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Quadro clínico das principais doenças causadas pela ... - DST/UFF

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2<br />

<strong>Quadro</strong> Clínico <strong>das</strong><br />

Principais Doenças<br />

Causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong><br />

Chlamydia trachomatis<br />

1


A<br />

2<br />

<strong>Quadro</strong> Clínico <strong>das</strong> Principais Doenças<br />

Causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis<br />

s <strong>doenças</strong> causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis ganham<br />

um significado muito especial, uma vez que suas<br />

complicações podem ser desastrosas para seu portador,<br />

parceiro sexual e sistema de saúde de uma coletividade.<br />

Além disso, um aspecto desafiador prende-se ao fato de, em<br />

muitos casos, passarem com poucos e até mesmo sem sinais<br />

ou sintomas.<br />

Usando técnicas de biologia molecular, recentemente foi<br />

publicado um estudo avaliando a persistência de clamídia em<br />

homens (uretra) e mulheres (canal cervical) que tiveram um<br />

teste positivo e não receberam tratamento. Um segundo teste<br />

foi efetuado e o resultado de persistência da bactéria foi de<br />

80,6% em homens (29/36) e de 77,6% em mulheres (45/58).<br />

icou mostrado pelo trabalho que, embora em cerca de<br />

20% dos casos um segundo teste tenha dado negativo, a<br />

permanência do patógeno na maioria absoluta dos casos revela<br />

a importância dessa infecção.<br />

A Chlamydia trachomatis pode acometer vários locais<br />

do organismo, causando, assim, manifestações clínicas bem<br />

diferentes. Dentre estes acometimentos, destacamos:<br />

Uretrite/síndrome uretral aguda<br />

Está bem estabelecido que 35% a 50% dos homens com<br />

quadros de uretrites não gonocócicas possuem esta patologia<br />

causada <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis, adquirida de forma sexual.<br />

Co-infecção de clamídia e gonococo varia de 15% a<br />

35% em homens que relatam ter relação heterossexual.<br />

Autor:<br />

Mauro Romero Leal Passos<br />

Professor Adjunto Doutor, Chefe do Setor de <strong>DST</strong> e Coordenador do Programa de Pós-graduação em<br />

<strong>DST</strong>, Universidade ederal luminense - Niterói - RJ.<br />

Colaboradores:<br />

Renata de Queiroz Varella<br />

Especialista em <strong>DST</strong>, Setor de <strong>DST</strong>, Universidade ederal luminense.<br />

Renato de Souza Bravo<br />

Professor Adjunto Doutor da Disciplina de Ginecologia, aculdade de Medicina da Universidade<br />

ederal luminense<br />

O período de incubação varia de 7 a 21 dias. A<br />

sintomatologia básica é uretrite com secreção clara e mucóide,<br />

raramente purulenta e abundante como na uretrite gonocócica,<br />

acompanhada de disúria leve ou moderada. Em algumas situações,<br />

o meato uretral encontra-se edemaciado, hiperemiado<br />

e com alguma sensibilidade dolorosa ou de formigamento.<br />

Entretanto, muitos homens infectados <strong>pela</strong> clamídia são<br />

assintomáticos. Totalmente o contrário dos casos de uretrite<br />

por gonococo.<br />

É usualmente dito que a secreção por Chlamydia trachomatis é bem<br />

menor, mais aquosa e menos purulenta, causando menor desconforto<br />

ao urinar. Na nossa experiência, não devemos confiar cegamente na<br />

sintomatologia. Em muitos casos, pode ser infecção gonocócica crônica<br />

ou infecção dupla (clamídia + gonorréia).


Com freqüência, pacientes apresentam quadro de uretrite<br />

não-gonocócica, por clamídia, após episódio de uretrite<br />

gonocócica. Possivelmente, estes pacientes adquiriram ambas<br />

as infecções simultaneamente. Mas, devido aos períodos de<br />

incubações distintos, a gonorréia exterioriza-se primeiro.<br />

Como muitas <strong>das</strong> drogas usa<strong>das</strong> para o gonococo não atuam<br />

