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A “pedra” na vesícula - Hospital da Luz

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vi<strong>da</strong> saudável | geral<br />

JOÃO REBELO DE ANDRADE<br />

52 iess Outono 2007<br />

A LITÍASE vesicular ou <strong>“pedra”</strong> <strong>na</strong> <strong>vesícula</strong><br />

é uma situação patológica frequente, que afecta<br />

entre 10% e 15% <strong>da</strong> população ocidental, ou seja,<br />

mais de um milhão de portugueses. No entanto, só<br />

20% desta população irão ter queixas significativas<br />

durante a sua vi<strong>da</strong>. Antes de mais, convém saber<br />

o que é e como funcio<strong>na</strong> a <strong>vesícula</strong>.<br />

A <strong>vesícula</strong> é um pequeno órgão em forma de<br />

pêra, situado por baixo do fígado e aderente a este,<br />

cuja função é armaze<strong>na</strong>r a bílis produzi<strong>da</strong> pelo fígado<br />

e libertá-la durante a ingestão de alimentos.<br />

O tratamento definitivo <strong>da</strong> litíase biliar<br />

sintomática e de algumas <strong>da</strong>s suas<br />

complicações é cirúrgico, com remoção<br />

<strong>da</strong> <strong>vesícula</strong> biliar<br />

Quando a <strong>vesícula</strong> é saudável, armaze<strong>na</strong> e<br />

concentra a bílis. Quando é ingerido um alimento,<br />

a <strong>vesícula</strong> contrai-se, passando a bílis para<br />

o duodeno, através do ca<strong>na</strong>l colédoco, onde se<br />

mistura com os alimentos e com outros sucos<br />

digestivos.<br />

A <strong>vesícula</strong> biliar pode ter um aspecto normal,<br />

nomea<strong>da</strong>mente em exames radiológicos, como a<br />

ecografia, mas pode não funcio<strong>na</strong>r correctamente.<br />

Nestes casos diz-se que existe uma doença ou patologia<br />

funcio<strong>na</strong>l. A contracção <strong>da</strong> <strong>vesícula</strong> pode<br />

ocorrer de uma forma anómala durante ou após<br />

uma refeição, quer contraindo-se de mais quer<br />

A <strong>“pedra”</strong> <strong>na</strong> <strong>vesícula</strong><br />

A litíase vesicular ou <strong>“pedra”</strong> <strong>na</strong> <strong>vesícula</strong> é uma situação<br />

patológica frequente, que afecta mais de um milhão de portugueses.<br />

Porém, só 20% terão queixas significativas durante a sua vi<strong>da</strong><br />

não se contraindo de todo. Pode surgir então dor<br />

abdomi<strong>na</strong>l por baixo do rebordo costal direito ou<br />

epigastro, acompanha<strong>da</strong> de enfartamento, náusea,<br />

vómitos ou azia. Esta dor tem o nome de cólica biliar<br />

e normalmente não dura mais de 30 minutos.<br />

Em alguns doentes, a associação de múltiplos<br />

factores, como um mau funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong> <strong>vesícula</strong>,<br />

uma composição anómala <strong>da</strong> bílis, a dieta<br />

habitual do doente, factores genéticos, como a<br />

existência de certo tipo de anemias, ou outros,<br />

leva a que se formem <strong>na</strong> <strong>vesícula</strong> peque<strong>na</strong>s pedras<br />

