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Exposição<br />

Letras e <strong>cores</strong><br />

I<strong>de</strong>ias e autores<br />

<strong>de</strong> 5 a 16 <strong>de</strong> Outubro | Biblioteca Diana-Bar


LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

ULTIMATUM<br />

João Vaz <strong>de</strong> Carvalho<br />

O caçador Simão<br />

Jaz el-rei entrevado e moribundo<br />

Na fortaleza lôbrega e silene…<br />

Corta a mu<strong>de</strong>z sinistra o mar profundo…<br />

Chora a rainha <strong>de</strong>sgrenha<strong>da</strong>mente…<br />

Papagaio real, diz-me, quem passa?<br />

- É o príncipe Simão que vae á caça.<br />

Os sinos dobram pelo rei finado…<br />

Morte tremen<strong>da</strong>, pavorosa horror!...<br />

Sae <strong>da</strong>s almas atónitas um brado,<br />

Um brado immenso d’amargura e dor…<br />

Papagaio real, diz-me, quem passa?<br />

- É o príncipe Simão que vae á caça.<br />

Cospe o estrangieor affrontas assassinas<br />

Sobre o rosto <strong>da</strong> Patria a agonisar…<br />

Rugem nos corações furias leoninas,<br />

Erguem-se as mãos crispa<strong>da</strong>s para o ar!...<br />

Papagaio real, diz-me, quem passa?<br />

- É o príncipe Simão que vae á caça.<br />

A Pátria é morta! A Liber<strong>da</strong><strong>de</strong> é morta!<br />

Noite negra sem astros, sem pharoes!<br />

Ri o estrangeiro odioso á nossa porta,<br />

Guar<strong>da</strong> a Infamia os sepulcros <strong>de</strong> Heroes!<br />

Papagaio real, diz-me, quem passa?<br />

- É o príncipe Simão que vae á caça.<br />

Tiros ao longe numa lucta accesa!<br />

Rola indomitamente a multidão…<br />

Tocam clarins <strong>de</strong> guerra a Marselheza…<br />

Desaba um throno em súbita explosão!...<br />

Papagaio real, diz-me, quem passa?<br />

- É alguem, é alguem que foi á caça<br />

Do caçador Simão!...<br />

Vianna do Castello, 8 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1890.<br />

Guerra Junqueiro, Finis Patriae, Porto, Empreza<br />

Litteraria e Typographica, 1891.<br />

01<br />

1890 _ 11 <strong>de</strong> Janeiro - Ultimatum inglês.<br />

1891 _ 31 <strong>de</strong> Janeiro - Revolta republicana no Porto.<br />

1909 _ Fevereiro - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Liga Republicana <strong>da</strong>s Mulheres<br />

Portuguesas. _ 23, 24 e 25 <strong>de</strong> Abril - Congresso Republicano <strong>de</strong><br />

Setúbal - on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>cidiu tentar a via revolucionária para a<br />

conquista do po<strong>de</strong>r e implantação <strong>da</strong> república. Eleição <strong>de</strong> um<br />

novo Directório: Teófilo Braga, Basílio Teles, José Relvas,<br />

Cupertino Ribeiro e Eusébio Leão.<br />

1910 _ 10 <strong>de</strong> Fevereiro _ Primeiro número do semanário Alma<br />

Nacional, <strong>de</strong> António José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> (último nº. 29 <strong>de</strong> Set.) _ 5<br />

<strong>de</strong> Outubro - Proclamação <strong>da</strong> República. Teófilo Braga tornou-se<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República interino.<br />

1911 _ 20 <strong>de</strong> Abril - Lei <strong>de</strong> Separação <strong>da</strong> Igreja do Estado. Corte<br />

<strong>de</strong> relação com a Santa Sé.<br />

1916 _ Portugal entre na Guerra. Constituiu-se o Corpo<br />

Expedicionário Português, que iria combater em França, com 30<br />

mil homens, sob o comando do general Norton <strong>de</strong> Matos.<br />

A Cruza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Mulheres Portuguesas foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a 20 <strong>de</strong> Março<br />

<strong>de</strong> 1916, por iniciativa <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> mulheres, presidido por<br />

Elzira Dantas Machado, esposa do então Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República,<br />

Bernardino Machado. Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> para prestar assistência<br />

moral e material aos que <strong>de</strong>la necessitassem por motivo <strong>da</strong><br />

guerra com a Alemanha, nos termos <strong>da</strong> respectiva Lei Orgânica.<br />

1917 _ 5 <strong>de</strong> Dezembro - Revolução chefia<strong>da</strong> por Sidónio Pais -<br />

“República Nova”.<br />

1919 _ Janeiro e Fevereiro - Tentativas <strong>de</strong> restauração<br />

monárquica - Porto e Monsanto.<br />

1921 _ 15 <strong>de</strong> Outubro - primeiro número <strong>da</strong> Seara Nova.<br />

1926 _ 28 <strong>de</strong> Maio - Golpe Militar a que se seguiu uma ditadura.


02<br />

Ultimatum - Em resposta à tentativa portuguesa <strong>de</strong> ocupar as<br />

regiões africanas compreendi<strong>da</strong>s entre Angola e Moçambique, o<br />

ultimatum inglês provoca um clima nacionalista <strong>de</strong> agitação política e<br />

social marcado por gran<strong>de</strong> contestação ao sistema político <strong>de</strong><br />

governo e pela ascensão <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias republicanas.<br />

A questão religiosa - Um dos aspectos mais importantes <strong>da</strong><br />

propagan<strong>da</strong> republicana é a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> libertação do país <strong>da</strong><br />

influência nociva <strong>da</strong> Igreja, embora a atitu<strong>de</strong> anticlerical não seja<br />

exclusiva do Partido Republicano. Em 1911 é publica<strong>da</strong> a Lei <strong>da</strong><br />

Separação <strong>da</strong> igreja do Estado.<br />

5 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1910 - A República é proclama<strong>da</strong> nos Paços do<br />

Concelho <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Educação - No início do último quartel do século XIX, mais <strong>de</strong> quatro<br />

quintos <strong>da</strong> população portuguesa é analfabeta. Para os republicanos,<br />

a instrução constitui a base <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia e do exercício <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. A educação popular <strong>de</strong>ve ser laica, <strong>de</strong>mocrática e nacionalista.<br />

Assim, a acção republicana intensifica-se a partir <strong>da</strong> última<br />

déca<strong>da</strong> do séc. XIX, com a proliferação <strong>de</strong> centros republicanos.<br />

Mulheres - Ao longo do século XIX e nas primeiras déca<strong>da</strong>s do século<br />

XX algumas mulheres instruí<strong>da</strong>s tentam afirmar-se no espaço público,<br />

antes reservado aos homens, nomea<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong> escrita.<br />

Mo<strong>de</strong>rnismo - Movimento estético <strong>de</strong> vanguar<strong>da</strong>, pós simbolista,<br />

surgindo em Lisboa com a publicação <strong>da</strong> revista Orpheu em 1915.<br />

