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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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Abandonadas as características individuais da personagem no teatro da Bauhaus, o<br />

figurino, juntamente com o cenário, ganha outro tipo de importância, e sob o aspecto da hie-<br />

rarquia se poderia dizer maior status. Pavis aponta que o cenário, figurino e corpo são cria-<br />

dos, nestas propostas, seguindo uma lógica não hierárquica. Mas a principal função do figu-<br />

rino nas montagens da Bauhaus sempre foi de ocultação do corpo, para tornar a sua matéria<br />

próxima à matéria do cenário, geralmente em formas geometrizadas. O correto, talvez, fosse<br />

pensar em figurino, cenário e movimento.<br />

Na atualidade, o cenário cede vez ao espaço, enquanto o figurino adquire funções diversas,<br />

desde as funções antes destinadas à cenografia, às de estruturação da cena, quer como<br />

auxílio à dramaturgia, quer como temática desencadeadora da ação.<br />

Mas o mapeamento também mostra a predominância do uso do figurino em relação<br />

ao corpo como sendo seu invólucro, o que dá forma, acabamento e coesão à linguagem. O<br />

figurino é a superfície, o sobre, o que se dá a ver, o que se apresenta. Nessa perspectiva, o<br />

sobre (visível) se constrói na relação com o sob (invisível) e passa a assumir a qualidade de<br />

significar, atuando nas relações dos jogos externos da cena. Mesmo na grande maioria dos<br />

eventos cênicos contemporâneos (ou na dança pós-moderna, ainda segundo a classificação<br />

de Pavis), o figurino, apesar de ocupar um lugar de destaque, ainda assim se mantém como<br />

invólucro do corpo.<br />

O que proponho nesta tese não é uma discussão da desestabilização das hierarquias<br />

com vista para maior status do figurino enquanto design da cena, ou lugar privilegiado, de<br />

destaque. O início do século XX garantiu que o figurino conquistasse este posto, que vem<br />

sendo respeitado, trazendo muitos ganhos para a cena até a atualidade. Proponho observar o<br />

desempenho do figurino na hierarquização entre o visível e o invisível e, principalmente, na<br />

sua relação com o corpo-atuante.<br />

Interessa notar, então, a intrincada relação do figurino com o corpo-atuante e os modos<br />

de operar na tradução do invisível, pois a não-hierarquização parece ter permanecido no<br />

plano do sobre, no plano da materialidade deste elemento. As contribuições advindas no<br />

esteio dos ensejos simbolistas surgem, sem dúvida, como revolucionárias, mas evitam o contato<br />

entre a matéria do figurino e a matéria do corpo-atuante, uma vez que uma exclui a outra.<br />

A função mais recorrente do figurino em cena, a caracterização da personagem, en-<br />

contrada nas estéticas naturalistas e realistas, pode propiciar a problematização: o corpoatuante<br />

não mais é encoberto – em conceito e no sentido de resguardar o self do ator. Neste<br />

momento em que o figurino se junta ao corpo para constituir com ele a subjetividade da per-<br />

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