AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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lho não pode ver seu próprio rosto 22 . Porém, cumprindo as promessas do título do item, “A<br />
máscara neutra: um mergulho em si mesmo”, continua:<br />
Enquanto lugar da metamorfose, a máscara constitui um instrumento que gera reflexões<br />
sobre o trabalho do ator, principalmente, se se parte de princípio de que é o seu corpo o<br />
suporte para a enunciação de um personagem. Este não é uma entidade pré-existente à<br />
tessitura dramatúrgica que o ator veste, mas uma encruzilhada de signos que são gerados<br />
no seu corpo. Assim, a máscara (neutra) se revela como um instrumento eficaz para<br />
esta (trans)formação 23 .<br />
Os exercícios de adaptação do corpo do ator ao figurino-corpo-do-outro, na estética<br />
naturalista, tem como propósito uma naturalização através da convivência entre os dois corpos.<br />
Cito a montagem de Júlio César 24 como exemplo deste tipo de adoção. Para aprender a<br />
usar os uniformes militares e o manuseio de armas, foram feitos figurinos experimentais,<br />
vestidos pelos atores durante todo o dia, inclusive fora do palco, nas ruas 25 . Nesta montagem<br />
os exercícios de adaptação do corpo encontram pontos de semelhança com os explicitados<br />
por Costa, quanto ao uso da máscara: Manter um estado requer o exercício do corpo-mente,<br />
promovendo um domínio técnico que se converta numa segunda natureza para o ator 26 .<br />
Mas pretendo atentar para o conceito teatral, ou o entendimento deste, imbuído nos<br />
dois pensamentos: no naturalismo há a recusa da máscara, dando lugar para o figurino como<br />
parte do corpo, embora, quando observado com extrema atenção, o figurino também se<br />
constitua num corpo-extra. Enquanto que no teatro grego, ou em outras noções de teatro, a<br />
máscara seja indubitavelmente o corpo-extra, mas estende para o corpo-atuante as concep-<br />
ções de movimento e criação do personagem propriamente ditos, oriundos da máscara. Em<br />
preceito, a diferença se pontua na separação, ou não, do corpo-atuante do corpo-personagem,<br />
propiciando entendimentos desiguais sobre a relação do figurino com o corpo, implicando<br />
na noção de tradução do invisível.<br />
No teatro naturalista o hábito faz o monge tanto quanto o faz no teatro grego, pois é a<br />
sua materialização em um e outro. Mas no teatro grego o simulacro é idêntico: o monge é<br />
espírito (fantasma) e o figurino-corpo, extensão. O naturalismo complexiza: o monge é espí-<br />
22<br />
COSTA, Felisberto Sabino. “A máscara e a formação do ator”. In: Móin-Móin: Revista de Estudos<br />
sobre Teatro de Formas Animadas. Jaraguá do Sul: SCAR/U<strong>DE</strong>SC, ano 1, v.1, 2005, p. 32.<br />
23<br />
COSTA, apud, p. 36.<br />
24<br />
A montagem “Júlio César”, de Shakespeare, foi estreada pelo Teatro de Arte de Moscou em 02 de<br />
outubro de 1903.<br />
25<br />
STANISLAVSKI, Constantin. Minha vida na arte. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Civilização<br />
Brasileira, 1989, 354.<br />
26 COSTA, apud, p. 43.<br />
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