecilia@webone.com.br


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

meninas. Para avaliar o consumo de cálcio pelas<br />

crianças utilizou-se a pesagem direta dos alimentos<br />

(1997/1998), determinando-se o teor de cálcio pelo<br />

método de titulação complexométrica com EDTA no<br />

laboratório de química da UFPI [2].<br />

O consumo insuficiente do mineral aumenta a<br />

reabsorção do tecido ósseo, diminuindo a densidade<br />

óssea, podendo contribuir, em longo prazo, para o<br />

aumento do risco de osteoporose. A ingestão reduzida<br />

de cálcio durante a infância pode afetar entre 5 e 10%<br />

da formação do osso na vida adulta, contribuindo em<br />

até 50% para o risco de fraturas. O baixo consumo de<br />

cálcio ainda pode ser considerado fator de risco para as<br />

doenças cardiovasculares, assim como pode, também,<br />

diminuir a proteção contra o câncer de cólon.<br />

Vale destacar que em 1995 as crianças assistidas<br />

pela Secretaria Municipal da Criança e do Adolescente<br />

(SEMCAD), já apresentavam prevalência de retardo de<br />

crescimento em cerca de 17%, conforme consta em<br />

relatórios da própria Secretaria, demonstrando que<br />

muitas dessas crianças recebem alimentos em<br />

quantidades insuficientes, inclusive daqueles que são<br />

fontes de cálcio [8].<br />

Cuidados redobrados na oferta alimentar diária<br />

de cálcio para evitar a deficiência grave do mineral,<br />

tendo em vista que o consumo insuficiente (< 400<br />

mg/dia), além de aumentar o riscos de osteoporose<br />

e diminuir a velocidade de crescimento, poderá<br />

propiciar a substituição de cálcio por metais tóxicos,<br />

como chumbo ou estrôncio nos osteócitos e<br />

osteoblastos [7].<br />

Assegurar uma alimentação equilibrada e rica<br />

em cálcio para que não se debilitem os ossos é um<br />

cuidado que sempre deve-se ter. De acordo com o<br />

National Institutes of Health Consensus Development Panel<br />

on Optimal Calcium Intake [6], tanto as mulheres como<br />

os homens necessitam consumir 1000 mg de cálcio<br />

todos os dias. A partir dos 50 anos de idade, ambos<br />

necessitam de 1200 mg de cálcio diariamente. Mas a<br />

preocupação não deve ser apenas com os valores<br />

recomendados de cálcio, visto que muitos outros<br />

constituintes alimentares podem afetar o balanço do<br />

nutriente no organismo [6].<br />

Para adicionar o mineral na alimentação, é<br />

necessário consumir alimentos de diversas fontes de<br />

cálcio, como iogurte, leite, queijos, pudim de leite,<br />

brócolis, soja, vegetais de cor verde-escura, salmon em<br />

lata com espinhas, sucos de frutas e cereais matinais,<br />

que tenham sido enriquecidas com cálcio. Para suprir<br />

cerca de 800 mg de cálcio são necessárias 2 a 3 porções<br />

diárias de leite e derivados, correspondendo a 2-3 xícaras<br />

de leite (480 a 720 ml) ou 2-3 xícaras de iogurte (460-<br />

690 ml) ou 2-3 fatias de queijo (90 a 135 g).<br />

Para situações onde se faz uso de refeições<br />

rápidas, pode-se tomar iogurte com baixo teor de<br />

gordura ou preparações feitas com iogurte ou queijo.<br />

Cerca de 70% dos adultos podem não digerir bem<br />

produtos lácteos porque têm intolerância a lactose,<br />

uma condição que resulta da deficiência da lactase ou<br />

produção insuficiente da enzima pelas células da<br />

mucosa intestinal, necessária a digestão da lactose, o<br />

açúcar natural presente no leite. A lactose não digerida<br />

no intestino tem um efeito laxativo e estimula o<br />

crescimento de bactérias produtoras de gás, levando<br />

freqüentemente a dores abdominais e diarréia após<br />

30 minutos de sua ingestão. Nestas situações é<br />

necessário consumir produtos lácteos em pequenas<br />

quantidades durante o dia, modificar a sua forma de<br />

consumo, por exemplo, usando queijo ralado que tem<br />

menos lactose que o leite integral, consumir alimentos<br />

não lácteos que sejam ricos em cálcio ou fazer uso de<br />

produtos lácteos mais digeríveis (isentos ou com pouca<br />

lactose).<br />

Se não for possível atingir suas necessidades de<br />

cálcio pela alimentação, pode-se tomar suplementos de<br />

cálcio, desde que recomendados por profissionais<br />

especializados.<br />

“Mostre a você mesmo o quanto você é<br />

importante cuidando de sua alimentação”.<br />

Referências<br />

1. Brandim MRR. Pesquisa hábito alimentar de Teresina,<br />

Teresina: UNICEF/UFPI, 1994:50.<br />

2. Santos RS, Carvalho CMRG, Cruz GF, Moita GC.<br />

Estudo da ingestão de cálcio por crianças atendidas em<br />

creches municipais de Teresina, Piauí. Alim Nutr<br />

2001;12:69-82.<br />

3. Nacional Research Council. Recomended dietary<br />

allowances. 10th ed. Washingto, DC:Nacional Academy<br />

of Science 1989:284.<br />

4. Galeazzi MAM, Domene SMA, Sichieri R. Estudo<br />

multicêntrico sobre consumo alimentar. Cad. Debate,<br />

Edição especial 1997:62.<br />

5. Lipkin M, Newmark H. Calcium and the prevention of<br />

colon cancer. J Cell Biochem, 1995;22:65-73<br />

(Suplemento).<br />

6. NIH. Osteoporosis Prevention, Diagnosis, and Therapy.<br />

Consensus Statements NIH Consensus Development<br />

Program, National Institutes of Health 2000:27-29.<br />

7. Stephebs R, Waldron HA. The influence of milk and<br />

related dietary constituents on lead metabolism. Food<br />

Cosment Toxicol 1975;13:555-563.<br />

8. Prefeitura Municipal de Terezina. Secretaria Municipal<br />

da Criança e do Adolescente. Determinação do estado<br />

nutricional das crianças assistidas pela Secretaria<br />

Municipal da Criança e do Adolescente, Teresina,<br />

Governo do Estado 1997:20 (Relatório).<br />

229


230<br />

CONGRESSOS<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Potencial nutricional e funcional dos<br />

alimentos geneticamente modificados<br />

II o Simpósio sobre Alimentos Transgênicos da Universidade de<br />

Viçosa, 17-18 de outubro de 2002<br />

Aluízio Borém*, Neuza Maria Brunoro Costa**<br />

*Eng.-Agrônomo, M.S., Ph.D. e Professor da Universidade Federal de Viçosa,<br />

**Nutricionista, M.S., Ph.D. e Professora da Universidade Federal de Viçosa<br />

O II o Simpósio sobre Alimentos Transgênicos,<br />

iniciativa e promoção do Departamento de Nutrição<br />

da Universidade Federal de Viçosa, foi realizado, em<br />

Viçosa, MG, nos dias 17 e 18 de outubro de 2002. À<br />

semelhança do I o Simpósio, o evento foi prestigiado<br />

por grande público, constituído de especialistas em<br />

nutrição, saúde pública, direito e biotecnologia do<br />

Brasil, da Alemanha e da Austrália, contando também<br />

com a presença de nutricionistas, engenheiros de<br />

alimentos, representantes da indústria de alimentos,<br />

pesquisadores e estudantes universitários, dentre<br />

outros.<br />

Conforme discutido e apresentado durante o<br />

Simpósio, as técnicas do DNA recombinante<br />

constituem meios poderosos e seguros para a<br />

modificação de microrganismos e plantas, e podem<br />

contribuir para a melhoria da qualidade e segurança<br />

nutricionais.<br />

A Dr a . Cristina Possas, em sua apresentação,<br />

ressaltou o fato de que, na agricultura brasileira, a<br />

biotecnologia vem passando por rápidas e importantes<br />

transformações, em particular na última década.<br />

Programas de pesquisa e desenvolvimento nesta área<br />

vêm se beneficiando da aplicação de importantes<br />

ferramentas biotecnológicas: desenvolvimento de<br />

plantas assistidas por marcadores genéticos,<br />

mapeamento do genoma de várias espécies,<br />

transferência nuclear gerando embriões de diversas<br />

espécies animais, caracterização e conservação de<br />

recursos genéticos e desenvolvimento de muitos<br />

organismos geneticamente modificados (OGMs).<br />

Comentou ainda que, em 1995, foi criada a Comissão<br />

Técnica Nacional de Biossegurança, CTNBio. O<br />

desempenho dessa comissão resultou em crescimento<br />

significativo do setor biotecnológico nacional,<br />

reconhecido internacionalmente. Tal situação só se<br />

tornou possível mediante a capacitação de<br />

profissionais atuantes na análise de risco, na avaliação<br />

da biossegurança e no estudo das implicações<br />

resultantes, nos diferentes setores de atividade, da<br />

tecnologia do DNA recombinante.<br />

A crescente ampliação da pesquisa<br />

biotecnológica no país, se intensificou desde a criação<br />

Endereço para correspondência: Aluízio Borém, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa 36571-<br />

