AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
de fetiche reduzido a um objeto insignificante? 36 Estas perguntas parecem observar as ori-<br />
gens do termo, em resguardo aos sentidos iniciais. De qualquer modo, tais perguntas servem<br />
para rastrear o trajeto irregular desta terminologia, e como ela aderiu faces contraditórias.<br />
Perniola acredita que a sociedade atual rechaça a sociedade da imagem, pois valoriza<br />
a coisa, o objeto em si, não mais sua representação. Assim sendo, a sociedade atual valoriza<br />
a condição do fetiche de não símbolo nem signo, mas de esplêndida autonomia, oferecendo-<br />
se realmente em sua arbitrariedade opaca e indiferente, em seu ser coisa senciente. O fetiche<br />
não se constitui num ato de adoração ao mundo, e não cria ilusões a seu respeito, pronuncia-se<br />
sem reservas e com a máxima energia a favor de uma parte, de um detalhe, de<br />
uma circunstância específica 37 .<br />
De certo modo, as perguntas feitas por Villaça são respondidas por Perniola quando<br />
este diferencia fetiche de totem. Para Perniola quando se trata de manter o universo antropo-<br />
lógico ou religioso não cabe pensar em fetiche. O fetiche se mantém na insubordinação da<br />
coisa, em relação ao organismo vivo, ao sistema, à estrutura que pretende englobá-la. En-<br />
quanto o totem é uma coisa que não conta em si mesmo, pois credita a um grupo social a<br />
garantia de sua organicidade, tornando-se depende de uma estrutura de crenças, ou de códi-<br />
gos. Perniola não vê nenhum objeto como insignificante, portanto não há destruição do con-<br />
ceito de fetiche. É exatamente quando ele se reduz ao objeto que triunfa sobre o natural, tor-<br />
nando-se presença viva e ativa, sem ligação com o universo antropológico e religioso.<br />
A discussão sobre fetiche e mercadoria a partir de Marx, também é oferecida por<br />
Perniola. No entanto, suas conclusões diferem. Marx não se interessaria pelo enigma feti-<br />
chista da mercadoria, senão pelos fatores de indução que, por detrás do fetiche, levam a crer<br />
em causas naturais, suprimindo sua verdadeira razão social. É neste ponto que Perniola acredita<br />
que mesmo a contragosto Marx abre para a possibilidade de uma leitura pautada no<br />
sex appeal do inorgânico, como esplendor do objeto em si, gozo das formas e veneração da<br />
beleza do mundo: Quem aprecia os objetos por suas qualidades naturais, esquecendo que<br />
eles são essencialmente mercadorias, ou seja, produtos do trabalho abstrato, se deixa cegar<br />
por uma faísca que não pertence ao mundo do espírito nem ao da vida, mas ao mundo inorgânico<br />
das coisas entendidas como coisas 38 . O estudo de Marx, para Perniola, acaba por<br />
reforçar a independência e autonomia do objeto-coisa.<br />
36 VILLAÇA, ibdem, p. 67.<br />
37 PERNIOLA, ibdem, p. 68.<br />
38 PERNIOLA, ibdem, p. 70.<br />
91