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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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aríssima 6 . Num futuro próximo, talvez haja vários mutantes que não se sintam solitários<br />

nas suas incapacidades de sentir dor. Talvez, a dor se torne um acessório prescindível, remo-<br />

to. E talvez, não seja mais preciso discutir sobre a solidão. Uma grande conexão de mentes<br />

se formará, sem espaços de individualidade, para a sonhada navegação conjunta, sem limites,<br />

sem contornos, sem carne. E então, esta pesquisa terá sido apenas um dos tantos registros<br />

sobre o sofrimento dos seres humanos mais primitivos.<br />

No presente, em fase de transição, o corpo é, ainda, a base das relações, das percepções,<br />

das sensações. Mesmo estando em época de passagens, parece haver a necessidade de<br />

se chegar ao auge das discussões que contemplam os diversos aspectos do corpo, sobretudo,<br />

aqueles voltados para a sua presentificação.<br />

O caráter de registro empregado nesta tese busca se situar num período que compreende<br />

a ilusão da conquista dos direitos individuais e a desilusão com que se constata a interdependência<br />

do coletivo, tanto do ponto de vista das relações sociais, quanto das artísticas.<br />

Timothy Leary, o anfíbio em constante mutação, espelha os conflitos de toda uma geração,<br />

no tocante à individualidade, sem nunca ter discursado sobre o corpo. Em Leary se confirma<br />

o paradoxo da passagem: tendo deixado sua cabeça congelada, conservada para os estudos<br />

futuros, também deixou um vestígio de seu corpo.<br />

Como figurinista, acostumada a fazer as vestes-corpos de fantasmas, registro o forte<br />

desejo de não mais cobrir, mas de tocar, de conhecer, e de me aproximar. Com o figurino,<br />

espero poder perceber o monge que se esconde por debaixo das muitas camadas, das diversas<br />

superfícies que podem ocultar o seu mais íntimo estado.<br />

(O Sagrado Coração de Jesus. Exposto, por sobre a veste. Imaculado. Sem sangue,<br />

tomando o lugar das chagas, em resposta terna. A imagem do Sagrado Coração de Jesus.<br />

Prepararei o tecido. Cachecoeur. Não haverá contato. Por elo, apenas a maciez do tecido.<br />

Embalarei seu coração em mais pura seda. Branca. /Alguém que toca as vestes/ Tocarei seu<br />

coração. O tecido branco, aos poucos descortinado. Aos poucos. Profanarei. Não haverá<br />

mais do que um breve contato. As mãos estendidas, tateando, em procura do sacrário. E<br />

guardarei. E velarei. Cachecoeur.)<br />

6 Marisa Martins é portadora da síndrome de polineuropatia, doença dos nervos periféricos mais finos e<br />

que levam a informação da dor ao cérebro. In:“Conheça a mulher que não sente dor”. Disponível em<br />

http://video.globo.com/Videos/Player/0,,GIM1162986777759conheca+a+mulher+que+nao+sente+dor,00.<br />

html, acesso em 05 de julho de 2010.<br />

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