AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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04.06.2013 Views

O teste é uma conjunção de nove textos de autoria de Luiz Felipe Leprevost. Cada um destes textos foi escrito especialmente para atores que o personificam. A cena é, portanto, um estudo sobre a pessoalidade. A tecnologia aqui tratada é a comunicabilidade. A técnica, o afeto; a maneira como o ator diz o texto ao seu interlocutor. Fala-se como quem ama. Fala-se a cada uma das pessoas com o coração. O texto destinado a Fressato, Correção de coluna, veio ao encontro de suas próprias questões. A primeira delas, o lugar da dor, e a dor entendida como melancolia, de um incômodo profundo, não agradável, mas profícuo. Um lugar que não sangra. Seu figurino é, agora, um colete de gelo, com incisão de um coração de sangue no canto esquerdo, ocupando uma parte maior do corpo. Nas palavras de Fressato: Pecinhas só fala de dor e solidão. O figurino é o que está entrando em você, ainda que você não queira. Pecinhas é o contato, é a relação. A tecnologia do afeto é um modo de afetar, em sua forma rudimentar. Fressato explica que com o colete não há sensação de dor, e a sensação de frio ou de queima da pele não dura mais que alguns minutos. Depois o corpo se acostuma. No entanto, o colete causa uma aceleração do seu metabolismo, afetando o ritmo da fala e da respiração. Com o estado psicológico totalmente abalado, o atuante se vê entre a agonia, a ação, a inação. Diferentemente dos tamancos de gelo, quando retira o colete é que se inicia a dor. Por ao menos uns quinze minutos, o organismo se entrega ao esforço de readaptação. Como se o gelo tivesse se tornado seu ambiente natural, no ato de reconhecimento do novo ambiente perdura a ausência das sensações geradas pelo colete. E tanto na utilização do sutiã quanto do colete de gelo, há um fator de incômodo: conforme a mudança do estado sólido para o líquido, a água gelada escorre pelas demais partes do corpo, não adormecidas pelo gelo, provocando reações simultâneas. Deitado no chão o ator se debate feito um ovo sendo fritado, termina o texto “Correção de coluna”, enquanto Fressato, deitado no chão, se debate até destruir seu colete de gelo. Em pedaços, o colete se torna poças d’água. Ali deitado, trêmulo pela hipotermia, Fressato aguarda a aproximação da dor. (Os efeitos fisiológicos ocasionados pelo uso da crioterapia são: anestesia, redução do espasmo muscular, estimula o relaxamento, permite a mobilização precoce, melhora a amplitude do movimento, estimula a rigidez articular, redução do metabolismo, redução da inflamação, redução da circulação, estimula a circulação, redução do edema, quebra do ciclo dor-espasmo-dor). 150

O teste é uma conjunção de nove textos de autoria de Luiz Felipe Leprevost. Cada um<br />

destes textos foi escrito especialmente para atores que o personificam. A cena é, portanto,<br />

um estudo sobre a pessoalidade. A tecnologia aqui tratada é a comunicabilidade. A<br />

técnica, o afeto; a maneira como o ator diz o texto ao seu interlocutor. Fala-se como<br />

quem ama. Fala-se a cada uma das pessoas com o coração.<br />

O texto destinado a Fressato, Correção de coluna, veio ao encontro de suas próprias<br />

questões. A primeira delas, o lugar da dor, e a dor entendida como melancolia, de um incômodo<br />

profundo, não agradável, mas profícuo. Um lugar que não sangra. Seu figurino é, agora,<br />

um colete de gelo, com incisão de um coração de sangue no canto esquerdo, ocupando<br />

uma parte maior do corpo. Nas palavras de Fressato: Pecinhas só fala de dor e solidão. O<br />

figurino é o que está entrando em você, ainda que você não queira. Pecinhas é o contato, é a<br />

relação. A tecnologia do afeto é um modo de afetar, em sua forma rudimentar.<br />

Fressato explica que com o colete não há sensação de dor, e a sensação de frio ou de<br />

queima da pele não dura mais que alguns minutos. Depois o corpo se acostuma. No entanto,<br />

o colete causa uma aceleração do seu metabolismo, afetando o ritmo da fala e da respiração.<br />

Com o estado psicológico totalmente abalado, o atuante se vê entre a agonia, a ação, a inação.<br />

Diferentemente dos tamancos de gelo, quando retira o colete é que se inicia a dor.<br />

Por ao menos uns quinze minutos, o organismo se entrega ao esforço de readaptação. Como<br />

se o gelo tivesse se tornado seu ambiente natural, no ato de reconhecimento do novo ambiente<br />

perdura a ausência das sensações geradas pelo colete. E tanto na utilização do sutiã<br />

quanto do colete de gelo, há um fator de incômodo: conforme a mudança do estado sólido<br />

para o líquido, a água gelada escorre pelas demais partes do corpo, não adormecidas pelo<br />

gelo, provocando reações simultâneas.<br />

Deitado no chão o ator se debate feito um ovo sendo fritado, termina o texto “Correção<br />

de coluna”, enquanto Fressato, deitado no chão, se debate até destruir seu colete de gelo.<br />

Em pedaços, o colete se torna poças d’água. Ali deitado, trêmulo pela hipotermia, Fressato<br />

aguarda a aproximação da dor. (Os efeitos fisiológicos ocasionados pelo uso da crioterapia<br />

são: anestesia, redução do espasmo muscular, estimula o relaxamento, permite a mobilização<br />

precoce, melhora a amplitude do movimento, estimula a rigidez articular, redução do<br />

metabolismo, redução da inflamação, redução da circulação, estimula a circulação, redução<br />

do edema, quebra do ciclo dor-espasmo-dor).<br />

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