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<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Europa</strong><br />
<strong>2012</strong><br />
Alentejo<br />
À procura de interligar<br />
polos de desenvolvimento
<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Europa</strong> <strong>2012</strong><br />
Publicação dos Ateliers<br />
de Introdução e Produção<br />
Jornalística do XIII Seminário de<br />
Estudos Europeus em parceria<br />
com o gabinete do Parlamento<br />
Europeu em Portugal, a<br />
Comissão Europeia, o Centro<br />
Protocolar de Formação<br />
Profissional para Jornalistas,<br />
<strong>Cenjor</strong>, e o jornal Público<br />
Diretora<br />
Deolin<strong>da</strong> Almei<strong>da</strong><br />
Editores<br />
Cristina Guerreiro<br />
Orlando César<br />
Grafismo e Paginação<br />
Marco Ferreira<br />
Re<strong>da</strong>ção<br />
Ana Margari<strong>da</strong> Pereira<br />
Ana Silva<br />
Catarina Benedito<br />
Cátia Rodrigues<br />
Celso Soares<br />
Elisianne Campos<br />
Fabíola Maciel<br />
Filipa Dias Mendes<br />
Geiziely Fernandes<br />
Inês Fernandes<br />
Inês Vidigal<br />
Joana Oliveira<br />
Maria de Deus Carranca<br />
Maria João Vicente<br />
Rita Oliveira<br />
Rita Pereira<br />
Rodrigo Torres Pereira<br />
Sandra Carmona<br />
Sara Barreto<br />
Sónia Almei<strong>da</strong><br />
Susana Pereira<br />
Foto de capa: Docapesca<br />
de Sines, Helena Rodrigues<br />
Índice<br />
4Editorial Os fundos também<br />
mu<strong>da</strong>m as mentali<strong>da</strong>des<br />
6Migrações Uns entram,<br />
outros ficam à porta<br />
10Entrevista Ana Gomes<br />
eurodeputa<strong>da</strong> socialista Uma voz firme<br />
contra os discursos xenófobos<br />
12União Europeia discute a<br />
partilha de proprie<strong>da</strong>de intelectual<br />
Portagens globais<br />
14Eurodeputado Rui Tavares<br />
responde a repto de Assunção<br />
Esteves O essencial <strong>da</strong> UE em duas<br />
folhas A5<br />
16Opinião Quo vadis, europa?<br />
17<strong>Europa</strong> 2020 Uma estratégia para<br />
vencer a crise<br />
20União Europeia adota Pacto<br />
Orçamental Controverso manual de<br />
gestão <strong>da</strong>s finanças públicas<br />
21Movimentos de ci<strong>da</strong>dãos na<br />
<strong>Europa</strong> A socie<strong>da</strong>de ocupa a rua<br />
22Segurança na UE Dia Europeu<br />
<strong>da</strong>s Vítimas do Terrorismo<br />
24Direito à proteção de <strong>da</strong>dos<br />
pessoais Entender o mundo com ética<br />
26Portugal Planeamento de<br />
recursos hídricos está na fase final<br />
28Redes transeuropeias de<br />
transportes Obras para<strong>da</strong>s, projetos<br />
suspensos<br />
30<strong>Europa</strong> Velha mas ativa<br />
32Opinião O sucesso de informar<br />
sobre a <strong>Europa</strong><br />
33Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> Criar valor e<br />
emprego<br />
34Mobili<strong>da</strong>de universitária<br />
Programa Erasmus: 25 anos a “criar”<br />
europeus<br />
37Desigual<strong>da</strong>de de género<br />
Mulheres ganham menos na União<br />
Europeia<br />
39Opinião O jornalismo que vale<br />
a pena<br />
40Revisão <strong>da</strong> política comum<br />
Pescadores temem novos riscos<br />
44Entrevista João Ferreira<br />
Eurodeputado “O setor <strong>da</strong>s pescas foi<br />
desprezado pelos sucessivos governos”<br />
47Avaliação do programa<br />
de aju<strong>da</strong> externa Desemprego e<br />
reformas laborais à espreita<br />
48Aviação Tecnologia de ponta <strong>da</strong><br />
Embraer aposta no Alentejo<br />
50Aeroporto de Beja Atrasado na<br />
descolagem, futuro condicionado<br />
53Opções de baixo custo<br />
À espera de melhores voos<br />
55Na rota do Alentejo<br />
Uma região a redescobrir<br />
57Património e futuro em Évora<br />
Polo de expansão e cultura<br />
58Évora pelo geógrafo Jorge<br />
Gaspar O esplendor cultural na época<br />
moderna<br />
60Barragem do Alqueva<br />
“Gigante” do Alentejo ganha Prémio<br />
Inovação <strong>2012</strong><br />
63No interior alentejano<br />
O turismo no grande lago<br />
65Ensino Superior une<br />
estu<strong>da</strong>ntes e empresas Parcerias<br />
de valor<br />
30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 3<br />
43<br />
Sines na vanguar<strong>da</strong> do desenvolvimento<br />
Porta atlântica <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>. Porto com limitações à pesca.<br />
66Exigências internas <strong>da</strong><br />
Política Agrícola Comum (PAC)<br />
Alentejo quer apostar em produtos de<br />
alta quali<strong>da</strong>de<br />
68Sovena lidera mercado<br />
olivícola nacional Um novo rumo<br />
para o azeite<br />
71Delta lidera Campo Maior<br />
Inovação e tradição servi<strong>da</strong>s à mesa<br />
73Fundos comunitários<br />
requalificam Delta Cafés<br />
Empresa de Rui Nabeiro investe em<br />
novo museu<br />
74Entrevista João Roquette<br />
administrador delegado do grupo<br />
Esporão Aposta familiar em laços de<br />
proximi<strong>da</strong>de<br />
77Vinhos de quali<strong>da</strong>de Solo<br />
alentejano com memória pioneira<br />
80Turismo industrial em Vila<br />
Viçosa Combater a crise na rota<br />
<strong>da</strong> pedra<br />
83Vila Viçosa quer contrariar<br />
séculos de costas vira<strong>da</strong>s Viver na<br />
fronteira<br />
85Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong><br />
Património em apreciação<br />
86Alterações Climáticas “Sul <strong>da</strong><br />
<strong>Europa</strong> e regiões mediterrânicas são as<br />
zonas mais vulneráveis”<br />
88Erosão costeira À volta do mar<br />
90Miguel Portas<br />
1958- <strong>2012</strong> Mediterrânico e frontal
4 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong><br />
Os fundos também mu<strong>da</strong>m<br />
as mentali<strong>da</strong>des<br />
Editorial Deolin<strong>da</strong> Almei<strong>da</strong> Diretora do <strong>Cenjor</strong><br />
Os <strong>da</strong>dos divulgados<br />
pela Direção-Geral<br />
do Orçamento <strong>da</strong><br />
Comissão Europeia<br />
indicam que Portugal<br />
foi o segundo país<br />
europeu que mais<br />
beneficiou dos fundos comunitários, desde<br />
a entra<strong>da</strong> em vigor do Quadro de Referência<br />
Estratégico Nacional (QREN). Portugal já<br />
recebeu 35 por cento <strong>da</strong>s verbas previstas<br />
para o período 2007-2013, sendo apenas<br />
ultrapassado pela Alemanha (36 por cento)<br />
a nível <strong>da</strong> execução<br />
dos fundos e ficando<br />
acima <strong>da</strong> média dos 27<br />
estados-membros, que é<br />
de 27 por cento. Portugal<br />
ocupa o primeiro<br />
lugar no volume de<br />
pagamentos efetuados<br />
no âmbito do Fundo<br />
Social Europeu e o<br />
quinto no que respeita<br />
aos pagamentos do<br />
FEDER e Fundo de<br />
Coesão.<br />
Por muito que se<br />
possa criticar a forma<br />
como têm sido utilizados<br />
ou desperdiçados, os<br />
fundos comunitários operaram mu<strong>da</strong>nças<br />
significativas na paisagem do País. Visto<br />
de cima, provavelmente, saltaria à vista a<br />
rede de auto-estra<strong>da</strong>s, mas muito mais do<br />
que isso foram encontrar no Alentejo os<br />
participantes na 13.ª edição do Seminário de<br />
Estudos Europeus, que compõem a re<strong>da</strong>ção<br />
desta “<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”.<br />
Desde logo, a imponência <strong>da</strong> Barragem<br />
de Alqueva, em vias de concretizar o plano<br />
de rega para o Alentejo pensado em 1957,<br />
para estar terminado em 2025. A conclusão<br />
do projeto foi antecipa<strong>da</strong> para 2013, em<br />
virtude de ter passado a ser cofinanciado<br />
desde 1996, mas voltou a atrasar-se. Agora,<br />
espera-se a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s culturas de<br />
sequeiro para as de regadio, como a que a<br />
re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> “<strong>Gazeta</strong>” já foi encontrar no olival<br />
intensivo do Lagar do Marmelo, um projeto<br />
arquitetónico de Ricardo Bak Gordon,<br />
cofinanciado pelo PRODER, que passou a<br />
marcar a paisagem de Ferreira do Alentejo.<br />
Em Évora, a panorâmica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de que<br />
Sines, que<br />
começou a deixar<br />
de ser uma<br />
vila piscatória<br />
na déca<strong>da</strong> de<br />
70, é hoje um<br />
lugar dinâmico,<br />
industrial,<br />
portuário e<br />
cultural<br />
se avista do Alto de São Bento passou a<br />
contar com os dois enormes pavilhões <strong>da</strong><br />
Embraer, que não constam <strong>da</strong> réplica <strong>da</strong><br />
paisagem em mosaico existente no local. O<br />
gigante brasileiro <strong>da</strong> aeronáutica prepara-se<br />
para entrar em funcionamento até Setembro<br />
e criar dois mil empregos, mas os seus<br />
representantes reconhecem que, sem os<br />
fundos estruturais, não se teriam instalado<br />
ali.<br />
Também o aeroporto que nasceu em<br />
Beja, graças aos 23 milhões de euros de<br />
comparticipação europeia, estava à espera de<br />
“acudir ao que vinha do Alqueva”, contando<br />
com a explosão do turismo regional que<br />
ain<strong>da</strong> não ocorreu. Os seus responsáveis<br />
voltam-se agora para o negócio <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> de<br />
peças em 2.ª mão, porque “nem os 3,5 Km<br />
de pista convencem as companhias aéreas a<br />
aterrar na base”.<br />
Parece, assim, que o mais difícil é<br />
operar a mu<strong>da</strong>nça de mentali<strong>da</strong>des: dos<br />
jovens que ain<strong>da</strong> não se fixam em número<br />
suficiente para ultrapassar o estigma do<br />
envelhecimento <strong>da</strong> população, numa região<br />
onde a taxa de desemprego continua a ser<br />
superior à média nacional; dos operadores<br />
turísticos que ain<strong>da</strong> privilegiam o litoral;<br />
<strong>da</strong> banca que não acredita na agricultura,<br />
ao contrário do que acontece em Espanha,<br />
como se queixou o representante <strong>da</strong><br />
Sovena, 2.ª empresa mundial de azeite;<br />
dos agricultores que têm de passar a ser<br />
“empresários agrícolas”, a<strong>da</strong>ptar-se à 3.ª fase<br />
<strong>da</strong> PAC – que aí vem para voltar a incentivar<br />
a produção – e aprender a fazer o regadio,<br />
sem provocar o empobrecimento do solo<br />
alentejano, como explicou José Rato Nunes,<br />
agrónomo e agricultor, à “<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”.<br />
Há, no entanto, sinais de que as<br />
mentali<strong>da</strong>des se vão a<strong>da</strong>ptando às<br />
mu<strong>da</strong>nças opera<strong>da</strong>s pelos fundos. Sines, que<br />
começou a deixar de ser uma vila piscatória<br />
na déca<strong>da</strong> de 70, é o maior exemplo disso,<br />
com todo o seu dinamismo industrial,<br />
portuário e cultural. A aposta na quali<strong>da</strong>de<br />
dos vinhos, do azeite e no enoturismo<br />
também prova quanto o País consegue ser<br />
competitivo. E, em Évora, os condutores de<br />
charretes no centro histórico já aconselham<br />
os turistas a ir a Monsaraz, não apenas<br />
para conhecerem a vila medieval, mas para<br />
avistarem <strong>da</strong>s suas muralhas o maior lago<br />
artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>.<br />
A <strong>Europa</strong> está confronta<strong>da</strong> com uma sucessão de antinomias.<br />
Apesar de carecer de soluções políticas, submete-se ao poder dos mercados.<br />
As instituições europeias perderam iniciativa. Os problemas agravam-se e os<br />
movimentos sociais clamam por ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. (na foto, Indignados no Rossio de Lisboa)<br />
iNêS FERNANDES
A resposta ao<br />
conselho de<br />
Pedro Passos<br />
Coelho não se<br />
fez esperar.<br />
Exigem direito<br />
ao trabalho em<br />
Portugal<br />
6 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 7<br />
Migrações<br />
Uns entram, outros<br />
ficam à porta<br />
FiliPA DiAS MENDES<br />
Filipa<br />
Dias<br />
Mendes<br />
Passos Coelho, depois de<br />
aconselhar os jovens portugueses<br />
a emigrarem, procura agora<br />
convencer “quadros altamente<br />
qualificados” a estabelecerem-se<br />
em Portugal<br />
O Governo legisla em contra-ciclo.<br />
A alteração ao regime jurídico<br />
dos estrangeiros em Portugal<br />
vem fechar a porta aos imigrantes<br />
quando o país perde população<br />
todos os dias. Governo e oposição<br />
lêem nas entrelinhas do diploma o<br />
melhor e o pior dos mundos.<br />
A alteração ao regime jurídico<br />
dos estrangeiros em Portugal,<br />
aprova<strong>da</strong> a 13 de Abril, traz algumas<br />
novi<strong>da</strong>des. Entre as principais<br />
alterações ao documento está a<br />
criminalização <strong>da</strong> contratação de<br />
imigrantes ilegais, o reforço do<br />
combate aos casamentos de conveniência<br />
e a agilização do reagrupamento<br />
familiar. Cecília Honório<br />
(BE) vê um cenário diferente,<br />
“uma política que segue os passos<br />
de Merkel e Sarkozy em direção a<br />
uma <strong>Europa</strong> de portas fecha<strong>da</strong>s”.<br />
O Cartão Azul UE veio acender<br />
o debate. Este título, específico<br />
para trabalhadores altamente<br />
qualificados, visa facilitar a permanência<br />
em Portugal de ci<strong>da</strong>dãos<br />
de países terceiros. A alteração<br />
legislativa clarifica ain<strong>da</strong> a figura<br />
do “emigrante empreendedor” e<br />
visa agilizar o processo burocrático<br />
para aqueles que tenham um<br />
milhão de euros para investir no<br />
país. A medi<strong>da</strong> não convenceu<br />
António Filipe (PCP) que acredita<br />
que o caminho trilhado representa<br />
“um retrocesso com o qual<br />
a socie<strong>da</strong>de portuguesa na<strong>da</strong> tem<br />
a ganhar”. Acrescenta, com ironia,<br />
que o governo “estende o tapete<br />
aos empresários mas fecha a porta<br />
aos trabalhadores”. Na mesma linha<br />
de pensamento, e em resposta<br />
aos emigrantes milionários, Cecília<br />
Honório defendeu que esta<br />
medi<strong>da</strong> vem instituir “imigrantes<br />
de primeira, de segun<strong>da</strong> e de terceira”.<br />
Miguel Macedo recorreu aos números<br />
para fechar o debate e, com<br />
orgulho de uma obra que não lhe<br />
pertence, relembrou que no ano<br />
passado “6.901 imigrantes ilegais<br />
regularizaram a sua situação.” Segundo<br />
o ministro <strong>da</strong> Administração<br />
Interna, esta é uma “lei humanista<br />
que honra o país e dignifica a<br />
condição de imigrante”<br />
Sistema social em cheque A UE<br />
atravessa atualmente um dos momentos<br />
mais difíceis <strong>da</strong> sua história<br />
recente. Envolta numa crise económica<br />
profun<strong>da</strong>, começa a ser posta<br />
em causa demasia<strong>da</strong>s vezes. O recuo<br />
nas condições de vi<strong>da</strong> e o aumento<br />
do desemprego dão o mote<br />
para que a desconfiança face à imigração<br />
volte à tona.<br />
Em to<strong>da</strong> a união, e em marcha<br />
contrária aos ideais fun<strong>da</strong>dores,<br />
levantam-se vozes contra as fronteiras<br />
abertas, fazendo tremer a dimensão<br />
social do projeto europeu.<br />
A percentagem média de imigrantes<br />
na <strong>Europa</strong> é, atualmente, de<br />
4,5%. Este número, que continua<br />
a amedrontar inúmeros ci<strong>da</strong>dãos,<br />
traça a fronteira entre a continui<strong>da</strong>de<br />
e o colapso do sistema social<br />
europeu.<br />
Rui Marques, alto comissário<br />
para a Imigração e Minorias Étnicas<br />
em Portugal de 2002 a 2008,<br />
é um dos principais nomes na luta<br />
pela integração dos imigrantes no<br />
país. Profundo conhecedor <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de<br />
de atrair população para<br />
dentro <strong>da</strong> UE, alerta para números<br />
que falam por si. “Entre 2010 e<br />
2050, se a imigração fosse igual a<br />
zero, a população europeia perderia<br />
50 milhões de pessoas. Temos<br />
hoje dois ativos por ca<strong>da</strong> reformado<br />
na UE, há dez anos atrás essa<br />
diferença era de quatro para dois”.<br />
Em Portugal, a situação é particularmente<br />
dramática. Segundo o<br />
Censos 2011, “somos quase tantos<br />
como há dez anos”. Atualmente,
Manifestação<br />
12 de Março<br />
de 2011 “Não<br />
nos mandem<br />
emigrar”<br />
8 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 9<br />
vivem em Portugal 10.555.853<br />
pessoas.<br />
De acordo com os resultados<br />
apresentados, a população residente<br />
no país é praticamente a mesma<br />
de 2001. Durante este período, a<br />
população cresceu 1,9%. Ou seja,<br />
199.700 pessoas. Destas, segundo<br />
<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Francisco Manuel<br />
dos Santos (FMS), 182.100<br />
resultam <strong>da</strong> imigração.<br />
O ensaio “Segurança Social, o<br />
futuro hipotecado”, publicado pela<br />
Fun<strong>da</strong>ção FMS, dá conta de um<br />
país de pensionistas. Portugal tem<br />
atualmente 3.420.000 de reformados.<br />
Ou seja, por ca<strong>da</strong> dez trabalhadores<br />
existem seis reformados.<br />
Vale a pena recor<strong>da</strong>r que há menos<br />
de 30 anos este rácio era de dez<br />
para quatro.<br />
A Fun<strong>da</strong>ção FMS publicou este<br />
ano o livro digital “Retrato de Portugal”<br />
onde faculta alguns <strong>da</strong>dos<br />
curiosos. Se nos anos 60 os casais<br />
tinham em média três filhos, atualmente<br />
têm apenas um. Por outro<br />
lado, vive-se ca<strong>da</strong> vez mais e, de<br />
1970 até aos dias de hoje, pode-se<br />
contar com mais 12 anos de vi<strong>da</strong>.<br />
Atualmente, a esperança média de<br />
vi<strong>da</strong> é de 76 anos para os homens e<br />
de 82 para as mulheres.<br />
O relatório de Dezembro de<br />
2011 – Imigrantes e Segurança<br />
Portugal tem<br />
3.420.000 de<br />
reformados.<br />
Ou seja, por ca<strong>da</strong><br />
dez trabalhadores<br />
existem seis<br />
reformados<br />
Social em Portugal, do Observatório<br />
<strong>da</strong> Imigração, aponta para<br />
uma diminuição do número de<br />
estrangeiros contribuintes. Se em<br />
2002 era de 277.000 indivíduos,<br />
esse número passou para 276.417<br />
em 2010. Embora o número tenha<br />
decrescido, pode ler-se que, “nos<br />
últimos anos, a entra<strong>da</strong> de imigrantes<br />
gerou um contributo financeiro<br />
importante”. Entre as inúmeras<br />
conclusões retira<strong>da</strong>s deste estudo,<br />
uma <strong>da</strong>s principais aponta para as<br />
vantagens <strong>da</strong> imigração para o financiamento<br />
<strong>da</strong> Segurança Social<br />
em Portugal. Segundo os autores,<br />
“deve insistir-se na importância<br />
de uma corrente sustenta<strong>da</strong> de<br />
imigração no futuro, que permita<br />
contrabalançar o envelhecimento<br />
dos imigrantes mais antigos e mi-<br />
norar as dificul<strong>da</strong>des do conjunto<br />
do sistema.”<br />
