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“POR TRÁS DOS PORTÕES” – A DISCIPLINA NO COLÉGIO ...

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e críticas a respeito. Combater isso parece ser muito difícil, afinal,<br />

qualquer instituição, no caso aqui uma escola, passa de alguma forma a<br />

sua ideologia. No CMC isso não seria diferente, até mesmo por se tratar<br />

de uma instituição militar a sua proposta seguia a ideologia defendida<br />

pelos militares.<br />

Esse método proposto, que dizia ser inovador e representar um<br />

estágio atual da evolução dos tempos na luta pela obtenção do melhor<br />

rendimento escolar 56 , segundo o Exército, seria uma inovação ao<br />

ensino brasileiro como já citado. No entanto, até que ponto o método<br />

era realmente inovador? Para entendermos melhor esta problemática,<br />

transcrevemos a seguir as palavras do professor Anísio S. Teixeira: 57<br />

Nas condições gerais em que se acha o ensino secundário no país, um<br />

ensaio de aplicação do plano de ensino por ‘unidades’, sugerido desde<br />

1926, por Morrison, um conservador no debate educacional dos últimos<br />

cinqüenta anos, representa não só uma novidade, mas uma audácia<br />

[...]. Nas alturas de 1954, não deixa de ser provocante acompanhar<br />

as torturas de Morrison para apresentar seu pensamento conservador<br />

como algo melhor [...]. Se para Dewey, a criança, por exemplo, é um ser<br />

dinâmico ‘ansioso por aprender’, a verdadeira teoria do ensino é a de<br />

que a escola deve se limitar a ‘guiar a experiência do aluno’; se pra um<br />

Morrison nós ‘odiamos aprender’, a verdadeira teoria é a de ‘prescrever<br />

e dirigir os estudos do aluno’. A realidade é que esses dois aspectos da<br />

criança existem e conforme dermos relevo a um ou a outro, teremos<br />

ensino, programas, métodos e resultados diferentes. Morrison é um<br />

descrente da curiosidade do aluno como motivo adequado para orientar<br />

o seu crescimento educativo. E na sociedade em que vive, tenha talvez,<br />

motivos para crer que, sem certa dose de coerção, não formará o homem<br />

que deseja. Daí, as premissas determinantes do seu método. Podemos<br />

discordar dessas premissas, mas adotadas que elas sejam, segue seu<br />

método. O aspecto positivo deste método está em tornar menos precários<br />

os resultados da escola tradicional [...]. Admitido o ensino por ‘matéria’<br />

e o programa antecipadamente prescrito, a sua tentativa de motivação<br />

e de integração conseqüente é um passo sobre o ensino desligado,<br />

fragmentário e decorado que caracteriza a escola tradicional. 58<br />

Mesmo pretendendo ser um ensino inovador, a escolha do método<br />

pelo Exército não diferiu muito dos métodos mais tradicionais de ensino.<br />

De acordo com as indicações de Anísio Teixeira, podemos inferir que<br />

Henry Morrison era um conservador no debate educacional que defendia<br />

o seu pensamento como algo melhor. Além disso, Morrison defendia que<br />

as crianças não gostavam de aprender, justificando assim a necessidade<br />

do estudo ser dirigido pelo professor. A coerção para ele era fundamental,<br />

pois sem isto não se formaria o homem, o cidadão desejado. Além disso,<br />

podemos perceber através da crítica a Morrison, que ocorreu por parte<br />

deste educador, a idéia de legitimação de um controle muito grande, se<br />

não total, por parte dos professores ou até mesmo da escola em orientar o<br />

aluno naquilo que a instituição considerasse melhor e quando necessário,<br />

a utilização de meios mais rigorosos para formar o aluno desejado. Anísio<br />

Teixeira finaliza dizendo que o aspecto positivo do método concentrava-<br />

se na mudança dos resultados até então obtidos pela escola tradicional<br />

como a memorização e “a sua tentativa de motivação e de integração”<br />

por parte do aluno. 59<br />

No entanto, os militares representados por Alípio Ayres de Carvalho,<br />

na inauguração do CMC, não atentaram para o conservadorismo de<br />

Morrison e procuraram mostrar o quanto avançado era o método escolhido<br />

para o colégio ao afirmar que o sistema representava “um estágio atual<br />

da evolução dos tempos.” 60 A escolha desse “sistema” mostra a intenção<br />

“inovadora” que o Exército pretendia aplicar no ensino. Cabe ressaltar<br />

ainda, o desejo de transformar a educação militar em um exemplo para<br />

outros colégios do Brasil. Além disso, o CMC era igualado aos colégios<br />

dos “povos mais desenvolvidos”, pois também estava envolvido na “luta”<br />

pelo melhor ensino, o que demonstra que a superioridade pretendida<br />

pelos militares no campo educacional deveria ser incontestável.<br />

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 18<br />

| História | 2009

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