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RBR 52(4) - Book.indb - Sociedade Brasileira de Reumatologia

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EDITORIAL<br />

Artrite reumatoi<strong>de</strong>: por que tratar apenas a<br />

artrite, sabendo que comorbida<strong>de</strong>s são comuns<br />

e <strong>de</strong>terminam morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong>?<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

N<br />

os últimos anos houve muitos avanços na abordagem<br />

do paciente com artrite reumatoi<strong>de</strong> (AR).<br />

Destacamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diagnóstico em fase<br />

mais inicial da doença, graças aos novos critérios <strong>de</strong> classifi cação<br />

elaborados por um Comitê do EULAR (European League<br />

Against Rheumatism – Liga Europeia Contra o Reumatismo) e<br />

pelo American College of Rheumatology, em 2010, e os novos<br />

testes laboratoriais, como a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> presença <strong>de</strong> anticorpos<br />

contra proteínas citrulinadas. 1,2 Outra conquista foi em relação<br />

à mudança no tratamento <strong>de</strong>sses pacientes, com a utilização<br />

<strong>de</strong> combinações <strong>de</strong> drogas modifi cadoras do curso da doença<br />

(DMCD) sintéticas e biológicas. 3<br />

Consi<strong>de</strong>rando tais avanços no diagnóstico e no tratamento<br />

específi co da AR, <strong>de</strong>vemos fi car satisfeitos com o que já temos<br />

oferecido a esses pacientes? A resposta é não. O número <strong>de</strong><br />

internações, as comorbida<strong>de</strong>s não tratadas e a mortalida<strong>de</strong><br />

ainda são elevados. 4,5<br />

A AR é mais que uma doença articular, e há ocorrência<br />

<strong>de</strong> inúmeras alterações infl amatórias sistêmicas. As citocinas<br />

mais expressas nas articulações dos pacientes com AR, como<br />

fator <strong>de</strong> necrose tumoral (TNF), interleucina (IL) 1, IL6 e<br />

IL17, também estão elevadas na circulação e são implicadas<br />

em inúmeros processos, como maior resistência à insulina e<br />

maior lesão endotelial vascular. 6<br />

Na população sem AR, é sabido que a infl amação tem<br />

papel chave no <strong>de</strong>senvolvimento da placa aterosclerótica, com<br />

maior infi ltrado <strong>de</strong> linfócitos T e maior expressão <strong>de</strong> citocinas<br />

<strong>de</strong>rivadas da ativação <strong>de</strong> linfócitos Th1. Assim, é fácil enten<strong>de</strong>r<br />

por que os pacientes com AR, uma doença infl amatória<br />

sistêmica, têm maior prevalência <strong>de</strong> aterosclerose e eventos<br />

cardiovasculares. 7<br />

Outras condições clínicas não articulares são também importantes<br />

e estão discutidas nesse Consenso sobre comorbida<strong>de</strong>s<br />

em AR, como a ocorrência <strong>de</strong> diabetes mellitus, resistência<br />

à insulina, hipertensão arterial sistêmica, trombose venosa,<br />

osteoporose e neoplasias. 8 A presença <strong>de</strong>ssas comorbida<strong>de</strong>s em<br />

pacientes com AR tem importante impacto na sobrevida <strong>de</strong>sses<br />

pacientes e na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, muitas vezes justifi cando um<br />

tratamento individualizado da condição artrítica, diante das<br />

implicações dos diferentes efeitos das drogas antirreumáticas<br />

nessas comorbida<strong>de</strong>s.<br />

Diante da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhor tratarmos os pacientes<br />

com AR, a Comissão <strong>de</strong> AR da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Reumatologia</strong> publica o terceiro <strong>de</strong> quatro artigos programados<br />

para o manejo do paciente com AR. O objetivo <strong>de</strong>sse artigo aqui<br />

publicado sobre comorbida<strong>de</strong>s foi elaborar recomendações<br />

para o correto manejo das comorbida<strong>de</strong>s em AR e <strong>de</strong>talhar as<br />

comorbida<strong>de</strong>s mais prevalentes e sua associação com a doença<br />

e seu tratamento. Enten<strong>de</strong>mos que cabe ao reumatologista<br />

reconhecer precocemente essas comorbida<strong>de</strong>s, muitas vezes<br />

com expressão subclínica diante da intensida<strong>de</strong> das queixas<br />

articulares e das modifi cações do curso clínico <strong>de</strong>terminadas<br />

pela AR e seu tratamento. É fundamental enten<strong>de</strong>r que as comorbida<strong>de</strong>s<br />

muitas vezes <strong>de</strong>correm diretamente da presença<br />

da AR. Para exemplifi car, a hipertensão aterial sistêmica em<br />

pacientes com AR está associada à infl amação sistêmica e ao<br />

uso <strong>de</strong> medicações utilizadas na AR, como anti-infl amatórios<br />

não hormonais, corticoi<strong>de</strong>s e DMCD, como lefl unomida e<br />

ciclosporina. 9<br />

Ivânio Alves Pereira, MD, Ph.D<br />

Professor da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina – UNISUL; Chefe do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Hospital<br />

Universitário da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina – HU-UFSC<br />

REFERENCES<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. da Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Fronza LS,<br />

Bertolo MB et al.; Brazilian Society of Rheumatology. 2011<br />

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and early assessment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol<br />

2011; 51(3):199–219.<br />

472 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):471-473


EDITORIAL<br />

2. Aletaha D, Neogi T, Silman AJ, Funovits J, Felson DT, Bingham CO 3rd<br />

et al. 2010 rheumatoid arthritis classifi cation criteria: an American<br />

College of Rheumatology/European League Against Rheumatism<br />

collaborative initiative. Ann Rheum Dis 2010; 69(9):1580–8.<br />

3. da Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Rezen<strong>de</strong>-Fronza LS,<br />

Bertolo MB et al. 2012 Brazilian Society of Rheumatology<br />

Consensus for the treatment of rheumatoid arthritis. Rev Bras<br />

Reumatol 2012; <strong>52</strong>(2):1<strong>52</strong>–74.<br />

4. Gonzalez A, Maradit Kremers H, Crowson CS, Nicola PJ,<br />

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5. Michaud K, Wolfe F. Comorbidities in rheumatoid arthritis. Best<br />

Pract Res Clin Rheumatol 2007; 21(5):885–906.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):471-473<br />

6. McInnes IB, Schett G. The pathogenesis of rheumatoid arthritis. N<br />

Engl J Med 2011; 365(23):2205–19.<br />

7. Kitas GD, Gabriel SE. Cardiovascular disease in rheumatoid<br />

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2011; 70(1):8–14.<br />

8. Pereira IA, da Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Rezen<strong>de</strong>-Fronza LS,<br />

Bertolo MB et al. Consenso 2012 da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Reumatologia</strong> sobre o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s em pacientes com<br />

o diagnostico <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong>. Rev Bras Reumatol 2012;<br />

<strong>52</strong>(4):474–95.<br />

9. Panoulas VF, Douglas KM, Milionis HJ, Stavropoulos-Kalinglou A,<br />

Nightingale P, Kita MD et al. Prevalence and associations of<br />

hypertension and its control in patients with rheumatoid arthritis.<br />

Rheumatology (Oxford) 2007; 46(9):1477–82.<br />

473


ARTIGO ORIGINAL<br />

Consenso 2012 da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Reumatologia</strong> sobre o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s<br />

em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

Ivânio Alves Pereira 1 , Licia Maria Henrique da Mota 2 , Boris Afonso Cruz 3 , Claiton Viegas Brenol 4 ,<br />

Lucila Stange Rezen<strong>de</strong> Fronza 5 , Manoel Barros Bertolo 6 , Max Victor Carioca <strong>de</strong> Freitas 7 , Nilzio Antônio da Silva 8 ,<br />

Paulo Louzada-Junior 9 , Rina Dalva Neubarth Giorgi 10 , Rodrigo Aires Corrêa Lima 11 , Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro 12<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Objetivo: Elaborar recomendações da Comissão <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong> da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> (SBR)<br />

para o manuseio das comorbida<strong>de</strong>s em artrite reumatoi<strong>de</strong> (AR). Métodos: Revisão da literatura e opinião <strong>de</strong> especialistas da<br />

Comissão <strong>de</strong> AR da SBR. Resultados e conclusões: Recomendações: 1) Diagnosticar e tratar precoce e a<strong>de</strong>quadamente as<br />

comorbida<strong>de</strong>s; 2) O tratamento específi co da AR <strong>de</strong>ve ser adaptado às comorbida<strong>de</strong>s; 3) Inibidores da enzima conversora da<br />

angiotensina (IECA) ou bloqueadores dos receptores <strong>de</strong> angiotensina II (BRA) são preferidos no tratamento da hipertensão<br />

arterial sistêmica; 4) Em pacientes com AR e diabetes mellitus, <strong>de</strong>ve-se evitar o uso contínuo <strong>de</strong> dose cumulativa alta <strong>de</strong><br />

corticoi<strong>de</strong>s; 5) Sugere-se o uso <strong>de</strong> estatinas para manter níveis <strong>de</strong> LDL menor que 100 mg/dL e índice aterosclerótico menor<br />

que 3,5 em pacientes com AR e comorbida<strong>de</strong>s; 6) A síndrome metabólica <strong>de</strong>ve ser tratada; 7) Recomenda-se a realização<br />

<strong>de</strong> exames para a investigação <strong>de</strong> aterosclerose subclínica; 8) Maior vigilância para um diagnóstico precoce <strong>de</strong> neoplasia<br />

oculta; 9) Medidas <strong>de</strong> prevenção para trombose venosa são sugeridas; 10) Recomenda-se a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsitometria<br />

óssea em pacientes com AR acima <strong>de</strong> 50 anos, e naqueles com ida<strong>de</strong> menor com corticoi<strong>de</strong> maior que 7,5 mg por mais <strong>de</strong> três<br />

meses; 11) Pacientes com AR e osteoporose <strong>de</strong>vem evitar quedas, e <strong>de</strong>vem ser aconselhados a aumentarem a ingestão <strong>de</strong> cálcio,<br />

aumentarem a exposição solar e fazerem ativida<strong>de</strong> física; 12) Suplementação <strong>de</strong> cálcio e vitamina D é sugerida. A utilização <strong>de</strong><br />

bisfosfonatos é sugerida para pacientes com escore T menor que –2,5 na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> mineral óssea; 13) Recomenda-se equipe<br />

multidisciplinar, com participação ativa do médico reumatologista no tratamento das comorbida<strong>de</strong>s.<br />

Palavras-chave: artrite reumatoi<strong>de</strong>, comorbida<strong>de</strong>s, hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipi<strong>de</strong>mia.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A artrite reumatoi<strong>de</strong> (AR) é uma doença autoimune infl amatória<br />

sistêmica que tem como característica principal a presença<br />

<strong>de</strong> poliartrite crônica simétrica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e pequenas articulações.<br />

Apesar do envolvimento musculoesquelético típico,<br />

essa é uma enfermida<strong>de</strong> sistêmica que po<strong>de</strong> acometer vários<br />

órgãos, como pulmão, olho e vasos sanguíneos. Essa condição<br />

Recebido em 22/04/2012. Aprovado, após revisão, em 07/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse.<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> e Serviço <strong>de</strong> Endocrinologia Sabin Laboratório <strong>de</strong> Análises Clínicas; Hospital Universitário <strong>de</strong> Brasília – HUB.<br />

1. Professor da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong> Santa Catarina – UNISUL; Chefe do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital Universitário da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina – HU-UFSC<br />

2. Professora Colaboradora <strong>de</strong> Clínica Médica e do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília – FM-UnB; Doutora em<br />

Ciências Médicas, FM-UnB<br />

3. Mestre em Epi<strong>de</strong>miologia; Chefe do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, BIOCOR Instituto<br />

4. Professor-Adjunto do Departamento <strong>de</strong> Medicina Interna, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul – UFRGS; Coor<strong>de</strong>nador<br />

do Ambulatório <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong> do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital <strong>de</strong> Clínicas <strong>de</strong> Porto Alegre<br />

5. Médica-Assistente do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital das Clínicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná – HC-UFPR; Ex-fellow do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>,<br />

Hospital Geral AKH, Áustria<br />

6. Professor e Coor<strong>de</strong>nador da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas – Unicamp<br />

7. Professor-Adjunto da Disciplina <strong>de</strong> Imunologia, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará – FM-UFC<br />

8. Professor Titular, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás – UFG<br />

9. Professor Livre-Docente (Associado), Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – FMRP-USP<br />

10. Médica-Chefe da Seção <strong>de</strong> Diagnóstico e Terapêutica do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital do Servidor Público Estadual <strong>de</strong> São Paulo – HSPE-FMO<br />

11. Reumatologista; Chefe do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital Universitário <strong>de</strong> Brasília da UnB<br />

12. Professor-Adjunto da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas, Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro – FCM-UERJ<br />

Correspondência para: Ivânio Alves Pereira. Av. Rio Branco, 448 – sala 306. CEP: 88015-200. Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: ivanioreumato@gmail.com<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495 483


Pereira et al.<br />

causa gran<strong>de</strong> impacto social e econômico, consi<strong>de</strong>rando as<br />

<strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s articulares irreversíveis e o signifi cativo <strong>de</strong>clínio<br />

na capacida<strong>de</strong> funcional dos pacientes acometidos. 1<br />

Nos últimos anos, maiores conhecimentos sobre a patogênese<br />

da doença e o reconhecimento <strong>de</strong> alvos terapêuticos<br />

permitiram a inserção <strong>de</strong> novas drogas modifi cadoras do curso<br />

da doença (DMCD), incluindo as DMCD biológicas. 2,3 Além<br />

disso, novas estratégias <strong>de</strong> manejo da AR foram sugeridas,<br />

como utilização <strong>de</strong> DMCD <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase inicial da doença,<br />

avaliações mais frequentes dos pacientes, mudanças ou ajustes<br />

da terapêutica com base em escores objetivos <strong>de</strong> avaliação da<br />

ativida<strong>de</strong> da doença e busca <strong>de</strong> remissão clínica ou, quando<br />

a remissão não é possível, baixa ativida<strong>de</strong> da doença. Essas<br />

mudanças <strong>de</strong> conduta resultaram em melhor prognóstico para<br />

os pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> AR. 4<br />

Apesar das marcantes conquistas do tratamento da AR, a<br />

mortalida<strong>de</strong> entre os pacientes continua superior à da população<br />

geral, e não houve mudanças signifi cativas nos últimos anos. 5<br />

Indivíduos com diagnóstico <strong>de</strong> AR têm maior chance <strong>de</strong><br />

apresentar outras doenças associadas, como as <strong>de</strong> etiologia<br />

autoimune, 6,7 e comorbida<strong>de</strong>s, como hipertensão arterial<br />

sistêmica (HAS), dislipi<strong>de</strong>mia e diabetes mellitus (DM). 8–14<br />

O entendimento e o manejo a<strong>de</strong>quado das comorbida<strong>de</strong>s em<br />

pacientes com AR é fundamental, já que essas doenças contribuem<br />

para o risco cardiovascular aumentado e para a maior<br />

mortalida<strong>de</strong> observada nesse grupo. 15<br />

O presente documento tem o objetivo <strong>de</strong> elaborar recomendações<br />

para o diagnóstico e o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s<br />

em pacientes com AR, com enfoque nas condições que<br />

ocorrem mais frequentemente. A fi nalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste texto é<br />

a <strong>de</strong> sintetizar a posição atual da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Reumatologia</strong> (SBR) sobre o tema, com o objetivo <strong>de</strong> orientar<br />

os médicos brasileiros, em especial os reumatologistas, sobre<br />

o diagnóstico e o manejo das comorbida<strong>de</strong>s em pacientes<br />

com AR no Brasil.<br />

MÉTODO DA ELABORAÇÃO<br />

DAS RECOMENDAÇÕES<br />

O método <strong>de</strong> elaboração das recomendações incluiu a revisão<br />

da literatura e a opinião <strong>de</strong> especialistas membros da<br />

Comissão <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong> da SBR. O levantamento<br />

bibliográfi co abrangeu publicações das bases MEDLINE,<br />

SciELO, PubMed e EMBASE até fevereiro <strong>de</strong> 2012. As<br />

recomendações foram escritas e reavaliadas por todos os<br />

participantes durante múltiplas rodadas <strong>de</strong> questionamentos<br />

e correções realizadas via internet.<br />

Hipertensão arterial sistêmica<br />

A HAS é um dos principais fatores <strong>de</strong> risco modifi cáveis para<br />

doença cardiovascular em pacientes com AR. É uma patologia<br />

importante e frequente e está associada ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> aterosclerose subclínica. Sua prevalência é alta, variando<br />

<strong>de</strong> 53%–73%, <strong>de</strong> acordo com alguns estudos publicados. 14–16<br />

Panoulas et al. 14 encontraram uma frequência <strong>de</strong> 70,5% <strong>de</strong><br />

hipertensos em sua amostra, enquanto Gonzalez et al. 16 encontraram<br />

uma frequência <strong>de</strong> <strong>52</strong>% na população estudada.<br />

Apesar <strong>de</strong>ssa alta frequência, a HAS na AR tem sido menos<br />

diagnosticada e tratada (13,2% versus 21%–23% na população<br />

sem AR). 14–16<br />

Os mecanismos responsáveis pelo aparecimento <strong>de</strong><br />

HAS em pacientes com AR não estão esclarecidos, mas<br />

alguns fatores clássicos estão associados com HAS na população<br />

com AR, como obesida<strong>de</strong>, se<strong>de</strong>ntarismo e uso <strong>de</strong><br />

medicações. 15 O uso <strong>de</strong> glicocorticoi<strong>de</strong> por período maior<br />

que seis meses e em dose maior que 7,5 mg/dia está associado<br />

à HAS nos pacientes com AR. 17 Da mesma forma,<br />

po<strong>de</strong> haver aumento dos níveis pressóricos secundário<br />

ao uso <strong>de</strong> leflunomida e ciclosporina em pacientes com<br />

AR. 18–20 Fatores inerentes à doença, como a inflamação<br />

sistêmica da AR, também po<strong>de</strong>m contribuir para o aparecimento<br />

<strong>de</strong> HAS nesses pacientes. A AR cursa com maior<br />

expressão do fator <strong>de</strong> necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucina<br />

(IL) 1 e 6, aumento da expressão <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são, do receptor <strong>de</strong> angiotensina II tipo 1, da endotelina<br />

e menor expressão <strong>de</strong> óxido nítrico, e esse <strong>de</strong>sequilíbrio<br />

po<strong>de</strong> contribuir para a HAS. 15<br />

Em relação ao tratamento da AR, sabe-se que o uso <strong>de</strong><br />

anti-infl amatórios não esteroidais (AINEs) atenua o efeito<br />

anti-hipertensivo dos diuréticos, betabloqueadores, inibidores<br />

da enzima conversora da angiotensina (IECA) e bloqueadores<br />

dos receptores <strong>de</strong> angiotensina II (BRA). 21 Também é<br />

importante saber que a combinação <strong>de</strong> AINEs com diurético<br />

e IECA ou BRA <strong>de</strong>termina maior chance <strong>de</strong> insufi ciência<br />

renal, em particular nos pacientes idosos e naqueles que<br />

estejam em condições <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> volume intravascular,<br />

como cirrose hepática, insufi ciência cardíaca, hipoalbuminemia<br />

e <strong>de</strong>sidratação. Devido aos efeitos benéfi cos em<br />

nível endotelial, e por interferirem menos no metabolismo<br />

dos carboidratos e causarem menos dislipi<strong>de</strong>mia, IECA ou<br />

BRA são preferidos como terapia inicial no tratamento da<br />

HAS em pacientes com AR, em vez <strong>de</strong> betabloqueadores<br />

e diuréticos. 15 No tratamento <strong>de</strong> pacientes com AR e HAS,<br />

<strong>de</strong>vemos, se possível, evitar o uso concomitante <strong>de</strong> AINEs<br />

e/ou dose alta <strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong>s. 22<br />

484 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495


Diabetes mellitus<br />

Consenso 2012 da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> sobre o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

A associação entre AR e resistência insulínica está bem-documentada.<br />

Por outro lado, há poucos estudos que analisam o<br />

risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> DM em pacientes com AR. 12,23,24<br />

Um estudo recente <strong>de</strong> 48.718 pacientes com AR versus 40.346<br />

com psoríase ou artrite psoriásica e 44.2033 controles mostrou<br />

que o risco <strong>de</strong> DM tipo 2 foi maior em pacientes com AR<br />

comparado ao grupo-controle, com HR 1,5 (95% IC 1,4–1,5). 23<br />

Da mesma forma, Han et al. 25 <strong>de</strong>monstraram que doenças<br />

cardiovasculares e seus fatores <strong>de</strong> risco, bem como o DM<br />

tipo 2, foram mais comuns nos pacientes portadores <strong>de</strong> AR. É<br />

sabido que a utilização <strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong>s em pacientes com AR<br />

po<strong>de</strong> interferir <strong>de</strong> forma negativa na sensibilida<strong>de</strong> à insulina em<br />

pacientes com AR, 26 e que o tratamento da infl amação sistêmica<br />

da AR po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar efeito benéfi co, especialmente com o<br />

uso <strong>de</strong> hidroxicloroquina e anti-TNF. 27–29<br />

Estudos também mostram que a prevalência <strong>de</strong> DM tipo 1 é<br />

maior em pacientes portadores <strong>de</strong> AR, especialmente o subgrupo<br />

que apresenta o anticorpo antipeptí<strong>de</strong>o citrulinado cíclico<br />

(anti-CCP) positivo. Esse risco po<strong>de</strong> ser atribuído a um alelo em<br />

comum para as duas doenças, agindo como um fator <strong>de</strong> risco em<br />

comum na patogênese <strong>de</strong> ambas. Liao et al. 30 <strong>de</strong>monstraram,<br />

ao avaliar 1.419 pacientes com AR, que a presença do alelo<br />

PTPN22 é comum à AR e ao DM tipo 1, relacionando-se à<br />

coexistência das doenças. No entanto, a associação foi signifi<br />

cativa apenas para os portadores <strong>de</strong> AR com o anticorpo<br />

anti-CCP positivo.<br />

Sugere-se evitar o uso contínuo <strong>de</strong> dose cumulativa alta <strong>de</strong><br />

corticoi<strong>de</strong>s em pacientes com AR e DM concomitante, e que<br />

estratégias sejam implementadas para um controle efetivo da<br />

infl amação sistêmica da doença, consi<strong>de</strong>rando que algumas<br />

evidências sugerem um efeito benéfi co do tratamento da AR<br />

no controle do DM. 27–29<br />

Dislipi<strong>de</strong>mia<br />

A dislipi<strong>de</strong>mia encontrada em pacientes com AR caracteriza-se<br />

pela presença <strong>de</strong> níveis reduzidos <strong>de</strong> colesterol HDL e aumento<br />

da relação colesterol total (CT/HDL). 31–34 O aparecimento <strong>de</strong>sse<br />

padrão po<strong>de</strong> prece<strong>de</strong>r o início das manifestações articulares<br />

da doença e po<strong>de</strong> estar relacionado a alterações infl amatórias<br />

secundárias à doença. 33,34<br />

Acredita-se que os níveis <strong>de</strong> colesterol total, e em especial<br />

o HDL, possam diminuir com a ativida<strong>de</strong> da doença, e que essa<br />

redução esteja relacionada com os níveis elevados <strong>de</strong> citocinas<br />

pró-infl amatórias, como o TNF-α. 31,33<br />

É sabido que o próprio tratamento da AR já seja capaz <strong>de</strong><br />

interferir no perfi l lipídico dos pacientes. 35–38 Os AINEs não<br />

parecem exercer efeitos nos níveis dos lipídios. 39 O efeito dos<br />

corticoi<strong>de</strong>s no aumento dos níveis <strong>de</strong> CT e LDL foram amplamente<br />

documentados, embora seu uso em pacientes com<br />

AR não tenha sido associado, até o momento, ao aumento do<br />

risco cardiovascular. 40 A ciclosporina parece ter efeito <strong>de</strong>letério<br />

sobre os níveis <strong>de</strong> colesterol, enquanto os antimaláricos têm<br />

um efeito positivo na diminuição dos níveis séricos <strong>de</strong> CT e<br />

triglicerí<strong>de</strong>os. 41 O tratamento com outras DMCD e com os<br />

agentes biológicos, como as drogas da classe dos anti-TNF e<br />

principalmente com o antagonista do receptor <strong>de</strong> IL-6 (tocilizumabe),<br />

<strong>de</strong>terminam controle da infl amação e aumento dos<br />

níveis previamente reduzidos <strong>de</strong> CT/HDL associados com<br />

infl amação, sem maiores interferências no índice aterosclerótico<br />

e sem aumento dos eventos clínicos cardiovasculares até<br />

o momento. 42–45<br />

Interessante vermos que o uso <strong>de</strong> drogas do grupo das<br />

estatinas exercem não apenas efeitos hipolipemiantes em<br />

pacientes com AR, mas <strong>de</strong>terminam redução dos escores<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> da doença em AR. Espera-se o resultado do<br />

estudo TRACE RA (Trial of Atorvastatin for the Primary<br />

Prevention of Cardiovascular Events in Rheumatoid<br />

Arthritis) (http://www.dgoh.nhs.uk/tracera), que está em<br />

andamento e envolverá cerca <strong>de</strong> 4.000 pacientes com AR.<br />

Esse estudo po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>fi nir o papel das estatinas no controle da<br />

infl amação e na redução do risco cardiovascular em pacientes<br />

com AR. 46<br />

Aterosclerose<br />

Pacientes com AR apresentam maior prevalência <strong>de</strong> disfunção<br />

endotelial, 47,48 avaliada por estudos <strong>de</strong> ultrassom braquial, e<br />

essa é a primeira evidência do início do processo aterogênico,<br />

em que encontramos a presença <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z arterial. Em relação<br />

aos exames não invasivos que <strong>de</strong>monstram a presença <strong>de</strong><br />

aterosclerose subclínica, estudos confi rmam que aterosclerose<br />

carotí<strong>de</strong>a com presença <strong>de</strong> placas é frequente, 49 assim como<br />

maior escore <strong>de</strong> cálcio coronariano na angiotomografi a computadorizada<br />

<strong>de</strong> artérias coronárias. 50<br />

A prevalência <strong>de</strong> infarto agudo do miocárdio (IAM) e <strong>de</strong><br />

insufi ciência cardíaca congestiva (ICC) é maior nos pacientes<br />

com AR. 51,<strong>52</strong> Essas condições <strong>de</strong>terminam menor sobrevida e<br />

maior mortalida<strong>de</strong> aos pacientes com AR. Em relação à doença<br />

coronariana, <strong>de</strong>vemos lembrar que a prevalência <strong>de</strong> sintomas<br />

anginosos é menos frequente nos pacientes com AR, o que faz<br />

com que não seja raro que esses indivíduos apresentem morte<br />

súbita ou infarto do miocárdio silencioso. 51<br />

Embora o tratamento da AR reduza a chance <strong>de</strong> infarto do<br />

miocárdio, em particular com uso <strong>de</strong> metotrexato (MTX) e<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495 485


Pereira et al.<br />

anti-TNF, 53–55 <strong>de</strong>ve fi car claro que tratar comorbida<strong>de</strong>s como<br />

DM tipo 2, dislipi<strong>de</strong>mia e HAS nesses pacientes é importante.<br />

Em indivíduos com AR que tenham doença coronariana,<br />

antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> IAM ou ICC, <strong>de</strong>ve-se evitar o uso indiscriminado<br />

e por tempo prolongado <strong>de</strong> AINEs, em particular o uso<br />

dos AINEs seletivos para a ciclo-oxigenase 2, consi<strong>de</strong>rando<br />

maiores mortalida<strong>de</strong> e risco <strong>de</strong> hospitalização por infarto do<br />

miocárdio e ICC <strong>de</strong>scompensada. Dentre os AINEs, o risco <strong>de</strong><br />

infarto do miocárdio e outros eventos cardiovasculares parece<br />

ser menor com o uso <strong>de</strong> naproxeno. 56,57<br />

Outro aspecto é a cessação do tabagismo nos pacientes<br />

com AR. Sabe-se que o tabagismo, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar maior<br />

risco <strong>de</strong> doença cardiovascular, aumenta a chance do aparecimento<br />

<strong>de</strong> AR em pessoas que tenham predisposição genética,<br />

aumenta a gravida<strong>de</strong> do quadro articular e está associado<br />

a manifestações extra-articulares da doença. 58 Além disso,<br />

indivíduos fumantes com AR têm menor resposta clínica ao<br />

uso <strong>de</strong> drogas antirreumáticas como o MTX ou uso <strong>de</strong> agentes<br />

biológicos anti-TNF. 59<br />

Síndrome metábolica<br />

Embora não haja <strong>de</strong>fi nição universalmente aceita, a síndrome<br />

metabólica (SM) é caracterizada pelo agrupamento <strong>de</strong><br />

manifestações clínicas que incluem obesida<strong>de</strong> centralmente<br />

distribuída, níveis reduzidos <strong>de</strong> HDL colesterol, níveis elevados<br />

<strong>de</strong> triglicerí<strong>de</strong>os, aumento da pressão arterial e hiperglicemia.<br />

Atualmente, as <strong>de</strong>fi nições mais aceitas são a da Fe<strong>de</strong>ração<br />

Internacional <strong>de</strong> Diabetes (IDF), a do Programa Educacional<br />

<strong>de</strong> Tratamento do Colesterol do Adulto (NCEP ATPIII) e a da<br />

Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS). 60–62<br />

Essa síndrome representa uma associação <strong>de</strong> condições<br />

que têm em comum a resistência insulínica e o aumento da<br />

gordura abdominal, que está intimamente ligada à infl amação. 63<br />

Tal relação com a infl amação po<strong>de</strong> justifi car a maior prevalência<br />

<strong>de</strong> SM em pacientes com AR, 9,64–67 e a maior ativida<strong>de</strong><br />

da doença encontrada nos pacientes com AR que apresentam<br />

SM. 66–68 Dessein et al. 69 <strong>de</strong>monstraram prevalência <strong>de</strong> SM<br />

entre 14%–19% dos pacientes com AR, e dois outros estudos<br />

não <strong>de</strong>monstraram maior prevalência <strong>de</strong> SM em pacientes<br />

com AR. 68,70 A presença <strong>de</strong> SM na população sem AR está<br />

associada a maior chance <strong>de</strong> evento cardiovascular e maior<br />

mortalida<strong>de</strong> em geral. 71<br />

Na população com AR não existem estudos que pesquisaram<br />

a maior prevalência <strong>de</strong> infarto do miocárdio ou AVC<br />

associado a SM, 72 mas a presença <strong>de</strong> calcifi cação coronariana,<br />

um teste diagnóstico que aumenta a chance <strong>de</strong> evento cardiovascular,<br />

associou-se à SM nessa população. 65 O papel das<br />

DMCD na prevalência da SM em pacientes com AR não está<br />

<strong>de</strong>fi nido, com resultados não concordantes em relação ao MTX.<br />

Toms et al. 73 mostraram menor prevalência <strong>de</strong> SM em pacientes<br />

idosos em uso <strong>de</strong> MTX; por outro lado, uma subanálise do<br />

estudo CARRE não confi rmou esses resultados. 13<br />

Trombose venosa e embolia pulmonar<br />

Entre os eventos vasculares não cardíacos com maior probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ocorrer na AR <strong>de</strong>stacam-se a trombose venosa<br />

profunda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP). 74,75 A<br />

incidência <strong>de</strong>ssas comorbida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> estar associada a fatores<br />

<strong>de</strong> risco clássicos que afetam a população em geral, e a aspectos<br />

específi cos da AR. 74–76<br />

De modo geral, menor mobilida<strong>de</strong>, como consequência das<br />

lesões articulares, internações que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar repouso<br />

prolongado no leito, ida<strong>de</strong> mais avançada da maioria dos pacientes<br />

artríticos, compressão do sistema venoso adjacente a<br />

uma articulação com <strong>de</strong>rrame articular volumoso e obesida<strong>de</strong><br />

contribuem para aumentar o risco <strong>de</strong> tromboembolismo. 74<br />

Pacientes com AR apresentam alterações nos parâmetros<br />

<strong>de</strong> coagulação e sistema fi brinolítico. 77 Em AR é comum encontrarmos<br />

aumento na contagem <strong>de</strong> plaquetas, juntamente<br />

com marcadores <strong>de</strong> ativação <strong>de</strong> plaquetas elevadas, aumento<br />

dos níveis <strong>de</strong> marcadores <strong>de</strong> trombina, como complexos<br />

<strong>de</strong> trombina-antitrombina e fragmentos <strong>de</strong> protrombina. O<br />

aumento das citocinas pró-infl amatórias na AR associa-se a<br />

níveis elevados <strong>de</strong> fi brinogênio, fator <strong>de</strong> von Willebrand e<br />

D-dímero. 77,78<br />

Ainda que os estudos <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> trombose venosa<br />

profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar (TEP) em<br />

AR mostrem resultados discordantes, um importante estudo<br />

mostrou que a AR é um fator <strong>de</strong> risco para TVP e TEP. 75,79,80<br />

Esse estudo avaliou a incidência <strong>de</strong> TVP e TEP em pacientes<br />

com AR admitidos em hospitais nos Estados Unidos no<br />

período <strong>de</strong> 1979 a 2005. Os resultados encontrados foram<br />

que 41.000 <strong>de</strong> 4.818.000 (0,85%) pacientes com AR apresentaram<br />

TEP, comparados a 3.366.000 <strong>de</strong> 891.055.000<br />

(0,38%) sem AR (RR = 2,25). TVP ocorreu em 79.000 <strong>de</strong><br />

4.818.000 (1,64%) pacientes com AR versus 681.000<br />

<strong>de</strong> 891.055.000 (0,86%) sem AR (RR = 1,90). Em relação<br />

ao impacto dos diferentes tratamentos empregados em<br />

AR, os dados do Registro <strong>de</strong> Uso Biológicos da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

Britânica <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> comparou a incidência <strong>de</strong> TVP<br />

e TEP entre 11.881 pacientes em uso <strong>de</strong> anti-TNF e 3.673<br />

com DMCD não biológicos. Não houve diferença entre os<br />

diversos grupos com risco relativo global (HR = 0,8; 95%<br />

IC 0,5–1,5) na incidência <strong>de</strong> TVP e TEP. 81<br />

486 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495


Consenso 2012 da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> sobre o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

Um estudo retrospectivo <strong>de</strong> base populacional comparou<br />

os dados <strong>de</strong> 813 casos <strong>de</strong> AR com os da população sem AR,<br />

atendidos no período <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1980 a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Os autores concluíram que houve maior incidência <strong>de</strong> TVP e<br />

TEP no grupo com AR (HR = 3,6). 74 Os eventos tromboembólicos<br />

foram associados a obesida<strong>de</strong> (HR = 2,2), ao uso <strong>de</strong><br />

DMARD (exceto MTX e hidroxicloroquina) (HR = 1,9), ao<br />

uso <strong>de</strong> biológicos (HR = 2,7), ao uso <strong>de</strong> ácido acetilsalicílico<br />

(HR = 2,3) e a artroplastia recente (HR = 11,4). Por outro<br />

lado, não foram associados ao tromboembolismo venoso a<br />

positivida<strong>de</strong> do fator reumatoi<strong>de</strong> e do anti-CCP, o aumento da<br />

VHS, a gravida<strong>de</strong> da AR ou a presença <strong>de</strong> erosões ou nódulos<br />

subcutâneos.<br />

Como se vê, há discordância entre esse estudo americano e<br />

o Registro Britânico <strong>de</strong> Biológicos, no qual não se encontrou<br />

associação <strong>de</strong> TEP/TVP com o uso <strong>de</strong> imunobiológicos. 74,81<br />

Nos cuidados recomendados para os pacientes com AR<br />

<strong>de</strong>vem ser incluídas as medidas preventivas para TEP/TVP.<br />

Neoplasias<br />

A ocorrência <strong>de</strong> neoplasias em pacientes com AR, em uso ou<br />

não <strong>de</strong> DMCD, em especial <strong>de</strong> drogas biológicas, é assunto <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> interesse, dado o gran<strong>de</strong> impacto <strong>de</strong>ssas doenças sobre<br />

a morbimortalida<strong>de</strong> dos pacientes com AR.<br />

Os resultados dos estudos <strong>de</strong> prevalência e <strong>de</strong> risco relativo<br />

em comparação com população controle, bem como o papel do<br />

tratamento da AR (incluindo DMCD sintéticas e biológicas)<br />

no <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> neoplasias ainda são controversos. 82–88<br />

Estudos populacionais para coleta <strong>de</strong> dados a partir <strong>de</strong> fontes<br />

primárias são necessários para ampliar o conhecimento sobre os<br />

mecanismos da ocorrência <strong>de</strong> neoplasias em pacientes com AR.<br />

O risco <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por causas específi cas em pacientes<br />

com AR hospitalizados foi quantifi cado em estudo que tem<br />

como base uma coorte populacional acompanhada por um<br />

período <strong>de</strong> 20 anos. 89 Entre pacientes com AR, houve aumento<br />

no risco <strong>de</strong> morte por causas listadas em todos os capítulos da<br />

Classifi cação Internacional <strong>de</strong> Doenças (CID), à exceção <strong>de</strong><br />

doenças mentais. Causas específi cas <strong>de</strong> morte nesse grupo <strong>de</strong><br />

pacientes incluíram câncer <strong>de</strong> pulmão [homens: 1,4 (1,2–1,5);<br />

mulheres: 1,6 (1,5–1,8)] e neoplasias hematopoiéticas [homens:<br />

1,8 (1,4–2,3); mulheres: 2,0 (1,7–2,3)]. Os pacientes<br />

com AR, no entanto, foram menos propensos a morrer <strong>de</strong><br />

neoplasias do trato gastrointestinal [homens: 0,82 (0,7–1,0);<br />

mulheres: 0,8 (0,7–0,9)].<br />

Hemminki et al. 90 também relataram uma redução no risco<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinomas <strong>de</strong> cólon e reto em pacientes com AR,<br />

sugerindo que os mecanismos infl amatórios subjacentes que<br />

atuariam como fator <strong>de</strong> risco nesses pacientes pu<strong>de</strong>ssem ter<br />

sido suprimidos pelo uso <strong>de</strong> medicações anti-infl amatórias.<br />

O risco associado <strong>de</strong> neoplasias em quatro sítios específi<br />

cos (linfoma, pulmão, colorretal e câncer <strong>de</strong> mama) em pacientes<br />

com AR foi avaliado em uma metanálise. 82 Comparado<br />

com a população geral, a razão <strong>de</strong> incidência padronizada<br />

(SIR, do inglês standardized inci<strong>de</strong>nce ratio) estimada sugere<br />

que pacientes com AR apresentam aumento <strong>de</strong> duas vezes<br />

no risco <strong>de</strong> linfoma (SIR 2,08; 95% IC 1,80–2,39) e maior<br />

risco <strong>de</strong> linfoma Hodgkin que não Hodgkin. O risco <strong>de</strong> câncer<br />

<strong>de</strong> pulmão também é aumentado, com SIR 0,77 (95% IC<br />

0,65–0,9), assim como câncer <strong>de</strong> mama (SIR 0,84; 95% IC<br />

0,79–0,9). A SIR para todas as neoplasias foi <strong>de</strong> 1,05 (95%<br />

IC 1,01–1,09). Assim, pacientes com AR parecem ter maior<br />

risco <strong>de</strong> linfoma e <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pulmão, e potencialmente<br />

menor risco <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama e colorretal, em comparação<br />

à população geral.<br />

Outro estudo acompanhou 42.262 pacientes com AR (com<br />

internação hospitalar prévia) <strong>de</strong> 1980 a 2004 na Suécia. A SIR<br />

foi calculada para a ocorrência <strong>de</strong> neoplasias em pacientes<br />

com AR em comparação com indivíduos sem AR. Muitas<br />

neoplasias foram diagnosticadas mais frequentemente nos<br />

pacientes com AR, incluindo linfoma <strong>de</strong> Hodgkin, linfoma<br />

não Hodgkin e câncer <strong>de</strong> pele, além <strong>de</strong> uma associação com<br />

tumores endócrinos (exceto tireoi<strong>de</strong>). A ocorrência <strong>de</strong> tumores<br />

<strong>de</strong> cólon, reto e endométrio foi menor entre os pacientes com<br />

AR. Entre os pacientes hospitalizados após 1999, a SIR para<br />

melanoma, câncer <strong>de</strong> pele escamoso, trato digestivo superior e<br />

leucemia foi aumentada em relação aos períodos anteriores. 84<br />

O risco <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> linfoma não Hodgkin em pacientes<br />

com doenças autoimunes foi investigado em diversos estudos,<br />

com resultados inconclusivos. Em metanálise <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong><br />

coorte observou-se maior risco <strong>de</strong> linfoma não Hodgkin 83 em<br />

pacientes com AR (SIR 3,9; 95% IC 2,5–5,9). Na AR, efeitos<br />

randômicos <strong>de</strong> SIR para linfoma não Hodgkin com DMCD<br />

sintéticos, drogas citotóxicas e agentes biológicos foram <strong>de</strong><br />

2,5 (95% IC 0,7–9,0), 5,1 (95% IC 0,9–28,6) e 11,5 (95% IC<br />

3,7–26,9), respectivamente.<br />

Os dados do Registro Sueco <strong>de</strong> Artrite Inicial (duração<br />

dos sintomas < 1 ano) mostraram que, antes do diagnóstico<br />

<strong>de</strong> AR, não foi observado aumento no risco <strong>de</strong> linfoma (OR<br />

[odds ratio] 0,67 [95% IC 0,37–1,23]) ou outras neoplasias (RR<br />

0,78 [95% IC 0,70–0,88]). Durante os primeiros 10 anos após<br />

o diagnóstico <strong>de</strong> AR, o HR <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> linfomas<br />

foi <strong>de</strong> 1,75 (95% IC 1,04–2,96). Esses achados indicam que,<br />

<strong>de</strong> forma geral, há aumento do risco <strong>de</strong> linfoma na primeira<br />

década após o diagnóstico <strong>de</strong> AR. 91<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495 487


Pereira et al.<br />

A patogênese da ocorrência <strong>de</strong> neoplasias sólidas ou<br />

hematopoiéticas nos pacientes com AR não é conhecida. A<br />

<strong>de</strong>sregulação do sistema imunológico em doenças autoimunes<br />

po<strong>de</strong>ria potencialmente levar ao câncer, e há evidências <strong>de</strong>fi -<br />

nitivas ligando alguns mecanismos <strong>de</strong> autoimunida<strong>de</strong> com a<br />

ocorrência <strong>de</strong> neoplasias. 90<br />

Encontrou-se associação significativa entre os HLA-<br />

DRBI*02 e DRBI*03 com a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />

neoplasias (OR 5,2 e 9,9, respectivamente), <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da história familiar <strong>de</strong> AR e câncer ou da ativida<strong>de</strong> clínica<br />

da AR. Assim, alelos HLA classe II parecem estar associados<br />

à ocorrência <strong>de</strong> neoplasias em pacientes com AR. 92<br />

Embora não existam recomendações formais previamente<br />

publicadas, a Comissão <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong> da SBR recomenda<br />

que, durante o acompanhamento clínico do paciente com AR,<br />

o médico esteja permanentemente atento a quaisquer sintomas<br />

que possam sugerir neoplasias, em virtu<strong>de</strong> do risco aumentado,<br />

sobretudo em pacientes com formas graves e em uso <strong>de</strong> DMCD<br />

biológicas. A investigação para neoplasias em pacientes com AR<br />

<strong>de</strong>ve seguir o mesmo protocolo para pacientes sem a doença, visando<br />

ao diagnóstico precoce e incluindo exames <strong>de</strong> rastreamento.<br />

O uso <strong>de</strong> DMCD biológicas foi introduzido para o tratamento<br />

da AR há pouco mais <strong>de</strong> uma década. Des<strong>de</strong> então, a compreensão<br />

ainda incompleta dos efeitos <strong>de</strong>ssa classe terapêutica<br />

e das vias inibidas suscita questionamentos sobre o perfi l <strong>de</strong><br />

segurança <strong>de</strong>ssas drogas, incluindo sobre o risco <strong>de</strong> câncer. 88<br />

Com relação aos anti-TNF, sabe-se que o TNF tem papel<br />

importante na infl amação e que po<strong>de</strong> afetar o controle do<br />

crescimento tumoral. 89<br />

As informações disponíveis até o momento não nos permitem<br />

afi rmar com exatidão que tipos <strong>de</strong> tumores são mais<br />

comuns, quais são os pacientes em uso <strong>de</strong> DMCD biológicas<br />

em risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> câncer e qual o momento<br />

da possível ocorrência do tumor. Os dados que po<strong>de</strong>m ser<br />

analisados advêm <strong>de</strong> metanálises <strong>de</strong> estudos randomizados<br />

controlados e estudos observacionais, incluindo os registros<br />

<strong>de</strong> biológicos. 89<br />

Os dados do Registro Alemão <strong>de</strong> Biológicos RABBIT, um<br />

estudo <strong>de</strong> coorte prospectivo, foram usados para investigar o<br />

risco <strong>de</strong> neoplasias novas ou recorrentes em pacientes com<br />

AR recebendo biológicos, em comparação com outras DMCD<br />

sintéticas. Não foram encontradas diferenças signifi cativas<br />

na incidência <strong>de</strong> neoplasias em pacientes expostos ou não<br />

ao tratamento com anti-TNF e anti-IL1. O mesmo se aplica<br />

ao risco <strong>de</strong> neoplasias recorrentes. Os autores sugeriram, no<br />

entanto, que os resultados necessitavam ser validados em<br />

coortes mais amplas. 93<br />

Uma recente revisão sistemática da literatura 87 incluiu<br />

todos os estudos randomizados, duplo-cegos, controlados por<br />

placebo avaliando pacientes com AR inicial que iniciaram terapia<br />

anti-TNF sem o uso prévio <strong>de</strong> DMCD (incluindo MTX),<br />

totalizando 2.183 pacientes recebendo terapia biológica e 1.236<br />

pacientes em uso <strong>de</strong> MTX. Não houve diferença signifi cativa<br />

quanto à ocorrência <strong>de</strong> neoplasias entre o grupo <strong>de</strong> pacientes<br />

em uso <strong>de</strong> anti-TNF e os controles. Os autores concluíram que<br />

não parece haver aumento do risco <strong>de</strong> neoplasias quando os<br />

pacientes têm o diagnóstico precoce e não recebem tratamento<br />

prévio com MTX ou outra DMCD.<br />

A segurança dos anti-TNF em pacientes com AR também<br />

foi avaliada, com cálculo <strong>de</strong> risco estimado em metanálises<br />

com e sem ajuste por exposição. 94 Dezoito estudos randomizados<br />

envolvendo 8.808 pacientes com AR foram incluídos<br />

(tempo <strong>de</strong> tratamento médio <strong>de</strong> 0,8 ano). O tratamento com<br />

doses recomendadas <strong>de</strong> anti-TNF não aumentou o risco <strong>de</strong><br />

morte (OR 1,39; 95% IC 0,74–2,62), <strong>de</strong> linfoma (OR 1,26;<br />

95% IC 0,<strong>52</strong>–3,06), <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pele não melanoma (OR<br />

1,27; 95% IC 0,67–2,42) ou o <strong>de</strong>sfecho composto <strong>de</strong> neoplasias<br />

não cutâneas mais melanomas (OR 1,31; 95% IC 0,69–2,48).<br />

Em metanálise avaliando estudos que incluíram pacientes<br />

com AR em uso <strong>de</strong> etanercepte (ETP) por 12 semanas ou mais 95<br />

foram analisados 3.316 pacientes, 2.244 dos quais receberam<br />

ETP (2.484 pacientes/ano) e 1.072 em uso <strong>de</strong> terapia controle<br />

(1.051 pacientes/ano). Neoplasias foram diagnosticadas em<br />

26 pacientes no grupo do ETP [taxa <strong>de</strong> incidência (IR) <strong>de</strong><br />

10,47/1.000 pessoas/ano] e sete pacientes no grupo-controle<br />

(IR 6,66/1.000 pacientes/ano). O HR foi <strong>de</strong> 1,84 (95% IC<br />

0,79–4,28) para o grupo do ETP em comparação ao grupo-<br />

controle. Nessa análise, a ocorrência <strong>de</strong> neoplasias foi maior<br />

no grupo <strong>de</strong> pacientes tratados com ETP, embora os resultados<br />

não tenham sido estatisticamente signifi cativos.<br />

Para <strong>de</strong>terminar o risco <strong>de</strong> neoplasia a curto e médio prazo<br />

em pacientes com AR em uso <strong>de</strong> anti-TNF, foram avaliados e<br />

cruzados dados do Registro Sueco <strong>de</strong> Biológicos (ARTIS), dos<br />

Registros Suecos <strong>de</strong> AR e do Registro Sueco <strong>de</strong> Câncer. Durante<br />

os primeiros seis anos após o início <strong>de</strong> terapia anti-TNF não foi<br />

observada elevação no risco <strong>de</strong> neoplasia. 96<br />

Outro aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado diz respeito à ocorrência<br />

<strong>de</strong> câncer em pacientes com AR e história prévia <strong>de</strong> neoplasia<br />

tratados com anti-TNF. Dados do Registro <strong>de</strong> Biológicos da<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Britânica <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> <strong>de</strong>monstraram 293<br />

pacientes com diagnóstico prévio <strong>de</strong> neoplasias em um total<br />

<strong>de</strong> 14.000 pacientes com AR. Foram comparadas as taxas <strong>de</strong><br />

incidência <strong>de</strong> neoplasias em 177 pacientes com AR tratados<br />

com anti-TNF e 117 pacientes tratados com DMCD sintéticas,<br />

488 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495


Consenso 2012 da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> sobre o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

todos com diagnóstico prévio <strong>de</strong> alguma neoplasia. As taxas <strong>de</strong><br />

incidência <strong>de</strong> neoplasias foram <strong>de</strong> 25,3 eventos/1.000 pessoas/<br />

ano na coorte <strong>de</strong> anti-TNF e 28,3/1.000 pessoas/ano na coorte<br />

<strong>de</strong> DMCD sintéticos, gerando uma taxa <strong>de</strong> incidência ajustada<br />

para ida<strong>de</strong> e gênero <strong>de</strong> 0,58 (95% IC 0,23–1,43) para a coorte<br />

tratada com anti-TNF comparada com a coorte <strong>de</strong> DMCD.<br />

Os autores concluíram que a forma como os reumatologistas<br />

britânicos selecionam os pacientes com AR e neoplasias prévias<br />

para o tratamento com biológicos não ocasiona aumento<br />

da ocorrência <strong>de</strong> malignida<strong>de</strong>s. 97 Esses dados, no entanto,<br />

não <strong>de</strong>vem ser interpretados como indicativos <strong>de</strong> segurança<br />

do tratamento <strong>de</strong> pacientes com AR e neoplasias prévias com<br />

anti-TNF.<br />

A edição <strong>de</strong> 2008 da Classifi cação da OMS para neoplasias<br />

dos tecidos linfoi<strong>de</strong>s e hematopoiéticos reconheceu uma nova<br />

entida<strong>de</strong> diagnóstica, <strong>de</strong>nominada “outras <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns linfoproliferativas<br />

iatrogênicas associadas à imuno<strong>de</strong>fi ciência”,<br />

<strong>de</strong>stacando os linfomas que surgem em pacientes tratados<br />

com agentes imunossupressores para o tratamento <strong>de</strong> doenças<br />

autoimunes. 98<br />

O papel dos anti-TNF no risco <strong>de</strong> linfomas em pacientes<br />

com AR permanece incerto. Wong et al. 98 publicaram uma<br />

metanálise <strong>de</strong> todos os ensaios clínicos controlados randomizados<br />

que <strong>de</strong>screviam pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> AR<br />

recebendo terapia anti-TNF. As taxas ajustadas foram <strong>de</strong><br />

0,36 linfoma por 1.000 pessoas/ano em pacientes que não<br />

receberam terapia anti-TNF versus 1,65 linfomas por 1.000<br />

pessoas/ano em pacientes que foram tratados com anti-TNF.<br />

A diferença entre as taxas teve 95% IC –0,214–2,79. A diferença<br />

entre as taxas ajustadas foi <strong>de</strong> 1,29 linfomas por 1.000<br />

pessoas/ano (95% IC 0,21–2,3, com P = 0,093). Sugeriu-se,<br />

portanto, que há maior ocorrência <strong>de</strong> linfomas no grupo tratado<br />

com anti-TNF, predominando o subtipo linfoma <strong>de</strong> células B.<br />

Como a ocorrência <strong>de</strong> linfoma é um evento raro, não houve<br />

signifi cância estatística.<br />

Em outra metanálise, realizada com a fi nalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar o<br />

risco <strong>de</strong> neoplasias em pacientes com AR em uso <strong>de</strong> anti-TNF<br />

na prática clínica (estudos observacionais prospectivos), a estimativa<br />

para o risco <strong>de</strong> tumores em todos os sítios foi <strong>de</strong> 0,95<br />

(95% IC 0,85–1,05). 99 Em pacientes com diagnóstico prévio<br />

<strong>de</strong> neoplasias houve maior risco <strong>de</strong> recorrência do tumor ou<br />

novos diagnósticos <strong>de</strong> neoplasias. Esse risco não foi aumentado<br />

pela exposição aos anti-TNF. Resultados <strong>de</strong> outros quatro<br />

estudos sugeriram que pacientes tratados com anti-TNF teriam<br />

um risco signifi cativamente maior <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver câncer <strong>de</strong><br />

pele não melanoma (1,45, 95% IC 1,15–1,76). Além disso, os<br />

pacientes apresentam maior risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver melanoma,<br />

e a estimativa agrupada foi <strong>de</strong> 1,79 (95% IC 0,92–2,67). A<br />

estimativa agrupada para o risco <strong>de</strong> linfoma foi <strong>de</strong> 1,11 (95%<br />

IC 0,70–1,51). Essa revisão sistemática <strong>de</strong>monstrou que o uso<br />

<strong>de</strong> tratamentos anti-TNF não aumenta o risco <strong>de</strong> neoplasias,<br />

particularmente <strong>de</strong> linfoma. Contudo, essa classe <strong>de</strong> drogas<br />

parece aumentar o risco <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pele, incluindo melanoma.<br />

Utilizando dados do ARTIS, Registro Sueco <strong>de</strong> Câncer e<br />

coortes <strong>de</strong> AR preexistentes e correlações com outros registros<br />

nacionais e censos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, foi montada uma coorte <strong>de</strong><br />

AR nacional sueca (n = 67.743) e <strong>de</strong> pacientes que iniciaram<br />

a terapia anti-TNF entre 1998 e julho <strong>de</strong> 2006 (n = 6.604).<br />

Também foi montado um comparativo da população em geral<br />

(n = 471.024), e a incidência <strong>de</strong> linfomas <strong>de</strong> 1999 a 2006 foi<br />

avaliada e comparada nesses indivíduos. Entre os 6.604 pacientes<br />

com AR tratados com anti-TNF, 26 linfomas malignos<br />

foram observados em 26.981 pessoas/ano <strong>de</strong> acompanhamento,<br />

o que correspondia a um RR <strong>de</strong> 1,35 (95% IC 0,82–2,11) versus<br />

pacientes com AR virgens <strong>de</strong> anti-TNF (336 linfomas durante<br />

365.026 pessoas/ano) e 2,72 (95% IC 1,82–4,08) versus o valor<br />

<strong>de</strong> referência da população em geral (1.568 linfomas durante<br />

3.355.849 pessoas/ano). Pacientes com AR que iniciaram a<br />

terapia anti-TNF entre 1998–2001 foram responsáveis por todo<br />

o aumento no risco <strong>de</strong> linfoma versus os dois comparadores.<br />

Por outro lado, o RR não variou signifi cativamente em relação<br />

ao tempo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do primeiro tratamento ou com a<br />

duração acumulada <strong>de</strong> tratamento, nem com o tipo <strong>de</strong> agente<br />

anti-TNF. Em conclusão, quando são tomados os <strong>de</strong>vidos<br />

cuidados na seleção dos pacientes, os agentes anti-TNF não<br />

estão associados a qualquer aumento da ocorrência <strong>de</strong> linfoma,<br />

que já é mais elevada em pacientes com AR. Alterações<br />

na seleção <strong>de</strong> pacientes para tratamento po<strong>de</strong>m infl uenciar o<br />

risco observado. 100<br />

Os dados sobre o papel <strong>de</strong> outras DMCD biológicas, além<br />

dos anti-TNF, na ocorrência <strong>de</strong> neoplasias em pacientes com<br />

AR são mais escassos.<br />

Com relação ao abatacepte (ABT), a fi m <strong>de</strong> obter informações<br />

sobre a ocorrência <strong>de</strong> neoplasias em pacientes com<br />

AR em tratamento com essa droga, dados do programa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento clínico da medicação foram comparados<br />

com dados <strong>de</strong> outros pacientes com AR e da população em<br />

geral. Foram incluídos no estudo um total <strong>de</strong> 4.134 pacientes<br />

com AR tratados com ABT (sete diferentes estudos) e 41.<strong>52</strong>9<br />

pacientes com AR tratados com DMCD sintéticas em cinco<br />

coortes observacionais. Nos pacientes tratados com ABT,<br />

os 51 casos <strong>de</strong> neoplasias (excluindo-se câncer <strong>de</strong> pele não<br />

melanoma), incluindo sete casos <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama, dois<br />

casos <strong>de</strong> câncer colorretal, 13 casos <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> pulmão<br />

e cinco casos <strong>de</strong> linfoma observados não foram superiores<br />

ao encontrado nas cinco coortes observacionais. A razão <strong>de</strong><br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495 489


Pereira et al.<br />

incidência estimada, comparando os pacientes com AR com<br />

a população geral foi consistente com o relatado na literatura.<br />

Em conclusão, a taxa <strong>de</strong> incidência total <strong>de</strong> neoplasias (câncer<br />

<strong>de</strong> mama, colorretal, pulmonar e linfoma) nos programas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento clínico do ABT foi consistente com a da<br />

população com AR que não fez uso <strong>de</strong>ssa droga, embora os<br />

dados mereçam monitoramento. 101<br />

Para <strong>de</strong>terminar as condições <strong>de</strong> segurança na vida real para<br />

o tratamento com rituximabe (RTX) em pacientes com AR,<br />

com relação à ocorrência <strong>de</strong> neoplasias, realizou-se análise dos<br />

dados <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> uma coorte <strong>de</strong> pacientes com AR que<br />

receberam ao menos um curso <strong>de</strong> RTX. Os pacientes com AR<br />

e diagnósticos prévios <strong>de</strong> neoplasias foram acompanhados e<br />

comparados ao grupo <strong>de</strong> pacientes sem história prévia <strong>de</strong> câncer.<br />

Foram selecionados 186 pacientes com AR. O tempo médio<br />

<strong>de</strong> acompanhamento foi <strong>de</strong> 22,3 ± 15 meses, correspon<strong>de</strong>ndo<br />

a um seguimento <strong>de</strong> 346 pacientes/ano <strong>de</strong> exposição ao RTX.<br />

Entre esses, 24 (12,9%) apresentavam história pregressa <strong>de</strong><br />

malignida<strong>de</strong>s. Cinco cânceres foram diagnosticados durante o<br />

acompanhamento, com quatro novas neoplasias (uma próstata,<br />

uma mama, um cólon e um cérvix) e houve uma recorrência <strong>de</strong><br />

câncer <strong>de</strong> mama. A taxa global <strong>de</strong> neoplasias foi <strong>de</strong> 1,45/100<br />

pacientes/ano (95% IC 0,19–2,70), comparável às coortes<br />

tratadas com DMCD previamente acompanhadas. Nenhuma<br />

nova neoplasia hematopoiética foi relatada, e seis casos <strong>de</strong><br />

linfoma que estavam em remissão antes do tratamento com<br />

RTX assim permaneceram durante o acompanhamento. Dessa<br />

forma, embora com base em um pequeno número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><br />

neoplasia observados, e a <strong>de</strong>speito do viés <strong>de</strong> seleção (12,9%<br />

<strong>de</strong> neoplasias prévias nos pacientes tratados com RXT), esse<br />

estudo observacional sugeriu que o RTX não aumenta o risco<br />

<strong>de</strong> neoplasias em pacientes com AR. 102<br />

Até 70% dos diagnósticos <strong>de</strong> câncer são feitos por médicos<br />

não oncologistas, o que evi<strong>de</strong>ncia a importância <strong>de</strong>sses profi ssionais<br />

no controle da doença. Como a AR é uma condição que<br />

se associa à ocorrência <strong>de</strong> neoplasias, per si ou pelo tratamento<br />

utilizado para controle da doença, é muito importante que o<br />

reumatologista esteja atento aos sintomas suspeitos. A vigilância<br />

constante é a única forma <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar condutas diagnósticas<br />

e terapêuticas, ressaltando-se que a rapi<strong>de</strong>z no diagnóstico e<br />

no encaminhamento do caso são as únicas formas <strong>de</strong> garantir<br />

redução da morbimortalida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> neoplasias.<br />

Osteoporose<br />

Osteoporose e fraturas são comorbida<strong>de</strong>s comuns em pacientes<br />

portadores <strong>de</strong> AR e inerentes ao curso natural da doença. O<br />

problema da osteoporose na AR, embora tenha sido estudado<br />

extensamente nos últimos anos, é pouco lembrado em diretrizes<br />

clínicas, e seu manejo muitas vezes relegado a um segundo<br />

plano <strong>de</strong>ntro dos cuidados do paciente artrítico. A relevância<br />

<strong>de</strong>sse tema é refl etida na alta prevalência <strong>de</strong>ssa comorbida<strong>de</strong>,<br />

que po<strong>de</strong> acometer mais da meta<strong>de</strong> dos pacientes portadores<br />

<strong>de</strong> AR. 103 Consequentemente, o risco <strong>de</strong> fraturas é maior que o<br />

da população em geral. Em estudo retrospectivo com mais <strong>de</strong><br />

30.000 pacientes verifi cou-se que em portadores <strong>de</strong> AR o risco<br />

<strong>de</strong> fraturas <strong>de</strong> quadril e coluna vertebral é aproximadamente o<br />

dobro comparado àquele observado na população em geral, e<br />

quase três vezes maior nos pacientes em uso <strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong>. 104<br />

Além disso, quase 20% das pacientes com AR po<strong>de</strong>m apresentar<br />

novas fraturas em cinco anos. 105<br />

A fi siopatogenia da AR explica o <strong>de</strong>sequilíbrio entre a<br />

produção e reabsorção óssea. A doença exibe uma produção<br />

aumentada <strong>de</strong> citocinas como IL-1, IL-6, TNF-α e fator transformador<br />

<strong>de</strong> crescimento-beta, que estimulam a infl amação e<br />

são envolvidas na ativação e na diferenciação dos osteoclastos. 106<br />

Essas citocinas regulam a expressão <strong>de</strong> ligante do receptor do<br />

ativador do fator nuclear kappa-β (RANKL) e, consequentemente,<br />

<strong>de</strong> osteoprotegerina (OPG), que são mediadores<br />

fundamentais da remo<strong>de</strong>lação óssea. 107 Além do eixo RANK-<br />

RANKL-OPG, os linfócitos Th17 parecem <strong>de</strong>sempenhar<br />

função importante na reabsorção óssea por meio <strong>de</strong> produção<br />

seletiva <strong>de</strong> citocinas pró-infl amatórias. Tem-se <strong>de</strong>monstrado<br />

em mo<strong>de</strong>los murinos que linfócitos Th17 apresentam efeitos<br />

osteoclastogênicos e aceleram a perda óssea em doenças<br />

infl amatórias. 107,108<br />

A AR é um fator <strong>de</strong> risco in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para fratura óssea. 109<br />

Na abordagem dos pacientes com AR, fatores <strong>de</strong> risco tradicionais<br />

<strong>de</strong>vem ser pesquisados, como ida<strong>de</strong> avançada, história<br />

<strong>de</strong> fratura prévia, corticoterapia, história familiar <strong>de</strong> fratura<br />

<strong>de</strong> quadril, baixo peso corporal, tabagismo e etilismo. Outras<br />

condições clínicas que promovem perda <strong>de</strong> massa óssea <strong>de</strong>vem<br />

também ser documentadas na avaliação clínica, como hipogonadismo,<br />

menopausa precoce, doença infl amatória intestinal e<br />

outras. As características próprias <strong>de</strong> doenças relacionadas à<br />

baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> mineral óssea são HAQ (Health Assessment<br />