Expressa-se em atitu<strong>de</strong>s complexas e heterogéneas <strong>de</strong> repúdio e<br />

provocação às normas burguesas vigentes e numa procura <strong>de</strong> novas<br />

formas estéticas.<br />

Portugal na Gran<strong>de</strong> Guerra - A 9 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1916 Portugal entra<br />

formalmente na guerra. Alguns autores, como Jaime Cortesão e<br />

Augusto Casimiro, alistam-se no Corpo Expedicionário Português que<br />

combatia na Flandres.<br />

Seara Nova - Perante a crise política e social senti<strong>da</strong> no fianl <strong>da</strong> I<br />

República, um grupo <strong>de</strong> intelectuais (Raúl Proença, Jaime Cortesão e<br />

António Sérgio, entre outros) organiza-se em torno <strong>da</strong> revista Seara<br />

Nova. Partilhavam a i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> elites dirigente e <strong>de</strong> um projecto<br />

político mobilizador.<br />

MONARQUIA<br />

Com a parte girondina dos meus amigos bastava-me ce<strong>de</strong>r ao instinto para nos<br />

encontrarmos todos em uníssono absoluto. Era ponto <strong>de</strong> fé, para lá do postulado,<br />

que a regeneração do País só po<strong>de</strong>ria fazer-se <strong>de</strong>rrubando a Monarquia. Espíritos<br />

mo<strong>de</strong>rnos e homens <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> entregavam-se a essa tarefa <strong>de</strong> corpo e<br />

alma. Os comícios monstros que bal<strong>de</strong>avam Lisboa para os terrenos vagos <strong>da</strong><br />

Aveni<strong>da</strong> D. Amélia, hoje Almirante Reis, eram sinais pujantes <strong>da</strong> vaga <strong>de</strong>mocrática<br />

e liberal que açoutava o trono.<br />

A parte culta do País, na maioria, estava ganha à i<strong>de</strong>ia republicana. Os propagandistas<br />

tinham feito obra sobretudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>molição, e frutuosa como fora, só os<br />

censuravam os <strong>de</strong>srespeitados. Para se fazer um edifício novo on<strong>de</strong> só há ruínas<br />

e pardieiros, antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong> está indicado que se <strong>de</strong>ite abaixo e se removam<br />

os escombros. A casa lusitana estava velha e carcomi<strong>da</strong>, e os mais culpados<br />

eram os reis. Primeiro os absolutos, em tanto que senhores <strong>de</strong> corpos e almas,<br />

<strong>de</strong>pois os constitucionais, uma vez cingidos mesmo às normas <strong>da</strong> Carta, tinham<br />

sempre possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> influir no timão para que <strong>de</strong>ntro dos po<strong>de</strong>res que lhes<br />

confere a Constituição acima dos partidos, para disporem <strong>de</strong> espaço que permitisse<br />

representarem com eficácia a sem erguer atritos <strong>de</strong> nenhuma espécie o<br />

papel <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>radores plásticos.<br />

Em pleno século XX, antes <strong>de</strong> Fontes Pereira <strong>de</strong> Melo, Portugal, salvo a capital e<br />

duas ou três ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, viva em plena I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média. No geral, o povo sertanejo<br />

continuou a viver a vi<strong>da</strong> dos antepassados que há quinhentos, mil anos, habitando<br />

choças sem ar, sem luz, bebendo a água <strong>da</strong>s fontes <strong>de</strong> chafurdo, ignorando a<br />

higiene e o conforto. Muitas <strong>da</strong>s vilas continuavam liga<strong>da</strong>s à se<strong>de</strong> distrital pelos<br />

caminhos romanos e célticos, como ain<strong>da</strong> hoje suce<strong>de</strong> com as al<strong>de</strong>ia em relação<br />

à se<strong>de</strong> do concelho. O po<strong>de</strong>r central, à semelhança duma gran<strong>de</strong> santola, com as<br />

patas a vibrar aos quatro pontos, se fazia menção <strong>de</strong> saber que existia e on<strong>de</strong> a<br />

récua numerosa <strong>de</strong> portugueses, era apenas para os sugar.<br />

Aquilino Ribeiro, Um escritor confessa-se, Lisboa, Bertrand, 2008.<br />

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

Afonso Cruz


LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

5 DE OUTUBRO<br />

Bernardo Carvalho<br />

Nisto, <strong>de</strong> longe, uma sur<strong>da</strong> explosão abalou o ar tranquilo <strong>da</strong> manhã. Os pequenos<br />

pararam, voltaram-se a olhar o pai, que ficou sério, às escuta, um quase na<strong>da</strong><br />

pálido. O do quiosque <strong>de</strong>itou a cabeça <strong>de</strong> fora, disse - «Temo-la arma<strong>da</strong>!» - e <strong>de</strong>sapareceu.<br />

Dois, três estampidos cavos sacudiram <strong>de</strong> longe a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mal <strong>de</strong>sperta.<br />

Depois houve um estranho rumor que parecia <strong>de</strong> pranchas a <strong>de</strong>sabar confusamente,<br />

ou <strong>de</strong> portas <strong>de</strong> ferro ondulado a fechar-se a to<strong>da</strong> a pressa, um eco imenso…<br />

- É a fuzilaria! - disse o pai, e apertou os folhos ao corpo. Esqueceram por instantes<br />

o massacre dos índios e o banho <strong>de</strong> mar. O do quiosque tornou a recolher à pressa a<br />

mercadoria <strong>expo</strong>sta. Da Rua do Benformoso <strong>de</strong>sembocou um homem em cabelo,<br />

calças <strong>de</strong> ganga <strong>de</strong>sbota<strong>da</strong> e casaco remen<strong>da</strong>do, com um embrulho <strong>de</strong>baixo do<br />

braço. Pálido como um <strong>de</strong>funto, <strong>de</strong>sgrenhado, passou por eles a correr, gritou:<br />

- A revolução está na rua! Viva a República! - e <strong>de</strong>sapareceu para o lado <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong><br />

Dona Amélia. O largo recaiu na quietação, como se visse crescer a luz doira<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

manhã do Outubro e <strong>de</strong> insurreição. De longe continuava a rolar pelo céu a voz cava<br />

<strong>da</strong> artilharia, passavam raja<strong>da</strong>s intermitentes <strong>de</strong> fuzilaria. O homem punha os<br />

taipais. Muito branco, o pai abotoou o paletó:<br />

- Voltem para casa, filhos. A vossa mãe vai ficar rala<strong>da</strong> se os não vê aparecer.<br />

An<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>pressa. Digam-lhe que eu fui para o Hotel. Tu, Santiago, leva os teus<br />

irmãos pela mão. Voltem pelo mesmo caminho. Travessa do Maldonado… Direitinhos<br />

a casa! Vá, tenham juízo e a<strong>de</strong>us… Curvou-se a beijá-los. Tinha os olhos molhados, os<br />

beiços tremiam-lhe <strong>de</strong>baixo do bigo<strong>de</strong> cor <strong>de</strong> cobre escuro. Juntou-lhes as cabeças<br />

numa carícia comum e murmurou:<br />

- Viva a República, filhos… A<strong>de</strong>us!<br />

[...]<br />

Naquela noite, contra o costume, o sr. Augusto chegou cedo. Três dias tinha ficado<br />

fora <strong>de</strong> casa. Vinha pálido e fatigado, nem se tinha <strong>de</strong>spido, com a barba cresci<strong>da</strong>,<br />

mas radiante. Trazia uma mancheia <strong>de</strong> shrapnell, duma grana<strong>da</strong> que tinha explodido<br />

na lavan<strong>da</strong>ria do Hotel, uma recor<strong>da</strong>ção do Cinco-<strong>de</strong>-Outubro.<br />

