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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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corpora ao prestígio do proibido e armazena ao pudor para inventá-lo de novo. A moda<br />

não proíbe. Obriga, coage 41 .<br />

Jogando com a libido como esse algo complementar, Mustafar e Händeler investem<br />

também na aceitação do corpo como um todo desejante. Suas proposições são variações da<br />

parafilia 42 , mas num sentido invertido, buscando no corpo a libido, para não fazer distinção<br />

entre mente e corpo. Criam técnicas de si que burlam estatutos. Colocam-se inteiros em mar-<br />

tírio, e em adoração.<br />

Deleuze e Guattari argumentam que há uma compreensão errônea da dor do maso-<br />

quista, pois em verdade ele faz para si um corpo sem órgãos e se deixa costurar pelo sádico<br />

ou por sua puta, costurar os olhos, o ânus a uretra, os seios, o nariz; deixa-se suspender<br />

para interromper o exercício dos órgãos, esfolar como se os órgãos se colassem na pele,<br />

enrabar, asfixiar para que tudo seja selado e bem fechado 43 . E sua busca não é a dor, senão<br />

o corpo sem órgãos, que se preenche por intensidades de dor.<br />

O paradoxo no corpo de Mustafar e Händeler, construir um corpo sem órgãos para<br />

intensificar os órgãos, e neles reencontrar a si, faz-se como avesso da idéia original de Ar-<br />

taud, contudo partem do mesmo princípio de não separação do corpo/mente. Se Deleuze e<br />

Guattari entendem o masoquismo como homenagem a Espinoza, Mustafar e Händeler desmantelam<br />

ainda mais as Naturezas Naturadas ao propor um corpo reverso, corpo também<br />

como campo de imanência do desejo, o plano de consistência própria do desejo (ali onde o<br />

desejo se define como processo de produção, sem referência a qualquer instância exterior,<br />

falta que viria torná-lo oco, prazer que viria preenchê-lo) 44 .<br />

Há ainda outra variação nas proposições de Mustafar e Händeler: são sádicos de si<br />

mesmos. Perniola se pronuncia a respeito da unicidade das atitudes sadistas em gozar sem-<br />

pre, de encontrar o próprio deleite em qualquer estado e condição, de infinitas ocasiões de<br />

volúpia também nos tormentos, nos suplícios e na morte 45 . Mustafar e Händeler aplicam a si<br />

mesmos os suplícios, para chegar a um ápice do auto-conhecimento, que acreditam não po-<br />

der estar em outro lugar.<br />

41 GARCIA, Germán. “Cuerpo, mirada y muerte”. In: CROCI, Paula; VITALE, Alejandra. Los cuerpos<br />

dóciles: hacia un tratado sobre la moda. Buenos Aires: La Marca. Col. Cuadernillos de gêneros, 2000, p.<br />

163.<br />

42 Do grego, para: fora de, Philia: amor. A parafilia é considerada um padrão de comportamento sexual<br />

no qual, em geral, a fonte predominante de prazer se encontra fora da cópula.<br />

43 <strong>DE</strong>LEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra<br />

Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Leão e Suely Rolnik. São Paulo: 34, 1996, p. 10.<br />

44 <strong>DE</strong>LEUZE; GUATTARI, ibdem, 1996, p. 15.<br />

45 PERNIOLA, ibdem, p. 40.<br />

95

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