Questionnaire) elevado, classe funcional III e IV, doença <strong>de</strong><br />

longa duração, altos escores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> e provas infl amatórias<br />

elevadas e corticoterapia. 110 Eles <strong>de</strong>vem ser i<strong>de</strong>ntifi cados<br />

e minimizados. Outro fator <strong>de</strong> risco in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para perda<br />

<strong>de</strong> massa óssea é o se<strong>de</strong>ntarismo. O início <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física<br />

também po<strong>de</strong> reduzir o risco <strong>de</strong> osteopenia e a perda <strong>de</strong> massa<br />

óssea. 111–113<br />

Diretrizes nacionais <strong>de</strong> avaliação, prevenção e tratamento<br />

da osteoporose em pacientes portadores <strong>de</strong> AR são uma<br />

necessida<strong>de</strong> premente. Na avaliação inicial, a <strong>de</strong>nsitometria<br />

óssea <strong>de</strong>ve ser indicada para todos os pacientes acima <strong>de</strong> 50 anos.<br />

490 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495


Consenso 2012 da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> sobre o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> mineral óssea também <strong>de</strong>ve ser avaliada nas<br />

pacientes abaixo dos 50 anos com fator <strong>de</strong> risco adicional,<br />

como história <strong>de</strong> fratura e corticoterapia (dose ≥ 7,5 mg <strong>de</strong><br />

prednisona/dia por mais que três meses). 113 Em pacientes com<br />

osteoporose estabelecida é aconselhável solicitar fosfatase<br />

alcalina, TSH e eletroforese <strong>de</strong> proteínas, além <strong>de</strong> avaliar os<br />

níveis séricos <strong>de</strong> vitamina D. Quanto ao manejo não farmacológico,<br />

algumas medidas <strong>de</strong>vem ser tomadas para todos os<br />

pacientes, como orientar exercícios com impacto, evitar quedas,<br />

cessar tabagismo, aumentar a exposição solar e evitar ingestão<br />

abusiva <strong>de</strong> álcool. Atenção especial <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>spendida<br />

para pacientes em corticoterapia, além da indicação <strong>de</strong> cálcio<br />

1.200–1.500 mg/dia, bem como <strong>de</strong> suplementação <strong>de</strong> vitamina<br />

D. 114 Quanto ao manejo farmacológico, o tratamento com<br />

bisfosfonato preferencialmente <strong>de</strong>ve ser indicado para todos<br />

os pacientes com escore T < –2,5 na <strong>de</strong>nsitometria óssea, e<br />

para aqueles com escores < –1,0, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estejam em uso<br />

<strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong>. 113,114<br />

RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA<br />

DE REUMATOLOGIA PARA O MANEJO DE<br />

COMORBIDADES EM PACIENTES COM<br />

DIAGNÓSTICO DE ARTRITE REUMATOIDE<br />

Com base nas consi<strong>de</strong>rações anteriores, os especialistas<br />

membros da Comissão <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong> da SBR fazem<br />

as recomendações resumidas na Tabela 1 para o manejo <strong>de</strong><br />

comorbida<strong>de</strong>s em pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> AR.<br />

Tabela 1<br />

Recomendações da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> para o manejo <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s em pacientes com diagnóstico <strong>de</strong><br />

artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

Recomendação 1: Diagnosticar e tratar precoce e a<strong>de</strong>quadamente comorbida<strong>de</strong>s como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipi<strong>de</strong>mia,<br />

síndrome metabólica e aterosclerose é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no manejo <strong>de</strong> pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong>, pois reduz a morbimortalida<strong>de</strong> relacionada<br />

à doença e melhora a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do paciente.<br />

Recomendação 2: O tratamento específi co da artrite reumatoi<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser adaptado à presença <strong>de</strong> comorbida<strong>de</strong>s, utilizando, se possível, drogas que não<br />

<strong>de</strong>terminem <strong>de</strong>scontrole das comorbida<strong>de</strong>s.<br />

Recomendação 3: Devido aos efeitos benéfi cos em nível endotelial, e por interferirem menos no metabolismo dos carboidratos e causarem menos<br />

dislipi<strong>de</strong>mia, inibidores da enzima conversora da angiotensina ou bloqueadores dos receptores <strong>de</strong> angiotensina II são preferidos como terapia inicial no<br />

tratamento da hipertensão arterial sistêmica em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong>, em vez <strong>de</strong> betabloqueadores e diuréticos. No tratamento concomitante<br />

<strong>de</strong> pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> e hipertesão arterial sistêmica <strong>de</strong>ve-se, se possível, evitar o uso em conjunto <strong>de</strong> forma contínua <strong>de</strong> anti-infl amatórios<br />

e/ou dose alta <strong>de</strong> glicocorticoi<strong>de</strong>.<br />

Recomendação 4: Em pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> artrite reumatoi<strong>de</strong> e diabetes mellitus <strong>de</strong>ve-se evitar o uso contínuo <strong>de</strong> alta dose cumulativa <strong>de</strong><br />

corticoi<strong>de</strong>s. Estratégias para um controle efetivo da infl amação sistêmica da artrite reumatoi<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser implementadas, pois isso parece auxiliar no<br />

controle do diabetes mellitus.<br />

Recomendação 5: A ocorrência <strong>de</strong> dislipi<strong>de</strong>mia na artrite reumatoi<strong>de</strong> ocasiona maior risco <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong> cardiovascular. O tratamento <strong>de</strong>ve ser<br />

precoce e a<strong>de</strong>quado. Sugere-se o uso <strong>de</strong> estatinas para manter níveis <strong>de</strong> LDL menor que 100 mg/dL e índice aterosclerótico menor que 3,5 na população<br />

<strong>de</strong> pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> que apresentam outras comorbida<strong>de</strong>s que aumentem ainda mais o risco <strong>de</strong> evento cardiovascular (como hipertensão<br />

arterial sistêmica, diabetes mellitus e/ou dislipi<strong>de</strong>mia), e naqueles que apresentam evidência <strong>de</strong> doença aterosclerótica subclínica como a presença <strong>de</strong><br />

placas <strong>de</strong> ateroma nas carótidas.<br />

Recomendação 6: A presença <strong>de</strong> síndrome metabólica em população sem artrite reumatoi<strong>de</strong> está associada a maior chance <strong>de</strong> evento cardiovascular e<br />

maior mortalida<strong>de</strong> em geral. Todos os componentes <strong>de</strong>ssa condição, incluindo obesida<strong>de</strong> centralmente distribuída, níveis reduzidos <strong>de</strong> HDL colesterol,<br />

níveis elevados <strong>de</strong> triglicerí<strong>de</strong>os, aumento da pressão arterial e hiperglicemia, <strong>de</strong>vem ser a<strong>de</strong>quadamente tratados.<br />

Recomendação 7: Consi<strong>de</strong>rando a alta prevalência da aterosclerose na artrite reumatoi<strong>de</strong>, e seu curso acelerado e silencioso, recomenda-se a realização<br />

<strong>de</strong> exames não invasivos para a investigação <strong>de</strong> aterosclerose subclínica em pacientes que apresentem artrite reumatoi<strong>de</strong> e comorbida<strong>de</strong>s. A realização <strong>de</strong><br />

ultrassom <strong>de</strong> artérias carótidas em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> e mais <strong>de</strong> 50 anos é sugerida, para mensuração da espessura da camada intimomedial<br />

e a pesquisa <strong>de</strong> placas <strong>de</strong> ateroma.<br />

Recomendação 8: Recomenda-se ao reumatologista maior vigilância <strong>de</strong> sinais e sintomas que possam alertar para um diagnóstico precoce <strong>de</strong> neoplasia<br />

oculta em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando a maior prevalência <strong>de</strong> neoplasias sólidas e linfoma.<br />

Recomendação 9: Medidas <strong>de</strong> prevenção farmacológicas e não farmacológicas, como o uso <strong>de</strong> heparina não fracionada ou <strong>de</strong> baixo peso molecular,<br />

<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> que estejam internados, já que complicações tromboembólicas são mais frequentes nesse<br />

grupo <strong>de</strong> pacientes.<br />

Recomendação 10: Recomenda-se a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsitometria óssea em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> acima <strong>de</strong> 50 anos, e naqueles com ida<strong>de</strong><br />

menor que estejam em terapia com corticoi<strong>de</strong> em dose maior que 7,5 mg por mais <strong>de</strong> três meses.<br />

Recomendação 11: Pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> e osteoporose <strong>de</strong>vem ser orientados quanto a medidas para evitar quedas; <strong>de</strong>vem ser aconselhados<br />

a aumentarem a ingestão <strong>de</strong> cálcio na dieta, aumentarem a exposição solar e fazerem ativida<strong>de</strong> física.<br />

Recomendação 12: Suplementação <strong>de</strong> cálcio e vitamina D é sugerida aos pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> que estejam em uso <strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong> por mais<br />

<strong>de</strong> três meses, ou que apresentem outros fatores <strong>de</strong> risco para fraturas concomitantes à artrite reumatoi<strong>de</strong>. A utilização <strong>de</strong> bisfosfonatos é sugerida para<br />

pacientes com escore T < –2,5 na DMO, ou < –1,0 na presença <strong>de</strong> outros fatores <strong>de</strong> risco para osteoporose.<br />

Recomendação 13: Recomenda-se uma equipe multidisciplinar, com a participação ativa do médico reumatologista, no tratamento das comorbida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

difícil controle em pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong>.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495 491


Pereira et al.<br />

CONCLUSÕES<br />

Recomendações para diagnosticar e tratar precoce e a<strong>de</strong>quadamente<br />

a AR têm sido preconizadas em nossos consensos<br />

e são fundamentais para melhora nos <strong>de</strong>sfechos clínicos da<br />

AR. 115,116 Da mesma forma, o entendimento e o manejo das<br />

comorbida<strong>de</strong>s como osteoporose, HAS, DM, dislipi<strong>de</strong>mia,<br />

SM e aterosclerose são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, pois reduzem<br />

a morbimortalida<strong>de</strong> relacionada à doença e melhoram a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida do paciente. Estar atento a sinais e sintomas<br />

que possam sugerir a presença <strong>de</strong> neoplasia em fase inicial<br />

é importante para o melhor prognóstico <strong>de</strong>ssa comorbida<strong>de</strong>.<br />

Medidas farmacológicas e não farmacológicas <strong>de</strong> prevenção<br />

<strong>de</strong> trombose venosa <strong>de</strong>vem ser lembradas nos pacientes com<br />

AR, consi<strong>de</strong>rando o risco aumentado <strong>de</strong>ssa complicação.<br />

O acompanhamento multidisciplinar dos pacientes com AR que<br />

tenham comorbida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> difícil controle é sugerido, já que isso po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminar melhor resposta clínica <strong>de</strong>ssas patologias associadas.<br />

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the prevention and treatment of glucocorticoid-induced osteoporosis.<br />

Arthritis Care Res (Hoboken) 2010; 62(11):1515–26.<br />

115. Mota LMH, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Fronza LS, Bertolo MB<br />

et al. 2011 Consensus of the Brazilian Society of Rheumatology for<br />

diagnosis and early assessment of rheumatoid arthritis. Rev Bras<br />

Reumatol 2011; 51(3):199–219.<br />

116. da Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Rezen<strong>de</strong>-Fronza LS,<br />

Bertolo MB et al. 2012 Brazilian Society of Rheumatology<br />

Consensus for the treatment of rheumatoid arthritis. Rev Bras<br />

Reumatol 2012; <strong>52</strong>(2):1<strong>52</strong>–74.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):474-495 495


ARTIGO ORIGINAL<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Avaliação <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> medida<br />

usados em pacientes com fi bromialgia<br />

Adriana Martins Barros Alves 1 , Jamil Natour 2 , Marcos Renato Assis 3 , Daniel Feldman 2<br />

Objetivo: Avaliar os diferentes instrumentos <strong>de</strong> medida usados em pacientes com fi bromialgia. Pacientes e métodos:<br />

Foram avaliados 60 indivíduos que participaram <strong>de</strong> um ensaio clínico <strong>de</strong> corte transversal comparando os efeitos <strong>de</strong> exercícios<br />

realizados na água e exercícios realizados em solo, por meio dos questionários Fibromyalgia Impact Questionnaire<br />

(FIQ) para avaliar o impacto da doença, The Medical Outcomes Study 36 item Short-Form Health Survey (SF-36) para<br />

avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, Inventário Beck para avaliar o estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e escala visual analógica da dor (EVA).<br />

Esses questionários foram comparados aos resultados obtidos em uma escala transicional do tipo Likert, a Escala verbal <strong>de</strong><br />

avaliação <strong>de</strong> mudança (EVAM), consi<strong>de</strong>rada como critério <strong>de</strong> mudança na avaliação dos outros instrumentos. Resultados:<br />

O coefi ciente <strong>de</strong> Spearman foi usado para estudar a correlação entre a medida EVAM e os outros instrumentos em dois<br />

momentos (T1 e T2). Em T1 houve correlação mo<strong>de</strong>rada entre EVAM e EVA (r = 0,49), EVAM e FIQ (r = 0,41) e correlação<br />

negativa entre EVAM e os domínios referentes a dor (r = −0,49), estado geral (r = −0,55) e componente físico<br />

(r = −0,42) do SF-36. Em T2, apenas o domínio vitalida<strong>de</strong> do SF-36 mostrou correlação negativa com EVAM, <strong>de</strong> valor<br />

fraco (r = −0,27). Conclusão: Consi<strong>de</strong>rando-se a EVAM como padrão ouro, nenhum dos instrumentos avaliados conseguiu<br />

captar, <strong>de</strong> maneira ótima, mudança no estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do paciente com fi bromialgia.<br />

Palavras-chave: fi bromialgia, questionários, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A fi bromialgia (FM) é uma síndrome caracterizada por dor<br />

difusa 1 crônica <strong>de</strong> etiologia <strong>de</strong>sconhecida, provavelmente<br />

multifatorial, 2–5 distúrbios do sono, fadiga e alterações do humor.<br />

6,7 Não apresenta injúria tissular nem alterações nos exames<br />

laboratoriais e <strong>de</strong> imagem. 8 Assim, a intensida<strong>de</strong>, o impacto na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do paciente e as variações temporais ou <strong>de</strong><br />

intervenções terapêuticas são subjetivos, difíceis e imprecisos. 9<br />

A escolha dos instrumentos <strong>de</strong> medida para quantifi car<br />

esses parâmetros clínicos <strong>de</strong>ve ser cuidadosa, pois um critério<br />

evolutivo <strong>de</strong>ve apresentar proprieda<strong>de</strong>s psicométricas a<strong>de</strong>quadas.<br />

Para ser signifi cativo, o instrumento <strong>de</strong>ve ser sensível a<br />

mudanças e clinicamente mensurável, além <strong>de</strong> ter alta confi abilida<strong>de</strong><br />

e valida<strong>de</strong>. Outros aspectos <strong>de</strong>sses instrumentos também<br />

são importantes, como aplicabilida<strong>de</strong>, praticida<strong>de</strong> e clareza. 10<br />

O único questionário <strong>de</strong>senvolvido especifi camente para FM,<br />

o Questionário <strong>de</strong> Impacto da Fibromialgia (FIQ), apesar <strong>de</strong><br />

ser validado <strong>de</strong> forma limitada, 11–16 tem seu uso difundido em<br />

vários países. Em um estudo <strong>de</strong> 2009, 17 no qual estimou-se a<br />

mínima diferença clinicamente importante (MDCI) no FIQ,<br />

concluiu-se que uma mudança <strong>de</strong> 14% no valor total <strong>de</strong>sse instrumento<br />

correspon<strong>de</strong> a uma mudança clinicamente relevante,<br />

reforçando sua utilização na pesquisa e na clínica.<br />

Ensaios clínicos envolvendo pacientes com FM apresentam<br />

gran<strong>de</strong> difi culda<strong>de</strong> na escolha <strong>de</strong> critérios evolutivos a<strong>de</strong>quados<br />

<strong>de</strong>corrente da subjetivida<strong>de</strong> e da heterogeneida<strong>de</strong> dos sintomas.<br />

18 Além disso, existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong> variáveis<br />

<strong>de</strong> cunho fi siológico, cognitivo-verbal e comportamental.<br />

Em uma revisão <strong>de</strong> 24 ensaios clínicos envolvendo pacientes<br />

Recebido em 30/05/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse. Comitê <strong>de</strong> Ética: 0580/01.<br />

Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo – EPM/Unifesp<br />

1. Fisioterapeuta<br />

2. Professor <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo - Unifesp<br />

3. Professor <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Marília<br />

Correspondência para: Jamil Natour. Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Unifesp/EPM. Rua Botucatu, 740. CEP: 04023-900. São Paulo, SP, Brasil.<br />

E-mail: jnatour@unifesp.br<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):496-506 501


Alves et al.<br />

com FM, usou-se gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parâmetros, porém<br />

não foram encontrados os mesmos critérios <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong><br />

maneira consistente em nenhum dos estudos. 19 Em outra revisão<br />

sistemática mais recente 20 comparando-se as variáveis mais<br />

usadas em ensaios clínicos com as diretrizes da OMERACT<br />

(Outcome Measures in Rheumatoid Arthritis Clinical Trials),<br />

especifi camente <strong>de</strong>senvolvidas para FM, 21 concluiu-se que<br />

cada domínio do OMERACT tem um instrumento que parece<br />

ser sensível à mudança.<br />

Ainda não está estabelecido um consenso sobre o padrão<br />

ouro a<strong>de</strong>quado para avaliar a melhora clínica resultante das<br />

diferentes intervenções terapêuticas usadas na FM, sobretudo na<br />

população brasileira. 22 Na falta <strong>de</strong> medidas objetivas que i<strong>de</strong>ntifi<br />

quem a melhora do paciente, os estudos utilizam-se <strong>de</strong> medidas<br />

subjetivas, incluindo questionários que avaliam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida, o impacto da doença e escalas <strong>de</strong> dor. Ao tratar-se <strong>de</strong> sintomas<br />

subjetivos, a ótica do paciente é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância,<br />

pois implica avaliação complexa <strong>de</strong> múltiplos domínios que<br />

afetam a integrida<strong>de</strong> biopsicossocial do indivíduo. 23 Assim, a<br />

referência dada pelo próprio paciente quanto ao seu estado <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada como padrão ouro que oriente a<br />

terapêutica. 24–27 Desse modo, o objetivo do presente estudo foi<br />

verifi car a correlação entre os instrumentos <strong>de</strong> medida usados<br />

na terapêutica da FM e o questionário objetivo feito ao paciente,<br />

usando-se este como suposto parâmetro <strong>de</strong> maior sensibilida<strong>de</strong>.<br />

PACIENTES E MÉTODOS<br />

Amostra<br />

Os pacientes <strong>de</strong>ste estudo foram recrutados a partir <strong>de</strong> um<br />

ensaio clínico que avaliou os efeitos <strong>de</strong> exercícios realizados<br />

na água e exercícios realizados em solo por mulheres<br />

diagnosticadas com FM. As 60 pacientes que participaram<br />

do estudo preenchiam os critérios do American College of<br />

Rheumatology (ACR) para FM e foram selecionadas sistematicamente<br />

pelo encaminhamento clínico do ambulatório<br />

da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

São Paulo (Unifesp). Das 60 pacientes incluídas, somente 51<br />

completaram todas as avaliações – objeto <strong>de</strong>sta análise.<br />

Procedimentos<br />

O projeto foi aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética da Unifesp e todas<br />

as participantes assinaram o termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido.<br />

As pacientes selecionadas foram avaliadas <strong>de</strong> acordo<br />

com os seguintes questionários: (a) FIQ, 9 questionário que avalia<br />

o impacto da doença e cuja pontuação é diretamente proporcional<br />

ao impacto – quanto maior a pontuação, pior o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Esse questionário contém 10 questões e quantifi ca incapacida<strong>de</strong><br />

funcional, intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dor, distúrbios do sono, ansieda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>pressão e bem-estar global; (b) SF-36 (The Medical Outcomes<br />

Study 36 item Short-Form Health Survey), instrumento validado<br />

na população brasileira 28 que avalia a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e<br />

é dividido em componente físico, que <strong>de</strong>termina, por meio da<br />

avaliação dos domínios que o compõem (capacida<strong>de</strong> funcional,<br />

aspectos físicos, dor e estado geral <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>), o estado físico do<br />

paciente e o componente mental, que também é composto por<br />

domínios (vitalida<strong>de</strong>, aspectos emocionais, aspectos sociais e<br />

saú<strong>de</strong> mental) e revela a situação do estado psicoemocional do<br />

paciente. Nesse questionário, uma pontuação maior indica melhor<br />

estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; (c) Beck (Inventário Beck <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão),<br />

com 21 questões que avaliam o estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão – quanto<br />

maior a pontuação, maior é o estado <strong>de</strong>pressivo; e (d) EVA<br />

(Escala Visual Analógica) <strong>de</strong> dor, em que o paciente classifi ca<br />

sua dor em uma escala <strong>de</strong> 0–10 cm, na qual uma pontuação<br />

maior correspon<strong>de</strong>nte à maior dor possível. As avaliações foram<br />

realizadas no início do tratamento (T0), na oitava semana (T1)<br />

e na décima quinta semana <strong>de</strong> tratamento (T2).<br />

A perspectiva do paciente foi avaliada a partir <strong>de</strong> uma<br />

escala transicional tipo Likert <strong>de</strong> cinco pontos, a Escala Verbal<br />

<strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Mudança (EVAM), que variava entre 1 (melhorou<br />

bastante), 2 (melhorou mo<strong>de</strong>radamente), 3 (melhorou<br />

levemente), 4 (não melhorou) e 5 (piorou), e serviu como<br />

referência (padrão ouro) para a percepção global <strong>de</strong> mudança.<br />

Todos os instrumentos foram aplicados por um avaliador<br />

cego em relação ao grupo terapêutico a que o paciente pertencia.<br />

Análise estatística<br />

Os seguintes métodos estatísticos foram utilizados para a análise<br />

dos resultados obtidos neste estudo: (a) estatística <strong>de</strong>scritiva,<br />

para análise das variáveis <strong>de</strong>mográfi ca e clínica (média e <strong>de</strong>svio<br />

padrão); (b) coefi ciente <strong>de</strong> Spearman para verifi car a correlação<br />

entre os resultados dos escores <strong>de</strong> mudança dos diferentes<br />

instrumentos usados e a EVAM. Os valores usados nessas<br />

comparações advêm do resultado da diferença <strong>de</strong> pontuação<br />

<strong>de</strong> cada questionário e da escala <strong>de</strong> dor em T0 e T1 – ou seja,<br />

entre a primeira avaliação (T0) e a segunda avaliação (T1). Em<br />

seguida, esses valores fi nais foram comparados com a EVAM em<br />

T1. A EVAM em T2 foi comparada à diferença entre os valores<br />

dos questionários e os valores da escala <strong>de</strong> dor entre T1 e T2.<br />

Foi usada (c) análise <strong>de</strong> regressão linear para verifi car qual<br />

das medidas tem maior relação com a mudança percebida pelo<br />

paciente em T1 e T2. Calculou-se também o (d) tamanho do<br />

efeito <strong>de</strong> cada instrumento, <strong>de</strong>fi nido como a média nos escores<br />

<strong>de</strong> base até a oitava semana (T1) dividido pelo <strong>de</strong>svio padrão<br />

dos escores <strong>de</strong> base. Utilizou-se esse método para averiguar a<br />

502 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):496-506


intensida<strong>de</strong> da mudança ocorrida, indicando a MDCI. As análises<br />

foram feitas por protocolo – assim, o número da amostra usado<br />

para os cálculos estatísticos foi o número <strong>de</strong> pacientes que completou<br />

todos os instrumentos <strong>de</strong> medida, em todas as avaliações.<br />

RESULTADOS<br />

Das 60 pacientes selecionadas para o estudo, 51 respon<strong>de</strong>ram<br />

todos os instrumentos em todas as avaliações. A Figura 1<br />

mostra o escore <strong>de</strong> classifi cação da EVAM em T1 e T2. Na<br />

Tabela 1 estão mostrados os valores médios e os respectivos<br />

<strong>de</strong>svios padrão obtidos nos questionários FIQ, Beck, EVA e<br />

SF-36 em T0, T1 e T2.<br />

Número <strong>de</strong> pacientes<br />

50<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10 50<br />

21,6<br />

Melhorou muito<br />

41,2<br />

Escala verbal <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> mudança<br />

43,141,2<br />

Melhorou mo<strong>de</strong>radamente<br />

Melhorou levemente<br />

25,5<br />

11,8 9,8<br />

3,9<br />

Não melhorou<br />

Sensação <strong>de</strong> melhora<br />

Figura 1<br />

Desempenho da escala verbal <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> mudança em<br />

T1 e T2.<br />

Tabela 1<br />

Média (<strong>de</strong>svio padrão) do FIQ, BECK, EVA e SF-36 em T0,<br />

T1 e T2<br />

T0 T1 T2<br />

FIQ 63,29 (13,86) 43,28 (19,36) 38,07 (19,46)<br />

BECK 18,60 (9,11) 11,25 (10,25) 9,58 (9,49)<br />

EVA 8,27 (1,55) 5,85 (2,32) 5,05 (2,42)<br />

SF-36/CF 57,41 (21,28) 62,91 (25,59) 66,00 (29,<strong>52</strong>)<br />

SF-36/AF 18,75 (30,05) 43,33 (41,90) 53,75 (45,29)<br />

SF-36/DO 31,66 (15,94) 42,91 (21,50) 49,63 (27,48)<br />

SF-36/VT 30,91 (18,67) 47,41 (23,17) 49,16 (28,24)<br />

SF-36/EG 45,81 (19,64) 53,21 (25,34) 54,63 (28,36)<br />

SF-36/AS 54,37 (30,77) 71,82 (33,54) 69,16 (37,42)<br />

SF-36/AE 38,33 (41,54) 55,00 (42,88) 56,66 (45,22)<br />

SF-36/SM 45,40 (22,29) 56,93 (26,90) 57,60 (30,80)<br />

SF-36/COMP F 35,08 (6,93) 41,16 (7,68) 44,72 (8,59)<br />

SF-36/COMP M 38,27 (12,84) 46,22 (11,85) 47,25 (12,62)<br />

CF: capacida<strong>de</strong> funcional; AF: aspectos físicos; DO: dor; VT: vitalida<strong>de</strong>; EG: estado geral;<br />

AS: aspectos sociais; AE aspectos emocionais; SM: saú<strong>de</strong> mental; COMP F: componente físico;<br />

COMP M: componente mental.<br />

0<br />

2<br />

Piorou<br />

Porcentagem - T1<br />

Porcentagem - T2<br />

Avaliação <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> medida usados em pacientes com fi bromialgia<br />

O coefi ciente <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Spearman revelou correspondência<br />

significativa do EVAM com a EVA <strong>de</strong> dor<br />

(P < 0,001), com o FIQ e os domínios dor, e com o estado<br />

geral e componente físico do SF-36 em T1 (Tabela 2). Em T2,<br />

a única variável que apresentou correlação estatisticamente<br />

signifi cativa foi o domínio vitalida<strong>de</strong>, com P = 0,04 (Tabela 3).<br />

Tabela 2<br />

Correlação entre a medida EVAM 1 e ***Delta FIQ, BECK,<br />

EVA e domínios e componentes do SF-36<br />

EVAM1 r P<br />

FIQ 0,41 0,002**<br />

BECK 0,32 0,02*<br />

EVA 0,49 0,001**<br />

CF/SF-36 −0,23 0,09<br />

AF/SF-36 −0,28 0,04*<br />

DO/SF-36 −0,49 0,001**<br />

VT/SF-36 −0,29 0,03*<br />

EG/SF-36 −0,55 0,001**<br />

AS/SF-36 −0,26 0,06<br />

AE/SF-36 −0,17 0,06<br />

SM/SF-36 −0,31 0,02*<br />

COMP F/SF-36 −0,42 0,002**<br />

COMP M/SF-36 −0,25 0,06<br />

***Diferença entre a primeira e a segunda avaliação; **Correlação signifi cante P > 0,01; *Correlação<br />

signifi cante P > 0,05. r: Coefi ciente <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Spearman.<br />

Tabela 3<br />

Correlação entre a medida EVAM 2 e ***Delta FIQ, BECK,<br />

EVA e domínios e componentes do SF-36<br />

EVAM2 r P<br />

FIQ 0,07 0,62<br />

BECK −0,18 0,19<br />

EVA 0,18 0,18<br />

CF/SF-36 −0,1 0,47<br />

AF/SF-36 −0,13 0,35<br />

DO/SF-36 −0,17 0,23<br />

VT/SF-36 −0,27 0,04*<br />

EG/SF-36 −0,03 0,8<br />

AS/SF-36 −0,76 0,59<br />

AE/SF-36 −0,08 0,55<br />

SM/SF-36 0,02 0,86<br />

COMP F/SF-36 −0,12 0,38<br />

COMP M/SF-36 −0,09 0,<strong>52</strong><br />

***Diferença entre a segunda e terceira avaliação; **Correlação signifi cante P > 0,01; *Correlação<br />

signifi cante P > 0,05. r: Coefi ciente <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Spearman.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):496-506 503


Alves et al.<br />

A análise <strong>de</strong> regressão linear simples revelou em T1 correlação<br />

estatisticamente signifi cante entre EVAM e a EVA <strong>de</strong><br />

dor (P = 0,001), e o domínio estado geral (P < 0,001) do SF-36,<br />

dados mostrados na Tabela 4. Também na Tabela 4, vemos<br />

que, em T2 a única variável com signifi cância estatística foi o<br />

domínio vitalida<strong>de</strong> do SF-36, com P = 0,023.<br />

O cálculo do tamanho do efeito (TE) revelou a EVA<br />

como parâmetro <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> maior signifi cado estatístico<br />

(TE = −1,60), seguido pelo FIQ (TE = −1,44). Os outros valores<br />

com signifi cado estatisticamente importante são vistos<br />

na Tabela 5.<br />

Tabela 4<br />

Análise <strong>de</strong> regressão linear mostrando a correlação entre<br />

EVAM 1 e 2 e os outros instrumentos<br />

EVAM 1 Bª Erro padrão Betaº P<br />

EVA 0,135 0,038 0,4 0,001<br />

EG/SF-36 −2,27 0,006 −0,45 0,001<br />

EVAM 2 Bª Erro padrão Betaº P<br />

VIT/SF-36 −1,87 0,008 −0,32 0,02<br />

ªCoefi ciente <strong>de</strong> correlação não padronizado; ºCoefi ciente <strong>de</strong> correlação padronizado.<br />

Tabela 5<br />

Tamanho do efeito (TE) calculado para todos os instrumentos<br />

Média Desvio padrão TE<br />

EVA1 8,27 1,55 −1,6*<br />

EVA2 5,78 2,32 0,31<br />

CF1/SF-36 57,05 20,42 0,57<br />

CF2/SF-36 68,72 17,91 0,4<br />

AF1/SF-36 21,07 31,76 0,92*<br />

AF2/SF-36 50,49 41,37 0,29<br />

DOR1/SF-36 33,11 15,67 0,95*<br />

DOR2/SF-36 48,01 16,69 0,56<br />

EG1/SF-36 48,13 18,74 0,55<br />

EG2/SF-36 58,54 20,66 0,19<br />

VIT1/SF-36 31,96 18,74 1,09*<br />

VIT2/SF-36 <strong>52</strong>,25 18,68 0,27<br />

AS1/SF-36 56,37 30,85 0,73<br />

AS2/SF-36 79,16 25,33 0,02<br />

AE1/SF-36 41,83 42,6 0,41<br />

AE2/SF-36 59,47 42,32 0,15<br />

SM1/SF-36 49,33 21,08 0,62<br />

SM2/SF-36 62,5 22,25 0,18<br />

FIQ1 63,29 13,86 −1,44*<br />

FIQ2 43,28 19,36 −0,26<br />

BECK1 18,6 9,11 −0,8<br />

BECK2 11,25 10,25 0,16<br />

*Valores com signifi cado estatístico (TE > 0,8).<br />

DISCUSSÃO<br />

Estudos sobre FM têm usado diferentes medidas e instrumentos<br />

para avaliar o <strong>de</strong>sempenho terapêutico, difi cultando as tentativas<br />

<strong>de</strong> extrapolação ou comparação entre os tratamentos. Ao<br />

mesmo tempo, a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parâmetros estudados<br />

torna as avaliações cansativas e talvez redundantes.<br />

Neste estudo, compararam-se os resultados dos instrumentos<br />

<strong>de</strong> medida FIQ, Beck, SF-36 e EVA <strong>de</strong> dor com escala transicional<br />

comparativa do tipo Likert <strong>de</strong> cinco pontos, indicativa<br />

da EVAM percebida pelo paciente e usada como padrão ouro.<br />

Classifi cações globais <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> sintomas realizadas pelos<br />

pacientes são consi<strong>de</strong>radas critério externo válido, 23–27 aplicado<br />

recentemente em populações com FM. 21,29,30 Ao respon<strong>de</strong>r a<br />

EVAM, a paciente traduzia sua sensação <strong>de</strong> melhora sob um<br />

aspecto geral; a relação <strong>de</strong>ssa resposta com outros instrumentos<br />

pô<strong>de</strong> indicar quais aspectos infl uenciam a sensação <strong>de</strong> melhora.<br />

Na primeira avaliação, a correlação ocorre com os domínios<br />

da dor, com o estado geral da paciente e com o componente<br />

físico do SF-36, além do FIQ e EVA para dor.<br />

Dunkl et al. 25 encontraram resultados similares aos nossos,<br />

com correlação entre a EVAM e o FIQ. Em nosso estudo,<br />

embora com menor força, houve correlação também com os<br />

domínios aspecto físico, saú<strong>de</strong> mental, vitalida<strong>de</strong> do SF-36 e o<br />

inventário Beck. Quando se observa o resultado da análise <strong>de</strong><br />

regressão, confi rmam-se o domínio estado geral do SF-36 e a<br />

EVA <strong>de</strong> dor como variáveis importantes. Assim, a mudança na<br />

intensida<strong>de</strong> da dor, no estado geral e na disposição física são<br />

aspectos fundamentais para a sensação <strong>de</strong> melhora do paciente,<br />

sobretudo na fase inicial do tratamento. Na segunda avaliação<br />

feita pelo paciente, apenas o domínio vitalida<strong>de</strong> mostrou ter<br />

alguma relação com a subjetivida<strong>de</strong> da melhora. Isso po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrar que, após melhora inicial, outros aspectos além<br />

<strong>de</strong> dor e estado geral passam a exercer maior infl uência para<br />

ainda se obter uma sensação subjetiva <strong>de</strong> melhora. A vitalida<strong>de</strong>,<br />

então, passa a ter mais importância.<br />

Uma possível explicação para a diferença encontrada na<br />

relação entre os instrumentos na primeira e segunda comparação<br />

<strong>de</strong> dados seria a intensida<strong>de</strong> das mudanças. Desse modo, o<br />

paciente só perceberia mudança nos aspectos que julga serem<br />

importantes para contribuir na sensação <strong>de</strong> melhora se essa<br />

fosse <strong>de</strong> maior intensida<strong>de</strong>. Tal afi rmação tem como base o fato<br />

<strong>de</strong> que, na maioria dos instrumentos usados, mesmo sendo <strong>de</strong><br />

menor proporção, houve melhora não apenas entre a primeira e<br />

segunda avaliações, mas também entre a segunda e a terceira. O<br />

tempo entre a aplicação dos instrumentos e o valor da mínima<br />

diferença necessária para captar mudanças também po<strong>de</strong>m ter<br />

exercido infl uência nos resultados. Segundo Stratford, 31 a falta<br />

504 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):496-506


<strong>de</strong> um padrão ouro para atributos como a incapacida<strong>de</strong> funcional<br />

acaba gerando vários dilemas metodológicos. Beaton 27<br />

afi rma que, além das proprieda<strong>de</strong>s psicométricas já estabelecidas,<br />

também é preciso enfrentar o <strong>de</strong>safi o da interpretabilida<strong>de</strong>.<br />

Para tanto, faz-se necessário o uso da chamada MDCI. Para<br />

a <strong>de</strong>terminação da MDCI é preciso levar em consi<strong>de</strong>ração as<br />

perspectivas do paciente e do médico, além da abordagem<br />

metodológica e da <strong>de</strong>pendência do estado do paciente no<br />

início do tratamento; entretanto, é necessário maior número<br />

<strong>de</strong> pesquisas metodológicas para que se <strong>de</strong>termine o melhor<br />

modo <strong>de</strong> quantifi cá-la. No FIQ, um estudo 29 concluiu que uma<br />

mudança em 14% na pontuação fi nal <strong>de</strong>terminaria uma MDCI.<br />

Especialmente na FM, este po<strong>de</strong> ser um dado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor<br />

clínico, dadas a subjetivida<strong>de</strong> e a variabilida<strong>de</strong> dos sintomas.<br />

No presente estudo calculou-se o TE <strong>de</strong> cada instrumento<br />

como modo <strong>de</strong> se <strong>de</strong>terminar MDCI. Na primeira avaliação,<br />

o TE foi clinicamente importante para os domínios vitalida<strong>de</strong>,<br />

dor e aspecto físico do SF-36 e o Beck, além do FIQ e da<br />

EVA <strong>de</strong> dor. Nenhum <strong>de</strong>sses foi clinicamente importante na<br />

segunda avaliação. Assim, <strong>de</strong>vemos questionar a valida<strong>de</strong> da<br />

interpretação numérica do TE em FM, pois nem sempre esse<br />

efeito representa uma verda<strong>de</strong>ira MDCI.<br />

Com base em nossos dados, verifi camos que a dor permanece<br />

como aspecto central para a sensação <strong>de</strong> mudança no estado<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Por tratar-se <strong>de</strong> um sintoma basicamente subjetivo,<br />

a dor associa-se à interação das dimensões física, psíquica e<br />

cultural que estão envolvidas em sua manifestação, difi cultando<br />

sua mensuração. Porém, nosso estudo revelou que, ao se tratar<br />

do monitoramento do estado do paciente em um cenário clínico,<br />

o uso da escala verbal <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> mudança mostrou-se<br />

sufi ciente para tal. Em ensaios clínicos, outros instrumentos<br />

po<strong>de</strong>m ser utilizados na <strong>de</strong>pendência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados<br />

específi cos em diferentes aspectos do espectro da relação<br />

doente/doença. É importante lembrar que cada instrumento<br />

avalia uma dimensão diferente do indivíduo, e isso po<strong>de</strong> explicar<br />

a falta <strong>de</strong> maior correlação entre os instrumentos, gerando<br />

uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher não somente um instrumento<br />

para avaliar a resposta terapêutica, mas sim, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />

objetivo, escolher o instrumento mais a<strong>de</strong>quado.<br />

É importante frisar que apesar <strong>de</strong> os diversos instrumentos,<br />

como EVA para dor, FIQ, SF-36 e Beck terem <strong>de</strong>monstrado um<br />

TE superior a 0,8, indicando magnitu<strong>de</strong> efetiva, nenhum <strong>de</strong>les<br />

conseguiu <strong>de</strong>tectar mudança no estado das pacientes em T2<br />

quando comparadas com a EVAM. Portanto, as proprieda<strong>de</strong>s<br />

psicométricas dos mesmos não são as i<strong>de</strong>ais para FM. Wolfe 32<br />

propõe uma versão do Health Assessment Questionnaire<br />

(FHAQ), que <strong>de</strong>veria ser mais bem estudada e validada para<br />

uso nesses protocolos.<br />

Avaliação <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> medida usados em pacientes com fi bromialgia<br />

CONCLUSÃO<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se a escala verbal <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> mudança como<br />

padrão ouro, nenhum dos instrumentos avaliados conseguiu<br />

captar <strong>de</strong> maneira i<strong>de</strong>al uma alteração no estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pacientes com FM. Ressaltamos a importância da avaliação<br />

das proprieda<strong>de</strong>s psicométricas <strong>de</strong>sses instrumentos, além do<br />

estudo sobre o uso <strong>de</strong> outros instrumentos em ensaios clínicos<br />

envolvendo pacientes com FM.<br />

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506 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):496-506


ARTIGO ORIGINAL<br />

Parâmetros do controle postural em mulheres<br />

idosas com ou sem histórico <strong>de</strong> quedas<br />

associadas ou não à osteoartrite <strong>de</strong> joelhos<br />

Marina Petrella 1 , Thamires Máximo Neves 1 , Júlia Guimarães Reis 2 ,<br />

Matheus Machado Gomes 3 , Renê Donizeti Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira 4 , Daniela Cristina Carvalho <strong>de</strong> Abreu 5<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Objetivos: Comparar parâmetros estabilométricos <strong>de</strong> mulheres idosas com ou sem histórico <strong>de</strong> quedas associadas ou não<br />

à osteoartrite (OA) <strong>de</strong> joelhos. Métodos: Cinquenta e seis idosas apresentando ou não histórico <strong>de</strong> quedas (Q) e OA <strong>de</strong><br />

joelho unilateral e bilateral foram distribuídas da seguinte maneira: grupo QOA (n = 10), idosas com histórico <strong>de</strong> queda e<br />

OA <strong>de</strong> joelho; grupo QSOA (n = 11), idosas com histórico <strong>de</strong> queda e sem OA <strong>de</strong> joelho; grupo SQOA (n = 14), idosas sem<br />

histórico <strong>de</strong> quedas (SQ) e com OA <strong>de</strong> joelho; e grupo SQSOA (n = 21), idosas sem histórico <strong>de</strong> quedas e sem OA <strong>de</strong> joelho.<br />

Para análise do equilíbrio semiestático usando uma plataforma <strong>de</strong> força, foram avaliados os <strong>de</strong>slocamentos anteroposterior<br />

(DAP) e mediolateral (DML), as velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oscilação anteroposterior (VAP) e mediolateral (VML) em quatro situações<br />

na postura ereta. As situações avaliadas foram as seguintes: 1) PFOA: sobre superfície fi xa e olhos abertos; 2) PFOF: sobre<br />

superfície fi xa e olhos fechados; 3) PIOA: sobre superfície instável e olhos abertos; 4) PIOF: sobre superfície instável e<br />

os olhos fechados. Resultados: As idosas com OA <strong>de</strong> joelho apresentaram maior DAP em todas as situações analisadas<br />

(P < 0,05), ao passo que idosas com histórico <strong>de</strong> quedas apresentaram maior DML (P < 0,05). Não houve diferenças entre<br />

os grupos para VAP e VML (P > 0,05). Conclusões: A OA <strong>de</strong> joelho, por si, é um fator prejudicial no aumento <strong>de</strong> oscilação<br />

do centro <strong>de</strong> pressão (COP) na direção anteroposterior, enquanto o histórico <strong>de</strong> quedas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da presença <strong>de</strong> OA<br />

<strong>de</strong> joelhos, traz prejuízos ao controle postural na direção mediolateral.<br />

Palavras-chave: aci<strong>de</strong>ntes por quedas, equilíbrio postural, osteoartrite do joelho.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

Uma das consequências do envelhecimento populacional é o<br />

aumento das doenças crônico-<strong>de</strong>generativas, 1 <strong>de</strong>ntre as quais<br />

a osteoartrite (OA) é a doença articular mais prevalente na<br />

população idosa, 2 gerando impacto socioeconômico <strong>de</strong>vido<br />

às incapacida<strong>de</strong>s que causa nos indivíduos. 3<br />

A OA é responsável por gran<strong>de</strong> parte da incapacida<strong>de</strong> dos<br />

membros inferiores (MMII) observada nos idosos, população<br />

na qual é predominante. 4 No joelho, a OA po<strong>de</strong> provocar incapacida<strong>de</strong><br />

crônica dos idosos, limitando-os na execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> rotina e <strong>de</strong> tarefas domésticas e, consequentemente,<br />

aumentando o risco <strong>de</strong> quedas. Mudanças na cartilagem articular<br />

provocadas pela OA 4 trazem algumas consequências <strong>de</strong>vido<br />

Recebido em 30/08/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse. Suporte Financeiro: Fundação<br />

<strong>de</strong> Amparo à Pesquisa do Estado <strong>de</strong> São Paulo (FAPESP) e Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq). Comitê <strong>de</strong> Ética: FR247663.<br />

Departamento <strong>de</strong> Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, Laboratório <strong>de</strong> Avaliação e Reabilitação do Equilíbrio (LARE), Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – FMRP-USP.<br />

1. Aluna do Curso <strong>de</strong> Fisioterapia, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – FMRP-USP<br />

2. Mestre em Cirurgia, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas – Unicamp; Doutoranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> Aplicadas ao<br />

Aparelho Locomotor – FMRP-USP<br />

3. Mestre em Ciências da Motricida<strong>de</strong>, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho – Unesp; Doutorando do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências<br />

da Saú<strong>de</strong> Aplicadas ao Aparelho Locomotor – FMRP-USP<br />

4. Doutor em Medicina, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – USP; Médico-Assistente <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital <strong>de</strong> Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo – FMUSP<br />

5. Professora Doutora do Departamento <strong>de</strong> Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor – FMRP-USP<br />

Correspondência para: Daniela Cristina Carvalho <strong>de</strong> Abreu. Departamento <strong>de</strong> Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor – FMRP/USP. Av.<br />

Ban<strong>de</strong>irantes, 3900. Ribeirão Preto, SP, Brasil. CEP: 14049-900. E-mail: dabreu@fmrp.usp.br<br />

512 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):507-517


Parâmetros do controle postural em mulheres idosas com ou sem histórico <strong>de</strong> quedas associadas ou não à osteoartrite <strong>de</strong> joelhos<br />

à remo<strong>de</strong>lação óssea combinada com a perda da cartilagem.<br />

Em meio a essas consequências está a instabilida<strong>de</strong> articular, 5<br />

que combinada com outras características da OA provoca perda<br />

da amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento, redução da propriocepção articular,<br />

6 sensação <strong>de</strong> insegurança ou incapacida<strong>de</strong> para realizar<br />

movimentos articulares, e todos esses fatores contribuem para<br />

o comprometimento dos equilíbrios semiestático e dinâmico.<br />

A população idosa sofre também com outras consequências<br />

do processo <strong>de</strong> envelhecimento, como alterações do controle<br />

postural, o que a <strong>de</strong>ixa ainda mais propensa a quedas. 7,8 A<br />

insegurança na realização <strong>de</strong> algumas ativida<strong>de</strong>s justifi ca a<br />

extrema importância da i<strong>de</strong>ntifi cação dos fatores <strong>de</strong> risco para<br />

quedas ainda no início. 9<br />

É importante haver mais estudos que busquem enten<strong>de</strong>r<br />

melhor a infl uência da OA sobre o histórico <strong>de</strong> quedas, que é<br />

um fator gerador <strong>de</strong> custos elevados para os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> prejuízos na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos indivíduos. Há vários<br />

estudos que utilizam a plataforma <strong>de</strong> força para avaliar o equilíbrio.<br />

6,9 As evidências apontam maior oscilação do centro <strong>de</strong><br />

pressão (COP) entre as pessoas com OA <strong>de</strong> joelhos, porém são<br />

escassos estudos diferenciando o controle postural <strong>de</strong> idosas<br />

caidoras com e sem OA.<br />

A <strong>de</strong>tecção dos fatores presentes na OA que possivelmente<br />

estejam associados a quedas po<strong>de</strong> permitir que os profi ssionais<br />

da saú<strong>de</strong> programem uma intervenção preventiva mais<br />

específi ca, já que após uma queda o risco <strong>de</strong> novas quedas<br />

está aumentado. Assim, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi comparar<br />

parâmetros estabilométricos <strong>de</strong> idosas caidoras e não caidoras,<br />

com e sem diagnóstico <strong>de</strong> OA <strong>de</strong> joelhos.<br />

PACIENTES E MÉTODOS<br />

Foram incluídas no estudo 56 idosas com ida<strong>de</strong>s entre 60–85 anos,<br />

apresentando ou não histórico <strong>de</strong> quedas (<strong>de</strong>fi nido pela ocorrência<br />

<strong>de</strong> quedas não aci<strong>de</strong>ntais nos últimos seis meses) e idosas com<br />

ou sem OA <strong>de</strong> joelhos unilateral e bilateral com diagnóstico<br />

radiológico fundamentado nos critérios do American College<br />

of Rheumatology (The American College of Rheumatology<br />

Subcommittee on Osteoarthritis Gui<strong>de</strong>lines, 2000).<br />

Foram excluídas do estudo idosas com presença <strong>de</strong> doenças<br />

cardiorrespiratórias, neurológicas, problemas cognitivos, vestibulopatias,<br />

diabetes mellitus, histórico <strong>de</strong> fraturas ósseas e/ou<br />

lesões nos MMII nos últimos seis meses e história <strong>de</strong> cirurgia<br />

no quadril, joelho ou tornozelo, IMC > 40 (obesida<strong>de</strong> mórbida),<br />

uso <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong> apoio, implantes ou próteses nos<br />

MMII, uso <strong>de</strong> corticosteroi<strong>de</strong>s injetáveis no joelho nos últimos<br />

três meses e uso <strong>de</strong> fármacos para o sistema nervoso central<br />

(SNC). Também foram excluídas idosas com diagnóstico <strong>de</strong><br />

OA na coluna vertebral e em outras articulações dos MMII<br />

que não os joelhos.<br />

Todas as voluntárias assinaram um termo <strong>de</strong> consentimento<br />

livre e esclarecido, aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética em<br />

Pesquisa do Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Escola da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />

<strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (CSE-FMRP-<br />

USP) através do Protocolo n°314, em 09 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2009,<br />

confi rmando sua participação e preservando a privacida<strong>de</strong> dos<br />

pacientes.<br />

As idosas foram distribuídas em grupo Q (n = 21), idosas<br />

com história <strong>de</strong> queda, e grupo SQ (n = 35), idosas sem<br />

história <strong>de</strong> queda. Posteriormente, os grupos foram subdivididos<br />

em quatro: grupo QOA (n = 10), idosas com história<br />

<strong>de</strong> queda e OA; grupo QSOA (n = 11), idosas com história <strong>de</strong><br />

queda e sem OA; grupo SQOA (n = 14), idosas sem história<br />

<strong>de</strong> queda e com OA; e grupo SQSOA (n = 21), sem história <strong>de</strong><br />

queda e sem OA.<br />

Previamente às avaliações, foram obtidos dados antropométricos<br />

das idosas (peso, altura e IMC). Para avaliação<br />

do equilíbrio semiestático foi utilizada plataforma <strong>de</strong> força<br />

da marca EMG System do Brasil, que avaliou a distribuição da<br />

força vertical em quatro pontos, possibilitando a análise<br />

do equilíbrio, com quantifi cação da amplitu<strong>de</strong> e da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento anteroposterior (DAP) e mediolateral (DML)<br />

do COP. Os dados foram digitalizados e analisados pelo programa<br />

da EMG system do Brasil.<br />

Durante a avaliação utilizou-se um protocolo previamente<br />

estipulado, para medir os DAP e DML <strong>de</strong> todas as voluntárias<br />

incluídas na pesquisa nas seguintes situações: 1) Em pé sobre<br />

uma superfície <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira fi xa, com os olhos abertos (PFOA),<br />

por 60 segundos; 2) Em pé sobre uma superfície <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

fi xa, com os olhos fechados, por 60 segundos (PFOF); 3) Em<br />

pé sobre uma espuma <strong>de</strong> aproximadamente 5 cm <strong>de</strong> espessura<br />

(30 dm/cm 3 ), com os olhos abertos, por 60 segundos (PIOA);<br />

4) Em pé sobre a espuma, com os olhos fechados, por 60 segundos<br />

(PIOF).<br />

Durante a coleta dos dados, as voluntárias permaneceram<br />

sobre a plataforma <strong>de</strong> força com os pés <strong>de</strong>scalços e afastados<br />

com distância proporcional ao nível dos ombros e braços ao<br />

longo do corpo. Um ponto fi xo foi colocado a 1,5 m <strong>de</strong> distância,<br />

na altura horizontal do olhar, e as voluntárias foram<br />

orientadas a olhar fi xamente o ponto durante a coleta <strong>de</strong> dados.<br />

Foram realizadas três coletas para cada postura.<br />

Análise dos dados<br />

Todas as análises estatísticas foram realizadas com o programa<br />

SPSS (SPSS for Windows, V16.0 – SPSS Inc., EUA), e o nível<br />

<strong>de</strong> signifi cância foi <strong>de</strong> 0,05.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):507-517 513


Petrella et al.<br />

Para a análise estatística foram utilizados mo<strong>de</strong>los consi<strong>de</strong>rando<br />

que os valores das variáveis observadas tivessem<br />

distribuição normal verificada pelo teste Shapiro-Wilk e<br />

variância constante pelo teste <strong>de</strong> Levene. Nas situações em<br />

que tais pressupostos não foram observados, foram realizadas<br />

transformações nas variáveis.<br />

Para comparação das características antropométricas entre<br />

os grupos, foram utilizadas três Análises <strong>de</strong> Variância com<br />

dois fatores (ANOVA two way). Essas ANOVA tiveram como<br />

fatores doença e queda, e ida<strong>de</strong>, peso e altura como variáveis<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Como houve diferença <strong>de</strong> peso quando o fator<br />

foi doença, e diferença <strong>de</strong> peso e ida<strong>de</strong> quando o fator foi<br />

queda, tais dados foram utilizados como covariáveis nas <strong>de</strong>mais<br />

análises. Para comparação do equilíbrio entre os grupos<br />

foram empregadas quatro ANOVA two way que tiveram queda<br />

e doença como fatores, ida<strong>de</strong> e peso como covariáveis, e oscilação<br />

anteroposterior (AP) nas quatro condições, velocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> oscilação AP nas quatro condições, oscilação mediolateral<br />

(ML) nas quatro condições e velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oscilação ML<br />

nas quatro condições durante o equilíbrio semiestático como<br />

variáveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

RESULTADOS<br />

Dados antropométricos<br />

Houve diferença para ida<strong>de</strong> entre grupos quando o fator foi<br />

queda [F (1,<strong>52</strong>) = 5,42; P < 0,05], e não houve quando o fator<br />

foi doença [F (1,<strong>52</strong>) = 0,29; P > 0,05]. Também houve diferença<br />

na variável peso tanto para o fator queda [F (1,<strong>52</strong>) = 7,99;<br />

P < 0,05] quanto para o fator doença [F (1,<strong>52</strong>) = 18,37;<br />

P < 0,05]. Porém, não houve diferença para altura com o fator<br />

queda [F (1,<strong>52</strong>) = 0,06; P > 0,05], nem com o fator doença<br />

[F (1,<strong>52</strong>) = 1,96; P > 0,05]. O grupo Q apresentou maior ida<strong>de</strong><br />

e maior peso comparado ao grupo SQ. Além disso, as idosas<br />

com OA <strong>de</strong> joelho apresentaram maior peso em comparação<br />

ao grupo sem OA. Esses valores estão <strong>de</strong>scritos na Tabela 1.<br />

Tabela 1<br />

Dados antropométricos das voluntárias do estudo<br />

Ida<strong>de</strong> (anos) Altura (m) Peso (kg)<br />

Grupo QOA 69,30 ± 5,74 1,57 ± 0,04 78,44 ± 9,13<br />

Grupo QSOA 72,72 ± 4,90 1,53 ± 0,06 65,00 ± 8,25<br />

Grupo SQOA 68,43 ± 5,84 1,54 ± 0,05 68,29 ± 7,05<br />

Grupo SQSOA 66,62 ± 5,13 1,54 ± 0,06 62,47 ± 808<br />

Grupo QOA: idosas com histórico <strong>de</strong> quedas e osteoartrite; Grupo QSOA: idosas com histórico <strong>de</strong><br />

quedas sem osteoartrite; Grupo SQOA: idosas sem histórico <strong>de</strong> quedas e osteoartrite; Grupo SQSOA:<br />

idosas sem histórico <strong>de</strong> quedas sem osteoartrite.<br />

Equilíbrio semiestático<br />

Deslocamento anteroposterior do COP<br />

Análises multivariadas não mostraram diferença para queda,<br />

porém mostraram diferença para doença [Wilk’s λ = 0,73;<br />

F (4,47) = 4,37; P > 0,05]. Não houve interação entre queda<br />

e doença [Wilk’s λ = 0,88; F (4,47) = 1,53; P > 0,05], e isso<br />

evi<strong>de</strong>ncia que o fator doença foi predominante para alterar o<br />

equilíbrio AP, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte se a idosa tinha ou não história<br />

<strong>de</strong> queda. Análises univariadas indicaram efeito da doença<br />

nas variáveis PFOF [F (1,50) = 7,96; P < 0,05], PIOA<br />

[F (1,50) = 12,75; P < 0,05] e PIOF [F (1,50) = 8,83; P < 0,05].<br />

As idosas com OA apresentaram maior <strong>de</strong>slocamento AP<br />

comparado ao grupo sem OA em três situações (Figura 1).<br />

Deslocamento mediolateral do COP<br />

Análises multivariadas mostraram diferença apenas quando<br />

o fator foi queda [Wilk’s λ = 0,78; F (4,47) = 3,25; P < 0,05].<br />

Não houve interação entre queda e doença [Wilk’s λ = 0,95;<br />

F (4,47) = 0,63; P > 0,05], e isso mostra que o fator queda tem<br />

maior infl uência no equilíbrio ML, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> a idosa<br />

ter ou não OA. Assim, por meio da ANOVA observou-se<br />

DAP (cm)<br />

1,20<br />

Figura 1<br />

Valores em média ± DP do <strong>de</strong>slocamento anteroposterior<br />

(DAP) do COP em cada uma das condições avaliadas para os<br />

quatro grupos: grupo QOA <strong>de</strong> idosas com história <strong>de</strong> queda e<br />

OA <strong>de</strong> joelho, grupo QSOA <strong>de</strong> idosas com história <strong>de</strong> queda<br />

e sem OA <strong>de</strong> joelho, grupo SQOA <strong>de</strong> idosas sem história <strong>de</strong><br />

queda e com osteoartrite e grupo SQSOA <strong>de</strong> idosas sem história<br />

<strong>de</strong> queda e sem osteoartrite.<br />

PFOA: plataforma fi xa, olhos abertos; PFOF: plataforma fi xa, olhos fechados;<br />

PIOA: plataforma instável, olhos abertos; PIOF: plataforma instável, olhos<br />

fechados.<br />

* P < 0,05 OA versus sem OA.<br />

514 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):507-517<br />

1,00<br />

0,80<br />

0,50<br />

0,40<br />

0,20<br />

0,00<br />

*<br />

*<br />

PFOA PFOF PIOA PIOF<br />

*<br />

*<br />

*<br />

*<br />

QOA<br />

QSOA<br />

SQOA<br />

SQSOA


DML (cm)<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

* *<br />

Parâmetros do controle postural em mulheres idosas com ou sem histórico <strong>de</strong> quedas associadas ou não à osteoartrite <strong>de</strong> joelhos<br />

Figura 2<br />

Valores em média ± DP do <strong>de</strong>slocamento mediolateral (DML)<br />

do COP em cada uma das condições avaliadas para os quatro<br />

grupos: grupo QOA idosas com história <strong>de</strong> queda e OA <strong>de</strong><br />

joelho, grupo QSOA idosas com história <strong>de</strong> queda e sem<br />

OA <strong>de</strong> joelho, grupo SQOA idosas sem história <strong>de</strong> queda e<br />

com osteoartrite e grupo SQSOA sem história <strong>de</strong> queda e sem<br />

osteoartrite.<br />

PFOA: plataforma fi xa, olhos abertos; PFOF: plataforma fi xa, olhos fechados;<br />

PIOA: plataforma instável, olhos abertos; PIOF: plataforma instável, olhos<br />

fechados.<br />

* P < 0,05 Q versus SQ.<br />

diferença nas variáveis PFOA [F (1,50) = 4,37; P < 0,05],<br />

PIOA [F (1,50) = 10,09; P < 0,05] e PIOF [F (1,50) = 11,65;<br />

P < 0,05]. O grupo Q apresentou maior DML nas situações<br />

PFOA, PIOA e PIOF em comparação ao grupo SQ (Figura 2).<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento anteroposterior do COP<br />

Não houve diferença entre os grupos com relação à VAP em<br />

qualquer situação.<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento mediolateral do COP<br />

Não houve diferença entre os grupos com relação à VML em<br />

qualquer situação.<br />

DISCUSSÃO<br />

* *<br />

PFOA PFOF PIOA PIOF<br />

Para que haja controle da postura ereta existe uma interação<br />

entre os sistemas sensorial (informações dos sistemas somatossensorial,<br />

vestibular e visual) e neuromuscular, incluindo<br />

as relações biomecânicas entre os segmentos corporais. 10 A<br />

ação integrada dos sistemas sensorial e motor permite o envio<br />

<strong>de</strong> informações precisas para o SNC sobre o posicionamento<br />

*<br />

*<br />

QOA<br />

QSOA<br />

SQOA<br />

SQSOA<br />

do corpo no espaço, utilizando referências da superfície <strong>de</strong><br />

apoio, do ambiente visual e das referências internas, possibilitando<br />

que o SNC estabeleça a melhor estratégia para a<br />

manutenção ou a recuperação do equilíbrio, utilizando-se<br />

<strong>de</strong> estratégias reativas e <strong>de</strong> ajustes posturais antecipatórios<br />

(respostas pró-ativas e preditivas). 11<br />

Um dos principais métodos usados para avaliar o equilíbrio,<br />

por meio do COP, é a plataforma <strong>de</strong> força. 12 O movimento do<br />

COP <strong>de</strong> um indivíduo em postura ortostática semiestática é<br />

obtido por meio da estabilometria, que exibe o <strong>de</strong>slocamento<br />

do COP ao longo do tempo nas direções AP e ML. Sabe-se<br />

que alguns parâmetros <strong>de</strong>rivados da estabilometria po<strong>de</strong>m ser<br />

relacionados ao risco <strong>de</strong> quedas. 12,13 A manutenção da postura<br />

vertical ereta totalmente imóvel não é realizada pelo corpo<br />

humano, consi<strong>de</strong>rando que inclinações espontâneas <strong>de</strong> curta<br />

amplitu<strong>de</strong> nos eixos AP e ML são observadas. Por esse motivo,<br />

tem-se optado, atualmente, pela utilização do termo equilíbrio<br />

semiestático em vez <strong>de</strong> estático.<br />

Indivíduos idosos sem histórico <strong>de</strong> quedas, quando comparados<br />

à população mais jovem, apresentam diferença no<br />

padrão <strong>de</strong> controle postural, <strong>de</strong>monstrada por maior oscilação<br />

postural. Estudos mostraram que é na faixa dos 60 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> que esse aumento da oscilação postural começa a ser<br />

mais evi<strong>de</strong>nte. 14,15 Era et al. 16 encontraram que o aumento da<br />

oscilação postural já acontece em adultos jovens, mas torna-se<br />

mais intenso a partir dos 60 anos.<br />

A partir <strong>de</strong>sses dados, é possível realizar estudos comparando<br />

o equilíbrio <strong>de</strong> idosos saudáveis com aqueles portadores <strong>de</strong><br />

alguma doença específi ca, a fi m <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r melhor o impacto<br />

<strong>de</strong> doenças sobre o controle postural e incrementar a elaboração<br />

<strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> reabilitação para esses pacientes. 17<br />

Em estudo <strong>de</strong> revisão, 18 concluiu-se que, em circunstâncias<br />

laboratoriais, os parâmetros avaliados por meio da plataforma<br />

<strong>de</strong> força po<strong>de</strong>m fornecer informações valiosas para predição <strong>de</strong><br />

quedas futuras ou recorrentes em idosos.<br />

Tanto o avanço da ida<strong>de</strong> quanto a presença <strong>de</strong> OA causam<br />

implicações na saú<strong>de</strong>, pois ambos geram diminuição da<br />

função fi siológica. 19 A ocorrência <strong>de</strong> quedas em idosos com<br />

OA po<strong>de</strong> trazer complicações médicas, psicológicas e sociais<br />

ainda maiores para essa população. Portanto, a prevenção e a<br />

redução <strong>de</strong> quedas são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a saú<strong>de</strong> e o<br />

bem-estar dos idosos, pois a ocorrência <strong>de</strong> quedas po<strong>de</strong> ter um<br />

impacto muito negativo sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do idoso, já<br />

que está associada à maior chance <strong>de</strong> fraturas ósseas, lesões <strong>de</strong><br />

tecidos moles, traumatismo cranioencefálico, confi namento, e<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> síndrome pós-queda.<br />

