AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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tempo e de energia no trabalho, por meio da adoção de práticas padrões baseadas em méto-<br />
dos científicos. Por conseqüência, o desconhecimento da totalidade do ofício por parte dos<br />
trabalhadores, marcou uma nova problemática para as gerações seguintes: a sistematização<br />
do comportamento humano no trabalho causando uma aproximação com o estado maquinal<br />
73 .<br />
Aderido aos discursos de vários artistas no início do século XX, o tema taylorismo<br />
desencadeou estratégias diferentes no tangente à concepção das cenas e da compreensão do<br />
corpo. Oskar Schlemmer, um dos encenadores mais dedicados à relação do ser humano com<br />
seu meio tecnológico, não se furta a perceber os danos irreparáveis da mecanização, nem<br />
mesmo os lamenta, apenas busca proveitos. Seu “Balé Triádico” serve como exemplar desta<br />
postura, quando aborda a mecanização e a fragmentação do corpo.<br />
Sheila Leirner comenta que além de orientar seus estudantes no sentido de imitar “o<br />
puro movimento do corpo” das marionetes – puro porque mecânico –, Schlemmer os incentiva<br />
a desenvolver um sentido de cinestesia (de percepção dos movimentos musculares). O<br />
objetivo era modificar as configurações dinâmicas por meio de seus movimentos internos 74 .<br />
Para assegurar a percepção e modificação dos movimentos, o figurino consta, em sua práti-<br />
ca, como dispositivo fundamental, uma vez que obriga o corpo a adaptar-se às suas formas<br />
geométricas. Impondo-se ao movimento, o figurino reconfigura a imagem externa do corpo,<br />
mas, principalmente, exige reconfigurações internas.<br />
Longe da idéia de homem-máquina de Descartes, na qual a mente é controlada por<br />
um homúnculo que monitora e manipula os comandos das ações físicas e mentais, nos pro-<br />
cedimentos de Schlemmer desaparece a dicotomia mente/corpo. O que permanece, conforme<br />
assinalado anteriormente, é a intenção de diferenciação do humano e da máquina, prezando<br />
pela hierarquia.<br />
Marcel.li Antunez, artista catalão, inicia uma série de conferências mecatrônicas a<br />
partir da década de 1990, enfrentando este mesmo debate. Tanto quanto Schlemmer, Antu-<br />
nez ocupa-se com a relação do corpo com os meios tecnológicos. Mas a lacuna de tempo<br />
entre suas proposições evidencia as transformações radicais que influenciaram os modos de<br />
conceber a cena. A performance mecatrônica interativa Epizoo (1994), de Antunez, dispõe<br />
de um robô corporal em forma de exoesqueleto pneumático que permite ao espectador, utilizando-se<br />
do mouse, controlar movimentos do corpo do performer.<br />
73 Cf: <strong>SILVA</strong>, Benedicto. Taylor e Fayol. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1974.<br />
74 LEIRNER, Sheila. Arte e seu tempo. São Paulo: Perspectiva, 1991, p. 261.<br />
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