AMABILIS DE JESUS DA SILVA FIGURINO-PENETRANTE: UM ...
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como no caso dos exercícios da biomecânica, convencionados, criando distância do corpo<br />
cotidiano.<br />
O item nº14 da biomecânica elucida: Cada um deve possuir a posição convincente de<br />
um homem em equilíbrio, cada um deve ter uma reserva de atitudes, de poses e de diferentes<br />
recursos que permitam-lhe manter o equilíbrio. Cada um deve buscar por si mesmo o equilí-<br />
brio necessário ao momento dado. Esta reserva de atitudes adquirida com o treinamento é que<br />
serve, aqui, como avesso, para sinalizar melhor a noção pretendida de pré-identidade, aquela<br />
que é ainda anterior à construção da subjetividade.<br />
O texto “Gilbert Simondon: o indivíduo e sua gênese físico-biológica” – no qual De-<br />
leuze faz uma leitura do princípio de individuação posto por Simondon – discute sobre a difi-<br />
culdade de se falar da individuação, por estar sempre reportada ao indivíduo já constituído.<br />
Em função disto, a individuação é tomada como o caráter coextensivo do ser. Faz-se dele<br />
todo o ser e o primeiro momento do ser fora do conceito. Para Simondon, o indivíduo só pode<br />
ser contemporâneo de sua individuação, e por sua vez, a individuação é contemporânea do<br />
princípio genético, não de reflexão. Esta constatação leva à noção de que a individuação já<br />
não é coextensiva ao ser; ela deve representar um momento que não é nem todo o ser nem o<br />
primeiro. Ela deve ser situável, determinável em relação ao ser, num movimento que nos levará<br />
a passar do pré-individual ao indivíduo 55 . Neste sentido é que a presente pesquisa evita<br />
processos pautados em exercícios de repertório pré-determinado.<br />
Ainda no tocante às estratégias de Artaud para alcançar um corpo sem órgãos, ressalto<br />
que seguindo suas indicações sobre figurino, também se evidencia uma distância dos propósi-<br />
tos desta pesquisa. A simbologia pretendida nos elementos de cena não privilegia a relação<br />
do figurino com o corpo, mas o uso metafórico, recaindo na assinalação. E uma correlação<br />
com as técnicas e domínios de si de São Francisco, e mais tarde as heranças simbólicas deixadas<br />
para seus seguidores talvez esclareçam o que pretendo sublinhar.<br />
As aflições do corpo-Francisco originadas, sobretudo, pelos longos jejuns são situa-<br />
ções de corpo em risco. Francisco utilizava-se das simbologias cristãs, a exemplo do Tau e do<br />
cordão, mas seu corpo padecia, em busca da ascese. Séculos depois, os Irmãos da Ordem Terceira<br />
de São Francisco de Assis partem das simbologias como uma possível norma de conduta<br />
para também alcançar a ascese. O manual desta ordem, de 1934, é explicativo:<br />
55 In: <strong>DE</strong>LEUZE, Gilles. A ilha deserta: e outros textos. Trad. Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Iluminuras,<br />
2008, p. 116.<br />
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