Quadro clínico das principais doenças causadas pela ... - DST/UFF
Quadro clínico das principais doenças causadas pela ... - DST/UFF
Quadro clínico das principais doenças causadas pela ... - DST/UFF
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
2<br />
<strong>Quadro</strong> Clínico <strong>das</strong><br />
Principais Doenças<br />
Causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong><br />
Chlamydia trachomatis<br />
1
A<br />
2<br />
<strong>Quadro</strong> Clínico <strong>das</strong> Principais Doenças<br />
Causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis<br />
s <strong>doenças</strong> causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis ganham<br />
um significado muito especial, uma vez que suas<br />
complicações podem ser desastrosas para seu portador,<br />
parceiro sexual e sistema de saúde de uma coletividade.<br />
Além disso, um aspecto desafiador prende-se ao fato de, em<br />
muitos casos, passarem com poucos e até mesmo sem sinais<br />
ou sintomas.<br />
Usando técnicas de biologia molecular, recentemente foi<br />
publicado um estudo avaliando a persistência de clamídia em<br />
homens (uretra) e mulheres (canal cervical) que tiveram um<br />
teste positivo e não receberam tratamento. Um segundo teste<br />
foi efetuado e o resultado de persistência da bactéria foi de<br />
80,6% em homens (29/36) e de 77,6% em mulheres (45/58).<br />
icou mostrado pelo trabalho que, embora em cerca de<br />
20% dos casos um segundo teste tenha dado negativo, a<br />
permanência do patógeno na maioria absoluta dos casos revela<br />
a importância dessa infecção.<br />
A Chlamydia trachomatis pode acometer vários locais<br />
do organismo, causando, assim, manifestações clínicas bem<br />
diferentes. Dentre estes acometimentos, destacamos:<br />
Uretrite/síndrome uretral aguda<br />
Está bem estabelecido que 35% a 50% dos homens com<br />
quadros de uretrites não gonocócicas possuem esta patologia<br />
causada <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis, adquirida de forma sexual.<br />
Co-infecção de clamídia e gonococo varia de 15% a<br />
35% em homens que relatam ter relação heterossexual.<br />
Autor:<br />
Mauro Romero Leal Passos<br />
Professor Adjunto Doutor, Chefe do Setor de <strong>DST</strong> e Coordenador do Programa de Pós-graduação em<br />
<strong>DST</strong>, Universidade ederal luminense - Niterói - RJ.<br />
Colaboradores:<br />
Renata de Queiroz Varella<br />
Especialista em <strong>DST</strong>, Setor de <strong>DST</strong>, Universidade ederal luminense.<br />
Renato de Souza Bravo<br />
Professor Adjunto Doutor da Disciplina de Ginecologia, aculdade de Medicina da Universidade<br />
ederal luminense<br />
O período de incubação varia de 7 a 21 dias. A<br />
sintomatologia básica é uretrite com secreção clara e mucóide,<br />
raramente purulenta e abundante como na uretrite gonocócica,<br />
acompanhada de disúria leve ou moderada. Em algumas situações,<br />
o meato uretral encontra-se edemaciado, hiperemiado<br />
e com alguma sensibilidade dolorosa ou de formigamento.<br />
Entretanto, muitos homens infectados <strong>pela</strong> clamídia são<br />
assintomáticos. Totalmente o contrário dos casos de uretrite<br />
por gonococo.<br />
É usualmente dito que a secreção por Chlamydia trachomatis é bem<br />
menor, mais aquosa e menos purulenta, causando menor desconforto<br />
ao urinar. Na nossa experiência, não devemos confiar cegamente na<br />
sintomatologia. Em muitos casos, pode ser infecção gonocócica crônica<br />
ou infecção dupla (clamídia + gonorréia).
