Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia às Proteínas do ...
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216 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 35. N° 6, 2012<br />
O leite <strong>de</strong> outros mamíferos (p.ex.: cabra e ovelha),<br />
fórmulas parcialmente hidrolisa<strong>da</strong>s, fórmulas poliméricas<br />
isentas <strong>de</strong> lactose não <strong>de</strong>vem ser indica<strong>do</strong>s para crianças<br />
com APLV. A homologia entre as proteínas <strong>do</strong> LV e cabra é<br />
importante, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ocorrer reativi<strong>da</strong><strong>de</strong> clínica cruza<strong>da</strong> em<br />
92% <strong>do</strong>s casos24 . Os prepara<strong>do</strong>s e bebi<strong>da</strong>s a base <strong>de</strong> soja<br />
e arroz não <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>do</strong>s para lactentes com i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
inferior a um ano.<br />
A dieta <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong> LV e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s é recomen<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
para o estabelecimento <strong>do</strong> <strong>diagnóstico</strong>, respal<strong>da</strong><strong>do</strong> no teste <strong>de</strong><br />
provocação oral, e para o <strong>tratamento</strong>. A restrição <strong>do</strong> LV <strong>de</strong>ve<br />
ocorrer por pelo menos duas semanas antes <strong>da</strong> realização<br />
<strong>da</strong> provocação. Uma vez firma<strong>do</strong> o <strong>diagnóstico</strong> recomen<strong>da</strong>se<br />
que a exclusão completa seja manti<strong>da</strong> com reavaliações<br />
periódicas, quan<strong>do</strong> permiti<strong>da</strong>s, a ca<strong>da</strong> seis ou 12 meses.<br />
As etapas <strong>do</strong> <strong>tratamento</strong> <strong>da</strong> APLV, após o correto <strong>diagnóstico</strong>,<br />
estão <strong>de</strong>scritas abaixo24,88 :<br />
– avaliação <strong>da</strong> condição nutricional;<br />
– dieta <strong>de</strong> exclusão <strong>do</strong> LV e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s com substituição<br />
apropria<strong>da</strong>;<br />
– educação continua<strong>da</strong> para família e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>res;<br />
Leitura e interpretação <strong>da</strong> rotulagem,<br />
Cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com ambientes <strong>de</strong> alto risco (p. ex. escolas,<br />
praças <strong>de</strong> alimentação, festas, entre outros),<br />
Orientação quanto a reações graves,<br />
Promoção <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>,<br />
Orientação nutricional individualiza<strong>da</strong>.<br />
Avaliação <strong>da</strong> condição nutricional<br />
A avaliação <strong>da</strong> condição nutricional <strong>de</strong>ve ser realiza<strong>da</strong>,<br />
em to<strong>da</strong>s as consultas, com o objetivo <strong>de</strong> planejar e a<strong>de</strong>quar<br />
o consumo alimentar <strong>às</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nutricionais <strong>da</strong><br />
criança. São levanta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma individualiza<strong>da</strong> parâmetros<br />
clínicos, antropométricos e laboratoriais. A avaliação <strong>do</strong><br />
consumo alimentar <strong>de</strong>ve incluir a aplicação <strong>de</strong> inquéritos,<br />
como o recor<strong>da</strong>tório <strong>de</strong> 24 horas, preferencialmente por<br />
nutricionistas os quais permitem avaliar se houve a exclusão<br />
completa <strong>de</strong> LV e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s, assim como corrigir eventuais<br />
ina<strong>de</strong>quações por meio <strong>da</strong> educação nutricional associa<strong>da</strong><br />
ou não à suplementação nutricional ou medicamentosa <strong>de</strong><br />
nutrientes que não atinjam as recomen<strong>da</strong>ções nutricionais,<br />
evitan<strong>do</strong>-se assim, <strong>de</strong>snutrição, comprometimento estatural<br />
e carências nutricionais específicas88 .<br />
Exclusão <strong>do</strong> LV e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s e substituição<br />
apropria<strong>da</strong><br />
Crianças em aleitamento materno<br />
Nessa condição submete-se a mãe a dieta <strong>de</strong> exclusão<br />
<strong>de</strong> LV e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s com orientação nutricional apropria<strong>da</strong><br />
avalian<strong>do</strong>-se a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suplementação medicamentosa<br />
para viabilizar o atendimento <strong>às</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
nutricionais, especialmente <strong>do</strong> cálcio (1.200 mg fraciona<strong>do</strong><br />
duas vezes ao dia).<br />
<strong>Guia</strong> <strong>prático</strong> <strong>da</strong> APLV media<strong>da</strong> pela IgE - ASBAI & SBAN<br />
Crianças que não estão em aleitamento materno<br />
Nessa situação as fórmulas infantis que po<strong>de</strong>m ter indicação<br />
