AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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04.06.2013 Views

3. An sit? Quid sit? Quale sit? CAPÍTULO TERCEIRO Ao falar da materialidade do figurino, um terreno movediço se apresenta, e uma possível definição não pode se esquivar do binômio que suscita: o visível e o invisível. Este assunto, tão caro ao teatro, de imediato bastante saturado pelos muitos pontos de vistas já abordados, coloca-se como tarefa árdua, pois exige pontuações que extrapolam as questões artísticas. As indagações sobre a materialidade da cena postas por Ângela Materno, em “Bordas e dobras da imagem teatral”, são aqui aproveitadas no ensejo de observar as noções veladas de ordens, ou planos, e as hierarquias que se estabelecem na cena também a partir destas mesmas noções: Qual é sua matéria afinal? As palavras, pausas e gestos encenados, ou os ritmos, volumes e vazios escritos no espaço e inscritos no tempo? O que lhe concerne, sobretudo? Uma certa textualidade entendida como um corpo de imagens verbais e auditivas, ou uma certa plasticidade, entendida como impressões visuais e táteis? E mais adiante, a- poiada nos estudos de Didi-Huberman, a autora propõe: Talvez se possa dizer que é a partir da própria indefinição de seus materiais e de seus modos de fazer e de dar a ver que a imagem teatral deve ser pensada 1 . Se Materno pontua a indefinição dos materiais de cena no sentido da amplitude de possibilidades e seus modos de organização, as perguntas que antecedem sua proposição indicam outro caminho de reflexão: a interpenetração, como campos de força atuando sobre as diversas matérias. É possível se remeter a Artaud, com sua busca pelo metafísico, pelo alquímico. No entanto, um exercício mais inicial, objetivando notar os modos de utilização da matéria, mais ainda, as concepções filosófico-físicas que norteiam tais utilizações, pode trazer ganhos para o estudo do figurino. No início do Capítulo Primeiro, como ironia, propus que os profissionais figurinistas são materialistas, já que a base de suas pesquisas é a matéria. Agora suprimo a ironia, e tal como Agostinho, indago sobre a coisa, a matéria, a sua natureza e a sua qualidade. 1 MATERNO, Ângela. “Bordas e dobras da imagem teatral”. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006, p. 259. 127

3. An sit? Quid sit? Quale sit?<br />

CAPÍTULO TERCEIRO<br />

Ao falar da materialidade do figurino, um terreno movediço se apresenta, e uma possível<br />

definição não pode se esquivar do binômio que suscita: o visível e o invisível. Este<br />

assunto, tão caro ao teatro, de imediato bastante saturado pelos muitos pontos de vistas já<br />

abordados, coloca-se como tarefa árdua, pois exige pontuações que extrapolam as questões<br />

artísticas.<br />

As indagações sobre a materialidade da cena postas por Ângela Materno, em “Bordas<br />

e dobras da imagem teatral”, são aqui aproveitadas no ensejo de observar as noções veladas<br />

de ordens, ou planos, e as hierarquias que se estabelecem na cena também a partir destas<br />

mesmas noções: Qual é sua matéria afinal? As palavras, pausas e gestos encenados, ou os<br />

ritmos, volumes e vazios escritos no espaço e inscritos no tempo? O que lhe concerne, sobretudo?<br />

Uma certa textualidade entendida como um corpo de imagens verbais e auditivas,<br />

ou uma certa plasticidade, entendida como impressões visuais e táteis? E mais adiante, a-<br />

poiada nos estudos de Didi-Huberman, a autora propõe: Talvez se possa dizer que é a partir<br />

da própria indefinição de seus materiais e de seus modos de fazer e de dar a ver que a imagem<br />

teatral deve ser pensada 1 .<br />

Se Materno pontua a indefinição dos materiais de cena no sentido da amplitude de<br />

possibilidades e seus modos de organização, as perguntas que antecedem sua proposição<br />

indicam outro caminho de reflexão: a interpenetração, como campos de força atuando sobre<br />

as diversas matérias. É possível se remeter a Artaud, com sua busca pelo metafísico, pelo<br />

alquímico. No entanto, um exercício mais inicial, objetivando notar os modos de utilização<br />

da matéria, mais ainda, as concepções filosófico-físicas que norteiam tais utilizações, pode<br />

trazer ganhos para o estudo do figurino. No início do Capítulo Primeiro, como ironia, propus<br />

que os profissionais figurinistas são materialistas, já que a base de suas pesquisas é a matéria.<br />

Agora suprimo a ironia, e tal como Agostinho, indago sobre a coisa, a matéria, a sua<br />

natureza e a sua qualidade.<br />

1 MATERNO, Ângela. “Bordas e dobras da imagem teatral”. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de<br />

Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006, p. 259.<br />

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