Com freqüência, pacientes apresentam quadro de uretrite<br />
não-gonocócica, por clamídia, após episódio de uretrite<br />
gonocócica. Possivelmente, estes pacientes adquiriram ambas<br />
as infecções simultaneamente. Mas, devido aos períodos de<br />
incubações distintos, a gonorréia exterioriza-se primeiro.<br />
Como muitas <strong>das</strong> drogas usa<strong>das</strong> para o gonococo não atuam<br />
em igual eficiência para a clamídia, a segunda infecção só<br />
aparece semanas depois.<br />
Já foi documentado que pacientes adultos jovens, sem<br />
anormalidades anatômicas ou história de instrumentação<br />
uretral, com relato de uretrite por clamídia recente, apresentaram<br />
quadro de epididimite. Clinicamente, a epididimite por<br />
clamídia apresenta-se com aumento, hiperemia e dor em um<br />
lado da bolsa escrotal. A febre, a inapetência e a dificuldade<br />
de deambulação geralmente acompanham o quadro.<br />
Orquiepididimite por complicação de uretrite. Além da dor local, esses<br />
pacientes também apresentam dificuldade de deambulação, mal-estar<br />
geral, febre e inapetência. O tratamento deve contemplar repouso físico.<br />
Não está bem documentado que a clamídia seja um<br />
agente de prostatite. Há estudo que indica sua participação;<br />
todavia, outros indicam resultados negativos da sua patogenicidade<br />
na próstata. Entretanto, pessoalmente, acredito que<br />
esse agente tão insidioso possa, em determina<strong>das</strong> condições,<br />
ser agressivo nesse órgão.<br />
Alguns autores utilizam, em vez de uretrite, a denominação<br />
de síndrome uretral aguda, para classificarem um quadro de<br />
espessamento da uretra, principalmente próximo ao colo vesical,<br />
ou grande sensibilidade uretral à palpação. Por vezes, ao se<br />
espremer (por ordenha) a uretra, da parte posterior para a anterior,<br />
é possível detectar secreção purulenta (ou mucopurulenta)<br />
no meato uretral de mulheres jovens. Com muita freqüência, o<br />
quadro ainda é composto por disúria, urgência urinária e piúria,<br />
porém com ausência de crescimento bacteriano em urinocultura.<br />
Algumas mulheres chegam a ter seus quadros confundidos com<br />
incontinência urinária de esforço e são, equivocadamente, encaminha<strong>das</strong><br />
para cirurgias uroginecológicas.<br />
Nestas situações, a Chlamydia trachomatis pode ser en-<br />
contrada em mais de 30% dos casos. Em muitas oportunidades,<br />
a co-infecção, como em outras situações, com o<br />
gonococo, é significativa.<br />
Caso de síndrome uretral aguda em mulher que apresentava, ainda,<br />
tricomoníase, uretrocistocele e rotura perineal.<br />
Cervicite<br />
Grande parte <strong>das</strong> mulheres infecta<strong>das</strong> com clamídia no<br />
colo uterino é oligossintomática. Para muitos autores, esses<br />
poucos sintomas são designados de ausência de sintomas<br />
(assintomáticos). Porém, parte expressiva <strong>das</strong> infecta<strong>das</strong> é<br />
mesmo assintomática.<br />
Clinicamente, o reconhecimento de cervicite por clamídia<br />
depende de um alto índice de suspeição e exame cuidadoso<br />
do colo uterino. Achados sugestivos de infecção por clamídia<br />
incluem friabilidade, secreção mucopurulenta, edema e área<br />
de ectopia. Ectopia cervical apenas não é um achado anormal.<br />
Todavia, mucosa cervical muito congesta que sangra<br />
com facilidade ao toque da zaragatoa (swab) na coleta de<br />
material endocervical, deve receber atenção redobrada.<br />
Muco cervical turvo ou purulento em mulher jovem sexualmente<br />
ativa pode ter outras causas, infecciosas ou não.<br />