no manejo dietético <strong>da</strong> alergia ao LV em lactentes<br />
são: fórmulas à base <strong>de</strong> proteína isola<strong>da</strong> <strong>de</strong> soja; fórmulas<br />
à base <strong>de</strong> proteínas extensamente hidrolisa<strong>da</strong>s (hidrolisa<strong>do</strong>s<br />
proteicos), compostas pre<strong>do</strong>minantemente por peptí<strong>de</strong>os<br />
(com peso molecular inferior a 3.000 Daltons) e aminoáci<strong>do</strong>s<br />
obti<strong>do</strong>s por hidrólise enzimática e/ou térmica e ultrafiltragem;<br />
e fórmulas ou dietas a base <strong>de</strong> aminoáci<strong>do</strong>s. As fórmulas<br />
<strong>de</strong>vem ser manti<strong>da</strong>s, preferencialmente, até os <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong><br />
i<strong>da</strong><strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> o mínimo recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> até 12 meses.<br />
Os consensos recentes consi<strong>de</strong>ram na escolha <strong>da</strong> fórmula<br />
aspectos como a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> criança, segurança, eficiência,<br />
comprometimento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> nutricional e manifestações<br />
clínicas, incluin<strong>do</strong> a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, para propor protocolos hierarquiza<strong>do</strong>s<br />
para o <strong>tratamento</strong> <strong>da</strong> alergia ao LV. Vale ressaltar<br />
que o grau <strong>de</strong> evidência <strong>de</strong>sses protocolos levan<strong>do</strong>-se em<br />
conta os estu<strong>do</strong>s disponíveis na literatura, até o momento,<br />
ain<strong>da</strong> é baixo e que mais estu<strong>do</strong>s especialmente, <strong>de</strong> longa<br />
duração são necessários para que se estabeleça melhor a<br />
base <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>da</strong>s recomen<strong>da</strong>ções24,64,88 .<br />
a) Fórmulas infantis à base <strong>de</strong> proteína isola<strong>da</strong> <strong>de</strong> soja<br />
Essas fórmulas não são recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s como primeira opção<br />
pelas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s científicas internacionais24,89 . Em nosso<br />
meio, preconiza-se sua utilização nas formas IgE media<strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong> alergia sem comprometimento <strong>do</strong> trato gastrintestinal,<br />
em crianças com i<strong>da</strong><strong>de</strong> superior a seis meses.<br />
Apesar <strong>de</strong> seguras em relação ao crescimento pôn<strong>de</strong>roestatural<br />
e mineralização óssea <strong>de</strong> lactentes90 <strong>de</strong>screve-se<br />
que cerca <strong>de</strong> 10% a 15% <strong>da</strong>s crianças com APLV IgE media<strong>da</strong><br />
po<strong>de</strong>m apresentar, também, reação à soja91 .<br />
As fórmulas à base <strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> soja apresentam<br />
algumas diferenças quan<strong>do</strong> compara<strong>da</strong>s com fórmulas poliméricas<br />
à base <strong>do</strong> LV: maior conteú<strong>do</strong> proteico, presença<br />
<strong>de</strong> fitatos, conteú<strong>do</strong> mais eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> alumínio e manganês,<br />
glicopeptí<strong>de</strong>os que po<strong>de</strong>m interferir no metabolismo <strong>do</strong><br />
io<strong>do</strong> e <strong>de</strong> isoflavonas, como a <strong>da</strong>idzeína e genisteína92,93 .<br />
As isoflavonas são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s fitoestrógenos e associamse,<br />
em animais <strong>de</strong> experimentação, com eventos adversos<br />
relaciona<strong>do</strong>s à carcinogênese e reprodução, especialmente<br />
quan<strong>do</strong> administra<strong>da</strong>s em fases precoces <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>94 . Embora,<br />
o potencial estrogênico <strong>da</strong>s isoflavonas em humanos<br />
pareça inferior ao observa<strong>do</strong> em animais95 alguns estu<strong>do</strong>s<br />
recentes <strong>de</strong>monstram eventos adversos como a antecipação<br />
na i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> menarca <strong>de</strong> meninas que utilizaram fórmulas<br />
<strong>de</strong> soja antes <strong>do</strong>s quatro meses <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>96 . Esses acha<strong>do</strong>s<br />
justificam a não preconização <strong>da</strong> fórmula a base <strong>de</strong> proteína<br />
isola<strong>da</strong> <strong>de</strong> soja para crianças com APLV e i<strong>da</strong><strong>de</strong> inferior a<br />
seis meses, mais estu<strong>do</strong>s com méto<strong>do</strong> apropria<strong>do</strong> e perío<strong>do</strong><br />
mais longo <strong>de</strong> observação são necessários para avaliar os<br />
efeitos em humanos.<br />
b) Fórmulas infantis à base <strong>de</strong> proteínas extensamente<br />
hidrolisa<strong>da</strong>s<br />
Essas fórmulas são preconiza<strong>da</strong>s pelos consensos internacionais<br />
como a primeira opção para a maioria <strong>do</strong>s