2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC
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vai conduzir as minhas perguntas e permitir o controle sobre “a sede das minhas respostas” 32 . Ao inserir entrevistas no processo de investigação a intenção foi a de alargar as possibilidades de visibilidade do universo de significações dos surfistas, compreendendo como Magnani (1988) que discurso e ações não são realidades que se opõem, mas sim formas diferentes e complementares de expressão de um mesmo universo simbólico, o “mundo do surfe”. A visibilidade sobre os surfistas também foi projetada aos meus olhos por meio da imaginação sociológica que consiste em grande parte na capacidade de passar de uma perspectiva a outra, e no processo de estabelecer uma visão adequada de uma sociedade total de seus componentes. Dito de outra forma, a imaginação sociológica distingue o olhar do cientista social de um simples técnico, pois há uma euforia na sua essência, na combinação de idéias, na mistura dessa combinação, além de um interesse realmente muito grande em ver o sentido do mundo, que falta aos técnicos (Mills, 1969, p. 228). A imaginação sociológica é algo que, segundo o autor, pode ser cultivada, nessa perspectiva, algumas estratégias foram utilizadas para estimular a visibilidade buscada pela pesquisadora. Uma primeira estratégia foi à manutenção e a releitura constante do diário de campo, como parte inerente do processo de produção intelectual. Foram as impressões primeiras, as descrições, as sensações sentidas no campo, aquilo que foi visto e observado, os cheiros, os ruídos, as cores, os movimentos, até os “pensamentos marginais”, enfim, uma vez anotados, podem levar a um raciocínio sistemático, bem como emprestam uma relevância intelectual com a experiência mais direta. A visibilidade permitida pela imaginação sociológica é também alcançada quando temos, [a] capacidade de estabelecer tipos e, em seguida, procurar as condições e conseqüências de cada tipo (...) Ao invés de nos contentarmos com as classificações existentes, em particular as ditadas pelo bom senso, devemos buscar os denominadores comuns e os fatores de diferenciação dentro e entre elas. Os bons tipos exigem que os critérios de classificação sejam explícitos e sistemáticos. Para isso temos que desenvolver o hábito da classificação cruzada (Mills, 1969, p.229). 32 Fragmentos do diário de campo escritos em 09/02/2006. 42
Segundo o autor, a classificação cruzada é a gramática da imaginação sociológica, nesse sentido, os tipos aqui utilizados como o surfe-arte, o surfe- lazer, o surfe-prazer e o surfe-moda, dentre outros, são construções que expressam, como toda gramática, classificações específicas e obedecem a um determinado objetivo, ou seja, a pensar com mais clareza e a escrever com objetividade sobre a multiplicidade dos estilos de vida presentes no “mundo do surfe”. 6. No mundo do surfe: uma multiplicidade de estilos Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis (Calvino, 1990, p.138.). O princípio da multiplicidade vem sendo discutido incisivamente no decorrer dos últimos anos, principalmente, a partir das formulações “pós- modernas” quer dizer, das críticas à modernidade, às grandes generalizações ao seu projeto racionalizante e linear de emancipação. Surge assim, a preocupação com a diversidade, a heterogeneidade, a defesa de um olhar para as diferenças. Partindo dessa orientação, percebi a multiplicidade dos sujeitos no universo do surfe, como também a diversidade de modos de apropriação dessa prática. Na pesquisa sobre os surfistas fiz a opção em não generalizar estilos e padrões de comportamento, mas perceber o grau de complexidade e de heterogeneidade dessa “galera”, expressos em suas múltiplas formas de interpretações, manifestações do/e no mundo, a saber: músicas, formas de lazer, consumos, rituais de sociabilidades, visões de mundo, participação no mundo do trabalho etc. A juventude nos confunde. É quase um conceito sótão, lugar onde tudo se guarda, onde tudo parece permanecer nas alturas. Quando se fala em juventude é preciso sempre indagar: que lugares ela habita, que movimento realiza? (Diógenes, 2003, p.157). 43
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vai conduzir as minhas perguntas e permitir o controle sobre “a sede<br />
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Ao inserir entrevistas no processo de investigação a intenção foi a de<br />
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surfistas, compreendendo como Magnani (1988) que discurso e ações não são<br />
realidades que se opõem, mas sim formas diferentes e complementares de<br />
expressão de um mesmo universo simbólico, o “mundo do surfe”.<br />
A visibilidade sobre os surfistas também foi projetada aos meus olhos<br />
por meio da imaginação sociológica que consiste em grande parte na<br />
capacidade de passar de uma perspectiva a outra, e no processo de<br />
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componentes. Dito de outra forma, a imaginação sociológica distingue o olhar<br />
do cientista social de um simples técnico, pois há uma euforia na sua essência,<br />
na combinação de idéias, na mistura dessa combinação, além de um interesse<br />
realmente muito grande em ver o sentido do mundo, que falta aos técnicos<br />
(Mills, 1969, p. 228).<br />
A imaginação sociológica é algo que, segundo o autor, pode ser<br />
cultivada, nessa perspectiva, algumas estratégias foram utilizadas para<br />
estimular a visibilidade buscada pela pesquisadora. Uma primeira estratégia foi<br />
à manutenção e a releitura constante do diário de campo, como parte inerente<br />
do processo de produção intelectual. Foram as impressões primeiras, as<br />
descrições, as sensações sentidas no campo, aquilo que foi visto e observado,<br />
os cheiros, os ruídos, as cores, os movimentos, até os “pensamentos<br />
marginais”, enfim, uma vez anotados, podem levar a um raciocínio sistemático,<br />
bem como emprestam uma relevância intelectual com a experiência mais<br />
direta.<br />
A visibilidade permitida pela imaginação sociológica é também<br />
alcançada quando temos,<br />
[a] capacidade de estabelecer tipos e, em seguida, procurar as<br />
condições e conseqüências de cada tipo (...) Ao invés de nos<br />
contentarmos com as classificações existentes, em particular as<br />
ditadas pelo bom senso, devemos buscar os denominadores comuns<br />
e os fatores de diferenciação dentro e entre elas. Os bons tipos<br />
exigem que os critérios de classificação sejam explícitos e<br />
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