em igual eficiência para a clamídia, a segunda infecção só<br />

aparece semanas depois.<br />

Já foi documentado que pacientes adultos jovens, sem<br />

anormalidades anatômicas ou história de instrumentação<br />

uretral, com relato de uretrite por clamídia recente, apresentaram<br />

quadro de epididimite. Clinicamente, a epididimite por<br />

clamídia apresenta-se com aumento, hiperemia e dor em um<br />

lado da bolsa escrotal. A febre, a inapetência e a dificuldade<br />

de deambulação geralmente acompanham o quadro.<br />

Orquiepididimite por complicação de uretrite. Além da dor local, esses<br />

pacientes também apresentam dificuldade de deambulação, mal-estar<br />

geral, febre e inapetência. O tratamento deve contemplar repouso físico.<br />

Não está bem documentado que a clamídia seja um<br />

agente de prostatite. Há estudo que indica sua participação;<br />

todavia, outros indicam resultados negativos da sua patogenicidade<br />

na próstata. Entretanto, pessoalmente, acredito que<br />

esse agente tão insidioso possa, em determina<strong>das</strong> condições,<br />

ser agressivo nesse órgão.<br />

Alguns autores utilizam, em vez de uretrite, a denominação<br />

de síndrome uretral aguda, para classificarem um quadro de<br />

espessamento da uretra, principalmente próximo ao colo vesical,<br />

ou grande sensibilidade uretral à palpação. Por vezes, ao se<br />

espremer (por ordenha) a uretra, da parte posterior para a anterior,<br />

é possível detectar secreção purulenta (ou mucopurulenta)<br />

no meato uretral de mulheres jovens. Com muita freqüência, o<br />

quadro ainda é composto por disúria, urgência urinária e piúria,<br />

porém com ausência de crescimento bacteriano em urinocultura.<br />

Algumas mulheres chegam a ter seus quadros confundidos com<br />

incontinência urinária de esforço e são, equivocadamente, encaminha<strong>das</strong><br />

para cirurgias uroginecológicas.<br />

Nestas situações, a Chlamydia trachomatis pode ser en-<br />

contrada em mais de 30% dos casos. Em muitas oportunidades,<br />

a co-infecção, como em outras situações, com o<br />

gonococo, é significativa.<br />

Caso de síndrome uretral aguda em mulher que apresentava, ainda,<br />

tricomoníase, uretrocistocele e rotura perineal.<br />

Cervicite<br />

Grande parte <strong>das</strong> mulheres infecta<strong>das</strong> com clamídia no<br />

colo uterino é oligossintomática. Para muitos autores, esses<br />

poucos sintomas são designados de ausência de sintomas<br />

(assintomáticos). Porém, parte expressiva <strong>das</strong> infecta<strong>das</strong> é<br />

mesmo assintomática.<br />

Clinicamente, o reconhecimento de cervicite por clamídia<br />

depende de um alto índice de suspeição e exame cuidadoso<br />

do colo uterino. Achados sugestivos de infecção por clamídia<br />

incluem friabilidade, secreção mucopurulenta, edema e área<br />

de ectopia. Ectopia cervical apenas não é um achado anormal.<br />

Todavia, mucosa cervical muito congesta que sangra<br />

com facilidade ao toque da zaragatoa (swab) na coleta de<br />

material endocervical, deve receber atenção redobrada.<br />

Muco cervical turvo ou purulento em mulher jovem sexualmente<br />

ativa pode ter outras causas, infecciosas ou não.<br />

Porém, como já citado anteriormente, separata 1, os dados<br />

epidemiológicos atuais nos autorizam a incluir a pesquisa<br />

de clamídia na nossa rotina médica.<br />

Infelizmente, a maioria <strong>das</strong> mulheres com infecção por<br />

clamídia não podem ser distingui<strong>das</strong> <strong>das</strong> mulheres não<br />

infecta<strong>das</strong> através do exame <strong>clínico</strong>. Entretanto, os achados<br />

<strong>clínico</strong>s devem ser valorizados, e dados da anamnese, como<br />

saber se o parceiro teve infecção uretral no passado recente,<br />

merecem especial atenção. Se tal resposta for positiva, a parceira<br />

sexual tem altas possibilidades de estar infectada por<br />

Chlamydia trachomatis.<br />

Proctite<br />

Pessoas que praticam coito anal desprotegido com parceiros<br />

portadores de clamídia na uretra, podem desenvolver<br />

infecção na mucosa retal.<br />

3


<strong>Quadro</strong> assim de mucoturvo, ectrópio, congestão e friabilidade do colo<br />

são sinais propícios para existência de infecção por clamídia, gonococo,<br />

ureaplasma, entre outros. Definir a situação <strong>pela</strong> aparência clínica não é<br />

