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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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sabilizar o figurino pela função de caracterização. O livro “A Construção do Personagem” é<br />

exemplar quando relata um exercício de criação, estado externo, partindo deste elemento.<br />

Em tal situação, durante dias o ator persiste na busca por aspectos físicos de um personagem<br />

que se ajuste e condiga com as características do figurino escolhido: um fraque mofado. Porém,<br />

embora a máscara tenha sido abandonada, o figurino permanece com a função de compor<br />

um corpo diferente do corpo do ator. E há, igualmente, um corpo extra, já que o corpo<br />

do ator é coberto por artifícios (próteses) do figurino.<br />

Incluindo a sensação perturbadora de uma transformação do próprio “eu”, na descrição<br />

do processo o ator ressalta: Finalmente, à noite, acordei de repente e tudo estava claro.<br />

Aquela segunda vida que eu vivera paralelamente à minha vida habitual era secreta, sub-<br />

consciente 19 . Depois de ter encontrado a figura de um Crítico, de se fazer “ele”, suas refle-<br />

xões se fecham no desdobramento do “eu”: Enquanto tomava banho lembrei-me de que<br />

representando o papel do Crítico ainda assim não perdia a sensação de que era eu mes-<br />

mo 20 .<br />

Nesse procedimento do naturalismo há a procura de um corpo (subjetividade) para o<br />

figurino do “outro”, no entanto, a utilização dos termos “subconsciente”, “memória emocio-<br />

nal” e “eu sou” supõe que as indagações perduram no âmbito do self do ator. “A Preparação<br />

do Ator” ocupa-se do estado interior de criação com a intenção de alcançar o superobjetivo<br />

e a linha direta de ação. Segundo o encenador, estas técnicas (psíquicas), quando bem traba-<br />

lhadas levam à região do subconsciente, abrem os olhos da alma, permitindo ao ator a per-<br />

cepção dos ínfimos detalhes, e tudo adquire um novo significado, tanto para o personagem<br />

como para si mesmo 21 .<br />

Evidentemente a linha divisória entre as questões que estão sendo sugeridas é por<br />

demasiado sutil, e por vezes se movimenta, flexível, para ambos os lados. Mas o exercício<br />

pode ser considerado como tentativa de potencializar as mínimas situações de precisão nas<br />

cisões. Neste sentido, a máscara cênica como território da alteridade, sugerida por Felisberto<br />

Sabino da Costa, representa alargamento dos campos de argumentação em favor da tese, ao<br />

tempo em que propõe um deslizar mais cuidadoso pelos territórios a serem percorridos. Costa<br />

sustenta - sobre o uso da máscara neutra - ser esta uma possibilidade ao ator de (des)vestir<br />

a sua identidade pessoal. Ao colocá-la, vesti-la, deixa de ser, fisicamente, e frente a um espe-<br />

19<br />

STANISLAVSKI, Constantin. A construção do personagem. Trad. Pontes de Paula Lima. Rio de Janeiro,<br />

Civilização Brasileira, 2000, p. 29.<br />

20<br />

STANISLAVSKI, ibidem, 2000, p. 36.<br />

21<br />

STANISLAVSKI, Constantin. A preparação do ator. Trad. Pontes Paula Lima. Rio de Janeiro: Civili-<br />

zação Brasileira, 1999, p. 336.<br />

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