000 Viçosa, MG, Tel: (31) 3899-1163, E-mail: borem@ufv.br, Neuza Maria Brunoro Costa E-mail: nmbc@mail.ufv.br


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

da CTNBio em 1995, resultando em expressivo<br />

aumento do volume de trabalho realizado pela<br />

comissão. A CTNBio já avaliou, até o momento, 1.015<br />

solicitações de liberação planejada de OGMs no meio<br />

ambiente, das quais 923 foram autorizadas e emitiu,<br />

nesse período, 163 Certificados de Qualidade em<br />

Biossegurança – CQB.<br />

Conforme apresentado pelo Dr. Franco Lajolo<br />

em sua palestra sobre Alimentos Funcionais, a<br />

possibilidade do uso de alimentos na redução de risco<br />

de doenças crônico-degenerativas tem sido assunto<br />

constante em eventos na área de nutrição e<br />

alimentação.<br />

Diversos fatos vêm motivando, ou justificando,<br />

esse interesse, tais como: o reconhecimento da relação<br />

saúde-nutrição-doença, pesquisas clínicas e<br />

levantamentos epidemiológicos, evolução de conceitos<br />

relativos às recomendações nutricionais, fenômenos<br />

sócio-econômicos e epidemiológicos e, ainda,<br />

perspectivas industriais.<br />

Na perspectiva de Lajolo, conceituar alimentos<br />

funcionais é difícil e polêmico. É possível, porém,<br />

adotar uma definição de trabalho: “Alimento<br />

semelhante em aparência ao alimento convencional,<br />

consumido como parte da dieta usual, capaz de<br />

produzir demonstrados efeitos metabólicos ou<br />

fisiológicos úteis na manutenção de uma boa saúde<br />

física e mental, podendo auxiliar na redução do risco<br />

de doenças crônico-degenerativas, além das suas<br />

funções nutricionais básicas”. Complementando essa<br />

definição, pode-se falar em “ingrediente funcional”,<br />

que seria o composto responsável pela ação biológica<br />

contida no alimento. Esse composto, também<br />

chamado de nutracêutico ou composto bioativo pela<br />

recente legislação brasileira, aparece normalmente em<br />

forma não-alimentar, farmacêutica.<br />

Na visão do Dr. Lajolo, a engenharia genética é<br />

uma via muito promissora para o desenvolvimento<br />

de alimentos funcionais. É o caso da alteração de teores<br />

de macro e micronutrientes e de sua<br />

biodisponibilidade. Por exemplo, redução no teor de<br />

graxos saturados em sementes, como soja, canola e<br />

algodão, e elevação de teores de oléico, ou de ácidos<br />

graxos da série n-3, como o a-linolênico, interessante<br />

nutricionalmente. É também o caso da introdução de<br />

frutoligossacarídios em alimentos como a beterraba,<br />

através da introdução de genes que codificam enzimas<br />

para a síntese de frutanas.<br />

O caso do arroz dourado, que é rico em próvitamina<br />

A, foi também apresentado pelo Dr. Lajolo.<br />

Ainda, nesse arroz, conseguiu-se introduzir proteínas<br />

como a ferritina e metalotioneínas, que aumentam o<br />

teor e biodisponibilidade de ferro.<br />

A Dra. Lúcia F. Aleixo relatou que o termo<br />

Segurança Alimentar (acesso a fontes adequadas e<br />

sustentáveis de alimentos) começou a ser utilizado<br />

após o final da 1ª Guerra Mundial. Falava-se em<br />

segurança alimentar com a preocupação com o fato<br />

de as nações ficarem enfraquecidas em decorrência<br />

de sua incapacidade para alimentar a população em<br />

caso de guerra ou de cercos econômicos. Assim, essa<br />

questão adquiria significado de segurança nacional,<br />

apontando para a necessidade de formação de<br />

estoques “estratégicos” de alimentos e fortalecendo a<br />

idéia de que a soberania de cada país depende, em<br />

grande parte, de sua capacidade de auto-suprimento.<br />

Relatou, ainda, que qualquer alimento é considerado<br />

seguro desde que nenhum dano, ou efeito indesejável,<br />

resulte de seu consumo. Historicamente, com base na<br />

experiência de uso ao longo dos anos, tem se<br />

considerado que os alimentos preparados e utilizados<br />

por meio de métodos convencionais sejam seguros,<br />

mesmo que apresentem substâncias naturalmente<br />

prejudiciais ao ser humano. Como exemplo, citam-se<br />

os alimentos que possuem elevado teor de gorduras:<br />

apesar da comprovação científica da associação da<br />

ingestão desses víveres com o aumento do risco de<br />

ocorrência de doenças cardíacas, nem todas as pessoas<br />

evitam o consumo de tais alimentos.<br />

A avaliação dos produtos derivados da moderna<br />

biotecnologia não implica alterações significativas nos<br />

princípios estabelecidos para avaliação da segurança<br />

alimentar de produtos convencionais. A utilização de<br />

modernas tecnologias tem resultado produtos<br />

semelhantes ou equivalentes aos seus contrapartes<br />

convencionais, no que diz respeito à segurança<br />

alimentar.<br />

Para que a segurança de novos alimentos<br />

produzidos por meio de qualquer tecnologia seja<br />

estabelecida, recomenda-se avaliar a toxicidade e o<br />

potencial alergênico da nova proteína expressa no<br />

produto. Para tal, uma análise criteriosa deve ser<br />

realizada caso a caso. Não se pode, assim, afirmar que<br />

um produto não seja seguro apenas com base na<br />

técnica utilizada para sua obtenção, seja ela a técnica<br />

de DNA recombinante, seja o melhoramento<br />

convencional de plantas.<br />

231


232<br />

Também abordando o tema segurança alimentar,<br />

o Dr. Edson Watanabe afirmou que a avaliação da<br />

segurança de alimentos GM inicia-se já no momento<br />

da concepção da idéia da característica a ser<br />

desenvolvida/pesquisada. Por característica, entendase<br />

o resultado da modificação genética, isto é (na maior<br />

parte das vezes), a expressão de uma proteína<br />

específica pelo novo gene inserido, que irá, por<br />

exemplo, conferir ao produto GM tolerância a um<br />

herbicida. Se já no início da pesquisa for constatado<br />

que a nova proteína expressa apresenta similaridade<br />

de seqüência de aminoácidos com algum alérgeno e/<br />

ou toxina conhecidos, o projeto terá que ser<br />

necessariamente interrompido. Essa tem sido a<br />

conduta dos pesquisadores, tanto na iniciativa privada<br />

quanto no setor público. Como exemplo, tem-se o<br />

caso de uma empresa privada que estava<br />

desenvolvendo uma variedade de soja GM com alto<br />

teor de um aminoácido normalmente adicionado a<br />

rações animais, a metionina. Para que isso fosse<br />

possível, um gene da castanha-do-pará foi inserido<br />

no genoma da soja convencional. Entretanto, devido<br />

a suspeitas de que tal gene pudesse expressar uma<br />

proteína que provocasse reações alérgicas, o projeto<br />

não foi continuado.<br />

O Dr. Watanabe reportou alguns exemplos de<br />

produtos com melhoria de sua qualidade nutricional<br />

em desenvolvimento nos Estados Unidos, como: a) o<br />

milho, com modificação no seu perfil lipídico, para<br />

obtenção de óleo mais nutritivo; modificação no perfil<br />

de seus aminoácidos, com aumento nos teores de<br />

triptofano e lisina, implicando proteína de maior valor<br />

biológico e aumento no teor de carotenóides, para<br />

aumento de vitamina A; e alteração no metabolismo<br />

dos carboidratos e redução no nível de fitatos,<br />

otimizando o produto para ração animal. b) A soja,<br />

com modificação no seu perfil lipídico, para obtenção<br />

de óleo mais nutritivo; e modificação no seu perfil de<br />

aminoácido, para aumento do teor de metionina. c) A<br />

batata, com aumento no seu teor de amido e sólidos,<br />

para redução da absorção de gordura na fritura. d) A<br />

mandioca, com modificação no perfil de aminoácidos,<br />

para obtenção de proteína de maior valor biológico.<br />

e) O arroz, com modificação nos teores de amido e<br />

outros carboidratos e produção de novas proteínas,<br />

para fins farmacêuticos. f) O café, com redução do<br />

seu teor de cafeína. g) A canola, com modificação no<br />

seu perfil lipídico, para obtenção de óleo mais nutritivo.<br />

h) O trigo, com modificação no seu perfil de<br />

aminoácidos, para melhoria da qualidade nutricional<br />

e da digestibilidade e produção de novas proteínas<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

para fins farmacêuticos. i) O girassol, com<br />

modificações idênticas às do trigo, para melhoria na<br />

sua qualidade nutricional para arraçoamento animal,<br />

j) A uva, a maçã e o melão, para aumento do teor de<br />

açúcares e para melhoria da qualidade do fruto,<br />

respectivamente. j) O tomate, com aumento no teor<br />

de sólidos e açúcares, para melhoria da qualidade do<br />

fruto.<br />

O Dr. Everaldo Gonçalves de Barros discutiu,<br />

no evento, sobre as técnicas de detecção de produtos<br />

geneticamente modificados, informando que o<br />

método da reação em cadeia da DNA polimerase<br />

(PCR) tem sido o mais aceito no mundo inteiro para<br />

detecção de transgênicos em alimentos. É um método<br />

preciso, direto, extremamente sensível e que vem<br />

sendo utilizado em procedimentos que exigem<br />

altíssima precisão, como em testes de paternidade em<br />

humanos e na determinação de carga viral. Tal método<br />

se baseia na amplificação de um fragmento de DNA<br />

específico contido no transgene ou em algum<br />

segmento de DNA exógeno a ele associado. Essa<br />

amplificação é catalisada pela enzima DNA<br />

polimerase, utilizando-se um par de oligonucleotídios<br />

(primers) que flanqueia a região do DNA que se deseja<br />

amplificar. No processo de amplificação, o DNA<br />

extraído do alimento é submetido a uma temperatura<br />

próxima a 90 o C, quando as duas fitas do DNA se<br />

separam. A temperatura é diminuída para cerca de 55<br />

o C, e os primers se ligam ao DNA-alvo em fitas opostas.<br />

Em seguida, a temperatura é elevada a 72 o C, e uma<br />

enzima DNA polimerase termorresistente estende os<br />

primers, sintetizando duas novas fitas na região<br />

flanqueada por estes, tomando como molde as fitas<br />

originais. Esse ciclo de variação de temperatura é<br />

repetido entre 30 e 40 vezes, de tal forma que a<br />

quantidade de DNA amplificado aumenta<br />

exponencialmente a cada ciclo. Dada a<br />

complementaridade entre os primers e as regiões<br />

flanqueadoras do DNA-alvo, a reação é bastante<br />

específica, e essa especificidade garante a amplificação<br />

apenas do fragmento desejado.<br />

O DNA-alvo é encontrado em todas as células<br />

e em qualquer estágio de desenvolvimento do OGM<br />

utilizado na fabricação do alimento. Logo, qualquer<br />

tipo de alimento transgênico conterá, potencialmente,<br />

fragmentos de DNA que podem ser detectados, desde<br />

que sejam utilizados primers específicos para esse fim.<br />

Na análise de alimentos, a técnica de PCR pode<br />

ser utilizada de modo qualitativo, semiquantitativo ou


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

quantitativo. As análises qualitativas permitem dizer<br />

se um alimento contém ou não resíduos de<br />

transgênicos dentro de determinado limite, o qual é<br />

estabelecido levando-se em conta a capacidade de<br />

detecção do método (sensibilidade). Com o método<br />

qualitativo, pode-se afirmar, por exemplo, se dado<br />

alimento contém um teor maior ou menor do que<br />

1% de resíduos de transgênicos. No entanto, para<br />

determinar a quantidade precisa de transgênicos, é<br />

necessário um teste quantitativo, como o método PCR<br />

em tempo real.<br />

Conforme mencionado pela Dra. Roberta Jardim<br />

de Morais, uma política de propriedade intelectual,<br />

combinada com uma política industrial voltada para<br />

o setor de biotecnologia, pode ser um forte<br />

instrumento de política econômica nas mãos do<br />

Estado, uma verdadeira forma de intervenção<br />

econômica indireta. Relatou que o Brasil possui<br />

eficiente legislação referente à proteção dos direitos<br />

de propriedade industrial. Entretanto, tal fato não é<br />

suficiente para que o país alcance competitividade<br />

internacional nesse setor. A Dra. Roberta ressaltou<br />

que é necessária a consciência de que o país precisa<br />

apropriar-se de suas potencialidades, através do<br />

fortalecimento de suas empresas e do<br />

desenvolvimento de pesquisas. Por meio de uma<br />

política industrial voltada para esse setor, poder-se-ão<br />

estimular o processo criativo e o reagrupamento dos<br />

fatores de produção, possibilitando, dessa feita, a<br />

promoção do desenvolvimento real e não apenas o<br />

crescimento econômico, na maioria das vezes<br />

dependente de fatores exógenos.<br />

Concluindo, os dados apresentados por<br />

pesquisadores brasileiros e internacionais durante o<br />

II Simpósio Internacional sobre Alimentos<br />

Transgênicos indicaram que os alimentos<br />

geneticamente modificados representam um grande<br />

potencial para aumentar o fornecimento de alimentos<br />

com elevado valor nutricional e funcional. Os OGMs<br />

liberados para comercialização em outros países e que<br />

aguardam liberação de comércio também no Brasil,<br />

foram exaustivamente estudados e são seguros tanto<br />

para a saúde humana quanto para o meio ambiente.<br />

233


234<br />

DOSSIÊ<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Batata: o vegetal mais cultivado e de maior<br />

importância econômica do mundo<br />

Apesar de serem, em geral, associadas à Inglaterra, as batatas são nativas dos Andes e<br />

foram cultivadas pela primeira vez por índios peruanos, há pelo menos 4.000 anos. No<br />

século XVI, exploradores espanhóis levaram-nas para a Europa. Atualmente, é o alimento<br />

contemporâneo mais usado tanto nas mesas européias como nas americanas.<br />

Transformou-se também no alimento mais importante para as populações pobres de vários<br />

países, pelo seu custo relativamente barato e por ser altamente nutritiva. A batata é um<br />

alimento tão útil e necessário nos tempos modernos, que deve ser amplamente pesquisada<br />

para um melhor aproveitamento.<br />

Ficha Técnica: Batata (papa, potato)<br />

Família: Solanaceae<br />

Gênero: Solanum L<br />

Espécie: Solanum tuberosum L.<br />

História<br />

As tropas do espanhol Francisco Pizarro<br />

conquistam o Império Inca, no atual Peru, e conhecem<br />

a batata. Há muito tempo, os nativos dos altiplanos<br />

andinos cultivavam esse nutritivo tubérculo.<br />

Os espanhóis levaram rapidamente a batata para<br />

a Europa onde ela foi usada até como medicamento.<br />

De fato, registros da história revelam que o Papa Pio<br />

IV recuperou-se de uma doença por volta de 1570,<br />

após ter sido prescrita uma dieta de batatas, rica em<br />

carboidratos. Coube, no entanto, aos portugueses,<br />

espalharem a cultura da batata pelo restante do planeta.<br />

Os espanhóis chamaram a batata de “tartufo<br />

blanco” (tubérculo branco). Os alemães ainda usam a<br />

palavra “Kartoffeln”, pois acreditavam ser derivado da<br />

palavra tartufo. Os ingleses a chamam de “Potato” e<br />

os franceses de “patate” ou “Pomme de terre” (“fruto da<br />

terra”, do latim “pomum”, fruta).<br />

Batata conquista o mundo<br />

Aproximadamente nessa mesma época, os<br />

ingleses descobriram a batata doce (Patata Dulce) no<br />

Caribe. No início do século XVII algumas pessoas<br />

acreditavam que a lepra, tuberculose e a sífilis poderiam<br />

ser curadas pelas batatas. Outras vêem as batatas como<br />

a causa de doenças. Isso não surpreende, uma vez que<br />

se pode ver a batata ser consumida crua. Como nós<br />

sabemos, não é recomendado em uma alimentação<br />

saudável.<br />

Especialmente na Irlanda, a batata foi usada em<br />

grande escala na produção alimentícia no século<br />

XVIII. Uma desastrosa seca da batata nos plantios<br />

no século XIX causou a morte de milhões pela fome.<br />

Cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram seus países,<br />

a maioria migraram para a América do Norte.<br />

No fim do século XVIII, agricultores de toda<br />

Europa começaram a cultivar batata. O rei da Rússia<br />

Frederick O Grande ordenou que utilizassem somente<br />

a batata na alimentação do povo.<br />

Uma guerra entre os anos 1778 e 1780 entre a<br />

Prússia e Áustria ficou conhecida como a<br />

“Kartoffelkrieg” (Guerra da Batata), pois os soldados<br />

só se alimentavam de batatas.<br />

O plantio de batata sofreu um grande impulso<br />

com a Revolução Industrial. Hoje em dia, cerca de<br />

150 países cultivam a batata. Além de ser um alimento<br />

nutritivo, o amido e o álcool da batata pode ser<br />

utilizado para outras finalidades.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Atualmente são os vegetais mais cultivados e<br />

