AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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Uma vez que a função referencial tinha perdido a sua prioridade, os espectadores já não<br />
precisavam de procurar significados pré-estabelecidos, nem de lutar para decifrar possí-<br />
veis mensagens formuladas na performance. Em vez disso, encontravam-se numa posição<br />
que lhes permitia observar as ações desempenhadas diante de seus olhos e ouvidos como<br />
materiais, e deixar os olhos vaguear por entre as ações desempenhadas simultaneamen-<br />
te; era-lhes permitido não procurar nenhum significado, assim como relacionar qualquer<br />
significado que lhes ocorresse com ações separadas 32 .<br />
Para as proposições que se utilizam do figurino-penetrante, estes dados trazidos por<br />
Fischer-Lichte, constituem-se num importante esclarecimento. Quase sempre, em tais proposições,<br />
exige-se do espectador a experiência voltada para a percepção. Redefine-se, segunda<br />
a autora, a noção de contemplação, tornada agora uma atividade, como um fazer, de acordo<br />
com os padrões de percepção do receptor.<br />
Outro aporte para a compreensão da relação da obra com o público pode ser a noção<br />
de “matéria como reflexão”, empregada por Joseph Beuys, como denúncia da perda e o fenecer<br />
do sentido. Alain Borer assinala que contrariamente à mimese da arte clássica, em<br />
Beuys há a intenção de atingir a expressão concreta de uma idéia ou espiritualidade, a methexis<br />
33 .<br />
Feltro, gordura, animais mortos, cobre, enxofre, mel, sangue, ossos e outros são ma-<br />
térias incluídas no seu inventário. E a palavra matéria talvez soe mais acertadamente, já que<br />
não se trata de materiais em exposição, como obra. Conforme Borer, a matéria “em estado<br />
bruto” constitui em primeiro lugar um espaço pedagógico, ela oferece matéria para reflexão:<br />
ela não é exposta por si mesma, mas servindo a um processo de transformação – um<br />
primeiro lugar. Este estado bruto da matéria, procurado por Beuys, em certa medida perpas-<br />
sa os objetivos da presente pesquisa, pois ao reclamar pelo sentido, o figurino-penetrante<br />
põe em observação as matérias do corpo e do figurino, também no seu estado bruto, nas suas<br />
qualidades.<br />
Em Cadeira com gordura, de 1963, na qual, exatamente como supõe o título, há uma<br />
cadeira com uma barra de gordura, o foco não está na gordura, mas em todos os seus estados<br />
de matéria “gordura”. Beuys deixa claro: A natureza de minhas esculturas não é mutável e<br />
definitiva. Várias operações se dão na maior parte delas: reações químicas, fermentações,<br />
32 FISCHER-LICHTE, ibdem, p. 149.<br />
33 BORER, Alain. Joseph Beuys. Trad. Betina Biscot e Nicolás Campanário. São Paulo: Cosac & Naify,<br />
2001, p. 15.<br />
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