estudio de caso con prostitutas, travestis - CMDAL
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86 Articulación profesional y uso <strong>de</strong>l móvil en grupos <strong>de</strong> teatro callejero<br />
vielas da cida<strong>de</strong> a gente já fez em diversos projetos a às vezes por vonta<strong>de</strong> mesmo <strong>de</strong> falar:<br />
"Vamo lá se meter no barro não sei das quantas?" Então, a gente entrando assim nesse... na<br />
semente assim, no núcleo da miséria, vamos dizer isso. Não que a favela seja uma miséria<br />
mas se a gente for levar em <strong>con</strong>si<strong>de</strong>ração que São Paulo é o coração financeiro da América<br />
Latina, então ter uma favela na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo é uma discrepância muito gran<strong>de</strong>, né? É<br />
irreal. É irreal e <strong>de</strong>sumano ter favelas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, pelo giro financeiro que tem<br />
aqui. Mas o que a gente percebe é que na favela, todas as favelas têm algum ponto <strong>de</strong> cultura<br />
feito por eles mesmos, tem lugares que tem uma biblioteca comunitária, aon<strong>de</strong> tem uma<br />
gibiteca pras crianças e livros que vão levando; livros que não servem mais pra mim ou pra<br />
você, a gente junta tudo num lugar e a<strong>con</strong>tece. Tem favela do Paraisópolis que tem um cara<br />
que tem cinema. Ele fez o cinema, então fez com poltronas <strong>de</strong> ônibus, <strong>de</strong> não sei o quê... mas<br />
tem esse tipo <strong>de</strong> coisa.<br />
Pesquisadora: Tem iniciativas da própria população que vive lá mesmo.<br />
Entrevistado: Da própria população que percebeu que não adianta cobrar o po<strong>de</strong>r público pq<br />
não tem um diálogo. Pq o po<strong>de</strong>r público, ele <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser aquilo para o que foi criado, <strong>de</strong><br />
servir o cidadão. Hoje ele mais dita regras para o cidadão que eles mesmos não cumprem.<br />
Pesquisador 2: Mas <strong>de</strong> alguma maneira, igual você falou, tem um... pessoal entra numa<br />
discussão muito específica, mas, você falou: "Ah, tem os pontos <strong>de</strong> cultura" mas <strong>de</strong> alguma<br />
maneira, o po<strong>de</strong>r público tá alí financiando essas...<br />
Entrevistado: Não.<br />
Pesquisador 2: Como não!? Pq por exemplo, o Ponto <strong>de</strong> Cultura normalmente é financiado<br />
pelo Ministério da Cultura. Ah, você fala ponto <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> uma forma geral...<br />
Entrevistado: Não, não, não, não, não! Mas eu tô falando feito por eles. Tem coisas que são<br />
clan<strong>de</strong>stinas.<br />
Pesquisador 2: Não, feita por eles... Ah, tá! Que não são institucionais.<br />
Entrevistado: São clan<strong>de</strong>stinas. Não, é tipo assim: "olha, a fulana ali, não tá fazendo nada,<br />
então ela vai ser babá" Virou uma creche. Não é isso?<br />
Pesquisador 2: Humhum. Também tem.<br />
Entrevistado: Então, é isso. Mas ela não é subsidiada por ninguém. O que a<strong>con</strong>tece? Eles<br />
mesmos falam assim: "Ah, então já que ela vai cuidar do meu filho, eu vou dar cinco quilos <strong>de</strong><br />
arroz, uma lata <strong>de</strong> óleo, não sei o quê, então, vira-se o escambo, daquela coisa histórica <strong>de</strong><br />
quando foi <strong>de</strong>scoberto o Brasil, né? Então, se tornou isso. Nós temos umas socieda<strong>de</strong>s<br />
paralelas, que as pessoas, como não entram no cerne do problema, não entram <strong>de</strong>ntro das<br />
periferias, tem um distanciamento, né? De... Como que eu posso falar da fome se eu não<br />
passo fome? É muito simples eu falar que a sua dor é pequena, pq a minha sempre vai ser<br />
maior. Mesmo que seja um resfriado. E politicamente é a mesma coisa que a<strong>con</strong>tece no Brasil,<br />
a gente fala da miséria como se ela não existisse, como se fosse uma coisa <strong>de</strong> ficção. Só que<br />
você entra em alguns lugares, que se você não sair <strong>de</strong> lá chorando, é pq você é um robô. Pq<br />
você vê crianças <strong>de</strong>snutridas, você crianças com a barriga totalmente afundada pq não come<br />
há <strong>de</strong>z dias, por mais que se faça uma <strong>con</strong>tribuição entre todas as pessoas. Mas você vê isso.<br />
Você vê cachorro se alimentando da mesma coisa que a criança, ou a criança se alimentando<br />
da mesma coisa que o cachorro: restos <strong>de</strong> lixo e tudo mais, e tâmo falando duma megalópole,<br />
<strong>de</strong> uma das maiores do mundo.<br />
Pesquisador 2: E ainda nessas circunstâncias tão <strong>de</strong>sfavoráveis tem pessoas que tomam<br />
iniciativa <strong>de</strong> se articular e criar esses pontos que unem em torno da cultura, né?<br />
Entrevistado: Exatamente.<br />
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