economicamente importantes do mundo.<br />

Maravilhosamente nutritivas, as batatas possuem<br />

poucas calorias. Quando comidas com casca, são ricas<br />

em carboidratos complexos e fibras; uma batata assada<br />

de tamanho médio (com casca) fornece 25 mg de<br />

vitamina C, mais de 40% da RDA para adultos, além<br />

de 20% da RDA de vitamina B6, 10% de niacina, ferro<br />

e magnésio, 840mg de potássio e uma quantidade<br />

moderada de zinco. Uma batata de tamanho médio<br />

assada ou cozida tem entre 60 e 100 calorias, uma<br />

pequena quantidade de proteínas e quase nenhuma<br />

gordura.<br />

A batata é hoje o quarto alimento mais<br />

consumido pela humanidade, depois do arroz, do trigo<br />

e do milho.<br />

Cronologia<br />

10.000 AC - tubérculos selvagens são colhidos<br />

pelos nativos, nas montanhas e nos platôs andinos do<br />

Peru;<br />

2.500 AC – nativos andinos cultivam batatas e<br />

criam novas variedades de tubérculos. Desenvolvem<br />

novos métodos de armazenamento e implementam<br />

seu cultivo;<br />

1536 – Os espanhóis chegam ao Peru e<br />

conhecem a batata;<br />

1663 – A batata é introduzida na Irlanda;<br />

1740 – Frederico, “o Grande”, Rei da Prússia e<br />

o Imperador Guilherme, da Alemanha, iniciam<br />

campanhas para produzir batatas em seus países;<br />

1743 – O Presidente norte-americano Thomas<br />

Jefferson introduz na cultura americana a “batata frita”<br />

(“french fries” = francesas fritas), que ele havia provado<br />

na França;<br />

1757 - Antoine Parmentier, um farmacêutico<br />

francês, promove a batata na França. Parmentier<br />

desenvolve um papel importante na implantação da<br />

cultura da batata não só na França, mas como em<br />

toda a Europa;<br />

1778 – A Prússia e a Áustria travam uma guerra<br />

que ficou conhecida como a “Guerra da Batata”, onde<br />

os soldados de ambos os lados, devoravam as<br />

plantações de batatas, por onde passavam.<br />

Mais sucesso na Europa do que na<br />

América Latina<br />

Originário da região dos Andes, na América do<br />

Sul, esse produto agrícola despertou a atenção e a<br />

curiosidade dos primeiros exploradores europeus e<br />

até hoje faz mais sucesso lá do que no continente sulamericano.<br />

Em poucos anos, a batata tornou-se presença<br />

obrigatória nas mesas européias e, por tabela, suas<br />

lavouras foram incorporadas à paisagem rural da<br />

Europa, principalmente em países como Inglaterra e<br />

Holanda. Foi lá no final do século passado, que o<br />

pintor holandês, Vincent Van Gogh inspirou-se para<br />

compor algumas de suas mais famosas obras, como<br />

“Os comedores de batata” ou “Dois camponeses<br />

arrancando batatas”.<br />

Depois de conquistar a Europa, a batata iniciou<br />

um lento retorno ao continente de origem, sem exibir,<br />

porém, a mesma popularidade ou a mesma qualidade.<br />

Produto extremamente sensível, a batata exige<br />

um acompanhamento cuidadoso desde o plantio até<br />

a colheita. A primeira, e talvez a mais importante<br />

preocupação de um produtor, é seguramente o clima.<br />

Dias quentes, noites frias e abundância de água são<br />

ingredientes vitais para o sucesso da lavoura. No Brasil,<br />

o clima irregular é um fator de risco constante. O calor<br />

excessivo, por exemplo, pode impedir que a lavoura<br />

tenha água suficiente para se desenvolver. A batata<br />

tem normalmente de 80 a 90% de líquido em sua<br />

composição, o restante são elementos sólidos. Daí a<br />

necessidade de muita água.<br />

Para um analista mais apressado, uma região de<br />

alto índice pluviométrico pode parecer ideal para a<br />

batata; engano; um dos principais componentes<br />

sólidos da batata é o amido, produzido a partir da<br />

fotossíntese da folha. Logo é necessário muita luz para<br />

que este processo ocorra. São justamente estas<br />

características que garantem, em parte, a alta<br />

produtividade das terras européias.<br />

Custo elevado<br />

Empurrado pelos fatores - adubação e<br />

tratamento agroquímico constantes e intensivos, o<br />

custo de produção da batata tornou-se um dos mais<br />

elevados da agricultura. O custo de um alqueire de<br />

batata é o mesmo de 10 a 12 alqueires de cereais. É<br />

uma atividade que necessita de maquinários caros e<br />

apresenta altos riscos.<br />

Consumida em todo mundo<br />

Por suas qualidades nutritivas e por se adaptar<br />

facilmente a qualquer tipo de solo, em pouco tempo a<br />

batata tornou-se bem consumida em todo o mundo.<br />

Atualmente pode ser encontrada nos mais diferentes<br />

pratos da cozinha internacional. Ela tem casca<br />

marrom, algumas vezes ligeiramente amarelada e com<br />

pequenos pontos, chamados nódulos ou olhos, por<br />

235


236<br />

onde ela brota quando começa a envelhecer. Embaixo<br />

da casca há uma polpa meio granulada que, conforme<br />

a variedade, pode ser branca ou amarela. Também o<br />

seu tamanho varia de espécie para espécie, sendo<br />

possível encontrar desde batatas pequenas, com 3 cm<br />

de diâmetro, até grandes, com aproximadamente 14<br />

ou 15 cm. As variedades de batatas são tantas que só<br />

no Brasil é possível encontrar mais de 100 tipos<br />

diferentes, sendo que no mundo todo, existem mais<br />

de 600 tipos.<br />

Ela é considerada um dos alimentos mais<br />

importantes como fonte de energia. É muito rica em<br />

carboidratos, o nutriente necessário para executar os<br />

movimentos e manter a temperatura do corpo. A<br />

batata tem bastante água, vitamina B1 (essencial para<br />

o crescimento e estimulante do apetite), vitamina B2<br />

(importante para a pele e para combater infecções),<br />

Vitamina C e alguns sais minerais, principalmente<br />

potássio. Contudo, grande parte desses nutrientes se<br />

perdem durante o cozimento. Como é pobre em<br />

proteínas e gorduras, a batata é um alimento de fácil<br />

digestão, recomendada para pessoas que precisem de<br />

dietas com baixo teor de colesterol.<br />

A batata boa para o consumo, qualquer que seja<br />

a espécie escolhida, deve ter casca lisa e fina e não<br />

deve ceder à pressão dos dedos. Não compre batatas<br />

com manchas ou muitos pontos escuros, pois elas não<br />

são de boa qualidade. Evite também as que têm brotos,<br />

pois já estão velhas e sem sabor e podem provocar<br />

intoxicação. Evite também as batatas de cor<br />

esverdeada, pois essa coloração é motivada pelo<br />

excesso de exposição ao sol, o que também provoca<br />

alteração no sabor, que fica muito amargo. Como cada<br />

variedade de batata tem características bem especiais,<br />

é importante saber em que prato vai ser usada, pois<br />

cada tipo se adapta melhor a cada tipo de preparo.<br />

Tenha em mente essas diferenças na hora da compra,<br />

para garantir um aproveitamento mais adequado. A<br />

batata com poupa branca e farinhosa é ideal para fazer<br />

purês. A de polpa mais compacta e amarela é melhor<br />

para ser amassada. Se vai ser usada com casca, escolha<br />

as batatas pequenas. Já a que tem casca amarela se<br />

caracteriza por ter pouca água, sendo ótima para<br />

frituras. Se a casca for de um amarelo bem claro, o<br />

interior tem muita água e, portanto, ela é mais adequada<br />

para o cozimento. A batata holandesa (grande, com<br />

casca fina e amarela) e a batata casca lavada, são<br />

espécies que rendem bem em quase todos os tipos de<br />

preparo.<br />

Na hora da compra não convém adquirir muitos<br />

quilos de uma só vez. Leve também em conta o tipo<br />

de preparo. No forno a batata perde 1/4 de seu peso,<br />

frita perde mais da metade, se for fervida aumenta 1/<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

10 devido à água que absorve, e na preparação de<br />

purês seu peso dobra.<br />

O armazenamento da batata exige alguns<br />

cuidados especiais, para que ela se conserve em boas<br />

condições. Procure guardá-la em lugar seco e arejado,<br />

caso contrário ela começará a brotar. Proteja-a de<br />

insetos e da luz direta do sol, para que a superfície<br />

não fique esverdeada e com gosto amargo. O lugar de<br />

armazenamento também não deve ser muito quente.<br />

Nunca guarde a batata na geladeira, pois a baixa<br />

temperatura transforma o amido do tubérculo em<br />

açúcar, depois de cozida, ela fica com sabor adocicado.<br />

Tome também cuidado para que não fiquem<br />

amontoadas, pois o abafamento provoca o seu<br />

envelhecimento. Para evitar esse problema, adquira<br />

gavetas de metal trançado, próprias para guardar<br />

batatas, e que podem ser fixadas em armários ou na<br />

despensa. Levando em conta todos esses cuidados, a<br />

batata se conserva em perfeitas condições durante 15<br />

dias.<br />

Particularidades<br />

As dificuldades para o desenvolvimento de<br />

novas variedades de cultivares são muitas, entre elas<br />

destacam-se: recursos limitados para pesquisas;<br />

variações climáticas, ou seja, é quase impossível se<br />

desenvolver uma variedade que se adapte a todas as<br />

regiões brasileiras; tempo: pois são necessários em<br />

média dez anos para que uma nova variedade seja<br />

aprovada.<br />

A maior vantagem das cultivares importadas é que<br />

elas provêm de regiões mais frias como Holanda, Suécia<br />

e Alemanha, que tem uma menor concentração de<br />

pulgões, os principais vetores das doenças (como por<br />

exemplo o vírus Y da batata, conhecido como Mosaico,<br />

o vírus do enrolamento das folhas da batata e o vírus X<br />

da batata). No Brasil para se ter a mesma qualidade é<br />

necessário que as sementes sejam produzidas em estufas<br />

revestidas com telas antiafídicas, que impedem a<br />

contaminação das sementes pré-básicas.<br />

Diversas variedades de cultivares nacionais já estão<br />

sendo pregadas, como a “Baronesa” ou a “Contenda”<br />

ou ainda a “Itararé”, mais ainda há muito o que se<br />

pesquisar, e somente através da pesquisa genética<br />

poderemos associar em uma variedade as características<br />

necessárias.<br />

O mercado de sementes é dominado pelas<br />

cultivares importadas, principalmente as européias. Mas<br />

o que poucos sabem, ou sabem e não acreditam é que<br />

no Brasil já são produzidas sementes com igual ou<br />

melhor qualidade que as importadas e com um custo<br />

cerca de 30% mais baratos.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Plantio: No Brasil é possível, devido ao clima,<br />