– cálculos –, que ape<strong>na</strong>s irão ser causa de<br />

sintomatologia em 20% dos doentes.<br />

Na grande maioria dos casos as queixas incluem-<br />

-se num grande grupo de sintomas, a que se dá o<br />

nome de dispepsia, como intolerância a certo tipo de<br />

alimentos, geralmente a gorduras, eructação, flatulência,<br />

desconforto pós-prandial, ardor epigástrico,<br />

náuseas e vómitos e refluxo gastroesofágico. Oitenta<br />

por cento dos doentes com litíase sintomática têm<br />

um destes sintomas e é no âmbito do estudo destas<br />

queixas que muitas vezes é feito o diagnóstico.<br />

Estes cálculos podem causar ape<strong>na</strong>s este tipo<br />

de queixas, mas a sua mobilização e/ou migração<br />

para as vias biliares pode levar ao aparecimento<br />

de uma cólica biliar ou a situações mais graves,<br />

como colecistite agu<strong>da</strong>, litíase do colédoco com<br />

icterícia ou pancreatite agu<strong>da</strong> litiásica, que <strong>na</strong>s<br />

formas graves pode ter uma morbili<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de<br />

significativas.


O tratamento definitivo <strong>da</strong> litíase biliar sintomática<br />

e de algumas <strong>da</strong>s suas complicações é<br />

cirúrgico, com a remoção <strong>da</strong> <strong>vesícula</strong> biliar – colecistectomia<br />

–, que <strong>na</strong> grande maioria dos casos<br />

pode ser realiza<strong>da</strong> por cirurgia laparoscópica (ou<br />

minimamente invasiva). A decisão de propor uma<br />

intervenção cirúrgica a um doente com queixas<br />

não é difícil, ao contrário do que sucede nos casos<br />

em que o doente não tem queixas.<br />

Quando um doente vem a uma consulta de<br />

cirurgia e pergunta ao cirurgião: “Fiz este exa-<br />

A decisão<br />

de propor<br />

uma cirurgia<br />

é difícil nos<br />

casos em que<br />

o doente não<br />

tem queixas<br />

GETTY IMAGES<br />

vi<strong>da</strong> saudável | geral<br />

me, que mostra que tenho ‘pedras’ <strong>na</strong> <strong>vesícula</strong>.<br />

O que devo fazer?”, deixa-o numa posição tudo menos<br />

fácil no caso de o doente ser assintomático.<br />

O que dizer a uma pessoa que não tem qualquer<br />

queixa mas é portadora de uma patologia<br />

que pode causar complicações graves, sendo que<br />

algumas delas têm uma mortali<strong>da</strong>de eleva<strong>da</strong>, como<br />

a pancreatite agu<strong>da</strong> litiásica severa (15%)? A resposta<br />

deve ser sempre discuti<strong>da</strong> caso a caso com<br />

o doente, que é parte fun<strong>da</strong>mental no processo<br />

decisório, cabendo nesta conversa os seguintes<br />

pontos:<br />

1.º Frequência de aparecimento de sintomas<br />

num doente até aí assintomático.<br />

2.º Frequência de aparecimento de complicações<br />

mais ou menos graves.<br />

3.º Probabili<strong>da</strong>des de a primeira manifestação<br />

<strong>da</strong> doença ser uma complicação grave.<br />

4.º Tratamentos médicos vs. cirúrgicos.<br />

5.º Comparação <strong>da</strong> morbili<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s complicações vs. as decorrentes de uma<br />

cirurgia.<br />

6.º Custos dos diversos tratamentos.<br />

Embora existam vários artigos clássicos em<br />

que se procedeu ao seguimento de pacientes com<br />

litíase vesicular assintomática durante vários anos<br />

sem que se tenha concluído pelo benefício de os<br />

colecistectomizar profilacticamente, existem doentes<br />

que devem o facto de estar vivos ao cirurgião,<br />

por ter eventualmente “forçado” uma indicação<br />

operatória controversa à luz <strong>da</strong>s evidências científicas<br />

existentes.<br />

Em conclusão, se fez um exame como uma<br />

ecografia que revelou a presença de cálculos ou<br />

outras lesões <strong>na</strong> <strong>vesícula</strong>, como, por exemplo,<br />

pólipos, consulte um cirurgião quer tenha ou não<br />

queixas. Conversem sobre estes pontos e tomem<br />

uma decisão em conjunto.<br />

Departamento de Cirurgia Geral do <strong>Hospital</strong> <strong>da</strong> <strong>Luz</strong>.<br />

Outono 2007 iess 53

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