genetica_de_populacoes
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Quando uma população é o resultado da miscigenação de duas outras, que diferem entre si quanto à freqüência de um determinado gene, é evidente que a freqüência desse gene na população miscigenada ( q ) será obtida por intermédio de q = xql + (1-x)q2, onde ql e q2 representam as freqüências do gene nas populações originais, enquanto x e 1-x representam as proporções com que cada urna delas participou para a formação da população miscigenada. Por isso, conhecendo-se as freqüências gênicas q , ql e q2 pode-se estimar as proporções x e 1-x, pois desenvolvendo q = xql + (1-x)q2 obtém-se, sucessivamente: q = xql + q2 - xq2 q - q2 = x(ql - q2) x = q − q q − q 1 Tomemos um exemplo numérico para demonstrar a aplicabilidade do que foi exposto, considerando a freqüência do gene da insensibilidade gustativa à PTC em afro-brasileiros (0,359 segundo Saldanha,1965), em africanos negros (0,188, em média, segundo vários dados da literatura) e em caucasóides brasileiros (0,497, segundo Beiguelman,1964). Sabendo-se que a população afro-brasileira sofreu miscigenação com brancos, pode-se, com base nesse marcador genético, tentar estimar qual foi a intensidade da contribuição caucasóide para a composição do grupo afro-brasileiro. Para tanto escrevemos q = 0,359, ql = 0,497 e q2 = 0,188 e calculamos x = 0, 359 0, 497 − − 2 0, 188 0, 188 2 = 0,553 o que nos levar a estimar que, para a constituição da população afro-brasileira, os caucasóides contribuíram com, praticamente, 55%. Visto que o componente caucasóide da população afro- norte-americana varia entre 10% e 30%, pode-se, pois, concluir que os afro-brasileiros são mais caucasóides do que os afro- norte-americanos. Com base na informação de que os índios brasileiros, do mesmo modo que outros índios sul-americanos, eram todos do grupo sangüíneo O, pode-se empregar um método muito simples (Beiguelman, 1980) para estimar em que proporção os índios, os africanos negros e os caucasóides participaram da composição das populações do nordeste brasileiro, sabidamente tri-hibridas. Se as freqüências dos genes A, B e O do sistema ABO dos caucasóides e dos negros africanos que contribuíram para a formação das populações nordestinas forem designadas, respectivamente, por pl , ql e rl, e p2, q2, e r2, entre os índios deveremos levar em conta apenas a freqüência r3 = 1, pois os índios não miscigenados não possuem os genes A e B. Na população nordestina atual as freqüências dos genes A, B e O devem, pois, ser representadas por p , q e r . 182 173 173
Se as proporções de caucasóides, africanos e índios que entraram na composição dessa população forem indicadas, respectivamente, por x1, x2 e x3, poderemos escrever: p = x1 p1 + x2 p2 q = x1 q1 + x2 q2 r = x1 r1 + x2 r2 + x3 r3 Na primeira equação x2 pode ser substituído por seu significado obtido a partir da segunda q − x1q equação, isto é, por x2 = q para a população nordestina por intermédio de: meio de: 2 1 174 , o que permitirá estimar a contribuição da população caucasóide x1 = pq p q 1 2 2 − p − p 2 2 Depois de calcular o valor de x1, pode-se estimar facilmente os valores de x2 e de x3 por x2 = q − x q x3 = 1 - (x2 + x2) ou x3 = r - (x1 r1 + x2 r2) q 2 1 Para ilustrar a aplicação desse método, consideremos as freqüências gênicas do sistema ABO estimadas por Saldanha (1962) em migrantes procedentes de vários Estados do nordeste brasileiro, que, numa determinada época, passaram pela Hospedaria de Imigrantes de São Paulo ( p = 0,210; q = 0,083; r = 0,707). Como representativas dessas freqüências gênicas em caucasóides, tomemos as fornecidas por Cunha e Morais (1959) para a população de Portugal (p1 = 0,304; q1 = 0,066; r1 = 0,630), já que foram os imigrantes portugueses os caucasóides que predominaram no nordeste do Brasil. Para os negros africanos consideremos como representativas as fornecidas por Mourant et al. (1958) (p2 = 0,157; q2 = 0,150; r2 = 0,693). Visto que os índios brasileiros possuíam apenas o grupo sangüíneo O no sistema ABO, escreveremos r3 = 1 . Com base nesses dados podemos estimar que os caucasóides, os negros africanos e os índios contribuíram, respectivamente, com 53%, 32% e 15% de seus genes para a população nordestina representada pelos migrantes estudados por Saldanha (1962), pois: ( 0, 210 × 0, 150) − ( 0, 157 × 0, 083) x1 = = 0, 53 ( 0, 304 × 0, 150) − ( 0, 157 × 0, 066) x x 2 3 0, 083 − ( 0, 528× 0, 066) = = 0, 32 0, 150 = 1− ( 0. 