fazer até 3 plantios ao ano, ou como são mais<br />

conhecidas, a de Secas, que são plantadas no período<br />

de estiagem; a da Águas que são plantadas no período<br />

das chuvas e as Temporonas ou de Inverno que são<br />

plantadas no período de inverno.<br />

O ciclo vegetativo da cultura da batata varia de<br />

90 a 120 dias dependendo da cultivar, do clima e do<br />

solo. A interrupção do ciclo pode ocorrer de forma<br />

natural ou artificial utilizando-se de desfolhantes ou<br />

dessecantes, que vão matar a rama e as ervas daninhas<br />

facilitando a colheita e evitando futuras contaminações<br />

do tubérculo através da parte aérea da planta (rama).<br />

Outra vantagem da dessecação é a do produtor<br />

poder antecipar a colheita, aproveitando o preço de<br />

mercado se estiver favorável.<br />

Após a dessecação deve-se esperar um período<br />

que varia de 10 a 15 dias para que a pele da batata se<br />

fortaleça ou “se firme”, facilitando o arranquio e<br />

conseguir um bom valor no mercado consumidor.<br />

Espaçamento: 80 x 35cm.<br />

Batatas - Sementes necessárias: (peso médio de<br />

35g): 1,3t/ha ou 43 caixas de 30kg ou 26 sacas de<br />

60kg/ha.<br />

Combate à erosão: plantio em linhas de nível e,<br />

nos terrenos mais declivosos, em curvas de nível.<br />

Adubação e calagem: a escolha da fórmula de<br />

adubação e a calagem devem basear-se na análise de<br />

solo. Nessa impossibilidade, de maneira geral<br />

empregar, por hectare, 2t de calcário e 120kg de N,<br />

300kg de P2O5, 90kg de K2O. Empregar adubos de<br />

fácil solubilização. Recomenda-se o uso de tortas em<br />

mistura, Incorporar bem os adubos ao terreno,<br />

evitando que entrem em contato direto com as batatassemente,<br />

sobretudo nos solos arenosos. Aplicar<br />

metade do nitrogênio em cobertura, antes do<br />

chegamento, quando as plantas devem estar com cerca<br />

de 30cm de altura.<br />

Tratos culturais: capinas e amontoas com<br />

sulcadores; emprego de herbicidas; tratamentos<br />

fitossanitários.<br />

Irrigação: dispensável no plantio das águas e<br />

necessária no de fevereiro - março e maio - junho.<br />

Pode ser por aspersão, por infiltração e levantamento<br />

do lençol freático.<br />

Combate à moléstias e pragas: requeima - usar<br />

Maneb (Manzate D) e Dithane M-45 e cúpricos: oito<br />

ou mais aspersões preventivas; pinta-preta: intercalar<br />

produtos à base de estanho (Batasan, Brestan etc.);<br />

vaquinha: Parathion; ácaro: enxofre duplamente<br />

ventilado a 40% em talco, Thiovit , Kelthane; vírus,<br />

murcha, nematóides: usar batatas-semente, sadias,<br />

preferivelmente certificadas, e rotação de cultura.<br />

Época de colheita: três a quatro meses após o<br />

plantio, quando as ramas secarem ou,<br />

antecipadamente, com o uso d e desfolhante.<br />

Produção normal: tubérculos: águas: 8 a 14t/ha;<br />

seca, com irrigação: 15 a 20t/ha.<br />

Melhor rotação: gramíneas, adubos verdes pasto<br />

ou capineiras, desde que as plantas em rotação não<br />

sejam suscetíveis aos nematóides ou moléstias que<br />

atacam a batatinha.<br />

Batata semente: As mudas são replantadas em<br />

canteiros de alvenaria suspensos contendo substrato<br />

estéril e cercadas por telas antiafídicas para evitar a<br />

presença de insetos (pulgões), transmissores das<br />

viroses (“mosaico”, “enrolamento” e vírus x da batata).<br />

Todos esses cuidados são necessários para que<br />

não haja contaminação das sementes pré básicas que<br />

são produzidas em sua estufa de 520m².<br />

O futuro da bataticultura depende muito do<br />

produtor. Quem não utilizar da tecnologia disponível<br />

no mercado não sobreviverá, pois a concorrência é<br />

Conheça os diversos tipos de batata, com suas diferentes características de casca, polpa, cor e<br />

consistência, com seu melhor uso :<br />

TIPOS DE BATATA<br />

TIPO FORMA POLPA MELHOR USO<br />

Bintje Alongada Amarela Clara Cozinhar, Assar, Fritar<br />

Atlantic Redonda Branca Fritar<br />

Monalisa Oval Alongada Amarela Clara Cozinhar, Assar<br />

Araucária Alongada Amarela Cozinhar, Assar<br />

Asterix Oval Alongada Amarela Clara Fritar<br />

Elvira Alongada Amarela Cozinhar, Assar<br />

Baraka Oval Amarela Clara Cozinhar, Assar, Fritar<br />

237


238<br />

cada vez maior e a política de preços é muito instável<br />

ou seja, o produtor só sabe quando vai ganhar ou<br />

perder quando já não há mais tempo para nada.<br />

No Brasil o preço pode variar de 6 a 60 reais em<br />

questão de 24hs, e vice-versa, o que leva muitos<br />

produtores a ruína ou pararem de plantar, o que faz<br />

com que as importações aumentem.<br />

Ação da batata conforme seus nutrientes:<br />

- Potássio - Previne câimbras e regula a<br />

quantidade de água do organismo.<br />

- Vitamina A - Previne a cegueira noturna.<br />

- Vitamina B1 - Atua como repelente<br />

de mosquitos.<br />

- Gorduras - Possui menos de 1%, por isso, seu<br />

consumo é tão recomendado para as dietas.<br />

Tabela de nutrientes para o consumo médio de<br />

100 g - Idade de 23 a 50 anos<br />

Nutrientes Necessidades Batata<br />

diárias (100 g)<br />

Calorias (Kcal) 2700 78,5<br />

Proteínas (g) 56 1,8<br />

Vitamina C (mg) 45 17,4<br />

Vitamina B1 (mg) 1,4 0,9<br />

Vitamina B2 (mg) 1,6 0,3<br />

Vitamina A (mg) 750 6,0<br />

Cálcio (mg) 800 9,0<br />

Potássio (mg) 2000 1.538,16<br />

Fósforo (mg) 800 69,0<br />

Magnésio (mg) 350 46,0<br />

Ferro (mg) 10 1,0<br />

Sódio (mg) 500 47,4<br />

Processamento<br />

O processamento da batata é hoje uma indústria<br />

muito forte e competitiva, principalmente na Europa<br />

e Estados Unidos, onde o consumo de batata nas suas<br />

diferentes formas industrializadas, faz com que<br />

grandes complexos industriais transformem a batata<br />

in natura em toneladas de chips, french fries, amido, fécula,<br />

etc.<br />

No Brasil, onde o consumo de batata é por<br />

excelência feito na forma in natura, somente de vinte<br />

anos para cá é que esta indústria vem se instalando<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