Porém, como já citado anteriormente, separata 1, os dados<br />
epidemiológicos atuais nos autorizam a incluir a pesquisa<br />
de clamídia na nossa rotina médica.<br />
Infelizmente, a maioria <strong>das</strong> mulheres com infecção por<br />
clamídia não podem ser distingui<strong>das</strong> <strong>das</strong> mulheres não<br />
infecta<strong>das</strong> através do exame <strong>clínico</strong>. Entretanto, os achados<br />
<strong>clínico</strong>s devem ser valorizados, e dados da anamnese, como<br />
saber se o parceiro teve infecção uretral no passado recente,<br />
merecem especial atenção. Se tal resposta for positiva, a parceira<br />
sexual tem altas possibilidades de estar infectada por<br />
Chlamydia trachomatis.<br />
Proctite<br />
Pessoas que praticam coito anal desprotegido com parceiros<br />
portadores de clamídia na uretra, podem desenvolver<br />
infecção na mucosa retal.<br />
3
<strong>Quadro</strong> assim de mucoturvo, ectrópio, congestão e friabilidade do colo<br />
são sinais propícios para existência de infecção por clamídia, gonococo,<br />
ureaplasma, entre outros. Definir a situação <strong>pela</strong> aparência clínica não é<br />
seguro. O exame pode ser positivo para um agente, dois, três ou nenhum.<br />
Todavia, a história clínica e dados do parceiro sexual não devem<br />
ser esquecidos.<br />
A sintomatologia pode ser nenhuma, leve ou intensa.<br />
Todavia, é comum quando existe infecção retal o paciente<br />
apresentar dor, hiperemia e secreção purulenta na região.<br />
Casos mais graves, que dependem da virulência da bactéria<br />
e da resposta imune do hospedeiro, quando evoluem<br />
para proctocolite tornam-se uma complicação.<br />
Não raramente, existe co-infecção com o gonococo.<br />
Bartholinite<br />
O papel da Chlamydia trachomatis em casos de<br />
bartholinites não é de todo esclarecido. Há estudo em que,<br />
pesquisada na secreção do ducto da glândula de 30 pacientes<br />
com bartholinite, a clamídia foi encontrada em apenas<br />
nove (30%). Destes casos, sete, ou seja, 78% tinham associação<br />
com o gonococo.<br />
Não se sabe ao certo a freqüência de clamídia participando<br />
de bartholinite; contudo, sua investigação em tais<br />
casos deve ser uma rotina.<br />
Infecção do trato genital superior feminino<br />
A Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas em<br />
Ginecologia e Obstetrícia, como parte de seu contínuo esforço<br />
para redefinição de “doença inflamatória pélvica - DIP”,<br />
tem recomendado revisões <strong>das</strong> diretrizes dos Centros de<br />
Controle de Doenças e Prevenção – CDC, dos Estados Unidos<br />
da América, sobre o tratamento desta doença. Em publicação<br />
de 2001, esta sociedade científica internacional recomendou<br />
o uso do termo “infecção do trato genital superior -<br />
ITGS” com designação do agente etiológico. Afirmam ainda<br />
que o diagnóstico desta infecção deve incluir uma ênfase<br />
sobre sintomas de doença oculta, recomendando o aumento<br />
do uso dos esfregaços endometriais para o diagnóstico.<br />
A DIP compreende um espectro de desordens inflamató-<br />
4<br />
rias do trato genital superior (acima do orifício interno do<br />
colo uterino), incluindo qualquer combinação de endometrite,<br />
salpingite, abscesso tubovariano e pelviperitonite.<br />
O propósito da nomeclatura é tornar a comunicação mais<br />
fácil. O termo DIP engloba uma multiplicidade de entidades,<br />
cuja patogenia e seus resultados podem diferir significativamente.<br />
Germes sexualmente transmissíveis, especialmente<br />
Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae são os mais<br />