Uma porta só de saí<strong>da</strong> Portugal<br />
é ca<strong>da</strong> vez menos um destino<br />
de imigração. Vivem atualmente<br />
em Portugal 440 mil imigrantes,<br />
menos 15 mil que em 2009. Em<br />
declarações à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />
Rui Marques referiu que a questão<br />
mais relevante é a de que “o nosso<br />
saldo migratório tenha voltado a<br />
ser negativo, com muito mais saí<strong>da</strong>s<br />
que entra<strong>da</strong>s”.<br />
Durante o ano de 2011, a Organização<br />
Internacional para as<br />
Migrações recebeu 2.114 pedidos<br />
de imigrantes em Portugal para<br />
regressarem aos seus países de<br />
origem. Os números revelam que<br />
Portugal é, ca<strong>da</strong> vez menos, uma<br />
opção tanto para portugueses<br />
como para estrangeiros.<br />
A história revela que Portugal<br />
sempre foi um país de emigrantes.<br />
O final dos anos 60 ficou marcado<br />
como um dos períodos de maior<br />
emigração portuguesa. Por ano,<br />
saíam do país mais de 100 mil<br />
trabalhadores. Depois de 1974, e<br />
após a mu<strong>da</strong>nça de regime, o fluxo<br />
de emigração diminuiu ain<strong>da</strong><br />
que tenha aumentado a emigração<br />
temporária. Assim, em 1997, o<br />
número de emigrantes portugue-<br />
DR<br />
ses era superior a quatro milhões.<br />
Atualmente, a população de<br />
portugueses e luso-descendentes<br />
distribui-se, em linhas gerais, <strong>da</strong><br />
seguinte forma: dez milhões dentro<br />
do país e cinco milhões fora.<br />
Portugal é hoje um dos países com<br />
mais ci<strong>da</strong>dãos a viver na União Europeia,<br />
fora do seu país de origem<br />
– cerca de um milhão. As perspetivas<br />
de futuro não são animadoras,<br />
para Rui Marques “esse número<br />
tem aumentado e vai aumentar<br />
com to<strong>da</strong> a certeza. Os fatores de<br />
impulso para a emigração estão<br />
cá todos: desemprego, empobrecimento,<br />
falta de expetativas e de<br />
esperança. Até que este ciclo se<br />
inverta vamos perder população,<br />
o que é uma péssima notícia, mas<br />
infelizmente inevitável”.<br />
Os sistemáticos ciclos de entra<strong>da</strong><br />
e saí<strong>da</strong> de população de Portugal,<br />
podem justificar que “apesar<br />
de persistir um racismo latente<br />
em muitas reali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
portuguesa e de a xenofobia<br />
também ter o seu espaço”, as avaliações<br />
internacionais <strong>da</strong>s políticas<br />
de acolhimento e integração<br />
de imigrantes em Portugal serem<br />
muito positivas. Porém, “muito há<br />
a fazer, pois é um caminho nunca<br />
terminado”. Para Rui Marques, a<br />
profun<strong>da</strong> crise em que o país está<br />
mergulhado veio alterar as regras<br />
do jogo, “deixámos de ser um destino<br />
atraente para imigrantes e de<br />
novo voltámos a ser emigrantes”.<br />
A experiência de procurar acolhimento<br />
noutros países e as dificul<strong>da</strong>des<br />
enfrentra<strong>da</strong>s neste êxodo recente,<br />
“fazem-nos perceber como<br />
é importante acolher bem quem<br />
chega à procura de uma oportuni<strong>da</strong>de<br />
de trabalho”.<br />
A política mais aberta A diáspora<br />
que caracteriza a história portuguesa<br />
pode aju<strong>da</strong>r a compreender “que<br />
tenhamos atualmente a política de<br />
nacionali<strong>da</strong>de mais aberta do mundo”,<br />
refere Rui Marques.<br />
Em Fevereiro de 2006, o governo<br />
português aprovou, com unanimi<strong>da</strong>de<br />
dos partidos com assento parlamentar,<br />
a nova Lei <strong>da</strong> Nacionali<strong>da</strong>de<br />
– Lei Orgânica nº2/2006. Até<br />
à <strong>da</strong>ta, muitos imigrantes viviam<br />
numa situação de grande injustiça.<br />
Um dos pontos duramente contestados<br />
prendia-se com o facto de os<br />
filhos dos imigrantes que haviam<br />
nascido em Portugal não terem<br />
acesso à nacionali<strong>da</strong>de portuguesa,<br />
mesmo que este fosse o único país<br />
que conhecessem. Nesse sentido, a<br />
nova Lei <strong>da</strong> Nacionali<strong>da</strong>de foi um<br />
passo fun<strong>da</strong>mental com vista à integração<br />
dos imigrantes em Portugal,<br />
tendo sido reconheci<strong>da</strong> como<br />
a melhor e mais eficaz política de<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia no Migrant Integration<br />
Policy Índex III de 2011, em comparação<br />
com 31 países <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> e<br />
América do Norte.<br />
Mariana Triboi, 23 anos, agora<br />
“mais Portuguesa que Mol<strong>da</strong>va”,<br />
chegou a Portugal aos 14 anos sem<br />
saber uma palavra em português.<br />
Em Sagres, primeiro com a mãe<br />
e depois com as amigas, foi aperfeiçoando<br />
uma língua que achava<br />
“bruta, difícil e completamente<br />
diferente”. Referiu à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />
que, durante os primeiros<br />
tempos em Portugal, sentiu “um<br />
choque cultural e linguístico muito<br />
grande”. A distância <strong>da</strong> terra natal<br />
e o desconhecimento <strong>da</strong> língua fez<br />
com que se negasse a aprender português.<br />
Valeu-lhe a persistência <strong>da</strong><br />
mãe, que se despediu para se dedicar<br />
a 100% ao ensino de uma língua<br />
que soa “como se tivesse um x no<br />
fim de to<strong>da</strong>s as palavras.”<br />
Mariana Triboi:<br />
“não me isolei<br />
dos portugueses,<br />
não estava só com<br />
pessoas <strong>da</strong> minha<br />
terra, tentei<br />
integrar-me”<br />
O caminho para conseguir a dupla<br />
nacionali<strong>da</strong>de levou dez anos,<br />
num processo que considera “fácil<br />
e rápido” ain<strong>da</strong> que seja necessária<br />
a permanência de, pelo menos, seis<br />
anos em Portugal. Por entre vistos<br />
de residência, foi acarinhando um<br />
país que não era o seu. Hoje, diz<br />
com orgulho, “sou portuguesa, e<br />
mesmo que os meus pais voltem<br />
eu fico cá. Na Moldávia só tenho a<br />
minha família, aqui tenho a minha<br />
vi<strong>da</strong> e os meus amigos”.<br />
A Mariana é sem dúvi<strong>da</strong> um<br />
exemplo perfeito de integração. Porém,<br />
há um ponto que nunca deixa<br />
passar em branco, “eu não me isolei<br />
dos portugueses, não estava só<br />
com pessoas <strong>da</strong> minha terra, tentei<br />
integrar-me”.<br />
É deste esforço conjunto, entre<br />
quem chega e quem cá estava, que<br />
podemos tirar os melhores resultados.<br />
Rui Marques, numa afirmação<br />
que, como afirma, “pode chocar<br />
alguns”, defende que “tendencialmente,<br />
nos migrantes está a nata<br />
<strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de”. Como balanço<br />
dos seis anos à frente do alto comissariado,<br />
e “contra o fatalismo<br />
de quem acha que na<strong>da</strong> é possível<br />
fazer por uma socie<strong>da</strong>de mais justa”,<br />
diz que teve a oportuni<strong>da</strong>de preciosa<br />
de experimentar o inverso. Descobriu<br />
“os peregrinos <strong>da</strong> esperança”<br />
e, segundo diz, “com eles aprendi<br />
muito e perante eles me curvo com<br />
admiração e respeito”.<br />
“Vezes de menos sublinhamos<br />
qual é, em qualquer parte do mundo,<br />
a força motriz dos migrantes.<br />
Subjugados por um olhar tecnocrático,<br />
quase ignoramos que o que os<br />
faz mover é, acima de tudo, a esperança<br />
num futuro melhor”, refere<br />
Rui Marques.<br />
CRySTiAN CRUz<br />
Portugueses<br />
voltam<br />
a partir
10 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 11<br />
Entrevista Ana Gomes eurodeputa<strong>da</strong> socialista<br />
Uma voz firme<br />
contra os discursos<br />
xenófobos<br />
Sandra<br />
Carmona<br />
É no cenário sobre as polémicas<br />
declarações de Sarkozy que surge<br />
a entrevista à eurodeputa<strong>da</strong>,<br />
uma vez que é membro suplente<br />
<strong>da</strong> Comissão <strong>da</strong>s Liber<strong>da</strong>des<br />
Cívicas, <strong>da</strong> Justiça e dos Assuntos<br />
Internos e pronuncia-se sobre os<br />
problemas <strong>da</strong>s migrações.<br />
A entrevista ocorre pouco<br />
antes dos franceses elegerem o<br />
novo Presidente <strong>da</strong> República.<br />
Sarkozy acentua o discurso<br />
xenófobo numa tentativa de<br />
captar votos entre o eleitorado<br />
de Marine Le Pen. A escolha<br />
francesa decidirá o futuro do eixo<br />
Merkel-Sarkozy.<br />
Ana Gomes critica<br />
veementemente as recentes<br />
declarações do Presidente<br />
francês, Nicolas Sarkozy, sobre<br />
a proibição <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> de mais<br />
emigrantes, bem como as suas<br />
declarações sobre a ratificação do<br />
Tratado europeu e o abandono<br />
do espaço Schengen por parte <strong>da</strong><br />
França.<br />
Por sua vez, Angela Merkel<br />
também afirmou que “o<br />
multiculturalismo falhou na<br />
<strong>Europa</strong>.” A eurodeputa<strong>da</strong> declara<br />
que ambos praticam discursos<br />
xenófobos típicos <strong>da</strong> direita neoliberal.<br />
Qual a sua opinião sobre<br />
as recentes declarações do<br />
Presidente francês, Nicolas<br />
Sarkozy, que quer fechar<br />
as fronteiras francesas e,<br />
assim, alterar o Acordo de<br />
Schengen? Discordo e condeno<br />
Ana Gomes, uma mulher de ideais e combativa.<br />
A eurodeputa<strong>da</strong> falou à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> com<br />
a atitude que a caracteriza, direta, incisiva e sem<br />
deixar na<strong>da</strong> por dizer<br />
as declarações. Discordo e<br />
condeno o Presidente francês<br />
por pôr em causa o Acordo<br />
de Schengen. Só compreendo<br />
tais declarações no contexto<br />
do seu estilo demagógico,<br />
nestas eleições. Na campanha<br />
eleitoral para a presidência onde<br />
pretende ultrapassar pela direita<br />
a senhora Marine Le Pen, e<br />
portanto apelando aos instintos<br />
mais primários <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
francesa. Sentimentos primários,<br />
“Ser multicultural é<br />
uma definição do<br />
que é ser europeu<br />
e do que é a nação<br />
europeia”<br />
xenófobos, <strong>da</strong>queles que pensam<br />
que têm os seus empregos<br />
ameaçados pelos trabalhadores<br />
estrangeiros e que não hesitam<br />
em pôr em causa o Acordo de<br />
Schengen para arranjar capital<br />
eleitoral, pelos piores motivos.<br />
Não creio que ele as leve à<br />
prática, caso seja eleito. Da<br />
mesma maneira que sempre,<br />
também, discordei no passado de<br />
outras atitudes dentro <strong>da</strong> mesma<br />
linha xenófoba, demagógica,<br />
populista e anti-emigração que<br />
o Presidente teve quando quis<br />
deportar os ci<strong>da</strong>dãos romenos,<br />
que são obviamente europeus.<br />
Também utilizou a crise na Líbia<br />
e na Tunísia para arranjar aquele<br />
conflito, na altura <strong>da</strong> vitória de<br />
Berlosconi, que estava a receber<br />
imensos refugiados devido aos<br />
conflitos na Líbia e na Síria. Mas,<br />
A eurodeputa<strong>da</strong> Ana Gomes reitera que “a <strong>Europa</strong> fortaleza é uma ideia anti-europeia”<br />
DR<br />
obviamente, não chegaram à<br />
<strong>Europa</strong> mais de 25 mil pessoas.<br />
A população <strong>da</strong> vizinha Tunísia,<br />
uma população com muitas mais<br />
dificul<strong>da</strong>des do que as <strong>da</strong> França,<br />
chegou a ter mais de 400 mil<br />
refugiados <strong>da</strong> Líbia.<br />
Quais as consequências<br />
<strong>da</strong> designa<strong>da</strong> “<strong>Europa</strong><br />
fortaleza”? Obviamente, acho<br />
que não ousa defender uma<br />
<strong>Europa</strong> fortaleza, uma vez que é,<br />
por si, uma ideia anti-europeia.<br />
A <strong>Europa</strong> precisa de emigrantes,<br />
a <strong>Europa</strong> tem um problema<br />
de envelhecimento. Precisa<br />
de emigrantes não só para se<br />
desenvolver economicamente,<br />
mas também para conferir<br />
sustentabili<strong>da</strong>de aos próprios<br />
sistemas de segurança social.<br />
Temos o exemplo de Portugal<br />
que conseguiu estabilizar o seu<br />
sistema social, em parte, à conta<br />
<strong>da</strong> população emigrante.<br />
Que comentário lhe merecem<br />
as declarações <strong>da</strong> chanceler<br />
alemã, Angela Merkel, de<br />
que o multiculturalismo<br />
falhou na <strong>Europa</strong>? Penso que<br />
ela não tem razão quando diz<br />
que o multiculturalismo falhou.<br />
A <strong>Europa</strong> é exatamente isso. A<br />
<strong>Europa</strong> é multicultural, é plural<br />
e dentro de todos os povos<br />
europeus, raças, línguas, cores e<br />
religiões que a <strong>Europa</strong> alberga.<br />
Ser multicultural é uma<br />
definição do que é ser europeu<br />
e do que é a nação europeia. Por<br />
isso, penso que ela está numa<br />
visão equivoca<strong>da</strong> e possivelmente<br />
a fazer uma demonstração de<br />
grande líder, seguindo assim os<br />
preconceitos mais primários <strong>da</strong><br />
própria opinião pública alemã ao<br />
defender uma posição como essa.<br />
Quais as razões do apoio às<br />
declarações <strong>da</strong> chanceler<br />
alemã por parte do primeiroministro<br />
britânico e do<br />
Presidente francês? Todos eles<br />
vêm <strong>da</strong> direita neo-liberal que<br />
domina a <strong>Europa</strong>, o que explica<br />
porque a <strong>Europa</strong> está estanca<strong>da</strong><br />
na crise. Não é só uma crise<br />
económica, mas também uma<br />
crise política. Neste momento<br />
há uma maioria de europeus que<br />
são de direita e com preconceitos<br />
ideológicos e políticos. As<br />
ideologias de direita têm essa<br />
fácil tentação de responder aos<br />
“A <strong>Europa</strong> precisa<br />
de emigrantes<br />
não só para se<br />
desenvolver<br />
economicamente<br />
mas também para<br />
ter sustentabili<strong>da</strong>de<br />
dos sistemas de<br />
segurança social”<br />
sentimentos mais primários <strong>da</strong>s<br />
respetivas opiniões públicas<br />
e também de se demitirem de<br />
liderar pela positiva e numa<br />
perspetiva realmente europeia e<br />
não de um nacionalismo míope.<br />
Quer Sarkozy, quer Cameron,<br />
quer Merkel vêm <strong>da</strong> mesma<br />
família política de direita que<br />
infelizmente dominaram e que,<br />
neste momento, é responsável<br />
pela falta de capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
direção política europeia para<br />
responder à crise. Os ci<strong>da</strong>dãos<br />
europeus, portugueses e de<br />
outros países têm de tirar as suas<br />
consequências. Se votam numa<br />
direita, pois aí têm uma direita.<br />
Com ideias erra<strong>da</strong>s, quer seja na<br />
emigração, quer seja em relação à<br />
crise económica.<br />
O que poderá fazer a <strong>Europa</strong><br />
ou as enti<strong>da</strong>des europeias<br />
para contrariar estas<br />
políticas? Desta direita eu<br />
não espero muito. Eu espero<br />
que os ci<strong>da</strong>dãos europeus<br />
percebam que estas políticas<br />
erra<strong>da</strong>s são consequência do<br />
facto dos eleitores europeus<br />
terem votado em governos de<br />
direita. Mesmo os de esquer<strong>da</strong><br />
deixaram-se contaminar pelas<br />
ideias <strong>da</strong> direita. É por isso que<br />
hoje estamos em crise. Muitos<br />
governos, formados por partidos<br />
de esquer<strong>da</strong>, deixaram-se<br />
atascar pela filosofia neo-liberal<br />
do ponto de vista económicofinanceiro<br />
que criou a crise em<br />
que hoje nos encontramos.<br />
DR<br />
Franceses<br />
decidem o<br />
futuro <strong>da</strong><br />
coabitação<br />
entre Merkel<br />
e Sarkozy
12 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 13<br />
União Europeia discute a partilha de proprie<strong>da</strong>de inteletual<br />
Portagens globais<br />
Elisianne<br />
Campos<br />
A proposta do comissário europeu<br />
do comércio, Karel De Gucht, de<br />
enviar o ACTA ao Tribunal Europeu<br />
de Justiça antes de ser votado<br />
no Parlamento Europeu, segue um<br />
trâmite inédito. O ACTA (Acordo<br />
Comercial Anticontrafação em<br />
inglês Anti-Counterfeiting Trade<br />
Agreement), tratado comercial<br />
de escala planetária, tem como<br />
objetivo estabelecer padrões internacionais<br />
para o cumprimento<br />
<strong>da</strong> legislação de proprie<strong>da</strong>de intelectual.<br />
O texto está em discussão, desde<br />
2007, e tem gerado protestos em<br />
vários países, sob a acusação de<br />
dificultar a inovação e a pesquisa<br />
académica pela salvaguar<strong>da</strong> de patentes<br />
e pela imposição de regras<br />
comerciais antiqua<strong>da</strong>s e conservadoras.<br />
Além disso, a proposta<br />
foi desde logo envolvi<strong>da</strong> em controvérsia<br />
devido ao sigilo imposto<br />
por seu país de origem, os EUA, na<br />
discussão do projeto e por dúvi<strong>da</strong>s<br />
em relação ao respeito às regras <strong>da</strong><br />
União Europeia sobre privaci<strong>da</strong>de<br />
dos <strong>da</strong>dos na web.<br />
As negociações formais arrancaram<br />
em Junho de 2008, e desde<br />
então foram realiza<strong>da</strong>s sete ron<strong>da</strong>s<br />
negociais. O pacto goza de amplo<br />
apoio dos produtores de músicas,<br />
filmes e uma gama de outros bens<br />
que desfrutam <strong>da</strong> proteção de direitos<br />
de autor e proprie<strong>da</strong>de intelectual,<br />
como marcas comerciais,<br />
patentes, desenhos e indicações<br />
geográficas.<br />
Os Estados Unidos assinaram o<br />
ACTA em Outubro de 2011, ao<br />
lado de outros sete países: Austrália,<br />
Canadá, Coréia do Sul, Japão,<br />
Nova Zelândia, Marrocos e Singapura.<br />
A União Europeia assinou o<br />
Marcas comerciais, patentes, desenhos<br />
e indicações geográficas podem ter regras novas.<br />
Em discussão há cerca de cinco anos, um acordo<br />
multilateral pretende unificar procedimentos<br />
de combate à pirataria em escala global<br />
ACTA em 26 de Janeiro de <strong>2012</strong>,<br />
em Tóquio. O acordo prevê disposições<br />
em matéria de execução<br />
penal, um domínio que é considerado<br />
de competência partilha<strong>da</strong><br />
entre UE e os Estados-Membros.<br />
Por este motivo teve de ser assinado<br />
e ratificado pela UE e seus 27<br />
integrantes.<br />
Consequências no terreno Após<br />
a assinatura do ACTA pela UE<br />
e todos os Estados-Membros, o<br />
Parlamento Europeu foi formalmente<br />
notificado para <strong>da</strong>r início<br />
ao procedimento de consentimento.<br />
Essa etapa inclui debates nas<br />
diferentes comissões (Comércio<br />
Internacional, Liber<strong>da</strong>des Civis,<br />
Justiça e Assuntos Internos, e Assuntos<br />
Jurídicos) e, possivelmente,<br />
uma audiência pública. É provável<br />
que o consentimento seja votado<br />
no fim do verão.<br />
Caso o Parlamento Europeu<br />