O entendimento da repercussão da OA <strong>de</strong> joelhos sobre<br />

o equilíbrio em idosas é <strong>de</strong> extrema importância, uma vez<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):507-517 515


Petrella et al.<br />

que auxilia no planejamento dos programas <strong>de</strong> reabilitação<br />

para essa população. Entretanto, o défi cit <strong>de</strong> controle postural<br />

<strong>de</strong>ve ser estudado também em situações dinâmicas, além <strong>de</strong><br />

se buscar ferramentas <strong>de</strong> avaliações que possam ser utilizadas<br />

clinicamente, <strong>de</strong> forma prática e rápida, que possuam sensibilida<strong>de</strong><br />

sufi ciente para i<strong>de</strong>ntifi car aqueles pacientes com alterações<br />

osteomioarticulares com risco <strong>de</strong> quedas. Para Horak, 20 a<br />

prevenção do risco <strong>de</strong> quedas e a elaboração <strong>de</strong> um programa<br />

<strong>de</strong> intervenção para pessoas com equilíbrio comprometido<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma avaliação da integrida<strong>de</strong> dos sistemas fi siológicos<br />

subjacentes e da adoção <strong>de</strong> estratégias compensatórias.<br />

Portanto, é muito importante a realização <strong>de</strong> estudos mais<br />

<strong>de</strong>talhados sobre os eventos incapacitantes presentes nos<br />

idosos portadores <strong>de</strong> OA <strong>de</strong> joelho, os quais po<strong>de</strong>m resultar<br />

na ocorrência <strong>de</strong> quedas. No Brasil, pesquisas sobre quedas e<br />

seus fatores relacionados nessa população <strong>de</strong> idosos com OA<br />

ainda são escassos. 21,22<br />

Estudos têm mostrado que pessoas com OA <strong>de</strong> joelhos apresentam<br />

comprometimento do equilíbrio semiestático. 23 Hassan,<br />

Mockett e Doherty 6 observaram que indivíduos com OA <strong>de</strong><br />

joelhos, quando comparados aos controles, apresentavam maior<br />

oscilação AP e ML quando estavam em postura estática com<br />

olhos fechados. Em outro estudo, Hassan et al. 24 verifi caram que<br />

o controle postural estático estava diminuído em indivíduos com<br />

OA <strong>de</strong> joelhos sem sintoma <strong>de</strong> dor, em comparação aos controles<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>ntes. Nossos resultados corroboram<br />

em parte esses achados, pois as idosas com OA apresentaram<br />

aumento do <strong>de</strong>slocamento do COP no sentido AP, mas não no<br />

ML, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> haver histórico <strong>de</strong> quedas ou não.<br />

Entretanto, com relação ao <strong>de</strong>slocamento do COP na<br />

direção ML, idosas com quedas tiveram maior oscilação em<br />

todas as situações, exceto quando com olhos fechados sobre<br />

superfície estável. Os resultados apontam que o aumento da<br />

instabilida<strong>de</strong> ML em idosas está mais associado ao histórico<br />

<strong>de</strong> quedas e não à presença <strong>de</strong> OA <strong>de</strong> joelhos.<br />

Existem estudos que apontam a instabilida<strong>de</strong> lateral como<br />

fator preditor <strong>de</strong> quedas em idosos. Entre as principais alterações<br />

dos parâmetros posturais avaliados pela plataforma <strong>de</strong><br />

força, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> oscilação ML do COP. 18<br />

Maki et al. 25 sugeriram que o controle da estabilida<strong>de</strong> lateral<br />

po<strong>de</strong> ser uma variável importante para intervenções <strong>de</strong> prevenção<br />

<strong>de</strong> quedas em idosos. Nossos resultados corroboram esses<br />

estudos prévios, uma vez que o aumento da oscilação ML foi<br />

observado em idosas com histórico <strong>de</strong> quedas. Swanenburg et<br />

al. 26 encontraram em seus resultados que a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> DML<br />

em condição <strong>de</strong> tarefa única sobre plataforma <strong>de</strong> força foi um<br />

signifi cativo preditor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para quedas. O aumento da<br />

oscilação ML observado po<strong>de</strong> ter sido causado por fraqueza<br />

<strong>de</strong> músculos abdutores do quadril. 27<br />

Na literatura não há consenso sobre quais parâmetros <strong>de</strong><br />

oscilação do COP se apresentam aumentados na população<br />

idosa. Abrahamová e Hlavacka 15 observaram que os parâmetros<br />

do COP apresentam aumento a partir dos 60 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

e que esse aumento é mais evi<strong>de</strong>nciado pela velocida<strong>de</strong> e<br />

amplitu<strong>de</strong> AP, sendo mais bem <strong>de</strong>monstrado sobre superfície<br />

instável com olhos fechados. Para Du Pasquier et al., 17 após<br />

realização <strong>de</strong> estudo longitudinal transversal, a velocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> oscilação do corpo na direção AP é o fator que <strong>de</strong>monstra<br />

melhor o comprometimento da habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter a postura<br />

ortostática com o envelhecimento. Jeka et al. 28 sugeriram que a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento do COP<br />

tem papel importante no controle do equilíbrio. Entretanto,<br />

nossos resultados não evi<strong>de</strong>nciaram diferenças nas velocida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> DAP e DML ao comparar os grupos.<br />

Nossos resultados mostraram que o grupo OA apresentou<br />

diferenças em relação ao grupo sem OA no <strong>de</strong>slocamento AP.<br />

Portanto, idosas com OA apresentam maior oscilação do COP<br />

em AP, e isso aumenta o risco <strong>de</strong> quedas nessa população.<br />

Entretanto, nessa amostra o fato <strong>de</strong> a idosa com OA já ter<br />

histórico <strong>de</strong> quedas não trouxe risco adicional para queda. Já<br />

o histórico <strong>de</strong> quedas interferiu no aumento da oscilação ML,<br />

sem relação com a presença ou não <strong>de</strong> OA. Isso aponta para<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens específi cas na reabilitação do<br />

equilíbrio <strong>de</strong> idosas com histórico <strong>de</strong> quedas e daquelas com<br />

OA <strong>de</strong> joelhos.<br />

Para idosas com OA <strong>de</strong> joelhos observa-se a possível necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> incluir, nos programas <strong>de</strong> reabilitação, exercícios<br />

para a melhora do equilíbrio semiestático por meio do treino<br />

das estratégias <strong>de</strong> movimento, incluindo tornozelo, quadril e<br />

passo. Já para as idosas com histórico <strong>de</strong> quedas parece mais<br />

importante enfatizar o fortalecimento dos músculos abdutores<br />

do quadril com a fi nalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a estabilida<strong>de</strong> ML.<br />

Nesta amostra não foi realizada a avaliação da força muscular,<br />

dado que ilustraria a associação entre diminuição da força<br />

muscular <strong>de</strong> abdutores e adutores <strong>de</strong> quadril com o aumento<br />

do <strong>de</strong>slocamento ML, situação encontrada por outros autores.<br />

Outros estudos, associando avaliação da força muscular ao<br />

equilíbrio, po<strong>de</strong>rão respon<strong>de</strong>r a essas questões.<br />

Das limitações encontradas em nosso estudo po<strong>de</strong>mos citar:<br />

o pequeno número amostral, embora essa difi culda<strong>de</strong> já tenha<br />

sido encontrada por outros estudos que utilizaram a plataforma<br />

<strong>de</strong> força como instrumento <strong>de</strong> avaliação do controle postural <strong>de</strong><br />

idosas, 18 a falta <strong>de</strong> análises dinâmicas do equilíbrio, e a ausência<br />

<strong>de</strong> avaliações da força muscular dos MMII.<br />

516 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):507-517


Parâmetros do controle postural em mulheres idosas com ou sem histórico <strong>de</strong> quedas associadas ou não à osteoartrite <strong>de</strong> joelhos<br />

Concluindo, nossos resultados mostraram que idosas<br />

portadoras <strong>de</strong> OA <strong>de</strong> joelho apresentam maior oscilação do<br />

COP na direção AP, enquanto idosas com histórico <strong>de</strong> quedas<br />

apresentam maior oscilação do COP na direção ML.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>cemos à Dra. Fabíola Reis Oliveira e à Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Bioengenharia da FMRP/USP pela contribuição dada ao estudo.<br />

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Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):507-517 517


ARTIGO ORIGINAL<br />

Ausência <strong>de</strong> associação entre o genótipo<br />

CC do polimorfi smo rs7903146 no gene<br />

TCF7L2 e artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

Licia Maria Henrique da Mota 1 , Francieli <strong>de</strong> Souza Rabelo 2 , Francisco Aires Corrêa Lima 2 ,<br />

Rodrigo Aires Corrêa Lima 3 , Jozélio Freire <strong>de</strong> Carvalho 4 , Gustavo Barcelos Barra 5 , Angélica Amorim Amato 6<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Introdução: TCF7L2 é um fator <strong>de</strong> transcrição envolvido na sinalização Wnt/beta-catenina e tem uma variante conhecida<br />

por associar-se consistentemente com o risco <strong>de</strong> diabetes tipo 2. Alguns estudos também relataram sua associação com o<br />

risco <strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> câncer. Objetivo: Como essa via po<strong>de</strong> também estar envolvida na fi siopatologia <strong>de</strong> outras doenças<br />

infl amatórias crônicas, tais como artrite reumatoi<strong>de</strong>, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi investigar o efeito do polimorfi smo<br />

rs7903146 do gene TCF7L2 na gravida<strong>de</strong> da artrite reumatoi<strong>de</strong> em uma população brasileira. Pacientes e métodos: Esse<br />

polimorfi smo foi genotipado em 208 pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> e em 104 controles saudáveis. Analisou-se também<br />

a associação <strong>de</strong>sse polimorfi smo com história <strong>de</strong> tabagismo, classe funcional e indicadores radiológicos <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da<br />

doença. Resultados: A distribuição dos genótipos CC, CT e TT do polimorfi smo rs7903146 do gene TCF7L2 não diferiu<br />

entre pacientes e controles, nem se encontrou qualquer associação entre o genótipo e os indicadores <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da doença<br />

ou história <strong>de</strong> tabagismo. Quando os dados foram avaliados usando-se o mo<strong>de</strong>lo dominante, no qual portadores dos genótipos<br />

CT e TT foram agrupados, observou-se um aumento do alelo T em pacientes com fator reumatoi<strong>de</strong> positivo e erosões,<br />

embora não signifi cativo. A frequência do alelo T também estava aumentada nos pacientes com classe funcional II quando<br />

comparados àqueles com classe I (P = 0,032). Conclusão: É possível que o pequeno número <strong>de</strong> pacientes incluído neste<br />

estudo tenha difi cultado achados adicionais. Outros estudos são, portanto, necessários para que se investigue o papel das<br />

variantes do gene TCF7L2 no risco <strong>de</strong> artrite reumatoi<strong>de</strong> e sua gravida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: proteínas Wnt, artrite reumatoi<strong>de</strong>, código genético, polimorfi smo genético.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A artrite reumatoi<strong>de</strong> (AR) é uma doença infl amatória sistêmica<br />

crônica e progressiva <strong>de</strong> etiologia <strong>de</strong>sconhecida. Envolve primariamente<br />

a membrana sinovial, po<strong>de</strong>ndo levar à <strong>de</strong>struição<br />

<strong>de</strong> osso e cartilagem. 1 A AR afeta cerca <strong>de</strong> 0,5%–1% da população<br />

mundial, po<strong>de</strong>ndo chegar a 5%, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da ida<strong>de</strong> e<br />

do grupo étnico estudado. 2<br />

A <strong>de</strong>speito dos importantes avanços no tratamento da AR nas<br />

últimas décadas <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> exames laboratoriais<br />

e <strong>de</strong> imagem apropriados, tais exames ainda apresentam um<br />

valor limitado para o diagnóstico precoce da AR e para a <strong>de</strong>fi nição<br />

<strong>de</strong> prognóstico individual, o que po<strong>de</strong> limitar o efeito terapêutico<br />

dos medicamentos disponíveis. 3 Melhor compreensão dos fatores<br />

fi siopatológicos relacionados à doença seria <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor para<br />

o estabelecimento <strong>de</strong> tratamento precoce e efi caz.<br />

Recebido em 05/09/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. GBB <strong>de</strong>clara ser pesquisador no Laboratório Sabin <strong>de</strong> Análises Clínicas S.A. Os <strong>de</strong>mais autores<br />

<strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse. Comitê <strong>de</strong> Ética: 2008 E23.<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> e Serviço <strong>de</strong> Endocrinologia Sabin Laboratório <strong>de</strong> Análises Clínicas; Hospital Universitário <strong>de</strong> Brasília – HUB.<br />

1. Doutora em Ciências Médicas, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília – FMUnB; Professora Colaboradora <strong>de</strong> Clínica Médica e do Serviço <strong>de</strong><br />

<strong>Reumatologia</strong>, FMUnB<br />

2. Reumatologista, Hospital Universitário <strong>de</strong> Brasília – HUB<br />

3. Reumatologista, HUB e Hospital <strong>de</strong> Base do Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

4. Doutor em <strong>Reumatologia</strong>, Centro Médico, Hospital Aliança, Salvador, Bahia<br />

5. Pesquisador no Laboratório Sabin <strong>de</strong> Análises Clínicas S.A.<br />

6. Endocrinologista; Doutora em Ciências da Saú<strong>de</strong>, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília – FCSUnB; Professora-Adjunta da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Farmácia, UnB<br />

Correspondência para: Licia Maria Henrique da Mota. Centro Médico <strong>de</strong> Brasília. SHLS 716 – bloco E – salas 501/502. Brasília, DF, Brasil. CEP: 70390-904.<br />

E-mail: liciamhmota@yahoo.com.br<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):518-<strong>52</strong>8 <strong>52</strong>3


Mota et al.<br />

Vários estudos enfatizaram o importante papel <strong>de</strong>sempenhado<br />

pelas células sinoviais fi broblasto-like ativadas (FLS) na<br />

patogênese da AR, uma vez que uma população <strong>de</strong> FLS hiperplásicas<br />

po<strong>de</strong>ria promover infi ltração leucocitária e retenção. 4<br />

A sinóvia reumatoi<strong>de</strong> acaba por transformar-se em um pannus<br />

que <strong>de</strong>strói a cartilagem articular e o osso. 4 Os mecanismos<br />

subjacentes envolvidos na ativação <strong>de</strong> FLS ainda permanecem<br />

<strong>de</strong>sconhecidos. Foi sugerido que a via <strong>de</strong> sinalização Wingless<br />

(Wnt) – Frizzled (Fz) po<strong>de</strong>ria ter importância na ativação<br />

autônoma <strong>de</strong> FLS. 4<br />

De fato, os genes que codifi cam proteínas na via <strong>de</strong><br />

sinalização Wnt-Fz apresentam alta expressão nos tecidos<br />

sinoviais na AR. 4 Wnt é uma família <strong>de</strong> glicoproteínas<br />

secretadas que se ligam a receptores acoplados à proteína<br />

G da superfície celular da família Fz para induzir cascatas<br />

intracelulares envolvidas com crescimento e diferenciação<br />

celular. 5 Recentemente sugeriu-se que tais cascatas também<br />

po<strong>de</strong>riam contribuir para iniciar um fenótipo FLS ativado<br />

em um processo <strong>de</strong> manutenção celular após lesão articular, 6<br />

e tal ativação <strong>de</strong> FLS po<strong>de</strong>ria levar ao acúmulo <strong>de</strong> quinases<br />

ativadas e fatores <strong>de</strong> transcrição e crescimento que pu<strong>de</strong>ssem<br />

orientar a patogênese da AR. 5<br />

Foram reconhecidas duas vias diferentes Wnt-Fz: as vias<br />

<strong>de</strong> sinalização canônica (ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> β-catenina) e a não<br />

canônica (ou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> β-catenina). 5 Uma das proteínas<br />

da cascata intracelular ativada por sinalização <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

β-catenina é o fator <strong>de</strong> transcrição 7-like 2 (TCF7L2), que<br />

recentemente foi foco <strong>de</strong> vários estudos sobre doenças humanas,<br />

pois algumas variantes comuns do gene TCF7L2 foram<br />

associadas ao risco <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver diabetes tipo 2 (DT2) 6<br />

e certos tipos <strong>de</strong> câncer. 7–9<br />

O TCF7L2 codifi ca o TCF4, um fator <strong>de</strong> transcrição<br />

envolvido na via <strong>de</strong> sinalização Wnt/β-catenina, e <strong>de</strong>sempenha<br />

um papel crítico na embriogênese e no controle <strong>de</strong><br />

proliferação e diferenciação celular, estando também envolvido<br />

em diversos processos fi siológicos na vida adulta. 10<br />

Estudos recentes associaram o polimorfi smo rs7903146<br />

no gene TCF7L2 ao risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> DT2,<br />

possivelmente pelo comprometimento da função <strong>de</strong> células<br />

beta-pancreáticas. 11–14 Além disso, uma forte correlação<br />

entre DT2 e o alelo T do polimorfi smo rs7903146 no gene<br />

TCF7L2 foi <strong>de</strong>scrita na Dinamarca, nos Estados Unidos<br />

e na Islândia. 7,15 Essa mesma correlação foi verifi cada em<br />

outras populações, como na Ásia oriental, Europa, África<br />

oci<strong>de</strong>ntal e Escandinávia. 16–19 Essa variante genética também<br />

foi associada ao risco <strong>de</strong> neoplasias malignas <strong>de</strong> próstata, 20<br />

cólon 8 e mama. 9<br />

Sugere-se ainda o envolvimento da via Wnt na resposta<br />

infl amatória e na fi siopatologia da doença infl amatória crônica,<br />

como é o caso da AR. 4 O complexo Wnt/Fz é responsável<br />

por controlar a formação <strong>de</strong> tecido na embriogênese e<br />

durante o <strong>de</strong>senvolvimento dos membros e a formação das<br />

articulações. 4 Sen et al. 21 estudaram o papel <strong>de</strong> um dos pares<br />

receptor-ligante da via <strong>de</strong> sinalização Wnt-Fz, principalmente<br />

Wnt-5A e Fz5, na ativação <strong>de</strong> FLS, que resulta na produção<br />

<strong>de</strong> citocinas infl amatórias e quimiotáticas nas articulações<br />

<strong>de</strong> pacientes com AR. O bloqueio da sinalização Wnt-5A/Fz5<br />

diminui a expressão <strong>de</strong> citocinas induzidas por IL6 e IL15,<br />

tal como RANKL, e até reduz a ativação sinovial. 21 Um<br />

outro estudo <strong>de</strong>monstrou que a ativação da sinalização Wnt<br />

em condrócitos induz à <strong>de</strong>gradação da matriz cartilaginosa,<br />

que é semelhante ao que ocorre na osteoartrite e na AR. 22<br />

Vários estudos sugeriram que a sinalização Wnt aumenta a<br />

formação óssea por meio da regulação da proliferação e da<br />

diferenciação <strong>de</strong> osteoblastos e osteoclastos. 23 Além disso, a<br />

sinalização Wnt po<strong>de</strong> promover estimulação da expressão da<br />

osteoprotegerina nos osteoblastos. Como a osteoprotegerina<br />

inibe a diferenciação <strong>de</strong> osteoclastos, a sinalização po<strong>de</strong> aumentar<br />

parcialmente a massa óssea ao bloquear a reabsorção<br />

óssea pelos osteoclastos. 23<br />

A ativação do sistema imune antes do início das manifestações<br />

clínicas da doença sugere que a AR clínica já represente<br />

uma doença crônica. Alguns estudos mostraram que o<br />

tratamento das doenças autoimunes, quando iniciado o mais<br />

cedo possível, antes do <strong>de</strong>senvolvimento das manifestações<br />

da doença, po<strong>de</strong> retardar a progressão da doença e melhorar<br />

o prognóstico do paciente. 24,25 Assim, os genes que codifi cam<br />

proteínas da via <strong>de</strong> sinalização Wnt são possíveis candidatos,<br />

cujas variantes po<strong>de</strong>riam estar relacionadas ao risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

doença ou à sua gravida<strong>de</strong>.<br />

Os mecanismos subjacentes à associação dos polimorfi<br />

smos TCF7L2 com o risco <strong>de</strong> DT2 e neoplasias malignas<br />

ainda são pouco claros. Consi<strong>de</strong>rando-se que tais doenças<br />

têm em comum com a AR um componente <strong>de</strong> resposta<br />

infl amatória, e consi<strong>de</strong>rando-se o papel da via <strong>de</strong> sinalização<br />

Wnt-Fz nessa resposta, a investigação da frequência<br />

<strong>de</strong> variantes comuns TCF7L2 nas doenças infl amatórias<br />

sistêmicas, como AR, po<strong>de</strong>ria contribuir para melhorar<br />

o entendimento dos mecanismos envolvidos no risco aumentado<br />

<strong>de</strong> doença em situações <strong>de</strong> expressão anormal do<br />

gene TCF7L2. 26 Dados os possíveis benefícios, propôs-se<br />

um estudo caso-controle para avaliar a associação entre<br />

o polimorfi smo rs7903146 <strong>de</strong> nucleotí<strong>de</strong>o único do gene<br />

TCF7L2 e a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> AR.<br />

<strong>52</strong>4 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):518-<strong>52</strong>8


PACIENTES E MÉTODOS<br />

Pacientes<br />

Após aprovação do estudo pelo Comitê <strong>de</strong> Ética em Pesquisa<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília (CEP/UnB), os pacientes selecionados<br />

foram informados sobre o conteúdo e o objetivos da<br />

pesquisa, os benefícios esperados, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> recusa e a<br />

garantia <strong>de</strong> confi <strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> e privacida<strong>de</strong>. Aqueles que concordaram<br />

em participar assinaram o termo <strong>de</strong> consentimento<br />

livre e informado.<br />

Um total <strong>de</strong> 208 pacientes com AR atendidos no<br />

Ambulatório <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong> do Hospital Universitário<br />

<strong>de</strong> Brasília foi selecionado por conveniência para o estudo. Eles<br />

atendiam aos critérios classifi catórios para AR do American<br />

College of Rheumatology (ACR 1987).<br />

Os seguintes dados dos pacientes foram obtidos a partir <strong>de</strong><br />

questionário ou retrospectivamente, por meio <strong>de</strong> consulta ao<br />

prontuário médico: ida<strong>de</strong>, gênero, histórico pessoal <strong>de</strong> DT2,<br />

histórico <strong>de</strong> tabagismo, ida<strong>de</strong> na ocasião do diagnóstico <strong>de</strong><br />

AR, tempo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o diagnóstico <strong>de</strong> AR e classifi cação do status<br />

funcional. Os resultados da dosagem do fator reumatoi<strong>de</strong> (FR)<br />

no soro também foram obtidos por revisão dos prontuários<br />

médicos; em todos os pacientes, o FR foi medido por nefelometria,<br />

e valores acima <strong>de</strong> 15 UI/mL foram consi<strong>de</strong>rados<br />

positivos.<br />

Dados radiográfi cos também foram obtidos e incluíram<br />

a presença <strong>de</strong> erosão nas mãos, pulsos, pés e tornozelos dos<br />

pacientes. Integrantes da equipe <strong>de</strong> radiologia do Hospital<br />

Universitário <strong>de</strong> Brasília, que realizam rotineiramente tais<br />

exames, avaliaram as imagens.<br />

Coleta, purifi cação e genotipagem <strong>de</strong> DNA<br />

Uma amostra <strong>de</strong> 5 mL <strong>de</strong> sangue venoso foi obtida a partir <strong>de</strong><br />

punção <strong>de</strong> veia periférica usando-se material <strong>de</strong>scartável; o<br />

sangue armazenado em recipientes continha EDTA. A amostra<br />

foi coletada no ambulatório ou no laboratório.<br />

O DNA foi extraído das amostras pelo método<br />

Chelex-100, 27 e a genotipagem do polimorfi smo rs7903146<br />

foi conduzida pela reação em ca<strong>de</strong>ia da polimerase alelo-<br />

específi ca (PCR-AE). Os primers e as condições foram<br />

anteriormente <strong>de</strong>scritos. 28<br />

Análise estatística<br />

Os dados obtidos foram submetidos a testes estatísticos<br />

apropriados. As variáveis tabagismo, FR, erosões e classe<br />

funcional foram <strong>de</strong>scritas nos pacientes <strong>de</strong> uma análise<br />

polimórfi ca usando-se frequências absolutas e relativas.<br />

Ausência <strong>de</strong> associação entre o genótipo CC do polimorfi smo rs7903146 no gene TCF7L2 e artrite reumatoi<strong>de</strong><br />

Associação com polimorfi smo foi averiguada por meio<br />

dos testes qui-quadrado ou <strong>de</strong> verossimilhança. 29 O teste<br />

qui-quadrado foi usado para avaliar se a frequência do<br />

genótipo observada era consistente com o equilíbrio <strong>de</strong><br />

Hardy-Weinberg. Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão logística foram implementados<br />

para cada um dos seguintes dados, controlados<br />

para ida<strong>de</strong> e gênero: histórico <strong>de</strong> tabagismo, classe funcional<br />

e erosões na radiografi a. Os mo<strong>de</strong>los também estimaram a<br />

razão <strong>de</strong> chance com seus respectivos intervalos <strong>de</strong> confi ança<br />

<strong>de</strong> 95%. 30 O nível <strong>de</strong> signifi cância adotado foi P < 0,05.<br />

RESULTADOS<br />

Este estudo incluiu 208 pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> AR com<br />

ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 51,55 ± 13,19 anos, dos quais a maioria era<br />

mulheres (87,5%). A ida<strong>de</strong> média por ocasião do diagnóstico<br />

foi <strong>de</strong> 37,3 anos, e o tempo médio <strong>de</strong> doença foi <strong>de</strong> 8,1 anos,<br />

avaliado pelo tempo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o diagnóstico.<br />

A distribuição do genótipo do polimorfi smo rs7903146<br />

do gene TCF7L2 foi 47,6% CC, 45,2% CT e 7,2% TT, consistente<br />

com o equilíbrio <strong>de</strong> Hardy-Weinberg. Isso resultou<br />

nas seguintes frequências <strong>de</strong> alelos: alelo C, 70,2%; e alelo T,<br />

29,8% (Tabela 1).<br />

Não foram observadas diferenças estatísticas entre os genótipos<br />

CC, CT e TT e os seguintes indicadores <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

da doença reumatoi<strong>de</strong>: tabagismo (P = 0,691); FR (P = 0,418);<br />

Tabela 1<br />

Distribuição genotípica <strong>de</strong> acordo com os grupos-controle e<br />

<strong>de</strong> pacientes<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):518-<strong>52</strong>8 <strong>52</strong>5<br />

Grupo<br />

Variável<br />

Controle AR Total P<br />

N % N % N %<br />

Gênero < 0,001<br />

Masculino 62 59,6 26 12,5 88 28,2<br />

Feminino 42 40,4 182 87,5 224 71,8<br />

Genótipo TCF7L2 0,07<br />

CC 43 41,3 99 47,6 142 45,5<br />

CT 45 43,3 94 45,2 139 44,6<br />

TT 16 15,4 15 7,2 31 9,9<br />

Genótipo TCF7L2 0,296<br />

CC 43 41,3 99 47,6 142 45,5<br />

CT ou TT 61 58,7 109 <strong>52</strong>,4 170 54,5<br />

Total 104 100 208 100 312 100<br />

Alelo 0,069<br />

C 131 63,0 292 70,2 423 67,8<br />

T 77 37,0 124 29,8 201 32,2<br />

Total<br />

AR: artrite reumatoi<strong>de</strong>.<br />

208 100 416 100 624 100


Mota et al.<br />

presença <strong>de</strong> erosões (P = 0,261) e classes funcionais I, II, III<br />

e IV (P = 0,328) (Tabela 2).<br />

Os dados também foram avaliados usando-se o mo<strong>de</strong>lo<br />

dominante, no qual portadores dos genótipos CT e TT foram<br />

agrupados para análise <strong>de</strong> regressão logística com controle <strong>de</strong><br />

gênero e ida<strong>de</strong> (Tabela 3). Um aumento não signifi cativo foi observado<br />

na probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surgimento do alelo T em pacientes<br />

Tabela 2<br />

Distribuição genotípica e correlação com tabagismo e indicadores<br />

da gravida<strong>de</strong> da doença nos pacientes<br />

Genótipo TCF7L2<br />

Variável CC CT TT Total P<br />

N % N % N % N %<br />

Tabagismo 0,691<br />

Não 62 62,6 62 66,0 11 73,3 135 64,9<br />

Sim 37 37,4 32 34,0 4 26,7 73 35,1<br />

FR 0,418*<br />

Não 29 31,2 21 22,8 3 23,1 53 26,8<br />

Sim 64 68,8 71 77,2 10 76,9 145 73,2<br />

Erosões 0,261<br />

Não 54 56,3 48 51,1 11 73,3 113 55,1<br />

Sim 42 43,8 46 48,9 4 26,7 92 44,9<br />

Classe<br />

funcional<br />

0,328*<br />

I 44 44,4 30 31,9 6 40,0 80 38,5<br />

II 25 25,3 36 38,3 6 40,0 67 32,2<br />

III 18 18,2 21 22,3 2 13,3 41 19,7<br />

IV 12 12,1 7 7,4 1 6,7 20 9,6<br />

FR: fator reumatoi<strong>de</strong>. *Resultado do teste <strong>de</strong> verossimilhança.<br />

que apresentavam positivida<strong>de</strong> para FR e erosões. Entretanto,<br />

na análise da classe funcional houve um aumento na frequência<br />

do alelo T em pacientes em classe funcional II quando comparados<br />

àqueles em classe funcional I (P = 0,032). Para as <strong>de</strong>mais<br />

classes funcionais, um aumento estatisticamente signifi cativo na<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surgimento do polimorfi smo não foi observado<br />

(P = 0,247 e P = 0,675 para classes III e IV, respectivamente).<br />

DISCUSSÃO<br />

Este estudo foi pioneiro na avaliação <strong>de</strong> associação entre o<br />

genótipo CC do polimorfi smo rs790146 no gene TCF7L2 e<br />

algumas características da AR. Embora não se tenha encontrado<br />

uma associação entre AR e o polimorfi smo rs7903146 no gene<br />

TCF7L2, nossos resultados sugerem uma tendência, ainda que<br />

não estatisticamente signifi cativa, <strong>de</strong> que o alelo T seja menos<br />

representado no grupo <strong>de</strong> pacientes que no grupo-controle.<br />

Neste estudo, um aumento não signifi cativo na frequência<br />

do alelo C do polimorfi smo rs7903146 no gene TCF7L2 foi<br />

encontrado em pacientes com AR. Uma correlação estatisticamente<br />

relevante foi observada entre o alelo T e a classe<br />

funcional II <strong>de</strong> AR. O signifi cado <strong>de</strong> tais achados é incerto; o<br />

reduzido número <strong>de</strong> pacientes incluídos neste estudo po<strong>de</strong> ter<br />

contribuído, assim como o fato <strong>de</strong> que o grupo-controle tenha<br />

sido selecionado por conveniência e, portanto, não pareado<br />

com o grupo <strong>de</strong> pacientes.<br />

Até on<strong>de</strong> sabemos, não ficou <strong>de</strong>monstrado que as<br />

frequências alélicas do polimorfismo rs7903146 no gene<br />

Tabela 3<br />

Distribuição genotípica e correlação com tabagismo e indicadores da gravida<strong>de</strong> da doença nos pacientes, ajustados para gênero<br />

e ida<strong>de</strong> (regressão logística)<br />

Variável<br />

CC<br />

Genótipo TCF7L2<br />

CT ou TT<br />

OR* 95% IC OR** 95% IC P<br />

N % N %<br />

Tabagismo<br />

Não 62 62,6 73 67 1<br />

Sim<br />

FR<br />

37 37,4 36 33 0,83 0,47-1,46 0,81 0,44-1,48 0,485<br />

Não 29 31,2 24 22,9 1<br />

Sim<br />

Erosões<br />

64 68,8 81 77,1 1,53 0,81-2,88 1.5 0,79-2,84 0,214<br />

Não 54 56,3 59 54,1 1<br />

Sim<br />

Classe funcional<br />

42 43,8 50 45,9 1,09 0,63-1,89 1,13 0,65-1,98 0,668<br />

I 44 44,4 36 33 1<br />

II 25 25,3 42 38,5 2,05 1,06-3,98 2,11 1,07-4,19 0,032<br />

III 18 18,2 23 21,1 1,56 0,73-3,33 1,59 0,73-3,46 0,247<br />

IV 12 12,1 8 7,3 0,81 0,3-2,21 0,8 0,27-2,31 0,675<br />

FR: fator reumatoi<strong>de</strong>. *Não ajustado; **Ajustado para gênero e ida<strong>de</strong>.<br />

<strong>52</strong>6 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):518-<strong>52</strong>8


TCF7L2 variam <strong>de</strong> acordo com gênero ou grupo étnico,<br />

exceto na população chinesa, na qual foi mostrado que a<br />

frequência do alelo T do polimorfismo rs7903146 é baixa. 31<br />

As frequências alélicas encontradas no grupo-controle do<br />

presente estudo são semelhantes àquelas <strong>de</strong>scritas em indivíduos<br />

saudáveis incluídos nos grupos-controle <strong>de</strong> outros<br />

estudos envolvendo aquele polimorfismo. Entretanto, as<br />

diferenças <strong>de</strong> gênero e ida<strong>de</strong> média entre os grupos <strong>de</strong> pacientes<br />

e controle neste estudo são limitações importantes,<br />

pois a AR é mais comum em mulheres após os 40 anos.<br />

Isso po<strong>de</strong> ter impedido o achado <strong>de</strong> possíveis diferenças<br />

genotípicas entre eles.<br />

Este é provavelmente o primeiro estudo que avaliou a<br />

correlação entre a variante TCF7L2 e a doença reumatológica.<br />

Além disso, é o primeiro a <strong>de</strong>monstrar a associação <strong>de</strong> um polimorfi<br />

smo daquele gene com a classe funcional da AR. Embora<br />

este estudo tenha muitas limitações que impe<strong>de</strong>m conclusões<br />

<strong>de</strong>fi nitivas sobre o signifi cado <strong>de</strong>sses achados, abrem-se novas<br />

perspectivas para a investigação da fi siopatologia da AR.<br />

Estudos adicionais são necessários para a confi rmação <strong>de</strong>sses<br />

resultados e o esclarecimento do papel do gene TCF7L2 no<br />

risco <strong>de</strong> AR e na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> sua gravida<strong>de</strong>.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a todos que participaram da execução <strong>de</strong>ste<br />

estudo: Jamille Nascimento Carneiro, Luciana Alves Almeida,<br />

Regina Alice Fontes Von Kirchenheim, Talita Yokoy, Ana<br />

Cristina V Oliveira, Clarissa Ferreira <strong>de</strong> Castro, Rodrigo Aires<br />

Corrêa Lima, Ludmila Alves Sanches Dutra, Patrícia Godoy<br />

Garcia Costa, Lara Franciele Ribeiro Velasco, Lídia Freire<br />

Abdalla, Janete Ana Ribeiro Vaz, Sandra Santana Soares Costa,<br />

Deborah Souza Rabelo e Daniel V. Oliveira.<br />

REFERENCES<br />

REFERÊNCIAS<br />

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Development and assessment of indicators of rheumatoid arthritis<br />

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<strong>52</strong>8 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):518-<strong>52</strong>8


ARTIGO ORIGINAL<br />

Associação entre os níveis séricos <strong>de</strong> potenciais<br />

biomarcadores com a presença <strong>de</strong> fatores<br />

relacionados à ativida<strong>de</strong> clínica e ao mau<br />

prognóstico em espondiloartrites<br />

John Londono 1 , Maria Consuelo Romero-Sanchez 2 , Viviana Garcia Torres 3 , Wilson A. Bautista 4 ,<br />

Diego Jaimes Fernan<strong>de</strong>z 5 , Julitte <strong>de</strong> Avila Quiroga 6 , Rafael Valle-Oñate 7 , Ana María Santos 8 , Juan Francisco Medina 9<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Introdução: Biomarcadores séricos, tradicionalmente associados à ativida<strong>de</strong> infl amatória e mau prognóstico em doenças<br />

reumáticas, não apresentam a mesma relação nas espondiloartrites. Objetivo: Estabelecer uma associação entre os níveis<br />

séricos <strong>de</strong> biomarcadores com a presença <strong>de</strong> fatores associados com a ativida<strong>de</strong> clínica e com o mau prognóstico nas<br />

espondiloartropatias. Métodos: Sessenta e dois pacientes (13 com artrite reativa, 19 com espondilite anquilosante e 30<br />

com espondiloartropatia indiferenciada) foram comparados a 46 controles sadios. Foram realizadas avaliações clínicas,<br />

radiológicas e laboratoriais. Os resultados foram analisados <strong>de</strong> acordo com a presença <strong>de</strong> uveíte, entesite, lombalgia infl<br />

amatória, artrite, HLA-B27 e comprometimento das articulações sacroilíacas. Os biomarcadores utilizados foram: VHS,<br />

PCRus, SAA, LBP, FSC-M e MMP-3, além da dosagem dos níveis séricos das citocinas: IL-17, IL-6, IL-1α, TNF-α, IFN-γ,<br />

e IL-23. Resultados: Quarenta e três (69,4%) pacientes eram homens. A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s foi <strong>de</strong> 31,9 ± 9,9 anos, enquanto<br />

a ida<strong>de</strong> média para o aparecimento dos sintomas foi <strong>de</strong> 26,9 ± 7,3 anos. HLA-B27 foi positivo em 26 (41,9%) dos pacientes,<br />

lombalgia infl amatória esteve presente em 42 (67,7%), artrite em 44 (71,0%) e entesite em 34 (54,8%) pacientes. Os<br />

níveis séricos <strong>de</strong> IL-17, IL-23, TNF-α, IL-6, IL-1α e PCRus foram mais elevados em pacientes com espondiloartropatia<br />

em comparação com os controles. Os valores <strong>de</strong> PCRus (P = 0,04), IL-6 (P = 0,003), IL-1α (P = 0,03), e LBP (P = 0,03) se<br />

associaram <strong>de</strong> maneira signifi cativa com presença <strong>de</strong> HLA-B27, dor lombar infl amatória e artrite. Conclusão: O aumento<br />

dos níveis séricos <strong>de</strong> PCRus, IL-6, IL-1α e LBP apresentaram associação com fatores relacionados a ativida<strong>de</strong> clínica e<br />

mau prognóstico em pacientes com espondiloartrites.<br />

Palavras-chave: espondiloartrite, espondiloartropatias, artrite reativa, espondilite anquilosante, espondiloartrite<br />

anquilosante, doenças reumatológicas, entesite, dor lombar, artrite, biomarcadores<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

Espondiloartrite (EpA) é um grupo heterogêneo <strong>de</strong> doenças infl<br />

amatórias crônicas que compartilham manifestações clínicas<br />

e radiológicas. Essas doenças estão associadas à presença <strong>de</strong><br />

antígeno leucocitário humano B27 (human leukocyte antigen,<br />

HLA-B27), que leva a uma tendência para associação familiar.<br />

1–3 As doenças a seguir compreen<strong>de</strong>m EpA: espondilite<br />

Recebido em 17/10/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse. Comitê <strong>de</strong> Ética: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana. Suporte Financeiro: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana.<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana; Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Navarra.<br />

1. Médico, PhD(c), Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Navarra, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana<br />

2. PhD., Imunologia, Hospital Militar Central, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana; Instituto UIBO, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>l Bosque<br />

3. Médico, <strong>Reumatologia</strong>, Hospital Militar Central, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana<br />

4. Médico, <strong>Reumatologia</strong>, Hospital Militar Central, Universida<strong>de</strong> Militar <strong>de</strong> Nova Granada<br />

5. Médico, MsC (c), <strong>Reumatologia</strong>, Hospital Militar Central, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana<br />

6. MsC., Imunologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>l Bosque<br />

7. Médico, <strong>Reumatologia</strong>, Hospital Militar Central; Professor da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> La Sabana<br />

8. Aluna <strong>de</strong> Pós-Graduação, Departamento <strong>de</strong> Biologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Los An<strong>de</strong>s<br />

9. Médico, PhD, Centro <strong>de</strong> Pesquisas Médicas Aplicadas na Área <strong>de</strong> Geneterapia e Hepatologia – CIMA; Professor <strong>de</strong> Medicina Interna, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Navarra<br />

Correspondência para: John Londono. Campus Universitario <strong>de</strong>l Puente <strong>de</strong>l Comun, Km 7 – Autopista Norte <strong>de</strong> Bogota, D.C. P.O.Box: 250001. Chia, Cundinamarca,<br />

Colombia. E-mail: john.londono@unisabana.edu.co<br />

536 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):<strong>52</strong>9-544


Associação entre os níveis séricos <strong>de</strong> potenciais biomarcadores com a presença <strong>de</strong> fatores relacionados à ativida<strong>de</strong> clínica e ao mau prognóstico em espondiloartrites<br />

anquilosante (EA), artrite reativa (ARe), artrite psoriásica<br />

(APs), artrite associada a doença infl amatória intestinal e<br />

espondiloartrite indiferenciada (EpAi). 4<br />

A apresentação clínica da EpA caracteriza-se por comprometimento<br />

<strong>de</strong> articulações do esqueleto axial e periférico,<br />

entesite e manifestações extra-articulares. Em conjunto com<br />

a EA, a EpAi é o subtipo mais comum, com prevalência entre<br />

0,7% e 2,0% na população geral. 3<br />

Tradicionalmente, o subtipo <strong>de</strong> doença e sua progressão,<br />

com o passar do tempo, têm sido correlacionados com fatores<br />

prognósticos como raça, gênero, ida<strong>de</strong> por ocasião do surgimento<br />

e envolvimento precoce do esqueleto axial. 5–7<br />

Em estudos realizados na América Latina, os tipos mais<br />

frequentes <strong>de</strong> EpA apresentados foram EpAi e ARe. Os<br />

estágios iniciais <strong>de</strong>ssas doenças estão associados ao comprometimento<br />

infl amatório articular e à entesite dos membros<br />

inferiores. 7–9<br />

Algumas características relacionadas ao surgimento da<br />

doença, como ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surgimento, HLA-B27, duração dos<br />

sintomas do primeiro episódio e gênero masculino, entre<br />

outras, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar a expressão clínica e a evolução da<br />

EpA. Em geral, os homens apresentam formas mais graves e<br />

exibem maior comprometimento axial, enquanto as mulheres<br />

têm maior comprometimento articular periférico e menos<br />

sacroiliíte. 2 Nos casos <strong>de</strong> EA juvenil, o comprometimento da<br />

articulação do quadril é consi<strong>de</strong>rado fator para mau prognóstico<br />

a longo prazo. 9 Outros marcadores <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da doença são:<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação (VHS) > 30 mm/hora, baixa<br />

resposta a agentes anti-infl amatórios não esteroidais (AINE),<br />

amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento limitada, limitação da coluna vertebral<br />

lombar, dactilite, oligoartrite e ida<strong>de</strong> no surgimento da<br />

doença inferior a 16 anos. 10<br />

Existe predisposição genética para ocorrência da doença,<br />

o que fi ca evi<strong>de</strong>nciado por sua robusta associação com<br />

HLA-B27, especialmente no caso <strong>de</strong> EA, em que 90% dos<br />

pacientes são positivos para esse alelo. 11 Pacientes com EpA<br />

e HLA-B27 exibem sintomas articulares mais graves e prolongados,<br />

maior comprometimento axial dos quadris e manifestações<br />

extra-articulares mais frequentes – por exemplo, uveíte e<br />

envolvimento cardíaco.<br />

Recentemente, estudos genômicos <strong>de</strong> pacientes com EA<br />

i<strong>de</strong>ntifi caram e validaram outros loci, além do HLA-B27,<br />

envolvidos na patogênese <strong>de</strong>ssa doença. Tais genes são a<br />

aminopeptidase 1 do retículo endoplasmático (ERAP-1), o<br />

receptor interleucina 23 (IL-23R), o receptor IL-1 (IL-1RII) e<br />

dois loci que codifi cam genes <strong>de</strong>sconhecidos. O risco atribuído<br />

a populações com os três genes associados é <strong>de</strong> 90%, 26% e<br />

1%, respectivamente. 12–14<br />

Os principais <strong>de</strong>safi os para o tratamento da EpA estão<br />

ligados à falta <strong>de</strong> biomarcadores associados à ativida<strong>de</strong> da<br />

doença, e também à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prever a lesão articular<br />

e a resposta ao tratamento. Estudos recentemente publicados<br />

concentraram-se na possível contribuição <strong>de</strong> marcadores biológicos<br />

solúveis que foram selecionados com base no presente<br />

entendimento <strong>de</strong> seu papel na infl amação e/ou <strong>de</strong> sua associação<br />

com a remo<strong>de</strong>lagem da matriz articular. 15<br />

Os biomarcadores po<strong>de</strong>m dar informações que esclarecem<br />

o prognóstico, a ativida<strong>de</strong> da doença e a patogênese da EpA. 16<br />

A VHS e a proteína C-reativa (PCR) são dois biomarcadores<br />

atualmente utilizados para a avaliação da ativida<strong>de</strong><br />

infl amatória da doença. Mas esses biomarcadores não possuem<br />

as melhores características <strong>de</strong> especifi cida<strong>de</strong>, sensibilida<strong>de</strong> e<br />

reprodutibilida<strong>de</strong>. Esses marcadores da infl amação oferecem<br />

baixa correlação com o grau <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> em pacientes com<br />

EpA. 17<br />

Recentemente, foram propostos outros biomarcadores para<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> EpA, inclusive metaloproteinase 3 (MMP-3), 18<br />

IL-1α, 19 IL-6, 20 fator estimulador <strong>de</strong> colônia <strong>de</strong> macrófago<br />

(M-CSF) 21 e proteína <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> lipopolissacarí<strong>de</strong>o (LBP). 22<br />

A IL-17 situa-se entre os biomarcadores recentemente avaliados,<br />

mas não foi informada associação com a ativida<strong>de</strong> da<br />

doença. 12 No entanto, recentemente foram <strong>de</strong>scritos níveis<br />

séricos <strong>de</strong> IL-17 e IL-23 signifi cativamente elevados em<br />

pacientes com EA em comparação a controles saudáveis, sugerindo<br />

que essas duas citocinas <strong>de</strong>sempenham papéis críticos<br />

na patogênese da EA. 23<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi estabelecer a associação entre<br />

biomarcadores potenciais para EpA com a presença <strong>de</strong> fatores<br />

associados à ativida<strong>de</strong> e mau prognóstico em pacientes nos<br />

estágios iniciais da doença.<br />

PACIENTES E MÉTODOS<br />

Amostras <strong>de</strong> sangue foram coletadas <strong>de</strong> 62 pacientes com<br />

diagnóstico <strong>de</strong> EpA, <strong>de</strong> acordo com os critérios <strong>de</strong> classifi cação<br />

estabelecidos pelo European Spondyloarthritis Study Group<br />

(ESSG, Grupo Europeu <strong>de</strong> Estudo da Espondiloartrite). 24<br />

Desses pacientes, 43 eram homens e 19 mulheres, e os pacientes<br />

foram coletados consecutivamente e conforme a conveniência.<br />

Os pacientes compareceram na Clínica <strong>de</strong> EpA do<br />

Hospital Militar Central entre janeiro <strong>de</strong> 2010 e maio <strong>de</strong> 2011.<br />

Treze i ndivíduos foram diagnosticados com ARe, com base<br />

na proposta para diagnóstico <strong>de</strong>scrita no Terceiro Workshop<br />

Internacional sobre ARe em Berlim. 25 Dezenove pacientes foram<br />

diagnosticados com EA com base nos critérios modifi cados<br />

<strong>de</strong> Nova Iorque, e 30 pacientes foram diagnosticados com EpAi<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):<strong>52</strong>9-544 537


Londono et al.<br />

em conformida<strong>de</strong> com os critérios <strong>de</strong> classifi cação do ESSG.<br />

Por ocasião do estudo, todos os pacientes receberam AINE e<br />

sulfasalazina (1,5–2 g/dia). Nenhum dos pacientes recebeu<br />

tratamento com agentes biológicos ou com glicocorticoi<strong>de</strong>s<br />

intra-articulares ou sistêmicos. Quarenta e seis indivíduos saudáveis<br />

foram incluídos no estudo, como controles. As amostras<br />

séricas dos controles saudáveis participantes foram obtidas no<br />

banco do Hospital Militar Central <strong>de</strong> indivíduos sem doenças<br />

infl amatórias, autoimunes ou infecciosas, e foram levados em<br />

consi<strong>de</strong>ração o gênero e a ida<strong>de</strong>.<br />

O estágio da ativida<strong>de</strong> da doença foi medido pelo índice<br />

Bath Ankylosing Spondylitis Disease Activity In<strong>de</strong>x (BASDAI), 26<br />

e o estado funcional foi avaliado pelo índice Bath Ankylosing<br />

Spondylitis Functional In<strong>de</strong>x (BASFI). 27 Todas as medidas relacionadas<br />

à ativida<strong>de</strong> da doença e à função física dos pacientes<br />

foram realizadas conforme recomendação da Assessment of<br />

SpondyloArthritis International Society (ASAS). 28 Todos os pacientes<br />

receberam AINE e sulfassalazina, mas nenhum recebeu<br />

terapia biológica ou corticoi<strong>de</strong>s intra-articulares ou sistêmicos.<br />

Amostras séricas<br />

As amostras séricas foram preparadas a partir <strong>de</strong> 3 mL <strong>de</strong><br />

sangue venoso sem anticoagulante, em conformida<strong>de</strong> com a<br />

técnica <strong>de</strong> rotina. Todas as amostras (soros <strong>de</strong> pacientes com<br />

EpA e participantes saudáveis) foram centrifugadas durante<br />

10 minutos a 2.500 rpm, e foram subsequentemente congeladas<br />

a –80 o C até sua avaliação, com um lapso <strong>de</strong> tempo não<br />

superior a dois meses após sua obtenção. As amostras séricas<br />

<strong>de</strong> pacientes e controles foram coletadas e processadas simultaneamente<br />

em intervalos <strong>de</strong> tempo. Da mesma forma, as<br />

amostras <strong>de</strong> sangue foram coletadas simultaneamente com os<br />

parâmetros <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> clínica.<br />

Análise <strong>de</strong> citometria <strong>de</strong> fl uxo<br />

Na citometria <strong>de</strong> fl uxo, utilizou-se um Cytometric Bead-Array<br />

(CBA Flex Set) para medir os níveis séricos <strong>de</strong> citocinas<br />

(IL-17, IL-6, IL-1α, TNF-α e INF-γ). As pérolas <strong>de</strong> captura,<br />

os anticorpos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção conjugados com PE, os controles<br />

e as amostras séricas dos pacientes e dos controles saudáveis<br />

foram incubados conjuntamente para formar complexos em<br />

sanduíche. As amostras foram coletadas com o uso <strong>de</strong> um citômetro<br />

<strong>de</strong> fl uxo FACS Canto II. Os dados foram adquiridos<br />

com o programa FACS DIVA, e os resultados foram gerados<br />

em formato gráfi co e tabular utilizando o programa BD FCAP,<br />

criando um gate marcador com base em 1.800 eventos <strong>de</strong><br />

controle para cada citocina; os níveis estão expressos como<br />

médias ± <strong>de</strong>svio padrão (DP) em pg/mL.<br />

Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA)<br />

Os níveis séricos foram <strong>de</strong>terminados para IL-23, MMP-3,<br />

amiloi<strong>de</strong> sérico A (SAA) e M-CSF (R & D Systems) por ELISA<br />

utilizando anticorpos pareados <strong>de</strong> acordo com as recomendações<br />

do fabricante. As amostras séricas foram analisadas em<br />

duplicada. Os valores para cada citocina em um grupo <strong>de</strong> participantes<br />

foram expressos na forma <strong>de</strong> médias ± DP em pg/mL.<br />

Os níveis <strong>de</strong> proteína C-reativa ultrassensível (PCRus) e <strong>de</strong><br />

LBP foram analisados por quimioluminescência. No mesmo<br />

dia foram realizadas comparações entre amostras. O valor <strong>de</strong><br />

referência que consi<strong>de</strong>rou positivo o PCRus foi 0,9 mg/dL.<br />

O projeto foi realizado sob os princípios da Declaração<br />

<strong>de</strong> Helsinque, tendo sido aprovado pela Comissão <strong>de</strong> Ética<br />

da instituição. Todos os participantes tinham previamente<br />

assinado um formulário <strong>de</strong> consentimento informado, e a<br />

confi <strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> foi mantida.<br />

Análise estatística<br />

Na análise dos dados utilizou-se o pacote estatístico SPSS 17.0<br />

para Windows. Para a avaliação das variáveis contínuas foram<br />

utilizadas medidas <strong>de</strong> tendência central e <strong>de</strong> dispersão; para a<br />

comparação entre grupos <strong>de</strong> variáveis quantitativas com distribuição<br />

paramétrica foi utilizado o teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt para amostras<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. As variáveis categóricas foram apresentadas<br />

em gráfi cos <strong>de</strong> frequência e percentuais; quando necessários,<br />

foram utilizados os testes do qui-quadrado e exato <strong>de</strong> Fisher<br />

para comparação dos grupos. Consi<strong>de</strong>ramos um valor P < 0,05<br />

como estatisticamente signifi cativo. Levamos em consi<strong>de</strong>ração<br />

a distribuição por gênero e a ida<strong>de</strong> média dos pacientes e dos<br />

controles, mas não foi realizada uma análise pareada.<br />

RESULTADOS<br />

Características gerais da população<br />

Os dados <strong>de</strong>mográfi cos, informações gerais e características<br />

relacionadas à doença <strong>de</strong> todos os 62 pacientes estão ilustrados<br />

na Tabela 1.<br />

Histórico ligado ao surgimento da doença<br />

Os sintomas mais frequentes no início da doença foram artrite<br />

e dor lombar infl amatória (DLI), seguidos por entesopatia<br />

(Tabela 2).<br />

Ativida<strong>de</strong> da doença<br />

Por ocasião da avaliação dos pacientes, a ativida<strong>de</strong> da doença<br />

foi classifi cada como mo<strong>de</strong>rada ou grave para a maioria dos<br />

538 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):<strong>52</strong>9-544


Associação entre os níveis séricos <strong>de</strong> potenciais biomarcadores com a presença <strong>de</strong> fatores relacionados à ativida<strong>de</strong> clínica e ao mau prognóstico em espondiloartrites<br />

Tabela 1<br />

Dados <strong>de</strong>mográfi cos (espondiloartrite, n = 62)<br />

Ida<strong>de</strong>* (anos) 31,9 ± 9,9<br />

Ida<strong>de</strong> no surgimento dos sintomas* (meses) 26,9 ± 7,3<br />

Tempo <strong>de</strong> evolução* (anos) 5,01 ± 5,7<br />

Gênero, M (%) 43 (69,4)<br />

Relação <strong>de</strong> gênero, M:F 3:1<br />

HLA-B27 (+) 26 (41,9)<br />

EA 20 (32)<br />

EpAi 29 (47)<br />

ARe<br />

*Média ± DP.<br />

13 (21)<br />

EA: espondilite anquilosante; EpAi: espondiloartrite indiferenciada; ARe: artrite reativa.<br />

Tabela 2<br />

Sintomas presentes no início da doença (espondiloartrite, n = 62)<br />

Dor lombar infl amatória 67,7%<br />

Artrite 71,0%<br />

Entesite 54,8%<br />

Infecção – diarreia 29,0%<br />

Uveíte – anterior 12,9%<br />

Dor glútea 17,7%<br />

Dactilite 19,4%<br />

pacientes (ativida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada se BASDAI caísse entre 4–6,9,<br />

e grave se BASDAI ≥ 7). O padrão <strong>de</strong> comprometimento da<br />

doença foi distribuído como se segue: 38 (61,3%) pacientes<br />

exibiam envolvimento periférico, sete (11,3%) tinham envolvimento<br />

axial e quatro (6,5%) pacientes exibiam envolvimento<br />

misto (Tabela 3).<br />

Os diferentes marcadores séricos quantifi cados nos pacientes<br />

e nos controles estão <strong>de</strong>scritos nas Tabela 4 e 5. Dentro <strong>de</strong><br />

cada marcador sérico associado com infl amação (IL-17, IL-23,<br />

TNF-α, IL-6, IL-1α e PCRus) foram observadas diferenças<br />

estatisticamente signifi cativas em comparação aos controles,<br />

e os níveis <strong>de</strong> citocinas estavam mais altos em pacientes com<br />

EpA. Os níveis <strong>de</strong> IFN-γ, MMP-3, SAA e M-CSF também<br />

estavam mais elevados em pacientes com EpA, em comparação<br />

aos controles – mas essas diferenças não foram estatisticamente<br />

signifi cativas (Tabela 4). Os dados para ativida<strong>de</strong> dos marcadores<br />

clínicos e biológicos estão <strong>de</strong>scritos na Tabela 5.<br />

Os diferentes marcadores <strong>de</strong> infl amação foram correlacionados<br />

com fatores para mau prognóstico no início da doença,<br />

inclusive HLA-B27 e os prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> DLI e artrite, conforme<br />

mostra a Tabela 6. A expressão <strong>de</strong> marcadores, por exemplo,<br />

PCRus (P = 0,04), IL-6 (P = 0,003), IL-1α (P = 0,03) e LBP<br />

Tabela 3<br />

Variáveis clínicas relacionadas à ativida<strong>de</strong> da doença<br />

Ativida<strong>de</strong> da doença <strong>de</strong>terminada<br />

pelo examinador, EVA 0–10*<br />

5,4 ± 2,0<br />

Ativida<strong>de</strong> da doença <strong>de</strong>terminada<br />

pelo paciente, EVA 0–10*<br />

6,5 ± 2,4<br />

Rigi<strong>de</strong>z matinal (min) 46,3 ± 35,7<br />

Teste <strong>de</strong> Schober** 4,9 ± 5,5<br />

Expansão torácica* (cm) 4,2 ± 1,3<br />

Distância entre o occipúcio e a pare<strong>de</strong>* (cm) 0,05 ± 0,4<br />

Teste <strong>de</strong> Patrick** 27 (43,5)<br />

Envolvimento periférico** 38 (61,3)<br />

Envolvimento axial** 7 (11,3)<br />

Envolvimento misto** 4 (6,5)<br />

BASDAI* 6,1 ± 2,0<br />

BASFI* 5,8 ± 2,3<br />

PCRus (mg/L)* 9,4 ± 16,5<br />

VHS (mm/hora)*<br />

*Média ± DP **Frequência n (%)<br />

13,5 ± 13,8<br />

PCRus: proteína C-reativa ultrassensível; VHS: velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação.<br />

Tabela 4<br />

Comparação <strong>de</strong> marcadores séricos <strong>de</strong> infl amação em pacientes<br />

com espondiloartrite e em controles saudáveis<br />

Marcador EpA (n = 62) Controles (n = 46) P<br />

IL-17 (pg/mL) <strong>52</strong>,54 ± 87,12 13,73 ± 26,40 0,000<br />

IL-23 (pg/mL) 4,76 ± 2,93 3,12 ± 0,717 0,000<br />

TNF-α (pg/mL) 24,20 ± 36,35 15,95 ± 12,67 0,000<br />

IL6 (pg/mL) 48,24 ± 73,73 20,14 ± 4,56 0,000<br />

IFN-γ (pg/mL) 0,88 ± 2,95 0,56 ± 1,22 0,615<br />

IL-1α (pg/mL) 46,0 ± 23,22 42,23 ± 30,84 0,001<br />

MMP-3 (ng/mL) 21,42 ± 21,83 18,05 ± 9,96 0,900<br />

SAA (ng/mL) 853,7 ± 946,2 282,49 ± 371,94 0,001<br />

M-CSF (pg/mL) 102,48 ± 67,86 34,74 ± 33,40 0,001<br />

LBP (µg/mL) 7,54 ± 3,71 3,5±1,8 0,045<br />

VHS (mm/hora) 17,08 ± 13,87 3,8 ± 0,7 0,003<br />

PCRus (mg/L) 8,31 ± 16,7 1,13 ± 0,88 0,020<br />

Os resultados estão expressos em média ± DP.<br />

EpA: espondiloartrite; IL: interleucina; TNF-α: fator-alfa <strong>de</strong> necrose tumoral; INF-γ: interferon<br />

gama; MMP-3: metaloproteinase 3; SAA: amiloi<strong>de</strong> sérico A; M-CSF: fator estimulante <strong>de</strong> colônia <strong>de</strong><br />

macrófagos; LBP: proteína <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> lipopolissacarí<strong>de</strong>o; VHS: velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação;<br />

PCRus: proteína C-reativa ultrassensível.<br />

(P = 0,03), foi signifi cativamente maior em pacientes que se<br />

apresentaram com fatores <strong>de</strong> mau prognóstico associados ao<br />

início da doença versus pacientes que não se apresentaram<br />

com fatores <strong>de</strong> mau prognóstico (Tabela 6).<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):<strong>52</strong>9-544 539


Londono et al.<br />

Tabela 5<br />

Dados <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> no grupo <strong>de</strong> espondiloartrite e subtipos<br />

EpA EA EpAi ARe<br />

BASDAI 6,1 ± 2,0 6,4 ± 2,0 6,2 ± 1,6 5,7 ± 2,7<br />

BASFI 5,8 ± 2,3 5,4 ± 2,3 5,9 ± 2,1 5,9 ± 2,7<br />

VHS (mm/hora) 17,1 ± 13,8 13,4 ± 12,8 15,2 ± 10,4 26,7 ± 18,1<br />

PCRus (mg/L) 8,31 ± 16,7 7,9 ± 16,4 4,5 ± 9,9 22,4 ± 22,2<br />

LBP (µg/mL) 7,5 ± 3,7 0,53 ± 2,4 6,6 ± 3,5 10,0± 4,8<br />

SAA (ng/mL ) 853,7 ± 946,2 7<strong>52</strong>,5 ± 871,8 6<strong>52</strong>,0 ± 820,2 1459,7 ± 1124,7<br />

Os resultados estão expressos em média ± DP.<br />

EpA: espondiloartrite; EA: espondilite anquilosante; EpAi: espondiloartrite indiferenciada; ARe: artrite reativa; VHS: velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação; PCRus: proteína C-reativa ultrassensível; LBP: proteína<br />

<strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> lipopolissacarí<strong>de</strong>o; SAA: amiloi<strong>de</strong> sérico A.<br />

Tabela 6<br />

Fatores <strong>de</strong> mau prognóstico em pacientes com espondiloartrite:<br />

HLA-B27+, DLI e artrite. Descrição da construção do mau<br />

prognóstico como variáveis <strong>de</strong> grupo<br />

DISCUSSÃO<br />

Fatores (+)<br />

n = 9<br />

Fatores (-)<br />

n = 53<br />

VHS (mm/hora) 21,6 ± 16,3 16,3 ± 13,6 0,4<br />

PCRus (mg/L) 21,1 ± 26,0 7,4 ± 13,9 0,04<br />

SAA (ng/mL) 1312,9 ± 1184,8 786,6 ± 894,9 0,4<br />

MMP-3 (ng/mL) 29,4 ± 32,6 20,1 ± 19,8 0,7<br />

M-CSF (pg/mL) 87,2 ± 33,1 106,5 ± 71,9 0,9<br />

IL-6 (pg/mL) 79,8 ± 55,3 43,3 ± 76,2 0,003<br />

IL-1α (pg/mL) 56,1 ± 30,6 43,7 ± 21,7 0,03<br />

TNF-α (pg/mL) 19,4 ± 5,4 24,7 ± 39,6 0,5<br />

IL-17 (pg/mL) 69,3 ± 69,1 49,3 ± 90,9 0,06<br />

IL-23 (pg/mL) 4,9 ± 2,9 4,8 ± 3,0 0,8<br />

INF-γ (pg/mL) 0,6 ± 1,2 0,9 ± 3,2 0,68<br />

LBP (µg/mL) 9,9 ± 4,5 7,2 ± 3,4 0,03<br />

Os resultados estão expressos em média ± DP. Valores P estatisticamente signifi cativos em pacientes<br />

com EpA contra fatores <strong>de</strong> mau prognóstico (P < 0,05).<br />

DLI: dor lombar infl amatória; VHS: velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação; PCRus: proteína C-reativa<br />

ultrassensível; SAA: amiloi<strong>de</strong> sérico A; MMP-3: metaloproteinase 3; M-CSF: fator estimulante <strong>de</strong><br />

colônia <strong>de</strong> macrófagos; IL: interleucina; TNF-α: fator-alfa <strong>de</strong> necrose tumoral; INF-γ: interferon gama;<br />

