AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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das participantes a tomar parte na proposição. Tempos depois, há um emaranhado de li-<br />
nhas, pois os diversos participantes estão conectados um ao outro, e dependem da movi-<br />
mentação dos outros para evitar uma dor maior no corpo, além da já sentida pelo aperto<br />
dos pregadores. Os participantes, por momentos, são um único corpo formado por pregadores,<br />
e como partes deste corpo são fundamentais na sua construção.<br />
A simplicidade da tecnologia utilizada na proposição de Händeler transita entre a<br />
metáfora e a experiência transpérmica de Antunez. Metáfora da rede informática em função<br />
de sua precariedade não alcançar os níveis possíveis aos meios tecnológicos mais avançados.<br />
No entanto, a experiência corporal encontra pontos de semelhança por se tratar de uma relação<br />
com as camadas interiores dos corpos-participantes e da interdependência gerada.<br />
Distante das metáforas, a noção de corpo obsoleto de Stelarc é já um aceno de “adeus<br />
ao corpo”. O aceno acompanha sua pergunta: a forma biológica é adequada para a quantidade,<br />
complexidade e qualidade de informações que acumulou? E sua resposta vem em seguida:<br />
Considerar o corpo obsoleto em forma e função pode ser o auge da tolice tecnológica,<br />
mas mesmo assim ele pode ser o maior das realizações humanas. E uma ponta de nostalgia<br />
em sua fala surpreende: O corpo é obsoleto. Estamos no fim da filosofia e da fisiologia humana.<br />
O pensamento humano recua para dentro do passado humano 77 .<br />
An sit? Quid sit? Quale sit? Se uma coisa existe, qual é a sua natureza e qual é a sua<br />
qualidade? Nubladas as fronteiras, resta a beleza poética do desejo de ultrapassar os limites.<br />
A matéria saiu da inércia, ou nunca nela esteve. Mas quem sabe ainda o espírito seja uma<br />
coisa e o corpo outra.<br />
Em Adeus ao corpo, Le Breton inicia dizendo que o corpo é visto por alguns entusi-<br />
astas como um vestígio indigno fadado a desaparecer em breve 78 . Para apoiar suas refle-<br />
xões, o autor reporta-se ao livro Neuromancer, de William Gibson, no qual aparece pela<br />
primeira vez o termo ciberespaço, e no qual o indício de que o corpo passaria a ser um vestí-<br />
gio no espaço consolida-se como trama norteadora.<br />
Na apresentação do protagonista do romance, Gibson descreve:<br />
Case tinha vinte e quatro anos. Aos vinte e dois era um cowboy. Cowboy fora-da-lei, um<br />
dos melhores no Sprawl. Ele havia sido treinado pelos melhores, McCoy Pauley e Bobby<br />
Quine, lendas do negócio. Na época, operava num barato quase permanente de adrenalina,<br />
subproduto da juventude e da proficiência, conectado num deck de ciberespaço cus-<br />
77 STELARC, ibdem, p. 54.<br />
78 LE BRETON, David. “Adeus ao copo” Trad. Paulo Neves. In: NOVAES, Adauto. O homem-máquina:<br />
a ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 123.<br />
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