dê o seu parecer favorável, e uma<br />
vez concluídos os procedimentos<br />
nacionais de ratificação nos Estados-Membros,<br />
o Conselho de Ministros<br />
adotará uma decisão final<br />
para celebrar o acordo. Este facto<br />
será então comunicado aos demais<br />
signatários do ACTA e o acordo<br />
entrará em vigor na UE.<br />
O ACTA abrange<br />
desde downloads<br />
ilegais feitos pela<br />
Internet à pirataria<br />
na indústria<br />
farmacêutica<br />
Em comunicado publicado no<br />
site oficial <strong>da</strong> Comissão Europeia<br />
no dia 22 de Fevereiro de <strong>2012</strong>, o<br />
comissário europeu do comércio,<br />
Karel De Gucht, anunciou com<br />
satisfação: “Apraz-me dizer que,<br />
esta manhã, os meus colegas <strong>da</strong><br />
Comissão discutiram e concor<strong>da</strong>ram,<br />
em termos gerais, com a<br />
minha proposta de enviar o ACTA<br />
para o Tribunal Europeu de Justiça”,<br />
a mais alta instância judicial <strong>da</strong><br />
União Europeia.<br />
De Gucht afirmou ain<strong>da</strong> que<br />
o objetivo <strong>da</strong> decisão é, também,<br />
perceber se o acordo internacional<br />
para a proteção dos direitos de<br />
autor é incompatível – seja em que<br />
sentido for – com os direitos fun<strong>da</strong>mentais<br />
e de liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> União<br />
Europeia, tais como a liber<strong>da</strong>de<br />
de expressão e de informação ou a<br />
proteção de <strong>da</strong>dos.<br />
Protestos e Combate O ACTA<br />
gerou uma on<strong>da</strong> de protestos por<br />
to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>, organiza<strong>da</strong> por<br />
membros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, académicos<br />
e profissionais <strong>da</strong>s mais<br />
diversas áreas. Em Portugal houve<br />
manifestações contra a medi<strong>da</strong> no<br />
dia 11 de Fevereiro, simultaneamente<br />
em Lisboa e no Porto. Em<br />
palestra organiza<strong>da</strong> pela Facul<strong>da</strong>de<br />
de Direito <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Nova<br />
de Lisboa em Março, a advoga<strong>da</strong><br />
Teresa Nobre, responsável pela<br />
a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s licenças Creative<br />
Commons à legislação portuguesa,<br />
afirmou que o risco de acordos<br />
como o ACTA está no caráter vago<br />
do texto, suscetível de diversas interpretações.<br />
“ACTA representa<br />
um risco real, pois abre a porta à<br />
discussão de leis como SOPA, nos<br />
EUA, e HADOPI, em França”.O<br />
SOPA (Stop Online Piracy Act)<br />
trata-se de um projeto de lei em<br />
discussão no Congresso dos Estados<br />
Unidos, semelhante ao ACTA.<br />
Ele propõe penas de até 5 anos de<br />
prisão para quem compartilhar<br />
conteúdo pirata na Internet.<br />
Leis polémicas de combate à pirataria<br />
pela rede são discuti<strong>da</strong>s (ou<br />
já chegaram a ser implementa<strong>da</strong>s)<br />
em diversos países europeus atualmente.<br />
Na França está em vigor<br />
desde 2010 a lei HADOPI (Haute<br />
Autorité pour la diffusion des<br />
oeuvres et la protection des droits<br />
sur Internet), também chama<strong>da</strong> de<br />
Lei “Criação e Internet”, que sugeriu<br />
a criação de uma administração<br />
capaz de vigiar e punir ativi<strong>da</strong>des<br />
de descarga e troca de arquivos<br />
ilegais na web. À semelhança de<br />
Sinde-Wert, HADOPI determina<br />
o corte do acesso à Internet<br />
do usuário que fizer downloads de<br />
obras protegi<strong>da</strong>s por direitos autorais.<br />
A lei utiliza um mecanismo<br />
denominado “resposta gradual”,<br />
que consiste em três etapas: na<br />
primeira o usuário é notificado <strong>da</strong><br />
infração através de mensagem de<br />
e-mail; na segun<strong>da</strong>, recebe outro<br />
aviso, desta dez via carta registra<strong>da</strong><br />
nos correios; na terceira, o acesso à<br />
rede é interrompido.<br />
Desde Março está em vigor,<br />
na Espanha, a lei batiza<strong>da</strong> Sinde-<br />
Wert (em referência a Ángeles<br />
Gonzáles-Sinde, antiga ministra<br />
<strong>da</strong> Cultura, e José Ignacio Wert,<br />
seu sucessor). Essa lei permite ao<br />
governo fechar ou tirar do ar, sem<br />
ordem judicial, sites que disponibilizem<br />
ou facilitem o acesso a<br />
materiais protegidos por direitos<br />
de autor. A lei enfrenta uma forte<br />
oposição, tanto de ativistas defen-<br />
O acordo prevê<br />
disposições penais,<br />
um domínio<br />
de partilha entre<br />
a UE e os<br />
Estados-Membros<br />
sores <strong>da</strong> Internet livre quanto de<br />
empresas.<br />
A Rede de Empresas de Internet<br />
e a Associação Espanhola de<br />
Economia Digital entraram com<br />
um recurso no Supremo Tribunal<br />
contra a lei – mais especificamente<br />
contra o artigo que determina um<br />
“procedimento de garantia dos direitos<br />
de proprie<strong>da</strong>de intelectual”.<br />
Segundo as empresas, o artigo traz<br />
insegurança jurídica para as indústrias<br />
liga<strong>da</strong>s à tecnologia operarem<br />
e se desenvolverem. Para elas,<br />
Sinde-Wert dificulta a atuação <strong>da</strong>s<br />
empresas de Internet, que já pensam<br />
duas vezes antes de começarem<br />
um novo projeto.<br />
Para Lucas Serra, responsável<br />
pela assessoria jurídica <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />
Portuguesa de Autores<br />
(SPA), é cedo para prever os resultados<br />
de um acordo como o<br />
ACTA em aplicação. “Há que ver<br />
no que vai <strong>da</strong>r. O facto é que precisa<br />
haver portagens que detenham<br />
a pirataria. É um problema grave,<br />
que afeta a todos nós, e mais ain<strong>da</strong><br />
aos autores”.<br />
iNêS FERNANDES<br />
O ACTA<br />
enfrenta<br />
uma forte<br />
oposição, tanto<br />
de ativistas<br />
defensores <strong>da</strong><br />
internet livre<br />
quanto de<br />
empresas
14 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 15<br />
Eurodeputado Rui Tavares responde a repto de Assunção Esteves<br />
O essencial <strong>da</strong> UE<br />
em duas folhas A5<br />
Inês<br />
Fernandes<br />
O ciclo de conferências TED chegou<br />
a Portugal e Rui Tavares foi um<br />
dos primeiros convi<strong>da</strong>dos na ron<strong>da</strong><br />
que decorreu em Cascais, no início<br />
de <strong>2012</strong>. As TEDx querem juntar<br />
oradores e sugerir ideias para um<br />
futuro mais participado. O eurodeputado<br />
português respondeu ao<br />
desafio lançado pela organização<br />
<strong>da</strong>ndo conta que “não é possível resolver<br />
os problemas <strong>da</strong> União Europeia<br />
numa folha A4, mas é em duas<br />
A5. O que não é a mesma coisa”.<br />
Depois dos debates e críticas que<br />
surgiram no seguimento <strong>da</strong> afirmação<br />
de Assunção Esteves, de que<br />
acredita que “que numa folha A4<br />
se podia mu<strong>da</strong>r a <strong>Europa</strong> to<strong>da</strong>”, o<br />
deputado português ao Parlamento<br />
Europeu encontrou uma forma original<br />
de apresentar as suas propostas,<br />
em duas folhas A5.<br />
Com uma nova perspetiva sobre<br />
a democracia europeia, Rui Tavares<br />
defende uma Federação Democrática<br />
Europeia, a exemplo do que<br />
existe no Brasil e nos Estados Unidos<br />
<strong>da</strong> América.<br />
O modelo sugerido pelo eurodeputado<br />
baseia-se, essencialmente,<br />
num Congresso Europeu, constituído<br />
por uma Câmara de Representantes<br />
e um Senado. Ao qual se junta<br />
uma zona euro ideal, com um banco<br />
central que emite moe<strong>da</strong> e um tesouro<br />
que emite dívi<strong>da</strong>, um Tribunal<br />
de Justiça <strong>da</strong> União e um Tribunal<br />
Europeu de Direitos Humanos.<br />
Estas propostas são, ain<strong>da</strong> assim,<br />
um oposto do que se observa no<br />
centro <strong>da</strong> União. Como Rui Tavares<br />
refere, esta solução exigiria<br />
uma mu<strong>da</strong>nça profun<strong>da</strong> do funcionamento<br />
<strong>da</strong> UE e, para que tal se<br />
A presidente <strong>da</strong> Assembleia <strong>da</strong> República lançou<br />
a questão e o eurodeputado Rui Tavares deu a<br />
resposta: é possível resolver os problemas <strong>da</strong> União<br />
Europeia não numa página A4, mas em duas A5<br />
processe, é necessário um man<strong>da</strong>to<br />
emitido pelo atual Conselho Europeu,<br />
cujos membros seriam os principais<br />
prejudicados nesta reforma e,<br />
como tal, não estão interessados<br />
na mesma. Para o eurodeputado, o<br />
sistema em que se vive é altamente<br />
burocratizado, “É um emaranhado<br />
de competências, de instituições<br />
com legitimi<strong>da</strong>des diferentes, às<br />
vezes sem legitimi<strong>da</strong>de eleitoral ou<br />
democrática. E que ain<strong>da</strong> por cima<br />
vive três crises em paralelo.”<br />
A solução que apresenta é, no<br />
seu cerne, uma resposta conjunta<br />
que exigirá aos diferentes Estadosmembros<br />
trabalharem por um objetivo<br />
ver<strong>da</strong>deiramente comum baseado<br />
num Pacto Democrático para<br />
a União, visto que os problemas <strong>da</strong><br />
<strong>Europa</strong> são os problemas do quotidiano<br />
de todos os seus ci<strong>da</strong>dãos.<br />
Este Pacto Democrático é, na<br />
visão de Rui Tavares, possível de<br />
atingir com uma maior participação<br />
democrática dos ci<strong>da</strong>dãos eu-<br />
“Os países estão<br />
endivi<strong>da</strong>dos, mas<br />
a União não tem<br />
dívi<strong>da</strong>. Se a União<br />
Europeia criar um<br />
bocadinho de dívi<strong>da</strong><br />
para si, (…) pode<br />
talvez resolver<br />
a nossa crise”<br />
ropeus que devem exigir eleger o<br />
Presidente <strong>da</strong> Comissão, em regime<br />
de maioria, e que os signatários se<br />
devem comprometer em desenvolver<br />
esforços por esta democracia<br />
europeia<br />
Na base de praticamente to<strong>da</strong>s<br />
as resoluções necessárias à União,<br />
a democracia é, para o eurodeputado,<br />
essencial ao seu funcionamento.<br />
Da mesma poderemos derivar<br />
as soluções para as três principais<br />
crises que se vivem na União, pois<br />
é a mesma que produz uma maior<br />
igual<strong>da</strong>de de participação europeia<br />
de todos os seus Estados-membros.<br />
A convergência de esforços dos<br />
diferentes Estados-membros conseguirá<br />
encontrar, por exemplo,<br />
resposta à crise do euro. Seja com<br />
a criação de eurobonds ou ou qualquer<br />
outra proposta, Rui Tavares<br />
afirma que a solução estará à vista<br />
quando se compreender que “os<br />
países estão endivi<strong>da</strong>dos, mas a<br />
União não tem dívi<strong>da</strong>. Se a União<br />
Europeia criar um bocadinho de<br />
dívi<strong>da</strong> para si, aliviando a dívi<strong>da</strong><br />
dos Estados-membros, pode talvez<br />
resolver a nossa crise”.<br />
No mesmo sentido, a resolução<br />
dos problemas de carácter<br />
económico e ambiental poderão<br />
estar à vista com sistemas como<br />
o Green New Deal, que se baseia<br />
numa lógica de cooperação entre<br />
peritos europeus que lançariam<br />
as bases necessárias não só para<br />
a resolução de problemas atuais,<br />
tais como os económicos, sociais<br />
e ambientais. Mas também aju<strong>da</strong>riam<br />
a edificar uma estrutura mais<br />
sóli<strong>da</strong> para o futuro e a encontrar<br />
soluções socais urgentes para os<br />
Rui Tavares defendeu na conferência TED, em Cascais, uma solução federalista<br />
países mais periféricos <strong>da</strong> UE.<br />
A reunião destes peritos far-se-ia<br />
em Universi<strong>da</strong>des Federais, ou Universi<strong>da</strong>des<br />
de União. Sob o Projeto<br />
Ulisses, estas Universi<strong>da</strong>des não só<br />
poderão investigar e encontrar soluções<br />
para aquilo que asfixia os Estados<br />
nos orçamentos, como serão<br />
fun<strong>da</strong>mentais para evitar a “fuga<br />
de cérebros” para outras partes do<br />
globo.<br />
Três D para a União Numa lógica<br />
de cooperação constante, a União<br />
poderá, segundo Rui Tavares, ca-<br />
minhar desta forma para um sistema<br />
de governação mais disciplinado,<br />
democrático e desenvolvido.<br />
Os três D que são a solução para os<br />
problemas <strong>da</strong> União reúnem em<br />
si o objetivo comum de união de<br />
povos que esteve na mira dos pais<br />
fun<strong>da</strong>dores.<br />
Pegando num complexo e, por<br />
vezes, confuso sistema de trabalho,<br />
a União poderá, na visão de<br />
Rui Tavares, encontrar as soluções<br />
para as crises que atravessa<br />
com um novíssimo sistema mais<br />
participativo. Um sistema mais<br />
RAUl PiNTO/TEDx CASCAiS<br />
rápido na hora de responder às<br />
necessi<strong>da</strong>des dos seus beneficiários,<br />
e mais em consonância com<br />
os preceitos do que une os seus<br />
ci<strong>da</strong>dãos.<br />
Mais do que apontar erros aos<br />
Estados Membros e exigir mu<strong>da</strong>nças<br />
de fundo nos sistemas dos executivos,<br />
a mu<strong>da</strong>nça na hora de procurar<br />
soluções estará, nas ideias do<br />
eurodeputado, dentro de uma clara<br />
viragem de paradigma europeu.<br />
Esta mu<strong>da</strong>nça pode, ain<strong>da</strong> assim,<br />
ser antagónica aos egos dos<br />
diferentes Estados-membros. As<br />
ideias que fun<strong>da</strong>mentaram a União<br />
Europeia podem estar a ser delega<strong>da</strong>s<br />
para um plano que não o que<br />
se perspetivou no início, pondo em<br />
causa parte <strong>da</strong> sua estabili<strong>da</strong>de.<br />
Para Rui Tavares, só a cooperação<br />
de todos os intervenientes<br />
poderá <strong>da</strong>r resposta às necessi<strong>da</strong>des<br />
pelas quais a legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
União passa. Os problemas com<br />
que nos deparamos têm solução,<br />
mas a sua solução não está “numa<br />
folha A4, mas em duas A5. Porque<br />
é só quando se junta a complexi<strong>da</strong>de<br />
do real com a simplici<strong>da</strong>de<br />
do idealismo que nós conseguimos<br />
fazer com que a mu<strong>da</strong>nça<br />
aconteça.”<br />
DR<br />
A proposta de<br />
Rui Tavares<br />
implicaria<br />
uma mu<strong>da</strong>nça<br />
profun<strong>da</strong> e a<br />
concordância<br />
do Conselho<br />
Europeu
16 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 17<br />
Quo vadis,<br />
europa?<br />
Opinião Paulo Sande diretor do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal<br />
A<strong>Europa</strong> treme nos<br />
alicerces. Quando<br />
nos interrogamos<br />
sobre o que se passa,<br />
a resposta vem<br />
em forma de uma<br />
palavra: crise; crise<br />
do euro e <strong>da</strong> zona monetária; crise<br />
<strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s soberanas, com Portugal<br />
no pelotão <strong>da</strong> frente; crise de uma<br />
identi<strong>da</strong>de europeia que, afinal, parece<br />
nunca ter chegado a sê-lo; crise de<br />
credibili<strong>da</strong>de por promessas falha<strong>da</strong>s,<br />
visões incumpri<strong>da</strong>s,<br />
um futuro carregado<br />
de dúvi<strong>da</strong>s e<br />
desemprego,<br />
angústias e falências.<br />
É certo que a<br />
actuali<strong>da</strong>de europeia -<br />
e a <strong>da</strong> União Europeia<br />
em particular, projeto<br />
que aqui nos ocupa<br />
- parece falha de<br />
esperança. Os jovens<br />
que se interrogam<br />
sobre o futuro, os<br />
empresários cujas<br />
empresas vacilam por<br />
falta de encomen<strong>da</strong>s,<br />
os imigrantes que<br />
temem encontrar<br />
barreiras onde antes já só havia um<br />
frágil traço no mapa, os funcionários e<br />
trabalhadores que sentem os empregos<br />
presos por um fio de precarie<strong>da</strong>de,<br />
todos acharão poucas razões para<br />
acreditar num projeto que prometeu<br />
tanto e tão pouco, hoje em dia,<br />
assegura.<br />
E contudo é talvez nesta altura,<br />
mais do que nas ocasiões em que<br />
os países <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> cresciam a bom<br />
ritmo e o continente era invejado um<br />
pouco por todo o lado, que a ideia <strong>da</strong><br />
união se impõe e é decisiva. Porque<br />
regressar ao passado não é sempre<br />
(atrevo-me até a dizer que não é<br />
nunca) solução nenhuma, já que as<br />
fórmulas que funcionaram num tempo<br />
são pouco mais do que obsoletas nos<br />
tempos que lhe sucedem, com novas<br />
reali<strong>da</strong>des, novas tecnologias, novas<br />
circunstâncias, novas pessoas. Os<br />
É talvez nesta<br />
altura, mais<br />
do que quando<br />
os países <strong>da</strong><br />
<strong>Europa</strong> cresciam<br />
a bom ritmo<br />
e o continente<br />
era invejado,<br />
que a ideia <strong>da</strong><br />
união se impõe<br />
e é decisiva<br />
países europeus habitam essa nova<br />
reali<strong>da</strong>de: a de um mundo global, em<br />
que todos (povos, países, empresas,<br />
instituições) sabem tudo sobre os<br />
outros e o que afecta uns afecta todos;<br />
a de um mundo tecnologicamente<br />
encurtado, acelerado, escancarado,<br />
através de soluções, produtos e<br />
funcionali<strong>da</strong>des que mu<strong>da</strong>m a uma<br />
veloci<strong>da</strong>de geometricamente acelera<strong>da</strong>;<br />
a de um mundo em que a guerra já<br />
não é fria e as ideologias já não são<br />
puras, em que povos inteiros saltaram<br />
barreiras de progresso, produtivi<strong>da</strong>de<br />
e riqueza e exigem participar <strong>da</strong> ceia<br />
do bem-estar antes reserva<strong>da</strong> ao<br />
mundo ocidental e aos seus avatares;<br />
a de um mundo, finalmente, onde<br />
todos têm um lugar, ou deviam tê-lo,<br />
e em nome desse dever se desenham<br />
e desenvolvem políticas de inclusão,<br />
verdes e humanas, para pôr no lugar do<br />
tradicional egoísmo dos nacionalismos<br />
extremos, do consumo desenfreado<br />
e pre<strong>da</strong>dor (de recursos), do<br />
proteccionismo obscurantista.<br />
A União Europeia vive dificul<strong>da</strong>des<br />
por causa dessa reali<strong>da</strong>de nova. Mas<br />
é difícil entender como qualquer<br />
povo europeu - por mais rico que<br />
actualmente seja - poderá vingar nesse<br />
mundo global, tecnológico e justo,<br />
sem a força que a união dá. As políticas<br />
europeias, comuns, sobretudo com<br />
a crise, e talvez por causa <strong>da</strong> crise,<br />
são ca<strong>da</strong> vez mais necessárias. Sem<br />
a união, o Ocidente, mesmo o mais<br />
economicamente desenvolvido e<br />
aparentemente independente, tenderá<br />
paulatinamente para o declínio,<br />
condenando os seus povos a um<br />
retrocesso que só não será permanente<br />
porque nalguma altura, provavelmente<br />
distante de séculos, cessará.<br />
A <strong>Europa</strong> que foi de Monnet e<br />