com o objetivo de abastecer o mercado de fast food,<br />

basicamente na forma de french fries congelados, batata<br />

palha, e chips.<br />

Portanto, nesses últimos anos, produtos<br />

congelados derivados da batata, vem aparecendo no<br />

mercado nacional, se fazendo conhecidos, e criando<br />

uma nova demanda por parte das donas de casa, o<br />

que tem levado produtores e industriais a buscarem<br />

novas perspectivas de industrialização do produto,<br />

aumentando a oferta, baixando os preços, reduzindo<br />

perdas e aumentando o consumo.<br />

O setor, entretanto, tem encontrado dificuldades<br />

para o processamento, uma vez que, a batata é um<br />

produto de muita variabilidade qualitativa, variabilidade<br />

esta que influencia diretamente a qualidade final do<br />

produto processado. Assim sendo, as variedades de<br />

batata utilizadas no consumo in natura no Brasil, em<br />

sua grande maioria não se prestam ao processamento.<br />

Hoje, a variedade que mais se adapta ao<br />

processamento é a Bintje, variedade de origem<br />

holandesa, muito susceptível a doenças, muito exigente<br />

em nutrientes e de difícil produção nas regiões quentes<br />

e no verão. Entretanto, é a variedade de mais alto teor<br />

de sólidos solúveis e um nível razoável de açúcares<br />

redutores, características propícias para o<br />

processamento. Outras variedades passíveis de serem<br />

utilizadas no processamento tais como; Atlantic,<br />

Baronesa, Russet Burbank, etc, têm sua produção<br />

limitada pela dificuldade na aquisição de batatasemente<br />

ou ainda pelo desconhecimento das mesmas<br />

pelos produtores.<br />

Chips<br />

A batata chips é uma das diversas formas de se<br />

processar a batata e consta basicamente da batata<br />

cortada em fatias finas de 1 a 2 mm de espessura,<br />

fritas em óleo e salgada. É largamente consumida em<br />

lanches ou no acompanhamento de algumas refeições<br />

leves. As variedades mais aconselhadas para este tipo<br />

de processamento são aquelas que apresentam o mais<br />

baixo teor de açúcar redutor, tal como; Bintje,<br />

Baronesa, Baraka, Desireé, Russet Burbank, Atlantic,<br />

etc. Apesar do teor de açúcar redutor ser um ponto<br />

fundamental, o formato da batata também é<br />

importante, principalmente se o descascamento é<br />

mecânico. As variedades redondas podem ser<br />

descascadas com mais facilidade e com menores<br />

perdas.<br />

A qualidade da batata tipo chips é medida pela<br />

sua coloração e pela quantidade de óleo absorvida. A<br />

coloração é influenciada pela quantidade de açúcar<br />

redutor na matéria prima. O açúcar durante o processo


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

de fritura se carameliza, dando um sabor amargo e<br />

uma coloração marrom ao produto. Já a quantidade<br />

de óleo absorvida, depende do tempo de fritura, da<br />

temperatura do óleo e da quantidade de matéria seca<br />

existente na batata.<br />

O processamento de batata na forma de chips é<br />

relativamente trabalhoso, porém bastante simples.<br />

Consta de várias fases das quais podemos enumerar:<br />

Lavagem: Consiste na retirada dos excessos de<br />

sujeira tais como: terra, restos de culturas e outras<br />

sujeiras aderidas às cascas do produto. Deve ser feita<br />

com água limpa e preferencialmente tratada e corrente.<br />

Descascamento: Poderá ser feito<br />

automaticamente com equipamentos específicos e<br />

destinados para tal fim, ou manualmente, retirandose<br />

a película externa da batata com facas afiadas. Os<br />

equipamentos existentes no mercado, podem ir desde<br />

pequenas máquinas abrasivas para poucas quantidades,<br />

até descascadores para grandes indústrias que retiram<br />

a película da batata após uma rápida cocção.<br />

Acabamento: No caso do descascamento<br />

automático esta fase não se faz necessário, pois o<br />

produto segue uma linha de processamento em que<br />

não comporta a retirada de pequenas partes da película<br />

aderida, ou ainda os “olhos” da batata. Já no caso do<br />

descascamento manual ou em pequenos equipamentos<br />

de descascar, esta fase pode perfeitamente<br />

complementar a toalete do produto, o que aumentará<br />

o nível qualitativo do produto final e diminuirá as<br />

perdas e por conseqüência, os custos.<br />

Lavagem: É um ítem importante na fabricação<br />

do chips, pois após o descascamento ou o corte, as<br />

células danificadas liberam amido, o qual durante o<br />

processo de fritura, funcionará como uma “cola”,<br />

fazendo com que as fatias fiquem aderidas umas às<br />

outras. Portanto, uma boa lavagem com água limpa,<br />

de preferencia tratada e corrente.<br />

Fatiamento: Mesmo em processamentos<br />

artezanais, o fatiamento deverá ser feito mecanicamente,<br />

pois só assim teremos fatias de uma mesma espessura,<br />

o que nos trará uma maior uniformidade de fritura e<br />

uma melhor qualidade final do produto. Recomendase<br />

que as fatias não tenham menos de 1 nem mais de 2<br />

milímetros de espessura. Menos de 1 mm de espessura<br />

as fatias ficarão muito susceptíveis a se quebrarem<br />

durante o processamento, mais de 2 mm, as fatias<br />

poderão ficar com a parte interna sem fritar, o que traria<br />

características indesejáveis para o produto.<br />

Lavagem: Após o fatiamento, é grande a<br />

exudação de seiva do produto contendo grandes<br />

quantidades de amido. A não retirada desse excesso<br />

de amido das fatias, fará com que as mesmas colem<br />

umas nas outras durante a fritura. Portanto, nesta fase<br />

do processo uma lavagem com água limpa, tratada e<br />

corrente deverá ser feita com bastante critério.<br />

Secagem: O processo de secagem deve ser feito<br />

logo após a lavagem com o objetivo de eliminar o<br />

excesso de água que, além de provocar o<br />

borbulhamento do óleo de fritura, poderá quando em<br />

excesso, diminuir em alguns graus a temperatura ideal<br />

de fritura. Poderá ser feito com a exposição das fatias<br />

a uma corrente de ar morno, ou no caso artezanal, até<br />

com um pano limpo, exugando-se as fatias<br />

manualmente.<br />

Fritura: Para se obter uma boa batata tipo chips, a<br />

fritura não deve ultrapassar em 2 minutos a uma<br />

temperatura de 185º C. As fatias devem ser imersas<br />

totalmente no óleo e devem guardar uma proporção<br />

de 1 kg de fatias para 25 litros de óleo. Tendo em vista<br />

preço e facilidade de aquisição, o óleo mais<br />

recomendado é o óleo de soja.<br />

Drenagem do excesso de óleo: A realização<br />

desta fase do processamento é importante à medida<br />

em que se elimina parte do óleo da fritura,<br />

melhorando-se a qualidade do produto. Deve ser feita<br />

deitando-se as fatias recém tiradas da fritadeira em<br />

uma peneira de arame, ou em cima de papel<br />

absorvente.<br />

Adição de sal: Ainda quente as batatas devem<br />

ser salgadas, de preferência com sal fino iodado numa<br />

percentagem de 100 a 200 gramas de sal para cada<br />

10 quilos de batata já frita. O sal deve ser aspergido<br />

por cima das batatas as quais devem estar depositadas<br />

em uma peneira em finas camadas.<br />

Esfriamento: Após a salga, deve-se deixar as<br />

fatias em repouso por um determinado tempo, até<br />

que estas esfriem e possam ser manuseadas.<br />

Seleção: Depois de frias, para melhorar a<br />

qualidade do produto final, deve-se fazer uma seleção<br />

criteriosa das fatias, eliminando-se as fatias<br />

manchadas, escuras, moles e cruas. Dar preferência<br />

a fazer isto em uma superfície limpa, plana e com<br />

boa iluminação. As fatias de boa qualidade devem<br />

ser redondas ou ovais, inteiras, de coloração dourada,<br />

crocantes e sem manchas.<br />

239


240<br />

Embalagem: Em grandes indústrias, a<br />

embalagem é feita automaticamente por máquinas de<br />

alto rendimento, e que até colocam em cada<br />

embalagem a exata quantidade. Entretanto, existem<br />

pequenas máquinas para embalar, as quais<br />

devidamente acopladas a balanças poderão dar um<br />

bom rendimento à última etapa da fabricação de chips.<br />

O tamanho das embalagens e o peso do produto nelas<br />

contido, deve variar de acordo com o mercado<br />

consumidor. Se o objetivo é atingir o varejo, as<br />

embalagens devem pesar de 50 a 100 gramas.<br />

Embalagens com pesos maiores podem ser utilizadas<br />

quando se tem por objetivo atingir atacadistas,<br />

restaurantes, etc.<br />

Armazenamento: Após a embalagem o produto<br />

poderá ficar armazenado em local fresco e seco, por<br />

um prazo não maior do que 15 dias. A partir daí o<br />

óleo começa a rancidificar tornando o produto<br />

imprestável para o consumo.<br />

French fries (palito)<br />

O processamento da batata para a fabricação de<br />

french fries, mais conhecidos como batata palito, é muito<br />

semelhante ao processamento da batata chips.<br />

Entretanto, algumas etapas do processamento são um<br />

pouco diferentes e, para efeito didático, descreveremos<br />

aqui somente aquelas que fazem a diferença.<br />

Corte: O processo de corte para obtenção de<br />

palitos, é diferente do corte para chips. Geralmente feito<br />

por uma máquina complexa, mas que no caso artezanal<br />

pode ser feito em pequenos cortadores manuais,<br />

sempre com o cuidado de cortar a batata no seu maior<br />

comprimento visando obter palitos compridos. Este<br />

é um ponto importante, pois um dos aspectos de<br />

qualidade da batata palito é o comprimento médio<br />

dos mesmos, que deve ser de no mínimo 5 cm. As<br />

dimensões do corte transversal já vêm preestabelecidas<br />

no aparelho, ou seja: 1 cm por 1 cm de corte<br />

transversal.<br />

Branqueamento: Se o interessado quiser<br />

melhorar a qualidade do produto final, entre a secagem<br />

e a fritura, pode ser feito o que é chamado de<br />

branqueamento e que consiste em ferver os palitos<br />

por 2 minutos. Tal processo inibe a ação de algumas<br />

enzimas as quais são responsáveis pelo escurecimento<br />

do produto final.<br />

Fritura: Da mesma forma que os chips, após o<br />

enxugamento do excesso de água dos palitos, os<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