seguro. O exame pode ser positivo para um agente, dois, três ou nenhum.<br />

Todavia, a história clínica e dados do parceiro sexual não devem<br />

ser esquecidos.<br />

A sintomatologia pode ser nenhuma, leve ou intensa.<br />

Todavia, é comum quando existe infecção retal o paciente<br />

apresentar dor, hiperemia e secreção purulenta na região.<br />

Casos mais graves, que dependem da virulência da bactéria<br />

e da resposta imune do hospedeiro, quando evoluem<br />

para proctocolite tornam-se uma complicação.<br />

Não raramente, existe co-infecção com o gonococo.<br />

Bartholinite<br />

O papel da Chlamydia trachomatis em casos de<br />

bartholinites não é de todo esclarecido. Há estudo em que,<br />

pesquisada na secreção do ducto da glândula de 30 pacientes<br />

com bartholinite, a clamídia foi encontrada em apenas<br />

nove (30%). Destes casos, sete, ou seja, 78% tinham associação<br />

com o gonococo.<br />

Não se sabe ao certo a freqüência de clamídia participando<br />

de bartholinite; contudo, sua investigação em tais<br />

casos deve ser uma rotina.<br />

Infecção do trato genital superior feminino<br />

A Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas em<br />

Ginecologia e Obstetrícia, como parte de seu contínuo esforço<br />

para redefinição de “doença inflamatória pélvica - DIP”,<br />

tem recomendado revisões <strong>das</strong> diretrizes dos Centros de<br />

Controle de Doenças e Prevenção – CDC, dos Estados Unidos<br />

da América, sobre o tratamento desta doença. Em publicação<br />

de 2001, esta sociedade científica internacional recomendou<br />

o uso do termo “infecção do trato genital superior -<br />

ITGS” com designação do agente etiológico. Afirmam ainda<br />

que o diagnóstico desta infecção deve incluir uma ênfase<br />

sobre sintomas de doença oculta, recomendando o aumento<br />

do uso dos esfregaços endometriais para o diagnóstico.<br />

A DIP compreende um espectro de desordens inflamató-<br />

4<br />

rias do trato genital superior (acima do orifício interno do<br />

colo uterino), incluindo qualquer combinação de endometrite,<br />

salpingite, abscesso tubovariano e pelviperitonite.<br />

O propósito da nomeclatura é tornar a comunicação mais<br />

fácil. O termo DIP engloba uma multiplicidade de entidades,<br />

cuja patogenia e seus resultados podem diferir significativamente.<br />

Germes sexualmente transmissíveis, especialmente<br />

Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae são os mais<br />

implicados; entretanto, bactérias da microbiota vaginal<br />

(Gardnerella vaginalis, anaeróbios, bastonetes entéricos Gramnegativos<br />

e Streptococcus agalactiae) podem causar tais infecções.<br />

Não se deve esquecer que Mycoplasma hominis e<br />

Ureaplasma urealyticum também podem ser os agentes infecciosos.<br />

Gonococo e clamídia são tidos como os patógenos primários,<br />

pois representam a primeira onda de invasão<br />

microbiológica <strong>das</strong> tubas uterinas. As lesões provoca<strong>das</strong> por<br />

esses germes diminuem o potencial de defesa tubário, permitindo<br />

a invasão por outros, considerados como os<br />

patógenos secundários. O gonococo pode estar associado a<br />

outros microrganismos, mas é capaz, isoladamente, de causar<br />

a lesão primária e formar abscessos. Já a clamídia provoca<br />

lesões com tendência a cronicidade, evocando-se mecanismos<br />

imunológicos para sua manutenção. Por esta razão,<br />

é possível a presença de infecções assintomáticas por tal<br />

bactéria. Nesta situação, o quadro <strong>clínico</strong> agudo e/ou formação<br />

de abscessos dependeriam de invasão secundária de<br />

outros patógenos. Em última análise, na maioria dos casos<br />

de salpingite consegue-se isolar mais de uma espécie<br />

bacteriana, confirmando um ambiente polimicrobiano.<br />

Endometrite<br />

Mulheres portadoras de infecções por Chlamydia<br />

trachomatis durante o parto normal apresentam um risco<br />

Esta é uma esquematização da disseminação da clamídia/gonococo do<br />

fundo de saco vaginal e principalmente do canal endocervical para as<br />

tubas uterinas.