LBP: proteína <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> lipopolissacarí<strong>de</strong>o.<br />

O presente estudo comparou níveis sanguíneos <strong>de</strong> citocinas<br />

em uma população <strong>de</strong> pacientes com EpA em seus estágios<br />

iniciais (menos <strong>de</strong> cinco anos <strong>de</strong> evolução) com um grupo <strong>de</strong><br />

controles. Os níveis <strong>de</strong> IL-17, IL-23, TNF-α, IL-6, IL-1α e<br />

PCRus estavam mais altos em pacientes em comparação aos<br />

controles. Os níveis <strong>de</strong> PCRus, IL-6, IL-1α e LBP também<br />

estavam signifi cativamente elevados em pacientes com fatores<br />

associados a mau prognóstico, por exemplo, EpA, DLI e<br />

P<br />

artrite, quando comparados a pacientes sem fatores para mau<br />

prognóstico.<br />

Em sua maioria, os estudos relacionados a marcadores<br />

infl amatórios em pacientes com EpA têm sido realizados em<br />

populações <strong>de</strong> pacientes com EA; em contraste, a população<br />

<strong>de</strong>ste estudo consistiu <strong>de</strong> pacientes com ARe e EpAi, além<br />

<strong>de</strong> EA. 29,30<br />

Em nosso estudo, os níveis <strong>de</strong> PCRus foram mais altos<br />

em pacientes com EpA, quando comparados aos controles,<br />

<strong>de</strong>monstrando correlação com a presença <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> mau<br />

prognóstico. No caso <strong>de</strong> EA, apenas 40%–60% dos pacientes<br />

exibiam elevação. Pacientes sem valores elevados po<strong>de</strong>m ter<br />

a doença clinicamente ativa, o que, em geral, aponta para uma<br />

fraca correlação entre os níveis <strong>de</strong>ssa proteína e a ativida<strong>de</strong><br />

clínica da doença em EA. Os níveis <strong>de</strong> PCR comum foram comparados<br />

aos níveis <strong>de</strong> PCRus como parâmetros <strong>de</strong> mensuração<br />

da ativida<strong>de</strong> em um grupo <strong>de</strong> pacientes com EA, pertencentes<br />

à coorte alemã <strong>de</strong> EpA. PCRus exibiu melhor correlação com<br />

PCR comum com parâmetros clínicos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> da doença<br />

em pacientes com EpA axial. 31 Como resultado, PCRus po<strong>de</strong><br />

ter <strong>de</strong>sempenho melhor que PCR para avaliação da ativida<strong>de</strong><br />

da doença em pacientes com EpA axial.<br />

A IL-6 é uma das principais citocinas já propostas como<br />

biomarcadores em pacientes com EpA, estando signifi cativamente<br />

elevada na população do presente estudo quando<br />

comparada aos controles. Esta é uma citocina pleotrópica<br />

bem conhecida por induzir a síntese <strong>de</strong> diversas proteínas<br />

hepáticas. Níveis elevados <strong>de</strong> IL-6 são observados em pacientes<br />

com EA, em comparação a indivíduos saudáveis, o<br />

que revela uma correlação entre IL-6 e anquilose vertebral e<br />

ativida<strong>de</strong> da doença. 32 Também foi observado aumento dos<br />

níveis <strong>de</strong>ssa citocina em pacientes com EpA; observou-se<br />

redução dos níveis duas semanas <strong>de</strong>pois do tratamento em<br />

pacientes que respon<strong>de</strong>ram ao tratamento, e também reduções<br />

persistentes em um acompanhamento <strong>de</strong> três anos. Por essas<br />

540 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):<strong>52</strong>9-544


Associação entre os níveis séricos <strong>de</strong> potenciais biomarcadores com a presença <strong>de</strong> fatores relacionados à ativida<strong>de</strong> clínica e ao mau prognóstico em espondiloartrites<br />

razões, a IL-6 é consi<strong>de</strong>rada uma citocina com valor potencial<br />

para monitoramento da ativida<strong>de</strong> da doença e da resposta ao<br />

tratamento em pacientes com EpA. 33 As principais diferenças<br />

na população no presente estudo são que o estudo prece<strong>de</strong>nte<br />

foi realizado com base apenas em pacientes com EA e APs,<br />

enquanto o presente estudo incluiu pacientes com EA, ARe e<br />

EpAi. Da mesma forma, os pacientes participantes no estudo<br />

prece<strong>de</strong>nte receberam terapia biológica, mas em nosso estudo<br />

os pacientes não foram expostos a esse tratamento. A IL-6<br />

também <strong>de</strong>monstrou correlação com os escores BASDAI e<br />

com as imagens por ressonância magnética (IRM) em termos<br />

<strong>de</strong> infl amação em um estudo <strong>de</strong> fase III <strong>de</strong> infl iximabe. Foram<br />

observadas reduções signifi cativas nos níveis <strong>de</strong> IL-6 e <strong>de</strong><br />

outros marcadores após uso <strong>de</strong> infl iximabe, em comparação<br />

com placebo. Além disso, os níveis <strong>de</strong> IL-6 tinham correlação<br />

com o número <strong>de</strong> articulações periféricas infl amadas. 34<br />

Recentemente, o papel da IL-23 e da IL-7 na patogênese da<br />

EpA vem acumulando interesse consi<strong>de</strong>rável, porque estudos<br />

genéticos <strong>de</strong>monstraram associações com polimorfi smos no<br />

receptor <strong>de</strong> IL-23 em pacientes com EA e doença <strong>de</strong> Crohn.<br />

A IL-23 induz a polarização <strong>de</strong> linfócitos T CD4 virgens em<br />

células T-helper 17 (Th-17), o que leva à produção <strong>de</strong> IL-17,<br />

uma citocina proinfl amatória encontrada em níveis elevados<br />

no soro e no líquido sinovial <strong>de</strong> pacientes com EpA e artrite<br />

reumatoi<strong>de</strong> (AR). 15 Dois estudos corroboraram, recentemente,<br />

o papel <strong>de</strong> IL-17 na patogênese da EpA em seres humanos.<br />

Em um <strong>de</strong>les, os níveis <strong>de</strong> IL-17 estavam elevados em<br />

pacientes com EA estabelecida e ativa, em comparação aos<br />

controles, correlacionando com a ativida<strong>de</strong> da doença. De<br />

modo parecido com nossa população, os pacientes não receberam<br />

medicamentos imunomoduladores ou medicamentos para<br />

a modifi cação do metabolismo ósseo. A ida<strong>de</strong> média (42 vs.<br />

31 anos, respectivamente) e a duração média da doença (14 vs. 5<br />

anos, respecti vamente) foram mais elevadas em comparação<br />

ao nosso estudo. Os níveis séricos <strong>de</strong> IL-17 foram mais altos<br />

em pacientes versus controles. 35<br />

No outro estudo, os níveis sinoviais <strong>de</strong> IL-17 estavam<br />

mais altos em pacientes com ARe e EpAi, em comparação<br />

com pacientes com AR e osteoartrite. 36 Porém, em um estudo <strong>de</strong><br />

pacientes com EpA, os níveis séricos estavam mais elevados<br />

que nos controles, e não houve correlação com ativida<strong>de</strong> da<br />

doença ou redução com a terapia anti-TNF-α. 37 Um estudo<br />

recentemente publicado <strong>de</strong> pacientes com EA <strong>de</strong>monstrou que<br />

os níveis séricos <strong>de</strong> IL-17 e IL-23 estavam signifi cativamente<br />

mais altos em pacientes com EA, em comparação aos controles.<br />

No entanto, não foi observada associação entre os níveis<br />

séricos <strong>de</strong> IL-17 e IL-23 com ativida<strong>de</strong> clínica e parâmetros<br />

laboratoriais. 23<br />

Outra citocina que estava elevada na população em estudo,<br />

quando comparada aos controles, foi a IL-1α. Há informações<br />

limitadas relacionadas ao papel <strong>de</strong>ssa citocina como marcador<br />

<strong>de</strong> infl amação em pacientes com EpA. A avaliação <strong>de</strong>ssa e<br />

<strong>de</strong> outras citocinas, por exemplo, TGF-β, IFN-γ e IL-10, não<br />

tem sido muito esclarecedora. 15 Um estudo que i<strong>de</strong>ntifi cou<br />

quais reagentes <strong>de</strong> fase aguda e citocinas teriam utilida<strong>de</strong> na<br />

monitoração do tratamento com infl iximabe em pacientes com<br />

EA analisou 22 citocinas, tendo <strong>de</strong>monstrado que IL-1α sérica<br />

diferenciava pacientes respon<strong>de</strong>ntes ao tratamento na sexta<br />

semana, com sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 84,9% e especifi cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 53,8%.<br />

Provavelmente a IL-1α sérica foi gerada pelos compartimentos<br />

articulares, porque os níveis <strong>de</strong> líquido sinovial estavam mais<br />

elevados que os níveis séricos correspon<strong>de</strong>ntes. Portanto,<br />

essa citocina é consi<strong>de</strong>rada como biomarcador potencial em<br />

pacientes com EpA. 19<br />

A LBP é uma proteína <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> endotoxina que funciona<br />

<strong>de</strong> maneira coor<strong>de</strong>nada para facilitar a resposta total<br />

do hospe<strong>de</strong>iro contra infecções bacterianas gram-negativas.<br />

Sua estrutura, função e mobilização permitem uma resposta<br />

proinfl amatória altamente sensível contra pequenas concentrações<br />

<strong>de</strong> bactérias no início da infecção bacteriana. Mais tar<strong>de</strong>,<br />

essa resposta permite a efi ciente eliminação <strong>de</strong> bactérias viáveis<br />

e seus remanescentes, além da eliminação da infl amação<br />

<strong>de</strong>rivada da endotoxina. 38 Essa proteína está incluída no grupo<br />

<strong>de</strong> biomarcadores diagnósticos ou <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> propostos para<br />

EpA. 32 No presente estudo, observamos níveis signifi cativamente<br />

elevados <strong>de</strong> LBP em pacientes que apresentavam fatores<br />

<strong>de</strong> mau prognóstico no início da doença.<br />

Recentemente, <strong>de</strong>monstrou-se que mais um reagente <strong>de</strong><br />

fase aguda, SAA, estava elevado em pacientes com EpA e<br />

tinha correlação com PCR, VHS e BASDAI. 15 Na população<br />

<strong>de</strong> nosso estudo, os níveis <strong>de</strong> SAA foram mais altos em<br />

pacientes com EpA, em comparação com os controles. Essa<br />

proteína é membro da família das apolipoproteínas, sendo<br />

primariamente sintetizada no fígado e no líquido sinovial<br />

por monócitos e por macrófagos ativados. 32,39 Sua relação com<br />

a ativida<strong>de</strong> da doença <strong>de</strong> SpA foi avaliada em um estudo <strong>de</strong><br />

pacientes com EA e conjuntamente com VHS e PCR, que foram<br />

comparados com BASDAI. Houve boa correlação entre SAA<br />

e VHS, PRC e BASDAI; portanto, os autores propuseram<br />

SAA como candidato para biomarcador <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. 40 Assim,<br />

SAA se situa entre os reagentes <strong>de</strong> fase aguda que funcionam<br />

mais apropriadamente como prognosticadores da resposta ao<br />

tratamento em pacientes com TNF-α, juntamente com PCR e<br />

IL-6. 15 Uma combinação <strong>de</strong> níveis basais elevados <strong>de</strong> PCR e SAA<br />

revela maior valor prognóstico para resposta clínica (81%) em<br />

pacientes com EA tratados com anti-TNF. 41<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):<strong>52</strong>9-544 541


Londono et al.<br />

Nosso estudo documentou níveis <strong>de</strong> concentração sérica<br />

<strong>de</strong> MMP-3 elevados em pacientes com TNF-α, em comparação<br />

com indivíduos saudáveis. Um importante conjunto <strong>de</strong><br />

dados avaliou MMP-3 como um biomarcador que refl ete<br />

a ativida<strong>de</strong> da doença, por ser expresso em uma série <strong>de</strong><br />

células intra-articulares, como macrófagos, fi broblastos, e<br />

condrócitos, e em resposta a diversos estímulos e citocinas<br />

proinfl amatórias, como TNF-α. 42<br />

Em um estudo recentemente publicado, foi observada<br />

uma fraca correlação com PCR, mas não com BASDAI, no<br />

início do estudo. 43 Também foram observadas correlações<br />

fracas entre as mudanças em MMP-3 e as mudanças em PCR<br />

e BASDAI em pacientes que foram medicados com adalimumabe.<br />

44 Em outros artigos, não foi observada correlação entre<br />

MMP-3 e VHS ou BASDAI. 45,46 Essas discrepâncias po<strong>de</strong>m<br />

refl etir o fenótipo da doença, especialmente sua prevalência<br />

relativa à infl amação periférica ativa nas diferentes coortes.<br />

Em particular, foi <strong>de</strong>monstrada uma correlação signifi cativa<br />

entre os níveis séricos <strong>de</strong> MMP-3 e o grau histopatológico<br />

<strong>de</strong> infl amação sinovial no joelho em pacientes com EpA<br />

predominantemente periférica. 47 Por outro lado, a redução <strong>de</strong><br />

MMP-3 no líquido sinovial e no soro é proporcional à redução<br />

no grau <strong>de</strong> infl amação na histopatologia, apóso tratamento<br />

com infl iximabe. Do mesmo modo, MMP-3 é um signifi cativo<br />

prognosticador in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> progressão radiográfi ca em<br />

pacientes com EA, sobretudo naqueles pacientes com lesão<br />

radiográfi ca preexistente. 43<br />

Ainda existem <strong>de</strong>safi os importantes no campo da EpA.<br />

Primeiramente, a avaliação da gravida<strong>de</strong> da doença, especialmente<br />

o grau <strong>de</strong> infl amação, fi ca prejudicada pela baixa<br />

sensibilida<strong>de</strong> e especifi cida<strong>de</strong> dos sinais e sintomas. Do mesmo<br />

modo, os biomarcadores utilizados na prática clínica, como<br />

PCR e VHS, carecem <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e especifi cida<strong>de</strong> para<br />

EpA; além disso, a avaliação da infl amação por meio <strong>de</strong> IRM<br />

é dispendiosa, e o acesso a especialistas com experiência em<br />

sua interpretação não está amplamente disponível.<br />

Em segundo lugar, a avaliação do prognóstico fi ca comprometida<br />

pela lenta progressão das alterações radiográfi cas,<br />

porque <strong>de</strong>verão transcorrer pelo menos dois anos <strong>de</strong> acompanhamento,<br />

antes que uma alteração possa ser confi avelmente<br />

<strong>de</strong>tectada. No entanto, alguns pacientes realmente exibem<br />

rápida progressão. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> previsão da progressão é<br />

limitada, e os dados atualmente disponíveis apenas favorecem<br />

a pontuação basal das lesões radiográfi cas e a infl amação <strong>de</strong>tectada<br />

por IRM como prognosticadores <strong>de</strong> futura progressão.<br />

Por último, a avaliação dos prognosticadores <strong>de</strong> resposta ao<br />

tratamento i<strong>de</strong>ntifi cou ida<strong>de</strong>, estado funcional basal, PCR, e escore<br />

para infl amação pelo IRM; mas a capacida<strong>de</strong> prognóstica<br />

<strong>de</strong>sses parâmetros é limitada. Encontrar melhores parâmetros<br />

prognosticadores é uma necessida<strong>de</strong> importante ainda não<br />

satisfeita, pois a terapia biológica é cara e aproximadamente<br />

40% dos pacientes não respon<strong>de</strong>m ao tratamento. 48,49<br />

Durante os últimos anos, aumentou o uso <strong>de</strong> biomarcadores<br />

solúveis <strong>de</strong>tectáveis no sangue periférico e na urina, em resposta<br />

aos <strong>de</strong>safi os nesse campo. Mas nenhum artigo publicado<br />

conseguiu <strong>de</strong>tectar um grupo <strong>de</strong> biomarcadores que possam<br />

prever, com certo grau <strong>de</strong> precisão, um mau prognóstico em<br />

pacientes nos estágios iniciais da doença – que é a principal<br />

contribuição <strong>de</strong>sse estudo no campo da EpA.<br />

CONCLUSÕES<br />

O aumento <strong>de</strong> PCRus, IL-6, IL-1α e LBP nos níveis sanguíneos<br />

está correlacionado com a presença <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> mau<br />

prognóstico e infl amação persistente observados nos estágios<br />

iniciais da EpA.<br />

REFERENCES<br />

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544 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):<strong>52</strong>9-544


ARTIGO ORIGINAL<br />

Frequência elevada <strong>de</strong> calcinose em <strong>de</strong>rmatomiosite<br />

juvenil: estudo <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Gleice Clemente 1 , Daniela Gerent Petry Piotto 2 , Cássia Barbosa 3 , Octávio Augusto Peracchi 2 ,<br />

Claudio Arnaldo Len 4 , Maria O<strong>de</strong>te Esteves Hilário 5 , Maria Teresa R. A. Terreri 6<br />

Objetivo: Avaliar a frequência <strong>de</strong> calcinose em pacientes com <strong>de</strong>rmatomiosite juvenil, bem como estudar possíveis fatores<br />

<strong>de</strong> risco para essa manifestação. Métodos: Revisão <strong>de</strong> prontuários <strong>de</strong> 34 pacientes, com ênfase nas características<br />

<strong>de</strong>mográfi cas, clínicas e laboratoriais, tipo <strong>de</strong> tratamento e a<strong>de</strong>são, tipo <strong>de</strong> evolução (monocíclico, crônico e policíclico) e<br />

gravida<strong>de</strong> da doença. Os pacientes foram separados em grupos: aqueles que <strong>de</strong>senvolveram calcinose (até o sexto mês <strong>de</strong><br />

acompanhamento ambulatorial e após seis meses <strong>de</strong> acompanhamento) e os que não <strong>de</strong>senvolveram calcinose. Vinte e sete<br />

pacientes fi zeram dois exames <strong>de</strong> capilaroscopia periungueal (CPU), os quais foram consi<strong>de</strong>rados alterados quando era<br />

encontrado padrão esclero<strong>de</strong>rma. Resultados: A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início dos sintomas dos 34 pacientes foi <strong>de</strong> 6,5 anos, e<br />

o tempo até o diagnóstico foi <strong>de</strong> 1,2 anos. Setenta por cento eram meninas. Meta<strong>de</strong> dos pacientes teve curso monocíclico da<br />

doença, e apenas 14,7% tiveram vasculite grave. Quase 90% dos pacientes que realizaram CPU tiveram alteração na primeira<br />

avaliação, e 74% tiveram alteração na segunda avaliação, com uma média <strong>de</strong> 1,6 anos entre as duas. Dezesseis (47,1%)<br />

pacientes apresentaram calcinose. Não houve associação entre as variáveis analisadas e o <strong>de</strong>senvolvimento da calcinose.<br />

Conclusão: Não conseguimos <strong>de</strong>monstrar a presença <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco para calcinose, apesar <strong>de</strong> termos encontrado uma<br />

frequência <strong>de</strong>ssa complicação em cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos pacientes com <strong>de</strong>rmatomiosite juvenil.<br />

Palavras-chave: <strong>de</strong>rmatomiosite, fatores <strong>de</strong> risco, calcinose.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A <strong>de</strong>rmatomiosite juvenil (DMJ) é uma doença multissistêmica<br />

que faz parte <strong>de</strong> um grupo heterogêneo <strong>de</strong> doenças musculares<br />

infl amatórias adquiridas e correspon<strong>de</strong> a 85% <strong>de</strong> todas as miopatias<br />

infl amatórias idiopáticas na infância. 1 É caracterizada<br />

por vasculite, que afeta primariamente a pele e os músculos, 2,3<br />

mas também po<strong>de</strong> afetar outros órgãos como coração, pulmão<br />

e trato gastrointestinal. 2<br />

Os critérios diagnósticos originalmente propostos por<br />

Bohan e Peter 4,5 em 1975 permanecem como critérios-padrão<br />

para o diagnóstico da DMJ, consi<strong>de</strong>rando a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início<br />

até os 18 anos. No entanto, muitos reumatologistas pediatras<br />

consi<strong>de</strong>ram que não é necessário preencher os quatro dos cinco<br />

critérios para o diagnóstico <strong>de</strong> DMJ na maioria dos pacientes. 6<br />

A capilaroscopia periungueal (CPU) é um exame subsidiário<br />

que auxilia no diagnóstico e na avaliação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> doença. 7<br />

Apesar dos avanços na terapia, a DMJ permanece associada<br />

a consi<strong>de</strong>rável morbida<strong>de</strong>. Em vários estudos, uma porcentagem<br />

importante dos pacientes apresenta doença persistentemente<br />

ativa, <strong>de</strong>senvolve calcinose e sofre retardo signifi cativo<br />

no crescimento estatural. 8–12<br />

A calcinose é mais comum na população pediátrica, afetando<br />

<strong>de</strong> 10%–70% das crianças e adolescentes com DMJ,<br />

comparados a 30% dos adultos. 6,12–15 Embora na maioria dos<br />

Recebido em 21/10/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse. Comitê <strong>de</strong> Ética: 0791/10.<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo – Unifesp.<br />

1. Reumatologista; Pós-graduanda em Pediatria, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo – Unifesp<br />

2. Mestre em Pediatria, Unifesp; Pós-graduanda em Pediatria, Unifesp<br />

3. Doutora em Pediatria, Unifesp<br />

4. Professor-Adjunto Unifesp; Doutor em Pediatria, Unifesp<br />

5. Professora Associada, Unifesp; Doutora em Pediatria, Unifesp<br />

6. Professora-Adjunta, Unifesp; Chefe da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> Pediátrica, Unifesp<br />

Correspondência para: Maria Teresa R. A. Terreri. Rua Borges Lagoa, 802 – Vila Clementino. São Paulo, SP, Brasil. CEP: 04038-001.<br />

E-mail: teterreri@terra.com.br<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):545-553 549


Clemente et al.<br />

casos a calcinose se <strong>de</strong>senvolva nos primeiros três anos <strong>de</strong><br />

diagnóstico, seu aparecimento po<strong>de</strong> ocorrer em até 20 anos<br />

do início da doença. 16<br />

A presença <strong>de</strong> calcinose está associada a um retardo <strong>de</strong><br />

diagnóstico, maior tempo <strong>de</strong> doença não tratada, curso crônico,<br />

gravida<strong>de</strong> da doença e terapia ina<strong>de</strong>quada ou doença resistente<br />

ao tratamento. 9<br />

O nosso objetivo foi avaliar a frequência <strong>de</strong> calcinose em<br />

pacientes com DMJ, bem como estudar possíveis fatores <strong>de</strong><br />

risco para essa manifestação.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Pelos critérios <strong>de</strong> Bohan e Peter, 4,5 57 pacientes com diagnóstico<br />

<strong>de</strong> DMJ <strong>de</strong>fi nitivo (presença <strong>de</strong> lesões cutâneas típicas<br />

associadas a três dos <strong>de</strong>mais critérios) ou provável (presença <strong>de</strong><br />

lesões cutâneas típicas associadas a dois dos <strong>de</strong>mais critérios)<br />

foram acompanhados no setor <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> Pediátrica no<br />

período <strong>de</strong> 1992 a 2010. Desses, foram excluídos 23 pacientes<br />

que apresentavam dados incompletos para o estudo. Os<br />

pacientes com síndrome <strong>de</strong> sobreposição não foram incluídos<br />

no estudo.<br />

Realizou-se análise retrospectiva com base em revisão <strong>de</strong><br />

prontuários <strong>de</strong> 34 pacientes, com ênfase nas características<br />

<strong>de</strong>mográfi cas, clínicas, laboratoriais, tipo <strong>de</strong> tratamento (corticosteroi<strong>de</strong>s<br />

e outros imunossupressores) e a<strong>de</strong>são, tipo <strong>de</strong> evolução<br />

(monocíclico, crônico e policíclico), gravida<strong>de</strong> da doença<br />

e alteração na CPU. A a<strong>de</strong>são ao tratamento foi consi<strong>de</strong>rada<br />

boa quando havia uma concordância <strong>de</strong> 80% ou mais entre o<br />

prescrito pelo médico e o realizado pelo paciente, <strong>de</strong> acordo<br />

com a <strong>de</strong>fi nição usada pela Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. 17<br />

O tipo evolutivo foi <strong>de</strong>fi nido como monocíclico quando os<br />

pacientes tinham remissão da doença após dois anos <strong>de</strong> seu<br />

início, policíclico quando havia uma ou mais recorrências após<br />

a remissão da doença, e crônico quando havia persistência dos<br />

sintomas por mais <strong>de</strong> dois anos. 18 A gravida<strong>de</strong> da vasculite foi<br />

<strong>de</strong>fi nida pela presença <strong>de</strong> lesões vasculíticas persistentes não<br />

responsivas ao tratamento habitual, presença <strong>de</strong> ulcerações<br />

cutâneas, presença <strong>de</strong> vasculite intestinal ou necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso<br />

<strong>de</strong> imunoglobulina endovenosa, talidomida ou ciclofosfamida.<br />

Os pacientes foram separados inicialmente em dois grupos:<br />

aqueles que apresentaram calcinose e os que não apresentaram<br />

calcinose durante a evolução da doença até o término do estudo.<br />

Posteriormente, o grupo <strong>de</strong> calcinose foi avaliado separadamente:<br />

pacientes que <strong>de</strong>senvolveram calcinose nos primeiros<br />

seis meses <strong>de</strong> acompanhamento no ambulatório ou os que já<br />

tinham calcinose antes <strong>de</strong> iniciar o seguimento ambulatorial<br />

(calcinose inicial); e os pacientes que apresentaram calcinose<br />

após seis meses <strong>de</strong> acompanhamento (calcinose evolutiva).<br />

Vinte e sete pacientes realizaram CPU no início da doença e<br />

na evolução, com utilização <strong>de</strong> um microscópio óptico com<br />

aumentos <strong>de</strong> 10 e 16 vezes. Foram analisados os seguintes parâmetros<br />

na CPU: número <strong>de</strong> capilares por milímetro, presença<br />

e grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>leção capilar, presença <strong>de</strong> capilares ectasiados, em<br />

arbustos, enovelados e megacapilares. Defi niu-se como padrão<br />

esclero<strong>de</strong>rma (SD) a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>leção capilar associada à<br />

ectasia capilar e⁄ou a megacapilares. 19 As CPU foram consi<strong>de</strong>radas<br />

alteradas na presença <strong>de</strong> padrão SD ao exame.<br />

Para as variáveis qualitativas utilizou-se o teste qui-quadrado,<br />

ou teste exato <strong>de</strong> Fisher, para avaliar a associação entre<br />

elas. Para comparação dos grupos, utilizaram-se os testes t <strong>de</strong><br />

Stu<strong>de</strong>nt, Mann-Whitney e Kruskal-Wallis.<br />

RESULTADOS<br />

Foram avaliados 34 pacientes com média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início<br />

dos sintomas 6,5 ± 3,9 anos; média <strong>de</strong> tempo até o diagnóstico<br />

1,2 ± 2,0 anos; média <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> evolução da doença<br />

5,8 ± 3,6 anos e média do tempo <strong>de</strong> seguimento no ambulatório<br />

4,0 ± 2,8 anos (Tabela 1).<br />

Vinte e quatro (70,6%) dos 34 pacientes eram meninas, e<br />

22 (64,7%) eram caucasoi<strong>de</strong>s. Dezessete (50%) tiveram um<br />

curso monocíclico da doença, 11 (32,4%) um curso crônico,<br />

e seis (17,6%) um curso policíclico. Em relação à gravida<strong>de</strong><br />

da vasculite, apenas cinco (14,7%) tiveram grau grave na<br />

evolução da doença e quatro (11,7%) apresentaram úlceras<br />

cutâneas.<br />

Tabela 1<br />

Dados epi<strong>de</strong>miológicos e clínicos <strong>de</strong> pacientes com <strong>de</strong>rmatomiosite<br />

juvenil (n = 34)<br />

Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início, média em anos ± DP 6,5 ± 3,9<br />

Tempo até diagnóstico, média em anos ± DP 1,2 ± 2,0<br />

Tempo <strong>de</strong> evolução, média em anos ± DP 5,8 ± 3,6<br />

Tempo <strong>de</strong> seguimento, média em anos ± DP 4,0 ± 2,8<br />

Curso monocíclico, n (%) 17 (50)<br />

Curso crônico, n (%) 11 (32,4)<br />

Curso policíclico, n (%) 6 (17,6)<br />

Vasculite grave, n (%) 5 (14,7)<br />

CPU inicial alterada, n (%) 24 (88,9)<br />

CPU fi nal alterada, n (%) 20 (74,1)<br />

Calcinose, n (%) 16 (47,1)<br />

Calcinose inicial, n (%) 6 (17,6)<br />

Calcinose evolutiva, n (%) 10 (29,4)<br />

550 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):545-553


Vinte e sete pacientes fi zeram CPU no início da doença e na<br />

evolução, com uma média <strong>de</strong> 1,6 anos entre as duas CPU. Vinte<br />

e quatro (88,9%) tinham a CPU inicial alterada, com 91,7%<br />

<strong>de</strong>sses pacientes apresentando doença ativa no momento do<br />

exame; e 20 (74,1%) tinham alteração na CPU evolutiva, com<br />

70% <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> da doença na época do exame.<br />

Dezesseis (47,1%) pacientes apresentaram calcinose inicialmente<br />

e/ou durante o seguimento, com média <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong><br />

aparecimento <strong>de</strong> 2,5 ± 1,9 anos após o diagnóstico (seis pacientes<br />

apresentaram calcinose inicial e 10, evolutiva). Destes<br />

16 pacientes, cinco (31,3%) tinham ida<strong>de</strong> menor ou igual a 3<br />

anos, porém sem diferença estatística em relação aos pacientes<br />

mais velhos (P = 0,317).<br />

Não houve associação entre os dados <strong>de</strong>mográfi cos, clínicos,<br />

gravida<strong>de</strong> da vasculite, elevação <strong>de</strong> enzimas musculares,<br />

uso ou não <strong>de</strong> imunossupressores, a<strong>de</strong>são ou não ao tratamento,<br />

e alterações na CPU com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> calcinose<br />

(Tabela 2). Ao se avaliar separadamente pacientes com calcinose<br />

inicial, pacientes com calcinose evolutiva, e pacientes<br />

sem calcinose, também não houve diferença estatística entre as<br />

variáveis, com exceção do curso monocíclico que foi estatisticamente<br />

mais frequente no grupo sem calcinose (P = 0,036).<br />

Não foi encontrada associação entre a presença <strong>de</strong> calcinose<br />

e a alteração na CPU inicial ou evolutiva nos 27 pacientes que<br />

realizaram o exame (P = 0,681 e P = 0,432, respectivamente).<br />

Dos 16 pacientes que apresentaram calcinose, sete tiveram<br />

curso crônico da doença e nove tiveram curso monocíclico<br />

ou policíclico. Não houve associação entre o curso crônico<br />

e frequência, tempo e ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparecimento da calcinose<br />

Frequência elevada <strong>de</strong> calcinose em <strong>de</strong>rmatomiosite juvenil: estudo <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco<br />

Tabela 2<br />

Relação entre as variáveis estudadas e a presença ou ausência <strong>de</strong> calcinose em pacientes com <strong>de</strong>rmatomiosite juvenil (n = 34)<br />

Presença <strong>de</strong> calcinose (n = 16) Ausência <strong>de</strong> calcinose (n = 18) P<br />

Sexo feminino, n (%) 10 (62,5) 14 (77,8) 0,329<br />

Caucasoi<strong>de</strong>, n (%) 11 (68,7) 11 (61,1) 0,642<br />

Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início, média em anos (DP) 6,3 (3,8) 6,7 (4,1) 0,911<br />

Tempo <strong>de</strong> diagnóstico, média em anos (DP) 1,9 (2,7) 0,6 (0,9) 0,990<br />

Tempo evolução, média em anos (DP) 6,5 (3,5) 5,3 (3,7) 0,870<br />

Tempo <strong>de</strong> seguimento, média em anos (DP) 2,8 (2,4) 5,0 (2,9) 0,553<br />

Curso da doença (mono-M, poli-P, crônica-C) 6M, 3P, 7C 11M, 3P, 4C 0,336<br />

Vasculite grave, n (%) 3 (18,8) 2 (11,1) 0,530<br />

Uso <strong>de</strong> imunossupressores, n (%) 15 (93,7) 13 (72,2) 0,100<br />

A<strong>de</strong>são ao tratamento, n (%) 9 (56,2) 13 (72,2) 0,331<br />

Tempo <strong>de</strong> aparecimento da calcinose, média em anos (DP) 2,6 (1,7) —<br />

Total 16 18<br />

durante a evolução da doença (P = 0,336; 0,144 e 0,374, respectivamente)<br />

(Tabela 3).<br />

Tabela 3<br />

Associação do tipo <strong>de</strong> evolução da <strong>de</strong>rmatomiosite juvenil<br />

com frequência, tempo e ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparecimento da calcinose<br />

Frequência <strong>de</strong><br />

calcinose, n (%)<br />

Tempo <strong>de</strong> aparecimento<br />

da calcinose, média<br />

em anos (DP)<br />

Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparecimento<br />

da calcinose, média<br />

em anos (DP)<br />

DISCUSSÃO<br />

Monocíclico Policíclico Crônico P<br />

6 (37,5) 3 (18,7) 7 (43,7) 0,336<br />

2,8 (1,8) 3,1 (1,9) 2,6 (1,7) 0,144<br />

9,2 (4,8) 8,0 (4,6) 8,9 (4,4) 0,374<br />

Nosso estudo mostrou uma frequência elevada <strong>de</strong> calcinose<br />

em pacientes com <strong>de</strong>rmatomiosite, embora os fatores <strong>de</strong><br />

risco para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa complicação tardia não<br />

tenham sido encontrados. A média do intervalo <strong>de</strong> tempo entre<br />

o início dos sintomas e o diagnóstico foi signifi cativamente<br />

maior em nossa casuística que a média encontrada na maioria<br />

dos trabalhos, 8,15,20–22 o que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vido ao atraso do<br />

encaminhamento ao especialista na nossa população, como já<br />

<strong>de</strong>scrito por nós. 23<br />

Meta<strong>de</strong> dos pacientes apresentou um curso monocíclico da<br />

doença. Já no trabalho <strong>de</strong> Huber et al., 8 37% apresentaram um<br />

curso monocíclico e 63% apresentaram um curso policíclico ou<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):545-553 551


Clemente et al.<br />

crônico. Entretanto, esses autores consi<strong>de</strong>raram o curso monocíclico<br />

quando o paciente estava sem ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doença e sem<br />

medicação até 24 meses após o diagnóstico, diferentemente<br />

da <strong>de</strong>fi nição utilizada por nós, já que não consi<strong>de</strong>ramos o uso<br />

ou não <strong>de</strong> medicações. 18 Achamos que existe a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sses pacientes terem iniciado a doença antes da<br />

percepção dos pais, e portanto, não serem verda<strong>de</strong>iramente<br />

monocíclicos.<br />

Em nossa casuística foram observadas úlceras cutâneas em<br />

11,7% dos pacientes durante a evolução da doença, semelhante<br />

à frequência encontrada no estudo <strong>de</strong> Sallum et al., 12 porém<br />

inferior à percentagem encontrada em outros estudos. 6,21 A<br />

presença <strong>de</strong> úlceras cutâneas refl ete uma gravida<strong>de</strong> maior da<br />

doença.<br />

A CPU é uma importante ferramenta tanto para o auxílio<br />

no diagnóstico quanto para o seguimento <strong>de</strong> pacientes com<br />

DMJ. Estudos revelam alteração da CPU em pacientes com DMJ,<br />

evi<strong>de</strong>nciando o padrão SD em 60% dos casos. 24 Observamos<br />

uma concordância entre a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doença e a alteração<br />

na CPU, tanto inicial, quanto evolutiva nos nossos pacientes.<br />

Outros estudos também correlacionam as alterações capilaroscópicas<br />

com a ativida<strong>de</strong> da doença. 7<br />

Quase meta<strong>de</strong> dos pacientes apresentou calcinose durante a<br />

evolução da doença, número maior que o encontrado na maioria<br />

dos estudos <strong>de</strong> DMJ. 6,8,11,15,21,22,25–27 Uma possível explicação<br />

para a elevada incidência <strong>de</strong> calcinose na nossa população é<br />

o atraso no diagnóstico e, consequentemente, maior duração<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> da doença. O tempo <strong>de</strong> evolução da doença nos<br />

pacientes do grupo “sem calcinose” foi sufi cientemente gran<strong>de</strong><br />

para ter ocorrido seu aparecimento, o que nos permite caracterizar<br />

esses pacientes como não candidatos ao aparecimento<br />

<strong>de</strong>ssa complicação. Sabe-se que a calcinose é consequência<br />

da ativida<strong>de</strong> persistente da doença, má a<strong>de</strong>são ou refratarieda<strong>de</strong><br />

à terapia. 3,9,22,28 É importante salientar que a calcinose se<br />

manifestou em 10 pacientes na evolução da doença mesmo<br />

após seis meses <strong>de</strong> início da terapia e em pacientes com boa<br />

a<strong>de</strong>são ao tratamento, não se observando uma associação entre<br />

a não a<strong>de</strong>são e o aparecimento <strong>de</strong>ssa complicação. A literatura<br />

não <strong>de</strong>screve uma ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior frequência <strong>de</strong> calcinose e<br />

nós também não achamos tal associação.<br />

Apesar da elevada frequência <strong>de</strong> calcinose, não evi<strong>de</strong>nciamos<br />

fatores <strong>de</strong> risco para essa complicação. Enquanto<br />

alguns estudos 6,8 não acharam associação da calcinose com<br />

o tempo até o diagnóstico, outros 11,22 encontraram maior<br />

frequência <strong>de</strong> calcinose nos pacientes com maior tempo<br />

até o diagnóstico e, consequentemente, maior tempo para<br />

o início do tratamento. Em outro estudo foi observado que<br />

o tratamento precoce e com altas doses <strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong> foi<br />

preditivo para o não <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> calcinose. 9 Estudos<br />

avaliaram a relação do curso da doença com a presença <strong>de</strong><br />

calcinose, porém não encontraram associação. 6,8 Observamos<br />

que 11 dos 17 pacientes com curso monocíclico da doença<br />

não <strong>de</strong>senvolveram calcinose, sugerindo que a evolução <strong>de</strong><br />

melhor prognóstico possa estar associada à menor frequência<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa complicação. Em contraste, a<br />

doença infl amatória crônica po<strong>de</strong>ria ter predisposto ao seu<br />

aparecimento. Entretanto, em nosso estudo não observamos<br />

maior frequência <strong>de</strong> calcinose em nenhum curso <strong>de</strong> evolução<br />

da doença. O uso <strong>de</strong> mais um imunossupressor foi associado<br />

com o aparecimento da calcinose no estudo <strong>de</strong> Sallum et al., 26<br />

<strong>de</strong>monstrando que essa complicação está associada aos casos<br />

mais graves da doença.<br />

Nosso estudo foi importante, pois mostramos uma frequência<br />

<strong>de</strong> calcinose em cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos pacientes com<br />

DMJ. Apesar disso, não conseguimos <strong>de</strong>monstrar a presença<br />

<strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa complicação.<br />

Um fator limitante foi o tamanho da nossa amostra. Estudos<br />

evolutivos e eventualmente multicêntricos po<strong>de</strong>rão respon<strong>de</strong>r<br />

a essa questão. De acordo com o nosso conhecimento, não<br />

existem trabalhos na literatura que tenham tentado associar a<br />

presença <strong>de</strong> calcinose e alterações na CPU.<br />

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Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):545-553 553


ARTIGO ORIGINAL<br />

Avaliação da função endotelial em pacientes<br />

com esclerose sistêmica limitada por meio<br />

do eco Doppler da artéria braquial<br />

Tatiana Melo Fernan<strong>de</strong>s 1 , Blanca Elena Gomes Bica 2 , Nivaldo Ribeiro Villela 3 , Elizabeth Figueiredo Salles 4 ,<br />

Mario Newton Leitão <strong>de</strong> Azevedo 5 , José Angelo <strong>de</strong> Souza Papi 6 , Rosângela Aparecida Gomes Martins 7<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Objetivo: O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi comparar a resposta dilatadora <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do endotélio em pacientes<br />

portadores <strong>de</strong> esclerose sistêmica limitada (ESL) com aquela <strong>de</strong> indivíduos sadios <strong>de</strong> mesmo gênero, ida<strong>de</strong> e cor. Métodos:<br />

Vinte mulheres adultas, não obesas, não tabagistas, não diabéticas, não dislipidêmicas, não hipertensas, que preencheram<br />

os critérios para esclerose sistêmica (ES) segundo o American College of Rheumatology, foram submetidas ao exame <strong>de</strong><br />

Doppler <strong>de</strong> artéria braquial do membro superior direito. Foi analisada a resposta dilatadora, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do endotélio, após<br />

isquemia induzida com esfi gmomanômetro por cinco minutos no braço direito, e a resposta dilatadora, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />

endotélio, após administração <strong>de</strong> 300 mcg <strong>de</strong> nitroglicerina (NTG) sublingual. Esses resultados foram comparados com a<br />

resposta obtida em indivíduos sadios. Resultados: O diâmetro longitudinal da artéria braquial (DAB) foi signifi cativamente<br />

menor na fase basal 1 nos pacientes com ESL (3,57 ± 0,<strong>52</strong> mm e 3,93 ± 0,39 mm, respectivamente no grupo paciente (P) e<br />

grupo-controle (C), P = 0,005). Não foi encontrada diferença estatisticamente signifi cativa entre a velocida<strong>de</strong> das hemácias<br />

(VH) após isquemia/hiperemia reativa (HR) e após NTG (110,2 ± 43,86 cm/s vs. 102,0 ± 25,89 cm/s e 63,80 ± 17,69 cm/s vs.<br />

65,4 ± 12,90 cm/s nos grupos P e C, após HR e NTG, respectivamente). Também não foi encontrada diferença signifi cativa<br />

entre o DAB após HR e após NTG (3,77 ± 0,59 mm vs. 4,14 ± 0,49 mm e 4,44 ± 0,64 mm vs. 4,70 ± 0,58 mm nos grupos<br />

P e C, após HR e NTG, respectivamente). Conclusão: Embora o grupo <strong>de</strong> pacientes com ESL tenha apresentado menor<br />

DAB basal, a resposta dilatadora <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do endotélio se manteve preservada em ambos os grupos.<br />

Palavras-chave: esclero<strong>de</strong>rmia limitada, endotélio vascular, artéria braquial, ultrassonografi a, efeito Doppler.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A esclerose sistêmica (ES) é uma doença crônica do tecido<br />

conjuntivo caracterizada por espessamento e fi brose da pele e<br />

dos órgãos internos por <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> colágeno, glicosaminoglicanos<br />

e outras proteínas da matriz extracelular, além <strong>de</strong> dano<br />

vascular por endarterite proliferativa. O fator <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante<br />

da injúria endotelial não é conhecido. No entanto, estima-se<br />

que a injúria causada pelo processo <strong>de</strong> isquemia/reperfusão,<br />

a presença <strong>de</strong> autoanticorpos citotóxicos no sangue, agentes<br />

infecciosos e fatores ambientais possam <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar a lesão<br />

inicial nos indivíduos geneticamente predispostos.<br />

A lesão endotelial por espécies reativas <strong>de</strong> oxigênio é responsável<br />

pela diminuição da síntese <strong>de</strong> prostaciclinas, óxido<br />

nítrico (NO), fator <strong>de</strong> ativação <strong>de</strong> plasminogênio tecidual e<br />

heparan sulfato, e pelo aumento da síntese <strong>de</strong> endotelina-1,<br />

Recebido em 21/10/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse. Comitê <strong>de</strong> Ética: 1120/09.<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro – UFRJ.<br />

1. Mestre em <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro – UFRJ<br />

2. Doutor; Professor-Adjunto, UFRJ; Chefe do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, UFRJ<br />

3. Doutor; Médico do Serviço <strong>de</strong> Anestesiologia, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, UFRJ<br />

4. Professor-Adjunto do Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Vascular, UFRJ<br />

5. Doutor; Professor-Adjunto do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, UFRJ<br />

6. Professor Emérito do Serviço <strong>de</strong> Clínica Médica, UFRJ<br />

7. Mestre em Estatística, UFRJ; Professora da Divisão <strong>de</strong> Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, UFRJ<br />

Correspondência para: Tatiana Melo Fernan<strong>de</strong>s. Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>. Rua Prof. Rodolpho Paulo Rocco, s/n – 9º andar – Ilha do Fundão, Ilha do Governador.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, Brasil. CEP 21941-590. E-mail: tatoes@superig.com.br<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):554-568 561


Fernan<strong>de</strong>s et al.<br />

levando a um <strong>de</strong>sequilíbrio na relação vasodilação/vasoconstrição<br />

em favor da constrição, com dano permanente na<br />

pare<strong>de</strong> dos vasos sanguíneos. Esse <strong>de</strong>sequilíbrio contribui para<br />

hipóxia vascular e injúria endotelial, resultando na liberação<br />

<strong>de</strong> citocinas por macrófagos, plaquetas, mastócitos e células<br />

T ativadas. Dessa forma, é mantido um círculo vicioso <strong>de</strong><br />

injúria endotelial, associada à fi brose mediante a estimulação<br />

<strong>de</strong> fi broblastos, que são células responsáveis pela síntese <strong>de</strong><br />

matriz celular e colágeno. 1<br />

Apesar <strong>de</strong> a isquemia estimular a neoangiogênese e <strong>de</strong> os<br />

níveis <strong>de</strong> fatores angiogênicos, como o fator <strong>de</strong> crescimento<br />

vascular endotelial (VEGF), estarem aumentados, a pele dos<br />

portadores <strong>de</strong> ES apresenta gran<strong>de</strong>s áreas avasculares. Acreditase<br />

que ocorra uma <strong>de</strong>sregulação no processo <strong>de</strong> angiogênese na<br />

ES. 2 A presença <strong>de</strong> autoanticorpos direcionados contra células<br />

endoteliais na ES é capaz <strong>de</strong> induzir a apoptose <strong>de</strong>ssas células. Foi<br />

<strong>de</strong>monstrado, ainda, que nesses pacientes as células precursoras<br />

endoteliais estão reduzidas em número e apresentam menor<br />

potencial <strong>de</strong> diferenciação. 3 Também já foi comprovado que na<br />

ES o controle neural simpático do tônus vascular está alterado, 4<br />

assim como alguns aspectos intrínsecos à microcirculação. Há<br />

aumento da agregação e da ativação plaquetária associado à<br />

diminuição da <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> das hemácias e <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

fi brina na pare<strong>de</strong> vascular, 5 culminando em um risco elevado<br />

<strong>de</strong> formação <strong>de</strong> trombos na microcirculação com maior expressão<br />

<strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, que agregam neutrófi los e plaquetas<br />

na pare<strong>de</strong> vascular e diminuem a luz do vaso. 6<br />

A liberação normal <strong>de</strong> NO pelo endotélio ocorre continuamente<br />

e aumenta quando os receptores <strong>de</strong> membrana das células<br />

endoteliais são ativados por estímulos solúveis (acetilcolina,<br />

bradicinina, a<strong>de</strong>nosina fosfato, substância P e serotonina) ou<br />

quando os canais <strong>de</strong> cálcio são abertos por um aumento no<br />

“estresse <strong>de</strong> cisalhamento” gerado pelo fl uxo sanguíneo turbilhonado.<br />

7 O alvo do NO na pare<strong>de</strong> vascular é a enzima guanilato<br />

ciclase, encontrada nas células musculares lisas, cuja ativação<br />

gera acúmulo <strong>de</strong> guanosina monofosfato cíclico (GMP cíclico),<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando relaxamento da musculatura lisa e vasodilatação,<br />

com consequente aumento do fl uxo sanguíneo local. 8<br />

As alterações estruturais na pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> arteríolas (vasos <strong>de</strong><br />

resistência) são bem conhecidas na ES. Esses achados consistem<br />

em um espessamento/proliferação/e<strong>de</strong>ma da camada<br />

íntima com infi ltração <strong>de</strong> células mononucleares, hipertrofi a<br />

da camada média e íntima, ruptura da lâmina elástica interna<br />

e presença <strong>de</strong> cicatrizes fi bróticas na pare<strong>de</strong> dos vasos. 9,10<br />

Pouco se conhece sobre as alterações estruturais encontradas<br />

na pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> vasos <strong>de</strong> maior calibre, vasos elásticos, como as<br />

artérias braquial, ulnar e radial (vasos <strong>de</strong> condutância), que<br />

são realmente acessíveis para medida por meio <strong>de</strong> técnicas não<br />

invasivas como o eco Doppler. Existem evidências crescentes<br />

<strong>de</strong> que a macrovasculatura também esteja envolvida no processo<br />

<strong>de</strong> doença da ES, o que se especula estar relacionado à<br />

presença <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong>s estruturais, como o espessamento<br />

e a rigi<strong>de</strong>z na pare<strong>de</strong> vascular. 11 Apesar <strong>de</strong> o envolvimento<br />

vascular ser consi<strong>de</strong>rado predominantemente microvascular<br />

na ES, a doença macrovascular po<strong>de</strong> afetar mais da meta<strong>de</strong><br />

dos pacientes, 12 e é comum o achado <strong>de</strong> oclusão arterial, particularmente<br />

nas artérias das mãos em doentes com a forma<br />

limitada (ESL) e na presença do anticorpo anticentrômero. 13<br />

A avaliação ultrassonográfi ca da resposta vasodilatadora<br />

na artéria braquial (AB) é uma técnica não invasiva, <strong>de</strong>scrita<br />

por Celermajer em 1992, 14 utilizada como ín<strong>de</strong>x para avaliação<br />

da função macrovascular por meio da mensuração do diâmetro da<br />

AB (DAB) antes e após o estímulo isquêmico. A isquemia<br />

provocada no antebraço causa uma queda marcante na resistência<br />

vascular periférica seguida por um aumento na força<br />

<strong>de</strong> cisalhamento sanguínea exercida nas pare<strong>de</strong>s arteriais após<br />

sua liberação. O aumento do estresse <strong>de</strong> cisalhamento estimula<br />

a produção e a liberação <strong>de</strong> substâncias vasodilatadoras pelo<br />

endotélio, em especial o NO. O aumento observado no DAB é<br />

uma medida indireta da liberação <strong>de</strong> NO e, consequentemente,<br />

da vasodilatação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do endotélio. 15<br />

Uma pequena percentagem <strong>de</strong> aumento no fl uxo mediado<br />

pela vasodilatação endotélio-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> ser interpretada<br />

como baixa disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> NO, e está associada com risco<br />

aumentado <strong>de</strong> doença vascular. 16 A <strong>de</strong>fi ciência na dilatação<br />

endotélio-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte na ES po<strong>de</strong> ser explicada pela ausência <strong>de</strong><br />

produção e <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> substâncias vasodilatadoras pelo endotélio<br />

cronicamente lesado, em especial o NO, enquanto se observa<br />

uma resposta vasodilatadora normal a fatores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />

endotélio (nitroglicerina exógena). Entretanto, a disfunção endotelial<br />

macrovascular na ES vem sendo objeto <strong>de</strong> vários estudos,<br />

em que alguns autores observaram redução da dilatação mediada<br />

pelo fl uxo (FMD) na AB, 17–20 enquanto outros não. 9,21,22<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi comparar a resposta dilatadora<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do endotélio após isquemia induzida em membro<br />

superior direito por 5 min com esfi gmomanômetro (FMD) e<br />

a resposta dilatadora in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do endotélio após a administração<br />

<strong>de</strong> nitroglicerina sublingual (dilatação mediada<br />

pela nitroglicerina – NMD), em pacientes portadores <strong>de</strong> ESL<br />

e indivíduos sadios <strong>de</strong> mesmo gênero, ida<strong>de</strong> e cor.<br />

PACIENTES E MÉTODOS<br />

Participantes do estudo<br />

Vinte indivíduos do gênero feminino com ida<strong>de</strong> entre 25–60<br />

anos que preencheram os critérios do American College of<br />

562 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):554-568


Avaliação da função endotelial em pacientes com esclerose sistêmica limitada por meio do eco Doppler da artéria braquial<br />

Rheumatology (1980) 23 para o diagnóstico <strong>de</strong> ES, com tempo <strong>de</strong><br />

doença superior a 6 meses e relato da presença <strong>de</strong> fenômeno<br />

<strong>de</strong> Raynaud bifásico (FRy) em extremida<strong>de</strong>s, foram incluídos<br />

no estudo, após assinarem o termo <strong>de</strong> consentimento livre e<br />

esclarecido (TCLE) e serem certifi cados <strong>de</strong> que sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

seria mantida em sigilo. Todas as pacientes apresentavam a<br />

forma limitada da doença, caracterizada por fi brose cutânea<br />

restrita a face, pescoço e extremida<strong>de</strong>s.<br />

O estudo foi aberto, observacional, não randomizado,<br />

prospectivo, realizado no Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Hospital<br />

Clementino Fraga Filho da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro (HUCFF-UFRJ). O projeto <strong>de</strong>ste estudo foi submetido<br />

ao Comitê <strong>de</strong> Ética em Pesquisa do HUCFF-UFRJ e aprovado<br />

com o número <strong>de</strong> memorando 1120/09 em 28/12/2009.<br />

Os critérios <strong>de</strong> exclusão foram: presença <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong><br />

superposição com outras colagenoses, miopatias ou artropatias<br />

infl amatórias, síndrome da imuno<strong>de</strong>fi ciência adquirida, síndrome<br />

do anticorpo antifosfolípi<strong>de</strong>, gestantes e lactantes, portadores <strong>de</strong><br />

neoplasias malignas, insufi ciência cardíaca, hipertensão mo<strong>de</strong>rada<br />

a grave <strong>de</strong> artéria pulmonar, tabagistas, hipertensas e diabéticas.<br />

Foram selecionados 20 indivíduos saudáveis para compor o<br />

grupo-controle (C), do gênero feminino, cor branca, que não faziam<br />

uso <strong>de</strong> qualquer medicamento que pu<strong>de</strong>sse alterar a resposta endotelial,<br />

e com faixa etária semelhante ao grupo <strong>de</strong> pacientes estudados.<br />

As voluntárias foram incluídas no estudo após assinar o TCLE.<br />

Avaliação da função endotelial<br />

A função endotelial foi avaliada pela medida da FMD e NMD<br />

na AB por meio do eco Doppler em cores. O eco Doppler<br />

constitui método não invasivo, <strong>de</strong> alta resolução, que permite<br />

avaliação <strong>de</strong>talhada da circulação troncular combinando três<br />

componentes: o modo-B, o Doppler pulsado e o modo color. 24<br />

O exame foi realizado com o indivíduo em <strong>de</strong>cúbito dorsal em<br />

sala com temperatura controlada (22°C).<br />

Um esfi gmomanômetro foi posicionado no braço direito,<br />

cerca <strong>de</strong> 5 cm acima da fossa antecubital. As imagens da AB<br />

direita foram obtidas em corte longitudinal, no modo B do<br />

aparelho <strong>de</strong> ultrassom Antares da Siemens utilizando transdutor<br />

linear VFX9-4 com frequência <strong>de</strong> 10 Mhz, posicionado cerca<br />

<strong>de</strong> 2–3 cm acima da fossa antecubital. As medidas do DAB<br />

foram realizadas na diástole do ciclo cardíaco. Os fl uxos foram<br />

obtidos por análise espectral das curvas <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> com volume<br />

– amostra <strong>de</strong> 1,5 mm e ângulo menor que 60º posicionado<br />

no centro do vaso. A velocida<strong>de</strong> das hemácias (VH) foi obtida<br />

por ecografi a tipo Doppler, com janela <strong>de</strong> 1,5 mm e ângulo<br />

menor que 60º posicionado no centro do vaso.<br />

O exame foi iniciado após um período <strong>de</strong> repouso <strong>de</strong> 10 min.<br />

Foram realizadas medidas do DAB e da VH na AB na fase basal 1.<br />

Em seguida, o esfi gmomanômetro posicionado no antebraço direito<br />

foi insufl ado a uma pressão 50% acima da pressão sistólica<br />

inicial e a isquemia foi mantida por 5 min. Novas medidas do<br />

diâmetro e da VH da AB (fase pós-isquemia/hiperemia reativa)<br />

foram realizadas 60 segundos após a liberação da isquemia.<br />

Após novo período <strong>de</strong> repouso <strong>de</strong> 10 min (basal 2) os indivíduos<br />

receberam uma dose <strong>de</strong> 300 mcg <strong>de</strong> NTG sublingual, e as medidas<br />

do DAB e da VH foram obtidas após 3 min (após NTG).<br />

Foi calculada a média <strong>de</strong> três medidas obtidas <strong>de</strong> diâmetro e da<br />

VH na AB em cada uma das quatro fases do exame (Figura 1).<br />

Análise estatística<br />

Para comparação <strong>de</strong> variáveis basais (numéricas) entre o<br />

grupo <strong>de</strong> pacientes (P) e o grupo C foi aplicado o teste t <strong>de</strong><br />

Stu<strong>de</strong>nt para amostras in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ou o <strong>de</strong> Mann-Whitney<br />

(não paramétrico). A homogeneida<strong>de</strong> das variâncias entre<br />

os grupos foi analisada pelo teste <strong>de</strong> Bartlett. A análise <strong>de</strong><br />

variância (ANOVA) para medidas repetidas foi usada para<br />

avaliar o comportamento ao longo <strong>de</strong> três fases (basal, hiperemia<br />

reativa e após NTG) no interior <strong>de</strong> cada grupo; e o teste<br />

<strong>de</strong> comparações múltiplas <strong>de</strong> Bonferroni (ajustado para três<br />

fases) foi aplicado para i<strong>de</strong>ntifi car quais as fases que diferiam<br />

signifi cativamente entre si. Para verifi car se a evolução ao<br />

longo do experimento foi diferenciada signifi cativamente<br />

Figura 1<br />

Velocida<strong>de</strong> das hemácias ao longo do experimento.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):554-568 563<br />

Velocida<strong>de</strong> das hemácias (cm/s)<br />

média ± DP<br />

150<br />

130<br />

110<br />

90<br />

70<br />

50<br />

30<br />

Basal 1 Isquemia Basal 2 NTG<br />

Grupo-controle Grupo <strong>de</strong> pacientes


Fernan<strong>de</strong>s et al.<br />

entre os grupos, foi usada a ANOVA para medidas repetidas<br />

com um fator (efeito da interação grupo x tempo). Na ANOVA<br />

para medidas repetidas foi aplicada a transformação logarítmica<br />

(log natural) nos dados. Foram utilizados métodos não<br />

paramétricos, pois variáveis não apresentaram distribuição<br />

normal (Gaussiana) <strong>de</strong>vido à dispersão dos dados e à rejeição<br />

do teste <strong>de</strong> Kolmogorov-Smirnov nos grupos estudados. O<br />

critério <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> signifi cância adotado foi o nível<br />

<strong>de</strong> 5%. A análise estatística foi processada pelo programa<br />

SAS 6.11 (SAS Institute, Inc., Cary, NC). Os dados estão<br />

apresentados como média ± DP.<br />

RESULTADOS<br />

Foram estudados 40 indivíduos, dos quais 20 compunham o<br />

grupo P e 20 indivíduos sadios constituíram o grupo C. Entre<br />

os indivíduos portadores <strong>de</strong> ESL, sete (35%) apresentaram<br />

tempo <strong>de</strong> evolução > 10 anos <strong>de</strong> doença e 13 (65%) tinham<br />

tempo <strong>de</strong> evolução da doença < 10 anos. Sete pacientes (35%)<br />

faziam uso <strong>de</strong> prednisona oral em doses baixas, < 10 mg/dia.<br />

Quatorze pacientes (70%) faziam uso regular diário <strong>de</strong> vasodilatadores<br />

antagonistas <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> cálcio (ACC), modifi cadores<br />

reológicos das hemácias, inibidores <strong>de</strong> fosfodiesterases<br />

1 e 5). Não houve diferença signifi cativa entre os grupos em<br />

relação à ida<strong>de</strong> (38,6 ± 9,2 e 43,4 ± 9,6 anos nos grupos C e P,<br />

respectivamente, P = 0,11), peso (62,1 ± 5,4 e 58,7 ± 9,3 kg nos<br />

grupos C e P, respectivamente, P = 0,32), pressão arterial sistólica<br />

(PAS) (110,8 ± 16,9 e 116,5 ± 15,7 mmHg nos grupos C e<br />

P, respectivamente, P = 0,27), pressão arterial diastólica (PAD)<br />

(71,5 ± 12,8 e 75,0 ± 10,6 nos grupos C e P, respectivamente,<br />

P = 0,35) e frequência cardíaca (73,2 ± 11,3 e 76,6 ± 11,9 nos<br />

grupos C e P, respectivamente, P = 0,36).<br />

Os dados relativos às variantes basais <strong>de</strong> peso, ida<strong>de</strong>, PAS e<br />

PAD nos grupos P e C estão apresentados na Tabela 1. Os dados<br />

relativos aos valores do DAB nas fases basal 1, pós-isquemia,<br />

basal 2 e pós-NTG em ambos os grupos estão apresentados na<br />

Tabela 2. Os dados relativos aos valores da VH nas fases basal<br />

1, pós-isquemia, basal 2 e pós-NTG em ambos os grupos estão<br />

apresentados na Tabela 3.<br />

Medidas basais<br />

O DAB foi signifi cativamente menor no grupo P (P = 0,005), e<br />

não houve diferença signifi cativa em relação à VH em ambos<br />

os grupos analisados (P = 0,90).<br />

Dilatação mediada pelo fl uxo (FMD)<br />

Tabela 1<br />

Dados relativos às variantes basais <strong>de</strong> peso, ida<strong>de</strong>, PAS e PAD nos grupos paciente e controle<br />

Não houve diferença estatisticamente signifi cativa em ambos<br />

os grupos analisados quanto ao DAB (P = 0,07) e à VH<br />

(P = 0,38).<br />

Variável basal Grupo Média DP Mediana Mínimo Máximo P a<br />

Ida<strong>de</strong> (anos)<br />

PAS (mmHg)<br />

PAD (mmHg)<br />

FC (bat/min)<br />

Diâmetro – basal 1<br />

VH – basal 1<br />

P 43,4 9,6 44 28 60<br />

C 38,6 9,2 39,5 27 54<br />

P 116,5 15,7 115 95 160<br />

C 110,8 16,9 110 85 150<br />

P 75,0 10,6 77,5 60 100<br />

C 71,5 12,8 70 55 100<br />

P 76,6 11,9 72,5 60 104<br />

C 73,2 11,3 71 58 99<br />

P 3,57 0,<strong>52</strong> 3,45 2,93 5,07<br />

C 3,93 0,39 3,92 3,17 4,73<br />

P 65,3 19,0 59,3 38,1 113<br />

C 64,6 16,1 63,8 35,7 99,2<br />

C: controle; P: paciente; DP: <strong>de</strong>svio padrão; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica, FC: frequência cardíaca; VH: velocida<strong>de</strong> das hemácias.<br />

a teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt para amostras in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ou <strong>de</strong> Mann-Whitney.<br />

564 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):554-568<br />

0,11<br />

0,27<br />

0,35<br />

0,36<br />

0,005<br />

0,97


Avaliação da função endotelial em pacientes com esclerose sistêmica limitada por meio do eco Doppler da artéria braquial<br />

Tabela 2<br />

Dados relativos aos valores do diâmetro da artéria braquial nas fases basal 1, pós-isquemia, basal 2 e pós-NTG em ambos os grupos<br />

