03.06.2013 Views

2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC

2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC

2006_Dis_ CSALBUQUERQUE.pdf - Repositório Institucional UFC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

fixidez que mais se parece com as superfícies estriadas 23 das grandes<br />

avenidas pensadas pelos urbanistas do que com a superfície lisa do mar<br />

quando entra o vento terral permitindo o nomadismo dos surfistas e a leveza<br />

das suas flutuações (Deleuze, 1997).<br />

Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso,<br />

digo para mim que à maneira de Perseu eu devia voar para outro<br />

espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o<br />

irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação,<br />

que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica,<br />

outros meios de conhecimento e controle. As imagens de leveza que<br />

busco não devem, em contato com a realidade presente e futura,<br />

dissolver-se como sonhos...(Calvino, 1990, p. 19).<br />

A pista das fissuras faz possível descobrir outra visão e outra<br />

dinâmica: a das flutuações e dos fluxos nos quais se gestão outras<br />

ordens. Visão desde a qual se abre uma pedagogia cidadã do jogo,<br />

no sentido que têm as trajetórias, enquanto tática daquele que<br />

caminha cotidianamente pela cidade (Barbero, 2004, p. 277).<br />

O nomadismo dos surfistas inscreve em Fortaleza trajetos específicos<br />

em busca das boas ondas, trajetórias manifestam-se nas táticas do usar,<br />

transitar e habitar a cidade (Certau, 2002), mas não só. Os espaços procurados<br />

são também lugares de encontro, trocas, jogos e sociabilidades desses jovens<br />

com seus “iguais” e se realizam em alguns espaços da cidade, como por<br />

exemplo, nos picos de surfe. É importante dizer que nem todo surfista é jovem,<br />

porém, os “veteranos do surfe” 24 , a grande maioria iniciou a prática do surfe<br />

durante sua juventude e a tomou como estilo de vida. Esses “jovens-coroas”<br />

carregam em seus corpos as marcas do estilo juvenil do surfe podendo<br />

claramente ser identificado no jeito de andar, vestir, falar... Viver.<br />

Nessa perspectiva a noção de juventude também deve ser<br />

relativizada, aqui entendida bem mais como um estilo de vida do que como um<br />

período de transição para a vida adulta. Compreendo, portanto, a juventude<br />

como uma complexidade variável, como multiplicidade, que se distingue por<br />

23 Segundo Deleuze (1997, p. 184-187) ao discutir o espaço liso e estriado pelo modelo<br />

marítimo, no espaço estriado, as linhas, os trajetos têm a tendência de ficarem subordinados<br />

aos pontos: vai-se de um ponto a outro. No liso, é o inverso: os pontos estão subordinados aos<br />

trajetos. Assim enquanto o primeiro remete a fixidez das práticas, aos usos “esperados” do<br />

espaço, o outro sinaliza para o caráter de fluidez, de intensidade na ocupação, de<br />

“resignificação” dos espaços. Retomarei novamente essa discussão mais adiante.<br />

24 Os veteranos do surfe são aqueles surfistas “das antigas”, isto é, aqueles que iniciaram a<br />

prática há pelo menos vinte ou trinta anos atrás. Os surfistas considerados “veteranos” eram os<br />

jovens surfistas dos anos 70/80 aqui em Fortaleza, aqueles que participaram (e ainda hoje<br />

participam) e contribuíram para o início da “cultura surfe” e seus “circuitos” aqui na cidade.<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!