José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso, Lisboa, Estampa, 1993 (1ª edição—1960).<br />

03<br />

António Cabral (1863-1956) As minhas memórias políticas, 4 vols.,<br />

Lisboa, Livr. Francisco Franco, 1929-1932.<br />

Tomás <strong>da</strong> Fonseca (1877-1968) Memórias dum chefe <strong>de</strong> gabinete,<br />

[pref. <strong>de</strong> Lopes <strong>de</strong> Oliveira], Lisboa, Livros do Brasil, 1949.<br />

José Rodrigues Miguéis (1901-1980), A Escola do Paraíso, Lisboa,<br />

Estampa, 1993; «Sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s para Dona Genciana», Léah e outras<br />

histórias, 9ª. Ed., Lisboa, Editorial Estampa, 1983.<br />

José Gomes Ferreira (1900-1985), Calça<strong>da</strong> do Sol, Lisboa, Moraes,<br />

1983.<br />

Aquilino Ribeiro (1885-1963), Um Escritor Confessa-se, Memórias,<br />

Amadora, Bertrand, 1974 [2ª ed. rev. e aument., Lisboa, Bertrand,<br />

2008]; Lápi<strong>de</strong>s parti<strong>da</strong>s, Lisboa, Bertrand, 1945 [Amadora, Bertrand,<br />

1985].<br />

Raúl Brandão (1867-1930), Memórias, 3 vols., Lisboa, Relógio d’Água,<br />

1998-2000.


04<br />

«O Governo Provisório <strong>da</strong> República faz saber que em nome <strong>da</strong><br />

República se <strong>de</strong>cretou, para valer como lei, o seguinte:<br />

Capítulo I<br />

Da liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência e <strong>de</strong> cultos<br />

Artigo 1º - A República reconhece e garante a plena liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consciência a todos os ci<strong>da</strong>dãos portugueses e ain<strong>da</strong> aos estrangeiros<br />

que habitarem o território português.<br />

Artigo 2º - A partir <strong>da</strong> publicação do presente <strong>de</strong>creto, com força <strong>de</strong><br />

lei, a religião católica apostólica romana <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser a religião do<br />

Estado e to<strong>da</strong>s as igrejas ou confissões religiosas são igualmente<br />

autoriza<strong>da</strong>s, como legítimas agremiações particulares, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não<br />

ofen<strong>da</strong>m a moral pública nem os princípios do direito político<br />

português.<br />

Artigo 3º - Dentro do território <strong>da</strong> República ninguém po<strong>de</strong> ser<br />

perseguido por motivos <strong>de</strong> religião, nem perguntando por autori<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

alguma acerca <strong>da</strong> religião que professa.<br />

Artigo 4º - A República não reconhece, não sustenta, nem subsidia<br />

culto algum; e por isso, a partir do dia 1 <strong>de</strong> Julho próximo futuro,<br />

serão suprimi<strong>da</strong>s nos orçamentos do estado, dos corpos administrativos<br />

locais e <strong>de</strong> quaisquer estabelecimentos públicos to<strong>da</strong>s as<br />

<strong>de</strong>spesas relativas ao exercício dos cultos.<br />

Lei <strong>da</strong> Separação <strong>da</strong> Igreja e do estado, 20 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1911.<br />

[...]»<br />

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

IGREJA<br />

Marta Torrão<br />

Assim as nações civiliza<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Europa, não só as carimba<strong>da</strong>s oficialmente <strong>de</strong><br />

católicas, como a nossa, mas outras come essa gran<strong>de</strong> pensadora que é a<br />

Alemanha, sofrem to<strong>da</strong>s mais ou menos duramente o jugo do papismo romano,<br />

que é em última análise o mais absurdo e irrisório travão posto pela bestiali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

humana à felici<strong>da</strong><strong>de</strong> comum, à expansão natural do nossos <strong>de</strong>stinos e à santa e<br />

libérrima glorificação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>!... De sorte que a organização social não melhorará<br />

senão quando tenhamos sacudido as algemas <strong>da</strong> Igreja e conseguido elevar, por<br />

meio <strong>de</strong> uma cultura cientifica universalmente espalha<strong>da</strong> e racionalmente distribuí<strong>da</strong>,<br />

os conhecimentos dos ci<strong>da</strong>dãos no que se refere ao mundo e ao homem,<br />

na engrenagem natural <strong>da</strong>s suas mútuas relações e na lógica estrutural <strong>da</strong> sua<br />

essência. Quando isto se conseguir, a solução <strong>de</strong>finitiva para o problema <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

pela paz, pelo amor, realizar-se-á então por si mesma.<br />

A questão <strong>da</strong> forma <strong>de</strong> governo chegará a não ter importância. «O indispensável<br />

é educar, <strong>de</strong>spertar, dignificar a moci<strong>da</strong><strong>de</strong>, formar ci<strong>da</strong>dãos livres! E radicalmente<br />

incutir nas massas o culto <strong>da</strong> razão, limpando do pesa<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> superstição as<br />

consciências, repudiando a tutela nefasta <strong>da</strong> Igreja e santificando o clarão<br />

emancipador <strong>da</strong> Escola!»<br />

Ana Botelho, Próspero Fortuna, Porto, Chardron, 1910<br />

A lenta mas persistente investi<strong>da</strong> com que a Igreja Católica, durante e após a<br />

primeira Gran<strong>de</strong> Guerra, procurou <strong>de</strong>molir a obra social que, em poucos anos <strong>de</strong><br />

República, conseguimos erguer, impõe-me o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>r, tanto aos novos<br />

agentes <strong>de</strong>ssa Igreja, como à <strong>de</strong>scuidosa geração que ela traz empenha<strong>da</strong> em<br />

ambiciosos <strong>de</strong>vaneios – as razões que tivemos para falar e agir como adiante<br />

po<strong>de</strong> verificar-se.<br />

As ru<strong>de</strong>s e também persistentes campanhas que, frente a frente, - pela escola,<br />

pela conferencia, pelo jornal, pelo livro e ain<strong>da</strong> pelas armas, - travamos com<br />

instituições que, fortemente abala<strong>da</strong>s, ruíram em 1910, bem merecem que a<br />

geração actual as consi<strong>de</strong>re e avalie. Pelo que foram, como também pelos<br />

ensinamentos que tanto esta como as futuras gerações hão-<strong>de</strong> pesar e recolher<br />

– caldiados e batidos como foram pela lógica e pelo sentimento, que os tornou<br />

amados pela Grei, e fecundos pelo sangue generoso com que foram ungidos.<br />

Tomás <strong>da</strong> Fonseca, Águas passa<strong>da</strong>s, Lisboa, edição <strong>de</strong> autor, 1950


LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

EDUCAÇÃO<br />

Teresa Lima<br />

Nas literaturas vivem todos os sonhos e aspirações humanas. To<strong>da</strong>s as experiências<br />