Schuman vive provavelmente o seu<br />
momento definidor e decisivo. Não<br />
será mais a União Europeia que<br />
conhecemos, mas terá de ser uma<br />
união de vontades, políticas e recursos<br />
partilhados e comuns, para assegurar<br />
ao continente e aos seus ci<strong>da</strong>dãos um<br />
lugar no futuro; sejam eles quem forem,<br />
venham de onde vierem.<br />
<strong>Europa</strong> 2020<br />
Uma estratégia<br />
para vencer a crise<br />
Susana<br />
Pereira<br />
O plano estratégico <strong>Europa</strong> 2020<br />
sucede à Estratégia de Lisboa. Tal<br />
como a sua antecessora, é uma<br />
estratégia a longo prazo que tem<br />
como objetivo criar ferramentas<br />
que permitam a recuperação <strong>da</strong><br />
crise económica enquanto se prepara<br />
o terreno para o crescimento<br />
futuro.<br />
Ao contrário <strong>da</strong> Estratégia de<br />
Lisboa, a agen<strong>da</strong> que está a ser posta<br />
em prática nesta déca<strong>da</strong> não é<br />
tão ambiciosa nos seus objetivos,<br />
focando-se sobretudo na problemática<br />
do emprego.<br />
A UE está a pôr em marcha o plano<br />
<strong>Europa</strong> 2020 para reanimar a criação<br />
de mais emprego<br />
Uma <strong>da</strong>s principais apostas para<br />
a criação de novos postos de trabalho,<br />
contempla<strong>da</strong> na estratégia<br />
<strong>Europa</strong> 2020, passa pelo aumento<br />
do investimento na Ciência, Tecnologia<br />
e Inovação.<br />
O novo programa Horizonte<br />
2020 está a ser discutido no<br />
Parlamento Europeu. As novas<br />
estratégias serão postas em marcha<br />
em 2014, e preveem a criação<br />
de 830 mil novos empregos até<br />
2030, transformando a UE na<br />
principal potência industrial do<br />
mundo.<br />
O objetivo do Plano <strong>Europa</strong> 2020<br />
Para atingir as metas propostas no<br />
Plano, a Comissão Europeia propôs<br />
uma agen<strong>da</strong> que inclui uma série de<br />
iniciativas, a ser posta em prática<br />
com ações a todos os níveis, quer<br />
pelo conjunto <strong>da</strong> UE, quer por<br />
ca<strong>da</strong> Estado-Membro, e por autori<strong>da</strong>des<br />
locais e regionais.<br />
O plano estratégico <strong>da</strong> UE para<br />
esta déca<strong>da</strong> consiste em assegurar<br />
emprego a 75 por cento <strong>da</strong> população<br />
entre os 20 e os 64 anos. Para<br />
atingir estas metas, foi proposta<br />
uma agen<strong>da</strong> para novas qualifica-<br />
DR<br />
A União<br />
Europeia<br />
depara-se<br />
com uma<br />
grave crise<br />
económica,<br />
marca<strong>da</strong> pela<br />
agen<strong>da</strong> dos<br />
mercados<br />
financeiros<br />
mundiais
18 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 19<br />
ções e novos empregos, de modo a<br />
criar as condições necessárias para<br />
a modernização dos mercados de<br />
trabalho, assegurando a sustentabili<strong>da</strong>de<br />
dos modelos sociais. Em<br />
2011, a taxa de emprego no mesmo<br />
grupo alvo situava-se nos 68,6 por<br />
cento, não tendo sofrido alterações<br />
desde 2010.<br />
A crise e o aumento do desemprego<br />
agravaram a situação de pobreza<br />
na UE. Em 2010, o número<br />
de pobres registados na UE situavase<br />
nos 23,5 por cento.<br />
O Plano <strong>Europa</strong> 2020 prevê tirar<br />
<strong>da</strong> pobreza 20 milhões de pessoas.<br />
Para alcançar essa meta, a UE propôs<br />
a criação de uma plataforma<br />
europeia contra a pobreza. Deste<br />
modo, pretende-se assegurar a coesão<br />
económica, social e territorial,<br />
e permitir que as pessoas mais pobres,<br />
marginaliza<strong>da</strong>s e que vivem<br />
em condições precárias também<br />
desempenhem um papel ativo na<br />
socie<strong>da</strong>de.<br />
As novas tecnologias e a ciência<br />
são ca<strong>da</strong> vez mais essenciais e indispensáveis<br />
na vi<strong>da</strong> quotidiana.<br />
Por isso prevê-se aumentar o investimento<br />
na política de desenvolvimento<br />
e inovação para três por<br />
cento do PIB <strong>da</strong> UE. O objetivo é<br />
voltar a colocar a política de desenvolvimento<br />
e inovação no centro<br />
dos principais desafios societais e<br />
económicos e, desta forma, minimizar<br />
a distância existente entre<br />
ciência e mercado, permitindo uma<br />
transformação mais eficaz <strong>da</strong>s invenções<br />
em produtos. Em 2010 o<br />
investimento nesta área representou<br />
apenas dois por cento do PIB.<br />
A exploração do potencial <strong>da</strong> Internet<br />
e <strong>da</strong>s tecnologias <strong>da</strong> informação<br />
e <strong>da</strong> comunicação também vão<br />
ser uma priori<strong>da</strong>de neste domínio.<br />
O objetivo é promover a inovação,<br />
o crescimento económico e o progresso,<br />
de modo a todos os ci<strong>da</strong>dãos<br />
terem oportuni<strong>da</strong>de de participar<br />
e interagir no mercado digital.<br />
Uma <strong>da</strong>s principais medi<strong>da</strong>s neste<br />
domínio consiste em implantar a<br />
ban<strong>da</strong> larga em todo o território <strong>da</strong><br />
UE até 2013 e garantir o acesso universal<br />
à Internet de alta veloci<strong>da</strong>de<br />
até 2020.<br />
Em relação aos objetivos referentes<br />
às alterações climáticas e<br />
energia, o plano europeu pretende<br />
cumprir as metas “20-20-20” <strong>da</strong>s<br />
questões ambientais. O objetivo é<br />
tornar a União Europeia mais efi-<br />
ciente na utilização de recursos e<br />
transitar para uma economia hipocarbónica,<br />
isto é, com menos emissão<br />
de dióxido de carbono.<br />
A principal preocupação <strong>da</strong> UE<br />
é manter-se fiel aos objetivos que<br />
fixou para 2020 no domínio <strong>da</strong><br />
produção, eficiência e consumo de<br />
energia. Com estas medi<strong>da</strong>s, será<br />
possível uma poupança de 60 mil<br />
milhões de euros nas importações<br />
de petróleo e gás em 2020.<br />
Pretende-se também contribuir<br />
para a competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> indústria<br />
<strong>da</strong> UE no mundo que emergirá<br />
<strong>da</strong> crise, assim como promover o<br />
empreendedorismo e desenvolver<br />
novas qualificações. Deste modo,<br />
será possível criar novos postos de<br />
trabalho.<br />
O Plano <strong>Europa</strong> 2020 reforça<br />
também a aposta em melhores condições<br />
de ensino, de modo a reduzir<br />
a taxa de abandono escolar para<br />
menos de 10% e assegurar que, pelo<br />
menos, 40% <strong>da</strong> geração mais jovem<br />
dispõe de um diploma do ensino<br />
superior. Em 2010 registou-se um<br />
abandono precoce <strong>da</strong> escola por<br />
14,1 por cento dos jovens e apenas<br />
33,6 por cento dos jovens entre os<br />
30 e os 34 anos tinham, no mínimo,<br />
uma licenciatura.<br />
Os programas de mobili<strong>da</strong>de de<br />
jovens na <strong>Europa</strong> continuam a ser<br />
uma grande aposta no desenvolvimento<br />
do sistema educativo. Os<br />
objetivos para esta déca<strong>da</strong> são reforçar<br />
a quali<strong>da</strong>de e a capaci<strong>da</strong>de de<br />
atracão internacional do sistema de<br />
ensino superior europeu, promovendo<br />
a mobili<strong>da</strong>de dos estu<strong>da</strong>ntes<br />
e dos jovens profissionais. As vagas<br />
existentes devem ser mais facilmente<br />
acessíveis em to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong> e as qualificações<br />
e experiência profissional<br />
reconheci<strong>da</strong>s de forma adequa<strong>da</strong>.<br />
A estratégia portuguesa O plano<br />
<strong>Europa</strong> 2020 atua não só no<br />
conjunto <strong>da</strong> União Europeia, mas<br />
também ao nível de ca<strong>da</strong> Estado-<br />
Membro. Portugal não é exceção<br />
e, tendo em conta a forma como a<br />
crise afetou o país, as medi<strong>da</strong>s propostas<br />
no plano estratégico serão<br />
a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à situação.<br />
A nível <strong>da</strong> inovação e desenvolvimento,<br />
a meta nacional situa-se<br />
entre os 2,7 e os 3,3 por cento, repartindo-se<br />
entre 1,0 e 1,2 por cento<br />
no setor público e 1,7 e 2,1 por<br />
cento no setor privado. De modo a<br />
conseguir cumprir estas metas, es-<br />
tão a ser postas em prática as iniciativas<br />
Agen<strong>da</strong> Digital 2015 e o Plano<br />
Inovação Portugal. Em 2010, o investimento<br />
neste domínio situavase<br />
em 1,59 por cento.<br />
Em relação à educação, Portugal<br />
partilha as mesmas metas <strong>da</strong> UE,<br />
ou seja, uma redução para 10 por<br />
cento <strong>da</strong> taxa de abandono escolar,<br />
com uma meta intermédia de<br />
15 por cento em 2015, e aumentar<br />
para 40 por cento o número de licenciados<br />
entre os 30 e os 34 anos.<br />
Em 2010 Portugal era o segundo<br />
país com a taxa de abandono escolar<br />
precoce mais eleva<strong>da</strong>, com um<br />
total de 28,7 por cento de jovens<br />
entre os 18 e os 24 anos que não<br />
tinham concluído o ensino secundário.<br />
Algumas <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s para alcançar<br />
estas metas incluem a extensão<br />
<strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de obrigatória até aos<br />
18 anos, a iniciativa Novas Oportuni<strong>da</strong>des<br />
e o Programa Educação<br />
2015.<br />
A nível ambiental, as metas por-<br />
tuguesas passam pelo aumento de<br />
31 por cento <strong>da</strong> produção e consumo<br />
<strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong>de produzi<strong>da</strong> a<br />
partir de fontes renováveis, e pelo<br />
aumento em 20 por cento <strong>da</strong> eficiência<br />
energética. Estas medi<strong>da</strong>s vão<br />
também contribuir para o plano de<br />
redução em 20 por cento <strong>da</strong>s emissões<br />
de gases com efeito de estufa<br />
a nível europeu, e reduzir em 2000<br />
milhões de euros as importações<br />
anuais de combustíveis fósseis.<br />
Pretende-se reduzir as emissões de<br />
CO2 em 20 milhões de tonela<strong>da</strong>s<br />
e aumentar a eficiência energética<br />
em 20 por cento, gerando 120.000<br />
novos postos de trabalho.<br />
De acordo com o Eurobarómetro<br />
que avalia a sustentabili<strong>da</strong>de nas<br />
PME, as empresas portuguesas são<br />
as que tomam mais medi<strong>da</strong>s para<br />
poupar energia. Segundo o documento,<br />
88 por cento <strong>da</strong>s empresas<br />
portuguesas estão a tomar medi<strong>da</strong>s<br />
de eficiência energética, o que<br />
constitui a percentagem mais alta<br />
de to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>.<br />
Portugal também lidera a lista<br />
de PME que pretendem começar a<br />
disponibilizar produtos e serviços<br />
verdes nos próximos dois anos.<br />
Em relação ao emprego, a meta<br />
portuguesa é conseguir uma taxa<br />
de emprego de 75 por cento para a<br />
população entre os 20 e os 64 anos.<br />
Em 2010, 25,3 por cento dos portugueses<br />
viviam em risco de situação<br />
de pobreza e exclusão social.<br />
Algumas medi<strong>da</strong>s a ser postas em<br />
prática em Portugal para combater<br />
A meta portuguesa<br />
é conseguir uma<br />
taxa de emprego<br />
de 75 por cento<br />
para a população<br />
entre os 20 e os<br />
64 anos<br />
o desemprego passam por prosseguir<br />
com o investimento na qualificação<br />
de jovens e adultos, pela<br />
melhoria dos mecanismos de inserção<br />
de grupos mais vulneráveis<br />
e pela melhoria <strong>da</strong>s condições de<br />
inserção e reinserção no mercado<br />
de trabalho.<br />
As medi<strong>da</strong>s previstas pelo plano<br />
português para a redução <strong>da</strong> pobreza<br />
consistem numa política de<br />
rendimentos que contribua para a<br />
redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, aprofun<strong>da</strong>r<br />
as medi<strong>da</strong>s de eficiência <strong>da</strong><br />
despesa social, melhorar a eficiência<br />
contributiva do sistema público<br />
de segurança social, de modo a tirar,<br />
pelo menos, 200 mil pessoas <strong>da</strong><br />
pobreza até 2020. Algumas <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />
para alcançar estes objetivos<br />
passam por promover uma política<br />
de rendimentos que contribua para<br />
a redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, aprofun<strong>da</strong>r<br />
as medi<strong>da</strong>s de eficiência <strong>da</strong><br />
despesa social, e melhorar a eficiência<br />
contributiva do sistema público<br />
de segurança social.<br />
DR<br />
O Plano<br />
<strong>Europa</strong> 2020<br />
é a estratégia<br />
desenvolvi<strong>da</strong><br />
pela Comissão<br />
Europeia para<br />
esta déca<strong>da</strong>
20 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 21<br />
União Europeia adota Pacto Orçamental<br />
Controverso<br />
manual de<br />
gestão <strong>da</strong>s<br />
finanças públicas<br />
Fabíola<br />
Maciel<br />
Na Cimeira <strong>da</strong> Primavera de <strong>2012</strong> foi assinado<br />
um Pacto Intergovernamental entre 25 estadosmembros<br />
<strong>da</strong> União Europeia que pretende aumentar<br />
a integração económica e monetária. O Reino<br />
Unido e a República Checa recusaram integrar este<br />
compromisso. A Irlan<strong>da</strong> decide em Maio<br />
Como resposta à crise económica,<br />
a União Europeia introduziu, a 2<br />
de Março de <strong>2012</strong>, um novo mecanismo<br />
interno de correção <strong>da</strong>s<br />
finanças públicas em ca<strong>da</strong> estadomembro,<br />
por forma a impedir derrapagens<br />
nas contas públicas. Paulo<br />
Sande, diretor do Gabinete do Parlamento<br />
Europeu em Portugal, defende<br />
que “politicamente, [o pacto]<br />
representou um passo fun<strong>da</strong>mental<br />
para desbloquear algumas decisões<br />
relativas às políticas <strong>da</strong> zona euro:<br />
assim, por exemplo, foi aumentado<br />
o “poder de fogo” dos dois instrumentos<br />
de intervenção financeira<br />
<strong>da</strong> zona euro, o actual e temporário<br />
Fundo Europeu de Estabili<strong>da</strong>de Financeira<br />
e o futuro Mecanismo Europeu<br />
de Estabili<strong>da</strong>de Financeira”.<br />
A maior vigilância orçamental<br />
inclui uma “Regra de Ouro”, que<br />
impõe um limite de défice público<br />
anual de 3% do Produto Interno<br />
Bruto (PIB) e a impossibili<strong>da</strong>de<br />
de ultrapassar 60% de dívi<strong>da</strong> pública<br />
do PIB, como estava previsto<br />
no Pacto de Estabili<strong>da</strong>de e Crescimento<br />
(PEC). Para além disso,<br />
introduziu ain<strong>da</strong> um sistema de<br />
penalizações no qual, em caso de<br />
incumprimento, o Tribunal Europeu<br />
de Justiça pode punir o estadomembro<br />
com sanções pecuniárias<br />
até 0,1% do PIB.<br />
Inicialmente, os líderes europeus<br />
ambicionavam a introdução obrigatória<br />
destas condições na Cons-<br />
O pacto introduz<br />
a realização<br />
obrigatória<br />
de duas cimeiras<br />
anuais dos países<br />
<strong>da</strong> zona euro<br />
tituição de ca<strong>da</strong> estado-membro,<br />
mas a forte oposição de alguns<br />
países impediu que esta medi<strong>da</strong><br />
fosse implementa<strong>da</strong>. Esta ação, segundo<br />
Paulo Sande, “nesses termos<br />
arriscava-se a chocar de frente com<br />
as regras e procedimentos constitucionais<br />
de diversos estados-membros,<br />
levando nesse caso a um adiamento<br />
- quiçá sine die - <strong>da</strong> entra<strong>da</strong><br />
em vigor do pacto”.<br />
Acor<strong>da</strong>do a 30 de Janeiro de <strong>2012</strong><br />
na Cimeira Europeia em Bruxelas,<br />
o Pacto pretende ser um “manual<br />
de gestão” <strong>da</strong>s finanças públicas<br />
para recuperar a confiança do mercado.<br />
Mario Draghi, presidente do<br />
Banco Central Europeu, mostrou<br />
estar confiante de que “o pacto vai<br />
ser implementado” e acrescentou<br />
que “não pode haver um ou dois<br />
países a pagar por outros”.<br />
Durão Barroso, presidente <strong>da</strong><br />
Comissão Europeia, considera que<br />
“é uma importante toma<strong>da</strong> de po-<br />
sição sobre a irreversabili<strong>da</strong>de do<br />
euro”. Sobre o Mecanismo Europeu<br />
de Estabili<strong>da</strong>de, o líder garantiu<br />
que estará a funcionar “em Julho<br />
deste ano”.<br />
A 2 de Março de <strong>2012</strong>, na Cimeira<br />
<strong>da</strong> Primavera, 25 estadosmembros<br />
aprovaram o acordo que<br />
entrará em vigor a 1 de Janeiro de<br />
2013, caso seja ratificado no mínimo<br />
por doze países. A Cimeira de<br />
1 e 2 de Março serviu também para<br />
reconduzir Herman Von Rompuy<br />
como presidente do Conselho<br />
Europeu, que decidiu introduzir a<br />
obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> realização de<br />
duas cimeiras anuais dos países <strong>da</strong><br />
zona euro.<br />
Reino Unido e República Checa<br />
ficam de fora Contrariamente à<br />
maioria dos estados-membros, o<br />
Reino Unido e a República Checa<br />
não aceitaram a introdução <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />
de vigilância orçamental. Esta<br />
rejeição desencadeou um debate<br />
sobre a existência de um novo Tratado<br />
Europeu, já que este pressupõe<br />
a unanimi<strong>da</strong>de.<br />
David Cameron, primeiro-ministro<br />
britânico, esclareceu em Dezembro<br />
de 2011 que o seu país se iria<br />
opor, já que “o Pacto não garante a<br />
proteção aos países” e acrescentou<br />
que “não queria tratamento especial,<br />
apenas salvaguar<strong>da</strong>s necessárias<br />
para o nosso mercado financeiro”.<br />
Face ao passado controverso<br />
do Reino Unido no que concerne à<br />
aceitação <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s europeias, o<br />
porta-voz do governo salientou que<br />
“o país continua a ser um membro<br />
pleno <strong>da</strong> União Europeia”.<br />
Por outro lado, Petr Necas, primeiro-ministro<br />
checo, deu sinais<br />
em Janeiro de <strong>2012</strong> de que poderia<br />
não aceitar o pacto, uma vez que tinha<br />
“sérias reservas sobre a sua utili<strong>da</strong>de”.<br />
Aquando <strong>da</strong> aprovação do<br />
Pacto, a República Checa juntou-se<br />
ao Reino Unido e acabou por vetar<br />
a sua integração. De acordo com<br />
Paulo Sande, “por razões políticas<br />
internas ao país, e embora tenha<br />
de facto sido uma meia-surpresa, o<br />
veto acaba por ser compreensível”.<br />
A Irlan<strong>da</strong> decidirá em referendo,<br />
que é obrigatório por lei, a 31 de<br />
Maio de <strong>2012</strong>. En<strong>da</strong> Kenny, primeiro-ministro<br />
irlandês, revelou estar<br />
“confiante de que, assim que a importância<br />
deste tratado for comunicado<br />
ao povo irlandês, este vai votar<br />
‘sim’ de modo pronunciado”.<br />
