2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC
2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC 2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC
enfatiza a margem de manobra existente na sociedade para opções e alternativas dos sujeitos sociais. No entanto, o projeto como um conjunto de idéias está sempre referido a outros projetos e condutas localizados no tempo e espacialmente. Por conseguinte um projeto nunca é resultado de uma ação puramente individual, subjetiva, ou seja, ele é elaborado dentro de um campo de possibilidades circunscrito histórica e culturalmente tendo como referência prioridades e paradigmas culturais existentes (Idem). Como já foi dito, os territórios onde as culturas juvenis manifestam-se com maior intensidade estariam caracterizados, em grande medida, pelos espaços lisos. Nestes espaços estão postas estruturas sociais cada vez mais fluidas que refletem a inconstância na vida dos jovens, repletas de idas e vindas (Pais, 1993). Para um jovem surfista o sonho de sair de casa, de encontrar ou constituir o seu espaço de concretização das aspirações, de realização profissional e pessoal, torna-se cada vez mais difícil por conta dos novos tempos. Ao emprego segue-se o desemprego ou o sub-emprego. No caso dos surfistas profissionais, principalmente aqui no Nordeste, eles não mantêm qualquer vinculo empregatício com os seus patrocinadores, somente frágeis contratos. E aqueles que não têm patrocínio restam-lhes a sorte nas competições, a chance de ganhar a sua sobrevivência de pequenas premiações. Conseqüentemente, a grande maioria dos surfistas profissionais desta cidade encontram-se “obrigados” a ir para o sul do país em busca de melhores condições para desenvolverem a sua profissão: o surfe. Tal reversibilidade, dentre outras, aponta para a compreensão relativa aos jovens que vivem na condição de “pássaros migratórios”. A cada ida tem- se, posteriormente, uma vinda, o retorno. É nesse contexto que são construídas e vivenciadas as sensibilidades juvenis que se inscrevem na lógica da reversibilidade, da fluidez. Desse modo, para um surfista, concretizar os seus projetos de vida significa abrir portas para o vazio, em direção a trajetos que levam, muitas vezes, a lugar nenhum e não em uma chegada (Pais, 1993). O futuro é o presente. E o presente encontra-se bem ali “armado” como um tubo de uma onda que pode se abrir e lhes permitir a chance de uma vitória no campeonato, e assim, o reconhecimento pelos patrocinadores da 28
qualidade do seu surfe. Ou o tubo pode se fechar, e fecharem-se também as oportunidades de fazer sua vida a seu modo, o estilo-surfe de viver. 3. A análise dos surfistas na rapidez das flutuações. Mercúrio e Vulcano representam as duas funções vitais inseparáveis e complementares: Mercúrio a sintonia, ou seja, a participação no mundo que nos rodeia; Vulcano a focalização, ou seja, a concentração construtiva. Mercúrio e Vulcano são ambos filhos de Júpter cujo reino é o da consciência individualizada e socializada, mas por parte de mãe Mercúrio descende de Urano, cujo reino era do tempo “ciclofênico” da continuidade indiferenciada, ao passo que Vulcano descende de Saturno, cujo reino é o do tempo “esquizofrênico” do isolamento egocêntrico. Saturno havia destronado Urano, Júpter havia destronado Saturno; por fim, no reino equilibrado e luminoso de Júpter, Mercúrio e Vulcano trazem cada qual a lembrança de um dos obscuros reinos primordiais, transformando o que era moléstia deletéria em qualidade positiva: sintonia e focalização (Calvino, 1990, p. 66). A rapidez e a concisão no processo de criação-produção científica é, ao contrário do que se possa imaginar, algo que demanda tempo, trabalho, leituras, pesquisas de campo e bibliográficas, sensibilidade, intuição, coerência....incompletude. A rapidez não é tão somente uma característica da atividade literária, mas de todos aqueles que vivem neste tempo presente, já que este nos impõe uma dialética de desafios, os quais se contrapõem e se complementam, a saber: captar toda a complexidade do mundo que nos cerca, isto é, estar em sintonia com a contemporaneidade, com o global, com as “modulações”; e ao mesmo tempo, focalizar aquilo que alimenta a nossa vida, o local, as especificidades do cotidiano, a riqueza dos significados dos detalhes, a singularidade das experiências. É nessa perspectiva que busquei perceber os significados construídos pela vivência dos jovens na “cultura surfe”, como um estilo de vida que é sim apropriado na maioria das vezes por conta das imagens que são disseminadas pelos meios de comunicação. Uma prática moderna, radical, jovem, ousada etc., mas quando apropriada é re-significada e experimentada de diversas formas, a partir das inúmeras experiências pessoais, trajetórias e projetos de vida. 29 As novas dinâmicas culturais são dinâmicas de fragmentação, dinâmicas de secularização, de desterritorialização das marcações
- Page 1 and 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CYNT
- Page 3 and 4: Mesmo a cidade mais estriada secret
- Page 5 and 6: Agradecimentos Aos meus pais, Ana E
- Page 7 and 8: 4. A ocupação dos picos e os circ
- Page 9 and 10: RESUMO Esse trabalho é resultado d
- Page 11 and 12: Só tubos! Olha ali doido! Uhuuuuu!