53 + 0, 32) = 0, 15 Esses percentuais estão muito próximos daqueles obtidos por Saldanha (1962), empregando outro método (48% de caucasóides, 34% de negros africanos e 18% de índios). Esse 183 1 q q 1 174
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Se as proporções <strong>de</strong> caucasói<strong>de</strong>s, africanos e índios que entraram na composição <strong>de</strong>ssa população<br />
forem indicadas, respectivamente, por x1, x2 e x3, po<strong>de</strong>remos escrever:<br />
p = x1 p1 + x2 p2<br />
q = x1 q1 + x2 q2<br />
r = x1 r1 + x2 r2 + x3 r3<br />
Na primeira equação x2 po<strong>de</strong> ser substituído por seu significado obtido a partir da segunda<br />
q − x1q<br />
equação, isto é, por x2 =<br />
q<br />
para a população nor<strong>de</strong>stina por intermédio <strong>de</strong>:<br />
meio <strong>de</strong>:<br />
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, o que permitirá estimar a contribuição da população caucasói<strong>de</strong><br />
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pq<br />
p q<br />
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− p<br />
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Depois <strong>de</strong> calcular o valor <strong>de</strong> x1, po<strong>de</strong>-se estimar facilmente os valores <strong>de</strong> x2 e <strong>de</strong> x3 por<br />
x2 =<br />
q − x q<br />
x3 = 1 - (x2 + x2) ou x3 = r - (x1 r1 + x2 r2)<br />
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1<br />
Para ilustrar a aplicação <strong>de</strong>sse método, consi<strong>de</strong>remos as freqüências gênicas do sistema<br />
ABO estimadas por Saldanha (1962) em migrantes proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> vários Estados do nor<strong>de</strong>ste<br />
brasileiro, que, numa <strong>de</strong>terminada época, passaram pela Hospedaria <strong>de</strong> Imigrantes <strong>de</strong> São Paulo<br />
( p = 0,210; q = 0,083; r = 0,707). Como representativas <strong>de</strong>ssas freqüências gênicas em<br />
caucasói<strong>de</strong>s, tomemos as fornecidas por Cunha e Morais (1959) para a população <strong>de</strong> Portugal (p1<br />
= 0,304; q1 = 0,066; r1 = 0,630), já que foram os imigrantes portugueses os caucasói<strong>de</strong>s que<br />
predominaram no nor<strong>de</strong>ste do Brasil. Para os negros africanos consi<strong>de</strong>remos como<br />
representativas as fornecidas por Mourant et al. (1958) (p2 = 0,157; q2 = 0,150; r2 = 0,693).<br />
Visto que os índios brasileiros possuíam apenas o grupo sangüíneo O no sistema ABO,<br />
escreveremos r3 = 1 .<br />
Com base nesses dados po<strong>de</strong>mos estimar que os caucasói<strong>de</strong>s, os negros africanos e os<br />
índios contribuíram, respectivamente, com 53%, 32% e 15% <strong>de</strong> seus genes para a população<br />
nor<strong>de</strong>stina representada pelos migrantes estudados por Saldanha (1962), pois:<br />
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Esses percentuais estão muito próximos daqueles obtidos por Saldanha (1962),<br />
empregando outro método (48% <strong>de</strong> caucasói<strong>de</strong>s, 34% <strong>de</strong> negros africanos e 18% <strong>de</strong> índios). Esse<br />
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