mesmos são fritos em óleo de soja, a uma temperatura<br />

de 190º C durante 4 minutos. Procurar manter sempre<br />

a proporção de 1 kg de palitos para 25 litros de óleo,<br />

pois tal proporção evitará o esfriamento do óleo<br />

quando da colocação da batata para fritar.<br />

Pré-fritura: Os palitos podem, dependendo do<br />

tipo de mercado, serem pré-fritos embalados e<br />

congelados para serem vendidos desta forma. Para<br />

isso, a fritura deve ser mais rápida e em uma<br />

temperatura de óleo mais baixa de modo que os palitos<br />

não fiquem totalmente fritos, operação esta que deverá<br />

ser completada pelo consumidor final. A temperatura<br />

do óleo para pré-fritura deve ser de 180° centígrados<br />

e o tempo não deve ultrapassar 1 minuto.<br />

Congelamento: O processo de congelamento<br />

deve ser feito em duas etapas. Nos grandes<br />

processadores industriais os palitos são transportados<br />

por uma esteira através de um túnel de ar frio, onde o<br />

produto é resfriado até uma temperatura de 2 a 3 graus<br />

centígrados e, após embalados, são congelados a uma<br />

temperatura de 20 graus negativos. No processamento<br />

artezanal, este resfriamento deve ser feito em freezer<br />

com temperatura controlada ou em uma boa geladeira<br />

bem perto da placa de refrigeração e posteriormente<br />

congelado em freezer que alcance a temperatura<br />

indicada.<br />

Batata palha<br />

Praticamente não existe diferença de<br />

processamento entre este produto final e os demais<br />

descritos anteriormente. Somente o tipo de corte, e<br />

um cuidado maior na lavagem pós corte, são os pontos<br />

a serem mais cuidados.<br />

Corte: Após o descascamento a batata deve ser<br />

ralada em um processador de modo a formar um<br />

conjunto uniforme de pedaços compridos e finos de<br />

batata. Tanto o comprimento quanto a espessura dos<br />

pedaços será função do ralador utilizado.<br />

Lavagem: O processo de lavagem da batata ralada<br />

e destinada a batata palha deve ser mais cuidadoso e<br />

mais criterioso. O cuidado se deve ao fato que os<br />

pedaços ralados são mais frágeis e mais susceptíveis à<br />

quebra. Pedaços quebrados ou ralados muito pequenos<br />

e muito finos dão uma qualidade inferior ao produto<br />

final. Por outro lado, tendo em vista que a batata foi<br />

ralada em pedaços muito pequenos, uma quantidade<br />

de amido muito grande foi exudada pelas superfícies<br />

dos pedaços. Assim sendo deve-se procurar lavar ao


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

máximo a batata após o processo de ralação, com o<br />

objetivo de se evitar que os mesmos, quando da<br />

operação de fritura, “colem” uns nos outros,<br />

prejudicando as demais fases do processo quais sejam:<br />

seleção, salga, embalagem, etc.<br />

O gosto pela batata-palha<br />

A batata é o quarto alimento mais consumido<br />

no mundo, depois do trigo, do arroz e do milho. Na<br />

mesa do brasileiro, porém, ainda não tem tanto<br />

destaque. O consumo nacional per capita é de 12 a 13<br />

quilos por ano, enquanto na maior parte dos países<br />

desenvolvidos a média anual por habitante é superior<br />

a 60 quilos. Mas esses números tendem a aumentar<br />

por aqui, principalmente os dos produtos<br />

industrializados ou semiprocessados, explica o<br />

pesquisador Arione da Silva Pereira, responsável pelo<br />

setor de Melhoramento Genético da Embrapa Clima<br />

Temperado e envolvido na pesquisa de novos<br />

cultivares do tubérculo.<br />

Um exemplo é a demanda apresentada por<br />

agricultores, em busca de uma variedade adequada para<br />

a preparação da batata-palha. Ingrediente<br />

indispensável em pratos como o estrogonofe e usada<br />

também no recheio de cachorro-quente, ela acabava<br />

sendo preparada com os cultivares normais na cozinha<br />

de casa ou dos restaurantes. “Ficam com a cor escura<br />

depois de fritas”, explica o pesquisador. Para que isso<br />

não aconteça, o ideal é que a batata utilizada apresente<br />

alto teor de matéria seca e menor porcentagem de<br />

açúcar. Esses fatores garantem baixa absorção de<br />

gordura, melhor textura, sabor e cor amarelo-clara<br />

após a fritura. Não será agora que o agricultor terá<br />

uma cultivar com todas essas características. Mas com<br />

a BRS Pérola, que a Embrapa lançou no início<br />

recentemente, a batata-palha já não ficará tão escura.<br />

Batata-doce<br />

De cor branca, amarela ou roxa e batata-doce se<br />

destaca entre as raízes e tubérculos como em alimentos<br />

de grande importância nutricional.<br />

Tendo valor nutritivo semelhante ao da batatinha<br />

e ao da mandioca, pois os três são feculentas e,<br />

portanto ricas em hidrato de carbono (açúcar), a batata<br />

doce atinge maior valor calórico do que estas. Isto se<br />

explica por esta conter uma quantidade de hidrato de<br />

carbono um pouco mais elevada e também por conter<br />

menor quantidade de água de que a batatinha<br />

formando uma massa mais concentrada.<br />

Entre as vitaminas B1, B2 e um pouco de<br />

vitamina C, a que realmente se sobressai com relevância<br />

é a vitamina. Esta vitamina tão importante para a pele e<br />

para os olhos está contida na batata doce com muita<br />

significância. Para termos uma idéia mais precisa deste<br />

valor basta dizermos que em 100 gramas da batata-doce<br />

temos quase a metade das necessidades diárias de<br />

vitamina A exigidas para um adulto normal (preconizada<br />

pela FAO/OMS).<br />

Além de vitaminas ela também contém minerais<br />

como fósforo, ferro e cálcio. É importante lembrarmos<br />

que a quantidade de cálcio da batata - doce é vezes maior<br />

que a da batatinha. Outro fator importante que não deve<br />

ser esquecido, é que as folhas da batata-doce são muito<br />

nutritivas, e elas contém o dobro de cálcio desta, portanto<br />

onze vezes mais do que a batatinha, e ainda tem três<br />

vezes mais ferro que a batatinha doce: por isso estas<br />

podem e devem ser aproveitadas para enriquecer nossa<br />

alimentação.<br />

Pela quantidade de carboidratos que possui e<br />

também pelo seu valor nutritivo, a batata doce pode<br />

substituir tanto as raízes e tubérculos (batata, mandioca,<br />

batata salsa, cará, inhame, mandioquinha) como também<br />

cereais (arroz, milho, trigo): não só nas principais<br />

refeições, bem como no café da manhã merenda e lanche<br />

com manteiga ou margarina, com açúcar, mel melado: e<br />

ainda pode substituir as mais sofisticadas sobremesas pelo<br />

famoso marrom glacê (doce de batata-doce). As<br />

preparações também são pouco exploradas se resumindo<br />

em cozidas ou fritas quando podemos faze-la assada,<br />

ensopada, purê, bolinho, nhoque, suflê, sopa, etc.<br />

Nas dietas de emagrecimento, a batata-doce deve<br />

ser evitada por ser muito calórica, ou então, o médico ou<br />

o nutricionista deverá estipular a quantidade que poderá<br />

ser ingerida para não ultrapassar as calorias da dieta.<br />

Não se esquecendo que a batata-doce é uma<br />

hortaliça que cresce junto ao solo e tem a possibilidade<br />

de estar contaminada pela terra, inseticidas e<br />

microorganismos, a higiene desta deve ser bem rígida.<br />

Lava se bem em água corrente e com o auxílio de uma<br />

escovinha, escova-se para retirar todo resíduo. Se ela for<br />

armazenada para consumir posteriormente pode ser<br />

envolta em sacos plásticos e mante-las sempre secas, pois<br />

molhadas deterioram com maior facilidade.<br />

No momento da compra devemos escolher as que<br />

apresentam melhor aspecto quando à consistência,<br />

tamanho, integridade, sem manchas escuras ou sinais de<br />

insetos, pois é sem dúvida as que têm maior valor nutritivo<br />

e são mais econômicas, pois rendem mais.<br />

A batata-doce pó ser rica em amido, exige tempo<br />

mais prolongado de cozimento: 20 a 30 minutos. Para<br />

economizar tempo e também combustível utiliza-se a<br />

panela de pressão. Sempre que possível deve se cozinhar<br />

com casca para maior conservação das vitaminas e<br />

minerais.<br />

241


242<br />

De fácil plantio e colheita, e com valor nutritivo<br />

elevado, o brasileiro ainda prefere ficar com a batatinha<br />

mesmo quando a batata-doce se apresenta mais barata.<br />

A batata-doce deve entrar na substituição de diversos<br />

alimentos, pois desta maneira ajuda a variar o seu<br />

cardápio quebrando assim a monotonia alimentar.<br />

A batata-doce é a 4ª hortaliça mais consumida<br />

no Brasil. É uma cultura tipicamente tropical e<br />

subtropical, rústica, de fácil manutenção, boa<br />

resistência contra a seca e ampla adaptação. Apresenta<br />

custo de produção relativamente baixo, com<br />

investimentos mínimos, e de retorno elevado. É<br />

também uma das hortaliças com maior capacidade de<br />

produzir energia por unidade de área e tempo (kcal/<br />

ha/dia).<br />

Vários fatores, entre eles a ocorrência de doenças<br />

e pragas, tecnologia de produção inadequada e a falta<br />

de cultivares selecionadas são responsáveis pela baixa<br />

produtividade média brasileira, que está em torno de<br />

8,7 t/ha. Entretanto, produtividade superior a 25 t/<br />

ha pode ser facilmente alcançada, desde que a cultura<br />

seja conduzida com tecnologia adequada.<br />

O CNPH vem desenvolvendo, desde 1979,<br />

pesquisas visando solucionar estes problemas.<br />

A partir de uma coleção de cultivares com 36<br />

introduções de diversos estados brasileiros, foram<br />

selecionadas quatro, que apresentaram produtividade,<br />

boas características agronômicas e comerciais, e que,<br />

indicadas para cultivo na região do Distrito Federal,<br />

receberam os seguintes nomes: ‘Coquinho’,<br />

‘Brazlândia Roxa’, ‘Brazlândia Branca’, ‘Brazlândia<br />

Rosada’.<br />

A batata e a saúde<br />

Rica em carboidratos, a batata é grande fonte de<br />

energia. Contém ainda sais minerais, vitamina C e, em<br />

pequenas quantidades, vitaminas do complexo B.<br />

Esses nutrientes, porém, podem perder-se no<br />

cozimento. Isso pode ser evitado da seguinte maneira:<br />

lava-se as batatas para retirar a terra, sem descascá-las e<br />

nem cortá-las. Leva-se ao fogo com água suficiente para<br />

cobri-las, até cozinharem completamente.<br />

Quando cortadas e descascadas devem ser cozidas<br />

em pouca água, que deve depois ser aproveitada, por<br />

exemplo, em sopas.<br />

A batata crua acaba com dores de estômago e<br />

enfermidades do intestino. O suco de batatas cruas,<br />

tomado vez ou outra em jejum, combate úlceras do<br />

estômago, duodeno e intestinos. A água de batatas ajuda<br />

a dissolver e expulsar substâncias venenosas contidas<br />

no aparelho digestivo.<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

As batatas esverdeadas e as que estão em<br />

germinação nunca devem ser consumidas, pois<br />

produzem intoxicações que se manifestam através de<br />

cólicas, gastrites e até mesmo disenterias.<br />

As batatas fritas, apesar de saborosas, absorvem<br />

muita gordura, o que torna sua digestão lenta e difícil.<br />

Quando crua e ralada, combate infecções, picadas de<br />

insetos e quaisquer irritações da pele. Cozida, amassada<br />

e em aplicações quentes, ajuda a amadurecer<br />

furúnculos. Rodelas de batata crua sobre a testa<br />

eliminam dores de cabeça.<br />

No entanto, se consumida em quantidade<br />

excessiva, a batata provoca obstrução do ventre e a<br />

dilatação do estômago.<br />

Vacina comestível<br />

A simples batata da mesa do dia-a-dia pode ajudar<br />

cientistas a tratar o papilomavírus, ou HPV, bastante<br />

comum em mulheres e freqüentemente associado ao<br />

câncer de colo de útero.<br />

Cientistas nos Estados Unidos anunciaram<br />

recentemente que pretendem criar uma batata<br />

transgênica capaz de transportar uma vacina contra o<br />

HPV.<br />

Na teoria do pesquisador Robert Rose, o fato de<br />

a batata carregar a vacina simplificaria a aplicação da<br />

imunização, já que a mulher poderia comê-la.<br />

Batatas produzidas e testadas por cientistas das<br />

universidades de Rochester, Cornell e Tulane<br />

mostraram-se capaz de proteger ratos que as comiam<br />

do papilomavírus.<br />

Os anticorpos produzidos nos ratos foram os<br />

mesmos que seriam necessários para proteger as<br />

mulheres. “A beleza dessa vacina é que ela não precisaria<br />

ser aplicada com uma agulha. Em muitos casos, nem<br />

um médico ou técnico seria necessário”, explica Rose.<br />

Segundo ele, a vacina em forma de batata poderia ser<br />

um método eficaz para controlar os casos de câncer de<br />

colo de útero nos países em desenvolvimento,<br />

responsáveis por 80% dos casos da doença.<br />

Hoje, não existe uma vacina contra o HPV. A única<br />

forma de prevenção ao vírus é a prática do sexo seguro.<br />

Os cientistas também examinam a possibilidade de<br />

bananas serem vetores de vacinas. Potencialmente, a<br />

fruta seria um melhor transmissor de vacinas do que a<br />

batata porque é comida crua e não cozida, o que pode<br />

conservar melhor o medicamento.<br />

Freda Stevenson, que pesquisa vacinas contra o<br />

câncer na Universidade de Southampton, na Grã-<br />

Bretanha, disse que a vacina em forma de batata é apenas<br />

mais um método que vem sendo estudado contra o<br />

câncer de colo de útero.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

“Nós precisamos mudar a forma como vemos a<br />

vacina como uma substância líquida em um recipiente,<br />

aplicada com uma seringa”, acha ela.<br />

O HPV é um vírus extremamente transmissível.<br />

Em homens, ele não leva a doenças. Mas em mulheres<br />

ele pode levar a uma divisão anormal das células do<br />

colo do útero, levando ao câncer. Nos países em<br />

desenvolvimento, o problema é mais grave pois o<br />

câncer demora a ser detectado, já que menos mulheres<br />

fazem o preventivo, ou exame ginecológico capaz de<br />

diagnosticar a lesão.<br />

Extrato de batata: novo rumo para antibióticos<br />

Um extrato de batata pode oferecer uma nova<br />

estratégia para a pesquisa de antibióticos. A idéia<br />

consiste em não matar as bactérias, mas apenas<br />

prevenir que as mesmas se liguem às células humanas.<br />

Os resultados desse estudo, conduzido pela Dra.<br />

Marjorie Cowan, da Universidade de Ohio, foram<br />

apresentados neste ano na 100ª reunião geral da<br />

Sociedade Americana de Microbiologia.<br />

“Nos últimos anos, muitos cientistas acreditaram<br />

que existe uma outra forma de prevenir ou curar<br />

infecções, além de simplesmente eliminar o agente<br />

causador da doença. A maioria dos microorganismos<br />

deve se fixar firmemente no tecido-alvo para causar a<br />

doença. Prevenindo-se ou desfazendo-se esta fixação<br />

ao tecido hospedeiro, pode-se criar uma abordagem<br />

mais branda para a cura ou prevenção da doença”,<br />

afirma Cowan.<br />

Todos os antibióticos atuais essencialmente<br />

eliminam bactérias. Na pesquisa de novos antibióticos,<br />

uma nova estratégia era a análise de extratos de plantas,<br />

utilizado há muito tempo por curandeiros tradicionais,<br />

com relação a sua habilidade de eliminar<br />

microorganismos. Os pesquisadores deste estudo<br />

resolveram seguir outra estratégia: analisar o extrato<br />

de plantas que possuísse propriedades contra a<br />

infecção, mas que não fosse capaz de matar as<br />

bactérias. Descobriram que um extrato (feito com<br />

água) da camada de alguns milímetros de espessura<br />

da batata inibia a fixação de um estreptococos oral a<br />

uma substância da superfície do dente. A substância<br />

também preveniu a fixação da E. coli, causadora de<br />

infecções do trato urinário.<br />

Os pesquisadores identificaram um composto<br />

específico presente no extrato responsável por inibir<br />

a adesão da bactéria. É denominado polifenol oxidase<br />

(em inglês, PPO), sendo uma enzima comum em<br />

plantas, responsável pelo escurecimento (ou<br />

amadurecimento) de uma variedade de frutas e<br />

vegetais, incluindo-se maçãs, batatas e cogumelos. O<br />

uso de substâncias como a PPO para tratar infecções<br />

também pode resolver o problema da resistência a<br />

antibióticos. A destruição das bactérias sensíveis a<br />

antibióticos é um requisito primário para o surgimento<br />

de mutantes resistentes. Como esses compostos não<br />

eliminam as bactérias sensíveis, estas continuam<br />

presentes para competir e excluir pela força de número<br />

qualquer tipo de bactéria resistente que possa se<br />

desenvolver.<br />

Uma batata diet poderosa para diabéticos<br />

A batata Yacon, de nome científico Polymnia<br />

sonchifolia, da família Asteraceae, também chamada<br />

batata “diet” ou polínia, é uma planta herbácea, perene,<br />

originária dos Andes, sendo cultivada na Colômbia,<br />

Equador e Peru em altitudes de 900 a 2.750m, mas<br />

alguns cultivos são feitos a mais de 3.400m. Por ser<br />

originária de grandes altitudes, a planta tolera baixas<br />

temperaturas e prefere solos aerados, soltos, arenoargilosos<br />

e com pH em torno de 6,0.<br />

O tubérculo tem sabor de pêra e melão, sendo<br />

bastante consumido no oriente na forma in natura e<br />

também na forma de chips. As folhas e as túberas são<br />

indicadas para o tratamento da diabetes e do colesterol.<br />

Importância da inulina<br />

A batata yacon está sendo considerada um<br />

alimento nutracêutico em decorrência dos estudos<br />

sobre a diminuição dos níveis de açúcar no sangue,<br />

após consumo repetido da mesma. Esta batata,<br />

diferentemente da maioria dos tubérculos que<br />

armazenam amido, acumula inulina, uma forma de<br />

oligofrutano com alto poder adoçante e baixo poder<br />

calórico.<br />

A inulina é um carboidrato cuja cadeia é<br />

composta predominantemente por unidades de<br />

frutose (frutana), com uma unidade de glicose<br />

terminal, sendo a ligação entre as moléculas de frutose<br />

do tipo b(2->1), ou seja, uma molécula de sacarose<br />

associada a n moléculas de frutose (n = 30-50).<br />

A inulina e a oligofrutose apresentam valores<br />

calóricos reduzidos (1kcal/g e 1,5 kcal/g). Não são<br />

digestíveis porque as ligações b(2->1) entre as unidades<br />

de frutose não podem ser hidrolisadas pelas enzimas<br />

digestíveis humanas; após serem ingeridas chegam<br />

quase que integralmente no cólon. Lá, são fermentadas<br />

pela microflora e transformadas em gases (10%),<br />

ácidos graxos voláteis (50%) ou encontram-se (40%)<br />

na biomassa bacteriana excretada. Assim, a inulina não<br />

aumenta nem a glicemia nem a taxa de insulina no<br />

sangue, sendo, consequentemente, indicada para os<br />

diabéticos.<br />

243


244<br />

Hoje, a maioria dos países europeus consideram<br />

a inulina uma fibra alimentar. Essa fibra solúvel é<br />

encontrada em muitas fontes na natureza e constitui<br />

a reserva energética de cerca de 36.000 vegetais (alho,<br />

banana, cebola, yacon , chicória, alcachofra, etc)<br />

Dores de úlcera<br />

Não basta ter uma boa noite de sono para<br />

começar o dia de bom humor. O corpo tem de estar<br />

bem, sem dores. Enfim, saudável. Que tal umas batatas<br />

para ajudar?<br />

Para aliviar as dores da úlcera, a dica é bater no<br />

liqüidificador uma fatia de batata crua com um copo<br />

d´água. Tome quatro vezes por dia durante um mês.<br />

A raiz também combate a anemia, pois tem alto teor<br />

de ferro. Para pessoas com desnutrição, vale tomar<br />

todos os dias suco de batata crua, que é rica em<br />

vitaminas, proteínas e sais minerais.<br />

Pesquisa confirma que batata frita pode dar<br />

câncer<br />

Pesquisa publicada em junho 2002, revela que<br />

cerca de 30 noruegueses contraem câncer por ano<br />

devido à ingestão de alguns alimentos fritos.<br />

A Autoridade de Controle de Alimentos da<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Conteúdo em inulina e oligofrutose de vegetais comumente usados na alimentação humana<br />

Fonte Parte Conteúdo em Contúdo em Inulina (%) Contédo em<br />

material seco (%) oligofrutose (%)<br />

Yacon Raiz 13-31 3-19 3-19<br />

Alho Bulbo 40-45 9-16 3-6<br />

Banana Fruta 24-26 0,3-0,7 0,3-0,7<br />

Cebola Bulbo 6-12 2-6 2-6<br />

Chicória Raiz 20-25 15-20 5-10<br />

Alcachofra Folha/Coração 14-16 3-10 < 1<br />

Noruega encomendou o estudo logo após os cientistas<br />

suecos terem informado em abril, que batatas fritas e<br />

outros alimentos ricos em carboidratos, contêm uma<br />

substância chamada acrilamida, que pode provocar o<br />

câncer.<br />

A acrilamida se forma quando os carboidratos<br />

são aquecidos em certos processos culinários, como<br />

o de fritar batatas ou assar o pão, segundo o estudo.<br />

O comunicado à imprensa diz que a análise feita<br />

em 30 alimentos confirma a descoberta dos cientistas<br />

suecos e um estudo posterior realizado na Grã-<br />

Bretanha.<br />

Entre os alimentos estudados, as batatas fritas<br />

foram as que apresentaram o maior nível de acrilamida<br />

- 90 vezes mais do que o pão, que está no nível mais<br />

baixo.<br />

Fontes:<br />

EMBRAPA, EMATER, IBGE, CTNBio, IAC, USP,<br />

UNICAMP, FDA, Folha de São Paulo, Revista Isto É,<br />

O Estado de São Paulo, American Journal of Clinical<br />

Nutrition, Archives of Internal Medicine, Instituto<br />

de Biotecnologia Aplicada a Agropecuária, Centro<br />

Internacional de Agricultura Tropical e American Heart<br />

Association.<br />

Dossiê realizado por Ricardo Augusto Ferreira


Nutrição Brasil - snovembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Sam J Bhathena and Manuel T<br />

