AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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gualmente ou a eliminação dos trajes puramente úteis como esses, ou então a incorporação<br />
deles ao esquema estético total do traje usado 61 .<br />
Flügel alia a moral à estetização para fazer manutenção dos discursos sobre as camadas<br />
da pele e seus limites. O corpo-monge se resguarda. O apresentável do corpo-monge são<br />
suas extensões. Deste modo, o corpo assume as funções antes destinadas ao espírito ou alma.<br />
(O monge que ainda procuro transformou-se em corpo escondido pelas suas camadas<br />
exteriores. O monge é extensão do corpo, mas como figurinista não posso tocar o corpo).<br />
1.6 Contornos protegidos<br />
Na análise do corpo grotesco, outra máxima complementa as máximas estudadas até<br />
o momento: “O costume é uma segunda natureza” (Consuetudo altera natura). O sentido<br />
duplo da palavra “costume” em língua portuguesa proporciona um jogo pertinente aos objetivos<br />
desta pesquisa. Quando empregada como sinônima de vestuário 62 , principalmente no<br />
período Romântico, roupa masculina e feminina de uso diário, implica na separação das<br />
roupas de passeio, esportes e de trabalho ou doméstica. Pensar em costume neste sentido<br />
seria quase como pensar no corpo nu, ou seja, sem as máscaras que se vestem para os bailes,<br />
as visitas formais, os acontecimentos religiosos, e outros. O costume é uma segunda nature-<br />
za que suplanta a primeira.<br />
Quando empregada como sinônima de hábito (repetição de atos) a palavra costume<br />
conduz a outra leitura. Tomando como exemplo o uso das anquinhas, o costume se aplicaria<br />
à convivência da matéria do corpo com a matéria da madeira, ou barbatana de baleia, de tal<br />
maneira que uma se adapte à outra até tornarem-se uma só. E essa repetição sem pausa que<br />
faz tanto o corpo se acostumar com o recurso artificial como também se reorganizar pela sua<br />
forma, leva a refletir sobre a tradução da máxima: altera ou “modifica”, “transforma” a natureza.<br />
Dirijo estas discussões para a prática teatral de Stanislavski observando que o corpoator<br />
é um corpo grotesco em dois aspectos: quando posto em cena com o objetivo de chegar<br />
o mais perto possível da realidade, mantém a mesma idéia de corpo com camadas de maté-<br />
61 FLÜGEL, ibdem, p. 176.<br />
62 Do francês: costume: roupa de homem (calça, paletó e, por vezes, o colete); vestuário feminino: casaco<br />
e saia.<br />
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