cinco ou seis vezes maior de desenvolver febre intraparto ou<br />

endometrite pós-parto 48 horas a um mês após o parto. Os<br />

sinais e sintomas são os mesmos de salpingite aguda.<br />

Salpingite<br />

Salpingite aguda, geralmente causada por germes sexualmente<br />

transmissíveis oriundos primariamente do trato genital<br />

baixo feminino, talvez seja uma <strong>das</strong> complicações mais severas<br />

(seqüelas e freqüência). Em geral, as bactérias ascendem<br />

do canal cervical ou fundo vaginal e acometem o<br />

endométrio até atingirem as tubas uterinas. Já citamos que<br />

os <strong>principais</strong> agentes são clamídia e gonococo.<br />

O quadro <strong>clínico</strong> dessas infecções, principalmente quando<br />

causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis, no trato genital<br />

feminino alto é inespecífico; mas pode ser grave, com febre,<br />

dor pélvica, dispareunia, prostação e dor à mobilização<br />

uterina durante o toque vaginal bimanual. Toda esta<br />

sintomatologia pode ter intensidade leve, moderada ou severa.<br />

Todavia, muitos casos passam de forma insidiosa, em<br />

que a paciente percebe o desconforto, mas o tolera com razoável<br />

capacidade de resistência.<br />

A sintomatologia pode ou não acompanhar a agressão<br />

tecidual. Tal agravo pode ser desde hiperemia e secreção<br />

piogênica tubária até abscesso tubovariano íntegro ou roto.<br />

Com alguma freqüência, jovens mulheres não sobrevivem à<br />

agressão de uma peritonite difusa que evolui para sépsis, principalmente<br />

quando o diagnóstico e o tratamento são tardios.<br />

Existindo outros problemas associados, como abortamento<br />

(espontâneo ou provocado), perfuração uterina pós-curetagem,<br />

infecção por HIV ou outra doença crônica debilitante, a facilidade<br />

de um final feliz fica cada vez mais distante.<br />

Notar o grande abscesso tubário, complicação freqüente de infecção<br />

por gonococo/clamídia<br />

Periepatite<br />

Quem primeiro descreveu a presença de periepatite em<br />

mulheres jovens com salpingites por gonococo foi o médico<br />

uruguaio Stajano, em 1920. Somente dez anos mais tarde,<br />

1930, Curtis relatou a presença de “cor<strong>das</strong> de violino”<br />

aderi<strong>das</strong> entre o fígado e a parede abdominal anterior. Em<br />

1934, itz-Hugh, como Curtis, médico norte-americano,<br />

descreveu um trabalho sobre peritonite gonocócica aguda<br />

no quadrante superior direito em mulheres que foram leva<strong>das</strong><br />

