AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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De todo modo, sou testemunha participante, e não evito os campos simbiontes, nem<br />
os contágios. Penso nas palavras de Evaldo Coutinho: “Esse contra-regra se aprimora na<br />
função de ungir a realidade segundo o estojo que sou eu próprio, enquanto portador do uni-<br />
verso. Por conseqüência, envolvo-me nas urdiduras de minha criação, dirigindo os passos de<br />
mim, e de mim para mim, como elementos da espontânea ritualidade” (COUTINHO, 1983,<br />
XI). Envolvo-me nas urdiduras. Recolho falas guardadas em mim. Junto-as a outras, que me<br />
modificam, contudo, sem deixar de sê-las. Imagens e falas de outros, com seus propósitos,<br />
seus contextos. Mas fragmento-as, reorganizo-as porque elas me surgem num tempo diferente,<br />
já distante, já sem seus contornos. E nunca terei senão imagens e falas também recortadas<br />
pelos olhares dos que pintam, dos que pensam, dos que reproduzem, estando, eles também,<br />
envolvidos nas suas urdiduras.<br />
Sobre a estrutura<br />
A presente pesquisa está divida em três capítulos. Os dois primeiros capítulos dedicam-se<br />
à revisão bibliográfica, ao tempo em que também apresentam dados históricos referentes<br />
ao tema “hierarquias”. Paralelamente, nestes dois capítulos intento problematizar as<br />
questões das hierarquias voltadas para a cena artística. Os estudos de casos, a serem observados<br />
no terceiro capítulo, reunirão dados a favor da tese, exemplificando e oportunizando a<br />
análise das modificações ocorridas com a adoção do figurino-penetrante nos processos de<br />
criação da cena.<br />
No Capítulo Primeiro inicio a discussão sobre a caracterização (da personagem), que<br />
em sua gênese abarcaria aspectos de identificação do sujeito, tendo por princípio a materialização<br />
da persona. No período grego, é entendida principalmente como máscara, já que o<br />
figurino (quiton, capa e coturno) e outros artifícios (barba, peruca e enchimentos no tórax)<br />
são complementos para garantir a verossimilhança da imagem apresentada. Então, a persona<br />
se manifesta na máscara, não exatamente no corpo-atuante, ocultado pelo figurino. O corpo<br />
da persona é um corpo-extra, um metacorpo.<br />
A transição do figurino que acompanha a máscara, como recurso de coesão, para o<br />
figurino que assume em si mesmo a função de caracterização altera alguns preceitos, sendo a<br />
prática naturalista um dispositivo inquestionável para estas mudanças, sobretudo os procedimentos<br />
encontrados nas encenações do Teatro de Arte de Moscou. Os exercícios pautados<br />
nos termos “subconsciente”, “memória emocional” e “eu sou”, propostos por Stanislvaski,<br />
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