Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia às Proteínas do ...
Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia às Proteínas do ...
Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia às Proteínas do ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
220 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 35. N° 6, 2012<br />
Revisão sistemática sobre o efeito preventivo <strong>do</strong>s<br />
prebióticos nas alergias alimentares concluiu não haver<br />
evidências suficientes para indicar a suplementação <strong>de</strong><br />
prebióticos nas fórmulas infantis para a prevenção <strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>ença alérgica/hipersensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> alimentar114,115 . Mais<br />
recentemente, outro estu<strong>do</strong> multicêntrico, comparou o<br />
efeito preventivo <strong>do</strong>s prebióticos em crianças <strong>de</strong> baixo risco<br />
para atopia, trata<strong>da</strong>s com fórmula infantil não enriqueci<strong>da</strong><br />
com prebióticos e o aleitamento materno exclusivo. Após<br />
oito meses <strong>de</strong> intervenção, o grupo prebiótico apresentou<br />
menor incidência <strong>de</strong> eczema atópico, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong><br />
ao grupo controle (fórmula não enriqueci<strong>da</strong>) (5,7% e<br />
9,7% respectivamente; p = 0,04). Para os três grupos, a<br />
sensibilização à proteína <strong>do</strong> ovo e <strong>do</strong> leite <strong>de</strong> vaca (IgE<br />
específica > 0,7 kU/L), com seis e 12 meses, foi semelhante<br />
e não significante estatisticamente116 .<br />
Probióticos<br />
Kalliomaki et al. acompanharam 132 gestantes, on<strong>de</strong><br />
meta<strong>de</strong> utilizou Lactobacilos rhamnosus (cepa GG) e meta<strong>de</strong><br />
placebo, <strong>de</strong> 2 a 4 semanas antes <strong>do</strong> parto e durante seis meses<br />
após o nascimento (para a lactante quan<strong>do</strong> em aleitamento<br />
materno exclusivo ou para o lactente quan<strong>do</strong> em aleitamento<br />
artificial). Após <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> seguimento, a prevalência <strong>de</strong><br />
eczema atópico foi 50% inferior no grupo que utilizou probióticos,<br />
quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> ao grupo controle117,118 . Depois<br />
<strong>de</strong> quatro anos <strong>de</strong> acompanhamento <strong>de</strong>sta coorte, o grupo<br />
probiótico ain<strong>da</strong> mantinha menor expressão clínica <strong>de</strong> eczema<br />
atópico, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> ao grupo controle117,119 .<br />
Em 2008, foi publica<strong>do</strong> um consenso, no qual havia<br />
recomen<strong>da</strong>ção para o uso <strong>de</strong> probióticos, com nível <strong>de</strong><br />
evidência A, na imunomodulação (Lactobacillus rhamnosus<br />
- GG, Lactobacillus aci<strong>do</strong>philus, Lactobacillus plantarum,<br />
Bifi<strong>do</strong>bacterium lactis, Lactobacillus johsonii e Lactobacillus<br />
casei) e na prevenção e <strong>tratamento</strong> <strong>do</strong> eczema atópico<br />
associa<strong>do</strong> à APLV (Lactobacillus rhamnosus – GG e Bifi<strong>do</strong>bacterium<br />
lactis) 113 .<br />
Des<strong>de</strong> então, os estu<strong>do</strong>s com probióticos têm cresci<strong>do</strong><br />
exponencialmente. No entanto, como análise geral,<br />
as evidências ain<strong>da</strong> se mantêm mais fortes no campo <strong>da</strong><br />
imunomodulação e <strong>da</strong> prevenção <strong>do</strong> que no <strong>tratamento</strong> <strong>da</strong>s<br />
<strong>do</strong>enças alérgicas. Isto faz senti<strong>do</strong>, já que na complexi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> mecanismo patofisiológico, a progressão <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença po<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminar alterações estruturais irreversíveis117 .<br />
A gran<strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s com probióticos é<br />
que estes são microrganismos vivos, com i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> própria,<br />
oriun<strong>da</strong> <strong>de</strong> diferentes gêneros, espécies e cepas e,<br />
muitas vezes veicula<strong>do</strong>s em produtos diferentes, alguns<br />
em matriz láctea <strong>de</strong> iogurte, outros em veículo aquoso e<br />
outros liofiliza<strong>do</strong>s. Esta situação <strong>de</strong>termina uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
na análise, comparação e interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s.<br />
Recente meta-análise concluiu haver alguma evidência na<br />
prevenção <strong>do</strong> eczema atópico com a utilização <strong>de</strong> cepa<br />
probiótica (L. rhamnosus) em crianças <strong>de</strong> alto risco para<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> atopia, mas que estes resulta<strong>do</strong>s não<br />
