AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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feitiçaria medieval (feitiço), sendo transferida para Costa da África ocidental no século XV.<br />
É neste contexto que a palavra fetiche passa a ser entendida como presença viva e ativa, e de<br />
individualização conferida a um objeto inanimado 33 . No princípio a feitiçaria teria vindo em<br />
substituição à idolatria de objetos mágicos.<br />
Trazendo outra referência, Mario Perniola retira das pesquisas de Charles De Brosses<br />
a idéia de fetichismo como a forma mais primitiva de religião, na qual o objeto é adorado em<br />
sua especificidade singular, opondo-se ao figurativismo platônico, que vê na religião e na<br />
mitologia dos antigos a expressão indireta e alegórica de idéias intelectuais puras e abstratas<br />
34 . Para Perniola o fetiche não representa nem reproduz ninguém. É um ser coisa, des-<br />
prendido de uma ligação com o espírito ou com uma forma determinada, por isso mesmo<br />
diferente da idolatria. Ou seja, constitui-se no triunfo do artificial.<br />
Este possível triunfo do artificial é posto em debate por Nízia Villaça 35 , que acres-<br />
centa a moda como fator determinante no processo de sua disseminação. Para a autora, há<br />
dois níveis de discussão que se separam pela valorização do corpo, ou não. Adotado desde<br />
há muito, o uso de espartilhos, botas de couros e outros busca relacionar-se com o corpo,<br />
mesmo que em última instância. Situa-se neste primeiro nível a investida de grifes consagradas<br />
pelo mercado, com apropriações da moda sadomasoquista, conforme as regras morais e<br />
políticas em vigor. Quando há afrouxamento destas regras, aumenta-se a tendência nestas<br />
utilizações.<br />
O outro nível se dá com a anulação do corpo, em sua substituição. Neste, corpos reconhecidos<br />
por algum tipo de status, corpos-celebridades, emprestam-se a campanhas, sendo<br />
a finalidade não os corpos em si, mas todo o imaginário que se cria no entorno, num jogo<br />
complexo de imagens e simbologias, visando unicamente a venda de qualquer tipo de produto.<br />
Villaça reporta-se a Jean Baudrillard, apelando para a perspectiva marxista que desmascara<br />
a economia política do signo e sua estratégia de sedução.<br />
Duas perguntas lançadas por Villaça merecem atenção, neste contexto: podemos fa-<br />
lar de fetiche quando a moda passa a valer por si mesma e não remete a qualquer outra<br />
relação seja com o corpo, seja com alguma transcendência num universo antropológico e<br />
religioso? Não seria a moda/fetiche em sua segunda fase a própria destruição do conceito<br />
33<br />
GRUZINSKI, Serge. “O que é um objeto mestiço”. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy (Org). Escrita,<br />
linguagem, objetos. São Paulo: Edusc, ... p. 255.<br />
34<br />
PERNIOLA, Mario. O sex appeal do inorgânico. Trad. Nilson Moulin. São Paulo: Studio Nobel, 2005,<br />
p. 67.<br />
35<br />
VILLAÇA, Nízia. Em pauta: corpo, globalização e novas tecnologias. Rio de Janeiro: Mauad: CNPq,<br />
1999, p. 63-7.<br />
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