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2ª Edição - UFSCar

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Locke, sustentabilidade<br />

e ecologia social<br />

“A ecologia não é nada se não se ocupa da interação entre as formas de vida para construir<br />

comunidades e desenvolverem-se como comunidades” (Murray Bookchin).<br />

Lá pelo fim do século XVII Locke dizia que o<br />

homem encontra-se naturalmente em um estado<br />

de liberdade...E todos são “providos de faculdades<br />

iguais, compartilhando de uma comunidade<br />

que é a natureza”. E mesmo sendo a natureza<br />

um bem comum, que produz frutos necessários à<br />

sobrevivência humana, é inevitável a apropriação<br />

desses frutos pelo homem no momento em que<br />

ele se utiliza dela individualmente ou dedica seu<br />

trabalho para sua transformação e posterior<br />

utilização. Ou seja, embora seja um bem comum<br />

naturalmente, “o trabalho de seu corpo e a obra<br />

de suas mãos são propriamente dele”. E desde<br />

que ainda haja bens igualmente e de boa qualidade<br />

para todos, o homem pode ter direito àquilo<br />

que se juntou.<br />

Guardar mais do que se necessita seria um<br />

ato um tanto quanto egoísta e desonesto...Os<br />

bens da natureza não podem ser desperdiçados,<br />

nem há necessidade de guardá-los em excesso!<br />

Mas o homem, espertinho como sempre foi, conseguiu<br />

tranqüilizar sua consciência... Inventou<br />

algo que pudesse ser armazenado sem culpa! Fez,<br />

então, o dinheiro e pôde acumula-lo sem desperdício,<br />

sem desrespeitar ninguém...Produz e retira<br />

da natureza o máximo que pode e acumula de<br />

uma forma “virtual”: acumula capital.<br />

E é em torno desse acúmulo que vivemos<br />

nossas vidas já há alguns séculos. E dedicamos<br />

nossas vidas (repare bem, dedicamos nossas Vidas<br />

(!!!), ou seja, somente o que de fato possuímos)<br />

para adquirir alguns bens e construir um belo<br />

túmulo para nossos corpos serem decompostos (só<br />

pra lembrar...). E na velocidade da luz retiramos<br />

do bem comum o máximo que pudemos antes que<br />

outro o faça, e a vida gira em torno disso! E ai de<br />

você se não achar necessário “batalhar” uma vida<br />

toda para aumentar seu capital e “melhorar de<br />

vida”. Somos animais (sim, somos...) que se não<br />

pagarmos por um lugar para viver, ficamos excluídos<br />

do mundo! E nem reivindicamos mais que a<br />

natureza é um bem comum... Perdemos nossas<br />

vidas visando objetivos impostos. E àqueles que<br />

não visam tais objetivos são dados inúmeros<br />

adjetivos...<br />

E agora todo mundo vem falar de<br />

Abril 2007<br />

sustentabilidade. Muito mais grave quando se fala<br />

em “desenvolvimento sustentável”, ai, isso é<br />

grave! Basta questionar que desenvolvimento é<br />

esse para perceber o quão paradoxal é esse<br />

termo: os EUA são desenvolvidos! Esse é nosso<br />

modelo de desenvolvimento. Pra quê, pra<br />

quem? Mas por que estamos falando tanto em<br />

sustentabilidade? Principalmente porque aprendemos<br />

em ecologia que a vida se equilibra e se<br />

sustenta dentro de ciclos... uma fuga constante<br />

da entropia. A forma como interagimos com ela só<br />

bagunça tudo isso. E subentendido nessa preocupação<br />

está a ironia dessa moda. A preocupação<br />

surge pois corremos o risco (quase certo) de não<br />

termos mais o que explorar, e aí nossa vida perderá<br />

esse ilusório sentido. Queremos manter nosso<br />

way of life, por isso as coisas têm que ser sustentáveis<br />

para continuarmos explorando! É claro!<br />

Mas não precisamos pensar muito para perceber<br />

que, nas atuais condições, isso é impossível. De<br />

acordo com Murray Bookchin, grande autor do<br />

movimento anarquista e ecologista, essas inúmeras<br />

ações rumo à sustentabilidade são “freadas”<br />

que só adiarão a destruição da Terra. Isso não<br />

significa que são desnecessárias, são importantes<br />

para “ganharmos tempo” para acordar. Parece<br />

dramático, mais é isso mesmo... Basta olhar os<br />

dados que já estão bem divulgados, até em nossas<br />

próprias pesquisas, mas nem nos sensibilizamos<br />

mais...Mas e aí? Pois é, Bookchin fala de uma tal<br />

de “ecologia social”, a qual baseia-se na mudança<br />

de uma “mentalidade que começou a desenvolver-se<br />

muito antes do capitalismo e que esta<br />

absorveu completamente”. Ao mesmo tempo em<br />

que devemos parar de ver a natureza como um<br />

quadro, não podemos nos esquecer de que o ser<br />

humano é um ser social único entre todas as<br />

espécies, de forma que a aplicação desse pensamento<br />

não pode ignorar nossa atual realidade e<br />

suas relações sociais. Talvez essa seja nossa única<br />

esperança: a mudança de valores humanos e o<br />

surgimento de um conseqüente “pensamento<br />

ecológico”.<br />

Como? Reciclando? Não, por favor! Não<br />

estamos falando disso... Precisamos perceber que<br />

somos parte da natureza e que com esse sistema<br />

Ano II - N o 3<br />

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