AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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te: criaram e confeccionaram os figurinos. Contudo, com relação à proposição de Fressato, as figurinistas serviam como organizadoras e condutoras das visualidades trazidas para a cena. Talvez se possa dizer se possa fazer coro à palavras de Araújo sobre o pretendido em relação ao profissional figurinista: Pretendíamos garantir e estimular a participação de cada uma das pessoas do grupo, não apenas na criação material da obra, mas igualmente na reflexão críticas sobre as escolhas estéticas e os posicionamentos ideológicos. (...) Deveríamos assumir também o papel de artistas-pensadores, tanto dos caminhos metodológicos quanto do sentido geral do espetáculo 42 . Mas se há uma reavaliação da postura do profissional figurinista, o mesmo ocorre em relação aos demais profissionais. Garcia comenta que a base do teatro de criação coletiva era o ator, e que esta base permanece sólida na criação colaborativa. Para o figurino-penetrante este parece ser um quesito condicionante. Principalmente, por ser o corpo-atuante o objeto de relação, com seus dados biográficos e com os estados diferenciados. Quando Lorenzini aponta para o cruzamento de textos dramatúrgicos e não- dramatúrgicos na cena contemporânea, também aponta para a conjunção entre o profissional responsável pelo texto e os demais participantes. O figurino-penetrante pode partir de um texto pré-elaborado, como pode ser o desencadeador do texto, sendo necessário a colabora- ção do atuante, do dramaturgo e da figurinista. Araújo discorre sobre o problema da polivalência de funções como sendo um pano de fundo nos discursos das criações coletivas, sem se efetivarem na prática. Aqui, não se pretende a polivalência, mas a interação entre as mais diversas áreas, e nos casos em que os profissionais acabam abarcando questões além das de seu alcance, o processo se dá por contágios e co-autorias. Privilegia-se exatamente as qualidades de cada participante. No entanto, se não é difícil encontrar acomodação do figurino-penetrante nos processos colaborativos, um quesito da criação coletiva parece ser revisitado: certo escape às espe- cialidades, sendo viável uma combinação da criação coletiva com a colaborativa. De todo modo, a contribuição que o figurino-penetrante oferece é a tentativa de colocar o elemento figurino como topos para a criação, desestabilizando um aspecto, grande parte das vezes, intacto: o figurino em relação com o corpo. E, em função disto, a nãorepresentação do corpo-outrem. 42 ARAÚJO, ibdem, p. 128. 162

Vale lembrar ainda que os processos que se utilizam do figurino-penetrante recorrem a diferentes formas, podendo ser apenas um impulsionador, ou sendo levado para a cena como recurso para a presentificação do corpo. O estudo apresentado sobre os figurinos- congelantes de Leonardo Fressato mostram um percurso iniciado com o uso do figurino- topos, depois como metáfora, para então ser integrado à cena como um fator que exigia ajus- tes do corpo. Já o trajeto percorrido por Frank Händeler é adverso. Händeler iniciou suas experiências com os pregadores de roupa na montagem de dança Earthlinks (2003), em Amsterdã, numa parceria com Diane Elshout, também bailarina, Felix de Rooy assinando a dramaturgia, e Dorine van Ijssedijk na função de figurinista. A utilização dos pregadores ocorria apenas numa cena curta, como uma performance dentro do espetáculo. Mais tarde, Händeler passou a experenciar os pregadores em proposições solos, criando uma dramaturgia específica para estes experimentos. 3.8 Sobre a terminologia “figurino” Diante do exposto, também trago para a reflexão a denominação “figurino”. Durante todo o tempo dedicado à pesquisa do figurino-invólucro, em que pretendia analisar a função do figurino de esconder, camuflar ou substituir o corpo, parti do conceito de figurino como sendo “tudo aquilo que é posto sobre o corpo-atuante enquanto este está em cena”. Então, para a pesquisa do figurino-penetrante esta conceituação parece estreitar as possibilidades de uso. Além disso, parece manter as informações da física clássica, no sentido de privilegiar apenas o visível, perante o público, como realidade. Contudo, a complexidade do tema “visível X invisível”, conforme visto no decorrer de toda esta pesquisa, se mantém sempre como paradoxo. Mesmo optando pela nãohierarquização entre os dois níveis, mesmo já tendo argumentado tanto em favor do visível como não sendo o único aspecto da realidade, quanto destituindo do invisível os sentidos metafísicos que causam divisão hierárquica, ainda assim proponho manter o termo “figurino”. Já nos estudos de figurino-invólucro considerei que utilizando um substantivo para acompanhar este termo, indicando a função a que se destina (por exemplo: figurino-espaço, figurino-prótese) se poderia ampliar, como sobreposição, o próprio conceito. Assim, figurino é tudo o que é posto sobre o corpo-atuante enquanto este está em cena, e quando penetra o corpo, mantém seus aspectos visíveis, mas atenta para o que não está ao alcance da vista do público, ou mais: por vezes, põe à vista, à percepção, ao toque do pú- 163

