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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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demonstrativo, mais propício ao jogo entre o visível e o invisível. Neste sentido, para a a-<br />

proximação, por vezes, são mais eficazes os instrumentos que se prestam à materialização,<br />

ainda que de maneira ficcional, e mais uma vez forçando ao labirinto colocado entre o visível<br />

e o invisível.<br />

A reflexão anagógica deve sugerir o alargamento de qualquer dos limites na forma de<br />

experienciar. Assim sendo, em prece, rogo que sejam meus os tormentos da alma, e a inquie-<br />

tação pelo incomensurável. De outro jeito, permaneceria com minha fé, confessa, na matéria.<br />

Em prece repito, como minha, a inquietação de Agostinho: An sit? Quid sit? Quale sit? 3<br />

Se uma coisa existe, qual é a sua natureza e qual é a sua qualidade? Repito, porque talvez<br />

ela me pertença em escuso. Talvez por heresia. Ou ironia. Do monge conheço apenas o hábi-<br />

to? Habitus non facit monachum. O espírito é uma coisa e o corpo é outra. Rogo que seja<br />

minha a luta em ultrapassar a força corpórea para alcançar o íntimo, a experiência interior, o<br />

estado límpido de consciência, de reflexão da própria interioridade. Rogo que a matéria me<br />

pareça bem pouco além do inerte. E me curvo diante de tanta angústia, e certeza, em respeito<br />

ao que de mim se encontra distante.<br />

Travado o embate entre a matéria e o espírito, ouço um quase sussurro de quem em<br />

estado de prosternação se alivia com a resposta: Quanto à eternidade, por exemplo, Deus<br />

antecede tudo; quanto ao tempo, a flor antecede o fruto; quanto ao apreço, o fruto antecede<br />

a flor, quanto à origem, o som antecede o canto 4 . Dado que existe uma ordem, restaria pen-<br />

sar que a matéria é secundária, que dela nada sobra senão o pó.<br />

Mas é manifestação, reflexo do incomensurável, a parte que se permite ver do que<br />

não se pode ver, inegavelmente. Sendo manifestação é veste que guarda o espírito. Seria<br />

preciso determinar hierarquia para apreciar a face estendida na natureza. Seria preciso velar<br />

pela hierarquia, porque também a natureza se esfacela em segunda natureza até chegar à<br />

naturezas não mais reflexivas da face original.<br />

Árduo trabalho de seleção. Os caminhos são confusos, só justificáveis pela fé. Se me<br />

ponho em prece e no gozo da teofania material, como Francisco em louvor à tudo quanto<br />

existe na natureza, também sustento hierarquias. Sendo Francisco rasgo minhas vestes em<br />

renúncia ao terreno e me cubro do celestial. Minhas (ex)vestes são signos do que não desejo<br />

possuir. Ponho-me num hábito surrado, puído. Então, meu hábito me retira de todo o entor-<br />

3 AGOSTINHO. Confissões. Trad. J. Oliveira dos Santos; A. Ambrósio de Pina. São Paulo: Nova Cultu-<br />

ral, 1999, p. 270.<br />

4 AGOSTINHO, ibidem, p. 370.<br />

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