Velasquez, American Journal of<br />

Clinical Nutrition 2002;76:1191-<br />

1201, dezembro de 2002<br />

Barbara J Rolls, Erin L Morris and<br />

Liane S Roe, American Journal of<br />

Clinical Nutrition 2002;76:1207-<br />

1213, dezembro de 2002<br />

Resumos de trabalhos<br />

Benefícios dos fitoestrógenos da dieta na obesidade e<br />

no diabetes<br />

Evidências sugerem que os fitoestrógenos da dieta exercem um papel<br />

benéfico na obesidade e no diabetes. Estudos de intervenção nutricional<br />

realizados em animais e em humanos, sugerem que a ingestão de proteína<br />

da soja associada à isoflavonas e semente de flax ricas em lignanas, melhoram<br />

o controle glicêmico e a resistência à insulina. Em modelos de animais<br />

com obesidade e diabetes, a proteína da soja tem redizido a insulina sérica<br />

e a resistência à insulina. Em estudos com humanos com ou sem diabetes,<br />

a proteína da soja também parece moderar a hiperglicemia e reduzir peso<br />

corporal, hiperlipidemia e hiperinsulinemia, embasando seus efeitos<br />

benéficos na obesidade e no diabetes. Entretanto, muitos destes estudos<br />

clínicos foram relativamente curtos e envolveram um número pequeno de<br />

pacientes. Além disso, não está claro se os efeitos benéficos da proteína da<br />

soja e das sementes de flax são atribuídos às isoflavonas (daidzeina e<br />

genisteina), lignanas (matairesinol e secoisolariciresinol) ou algum outro<br />

componente. Isoflavonas e lignanas parecem agir através de vários<br />

mecanismos que modulam a secreção pancreática de insulina ou através de<br />

ações antioxidantes. Eles podem também agir via mecanismos de mediação<br />

de receptores de estrogênio. Algumas dessas ações foram mostradas in<br />

vitro, mas a relevância desses estudos em relação às doenças em vivo não é<br />

conhecida. A diversidade das ações celulares das isoflavonas e das lignanas<br />

sustentam seus possíveis efeitos benéficos em várias doenças crônicas. Mais<br />

investigações são necessárias para avaliar os efeitos a longo prazo dos<br />

fitoestrógenos na obesidade e no diabetes mellitus e suas possíveis<br />

complicações associadas.<br />

O tamanho da porção do alimento afeta a ingestão de<br />

energia em mulheres e homens com peso normal e<br />

sobrepeso<br />

Introdução: Grandes porções de alimentos podem contribuir para ingestão<br />

excessiva de energia e promover a obesidade. Entretanto, pesquisas sobre os<br />

efeitos de tamanho das porções na ingestão alimentar de adultos são limitadas.<br />

Objetivos: Nós examinamos o efeito do tamanho da porção ingerida<br />

durante uma única refeição. Nós também investigamos se a resposta ao<br />

tamanho da porção dependia em que a pessoa, indivíduo ou pesquisador,<br />

determinava a quantidade de alimento no prato.<br />

245


246<br />

Continuação<br />

Louise I Mennen et al, American<br />

Journal of Clinical Nutrition<br />

2002;76:1279-1289, dezembro de<br />

2002<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Desenho: Foram servidos almoço, para 51 homens e mulheres, 1 vez<br />

por semana, durante 4 semanas, que incluía entrada de macarrão e queijo<br />

consumida ad libitum. Em cada refeição, os indivíduos poderiam escolher<br />

entre 1 das 4 porções de entrada: 500, 625, 750, ou 1000 g. Um grupo de<br />

indivíduos recebeu a porção num prato, e um segundo grupo recebeu numa<br />

travessa e se serviu da quantidade desejada em seus pratos.<br />

Resultados: O tamanho da porção influenciou significativamente a<br />

ingestão de energia no almoço (P < 0,0001). Os indivíduos consumiram<br />

30% mais energia (676 kJ), quando era oferecida a maior porção ao invés<br />

da menor porção. A resposta às variações no tamanho da porção não foi<br />

influenciada por quem determinou a quantidade de alimento no prato ou<br />

pela características individuais como sexo, índice de massa corporal ou<br />

scores para restrição dietética ou desinibição.<br />

Conclusão: Porções grandes levaram a uma maior ingestão energética,<br />

independentemente do método que foram servidas e das características<br />

individuais. O tamanho da porção é um determinante modificável da<br />

ingestão de energia, que deve ser colocado em conexão com a prevenção e<br />

o tratamento da obesidade.<br />

Homocisteína, fatores de risco para doença<br />

cardiovascular, e dieta habitual em estudo de<br />

suplementação de vitaminas e minerais antioxidantes<br />

na França<br />

Introdução: Uma concentração elevada de homocisteína plasmática<br />

total (tHcy) parece aumentar o risco de doença cardiovascular.<br />

Objetivo: Nós avaliamos os determinantes de tHcy em adultos<br />

franceses saudáveis.<br />

Desenho: Os níveis de tHcy foram medidos por HPLC e detecção<br />

fluorimétrica em 1.139 mulheres e 931 homens com idade entre 35-60<br />

anos. Os indivíduos eram participantes do Estudo de Suplementação<br />

com Vitaminas e Minerais Antioxidantes, que investiga os efeitos da<br />

suplementação de antioxidantes em doenças crônicas. Folato das hemácias<br />

(RBCF), vitaminas B6 e B12 plasmáticas, além de fatores de risco para<br />

doença cardiovascular também foram mensurados. A dieta habitual foi<br />

avaliada em 616 indivíduos. Análise cruzada seccional foi ajustada para<br />

idade, fumo, consumo energético e a concentração ou ingestão de folato<br />

e vitamina B6, quando apropriado.<br />

Resultados: A concentração média (±DP) de tHcy foi 8,74 ± 2,71<br />

µmol/l nas mulheres e 10,82 ± 3,49 µmol/l nos homens. Nas mulheres,<br />

o tHcy foi relacionado positivamente à idade (P = 0.001), apolipoproteína<br />

B (P < 0,01), triacilglicerol do soro (P < 0,01), glicose de jejum (P =<br />

0,02), consumo de café e álcool (ambos P < 0,01), inversamente<br />

relacionado ao RBCF (P = 0,11), vitamina B12 plasmática (P = 0,08) e<br />

ingestão de vitamina B6 (P = 0,01). Nos homens, tHcy foi positivamente<br />

associado ao índice de massa corporal (P = 0,03), pressão sangüínea (P<br />

< 0,02), triacilglecerol do soro (P < 0,01), glicose de jejum (P = 0,01),<br />

e consumo energético (P < 0,01) e inversamente associado à atividade<br />

física (P = 0,04), RCBF (P = 0,02), vitamina B-12 plasmática (P = 0,09),<br />

e ingestão de fibra dietética (P < 0,01), folato (P = 0,03), e vitamina B-<br />

6 (P = 0,09).


Nutrição Brasil - snovembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Continuação<br />

Ingibjorg Gunnarsdottir et al,<br />

American Journal of Clinical<br />

Nutrition 2002:76:1290-1294,<br />

dezembro de 2002<br />

Mary C Gannon, Jennifer A Nuttall<br />

and Frank Q Nuttall, American<br />

Journal of Clinical Nutrition<br />

2002;76:1302-1307, dezembro de<br />

2002<br />

Conclusão: Para controlar tHcy, diminuir o consumo de café e álcool<br />

podem ser importante para as mulheres, enquanto o aumento da atividade<br />

física, fibra dietética e ingestão de folato podem ser importante para os<br />

homens.<br />

Tamanho e alto peso ao nascer e doença arterial<br />

coronariana<br />

Introdução: Estudos epidemiológicos sugerem uma ligação entre o<br />

crescimento fetal e na infância, com o aparecimento posterior de doença<br />

arterial coronariana (DAC). A influência do tamanho corporal do adulto,<br />

na relação entre tamanho de nascimento e DAC, ainda não foi<br />

profundamente estudada.<br />

Objetivo: Nós investigamos a associação entre tamanhos ao nascer e<br />

em adultos e CAD, em uma população com alto peso de nascimento e<br />

uma baixa incidência e taxa de mortalidade relacionada à DAC, do que<br />

aquelas vistas em outras populações da Escandinávia.<br />

Desenho: DAC fatal não foi encontrado em 2399 homens e 2376<br />

mulheres nascidos na área do grande Reykjavik entre 1914 e 1935. O<br />

tamanho do nascimento foi obtido a partir do Arquivo Nacional. Medidas<br />

antropométricas nos adultos foram obtidas a partir de estudo prospectivo<br />

randomizado - Reykjavik Study.<br />

Resultados: DAC foi inversamente relacionado ao cumprimento de<br />

nascimento (P = 0,029) em homens, mas não significativamente<br />

relacionados ao peso de nascimento ou índice ponderal (kg/m 3 ). Nos<br />

homens nascidos pequenos (≤ 50,5 cm) e que ficaram altos quando adultos<br />

(175–180,5 ou > 180,5 cm), o odds ratios (95% IC) para DAC foi 1,9 (1,1,<br />

3,1) e 2,2 (1,2, 4,0), respectivamente, quando comparado com os homens<br />

do grupo de referência (nascidos 52,5-54,0 cm). A relação de curva em U<br />

entre tamanho no nascimento e DAC foi encontrada para mulheres.<br />

Conclusões: O tamanho no nascimento possui um efeito em DAC, mas<br />

o efeito é modificado com o tamanho corporal do adulto. Isto confirma<br />

que fatores ambientais atuam tanto no período pré-natal como no pósnatal,<br />

com conseqüências no desenvolvimento de DAC. O grande tamanho<br />

de nascimento entre os islandeses, pode explicar a baixa incidência e taxa<br />

de mortalidade de DAC na Islândia, do que as vistas em outra populações<br />

brancas.<br />

A resposta metabólica à glicina ingerida<br />

Introdução: Os efeitos metabólicos da proteína dietética são complexos.<br />

Em pessoas com diabetes tipo 2, a ingestão protéica resulta num pequeno<br />

ou não aumento das concentrações de glicose plasmática, mas uma<br />

estimulação das secreções de insulina e glucagon. Além disso, quando a<br />

proteína é ingerida com glicose, um efeito sinérgico na secreção de insulina<br />

é observado. A proteína mais potente é a gelatina, que consiste de 30% de<br />

resíduos de glicina.<br />

Objetivo: O objetivo do presente estudo foi determinar o quanto a<br />

glicina estimula a secreção de insulina ou reduz a resposta da glicose quando<br />

ingerida com glicose.<br />

247


248<br />

Continuação<br />

Julie A. Ross et al, Annu Rev Nutr<br />

2002;22:19-34, novembro de<br />

2002<br />

Richard E. Ostlund Jr, Annu Rev<br />

Nutr 2002;22:533-549, novembro<br />

de 2002<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Desenho: 9 indivíduos saudáveis foram testados em 4 ocasiões em<br />

separado. Glicose plasmática, insulina, glucagon, e concentrações de glicina<br />

foram medidas em vários momentos, durante um período de 2h após a<br />

ingestão de 1 mmol de glicina/kg de massa corporal total, 25g de glicose,<br />

1 mmol de glicina/kg de massa corporal total + 25g de glicose ou somente<br />

água.<br />

Resultados: As concentrações plasmáticas de glicina e glucagon foram<br />

elevadas após a ingestão de glicina como esperado. A concentração sérica<br />

de insulina também foi levemente elevada após a ingestão de glicina. Quando<br />

a glicina foi ingerida com glicose, a área de resposta à glicose plasmática foi<br />

atenuada por > 50% comparada com a resposta após a ingestão de glicose<br />

sozinha. A dinâmica da resposta à insulina após a ingestão de glicina mais<br />

glicose, foi modestamente diferente daquela após ingestão de glicose<br />

sozinha, mas a área de resposta não foi significativamente diferente.<br />

Conclusão: Os dados são compatíveis com a hipótese de que glicina<br />

oral estimula a secreção dos hormônios pancreáticos, que potencializam<br />

os efeitos da insulina na remoção da glicose da circulação.<br />

Flavanóides dietéticos: biodisponibilidade, efeitos<br />

metabólicos e segurança<br />

Os flavonóides constituem o maior grupo de polifenóis de plantas e<br />

são responsáveis pela maior parte do sabor e da cor das frutas e dos vegetais.<br />

Mais de 5.000 diferentes flavonóides foram descritos. As seis maiores<br />

subclasses de flavonóides incluem as flavonas (e.g., apigenina, luteolina),<br />

flavonois (e.g., quercetina, myricetina), flavanonas (e.g., naringenina,<br />

hesperidina), catequinas ou flavanois (e.g., epicatequina, gallocatequina),<br />

anthocyanidinas (e.g., cyanidina, pelargonidina) e isoflavonas (e.g., genisteina,<br />

daidzeina). A maioria dos flavonóides presentes nas plantas estão ligados à<br />

açúcares (glicosídios), apesar de ocasionalmente serem encontrados como<br />

agliconas. Tem aumentado o interesse nos possíveis benefícios para saúde<br />

dos flavonóides, devido suas atividades como antioxidante potente e<br />

captador de radical livre, observadas in vitro. Há evidência crescente, a partir<br />

de estudos de alimentação humana, de que a absorção e a biodisponibilidade<br />

de flavonóides específicos são bem maiores do que se acreditava<br />

originalmente. Entretanto, estudos epidemiológicos explorando o papel<br />

dos flavonóides na saúde humana não têm sido conclusivos. Alguns estudos<br />

sustentam um efeito protetor do consumo de flavonóides em doenças<br />

cardiovasculares e câncer, outros estudos não demonstram nenhum efeito,<br />

e alguns estudos sugerem potenciais danos. Como existem várias atividades<br />

biológicas atribuídas aos flavonóides, algumas delas podem ser benéficas<br />

ou deteriorantes, dependendo de circunstâncias específicas. São requeridos<br />

mais estudos, tanto em laboratório como com populações.<br />

Fitoesteróis na nutrição humana<br />

Os fitoesteróis são moléculas semelhantes ao colesterol encontrada<br />

em todas as plantas alimentícias, com as maiores concentrações ocorrendo<br />

nos óleos vegetais. Eles são absorvidos somente em pequenas quantidades,<br />

mas inibem a absorção intestinal do colesterol, incluindo o colesterol biliar


Nutrição Brasil - snovembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Continuação endógeno recirculante, um passo importante na eliminação do colesterol.<br />

