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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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víduo 17 . O idiossincrático deve ser ressaltado como dispositivo para a criação, mas no caso<br />

do figurino-penetrante, se configura como um ressalto às reações do corpo-atuante, da sua<br />

presença em cena.<br />

Ainda sobre o estado de “ser”, os estudos voltados para a performance e cultura per-<br />

formativa, de Erika Fischer-Lichte, são elucidativos de alguns aspectos. Ao descrever o “a-<br />

contecimento sem título”, proposto por John Cage no curso de verão do Black Mountain<br />

College, em 1952, Fischer-Lichte comenta que:<br />

Enquanto no teatro dos anos 50, os atores utilizavam os seus corpos de modo a significa-<br />

rem personagens fictícias, a desempenharem ações que se supunha significarem, ações<br />

dessas personagens, os performers do “acontecimento sem título” empregavam os seus<br />

corpos para desempenhar ações específicas: pôr um megafone a tocar, tocar diferentes<br />

instrumentos ou um “piano preparado”, dançar pelas alas subir a uma escada ou operar<br />

um projetor, etc 18 .<br />

A ação de Cage punha em causa o desempenho de ações, deixando de servir às questões<br />

que diziam respeito a personagens fictícias, as suas histórias, ações ou motivações psicológicas.<br />

Fischer-Lichte sublinha o “acontecimento sem título” como um marco para a história<br />

do teatro ocidental, por opor-se tanto ao mercado de arte contemporânea daquele período<br />

(pautado na produção de objetos ou de artefatos como bens), quanto ao próprio teatro. Para a<br />

autora, os processos hermenêuticos de interpretação procediam dos artefatos, tornando invisíveis<br />

a própria performance e sua recepção. Na proposição de Cage, obscurece-se o artefa-<br />

to, fazendo evidenciar o ato performativo: escrever e atuar, no caso do teatro, e compor, pintar<br />

e esculpir, no caso das demais artes 19 .<br />

Bohm faz a seguinte afirmação sobre “acontecimento”: tudo não está apenas se<br />

transformando, como tudo é fluxo, ou seja, o que “é” é o processo de se tornar, enquanto<br />

todos os objetos , eventos, entidades, condições, estruturas, etc, são formas que podem ser<br />

17 COHEN, Renato. Work in progress na cena contemporânea. São Paulo: Perspectiva, 1998, p. 75.<br />

18 FISCHER-LICHTE, Erika. “Performance e cultura performativa: o teatro como modelo cultural”. In:<br />

Revista de Comunicação e Linguagens. Lisboa: Cosmos, 1988, p. 149.<br />

19 Analisando a pintura/ação de Jacson Pollock, Regina Melim auxilia na compreensão da performatividade<br />

trazida por Fischer-Lichte. Melim comenta a apresentação de Pollock no Museu de Arte Moderna de<br />

Nova York, , através do filme realizado por Hans Namuth, em 1951, no qual o artista se punha em ação<br />

pintando a tela no chão de seu ateliê: “Naquele momento, a pintura se estabelecia também como um evento<br />

performativo”. Cf: MELIM, Regina. Performance nas artes visuais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.<br />

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