CARTA: UM MEIO AFETIVO NAS ONDAS DO RÁDIO - Biblioteca ...
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divide entre o oral e a escrita parcialmente, e a última oralidade conhecida como<br />
“Segunda” onde a cultura é marcada pela letra. Cida Golin alega o preconceito ao<br />
oral:<br />
A partir da invenção da imprensa e da expansão da informação e do<br />
conhecimento por meios impressos, inicia-se o processo de censura<br />
à oralidade; o som e a voz são índices de desconfiança. (GOLIN<br />
apud MEDITSCH, 2005, p. 262).<br />
Mas, no século XX surgem os microfones, gravadores e os rádios que<br />
influenciam a percepção do ouvinte acerca do veículo. Segundo José Eugênio<br />
Menezes (2007, p. 131), nos dias atuais a cultura do ver está sendo privilegiada,<br />
fazendo com que o rádio se recupere pela “sensorialidade dos corpos” e busca a<br />
necessidade de se fazer ouvir. Corpo esse, declarado por Zumthor como sendo<br />
ponto de origem, partida e referente de discurso (apud MEDITSCH, 2005, p. 250). E<br />
a imaginação que o receptor faz quando sintoniza uma rádio é detalhada por Cida<br />
Golin:<br />
O ouvinte o relaciona a um ser humano existente em algum lugar.<br />
[...] Recria em sua imaginação os elementos ausentes, mas a<br />
imagem produzida é íntima, pessoal, uma performance interiorizada.<br />
(GOLIN apud MEDITSCH, 2005, p. 263).<br />
Na linguagem no rádio feita ao vivo, o locutor pretende se aproximar do<br />
ouvinte fazendo com que se sinta mais íntimo. Mônica Rebecca Nunes explica como<br />
o rádio é perspicaz nesse sentido:<br />
O rádio, como veículo de comunicação de massa e ser da cultura,<br />
não exerce apenas a função de informar com rapidez e<br />
instantaneidade, tampouco se reduz ao entretenimento<br />
proporcionado pela descontração de seus locutores.<br />
Diagnosticamos a existência de outro universo significante, moldado<br />
a partir da voz, suporte qualitativo da palavra vocalizada no rádio. A<br />
voz e a palavra constroem textos escritos/oralizados que veiculam<br />
signos míticos aptos a ritualizar a escuta radiofônica. (NUNES,<br />
1993, p. 23).<br />
Aprender a ouvir, deixar se guiar pelo som, seja por uma canção emitida no<br />
rádio, uma voz ao telefone ou um locutor que prende e faz ouvir determinada<br />
emissora é uma forma poética que liga o ouvinte à voz. Segundo Zumthor (apud<br />
MEDITSCH, 2005, p. 253-257), uma das marcas do poético é o virtual que necessita<br />
do real, sendo utilizado em todo o discurso. Para Golin (apud MEDITSCH, 2005, p.<br />
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