AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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o dualismo entre alma/matéria permanece, mas como transferência para um dos pólos, sem que se mude o entendimento, sem que se mudem as bases de subjetivação. Ao colocar lado a lado as experiências ascéticas e as artísticas, penso nas palavras que se seguem no texto de Perniola: O sensualismo espiritual dos atuais partidários da corporeidade não é diferente das palpitações devotas das almas piedosas: tantos uns como outros ignoram a experiência da coisa, da roupa, do corpo como vestuário. Um animal não sente de modo muito diverso de um anjo. A lascívia de um animal no cio, o fervor desejante de um devoto, o gosto refinado de um esteta se parecem todos no fato de estarem do lado da experiência vivida, não da parte da coisa senciente 58 . A procura por uma coisa senciente, de Perniola, que inclui pensar no corpo coisificado, inorgânico, toca as pretensões desta pesquisa quando se denota a junção das matérias do corpo e do figurino como princípios de um possível domínio de si. O figurino que penetra o corpo, que o invade, pondo-o no limite até do biológico pode funcionar num processo de cria- ção como dispositivo alterador da consciência, quem sabe da subjetividade. Pondo o corpo em risco, o figurino também estremece as hierarquias. E se Perniola conclui: A verdadeira oposição não é entre o corpo e alma, mas sim entre vida e roupa 59 , o figurino-penetrante tenta dissolver estas fronteiras. Nietzsche já pensava a subjetividade como uma construção social, passível de ser mu- dada. Com as investidas dos bodmods, com suas bricolagens referenciais novos procedimen- tos afetam a construção da subjetividade, e os modos de domínio de si também encontram caminhos renovados, talvez não por eliminatória, mas por somatória. 2.6 O rosto de cera de Olímpia Publicado pela primeira vez em 1964, o livro Os meios de comunicação como extensão do homem, de Marshall McLuhan, significou um passo adiantado na compreensão de que o corpo humano é híbrido e suas percepções se mediam pelas diferentes matérias que o cobrem, que o vestem, que o circundam. O tratado dedicado ao vestuário já mostra a roupa 58 PERNIOLA, ibdem, p. 61. 59 PERNIOLA, ibdem, p. 61. 105
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o dualismo entre alma/matéria permanece, mas como transferência para um dos pólos, sem<br />
que se mude o entendimento, sem que se mudem as bases de subjetivação.<br />
Ao colocar lado a lado as experiências ascéticas e as artísticas, penso nas palavras que<br />
se seguem no texto de Perniola:<br />
O sensualismo espiritual dos atuais partidários da corporeidade não é diferente das palpitações<br />
devotas das almas piedosas: tantos uns como outros ignoram a experiência da<br />
coisa, da roupa, do corpo como vestuário. Um animal não sente de modo muito diverso<br />
de um anjo. A lascívia de um animal no cio, o fervor desejante de um devoto, o gosto refinado<br />
de um esteta se parecem todos no fato de estarem do lado da experiência vivida,<br />
não da parte da coisa senciente 58 .<br />
A procura por uma coisa senciente, de Perniola, que inclui pensar no corpo coisificado,<br />
inorgânico, toca as pretensões desta pesquisa quando se denota a junção das matérias do<br />
corpo e do figurino como princípios de um possível domínio de si. O figurino que penetra o<br />
corpo, que o invade, pondo-o no limite até do biológico pode funcionar num processo de cria-<br />
ção como dispositivo alterador da consciência, quem sabe da subjetividade. Pondo o corpo em<br />
risco, o figurino também estremece as hierarquias. E se Perniola conclui: A verdadeira oposição<br />
não é entre o corpo e alma, mas sim entre vida e roupa 59 , o figurino-penetrante tenta<br />
dissolver estas fronteiras.<br />
Nietzsche já pensava a subjetividade como uma construção social, passível de ser mu-<br />
dada. Com as investidas dos bodmods, com suas bricolagens referenciais novos procedimen-<br />
tos afetam a construção da subjetividade, e os modos de domínio de si também encontram<br />
caminhos renovados, talvez não por eliminatória, mas por somatória.<br />
2.6 O rosto de cera de Olímpia<br />
Publicado pela primeira vez em 1964, o livro Os meios de comunicação como extensão<br />
do homem, de Marshall McLuhan, significou um passo adiantado na compreensão de<br />
que o corpo humano é híbrido e suas percepções se mediam pelas diferentes matérias que o<br />
cobrem, que o vestem, que o circundam. O tratado dedicado ao vestuário já mostra a roupa<br />
58 PERNIOLA, ibdem, p. 61.<br />
59 PERNIOLA, ibdem, p. 61.<br />
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