implicados; entretanto, bactérias da microbiota vaginal<br />
(Gardnerella vaginalis, anaeróbios, bastonetes entéricos Gramnegativos<br />
e Streptococcus agalactiae) podem causar tais infecções.<br />
Não se deve esquecer que Mycoplasma hominis e<br />
Ureaplasma urealyticum também podem ser os agentes infecciosos.<br />
Gonococo e clamídia são tidos como os patógenos primários,<br />
pois representam a primeira onda de invasão<br />
microbiológica <strong>das</strong> tubas uterinas. As lesões provoca<strong>das</strong> por<br />
esses germes diminuem o potencial de defesa tubário, permitindo<br />
a invasão por outros, considerados como os<br />
patógenos secundários. O gonococo pode estar associado a<br />
outros microrganismos, mas é capaz, isoladamente, de causar<br />
a lesão primária e formar abscessos. Já a clamídia provoca<br />
lesões com tendência a cronicidade, evocando-se mecanismos<br />
imunológicos para sua manutenção. Por esta razão,<br />
é possível a presença de infecções assintomáticas por tal<br />
bactéria. Nesta situação, o quadro <strong>clínico</strong> agudo e/ou formação<br />
de abscessos dependeriam de invasão secundária de<br />
outros patógenos. Em última análise, na maioria dos casos<br />
de salpingite consegue-se isolar mais de uma espécie<br />
bacteriana, confirmando um ambiente polimicrobiano.<br />
Endometrite<br />
Mulheres portadoras de infecções por Chlamydia<br />
trachomatis durante o parto normal apresentam um risco<br />
Esta é uma esquematização da disseminação da clamídia/gonococo do<br />
fundo de saco vaginal e principalmente do canal endocervical para as<br />
tubas uterinas.
cinco ou seis vezes maior de desenvolver febre intraparto ou<br />
endometrite pós-parto 48 horas a um mês após o parto. Os<br />
sinais e sintomas são os mesmos de salpingite aguda.<br />
Salpingite<br />
Salpingite aguda, geralmente causada por germes sexualmente<br />
transmissíveis oriundos primariamente do trato genital<br />
baixo feminino, talvez seja uma <strong>das</strong> complicações mais severas<br />
(seqüelas e freqüência). Em geral, as bactérias ascendem<br />
do canal cervical ou fundo vaginal e acometem o<br />
endométrio até atingirem as tubas uterinas. Já citamos que<br />
os <strong>principais</strong> agentes são clamídia e gonococo.<br />
O quadro <strong>clínico</strong> dessas infecções, principalmente quando<br />
causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis, no trato genital<br />
feminino alto é inespecífico; mas pode ser grave, com febre,<br />
dor pélvica, dispareunia, prostação e dor à mobilização<br />
uterina durante o toque vaginal bimanual. Toda esta<br />
sintomatologia pode ter intensidade leve, moderada ou severa.<br />
Todavia, muitos casos passam de forma insidiosa, em<br />
que a paciente percebe o desconforto, mas o tolera com razoável<br />
capacidade de resistência.<br />
A sintomatologia pode ou não acompanhar a agressão<br />
tecidual. Tal agravo pode ser desde hiperemia e secreção<br />
piogênica tubária até abscesso tubovariano íntegro ou roto.<br />
Com alguma freqüência, jovens mulheres não sobrevivem à<br />
agressão de uma peritonite difusa que evolui para sépsis, principalmente<br />
quando o diagnóstico e o tratamento são tardios.<br />
Existindo outros problemas associados, como abortamento<br />
(espontâneo ou provocado), perfuração uterina pós-curetagem,<br />
infecção por HIV ou outra doença crônica debilitante, a facilidade<br />
de um final feliz fica cada vez mais distante.<br />
Notar o grande abscesso tubário, complicação freqüente de infecção<br />
por gonococo/clamídia<br />
Periepatite<br />
Quem primeiro descreveu a presença de periepatite em<br />
