canto - Repositório da Universidade dos Açores
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OS “CANTO” NOS JARDINS PAISAGÍSTICOS DA ILHA DE S. MIGUEL<br />
ticular momento de exaltação <strong>da</strong> fraterni<strong>da</strong>de universal, porque tudo que<br />
existe em volta do ser humano, tanto como ele, tem progenitura em Deus.<br />
Sob esta inspiração, a França <strong>da</strong> língua de “oc” reclama-se <strong>da</strong>s canções<br />
de amor, que terão correspondência portuguesa e variante autóctone<br />
de poética trovadoresca e cortesã nas cantigas de amigo.<br />
Mas este, é tempo também de heresias cristãs, de lutas feu<strong>da</strong>is, de<br />
papas e antipapas e, ain<strong>da</strong>, de reconquista no Ocidente peninsular.<br />
O jardim monástico, senhorial ou pontifício, não contém novi<strong>da</strong>des<br />
que lhe afirmem evolução de conceito e de organização. Lugar de meditação<br />
mística e, no Quattrocento, de inspiração poética humanística, de<br />
contemplação neoplatónica ou já aristotélica, ele é igualmente e indistintamente<br />
sinónimo de horta.<br />
A separação como enti<strong>da</strong>de autónoma <strong>da</strong>r-se-á na Itália do Alto<br />
Renascimento e do Maneirismo artísticos. O jardim é, então, nas luxuosas<br />
novas vilas palacianas, lugar privilegiado de fruição do belo, onde a vegetação<br />
se constitui cenário de antiga estatuária e de arquitecturas. É o “jardim<br />
decorativo”, com seus canteiros geométricos de flores e bosques ao longe 12 .<br />
Na outra Europa, ain<strong>da</strong> quinhentista, a França construirá os seus<br />
mais sumptuosos espaços ajardina<strong>dos</strong> submetendo-os inicialmente a<br />
dupla influência. Os relva<strong>dos</strong> flamengos conjugam-se com terraços, fontes,<br />
grutas e pavilhões do jardim italiano. Será desta combinação que, no<br />
século seguinte, Le Nôtre e Versalhes — expoentes maiores <strong>da</strong> jardinagem<br />
e do jardim francês clássico —, definirão um novo programa, que<br />
recolherá paulatina evolução. As novi<strong>da</strong>des que nele emergiram são,<br />
essencialmente, de relação diferente entre as diversas partes do jardim<br />
entre si, e do todo com o palácio, pelo uso que se faz <strong>dos</strong> jogos de água e<br />
o diverso modo de a<strong>da</strong>ptação do jardim ao terreno. É que, na Itália, mais<br />
do que prévia ordenação planimétrica, a jardinagem afirmara-se como<br />
a<strong>da</strong>ptação ao lugar, sem sujeição <strong>da</strong>s partes a uni<strong>da</strong>de compositiva, antes<br />
constituindo-se o jardim em parcelas autónomas, umas relativamente às<br />
outras e to<strong>da</strong>s por referência ao edifício.<br />
Não assim o jardim francês, determinado pela uni<strong>da</strong>de e em função<br />
do palácio que, pela sua posição dominante, permite alcançar o mais<br />
amplo panorama.<br />
12 Ver Pietro Porcinai (...), ob. ind., pp. 50-79.<br />
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