Pacientes<br />

Controles<br />

Momento Média ± DP Mediana P a Diferenças signifi cativas b P c<br />

Basal 1 3,57 ± 0,<strong>52</strong> 3,45<br />

Isquemia 3,77 ± 0,59 3,74 Basal 1 ≠ NTG<br />

0,0001<br />

Basal 2 3,66 ± 0,62 3,58 Isquemia ≠ NTG<br />

Dilatação mediada pela nitroglicerina (NMD)<br />

Não houve diferença estatisticamente signifi cativa entre ambos<br />

os grupos analisados em relação ao DAB (P = 0,24) e à VH<br />

(P = 0,97).<br />

Resposta dilatadora da AB após isquemia induzida<br />

Não houve diferença estatisticamente significativa na<br />

resposta vasodilatadora da AB após isquemia induzida<br />

(endotélio-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte) entre o grupo C (8,9%) e o grupo<br />

P (8,6%).<br />

Basal 1 ≠ isquemia<br />

NTG 4,44 ± 0,64 4,33 Basal 2 ≠ NTG<br />

Basal 1 3,93 ± 0,39 3,92<br />

Basal 1 ≠ isquemia<br />

Isquemia 4,14 ± 0,49 4,12 Basal 1 ≠ NTG<br />

0,0001<br />

Basal 2 3,98 ± 0,56 3,90 Isquemia ≠ basal 2, NTG<br />

NTG 4,70 ± 0,58 4,69 Basal 2 ≠ NTG<br />

DP: <strong>de</strong>svio padrão.<br />

a b c ANOVA para medidas repetidas no interior <strong>de</strong> cada grupo (efeito do tempo). Comparações múltiplas <strong>de</strong> Bonferroni, ao nível <strong>de</strong> 5%. ANOVA para medidas repetidas entre os dois grupos (efeito da interação<br />

grupo*tempo).<br />

Tabela 3<br />

Dados relativos aos valores da VH nas fases basal 1, pós-isquemia (hiperemia reativa), basal 2 e pós-NTG em ambos os grupos<br />

Pacientes<br />

Controles<br />

Momento Média±DP Mediana P a Diferenças signifi cativas b P c<br />

Basal 1 65,3 ± 18,96 59,3<br />

Basal 1 ≠ isquemia<br />

Isquemia 110,2 ± 43,86 103,1 Isquemia ≠ basal 2<br />

0,0001<br />

Basal 2 63,3 ± 17,78 61,0 Isquemia ≠ NTG<br />

NTG 63,8 ± 17,69 62,9<br />

Basal 1 64,6 ± 16,10 63,8<br />

Isquemia 102,0 ± 25,89 97,5 Isquemia ≠ basal 2<br />

0,0001<br />

Basal 2 63,6 ± 14,57 59,8 Isquemia ≠ NTG<br />

NTG 65,4 ± 12,90 63,9<br />

Basal 1 ≠ isquemia<br />

DP: <strong>de</strong>svio padrão. a ANOVA para medidas repetidas no interior <strong>de</strong> cada grupo (efeito do tempo). b Comparações múltiplas <strong>de</strong> Bonferoni, 5%. c ANOVA para medidas repetidas entre os dois grupos (efeito da<br />

interação: grupo*tempo).<br />

DISCUSSÃO<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):554-568 565<br />

0,31<br />

0,31<br />

0,77<br />

0,77<br />

A análise da disfunção endotelial, por meio da mensuração da<br />

FMD, uma dilatação endotélio-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, em combinação<br />

com a NMD, dilatação endotélio-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, mostra resultados<br />

controversos na ES. Lekakis et al. 17 e Cypiene et al. 19<br />

estudaram pacientes com a forma difusa da ES e encontraram<br />

redução em ambos FMD e NMD quando comparados com<br />

controles sadios. Rossi et al. 20 também encontraram redução<br />

signifi cativa em ambos FMD e NMD ao estudar pacientes<br />

com ES em ambas as formas, difusa e limitada, e comparar


Fernan<strong>de</strong>s et al.<br />

com controles sadios. Szucs et al. 18 mostraram redução na<br />

FMD sem alteração na NMD nos indivíduos esclerodérmicos<br />

estudados em ambas as formas quando comparados com<br />

mulheres sadias. An<strong>de</strong>rsen et al. 9 não encontraram alterações<br />

em ambos FMD e NMD ao comparar indivíduos portadores<br />

ES difusa e limitada com indivíduos sadios. Rajagopalan et<br />

al. 21 comprovaram, ao comparar indivíduos com FRy primário<br />

e secundário à ES e outras doenças do tecido conjuntivo, a<br />

presença <strong>de</strong> alteração na microcirculação <strong>de</strong>monstrada pela<br />

análise do laser Doppler e fl uxometria após breve oclusão<br />

arterial digital, porém não houve diferença no FMD em ambos<br />

os grupos analisados. Roustit et al. 22 compararam indivíduos<br />

saudáveis, portadores <strong>de</strong> FRy primário e <strong>de</strong> ES e não encontraram<br />

alteração signifi cativa no FMD entre os três grupos.<br />

D’Andrea et al. 25 encontraram discreta diminuição no FMD<br />

em pacientes com ES ao comparar com indivíduos saudáveis.<br />

Bartoli et al. 26 também encontraram menor FMD ao comparar<br />

indivíduos portadores <strong>de</strong> ES com um grupo-controle.<br />

Assim como An<strong>de</strong>rsen et al., 9 Rajagopalan et al. 21 e Roustit<br />

et al., 22 nosso estudo não encontrou evidência <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulação<br />

vascular comprovada pelo FMD em pacientes portadores <strong>de</strong><br />

ES quando comparados a um grupo-controle composto por<br />

indivíduos sadios. Em concordância com Szucs et al. 18 e<br />

An<strong>de</strong>rsen et al., 9 nosso estudo <strong>de</strong>monstrou que a NMD não está<br />

alterada em indivíduos portadores <strong>de</strong> ES quando comparados<br />

ao mesmo grupo-controle.<br />

Contrário a nosso estudo, a maior parte <strong>de</strong>sses autores<br />

estudou pacientes com predomínio da forma difusa da doença.<br />

Optamos por indivíduos com a forma limitada da doença por<br />

sabermos que a incidência <strong>de</strong> vasculopatia é observada com<br />

maior frequência nesses casos (FRy grave, telangectasias e<br />

um tipo primário <strong>de</strong> hipertensão pulmonar na doença tardia).<br />

Anticorpo anticentrômero é um fator <strong>de</strong> risco conhecido para<br />

isquemia digital e aparece, principalmente, na forma limitada<br />

<strong>de</strong> longa duração. 27,28<br />

Cheng et al. 29 realizaram estudo sobre as proprieda<strong>de</strong>s biomecânicas<br />

(elástica e muscular) e espessamento do complexo<br />

médio intimal das artérias carótida e femoral em 19 pacientes<br />

com a forma difusa da ES, 33 com a forma limitada e 21 controles<br />

sadios. Observaram progressiva e signifi cante redução<br />

na proprieda<strong>de</strong> elástica da artéria carótida dos pacientes esclerodérmicos<br />

com a forma limitada da doença em relação ao<br />

grupo-controle. O envolvimento macrovascular po<strong>de</strong> somar-se<br />

às alterações microvasculares próprias da ES, exacerbando<br />

os distúrbios hemodinâmicos distais existentes, responsáveis<br />

pelas alterações das polpas digitais.<br />

Nossos achados nos levam a crer que, apesar <strong>de</strong> cronicamente<br />

lesado, o endotélio permanece responsivo na população<br />

estudada. As anormalida<strong>de</strong>s macrovasculares em indivíduos<br />

com ES são atribuídas a fatores estruturais e anatômicos da<br />

pare<strong>de</strong> do vaso e não a alterações funcionais do endotélio. 11<br />

Foi encontrada diferença signifi cativa ao se medir o DAB basal<br />

entre os grupos ESL e controle. Esse fato por si só po<strong>de</strong> aumentar<br />

o risco <strong>de</strong> doenças cardiovasculares nessa população. Já<br />

foi <strong>de</strong>monstrada uma associação entre menor DAB e presença<br />

<strong>de</strong> aterosclerose subclínica, estimada pela medida do espessamento<br />

médio intimal das artérias carótidas internas, indicando<br />

que o remo<strong>de</strong>lamento arterial é um processo sistêmico na ES.<br />

Permanece ainda incerto se a dilatação da AB nesses casos é<br />

consequência <strong>de</strong> uma modifi cação estrutural nos componentes<br />

da pare<strong>de</strong> do vaso ou se é diretamente causada pelo efeito<br />

dos fatores <strong>de</strong> risco cardiovasculares sobre o tônus simpático<br />

vascular. Uma redução importante na complacência arterial<br />

dos pacientes esclerodérmicos está relacionada à elasticida<strong>de</strong><br />

do vaso, po<strong>de</strong>ndo ser consequência das alterações do tecido<br />

conectivo e refl etir no aumento do risco cardiovascular. 30 O<br />

DAB, um índice simples e reproduzível, po<strong>de</strong> ser um valioso<br />

indicador <strong>de</strong> risco cardiovascular, e sua variação é inversamente<br />

proporcional a esse risco. 31<br />

Os dados confl itantes com a literatura po<strong>de</strong>m ser explicados<br />

<strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> numerosos vieses i<strong>de</strong>ntifi cados<br />

em nosso estudo. O tamanho da amostra foi pequeno <strong>de</strong>vido<br />

à baixa prevalência <strong>de</strong>ssa doença em nossa população e à<br />

difi culda<strong>de</strong> encontrada em selecionar pacientes com ESL que<br />

preenchessem todos os critérios <strong>de</strong> inclusão. Outro fator <strong>de</strong><br />

confundimento foi o fato <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos indivíduos estudados<br />

(70%) estarem fazendo uso regular <strong>de</strong> drogas vasoativas<br />

no momento em que se <strong>de</strong>u a avaliação do FMD e NMD pelo<br />

eco Doppler da AB. Assim como a maior parte dos estudos<br />

<strong>de</strong>scritos na literatura, 9,19–22,25 optamos pela não suspensão <strong>de</strong>ssas<br />

medicações <strong>de</strong>vido à gravida<strong>de</strong> da vasculopatia periférica<br />

que esses doentes apresentavam.<br />

An<strong>de</strong>rsen et al. 9 permitiram o uso <strong>de</strong> inibidores da enzima<br />

conversora <strong>de</strong> angiotensina (IECA) e <strong>de</strong> corticosteroi<strong>de</strong>s durante<br />

o estudo e constataram que os valores encontrados entre<br />

os grupos tratado e não tratado não diferiram signifi cativamente,<br />

embora os níveis <strong>de</strong> nitrato plasmático ten<strong>de</strong>ssem a ser<br />

menores no grupo que usava corticosteroi<strong>de</strong>. Bartoli et al. 26 e<br />

Szucs et al. 18 optaram pela suspensão <strong>de</strong> drogas vasoativas e<br />

antioxidantes em um período <strong>de</strong> 24 horas antes da realização<br />

do exame. Rajagopalan et al. 21 permitiram que pacientes esclerodérmicos<br />

mantivessem o uso regular <strong>de</strong> ACC ou IECA<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tivessem sido iniciados em um período superior a<br />

quatro meses antes da data <strong>de</strong> início da avaliação da função<br />

endotelial, porém excluíram pacientes que estivessem usando<br />

terapia antilipídica ou mais <strong>de</strong> duas drogas anti-hipertensivas<br />

566 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):554-568


Avaliação da função endotelial em pacientes com esclerose sistêmica limitada por meio do eco Doppler da artéria braquial<br />

em combinação. Entre os 42 pacientes com ES analisados por<br />

Roustit et al., 22 16 faziam uso regular <strong>de</strong> ACC, três <strong>de</strong> IECA,<br />

um <strong>de</strong> bloqueadores do receptor <strong>de</strong> angiotensina II, dois <strong>de</strong><br />

hidroxicloroquina, dois <strong>de</strong> ciclofosfamida, um fazia uso<br />

<strong>de</strong> corticosteroi<strong>de</strong>, dois <strong>de</strong> azatioprina e um <strong>de</strong> metotrexato.<br />

Nenhum paciente usava análogos <strong>de</strong> prostaciclina durante o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste estudo. Entre os 36 pacientes portadores<br />

<strong>de</strong> FRy primário, apenas dois usavam ACC.<br />

O tempo <strong>de</strong> evolução <strong>de</strong> doença também variou entre os<br />

indivíduos ESL, com apenas 30% da amostra apresentando<br />

tempo superior a 10 anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o diagnóstico. A exposição e a<br />

infl uência <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco para doenças cardiovasculares em<br />

ambos os grupos também não foram laboratorialmente estudadas.<br />

Diferenças antropométricas que po<strong>de</strong>m infl uenciar o maior<br />

risco cardiovascular, tais como medida da circunferência abdominal,<br />

não foram avaliadas entre os grupos estudados. Deve-se<br />

ainda atentar para o fato <strong>de</strong> o mecanismo primário responsável<br />

pela <strong>de</strong>terminação da resposta dilatadora da AB variar em função<br />

da posição do esfi gmomanômetro no membro superior do<br />

indivíduo analisado. A maior parte da resposta é NO-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

quando o esfi gmomanômetro está localizado no antebraço dos<br />

indivíduos; porém, quando posicionado no braço, essa resposta<br />

é parcialmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do NO. Escolhemos posicioná-lo no<br />

braço porque a esclerose cutânea é mais comum no antebraço,<br />

e quando comprimida torna a área muito dolorosa. 32<br />

Concluindo, nossos achados mostram que o DAB encontra-se<br />

reduzido em pacientes com ESL. Entretanto, a resposta dilatadora<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do endotélio manteve-se<br />

preservada, encorajando o tratamento <strong>de</strong>sses doentes na tentativa<br />

<strong>de</strong> reduzir a morbimortalida<strong>de</strong> na evolução da doença.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao Dr. Nivaldo Ribeiro Villela, que se <strong>de</strong>dicou pessoalmente<br />

à análise e à execução do Doppler em cores da artéria braquial<br />

nos participantes <strong>de</strong>ste estudo e sempre estimulou a realização<br />

<strong>de</strong>ste trabalho; à Dra. Blanca Bica, que, como chefe do Serviço<br />

<strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Hospital Universitário Clementino Fraga<br />

Filho, viabilizou todo o projeto.<br />

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568 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):554-568


ARTIGO DE REVISÃO ESPECIAL<br />

Diretrizes para prevenção e tratamento da<br />

osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong><br />

Rosa Maria Rodrigues Pereira 1 , Jozélio Freire <strong>de</strong> Carvalho 2 , Ana Patrícia Paula 3 , Cristiano Zerbini 4 ,<br />

Diogo S. Domiciano 5 , Helenice Gonçalves 6 , Jaime S. Danowski 7 , João F. Marques Neto 8 ,<br />

Laura M. C. Mendonça 9 , Mailze C. Bezerra 10 , Maria Teresa Terreri 11 , Marta Imamura 12 , Pedro Weingrill 13 ,<br />

Perola G. Plapler 14 , Sebastião Radominski 15 , Tatiana Tourinho 16 , Vera L. Szejnfeld 17 , Nathalia C. Andrada 18<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os glicocorticoi<strong>de</strong>s (GC) são prescritos por praticamente todas as especialida<strong>de</strong>s médicas, e cerca <strong>de</strong> 0,5% da população<br />

geral do Reino Unido utiliza esses medicamentos. Com o aumento da sobrevida dos pacientes com doenças reumatológicas,<br />

a morbida<strong>de</strong> secundária ao uso <strong>de</strong>ssa medicação representa um aspecto importante que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado no manejo <strong>de</strong><br />

nossos pacientes. As incidências <strong>de</strong> fraturas vertebrais e não vertebrais são elevadas, variando <strong>de</strong> 30%–50% em pessoas<br />

que usam GC por mais <strong>de</strong> três meses. Assim, a osteoporose e as fraturas por fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser prevenidas e tratadas<br />

em todos os pacientes que iniciarão ou que já estejam em uso <strong>de</strong>sses esteroi<strong>de</strong>s. Diversas recomendações elaboradas<br />

por várias socieda<strong>de</strong>s internacionais têm sido <strong>de</strong>scritas na literatura, porém não há consenso entre elas. Recentemente,<br />

o Americam College of Rheumatology publicou novas recomendações, porém elas são fundamentadas na FRAX (WHO<br />

Fracture Risk Assessment Tool) para analisar o risco <strong>de</strong> cada indivíduo e, <strong>de</strong>ssa maneira, não po<strong>de</strong>m ser completamente<br />

utilizadas pela população brasileira. Dessa forma, a Comissão <strong>de</strong> Osteoporose e Doenças Osteometabólicas da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, em conjunto com a Associação Médica <strong>Brasileira</strong> e a Associação <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Medicina Física<br />

e Reabilitação, implementou as diretrizes brasileiras <strong>de</strong> osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong> (OPIG), baseando-se<br />

na melhor evidência científi ca disponível e/ou experiência <strong>de</strong> experts. Descrição do método <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> evidência: A<br />

revisão bibliográfi ca <strong>de</strong> artigos científi cos <strong>de</strong>sta diretriz foi realizada na base <strong>de</strong> dados MEDLINE. A busca <strong>de</strong> evidência<br />

partiu <strong>de</strong> cenários clínicos reais, e utilizou as seguintes palavras-chave (MeSH terms): Osteoporosis, Osteoporosis/chemically<br />

induced*= (Glucocorticoids= Adrenal Cortex Hormones, Steroids), Glucocorticoids, Glucocorticoids/administration<br />

and dosage, Glucocorticoids/therapeutic use, Glucocorticoids/adverse effects, Prednisone/adverse effects, Dose-Response<br />

Relationship, Drug, Bone Density/drug effects, Bone Density Conservation Agents/pharmacological action, Osteoporosis/<br />

prevention&control, Calcium, Vitamin D, Vitamin D <strong>de</strong>fi ciency, Calcitriol, Receptors, Calcitriol; 1-hydroxycholecalciferol,<br />

Hydroxycholecalciferols, 25-Hydroxyvitamin D3 1-alpha-hydroxylase OR Steroid Hydroxylases, Prevention and Control,<br />

Spinal fractures/prevention & control, Fractures, Spontaneous, Lumbar Vertebrae/injuries, Lifestyle, Alcohol Drinking,<br />

Smoking OR tobacco use disor<strong>de</strong>r, Movement, Resistance Training, Exercise Therapy, Bone <strong>de</strong>nsity OR Bone and Bones,<br />

Dual-Energy X-Ray Absorptiometry OR Absorptiometry Photon OR DXA, Densitometry, Radiography, (Diphosphonates<br />

Alendronate OR Risedronate Pamidronate OR propanolamines OR Ibandronate OR Zoledronic acid, Teriparati<strong>de</strong> OR<br />

PTH 1-34, Men AND premenopause, pregnancy, pregnancy outcome maternal, fetus, lactation, breast-feeding, teratogens,<br />

Children (6–12 anos), adolescence (13–18 anos). Grau <strong>de</strong> recomendação e força <strong>de</strong> evidência: A) Estudos experimentais<br />

e observacionais <strong>de</strong> melhor consistência; B) Estudos experimentais e observacionais <strong>de</strong> menor consistência; C) Relatos <strong>de</strong><br />

casos (estudos não controlados); D) Opinião <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> avaliação crítica, com base em consensos, estudos fi siológicos<br />

ou mo<strong>de</strong>los animais. Objetivo: Estabelecer as diretrizes para a prevenção e o tratamento da OPIG.<br />

Palavras-chave: tratamento, osteoporose, glicocorticoi<strong>de</strong>.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

Os glicocorticoi<strong>de</strong>s (GC) são utilizados por praticamente todas<br />

as especialida<strong>de</strong>s médicas. Cerca <strong>de</strong> 0,5% da população geral<br />

do Reino Unido utiliza esses medicamentos, chegando a uma<br />

frequência <strong>de</strong> 1,75% das mulheres acima <strong>de</strong> 55 anos (B). 1<br />

A incidência <strong>de</strong> fraturas vertebral e não vertebral é elevada,<br />

variando <strong>de</strong> 30%–50% em pessoas que usam GC por mais <strong>de</strong><br />

Recebido em 26/02/2012. Aprovado, após revisão, em 06/03/2012. Os confl itos <strong>de</strong> interesse e a titulação dos autores estão <strong>de</strong>clarados no fi nal do artigo.<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Associação <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Medicina Física e Reabilitação, Associação Médica <strong>Brasileira</strong>.<br />

580 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593


três meses (A). 2 O uso <strong>de</strong> GC provoca perda <strong>de</strong> massa óssea,<br />

sobretudo <strong>de</strong> osso trabecular (tipo <strong>de</strong> osso predominante nas vértebras),<br />

e essa perda é mais pronunciada nos primeiros meses da<br />

terapia. Há perda <strong>de</strong> 10%–20% <strong>de</strong> osso trabecular nos primeiros<br />

seis meses <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> GC, e <strong>de</strong> 2% ao ano nos anos subsequentes.<br />

Também ocorre perda <strong>de</strong> osso cortical (em maior proporção em<br />

ossos longos) em 2%–3% no primeiro ano, e <strong>de</strong>pois uma perda<br />

lenta e contínua é mantida (A). 2 É importante ressaltar que o risco<br />

<strong>de</strong> fratura para uma mesma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> mineral óssea (DMO) é<br />

maior na osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong> (OPIG) que<br />

na osteoporose pós-menopausa ou senil (B). 3<br />

O risco <strong>de</strong> fratura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da dose do GC. O uso <strong>de</strong><br />

prednisona em até 2,5 mg/dia leva a risco relativo (RR) <strong>de</strong><br />

1,55; na dose <strong>de</strong> 2,5–7,5 mg/dia o RR é <strong>de</strong> 2,59, e com doses<br />

maiores que 7,5 mg/dia o RR chega a 5,18 – todos riscos com<br />

signifi cância estatística (A). 4<br />

Um estudo utilizando banco <strong>de</strong> dados populacional (244.235<br />

participantes usuários <strong>de</strong> GC e 244.235 controles) do Reino<br />

Unido (General Practice Research Database – GPRD) avaliou<br />

o risco <strong>de</strong> fraturas nesses pacientes em uso <strong>de</strong> GC (dose média<br />

<strong>de</strong> prednisolona <strong>de</strong> 7,8 mg/dia, e dose média cumulativa <strong>de</strong><br />

13,9 g) e encontrou risco aumentado signifi cativo <strong>de</strong> fraturas,<br />

principalmente vertebrais: RR <strong>de</strong> qualquer fratura 1,33 (95% IC;<br />

1,29–1,38), RR <strong>de</strong> fratura <strong>de</strong> quadril 1,61 (95% IC; 1,47–1,76)<br />

e RR <strong>de</strong> fratura vertebral 2,60 (95% IC; 2,31–2,92) (B). 5<br />

Devido à elevada frequência do uso <strong>de</strong> GC e ao aumento<br />

da morbida<strong>de</strong> e da mortalida<strong>de</strong> relacionadas a seu uso, diversas<br />

recomendações elaboradas por várias socieda<strong>de</strong>s internacionais<br />

têm sido <strong>de</strong>scritas na literatura (D). 6–11 Porém, não<br />

há consenso entre elas. Recentemente, o American College<br />

of Rheumatology (ACR) publicou um novo consenso, que<br />

utiliza a ferramenta FRAX® (WHO Fracture Risk Assessment<br />

Tool) para analisar o fator <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> cada indivíduo (D). 12<br />

No entanto, a FRAX não po<strong>de</strong> ser completamente utilizado<br />

pela população brasileira.<br />

Assim, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi elaborar uma diretriz<br />

com base na melhor evidência científi ca e/ou na experiência<br />

<strong>de</strong> experts, quando esta evidência não fosse disponível.<br />

Há fatores <strong>de</strong> riscos que contribuem para <strong>de</strong>terminar se o<br />

risco do paciente é baixo, médio ou alto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver OPIG.<br />

Dentre os fatores <strong>de</strong> risco maiores incluem-se história pessoal<br />

<strong>de</strong> fratura na vida adulta, história <strong>de</strong> fratura em parente <strong>de</strong><br />

primeiro grau, tabagismo atual e baixo peso (< 57 kg). Como<br />

fatores <strong>de</strong> risco menores, listamos ida<strong>de</strong> avançada, <strong>de</strong>fi ciência<br />

<strong>de</strong> estrógeno (menopausa antes dos 45 anos), baixa ingestão<br />

<strong>de</strong> cálcio durante a vida, ativida<strong>de</strong> física ina<strong>de</strong>quada, alcoolismo<br />

(três ou mais unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> álcool/dia), quedas recentes,<br />

<strong>de</strong>mência, défi cit <strong>de</strong> visão e saú<strong>de</strong> fragilizada.<br />

Diretrizes para prevenção e tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong><br />

Esta diretriz não abordará OPIG em situações <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

GC inalado, pulsoterapia <strong>de</strong> GC e em pacientes submetidos<br />

a transplantes.<br />

1. QUAIS SÃO A DOSE E A DURAÇÃO<br />

MÍNIMA DE GC QUE INDICAM<br />

PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA OPIG?<br />

A dose mínima <strong>de</strong> GC que indica risco <strong>de</strong> fratura é <strong>de</strong> 5 mg/dia,<br />

e o período mínimo é <strong>de</strong> três meses <strong>de</strong> uso (A). 2<br />

Além disso, três diretrizes internacionais (D) 6,7,11 também<br />

fazem essa recomendação: pacientes que iniciarão<br />

GC (prevenção) em uma dose <strong>de</strong> pelo menos 5 mg/dia <strong>de</strong><br />

prednisona ou equivalente por pelo menos três meses são<br />

indivíduos <strong>de</strong> risco, e <strong>de</strong>ve ser instituída medicação farmacológica<br />

e mudança <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida. Outras diretrizes<br />

(D) 8,10 recomendam essa prevenção em doses ≥ 7,5 mg/dia.<br />

Por outro lado, a diretriz da UK Bone Research Society,<br />

National Osteoporosis Society e Royal College of Physician<br />

(D) 9 não especifi ca a dose.<br />

Em relação à duração <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> GC, a maioria das diretrizes<br />

especifi ca pelo menos três meses para pacientes que iniciarão<br />

o uso <strong>de</strong> GC (prevenção) (D). 6–9 Em relação a pacientes que<br />

já fazem uso <strong>de</strong> GC (tratamento), algumas socieda<strong>de</strong>s (D) 6,11<br />

recomendam realizar tratamento para OPIG quando a dose<br />

<strong>de</strong> GC for ≥ 5 mg/dia. A <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Belga (D) 10 recomenda<br />

tratamento quando GC for ≥ 7,5 mg/dia. Outras socieda<strong>de</strong>s<br />

(D) 7–9 não especifi cam a dose para os pacientes em uso <strong>de</strong> GC<br />

(tratamento).<br />

As Recomendações para Prevenção e Tratamento da<br />

OPIG do ACR especifi cam a dose <strong>de</strong> GC com base no risco<br />

<strong>de</strong> perda óssea calculado pela ferramenta FRAX (D), 12 porém<br />

essa avaliação <strong>de</strong> risco não po<strong>de</strong> ser completamente utilizada<br />

na população brasileira. As recomendações <strong>de</strong> prevenção e<br />

tratamento são as seguintes:<br />

• Baixo risco (FRAX®) em mulheres pós-menopausadas e<br />

homens ≥ 50 anos, se o paciente fi zer uso ≥ 7,5 mg/dia;<br />

• Médio risco (FRAX®) em mulheres pós-menopausadas e<br />

homens ≥ 50 anos, para qualquer dose <strong>de</strong> GC;<br />

• Alto risco (FRAX®) em mulheres pós-menopausadas e<br />

homens ≥ 50 anos, para qualquer dose <strong>de</strong> GC;<br />

• Mulheres pré-menopausa (sem risco <strong>de</strong> engravidar) e<br />

homens com menos <strong>de</strong> 50 anos com história <strong>de</strong> fratura por<br />

fragilida<strong>de</strong>, com duração <strong>de</strong> GC entre 1–3 meses, quando<br />

a dose <strong>de</strong> GC for ≥ 5 mg/dia;<br />

• Mulheres pré-menopausa (com risco <strong>de</strong> engravidar) e<br />

fratura por fragilida<strong>de</strong> prévia, com duração <strong>de</strong> GC ≥ 3<br />

meses, quando a dose <strong>de</strong> GC for ≥ 7,5 mg/dia.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593 581


Pereira et al.<br />

Recomendação<br />

Recomenda-se que pacientes que iniciarão GC (prevenção)<br />

na dose <strong>de</strong> ≥ 5 mg/dia com duração <strong>de</strong> tratamento previsto<br />

≥ 3 meses recebam medicação específi ca para tratamento<br />

preventivo <strong>de</strong> OPIG e mudança <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida. De forma<br />

semelhante, pacientes em uso <strong>de</strong> GC (tratamento) na dose<br />

<strong>de</strong> ≥ 5 mg/dia <strong>de</strong> prednisona ou equivalentes também <strong>de</strong>vem<br />

realizar o mesmo tratamento preventivo para OPIG (D). 6 Há<br />

indicação <strong>de</strong> medidas preventivas e terapêuticas em todos os<br />

pacientes <strong>de</strong> alto risco <strong>de</strong> OPIG, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da dose <strong>de</strong> GC<br />

(D). 12 Essas recomendações são fundamentadas porque até<br />

50% dos pacientes em uso <strong>de</strong> GC por mais <strong>de</strong> três meses têm<br />

aumento do risco <strong>de</strong> fraturas vertebrais (mais frequentes) e não<br />

vertebrais (B). 5 Importante lembrar que para um mesmo valor<br />

<strong>de</strong> DMO há maior risco <strong>de</strong> fratura nos casos <strong>de</strong> OPIG (A). 2<br />

2. O CÁLCIO DEVE SER UTILIZADO NA<br />

PREVENÇÃO E NO TRATAMENTO DA OPIG?<br />

Cálcio e vitamina D são nutrientes essenciais para a manutenção<br />

da saú<strong>de</strong>. A sufi ciência <strong>de</strong>sses dois nutrientes é consi<strong>de</strong>rada<br />

pré-requisito em qualquer intervenção terapêutica para<br />

osteoporose (D). 6–9<br />

Esquemas <strong>de</strong> tratamento com o cálcio como terapia para a<br />

prevenção da OPIG em população <strong>de</strong> homens, mulheres pré-<br />

menopausadas e pós-menopausadas <strong>de</strong>monstraram que o uso<br />

isolado <strong>de</strong> carbonato <strong>de</strong> cálcio na dose <strong>de</strong> 1.000 mg/dia leva<br />

à perda <strong>de</strong> 4,3% da DMO na coluna lombar em um ano (A). 13<br />

Mulheres pré-menopausadas com diagnóstico <strong>de</strong> lúpus<br />

em uso mediano <strong>de</strong> 2,5 anos <strong>de</strong> GC (variando <strong>de</strong> 0–20 anos)<br />

foram estudadas após dois anos <strong>de</strong> reposição <strong>de</strong> carbonato <strong>de</strong><br />

cálcio (500 mg/dia) isolado ou associado na mesma dose com<br />

calcitriol (0,25 µg/dia). Não houve diferença signifi cativa da<br />

DMO entre os dois grupos, <strong>de</strong>monstrando que tanto o cálcio<br />

isolado quanto a combinação <strong>de</strong> cálcio com calcitriol preservam<br />

a DMO em coluna lombar nessa população (A). 14 O uso <strong>de</strong> bisfosfonato<br />

não é recomendável em mulheres pré-menopausadas<br />

com risco <strong>de</strong> engravidar.<br />

Como monoterapia, consi<strong>de</strong>ra-se que o cálcio não é sufi -<br />

ciente para prevenção ou tratamento da OPIG (D). 15<br />

Recomendação<br />

Carbonato <strong>de</strong> cálcio na dose <strong>de</strong> 1.000 mg/dia usado isoladamente<br />

não previne perda <strong>de</strong> massa óssea nem fratura em<br />

pacientes que iniciam o uso crônico <strong>de</strong> GC, principalmente<br />

em mulheres na pós-menopausa – portanto, não é indicado<br />

para prevenção primária (A). 13 Para prevenção secundária,<br />

há evidência <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> DMO na coluna lombar em<br />

mulheres em pré-menopausa tanto com o uso <strong>de</strong> carbonato<br />

<strong>de</strong> cálcio (500 mg/dia) isolado quanto associado ao calcitriol<br />

(0,25 µg/dia) (A). 14<br />

3. QUE APRESENTAÇÃO DA VITAMINA D<br />

DEVE SER UTILIZADA NA PREVENÇÃO<br />

E NO TRATAMENTO DA OPIG?<br />

Embora o termo vitamina D seja utilizado para abranger tanto<br />

os calciferois (colecalciferol e ergocalciferol) quanto os análogos<br />

da vitamina D ativada, seus perfi s terapêuticos são bastante<br />

distintos. As formas mais comumente usadas são os metabólitos<br />

ativos da vitamina D, o calcitriol (1,25-dihidroxivitamina D)<br />

e o alfacalcidol (1-α-hidroxivitamina D). Estudos <strong>de</strong> cálcio<br />

associado à vitamina D <strong>de</strong>monstram resultados variáveis.<br />

Em uma metanálise comparando análogos da vitamina D ativa<br />

(alfacalcidol e calcitriol) e calciferol em usuários crônicos <strong>de</strong><br />

GC, <strong>de</strong>monstrou-se que os metabólitos ativos reduzem signifi<br />

cativamente a perda <strong>de</strong> massa óssea do quadril e da coluna<br />

com tamanho <strong>de</strong> efeito (effect size – ES) = 0,43 e P < 0,001;<br />

diferentemente, o uso <strong>de</strong> calciferol evitou a perda da massa<br />

óssea apenas em quadril (A). 16 Nessa metanálise somente dois<br />

trabalhos estudaram os efeitos do calcitriol sobre a incidência<br />

<strong>de</strong> fraturas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> OPIG. A redução do risco encontrado<br />

foi não signifi cativa, e até o momento está <strong>de</strong>fi nida a não<br />

efi cácia da vitamina D para redução <strong>de</strong> fraturas <strong>de</strong>correntes<br />

<strong>de</strong> OPIG (A). 13,17<br />

Nas prevenções primária e secundária da OPIG os análogos<br />

<strong>de</strong> vitamina D ativa foram mais efi cazes na preservação da<br />

DMO e diminuíram o risco <strong>de</strong> fraturas vertebrais em comparação<br />

aos calciferois ou ao cálcio isoladamente, ao placebo ou<br />

a nenhum tratamento, com RR = 0,35 (95% IC; 0,18–0,<strong>52</strong>).<br />

Na análise <strong>de</strong> subgrupos dos análogos observou-se que o alfacalcidol<br />

preveniu fraturas, e que o calcitriol apresentou apenas<br />

tendência a efeito protetor (B). 18<br />

Em uma comparação direta entre alfacalcidol e vitamina D<br />

não ativa, a forma ativa foi signifi cativamente mais efi caz em<br />

termos <strong>de</strong> ganho <strong>de</strong> massa óssea e redução do risco <strong>de</strong> fratura<br />

<strong>de</strong> coluna vertebral, pois com alfacalcidol há redução signifi<br />

cativa <strong>de</strong> 61% nas fraturas vertebrais e <strong>de</strong> <strong>52</strong>% em todas as<br />

fraturas vertebrais e combinadas, quando comparado ao grupo<br />

da vitamina D (B). 19<br />

O alfacalcidol na dose <strong>de</strong> 0,25–1,0 µg/dia é capaz <strong>de</strong><br />

prevenir a redução da massa óssea, e também foi observada<br />

ação protetora sobre a fratura vertebral. O calcitriol<br />

(0,5–1,0 µg/dia) parece prevenir perda <strong>de</strong> massa óssea em<br />

coluna, mas não previne fraturas.<br />

582 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593


Recomendação<br />

A vitamina D, em suas formas ativa (alfacalcidol e calcitriol)<br />

e não ativa (colecalciferol e ergocalciferol), previne a perda<br />

<strong>de</strong> massa óssea em usuários crônicos <strong>de</strong> GC (A); 16 porém, a<br />

prevenção <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> massa óssea realizada com calciferois<br />

não reduz a incidência <strong>de</strong> fraturas (A). 13,16,17<br />

O alfacalcidol na dose <strong>de</strong> 0,25–1,0 µg/dia previne a redução<br />

da massa óssea e diminui o risco <strong>de</strong> fratura (vertebral ou não<br />

vertebral) em usuários crônicos <strong>de</strong> GC (B). 19 Recomenda-se<br />

o monitoramento da calcemia e da calciúria em pacientes que<br />

recebem prescrição <strong>de</strong> vitamina D, principalmente quando se<br />

utilizam os análogos.<br />

4. HÁ BENEFÍCIO NA ASSOCIAÇÃO DE<br />

CÁLCIO COM VITAMINA D NA PREVENÇÃO<br />

E NO TRATAMENTO DA OPIG?<br />

A suplementação terapêutica <strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong> vitamina D é consi<strong>de</strong>rada<br />

como primeiro passo no tratamento da OPIG, com<br />

baixos índices <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> custo.<br />

A associação <strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong> vitamina D melhorou signifi cativamente<br />

a DMO da coluna lombar (média pon<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> 2,6 e 95%<br />

IC; 0,7–4,5) e do rádio (média pon<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> 2,5 e 95% IC; 0,6–4,4)<br />

em 33% dos pacientes em uso <strong>de</strong> GC, porém não produziu efeitos<br />

signifi cativos no fêmur ou na incidência <strong>de</strong> fraturas (A). 20<br />

Pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> artrite reumatoi<strong>de</strong> e em uso<br />

crônico <strong>de</strong> GC apresentaram benefício estatisticamente signifi -<br />

cativo na associação entre carbonato <strong>de</strong> cálcio (1.000 mg/dia) e<br />

vitamina D (500 unida<strong>de</strong>s diárias) quando comparada ao placebo.<br />

Os pacientes em uso da associação apresentaram aumento<br />

da massa óssea (0,72%/ano) na coluna lombar e aumento <strong>de</strong><br />

0,85% anual no trocânter. Em comparação, o grupo-placebo<br />

per<strong>de</strong>u massa óssea na coluna lombar e no fêmur a uma taxa<br />

<strong>de</strong> 2% e 0,9% ao ano, respectivamente (A). 21<br />

O uso combinado <strong>de</strong> calcitriol (dose média <strong>de</strong> 0,6 µg/dia)<br />

e cálcio (carbonato <strong>de</strong> cálcio 1.000 mg/dia), com ou sem calcitonina<br />

sintética (400 UI via nasal por dia), evitou perda da<br />

DMO na coluna lombar, diminuindo essa perda <strong>de</strong> 4,3% para<br />

somente 0,2% em um ano (P = 0,0035). Esse benefício não foi<br />

observado no colo <strong>de</strong> fêmur e em rádio distal (A). 13<br />

Ao comparar pacientes portadores <strong>de</strong> OPIG em uso da associação<br />

<strong>de</strong> 500 mg/dia <strong>de</strong> carbonato <strong>de</strong> cálcio com alfacalcidol<br />

1 µg/dia ou a mesma dose <strong>de</strong> cálcio com 1.000 UI/dia <strong>de</strong><br />

vitamina D3, o primeiro esquema terapêutico levou a maior<br />

benefício em três anos. Nova fratura vertebral ocorreu em<br />

9,7% dos pacientes em uso <strong>de</strong> alfacalcidol e em 24,8% no<br />

grupo da vitamina D3, com redução <strong>de</strong> RR = 0,61 (95% IC;<br />

0,24–0,81). Não houve redução <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> fraturas não<br />

Diretrizes para prevenção e tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong><br />

vertebrais. Ao avaliar qualquer nova fratura, ou seja, vertebral<br />

e não vertebral, em três anos, a primeira associação<br />

medicamentosa apresentou 19,4% <strong>de</strong> fraturas, enquanto o<br />

segundo esquema terapêutico apresentou 40,65%, fornecendo<br />

redução signifi cativa <strong>de</strong> RR = 0,<strong>52</strong> (95% IC; 0,25–0,71<br />

e P = 0,0001) (B). 19<br />

Recomendação<br />

Há benefícios na associação <strong>de</strong> cálcio e vitamina D por sua<br />

efi cácia na prevenção <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> massa óssea em pacientes<br />

sob glicocorticoterapia (A). 20 Entretanto, ainda permanece<br />

controverso o estabelecimento da melhor forma <strong>de</strong> vitamina D a<br />

ser administrada – se calciferol, alfacalcidol ou calcitriol. Até o<br />

momento, somente alfacalcidol associado ao cálcio <strong>de</strong>monstrou<br />

redução signifi cativa do risco <strong>de</strong> fratura vertebral, sem efeito<br />

em fraturas não vertebrais (B). 19<br />

5. QUE MUDANÇAS NO ESTILO DE<br />

VIDA DEVEM SER REALIZADAS PARA A<br />

PREVENÇÃO E O TRATAMENTO DA OPIG?<br />

Sabe-se que fatores <strong>de</strong> risco, tais como tabagismo (B), 22 elevada<br />

ingestão <strong>de</strong> álcool (três ou mais unida<strong>de</strong>s diárias) (B), 23,24 se<strong>de</strong>ntarismo<br />

(gasto energético < 1.682 kcal/dia com RR = 1,7;<br />

95% IC; 1,2–2,3) (B), 25 riscos <strong>de</strong> quedas recorrentes em idosos<br />

frágeis com odds ratio (OR) = 1,38 (95% IC; 1,02–1,88) (A) 26<br />

e baixo peso (cada <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> redução no peso aumenta<br />

signifi cativamente em 19% o risco <strong>de</strong> fratura patológica) exercem<br />

efeitos negativos sobre a massa óssea, mesmo em mulher<br />

jovem usando GC (B). 27<br />

Recomendação<br />

Assim como na osteoporose primária, na prevenção e no tratamento<br />

da OPIG <strong>de</strong>vem-se remover ou reduzir os fatores <strong>de</strong><br />

risco modifi cáveis, tais como fumo (B), 22 ingestão <strong>de</strong> álcool (<<br />

três unida<strong>de</strong>s diárias) (B), 23 sódio (principalmente em caso <strong>de</strong><br />

hipercalciúria), se<strong>de</strong>ntarismo (B), 25 baixo peso (B) 27 e cuidado<br />

especial com o idoso frágil, pois este apresenta risco com<br />

signifi cância estatística <strong>de</strong> quedas recorrentes (A). 26<br />

6. QUE MODALIDADES DE EXERCÍCIO<br />

FÍSICO SÃO RECOMENDADAS PARA A<br />

PREVENÇÃO E O TRATAMENTO DA OPIG?<br />

Exercícios com carga melhoram a massa óssea <strong>de</strong> crianças e <strong>de</strong><br />

adolescentes e po<strong>de</strong>m reduzir a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perda óssea em<br />

idosos. Além disso, a prática regular <strong>de</strong> exercício físico leva<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593 583


Pereira et al.<br />

a melhor mobilida<strong>de</strong> e força muscular, diminuindo a chance<br />

<strong>de</strong> quedas (D). 28,29<br />

A prática <strong>de</strong> exercícios físicos, principalmente <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rado<br />

a alto impacto, é recomendada para a prevenção e o tratamento<br />

da osteoporose pós-menopausa (A). 30 De forma semelhante,<br />

avaliando-se idosos acima <strong>de</strong> 65 anos não usuários <strong>de</strong> GC,<br />

observa-se redução <strong>de</strong> risco e <strong>de</strong> frequência <strong>de</strong> quedas por<br />

meio da intervenção do exercício, com RR = 0,83 (95% IC;<br />

0,72–0,97) e RR = 0,78 (95% IC; 0,71–0,86), respectivamente.<br />

Reduções semelhantes mantendo-se a signifi cância estatística<br />

também foram atingidas com a prática <strong>de</strong> Tai Chi Chuan (A). 31<br />

No entanto, não há evidência quanto ao papel do exercício<br />

físico na OPIG. Acredita-se que exercícios para melhorar a<br />

força dos membros inferiores e o equilíbrio são particularmente<br />

importantes nesses pacientes, nos quais a miopatia e o risco <strong>de</strong><br />

quedas são comuns; porém, <strong>de</strong>sconhe-se se a ativida<strong>de</strong> física<br />

melhoraria a miopatia induzida pelo GC (D). 32<br />

Pacientes pós-transplante cardíaco em uso <strong>de</strong> GC foram<br />

avaliados em três grupos: alendronato associado a exercício<br />

físico resistido, alendronato isolado e controle sem intervenções.<br />

Após seis meses, observou-se que o grupo <strong>de</strong> alendronato<br />

mais exercício físico apresentou melhora da massa óssea na<br />

coluna lombar e no fêmur em relação aos grupos alendronato<br />

isolado e controle, sem voltar ao nível pré-transplante. O<br />

grupo alendronato conseguiu estabilizar a perda <strong>de</strong> massa<br />

óssea nos primeiros dois meses pós-transplante sem voltar ao<br />

nível pré-transplante, e o grupo-controle continuou per<strong>de</strong>ndo<br />

massa óssea (B). 33<br />

Usuários crônicos <strong>de</strong> GC submetidos a um Programa <strong>de</strong><br />

Cuidado Específi co para Osteoporose tiveram, no fi nal <strong>de</strong> seis<br />

meses a um ano, melhora da DMO da coluna e do fêmur total<br />

associada à diminuição da dose <strong>de</strong> GC utilizada, maior frequência<br />

<strong>de</strong> exercícios e aumento dos valores <strong>de</strong> 25-OH vitamina D, em<br />

comparação ao início do estudo (B) 34<br />

Um grupo <strong>de</strong> pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong>, dos quais<br />

apenas 9% faziam uso <strong>de</strong> GC no momento do estudo e 11%<br />

nunca tinham usado GC (portanto, uma população um pouco<br />

diferente do usuário habitual <strong>de</strong> GC), realizou fi sioterapia usual<br />

ou exercícios com carga, com alta intensida<strong>de</strong> e por longo período<br />

<strong>de</strong> treinamento. A taxa <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> massa óssea no quadril<br />

foi menor no grupo <strong>de</strong> exercício, o que não foi observado em<br />

relação à coluna (B). 35<br />

Recomendação<br />

Os exercícios físicos, principalmente <strong>de</strong> resistência com<br />

carga, são recomendados para a prevenção e o tratamento <strong>de</strong><br />

pacientes com OPIG (B). 35 Os exercícios <strong>de</strong> equilíbrio também<br />

são recomendados, principalmente para pacientes com risco<br />

<strong>de</strong> queda (D). 32<br />

7. A DENSITOMETRIA DEVE SER SOLICITADA<br />

ANTES DA PRESCRIÇÃO DE GC (PREVENÇÃO)<br />

E APÓS, COM O INDIVÍDUO JÁ EM<br />

USO DE GC (TRATAMENTO)?<br />

A DMO da coluna lombar é um preditor signifi cativo <strong>de</strong> novas<br />

fraturas em pacientes em uso <strong>de</strong> GC. Assim, para cada um<br />

ponto <strong>de</strong> redução do T-score o RR <strong>de</strong> fratura é <strong>de</strong> 1,85 (95% IC;<br />

1,06–3,21) (A). 4<br />

As Recomendações para Prevenção e Tratamento da OPIG<br />

do ACR sugerem a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsitometria em pacientes<br />

que usarão GC (prevenção) por tempo > 3 meses, em doses<br />

≥ 5 mg/dia, e nos pacientes que estão fazendo uso <strong>de</strong> GC (tratamento)<br />

(D). 6 Novas recomendações <strong>de</strong>ssa mesma entida<strong>de</strong><br />

sugerem a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsitometria em qualquer paciente<br />

que usará GC (prevenção) e nos pacientes que estão fazendo<br />

uso <strong>de</strong> GC (tratamento), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da dose e do tempo<br />

<strong>de</strong> uso (D). 12<br />

Recomendação<br />

Pacientes que usarão GC (prevenção) por tempo > 3 meses,<br />

em doses ≥ a 5 mg/dia, e pacientes que fazem uso <strong>de</strong> GC<br />

(tratamento) <strong>de</strong>vem realizar <strong>de</strong>nsitometria antes da prescrição<br />

do GC (D) 6 e, posteriormente (controle), para avaliar<br />

o grau <strong>de</strong> redução da massa óssea e conhecer o risco <strong>de</strong><br />

fratura (A). 4<br />

8. A AVALIAÇÃO POR IMAGEM DA COLUNA<br />

VERTEBRAL TORÁCICA E LOMBAR POR<br />

RADIOGRAFIA OU DENSITOMETRIA<br />

(VFA) DEVE SER SOLICITADA ANTES DA<br />

PRESCRIÇÃO (PREVENÇÃO) E DURANTE<br />

O USO DE GC (TRATAMENTO)?<br />

Cerca <strong>de</strong> 33% dos pacientes em uso <strong>de</strong> GC apresentam fraturas,<br />

principalmente na região vertebral, e somente 30% <strong>de</strong>ssas<br />

fraturas são sintomáticas e po<strong>de</strong>m não estar associadas à baixa<br />

DMO (B). 36 Nesse sentido, a radiografi a <strong>de</strong> coluna vertebral é<br />

fundamental para o diagnóstico.<br />

As Recomendações Preliminares para Prevenção e<br />

Tratamento da OPIG do ACR especifi cam a avaliação por<br />

imagem da coluna vertebral (radiografi a ou <strong>de</strong>nsitometria)<br />

por meio do vertebral fracture assessment (VFA) (D). 12 Essa<br />

recomendação da avaliação da coluna vertebral no sentido<br />

584 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593


da <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> fraturas vertebrais também é sugerida nas<br />

diretrizes da International Society for Clinical Densitometry<br />

(ISCD) (D). 37<br />

Não há dados na literatura referentes ao momento<br />

<strong>de</strong> realização da radiografia ou VFA nesses pacientes.<br />

Recomendamos essa avaliação antes da introdução do GC,<br />

a cada seis meses no primeiro ano <strong>de</strong> uso do GC e, posteriormente,<br />

uma vez a cada um a dois anos, enquanto for mantido<br />

o uso do medicamento.<br />

Recomendação<br />

A radiografi a <strong>de</strong> coluna vertebral ou VFA <strong>de</strong>ve ser realizada<br />

antes da introdução do GC, a cada seis meses no primeiro ano<br />

do uso do GC e, posteriormente, uma vez a cada um a dois<br />

anos, enquanto for mantido o uso do GC (D). 12,37<br />

9. QUE VALOR DE T-SCORE INDICA PREVENÇÃO<br />

E TRATAMENTO DE OPIG EM HOMENS?<br />

Semelhante ao <strong>de</strong>scrito previamente, os homens que iniciam<br />

a terapia com GC por tempo > 3 meses <strong>de</strong>vem realizar DMO.<br />

Estudos prévios <strong>de</strong>monstraram que, <strong>de</strong>ntre os homens que<br />

apresentaram alguma fratura, 16% tinham DMO entre –1<br />

e –2,5 <strong>de</strong>svios padrão (DP) (A); 38 o risco <strong>de</strong> fratura é dose-<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Em homens usando até 2,5 mg <strong>de</strong> prednisona o<br />

risco <strong>de</strong> fratura vertebral foi <strong>de</strong> 1,55, aumentando para 5,18<br />

com doses > 7,5 mg (B). 39 O aumento no risco <strong>de</strong> fratura<br />

é rápido após o início da terapia por corticosteroi<strong>de</strong>, com<br />

aumento signifi cativo no risco <strong>de</strong> fratura não vertebral nos<br />

primeiros três meses (A). 40<br />

Recomendação<br />

Consi<strong>de</strong>ramos para prevenção um T-Score ≤ –1 DP para homens.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos para tratamento um T-Score ≤ –1,8 DP (A). 38<br />

10. A DENSITOMETRIA DEVE SER REALIZADA<br />

EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE<br />

INICIARÃO (PREVENÇÃO) OU QUE JÁ<br />

ESTEJAM EM USO (TRATAMENTO) DE GC?<br />

Em estudo com uma população <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 4–17 anos <strong>de</strong><br />

um banco <strong>de</strong> dados britânico (37.562 em terapia com GC<br />

e 345.748 sem terapia com GC), os autores <strong>de</strong>screveram<br />

que as crianças que recebiam quatro ou mais cursos <strong>de</strong> GC<br />

sistêmicos tiveram OR para fratura <strong>de</strong> 1,32 (A). 41 Doses <strong>de</strong><br />

prednisona ≥ 0,16 mg/kg/dia para crianças são consi<strong>de</strong>radas<br />

osteopenizantes (B). 42<br />

Diretrizes para prevenção e tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong><br />

Crianças com artrite idiopática juvenil utilizando dose <strong>de</strong><br />

0,62 mg/kg/dia <strong>de</strong> prednisona apresentam aumento do risco <strong>de</strong><br />

fratura vertebral em um período <strong>de</strong> 2,6 anos (B). 43 Esses estudos<br />

são aqueles que apoiam a recomendação <strong>de</strong> que, quando a<br />

criança e o adolescente já se encontram em uso <strong>de</strong> GC, <strong>de</strong>ve-se<br />

solicitar a DMO <strong>de</strong>vido ao risco <strong>de</strong> fratura (D). 37,44 Nos casos<br />

em que a criança iniciará o uso crônico <strong>de</strong> GC, com base nas<br />

recomendações <strong>de</strong> adultos ou nas recomendações feitas para<br />

crianças e adolescentes com baixa massa óssea secundária a<br />

doenças sistêmicas (D), 37 recomenda-se a realização <strong>de</strong> DMO<br />

basal antes do uso do GC. Nesse sentido, as regiões a serem<br />

avaliadas em crianças e adolescentes são a coluna lombar e<br />

o corpo inteiro (neste último, <strong>de</strong>ve-se excluir a cabeça) (D). 37<br />

A região dos quadris, <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong>, não tem<br />

preferência nessa análise. A região <strong>de</strong> fêmur proximal não<br />

apresenta curva padrão para crianças e adolescentes. O Z-Score<br />

<strong>de</strong>ve ser utilizado em crianças e adolescentes. A <strong>de</strong>scrição<br />

do T-Score não <strong>de</strong>ve aparecer nesse exame. Para crianças e<br />

adolescentes, <strong>de</strong>ve-se empregar o termo “baixa massa óssea<br />

para a ida<strong>de</strong> cronológica” quando o Z-Score for ≤ –2,0 DP.<br />

Os termos osteopenia e osteoporose não <strong>de</strong>vem ser utilizados<br />

na faixa etária pediátrica com base apenas no critério <strong>de</strong>nsitométrico<br />

(D). 37,44 Em crianças com baixa estatura ou atraso<br />

puberal, a análise <strong>de</strong>nsitométrica para o cálculo do Z-Score<br />

<strong>de</strong>ve ser fundamentada na ida<strong>de</strong> estatural ou na ida<strong>de</strong> óssea, e<br />

não na ida<strong>de</strong> cronológica.<br />

O diagnóstico <strong>de</strong> osteoporose na faixa etária pediátrica<br />

exige presença <strong>de</strong> história <strong>de</strong> fratura clínica (<strong>de</strong>fi nida como<br />

pelo menos uma fratura <strong>de</strong> osso longo dos membros inferiores,<br />

pelo menos duas fraturas nos membros superiores<br />

ou uma fratura compressiva vertebral) associada ao uso <strong>de</strong><br />

DMO (D). 37,44<br />

Recomendação<br />

A DMO <strong>de</strong>ve ser realizada em crianças e adolescentes<br />

que iniciarão GC (prevenção) nas doses <strong>de</strong> prednisona<br />

≥ 0,16 mg/kg/dia, já consi<strong>de</strong>rada osteopenizante (B), 42 e<br />

naqueles que já receberam quatro ou mais cursos <strong>de</strong> GC<br />

sistêmicos (A). 41<br />

A DMO <strong>de</strong>ve ser realizada em crianças e adolescentes que<br />

estão fazendo uso (tratamento) <strong>de</strong> GC, com base nas recomendações<br />

<strong>de</strong> adultos, antes do uso e do controle, avaliando<br />

a coluna lombar e o corpo inteiro (excluindo-se a cabeça). Os<br />

termos osteopenia e osteoporose não <strong>de</strong>vem ser utilizados na<br />

faixa etária pediátrica, e o escore utilizado <strong>de</strong>ve ser o Z-Score<br />

em vez do T-Score (D). 37 O monitoramento <strong>de</strong>ve ser feito com<br />

base no conteúdo mineral ósseo (CMO) e não na DMO, já que<br />

esta leva em consi<strong>de</strong>ração a área.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593 585


Pereira et al.<br />

11. O ALENDRONATO/RISEDRONATO DEVE SER<br />

UTILIZADO PARA A PREVENÇÃO DE OPIG?<br />

Os efeitos positivos dos bisfosfonatos na massa óssea <strong>de</strong> pacientes<br />

tratados com GC foram <strong>de</strong>monstrados em estudos clínicos<br />

(A). 45,46 Ao comparar o uso <strong>de</strong> alendronato (5 ou 10 mg/dia)<br />

com placebo (mantida a reposição <strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong> vitamina D),<br />

observa-se redução do RR <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> massa óssea na coluna<br />

lombar com uso <strong>de</strong> alendronato <strong>de</strong> 35%, benefi ciando uma em<br />

cada três pessoas tratadas por 48 semanas (NNT = 3, com 95%<br />

IC; 2–4). Entretanto, não há benefício na redução <strong>de</strong> fraturas<br />

vertebrais, chegando a NNT = 83 (mas com 95% IC variando<br />

<strong>de</strong> 23 até o infi nito) (A). 45 O uso <strong>de</strong> alendronato 10 mg/dia por<br />

72 semanas foi comparado ao uso <strong>de</strong> alfacalcidol 1 µg/dia<br />

e <strong>de</strong>monstrou aumento da massa óssea (ou redução do risco<br />

<strong>de</strong> perda <strong>de</strong> massa óssea), porém sem redução <strong>de</strong> fraturas<br />

vertebrais, chegando a NNT = 20, mas com 95% IC <strong>de</strong> 9 até<br />

infi nito (A). 47<br />

O uso <strong>de</strong> risedronato 5 mg/dia por 48 semanas (mantida<br />

reposição <strong>de</strong> cálcio) levou à redução significativa<br />

do RR <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> massa óssea na coluna lombar em<br />

homens e em mulheres pós-menopausadas, mas não nas<br />

pré-menopausadas. Houve redução <strong>de</strong> fraturas vertebrais,<br />

com benefício <strong>de</strong> uma a cada nove pessoas tratadas por<br />

48 semanas (NNT = 9, com 95% IC; 5–55). Na dose <strong>de</strong><br />

2,5 mg/dia não houve benefício. Houve perda <strong>de</strong> 32% no<br />

segmento estudado, mas a avaliação foi feita por intenção<br />

<strong>de</strong> tratamento (A). 46<br />

Os efeitos <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong> drogas na redução <strong>de</strong> fraturas vertebrais<br />

também foram <strong>de</strong>monstrados em estudos controlados.<br />

Utilizando risedronato 5 mg/dia (mantido uso <strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong><br />

vitamina D) houve redução na incidência <strong>de</strong> fraturas vertebrais<br />

após um ano <strong>de</strong> tratamento (A). 48<br />

Não existem trabalhos realizados com ibandronato em<br />

OPIG.<br />

Recomendação<br />

O uso <strong>de</strong> alendronato (5 ou 10 mg/dia) aumenta a massa óssea,<br />

com benefício <strong>de</strong> uma a cada três pessoas tratadas por 48<br />

semanas (A), 45 porém não há melhora na redução <strong>de</strong> fraturas<br />

<strong>de</strong> vértebras (A). 45,47<br />

O uso <strong>de</strong> risedronato 5 mg/dia (não na dose <strong>de</strong> 2,5 mg/dia)<br />

aumenta a massa óssea e reduz fraturas <strong>de</strong> vértebras em até<br />

70% dos casos, com benefício <strong>de</strong> uma a cada nove pessoas<br />

tratadas por 48 semanas (A). 46<br />

12. O ALENDRONATO/RISEDRONATO DEVE<br />

SER UTILIZADO PARA A PREVENÇÃO E O<br />

TRATAMENTO DE OPIG EM HOMENS?<br />

Os efeitos benéfi cos do alendronato em homens em uso <strong>de</strong> GC<br />

foram avaliados em três subgrupos <strong>de</strong> indivíduos: placebo,<br />

5 mg <strong>de</strong> alendronato para prevenção e 10 mg para tratamento.<br />

Após 48 semanas, houve aumento da DMO na coluna lombar<br />

<strong>de</strong> 3% (10 mg) e <strong>de</strong> 1,9% (5 mg), comparado à diminuição<br />

observada no grupo-placebo. No fêmur <strong>de</strong>monstrou-se aumento<br />

<strong>de</strong> 1% em ambos os grupos que usaram alendronato, e<br />

diminuição da DMO no grupo-placebo. Em relação às fraturas,<br />

houve redução não signifi cativa nos dois grupos que usaram<br />

alendronato (1,4% e 2,1%) (A). 45<br />

O uso <strong>de</strong> alendronato nas doses <strong>de</strong> 5 ou 10 mg/dia por dois<br />

anos em homens também divididos em três grupos <strong>de</strong>monstrou<br />

aumento <strong>de</strong> massa óssea <strong>de</strong> 4,29% (5 mg) e 6,29% (10 mg)<br />

na coluna lombar. Em relação às fraturas, houve ocorrência<br />

<strong>de</strong> 6,8% no grupo-placebo e <strong>de</strong> 0,7% nos dois grupos com<br />

alendronato, mas essa redução não foi signifi cativa. Mesmo<br />

em uso <strong>de</strong> alendronato 5 ou 10 mg/dia por até dois anos, não<br />

houve benefício signifi cativo para redução do risco <strong>de</strong> fraturas,<br />

com NNT = 16, mas com 95% IC; 8 até infi nito (B). 49<br />

Em relação ao risedronato, homens em uso <strong>de</strong> GC foram<br />

avaliados por um ano e divididos em três grupos: placebo, 2,5 mg<br />

<strong>de</strong> risedronato e 5 mg <strong>de</strong> risedronato. Observou-se aumento da<br />

DMO na coluna lombar <strong>de</strong> 2,1% (2,5 mg) e <strong>de</strong> 4,8% (5 mg)<br />

em comparação à diminuição no grupo-placebo. No fêmur,<br />

percebeu-se aumento da DMO <strong>de</strong> 2,1% somente no grupo que<br />

usou 5 mg <strong>de</strong> risedronato. No grupo que usou 2,5 mg houve estabilização<br />

da massa óssea. De forma interessante, houve redução<br />

signifi cativa <strong>de</strong> 82,4% (95% IC; 36,6%–95,1%) no número <strong>de</strong><br />

fraturas dos grupos em uso <strong>de</strong> risedronato 5 mg/dia por um ano<br />

(A). 50 Estudo utilizando esse mesmo bisfosfonato por 20 meses<br />

em homens distribuídos em três grupos idênticos ao estudo anterior<br />

levou à estabilização da massa óssea em ambos os grupos<br />

da intervenção, além <strong>de</strong> diminuição no grupo-placebo, tanto na<br />

coluna quanto no fêmur. Em relação a fraturas vertebrais e não<br />

vertebrais, não houve redução signifi cativa (A). 51<br />

Recomendação<br />

O alendronato 5 ou 10 mg/dia po<strong>de</strong> ser utilizado para prevenção<br />

e tratamento <strong>de</strong> OPIG em homens, com benefício <strong>de</strong>monstrado<br />

na redução da massa óssea, mas sem redução <strong>de</strong> fraturas<br />

vertebrais (B). 49<br />

586 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593


O uso <strong>de</strong> risedronato 5 mg/dia aumenta a massa óssea e<br />

reduz fraturas <strong>de</strong> vértebras em até 82,4% dos casos na população<br />

masculina (A). 50 Os bisfosfonatos não apresentam<br />

benefícios para fraturas não vertebrais, principalmente para<br />

fraturas <strong>de</strong> rádio (A). 38<br />

13. O ÁCIDO ZOLEDRÔNICO PODE SER UTILIZADO<br />

PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE OPIG?<br />

O ácido zoledrônico é um bisfosfonato que, quando administrado<br />

por infusão intravenosa anual, aumenta a DMO e reduz<br />

a incidência <strong>de</strong> fraturas em mulheres na pós-menopausa após<br />

o primeiro ano <strong>de</strong> tratamento, com NNT = 18 (95% IC; 15–22)<br />

para fraturas vertebrais e NNT = 100 (95% IC; 63–245) para<br />

fraturas no quadril (A). 51 Essa medicação, se aplicada até 90<br />

dias <strong>de</strong>pois da cirurgia reparadora <strong>de</strong> fratura traumática <strong>de</strong><br />

baixo impacto no quadril, reduz a mortalida<strong>de</strong> em pacientes<br />

com 50 anos ou mais (NNT = 26 com 95% IC; 15–92), além<br />

<strong>de</strong> reduzir o risco <strong>de</strong> novas fraturas (NNT = 22, com 95% IC;<br />