<strong>de</strong> sentimento aí aparecem: a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> nova, o amor, o enternecimento, a<br />

audácia. A alma arrasta<strong>da</strong> para a rigi<strong>de</strong>z e secura <strong>da</strong>s abstracções científicas<br />

precisa tomar contacto com a vi<strong>da</strong> real, se sorrisos e lágrimas, <strong>de</strong> amor e<br />

sofrimento, <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicações e heroísmo. Que monstruoso homem esse que aí<br />

passa ruminando fórmulas e esquecendo a vi<strong>da</strong>! Se dá alegria e felici<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual<br />

saber classificar uma planta, quanto mais não vale, po<strong>de</strong>r sentir-lhe a<br />

beleza, o inebriamento <strong>de</strong> perfume, adivinhar-lhe o sentido oculto, as palpitações<br />

intranhas. E tudo isto é economicamente inútil, mas tudo isto é moralmente<br />

sublime. A educação <strong>de</strong>ve <strong>da</strong>r o homem a si mesmo, envolvendo-o <strong>de</strong> clari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

interior; dá-lo à família pelo enternecimento, à humani<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo amor, ao Universo<br />

pelo <strong>de</strong>slumbramento e pelo sacrifício. Partindo <strong>de</strong> si, o homem <strong>de</strong>ve abraçar<br />

todo o Universo. Ser boca on<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as dores venham cantar; olhos on<strong>de</strong> todos<br />

os sofrimentos venham chorar lágrimas <strong>de</strong> pie<strong>da</strong><strong>de</strong> e ternura universais.<br />

Leornado Coimbra, Obras Completas, I, tomo I, Lisboa, INCM, 2004 (publicado em A Águia, Porto, ano I, 1º<br />

série, nº1, 1 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1910).<br />

[…] Quatro quintas partes do povo Português não sabem ler nem escrever, quer<br />

dizer: sabem falar incompletissimanente. A palavra escrita é imprescindível para<br />

a vi<strong>da</strong> social mo<strong>de</strong>rna. Actualmente ela é o instrumento usual mais importante <strong>da</strong><br />

sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> hoje, o homem que não sabe ler e<br />

escrever é um homem incompleto, <strong>de</strong>sarmado para a luta do pão quotidiano. É<br />

nestas lastimosas condições <strong>de</strong> inferiori<strong>da</strong><strong>de</strong> social que se encontra a maioria <strong>da</strong><br />

população portuguesa. Incapaz <strong>de</strong> receber e transmitir i<strong>de</strong>ias e sentimentos, o<br />

cérebro <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> massa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>quele impiedoso<br />

principio lamarckiano que con<strong>de</strong>na à morte o órgão que não trabalha, <strong>de</strong>finese,<br />

atrofia-se, lenhifica-se, e a alma portuguesa estagna na tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> morta<br />

<strong>da</strong>s águas paludosas. Acrescente-se a esta lenta agonia do espírito nacional a<br />

influencia corruptora e secular <strong>da</strong> educação jesuítica, sinistra e <strong>de</strong>primente, e a<br />

única coisa que espanta ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente é a pasmosa resistência <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sgraçado<br />

povo que tudo tem sofrido e que ain<strong>da</strong> não sucumbiu totalmente ao peso do<br />

seu mau <strong>de</strong>stino […]<br />

Manuel Laranjeira, O Pessimismo Nacional, Lisboa, Fnenesi, 2009 (publicado em O Norte, 7 <strong>de</strong> Janeiro 1908).<br />

05<br />

Alice Pestana (1860-1929), La educación en Portugal, Madrid, Junta<br />

para Amp.<strong>de</strong> Est.e Inv. Científicas, 1915.<br />

António Faria <strong>de</strong> Vasconcelos (1880-1939), Lições <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia e<br />

pe<strong>da</strong>gogia experimental, Lisboa: Antiga Casa Bertrand, [19—].<br />

João <strong>de</strong> Barros (1881-1960), A república e a escola, Lisboa: Aillaud,<br />

1914; Educação republicana, Lisboa: Aillaud e Bertrand, 1916.<br />

Ana <strong>de</strong> Castro Osório (1872-1935), Instrução e educação: crianças e<br />

mulheres, Lisboa: Guimarães & Ca., 1909.<br />

João <strong>de</strong> Deus Ramos (1878-1953), A reforma do ensino normal,<br />

Lisboa: Liv. Ferreira, 1912.<br />

António Sérgio (1883-1969), Educação cívica, Porto: Renascença<br />

Portuguesa, 1915, A função social dos estu<strong>da</strong>ntes e a sua preparação<br />

para a intervenção futura na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa, Porto: Renascença<br />

Portuguesa, 1917.<br />

Leonardo Coimbra (1883-1936), A questão universitária, Lisboa: Imp.<br />

<strong>de</strong> Libâno <strong>da</strong> Silva, 1919. O problema <strong>da</strong> educação nacional, [tese<br />

apresenta<strong>da</strong> ao Congresso <strong>da</strong> Esquer<strong>da</strong> Democrática em 1926], Porto:<br />

Marânus, 1926.<br />

Adolfo Lima (1874-1943), Educação e ensino: educação integral,<br />

Lisboa: Guimarães & Ca., 1914.<br />

Irene Lisboa (1892-1958), Mo<strong>de</strong>rnas Tendências <strong>da</strong> educação, Lisboa:<br />

Cosmos, imp. 1942.


06<br />

Guiomar Torresão (1844-1898), No theatro e na sala, [carta-prefácio<br />

<strong>de</strong> Camilo Castelo Branco], Lisboa, David Corazzi, 1881: Educação<br />

mo<strong>de</strong>rna: comédia em três actos, Lisboa, José Bastos, 1894.<br />

Angelina Vi<strong>da</strong>l (1853-1917), Ódio á Inglaterra, Lisboa, Imp. Minerva,<br />

1890. Semana <strong>de</strong> paixão: carta a sua magesta<strong>de</strong> a rainha Sra D.<br />

Amélia sobre os marinheiros recentemente con<strong>de</strong>nados no tribunal <strong>de</strong><br />

S. Julião <strong>de</strong> Barra, Lisboa, Typ. Artística, 1907.<br />

Alice Mo<strong>de</strong>rno (1867-1946), Versos <strong>da</strong> moci<strong>da</strong><strong>de</strong>: 1888-1911, Ponta<br />

Delga<strong>da</strong>, Typ. A. Mo<strong>de</strong>rno, 1911. Na véspera <strong>da</strong> incursão: peça em um<br />

acto, Ponta Delga<strong>da</strong>, Typ. A. Mo<strong>de</strong>rno, 1913.<br />

Virgínia <strong>de</strong> Castro e Almei<strong>da</strong> (1874-1945), a Mulher, Lisboa, Liv.<br />

Colónio, 1911.<br />

Ana <strong>de</strong> Castro Osório (1872-1935), A mulher no casamento e no<br />

divórcio, Lisboa, Guimarães Editores, 1911. De como Portugal foi<br />

chamado à guerra: história para crianças, Lisboa, Livr. Ed. Para<br />

Crianaças, 1918.<br />

Maria Vele<strong>da</strong> (1871-1955), A Conquista: discursos e conferências,<br />

