“POR TRÁS DOS PORTÕES” – A DISCIPLINA NO COLÉGIO ...
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epresentada pelas “virtudes cívicas e patrióticas” de Tiradentes. O<br />
dia escolhido, portanto, não foi por acaso. A inauguração mostrava o<br />
interesse em marcar o dia da morte do “mártir” ao nascimento de mais<br />
um educandário militar no país, como podemos observar nas palavras<br />
do general:<br />
[...] Inicia hoje as atividades escolares, sob o signo do chefe do<br />
movimento romântico-revolucionário da Inconfidência Mineira, o<br />
Alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha <strong>–</strong> o Tiradentes.<br />
Fica, por esta forma, ligada a vida deste Estabelecimento à morte<br />
gloriosa do proto-mártir da Inconfidência que, na madrugada de 21<br />
de abril de 1792, enfrentou sereno o patíbulo para ser enforcado<br />
e depois esquartejado, e para que os sonhos da liberdade se<br />
implantassem na nossa querida Pátria. Aos moços daquela época,<br />
como a juventude de hoje, o seu sacrifício não foi em vão, porque o<br />
seu exemplo de altivez e de sentimentos cristãos, naquele instante,<br />
supremo de sua vida, servirão de motivação perene no sentido de<br />
que se exaltem, constantemente, perante o corpo discente deste<br />
colégio, as suas excelsas virtudes cívicas e patrióticas, paladinas das<br />
grandes causas da liberdade e da democracia no Brasil [...]. 45<br />
Pode-se perceber nas palavras do general, o poder de atração do<br />
mito do herói e sua longa tradição em nossa história, como o arquétipo<br />
de valores ou das aspirações coletivas. Para José Murilo de Carvalho, em<br />
seu estudo sobre imaginário da República no Brasil, o uso de símbolos,<br />
imagens, alegorias e mitos na construção de um conjunto de valores<br />
sociais é essencial. Nesse sentido, a imagem de altivez e de sentimentos<br />
cristãos do soldado, patriota, personagem cívico que há anos atrás no<br />
mesmo dia (21 de abril) enfrentou sereno o patíbulo, fez de Tiradentes<br />
um herói reconhecido por todos, como nos indica em seu discurso o<br />
general Nilo Sucupira. Ainda, seguindo as orientações de José Murilo<br />
de Carvalho, os heróis são “símbolos poderosos, encarnações de idéias<br />
e aspirações, pontes de referência, fulcros de identificação coletiva. São<br />
instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos”. 46<br />
A imagem de Tiradentes, para os organizadores do CMC, simbolizaria<br />
aquilo que os alunos deveriam se tornar: homens com personalidade<br />
cívica e patriótica que defendessem o seu país contra todos aqueles<br />
contrários às idéias de liberdade. Caberia então, combater através do<br />
ensino, tais opositores, ou nas palavras do general Sucupira:<br />
[...] com a ajuda de Deus, de lutar contra os inimigos da Pátria<br />
que, sob a falsa capa do nacionalismo, conspiram contra as nossas<br />
instituições, a nossa bandeira, a nossa liberdade e a integridade do<br />
território nacional.[...] O Ministro da Guerra compreendendo a alta<br />
significação e a estreita correlação que existe entre a Educação e<br />
a Segurança Nacional tem procurado atender estes anceios [sic],<br />
através da criação dos Colégios Militares em vários Estados,<br />
porque segue o rumo de que o progresso educacional produz<br />
inquestionavelmente mais segurança E a vós mestres, cabe a função<br />
importante, tendes hoje sob vossas responsabilidades: incutir no<br />
espírito dos alunos a consciência do dever e da responsabilidade;<br />
formar-lhe o caráter; criar e desenvolver o espírito da brasilidade;<br />
despertar-lhe a consciência dos deveres de cidadãos; não é, pelo<br />
seu alcance, tarefa de um ou de vários mestres, mas de todo corpo<br />
de professores, unidos por ideal comum e empenhados por profundo<br />
sentimento cívico, em preparar o cidadão capaz de amar a sua terra<br />
e revelar, com a prova maior, desse amor, o espírito de sacrifício, o<br />
desprendimento pessoal, a disciplina e o hábito do trabalho, em uma<br />
palavra <strong>–</strong> o cumprimento do dever. 47<br />
Diante deste pronunciamento, fica explícita a mensagem de que a criação<br />
do CMC estava estritamente vinculada com a proposta maior do Exército<br />
em formar indivíduos que reproduzissem a doutrina de segurança nacional. A<br />
educação oferecida pela instituição deveria garantir, portanto, a ordem interna<br />
e o controle das idéias, fundamentais para ser atingido o seu objetivo, e para<br />
isso caberia aos professores, apoiados no exemplo do inconfidente mineiro,<br />
incutir no espírito dos alunos esta consciência nacionalista.<br />
Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 14<br />
| História | 2009