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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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mada sobressalente do corpo: a pele, fino contorno delimitador. Mas a advertência sobre a<br />

“fraqueza própria” dos poros era bem menos um preventivo do que uma norma a ser segui-<br />

da.<br />

O tema “materialidade” tornou-se uma constante nos tempos de peste em prol da vigilância<br />

do corpo, sobretudo pela convicção da porosidade do seu contorno. Segundo Vigarello,<br />

era preciso estratégias totalmente específicas neste ponto: evitar as lãs e os algodões,<br />

matérias demasiado permeáveis; evitar as peles, cujos longos pelos constituem uma atração<br />

para o mau ar 54 . O encontro das matérias do corpo e da roupa e seus modos de contato e de<br />

adequação há muito ocupava espaço nos debates, pois já na Idade Média estabeleceu-se o<br />

uso do algodão na cor branca, ou seja, sem impurezas, como a única matéria que deveria<br />

tocar o corpo. Porém, quando o discurso dos poros tornou-se uníssono, os fatos “comprova-<br />

ram” a sua pertinência.<br />

Mantendo o mesmo paradigma, a pele e a roupa de dentro como as camadas proteto-<br />

ras do corpo, o século XIX produzirá um discurso diferente diante das pesquisas pormeno-<br />

rizadas dos micróbios, realizadas por Remlinger. 55 O novo lema consiste em acabar com a<br />

sujidade destas camadas (pele e roupa), locais de sobrevivência dos inimigos invisíveis. A<br />

ablução é o meio mais eficiente de prevenção às contaminações que antes permaneciam no<br />

externo e agora atingem o mais secreto do corpo.<br />

Do encontro entre as matérias, para além da função de status a roupa sublinha sua<br />

função de segunda-pele. O corpo-templo, sagrado, escoltado pela roupa de dentro, não se<br />

revela aos olhos. Enquanto a roupa de fora continua sendo o apresentável e o representável.<br />

Se a individualização já se fez aparente nas combinações dos adornos durante todo o<br />

Renascimento, no recorte feito por Vigarello, a partir da higiene, passa a ser marcada pela<br />

preeminência do limite da pele. O corpo humano, individual e único separa-se das coisas<br />

pelo seu contorno.<br />

Corpo e roupa amalgamados, formando várias camadas do mais interno ao mais ex-<br />

terno. A junção das matérias fabrica um corpo que pode ser analisado de duas maneiras: o<br />

corpo humano sobreposto por um corpo-extra, o corpo-da-roupa, que com o advento das<br />

técnicas de corte e costura tendem a imitar as formas do corpo (as penses, por exemplo, como<br />

recurso semelhante ao da escultura). Ou como corpo grotesco 56 , e aí mais próximo aos<br />

54 VIGARELLO, ibidem, p. 17.<br />

55 VIGARELLO, ibidem, p. 159.<br />

56 Pavis esclarece que o conceito de grotesco se deve às pinturas descobertas no Renascimento em monumentos<br />

soterrados e contendo motivos fantásticos: animais com forma vegetal, quimeras e figuras humanas.<br />

Cf: PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. Trad. J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo:<br />

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