para laparotomia por suspeita de colecistite. Infelizmente,<br />

a história médica esqueceu alguém e consagrou esses<br />

achados com síndrome de itz-Hugh and Curtis. Tomarei a<br />

liberdade de, a partir de agora, passar a denominá-la de<br />

síndrome de Stajano, Curtis and itz-Hugh para tentar resgatar<br />

a mémória de quem também teve valor nesse tema.<br />

Inicialmente, a ocorrência de periepatite com ou após<br />

salpingite era considerada complicação de infecção<br />

gonocócica. Todavia, estudos posteriores mostraram que a<br />

periepatite associada à infecção clamidiana pode ser mais<br />

comum do que a associada à gonocócica.<br />

Esta patologia deve ser suspeitada em quadros de dor em<br />

hipocôndrio direito, acompanhada de náuseas ou vômitos,<br />

febre com ausência de cálculos biliares e icterícia. Sinais de<br />

peritonite generalizada podem estar presentes. Evidências de<br />

salpingite podem ou não existir, uma vez que o quadro de<br />

periepatite nem sempre expressa uma disseminação imediata<br />

da infecção pélvica.<br />

Oftalmia<br />

O tracoma endêmico (Chlamydia trachomatis sorotipo<br />

A) é uma causa comum de cegueira em populações carentes<br />

de países em desenvolvimento. Representa uma infecção<br />

ocular muito agressiva e não está ligada à atividade sexual.<br />

Outros sorotipos de clamídia de acometimento oculogenital<br />

podem desencadear, possivelmente por auto<br />

inoculação, oftalmias no adulto. São geralmente autolimitantes<br />

e dificilmente acarretam graves seqüelas. Normalmente<br />

causam uma conjuntivite folicular, com leve ou moderada<br />

secreção purulenta, que cedem com tratamentos orais<br />

tradicionais.<br />

A oftalmia mais freqüente acomete recém-nascidos e será<br />

descrita no item Infecções perinatais.<br />

Infecções perinatais<br />

Na passagem pelo canal de parto, o recém-nascido pode<br />

ficar exposto à infecção clamidiana, caso a mãe seja uma<br />

portadora não-tratada durante a gravidez. Assim, as crianças<br />

podem desenvolver quadro de conjuntivite purulenta,<br />

que normalmente ocorre no período de uma a três semanas<br />

após o nascimento. Por causa da relação parasita-hospedeiro<br />

(número de germes infectantes, virulência, traumas<br />

no parto, higiene adequada...), cerca de 20% a 30% dessas<br />

crianças apresentam tal infecção. Como a co-infecção<br />

clamídia-gonococo não é episódio raro, a sintomatologia<br />

(tempo de incubação e intensidade) pode estar modifica-<br />

5


da. A mesma porcentagem de crianças também desenvolverá<br />

pneumonia específica.<br />

A Chlamydia trachomatis é o agente infeccioso mais comum<br />

de pneumonia nos primeiros meses de vida. Seu período<br />

de incubação varia de dois a três meses levando a criança<br />

a não ganhar peso, com quadro geralmente afebril e tosse<br />

não-produtiva. O estudo radiográfico do tórax é não-específico,<br />

mostrando apenas hiperinflação com infiltrado<br />

intersticial difuso. Ao exame, observam-se taquipnéia e<br />

estertores pulmonares.<br />

Complicação de cegueira pós-oftalmia neonatal. Na história há dados de<br />

pré-natal sem exame ginecológico, mãe com corrimento vaginal, dor<br />

pélvica e pai com “infecçãozinha no pênis” na época da gravidez.<br />

Linfogranuloma venéreo<br />

Também conhecido como linfogranuloma ingüinal ou<br />

doença de Nicolas-avre-Durand, apresenta na fase aguda<br />

(síndrome genitoingüinal) adenite ingüinal inflamatória e<br />

dolorosa (bubão). A fase aguda pode evoluir com fistulização<br />

Embora seja essa uma observação clássica em casos de LGV, “sinal de<br />

bico de regador”, a sua ocorrência é rara. São múltiplos orifícios com<br />

halos de hiperemia iniciando a drenagem de material purulento. No<br />

meio do bubão é possível observar o “sinal de ombreira”, que significa<br />

a fixação dos linfonodos, mais profundos, aderidos ao ligamento de<br />

Poupart fazendo uma vala.<br />

6<br />

multifocal (bico de regador). Nessa fase, mal-estar geral, tipo<br />

gripe, pode correr.<br />

A fase crônica pode acometer os linfonodos pararretais,<br />

causando estenose do reto.<br />

Nos genitais, masculino ou feminino, essas lesões podem<br />

evoluir para estiomene (elefantíase com fístulas, drenagem<br />

de secreção purulenta e úlceras).<br />

No diagnóstico diferencial devem-se considerar, principalmente:<br />

cancro mole, sífilis, tuberculose ganglionar, paracoccidioidomicose<br />

ingüinal, doença de arranhadura de gato<br />

(linforreticulose benigna) e doença de Hodgkin.<br />

<strong>Quadro</strong> raríssimo atualmente: estiomene (elefantíase com fístulas genitais).<br />

Caracteriza a fase crônica genitorretal. Pode acometer cadeias linfáticas<br />

profun<strong>das</strong>, causando estenose de reto.<br />

Síndrome de Reiter<br />

A presença de Chlamydia trachomatis nos genitais foi<br />

associada, por ensaios sorológicos, à artropatia reativa da<br />

síndrome de Reiter. Esta síndrome consiste numa tríade clássica<br />

de uretrite, conjuntivite e artrite.<br />

O achado de partes de clamídia em material de aspirado<br />

de articulações comprometi<strong>das</strong> de pacientes apresentando tal<br />

