AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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Embora a proposição Homem Piano, da Cia Senhas de Teatro, tenha sido descrita no<br />
Capítulo Segundo como próxima das experimentações com propósitos voltados para o fim<br />
da filosofia e da fisiologia humana, no sentido encontrado nos estudos de David Le Breton,<br />
um dado se torna instigante para esta pesquisa. Nesta proposição, o fone de ouvido que faz a<br />
conexão entre o corpo do artista e o corpo do participante é um instrumento que evita a ausência<br />
do corpo na obra. Sendo um receptáculo que acumula informações, o corpo-atuante-<br />
Bertazzo se torna indispensável, pois é nele que se reúnem as lembranças que constituirão<br />
um novo corpo. E, exatamente por isso, o corpo-Bertazzo, por vezes, é um corpo ausente,<br />
preenchido por vozes, povoado pela imaterialidade das palavras. Corpo-instalação. Oco. A<br />
ser penetrado.<br />
De outra forma, em Figurino-Congelante há um complexo jogo entre a ausência/presença.<br />
Quando Fressato retira seu colete de gelo e entra em estado de hipotermia, seu<br />
corpo anestesiado não reconhece a si mesmo. Com o metabolismo já reduzido, ressente-se<br />
da ausência do corpo-colete. Então, são dois os estados: primeiro o colete põe o corpo em<br />
latência, ampliando as sensações; depois, em estado de relaxamento profundo, quase de inexistência.<br />
Enquanto que na proposição A pele lembra, de Händeler, ao entrar em contato com o<br />
pregador de roupa, partes do corpo também ficam anestesiadas, impedindo que reconheça<br />
os seus limites. A falência momentânea dos sentidos é tanto ausência do corpo quanto presença.<br />
Presença do corpo-objeto em relação, em contato, em integração.<br />
Relembrando Deleuze e Guatarri, pensa-se no corpo como matéria intensa e não<br />
formada, em toda a sua potencialidade. E se durante todo o percurso desta pesquisa houve a<br />
tentativa de encontrar os pontos de convergências entre as experiências dos estigmados pelos<br />
flagelos, do mesmo modo, reafirmo a intenção de mostrar os diferentes motivos impulsionadores.<br />
Nas experiências religiosas a ausência se fortalece pelo desejo de negação do corpo, e<br />
a presentificação do corpo aparece como um modo de frear qualquer vestígio humano, so-<br />
bretudo, em função da rígida hierarquia entre corpo e espírito. Nas experiências que se utilizam<br />
do figurino-penetrante, a presentificação se fortalece na evocação do corpo, o qual contém,<br />
ou é em si mesmo, o espírito. Sendo que a ausência é o próprio vestígio do humano.<br />
Essa visão do corpo como algo em formação remete, ainda, a toda a discussão do<br />
corpo como limite do ser, pois atenta para o corpo anterior às referências sócio-culturais. Em<br />
função disto, marca-se, quase sempre, como um posicionamento político, pois põe em discussão<br />
a naturalização do corpo, em sentido amplo. O não levar à cena a representação de<br />
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