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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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mento em que faz apologia ao ator/corpo como principal elemento do teatro, sugere que o<br />

figurino e a cenografia sejam pensados concomitantemente ao trabalho do ator, sem anteci-<br />

par e enclausurar a investigação da interpretação 9 .<br />

Certamente a defesa da tese de que o figurino pode ser um topos para a criação não<br />

pretende se fazer uma regra, uma instituição, senão ampliar o debate sobre os processos, e<br />

alternativas pouco visitadas. É preciso assinalar, contudo, que para o elemento figurino pre-<br />

valeceu uma tendência em ocupar o cargo de acabamento visual, em função de sua materialidade<br />

tão fortemente resolutiva. Em todo caso, a armadilha se mantém independente do<br />

momento de sua entrada no processo, pois o cuidado em não tolher a criação do ator-corpo,<br />

e/ou dramaturgia, não evita que o figurino empreste à cena a sua materialidade, por vezes<br />

concluindo a idéia da encenação, mas sempre impondo sua fisicalidade. E se a preocupação<br />

de Brook deve ser tomada como relevante, paira, igualmente, a não-superação do figurino da<br />

condição de acabamento visual.<br />

Também para as intenções desta tese, a vocação do figurino em ser definidor do de-<br />

sign da cena constitui-se numa questão incontornável. Seja qual for o uso a que será destinada,<br />

toda matéria posta sobre o corpo-atuante ganha significado, e sempre a partir das suas<br />

qualidades (um pregador de roupa de material plástico, colorido, pressionando o corpo proporciona<br />

leitura diferenciada da de um pregador feito em madeira, só para citar um exem-<br />

plo). As propriedades de uma matéria são dados que ajudam a definir uma estética.<br />

Esta tese se distancia da problemática do aprisionamento das formas por tentar aceitá-las<br />

não como significantes, nos seus feitios e configurações, mas anteriormente, nas suas<br />

qualidades específicas, como ponto de partida. Se Brooks comenta que:<br />

Cenários, figurinos, iluminação e tudo mais se encaixam naturalmente quando no ensaio<br />

surge algo verdadeiro. Só então podemos dizer o que precisa ser realçado pela música,<br />

pela forma e pela cor. Se estes elementos forem concebidos cedo demais, se o compositor<br />

e coreógrafo já tiverem cristalizado suas idéias antes do primeiro ensaio, essas formas<br />

serão impostas sumariamente aos atores e poderão sufocar suas intuições, sempre tão<br />

frágeis, num momento em que pressentem imagens mais profundas 10 .<br />

9 Brook também repete, em “A porta Aberta”: “Por melhor que seja, o trabalho do diretor e do cenógrafo/figurinista<br />

antes do ensaio é limitado e subjetivo; pior ainda, impõe formas rígidas, tanto à ação cênica<br />

como à aparência externa dos atores, e muitas vezes pode destruir ou castrar um desenvolvimento natural”.<br />

In: BROOK, Peter. A porta aberta. Trad. Antônio Mercado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,<br />

2002, p. 89.<br />

10 BROOK, Peter. O ponto de mudança: quarenta anos de experiências teatrais. Trad. Antônio Mercado<br />

e Elena Gaidano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995, 37.<br />

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