Movimentos de ci<strong>da</strong>dãos na <strong>Europa</strong><br />
A socie<strong>da</strong>de<br />
ocupa a rua<br />
Geiziely<br />
Fernandes<br />
A crise deu voz à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e o<br />
descontentamento levanta o véu<br />
<strong>da</strong>s assimetrias em democracia e<br />
no sistema económico de mercado<br />
Os movimentos sociais têm surgido<br />
através de iniciativas de ci<strong>da</strong>dãos<br />
comuns que estão insatisfeitos com<br />
a atual democracia e as condições<br />
precárias de vi<strong>da</strong>. Esse descontentamento<br />
tem vindo a criar um espaço<br />
de diálogo frente aos poderes<br />
políticos europeus mas ultimamente<br />
estes têm respondido com repreensões<br />
policiais. Um ano após os<br />
crescentes sinais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil,<br />
a tensão persiste e as estratégias de<br />
intervenção mostram assimetrias e<br />
muitos sonhos defrau<strong>da</strong>dos.<br />
Milhares de pessoas correm em<br />
direção contrária à tropa de choque<br />
que muni<strong>da</strong> de cacetetes e bombas<br />
de gás lacrimogénio, tenta retirar as<br />
pessoas que estavam acampa<strong>da</strong>s na<br />
Praça <strong>da</strong> Catalunha, em Barcelona.<br />
Foi o primeiro retrato de muitos em<br />
to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>, e também o primeiro<br />
em Lisboa, a 15 de Outubro de<br />
2011, com polícias infiltrados que<br />
impulsionaram a violência numa<br />
tentativa de criminalização dos<br />
GONçAlO PORTUGUêS<br />
movimentos sociais. Mais tarde,<br />
aconteceria no Porto, em Londres,<br />
Madrid, Paris, Atenas onde nem<br />
todos os milhares de ‘indignados’<br />
conseguiriam obter um momento<br />
de diálogo com o governo, evitar a<br />
falência social ou conter a embosca<strong>da</strong><br />
policial.<br />
Mesmo que menos de um ano<br />
antes, um cartaz de papelão anunciasse:<br />
“Assembleia Popular às 19h”.<br />
Em volta, dezenas de pessoas reuni<strong>da</strong>s<br />
em ten<strong>da</strong>s verdes instala<strong>da</strong>s<br />
de maneira improvisa<strong>da</strong> ocupam o<br />
Rossio de Lisboa. Eram 19h30 e o<br />
mediador que recolhia as inscrições<br />
para a posse do megafone já contava<br />
com uma lista extensa de nomes<br />
nesse Maio de 2011.<br />
Um cego pede a palavra e, com o<br />
megafone nas mãos, começa a partilhar<br />
as dificul<strong>da</strong>des que uma pessoa<br />
com deficiência visual enfrenta<br />
no dia-a-dia, desde o mercado laboral<br />
à inserção na socie<strong>da</strong>de. É aplaudido,<br />
senta-se no chão junto aos<br />
Manifestantes<br />
a caminho do<br />
Parlamento<br />
em S. Bento,<br />
lisboa
22 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 23<br />
demais participantes, para ouvir a<br />
próxima pessoa que será portadora<br />
<strong>da</strong> palavra por mais sete ou 10 minutos.<br />
O mediador então relembra:<br />
“estamos aqui reunidos em assembleia<br />
popular para <strong>da</strong>r voz a quem<br />
não tem voz, para <strong>da</strong>r voz ao povo”.<br />
A opção <strong>da</strong> assembleia popular<br />
surgiu com as “acampa<strong>da</strong>s” em Espanha<br />
que tiveram início em Madrid<br />
na praça Puerta del Sol, juntando<br />
10 mil pessoas que protestavam<br />
em nome de uma democracia ver<strong>da</strong>deira<br />
para as eleições de 2011.<br />
Este era o arranque do movimento<br />
dos “Indignados” que se espalhou<br />
por 50 ci<strong>da</strong>des europeias, entre elas<br />
Lisboa. Na Grécia, os “Indignados”<br />
atingiram cerca de 500 mil pessoas,<br />
que acamparam por três semanas<br />
na praça Syntagma, em Atenas, à<br />
frente do Parlamento grego para<br />
impedir a aprovação de mais um<br />
pacote de austeri<strong>da</strong>de que afun<strong>da</strong>ria<br />
a Grécia. A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de com<br />
os ci<strong>da</strong>dãos de Espanha chegou até<br />
Londres, com o “Occupy London”<br />
que acampou em frente a Catedral<br />
de St.Paul, perto à Bolsa de Valores<br />
de Londres, em protesto ao sistema<br />
económico atual.<br />
O desemprego crescente, a ausência<br />
de oportuni<strong>da</strong>des de trabalho<br />
para os jovens qualificados, os<br />
falsos recibos verdes transversais a<br />
gerações de precários, fizeram com<br />
que um grupo de amigos organizasse<br />
um protesto. A 12 de Março de<br />
2011, Portugal assistiu à primeira<br />
de muitas manifestações que aconteceriam<br />
no decorrer do ano. O<br />
protesto Geração À Rasca que levou<br />
500 mil pessoas para as ruas em<br />
diversos pontos do país, deu origem<br />
ao movimento M12M - Movimento<br />
12 de Março. O M12M desde então<br />
promove e apoia iniciativas que<br />
vão de encontro a uma democracia<br />
mais participativa, melhorias no<br />
mercado laboral e reivindicações<br />
contra o atual regime político que<br />
ao pedir sacrifícios aos portugueses<br />
gera recessão económica e, logo,<br />
um empobrecimento populacional<br />
em massa.<br />
A Iniciativa Legislativa de Ci<strong>da</strong>dãos,<br />
apoia<strong>da</strong> pelos movimentos<br />
Precários Inflexíveis, M12M e<br />
FERVE, conseguiu recentemente<br />
em Portugal recolher 35 mil assinaturas<br />
contra a precarie<strong>da</strong>de e os<br />
falsos recibos verdes, obrigando a<br />
nova discussão e votação no parlamento<br />
nacional <strong>da</strong>s leis laborais.<br />
Segurança na UE<br />
Dia Europeu<br />
<strong>da</strong>s Vítimas<br />
do Terrorismo<br />
Fabíola<br />
Maciel<br />
A segurança é uma <strong>da</strong>s principais<br />
preocupações <strong>da</strong> União Europeia e,<br />
por isso, foi delinea<strong>da</strong> uma estratégia<br />
de luta contra o terrorismo. “Prevenir,<br />
proteger, perseguir e responder” são<br />
os quatro pilares que visam construir<br />
um mundo mais seguro<br />
Quando ocorre um atentado em<br />
solo europeu é imediatamente<br />
acionado um mecanismo de resposta<br />
solidário para prestar assistência<br />
às vítimas. Este ano, a União<br />
Europeia declarou o dia 11 de Março,<br />
<strong>da</strong>ta dos atentados em Madrid,<br />
como o Dia Europeu <strong>da</strong>s Vítimas<br />
do Terrorismo.<br />
Os atentados de 11 de Setembro<br />
de 2001, nos Estados Unidos<br />
<strong>da</strong> América, marcaram um ponto<br />
de viragem em todo o mundo nas<br />
questões de Segurança. A União<br />
Europeia (UE), que tinha aberto<br />
as suas fronteiras com o Acordo<br />
de Schengen em 1999, foi força<strong>da</strong><br />
a criar um plano para controlar as<br />
ações terroristas em solo europeu.<br />
Nuno Piçarra, docente <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />
de Direito <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Nova de Lisboa, considera que “o<br />
combate a este ‘euroterrorismo’<br />
não poderia deixar de fomentar<br />
a cooperação entre os Estados-<br />
Membros pelo menos em matéria<br />
FOTOS: DR<br />
de segurança interna e de polícia”.<br />
De 2010 a 2014 está em vigor<br />
o Programa de Estocolmo, inserido<br />
na Estratégia de Luta contra o<br />
Terrorismo, que visa criar “uma<br />
<strong>Europa</strong> aberta e segura que sirva<br />
e proteja os ci<strong>da</strong>dãos” bem como<br />
“fortalecer a cooperação com<br />
países terceiros, nomea<strong>da</strong>mente<br />
Norte de África, Médio Oriente<br />
e Sudoeste asiático”. Este plano<br />
estipula ain<strong>da</strong> que o Conselho<br />
Europeu é obrigado a reunir-se<br />
semestralmente para efectuar um<br />
balanço com a Comissão Europeia<br />
e o Parlamento Europeu.<br />
Em colaboração com a Organização<br />
<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (ONU),<br />
a UE elaborou uma estratégia<br />
global basea<strong>da</strong> em quatro pilares:<br />
“Prevenir, Proteger, Persegir e<br />
Responder”. A prevenção promove<br />
o intercâmbio de informações e<br />
a coordenação de políticas nacionais<br />
contra o recrutamento de organizações<br />
terroristas.<br />
Atentados<br />
terroristas<br />
na <strong>Europa</strong><br />
11 de Março de 2004: em plena<br />
hora de ponta, quatro comboios<br />
explodem na estação <strong>da</strong> Atocha,<br />
em Madrid. Cerca de 1700<br />
pessoas ficaram feri<strong>da</strong>s e 191<br />
morreram.<br />
7 de Julho de 2005: três<br />
explosões paralisaram o metro de<br />
Londres e uma bomba destruiu<br />
um autocarro em pouco menos<br />
de uma hora. O ataque fez mais<br />
de 50 mortos e 700 feridos.<br />
22 de Julho de 2011:<br />
Anders Breivik, foi o autor de<br />
uma explosão em edifícios<br />
governamentais em Oslo e de<br />
um tiroteio na ilha de Utoya,<br />
ambos na Noruega, onde decorria<br />
a “Universi<strong>da</strong>de de Verão” do<br />
Partido Trabalhista Norueguês. Os<br />
ataques provocaram 78 mortos.<br />
21 de Março de <strong>2012</strong>: Mohamed<br />
Merah, de 23 anos, assassinou<br />
três crianças, um professor de<br />
uma escola ju<strong>da</strong>ica e três polícias,<br />
em Toulouse e Montauban, no sul<br />
de França.<br />
Para reduzir a vulnerabili<strong>da</strong>de<br />
dos ci<strong>da</strong>dãos europeus e aumentar<br />
a segurança transfronteiriça, a UE<br />
criou uma Agência Europeia de<br />
Gestão a Cooperação Operacional<br />
nas Fronteiras Externas (FRON-<br />
TEX), um Sistema de Informação<br />
comum (SIS II) com uma base de<br />
<strong>da</strong>dos que regista o percurso de viajantes<br />
(“Passenger Name Record”).<br />
O EUROJUST, organismo que<br />
apoia o intercâmbio de informação<br />
sobre a criminali<strong>da</strong>de transfronteiriça,<br />
e a EUROPOL, o<br />
Serviço Europeu de Polícia, trabalham<br />
em conjunto com os estadosmembros<br />
para desarticular redes<br />
terroristas, impedir o seu financiamento<br />
e travar o acesso a equipamentos<br />
utilizáveis em atentados,<br />
como armas e explosivos. Nuno<br />
Piçarra sublinha que esta evolução<br />
vai “em larga medi<strong>da</strong> no sentido do<br />
regime norte-americano mais executivo<br />
[do que o olhar] judiciário<br />
no caso europeu”.<br />
O contágio<br />
do terror<br />
começou a 11<br />
de Setembro<br />
de 2001:<br />
dois aviões<br />
embateram<br />
nas torres do<br />
World Trade<br />
Center, um<br />
despenhou-se<br />
no Pentágono<br />
e outro na<br />
Pensilvânia,<br />
vitimando no<br />
total quase três<br />
mil pessoas
As<br />
transformações<br />
na vi<strong>da</strong> dos<br />
ci<strong>da</strong>dãos não<br />
podem ser<br />
vistas como<br />
mu<strong>da</strong>nças<br />
de caráter<br />
meramente<br />
administrativo<br />
24 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 25<br />
Direito à proteção de <strong>da</strong>dos pessoais<br />
Entender o<br />
mundo com ética<br />
Celso<br />
Soares<br />
A informação e o conhecimento são<br />
vitais nas organizações modernas,<br />
mas a regulação na UE deve preservar<br />
a reserva <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
priva<strong>da</strong> e familiar<br />
Se o conhecimento corresponde<br />
a uma série de informações assimila<strong>da</strong>s<br />
e estrutura<strong>da</strong>s pelo indivíduo,<br />
o que lhe permite “entender<br />
o mundo”, a gestão <strong>da</strong> informação,<br />
permite a interligação entre a gestão<br />
estratégica e a aplicação <strong>da</strong>s tecnologias<br />
de informação, em todos<br />
os ramos de ativi<strong>da</strong>de. Logo, o que<br />
está em causa é decidir o que fazer<br />
com base em informação e decidir<br />
o que fazer sobre informação.<br />
De acordo com a Convenção<br />
para a Proteção <strong>da</strong>s Pessoas relativamente<br />
ao Tratamento Automatizado<br />
de Dados de Caracter Pessoal,<br />
os ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> União Europeia têm<br />
a garantia e o respeito pelos seus<br />
direitos e liber<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais,<br />
e especialmente pelo seu direito à<br />
vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>, independentemente<br />
<strong>da</strong> sua nacionali<strong>da</strong>de ou residência,<br />
na consagra<strong>da</strong> protecção do registo<br />
de <strong>da</strong>dos, sendo regula<strong>da</strong> a aplicação<br />
a esses <strong>da</strong>dos de operações lógicas<br />
e/ou aritméticas, bem como<br />
a sua modificação, supressão, extração<br />
ou difusão.<br />
Perante a globalização, a troca<br />
de conhecimento e informação<br />
desconhece fronteiras e, por isso, a<br />
UE tem reforçado o seu posicionamento<br />
em matéria de proteção de<br />
<strong>da</strong>dos com várias directivas do Parlamento<br />
Europeu e do Conselho, a<br />
fim de ajustar as necessi<strong>da</strong>des jurídicas<br />
às exigências dos tempos. E<br />
nesse caso, a proposta <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 25<br />
DR<br />
de Janeiro de <strong>2012</strong> <strong>da</strong> Directiva do<br />
Parlamento Europeu e do Conselho<br />
relativa à proteção <strong>da</strong>s pessoas<br />
singulares diz respeito ao tratamento<br />
de <strong>da</strong>dos pessoais pelas autori<strong>da</strong>des<br />
competentes para efeitos de<br />
prevenção, investigação, detecção<br />
e repressão de infrações penais ou<br />
de execução de sanções penais, e à<br />
livre circulação desses <strong>da</strong>dos.<br />
A Decisão-Quadro 2008/977/<br />
JAI tem um âmbito de aplicação<br />
limitado, uma vez que apenas se<br />
aplica ao tratamento transfronteiriço<br />
de <strong>da</strong>dos, excluindo as ativi<strong>da</strong>des<br />
de tratamento realiza<strong>da</strong>s pelas<br />
autori<strong>da</strong>des policiais e judiciárias a<br />
nível nacional. Este fator é suscetível<br />
de criar dificul<strong>da</strong>des às autori<strong>da</strong>des<br />
policiais e a outras autori<strong>da</strong>des<br />
competentes no domínio <strong>da</strong> cooperação<br />
judiciária em matéria penal e<br />
<strong>da</strong> cooperação policial.<br />
De acordo com a Proposta Directiva<br />
e em consonância com a<br />
sua política “Legislar melhor”, a<br />
Comissão realizou uma avaliação<br />
de impacto <strong>da</strong>s diferentes opções<br />
estratégicas. A avaliação de impacto<br />
baseou-se nos três objetivos de melhorar<br />
a dimensão «mercado interno»<br />
<strong>da</strong> proteção de <strong>da</strong>dos, tornar o<br />
exercício do direito à proteção de<br />
<strong>da</strong>dos pelas pessoas singulares mais<br />
eficaz e criar um quadro global e<br />
coerente que abranja todos os domínios<br />
de competência <strong>da</strong> União,<br />
incluindo a cooperação policial e<br />
judiciária em matéria penal. No que<br />
diz respeito ao último objetivo em<br />
especial, foram examina<strong>da</strong>s duas<br />
opções: a primeira opção consistia<br />
em alargar simplesmente o alcance<br />
<strong>da</strong>s regras de proteção de <strong>da</strong>dos a<br />
esse domínio e colmatar as lacunas<br />
e outras questões suscita<strong>da</strong>s pela<br />
decisão-quadro, enquanto a segun<strong>da</strong><br />
opção, mais completa, consistia<br />
em adotar regras muito normativas<br />
e estritas que implicariam, aliás, a<br />
alteração imediata de todos os instrumentos<br />
abrangidos pelo «antigo<br />
terceiro pilar».<br />
Proteção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> Intima e priva<strong>da</strong><br />
Se no passado uma <strong>da</strong>s grande lutas<br />
pela liber<strong>da</strong>de dos homens foi pelo<br />
direito a comunicar, pode com proprie<strong>da</strong>de<br />
dizer-se que hoje, adquirido<br />
incontestavelmente esse direito<br />
fun<strong>da</strong>mental, torna-se urgente lutar<br />
pela necessi<strong>da</strong>de de comunicar a<br />
direito, isto é, de acordo com princípios<br />
e no respeito <strong>da</strong> lei.<br />
A cultura dos direitos <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de<br />
e dos direitos fun<strong>da</strong>mentais<br />
afirma-se no campo do direito<br />
penal, como a consciência crítica<br />
que buscava protecção para zonas<br />
do nosso ser-com-os-outros até<br />
aqui insusceptíveis de beneficiarem<br />
<strong>da</strong> sombra do manto protector<br />
– quantas vezes tão-só simbolicamente<br />
protector – do direito penal.<br />
Com a globalização que vai construindo<br />
„aldeias“ evolutivas tecnologicamente,<br />
tornam as socie<strong>da</strong>des<br />
mas complexas nas relações intersubjectivas,<br />
fazedoras de indivíduos<br />
anónimos, cujo anonimato se vai<br />
refugiando a procura de identificações,<br />
fabricantes de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>des<br />
construi<strong>da</strong>s, produtora acrítica de<br />
notícias bem como de publici<strong>da</strong>de<br />
indiscreta e agressiva <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de<br />
e ao mesmo tempo, potencia a distribuição<br />
de mal-estar, segurança<br />
social que aos poucos atravessa o<br />
interesse individual.<br />
A relação entre as (tele)comunicações,<br />
a privaci<strong>da</strong>de e os crimes<br />
informáticos, <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s pessoas e a<br />
protecção dos <strong>da</strong>dos pessoais são alguns<br />
dos exemplos <strong>da</strong> evasão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
priva<strong>da</strong>, por isso, a UE perspectiva<br />
novos horizontes sobre os meios de<br />
comunicação social e a justiça porque<br />
é importante salvaguar<strong>da</strong>r os<br />
direitos dos ci<strong>da</strong>dãos bem como os<br />
modos de protecção jurídico-penal<br />
<strong>da</strong> privaci<strong>da</strong>de na <strong>Europa</strong>.<br />
Nesse caso, a Directiva 97/66/<br />
CE, de 15 de Dezembro de 1997,<br />
relativa ao tratamento de <strong>da</strong>dos<br />
pessoais e à protecção <strong>da</strong> privaci<strong>da</strong>de<br />
no setor <strong>da</strong>s telecomunicações<br />
tem contribuido para a consagração<br />
de mecanismos que respondessem<br />
ao crescimento de utilizadores <strong>da</strong><br />
internet e difusão <strong>da</strong>s tecnologias<br />
de investigação e partilha de <strong>da</strong>dos<br />
pessoais.<br />
As relações entre o direito e a deontologia<br />
desenvolvem-se no vasto<br />
campo coberto pelos fenómenos<br />
políticos e sociais de regulação e<br />
auto-regulação. Compreender os<br />
dois tipos de normativos implica<br />
a contextualização actual dos processos<br />
ambulatórios do próprio<br />
Estado nas socie<strong>da</strong>des complexas<br />
contemporâneas. E é o reflexo <strong>da</strong>s<br />
transformações verifica<strong>da</strong>s, nas últimas<br />
déca<strong>da</strong>s, do próprio Estado Social<br />
e do papel crescente dos grupos<br />
sociais organizados nas socie<strong>da</strong>des<br />
contemporâneas, funcionalmente<br />
diferencia<strong>da</strong>s.
