2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC

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03.06.2013 Views

entre amigos, a ocupação do território-praia, ao consumo e produção de artigos surfwear, as diversas formas de apropriação e usos do surfe, somado ao prazer que a prática proporciona. Quatro perspectivas somam-se a definição delineada neste trabalho como sendo o estilo-surfe juvenil: espaço, imagem, corpo e sociabilidade. Se o cotidiano urbano é previsível e homogêneo por meio dos percursos e práticas esperadas (casa, trabalho, consumo) nos espaços oficiais, institucionais; as experiências juvenis como o surfe fazem emergir espaços lisos, formas singulares de vivência e apropriação de alguns espaços da cidade e fora dela (Diógenes, 2003). O estilo-surfe é um ritual público de expressão e apropriação do espaço-pico. A praia torna-se um espaço de apropriação privada, há uma relação direta do espaço público, com relações de pertencimento, reconhecimento e ocupação. Aqui percebo a praia como um espaço público, como um universo de práticas, um lugar de ação, que se configura em estreita relação com a noção de espaço urbano. O espaço público deve ser entendido como algo que ultrapassa a rua: como uma dimensão sócioespacial da vida urbana, caracterizada fundamentalmente pelas ações que atribuem certo sentido a certos espaços da cidade e são por eles influenciados (Leite, 2003, p. 116). O espaço urbano não é necessariamente um espaço público, nem a reativação de usos cotidianos de um determinado espaço não é característica suficiente para conferi-lo a característica de espaço público, a idéia deve ser a de se perguntar: que tipos de usos públicos ocorrem naquele espaço? (Idem). Nessa perspectiva, a praia assume o lugar de espaço público, principalmente o mar, já que é permitido a qualquer pessoa que tenha a capacidade de transitar na cidade, fazer uso desse espaço, seja através de caminhadas, banhos, práticas marítimas, aquáticas ou o simples deleite da paisagem. Embora haja a tentativa clara e explícita de alguns grupos em privatizar a praia, como é o caso do Beach Parck ou mesmo das grandes edificações, como as barracas construídas na Praia do Futuro, o espaço da praia caracteriza-se em geral por ser “supostamente” democrático, tanto nas formas de uso como de ocupação. É assim que se configura o pico, o “pedaço” dos surfistas no espaço urbano. O pedaço é aqui entendido como um ponto de aglutinação para a 50

construção e o fortalecimento de laços no universo do surfe, mas que tem a sua referência espacial. Desse modo, conforme Magnani (2002) quando um espaço é demarcado e torna-se referência para distinguir determinados grupos de freqüentadores como pertencentes a uma rede de relações específicas, dá- se o nome de pedaço. Portanto, o “pedaço do surfe” denota relações de reconhecimento e pertencimento ao lugar apropriado onde os usuários compartilham dos mesmos símbolos que remetem a gostos, orientações, valores, hábitos de consumo e modos de vida semelhantes. (p. 22). É no pico que os surfistas ensaiam desde cedo, uma técnica de reconhecimento do espaço enquanto social, quer dizer, sócio-ambiental. O pico remete a idéia não somente da natureza das praias, formação dos fundos (pedra, areia ou coral), condições de onda (mexida, lisa, tubular, extensa), direção das ondas (direita ou esquerda) etc. Ele é uma assinatura no corpo, atesta uma origem, se inscreve na história do sujeito como uma marca de uma pertença indelével, na medida em que é a configuração primeira, o arquétipo de todo o processo de apropriação do espaço como lugar na vida cotidiana pública (De Certau, 1996, p. 44). Robertinho da Leste, Artur do Icaraí, Fabinho do Titã, o pico sempre acaba sendo uma referência de origem, tanto em relação à condição sócio- econômica como também em relação ao domínio do espaço praticado, ocupado. O pico é o lugar onde são feitas as classificações, as divisões de funções, é a partir dele que se organiza o “mundo do surfe” e todos os modos de viver que a partir dele se realizam, é nele que se gesta o estilo-surfe de viver o urbano. As paisagens urbanas são frequentemente lidas como se fossem somente edificações e vazios urbanos, cristalizações dos significados articulados pelos arquitetos e urbanistas, livre de significações contextuais, ou seja, implica pensar que as relações sociais poderiam estar de alguma forma fora do espaço e do tempo. É enganoso pensar que de um lado haja coisas e de outro, espaço e tempo; pois, não é que as relações entre os objetos ocorram no tempo e no espaço, mas são essas relações que produzem espaço-tempo (Arantes, 2000). Nessa perspectiva, a estruturação dos picos não antecede nem decorre do 51

entre amigos, a ocupação do território-praia, ao consumo e produção de artigos<br />

surfwear, as diversas formas de apropriação e usos do surfe, somado ao<br />

prazer que a prática proporciona. Quatro perspectivas somam-se a definição<br />

delineada neste trabalho como sendo o estilo-surfe juvenil: espaço, imagem,<br />

corpo e sociabilidade.<br />

Se o cotidiano urbano é previsível e homogêneo por meio dos<br />

percursos e práticas esperadas (casa, trabalho, consumo) nos espaços oficiais,<br />

institucionais; as experiências juvenis como o surfe fazem emergir espaços<br />

lisos, formas singulares de vivência e apropriação de alguns espaços da cidade<br />

e fora dela (Diógenes, 2003). O estilo-surfe é um ritual público de expressão e<br />

apropriação do espaço-pico. A praia torna-se um espaço de apropriação<br />

privada, há uma relação direta do espaço público, com relações de<br />

pertencimento, reconhecimento e ocupação.<br />

Aqui percebo a praia como um espaço público, como um universo de<br />

práticas, um lugar de ação, que se configura em estreita relação com a noção<br />

de espaço urbano. O espaço público deve ser entendido como algo que<br />

ultrapassa a rua: como uma dimensão sócioespacial da vida urbana,<br />

caracterizada fundamentalmente pelas ações que atribuem certo sentido a<br />

certos espaços da cidade e são por eles influenciados (Leite, 2003, p. 116).<br />

O espaço urbano não é necessariamente um espaço público, nem a<br />

reativação de usos cotidianos de um determinado espaço não é característica<br />

suficiente para conferi-lo a característica de espaço público, a idéia deve ser a<br />

de se perguntar: que tipos de usos públicos ocorrem naquele espaço? (Idem).<br />

Nessa perspectiva, a praia assume o lugar de espaço público,<br />

principalmente o mar, já que é permitido a qualquer pessoa que tenha a<br />

capacidade de transitar na cidade, fazer uso desse espaço, seja através de<br />

caminhadas, banhos, práticas marítimas, aquáticas ou o simples deleite da<br />

paisagem. Embora haja a tentativa clara e explícita de alguns grupos em<br />

privatizar a praia, como é o caso do Beach Parck ou mesmo das grandes<br />

edificações, como as barracas construídas na Praia do Futuro, o espaço da<br />

praia caracteriza-se em geral por ser “supostamente” democrático, tanto nas<br />

formas de uso como de ocupação.<br />

É assim que se configura o pico, o “pedaço” dos surfistas no espaço<br />

urbano. O pedaço é aqui entendido como um ponto de aglutinação para a<br />

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