- Page 13 and 14: logo um “aéreo” 14 , em seguid
- Page 15 and 16: possibilidades desses jovens (Velho
- Page 17 and 18: CAPÍTULO I UM MERGULHO NO OBJETO:
- Page 19 and 20: Conclusão de Curso 19 , esses jove
- Page 21 and 22: foi a percepção sobre a diversida
- Page 23 and 24: pesquisadores da comunicação), aj
- Page 25 and 26: suas várias maneiras de agir, pens
- Page 27: estilo de vida que se manifesta por
- Page 31 and 32: muito mal o esporte na prática e q
- Page 33 and 34: Após a escolha de meus principais
- Page 35 and 36: perceber onde quebram “as melhore
- Page 37 and 38: O trabalho etnográfico consiste na
- Page 39 and 40: Viagem no mesmo lugar, esse é nome
- Page 41 and 42: próprio método de observação de
- Page 43 and 44: Segundo o autor, a classificação
- Page 45 and 46: CAPITULO II NAS ONDAS DO SURFE: EST
- Page 47 and 48: para a investigação das formas as
- Page 49 and 50: Aqui entendo categoria “estilo de
- Page 51 and 52: construção e o fortalecimento de
- Page 53 and 54: Inscreve-se no espaço urbano atrav
- Page 55 and 56: embora seja um esporte individual,
- Page 57 and 58: Rapaz, surfe é adrenalina. É desc
- Page 59 and 60: mandando uns aéreo 41 720º. Meu i
- Page 61 and 62: corporal, buscando o equilíbrio en
- Page 63 and 64: São os jovens que parecem, mas do
- Page 65 and 66: FIGURA 3: Veja essa imagem da equip
- Page 67 and 68: ondas. No entanto, essas ondas são
- Page 69 and 70: Também estão intrinsecamente vinc
- Page 71 and 72: Assisto sempre filme de surfe. Eu g
- Page 73 and 74: onda surfada, também sobre o “ou
- Page 75 and 76: em quando. O pó é muito paia, o c
- Page 77 and 78: que não havia a perspectiva do pro
enfatiza a margem de manobra existente na sociedade para opções e<br />
alternativas dos sujeitos sociais. No entanto, o projeto como um conjunto de<br />
idéias está sempre referido a outros projetos e condutas localizados no tempo<br />
e espacialmente. Por conseguinte um projeto nunca é resultado de uma ação<br />
puramente individual, subjetiva, ou seja, ele é elaborado dentro de um campo<br />
de possibilidades circunscrito histórica e culturalmente tendo como referência<br />
prioridades e paradigmas culturais existentes (Idem).<br />
Como já foi dito, os territórios onde as culturas juvenis manifestam-se<br />
com maior intensidade estariam caracterizados, em grande medida, pelos<br />
espaços lisos. Nestes espaços estão postas estruturas sociais cada vez mais<br />
fluidas que refletem a inconstância na vida dos jovens, repletas de idas e<br />
vindas (Pais, 1993).<br />
Para um jovem surfista o sonho de sair de casa, de encontrar ou<br />
constituir o seu espaço de concretização das aspirações, de realização<br />
profissional e pessoal, torna-se cada vez mais difícil por conta dos novos<br />
tempos. Ao emprego segue-se o desemprego ou o sub-emprego. No caso dos<br />
surfistas profissionais, principalmente aqui no Nordeste, eles não mantêm<br />
qualquer vinculo empregatício com os seus patrocinadores, somente frágeis<br />
contratos. E aqueles que não têm patrocínio restam-lhes a sorte nas<br />
competições, a chance de ganhar a sua sobrevivência de pequenas<br />
premiações. Conseqüentemente, a grande maioria dos surfistas profissionais<br />
desta cidade encontram-se “obrigados” a ir para o sul do país em busca de<br />
melhores condições para desenvolverem a sua profissão: o surfe.<br />
Tal reversibilidade, dentre outras, aponta para a compreensão relativa<br />
aos jovens que vivem na condição de “pássaros migratórios”. A cada ida tem-<br />
se, posteriormente, uma vinda, o retorno. É nesse contexto que são<br />
construídas e vivenciadas as sensibilidades juvenis que se inscrevem na lógica<br />
da reversibilidade, da fluidez. Desse modo, para um surfista, concretizar os<br />
seus projetos de vida significa abrir portas para o vazio, em direção a trajetos<br />
que levam, muitas vezes, a lugar nenhum e não em uma chegada (Pais, 1993).<br />
O futuro é o presente. E o presente encontra-se bem ali “armado”<br />
como um tubo de uma onda que pode se abrir e lhes permitir a chance de uma<br />
vitória no campeonato, e assim, o reconhecimento pelos patrocinadores da<br />
28