lagoa do Covão<br />
do Quelhas,<br />
Parque Natural<br />
<strong>da</strong> Serra <strong>da</strong><br />
Estrela<br />
26 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 27<br />
Portugal<br />
Planeamento de<br />
recursos hídricos<br />
está na fase final<br />
Rita<br />
Pereira<br />
Com um atraso considerável em relação ao prazo<br />
estabelecido pela Diretiva Quadro <strong>da</strong> Água, a primeira<br />
versão dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica<br />
já foi elabora<strong>da</strong><br />
Os planos de Gestão de Região<br />
Hidrográfica (PGRH) são instrumentos<br />
de planeamento preconizados<br />
pela Diretiva Quadro <strong>da</strong> Água<br />
(DQA). Constituem-se como base<br />
de suporte à gestão, proteção e valorização<br />
ambiental, social e económica<br />
<strong>da</strong>s águas.<br />
O processo de planeamento em<br />
Portugal levado a cabo pelas Administrações<br />
de Região Hidrográfica<br />
(ARH) encontra-se na fase final de<br />
consulta pública obrigatória, que<br />
decorreu por um período de seis<br />
meses. Segue-se uma etapa de análise<br />
e integração dos contributos apre-<br />
sentados pelas várias enti<strong>da</strong>des, empresas<br />
e ci<strong>da</strong>dãos. Após aprovação<br />
do Ministério <strong>da</strong> Agricultura, Mar,<br />
Ambiente e Ordenamento do Território,<br />
os PGRH serão publicados<br />
em Diário <strong>da</strong> República, entrando<br />
assim em vigor.<br />
A diretiva estabelecia o ano de<br />
2009 como prazo limite para a finalização<br />
dos planos de gestão. No<br />
entanto, Portugal, a par <strong>da</strong> Espanha,<br />
Grécia e Bélgica, encontra-se com<br />
um atraso considerável. O facto de as<br />
estruturas de gestão por bacia hidrográfica<br />
(ARH) terem sido cria<strong>da</strong>s<br />
apenas em 2008, a um ano do limite<br />
para a publicação dos planos, explicam,<br />
em parte, o atraso no processo.<br />
Também o contencioso associado<br />
à elaboração de cadernos de encargos<br />
e contratualização de equipas de<br />
desenvolvimento contribuíram para<br />
que Portugal não cumprisse o prazo<br />
previsto de publicação.<br />
Cooperação Luso-Espanhola No<br />
âmbito dos planos, a coordenação<br />
com Espanha tem-se desenvolvido<br />
sobretudo ao nível de reuniões técnicas<br />
de equipas de desenvolvimento.<br />
Segundo a DQA, ca<strong>da</strong> Estado-<br />
Membro é responsável pela gestão<br />
ANTóNiO BRANDãO<br />
<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> bacia situa<strong>da</strong> no seu<br />
território, em coordenação com os<br />
demais Estados-Membros que partilham<br />
a mesma bacia. A diretiva comunitária<br />
prevê no entanto que no<br />
final <strong>da</strong> elaboração dos planos seja<br />
elaborado um documento conjunto.<br />
Historicamente os governos de<br />
Portugal e Espanha assinaram vários<br />
acordos bilaterais sobre o uso<br />
e aproveitamento dos rios transfronteiriços<br />
Minho, Lima, Douro,<br />
Tejo e Guadiana. O mais recente<br />
foi o Convénio sobre a Cooperação<br />
para a Proteção e o Aproveitamento<br />
Sustentável <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong>s Bacias Hidrográficas<br />
Luso-Espanholas, mais<br />
conhecido por Convénio de Albufeira.<br />
Assinado em 1998 em Albufeira,<br />
encontra-se em vigor desde 17<br />
de Janeiro de 2000 e foi o primeiro a<br />
estabelecer obrigações de monitorização<br />
<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas.<br />
DQA e Lei <strong>da</strong> Água Adota<strong>da</strong> em<br />
2000, a DQA estabelece um quadro<br />
de ação comunitária no domínio <strong>da</strong><br />
política <strong>da</strong> água, no sentido de proteger<br />
e recuperar a quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de<br />
dos recursos hídricos na UE<br />
e assegurar a sua utilização sustentável<br />
a longo prazo. O objetivo é que<br />
os Estados-membros alcancem um<br />
«bom estado» <strong>da</strong>s águas subterrâneas<br />
e de superfície até 2015.<br />
A nova diretiva introduz uma<br />
abor<strong>da</strong>gem inovadora <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong><br />
água com base nas bacias hidrográficas,<br />
uni<strong>da</strong>des geográficas e hidrológicas<br />
naturais. Abrange as águas<br />
de superfície interiores, as águas<br />
de transição, as águas costeiras e as<br />
águas subterrâneas. Integra ain<strong>da</strong><br />
novos princípios, nomea<strong>da</strong>mente<br />
no que respeita à participação do<br />
público no processo de planeamento<br />
e introdução de um valor económico<br />
<strong>da</strong> água.<br />
A DQA foi transposta para a ordem<br />
jurídica portuguesa em 2005,<br />
através <strong>da</strong> Lei <strong>da</strong> Água. Em 2008<br />
foram cria<strong>da</strong>s cinco Administrações<br />
de Região Hidrográfica (ARH), responsáveis<br />
pela gestão dos recursos<br />
hídricos ao nível <strong>da</strong>s bacias hidrográficas.<br />
Com a recente reestruturação<br />
<strong>da</strong> Administração Central do<br />
Estado, as competências <strong>da</strong>s ARH<br />
em matéria de gestão de recursos hídricos<br />
foram incorpora<strong>da</strong>s na Agên-<br />
cia Portuguesa do Ambiente, atual<br />
Autori<strong>da</strong>de Nacional <strong>da</strong> Água.<br />
Antecedentes A água é um recurso<br />
vital mas limitado. A preservação <strong>da</strong><br />
sua quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de tem sido<br />
por isso uma <strong>da</strong>s principais priori<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong> União Europeia em matéria<br />
de políticas do ambiente. As primeiras<br />
diretivas de proteção de recursos<br />
hídricos foram adota<strong>da</strong>s em meados<br />
<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 e estabeleceram<br />
uma série de normas de quali<strong>da</strong>de<br />
destina<strong>da</strong>s a proteger a saúde humana<br />
e o meio aquático. To<strong>da</strong>via,<br />
quando em finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980<br />
a eutrofização se tornou um problema<br />
nos mares do Norte e Báltico e<br />
em partes do Mediterrâneo, a abor<strong>da</strong>gem<br />
basea<strong>da</strong> em normas de quali<strong>da</strong>de<br />
revelou-se insuficiente.<br />
A UE começou então a concentrar-se<br />
nas fontes de poluição.<br />
Neste sentido foram cria<strong>da</strong>s três<br />
diretivas. Em 1991, foi adota<strong>da</strong> a<br />
diretiva relativa ao tratamento de<br />
águas residuais urbanas, que obriga<br />
os Estados-Membros a investirem<br />
em infraestruturas de recolha e tratamento<br />
dos efluentes nas zonas urbanas,<br />
e a diretiva Nitratos que estabelece<br />
que os agricultores controlem<br />
as quanti<strong>da</strong>des de adubos azotados<br />
aplicados nos campos.<br />
Em 1996 foi adota<strong>da</strong> uma diretiva<br />
relativa à prevenção e controlo integrados<br />
<strong>da</strong> poluição, que pretende<br />
diminuir as descargas de poluentes a<br />
partir <strong>da</strong>s grandes instalações industriais.<br />
Para <strong>da</strong>r coerência a todo um<br />
conjunto de políticas e disposições<br />
legislativas dispersas, a UE adotou<br />
em 2000 a Diretiva-Quadro <strong>da</strong> Água,<br />
criando uma abor<strong>da</strong>gem unifica<strong>da</strong><br />
em matéria de recursos hídricos.<br />
Fontes<br />
de poluição<br />
RUi CUNhA/ARh DO TEJO<br />
• Eutrofização, um processo em<br />
que as massas de água recebem<br />
uma quanti<strong>da</strong>de excessiva de<br />
nutrientes, nomea<strong>da</strong>mente<br />
compostos de azoto e fósforo,<br />
que estimulam uma proliferação<br />
de algas.<br />
• As águas residuais provenientes<br />
<strong>da</strong>s estações de tratamento de<br />
efluentes constituem a segun<strong>da</strong><br />
maior fonte de poluição.<br />
• A poluição difusa proveniente<br />
<strong>da</strong> agricultura, como os adubos<br />
azotados aplicados nos campos<br />
agrícolas, o estrume produzido pela<br />
exploração pecuária e a erosão de<br />
solos que contêm nutrientes.<br />
Factos sobre a<br />
situação <strong>da</strong> água<br />
• A água disponível para o<br />
consumo humano representa<br />
menos de 1% dos recursos<br />
hídricos do Planeta<br />
• Mais de 1,2 mil milhões de<br />
pessoas não têm acesso a água<br />
potável<br />
• 20% <strong>da</strong>s águas superficiais <strong>da</strong><br />
União Europeia correm sério risco<br />
de poluição<br />
• 60% <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des europeias<br />
exploram de forma excessiva as<br />
suas águas subterrâneas e 50%<br />
<strong>da</strong>s zonas húmi<strong>da</strong>s estão “em<br />
perigo de extinção”<br />
Para saber mais sobre a Diretiva-Quadro <strong>da</strong> Água e sobre os recursos hídricos <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, consulte o Sistema<br />
Europeu de Informação sobre a Água (WISE) em water.europa.eu. Dados adicionais sobre o processo de<br />
planeamento em Portugal encontram-se disponíveis em apambiente.pt<br />
Reserva<br />
Natural do<br />
Estuário do<br />
Tejo: a bacia<br />
do Tejo e<br />
outras bacias<br />
hidrográficas,<br />
que ligam<br />
Espanha e<br />
Portugal,<br />
cobrem 46%<br />
<strong>da</strong> Península<br />
ibérica
28 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 29<br />
Redes transeuropeias de transportes<br />
Obras<br />
para<strong>da</strong>s,<br />
projetos<br />
suspensos<br />
Inês<br />
Vidigal<br />
Os quatro projetos europeus<br />
prioritários incluídos no Plano<br />
Operacional do Alentejo estão<br />
suspensos. E o futuro de Portugal<br />
nos transportes é uma incógnita<br />
O Plano Operacional Regional do<br />
Alentejo para o período 2007-2013,<br />
aprovado em 2011, define como<br />
fun<strong>da</strong>mental o papel do Alentejo<br />
nas acessibili<strong>da</strong>des regionais e no<br />
sistema logístico nacional: a região<br />
tem uma posição estratégica no corredor<br />
ibérico Lisboa-Madrid e nos<br />
corredores nacionais Lisboa-Algarve<br />
e Centro-Algarve, dispondo de<br />
uma presença significativa nas redes<br />
transeuropeias de transportes. A região<br />
está incluí<strong>da</strong> em quatro dos 30<br />
projetos prioritários europeus que,<br />
quando terminados, deverão contribuir<br />
para melhorar a competitivi<strong>da</strong>de<br />
regional e atrair investimentos<br />
em setores estratégicos <strong>da</strong> região.<br />
Fazem parte dos projetos prioritários<br />
europeus para a região do<br />
Alentejo o eixo ferroviário de alta<br />
veloci<strong>da</strong>de do sudoeste <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />
(projeto n.º 3), a rede ferroviária<br />
Sines/Algeciras – Madrid – Paris<br />
(projeto n.º 16), o eixo multimo<strong>da</strong>l<br />
Portugal/Espanha – resto <strong>da</strong><br />
<strong>Europa</strong> (projeto n.º 8) e as auto-<br />
estra<strong>da</strong>s do mar (projeto n.º 21).<br />
O eixo ferroviário de alta veloci<strong>da</strong>de<br />
do sudoeste <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> previa<br />
que o TGV desse um impulso no<br />
transporte de passageiros, com uma<br />
consequente vantagem competitiva<br />
para as regiões abrangi<strong>da</strong>s. No caso<br />
do Alentejo, desempenharia um papel<br />
importante pela construção de<br />
duas estações <strong>da</strong> rede em Évora e<br />
em Elvas/Ba<strong>da</strong>joz, aproximando estas<br />
ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s capitais <strong>da</strong> Península<br />
Ibérica. Segundo o Plano Operacional,<br />
em 2013 o eixo Lisboa-Madrid<br />
deveria atingir um tráfego anual de<br />
6,1 milhões de passageiros, mas o<br />
projeto está de momento posto de<br />
lado.<br />
O projeto tem sofrido constantes<br />
modificações, dos prazos à veloci<strong>da</strong>de<br />
e ao modelo – por fim optou-se<br />
pelo uso de sistemas mistos (de passageiros<br />
e mercadorias), em alternativa<br />
a sistemas independentes de<br />
ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de. As diferentes mexi<strong>da</strong>s<br />
resultaram na alteração do próprio<br />
traçado inicial: no final de 2011,<br />
o eixo de mercadorias entre Sines e<br />
Madrid perdeu parte do traçado previsto<br />
e passou a englobar outra parte<br />
<strong>da</strong> rede global, o que prolongou o<br />
prazo de execução até 2051.<br />
A indecisão governamental quanto<br />
à rede de transportes estende-se à<br />
execução <strong>da</strong> linha de alta veloci<strong>da</strong>de<br />
entre Lisboa e Elvas, assim como à<br />
de Madrid e Ba<strong>da</strong>joz, e afecta também<br />
o desenvolvimento <strong>da</strong>s infraestruturas<br />
logísticas liga<strong>da</strong>s à ferrovia,<br />
de que é exemplo a Plataforma<br />
transfronteiriça Multimo<strong>da</strong>l de Caia<br />
ou a Plataforma Logística de Ba<strong>da</strong>joz.<br />
Entretanto, foram desactivados<br />
vários ramais regionais de comunicação<br />
ferroviária.<br />
A rede ferroviária Sines/Algeciras<br />
– Madrid – Paris, que pretendia<br />
criar uma ligação ferroviária entre<br />
o porto de Sines e a fronteira espanhola,<br />
é um dos projetos considerados<br />
mais importantes para o desenvolvimento<br />
regional, porque traria<br />
maior competitivi<strong>da</strong>de às ativi<strong>da</strong>des<br />
económicas instala<strong>da</strong>s em Sines e<br />
alargava a área de influência desta<br />
“porta atlântica” ao hinterland ibérico.<br />
As obras deste projeto deveriam<br />
ter sido lança<strong>da</strong>s em Novembro de<br />
2010 para estarem concluí<strong>da</strong>s em<br />
Novembro de 2013, contudo ain<strong>da</strong><br />
não foram inicia<strong>da</strong>s. Embora o<br />
primeiro-ministro português afirme<br />
que esta é uma linha importante<br />
para o desenvolvimento do país, salienta<br />
não haver de momento condições<br />
económicas para avançar com<br />
o projeto, declarando ain<strong>da</strong> que a<br />
única coisa definitiva é a morte,<br />
motivo pelo qual o projeto tem sido<br />
adiado e não tem <strong>da</strong>ta defini<strong>da</strong> para<br />
o seu começo.<br />
Traçado com obras feitas sem<br />
conclusão à vista O projeto <strong>da</strong><br />
rede ferroviária Sines/Algeciras –<br />
Madrid – Paris consiste na construção<br />
de dois novos troços – “Évora/<br />
Elvas-Caia” e a variante de Alcácer<br />
–, e na modernização <strong>da</strong> estação <strong>da</strong><br />
Raquete e do troço “Bombel/Casa<br />
Branca/Évora”.<br />
iNêS ViDiGAl<br />
Modernização adia<strong>da</strong> na estação de Casa Branca, na rede Sines/Algeciras – Madrid – Paris<br />
A modernização <strong>da</strong> estação <strong>da</strong><br />
Raquete encontra-se concluí<strong>da</strong>. Os<br />
trabalhos decorreram entre Junho<br />
de 2009 a Junho de 2010, num investimento<br />
de 17 milhões de euros.<br />
A variante de Alcácer ficou concluí<strong>da</strong><br />
em Novembro de 2007, após três<br />
anos e obras e 159 milhões de euros<br />
de investimento. A modernização<br />
do troço “Bombel/Casa Branca/<br />
Évora” terminou em 2011 (com<br />
atraso face ao às previsões), com um<br />
custo aproximado de 120 milhões<br />
de euros.<br />
Já o novo troço “Évora/Elvas-<br />
Caia” deveria ter sido iniciado no<br />
primeiro semestre de 2011, e embora<br />
tenha tido contratos assinados<br />
e apoios atribuídos acabou por ser<br />
adiado – sem <strong>da</strong>ta defini<strong>da</strong>.<br />
O eixo multimo<strong>da</strong>l Portugal/Espanha<br />
– resto <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> (projeto<br />
n.º 8) engloba as linhas ferroviárias<br />
de La Coruña-Lisboa-Sines, de Lisboa-Valladolid,<br />
de Lisboa-Faro, e as<br />
auto-estra<strong>da</strong>s Lisboa-Valladolid, La<br />
Coruña-Lisboa, e Sevilha-Lisboa,<br />
União: a <strong>Europa</strong><br />
numa rede de<br />
transportes<br />
A União Europeia avançou com a<br />
rede transeuropeia de transportes<br />
para promover uma melhor ligação<br />
entre todos Estados-membros,<br />
permitindo uma maior mobili<strong>da</strong>de<br />
de passageiros e de mercadorias.<br />
O objetivo é encurtar distâncias,<br />
cobrindo a totali<strong>da</strong>de do território<br />
com uma rede interoperável<br />
em todos os seus elementos e<br />
permitindo uma melhor utilização<br />
<strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des existentes.<br />
A rede transeuropeia de<br />
transportes influencia actualmente<br />
cerca de metade do tráfego total<br />
de passageiros e mercadorias<br />
na União Europeia. Alguns<br />
dos grandes projetos já estão<br />
finalizados, como a ligação fixa<br />
entre a Dinamarca e a Suécia<br />
através do Öresund; o novo<br />
aeroporto de Malpensa, na<br />
periferia de Milão; a rede de<br />
comboios de alta veloci<strong>da</strong>de<br />
entre Londres, Paris e Bruxelas,<br />
ou ain<strong>da</strong> a ligação ferroviária<br />
entre Belfast, Dublin e Cork, ou<br />
seja, entre a Irlan<strong>da</strong> do Norte e a<br />
República <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>.<br />
Contudo, e apesar dos<br />
progressos alcançados,<br />
responsáveis <strong>da</strong> UE afirmaram<br />
recentemente que ain<strong>da</strong> não há<br />
uma “rede transeuropeia madura”.<br />
Ou seja, existem muitos projetos<br />
nacionais, mas é preciso apostar<br />
na complementari<strong>da</strong>de.<br />
Apesar <strong>da</strong> crise económica<br />
n a <strong>Europa</strong>, mantém-se a forte<br />
aposta na rede transeuropeia e<br />
os dirigentes europeus continuam<br />
a procurar financiamentos<br />
para estes projetos. Ao intervir<br />
nas jorna<strong>da</strong>s sobre redes<br />
transeuropeias, Brian Simpson,<br />
presidente <strong>da</strong> comissão de<br />
transportes do Parlamento<br />
Europeu, afirmou: “O transporte<br />
pode não só <strong>da</strong>r coesão<br />
económica e social, como pode<br />
ser o motor <strong>da</strong> recuperação<br />
económica”. I.V.
