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“POR TRÁS DOS PORTÕES” – A DISCIPLINA NO COLÉGIO ...

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fim sendo monitorados pelos sargentos. Dependendo da gravidade do<br />

ato, a detenção poderia ser durante à tarde, quando não estivessem em<br />

atividades, ou mesmo nos fins de semana. Além de mau comportamento,<br />

o uniforme também era motivo de punição, como conta Coronel Mattos:<br />

Você tinha que andar com o uniforme impecável na cidade, a gente<br />

usava um quepe, uma túnica. Não podia andar com a gola aberta,<br />

não podia andar com o quepe na mão. Tinha oficial que anotava seu<br />

nome e quando chegava no colégio no dia seguinte você já estava<br />

grampeado. 71<br />

A postura do aluno era, portanto, a própria imagem do colégio fora<br />

da instituição. Seria através das suas atitudes que o Colégio seria bem<br />

visto ou não pela sociedade civil. O aluno do CMC seria o exemplo a ser<br />

seguido de cidadão, defendido pelo Exército. Porém, para alcançar este<br />

objetivo era preciso que esse tivesse conhecimento do que podia ou não<br />

fazer e para isso existia o regulamento do colégio.<br />

Com relação a essa questão, não havia um momento específico para a<br />

apresentação das regras. Em todas as ocasiões as normas eram passadas<br />

e repassadas, seja durante as aulas, na formatura diária e, sobretudo, no<br />

início do ano letivo como conta Julio César Guimarães: 72<br />

Lembro que o sargento pegava a sua turma e fazia um tour pelo<br />

Colégio explicando o que era cada repartição, o que era feito lá e<br />

como devia ser seguido o “canal competente” para resolver quase<br />

todos os problemas; durante o trajeto eram informadas as regras de<br />

procedimento para a maioria dos assuntos. 73<br />

Estes regulamentos que controlam os gestos e os comportamentos<br />

dos alunos fazem com que o corpo entre em uma maquinaria de poder<br />

que o desarticula e o recompõe. O regulamento a ser seguido pelos<br />

estudantes vem, portanto, instaurar a “mecânica do poder” que define<br />

como o corpo deve operar e quais as técnicas a serem seguidas, por esse<br />

motivo “a disciplina é uma anatomia política do detalhe”. 74<br />

Para que um sistema disciplinador obtenha sucesso, torna-se<br />

necessário a utilização de alguns instrumentos como a vigilância que,<br />

por sua vez, requer um olhar ou nas palavras de Foucault, a possibilidade<br />

de um olhar permanente que mesmo não presente, faz com que o vigiado<br />

interiorize o olhar daquele que vigia. E neste caso específico, o CMC<br />

não fugiu a esta regra, pois os alunos estavam submetidos ao olhar<br />

dos professores, sargentos e xerifes 75 das turmas. A disciplina ainda<br />

exige o fechamento e a delimitação de um espaço para que exista uma<br />

visibilidade geral do local. A partir disso, a arquitetura se mostra como<br />

um instrumento do poder disciplinador, uma vez que busca garantir o<br />

controle interno e detalhado tornando visíveis àqueles que nele se<br />

encontram. A escola, para Foucault, apresenta-se como um operador de<br />

adestramento, um aparelho de vigilância dos seus alunos e por isso o seu<br />

espaço deve ser organizado, como podemos perceber no caso do CMC.<br />

O Colégio Militar de Curitiba possuía (como ainda possui) um espaço<br />

bastante grande e aberto o que favorecia a distribuição dos pavilhões e a<br />

visibilidade dos que estavam em seu interior. Muitos desses pavilhões foram<br />

reaproveitados de uma feira que comemorou a emancipação do Paraná,<br />

realizada alguns anos antes e de um orfanato que, como já citado, foi transferido<br />

de local quando escolhido o terreno para a criação do colégio. Por ser uma<br />

instituição militar a segurança era garantida por soldados que, durante o dia<br />

e a noite, vigiavam toda a movimentação. Logo no portão de entrada havia o<br />

corpo da guarda que controlava a entrada e a saída dos alunos.<br />

Além do portão, alguns pontos estratégicos eram vigiados também<br />

por sargentos para não permitir a fuga dos alunos, conforme relatou<br />

Silmar Van der Broocke: 76<br />

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 22<br />

| História | 2009

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