CARTA: UM MEIO AFETIVO NAS ONDAS DO RÁDIO - Biblioteca ...
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usque em sua solidão sintonizar o rádio. Bachelard define como se dá a solidão<br />
radiofônica para o ouvinte:<br />
O rádio vem constituí-la, ao redor de uma imagem que não é apenas<br />
para ele, que é para todos, imagem que é humana, que está em<br />
todos os psiquismos humanos. Nada de pitoresco, nenhum<br />
passatempo. Ela chega por trás dos sons, sons bem feitos.<br />
(BACHELARD, 1985, p. 181).<br />
Além de “sons bem feitos”, citado por Bachelard, o rádio presta extrema<br />
necessidade de se reinventar e buscar novos ouvintes. Como declara o pesquisador<br />
Carlos Eduardo Esch:<br />
Ele é prestação de serviço, informação, entretenimento, companhia<br />
para os solitários e música, e ao que tudo indica, continuará a ser<br />
isso tudo nas próximas décadas. Por certo, o rádio se reinventará<br />
para acompanhar e se adaptar, como já fez em nossa era, às<br />
transformações pelas quais passará a sociedade no futuro. Isso não<br />
significa, no entanto, perder a sua “personalidade” atual<br />
personificada nos comunicadores. Personalidade esta que<br />
caracteriza o dial e que se firma sob o signo maior da solidariedade<br />
e afetividade. (ESCH apud DEL BIANCO E MOREIRA, 2001, p. 89).<br />
E a fantasia sentida pelo ouvinte não tem hora nem dia determinados, irá<br />
depender de cada pessoa. Bachelard alega que “se o rádio soubesse oferecer horas<br />
de repouso, horas de calma, esse devaneio radiodifundido seria salutar”. (1985, p.<br />
178). Para ele, a intimidade que o ouvinte irá fazer de seus sonhos, ocasionará o<br />
devaneio radiofônico. A interioridade ficará mais perto com a administração dos<br />
“engenheiros psíquicos”. Bachelard define a função deles:<br />
E se os engenheiros psíquicos do rádio forem poetas que desejam o<br />
bem do homem, a doçura de coração, a alegria de amar, a fidelidade<br />
sensual do amor, prepararão boas noites para seus ouvintes.<br />
(BACHELARD, 1985, p. 182).<br />
O veículo propicia intimidade do ouvinte com o locutor, com o sentimento de<br />
sonho feito, o receptor devaneia sobre eles. “Na cultura do ouvir, somos desafiados<br />
a repotencializar a capacidade de vibração do corpo diante dos corpos dos outros,<br />
ampliar o leque da sensorialidade hoje limitado à visão” (MENEZES, 2007, p. 82).<br />
Bachelard propõe:<br />
O rádio deve anunciar a noite para as almas infelizes, para as almas<br />
pesadas: Trata-se de não mais dormir sobre a terra, trata-se de<br />
entrar no mundo noturno que você vai escolher. (BACHELARD,<br />
1985, p. 182).<br />
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