Lisboa, Livr. Central <strong>de</strong> Gomes <strong>de</strong> Carvalho, 1909.<br />

Emília <strong>de</strong> Sousa e Costa (1877-1959), A Mulher no lar: arte <strong>de</strong> viver<br />

com economia, Lisboa, A. M. Teixeira, 1916.<br />

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

MULHERES<br />

Rachel Caiano<br />

Mulheres <strong>da</strong> minha terra!... Gatas borralheiras com o cérebro vazio, que esperam<br />

senta<strong>da</strong>s na lareira e com estremecimentos mórbidos, a hipotética aparição do<br />

príncipe encantado; cria<strong>da</strong>s graves, que passam ávi<strong>da</strong>s com a chave <strong>da</strong> dispensa<br />

e a agulha na mão, sem terem a menor noção <strong>da</strong> economia domestica nem <strong>de</strong><br />

higiene, confundindo a honesti<strong>da</strong><strong>de</strong> com o <strong>de</strong>sleixo <strong>da</strong> beleza; animais <strong>de</strong> carga ou<br />

<strong>de</strong> reprodução, ro<strong>de</strong>a<strong>da</strong>s <strong>de</strong> filhos que não sabem criar nem educar; bonecas <strong>de</strong><br />

luxo, «vesti<strong>da</strong>s como as senhoras <strong>de</strong> Paris» e com a inteligência to<strong>da</strong> absorvi<strong>da</strong><br />

na <strong>de</strong>cifração <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>s, incapazes <strong>de</strong> outro interesse ou <strong>de</strong> outra compreensão;<br />

pequenos fenómenos absurdos criados pela excepção <strong>de</strong> uma instrução<br />

levemente superior e que, na vacui<strong>da</strong><strong>de</strong> do meio, aparecem como prodigiosos<br />

foles cheios <strong>de</strong> vento, assoprados <strong>de</strong> vai<strong>da</strong><strong>de</strong>, anormais e infelizes; instrumentos<br />

passivos nas mãos habilidosas do jesuitismo que as mo<strong>de</strong>la como cera; servidoras<br />

ferventes do snobismo e <strong>da</strong> bisbilhotice; imitadoras superficiais <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />

que mal conhecem…<br />

Pobres mulheres <strong>da</strong> minha terra!<br />

Virgínia <strong>de</strong> Castro e Almei<strong>da</strong>, in «Prefácio», A Mulher, Lisboa. Liv. Colónia, 1913.<br />

A «Liga Republicana <strong>da</strong>s Mulheres Portuguesas», interpretando as aspirações <strong>da</strong><br />

minoria culta <strong>da</strong>s mulheres <strong>de</strong>ste país, e o sentir, embora inexpresso, <strong>da</strong> sua<br />

quasi totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mergulha<strong>da</strong> na mais crassa ignorância e na mais culposa atonia,<br />

resolveu na sua assembleia geral <strong>de</strong> 19 do corrente vir até vós, singelamente e<br />

<strong>de</strong>mocraticamente, para apresentar ao Governo Provisório <strong>da</strong> República as<br />

reclamações que mais urgentemente se fazem necessárias para entrarmos<br />

<strong>de</strong>cisivamente num caminho largo e progressivo <strong>de</strong> renovação social.<br />

A situação <strong>da</strong> mulher em Portugal é, perante as leis e os costumes, a mais<br />

<strong>de</strong>primente e vexatória para seres livres, mas nós não vimos <strong>expo</strong>r teorias e<br />

problemas floreando estilo, vimos, apresentando as nossas justas queixas,<br />

reclamar aquilo que é do nosso mais imediato interesse, mas interessa também<br />

a to<strong>da</strong> a colectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> Portuguesa.<br />

As nossas palavras são simples, justas, concretas, resumindo ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las<br />

uma aspiração libertadora, que em si contém séculos <strong>de</strong> servidão, sofrimento e<br />

vexame. Nós vimos pedir ao Governo Provisório <strong>da</strong> República, que é legitimo<br />

Governo do Povo, eleito pelo esforço re<strong>de</strong>ntor <strong>de</strong> todos os que ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente<br />

amam a terra portuguesa, as leis que mais correspon<strong>de</strong>m, ás necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

imediatas <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> mulher, individualmente, ci<strong>da</strong>dã livre <strong>de</strong> uma pátria livre<br />

e respeita<strong>da</strong>.<br />

Ana <strong>de</strong> Castro Osório, A Mulher no casamento e no divórcio, Lisboa, Guimarães & Cª. Editores, 1911.


LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

MODERNISMO<br />

Jorge Miguel<br />

Basta pum basta!<br />

Basta pum basta!<br />

Uma geração que consente <strong>de</strong>ixar-se representar por um Dantas é uma geração<br />

que nunca o foi. É um coio d’indingentes e <strong>de</strong> cegos! É uma resma <strong>de</strong> charlatães e<br />

<strong>de</strong> vendidos, e só po<strong>de</strong> parir abaixo <strong>de</strong> zero!<br />

Abaixo a geração!<br />

Morra o Dantas, morra! Pim!<br />

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!<br />

Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!<br />

O Dantas é um cigano!<br />

O Dantas é meio cigano!<br />

O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias<br />

para car<strong>de</strong>ais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!<br />

O Dantas pesca tanto <strong>de</strong> poesia que até faz sonetos com ligas <strong>de</strong> duquesas!<br />

O Dantas é um habilidoso!<br />

O Dantas veste-se mal!<br />

O Dantas usa ceroulas <strong>de</strong> malha!<br />

O Dantas especula e inocula os concubinos!<br />

O Dantas é Dantas!<br />

O Dantas é Júlio!<br />

Morra o Dantas, morra! Pim!<br />

[…]Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do pais<br />

mais atrasado <strong>da</strong> Europa e <strong>de</strong> todo o mundo! O país mais selvagem <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

Áfricas! O exílio dos <strong>de</strong>gre<strong>da</strong>dos e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus!<br />

O entulho <strong>da</strong>s <strong>de</strong>svantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-<strong>de</strong> abrir os<br />

olhos um dia – se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a<br />

meu lado, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> que Portugal tem <strong>de</strong> ser qualquer coisa <strong>de</strong> asseado!<br />

Morra o Dantas, morra! Pim!<br />

José Alma<strong>da</strong>–Negreiros, Manifesto Anti–Dantas e por extenso, s.I., ed. De autor, 1915.<br />

07<br />

Camilo Pessanha (1867-1926), Clepsydra, [ed. <strong>de</strong> Ana <strong>de</strong> Castro<br />

Osório, reunindo poemas ditados <strong>de</strong> memória pelo próprio autor],<br />

Lisboa, Lusitânia, 1920.<br />

Teixeira <strong>de</strong> Pascoaes (1877-1952), A sau<strong>da</strong><strong>de</strong> e o saudosismo:<br />

dispersos e opúsculos, [compilação, introdução, fixação e notas <strong>de</strong><br />

Pinharan<strong>da</strong> Gomes], Lisboa, Assírio & Alvim, 1988. Livro <strong>de</strong> memórias,<br />

Coimbra, Atlânti<strong>da</strong>, 1928 [pref. <strong>de</strong> António Cândido Franco, Lisboa,<br />