30 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 31<br />
além do novo aeroporto de Lisboa.<br />
Destes projetos estão concluí<strong>da</strong>s a<br />
linha ferroviária Lisboa-Faro (2004)<br />
e as auto-estra<strong>da</strong>s La Coruña-Lisboa<br />
(2003) e Sevilha-Lisboa (completa<strong>da</strong><br />
em 2001). Relativamente ao<br />
novo aeroporto de Lisboa, o primeiro-ministro<br />
afirmou, no passado dia<br />
16, querer evitar “na próxima déca<strong>da</strong>”<br />
a construção de um novo aeroporto<br />
e admitiu que a Base Aérea<br />
de Montijo pode funcionar como<br />
“pista de apoio” à Portela. Os estudos<br />
sobre a localização do aeroporto<br />
complementar ao <strong>da</strong> Portela continuam<br />
a decorrer e Passos Coelho<br />
não adianta mais informação. Sobre<br />
os restantes projetos não se conhece<br />
mais na<strong>da</strong>.<br />
Sines ain<strong>da</strong> em negociações<br />
O porto de Sines encontra-se também<br />
inserido no projeto auto-estra<strong>da</strong>s<br />
do mar devido às suas caraterísticas<br />
de porto de águas profun<strong>da</strong>s e<br />
ao seu posicionamento no contexto<br />
europeu. No entanto, a “auto-estra<strong>da</strong><br />
do mar” alentejana é mais um<br />
projeto ain<strong>da</strong> sem rumo definido.<br />
Sines, o porto regional que engloba<br />
a rede europeia, encontra-se ain<strong>da</strong><br />
em negociações com os seus congéneres.<br />
As auto-estra<strong>da</strong>s do mar subdividem-se<br />
em quatro: sudoeste europeu,<br />
sudeste europeu, mar báltico<br />
e <strong>Europa</strong> Ocidental. Visando a expansão<br />
<strong>da</strong>s ligações, a auto-estra<strong>da</strong><br />
do mar tem por base a optimização<br />
do transporte de mercadoria de um<br />
ponto de origem a um ponto de<br />
chega<strong>da</strong>, motivo por que são necessários<br />
acessos e articulação no<br />
porto que permitam o transporte<br />
imediato <strong>da</strong> mercadoria para o seu<br />
destino.<br />
No Alentejo, o porto de Sines é,<br />
desde 2008, a porta para o transporte<br />
marítimo de mercadorias –<br />
a auto-estra<strong>da</strong> do mar –, ligando<br />
Sines a La Spezia, em Itália. De<br />
momento, o porto de Sines está<br />
em negociação com outros portos,<br />
sobretudo espanhóis e franceses.<br />
Os projetos ligados às redes<br />
transeuropeias tiveram grande expansão<br />
durante o governo de José<br />
Sócrates, que apostava numa maior<br />
integração de Portugal na União<br />
Europeia para combater a posição<br />
periférica do país, o que se verifica<br />
na quanti<strong>da</strong>de de projetos desenvolvidos,<br />
começados e concluídos<br />
<strong>Europa</strong><br />
Velha<br />
mas ativa<br />
Ana<br />
Silva<br />
A União Europeia apresenta atualmente<br />
uma população envelheci<strong>da</strong>, o que<br />
resulta do aumento <strong>da</strong> esperança de<br />
vi<strong>da</strong> e de baixas taxas de natali<strong>da</strong>de que<br />
não repõem o equilíbrio demográfico<br />
O envelhecimento <strong>da</strong> população<br />
acarreta problemas económicos,<br />
sociais e culturais que a União Europeia<br />
tem de aprender a combater<br />
de forma eficaz. É essa necessi<strong>da</strong>de<br />
de a<strong>da</strong>ptação a uma nova reali<strong>da</strong>de<br />
demográfica que dá o mote para o<br />
Ano Europeu do Envelhecimento<br />
Activo e <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre Gerações,<br />
que foi este ano estabelecido<br />
pela Comissão Europeia.<br />
O Ano Europeu pretende chamar<br />
a atenção <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil em geral<br />
para a importância do papel dos<br />
idosos, numa <strong>Europa</strong> onde mais de<br />
17% <strong>da</strong> população tem 65 anos ou<br />
mais. Pretende-se, em simultâneo,<br />
proporcionar um enquadramento<br />
para o desenvolvimento de políticas<br />
estratégicas que levem a acções<br />
concretas por parte <strong>da</strong> União e dos<br />
Estados-membros.<br />
Atualmente, cerca de 87 milhões<br />
de pessoas na União Europeia são<br />
idosos, sendo necessário criar estruturas<br />
que permitam a estes ci<strong>da</strong>dãos<br />
um envelhecimento com<br />
acesso a condições adequa<strong>da</strong>s de<br />
saúde que lhes confiram uma maior<br />
autonomia. A quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />
destas pessoas passa também por se<br />
sentirem úteis à socie<strong>da</strong>de, através<br />
<strong>da</strong> valorização do contributo que<br />
dão em várias áreas.<br />
Por essa razão, um dos três eixos<br />
de ação definidos pela Comissão<br />
Europeia para o Ano Europeu consiste<br />
na participação na socie<strong>da</strong>de,<br />
que se juntam as questões do emprego<br />
e <strong>da</strong> autonomia dos idosos.<br />
Os objetivos a alcançar neste contexto<br />
incluem, por exemplo, uma<br />
melhor a<strong>da</strong>ptação do mercado de<br />
trabalho aos ci<strong>da</strong>dãos mais velhos,<br />
e ain<strong>da</strong> a valorização <strong>da</strong>s tarefas<br />
por eles desempenha<strong>da</strong>s, que são<br />
essenciais ao equilíbrio <strong>da</strong> estrutura<br />
familiar, como tomar conta dos<br />
netos.<br />
Envelhecimento em Portugal<br />
Em Portugal, os idosos representam<br />
quase 20% <strong>da</strong> população total,<br />
e as previsões apontam para que<br />
esta percentagem ascen<strong>da</strong> a 37%<br />
em 2050.<br />
Para a coordenadora nacional<br />
do Ano Europeu, Joaquina Madeira,<br />
“está em causa uma ver<strong>da</strong>deira<br />
mu<strong>da</strong>nça cultural” no sentido de<br />
que seja respeitado o valor que representa<br />
ca<strong>da</strong> pessoa para a socie<strong>da</strong>de,<br />
mas também de o aproveitar,<br />
colocando-o ao serviço <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de,<br />
conforme afirmou em entrevista<br />
ao jornal «OJE».<br />
Joaquina Madeira revela ain<strong>da</strong><br />
que “os anos europeus servem para<br />
<strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a iniciativas exemplares,<br />
e para impulsionar desafios,<br />
levantar questões, <strong>da</strong>r pistas, sensibilizar,<br />
informar, sendo para isso o<br />
papel dos media de grande importância”.<br />
O Ano Europeu conta com um<br />
conjunto de iniciativas nos vários<br />
Estados-Membros, promovi<strong>da</strong>s por<br />
organizações públicas e priva<strong>da</strong>s,<br />
com vista a despertar consciências e<br />
chamar a atenção para a importância<br />
do envelhecimento activo e <strong>da</strong><br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de intergeracional.<br />
Em Portugal verifica-se uma<br />
forte dinâmica e mobilização, que<br />
Josefina Madeira considera um<br />
sinal de toma<strong>da</strong> de consciência<br />
por parte <strong>da</strong>s pessoas em relação<br />
à relevância do tema. Para além<br />
<strong>da</strong> Comissão Nacional de Acompanhamento<br />
do Ano Europeu do<br />
Envelhecimento Activo e <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
entre Gerações, que<br />
inclui cerca de 40 enti<strong>da</strong>des e personali<strong>da</strong>des,<br />
está já monta<strong>da</strong> uma<br />
rede que inclui representantes <strong>da</strong>s<br />
áreas <strong>da</strong> Segurança Social, Emprego,<br />
Saúde, Reabilitação, Educação,<br />
Desporto e Juventude.<br />
Ao longo de todo o ano decorre<br />
uma série de iniciativas, como<br />
congressos, seminários ou concursos<br />
de fotografia, dirigi<strong>da</strong>s a diferentes<br />
públicos e que pretendem<br />
ter um impacto a longo prazo. Em<br />
Março terminou o concurso «Ciência,<br />
Saúde e... os Meus Avós!»,<br />
destinado aos alunos do ensino<br />
secundário, com o objetivo de<br />
promover uma maior sensibilização<br />
dos jovens para os problemas<br />
sociais e de saúde que envolvem a<br />
população idosa. A Fun<strong>da</strong>ção Calouste<br />
Gulbenkian irá receber no<br />
Outono deste ano uma conferência<br />
internacional sobre o tema <strong>da</strong><br />
inovação social numa socie<strong>da</strong>de<br />
envelheci<strong>da</strong>, depois de ter acolhido<br />
em Abril a terceira edição do<br />
Congresso Mundial do Envelhecimento<br />
Activo.<br />
Também alguns projetos de<br />
voluntariado estão a ser desen-<br />
volvidos, com vista a promover a<br />
ligação entre os mais jovens e os<br />
idosos, numa lógica de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
entre gerações. Está também<br />
em curso desde Setembro de 2011<br />
o projeto de voluntariado intergeracional<br />
“Recados & Companhia”,<br />
que pretende combater situações<br />
de solidão e isolamento de idosos<br />
nalguns dos principais centros urbanos<br />
do país.<br />
O objetivo é combater o isolamento<br />
de milhares de idosos que<br />
vivem sozinhos, contando-se só<br />
em Lisboa 85 mil e, no Porto, 33<br />
mil. Os jovens voluntários têm<br />
como tarefa fazer companhia aos<br />
idosos, acompanhá-los em momentos<br />
de leitura ou nas suas ativi<strong>da</strong>des<br />
quotidianas, como i<strong>da</strong>s às<br />
compras ou ao médico. O sucesso<br />
<strong>da</strong> primeira fase deste projeto determinou<br />
a sua continuação até<br />
Julho de 2013.<br />
Socie<strong>da</strong>de para to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des<br />
Joaquina Madeira tem a convicção<br />
de que a mensagem do Ano<br />
Europeu é a de que o envelhecimento<br />
demográfico constitui um<br />
desafio mas também uma oportuni<strong>da</strong>de<br />
no sentido <strong>da</strong> construção<br />
de uma socie<strong>da</strong>de para to<strong>da</strong>s<br />
as i<strong>da</strong>des, assente nos valores <strong>da</strong><br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> cooperação e<br />
<strong>da</strong> coesão social, sendo estes os<br />
DR<br />
valores base <strong>da</strong> União Europeia.<br />
Os resultados do inquérito Eurobarómetro<br />
76 sobre envelhecimento<br />
activo indicam que os europeus<br />
estão, em geral, conscientes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
demográfica <strong>da</strong> União, mas<br />
não necessariamente preocupados.<br />
Dos 27.000 europeus inquiridos,<br />
71% afirmaram saber que a população<br />
europeia está a envelhecer,<br />
mas apenas 42% se revelaram preocupados<br />
com o facto. A preocupação<br />
com o envelhecimento <strong>da</strong><br />
população foi mais manifesta entre<br />
os inquiridos em Portugal, onde<br />
61% se revelaram preocupados ou<br />
muito preocupados.<br />
Decorridos quatro meses desde<br />
o início de <strong>2012</strong>, as expetativas sobre<br />
este Ano Europeu mantêm-se<br />
tendencialmente otimistas, como<br />
confirma a declaração de Lázló<br />
Andor, comissário Europeu para<br />
o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão,<br />
publica<strong>da</strong> no site oficial do<br />
Ano Europeu do Envelhecimento<br />
Ativo e <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre<br />
Gerações. Espera que este “Ano<br />
Europeu sirva como catalisador<br />
para mobilizar os ci<strong>da</strong>dãos, partes<br />
interessa<strong>da</strong>s e decisores políticos<br />
para a necessi<strong>da</strong>de de agir no sentido<br />
de promover o envelhecimento<br />
activo e enfrentar os desafios<br />
do envelhecimento de uma forma<br />
positiva”.
32 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 33<br />
O sucesso de informar<br />
sobre a <strong>Europa</strong><br />
Opinião António José Sobrinho diretor-adjunto do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal<br />
Resultante de uma<br />
parceria entre<br />
o Parlamento<br />
Europeu, a<br />
Comissão<br />
Europeia, o<br />
CENJOR e o<br />
jornal Público, o Seminário de<br />
Estudos Europeus (SEE), que já<br />
vai na sua 13a edição, é sinónimo<br />
do interesse demonstrado pelos<br />
jovens jornalistas relativamente ao<br />
aprofun<strong>da</strong>mento de conhecimentos<br />
sobre os assuntos<br />
europeus. Dedicado<br />
preferencialmente a<br />
finalistas e a recémlicenciados<br />
na área<br />
<strong>da</strong> comunicação<br />
social, o SEE<br />
afirma-se como uma<br />
ação de formação<br />
de referência,<br />
destina<strong>da</strong> à<br />
sensibilização de<br />
jovens jornalistas<br />
para as questões<br />
europeias<br />
Na origem deste<br />
seminário esteve a necessi<strong>da</strong>de de<br />
se colmatar a lacuna existente no<br />
panorama <strong>da</strong> comunicação social<br />
portuguesa. Em poucas palavras,<br />
visava-se descodificar a <strong>Europa</strong>,<br />
tornando-a mais acessível ao ci<strong>da</strong>dão<br />
comum, alinhando pelo rigor e a<br />
objetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação.<br />
Foi a partir de meados <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> de 90, que o Gabinete do<br />
Parlamento Europeu em Portugal<br />
começou a esboçar este projeto<br />
que, com o tempo, se tem vindo a<br />
consoli<strong>da</strong>r, ao visar padrões elevados<br />
de quali<strong>da</strong>de e de independência.<br />
O SEE não funcionou sempre do<br />
mesmo modo. Desde a sua quarta<br />
edição tem sido preocupação dos<br />
organizadores poder alargar o elenco<br />
de conferências a personali<strong>da</strong>des de<br />
reconhecido mérito, sem prejuízo do<br />
debate contraditório. Para além <strong>da</strong>s<br />
cerca de 35 conferências previstas ao<br />
longo do ano letivo, os formandos<br />
tomam contacto com a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
Mais do que<br />
formar, o<br />
SEE pretende<br />
informar. É uma<br />
ferramenta<br />
que serve para<br />
abrir portas<br />
<strong>da</strong> <strong>Europa</strong> e <strong>da</strong>s<br />
suas instituições<br />
aplicação dos fundos comunitários<br />
durante a visita de estudo que<br />
efetuam a uma região do país. Uma<br />
aproximação às tarefas de um adido<br />
de imprensa <strong>da</strong> instituição tem lugar<br />
durante a sessão de simulação de<br />
acompanhamento de um debate<br />
parlamentar. Contactos próximos<br />
com os membros do Parlamento<br />
Europeu são viabilizados, no<br />
decorrer de uma sessão especial<br />
do SEE, onde se procura pôr em<br />
confronto a plurali<strong>da</strong>de de opiniões,<br />
e ain<strong>da</strong> durante a visita que os<br />
formandos efetuam às instituições<br />
comunitárias, em Bruxelas. Uma<br />
revista - <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> - é<br />
produzi<strong>da</strong> pelos participantes no<br />
SEE, contando com o saber dos<br />
formadores do CENJOR e o apoio<br />
do Público. Neste jornal poderão<br />
estagiar os melhores classificados do<br />
SEE.<br />
Mais do que formar, o SEE<br />
pretende informar. É uma<br />
ferramenta que serve para<br />
abrir portas <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> e <strong>da</strong>s<br />
suas instituições, procurando<br />
desmistificar os mitos acerca <strong>da</strong><br />
dificul<strong>da</strong>de de acesso às fontes e falta<br />
de transparência, entre outros.<br />
Anualmente, são admitidos<br />
entre 30 a 40 candi<strong>da</strong>tos ao SEE.<br />
Hoje, podemos dizer que há cerca<br />
de 4 centenas de diplomados no<br />
mercado. É com indisfarçável<br />
orgulho que observamos a quali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s prestações dos nossos alumni na<br />
imprensa escrita, rádio e televisão.<br />
Os antigos alunos, caso<br />
preten<strong>da</strong>m, podem integrar a rede<br />
de alumni e acompanhar a evolução<br />
de determinados assuntos, participar<br />
em encontros com membros do<br />
Parlamento e até em reuniões<br />
de âmbito mais vasto e mais<br />
direciona<strong>da</strong> sobre a reflexão acerca<br />
de assuntos de interesse comum.<br />
O Seminário de Estudos Europeus<br />
vai seguramente evoluir ain<strong>da</strong><br />
mais, afirmando-se como uma<br />
experiência muito positiva no<br />
âmbito <strong>da</strong> formação e <strong>da</strong> cooperação<br />
institucional.<br />
Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />
Criar valor<br />
e emprego<br />
Ana<br />
Silva<br />
A Bolsa do Empreendedorismo assinala o Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, no<br />
Terreiro do Paço, em Lisboa. A ação agen<strong>da</strong><strong>da</strong> para 9 de Maio<br />
celebra a <strong>da</strong>ta com oportuni<strong>da</strong>des para criar valor e emprego<br />
DR<br />
O evento, que se integra na Semana<br />
do Empreendedorismo de<br />
Lisboa, é inovador e diferente <strong>da</strong>s<br />
tradicionais comemorações do<br />
Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, contando com diversas<br />
ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à promoção<br />
de iniciativas empreendedoras,<br />
entre workshops, espaços de<br />
aconselhamento e de networking.<br />
Realizam-se em todo o país<br />
muitas outras iniciativas para assinalar<br />
a <strong>da</strong>ta, designa<strong>da</strong>mente concursos<br />
e feiras, que visam aproximar<br />
a <strong>Europa</strong> dos ci<strong>da</strong>dãos e, em<br />
particular, dos jovens. Estas ativi<strong>da</strong>des<br />
são principalmente promovi<strong>da</strong>s<br />
pelos centros EuropeDirect<br />
ou por enti<strong>da</strong>des públicas.<br />
Nos Açores foi lançado um concurso<br />
sobre o tema “Os Açores e<br />
a União Europeia”, destinado aos<br />
jovens <strong>da</strong>s escolas secundárias <strong>da</strong><br />
região. O objetivo é naturalmente<br />
contribuir para uma maior divulgação<br />
dos temas relacionados<br />
com a União Europeia junto dos<br />
jovens, estimulando também a<br />
criativi<strong>da</strong>de e a utilização de novos<br />
meios de comunicação, como<br />
o audiovisual.<br />
Com objetivos semelhantes, e<br />
recorrendo também às novas tecnologias<br />
para promover a dimensão<br />
europeia junto <strong>da</strong>s pessoas, o<br />
EuropeDirect Algarve promove<br />
um concurso para a escolha de<br />
um slogan a utilizar na divulgação<br />
do Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, sendo as<br />
melhores participações submeti<strong>da</strong>s<br />
a uma votação através do<br />
Facebook.<br />
No centro do país, o Europe-<br />
Direct Santarém organiza a 7ª<br />
edição <strong>da</strong> “Feira <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”, que<br />
este ano reúne várias instituições<br />
do distrito em torno do tema do<br />
envelhecimento ativo.
