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2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC

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espaço, e nesse intento amolecer o próprio corpo para que ele se torne<br />

plástico, desdobrável, passável (p. 25.).<br />

A escolha, pelas praias do Icaraí e da Leste-Oeste, foi orientada não<br />

somente pela questão de afinidade com os surfistas desses dois picos, mas,<br />

sobretudo pelos significados que esses locais expressam para o surfe em<br />

Fortaleza. A praia do Icaraí, embora legalmente pertença ao município de<br />

Caucaia foi historicamente ocupada pelos surfistas da metrópole,<br />

intensificando-se, ainda mais, após a construção da ponte da Barra do Ceará<br />

em 1997, que liga Fortaleza às praias do litoral de Caucaia, travessia que pode<br />

ser feita em vinte e cinco minutos. Nesse sentido, o Icaraí tornou-se o pico de<br />

muitos surfistas da capital, principalmente, daqueles que moram na parte oeste<br />

da cidade, ressaltando que o Icaraí sempre foi palco dos grandes eventos de<br />

surfe, como campeonatos nordestinos, nacionais e até mundiais.<br />

Já a praia da Leste-Oeste tem a particularidade de ser um lugar<br />

freqüentado, na grande maioria, pelos moradores dos bairros próximos. Um<br />

sentimento de pertença intenso dos jovens em relação ao espaço é percebido<br />

através de práticas de “localismo” muito ativas. No território-pico, os conflitos se<br />

intensificam nas disputas pelas melhores ondas e também, pelos “pedaços” da<br />

cidade. São dos bairros Moura Brasil, Pirambu, Santo Inácio e outros,<br />

localizados na periferia oeste da cidade, que saem os “surfistas da Leste”,<br />

inclusive, grandes atletas que se destacam nos circuitos nacionais do surfe.<br />

Mesmo tendo como campo de pesquisa esses dois territórios-<br />

referência, os surfistas logo me mostraram que carregam em seus corpos os<br />

signos e as referências de seu território-pico, as bermudas de marcas ou não,<br />

os óculos usados, a cor do corpo, os cabelos, as performances corporais, a<br />

fala, o corpo em si, por meio de uma espécie de dizer sem palavras (Ferrara,<br />

2001) informam quem são. Na Taíba, na Praia do Futuro, Paracuru, ou<br />

qualquer pico em que os surfistas estejam, percebo que eles sempre dizem seu<br />

lugar de origem, como também criam novas “raízes”, novos laços, sentimentos<br />

de pertença, relações de conhecimento e reconhecimento do espaço<br />

experimentado, ocupado, (des)territorializado.<br />

38<br />

São nômades por mais que não se movam, não migrem, são<br />

nômades por manterem um espaço liso que se recusam a<br />

abandonar, e que só abandonam para conquistar e para morrer.

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