Assírio & Alvim, 2001].<br />

Luiz <strong>de</strong> Montalvor (1891-1947), O livro <strong>de</strong> poemas <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Montalvor,<br />

[ed. De Arnaldo Saraiva], Porto, Campo <strong>da</strong>s Letras, 1998.<br />

António Botto (1897-1959), Canções, 2ª ed., muito aumenta<strong>da</strong><br />

[apreendi<strong>da</strong> por or<strong>de</strong>m do governo]. Lisboa, Olisipo, 1922.<br />

António Ferro (1895-1956), Teoria <strong>da</strong> indiferença, Lisboa, Portugália,<br />

1920; Leviana: novela em fragmentos, Lisboa, H. Antunes, 1921.<br />

Fernando Pessoa (1888-1935), Mensagem, Lisboa, Parceria A. M.<br />

Pereira Editora, 1934 [ed. António Apolinário Lourenço, Coimbra,<br />

Angelus Novus, 2008].<br />

Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro (1890-1916), A confissão <strong>de</strong> Lúcio, Lisboa, ed.<br />

do autor, 1914; Dispersão, Lisboa, Tipografia do Comércio, 1914.<br />

Alma<strong>da</strong> Negreiros (1893-1970), Ultimatum futurista às gerações<br />

portuguesas do século XX, 1917 [Lisboa, Ática, 2000].


08<br />

Afonso Lopes Vieira (1878-1946), Ao Sol<strong>da</strong>do Desconhecido (Morto<br />

em França), Lisboa, 1921.<br />

André Brun (1881-1926), A malta <strong>da</strong>s trincheiras: migalhas <strong>da</strong> Gran<strong>de</strong><br />

Guerra, 1917-1918, Lisboa, Guimarães, 1918.<br />

Jaime Cortesão (1884-1960), Memórias <strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Guerra (1916-<br />

1919), Porto, edição <strong>da</strong> «Renascença Portuguesa», 1919.<br />

Aquilino Ribeiro (1885-1963), “A Guerra”, Um Escritor Confessa-se.<br />

Memórias, Amadora, Bertrand, 1974 [2ª ed. rev. e aument.].<br />

Augusto Casimiro (1889-1967), Nas Trincheiras <strong>da</strong> Flandres, Porto,<br />

Renascença Portuguesa, 1919; Calvário <strong>da</strong> Flandres, Porto, Renascença<br />

Portuguesa, 1920.<br />

Pina <strong>de</strong> Morais (1889-1953), Ao Parapeito, 2ª. ed., Porto, Renascença<br />

Portuguesa, 1919 [3ª. ed. Porto, Maranus, 1924].<br />

Maria Lamas (1893-1983), Para Além do Amor, [S.l.: s.n.], 1935<br />

[Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 2003].<br />

Carlos Oliveira (1921-1981), “Look Back in Anger”, Sobre o Lado<br />

Esquerdo in Trabalho Poético, Lisboa, Assírio & Alvim, 2003 [1ª ed.<br />

1968].<br />

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

GRANDE GUERRA<br />

Carla Nazareth<br />

Março <strong>de</strong> 1916. Mazina, Kuangar, Naulila… Nomes que soam como bofeta<strong>da</strong>s.<br />

Depois hesita-se, disputa-se, combate-se. Já a face arrefece. Alguns querem<br />

mesmo oferecer a outra.<br />

Mais um passo: requisitam-se os navios… E a hora gran<strong>de</strong> bateu: estala a <strong>de</strong>claração<br />

<strong>da</strong> Alemanha. Na câmara a sala, <strong>de</strong> pé, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as carteiras até às galerias,<br />

ao formigueiro humano, <strong>de</strong>lira e aclama, com uma só boca: Viva a República! Viva<br />

a guerra! As almas abriram caminho umas para as outras e a emoção <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

um multiplica-se pelo entusiasmo frenético <strong>da</strong> turba. Ao meu lado este gran<strong>de</strong><br />

Gavroche, que passou a vi<strong>da</strong> a rir e a <strong>de</strong>screr, tem os olhos afogados em lágrimas.<br />

Uma voz vai erguer-se talvez com fria dúvi<strong>da</strong>, mas a on<strong>da</strong> <strong>de</strong> fogo tudo<br />

engole. Uma serie<strong>da</strong><strong>de</strong> nova vinca as frontes e põe labare<strong>da</strong>s nos olhos. Comungamos<br />

a Pátria; somos em estado <strong>de</strong> graça.<br />

Não durmo nessa noite. É um diálogo entre mim e a consciência. Decido oferecer-me<br />

para partir, e ao dia seguinte, em carta ao Ministério <strong>da</strong> Guerra, Norton<br />

<strong>de</strong> Matos, <strong>de</strong>claro-lhe sacrificar essa gran<strong>de</strong> obrigação os sagrados <strong>de</strong>veres <strong>de</strong><br />

família, pois entendo que esta guerra terá para o bem <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong><strong>de</strong> consequências<br />

tamanhas, quais ninguém mesmo po<strong>de</strong> prever <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já. Por terras <strong>de</strong><br />

Portugal, nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o povo ergue-se ao grito <strong>da</strong> guerra. Em Lisboa uma multidão<br />

imensa vai à <strong>Câmara</strong> <strong>Municipal</strong> manifestar ao Chefe <strong>de</strong> Estado o seu apoio.<br />

Céu azul rútilo. Dia <strong>da</strong> apoteose na terra e nas almas. Olavo Bilac, o gran<strong>de</strong> Poeta<br />

brasileiro, assiste ao <strong>de</strong>sfilar <strong>da</strong> multidão e do alto duma varan<strong>da</strong> saú<strong>da</strong> o Povo<br />

que o aclama. Ao sair do Palácio do Município, na carruagem presi<strong>de</strong>ncial, além<br />

do ministro inglês e do Chefe do Governo, Dr. A. J. d’Almei<strong>da</strong>, vai também Guerra<br />

Junqueiro. Os dois poetas lusitanos, epónimos <strong>da</strong>s suas nações, sagram com a<br />

sua assistência o acto ingénuo <strong>da</strong> turba.<br />

[…] É inútil negá-lo: uma gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> nação não pensa nem sofre. Há três<br />

séculos que está entorpeci<strong>da</strong>. Ignorância, egoísmo e cobardia. São o zero à<br />

esquer<strong>da</strong>. Por si na<strong>da</strong> valem. E <strong>de</strong>ntre dos que se disputam a primazia <strong>de</strong> factores<br />

<strong>da</strong> massa inerte, os valores mais altos uniram-se em torno à ban<strong>de</strong>ira <strong>da</strong><br />

República por a<strong>da</strong>ptação necessária a esta lei natural: só as formas e as i<strong>de</strong>ias<br />

progressistas são elementos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> contínua, isto é, se multiplicam.<br />

Foi essa parte <strong>da</strong> nação – poucos chefes e muito povo -, que, ao estalar a gran<strong>de</strong><br />

guerra, encarnou genialmente esta ver<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Jaime Cortesão, Memorias <strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Guerra (1916- 1919), Porto, Renascença Portuguesa. 1919.


LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

CHIADO<br />

Gémeo Luís<br />

Ali no Chiado é que se vê tudo bem patente. A Havanesa é um termómetro. A<br />

gente que parava àquela esquina foi substituí<strong>da</strong> por outra gente <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>: o<br />

Tabordinha, o António <strong>de</strong> Azevedo, com o secretário, que diz agora <strong>de</strong>le cobras e<br />

lagartos; o Barbosa Colen, o Júlio <strong>de</strong> Vilhena a mamar um gran<strong>de</strong> charuto, etc.,<br />

foram substituídos por ilustres <strong>de</strong>sconhecidos e, entre eles, um muito feio, <strong>de</strong><br />

mãos espalma<strong>da</strong>s, luvas brancas nas mãos e flor enorme na botoeira, que dá no<br />

goto a quem passa.<br />

Que lugar arranjou este tipo que ain<strong>da</strong> há pouco pedia meia coroa empresta<strong>da</strong>,<br />

nos cafés? Os outros estão na província ou na emigração. Retirados, ofendidos,<br />

dizem muito mal do novo regime. Alguns, para matar o tempo, escrevem livros,<br />

como o António Cabral; outros limitam-se a remoer e a sonhar a que<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

república e a voltar ao po<strong>de</strong>r. Agora é que eles sabem o que é ser pobre - e, pior<br />

que pobre - não ser ninguém. Um morreu <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgosto. - Isto não dura… - Entretanto,<br />

ninguém lhes faz a corte, ninguém lhes pe<strong>de</strong> na<strong>da</strong>: não têm importância<br />

nenhuma <strong>de</strong>4s<strong>de</strong> que per<strong>de</strong>ram a situação política. Estão abandonados. Agora é<br />

que eles começam a compreen<strong>de</strong>r que o seu valor era o valor <strong>da</strong> ficção José<br />

Luciano ou <strong>da</strong> ficção Hintze Ribeiro. É com uma certa satisfação que a gente os<br />

vê apeados dos seus pe<strong>de</strong>stais - agarrados <strong>de</strong>sespera<strong>da</strong>mente à literatura<br />

sediça - enquanto aquele, que era amanuense <strong>de</strong> qualquer repartição, diz, quando<br />

o acusam <strong>de</strong> pouco honesto: - Sim, sim, mas agora não torno a passar fome!... -<br />

meteu-se em bancos, em companhias, em negócios… Os outros incharam num<br />

instante.<br />

Raul Brandão, Memórias III, ed. José Carlos Seabra Pereira, Lisboa, Relógio d’Água, 2000.<br />

Fui ontem para a galeria do S. Luís. Estava tudo cheio <strong>de</strong> gente, <strong>da</strong> que antigamente<br />

frequentava a plateia, repleta <strong>de</strong> novos-ricos e <strong>de</strong> mulheres <strong>de</strong> xale.<br />

To<strong>da</strong> a baixa <strong>de</strong> Lisboa se está a transformar em brancos, casas <strong>de</strong> câmbio e<br />

casas <strong>de</strong> batota. Um dia <strong>de</strong>stes jantei no Leão Triste, que estava abarrotado <strong>de</strong><br />

mulheres, e o Columbano, sentado ao meu lado, disse: - ain<strong>da</strong> me lembro do<br />

tempo em que não entrava nos restaurantes nenhuma mulher séria. Era uma<br />

vergonha. Hoje está tudo cheio <strong>de</strong> mulheres a comer nos restaurantes, porque<br />

há muito dinheiro e a falta <strong>de</strong> criados é gran<strong>de</strong>.<br />

Raul Brandão, Memórias III, ed. José Carlos Seabra Pereira, Lisboa, Relógio d’Água, 2000.<br />

09<br />

Teófilo Graga (1843-1924), História <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias republicanas em<br />

Portugal, Lisboa: Nova Livraria Internacional, 1880 [Lisboa, Veja,<br />

1983].<br />

Teixeira <strong>de</strong> Queirós [Bento Moreno] (1848-1919), O Sallustio<br />

Nogueira, estudo <strong>de</strong> política contemporânea (romance), Lisboa, Mattos<br />

Moreira & Cardosos, 1883.<br />

Guerra Junqueiro (1850-1930), A velhice do Padre Eterno, Porto,<br />

Chardron, 1885 [Mem Martins, Publicações Europa-América, 1889].<br />

Abel Botelho (1856-1917), Amor crioulo: vi<strong>da</strong> argentina, Porto,<br />

Chardron, 1919; O barão <strong>de</strong> Lavos, 2ª ed., Porto, Livraria Chardron,<br />

1898 [O barão <strong>de</strong> Lavos, Porto, Lello Editores, 1984].<br />

Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), Gente singular, Lisboa, Clássica<br />

Editora, 1909; Maria A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> (1876-1925), Lisboa, Seara Nova, 1938.<br />

Júlio Dantas, A ceia dos car<strong>de</strong>aes, Lisboa, Tavares Cardoso e Irmão,<br />

1902 [54ª ed. Lisboa, Liv. Clássica, 1993].<br />

Raul Brandão (1867-1930), Os pobres, Lisboa, Empresa <strong>da</strong> História <strong>de</strong><br />

Portugal, 1906 [Lisboa, Marujo, 1986]; Húmus, Porto, Renascença<br />

Portuguesa, 1917 [Matosinhos, QuidNovi, 2008].<br />

Teixeira <strong>de</strong> Pascoaes (1887-1952), Elegias, Porto, s.n., 1912.<br />

António Patrício (1878-1930), O fim: história dramática em dois<br />

quadros, Porto, Chardron, 1909.<br />

Raul Proença (1884-1941), Páginas <strong>de</strong> política, 2 vols. [pref. De<br />

<strong>Câmara</strong> Reis], Lisboa, Seara Nova, 1938-1939.<br />

Aquilino Ribeiro (1885-1963), A via sinuosa, Lisboa, Aillaud e<br />

Bertrand, 1918 [Lisboa, Bertrand, 1985]; An<strong>da</strong>m faunos pelos bosques,<br />

Lisboa, Aillaud e Bertrand, 1926 [Lisboa, Bertrand, 1985].


10<br />

Alma Feminina (Lisboa, 1907, Dir. Albertina Paraíso)<br />

Nova Silva (Porto, 1907, Dir. Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão,<br />

Cláudio Basto e Álvaro Pinto).<br />

Alma Nacional (Fev. 1919, Dir. António José <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>)<br />

A Águia (Porto, 1910, Dir. Álvaro Pinto, Teixeira <strong>de</strong> Pascoaes, Leonardo<br />

Coimbra e outros)<br />

A Vi<strong>da</strong> Portuguesa (Porto, 1912, Dir. Jaime Cortesão)<br />

Educação Feminina (Lisboa, 1913, Dir. Irene Lisboa e Il<strong>da</strong> Moreira)<br />

Alma Nova (Faro/Lisboa, 1914)<br />

Orpheu (Lisboa, 1915, Dir. Luís <strong>de</strong> Montalvôr e Ronald <strong>de</strong> Carvalho;<br />

Fernando Pessoa e Mário <strong>de</strong> Sá Carneiro)<br />

Portugal Futurista (Lisboa, 1917, Dir. Carlos Filipe Porfírio)<br />

Seara Nova (Lisboa, 1921, Dir. Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro,<br />

