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AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...

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Num futuro próximo, o homem tal como o conhecemos hoje, essa criatura perecível, não<br />

será mais que uma simples curiosidade histórica, uma relíquia, um ridículo ponto perdido<br />

em meio a uma inimaginável diversidade de formas. Se tiverem vontade, indivíduos ou<br />

grupos de aventureiros poderão reconstruir essa prisão de carne e de sangue, o que, em<br />

atenção a eles, a ciência fará com prazer 87 .<br />

Então, os Homens-Pianos já não sofrerão com suas perdas de memórias. Apenas se<br />

completarão nas redes, recebendo as doações. Mas quando Leary desejou que sua cabeça<br />

fosse congelada, levou em consideração a possibilidade de que num futuro próximo as memórias<br />

pessoais fossem preservadas, recuperadas e reconstruídas em arquivos eletrônicos.<br />

No seu ensaio, Le Breton conclui que o fim do corpo é um discurso religioso que crê<br />

no advento do Reino dos Céus. No mundo gnóstico do ódio ao corpo que é antecipado pela<br />

cultura virtual, o paraíso é necessariamente um mundo sem corpo, equipado de chips eletrônicos<br />

e de modificações genéticas ou morfológicas 88 . Enquanto isso, Stelarc perfura sua<br />

carne com ganchos, quase como um estigmata dos tempos de outrora.<br />

Quanto ao figurino, as últimas palavras pertencem à Leary. A Futique Inc, grupo de<br />

ensino e diversões eletrônicas, fundada em 1983 implantou seis programas destinados à ca-<br />

pacitação da digitalização do pensamento/imagens. O quinto programa criado, o Screen Play<br />

e Cyberwear, de 1989, é a concretização do trajes computadorizados: A idéia básica é criar<br />

realidades do outro lado da tela, não como um teclado, joystick ou mouse. O usuário veste<br />

um computador. Coloca uma ciber-luva, um ciber-óculos, um ciber-boné e uma ciberroupa.<br />

Um ciber-calção! Essa tecnologia mutante capacita o cérebro a migrar o corpo assim<br />

como as pernas e pulmões capacitaram os peixes a escaparem do ambiente aquático 89 .<br />

A diferença entre a proposta de Leary e as propostas de Stelarc, Händeler e Antunez<br />

verifica-se na vontade de legitimar as relações através, ou não, do corpo. Diferentemente dos<br />

três artistas, Leary nunca colocou o corpo como aporte das conexões entre os seres humanos,<br />

e neste sentido, sequer o percebeu como fronteira, como limite de identidade. O autoconhecimento<br />

sonhado por Leary pertence ao espiritual, buscando uma ligação tão clara que não é<br />

possível limitar o um, ficando apenas os fluxos de pensamentos. Leary, de certo modo, luta<br />

em ultrapassar a força corpórea para alcançar o estado límpido de consciência e a matéria<br />

lhe parece bem pouco além do inerte.<br />

87 LEARY, apud LE BRETON, ibdem, 2003, p. 126.<br />

88 LE BRETON, ibdem, 2003, p. 136.<br />

89 LEARY, ibdem, p. 509.<br />

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