AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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tomizado que projetava sua consciência desincorporada na alucinação consensual que<br />
era a matrix 79 .<br />
O personagem fora-da-lei, ladrão contratado por outros ricos ladrões, rouba os seus.<br />
A pena poderia ter sido a morte, mas seus carrascos preferem danificar seu sistema nervoso<br />
com uma micotoxina russa dos tempos de guerra. E digna dos tempos de guerra, a tortura é<br />
intensa:<br />
Amarrado a uma cama de hotel em Memphis, seu talento queimando mícron a mícron,<br />
alucinou por trinta horas.<br />
O estrago foi minucioso, sutil e profundamente eficiente.<br />
Para Case, que vivia até então na exultação sem corpo do ciberespaço, foi a Queda. Nos<br />
bares que freqüentara no seu tempo de cowboy fodão, a postura da elite envolvia um certo<br />
desprezo suave pela carne. O corpo era carne. Case caiu na prisão da própria carne 80 .<br />
Neuromancer, romance de ficção, escrito em 1984, poderia ser um romance realista<br />
do século XXI. Le Breton confronta esse romance com diversos casos de internautas que se<br />
conectam à outros (as) nos mais variados tipos de relação, sem priorizar identidade e sexualidade,<br />
já que estas podem ser ocultadas, modificadas, e o corpo não se impõe nas suas imperfeições<br />
físicas, nas suas deficiências, nos seus estigmas, nas suas estratificações.<br />
Le Breton cita os estudos de Moravec sobre o desenvolvimento da máquina como<br />
salvação da humanidade. A dissociação do corpo e do espírito, vista em Descartes, é retomada,<br />
na literalidade, para transferir o espírito humano para a máquina, tornando o corpo<br />
apenas a máquina indiferente que contém o espírito.<br />
O percurso necessário para os argumentos da tese que o figurino-penetrante mantém<br />
uma relação íntima com o corpo-atuante, desprendendo-se da representação dos fantasmas<br />
do corpo-outrem, talvez devessem se conter nas primeiras considerações deste capítulo, antes<br />
de adentrar as problemáticas da volta à dicotomia corpo/espírito.<br />
No entanto, a favor da tese, as transições rápidas que se nos apresentam são, também,<br />
sintomas de uma urgência na digestão, por parte das artes cênicas, das etapas alcançadas no<br />
cotidiano. O figurino-penetrante surge como uma transição ainda por se fazer, ainda em estágio<br />
inicial.<br />
79 GIBSON, Willian. Neuromancer 25. Trad. Fábio Fernandes. São Paulo: Aleph, 2008, p. 18.<br />
80 GIBSON, ibdem, p. 18.<br />
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