mulheres jovens com salpingites por gonococo foi o médico<br />
uruguaio Stajano, em 1920. Somente dez anos mais tarde,<br />
1930, Curtis relatou a presença de “cor<strong>das</strong> de violino”<br />
aderi<strong>das</strong> entre o fígado e a parede abdominal anterior. Em<br />
1934, itz-Hugh, como Curtis, médico norte-americano,<br />
descreveu um trabalho sobre peritonite gonocócica aguda<br />
no quadrante superior direito em mulheres que foram leva<strong>das</strong><br />
para laparotomia por suspeita de colecistite. Infelizmente,<br />
a história médica esqueceu alguém e consagrou esses<br />
achados com síndrome de itz-Hugh and Curtis. Tomarei a<br />
liberdade de, a partir de agora, passar a denominá-la de<br />
síndrome de Stajano, Curtis and itz-Hugh para tentar resgatar<br />
a mémória de quem também teve valor nesse tema.<br />
Inicialmente, a ocorrência de periepatite com ou após<br />
salpingite era considerada complicação de infecção<br />
gonocócica. Todavia, estudos posteriores mostraram que a<br />
periepatite associada à infecção clamidiana pode ser mais<br />
comum do que a associada à gonocócica.<br />
Esta patologia deve ser suspeitada em quadros de dor em<br />
hipocôndrio direito, acompanhada de náuseas ou vômitos,<br />
febre com ausência de cálculos biliares e icterícia. Sinais de<br />
peritonite generalizada podem estar presentes. Evidências de<br />
salpingite podem ou não existir, uma vez que o quadro de<br />
periepatite nem sempre expressa uma disseminação imediata<br />
da infecção pélvica.<br />
Oftalmia<br />
O tracoma endêmico (Chlamydia trachomatis sorotipo<br />
A) é uma causa comum de cegueira em populações carentes<br />
de países em desenvolvimento. Representa uma infecção<br />
ocular muito agressiva e não está ligada à atividade sexual.<br />
Outros sorotipos de clamídia de acometimento oculogenital<br />
podem desencadear, possivelmente por auto<br />
inoculação, oftalmias no adulto. São geralmente autolimitantes<br />
e dificilmente acarretam graves seqüelas. Normalmente<br />
causam uma conjuntivite folicular, com leve ou moderada<br />
secreção purulenta, que cedem com tratamentos orais<br />
tradicionais.<br />
A oftalmia mais freqüente acomete recém-nascidos e será<br />
descrita no item Infecções perinatais.<br />
Infecções perinatais<br />
Na passagem pelo canal de parto, o recém-nascido pode<br />
ficar exposto à infecção clamidiana, caso a mãe seja uma<br />
portadora não-tratada durante a gravidez. Assim, as crianças<br />
podem desenvolver quadro de conjuntivite purulenta,<br />
que normalmente ocorre no período de uma a três semanas<br />
após o nascimento. Por causa da relação parasita-hospedeiro<br />
(número de germes infectantes, virulência, traumas<br />
no parto, higiene adequada...), cerca de 20% a 30% dessas<br />
crianças apresentam tal infecção. Como a co-infecção<br />
clamídia-gonococo não é episódio raro, a sintomatologia<br />
(tempo de incubação e intensidade) pode estar modifica-<br />
5
da. A mesma porcentagem de crianças também desenvolverá<br />
pneumonia específica.<br />
A Chlamydia trachomatis é o agente infeccioso mais comum<br />
de pneumonia nos primeiros meses de vida. Seu período<br />
de incubação varia de dois a três meses levando a criança<br />
a não ganhar peso, com quadro geralmente afebril e tosse<br />
não-produtiva. O estudo radiográfico do tórax é não-específico,<br />
mostrando apenas hiperinflação com infiltrado<br />
intersticial difuso. Ao exame, observam-se taquipnéia e<br />
estertores pulmonares.<br />
Complicação de cegueira pós-oftalmia neonatal. Na história há dados de<br />