Jaime Cortesão, <strong>Câmara</strong> Reys, Raul Brandão, Raul Proença António<br />

Sérgio, Sarmento Pimentel e outros)<br />

Contemporânea (Lisboa, 1922, Dir. José Pacheco)<br />

Homens Livres (Lisboa, 1923, Dir. António Sérgio)<br />

Athena (Lisboa, 1924, Dir. Fernando Pessoa e Rui Vaz)<br />

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA<br />

REVISTAS<br />

Alex Gozblau<br />

O fim <strong>de</strong>sta Revista, como órgão <strong>da</strong> »Renascença Portuguesa» será, portanto,<br />

<strong>da</strong>r um sentido às energias intelectuais que a nossa Raça possui; isto é, colocálas<br />

em condições <strong>de</strong> se tornarem fecun<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem realizar o i<strong>de</strong>al que,<br />

neste momento histórico, abrasa to<strong>da</strong>s as almas sinceramente portuguesas: -<br />

Criar um novo Portugal, ou melhor ressuscitar a Pátria Portuguesa, arrancá-la<br />

do túmulo on<strong>de</strong> a sepultaram alguns séculos <strong>de</strong> escuri<strong>da</strong><strong>de</strong> física e moral, em<br />

que os corpos <strong>de</strong>finharam e as almas amorteceram. Por isso, a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> a que<br />

me referi se intitula «Renascença Portuguesa». Mas não imagine o leitor que a<br />

palavra Renascença significa simples regresso ao Passado. Não! Renascer é<br />

regressar às fontes originárias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, mas para criar uma nova vi<strong>da</strong>.<br />

Teixeira <strong>de</strong> Pascoaes, «Renascença», in A Águia, vol. I, 2ª Série, nº 1, Janeiro 1912.<br />

Nossa pretensão é formar, em grupo ou i<strong>de</strong>ia, um número escolhido <strong>de</strong> revelações<br />

em pensamento ou arte, que sobre este princípio aristocrático tenham em<br />

ORPHEU o seu i<strong>de</strong>al esotérico e bem nosso <strong>de</strong> nos sentirmos e conhecermo-nos.<br />

[...] E assim, esperançados seremos em ir a direito <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> bom<br />

gosto e refinados propósitos em arte que isola<strong>da</strong>mente vivem para aí, certos que<br />

assinalamos como os primeiros que somos em nosso meio alguma cousa <strong>de</strong><br />

louvável e tentamos por este forma, já revelar um sinal <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, esperando dos<br />

que formam o público leitor <strong>de</strong> selecção, os esforços do seu contentamento e<br />

carinho com a realização <strong>da</strong> obra literária do ORPHEU.<br />

Luiz <strong>de</strong> Montalvôr, Orpheu, nº1, 1915.<br />

«Renovar a mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> elite portuguesa, tornando-a capaz <strong>de</strong> um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro<br />

movimento <strong>de</strong> salvação; Criar uma opinião pública nacional que exija e apoie as<br />

reformas necessárias; Defen<strong>de</strong>r os interesses supremos na Nação, opondo-se ao<br />

espírito <strong>de</strong> rapina <strong>da</strong>s oligarquias dominantes e ao egoísmo dos grupos, classes<br />

e partidos; Protestar contra todos os movimentos revolucionários, e to<strong>da</strong>via<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>finir a gran<strong>de</strong> causa <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira Revolução; Contribuir para<br />

formar, acima <strong>da</strong>s Pátrias, a união <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as Pátrias - uma consciência internacional<br />

bastante forte para não permitir novas lutas fratrici<strong>da</strong>s.»<br />

Seara Nova, nº1, Outubro 1921.


01 ULTIMATUM<br />

JOÃO VAZ DE CARVALHO<br />

02 MONARQUIA<br />

AFONSO CRUZ<br />

03 5 DE OUTUBRO<br />

BERNARDO CARVALHO<br />

04 IGREJA<br />

MARTA TORRÃO<br />

05 EDUCAÇÃO<br />

TERESA LIMA<br />

06 MULHERES<br />

RACHEL CAIANO<br />

07 MODERNISMO<br />

JORGE MIGUEL<br />

08 GRANDE GUERRA<br />

CARLA NAZARETH<br />

09 CHIADO<br />

GÉMEO LUÍS<br />

10 REVISTAS<br />

ALEX GOZBLAU<br />

“Eu, meu senhor, não sei o que é a República, mas não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser uma coisa santa. Nunca na igreja senti<br />

um calafrio assim. Perdi a cabeça então, como os outros todos. Todos a per<strong>de</strong>mos. Atirámos então as barretinas<br />

ao ar. Gritámos então todos: viva, viva, viva a República.”<br />

(sol<strong>da</strong>do implicado na reviravolta durante o julgamento)<br />

Manifesto dos emigrados <strong>da</strong> revolução portuguesa <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1891.<br />

LETRAS E AUTORES<br />

Guerra Junqueiro (1850-1923) | Aquilino Ribeiro<br />

(1885-1963) | José Rodrigues Miguéis (1901-1980) |<br />

Abel Botelho (1856-1917) | Tomás <strong>da</strong> Fonseca (1877-<br />

1968) | Manuel Laranjeira (1877-1912) | Virgínia <strong>de</strong><br />

Castro e Almei<strong>da</strong> (1874-1945) | Ana <strong>de</strong> Castro Osório<br />

(1872-1935) | José <strong>de</strong> Alma<strong>da</strong> Negreiros (1893-1970) |<br />

Jaime Cortesão (1884-1960) | Raul Brandão (1867-<br />

1930) | Revistas Literárias – A ÁGUIA, ORPHEU, SEARA<br />

NOVA<br />

IDEIAS<br />

Ultimatum | Monarquia | 5 <strong>de</strong> Outubro | Igreja |<br />

Educação | Mulheres | Mo<strong>de</strong>rnismo | Gran<strong>de</strong> Guerra<br />

Chiado | Revistas<br />

CORES<br />

João Vaz <strong>de</strong> Carvalho | Afonso Cruz<br />

Bernardo Carvalho | Marta Torrão | Teresa Lima<br />

Rachel Caiano | Jorge Miguel | Carla Nazareth<br />

Gémeo Luís | Alex Gozblau<br />

O que é a <strong>expo</strong>sição?<br />

A Direcção-Geral do Livro e <strong>da</strong>s Bibliotecas convidou<br />

<strong>de</strong>z ilustradores a trabalhar <strong>de</strong>z temas, a partir <strong>de</strong><br />

textos <strong>de</strong> alguns autores contemporâneos <strong>da</strong><br />

República.<br />

Exposição<br />

- Letras e Cores, I<strong>de</strong>ias e Autores <strong>da</strong> República<br />

Organização<br />

- Direcção Geral do Livro e <strong>da</strong>s Bibliotecas<br />

- Comissão Nacional para as<br />

Comemorações do Centenário <strong>da</strong> República<br />

Montagem e Divulgação<br />

Biblioteca <strong>Municipal</strong> Rocha Peixoto<br />

Na Maré <strong>da</strong> República<br />

Arranjo gráfico - Hél<strong>de</strong>r Jesus

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