A ingestão dietética natural varia entre aproximadamente 167–437 mg/<br />

dia. Tentativas de mensurar os efeitos biológicos na alimentação foram<br />

impedidas pela solubilidade limitada em água e gordura. A esterificação<br />

dos fitoesteróis com ácidos graxos de cadeia longa, aumenta a solubilidade<br />

em gordura em 10 vezes e permite o fornecimento de várias gramas diárias<br />

em alimentos gordurosos, como a margarina. Uma dose de 2 g/dia com<br />

éster reduz a proteína de baixa densidade-colesterol em 10%, e uma pequena<br />

diferença é observada entre ∆ 5 -esteróis e 5α-esteróis reduzidos (estanois).<br />

Os fitoesteróis também podem ser dispersos na água após emulsificação<br />

com lecitina, além de reduzir a absorção do colesterol quando adicionados<br />

à alimentos não graxos. Em contraste a esses estudos de suplementação,<br />

muito menos é conhecido sobre o efeito de níveis baixos de fitoesteróis na<br />

dieta natural. Entretanto, a redução da absorção de colesterol pode ser<br />

medida com uma dose de somente 150 mg durante refeições-teste sem<br />

esteróis, sugerindo que os fitoesteróis dos alimentos naturais podem ser<br />

clinicamente importantes. A literatura usual sugere que os fitoesteróis são<br />

seguros quando adicionados à dieta, e a absorção medida e os níveis<br />

plasmáticos são muito pequenos. O aumento a quantidade agregada de<br />

fitoesteróis consumidos em vários alimentos, pode ser um caminho<br />

importante para a redução dos níveis de colesterol da população e na<br />

prevenção de doença cardíaca coronariana.<br />

Debra J. Moorhead, Inc Int J Eat<br />

Disord 2003;33:1-9, janeiro de<br />

2003<br />

Preditores de disordens alimentares em crianças e<br />

adolescentes em comunidade de população de<br />

mulheres adultas jovens<br />

Objetivo:<br />

Este estudo investiga preditores precoces do desenvolvimento de<br />

desordens alimentares em adultos jovens, numa amostra de mulheres de<br />

uma comunidade participando de um estudo longitudinal de 22 anos.<br />

Método: 21 mulheres foram identificadas na idade de 27 anos com<br />

total ou parcial desordem alimentar. Essas mulheres foram comparadas<br />

com 47 mulheres sem história de desordem alimentar ou fatores preditivos<br />

circunvizinhos.<br />

Resultados: As mulheres com desordens alimentares apresentaram<br />

problemas de saúde mais sérios antes de 5 anos e as mães reportaram<br />

ansiedade-depressão aos 9 anos. Aos 15, as mães as descreveram como<br />

tendo maiores problemas comportamentais. Antes dos 15, as famílias dos<br />

grupos com desordens alimentares tiveram mais história de depressão,<br />

problemas alimentares e mudanças nas circunstâncias financeiras das<br />

famílias.<br />

Discussão: Este estudo identifica preditores precoces distinguindo<br />

garotas que desenvolvem desordens alimentares. As descobertas apontam<br />

para uma necessidade de pesquisa continuada na área de saúde precoce,<br />

para examinar compreensivamente fatores biológicos, comportamentais e<br />

riscos ambientais para desordens alimentares.<br />

249


250<br />

A revista Nutrição Brasil é uma publicação com<br />

periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação<br />

de artigos científicos das áreas relacionadas à Nutrição.<br />

Os artigos publicados em Nutrição Brasil poderão também<br />

ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim<br />

como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que<br />

surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores<br />

já aceitem estas condições.<br />

A revista Nutrição Brasil assume o “estilo Vancouver”<br />

(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical<br />

journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo<br />

Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as<br />

especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo<br />

em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International<br />

Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org,<br />

na versão atualizada de outubro de 2001.<br />

Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções<br />

da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/<br />

e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não<br />

implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.<br />

O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou<br />

retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos<br />

textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo<br />

científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.<br />

1. Editorial<br />

Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou<br />

por um de seus membros.<br />

Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4<br />

em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times<br />

Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito,<br />

itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que<br />

dez referências.<br />

2. Artigos originais<br />

Serão considerados para publicação, aqueles não publicados<br />

anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que<br />

versem sobre as áreas relacionadas à Nutrição.<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,<br />

formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,<br />

com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />

sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato<br />

Excel/Word.<br />

Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas<br />

(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point,<br />

Excel, etc.<br />

Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Normas de publicação Nutrição Brasil<br />

Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências<br />

bibliográficas.<br />

Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão<br />

o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade,<br />

concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto.<br />

3. Revisão<br />

Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas<br />

relacionadas à Nutrição, ao encargo do Comitê Científico, bem<br />

como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e<br />

atualidade interessem a publicação na revista.<br />

Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos<br />

artigos originais.<br />

4. Comunicação breve<br />

Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com<br />

maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,<br />

resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar<br />

comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de<br />

argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.<br />

Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,<br />

formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,<br />

com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,<br />

sobre-escrito, etc.<br />

Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e<br />

figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser<br />

editados em Power Point, Excel, etc<br />

Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências<br />

bibliográficas.<br />

5. Resumos<br />

Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos<br />

inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê<br />

Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.<br />

6. Correspondência<br />

Esta seção publicará correspondência recebida, sem que<br />

necessariamente haja relação com artigos publicados, porém<br />

relacionados à linha editorial da revista.<br />

Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,<br />

será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a<br />

carta.<br />

Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as<br />

especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.


Nutrição Brasil - novembro/dezembro 2002;1(4)<br />

Preparação do original<br />

1. Normas gerais<br />

1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em<br />

processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de<br />

formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman<br />

(English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto,<br />

tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.<br />

1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para<br />

cada tabela junto à mesma.<br />

1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com<br />

as especificações anteriores.<br />

As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,<br />

e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e<br />

desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.<br />

1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,<br />

introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão<br />

e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do<br />

resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).<br />

O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive,<br />

CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio<br />

em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e<br />

identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do<br />

artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o<br />

processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.<br />

2. Página de apresentação<br />

A primeira página do artigo apresentará as seguintes<br />

informações:<br />

• Título em português e inglês.<br />

• Nome completo dos autores, com a qualificação curricular<br />

e títulos acadêmicos.<br />

• Local de trabalho dos autores.<br />

•Autor que se responsabiliza pela correspon-dência, com<br />

o respectivo endereço, telefone e E-mail.<br />

• Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,<br />

para paginação.<br />

• As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,<br />

aparelhos, etc.<br />

3. Autoria<br />

Todas as pessoas consignadas como autores devem ter<br />

participado do trabalho o suficiente para assumir a<br />

responsabilidade pública do seu conteúdo.<br />

O crédito como autor se baseará unicamente nas<br />

contribuições essenciais que são: a) a concepção e<br />

desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação<br />

do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu<br />

conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será<br />

publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições<br />

a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos<br />

ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A<br />

supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.<br />

Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:<br />

4. Resumo e palavras-chave (Abstract,<br />

Key-words)<br />

Na segunda página deverá conter um resumo (com no<br />

máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras<br />

para os estruturados), seguido da versão em inglês.<br />

O conteúdo do resumo deve conter as seguintes<br />

informações:<br />

• Objetivos do estudo.<br />

• Procedimentos básicos empregados (amostragem,<br />

metodologia, análise).<br />

• Descobertas principais do estudo (dados concretos e<br />

estatísticos).<br />

• Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior<br />

novidade.<br />

Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave<br />

(ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para<br />

tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos<br />

de matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index<br />

Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no<br />

MeSH, os termos atuais).<br />

5. Agradecimentos<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio<br />

financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de<br />

laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,<br />

antes as referências, em uma secção especial.<br />

6. Referências<br />

As referências bibliográficas devem seguir o estilo<br />

Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências<br />

bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre<br />

parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto,<br />

seguindo as seguintes normas:<br />

Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras<br />

iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor<br />

do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo<br />

- itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e<br />

vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.<br />

Exemplo:<br />

<strong>Jean</strong>-Louis Peytavin<br />

Atlantica Editora - Rua Conde Lages, 27 - Glória - 20241-080 Rio de Janeiro RJ<br />

Tel: (21) 2221 4164 - E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br<br />

1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,<br />

editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and<br />

management. 2 nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.<br />

Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),<br />

letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.<br />

Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação<br />

seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois<br />

pontos, páginas inicial e final, pon<br />

Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio<br />

financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de<br />

laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,<br />

antes as referências, em uma secção especial.<br />

251


ABRIL<br />

2003<br />

2 a 4 de abril<br />

Dietética – Expo Diet Light<br />

Congresso paulista de nutrição<br />

Congresso de soja<br />

Exposição e Congresso de Nutrição,<br />

Produtos Diet, Light e Especiais<br />

ITM Expo - São Paulo SP<br />

Informações: (47)326 4267<br />

E-mail: latineve@latinevent.com.br<br />

www.latinevent.com.br<br />

17 a 21 de abril<br />

V o Congresso Brasileiro Pediátrico de<br />

Endocrinologia e Metabologia<br />

V o Cobrapem<br />

Mar Hotel, Recife, Pernambuco<br />

Presidente: Prof a . Dr a . Elcy Falcão<br />

Informações: (81) 3423-1300<br />

E-mail: andrealatache@assessor5pe.com.br<br />

26 a 30 de abril<br />

6 th European Congress of Endocrinology<br />

Lyon, França<br />

Informações: W.M. Wiersinga<br />

Department of Endocrinology &<br />

Metabolism<br />

Academic Medical Center F5-171<br />

Meibergdreef 9<br />

1105 AZ Amsterdam - The Netherlands<br />

Tel.: 31 20 566 6071<br />

Fax: 31 20 691 7682<br />

w.m.wiersinga@amc.uva.nl<br />

17 a 21 de abril<br />

V o Congresso Brasileiro Pediátrico de<br />

Endocrinologia e Metabologia<br />

V o Cobrapem<br />

Mar Hotel, Recife, Pernambuco<br />

Presidente: Prof a . Dr a . Elcy Falcão<br />

Informações: (81) 3423-1300<br />

E-mail: andrealatache@assessor5pe.com.br<br />

Calendário de eventos<br />

MAIO<br />

29 de maio a 1 de junho<br />

12 th European Congress on Obesity<br />

Helsinki, Finland<br />

Informações: Dr. Mikael Fogelholm<br />

UKK Institute for Health Promotion<br />

Research, POB 30, 33501 Tampere,<br />

Finland<br />

Tel: + 358 3 2829 201<br />

Fax: + 358 3 2829 559<br />

e-mail: mikael.fogelholm@uta.fi<br />

JUNHO<br />

14 a 17 de junho<br />

63 th Annual Scientific Sessions of the<br />

American Diabetes Association<br />

New Orleans, Louisiana<br />

Informações: +1 800 232 3472<br />

E-mail: meetings@diabetes.org<br />

www.diabetes.org<br />

AGOSTO<br />

6 a 10 de agosto<br />

30 th Annual Meeting of the American<br />

Association of Diabetes Educators<br />

Salt Palace Convention Center, Salt<br />

Lake City, Utah<br />

Tel: (312) 424 2426<br />

www.aadenet.org<br />

24 a 29 de agosto4 a 29 de agosto<br />

18 th Internacional Diabetes Federation<br />

Congress<br />

Paris, França<br />

Informações: Prof. Dr. Gerard<br />

Cathelineau, Hopital Saint-Louis, 1<br />

avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris,<br />

França<br />

Tel : +33 1 4249 9697<br />

www.idf.org<br />

NOVEMBRO<br />

12 a 15 de novembro<br />

VIII o Congresso Brasileiro de Nutrologia<br />

Centro de Convenções, Goiânia GO<br />

Informações: (17) 3524 4929 / 523<br />

9732 / 523 3645<br />

2004<br />

XIV th International Congress of<br />

Dietetics<br />

Chicago, EUA<br />

Informações:<br />

2004Congress@catright.org<br />

Fax: 312/899-4772<br />

SETEMBRO<br />

2005<br />

19 a 24 de setembro<br />

18 th International Congress of Nutrition<br />

Durban, África do Sul<br />

Informações:<br />

jlochner@mcd4330medunsa.ac.za

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