Vale lembrar ainda que os processos que se utilizam do figurino-penetrante recorrem<br />

a diferentes formas, podendo ser apenas um impulsionador, ou sendo levado para a cena<br />

como recurso para a presentificação do corpo. O estudo apresentado sobre os figurinos-<br />

congelantes de Leonardo Fressato mostram um percurso iniciado com o uso do figurino-<br />

topos, depois como metáfora, para então ser integrado à cena como um fator que exigia ajus-<br />

tes do corpo. Já o trajeto percorrido por Frank Händeler é adverso. Händeler iniciou suas<br />

experiências com os pregadores de roupa na montagem de dança Earthlinks (2003), em<br />

Amsterdã, numa parceria com Diane Elshout, também bailarina, Felix de Rooy assinando a<br />

dramaturgia, e Dorine van Ijssedijk na função de figurinista. A utilização dos pregadores<br />

ocorria apenas numa cena curta, como uma performance dentro do espetáculo. Mais tarde,<br />

Händeler passou a experenciar os pregadores em proposições solos, criando uma dramaturgia<br />

específica para estes experimentos.<br />

3.8 Sobre a terminologia “figurino”<br />

Diante do exposto, também trago para a reflexão a denominação “figurino”. Durante<br />

todo o tempo dedicado à pesquisa do figurino-invólucro, em que pretendia analisar a função<br />

do figurino de esconder, camuflar ou substituir o corpo, parti do conceito de figurino como<br />

sendo “tudo aquilo que é posto sobre o corpo-atuante enquanto este está em cena”. Então,<br />

para a pesquisa do figurino-penetrante esta conceituação parece estreitar as possibilidades de<br />

uso. Além disso, parece manter as informações da física clássica, no sentido de privilegiar<br />

apenas o visível, perante o público, como realidade.<br />

Contudo, a complexidade do tema “visível X invisível”, conforme visto no decorrer<br />

de toda esta pesquisa, se mantém sempre como paradoxo. Mesmo optando pela nãohierarquização<br />

entre os dois níveis, mesmo já tendo argumentado tanto em favor do visível<br />

como não sendo o único aspecto da realidade, quanto destituindo do invisível os sentidos<br />

metafísicos que causam divisão hierárquica, ainda assim proponho manter o termo “figurino”.<br />

Já nos estudos de figurino-invólucro considerei que utilizando um substantivo para acompanhar<br />

este termo, indicando a função a que se destina (por exemplo: figurino-espaço,<br />

figurino-prótese) se poderia ampliar, como sobreposição, o próprio conceito.<br />

Assim, figurino é tudo o que é posto sobre o corpo-atuante enquanto este está em cena,<br />

e quando penetra o corpo, mantém seus aspectos visíveis, mas atenta para o que não está<br />

ao alcance da vista do público, ou mais: por vezes, põe à vista, à percepção, ao toque do pú-<br />

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