14–54) (A). <strong>52</strong> Porém, esses resultados não po<strong>de</strong>m ser transferidos<br />

para a população-alvo <strong>de</strong>sta diretriz.<br />

Comparou-se o ácido zoledrônico 5 mg/dose única com<br />

risedronato 5 mg/dia em indivíduos em uso <strong>de</strong> pelo menos<br />

7,5 mg/dia <strong>de</strong> prednisolona ou equivalente por pelo menos 12<br />

meses, mantendo ambos os grupos com reposição <strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong><br />

vitamina D. A infusão endovenosa única <strong>de</strong> ácido zoledrônico<br />

foi superior ao risedronato tanto para a prevenção, em que foi<br />

1,96% melhor (95% IC; 1,04–2,88, P = 0,0001), quanto para o<br />

tratamento da OPIG, sendo 1,36% melhor (95% IC; 0,67–2,05,<br />

P = 0,0001). Após seis e 12 meses <strong>de</strong> tratamento houve aumento<br />

signifi cativo da DMO na coluna lombar e no quadril, tanto na cabeça<br />

femoral quanto no trocânter, porém sem redução signifi cativa <strong>de</strong><br />

novas fraturas. O ácido zoledrônico causou mais efeitos adversos<br />

que o risedronato, especialmente três dias após a infusão, incluindo<br />

sintomas <strong>de</strong> infl uenza-like (P = 0,0038) e pirexia (P = 0,0016).<br />

Efeitos adversos graves foram similares nos dois grupos (A). 53<br />

Como essa medicação é empregada uma vez ao ano, ela tem<br />

facilida<strong>de</strong> posológica e, <strong>de</strong>ssa maneira, aumenta a a<strong>de</strong>rência,<br />

principalmente naqueles pacientes que fazem uso <strong>de</strong> polifarmácia.<br />

Já foi <strong>de</strong>monstrado que a melhora da a<strong>de</strong>rência está<br />

associada à redução do risco <strong>de</strong> fraturas (B). 54 Essa medicação é<br />

uma alternativa para ser utilizada nos indivíduos com distúrbios<br />

gastrintestinais que difi cultem o uso <strong>de</strong> bisfosfonatos orais.<br />

Recomendação<br />

O ácido zoledrônico na dose <strong>de</strong> 5 mg em infusão endovenosa<br />

única po<strong>de</strong> ser utilizado para prevenção e tratamento da OPIG,<br />

com maior aumento da DMO tanto na coluna lombar quanto<br />

Diretrizes para prevenção e tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong><br />

no quadril quando comparado ao risedronato. Esse aumento,<br />

porém, não <strong>de</strong>monstrou redução signifi cativa <strong>de</strong> novas fraturas<br />

(A). 53 A facilida<strong>de</strong> posológica aumenta a a<strong>de</strong>são ao tratamento,<br />

e isso se associa à redução <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> fraturas (B). 54 Po<strong>de</strong> ser<br />

uma alternativa para indivíduos com distúrbios gastrintestinais<br />

e difi culda<strong>de</strong>s no uso <strong>de</strong> bisfosfonatos orais.<br />

14. A TERIPARATIDA DEVE SER UTILIZADA<br />

PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE OPIG?<br />

Teriparatida, uma forma do hormônio das paratireoi<strong>de</strong>s obtida<br />

por técnica <strong>de</strong> DNA recombinante (PTH 1–34), é um agente<br />

anabólico que aumenta a função e reduz a apoptose dos osteoblastos<br />

e osteócitos, além <strong>de</strong> aumentar a diferenciação dos<br />

pré-osteoblastos em osteoblastos (D). 55,56 Por isso, em termos<br />

<strong>de</strong> fi siopatologia, a teriparatida é a droga i<strong>de</strong>al para o tratamento<br />

da OPIG, pois age estimulando a formação óssea, ação<br />

contrária àquela observada pelos GC nesse tecido.<br />

Teriparatida na dose <strong>de</strong> 20 µg/dia subcutânea aumenta mais<br />

a DMO na coluna lombar que o alendronato via oral na dose <strong>de</strong><br />

10 mg/dia (P < 0,001). Ao fi nal <strong>de</strong> 18 meses, o grupo tratado<br />

com teriparatida apresentou ganho signifi cativamente maior da<br />

DMO na coluna (7,2%) que o grupo que recebeu alendronato<br />

(3,4%). Além disso, o grupo que recebeu teriparatida evoluiu<br />

com menor número <strong>de</strong> fraturas vertebrais que o grupo tratado<br />

com alendronato, tanto após 18 meses (NNT = 24, com 95% IC;<br />

14–83) como após 36 meses <strong>de</strong> uso do medicamento (NNT = 21,<br />

com 95% IC; 12–89). O número <strong>de</strong> fraturas não vertebrais foi<br />

semelhante nos dois grupos (P = 0,36), tanto aos 18 meses<br />

como após 36 meses (P = 0,84) (A). 57,58 Comparando mulheres<br />

pós-menopausa, pré-menopausa e homens, o aumento da DMO na<br />

coluna foi signifi cativamente maior nas mulheres pós-menopausa<br />

(7,8 vs. 3,7%, P < 0,001) nas mulheres na pré-menopausa (7,0 vs.<br />

0,7%, P < 0,001) e homens (7,3 vs. 3,7%, P = 0,03) que receberam<br />

teriparatida comparado com alendronato (A). 59<br />

Fraturas vertebrais radiológicas ocorreram em apenas uma<br />

paciente na pós-menopausa com teriparatida e em 10 pacientes<br />

com alendronato (seis mulheres em pós-menopausa e quatro<br />

homens) (P = 0,004). Fraturas não vertebrais ocorreram em 12<br />

pacientes com teriparatida (nove mulheres na pós-menopausa,<br />

duas na pré-menopausa e um homem) e em oito pacientes com<br />

alendronato (seis mulheres na pós-menopausa e dois homens)<br />

(P = 0,36) (A). 59<br />

Recomendação<br />

A teriparatida 20 µg/dia via subcutânea <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada<br />

tanto para a prevenção como para o tratamento da OPIG, com<br />

aumento signifi cativo da DMO e redução <strong>de</strong> fraturas vertebrais,<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593 587


Pereira et al.<br />

porém sem efeito comprovado nas fraturas não vertebrais<br />

(A). 57 Devido ao elevado custo da medicação, essa droga é<br />

recomendada na falha (nova fratura ou perda <strong>de</strong> massa óssea na<br />

vigência <strong>de</strong> bisfosfonato) ou contraindicação dos bisfosfonatos.<br />

15. QUE VARIÁVEIS INDICAM<br />

PREVENÇÃO/TRATAMENTO DE OPIG EM<br />

MULHERES NA PRÉ-MENOPAUSA?<br />

As recomendações que orientam o tratamento da OPIG com<br />

base na DMO em mulheres na pós-menopausa geralmente não<br />

se aplicam às mulheres na pré-menopausa, pois a relação entre<br />

massa óssea e fratura nas mulheres na pré-menopausa não é a<br />

mesma que nas mulheres na pós-menopausa. Outro aspecto a<br />

consi<strong>de</strong>rar é o fato <strong>de</strong> que fraturas po<strong>de</strong>m ocorrer com DMO<br />

mais elevada em mulheres na pré-menopausa (D). 60<br />

Além disso, ciclos menstruais irregulares, se<strong>de</strong>ntarismo,<br />

<strong>de</strong>fi ciência e/ou insufi ciência <strong>de</strong> vitamina D e doença infl amatória<br />

<strong>de</strong> base são outros fatores relevantes que <strong>de</strong>vem ser<br />

sempre consi<strong>de</strong>rados na avaliação das pacientes com OPIG na<br />

pré-menopausa. As <strong>de</strong>fi ciências hormonais <strong>de</strong>vem ser i<strong>de</strong>ntifi -<br />

cadas e corrigidas, especialmente em mulheres com amenorreia<br />

(D). 61 Entretanto, recomenda-se cuidado nessa população, pelo<br />

risco <strong>de</strong> gestação, pois esses medicamentos po<strong>de</strong>m atravessar<br />

a placenta e afetar o feto, e os efeitos pelo uso prolongado não<br />

estão bem-estabelecidos nessa população (veja pergunta 18).<br />

Há poucos estudos sobre prevenção <strong>de</strong> osteoporose em<br />

mulheres na pré-menopausa (A), 62 especialmente em OPIG. Os<br />

poucos trabalhos existentes estudaram populações pequenas e<br />

com seguimento <strong>de</strong> 18 meses, <strong>de</strong>monstrando benefício no uso<br />

<strong>de</strong> alendrolato associado ao alfacalcidol (B). 63<br />

Ao comparar o uso por 18 meses <strong>de</strong> teriparatida 20 µg/dia<br />

com alendronato 10 mg/dia em mulheres na pré-menopausa,<br />

observou-se signifi cativo aumento da DMO em uso <strong>de</strong> teriparatida<br />

(7% vs. 0,7%, com P < 0,001) (A). 59 Alguns especialistas<br />

recomendam para essas pacientes a opção por bisfosfonatos<br />

<strong>de</strong> vida média mais curta, como risedronato, mas não existem<br />

trabalhos que comprovem tal recomendação.<br />

As variáveis que <strong>de</strong>vem ser levadas em conta em mulheres<br />

na pré-menopausa são: história prévia <strong>de</strong> fratura por fragilida<strong>de</strong>,<br />

risco <strong>de</strong> engravidar, dose e tempo <strong>de</strong> GC. As recomendações<br />

para prevenção e tratamento da OPIG do ACR em relação às<br />

mulheres em pré-menopausa são as seguintes (D): 12<br />

• Mulheres na pré-menopausa (sem risco <strong>de</strong> engravidar)<br />

e com história <strong>de</strong> fratura por fragilida<strong>de</strong>, com duração<br />

<strong>de</strong> terapia com GC entre um e três meses: bisfosfonatos<br />

orais (alendronato e risedronato) quando a dose <strong>de</strong> GC<br />

≥ 5 mg/dia ou ácido zoledrônico quando prednisona<br />

≥ 7,5 mg/dia. Se a duração <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> GC for ≥ 3 meses,<br />

tanto bisfosfonatos (alendronato, risedronato e ácido<br />

zoledrônico) quanto teriparatida po<strong>de</strong>m ser utilizados;<br />

• Mulheres em pré-menopausa (com risco <strong>de</strong> engravidar)<br />

e fratura por fragilida<strong>de</strong> prévia, com duração <strong>de</strong> GC ≥ 3<br />

meses: bisfosfonatos orais (alendronato e risedronato) ou<br />

teriparatida quando a dose <strong>de</strong> GC for ≥ 7,5 mg/dia.<br />

Recomendação<br />

Intervenções não farmacológicas, como manter ativida<strong>de</strong> física<br />

regular, evitar tabaco e álcool <strong>de</strong>vem ser recomendadas, mesmo<br />

ainda sem evidência comprovada para OPIG. Suplementos <strong>de</strong><br />

cálcio e vitamina D <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>vido à diminuição<br />

da absorção <strong>de</strong> cálcio intestinal pelo uso <strong>de</strong> GC (D). 10 Há<br />

poucos estudos sobre tratamento <strong>de</strong> OPIG em mulheres na pré-<br />

menopausa, todos com populações pequenas, com benefício<br />

no uso <strong>de</strong> teriparatida (A). 59 Deve-se ter cuidado especial no<br />

uso <strong>de</strong> bisfosfonatos para mulheres com risco <strong>de</strong> engravidar.<br />

16. QUANDO INDICAR O USO DE<br />

BISFOSFONATOS NA PREVENÇÃO<br />

E NO TRATAMENTO DA OPIG EM<br />

MULHERES NA PRÉ-MENOPAUSA?<br />

Existe um corpo <strong>de</strong> evidências publicadas em relação à efi cácia<br />

e à segurança do uso dos bisfosfonatos na prevenção e no tratamento<br />

da OPIG, porém poucas mulheres na pré-menopausa foram<br />

incluídas nos ensaios clínicos. Os gran<strong>de</strong>s ensaios clínicos<br />

<strong>de</strong> prevenção da OPIG com uso <strong>de</strong> alendronato e risedronato<br />

<strong>de</strong>monstraram que a efi cácia <strong>de</strong>sses bisfosfonatos na prevenção<br />

da perda óssea, nas mulheres na pré-menopausa, é similar<br />

quando comparada à população total dos estudos (A). 45,46,64<br />

Em estudo recente, o ácido zoledrônico também <strong>de</strong>monstrou<br />

efi cácia na prevenção e no tratamento da OPIG, quando<br />

comparado ao risedronato. Neste estudo, além <strong>de</strong> homens,<br />

foram incluídas 185 mulheres (67 na pré-menopausa) no grupo<br />

do ácido zoledrônico e 183 mulheres (66 na pré-menopausa)<br />

no grupo do risedronato. Não houve diferença signifi cativa<br />

<strong>de</strong> resposta entre as mulheres em pré- e pós-menopausa (A). 53<br />

Recomendação<br />

Embora não existam ensaios clínicos com bisfosfonatos <strong>de</strong>senhados<br />

especifi camente para mulheres na pré-menopausa como<br />

objetivo primário do tratamento, há uma análise <strong>de</strong> subgrupos<br />

que sugere o uso dos bisfosfonatos na prevenção e no tratamento<br />

<strong>de</strong>ssas pacientes (A), 53 porém <strong>de</strong>ve-se ter cuidado em<br />

mulheres com risco <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z.<br />

588 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593


17. QUANDO INDICAR O USO DA TERIPARATIDA<br />

NA PREVENÇÃO E NO TRATAMENTO DA<br />

OPIG EM MULHERES NA PRÉ-MENOPAUSA?<br />

Em ensaio clínico recente foram observados benefícios da teriparatida<br />

na prevenção da OPIG em mulheres na pré-menopausa<br />

e na pós-menopausa, quando comparada ao alendronato (A). 57<br />

Comparando-se os resultados terapêuticos da teriparatida com<br />

o alendronato em pacientes com OPIG, o aumento da DMO<br />

na coluna lombar foi signifi cativamente maior no grupo teriparatida,<br />

tanto para mulheres na pré-menopausa (7,0 vs. 0,7%)<br />

quanto nas mulheres na pós-menopausa (7,8 vs. 3,7%). Nas<br />

mulheres na pré-menopausa as fraturas foram infrequentes<br />

tanto para o grupo da teriparatida quanto para o grupo do<br />

alendronato (A). 59<br />

Recomendação<br />

Não existem ensaios clínicos <strong>de</strong>senhados com o objetivo<br />

primário <strong>de</strong> avaliar a ação da teriparatida em mulheres na<br />

pré-menopausa para prevenção e tratamento da OPIG, porém<br />

análises <strong>de</strong> subgrupos <strong>de</strong> pacientes tratadas nessas condições<br />

<strong>de</strong>monstraram que as fraturas são infrequentes tanto para o<br />

grupo da teriparatida quanto para o grupo do alendronato (A). 59<br />

18. OS BISFOSFONATOS PODEM TRAZER<br />

MALEFÍCIOS NA GESTAÇÃO?<br />

Estudos em animais confi rmaram a passagem transplacentária<br />

dos bisfosfonatos (alendronato). Sintomas maternos como<br />

tremores, letargia, dispneia e falência muscular uterina no<br />

parto foram atribuídos à hipocalcemia observada no sangue<br />

materno <strong>de</strong>sses animais no fi nal da gestação (D). 65 Baixo peso<br />

e mortes fetais também foram observados (D). 66 Nos fetos,<br />

a redução do comprimento e a área seccional da diáfi se dos<br />

ossos longos também foram signifi cativas quando comparadas<br />

ao grupo-controle (D). 65<br />

Em humanos, porém, não existe evidência científica<br />

consistente sobre os riscos da utilização <strong>de</strong>ssas drogas na<br />

gestação. Séries <strong>de</strong> casos relatados <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> bisfosfonatos na<br />

gestação não encontraram malformações congênitas (C). 67,68<br />

Entretanto, relatos <strong>de</strong> pacientes que utilizaram pamidronato e<br />

ácido zoledrônico, em dois casos <strong>de</strong> hipercalcemia <strong>de</strong> malignida<strong>de</strong><br />

(C) 69–71 e um caso <strong>de</strong> mãe com osteogênese imperfeita,<br />

reportaram hipocalcemia fetal assintomática com reversão<br />

espontânea em até 11 dias <strong>de</strong> vida (C). 71 Especula-se que<br />

esse evento po<strong>de</strong>ria ser um efeito direto do bisfosfonato, ou<br />

supressão do PTH fetal pela hipercalcemia materna nos casos<br />

<strong>de</strong> neoplasias.<br />

Diretrizes para prevenção e tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoi<strong>de</strong><br />

Em mulheres expostas a bisfosfonatos previamente à<br />

gestação não foram observados eventos adversos (C). 67,68 Um<br />

estudo que avaliou 24 mullheres que utilizaram alendronato<br />

até três semanas antes da gravi<strong>de</strong>z, no entanto, evi<strong>de</strong>nciou<br />

maior prevalência <strong>de</strong> baixo peso fetal, prematurida<strong>de</strong> e maior<br />

taxa <strong>de</strong> abortos espontâneos que no grupo-controle (C). 68<br />

Entretanto, esses resultados são altamente questionáveis, porque<br />

as mulheres do estudo apresentavam doenças autoimunes<br />

e 13 <strong>de</strong>las utilizavam GC no momento da gestação, fatores que<br />

sabidamente estão associados à ocorrência <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sfechos<br />

gestacionais <strong>de</strong>sfavoráveis.<br />

Mulheres expostas aos bisfosfonatos, antes ou durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z, não apesentaram quaisquer anormalida<strong>de</strong>s ósseas<br />

ou outras malformações congênitas nos bebês (D). 72 De forma<br />

similar, parece que o uso <strong>de</strong> bisfosfonatos, antes da concepção<br />

e no primeiro trimestre da gestação, po<strong>de</strong> não representar risco<br />

fetal substancial (B). 73<br />

Recomendação<br />

Dada a ausência <strong>de</strong> evidências acerca da segurança dos bisfosfonatos<br />

na gestação, essas drogas <strong>de</strong>vem ser utilizadas somente<br />

em casos específi cos e com cautela.<br />

19. OS BISFOSFONATOS PODEM TRAZER<br />

MALEFÍCIOS DURANTE A LACTAÇÃO?<br />

Em relação à segurança dos bisfosfonatos na lactação, existem<br />

ainda menos estudos e relatos <strong>de</strong> casos. Embora grave hipocalcemia<br />

materna tenha sido observada em bovinos (D), 74 não há<br />

relatos semelhantes em humanos. Um relato <strong>de</strong> caso na literatura<br />

<strong>de</strong> uma mulher com síndrome dolorosa regional complexa,<br />

que utilizou pamidronato IV por seis meses durante a lactação,<br />

sugere que a passagem da droga para o leite materno é <strong>de</strong>sprezível,<br />

sendo, portanto, uma opção segura nesses casos (C). 67 No<br />

entanto, não há evidência consistente confi rmando tal achado.<br />

Recomendação<br />

Atualmente, existe pouca evidência para a segurança dos<br />

bisfosfonatos em ida<strong>de</strong> fértil, gravi<strong>de</strong>z e lactação. Quando<br />

confrontado com essas situações, o médico <strong>de</strong>ve pesar os riscos<br />

e benefícios do uso terapêutico <strong>de</strong> bisfosfonatos.<br />

20. QUANTO TEMPO ANTES DA GRAVIDEZ OS<br />

BISFOSFONATOS DEVEM SER SUSPENSOS?<br />

Não há estudos que respondam a essa questão a<strong>de</strong>quadamente.<br />

Nos relatos <strong>de</strong> casos não foram referidos efeitos <strong>de</strong>letérios em<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593 589


Pereira et al.<br />

casos <strong>de</strong> mulheres que interromperam o uso <strong>de</strong>ssas drogas no<br />

momento do diagnóstico da gestação (D). 65 Um autor sugere<br />

que talvez 6–12 meses antes da gravi<strong>de</strong>z seria tempo <strong>de</strong> suspensão<br />

mais seguro.<br />

Recomendação<br />

Na ausência <strong>de</strong> estudos que estabeleçam um período <strong>de</strong> tempo<br />

seguro para a suspensão dos bisfosfonatos, seu uso <strong>de</strong>ve ser<br />

interrompido o mais precocemente possível antes da gravi<strong>de</strong>z.<br />

21. QUANDO INDICAR O USO DE<br />

BISFOSFONATOS PARA PREVENÇÃO E<br />

TRATAMENTO DE OPIG EM CRIANÇAS?<br />

Não há um nível <strong>de</strong> Z-Score que indique iniciar cálcio e vitamina D<br />

na OPIG. Essa reposição <strong>de</strong>ve ser feita no início da corticoterapia.<br />

O valor <strong>de</strong> Z-Score que indica bisfosfonatos é ≤ –2,0 DP (D). 37,44,75<br />

O cálcio isolado não tem efeito no tratamento da OPIG (A). 62<br />

O uso <strong>de</strong> cálcio e <strong>de</strong> vitamina D, entretanto, é indicado nesses<br />

casos (B) 76 (D). 77<br />

Os bisfosfonatos não estão liberados para crianças, embora<br />

sejam usados na prática diária em centros especializados.<br />

Anticoncepção é indicada em meninas em ida<strong>de</strong> fértil. Há os<br />

que acreditam que os bisfosfonatos têm benefício em relação ao<br />

risco (B) 76,78–81 (D). 82 Esses medicamentos não são usados para a<br />

prevenção <strong>de</strong> OPIG em crianças e em adolescentes (B). 76 Suas<br />

indicações em crianças e em adolescentes para tratamento da<br />

OPIG são: falha terapêutica com doses máximas <strong>de</strong> vitamina<br />

D e cálcio, intolerância ou contraindicação a essas medicações<br />

e presença <strong>de</strong> fratura (B) 76,78–81 (D). 82<br />

Recomendação<br />

O tratamento <strong>de</strong> OPIG em crianças <strong>de</strong>ve ser feito com uso <strong>de</strong><br />

cálcio e <strong>de</strong> vitamina D (B). 76 Na presença <strong>de</strong> falha terapêutica<br />

com doses máximas <strong>de</strong> vitamina D e cálcio, intolerância ou<br />

contraindicação a essas medicações e presença <strong>de</strong> fratura,<br />

<strong>de</strong>ve-se utilizar bisfosfonatos (B), 78 com especial atenção à<br />

anticoncepção para as meninas.<br />

22. QUANDO INDICAR O USO DE TERIPARATIDA<br />

PARA TRATAMENTO DE OPIG EM CRIANÇAS?<br />

Não há evidência para indicação <strong>de</strong> teriparatida para o tratamento<br />

<strong>de</strong> OPIG em crianças e adolescentes. Estudos <strong>de</strong>monstram<br />

risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tumores ósseos em<br />

mo<strong>de</strong>los animais tratados com essa medicação. Portanto, na<br />

faixa etária pediátrica, com a cartilagem <strong>de</strong> crescimento ainda<br />

aberta, po<strong>de</strong>ria haver risco potencial aumentado, sendo então<br />

contraindicada nesses pacientes.<br />

Recomendação<br />

Recomenda-se a não utilização <strong>de</strong> teriparatida para o tratamento<br />

<strong>de</strong> OPIG em crianças e em adolescentes.<br />

CONFLITO DE INTERESSE<br />

Pereira RMR: Recebeu fi nanciamento para pesquisa clínica<br />

patrocinada pelas empresas Novartis, Ely Lilly e Servier.<br />

Zerbini CAF: Recebeu reembolso por comparecimento em<br />

simpósio patrocinado pelas empresas Pfi zer, Sanofi -Aventis e<br />

Servier; recebeu honorários por participação em conferências<br />

ou palestras patrocinadas pelas empresas Pfi zer, Sanofi -Aventis,<br />

Servier e Roche; recebeu fi nanciamento para pesquisa patrocinada<br />

pelas empresas Pfi zer, Sanofi -Aventis, Servier, Roche, MSD,<br />

Ely Lilly, Amgen, Novartis, Aché; recebeu honorários para<br />

consultoria das empresas Pfi zer, Sanofi -Aventis, Servier e MSD.<br />

Danowski J: Recebeu honorários por participação em palestra<br />

patrocinada pelas empresas Sanofi -Aventis, Ely Lilly e<br />

Novartis; recebeu honorários para pesquisa patrocinada pelas<br />

empresas Sanofi -Aventis, Ely Lilly e Novartis; recebeu honorários<br />

por organizar ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />

Terreri MT: Recebeu reembolso por participação em congressos<br />

e conferências patrocinados pelas empresas Pfi zer e Roche;<br />

recebeu honorários para organizar programas educativos patrocinados<br />

pelas empresas Eurofarma e Novartis.<br />

Weingril P: Recebeu honorários por apresentação, conferência<br />

ou palestra patrocinadas pela empresa Servier; é membro do<br />

Advisory Board da empresa MSD; recebeu honorários para<br />

participar <strong>de</strong> congressos patrocinados pelas empresas Abbott,<br />

Pfi zer, Servier e Roche.<br />

Plapler PG: Recebeu honorários por participação em eventos,<br />

por ministrar aulas, realizar pesquisa clínica, participar <strong>de</strong><br />

comitê consultor e realizar redação <strong>de</strong> textos científi cos patrocinados<br />

pelas empresas Aché, Ely Lilly, SEM, GSK, MSD,<br />

Novartis, Sanofi -Aventis, Servier e Zodiac.<br />

Radominski S: Recebeu honorários por participação em conferências<br />

ou palestras patrocinadas pelas empresas Novartis,<br />

Sanofi -Aventis, Ely Lilly e Roche.<br />

Szejnfeld VL: Recebeu reembolso por comparecimento em<br />

simpósio patrocinado pelas empresas Sanofi -Aventis e Novartis;<br />

recebeu honorários por participação em conferências ou palestras<br />

patrocinadas pelas empresas Sanofi -Aventis e Novartis; recebeu<br />

honorários para consultoria da empresa Sanofi -Aventis.<br />

Os <strong>de</strong>mais autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong><br />

interesse.<br />

590 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593


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2. Doutor em <strong>Reumatologia</strong>, FMUSP; Médico do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Hospital Universitário, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia – UFBA<br />

3. Doutora em <strong>Reumatologia</strong>, FMUSP; Professora Orientadora do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília – UnB<br />

4. Doutor em <strong>Reumatologia</strong>, FMUSP; Médico-Assistente do Hospital Heliópolis<br />

5. Médico, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina – UFSC; Médico Colaborador da <strong>Reumatologia</strong> do Hospital das Clínicas, HC-FMUSP<br />

6. Doutora; Associação Médica <strong>de</strong> Brasília – AMBr<br />

7. Doutor em <strong>Reumatologia</strong>; Hospital Israelita Albert Sabin<br />

8. Doutor em Clínica Médica, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas – Unicamp; Professor Titular, Unicamp; Professor Titular, Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica<br />

<strong>de</strong> Campinas – PUC-Campinas<br />

9. Doutora em <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro – UFRJ<br />

10. Doutora em <strong>Reumatologia</strong>, FMUSP; Médica-Assistente do Hospital Geral <strong>de</strong> Fortaleza; Professora-Assistente <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza – Unifor<br />

11. Doutora em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria, FMUSP; Doutora em Pediatria, Albert-Ludwigs Universität Freiburg; Professora-Adjunta da Disciplina<br />

<strong>de</strong> Alergia, Imunologia Clínica e <strong>Reumatologia</strong>, Departamento <strong>de</strong> Pediatria, FMUSP<br />

12. Doutora em Ortopedia e Traumatologia, FMUSP; Médica-Assistente do Instituto <strong>de</strong> Ortopedia e Traumatologia, HC-FMUSP<br />

13. Doutor em <strong>Reumatologia</strong>, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Joinville – Univille<br />

14. Doutora em Medicina, Departamento <strong>de</strong> Ortopedia e Traumatologia, FMUSP; Diretora da Divisão <strong>de</strong> Medicina Física do Instituto <strong>de</strong> Ortopedia e Traumatologia,<br />

HC-FMUSP; Médica do Hospital do Coração – HCor<br />

15. Doutor em <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná – UFPR<br />

16. Doutora em <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre – UFCSPA<br />

17. Doutora em <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo – Unifesp; Professora-Adjunta, Unifesp<br />

18. MD; Associação Médica <strong>Brasileira</strong> – AMB<br />

Correspondência para: Rosa M. R. Pereira. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo - <strong>Reumatologia</strong>. Av. Dr. Arnaldo 455, 3 andar, sala 3105.<br />

São Paulo, SP, Brasil. CEP: 01246-903. E-mail: rosamariarp@yahoo.com<br />

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Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):569-593 593


ARTIGO DE REVISÃO<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Manifestações musculoesqueléticas<br />

em diabetes mellitus<br />

Marilia Barreto Gameiro Silva 1 , Thelma Larocca Skare 2<br />

O diabetes mellitus está associado a uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestações musculoesqueléticas. Muitas <strong>de</strong>las são<br />

subclínicas e correlacionadas com tempo <strong>de</strong> evolução e controle ina<strong>de</strong>quado da doença, e <strong>de</strong>vem ser reconhecidas e<br />

a<strong>de</strong>quadamente tratadas, pois sua abordagem melhora a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses pacientes. Nesta revisão são discutidas<br />

as principais manifestações musculoesqueléticas encontradas em diabetes mellitus.<br />

Palavras-chave: diabetes mellitus, contratura <strong>de</strong> Dupuytren, <strong>de</strong>do em gatilho, bursite, síndrome do túnel carpal.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

O diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica crônica<br />

com alta morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> 1 que vem se tornando um<br />

problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. Em 1985, a prevalência mundial <strong>de</strong><br />

DM era <strong>de</strong> aproximadamente 30 milhões <strong>de</strong> casos, aumentando<br />

para 177 milhões em 2000. 2 Com base nas tendências atuais,<br />

mais <strong>de</strong> 360 milhões <strong>de</strong> pessoas terão a doença por volta do<br />

ano <strong>de</strong> 2030. 2<br />

O DM tipo 1 resulta <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>fi ciência completa <strong>de</strong> insulina<br />

por <strong>de</strong>struição autoimune das células β produtoras <strong>de</strong><br />

insulina no pâncreas; já no DM tipo 2, que é a maioria dos<br />

casos <strong>de</strong> DM (em torno <strong>de</strong> 95%), existe resistência à insulina,<br />

produção hepática excessiva <strong>de</strong> glicose e metabolismo anormal<br />

das gorduras, resultando em uma relativa <strong>de</strong>fi ciência <strong>de</strong>sse<br />

hormônio. 2,3 A prevalência <strong>de</strong> DM tipo 2 é a que mais aumenta,<br />

quando comparada com o DM tipo 1, <strong>de</strong>vido ao aumento da<br />

obesida<strong>de</strong> e à redução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas à medida que os<br />

países se tornam mais industrializados. 2<br />

O DM é responsável por inúmeras complicações vasculares<br />

que comprometem a sobrevida dos pacientes. 2 Complicações<br />

musculoesqueléticas também são encontradas e, embora menos<br />

valorizadas que as vasculares, comprometem <strong>de</strong> maneira importante<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> seu portador. 4 Como a incidência<br />

<strong>de</strong> DM e a expectativa <strong>de</strong> vida dos pacientes diabéticos aumentaram,<br />

observa-se um aumento da prevalência e importância<br />

clínica <strong>de</strong>ssas alterações osteomusculares. Em diabéticos, são<br />

<strong>de</strong>scritas a síndrome das mãos rígidas, contratura <strong>de</strong> Dupuytren,<br />

<strong>de</strong>dos em gatilho, capsulite <strong>de</strong> ombro, periartrite calcifi cada<br />

<strong>de</strong> ombro, síndrome do túnel do carpo, infarto muscular,<br />

DISH (diffuse idiopathic skeletal hyperostosis) e artropatia <strong>de</strong><br />

Charcot. 3,5 Além disso, maior prevalência <strong>de</strong> artrites por cristal,<br />

infecções, osteoporose e <strong>de</strong> osteoartrite têm sido observadas. 6<br />

Vários autores têm procurado classifi car as manifestações<br />

articulares do DM, 5,7 o que é uma tarefa difícil, uma vez que<br />

a maioria dos mecanismos fi siopatológicos não está claro. Na<br />

Tabela 1 encontra-se a classifi cação proposta por Arkkila et al. 5<br />

Tabela 1<br />

Desor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas em diabetes mellitus 5<br />

Complicações<br />

intrínsecas do DM<br />

Síndrome da<br />

mobilida<strong>de</strong><br />

articular reduzida<br />

Síndrome da<br />

mão rígida<br />

Infartos musculares<br />

Aumento <strong>de</strong><br />

incidência em DM<br />

DISH: diffuse idiopathic skeletal hyperostosis.<br />

Doença <strong>de</strong> Dupuytren<br />

Capsulite a<strong>de</strong>siva<br />

Artropatia neuropática<br />

Tenossinovite <strong>de</strong> fl exores<br />

Artrite séptica<br />

DISH<br />

Neuropatias diabéticas<br />

Recebido em 24/07/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse.<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Hospital Universitário Evangélico <strong>de</strong> Curitiba.<br />

1. Mestre em Clínica Médica; Professora <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Curso <strong>de</strong> Medicina, Faculda<strong>de</strong> Evangélica do Paraná – Fepar<br />

2. Doutora; Professora Titular da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Curso <strong>de</strong> Medicina, Fepar<br />

Correspondência para: Thelma Larocca Skare. Rua João Alencar Guimarães, 796. CEP: 80310-420. Curitiba, PR, Brasil. E-mail: tskare@onda.com.br<br />

Associação possível<br />

Osteoartrite<br />

Síndrome do<br />

túnel do carpo<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):594-609 601


Silva et al.<br />

SÍNDROME DA MOBILIDADE<br />

ARTICULAR REDUZIDA<br />

A síndrome da mobilida<strong>de</strong> articular reduzida (SMAR) é uma<br />

limitação não dolorosa e não infl amatória da mobilida<strong>de</strong> da<br />

mão, dos pés e das gran<strong>de</strong>s articulações. 5 Múltiplas anormalida<strong>de</strong>s<br />

bioquímicas parecem estar ligadas ao seu aparecimento,<br />

tais como o aumento da glicolização não enzimática <strong>de</strong> fi bras<br />

<strong>de</strong> colágeno, o aumento no cross linking do colágeno e a<br />

consequente resistência do mesmo à digestão enzimática, o<br />

aumento <strong>de</strong> hidratação mediada pela via da aldolase redutase<br />

e o aumento na formação <strong>de</strong> produtos fi nais <strong>de</strong> glicolização<br />

avançada (advanced glycosylation end products, ou AGEs). 5,8<br />

O aumento na formação dos AGEs po<strong>de</strong> associar a ocorrência<br />

<strong>de</strong> SMAR às complicações micro e macrovasculares do<br />

DM. 3,5 Os AGEs resultam <strong>de</strong> rearranjo <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> Amadori<br />

ou produtos <strong>de</strong> glicosilação precoce. Eles se acumulam em<br />

tecido, em função <strong>de</strong> tempo e concentrações <strong>de</strong> glicose, e danifi<br />

cam proteínas extra e intracelulares. Na superfície das células<br />

existe um receptor para AGEs (RAGEs) que é um receptor<br />

transmembrana da família das imunoglobulinas, e que sinaliza<br />

eventos que levam à disfunção celular. Estudos experimentais<br />

mostram que há redução da resposta vasodilatadora ao óxido<br />

nítrico, e que os AGEs diminuem a elasticida<strong>de</strong> vascular. 5,9<br />

Existem dados controversos acerca da infl uência <strong>de</strong> um<br />

componente genético no aparecimento <strong>de</strong>ssa síndrome. 10,11<br />

Alguns autores 10 encontraram que crianças diabéticas com<br />

SMAR tinham mais parentes com o mesmo achado que crianças<br />

sem essa síndrome. Entretanto, Rosembloom et al. 11 não<br />

pu<strong>de</strong>ram confi rmar tais achados ao estudar 204 indivíduos com<br />

DM tipo 1 e 336 parentes <strong>de</strong> primeiro grau.<br />

Síndrome da mão rígida ou queiroartropatia diabética<br />

(cheiros, do grego, mão) é o nome reservado para a SMAR<br />

que afeta essa extremida<strong>de</strong> e é a sua forma mais bem estudada.<br />

Tipicamente, inicia-se como alterações cutâneas ao redor das<br />

metacarpofalangianas e interfalangiana proximal do quinto<br />

<strong>de</strong>do e evolui <strong>de</strong> maneira a envolver todos os <strong>de</strong>dos. 3 Esses<br />

pacientes têm alterações da pele – que fi ca endurecida e rígida<br />

com aspecto céreo, semelhante ao visto em esclero<strong>de</strong>rmia.<br />

Alterações <strong>de</strong> pele em mãos e antebraços, sem alterações<br />

<strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> articular, também po<strong>de</strong>m ser encontradas. 3,12<br />

Calcifi cações artérias são comumente vistas nas radiografi as<br />

<strong>de</strong> mãos <strong>de</strong>sses pacientes. 3 Exames histológicos mostram<br />

espessamento da <strong>de</strong>rme, acúmulo <strong>de</strong> tecido conjuntivo na<br />

<strong>de</strong>rme reticular com aumento <strong>de</strong> crosslinking do colágeno,<br />

além <strong>de</strong> pequenas quantias <strong>de</strong> mucina. 12 Devido às alterações<br />

cutâneas, é importante separar esses achados daqueles <strong>de</strong><br />

esclero<strong>de</strong>rmia. Ausência <strong>de</strong> fenômeno <strong>de</strong> Raynaud, atrofi a<br />

da <strong>de</strong>rme, telangiectasias e autoanticorpos auxiliam nessa<br />

separação. 12 A frequência <strong>de</strong> aparecimento das alterações <strong>de</strong><br />

pele está associada ao tempo <strong>de</strong> duração do diabetes, embora<br />

também tenham sido <strong>de</strong>scritas em crianças com DM <strong>de</strong> início<br />

recente. 13 Alterações capilaroscópicas do leito periungueal são<br />

encontradas em pacientes diabéticos com microangiopatia.<br />

Alças capilares espiraladas, com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> diminuída e com<br />

dilatações apicais e no ramo venoso são <strong>de</strong>scritas. 14 Kuryliszyn-<br />

Moskal et al. 14 encontraram associação entre gravida<strong>de</strong> das<br />

alterações morfológicas periungueais e tempo <strong>de</strong> doença,<br />

controle metabólico e envolvimento sistêmico.<br />

A prevalência da síndrome da mão rígida varia entre 38%–<br />

58% em pacientes com DM tipo 1 e entre 45%–76% naqueles<br />

com DM tipo 2. 3,15,16 Os pacientes po<strong>de</strong>m ser assintomáticos<br />

ou apresentar queixas <strong>de</strong> dor, que se exacerba com o uso da<br />

extremida<strong>de</strong>, ou, ainda, parestesias. 3<br />

O diagnóstico é feito com base nos achados característicos<br />

e exame físico. A incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opor uma mão espalmada<br />

à outra com os punhos em dorsifl exão é conhecido como sinal<br />

da prece (Figura 1). 3 Uma maneira alternativa <strong>de</strong> testar a<br />

Figura 1<br />

Sinal da prece.<br />

602 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):594-609


mobilida<strong>de</strong> articular reduzida é com o chamado sinal do tampo<br />

da mesa, no qual a mão espalmada é colocada <strong>de</strong> encontro<br />

ao tampo da mesa com os <strong>de</strong>dos afastados um do outro. Em<br />

casos positivos, os <strong>de</strong>dos e a palma da mão não conseguem<br />

fazer contato com a superfície plana. 3 A redução da mobilida<strong>de</strong><br />

passiva é confi rmada pela perda da extensão das interfalangianas<br />

proximais e metacarpofalangianas (menor que 180° e<br />

60º, respectivamente). 3<br />

Pacientes com síndrome <strong>de</strong> limitação articular do DM têm<br />

maior prevalência <strong>de</strong> retinopatia diabética e <strong>de</strong> nefropatia,<br />

sejam eles portadores <strong>de</strong> DM tipo 1 ou tipo 2. 3<br />

Acredita-se que a SMAR seja infl uenciada por um controle<br />

pobre da glicemia, embora os achados <strong>de</strong> associação entre<br />

essa complicação musculoesquelética e controle glicêmico, ou<br />

mesmo níveis <strong>de</strong> HbA 1C , sejam controversos. 3,5,15,17 Todavia, é<br />

sempre bom ter em mente que glicemia e HbA 1C não refl etem<br />

períodos passados <strong>de</strong> hiperglicemia, que po<strong>de</strong> existir anos antes<br />

do diagnóstico <strong>de</strong> um DM tipo 2.<br />

O tratamento recomendado é fi sioterapêutico e com drogas<br />

anti-infl amatórias não hormonais. 3,5 Todavia, antes <strong>de</strong> se prescrever<br />

tais drogas é bom lembrar da associação <strong>de</strong>ssa síndrome<br />

com nefropatia diabética, no sentido <strong>de</strong> evitar seus efeitos<br />

colaterais in<strong>de</strong>sejados. No caso <strong>de</strong> envolvimento cutâneo, o<br />

único tratamento proposto é o controle glicêmico. 8<br />

CONTRATURA DE DUPUYTREN<br />

A contratura <strong>de</strong> Dupuytren (CD) é caracterizada por espessamento<br />

da fáscia palmar, formação <strong>de</strong> nódulos palmares e<br />

digitais, espessamento e a<strong>de</strong>rência da pele, formação <strong>de</strong> uma<br />

faixa pré-tendinosa e contratura em fl exão dos <strong>de</strong>dos. 3,5 Afeta<br />

<strong>de</strong> 16%–32% dos pacientes, 3,5,18,19 sendo mais comum em<br />

indivíduos idosos e com maior tempo <strong>de</strong> DM. 3,19<br />

Existem algumas peculiarida<strong>de</strong>s na CD do paciente diabético.<br />

A primeira é a <strong>de</strong> que ten<strong>de</strong> a envolver mais o terceiro<br />

e quarto <strong>de</strong>dos, em vez <strong>de</strong> quarto e quinto, como é típico dos<br />

casos associados a outras etiologias (Figura 2). 19,20 A segunda é<br />

que, diferente dos outros casos <strong>de</strong> CD que afetam preferencialmente<br />

o gênero masculino, na DM existe maior prevalência <strong>de</strong><br />

mulheres, embora a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa manifestação ainda seja<br />

maior em homens. 3,19,20<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista histológico, encontra-se uma matriz <strong>de</strong>nsa<br />

<strong>de</strong> colágeno contendo fi broblastos alinhados longitudinalmente,<br />

<strong>de</strong> acordo com as linhas <strong>de</strong> força. Os nódulos contêm miofi -<br />

broblastos e feixes <strong>de</strong> colágeno; os vasos sanguíneos locais<br />

estão estreitados. 21 Existe maior teor <strong>de</strong> glicosaminoglicanos,<br />

e o colágeno local tem proporção maior <strong>de</strong> fi bras tipo 3 em<br />

relação ao tipo 1. 21<br />

Manifestações musculoesqueléticas em diabetes mellitus<br />

Figura 2<br />

Contratura <strong>de</strong> Dupuytren em paciente com diabetes mellitus.<br />

Observar o envolvimento predominante <strong>de</strong> terceiro e quarto<br />

<strong>de</strong>dos.<br />

Uma teoria para explicar seu aparecimento é a <strong>de</strong> que a CD<br />

resulta da ocorrência <strong>de</strong> hipóxia local seguida <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong><br />

radicais livres, os quais afetam a função dos fi broblastos que<br />

produzirão as fi bras <strong>de</strong> colágeno alteradas.<br />

O tratamento tem sido com infi ltrações intralesionais <strong>de</strong><br />

corticoi<strong>de</strong>, cirurgia e fi sioterapia. 3 Recentemente, a injeção <strong>de</strong><br />

colagenase <strong>de</strong> Clostridium histolyticum tem sido apregoada<br />

como forma alternativa <strong>de</strong> tratamento não cirúrgico. Em um estudo<br />

22 com 308 pacientes, dos quais 6,5% eram diabéticos, houve<br />

melhora da contratura em fl exão e da amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

das articulações dos <strong>de</strong>dos com três ou mais injeções <strong>de</strong> colagenase.<br />

Nesse estudo, dois pacientes tiveram ruptura <strong>de</strong> tendão<br />

e um <strong>de</strong>senvolveu um quadro <strong>de</strong> distrofi a simpático refl exa.<br />

DEDO EM GATILHO OU TENOSSINOVITE<br />

ESTENOSANTE DOS FLEXORES DOS DEDOS<br />

A tenossinovite dos fl exores dos <strong>de</strong>dos apresenta-se tipicamente<br />

com um travamento do <strong>de</strong>do em fl exão, extensão ou ambos,<br />

e envolve mais comumente o polegar, o <strong>de</strong>do médio e/ou o<br />

anular. 3,5 Aparece pela formação <strong>de</strong> uma fi brose, com espessamento<br />

do tendão, quando o mesmo passa através da polia<br />

ou <strong>de</strong> uma proeminência óssea, restringindo seu movimento<br />

<strong>de</strong>ntro da bainha. Um aumento <strong>de</strong> volume distal ao ponto <strong>de</strong><br />

constrição ocasiona dor e difi culda<strong>de</strong> em fl exão e extensão<br />

daquele dígito, que po<strong>de</strong> fi car bloqueado. 5<br />

A prevalência <strong>de</strong> <strong>de</strong>do em gatilho nos pacientes com DM<br />

vai <strong>de</strong> 5%–36% naqueles com DM tipo 1 e tipo 2 contra 2%<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):594-609 603


Silva et al.<br />

na população em geral, 23,24 e seu aparecimento está associado<br />

a doença <strong>de</strong> maior duração. 3,5 Comparados a pacientes não<br />

diabéticos, os indivíduos com DM têm uma tendência para<br />

<strong>de</strong>senvolver envolvimento <strong>de</strong> múltiplos <strong>de</strong>dos simultaneamente.<br />

19,25 Segundo Koh et al., 26 o envolvimento <strong>de</strong> três ou<br />

mais <strong>de</strong>dos é altamente sugestivo <strong>de</strong> associação com DM, e<br />

<strong>de</strong>ve-se proce<strong>de</strong>r à procura <strong>de</strong>ssa doença caso o diagnóstico<br />

ainda não tenha sido feito.<br />

O tratamento é feito com modifi cação das ativida<strong>de</strong>s, uso<br />

<strong>de</strong> anti-infl amatórios não hormonais, uso <strong>de</strong> talas, infi ltrações<br />

e, em casos mais graves, cirurgia. 3,5<br />

SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO<br />

A síndrome do túnel do carpo (STC) é causada por compressão<br />

do nervo mediano ao nível do ligamento transverso do carpo.<br />

Caracteriza-se por dor e parestesias no território que vai do<br />

polegar até a porção média do quarto <strong>de</strong>do, com piora noturna<br />

e que po<strong>de</strong> irradiar-se para o antebraço. 5,27 Em casos avançados,<br />

po<strong>de</strong> ocorrer atrofi a da musculatura tenar e perda da força <strong>de</strong><br />

apreensão 27 (Figura 3). O diagnóstico clínico é feito com auxílio<br />

dos testes <strong>de</strong> Tinel e <strong>de</strong> Phalen. 27 Em casos duvidosos, a<br />

realização <strong>de</strong> estudos eletrofi siológicos po<strong>de</strong> ser útil. 28<br />

A prevalência <strong>de</strong> STC em pacientes com DM vai <strong>de</strong><br />

11%–25% e é mais comum em mulheres 19,29 e em pacientes<br />

com polineuropatia. 30 De maneira reversa, o DM é encontrado<br />

em 5%–8% dos indivíduos com STC. 29,31 Todavia, existem<br />

autores que acreditam que o real fator predisponente à STC é a<br />

obesida<strong>de</strong>, comum em pacientes com DM tipo 2. 32 Um estudo<br />

feito com 791 pacientes com STC encaminhados para estudos<br />

Figura 3<br />

Síndrome do túnel do carpo <strong>de</strong> longa duração com atrofi a <strong>de</strong><br />

musculatura tênar.<br />

eletrofi siológicos 33 mostrou que diagnóstico <strong>de</strong> DM, gênero<br />

feminino, obesida<strong>de</strong> e ida<strong>de</strong> entre 41–60 anos eram fatores<br />

<strong>de</strong> risco para STC, mas quando os dados eram estratifi cados<br />

por índice <strong>de</strong> massa corporal dos pacientes, <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> existir<br />

a associação com DM.<br />

O manejo <strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong> tem como base o uso <strong>de</strong> talas e<br />

<strong>de</strong> analgésicos. Infi ltrações com corticoi<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser feitas,<br />

embora seu efeito seja temporário e a resposta <strong>de</strong> pacientes<br />

com DM seja mais pobre. 34–36 Cirurgia <strong>de</strong> liberação po<strong>de</strong> ser<br />

necessária, com frequência 4–14 vezes maior em diabéticos que<br />

na população em geral. 36 O grau <strong>de</strong> recuperação pós-cirúrgica<br />

<strong>de</strong>sses pacientes é pior. Essa resposta pouco favorável se <strong>de</strong>ve<br />

ao fato <strong>de</strong> que na DM há perda da capacida<strong>de</strong> regenerativa dos<br />

nervos periféricos por microangiopatia, disfunção macrofágica,<br />

disfunção das células <strong>de</strong> Schwann e diminuição na expressão<br />

<strong>de</strong> fatores neurotrófi cos e seus receptores. 26,37<br />

TENDINITES CALCIFICADAS E<br />

CAPSULITE ADESIVA DO OMBRO<br />

No DM, o envolvimento do ombro tem sido <strong>de</strong>scrito como a<br />

mais incapacitante das manifestações musculoesqueléticas. 38<br />

A capsulite a<strong>de</strong>siva do ombro (também conhecida como<br />

ombro congelado) apresenta-se como uma restrição quase<br />

completa à mobilida<strong>de</strong> passiva e ativa da articulação, principalmente<br />

para adução e rotação externa. 3 Essa entida<strong>de</strong> instala-se<br />

<strong>de</strong> maneira progressiva e dolorosa levando à contratura da<br />

cápsula articular, a qual se a<strong>de</strong>re à cabeça do úmero, reduzindo<br />

assim o volume da articulação. 3 Histologicamente a cápsula<br />

mostra proliferação <strong>de</strong> fi broblastos e transformação <strong>de</strong> alguns<br />

em miofi broblastos, que produzem colágeno tipos 1 e 3 em<br />

excesso. Esses achados são similares aos encontrados na CD. 3,39<br />

A dor aparece inicialmente à noite e tem início gradual. 3 Sua<br />

história natural po<strong>de</strong> ser dividida em três fases: (a) dor; (b)<br />

rigi<strong>de</strong>z; (c) recuperação. 3<br />

A prevalência <strong>de</strong> capsulite a<strong>de</strong>siva do ombro é cinco vezes<br />

maior na população diabética que na população em geral, aparecendo<br />

em 10%–29% <strong>de</strong>sses indivíduos. 3,40,41 Aparece tanto<br />

na DM tipo 1 como do tipo 2; é mais comum em pessoas mais<br />

idosas e po<strong>de</strong> ser bilateral. 3<br />

Pal et al. 40 criaram critérios para diagnóstico da capsulite<br />

a<strong>de</strong>siva que incluem dor no ombro por pelo menos um mês,<br />

incapacida<strong>de</strong> em se <strong>de</strong>itar sobre essa articulação e restrição da<br />

mobilida<strong>de</strong> ativa e passiva em pelo menos três planos.<br />

Alguns pesquisadores têm encontrado que pacientes com<br />

ombro congelado têm maior prevalência <strong>de</strong> infarto do miocárdio<br />

(naqueles com DM tipo 1) e neuropatia autonômica (em<br />

pacientes com DM tipos 1 e 2). 3<br />

604 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):594-609


O tratamento é feito com analgésicos, infi ltrações com<br />

corticoi<strong>de</strong>s e fi sioterapia. A maioria dos pacientes retorna à<br />

função normal. 5 Na fase a<strong>de</strong>siva, tratamento <strong>de</strong> liberação da<br />

cápsula po<strong>de</strong> ser realizado. Essa liberação po<strong>de</strong> ser feita por<br />

manipulação sob anestesia ou cirurgia. 3,5 A liberação cirúrgica<br />

é preferencialmente realizada por meio <strong>de</strong> artroscopia em<br />

lugar da cirurgia aberta, já que a primeira reduz o período <strong>de</strong><br />

recuperação pós-operatória. 3,42<br />

As tendinites calcifi cadas resultam principalmente do <strong>de</strong>pósito<br />

<strong>de</strong> hidroxiapatita em áreas periarticulares como o manguito<br />

rotador. 3,6 São mais comuns em DM tipo 2 e po<strong>de</strong>m coexistir<br />

com capsulite a<strong>de</strong>siva do ombro. Um estudo caso-controle com<br />

radiografi as <strong>de</strong> ombros mostrou que calcifi cações estavam presentes<br />

em 31,8% dos pacientes com DM contra 10% daqueles<br />

sem DM. 43 Muitos dos pacientes com DM e calcifi cações eram<br />

assintomáticos. 3<br />

INFARTOS MUSCULARES<br />

Essa é uma complicação relativamente rara, mais encontrada<br />

em pacientes com DM tipo 1 e doença acima <strong>de</strong> 15 anos. 3<br />

Clinicamente, apresenta-se como e<strong>de</strong>ma e dor muscular<br />

<strong>de</strong> início agudo. 3 Massa palpável é <strong>de</strong>tectada em 34%–44%<br />

dos casos. 3,44 Os músculos da coxa estão envolvidos em cerca<br />

<strong>de</strong> 80% dos casos, porém mais <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> infarto po<strong>de</strong><br />

aparecer simultaneamente. 45<br />

O diagnóstico é feito com base na história e por exames<br />

<strong>de</strong> imagem, principalmente a ressonância magnética. Enzimas<br />

musculares como CPK mostram um aumento discreto. 3 Na<br />

ressonância magnética é encontrado um e<strong>de</strong>ma isointenso em<br />

T1 e hiperintenso em T2 em região <strong>de</strong> músculos, com e<strong>de</strong>ma<br />

subcutâneo e subfascial. Em geral, o uso do gadolínio não é<br />

necessário, mas optando-se por seu uso, <strong>de</strong>monstrará uma área<br />

não captante circundada por outra <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> captação<br />

<strong>de</strong> contraste. 46 A biópsia mostra necrose <strong>de</strong> fi bra muscular,<br />

e<strong>de</strong>ma, fagocitose <strong>de</strong> fi bras necróticas, tecido <strong>de</strong> granulação<br />

e <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> colágeno. Lesões mais antigas po<strong>de</strong>m mostrar<br />

regeneração <strong>de</strong> fi bras musculares, substituição por tecido<br />

fi broso e infi ltrado mononuclear. 44<br />

Como a maioria dos pacientes com infarto muscular sofre<br />

<strong>de</strong> retinopatia, neuropatia e nefropatia diabéticas, acredita-se<br />

que esses diagnósticos estejam associados a isquemia local.<br />

Estados <strong>de</strong> hipercoagulabilida<strong>de</strong> com alterações no sistema<br />

fi brinólise-coagulação e disfunção endotelial também têm<br />

sido propostos como mecanismos patogênicos em potencial. 47<br />

Outra hipótese seria a <strong>de</strong> que anticorpos antifosfolípi<strong>de</strong>s<br />

contribuíssem para sua ocorrência, mas isso não po<strong>de</strong> ser<br />

provado. 48<br />

Manifestações musculoesqueléticas em diabetes mellitus<br />

O infarto muscular resolve espontaneamente em semanas<br />

ou meses, mas em meta<strong>de</strong> dos pacientes há episódios recorrentes.<br />

O tratamento é feito com repouso e analgesia. 5<br />

DISH (DIFFUSE IDIOPATHIC<br />

SKELETAL HYPEROSTOSIS)<br />

Também conhecida como doença <strong>de</strong> Forestier ou hiperostose<br />

anquilosante, é uma condição caracterizada pela ossifi cação<br />

dos pontos <strong>de</strong> êntese. 49 O envolvimento dos ligamentos<br />

espinhais formando pontes <strong>de</strong> osteófi tos confl uentes entre<br />

as vértebras é conhecido como o aspecto mais marcante<br />

<strong>de</strong>ssa doença, que também po<strong>de</strong> ter ênteses periféricas<br />

envolvidas. 49<br />

A <strong>de</strong>fi nição <strong>de</strong> DISH foi criada por Resnick et al., 50<br />

e requer o envolvimento <strong>de</strong> quatro segmentos vertebrais<br />

contíguos com preservação dos espaços discais e ausência<br />

<strong>de</strong> envolvimento apofi sário <strong>de</strong>generativo e <strong>de</strong> alterações<br />

infl amatórias <strong>de</strong> sacroilíacas. Mais tar<strong>de</strong>, essa noção foi<br />

modifi cada por Utsinger 51 para incluir o envolvimento<br />

periférico. Esse último autor propôs que o envolvimento<br />

contínuo anterolateral <strong>de</strong> duas ou mais vértebras mais uma<br />

entesopatia periférica simétrica davam suporte ao diagnóstico<br />

<strong>de</strong> DISH provável.<br />

O DISH afeta principalmente a coluna torácica, mas a<br />

coluna lombar e a cervical também po<strong>de</strong>m estar envolvidas. 49<br />

É mais comum em pacientes com DM tipo 2 e em obesos. 3<br />

No DM tipo 2, o DISH tem prevalência <strong>de</strong> 13%–40%. 3,<strong>52</strong>,53<br />

Todavia, há autores que contestam essa associação ao DM,<br />

creditando-a à obesida<strong>de</strong>. <strong>52</strong>,54<br />

Sua fi siopatologia é <strong>de</strong>sconhecida. Alguns autores acreditam<br />

que a hiperinsulinemia é a ligação entre DM, DISH<br />

e obesida<strong>de</strong>. Os níveis do hormônio do crescimento (GH)<br />

e <strong>de</strong> IGF1 (insulin like growth factor 1) estão aumentados<br />

em pacientes com DISH e po<strong>de</strong>m facilitar a ossifi cação <strong>de</strong><br />

tecidos moles por estimular a proliferação e a função dos<br />

osteoblastos. 3,49 Níveis séricos da proteína <strong>de</strong> matriz Gla,<br />

que inibe a formação óssea, estão paradoxalmente mais altos<br />

que em controles. 55<br />

Clinicamente, o paciente po<strong>de</strong> ser assintomático ou<br />

apresentar dor no local afetado, rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> coluna, disfagia e<br />

odinofagia, se houver envolvimento cervical com gran<strong>de</strong>s osteófi<br />

tos. 49,51 Queixas neurológicas po<strong>de</strong>m resultar <strong>de</strong> compressão<br />

<strong>de</strong> medula espinal pela ossifi cação do ligamento longitudinal<br />

posterior. 3 Dor periférica po<strong>de</strong> resultar <strong>de</strong> envolvimento entesopático<br />

periférico. 49<br />

O diagnóstico é feito por exames radiológicos, e o tratamento<br />

é realizado com analgésicos e exercícios terapêuticos. 3<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):594-609 605


Silva et al.<br />

ARTICULAÇÃO DE CHARCOT<br />

A artropatia <strong>de</strong> Charcot, ou artropatia neuropática diabética,<br />

resulta <strong>de</strong> uma provável combinação <strong>de</strong> fatores mecânicos e<br />

vasculares secundários à neuropatia diabética. 56 Postula-se que<br />

a falta <strong>de</strong> propriocepção causa frouxidão ligamentar, instabilida<strong>de</strong><br />

articular e lesão articular aos pequenos traumas. Outra<br />

i<strong>de</strong>ia é a <strong>de</strong> que a neuropatia autonômica acarrete alterações<br />

vasomotoras com formação <strong>de</strong> shunts arteriovenosos e redução<br />

<strong>de</strong> fl uxo sanguíneo efetivo para pele e ossos, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> boa<br />

amplitu<strong>de</strong> dos pulsos periféricos. 57 Uma terceira hipótese é a<br />

<strong>de</strong> uma resposta infl amatória exagerada a traumas, mediada<br />

por citocinas pró-infl amatórias. 58<br />

A <strong>de</strong>speito do que cause o início do problema, existe uma<br />

fase inicial que é reabsortiva à qual se segue uma fase <strong>de</strong> reparação<br />

ou fase hipertrófi ca. 59<br />

As articulações mais afetadas são as tarsais e as tarsometatarsianas,<br />

seguidas pelas do metatarso-falangianas e tornozelos. 60<br />

Figura 4<br />

Articulação <strong>de</strong> Charcot.<br />

As manifestações clínicas são variáveis. O paciente po<strong>de</strong><br />

apresentar-se com início súbito <strong>de</strong> eritema e e<strong>de</strong>ma unilateral<br />

no pé ou tornozelo. Ataques recorrentes po<strong>de</strong>m seguir-se e,<br />

com o tempo, o indivíduo <strong>de</strong>senvolve artropatia crônica que<br />

se caracteriza por colapso do arco plantar e aparecimento <strong>de</strong><br />

proeminências ósseas. 56 Po<strong>de</strong> haver complicações com úlceras<br />

que facilmente infectam. Em 20% dos casos é bilateral. 56 A<br />

artropatia não é dolorosa ou cursa com dor <strong>de</strong>sproporcionalmente<br />

menor ao esperado. O diagnóstico diferencial com a<br />

artrite séptica é mandatório.<br />

O diagnóstico é feito por exames <strong>de</strong> imagem que mostram,<br />

em um estágio inicial, apenas osteopenia, diminuição <strong>de</strong> espaço<br />

articular e e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> partes moles. Com a evolução aparecem<br />

áreas <strong>de</strong> osteólise, com reabsorção <strong>de</strong> falanges e reabsorção<br />

das cabeças dos metatarsianos. Luxações, fragmentação óssea,<br />

esclerose e neoformação óssea po<strong>de</strong>m ser vistos em estágios<br />

fi nais. 56,59 Ressonância magnética com contraste po<strong>de</strong> ser necessária<br />

para afastar osteomielite associada 61 (Figuras 4 e 5).<br />

O tratamento é feito evitando-se peso na articulação afetada,<br />

com uso <strong>de</strong> sapatos a<strong>de</strong>quados, e órteses para o pé. Uso<br />

<strong>de</strong> bisfosfonatos (alendronato e pamidronato) po<strong>de</strong> ser útil. 62,63<br />

Calcitonina tem sido usada em pacientes com insufi ciência renal<br />

que não po<strong>de</strong>m receber bisfosfonatos, mas seus benefícios<br />

ainda não foram provados. 64<br />

Figura 5<br />

Articulação <strong>de</strong> Charcot.<br />

606 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):594-609


OUTRAS DOENÇAS<br />

Outras doenças musculoesqueléticas possivelmente associadas<br />

ao DM são osteoporose, osteoartrite e artrite por cristais. 6<br />

A associação <strong>de</strong> DM com osteoporose é controversa. 65<br />

Pacientes com DM têm metabolismo ósseo baixo, com redução<br />

<strong>de</strong> formação óssea e, em menor grau, diminuição da reabsorção.<br />

O mecanismo é provavelmente multifatorial e inclui, no DM<br />

tipo 1, níveis baixos <strong>de</strong> insulina e IGF 1 que inibem a atuação<br />

do osteoblasto. No DM tipos 1 e 2 o acúmulo dos AGEs está<br />

associado à diminuição <strong>de</strong> formação óssea. A massa óssea<br />

está diminuída no DM tipo 1 e aumentada no DM tipo 2, mas<br />

o risco <strong>de</strong> fraturas está aumentado nas duas formas <strong>de</strong> DM. 66<br />

A obesida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser um fator comum ao DM e à osteoartrite.<br />

Embora existam alguns estudos tentando implicar AGEs<br />

na <strong>de</strong>generação da cartilagem, não existe evidência clara que<br />

possa implicar DM em osteoartrite prematura. 6,67<br />

Hiperuricemia e consequente gota po<strong>de</strong>m ser encontradas<br />

em DM tipo 2 fazendo parte da síndrome metabólica.<br />

Insufi ciência renal, uma complicação comum em DM, também<br />

predispõe à artrite por cristal. 6 Já a associação <strong>de</strong> DM com<br />

doença por <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> pirofosfato <strong>de</strong> cálcio, embora sugerida,<br />

permanece por ser provada. 68<br />

SOBRE O USO DE INFILTRAÇÃO COM<br />

CORTICOIDES EM PACIENTES DIABÉTICOS<br />

Os efeitos do uso sistêmico dos corticoi<strong>de</strong>s sobre o metabolismo<br />

da glicose são bem conhecidos. Já nos casos <strong>de</strong> injeções<br />

intra-articulares, eles são menos estudados. Sempre existe a<br />

preocupação <strong>de</strong> que sua absorção leve a efeitos sistêmicos.<br />