pré-natal sem exame ginecológico, mãe com corrimento vaginal, dor<br />
pélvica e pai com “infecçãozinha no pênis” na época da gravidez.<br />
Linfogranuloma venéreo<br />
Também conhecido como linfogranuloma ingüinal ou<br />
doença de Nicolas-avre-Durand, apresenta na fase aguda<br />
(síndrome genitoingüinal) adenite ingüinal inflamatória e<br />
dolorosa (bubão). A fase aguda pode evoluir com fistulização<br />
Embora seja essa uma observação clássica em casos de LGV, “sinal de<br />
bico de regador”, a sua ocorrência é rara. São múltiplos orifícios com<br />
halos de hiperemia iniciando a drenagem de material purulento. No<br />
meio do bubão é possível observar o “sinal de ombreira”, que significa<br />
a fixação dos linfonodos, mais profundos, aderidos ao ligamento de<br />
Poupart fazendo uma vala.<br />
6<br />
multifocal (bico de regador). Nessa fase, mal-estar geral, tipo<br />
gripe, pode correr.<br />
A fase crônica pode acometer os linfonodos pararretais,<br />
causando estenose do reto.<br />
Nos genitais, masculino ou feminino, essas lesões podem<br />
evoluir para estiomene (elefantíase com fístulas, drenagem<br />
de secreção purulenta e úlceras).<br />
No diagnóstico diferencial devem-se considerar, principalmente:<br />
cancro mole, sífilis, tuberculose ganglionar, paracoccidioidomicose<br />
ingüinal, doença de arranhadura de gato<br />
(linforreticulose benigna) e doença de Hodgkin.<br />
<strong>Quadro</strong> raríssimo atualmente: estiomene (elefantíase com fístulas genitais).<br />
Caracteriza a fase crônica genitorretal. Pode acometer cadeias linfáticas<br />
profun<strong>das</strong>, causando estenose de reto.<br />
Síndrome de Reiter<br />
A presença de Chlamydia trachomatis nos genitais foi<br />
associada, por ensaios sorológicos, à artropatia reativa da<br />
síndrome de Reiter. Esta síndrome consiste numa tríade clássica<br />
de uretrite, conjuntivite e artrite.<br />
O achado de partes de clamídia em material de aspirado<br />
de articulações comprometi<strong>das</strong> de pacientes apresentando tal<br />
artropatia, sugere que o quadro é uma complicação direta da<br />
infecção inicial dos genitais (uretrite/cervicite).<br />
A síndrome de Reiter pode ter ainda características<br />
dermatológicas bem marcantes, como balanite/vulvite circinada,<br />
representada por placas eritematosas e descamativas<br />
no pênis/vulva. Não raramente os portadores desta síndrome<br />
apresentam também estomatites, uveítes e diarréia.<br />
Câncer cervical<br />
Testando 181 pacientes da inlândia, Noruega e Suécia<br />
com carcinoma cervical invasivo para clamídia, através<br />
de três métodos diferentes de sorologia, estudo bem documentado<br />
concluiu que Chlamydia trachomatis sorotipo G<br />
mostrou-se fortemente associada com subseqüente desenvolvimento<br />
de carcinoma de células escamosas do colo uterino.<br />
O estudo avaliou vários sorotipos de clamídia, documen-
tando que também os sorotipos I e D estavam associados à<br />
lesão maligna. Esse trabalho ainda evidenciou que a exposição<br />
a mais de um sorotipo aumentou o risco para o câncer cervical.<br />
Um outro estudo produzido com materiais do Brasil e<br />
<strong>das</strong> ilipinas, com 499 mulheres portadoras de câncer cervical<br />
invasivo, demonstrou que o risco da patologia maligna estava<br />
maior quando a sorologia para clamídia estava reativa.<br />
É possível que ainda seja muito cedo para clarificar essa<br />
associação. Todavia, a necessidade de mais estudos e mais<br />
pessoas envolvi<strong>das</strong> é essencial. Os recursos (humanos e fi-<br />
Referências Bibliográficas:<br />
- Antila T, Saikku P, Koskela P, Bloigu A, Dillner J et al. Serotypes of<br />
