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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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E Perniola prossegue dizendo que o sadista não se baseia num princípio abstrato,<br />

mas sobre o desafio que ele dirigiu a Deus e à sua criação, no momento em que, renuciando<br />

para sempre em constituir com outros uma unidade do querer, apostou em si mesmo e no<br />

esforço ilimitado de sua própria soberania 46 . Os dois artistas lançam o desafio a Deus, mas<br />

ao fim, escolhem compartilhar, ainda que somente na exposição de seus desejos. E fazem do<br />

público seus cúmplices, ou adoradores de seus tormentos. Fazem do público seus algozes.<br />

Alternam posições.<br />

2.5 Estetas da dor<br />

Ah! Aproxima-se o tempo, em que o homem não lançará mais a flecha de seu desejo<br />

acima dos homens 47 . (...) Outrora tinha a alma um olhar de desdém para o corpo; e nada era<br />

superior a esse desdém. Queria a alma um corpo magro, horrível, consumido de fome! Julga-<br />

va assim libertar-se dele e da terra! 48 (...) Mas o homem desperto, o sábio, diz: Todo eu sou<br />

corpo, e nada mais; a alma não é mais que um nome para chamar algo de corpo 49 . Assim<br />

falava Zaratustra, dirigindo-se à multidão. Assim, Zaratustra ensinava o Além-Homem, como<br />

rompimento com a metafísica e com a preponderância da mente sobre o corpo.<br />

Kanavillil Rajagopalan inicia seu texto “Corpo e sentido numa perspectiva descons-<br />

trutivista” argumentando que : A idéia de corpo que o mundo ocidental cultiva acha-se mui-<br />

to bem sintetizada no personagem bíblico de Jó. Todo o sofrimento a que ele é submetido<br />

pelo Destino se dá inteiramente no plano corporal; a sua mente fica totalmente inatingida 50 .<br />

E na finalização deste texto, o autor reitera como fascinante a idéia de corpo falante por sua<br />

desconstrução da longa tradição metafísica do mundo ocidental, e nota no pensamento de<br />

Nietzsche os primeiros indícios da noção de um corpo que fala, que pensa, que sofre, e, por<br />

isso mesmo, contrastante com o personagem Jó.<br />

Proponho, como subversão, olhar para o corpo dilacerado de Jó. É certo que o contexto<br />

dificulta a leitura isolada. Jó, piíssimo, é a lição máxima da entrega ao divino, com a flecha<br />

de seu desejo voltada para acima do humano, com seu corpo magro, horrível, consumido de<br />

46<br />

PERNIOLA, ibdem, p. 40.<br />

47<br />

NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Trad. Mário<br />

Ferreira dos Santos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 26.<br />

48<br />

NIETZSCHE, ibdem, p. 19.<br />

49<br />

NIETZSCHE, ibdem, p. 51.<br />

50<br />

In: <strong>SILVA</strong>, Ignácio Assis (Org). Corpo e sentido: a escuta do sensível. São Paulo: Universidade Esta-<br />

dual Paulista, 1996, p. 79-84.<br />

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