artropatia, sugere que o quadro é uma complicação direta da<br />

infecção inicial dos genitais (uretrite/cervicite).<br />

A síndrome de Reiter pode ter ainda características<br />

dermatológicas bem marcantes, como balanite/vulvite circinada,<br />

representada por placas eritematosas e descamativas<br />

no pênis/vulva. Não raramente os portadores desta síndrome<br />

apresentam também estomatites, uveítes e diarréia.<br />

Câncer cervical<br />

Testando 181 pacientes da inlândia, Noruega e Suécia<br />

com carcinoma cervical invasivo para clamídia, através<br />

de três métodos diferentes de sorologia, estudo bem documentado<br />

concluiu que Chlamydia trachomatis sorotipo G<br />

mostrou-se fortemente associada com subseqüente desenvolvimento<br />

de carcinoma de células escamosas do colo uterino.<br />

O estudo avaliou vários sorotipos de clamídia, documen-


tando que também os sorotipos I e D estavam associados à<br />

lesão maligna. Esse trabalho ainda evidenciou que a exposição<br />

a mais de um sorotipo aumentou o risco para o câncer cervical.<br />

Um outro estudo produzido com materiais do Brasil e<br />

<strong>das</strong> ilipinas, com 499 mulheres portadoras de câncer cervical<br />

invasivo, demonstrou que o risco da patologia maligna estava<br />

maior quando a sorologia para clamídia estava reativa.<br />

É possível que ainda seja muito cedo para clarificar essa<br />

associação. Todavia, a necessidade de mais estudos e mais<br />

pessoas envolvi<strong>das</strong> é essencial. Os recursos (humanos e fi-<br />

Referências Bibliográficas:<br />

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treatment guidelines 2002. MMWR 2002; 51 (No. RR-6): 32-36.<br />

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trachomatis from Bartholins ductus. Br J Vener Dis, 54:409, 1978.<br />

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- Joyner JL, Douglas JM, Jr., oster M, Judson N. Persistence of<br />

Chlamydia trachomatis Infection by Polymerase Chain Reaction in<br />

Untreated Patients. Sex Transm Dis; 29(4): 196-200, 2002.<br />

nanceiros), com certeza, se justificam. Até porque, com mais<br />

freqüência, é apontada na literatura médica a multicausalidade<br />

(maior ou menor, potencializador ou desencadeador,<br />

facilitador ou complicador) dos agravos à saúde humana.<br />

Uma vez que já discutimos os <strong>principais</strong> dados da<br />

epidemiologia, etiopatogenia e quadros <strong>clínico</strong>s <strong>das</strong> infecções<br />

por Chlamydia trachomatis, estamos aptos para, na próxima<br />

publicação, apresentar as formas de diagnóstico, tratamento,<br />

controle de cura e manejo do parceiro sexual.<br />

- Passos MRL et al. Doenças Sexualmente Transmissíveis, 4a . ed. Rio de<br />

Janeiro, Cultura Médica, 1995.<br />

- Passos MRL, Almeida GL. Atlas de <strong>DST</strong> e Diagnóstico Diferencial<br />

Rio de Janeiro, Revinter, 2002.<br />

- Schachter J, Barnes R. Infecções Causa<strong>das</strong> por Chlamydia trachomatis<br />

in Morse AS, Moreland AA, Holmes KK. Doenças Sexualmente<br />

Transmissíveis e AIDS, 2a . ed., Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.<br />

- Smith JS, Munoz N, Herrero R, Eluf-Neto J, Ngelangel C, ranceschi<br />

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trachomatis as a human papillomavirus cofactor in the etiology of<br />

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- Stamm WE, Holmes KK. “Chlamydia trachomatis infections of the<br />

adult” in Holmes KK, Mardh PA, Sparling P, Wiesner PJ. Sexually<br />

Transmitted Diseases. McGraw-Hill Book, New York, 1984.<br />

- Varella RQ, Passos MRL, Pinheiro VMS et al. Pesquisa de Chlamydia<br />

trachomatis em mulheres do município de Piraí – Rio de Janeiro.<br />

<strong>DST</strong> - J brás Doenças Sex Transm 12(3): 27-44, 2000.<br />

Em foco - <strong>Quadro</strong> Clínico <strong>das</strong> Principais Doenças Causa<strong>das</strong> <strong>pela</strong> Chlamydia trachomatis é uma publicação periódica da PhOENIX Produções Editoriais,<br />

patrocinada por armoquímica. Jornalista Responsável: José Antonio Mariano (MTB: 22.273-SP). Tiragem: 20.000 exemplares. Endereço: Rua Gomes<br />

reire, 439 – Cj. 6 – CEP 05075-010 – São Paulo – SP – Tel.: (11) 3645-2171 – ax: (11) 3831-8560 – E-mail: phoenix@editoraphoenix.com.br –<br />

Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida, gravada em sistema de armazenamento ou transmitida em forma alguma, por qualquer procedimento.<br />

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CÓD. 501152

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