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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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comentados quando abordei estas proposições, ressalto a possibilidade de pensar a atuação<br />

do público como um agente para o corpo-atuante-instalação.<br />

Expansão da pintura e da escultura, a instalação é pensada aqui, evidentemente, do<br />

ponto de vista da sua tridimensionalidade. Primeiramente, o figurino-penetrante se põe como<br />

contraste das experimentações feitas no início do século XX, quando se pensava na cena<br />

como composição de quadros, acentuando, por vezes, a sua bidimensionalidade, e fortale-<br />

cendo a idéia de figura e fundo. Depois, como contraste às encenações em que se evocava a<br />

tridimensionalidade do corpo, como escultura a se locomover no espaço. Isso porque, em<br />

muitas proposições, o que se assinala com o figurino-penetrante é a tentativa de derrubada<br />

das barreiras do dentro e do fora, dos contornos rígidos, dos limites do corpo, dos objetos. A<br />

instalação deve ser entendida como possibilidade de espaço invadido, penetrado, e para o<br />

qual se vê reelaborado a própria noção de espaço.<br />

É possível demarcar um diálogo entre as proposições de Lygia Clark e as proposições<br />

de figurinos-penetrantes. Em diversas experimentações desta artista o espectador é<br />

convidado a vivenciar, a interferir e a recriar a obra. Luvas Sensoriais (1968) se destaca por<br />

incitar o espectador-experimentador à conhecer a forma e o tato da luva que veste. Adaptando-se<br />

à mão da luva, ao seu sentir, o ganho surge com a sua retirada, pois o experimentador<br />

tem uma nova percepção do seu próprio tato. Ou seja, ao conhecer o corpo do objeto passa a<br />

conhecer melhor o seu próprio corpo. No entanto, tomando o Figurino-Congelante como<br />

exemplar das noções do figurino-penetrante, percebe-se alguma distância, já que vestir os<br />

tamancos não significa vestir um corpo-objeto pronto, mas um corpo-objeto “em contato”,<br />

que se modifica com o calor do corpo e do ambiente e, ao mesmo tempo, demanda que o<br />

experimentador se aperceba das suas sensações, intimando à respostas rápidas.<br />

Um fato adquire maior relevância quando se intenta um paralelo com as proposições<br />

de Clark. O abandono da idéia de “obra”, e o abandono do zelo pelo artefato que possa vir a<br />

encobrir a performatividade, ocorre, sobretudo, com o intuito de retirar o espectador da pas-<br />

siva contemplação. No teatro, esforços vêm sendo feitos, desde a metade do século XX, neste<br />

mesmo sentido, por vezes privilegiando o debate, outras vezes os aspectos sensoriais, e<br />

outras, ainda, o próprio jogo teatral. Mas nem sempre a cena teatral conseguiu deixar de sucumbir<br />

aos meios, aos artefatos, do ponto de vista da performatividade do corpo-atuante. A<br />

body art talvez seja a linguagem artística que mais tenha privilegiado a condição do corpo-<br />

atuante, do seu sentir, do seu pensar.<br />

Em algumas situações, o figurino-penetrante consegue trazer para o corpo-atuante os<br />

mesmos princípios ansiados por Clark no tocante ao público. Ou seja, tal como em Luvas<br />

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