Três estudos, dois usando infi ltrações epidurais 69,70 e outro<br />

com infi ltração para <strong>de</strong>do em gatilho, 71 <strong>de</strong>monstraram haver<br />

um aumento temporário dos níveis <strong>de</strong> glicemia, que retornou<br />

ao nível basal em 2–5 dias. Outro estudo 72 com infi ltrações em<br />

ombro não <strong>de</strong>monstrou essa elevação.<br />

CONCLUSÃO<br />

O DM está associado a várias manifestações musculoesqueléticas.<br />

Essas associações têm base principalmente em estudos<br />

epi<strong>de</strong>miológicos, uma vez que os mecanismos fi siopatológicos<br />

não estão completamente esclarecidos. Envolvimento <strong>de</strong> membros<br />

superiores (mão e ombro) é o mais comum. A i<strong>de</strong>ntifi cação<br />

e tratamento <strong>de</strong>ssas lesões são importantes em relação à<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos pacientes. Por outro lado, o<br />

conhecimento <strong>de</strong>ssas associações po<strong>de</strong> permitir o diagnóstico<br />

<strong>de</strong> DM em pacientes ainda não reconhecidos como tal, e assim<br />

Manifestações musculoesqueléticas em diabetes mellitus<br />

levar à instituição <strong>de</strong> terapêutica apropriada que irá prevenir o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das complicações diabéticas.<br />

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Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):594-609 609


ARTIGO DE REVISÃO<br />

Bloqueio do nervo supraescapular: procedimento<br />

importante na prática clínica. Parte II<br />

Marcos Rassi Fernan<strong>de</strong>s 1 , Maria Alves Barbosa 2 , Ana Luiza Lima Sousa 2 , Gilson Cassem Ramos 3<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

O bloqueio do nervo supraescapular é um método <strong>de</strong> tratamento reprodutível, confi ável e extremamente efetivo no controle<br />

da dor no ombro. Esse método tem sido amplamente utilizado por profi ssionais na prática clínica, como reumatologistas,<br />

ortopedistas, neurologistas e especialistas em dor, na terapêutica <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s crônicas, como lesão irreparável do<br />

manguito rotador, artrite reumatoi<strong>de</strong>, sequelas <strong>de</strong> AVC e capsulite a<strong>de</strong>siva, o que justifi ca a presente revisão (Parte II).<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi <strong>de</strong>screver as técnicas do procedimento e suas complicações <strong>de</strong>scritas na literatura, já que a<br />

primeira parte reportou as indicações clínicas, drogas e volumes utilizados em aplicação única ou múltipla. Apresentamse,<br />

<strong>de</strong>talhadamente, os acessos para a realização do procedimento tanto direto como indireto, anterior e posterior, lateral e<br />

medial, e superior e inferior. Diversas são as opções para se realizar o bloqueio do nervo supraescapular. Apesar <strong>de</strong> raras,<br />

as complicações po<strong>de</strong>m ocorrer. Quando bem indicado, este método <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado.<br />

Palavras-chave: técnicas, bloqueio nervoso, anestesia local, dor <strong>de</strong> ombro.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A dor no ombro tem prevalência <strong>de</strong> 15%–30% na população<br />

adulta e é uma queixa frequente principalmente nos idosos, po<strong>de</strong>ndo<br />

levar à incapacida<strong>de</strong> funcional e à redução da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida. 1 O bloqueio do nervo supraescapular (BNSE) é um<br />

método efi ciente no tratamento <strong>de</strong> certas doenças do ombro,<br />

como capsulite a<strong>de</strong>siva, artrite reumatoi<strong>de</strong>, tendinite calcárea<br />

e pós-aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral. 2–4<br />

O procedimento tem sido cada vez mais aplicado no<br />

controle da dor severa e na analgesia pós-operatória <strong>de</strong> cirurgias<br />

do ombro, 4–7 já que outras opções terapêuticas como os<br />

anti-infl amatórios não hormonais e as injeções <strong>de</strong> esteroi<strong>de</strong>s<br />

intra-articulares têm suas limitações, principalmente na população<br />

mais idosa, que apresenta muitas comorbida<strong>de</strong>s. 4,8<br />

O BNSE é um método seguro, simples, barato e aplicável<br />

à maioria dos médicos que atuam no tratamento da dor, 9<br />

além <strong>de</strong> ser bem tolerado mesmo por pacientes com diversas<br />

patologias que acometem a região do ombro. 4 É, ainda, uma<br />

alternativa efi ciente para aqueles que não po<strong>de</strong>m submeter-se<br />

a uma intervenção cirúrgica. 8<br />

Uma indicação relativa seria para pacientes com tumores<br />

avançados na região do ombro, com dor difícil <strong>de</strong> tratar e que<br />

são benefi ciados por técnicas intervencionistas, <strong>de</strong>ntre as quais<br />

o BNSE, que se apresenta muito efetivo e com baixos índices <strong>de</strong><br />

efeitos adversos. Nesse caso, o método funciona como cuidado<br />

paliativo, pois trata os sintomas sem necessariamente atuar na<br />

causa. 10 Outra utilização do BNSE seria na prática anestesiológica,<br />

no que diz respeito às anestesias locorregionais. 5,6,11<br />

Apesar <strong>de</strong> ser efi ciente em seus efeitos, vários autores<br />

apresentaram modifi cações à técnica original do BNSE,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua publicação inicial, tais como o local da introdução<br />

da agulha, drogas e volumes utilizados e o modo <strong>de</strong> acesso,<br />

além <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> aparelhos complementares para a realização<br />

do procedimento.<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta segunda parte da revisão sobre “Bloqueio<br />

do Nervo Supraescapular” foi relatar as técnicas <strong>de</strong>scritas para<br />

a realização do procedimento, assim como as complicações da<br />

administração dos anestésicos locais. A primeira parte reportou<br />

os aspectos históricos e as indicações clínicas do método,<br />

assim como as drogas e o volume utilizados em procedimento<br />

único ou múltiplo. 12<br />

Recebido em 08/08/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse.<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás – UFG.<br />

1. Doutorando em Ciências da Saú<strong>de</strong>; Professor do Departamento <strong>de</strong> Ortopedia e Traumatologia, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás – UFG<br />

2. Doutor em Enfermagem; Professor Orientador do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong>, UFG<br />

3. Doutor em Ciências da Saú<strong>de</strong>; Especialista em Cardiologia, <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Cardiologia /Associação Médica <strong>Brasileira</strong><br />

Correspondência para: Marcos Rassi Fernan<strong>de</strong>s. Avenida Azaléias, Qd. 10 – Lt. 20 – Resi<strong>de</strong>ncial Jardins Viena. Aparecida <strong>de</strong> Goiânia, GO, Brasil. CEP: 74935-187.<br />

E-mail: marcosombro@ig.com.br<br />

616 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):610-622


ANATOMIA APLICADA AO BNSE<br />

O nervo supraescapular é um nervo misto (motor e sensitivo),<br />

responsável por 70% da sensibilida<strong>de</strong> articular do ombro, principalmente<br />

a cápsula posterior e superior. Ele se origina das raízes<br />

C5 e C6 do plexo braquial, que se dirigem posterior e lateralmente<br />

até a incisura escapular, abaixo do ligamento transverso superior.<br />

Ele entra na fossa supraespinal, na qual fornece ramos sensitivos<br />

para a articulação glenoumeral, acromioclavicular, bursa subacromial<br />

e ligamento coracoclavicular, e motores para o músculo<br />

supraespinal e, mais distalmente, para o infraespinal. 11,13–16<br />

É importante conhecer esses <strong>de</strong>talhes anatômicos para se obter a<br />

interrupção dos impulsos sensoriais das estruturas envolvidas, a<br />

fi m <strong>de</strong> que o BNSE se <strong>de</strong>senvolva <strong>de</strong> forma salutar.<br />

TÉCNICAS DESCRITAS PARA A<br />

REALIZAÇÃO DO BNSE<br />

Des<strong>de</strong> a sua <strong>de</strong>scrição, o BNSE tem sofrido várias modifi cações,<br />

tais como o local da introdução da agulha, o modo <strong>de</strong> acesso, até<br />

o uso <strong>de</strong> aparelhos complementares para a realização do mesmo.<br />

O acesso é dito anterior ou posterior, lateral ou medial e<br />

superior ou inferior, levando-se em consi<strong>de</strong>ração o ponto <strong>de</strong><br />

introdução da agulha em relação às estruturas anatômicas do<br />

ombro. Muitas técnicas têm sido propostas para os diversos<br />

acessos. Elas po<strong>de</strong>m ser diretas ou indiretas: técnica direta<br />

é quando a agulha entra na incisura supraescapular, on<strong>de</strong> se<br />

encontra o nervo, para introduzir o anestésico local; técnica<br />

indireta é quando não se faz necessária a localização da incisura<br />

supraescapular, aplicando-se o anestésico local no assoalho<br />

da fossa supraespinal, após a passagem do nervo pela mesma<br />

no contorno da base do processo coracoi<strong>de</strong>, quando os ramos<br />

sensitivos dirigem-se para a cápsula do ombro, para o espaço<br />

subacromial e para a articulação acromioclavicular.<br />

Destacamos a seguir as técnicas do BNSE <strong>de</strong>scritas na<br />

literatura, referidas pelos autores que as <strong>de</strong>screveram.<br />

Wertheim e Rovenstine 17<br />

Essa foi a primeira <strong>de</strong>scrição do BNSE. Os autores a utilizaram<br />

em pacientes com dor crônica do ombro, ainda que sem<br />

diagnóstico. Eles citaram que sua realização se fez necessária<br />

como um recurso prévio à manipulação da região afetada.<br />

Os limites são <strong>de</strong>terminados e <strong>de</strong>senhados com auxílio <strong>de</strong> um<br />

marcador. A linha é <strong>de</strong>marcada da borda superior da base espinal<br />

da escápula até a face medial do osso. Outra linha é marcada do<br />

ângulo inferior da escápula em direção cefálica, atravessando<br />

a primeira linha. Do triângulo externo superior formado pelas<br />

linhas, tira-se uma bissetriz e 1,5 cm, <strong>de</strong>terminando-se o ponto<br />

Bloqueio do nervo supraescapular: procedimento importante na prática clínica. Parte II<br />

<strong>de</strong> entrada da agulha. Ela é introduzida nos sentidos medial e<br />

inferior, até o contato com a fossa supraespinal, lateral à incisura<br />

escapular. A agulha é recuada em 1 cm e reintroduzida<br />

medialmente até entrar a incisura. Nesse momento po<strong>de</strong>-se ter<br />

a sensação <strong>de</strong> parestesias, o que confi rma o contato com o nervo<br />

supraescapular. Foi <strong>de</strong>scrita com injeção <strong>de</strong> 5 mL <strong>de</strong> procaína 2%<br />

associada a 5 mL <strong>de</strong> uma solução analgésica oleosa diretamente<br />

na incisura supraescapular. Esse é um acesso direto.<br />

Parris 18<br />

O bloqueio é realizado em um local superior (um <strong>de</strong>do) do<br />

ponto médio da espinha da escápula. A agulha é introduzida<br />

1 cm até certo ponto <strong>de</strong>ntro da pele. A extremida<strong>de</strong> superior<br />

do mesmo lado do bloqueio é fl exionada ao nível do cotovelo<br />

e rodada medialmente, com a mão colocada sobre o<br />

ombro oposto. Essa manobra eleva a escápula e a afasta da<br />

pare<strong>de</strong> torácica posterior, no sentido <strong>de</strong> prevenir um possível<br />

pneumotórax. Preconiza 10 mL <strong>de</strong> bupivacaína 0,25%. É um<br />

acesso posterior.<br />

Wassef 14<br />

O ponto <strong>de</strong> entrada da agulha é entre a junção da borda medial<br />

do músculo trapézio e a borda posterior do terço lateral da clavícula.<br />

O local é acima da clavícula, on<strong>de</strong> a agulha é direcionada<br />

em sentido caudal e posterior, com leve inclinação medial.<br />

Utiliza-se um estimulador <strong>de</strong> nervo periférico e injetam-se<br />

3 mL <strong>de</strong> bupivacaína 0,25% com 1:200.000 <strong>de</strong> adrenalina.<br />

Esse é um acesso anterior (Figura 1).<br />

Figura 1<br />

Técnica <strong>de</strong> Wassef. Visão lateral do ombro, com a agulha introduzida<br />

acima da clavícula e direcionada em sentido caudal e<br />

posterior, com leve inclinação medial.<br />

AC: acrômio; CL: clavícula; ESP: espinha da escápula; CO: processo coracoi<strong>de</strong>.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):610-622 617<br />

ESP<br />

AC<br />

CL<br />

CO


Fernan<strong>de</strong>s et al.<br />

Risdall e Sharwood-Smith 19<br />

A primeira linha é <strong>de</strong>senhada para dividir o comprimento<br />

da espinha da escápula em três partes, e a segunda linha é<br />

perpendicular à primeira na junção do terço medial e os dois<br />

terços laterais. A agulha é direcionada para a incisura escapular,<br />

situada 1–2 cm cranial do ponto <strong>de</strong> intersecção. O nervo<br />

supraescapular é localizado utilizando-se um estimulador <strong>de</strong><br />

nervo periférico. Injetam-se 10 mL <strong>de</strong> bupivacaína 0,5% com<br />

1:200.000 <strong>de</strong> adrenalina. É um acesso medial e posterior.<br />

Dangoisse et al. 20<br />

A agulha é introduzida 1 cm acima da meta<strong>de</strong> da espinha<br />

escapular, paralela à lâmina, até o assoalho ósseo da fossa<br />

supraespinal ser alcançado. Parestesias não são notadas, e os<br />

riscos <strong>de</strong> pneumotórax e lesão nervosa diminuem. Injetam-se<br />

8 mL <strong>de</strong> bupivacaína 0,5%, associados a 80 mg <strong>de</strong> metilprednisolona.<br />

É um acesso indireto (Figura 2).<br />

Roark 21<br />

A borda lateral da espinha da escápula é palpada como referência,<br />

e a agulha <strong>de</strong>ve ser direcionada para a margem lateral<br />

da mesma, <strong>de</strong>ntro da incisura espinoglenoi<strong>de</strong>a. Injetam-se<br />

10 mL <strong>de</strong> anestésico local (não foi mencionado qual). É um<br />

acesso inferior e lateral.<br />

Matsumoto et al. 16<br />

Desenha-se uma linha entre o ângulo anterolateral do acrômio<br />

e a borda medial da espinha da escápula. O ponto <strong>de</strong> introdução<br />

Figura 2<br />

Técnica <strong>de</strong> Dangoisse. Visão posterior do ombro, com a agulha<br />

introduzida 1 cm superior da meta<strong>de</strong> da espinha da escápula até<br />

o assoalho ósseo da fossa supraespinal.<br />

AC: acrômio; CL: clavícula; ESP: espinha da escápula.<br />

ESP<br />

CL<br />

AC<br />

é no meio <strong>de</strong>ssa linha. A agulha é inclinada 30° em direção<br />

dorsal e inserida até alcançar a base do processo coracoi<strong>de</strong>. A<br />

solução anestésica é composta <strong>de</strong> lidocaína 1% e ropivacaína<br />

0,75% em uma mistura 1:1, injetando-se 10 mL. É um acesso<br />

superior e posterior.<br />

Checcucci 11<br />

I<strong>de</strong>ntifi ca-se um ponto 2 cm medial à borda medial do acrômio,<br />

ao longo da margem superior da espinha da escápula. Daí,<br />

marca-se uma linha paralela à coluna vertebral e calculam-se<br />

2 cm no sentido cranial. A agulha é inserida perpendicularmente<br />

à pele no sentido craniocaudal. Utiliza-se um estimulador <strong>de</strong><br />

nervo periférico com 1 mA inicial. Injetam-se 15 mL <strong>de</strong> uma<br />

mistura <strong>de</strong> 5 mL <strong>de</strong> lidocaína 2% e 10 mL <strong>de</strong> levobupivacaína<br />

a 0,5% (Figura 3).<br />

Barber 13<br />

A localização é <strong>de</strong> 1 cm medial à convergência entre a espinha<br />

da escápula e a borda posterior da clavícula (portal <strong>de</strong><br />

Neviaser). 22 A agulha é introduzida em direção ao processo<br />

coracoi<strong>de</strong> em uma profundida<strong>de</strong> entre 3–4 cm. Usa-se a agulha<br />

anteriormente até a escápula não ser mais palpável. Daí,<br />

move-se a mesma posteriormente até sentir o osso mais uma<br />

vez. Isso localiza a agulha na base do processo coracoi<strong>de</strong> na<br />

fossa supraespinal, por on<strong>de</strong> passa o nervo supraescapular.<br />

Nesse ponto, injetam-se 20–25 mL <strong>de</strong> bupivacaína 0,5%. É<br />

um acesso lateral (Figura 4).<br />

Figura 3<br />

Técnica <strong>de</strong> Checcucci. Visão posterior do ombro, com a agulha<br />

introduzida em um ponto 2 cm medial à borda medial do acrômio<br />

e 2 cm da margem superior da espinha da escápula, perpendicular<br />

à pele no sentido craniocaudal.<br />

AC: acrômio; CL: clavícula; ESP: espinha da escápula.<br />

618 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):610-622<br />

ESP<br />

CL<br />

AC


Figura 4<br />

Técnica <strong>de</strong> Barber. Visão anterior do ombro, com a agulha introduzida<br />

a 1 cm (portal <strong>de</strong> Neviaser), em direção ao processo<br />

coracoi<strong>de</strong>.<br />

AC: acrômio; CL: clavícula; ESP: espinha da escápula; PN: portal <strong>de</strong> Neviaser.<br />

Alam 23<br />

AC<br />

ESP<br />

NP<br />

O ponto <strong>de</strong> inserção do cateter epidural por um angiocath é<br />

anterior e próximo à meta<strong>de</strong> da espinha da escápula. O cateter é<br />

tunelizado por meio <strong>de</strong> uma cânula <strong>de</strong> direção posterior- anterior.<br />

O anestésico local e o volume utilizado não são mencionados.<br />

Dahan 4<br />

É uma modifi cação da técnica <strong>de</strong> Dangoisse. A agulha é<br />

introduzida 2 cm acima da meta<strong>de</strong> da espinha da escápula,<br />

perpendicular à pele e lateral à incisura escapular. Injetam-se<br />

10 mL <strong>de</strong> bupivacaína 0,5%, porém sem corticosteroi<strong>de</strong>. É<br />

um acesso indireto.<br />

Meier et al. 24<br />

I<strong>de</strong>ntifi ca-se uma linha que conecta a parte lateral do acrômio<br />

e a extremida<strong>de</strong> medial da espinha da escápula. O ponto <strong>de</strong><br />

inserção é localizado a 2 cm cranial e 2 cm medial à meta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssa linha. O ângulo é <strong>de</strong> 45° no plano coronal e <strong>de</strong> 30° <strong>de</strong><br />

inclinação ventral. Utiliza-se um estimulador <strong>de</strong> nervo periférico<br />

e injetam-se 15 mL <strong>de</strong> mepivacaína 1% (Figura 5).<br />

Feigl 25<br />

O ponto <strong>de</strong> introdução é no portal <strong>de</strong> Neviaser, 22 atrás da articulação<br />

acromioclavicular e processo coracoi<strong>de</strong>, medial ao<br />

acrômio e anterior à borda anterior da espinha da escápula.<br />

CL<br />

Bloqueio do nervo supraescapular: procedimento importante na prática clínica. Parte II<br />

Figura 5<br />

Técnica <strong>de</strong> Meier. Visão posterior do ombro. A linha conecta a<br />

parte lateral do acrômio e a extremida<strong>de</strong> medial da espinha da<br />

escápula. O ponto <strong>de</strong> inserção é localizado 2 cm cranial e 2 cm<br />

medial à meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa linha.<br />

AC: acrômio; CL: clavícula; ESP: espinha da escápula.<br />

Avança-se a agulha em direção posterior e medial em relação<br />

à espinha da escápula até a fossa supraespinal. O ângulo<br />

agulha-pele é <strong>de</strong> aproximadamente 70° no plano horizontal.<br />

É um acesso lateral.<br />

Dessa forma, os acessos diretos são os <strong>de</strong> Wertheim 17 e<br />

Barber; 13 os acessos indiretos são os <strong>de</strong> Dangoisse 20 e Dahan; 4 o<br />

anterior é o <strong>de</strong> Wassef; 14 os posteriores são os <strong>de</strong> Meier, 24 Parris, 18<br />

Risdall, 19 Alam 23 e Matsumoto; 16 os acessos laterais são os <strong>de</strong><br />

Checcucci, 11 Barber 13 e Feigl; 25 e o acesso inferior é o <strong>de</strong> Roark. 21<br />

Deve-se <strong>de</strong>stacar que os acessos diretos <strong>de</strong> Wertheim 17<br />

e Barber 13 têm maior risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar lesão nervosa,<br />

como também pneumotórax. Por outro lado, as técnicas <strong>de</strong><br />

Dangoisse, 20 Checcucci 11 e Feigl 25 apresentam menor probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> essas complicações ocorrerem, já que não acessam a<br />

incisura escapular, local em que o nervo supraescapular penetra<br />

após passar por baixo do ligamento transverso superior, além<br />

<strong>de</strong> a introdução da agulha ser distante da direção do pulmão.<br />

COMPLICAÇÕES SECUNDÁRIAS À<br />

ADMINISTRAÇÃO DE ANESTÉSICOS LOCAIS<br />

Muito pouco se tem discutido sobre as complicações do BNSE<br />

no que tange à administração dos anestésicos locais para a<br />

realização do procedimento. Entretanto, duas complicações,<br />

em especial, merecem <strong>de</strong>staque pela repercussão: a toxicida<strong>de</strong><br />

sistêmica e a lesão nervosa.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):610-622 619<br />

ESP<br />

CL<br />

AC


Fernan<strong>de</strong>s et al.<br />

Toxicida<strong>de</strong> sistêmica<br />

O BNSE faz parte dos bloqueios <strong>de</strong> nervos periféricos 12 e a<br />

análise das complicações inerentes ao uso dos anestésicos<br />

locais se faz importante. As complicações são raras, mas <strong>de</strong>ve-se<br />

consi<strong>de</strong>rar a ocorrência <strong>de</strong> eventos adversos que po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong>vastadores tanto para o paciente quanto para o médico. 26<br />

Esses eventos adversos variam <strong>de</strong> leves sintomas sistêmicos,<br />

tais como agitação e paladar metálico, a alterações<br />

auditivas que po<strong>de</strong>m seguir à absorção sistêmica do anestésico<br />

local, a partir <strong>de</strong> uma dose a<strong>de</strong>quada e corretamente infundida<br />

para eventos cardiovasculares (taquicardia, arritmia ventricular,<br />

parada cardíaca) e do sistema nervoso central (convulsão,<br />

parada respiratória, coma), muitas vezes por uma injeção<br />

intravascular não intencional que po<strong>de</strong> resultar em óbito. 26,27<br />

Os principais fatores que infl uenciam a severida<strong>de</strong> da toxicida<strong>de</strong><br />

sistêmica dos anestésicos locais (TSAL) são os riscos<br />

individuais do paciente, anestésico local específi co e dosagem<br />

do mesmo, e uso <strong>de</strong> medicações concomitantes. 27<br />

A TSAL continua sendo a maior fonte <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong><br />

na prática do bloqueio regional. A prevenção permanece<br />

o melhor critério para aumentar a segurança do paciente<br />

durante o método. A combinação <strong>de</strong> vários procedimentos,<br />

como vigilância constante, aspiração cuidadosa e mínima dose<br />

efetiva (subtóxica), reduzem a frequência da TSAL. 28 O uso<br />

do ultrassom para observar a colocação da agulha e a infusão<br />

do anestésico po<strong>de</strong>m ser procedimentos úteis, mas também<br />

têm sido relatados como não completamente confi áveis. 29–32<br />

A incidência da TSAL no bloqueio do nervo supraescapular<br />

é <strong>de</strong>sconhecida. Em um estudo <strong>de</strong> graves complicações<br />

em anestesia locorregional os pesquisadores i<strong>de</strong>ntifi caram<br />

um número <strong>de</strong> sérios eventos relacionados aos bloqueios do<br />

membro superior (3.459 bloqueios interescalênicos; 1.899<br />

bloqueios supraclaviculares; 11.024 bloqueios do plexo axilar;<br />

e 7.402 bloqueios médio-umerais), mas não incluíram o<br />

BNSE, e encontraram convulsões e neuropatia periférica como<br />

complicações. 33<br />

A <strong>de</strong>scrição clínica da TSAL inclui piora progressiva dos<br />

sinais e sintomas neurológicos após infusão dos anestésicos<br />

locais e aumento progressivo da concentração sanguínea <strong>de</strong>sse<br />

anestésico, resultando em convulsões e coma. Em casos extremos,<br />

sinais <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> hemodinâmica po<strong>de</strong>m evoluir<br />

para eventos cardiovasculares. 34<br />

O tratamento é <strong>de</strong> suporte: aplicação suplementar <strong>de</strong> oxigênio,<br />

fármacos para a ativida<strong>de</strong> convulsiva e condução dos<br />

efeitos cardiovasculares. Entretanto, quando ocorre a toxicida<strong>de</strong>,<br />

é imperativo preparar o plano <strong>de</strong> ação necessário para<br />

salvar a vida do paciente. Cuidados respiratórios, oxigenação,<br />

ventilação e suportes básicos <strong>de</strong> vida são importantes fatores<br />

para o sucesso da ressucitação. 26,35<br />

A infusão lipídica <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada precocemente, e a<br />

equipe <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>ve estar familiarizada com o método. 27<br />

O uso da emulsão <strong>de</strong> lipí<strong>de</strong>os em humanos para o tratamento<br />

da TSAL foi primeiramente <strong>de</strong>scrito em 2006, 36 e as pesquisas<br />

buscaram elucidar a melhor dose para a segurança do paciente<br />

e a combinação com outros agentes <strong>de</strong> ressucitação. 26<br />

Lesão do nervo periférico<br />

No sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntifi car uma lesão neural, é imprescindível<br />

conhecer a anatomia do nervo periférico. As fi bras nervosas<br />

individuais são envolvidas pelo endoneuro e organizadas<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> fascículos que, por sua vez, são envoltos pelo<br />

perineuro. O epineuro é a membrana externa <strong>de</strong> toda estrutura<br />

nervosa, com estroma em seu interior e um conjunto<br />

<strong>de</strong> fascículos. 26<br />

Importante lembrar que <strong>de</strong> proximal para distal aumenta-se<br />

o número <strong>de</strong> fascículos, enquanto seu diâmetro diminui. Na<br />

região do plexo braquial em localização interescalênica, os<br />

nervos são mais sólidos e oligofasciculares, visto que quanto<br />

mais distais são os fascículos, mais dispersos, em maior número<br />

e com mais estroma eles se apresentam. Isso explica por quê<br />

uma simples penetração do epineuro do nervo supraescapular<br />

não necessariamente conduz a um dano neural. 37,38<br />

A infusão <strong>de</strong> anestésico local no perineuro está associada<br />

à alta pressão <strong>de</strong> injeção, com subsequente lesão fascicular e<br />

dano neurológico. Porém, a infusão <strong>de</strong>ntro do epineuro se dá<br />

com baixa pressão, com retorno da motricida<strong>de</strong> à normalida<strong>de</strong>.<br />

39 Logo, infusão intraneural fora do perineuro não invariavelmente<br />

leva a dano neurológico. 40<br />

A lesão do nervo periférico após uma anestesia locorregional<br />

é uma rara complicação que conduz a um défi cit neurológico<br />

e a uma sensação <strong>de</strong> dor que po<strong>de</strong> durar por vários meses. 41<br />

Felizmente, a maioria das lesões é transiente e muitas vezes<br />

subclínica, ou se apresenta como mononeuropatia leve. 26 Um<br />

<strong>de</strong>talhe importante é que quanto mais longo o bisel da agulha,<br />

maior a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lesão fascicular. 42<br />

É muito difícil obter dados consistentes sobre sua incidência,<br />

que varia <strong>de</strong> 0,02%–0,4%, 33,43 consi<strong>de</strong>rando todos os<br />

bloqueios <strong>de</strong> nervos periféricos. A taxa é maior para as lesões<br />

ditas transientes, chegando a 10% nos dias subsequentes ao<br />

bloqueio. 26,44,45<br />

O que dizer sobre incidência apenas no BNSE? Essa questão<br />

carece <strong>de</strong> uma pesquisa clínica para respondê-la, já que a<br />

literatura conhecida não apresenta tal resposta. O que se po<strong>de</strong><br />

afi rmar é que o acesso direto tem maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lesão<br />

620 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):610-622


nervosa, pois a agulha entra necessariamente na incisura escapular,<br />

em contato com o nervo supraescapular para a realização<br />

do procedimento. 13,17,18,20<br />

A realização da anestesia regional sob a visualização<br />

<strong>de</strong> ultrassom, apesar <strong>de</strong> popular, não signifi ca diminuição<br />

na incidência e na severida<strong>de</strong> dos sintomas neurológicos<br />

pós-operatórios. 44,45 Em uma metanálise <strong>de</strong> ensaios clínicos<br />

randomizados comparando ultrassom com neuroestimulação<br />

na realização do bloqueio <strong>de</strong> nervo periférico, sugere-se que<br />

outros estudos sejam necessários em relação a complicações<br />

como TSAL e lesão neurológica persistente. 46<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O BNSE é um método efi caz e seguro no tratamento da dor<br />

em enfermida<strong>de</strong>s crônicas que acometem o ombro, e tem sido<br />

amplamente utilizado por profi ssionais na prática clínica, como<br />

reumatologistas, ortopedistas, neurologistas e especialistas em<br />

dor. A dor nessa articulação é uma queixa frequente e leva a<br />

consi<strong>de</strong>rável incapacida<strong>de</strong> funcional e redução na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida dos pacientes acometidos. Quando bem indicado, o<br />

BNSE <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado.<br />

Essa terapêutica também vem sendo cada vez mais utilizada<br />

pelos anestesiologistas para analgesia pós-operatória <strong>de</strong> cirurgias<br />

realizadas no ombro, já que a dor, muitas vezes severa,<br />

interfere no processo <strong>de</strong> reabilitação.<br />

É importante salientar que esse procedimento, apesar <strong>de</strong><br />

ter baixo custo e fácil reprodutibilida<strong>de</strong>, tem como restrições<br />

a falta <strong>de</strong> treinamento dos profi ssionais da área. Esta revisão<br />

se reportou aos diversos acessos <strong>de</strong>scritos na literatura para a<br />

realização do bloqueio com a introdução da agulha, po<strong>de</strong>ndo<br />

ocorrer anterior ou posterior, lateral ou medial e superior<br />

ou inferior. Portanto, várias são as opções para se realizar o<br />

BNSE. Cabe ao profi ssional da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> realizar aquele<br />

a que melhor se adapte, pois as complicações, apesar <strong>de</strong> raras,<br />

po<strong>de</strong>m acontecer.<br />

A infusão do anestésico local na fossa supraespinal (BNSE)<br />

interfere com a função dos canais <strong>de</strong> sódio, impedindo a propagação<br />

dos potenciais <strong>de</strong> ação nos axônios. Na eventualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ocorrer um bloqueio motor prolongado dos músculos supra<br />

e infraespinais, inervados pelo nervo supraescapular e importantes<br />

na abdução e na rotação externa do ombro, aumenta-se<br />

signifi cativamente a ativida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>ltoi<strong>de</strong>, assim como se altera<br />

a cinemática escapular. 47–50<br />

O presente estudo não preten<strong>de</strong> esgotar o tema, mas oferecer<br />

uma contribuição científi ca ao profi ssional da área médica<br />

envolvido no cuidado da saú<strong>de</strong> dos pacientes com dor no<br />

ombro, patologia que exige terapêutica específi ca.<br />

Bloqueio do nervo supraescapular: procedimento importante na prática clínica. Parte II<br />

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45:306–11.<br />

622 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):610-622


ARTIGO DE REVISÃO<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Artrite psoriásica: entida<strong>de</strong> clínica<br />

distinta da psoríase?<br />

Danilo Garcia Ruiz 1 , Mário Newton Leitão <strong>de</strong> Azevedo 2 , Omar Lupi da Rosa Santos 3<br />

Psoríase e artrite psoriásica são entida<strong>de</strong>s clínicas complexas e heterogêneas que po<strong>de</strong>m apresentar-se por meio <strong>de</strong> múltiplas<br />

combinações entre seus subtipos; há dúvidas, inclusive, se são entida<strong>de</strong>s distintas ou apenas variantes <strong>de</strong> uma mesma<br />

doença. Epi<strong>de</strong>miologicamente, a psoríase po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada doença comum, por afetar cerca <strong>de</strong> 2% da população<br />

mundial. Em relação à artrite psoriásica, não há consenso na literatura atual sobre suas reais incidência e prevalência<br />

na população geral. Fatores genéticos, imunológicos e ambientais interagem entre si até culminarem nas manifestações<br />

clínicas cutâneas e articulares da doença psoriásica. Atualmente, é reconhecido o papel central do linfócito T ativado na<br />

patogenia tanto da psoríase quanto da artrite psoriásica. Além disso, citocinas pró-infl amatórias po<strong>de</strong>m ser encontradas<br />

em concentrações aumentadas tanto na sinóvia quanto na pele <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> artrite psoriásica. Des<strong>de</strong> 1964, quando<br />

a relação entre psoríase e artrite psoriásica foi reconhecida ofi cialmente, muitos estudos foram conduzidos na tentativa<br />

<strong>de</strong> melhor compreen<strong>de</strong>r o mecanismo em comum das duas doenças. O antígeno leucocitário humano já foi consi<strong>de</strong>rado<br />

o centro da imunopatogenicida<strong>de</strong> psoriásica – hoje, o fator <strong>de</strong> necrose tumoral alfa exerce tal papel. Trata-se, portanto,<br />

da revisão <strong>de</strong> variados fatores que associam psoríase e artrite psoriásica e que convergem para a hipótese <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong><br />

doença única com múltiplas apresentações, <strong>de</strong>ntre elas a artropatia característica.<br />

Palavras-chave: psoríase, artrite psoriásica, inter-relação.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A psoríase é uma afecção cutânea infl amatória poligênica com<br />

fatores <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>antes como traumas, infecções e medicações<br />

que po<strong>de</strong>m levar a diferentes manifestações clínicas em indivíduos<br />

predispostos. O fenótipo representado em 90% dos casos<br />

caracteriza-se pela presença <strong>de</strong> placas eritematosas e <strong>de</strong>scamativas<br />

<strong>de</strong> bordos bem <strong>de</strong>fi nidos que atingem principalmente<br />

áreas <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> membros como joelhos e cotovelos. 1<br />

Uma <strong>de</strong> suas variadas formas <strong>de</strong> apresentação clínica é a<br />

psoríase artropática. Pela <strong>Reumatologia</strong>, é <strong>de</strong>nominada artrite<br />

psoriásica (AP) e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fi nida como doença infl amatória<br />

crônica das articulações sinoviais associada à psoríase, usualmente<br />

negativa para o fator reumatoi<strong>de</strong> (FR). 2 Encontra-se<br />

atualmente classifi cada no grupo das espondiloartrites, doenças<br />

que compartilham, além da negativida<strong>de</strong> para o FR,<br />

manifestações clínicas como artrite <strong>de</strong> articulações periféricas<br />

e do esqueleto axial e entesite. 3 Psoríase e AP são entida<strong>de</strong>s<br />

complexas e heterogêneas que po<strong>de</strong>m apresentar-se em torno<br />

<strong>de</strong> múltiplas combinações entre seus subtipos; há dúvidas,<br />

inclusive, se são entida<strong>de</strong>s distintas ou apenas variantes <strong>de</strong><br />

uma mesma doença. 4<br />

HISTÓRICO<br />

Embora em papiros egípcios estejam <strong>de</strong>scritas diversas doenças<br />

cutâneas, não há registros <strong>de</strong> lesões semelhantes à psoríase.<br />

Ainda na História Antiga, Hipócrates (460–377 a.C.) <strong>de</strong>screveu<br />

Recebido em 10/08/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. DGR é Mestre pelo programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Clínica Médica da UFRJ e foi bolsista do<br />

CNPq. Os <strong>de</strong>mais autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse.<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro – UFRJ.<br />

1. Reumatologista, Mestre em Clínica Médica, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro – UFRJ; Professor <strong>de</strong> Medicina, Instituto Tocantinense Presi<strong>de</strong>nte Antônio<br />

Carlos - ITPAC<br />

2. Doutor; Professor-Associado da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, UFRJ<br />

3. Professor Adjunto da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro – Uni-Rio; Docente Permanente do Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Clínica Médica,<br />

UFRJ; Professor Titular do Curso <strong>de</strong> Pós-graduação Médica, Instituto Carlos Chagas<br />

Correspondência para: Danilo Garcia Ruiz. Quadra 405 sul, Alameda 5, Resi<strong>de</strong>ncial Ouro Preto, apto. 236-A - Plano Diretor Sul. Palmas, TO, Brasil.<br />

CEP: 77015-640. E-mail: danilogruiz@hotmail.com<br />

630 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638


meticulosamente diversas lesões e, em sua classifi cação,<br />

erupções <strong>de</strong>scamativas e secas foram agrupadas em conjunto<br />

sob o termo “lopoi”. Tal fato, acredita-se, foi o precursor do<br />

agrupamento <strong>de</strong> lepra e psoríase com a consequente rejeição<br />

<strong>de</strong> pacientes psoriásicos em suas comunida<strong>de</strong>s, como <strong>de</strong>scrito<br />

no Antigo Testamento.<br />

A confusão entre lepra e psoríase permaneceu por séculos.<br />

Muitos pacientes psoriásicos, diagnosticados como leprosos,<br />

receberam as mesmas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tratamento que incluíam<br />

isolamento social, <strong>de</strong>claração pela igreja como ofi cialmente<br />

mortos e, ainda, em 1313, or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Philip <strong>de</strong> Fair para serem<br />

queimados em estacas. 5<br />

Foi somente no século XIX que a psoríase passou a ser<br />

mais bem estudada e entendida como uma entida<strong>de</strong> clínica<br />

distinta da hanseníase. Em 1809, Robert Willan, <strong>de</strong>rmatologista<br />

britânico, foi o primeiro a oferecer uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada da<br />

psoríase e a propor o termo psoriasis (em inglês). 1 Em 1841<br />

a psoríase foi <strong>de</strong>fi nitivamente separada da hanseníase por<br />

Ferdinand von Hebra. 5 A primeira associação entre psoríase e<br />

artrite <strong>de</strong>u-se em 1818, pelas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> Alibert. Foi Bazin,<br />

no entanto, quem primeiro referiu-se à doença, empregando<br />

o termo “psoríase artrítica” em 1860; Bourdillon, em 1888,<br />

forneceu <strong>de</strong>scrições mais <strong>de</strong>talhadas da doença. 6<br />

Mesmo sendo conhecida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras décadas do século<br />

XIX, apenas nos anos 1950 ela passou a ser mais bem estudada,<br />

quando Verna Wright notou a associação <strong>de</strong> psoríase com artrite<br />

erosiva e baixa frequência <strong>de</strong> FR. Em 1959, o mesmo Wright<br />

propôs o termo “artrite psoriásica”, e em 1964 o American College<br />

of Rheumatology (naquela época ainda sob o nome <strong>de</strong> American<br />

Rheumatism Association) a classifi cou pela primeira vez como<br />

uma entida<strong>de</strong> clínica distinta da artrite reumatoi<strong>de</strong> (AR). 7<br />

EPIDEMIOLOGIA<br />

A psoríase, <strong>de</strong> acordo com a maioria dos estudos, afeta cerca<br />

<strong>de</strong> 2% da população mundial, mas sua prevalência po<strong>de</strong> variar<br />

<strong>de</strong> 0%–11,8%, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da amostra estudada e dos métodos<br />

<strong>de</strong> análise populacional. 8 Asiáticos e populações indígenas<br />

parecem ser as populações com menor prevalência.<br />

Um estudo com mais <strong>de</strong> 5 milhões <strong>de</strong> chineses revelou<br />

prevalência <strong>de</strong> 0,2%, 9 e outro estudo não constatou nenhum<br />

caso <strong>de</strong> psoríase entre quase 26.000 índios nativos do território<br />

brasileiro. 10 As maiores prevalências estão concentradas nos<br />

povos nórdicos, como os 4,8% observados na Noruega. 8 Em<br />

relação à incidência, poucos foram os estudos conduzidos.<br />

A incidência estimada <strong>de</strong> psoríase nos Estados Unidos é <strong>de</strong><br />

60,4:100.000 pessoas/ano, e no Reino Unido é <strong>de</strong> 140:100.000<br />

pessoas/ano. 11<br />

Artrite psoriásica: entida<strong>de</strong> clínica distinta da psoríase?<br />

Mesmo consi<strong>de</strong>rando variações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho epi<strong>de</strong>miológico,<br />

trata-se <strong>de</strong> uma doença comum, <strong>de</strong> distribuição universal<br />

e que acomete em iguais proporções homens e mulheres.<br />

Po<strong>de</strong> manifestar-se em qualquer ida<strong>de</strong>, mas está dividida<br />

atualmente em dois picos etários <strong>de</strong> incidência: o primeiro<br />

com início entre 20 e 30 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (psoríase tipo 1), e<br />

o segundo entre 50 e 60 (psoríase tipo 2). 8 Em aproximadamente<br />

75% dos casos a doença tem início antes dos 40<br />

anos e, embora surja mais precocemente em mulheres, sua<br />

história natural é semelhante em ambos os gêneros, caracterizada<br />

por curso crônico intermitente com remissões que<br />

po<strong>de</strong>m durar <strong>de</strong> 1 a 54 anos. 5 Não há consenso na literatura<br />

atual em relação às reais incidência e prevalência <strong>de</strong> AP<br />

na população geral, uma vez que poucos foram os estudos<br />

conduzidos com essa intenção.<br />

Estima-se uma prevalência global <strong>de</strong> 0,04%–0,1%, mas<br />

esse número po<strong>de</strong> estar subestimado. 3 Nos Estados Unidos,<br />

sua prevalência está estimada em 0,25% da população geral. 12<br />

A prevalência <strong>de</strong> queixas articulares, no entanto, po<strong>de</strong> ser tão<br />

alta quanto os 90% observados por Gisondi em seu estudo<br />

conduzido com 936 pacientes hospitalizados com psoríase. 13<br />

Uma síntese <strong>de</strong> alguns dos principais estudos <strong>de</strong> prevalência<br />

e incidência <strong>de</strong> AP está apresentada na Tabela 1.<br />

Na África subsaariana, a prevalência <strong>de</strong> AP é afetada <strong>de</strong>vido<br />

aos altos índices <strong>de</strong> infecção pelo vírus da imuno<strong>de</strong>fi ciência<br />

humana (HIV). Historicamente, as artropatias soronegativas<br />

sempre foram incomuns nessa região <strong>de</strong>vido à baixa prevalência<br />

<strong>de</strong> HLA-B27, cuja presença é maior em populações caucasianas.<br />

Entretanto, um estudo conduzido na Zâmbia constatou<br />

que hoje as espondiloartrites são a forma mais comum <strong>de</strong> artrite<br />

naquela população (180/100.000 entre HIV positivos contra<br />

15/100.000 da população geral). 14<br />

Estudo subsequente na mesma região revelou que 96% dos<br />

pacientes com AP eram HIV positivos, contra 30% da população<br />

geral. 15 Na América do Norte, tal número fi ca entre 0,4%–2%. 6<br />

Tabela 1<br />

Incidência e prevalência <strong>de</strong> artrite psoriásica<br />

Autor Ano Local Prevalência<br />

Lomholt 1963 Ilhas Faroé 0,04%<br />

Alamanos 2003 Grécia 0,06%<br />

Shbeeb 2000 EUA 0,1%<br />

Autor Ano Local Incidência<br />

Shbeeb 2000 EUA 6/100.000<br />

Alamanos 2003 Grécia 2,9–3,1/100.000<br />

So<strong>de</strong>rlin 2002 Suécia 8/100.000<br />

Nota: adaptado <strong>de</strong> Bruce, 2008. 6<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638 631


Ruiz et al.<br />

Em relação aos portadores <strong>de</strong> psoríase que <strong>de</strong>senvolvem<br />

artrite, os números variam <strong>de</strong> 5% a 42%. 16 Um amplo e recente<br />

estudo epi<strong>de</strong>miológico alemão confi rmou o diagnóstico <strong>de</strong> AP<br />

em 20,6% <strong>de</strong> 1.511 pacientes com psoríase. 17 Esse número (em<br />

torno <strong>de</strong> 20%) é o mais aceito atualmente para ocorrência <strong>de</strong><br />

artrite em portadores <strong>de</strong> psoríase.<br />

Ao contrário da AR, que tem predileção pela população<br />

feminina, a AP afeta em proporções semelhantes homens e<br />

mulheres (1:1), e a ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> início da doença é entre<br />

30 e 55 anos. 6<br />

IMPACTOS<br />

A psoríase po<strong>de</strong> ser estigmatizante e afetar negativamente a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> seus portadores. 18 Seus sintomas físicos<br />

são fonte <strong>de</strong> estresse e <strong>de</strong> piora da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, uma vez<br />

que 76% dos pacientes sentem <strong>de</strong>scamação e prurido a todo<br />

tempo. Apesar disso, a gravida<strong>de</strong> clínica da doença aferida por<br />

médicos não está associada estatisticamente a nenhuma das<br />

crenças dos pacientes acerca <strong>de</strong> seus sintomas, o que reitera a<br />

importância do fator subjetivo no curso da doença. 19 A presença<br />

signifi cativa <strong>de</strong> outras comorbida<strong>de</strong>s, como doença <strong>de</strong> Crohn,<br />

diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica e transtornos do<br />

humor, também contribui para essa sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto<br />

psicossocial e tendência ao isolamento. 1<br />

O impacto da psoríase também po<strong>de</strong> ser observado sob o<br />

ponto <strong>de</strong> vista econômico. Nos Estados Unidos, aproximadamente<br />

56 milhões <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho são perdidas por<br />

portadores da doença, e até 3,2 bilhões <strong>de</strong> dólares são gastos<br />

por ano em seu tratamento. 20<br />

GENÉTICA E FATORES DESENCADEANTES<br />

Fatores genéticos, imunológicos e ambientais interagem entre<br />

si até culminar nas manifestações clínicas cutâneas e articulares<br />

da doença psoriásica. Acredita-se que sua transmissão seja<br />

multifatorial, possivelmente com traço poligênico e sabidamente<br />

com importante agregação familiar. 21 Quando ambos<br />

os pais apresentam psoríase, a chance <strong>de</strong> o fi lho também a<br />

<strong>de</strong>senvolver é <strong>de</strong> 41%. 22 Se somente o pai ou a mãe possui a<br />

doença, a chance <strong>de</strong> transmissão é <strong>de</strong> 14%; quando há um irmão<br />

afetado, a chance é <strong>de</strong> 6%, e apenas 2% quando não há história<br />

na família. 23 Entre irmãos gêmeos, a incidência <strong>de</strong> psoríase é<br />

<strong>de</strong> 65% para os monozigóticos e <strong>de</strong> 30% para os dizigóticos. 20<br />

Atualmente, sabe-se que tal predisposição genética se dá<br />

pela presença <strong>de</strong> antígenos leucocitários humanos (HLA). Em<br />

relação à psoríase, diversos HLA po<strong>de</strong>m estar associados, como<br />

HLA-B13, HLA-B17, HLA-B37, HLA-Bw16, HLA-Bw57 e<br />

HLA-DR7. O HLA-Cw6 é, no entanto, o mais importante. 18,20<br />

A presença do HLA-Cw6 em populações caucasianas confere<br />

um risco relativo <strong>de</strong> 13 vezes <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver psoríase, e em<br />

japoneses esse risco é <strong>de</strong> <strong>de</strong> 25 vezes. 5<br />

Um locus estudado foi o complexo <strong>de</strong> histocompatibilida<strong>de</strong><br />

maior (MHC) classe I associado ao gene A (MICA), comparando<br />

psoríase e AP com controles saudáveis. Os resultados<br />

mostraram que o polimorfi smo MICA-A9 (correspon<strong>de</strong>nte ao<br />

alelo MICA-002) estava aumentado somente em AP, enquanto<br />

o alelo Cw*0602 estava signifi cativamente aumentado em<br />

ambas (psoríase e artrite). O alelo MICA-002, portanto, po<strong>de</strong><br />

ser um possível candidato ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> AP. 24<br />

Há associação <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong> HLA-B27 com psoríase pustulosa<br />

e acro<strong>de</strong>rmatite, HLA-B13 com psoríase guttata e frequências<br />

aumentadas <strong>de</strong> HLA-B17 em pacientes com psoríase tipo<br />

eritrodérmica. 5<br />

Apesar <strong>de</strong> nem sempre se reconhecer precisamente o<br />

evento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador da doença, um “gatilho” ambiental em<br />

um indivíduo predisposto po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminante, pois além do<br />

fator genético, elementos ambientais e imunológicos interagem<br />

para o surgimento da doença. 25<br />

Fatores externos que atuam diretamente sobre a pele po<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar psoríase. Prova disso é a reação positiva ao<br />

fenômeno <strong>de</strong> Köebner em 25% dos pacientes psoriásicos. A<br />

positivida<strong>de</strong> para tal fenômeno sugere que a psoríase seja uma<br />

doença sistêmica que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se localmente a partir<br />

<strong>de</strong> um evento traumático em um segmento corporal específi -<br />

co. 5 As infecções, tanto bacterianas quanto virais, <strong>de</strong>vem ser<br />

lembradas como importantes fatores sistêmicos ambientais<br />

que po<strong>de</strong>m estar relacionados à indução e ao agravamento da<br />

psoríase. As infecções por estreptococos do grupo A têm sido<br />

associadas ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> psoríase guttata, e o RNA<br />

ribossômico <strong>de</strong>ssa espécie tem sido <strong>de</strong>tectado no sangue e no<br />

líquido sinovial <strong>de</strong> pacientes com AP. 3 Apesar disso, mesmo<br />

sendo aceita a imunorreativida<strong>de</strong> ao antígeno estreptocócico,<br />

ainda não está claro se a infecção <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia AP ou se a quebra<br />

da barreira cutânea pela psoríase conduz a uma exposição ao<br />

microrganismo e, consequentemente, a uma forma <strong>de</strong> artrite<br />

reativa. 26<br />

Em populações soropositivas para o HIV, as manifestações<br />

clínicas da doença cutânea ten<strong>de</strong>m a ser mais graves e<br />

exuberantes. 27 Em relação à forma artropática, pacientes HIV<br />

positivo têm um curso variável, porém, na maioria dos casos<br />

ten<strong>de</strong>m a apresentar erosões e <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s precoces, com<br />

evolução progressiva e refratarieda<strong>de</strong> à terapia convencional. 28<br />

Diversas drogas têm sido implicadas como indutoras <strong>de</strong><br />

psoríase, sendo importante <strong>de</strong>stacar o carbonato <strong>de</strong> lítio, o interferon,<br />

os β-bloqueadores e os antimaláricos como principais.<br />

632 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638


Retiradas rápidas <strong>de</strong> corticoi<strong>de</strong>s sistêmicos também po<strong>de</strong>m<br />

estar associadas tanto com a indução <strong>de</strong> psoríase pustulosa<br />

quanto com a piora da psoríase em placas. Outras medicações<br />

possivelmente associadas, mas com impacto clínico menos<br />

contun<strong>de</strong>nte, são os inibidores da enzima conversão <strong>de</strong> angiotensina<br />

e os anti-infl amatórios inibidores da COX-1. 25<br />

Também estão <strong>de</strong>scritos como fatores ambientais e sistêmicos<br />

associados à psoríase o consumo aumentado <strong>de</strong> álcool, o<br />

tabagismo e a obesida<strong>de</strong>. Tais elementos, no entanto, não possuem<br />

ainda mecanismos patológicos plenamente elucidados. 5<br />

A frequência aumentada <strong>de</strong> AP em pacientes com psoríase<br />

grave tem sido argumento para associar estresse psicológico,<br />

envolvimento cutâneo e articular. 29 Um possível papel do<br />

estresse psicológico tem sido proposto, mas a real patogênese<br />

permanece <strong>de</strong>sconhecida. 30<br />

Vacinação para rubéola, úlceras orais recorrentes, mudança<br />

<strong>de</strong> domicílio, ferimentos que necessitam cuidado médico e<br />

fraturas ósseas também foram <strong>de</strong>scritos como fatores associados<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> artrite em pacientes com psoríase.<br />

Estudo subsequentes, no entanto, são necessários para verifi car<br />

essas informações e examinar os mecanismos imunológicos<br />

envolvidos. 31<br />

PATOGÊNESE<br />

A patogenia da AP é complexa e ainda não foi plenamente<br />

<strong>de</strong>svendada. Atualmente se reconhece o papel central do linfócito<br />

T ativado na patogenia tanto da psoríase quanto da AP.<br />

Devido às suas características macroscópicas e por ser uma<br />

doença eminentemente epidérmica, sempre se acreditou que o<br />

<strong>de</strong>feito bioquímico ou celular principal residisse unicamente<br />

no queratinócito. A patogenia central da psoríase está, sim,<br />

relacionada a uma diferenciação e proliferação anormal dos<br />

queratinócitos, mas há aspectos celulares, citocinas, quimiocinas<br />

e elementos da resposta imune inata e adaptativa, hoje<br />

sabidamente envolvidos em sua patogenia. 20<br />

O foco das pesquisas e o consequente melhor entendimento<br />

<strong>de</strong> sua fi siopatologia mudaram quando se notou melhora <strong>de</strong><br />

pacientes, diagnosticados com psoríase, que faziam uso <strong>de</strong><br />

ciclosporina para evitar a rejeição <strong>de</strong> órgãos transplantados. 32<br />

Essa medicação é inibidora da transcrição do RNA mensageiro<br />

para a produção <strong>de</strong> diversas citocinas dos linfócitos T, cuja<br />

ativação via IL-2 leva à produção <strong>de</strong> fator <strong>de</strong> necrose tumoral<br />

alfa (TNF-α) e à perpetuação da cascata infl amatória. Em vista<br />

disso, alguma atenção por parte da comunida<strong>de</strong> científi ca tem<br />

sido dada em direção a consi<strong>de</strong>rar a psoríase como doença<br />

autoimune, apesar <strong>de</strong> nenhum verda<strong>de</strong>iro autoantígeno ter sido<br />

i<strong>de</strong>ntifi cado até então.<br />

Artrite psoriásica: entida<strong>de</strong> clínica distinta da psoríase?<br />

Células do sistema imune inato como queratinócitos, células<br />

<strong>de</strong>ndríticas, neutrófi los, monócitos/macrófagos e células<br />

natural killer (NK) estão envolvidas no evento infl amatório<br />

da articulação psoriásica. A quebra da integrida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> função<br />

do queratinócito po<strong>de</strong> promover uma resposta infl amatória<br />

por mecanismos que envolvem a ativação <strong>de</strong> linfócitos T e<br />

sinalização via TNF-α. 33<br />

Citocinas pró-infl amatórias como TNF-α e IL-1 po<strong>de</strong>m<br />

ser vistas em concentrações aumentadas na sinóvia e na pele<br />

<strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> AP, bem como po<strong>de</strong>m ser responsabilizadas<br />

diretamente pelo aumento <strong>de</strong> fatores locais <strong>de</strong> crescimento e<br />

pelas alterações vasculares da doença, como espessamento<br />

capilar e infi ltrados infl amatórios periarticulares. 5 Biópsias<br />

<strong>de</strong> tecido ósseo <strong>de</strong> articulações psoriásicas <strong>de</strong>monstraram<br />

gran<strong>de</strong>s osteoclastos multinucleados em reabsorção profunda<br />

na junção osso-pannus. Há regulação para mais do<br />

RANK-L e diminuição da expressão da osteoprotegerina<br />

(OPG). 5 O tratamento com agentes anti-TNF-α diminui<br />

drasticamente os níveis <strong>de</strong> precursores <strong>de</strong> osteoclastos<br />

circulantes, o que evi<strong>de</strong>ncia o papel central <strong>de</strong>ssa citocina<br />

também em relação à <strong>de</strong>sregulação do remo<strong>de</strong>lamento<br />

ósseo na AP. 34<br />

Circundando a patologia óssea e sinovial está o papel vascular,<br />

cujas alterações morfológicas são diferentes das observadas<br />

na AR. Na AP, hiperplasia e hipertrofi a <strong>de</strong> sinoviócitos são<br />

mínimas, enquanto as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capilares e pequenas artérias<br />

<strong>de</strong>monstram importante espessamento e infi ltrado infl amatório<br />

perivascular. 5<br />

Esse padrão vascular específi co e as altas concentrações <strong>de</strong><br />

fatores <strong>de</strong> crescimento (TGF-β, VEGF, PDGF) sugerem que a<br />

angiogênese e a função vascular alterada têm importante função<br />

no início do processo infl amatório, tanto na pele quanto nas<br />

articulações, 26 fato esse que fortalece a teoria <strong>de</strong> uma doença<br />

sistêmica única.<br />

CLASSIFICAÇÃO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS<br />

Inúmeras foram as tentativas <strong>de</strong> se classifi car a AP, mas<br />

esbarra-se nas difi culda<strong>de</strong>s naturais <strong>de</strong> se estudar uma doença<br />

complexa e heterogênea, que por vezes se assemelha à AR, e<br />

por outras à espondilite anquilosante, ou ainda, assume características<br />

próprias. 35<br />

Moll e Wright, 2 quando classifi caram a doença pela primeira<br />

vez, em 1973, utilizaram apenas três elementos: artrite<br />

infl amatória, presença <strong>de</strong> psoríase e ausência <strong>de</strong> FR. Com o<br />

passar do tempo, acompanhado <strong>de</strong> melhor entendimento das<br />

características da doença, houve, pelo menos, outras cinco<br />

tentativas <strong>de</strong> classifi cação. Ao longo dos anos foram acrescidos<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638 633


Ruiz et al.<br />

Tabela 2<br />

Autores e grupos que propuseram classifi cações para artrite psoriásica e principais características <strong>de</strong> seus estudos<br />

Autor(es)/Grupo Ano Principais características<br />

Moll; Wright 1973 Artrite, psoríase, fator reumatoi<strong>de</strong> negativo<br />

Bennet 1979 Consi<strong>de</strong>ra dactilite, exclui nódulos subcutâneos e infecções<br />

Vasey; Espinoza 1984 Lesões radiológicas específi cas (“pencil in cup”)<br />

ESSG 1991<br />

McGonagle; Canaghan; Emery 1999<br />

Fournié 1999<br />

Nota: adaptado <strong>de</strong> Helliwell e Taylor, 2005. 35<br />

ESSG: European Spondyloarthropathy Study Group; CMRO: Chronic Multifocal Recurrent Osteomyelitis.<br />

elementos como dactilite, alterações radiológicas, história<br />

familiar, entesite e presença <strong>de</strong> HLA.<br />

A Tabela 2 apresenta os autores/grupos que trabalharam<br />

na tentativa <strong>de</strong> organizar o conhecimento acerca da AP e traz<br />

as principais características acrescidas em relação aos estudos<br />

anteriores.<br />

Para fi ns diagnósticos e padronização visando aos estudos<br />

clínicos, a classifi cação mais atual é a CASPAR <strong>de</strong> 2006 (do<br />

inglês, Classifi cation Criteria for Psoriatic Arthritis). Nessa<br />

classifi cação, a presença <strong>de</strong> artrite é imprescindível. Psoríase<br />

atual contabiliza dois pontos, e cada um dos itens seguintes<br />

contabilizam um ponto: história prévia <strong>de</strong> psoríase, história<br />

familiar <strong>de</strong> psoríase, distrofi a ungueal, FR negativo, dactilite e/<br />

ou lesões radiológicas típicas em mãos e pés. São classifi cados<br />

como portadores <strong>de</strong> AP os pacientes que somam três ou mais<br />

pontos associados à presença <strong>de</strong> artrite. 36<br />

No entanto, a classifi cação <strong>de</strong> Moll e Wright <strong>de</strong> 1973 para<br />

AP continua sendo a mais tradicional e, mesmo com suas<br />

limitações, ainda é muito utilizada. A doença é subdivida em<br />

relação ao padrão <strong>de</strong> envolvimento articular em artrite predominante<br />

<strong>de</strong> articulações interfalangeanas distais, oligoartrite<br />

assimétrica, poliartrite simétrica, espondiloartropatia e artrite<br />

mutilante 2 (Figura 1).<br />

Vale lembrar que a AP é uma doença infl amatória crônica<br />

e dinâmica, o que na prática signifi ca que um mesmo paciente<br />

po<strong>de</strong> migrar <strong>de</strong> um subtipo para outro, ou acumular padrões <strong>de</strong><br />

envolvimento. O tempo <strong>de</strong> duração da doença e o momento em<br />

que ela é analisada em <strong>de</strong>terminado paciente po<strong>de</strong>m interferir<br />

em sua classifi cação diagnóstica e na contagem <strong>de</strong> articulações<br />

acometidas, que ten<strong>de</strong> a ser mono ou oligoarticular no começo,<br />

e poliarticular em estágios mais avançados. 6<br />

De modo geral, as lesões <strong>de</strong> pele costumam surgir antes<br />

da artrite em 75% dos casos. O início simultâneo da doença<br />

Dor vertebral <strong>de</strong> ritmo infl amatório<br />

Consi<strong>de</strong>ra pela primeira vez a história familiar <strong>de</strong> psoríase<br />

Entesite<br />

Associação com outras artropatias [SAPHO, osteomielite crônica multifocal recidivante (CRMO)]<br />

Dor em ná<strong>de</strong>gas, calcanhares, pare<strong>de</strong> torácica anterior<br />

Valoriza a presença <strong>de</strong> HLA<br />

Figura 1<br />

Artrite psoriásica forma espondilítica. Observar a retifi cação<br />

da coluna lombar e a acentuação da cifose dorsal, além das<br />

lesões eritematosas da psoríase.<br />

cutâneo-articular ocorre em 10% dos pacientes, e a artrite<br />

prece<strong>de</strong> as lesões <strong>de</strong> pele nos outros 15%. 25<br />

634 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638


Apesar <strong>de</strong> a lesão crônica em placas ser a forma mais<br />

comum <strong>de</strong> psoríase, a doença po<strong>de</strong> apresentar-se em um amplo<br />

espectro <strong>de</strong> manifestações cutâneas. Po<strong>de</strong> haver, ainda,<br />

diferentes variantes coexistindo em um mesmo paciente, mas<br />

todas as formas exibem três características em comum: eritema,<br />

espessamento e <strong>de</strong>scamação. 5<br />

Há também que se consi<strong>de</strong>rar as variações individuais,<br />

os medicamentos em uso, o meio que está inserido<br />

o doente e, aliado a isso, suas características genéticas e<br />

epi<strong>de</strong>miológicas. 37<br />

As lesões infl amatórias da psoríase geralmente são crônicas<br />

e recidivantes, embora também possam ter início súbito. Tais<br />

lesões po<strong>de</strong>m ser classifi cadas <strong>de</strong> acordo com sua morfologia,<br />

distribuição e presença ou ausência <strong>de</strong> pústulas. Os principais<br />

subtipos são: psoríase vulgar (Figura 2), psoríase guttata,<br />

eritrodérmica, pustulosa e invertida. 38<br />

A doença pustulosa palmoplantar tem sido comumente associada<br />

a lesões ósseas infl amatórias, recebendo a <strong>de</strong>nominação<br />

<strong>de</strong> síndrome SAPHO (sinovite, acne, pustulose, hiperostose<br />

e osteíte). 5<br />

Lesões ungueais são muito comuns e po<strong>de</strong>m, inclusive,<br />

ajudar a diferençar a AP inicial da AR. Ocorrem em 40%–45%<br />

dos pacientes com psoríase não complicada por artrite, e po<strong>de</strong>m<br />

chegar a 87% dos pacientes com AP. 39<br />

A mucosa oral também po<strong>de</strong> ser acometida sob a forma <strong>de</strong><br />

lesões eritematosas anulares migratórias (annulus migrans), e<br />

a língua é o local mais comum. A região genital é acometida<br />

em cerca <strong>de</strong> 30% dos casos. 5<br />

A<br />

Figura 2<br />

Psoríase em placas. A: Acometimento em dorso. B: Placas<br />

eritemato<strong>de</strong>scamativas localizadas em mama esquerda.<br />

Fonte: Lima 2010, tese <strong>de</strong> doutorado. <strong>52</strong><br />

B<br />

Artrite psoriásica: entida<strong>de</strong> clínica distinta da psoríase?<br />

MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES<br />

Além das manifestações articulares propriamente ditas, a AP<br />

também po<strong>de</strong> cursar com o envolvimento <strong>de</strong> outros órgãos e<br />

sistemas, como dactilite, entesite, e<strong>de</strong>ma periférico, infl amações<br />

oculares, ulcerações orais, uretrite, doença da válvula<br />

aórtica e distrofi a ungueal. 3 Infl amação intestinal subclínica foi<br />

observada por meio <strong>de</strong> ileocolonoscopia em 16% dos pacientes<br />

com AP, mas esses achados limitaram-se aos pacientes com<br />

doença oligoarticular ou axial. 40<br />

O aparelho ungueal <strong>de</strong>ve ser abordado como apêndice do<br />

sistema musculoesquelético, e não somente da pele, tendo em<br />

vista que ele tem íntimas relações anatômicas e funcionais<br />

com as falanges distais e os tendões extensores dos <strong>de</strong>dos. A<br />

associação <strong>de</strong> artrite <strong>de</strong> articulações interfalangeanas distais<br />

com distrofi a ungueal, portanto, não é apenas uma coincidência<br />

anatômica. 41<br />

Cabe ressaltar ainda que a distrofi a ungueal, as lesões<br />

psoriásicas <strong>de</strong> couro cabeludo e da região interglútea/perianal<br />

são aquelas associadas a maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> AP. 42<br />

DOENÇAS DISTINTAS?<br />

Há doenças sistêmicas que cursam com manifestações cutâneas<br />

e articulares, como o lúpus eritematoso sistêmico. Há<br />

doenças predominantemente cutâneas, que po<strong>de</strong>m apresentar<br />

manifestações sistêmicas e articulares, como a síndrome <strong>de</strong><br />

Sweet. 43 À parte disso, há a psoríase, que po<strong>de</strong> apresentar-se<br />

com lesões quase imperceptíveis nos leitos ungueais e na fenda<br />

interglútea ou atingir a totalida<strong>de</strong> da superfície corporal, no<br />

caso do tipo eritrodérmica. Além disso, o acometimento articular<br />

da psoríase po<strong>de</strong> ser tanto mínimo quanto poliarticular,<br />

grave e <strong>de</strong>formante.<br />

Des<strong>de</strong> que a relação entre psoríase e AP foi reconhecida ofi -<br />

cialmente, em 1964, pela American Rheumatism Association, 7<br />

muitos estudos foram conduzidos na tentativa <strong>de</strong> melhor<br />

compreen<strong>de</strong>r o mecanismo em comum das duas doenças. 35<br />

Em relação à imunogenicida<strong>de</strong> das espondiloartrites,<br />

sabe-se da associação positiva entre a presença <strong>de</strong> HLA-B27<br />

e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong>sse grupo, em especial da<br />

espondilite anquilosante, na qual a positivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal antígeno<br />

leucocitário é <strong>de</strong> 90%–95%. Com base em tal mo<strong>de</strong>lo, acreditava-se<br />

que esse HLA estaria relacionado apenas à espondilite<br />

e a outras doenças axiais. 44 No entanto, em 1977, Eastmond<br />

e Woodrow 45 <strong>de</strong>screveram um grupo <strong>de</strong> pacientes em que a<br />

presença do HLA-B27 aumentava o risco <strong>de</strong> o paciente com<br />

psoríase <strong>de</strong>senvolver não só doença axial, mas também artrite<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638 635


Ruiz et al.<br />

▼<br />

PELE<br />

periférica, incluindo artrite <strong>de</strong> interfalangeanas distais. Com<br />

isso, esses pesquisadores britânicos <strong>de</strong>ram os primeiros passos<br />

no sentido <strong>de</strong> um melhor entendimento do papel imunogenético<br />

na relação entre psoríase e AP.<br />

Outro elemento que conta a favor da ligação entre as<br />

duas doenças é o envolvimento ungueal associado à artrite.<br />

Em 1984, Scarpa et al. 46 observaram que alterações<br />

ungueais estavam presentes em 63% dos pacientes com<br />

AP, ao contrário dos 37% <strong>de</strong> pacientes com psoríase sem<br />

artrite. Além disso, nos pacientes em que a artrite prece<strong>de</strong>u<br />

o surgimento das lesões cutâneas, em 88% dos casos<br />

as alterações ungueais antece<strong>de</strong>ram as lesões psoriásicas<br />

propriamente ditas. 46<br />

A associação entre unha psoriásica e artrite também<br />

foi observada por Jones et al. 47 em 1994 e, recentemente,<br />

McGonagle 48 tem publicado artigos para nos lembrar que<br />

“embora a unha esteja embrionariamente relacionada à<br />

pele e tradicionalmente seja vista como uma modificação<br />

cutânea especializada, na verda<strong>de</strong> está funcionalmente<br />

integrada ao sistema musculoesquelético, ancorada ao<br />

osso pela entese”.<br />

Assim, o fato <strong>de</strong> a infl amação da entese do tendão extensor<br />

frequentemente envolver o leito ungueal nos remete a enten<strong>de</strong>r<br />

a artrite <strong>de</strong> uma articulação interfalangeana distal e a distrofi a<br />

ungueal <strong>de</strong> um mesmo <strong>de</strong>do como um processo único, e não<br />

doenças distintas da pele e das articulações.<br />

▼<br />

GALT<br />

HLA<br />

AMBIENTE<br />

▼<br />

▼<br />

ARTICULAÇÕES<br />

AMBIENTE<br />

ARTICULAÇÕES<br />

Na década <strong>de</strong> 1990, Scarpa 49 acreditava que o HLA era<br />

responsável pela expressão clínica multissistêmica da psoríase,<br />

ocupando o centro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo teórico que envolvia pele,<br />

articulações e o tecido linfoi<strong>de</strong> GALT.<br />

Hoje é sabido que, além <strong>de</strong> haver mais <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> HLA<br />

envolvido na patogênese da psoríase, há outros elementos<br />

moleculares importantes envolvidos. Um <strong>de</strong>sses elementos é<br />

o TNF-α, citocina capaz <strong>de</strong> participar da cascata infl amatória<br />

ativando tanto queratinócitos epidérmicos quanto células<br />

endoteliais e sinoviócitos. O próprio Scarpa, então, modifi ca<br />

seu mo<strong>de</strong>lo hipotético e coloca o TNF-α no centro do mesmo,<br />

circundando-o por elementos ambientais e intrínsecos, <strong>de</strong>ntre<br />

os quais, o HLA (Figura 3). 4<br />

O acúmulo histórico <strong>de</strong> conhecimento e o consequente<br />

melhor entendimento no mecanismo patogênico da AP levou<br />

Scarpa à seguinte indagação: “Psoríase, artrite psoriásica ou<br />

doença psoriásica?”. 4 Ele pressupõe estarmos diante <strong>de</strong> uma<br />

mesma doença, fundamentado em achados que comprovam a<br />

existência <strong>de</strong> um processo infl amatório cutâneo, sinovial e até<br />

mesmo intestinal interligado. 50<br />

Corroboraram tal hipótese <strong>de</strong> doença única os estudos que<br />

<strong>de</strong>monstram a importância da entesite para o diagnóstico <strong>de</strong><br />

infl amação sistêmica. Girolomoni e Gisondi <strong>de</strong>monstraram que<br />

existe entesopatia subdiagnosticada comprovada por ultrassonografi<br />

a em pacientes com psoríase, sugerindo, assim, que a<br />

doença é multissistêmica e não se restringe à pele. 51<br />

636 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638<br />

▼<br />

TNF<br />

▼<br />

PELE<br />

▼<br />

ÓRGÃOS<br />

INTERNOS<br />

Figura 3<br />

Mo<strong>de</strong>lo patogênico proposto por Raffaele Scarpa em 1999 tendo o HLA no papel central (à esquerda)<br />

e revisão do mo<strong>de</strong>lo proposto pelo próprio Scarpa em 2006 (à direita).<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Scarpa 1999 49 e 2006. 4<br />

HLA


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A Dermatologia classifi ca e subdivi<strong>de</strong> a psoríase como doença<br />

sistêmica com diversas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manifestações clínicas.<br />

Uma <strong>de</strong>las é a chamada psoríase artropática, havendo inclusive<br />

um número específi co para tal na atual Classifi cação Internacional<br />

<strong>de</strong> Doenças, distinto daquele utilizado pela <strong>Reumatologia</strong>.<br />

Diante do exposto, os autores acreditam que é necessário<br />

abordar a AP como uma das diversas e possíveis formas <strong>de</strong><br />

apresentação clínica <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um amplo universo espectral<br />

chamado psoríase.<br />

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638 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):623-638


CASE REPORT<br />

Síndrome antifosfolípi<strong>de</strong> e <strong>de</strong>rmatomiosite/<br />

polimiosite: uma rara associação<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Fernando Henrique Carlos <strong>de</strong> Souza 1 , Maurício Levy-Neto 2 , Samuel Katsuyuki Shinjo 3<br />

A associação entre a síndrome antifosfolípi<strong>de</strong> e as miopatias infl amatórias idiopáticas tem sido raramente <strong>de</strong>scrita na<br />

literatura. No presente trabalho relatamos dois pacientes com síndrome antifosfolípi<strong>de</strong> diagnosticados com <strong>de</strong>rmatomiosite<br />

ou polimiosite. Realizamos também uma revisão da literatura acerca <strong>de</strong>ssa sobreposição <strong>de</strong> duas entida<strong>de</strong>s<br />

autoimunes sistêmicas.<br />

Palavras-chave: <strong>de</strong>rmatomiosite, polimiosite, síndrome antifosfolipídica, relatos <strong>de</strong> casos.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A síndrome antifosfolípi<strong>de</strong> (SAF) po<strong>de</strong> ser primária ou secundária<br />

a uma série <strong>de</strong> condições, tais como neoplasias, doenças<br />

infecciosas, drogas 1 ou, ainda, a outras doenças autoimunes,<br />

como lúpus eritematoso sistêmico (LES). 2,3 A <strong>de</strong>rmatomiosite<br />

(DM) e a polimiosite (PM) também ocorrem isoladamente ou<br />

em associação a outras doenças autoimunes, das quais o LES e<br />

a síndrome <strong>de</strong> Sjögren são as mais frequentemente observadas. 4<br />

Entretanto, há poucos trabalhos que mostram a associação<br />

entre a SAF e a DM ou a PM 5–7 – há apenas quatro casos<br />

que ilustram a SAF cursando com PM, 5–7 dos quais dois são<br />

associados a mielite transversa, 7,8 além <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> caso<br />

<strong>de</strong> SAF com DM. 5<br />

Devido à rarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa sobreposição, apresentamos dois<br />

pacientes com SAF e DM ou PM simultaneamente, e realizamos<br />

uma revisão da literatura.<br />

RELATO DE CASO<br />

Caso 1<br />

Paciente do gênero masculino, 40 anos, com história <strong>de</strong><br />

fraqueza muscular proximal dos quatro membros e sintomas<br />

constitucionais há cerca <strong>de</strong> três meses. Na ocasião, apresentava<br />

aumento <strong>de</strong> enzimas musculares [creatinoquinase (CK):<br />

1.876 U/L (valor <strong>de</strong> referência: 26–190 U/L) e aldolase <strong>de</strong><br />

146 U/L (valor <strong>de</strong> referência: até 7,6 U/L)], com eletroneuromiografi<br />

a (ENMG) e biópsia muscular do bíceps braquial<br />

compatíveis com miopatia infl amatória. Foram afastadas causas<br />

infecciosas e neoplásicas. Com a hipótese <strong>de</strong> PM, iniciou-se<br />

prednisona 1 mg/kg/dia e metotrexato (dose máxima: 25 mg/semana).<br />

Posteriormente, pela refratarieda<strong>de</strong> clínico-laboratorial,<br />

associou-se um segundo imunossupressor, azatioprina (dose<br />

máxima: 3 mg/kg/dia), com controle da ativida<strong>de</strong> da doença.<br />

Após um ano do diagnóstico da PM o paciente apresentou<br />

trombose venosa profunda (TVP) do membro inferior direito<br />

(MID), confi rmado por ultrassonografi a doppler, sem causa<br />

aparente. Naquela ocasião apresentava anticardiolipina IgM <strong>de</strong><br />

110 MPL (valor <strong>de</strong> referência: < 20 MPL) e, portanto, iniciou-se<br />

cumarínico com controle a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> coagulograma. O valor<br />

<strong>de</strong> anticardiolipina IgM, após 12 semanas do evento trombótico,<br />

foi <strong>de</strong> 100 MPL, confi rmando o diagnóstico <strong>de</strong> SAF.<br />

Atualmente, o paciente encontra-se estável clínico-laboratorialmente,<br />

sem uso <strong>de</strong> prednisona há apenas um ano, em<br />

uso <strong>de</strong> azatioprina 3 mg/kg/dia e metotrexato 10 mg/semana,<br />

além <strong>de</strong> varfarina 5 mg/dia.<br />

Recebido em 30/01/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse.<br />

Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – FMUSP.<br />

1. Reumatologista, Médico-Assistente do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – HC/FMUSP<br />

2. Doutor em Medicina; Médico-Assistente do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, HC/FMUSP; Professor Colaborador da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, FMUSP<br />

3. Doutor em Ciências; Médico-Assistente do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, HC/FMUSP; Professor Colaborador da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, FMUSP<br />

Correspondência para: Samuel Katsuyuki Shinjo. Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, 455,<br />

3° andar – sala 3150. CEP: 01246-903. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: samuel.shinjo@gmail.com<br />

642 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):639-644


Caso 2<br />

Paciente do gênero feminino, 48 anos, com quadro <strong>de</strong> fraqueza<br />

proximal nos quatro membros, heliótropo e sinal <strong>de</strong> Gottron<br />

há sete meses. Apresentava, na primeira avaliação médica,<br />

CK <strong>de</strong> 3.500 U/L e aldolase <strong>de</strong> 376 U/L, tendo sido submetida<br />

à biópsia muscular <strong>de</strong> bíceps braquial compatível com<br />

DM. Iniciou-se prednisona 1 mg/kg/dia e azatioprina (dose<br />

máxima: 3 mg/kg/dia, peso <strong>de</strong> 50 kg). Entretanto, após seis<br />

meses, <strong>de</strong>vido a pouca resposta clínico-laboratorial, optou-se por<br />

pulsoterapia com metilprednisolona (1 g/dia por três dias consecutivos),<br />

além da associação <strong>de</strong> metotrexato, com aumento<br />

progressivo da dose até 25 mg/semana.<br />

Durante o seguimento houve recidivas da doença após<br />

redução do corticosteroi<strong>de</strong>, realizando-se então dose única <strong>de</strong><br />

imunoglobulina intravenosa humana (1 g/kg/dia por dois dias<br />

consecutivos), com melhora do ponto <strong>de</strong> vista clínico-laboratorial.<br />

Associou-se, no mesmo período, ciclosporina 100 mg/<br />

dia, com boa resposta.<br />

Dois anos após o diagnóstico da DM a paciente apresentou<br />

TVP do MID, confi rmado por ultrassonografi a doppler, sem<br />

causa aparente. Além disso, apresentava histórico <strong>de</strong> aborto na<br />

16 a semana <strong>de</strong> gestação e um óbito neonatal, com feto morfologicamente<br />

normal. Após reavaliação clínica, observou-se<br />

presença <strong>de</strong> anticoagulante lúpico positivo (duas amostras<br />

positivas com intervalo superior a 12 semanas), tendo sido<br />

iniciado cumarínico, com controles satisfatórios, sem <strong>de</strong>mais<br />

episódios trombóticos.<br />

Atualmente a paciente encontra-se em uso <strong>de</strong> ciclosporina<br />

200 mg/dia, azatioprina 75 mg/dia (dose reduzida <strong>de</strong>vido à<br />

Síndrome antifosfolípi<strong>de</strong> e <strong>de</strong>rmatomiosite/polimiosite: uma rara associação<br />

linfopenia já revertida) e prednisona 15 mg/dia, com difi culda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> redução <strong>de</strong> dose; a última recidiva foi há cinco anos.<br />

DISCUSSÃO<br />

Tabela 1<br />

Associação entre SAF e miopatias infl amatórias idiopáticas relatada na literatura<br />

Somando aos poucos casos clínicos disponíveis na literatura,<br />

apresentamos dois casos <strong>de</strong> pacientes com SAF, cursando<br />

simultaneamente com miopatia infl amatória idiopática (DM<br />

ou PM).<br />

A associação entre SAF e outras doenças autoimunes sistêmicas<br />

tem sido <strong>de</strong>scrita na literatura. Tarr et al. 8 relataram<br />

cerca <strong>de</strong> 30% da SAF em seus 362 pacientes com LES. Além<br />

disso, quando há essa sobreposição, há maiores índices <strong>de</strong><br />

TVP, aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral/ataque isquêmico transitório,<br />

perda fetal recorrente e infarto agudo do miocárdio, quando<br />

comparados aos pacientes que apresentam apenas LES.<br />

A coexistência da SAF é relatada também em 10% dos<br />

pacientes com síndrome <strong>de</strong> Sjögren que apresentam anticorpos<br />

antifosfolípi<strong>de</strong>s. 9 Esses pacientes apresentam mais Raynaud, lesões<br />

<strong>de</strong> pele (púrpura e livedo reticular), bem como citopenias. 9<br />

A SAF também tem sido <strong>de</strong>scrita em pacientes com doença<br />

mista do tecido conectivo (DMTC). 10–12 No entanto, mesmo<br />

nesses casos, quando os achados PM-símile foram incluídos,<br />

o diagnóstico <strong>de</strong> DMTC estava fi rmado, <strong>de</strong>vido à existência<br />

<strong>de</strong> elevados níveis <strong>de</strong> anticorpos específi cos.<br />

No entanto, a associação entre SAF e miopatias infl amatórias<br />

idiopáticas é extremamente rara. Até o presente momento,<br />

há apenas cinco casos (quatro com PM e um com DM) <strong>de</strong>scritos<br />

<strong>de</strong>ssa sobreposição. 5–7 Esses casos estão ilustrados na Tabela 1.<br />

Gênero Ida<strong>de</strong> Miopatia Síndrome antifosfolípi<strong>de</strong> Overlap Medicações<br />

Sherer et al. (2000)<br />

1 M 24 PM MT; aCL IgG (+) Não CE, MTX, CFF, ACO<br />

2 F 61 DM EP; aCL IgG (+) Não CE, ACO<br />

3<br />

Ponyi et al. (2004)<br />

F 50 PM AVCi, gestacional; LAC, aCL, IgG (+) Não CE, MTX, ACO<br />

1<br />

Mori et al. (2010)<br />

F 41 PM TVP MIE, aCl IgM (+), IgG (+) AR, antissintetase CE, SSA, CICL, ACO<br />

1<br />

Souza et al. (2011)<br />

M 46 PM MT, Anti-β2GPI Não CE<br />

1 M 40 PM TVP MID, aCL IgM (+) CE, AZA, MTX, ACO<br />

2 F 48 DM TVP MID, gestacional, LAC (+) CE, AZA, MTX, IgIV, CICL, ACO<br />

M: masculino; F: feminino; PM: polimiosite, DM: <strong>de</strong>rmatomiosite, MT: mielite transversa; aCL: anticardiolipina; CE: corticosteroi<strong>de</strong> (EV, VO); MTX: metotrexato; CFF: ciclofosfamida; ACO: anticoagulante oral;<br />

EP: embolia pulmonar; AVCi: aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral isquêmico; LAC: anticoagulante lúpico; TVP: trombose venosa profunda; MIE: membro inferior esquerdo; SSA: sulfassalazina; CICL: ciclosporina;<br />

Anti-β2GPI: anticorpo anti-β2-glicoproteína I; AZA: azatioprina; MID: membro inferior direito; IgIV: imunoglobulina intravenosa.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):639-644 643


Souza et al.<br />

Ainda não se sabe se a associação entre SAF e DM/PM é<br />

marcada por anticorpos miosite-específi cos, nem se há algum<br />

papel patogênico <strong>de</strong>sses nas miopatias, sendo o dano endotelial<br />

indubitavelmente o processo patogênico base da DM. 13<br />

O que observamos em nossos pacientes e nos relatados<br />

na literatura é a comum refratarieda<strong>de</strong> às terapêuticas realizadas,<br />

todos tendo recebido altas doses <strong>de</strong> corticosteroi<strong>de</strong><br />

por via oral ou em forma <strong>de</strong> pulsoterapia, 5–7 dos quais quatro<br />

apresentaram recidiva <strong>de</strong> doença e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> pelo<br />

menos dois imunossupressores (azatioprina, metotrexato e/ou<br />

ciclosporina). 5–7<br />

Fica a dúvida se a associação <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s torna a DM/<br />

PM <strong>de</strong> pior prognóstico. São necessários trabalhos futuros para<br />

tal esclarecimento.<br />

A imunoglobulina intravenosa po<strong>de</strong> ser uma opção <strong>de</strong><br />

tratamento para os pacientes que <strong>de</strong>monstram a coexistência<br />

<strong>de</strong> SAF e a miopatia refratárias, sendo atualmente aceita no<br />

tratamento da DM/PM, com algumas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> seu uso na<br />

SAF. 14,15 Nosso paciente com DM, <strong>de</strong>vido à refratarieda<strong>de</strong> à<br />

terapia medicamentosa convencional, recebeu imunoglobulina<br />

intravenosa com boa resposta clínico-laboratorial.<br />

Em síntese, a coexistência <strong>de</strong> SAF e DM/PM é raramente<br />

<strong>de</strong>scrita na literatura. No presente estudo, apresentamos dois<br />

casos que, a exemplo dos casos já <strong>de</strong>scritos, mostraram curso<br />

da miopatia relativamente mais agressiva.<br />

REFERENCES<br />

REFERÊNCIAS<br />

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antiphospholipid syndrome. Clin Immunol Immunopathol 1993;<br />

69(1):97–102.<br />

644 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):639-644


RELATO DE CASO<br />

Retocolite ulcerativa e artrite reumatoi<strong>de</strong>:<br />

uma rara associação – relato <strong>de</strong> caso<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Vitor Alves Cruz 1 , Lúcio Yamaguchi 2 , Carolina Nazeozeno Ribeiro 3 ,<br />

Vanessa <strong>de</strong> Oliveira Magalhães 4 , Jozelia Rego 5 , Nilzio Antonio da Silva 6<br />

A retocolite ulcerativa é uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m autoimune <strong>de</strong> etiologia <strong>de</strong>sconhecida. Embora o intestino grosso represente o principal<br />

foco <strong>de</strong> autoimunida<strong>de</strong>, trata-se, na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma doença sistêmica com inúmeras manifestações extraintestinais, inclusive<br />

articulares. A associação frequente entre diversas doenças autoimunes em um mesmo paciente é <strong>de</strong>scrita na literatura.<br />

No entanto, é rara a coexistência entre retocolite ulcerativa e artrite reumatoi<strong>de</strong>. Os autores relatam um caso <strong>de</strong> retocolite<br />

ulcerativa associada à artrite reumatoi<strong>de</strong> em que a colite prece<strong>de</strong>u em 12 anos o aparecimento da artropatia infl amatória.<br />

Palavras-chave: artrite reumatoi<strong>de</strong>, proctocolite, espondiloartropatias.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

A retocolite ulcerativa (RCU) é uma doença infl amatória sistêmica,<br />

<strong>de</strong> causa <strong>de</strong>sconhecida e <strong>de</strong> natureza essencialmente<br />

autoimune. Afeta predominantemente o cólon e o reto, resultando<br />

em diarreia crônica. Embora a associação entre doenças<br />

autoimunes seja conhecida, é rara a coexistência <strong>de</strong> retocolite<br />

e artrite reumatoi<strong>de</strong> (AR). 1<br />

O envolvimento articular ocorre tanto na RCU quanto<br />

na doença <strong>de</strong> Crohn, observado em até 30% dos casos. São<br />

<strong>de</strong>scritos dois padrões <strong>de</strong> acometimento: a forma espondilítica<br />

e a forma periférica. Ambas po<strong>de</strong>m prece<strong>de</strong>r o quadro<br />

intestinal, embora geralmente a artropatia se manifeste posteriormente<br />

à colite. 2<br />

A forma espondilítica é clínica e radiologicamente similar<br />

à espondilite anquilosante. A artropatia periférica costuma<br />

apresentar-se como oligoartrite assimétrica, afetando predominantemente<br />

os membros inferiores. É geralmente <strong>de</strong> curso<br />

mais agudo em relação à AR, não erosiva e, em geral, o controle<br />

da infl amação intestinal induz sua remissão. No entanto, po<strong>de</strong><br />

ser crônica e erosiva em 10% dos pacientes – Norton et al. 3<br />

<strong>de</strong>screveram pacientes com artropatia atípica, com erosões,<br />

<strong>de</strong>struição e <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s em associação à doença <strong>de</strong> Crohn.<br />

Na maioria dos casos é soronegativa, embora o fator reumatoi<strong>de</strong><br />

(FR), em baixo título, possa ocorrer eventualmente. Não<br />

há <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> associação com o autoanticorpo contra as<br />

proteínas citrulinadas (anti-CCP). É rara a artrite das pequenas<br />

articulações das mãos e dos punhos. Tal envolvimento torna<br />

obrigatório o diagnóstico diferencial com a AR – especialmente<br />

quando o FR é positivo. 2–4<br />

Em muitos casos, torna-se um <strong>de</strong>safi o o diagnóstico diferencial<br />

entre a artropatia secundária à própria doença infl amatória<br />

intestinal, também chamada <strong>de</strong> enteropática, e a ocorrência<br />

<strong>de</strong> manifestações articulares relacionadas a outras entida<strong>de</strong>s<br />

nosológicas concomitantes à RCU.<br />

Os autores relatam um caso <strong>de</strong> associação entre RCU e<br />

AR, em que a colite prece<strong>de</strong>u em 12 anos o aparecimento da<br />

artropatia infl amatória.<br />

Recebido em 07/02/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse.<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, Departamento <strong>de</strong> Clínica Médica, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás – UFG<br />

1. Reumatologista; Médico-Assistente do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> e Coor<strong>de</strong>nador do Ambulatório <strong>de</strong> Artrite Reumatoi<strong>de</strong>, Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás – HC-UFG<br />

2. Resi<strong>de</strong>nte (R1) <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, HC-UFG<br />

3. Resi<strong>de</strong>nte (R2) <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, HC-UFG<br />

4. Reumatologista; Médica-Assistente do Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, HC-UFG<br />

5. Reumatologista; Doutora em Ciências da Saú<strong>de</strong>, UFG; Professora-Adjunta da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, UFG<br />

6. Doutor em <strong>Reumatologia</strong>, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – USP; Professor Titular da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, UFG<br />

Correspondência para: Vitor Alves Cruz. Departamento <strong>de</strong> Clínica Médica – Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>. 1ª Avenida, s/n – Setor Leste Universitário. CEP: 74605-020.<br />

Goiânia, GO, Brasil. E-mail: vitorcruz@msn.com<br />

648 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):645-650


RELATO DE CASO<br />

IOR, mulher, natural e proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Santana, Bahia, procurou<br />

o Ambulatório <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> em maio <strong>de</strong> 2005 com queixas<br />

<strong>de</strong> dor e e<strong>de</strong>ma em segundo, terceiro e quarto interfalangeanos<br />

proximais (IFP) <strong>de</strong> ambas as mãos e punhos, com rigi<strong>de</strong>z<br />

matinal <strong>de</strong> 1h e 30 min. Referia início dos sintomas em 2001.<br />

Negava outras queixas articulares, síndrome seca, fotossensibilida<strong>de</strong>,<br />

úlceras orogenitais, erupção cutânea e fenômeno <strong>de</strong><br />

Raynaud. Relatou quadro <strong>de</strong> diarreia crônica em tratamento<br />

com coloproctologista. Antece<strong>de</strong>ntes: diagnóstico <strong>de</strong> RCU<br />

em 1989. Na época, apresentava diarreia líquida com muco,<br />

pus e sangue há seis meses, com colonoscopia evi<strong>de</strong>nciando<br />

pancolite, úlceras longitudinais e pseudopólipos. A biópsia exibia<br />

infi ltração intensa <strong>de</strong> polimorfonucleares na mucosa, com<br />

abscessos <strong>de</strong> cripta. Fazia uso regular <strong>de</strong> sulfassalazina 2 g/dia.<br />

Ao exame físico, apresentava artrite em segundo, terceiro<br />

e quarto IFP das mãos e punhos, sem outras anormalida<strong>de</strong>s.<br />

Os exames complementares apresentaram hemograma normal,<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação 60 mm, proteína C-reativa<br />

positiva, função renal e hepática normais, FR 451 UI/mL,<br />

anti-CCP 439,5 UI/mL, fator antinuclear 1:40 padrão nuclear<br />

pontilhado fi no, ANCA negativo. Raio x <strong>de</strong> mãos mostrou<br />

acentuada redução do espaço articular no carpo e erosões marginais<br />

no processo estiloi<strong>de</strong> da ulna, bilateralmente (Figura 1).<br />

Concluiu-se por AR associada à RCU. Foi prescrito metotrexato<br />

15 mg/semana, com melhora do quadro articular. Em <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 2009 houve reativação dos quadros intestinal e articular. Foi<br />

rediscutida a abordagem terapêutica e optou-se pelo início <strong>de</strong><br />

terapia anti-TNF, com melhora signifi cativa dos sintomas tanto<br />

articulares quanto intestinais.<br />

Figura 1<br />

Redução simétrica do espaço articular nos punhos com erosões<br />

bilaterais no processo estiloi<strong>de</strong> da ulna.<br />

Retocolite ulcerativa e artrite reumatoi<strong>de</strong>: uma rara associação – relato <strong>de</strong> caso<br />

DISCUSSÃO<br />

Não é incomum a coexistência entre a AR e outras doenças<br />

autoimunes, como tireoidite autoimune, vitiligo e lúpus eritematoso<br />

sistêmico. A principal associação relatada é com<br />

a síndrome <strong>de</strong> Sjögren, ocorrendo em até 30% dos casos. A<br />

associação com doença infl amatória intestinal é raramente<br />

observada. 2,5<br />

A associação entre AR e RCU é uma <strong>de</strong>scrição rara na<br />

literatura. Aoyangi et al., 6 em coorte prospectiva realizada<br />

entre 1980 e 1989 com pacientes portadores <strong>de</strong> RCU, não observaram<br />

nenhum caso <strong>de</strong> sobreposição com AR. Utsunomiya 7<br />

encontrou em seu estudo prevalência <strong>de</strong> 0,4% <strong>de</strong> AR em 5.833<br />

pacientes portadores <strong>de</strong> RCU. Sawada 8 i<strong>de</strong>ntifi cou a mesma<br />

prevalência em estudo menor, com 1.433 pacientes. Snook et al. 9<br />

<strong>de</strong>screveram apenas sete casos <strong>de</strong> AR em 858 pacientes com<br />

RCU. Na maioria dos relatos, a RCU complicava o curso da<br />

AR estabelecida. 5–9<br />

Em nosso estudo, o início insidioso, o envolvimento das<br />

pequenas articulações <strong>de</strong> mãos e punhos, os achados radiológicos<br />

e o FR e o anti-CCP positivos sustentam a hipótese<br />

da coexistência <strong>de</strong> AR e RCU. O anti-CCP está raramente<br />

presente em outras doenças reumáticas, como a artrite psoriásica.<br />

Parece estar diretamente relacionado ao tabagismo, que<br />

amplifi ca o processo <strong>de</strong> citrulinação <strong>de</strong> autoantígenos. Até 1%<br />

dos controles saudáveis, e <strong>de</strong> 2%–5% dos controles doentes,<br />

têm reativida<strong>de</strong> ao anti-CCP, geralmente em títulos baixos, com<br />

valor médio <strong>de</strong> 39 UI/mL. Altas concentrações do anti-CCP<br />

são quase exclusivamente associadas à AR. 10<br />

A relação entre AR e RCU não está claramente <strong>de</strong>fi nida.<br />

Supõe-se que <strong>de</strong>terminados genes po<strong>de</strong>riam predispor simultaneamente<br />

às duas condições. Até o momento, porém, nenhum<br />

fator <strong>de</strong> risco genético foi apontado. Estudos realizados em<br />

pacientes portadores <strong>de</strong> RCU e controles sugerem que o<br />

HLA-DR4 atuaria como fator protetor para colite. Tal fato<br />

po<strong>de</strong>ria justifi car a rara associação, uma vez que tal antígeno<br />

do complexo principal <strong>de</strong> histocompatibilida<strong>de</strong> classe II tem<br />

papel importante na patogênese da AR. 11<br />

O uso <strong>de</strong> imunossupressores no tratamento da RCU<br />

também po<strong>de</strong> exercer papel relevante na baixa frequência da<br />

associação com a AR. Fármacos como a sulfassalazina e os<br />

corticosteroi<strong>de</strong>s inibem a resposta infl amatória sistêmica, o que<br />

justifi caria a menor incidência <strong>de</strong> outras patologias autoimunes<br />

concomitantes à doença infl amatória intestinal.<br />

A resposta imune anormal a bactérias intestinais foi <strong>de</strong>monstrada<br />

em diferentes tipos <strong>de</strong> artrite. Alguns estudos em<br />

mo<strong>de</strong>los animais revelaram que fragmentos da pare<strong>de</strong> celular<br />

bacteriana, principalmente os complexos <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os,<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):645-650 649


Cruz et al.<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar tanto sinovite quanto colite por meio da<br />

ativação das células T. A infecção no trato gastrintestinal po<strong>de</strong>,<br />

portanto, ter papel relevante tanto na RCU quanto na AR. 12,13<br />

Asada et al. 2 <strong>de</strong>screveram a associação RCU/AR concomitantemente<br />

à <strong>de</strong>fi ciência seletiva <strong>de</strong> IgA. Tal alteração predispõe a<br />

quebra da barreira contra a fl ora intestinal, ampliando a exposição<br />

das células imunes da mucosa a antígenos bacterianos. 2<br />

A confi rmação do aumento da expressão <strong>de</strong> interleucina 15<br />

na mucosa intestinal – tal como ocorre na sinóvia reumatoi<strong>de</strong> – e<br />

ainda a fraca evidência do predomínio da resposta Th2 na RCU,<br />

sustentam o elo entre as duas entida<strong>de</strong>s. No entanto, tais achados<br />

são ainda insufi cientes para a total compreensão dos mecanismos<br />

envolvidos na coexistência entre as duas doenças. 12,13<br />

Recentemente, Amezcua et al. 14 <strong>de</strong>screveram um caso <strong>de</strong><br />

RCU em paciente portador <strong>de</strong> AR após uso do abatacepte.<br />

Especula-se que o uso <strong>de</strong> tal fármaco modifi caria o balanço<br />

<strong>de</strong> mediadores pró-infl amatórios e o perfi l linfocítico, favorecendo<br />

a ocorrência <strong>de</strong> uma nova doença autoimune. O<br />

bloqueio à coestimulação po<strong>de</strong>ria interferir na manutenção e<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento das células T regulatórias, que controlam<br />

a infl amação intestinal. 14<br />

A colite po<strong>de</strong> complicar o curso da AR. Nesse caso,<br />

ocorrência <strong>de</strong> vasculite reumatoi<strong>de</strong>, colite fármaco-induzida,<br />

amiloidose secundária e ainda colites infecciosas (colite<br />

pseudomembranosa e colite por citomegalovírus) <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>radas. 13,14<br />

Em pacientes nos quais a AR ocorre no curso da RCU estabelecida,<br />

o principal diagnóstico diferencial é com a artropatia<br />

secundária à própria doença infl amatória intestinal. 13<br />

Na ocorrência <strong>de</strong> artrite periférica em pacientes com doença<br />

infl amatória intestinal, o diagnóstico <strong>de</strong> artropatia enteropática<br />

<strong>de</strong>ve ser aventado com cautela. Embora até 30% dos pacientes<br />

possam apresentar tal manifestação sistêmica, diagnósticos<br />

diferenciais como sobreposição com AR não <strong>de</strong>vem ser<br />

negligenciados. Mais estudos são necessários para melhor<br />

compreensão dos mecanismos fi siopatogênicos <strong>de</strong>terminantes<br />

nessa rara associação.<br />

REFERENCES<br />

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Ulcerative colitis during CTLA-4Ig therapy in a patient with<br />

rheumatoid arthritis. Gut 2006; 55(7):1059–60.<br />

650 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):645-650


RELATO DE CASO<br />

Uso <strong>de</strong> infl iximabe em paciente com artrite<br />

reumatoi<strong>de</strong> e hepatite B crônica<br />

RESUMO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Eloisa Doubrawa 1 , Renê Augusto <strong>de</strong> Mattos Ricca 1 , Tiago Osternack Malucelli 1 ,<br />

Vanessa Irusta Dal Pizzol 1 , Danilo Hamilko <strong>de</strong> Barros 2 , Eduardo Santos Paiva 3<br />

Os agentes anti-TNF-α emergiram como potente tratamento para os pacientes com artrite reumatoi<strong>de</strong> que não respon<strong>de</strong>m<br />

às drogas modifi cadoras <strong>de</strong> doença convencionais. Por induzir à imunossupressão, essas drogas têm como principal<br />

complicação o aumento da suscetibilida<strong>de</strong> a várias infecções. A reativação do vírus da hepatite B (HBV) é um dos efeitos<br />

colaterais mais preocupantes em pacientes recebendo agentes anti-TNF-α com infecção pelo HBV. Descrevemos o caso<br />

<strong>de</strong> um paciente <strong>de</strong> 56 anos com quadro <strong>de</strong> hepatite B estável, com boa resposta à associação dos antivirais lamivudina<br />

e tenofovir quando iniciou infl iximabe. O paciente obteve boa resposta ao anti-TNF-α, atingindo remissão da doença.<br />

Durante os 30 meses <strong>de</strong> tratamento com o biológico, manteve função hepática estável, sem reativação do HBV.<br />

Palavras-chave: artrite reumatoi<strong>de</strong>, hepatite B, terapêutica.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

O fator <strong>de</strong> necrose tumoral alfa (TNF-α) é um mediador<br />

envolvido na infl amação e na resposta imune celular, <strong>de</strong>sempenhando<br />

importante papel no sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa frente a um<br />

processo infeccioso. 1 Na infecção pelo vírus da hepatite B<br />

(HBV), essa citocina promove aumento do clearance viral,<br />

por meio da inibição da replicação do HBV nos hepatócitos.<br />

Já na hepatite C crônica, seu papel no controle da replicação<br />

viral não parece ser fundamental, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar ações<br />

diferentes, como a indução <strong>de</strong> apoptose <strong>de</strong> hepatócitos, a manutenção<br />

da resposta infl amatória e a contribuição na gênese<br />

da fi brose hepática. 2<br />

Os agentes anti-TNF-α, utilizados no tratamento <strong>de</strong> artrite<br />

reumatoi<strong>de</strong> (AR) e <strong>de</strong> outras doenças autoimunes, têm como<br />

principal complicação o aumento da suscetibilida<strong>de</strong> a várias<br />

infecções. O risco torna-se maior em indivíduos infectados<br />

cronicamente, e a imunossupressão induzida pela medicação<br />

po<strong>de</strong> promover reativação do processo infeccioso.<br />

O infl iximabe (IFX) é um dos agentes biológicos mais<br />

utilizados no tratamento <strong>de</strong> pacientes com AR. De acordo<br />

com a literatura, sua segurança e efi cácia ainda não estão<br />

bem-estabelecidas quando utilizado em pacientes com AR em<br />

vigência <strong>de</strong> infecção pelo HBV.<br />

Descrevemos o caso <strong>de</strong> um paciente do gênero masculino<br />

portador <strong>de</strong> AR e <strong>de</strong> hepatite B crônica, em uso <strong>de</strong> lamivudina<br />

e tenofovir, utilizando IFX por 30 meses sem reativação do<br />

HBV durante todo o tratamento.<br />

RELATO DE CASO<br />

Paciente masculino, 56 anos, com AR e fator reumatoi<strong>de</strong><br />

positivo iniciada há 11 anos. Há cinco anos, quando iniciou<br />

acompanhamento reumatológico, <strong>de</strong>scobriu ser portador <strong>de</strong><br />

hepatite B crônica.<br />

Em sua primeira consulta em nosso serviço, apresentava<br />

doença ativa, com rigi<strong>de</strong>z matinal <strong>de</strong> 30 minutos, tendo ao exame<br />

físico sinovite em punhos, metacarpofalangeanas e interfalangeanas<br />

proximais, além <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação<br />

(VHS) 12 mm/h, proteína C-reativa (PCR) 0,5 mg/dL (< 0,33)<br />

e DAS28 (Disease Activity Score 28) 5,63. Nos achados radiográfi<br />

cos havia presença <strong>de</strong> erosões na quinta articulação<br />

Recebido em 21/02/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse.<br />

Serviço <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong> do Hospital <strong>de</strong> Clínicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná – HC/UFPR.<br />

1. Resi<strong>de</strong>nte em <strong>Reumatologia</strong>, Hospital <strong>de</strong> Clínicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná – HC/UFPR<br />

2. Resi<strong>de</strong>nte em Clínica Médica, HC/UFPR<br />

3. Professor-Assistente <strong>de</strong> <strong>Reumatologia</strong>, HC/UFPR<br />

Correspondência para: Eloisa Doubrawa. Rua Nilo Cairo, 36/105 – Centro. Curitiba, PR, Brasil. CEP: 80060-050. E-mail: eloisadoubrawa@yahoo.com.br<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):651-655 653


Doubrawa et al.<br />

metatarsofalangeana esquerda, segunda metacarpofalangeana<br />

direita e segunda interfalangeana proximal direita. O paciente<br />

encontrava-se sem medicação para tratamento da AR, mas já<br />

havia feito uso <strong>de</strong> difosfato <strong>de</strong> cloroquina 250 mg por seis<br />

meses. Quanto ao quadro <strong>de</strong> hepatite B, estava fazendo uso<br />

<strong>de</strong> lamivudina (150 mg/dia) e apresentava, naquela ocasião,<br />

HBeAg negativo, carga viral com menos <strong>de</strong> 20.000 cópias e<br />

fi brose grau II em biópsia hepática. Optou-se pela introdução <strong>de</strong><br />

hidroxicloroquina 400 mg/dia para controle do quadro articular.<br />

No primeiro retorno, em dois meses, constatou-se presença<br />

<strong>de</strong> sinovite em mãos, punho direito e pé direito. Realizou-se<br />

infi ltração com corticoi<strong>de</strong> intra-articular em quinta metatarsofalangeana<br />

direita e punho direito, e acrescentou-se sulfassalazina<br />

(1 g/dia) ao tratamento.<br />

Após seis meses da introdução da segunda droga antirreumática<br />

modifi cadora <strong>de</strong> doença (DMARD) o paciente obteve<br />

melhora dos sintomas, sem queixas <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z matinal, tendo<br />

ao exame físico apenas acometimento <strong>de</strong> terceira metacarpofalangeana.<br />

Decidiu-se por aumentar a dose <strong>de</strong> sulfassalazina<br />

(2 g/dia) e manter a hidroxicloroquina.<br />

No início do tratamento o paciente apresentava-se com<br />

quadro <strong>de</strong> hepatite B controlado (transaminases normais e<br />

carga viral <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte), com boa resposta ao uso da lamivudina<br />

(150 mg/dia) e do tenofovir (300 mg/dia). Nos meses<br />

seguintes, evoluiu com piora da ativida<strong>de</strong> da doença, quando<br />

aumentou-se a dose <strong>de</strong> sulfassalazina (3 g/dia). Devido a não<br />

resposta à mudança <strong>de</strong> tratamento, optou-se pela introdução<br />

<strong>de</strong> um imunobiológico.<br />

Iniciou-se IFX na dose <strong>de</strong> 200 mg a cada oito semanas.<br />

Naquele momento o paciente apresentava marcadores <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doença elevados: VHS 40 mm/h, PCR 2,40 mg/dL<br />

(< 0,33), DAS28 5,68 e Questionário <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

(HAQ) 0,75. Três meses <strong>de</strong>pois, já havia respondido mo<strong>de</strong>radamente<br />

ao tratamento, com queda <strong>de</strong> 0,79 no DAS28<br />

(<strong>de</strong> 5,68 para 4,89), além <strong>de</strong> HAQ <strong>de</strong> 0,315 e VHS <strong>de</strong> 31.<br />

Quatorze meses <strong>de</strong>pois, apresentava sinovite apenas <strong>de</strong> ombro<br />

esquerdo, DAS28 <strong>de</strong> 2,36 e VHS <strong>de</strong> 4 mm/h.<br />

Durante todo o período <strong>de</strong> uso do anti-TNF-α o paciente<br />

manteve função hepática estável, sem oscilações das transaminases,<br />

além <strong>de</strong> negativação do HBV-DNA. Atualmente, 30<br />

meses após a introdução do IFX, ele mantém boa resposta ao<br />

tratamento, com acometimento apenas <strong>de</strong> ombro esquerdo.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os agentes anti-TNF-α emergiram como potente tratamento<br />

para pacientes com AR que não respon<strong>de</strong>m às DMARDs<br />

convencionais. Apesar da comprovação da efi cácia dos<br />

imunobiológicos para o tratamento <strong>de</strong> inúmeras doenças<br />

autoimunes, o risco <strong>de</strong> infecção associada a esses agentes<br />

é bem documentado. 3,4 A reativação do HBV é um dos<br />

efeitos colaterais bem conhecidos em pacientes com infecção<br />

pelo HBV recebendo drogas citotóxicas ou tratamento<br />

imunossupressor. 5<br />

Informações <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los animais indicam que as citocinas<br />

TNF-α e IFN-γ po<strong>de</strong>riam agir sinergicamente na inibição da<br />

expressão e da replicação <strong>de</strong> genes do HBV, levando à redução<br />

da transcrição intracelular do vírus. Além disso, o TNF-α induzido<br />

por antígenos HBV parece ser benéfi co para o clearance<br />

viral. 6 Assim, a ação anti-TNF-α po<strong>de</strong>ria induzir à perda do<br />

mecanismo antiviral, reativando a doença ou impulsionando<br />

o surgimento <strong>de</strong> HBV resistente.<br />

A segurança e a efi cácia do uso <strong>de</strong> agentes anti-TNF-α em<br />

pacientes com infecção pelo HBV não são bem estabelecidas.<br />

Devido à baixa frequência <strong>de</strong> positivida<strong>de</strong> para sorologias<br />

infecciosas em pacientes em uso <strong>de</strong> terapia anti-TNF, 7 não<br />

há estudos randomizados controlados e há poucas evidências<br />

restritas a séries <strong>de</strong> casos mostrando uma relativa segurança<br />

dos imunobiológicos nesses pacientes. Uma das complicações<br />

mais graves já <strong>de</strong>scritas em relatos foi a indução <strong>de</strong> hepatite<br />

fulminante pelo IFX em um paciente com doença <strong>de</strong> Still e<br />

hepatite B crônica sem tratamento prévio antiviral, para o qual<br />

foi sugerida a reativação <strong>de</strong> um mutante pré-core do HBV<br />

promovida pelo agente anti-TNF-α. 8<br />

Evidência <strong>de</strong> infecção por HBV ou HCV <strong>de</strong>ve ser procurada<br />

em todos os pacientes candidatos à terapia com anti-TNF, por<br />

meio <strong>de</strong> testes sorológicos (HBsAg, anti-HBsAg, anti-HBC e<br />

anti-HCV). Nos casos <strong>de</strong> infecção ativa por HBV, a carga viral<br />

<strong>de</strong>ve ser mensurada. 2<br />

Há <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> hepatite autoimune induzida por IFX,<br />

<strong>de</strong>vendo ser consi<strong>de</strong>rada como diagnóstico diferencial <strong>de</strong><br />

reativação da hepatite B. Nesses casos, o dano hepático é<br />

predominantemente hepatocelular, e o diagnóstico é feito<br />

por suspeita clínica, com uma relação temporal em relação à<br />

exposição à droga, sorologia viral negativa e surgimento <strong>de</strong><br />

autoanticorpos. 9<br />

Alguns estudos preconizam, ainda, o uso <strong>de</strong> terapia antiviral<br />

profi lática com lamivudina ou tenofovir em pacientes<br />

com hepatite B, além <strong>de</strong> tratamento concomitante com agentes<br />

anti-TNF-α. 1 Essa prática, no entanto, tem sido questionada por<br />

vários autores, que argumentam que a relação risco-benefício<br />

da terapia profi lática antiviral em pacientes recebendo um<br />

longo curso <strong>de</strong> imunossupressão é in<strong>de</strong>terminada, e que o<br />

tratamento prolongado com lamivudina po<strong>de</strong> estar relacionado<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cepas resistentes <strong>de</strong> HBV. 10 Dessa<br />

forma, o uso profi lático <strong>de</strong> antiviral em pacientes candidatos<br />

654 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):651-655


à terapia com imunobiológicos <strong>de</strong>ve ser criterioso, não sendo<br />

recomendado <strong>de</strong> rotina. 11<br />

Muitas questões ainda não foram respondidas em relação<br />

aos agentes anti-TNF-α e à hepatite B <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> estudos<br />

controlados. Não se conhece qual dos agentes é mais efi caz<br />

nesses casos, assim como <strong>de</strong>sconhecemos o risco após a interrupção<br />

do tratamento imunossupressor quando a resposta <strong>de</strong><br />

reconstituição imune ocorre. Finalmente, é preciso avaliar os<br />

riscos e os benefícios dos agentes anti-TNF-α nesses pacientes,<br />

facilitando assim a <strong>de</strong>cisão terapêutica mais a<strong>de</strong>quada nesse<br />

grupo <strong>de</strong> alto risco.<br />

REFERENCES<br />

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Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):651-655 655


COMUNICAÇÃO BREVE<br />

Malondial<strong>de</strong>ído e grupo sulfi drila como<br />

biomarcadores do estresse oxidativo em<br />

pacientes com lúpus eritematoso sistêmico<br />

Yenly G. Pérez 1 , Lissett Caridad González Pérez 1 , Rita <strong>de</strong> Cássia M. Netto 2 , Domingos S. N. <strong>de</strong> Lima 3 , Emerson S. Lima 4<br />

RESUMO<br />

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune <strong>de</strong> origem <strong>de</strong>sconhecida, associada ao estresse oxidativo. O<br />

presente estudo teve como objetivo investigar a presença <strong>de</strong> estresse oxidativo em pacientes com LES recém-diagnosticado.<br />

Pacientes com LES (n = 36) e controles (n = 28) foram incluídos no estudo. Amostras <strong>de</strong> sangue foram usadas para dosagem<br />

<strong>de</strong> malondial<strong>de</strong>ído (MDA), grupo sulfi drila (SH) e ácido úrico no soro. Os níveis <strong>de</strong> MDA (µmol/L) foram maiores nos<br />

pacientes (3,9 ± 2,6) que nos controles (1,6 ± 2,6). Os níveis <strong>de</strong> SH foram signifi cativamente menores nos pacientes. Os<br />

achados sugerem que o MDA po<strong>de</strong> ser um bom marcador <strong>de</strong> estresse oxidativo no LES.<br />

Palavras-chave: estresse oxidativo, antioxidantes, lúpus eritematoso sistêmico, ácido úrico.<br />

© 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.<br />

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune<br />

crônica caracterizada por amplo espectro <strong>de</strong> manifestações<br />

clínicas, com produção <strong>de</strong> diversos autoanticorpos e <strong>de</strong>posição<br />

<strong>de</strong> complexos imunes fi xadores <strong>de</strong> complemento, resultando<br />

em lesão dos tecidos. 1 Embora a causa específi ca do LES seja<br />

<strong>de</strong>sconhecida, vários estudos associam a doença a imunida<strong>de</strong>s<br />

celular e humoral <strong>de</strong>feituosas, provavelmente infl uenciadas por<br />

fatores genéticos, ambientais e hormonais. 2,3<br />

Acredita-se que radicais livres e outras espécies reativas<br />

<strong>de</strong> oxigênio/nitrogênio/cloro contribuam para a ocorrência <strong>de</strong><br />

várias doenças crônicas, causando estresse e lesão oxidativos.<br />

As doenças em que a lesão oxidativa foi implicada são câncer,<br />

aterosclerose, doença <strong>de</strong> Alzheimer, diabetes mellitus e doenças<br />

autoimunes. 4–8<br />

Muitos estudos clínicos se concentram na mensuração da<br />

lesão oxidativa mediante o uso <strong>de</strong> biomarcadores – oxidantes<br />

e antioxidantes. O malondial<strong>de</strong>ído (MDA), um produto da<br />

oxidação da lipoperoxidação, tem sido <strong>de</strong>tectado em níveis<br />

elevados em várias doenças. 9 Os grupos sulfi drila (SH) são<br />

consi<strong>de</strong>rados os maiores e mais frequentes antioxidantes no<br />

plasma. 10 Diversos estudos experimentais apontam para um<br />

papel qualitativa e quantitativamente importante do ácido úrico<br />

como substância antioxidante, funcionando como eliminador<br />

<strong>de</strong> radicais livres e quelador <strong>de</strong> íons metálicos temporários,<br />

que são convertidos em formas pouco reativas. 11<br />

A fi nalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste estudo foi <strong>de</strong>terminar a presença <strong>de</strong><br />

estresse oxidativo em pacientes com LES, mediante a <strong>de</strong>terminação<br />

<strong>de</strong>sses biomarcadores nas amostras <strong>de</strong> sangue. Os<br />

parâmetros foram correlacionados com ativida<strong>de</strong> da doença e<br />

comorbida<strong>de</strong>s; os resultados foram comparados com indivíduos<br />

normais no grupo-controle.<br />

O estudo abrangeu 36 pacientes com LES e 28 voluntários<br />

saudáveis (controles) com ida<strong>de</strong>s entre 10 e 56 anos.<br />

O diagnóstico baseou-se em pelo menos quatro dos 11<br />

critérios diagnósticos estabelecidos pelo American College<br />

of Rheumatology (ACR). 12 Todos os pacientes estavam em<br />

Recebido em 07/09/2011. Aprovado, após revisão, em 08/05/2012. Os autores <strong>de</strong>claram a inexistência <strong>de</strong> confl ito <strong>de</strong> interesse. Suporte Financeiro: FAPEAM, CNPq.<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Farmacêuticas, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas – UFAM.<br />

1. Aluno <strong>de</strong> Medicina, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas – UFAM<br />

2. Pós-graduando, Instituto <strong>de</strong> Genética e Bioquímica, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia – UFU<br />

3. Doutor; Médico Reumatologista, Hospital Universitário Getúlio Vargas<br />

4. Doutor; Professor-Adjunto, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Farmacêuticas, UFAM<br />

Correspondência para: Emerson S. Lima. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Farmacêuticas, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas. CEP: 69010-300. Manaus, AM, Brasil.<br />

E-mail: eslima@ufam.edu.br<br />

658 Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):656-660


Malondial<strong>de</strong>ído e grupo sulfi drila como biomarcadores do estresse oxidativo em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico<br />

tratamento, e a ativida<strong>de</strong> da doença foi avaliada pelo Systemic<br />

Lupus Erythematosus Disease Active In<strong>de</strong>x (SLEDAI, do<br />

inglês, Índice <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong> da Doença em Lúpus Eritematoso<br />

Sistêmico). A doença era consi<strong>de</strong>rada ativa quando SLEDAI<br />

> 6. 13 O protocolo do estudo foi aprovado pela Comissão <strong>de</strong><br />

Ética para Pesquisas com Seres Humanos da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas (CAAE n. 0043.0.115.000.08). Todos os<br />

participantes (pacientes e controles) assinaram consentimento<br />

informado antes <strong>de</strong> tomar parte no estudo, e respon<strong>de</strong>ram a um<br />

questionário padronizado para fatores <strong>de</strong>mográfi cos.<br />

A coleta <strong>de</strong> sangue venoso (10 mL) <strong>de</strong> cada participante<br />

foi realizada com um sistema <strong>de</strong> tubos a vácuo (BD<br />

Vacutainer® System), com centrifugação (800 g, 15 min).<br />

O soro foi utilizado para <strong>de</strong>terminar os marcadores bioquímicos<br />

e imunológicos.<br />

O MDA foi <strong>de</strong>terminado por Cromatografi a Líquida <strong>de</strong> Alto<br />

Desempenho (HPLC); os cromatogramas foram monitorados<br />

a 532 nm e a concentração das amostras foi <strong>de</strong>terminada em<br />

µmol/L. 14 O ácido úrico foi medido usando um analisador<br />

espectrofotométrico Cobas Mira® (Roche Instruments Inc.),<br />

com kits comercializados (Labtest, Minas Gerais, Brasil). Os<br />

grupos SH foram <strong>de</strong>terminados pelo método <strong>de</strong> Ellmans, modifi<br />

cado por Hu et al. 15 Os resultados foram expressos como<br />

média ± <strong>de</strong>svio-padrão (DP). Utilizamos o teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt<br />

para comparar os valores médios. Foram aplicadas correlações<br />

<strong>de</strong> Pearson e Spearman para correlacionar os parâmetros<br />

com SLEDAI. P < 0,05 foi consi<strong>de</strong>rado estatisticamente<br />

signifi cativo.<br />

As características gerais e <strong>de</strong>mográfi cas dos pacientes com<br />

LES e dos controles saudáveis estão apresentadas na Tabela 1.<br />

Não foi observada diferença entre duração, número <strong>de</strong> critérios<br />

e ativida<strong>de</strong> da doença e estresse oxidativo (P > 0,05).<br />

O lúpus caracteriza-se pela agressão direta <strong>de</strong> autoanticorpos<br />

e pela <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> complexos imunes fi xadores <strong>de</strong><br />

complemento, resultando em lesão dos tecidos associada ao<br />

Tabela 1<br />

Características gerais e <strong>de</strong>mográfi cas <strong>de</strong> pacientes com lúpus<br />

eritematoso sistêmico e controles saudáveis<br />

Dados gerais LES (n = 36) Controles (n = 28)<br />

Ida<strong>de</strong> 28,2 ± 13 27,9 ± 9,9<br />

Gênero (feminino) 33 (91,6%) 28 (100%)<br />

ACR, número 5,3 ± 1,1 NA<br />

TD (mês) 5,9 ± 3,5 NA<br />

SLEDAI, número 10,3 ± 6,6 NA<br />

ACR: American College of Rheumatology; TD: tempo da doença; NA: não aplicável.<br />

Os valores estão expressados como média ± DP.<br />

estresse oxidativo. 16 Waszczykowska et al. 17 sugeriram que os<br />

radicais livres intracelulares são capazes <strong>de</strong> induzir a síntese <strong>de</strong><br />

citocinas que participam e modulam as respostas infl amatórias<br />

com a criação <strong>de</strong> radicais superóxido.<br />

O estresse oxidativo, medido por níveis <strong>de</strong> MDA, estava<br />

aumentado em 78,9% (n = 30) dos pacientes com LES, enquanto<br />

apenas 21,1% (n = 8) dos controles apresentaram esse aumento<br />

(OR = 12,5; 95% IC 3,7–41,5). Conforme ilustrado na Tabela 2,<br />

observou-se que os níveis <strong>de</strong> MDA estavam signifi cativamente<br />

aumentados em pacientes com LES em comparação aos controles.<br />

Não foi observada diferença signifi cativa entre os níveis <strong>de</strong><br />

MDA e a duração da doença ou comorbida<strong>de</strong>s. Níveis aumentados<br />

<strong>de</strong> MDA no soro 18 e nos eritrócitos 19 foram informados em<br />

pacientes com LES. Wang et al. 20 e Shah et al. 21 associaram uma<br />

resposta mais forte <strong>de</strong> estresse oxidativo com escores SLEDAI<br />

mais altos, achado similar ao relato <strong>de</strong> Tewthanom et al. 18 No<br />

entanto, não i<strong>de</strong>ntifi camos, em nosso estudo, a associação dos<br />

níveis <strong>de</strong> MDA ou <strong>de</strong> SH com escores SLEDAI. Os altos níveis<br />

<strong>de</strong> MDA em pacientes com LES indicam que a membrana celular<br />

lipídica foi atacada, e que o MDA po<strong>de</strong> ser um bom marcador<br />

<strong>de</strong> estresse oxidativo nessa doença.<br />

Não ocorreu alteração signifi cativa nos níveis séricos <strong>de</strong><br />

ácido úrico em pacientes com LES, em comparação aos controles<br />

(4,1 ± 1,5 e 3,8 ± 0,9 mg/dL, respectivamente). Não foi<br />

observada correlação entre os níveis séricos <strong>de</strong>sse composto<br />

e ativida<strong>de</strong> da doença. Deminice et al. 22 associaram o ácido<br />

úrico como resposta <strong>de</strong> biomarcador <strong>de</strong> estresse oxidativo a<br />

uma sessão aguda tradicional <strong>de</strong> interval training e <strong>de</strong> circuit<br />

training com resistência à hipertrofi a. Mas Ikeda et al. 23 não<br />

pu<strong>de</strong>ram estabelecer a mesma associação, quando o estresse<br />

oxidativo foi observado em pacientes com esclerose lateral<br />

amiotrófi ca progressiva. Embora o ácido úrico seja consi<strong>de</strong>rado<br />

importante antioxidante, e embora seja esperado que seus<br />

níveis séricos fi quem mais baixos em pacientes com LES em<br />

comparação aos controles, em nosso estudo também não foi<br />

Tabela 2<br />

Comparação entre os parâmetros <strong>de</strong> oxidantes e <strong>de</strong> antioxidantes<br />

em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico e em controles<br />

saudáveis<br />

Média LES (n = 36) Controle (n = 28) P*<br />

MDA (µmol/L) 3,9 ± 2,6 1,6 ± 2,6 0,001<br />

Grupo SH (µmol/L) 260,2 ± 182,7 339,4 ± 104,3 0,04<br />

Ácido úrico (mg/dL) 4,1 ± 1,5 3,8 ± 0,9 0,48<br />

LES: lúpus eritematoso sistémico; MDA: malondial<strong>de</strong>ído; SH: sulfi drila.<br />

Os valores são expressados como média ± <strong>de</strong>svio padrão (DP). As<br />

diferenças foram consi<strong>de</strong>radas signifi cativas quando P < 0,05.<br />

Rev Bras Reumatol 2012;<strong>52</strong>(4):656-660 659


Pérez et al.<br />

possível associar essa substância como um biomarcador <strong>de</strong><br />

confi ança <strong>de</strong> estresse oxidativo.<br />

Morgan et al. 24 <strong>de</strong>monstraram que marcadores da oxidação<br />

proteica têm correlação com um estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração da<br />

doença em pacientes com LES. Em nosso estudo, observamos<br />

que os níveis do grupo SH estavam signifi cativamente diminuídos<br />

em pacientes com LES em comparação aos controles<br />

(260,2 ± 182,7 versus 339,4 ± 104,3 µmol/L), achado similar<br />

ao do estudo <strong>de</strong> Zhang et al. 25 Esse achado reforça o papel do<br />

estresse oxidativo na patogênese do LES.<br />

Concluímos que pacientes com LES exibem aumento no estresse<br />

oxidativo. No entanto, essa resposta não está correlacionada<br />

à ativida<strong>de</strong> da doença ou à sua duração. Os níveis <strong>de</strong> MDA e dos<br />

grupos SH po<strong>de</strong>m ser utilizados como biomarcadores para medir<br />

o estresse oxidativo em pacientes com LES, enquanto o ácido<br />

úrico não po<strong>de</strong> ser utilizado com a mesma fi nalida<strong>de</strong>. Há ainda<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos estudos sobre estresse oxidativo e LES, para<br />

que aumente nossa compreensão da patogênese <strong>de</strong>ssa doença.<br />

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