po<strong>de</strong>m ser extrapola<strong>do</strong>s para outros probióticos. Além<br />
disso, não houve diferenças na sensibilização atópica para<br />
alérgenos alimentares, como a proteína <strong>do</strong> LV120 .<br />
<strong>Guia</strong> <strong>prático</strong> <strong>da</strong> APLV media<strong>da</strong> pela IgE - ASBAI & SBAN<br />
Para o <strong>tratamento</strong> <strong>da</strong> APLV (aquisição <strong>de</strong> tolerância),<br />
também não há evidências que, além <strong>da</strong> dieta <strong>de</strong> exclusão,<br />
o uso <strong>de</strong> probióticos associa<strong>do</strong>s à fórmulas extensamente<br />
hidrolisa<strong>da</strong>s possa antecipar este fenômeno121 .<br />
Simbióticos<br />
Kukkonen et al. acompanharam 1.223 grávi<strong>da</strong>s atópicas<br />
que utilizaram probióticos (mistura <strong>de</strong> quatro cepas)<br />
<strong>de</strong> duas a quatro semanas antes <strong>do</strong> parto, cujos filhos<br />
receberam os mesmos probióticos, acresci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> galactooligossacarí<strong>de</strong>os,<br />
por seis meses após o nascimento. Aos<br />
<strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> houve redução na incidência <strong>do</strong> eczema<br />
atópico no grupo simbiótico122 .<br />
No entanto, qualquer conclusão seria precipita<strong>da</strong>, já que<br />
poucos são os estu<strong>do</strong>s bem <strong>de</strong>linea<strong>do</strong>s que correlacionam<br />
o uso <strong>de</strong> simbióticos com a prevenção ou o <strong>tratamento</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>enças alérgicas, sobretu<strong>do</strong> a APLV.<br />
Em resumo, é possível concluir que existem algumas<br />
evidências científicas para a utilização, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> probióticos,<br />
como imunomodula<strong>do</strong>res, diminuin<strong>do</strong> a polarização<br />
<strong>da</strong> resposta imune (Th2-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte), por meio, principalmente,<br />
<strong>da</strong> estimulação <strong>de</strong> linfócitos T regula<strong>do</strong>res. No<br />
entanto, clinicamente, tal efeito só é ratifica<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> prevenção primária <strong>do</strong> eczema atópico, quan<strong>do</strong> os pró<br />
ou prebióticos são administra<strong>do</strong>s para grávi<strong>da</strong>s atópicas<br />
ou para os recém-nasci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> risco para atopia, até seis<br />
meses <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Não há indicação consensual, por hora, para o uso <strong>de</strong><br />
pré, pró ou simbióticos, especificamente para prevenção ou<br />
<strong>tratamento</strong> <strong>da</strong>s alergias alimentares, como a APLV.<br />
11. Futuras abor<strong>da</strong>gens terapêuticas<br />
A alergia alimentar vem aumentan<strong>do</strong> sua prevalência<br />
em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> e apesar <strong>de</strong> conhecermos melhor as<br />
diferentes fontes <strong>de</strong> alérgenos alimentares, apresentações<br />
clínicas e formas <strong>de</strong> <strong>diagnóstico</strong>, seu <strong>tratamento</strong> permanece<br />
muitas vezes limita<strong>do</strong> à restrição <strong>do</strong> alimento em questão.<br />
Novas formas <strong>de</strong> <strong>tratamento</strong> ativo são <strong>de</strong>sejáveis, pois em<br />
muitos casos a alergia alimentar po<strong>de</strong> persistir por to<strong>da</strong><br />
a vi<strong>da</strong> e os escapes aci<strong>de</strong>ntais po<strong>de</strong>m provocar reações<br />
anafiláticas que colocam em risco a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> alergia123 .<br />
Em relação ao LV o percentual <strong>de</strong> pacientes com alergia<br />
persistente não é <strong>de</strong>sprezível e po<strong>de</strong> atingir até 20% <strong>do</strong>s<br />
acometi<strong>do</strong>s. Como não existem testes <strong>diagnóstico</strong>s que<br />
possam prever sua persistência e como o LV po<strong>de</strong> estar<br />
conti<strong>do</strong> em diferentes preparações alimentares, cosméticos<br />
e medicamentos, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se promover a tolerância<br />
a esse alimento é imperativa nesses casos, especialmente<br />
quan<strong>do</strong> a manifestação clínica é grave124,125 .<br />
Diferentes formas <strong>de</strong> <strong>tratamento</strong> estão sen<strong>do</strong> propostas<br />
em especial a imunoterapia alérgeno específica pela via<br />
oral ou sublingual com LV integral; indução <strong>de</strong> tolerância<br />
oral pela ingestão <strong>de</strong> LV extensamente cozi<strong>do</strong> e a terapia<br />
alérgica não específica com anti-IgE, ervas chinesas ou<br />
probióticos125,126 .