Chlamydia trachomatis and Risk for Development of Cervical<br />
Squamous Cell Carcinoma. JAMA; 285:47-51, 2001.<br />
- Brasil, Ministério da Saúde, SPC-CN<strong>DST</strong>/aids. Manual de Controle<br />
de <strong>DST</strong>, 3a . ed., Brasília, 1999.<br />
- Centers for Disease Control and Prevention. Sexually transmitted discases<br />
treatment guidelines 2002. MMWR 2002; 51 (No. RR-6): 32-36.<br />
- Davies JA, Rees E, Hobson D, Karayiannis P. Isolation of Chlamydia<br />
trachomatis from Bartholins ductus. Br J Vener Dis, 54:409, 1978.<br />
- Eschenbach D. itz-Hugh – “Curtis syndrome” in Holmes KK, Mardh<br />
PA, Sparling P, Wiesner PJ. Sexually Transmitted Diseases. McGraw-<br />
Hill Book, New York, 1984.<br />
- Hemsel DL, Ledger WJ, Martens M, Monif GRG, Osborne NG.<br />
Concerns Regardind the Centers for Disease Control’s Published<br />
Guidelines for Pelvic Inflammatory Disease. CID 32: 103-107, 2001.<br />
- Joyner JL, Douglas JM, Jr., oster M, Judson N. Persistence of<br />
Chlamydia trachomatis Infection by Polymerase Chain Reaction in<br />
Untreated Patients. Sex Transm Dis; 29(4): 196-200, 2002.<br />
nanceiros), com certeza, se justificam. Até porque, com mais<br />
freqüência, é apontada na literatura médica a multicausalidade<br />
(maior ou menor, potencializador ou desencadeador,<br />
facilitador ou complicador) dos agravos à saúde humana.<br />
Uma vez que já discutimos os <strong>principais</strong> dados da<br />
epidemiologia, etiopatogenia e quadros <strong>clínico</strong>s <strong>das</strong> infecções<br />
por Chlamydia trachomatis, estamos aptos para, na próxima<br />
publicação, apresentar as formas de diagnóstico, tratamento,<br />
controle de cura e manejo do parceiro sexual.<br />
- Passos MRL et al. Doenças Sexualmente Transmissíveis, 4a . ed. Rio de<br />
Janeiro, Cultura Médica, 1995.<br />
- Passos MRL, Almeida GL. Atlas de <strong>DST</strong> e Diagnóstico Diferencial<br />
Rio de Janeiro, Revinter, 2002.<br />
- Schachter J, Barnes R. Infecções Causa<strong>das</strong> por Chlamydia trachomatis<br />
in Morse AS, Moreland AA, Holmes KK. Doenças Sexualmente<br />
Transmissíveis e AIDS, 2a . ed., Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.<br />
- Smith JS, Munoz N, Herrero R, Eluf-Neto J, Ngelangel C, ranceschi<br />
S, Bosch X, Walboomers JM, Peeling RW. Evidence for Chlamydia<br />
trachomatis as a human papillomavirus cofactor in the etiology of<br />
invasive cervical cancer in Brazil and the Philippines. J Infect Dis; eb<br />
1 185(3): 324-31, 2002.<br />
- Stamm WE, Holmes KK. “Chlamydia trachomatis infections of the<br />
adult” in Holmes KK, Mardh PA, Sparling P, Wiesner PJ. Sexually<br />
Transmitted Diseases. McGraw-Hill Book, New York, 1984.<br />
- Varella RQ, Passos MRL, Pinheiro VMS et al. Pesquisa de Chlamydia<br />
trachomatis em mulheres do município de Piraí – Rio de Janeiro.<br />
<strong>DST</strong> - J brás Doenças Sex Transm 12(3): 27-44, 2000.<br />
Em foco - <strong>Quadro</strong> Clínico <strong>das</strong> Principais Doenças Causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis é uma publicação periódica da PhOENIX Produções Editoriais,<br />
patrocinada por armoquímica. Jornalista Responsável: José Antonio Mariano (MTB: 22.273-SP). Tiragem: 20.000 exemplares. Endereço: Rua Gomes<br />
reire, 439 – Cj. 6 – CEP 05075-010 – São Paulo – SP – Tel.: (11) 3645-2171 – ax: (11) 3831-8560 – E-mail: phoenix@editoraphoenix.com.br –<br />
Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida, gravada em sistema de armazenamento ou transmitida em forma alguma, por qualquer procedimento.<br />
7
CÓD. 501152