Filipe Araújo<br />
ro<strong>da</strong> até<br />
2014 um<br />
documentário<br />
sobre a<br />
experiência<br />
Erasmus entre<br />
duas gerações<br />
34 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 35<br />
Programa<br />
Erasmus: 25 anos<br />
a “criar” europeus<br />
Ana<br />
Margari<strong>da</strong><br />
Pereira<br />
No ano em que se comemoram as “bo<strong>da</strong>s<br />
de prata”do Programa Erasmus, a União<br />
Europeia anuncia um aumento dos apoios<br />
para este intercâmbio juvenil<br />
hEMi FORTES<br />
Mobili<strong>da</strong>de universitária Filipe Araújo, 35 anos, fez o intercâmbio<br />
do Programa Erasmus na<br />
ci<strong>da</strong>de que sempre quis conhecer<br />
melhor, em Roma, Itália. “A dimensão<br />
positiva que o Programa<br />
me trouxe foi tal que, hoje em dia,<br />
se tiver de dividir a minha vi<strong>da</strong> em<br />
dois, separo-a muito naturalmente<br />
num Antes (a.E.) e num Depois de<br />
Erasmus (d.E.)”, assegura o jovem<br />
realizador, que foi nomeado pela<br />
Comissão Europeia, no âmbito<br />
<strong>da</strong> celebração dos 25 anos do Programa<br />
que se assinalam este ano,<br />
como embaixador Erasmus por<br />
Portugal.<br />
A União Europeia (UE), ciente<br />
do impacto e importância deste<br />
projeto com procura crescente,<br />
prepara-se para lançar uma nova<br />
versão, mais alarga<strong>da</strong> e mais ambiciosa:<br />
o “Erasmus para Todos”.<br />
Neste âmbito, a UE pretende investir<br />
19 mil milhões de euros no<br />
próximo período de 2014-2020,<br />
com o qual espera abranger o total<br />
de 5 milhões de jovens europeus,<br />
quase o dobro do número atual.<br />
A UE sabe que este investimento<br />
no treino e educação dos<br />
jovens é fulcral para desencadear<br />
o potencial de ca<strong>da</strong> um e aju<strong>da</strong>rá<br />
a contornar um dos maiores<br />
problemas que afeta o espaço europeu<br />
– o desemprego jovem. O<br />
embaixador Erasmus destaca a<br />
importância do melhoramento<br />
contínuo deste programa criado<br />
em 1987 . “Ain<strong>da</strong> há muito para<br />
se fazer [em relação ao intercâmbio<br />
universitário], mas acho que<br />
a Comissão está atenta e consciente<br />
do poderoso projeto que<br />
lhe foi crescendo nos braços. Daí<br />
que só possa ver com bons olhos<br />
qualquer esforço para incentivar e<br />
flexibilizar aquele que já é o maior<br />
programa de mobili<strong>da</strong>de do mundo”,<br />
afirma Filipe Araújo.<br />
Isabel Joaquim, coordenadora<br />
Erasmus e Leonardo <strong>da</strong> Vinci <strong>da</strong><br />
agência nacional PROALV - Programa<br />
de Aprendizagem ao Longo<br />
<strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>, reflete opinião semelhante.<br />
“A mobili<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>ntes<br />
pode ser considera<strong>da</strong> como um dos<br />
alicerces <strong>da</strong> ‘<strong>Europa</strong> dos Ci<strong>da</strong>dãos’.”<br />
A coordenadora garante que este<br />
constitui um elemento fun<strong>da</strong>mental<br />
para uma estratégia de desenvolvimento<br />
económico e social <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de<br />
e para a consoli<strong>da</strong>ção do<br />
mercado interno, sendo uma chave<br />
suscetível de garantir a competitivi<strong>da</strong>de<br />
para os anos futuros.<br />
“E será sempre pouco! Porque<br />
promover a mobili<strong>da</strong>de é o melhor<br />
investimento doméstico que<br />
a União Europeia pode fazer”,<br />
acrescenta Filipe Araújo.<br />
Geração “made in <strong>Europa</strong>” “A<br />
ideia de fazer o Erasmus devia ser<br />
obrigatória – não apenas para estu<strong>da</strong>ntes,<br />
mas também para taxistas,<br />
canalizadores e outros…”. Quem o<br />
afirma é o escritor italiano Umberto<br />
Eco, em entrevista ao The Guardian<br />
no início de <strong>2012</strong>. As suas palavras<br />
referiam-se neste caso, não<br />
aos 25 anos do Programa Erasmus<br />
que se celebram este ano, mas sobre<br />
como criar uma identi<strong>da</strong>de europeia<br />
numa <strong>Europa</strong> em crise.<br />
Segundo o escritor, o Programa<br />
Erasmus que se tem afirmado<br />
como um dos principais programas<br />
de “europeização” a nível do<br />
ensino na União Europeia (UE),<br />
foi responsável por criar a primeira<br />
geração de jovens europeus.<br />
Para além de ter aju<strong>da</strong>do a mu-<br />
<strong>da</strong>r o paradigma do ensino nos<br />
países <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, o Programa<br />
Erasmus ganhou estatuto de fenómeno<br />
social e cultural. Desde o<br />
seu arranque, cerca de 3 milhões<br />
de estu<strong>da</strong>ntes já beneficiaram de<br />
uma bolsa de estudo patrocina<strong>da</strong><br />
por este subprograma que integra<br />
o PROALV (constituído pelos<br />
subprogramas Erasmus, Leonardo<br />
<strong>da</strong> Vinci, Comenius e Grundtvig).<br />
De acordo com <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> UE,<br />
80% dos participantes foram os<br />
primeiros <strong>da</strong>s suas famílias a estu<strong>da</strong>r<br />
no estrangeiro. Proporcionou<br />
a muitos jovens europeus a<br />
oportuni<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r e viver<br />
pela primeira vez num país estrangeiro.<br />
A mobili<strong>da</strong>de Erasmus tem também<br />
como principal objetivo aju<strong>da</strong>r<br />
os jovens a ganhar novas competências,<br />
maior capaci<strong>da</strong>de de<br />
a<strong>da</strong>ptação e outras quali<strong>da</strong>des que<br />
se irão revelar úteis na vi<strong>da</strong> profissional<br />
futura de ca<strong>da</strong> um.<br />
Mais uma vez, Filipe Araújo é<br />
prova disso mesmo: “Deu-me uma<br />
confiança e um espírito de iniciativa<br />
enormes. Já a nível profissional,<br />
valeu-me um estágio na televisão<br />
pública italiana, várias correspondências<br />
como jornalista e, talvez<br />
mais importante do que tudo, o<br />
passaporte para pisar, pela primeira<br />
vez, um set de cinema, durante<br />
a ro<strong>da</strong>gem de um filme do realizador<br />
de Cinema Paraíso”.<br />
Visão umbiguista vs mundo Para<br />
além desta faceta educativa, de<br />
foco na melhoria e integração do<br />
sistema educativo europeu e <strong>da</strong>s<br />
competências socioprofissionais<br />
dos seus participantes, o Erasmus<br />
é uma aposta para se investir<br />
na criação e potenciação de uma<br />
identi<strong>da</strong>de cultural europeia.<br />
Filipe Araújo classifica a experiência<br />
como “poderosa”. “De forma<br />
concentra<strong>da</strong> e quase indolor, fezme<br />
trocar uma visão umbiguista<br />
e fecha<strong>da</strong> de bairro por uma perspetiva<br />
integra<strong>da</strong> do mundo. Como<br />
se isso fosse pouco, ofereceu-me<br />
ain<strong>da</strong> dos melhores amigos que<br />
uma pessoa pode desejar, pôs-me<br />
a falar uma língua nova quase sem<br />
esforço e tornou-me um europeísta<br />
convicto”, garante o embaixador.<br />
Tal como Filipe Araújo, são<br />
muitos os jovens que no balanço<br />
desta experiência intercultural<br />
e social salientam o sentimento
36 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 37<br />
de que já não se sentem apenas<br />
ci<strong>da</strong>dãos do seu país, mas sim,<br />
ci<strong>da</strong>dãos europeus, ci<strong>da</strong>dãos do<br />
mundo.<br />
“Numa <strong>Europa</strong> meio perdi<strong>da</strong>,<br />
em crise económica e de valores,<br />
o Erasmus é <strong>da</strong>s melhores ferramentas<br />
de construção europeia”,<br />
defende Filipe Araújo. “A <strong>Europa</strong><br />
não começa e acaba em Bruxelas:<br />
acontece no terreno, quando cruzamos<br />
culturas e partilhamos vivências,<br />
costumes e sentimentos”.<br />
Esta toma<strong>da</strong> de consciência <strong>da</strong><br />
condição de ci<strong>da</strong>dãos europeus<br />
representa uma vitória, não só<br />
do programa Erasmus, como <strong>da</strong><br />
União Europeia e do projeto europeu<br />
que tem sido construído<br />
ao longo dos últimos cinquenta<br />
anos. As palavras <strong>da</strong> Comissária<br />
Europeia responsável pela Educação,<br />
Cultura, Multilinguismo<br />
e Juventude, Androula Vassiliou<br />
comprovam esse mesmo sucesso:<br />
“O programa Erasmus é um dos<br />
grandes êxitos <strong>da</strong> União Europeia:<br />
é o nosso programa mais conhecido<br />
e mais popular”.<br />
Crise: “coisas que não mu<strong>da</strong>m”<br />
Num inquérito do Eurobarómetro,<br />
realizado em Maio do ano<br />
passado, os <strong>da</strong>dos obtidos indicaram<br />
que muitos estu<strong>da</strong>ntes vêm<br />
frustrados os seus desejos de estu<strong>da</strong>r<br />
ou receber formação no estrangeiro<br />
por falta de fundos. Daqueles<br />
que pretenderam ir para o<br />
estrangeiro, 33 % não tinha meios<br />
económicos para tal e 63% dos<br />
que o fizeram tiveram de recorrer<br />
a financiamentos privados ou<br />
poupanças.<br />
“Esta constatação põe em destaque<br />
a necessi<strong>da</strong>de de reforçar os<br />
nossos programas de mobili<strong>da</strong>de,<br />
que oferecem uma boa relação<br />
custo-eficácia”, declarou na mesma<br />
ocasião a Comissária Vassiliou.<br />
Filipe Araújo esclarece que, no<br />
seu caso, apesar de ter feito Erasmus<br />
numa “época em que as viagens<br />
ain<strong>da</strong> se pagavam em contos<br />
e o Google era um bebé com um<br />
ano, há coisas que não mu<strong>da</strong>m.<br />
E tenho repetido isto à exaustão:<br />
entreguem-se, vivam, aproveitem!<br />
Mas, sobretudo, não se fechem.<br />
Misturem-se e queiram aprender.<br />
Procurem part-times nos países de<br />
acolhimento. Estudem a questão<br />
<strong>da</strong>s bolsas junto <strong>da</strong>s vossas Uni-<br />
versi<strong>da</strong>des e na nossa Agência Nacional<br />
(www.proalv.pt)”, incentiva<br />
Filipe que, em vez dos supostos<br />
quatro meses a que se havia candi<strong>da</strong>tado,<br />
acabou por prolongar a<br />
permanência em Roma até aos 11<br />
meses. “O que eu desconhecia era<br />
que a experiência no terreno fosse<br />
capaz de superar to<strong>da</strong>s as minhas<br />
melhores expetativas”, garante o<br />
embaixador.<br />
A coordenadora do PROALV,<br />
Isabel Joaquim, referindo-se ao<br />
feedback que têm dos participantes<br />
do programa explica que “a<br />
mobili<strong>da</strong>de Erasmus proporciona<br />
um conhecimento e uma vivência<br />
que não se consegue obter “entre<br />
portas” e é para muitos a primeira<br />
grande viagem <strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s<br />
– o início <strong>da</strong> independência!”. A<br />
coordenadora refere ain<strong>da</strong> que<br />
os meses passados fora (entre 3 e<br />
12) fazem os estu<strong>da</strong>ntes crescer<br />
interiormente e transforma-os<br />
para a vi<strong>da</strong>. “A possibili<strong>da</strong>de de<br />
viver num país que não Portugal,<br />
partilhar as tradições locais, e de<br />
se integrarem numa outra cultura,<br />
torna-os ci<strong>da</strong>dãos mais abertos,<br />
ci<strong>da</strong>dãos do mundo e para o mundo”.<br />
“O que eu<br />
desconhecia era<br />
que a experiência<br />
no terreno<br />
fosse capaz<br />
de superar to<strong>da</strong>s<br />
as minhas melhores<br />
expetativas”,<br />
garante<br />
Filipe Araújo<br />
O programa “Erasmus para<br />
Todos” estará em discussão pelo<br />
Conselho e o Parlamento Europeu,<br />
que tomará a decisão final<br />
sobre o quadro orçamental para<br />
o período de 2014-2020. Esta<br />
nova versão do programa pretende<br />
reunir as iniciativas em vigor<br />
<strong>da</strong> UE no domínio <strong>da</strong> educação,<br />
<strong>da</strong> formação, <strong>da</strong> juventude e do<br />
desporto, substituindo sete pro-<br />
gramas existentes por este único<br />
programa. Tal aumentará a sua<br />
eficiência, facilitará a candi<strong>da</strong>tura<br />
às bolsas e reduzirá as situações de<br />
duplicação e fragmentação que recaem<br />
na diminuição do valor dos<br />
subsídios a atribuir.<br />
Erasmus portugueses Portugal,<br />
embora não seja um dos países que<br />
mais recebe ou envia estu<strong>da</strong>ntes<br />
internacionais, tem aumentado o<br />
número de participantes que provêm<br />
na sua maioria <strong>da</strong> Espanha,<br />
país que é também o maior anfitrião<br />
de Erasmus.<br />
De acordo com Isabel Joaquim,<br />
Portugal acolhe um número considerável<br />
de estu<strong>da</strong>ntes Erasmus<br />
estrangeiros: “esses números crescem<br />
de ano para ano, bem como<br />
o número de estu<strong>da</strong>ntes nacionais<br />
que realizam um período de mobili<strong>da</strong>de<br />
Erasmus”. A coordenadora<br />
esclarece que o número de estu<strong>da</strong>ntes<br />
Erasmus Portugueses que<br />
realizaram efetivamente um período<br />
de mobili<strong>da</strong>de no último ano<br />
terminado (2010/2011) foram<br />
5.966 no total.<br />
A coordenadora adianta que<br />
os estu<strong>da</strong>ntes Erasmus portugueses<br />
são unânimes quando se<br />
trata de avaliar o impacto <strong>da</strong> sua<br />
experiência em termos de carreira<br />
profissional. “As competências<br />
adquiri<strong>da</strong>s em estágio permitem,<br />
à vasta maioria dos participantes,<br />
perspetivarem um impacto positivo<br />
e facilitador na sua integração<br />
profissional, bem como na (re)<br />
formulação <strong>da</strong>s suas expetativas<br />
profissionais – são muitas as portas<br />
que se abrem para um futuro<br />
trabalho, nomea<strong>da</strong>mente no estrangeiro”,<br />
explica.<br />
Para o ano de <strong>2012</strong>, que está a<br />
decorrer até ao fim de Setembro,<br />
e que serão apurados no final do<br />
ano, o número de estu<strong>da</strong>ntes portugueses<br />
financiados supera o do<br />
ano anterior. De acordo com a<br />
coordenadora já vai num total de<br />
6809 alunos financiados para a<br />
mobili<strong>da</strong>de.<br />
Erasmo de Roterdão, filósofo<br />
do século XVI, ficaria orgulhoso<br />
em saber que o programa batizado<br />
com o seu nome é um sucesso e<br />
que inspira milhares de jovens na<br />
<strong>Europa</strong> a fazer o mesmo que ele<br />
próprio – viajar, conhecer e partilhar<br />
o conhecimento e saberes<br />
adquiridos.<br />
Desigual<strong>da</strong>de de género<br />
Mulheres ganham<br />
menos na<br />
União Europeia<br />
Cátia<br />
Rodrigues<br />
A dispari<strong>da</strong>de entre sexos mantémse<br />
em Portugal, como nos restantes<br />
países europeus. As discriminações<br />
persistem e as mulheres ganham<br />
em média na União Europeia, segundo<br />
<strong>da</strong>dos de 2010 do Eurostat,<br />
menos 16,4% do que os homens e<br />
são mais atingi<strong>da</strong>s pelo desemprego<br />
e precarie<strong>da</strong>de.<br />
O diploma constitucional e a legislação<br />
secundária portuguesa é<br />
profícua em matéria de igual<strong>da</strong>de<br />
de género. O Código do Trabalho<br />
tem inúmeros disposições relativamente<br />
à discriminação em função<br />
A igual<strong>da</strong>de entre homens e mulheres constitui um<br />
direito consagrado na Constituição <strong>da</strong> República<br />
Portuguesa. Ao Estado cabe-lhe não só garantir o direito,<br />
mas também assumir a promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de<br />
do género e outras tantas disposições<br />
em relação aos direitos de materni<strong>da</strong>de<br />
e de assistência à família.<br />
O Código Laboral considera, aliás,<br />
contra-ordenações muito graves a<br />
discriminação salarial e a exclusão<br />
ou restrição ao acesso de emprego<br />
em função do sexo.<br />
Também a legislação europeia<br />
protege as mulheres contra a discriminação<br />
em geral e, mais especificamente,<br />
no trabalho. O Tratado<br />
de Roma consagra o princípio de<br />
salário igual para trabalho de valor<br />
igual.<br />
Sara Falcão Casaca, professora<br />
e investigadora universitária no<br />
ISEG, considera que “em matéria<br />
de igual<strong>da</strong>de de género, a socie<strong>da</strong>de<br />
portuguesa conta com um enquadramento<br />
legal de orientação claramente<br />
progressista.” No entanto,<br />
as estatísticas e vários estudos nesta<br />
área mostram uma reali<strong>da</strong>de bem<br />
diferente. Sara Falcão Casaca, que<br />
se dedica às áreas <strong>da</strong> sociologia do<br />
trabalho e relações de género, aduz<br />
que, apesar de uma legislação “claramente<br />
progressista”, “também<br />
neste domínio, estamos perante um<br />
PAUlO PiMENTA/PUBliCO<br />
Recebem<br />
menos quando<br />
trabalham<br />
e são mais<br />
atingi<strong>da</strong>s pelo<br />
desemprego
38 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 39<br />
país dual.” Acrescenta ser “escassa a<br />
oferta de equipamentos públicos,<br />
sobretudo, estruturas de apoio à infância<br />
e à população idosa. Portanto,<br />
o apoio estatal prático, efetivo,<br />
à igual<strong>da</strong>de de género tem falhas<br />
consideráveis.”<br />
A recente crise económica veio<br />
agravar ain<strong>da</strong> mais a situação. Manuela<br />
Tavares, uma <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>doras<br />
<strong>da</strong> União de Mulheres Alternativa<br />
e Resposta (UMAR) acredita que<br />
esta crise pode levar a um regresso<br />
forçado <strong>da</strong> mulher ao lar. Sara Falcão<br />
Casaca salienta que “a maior<br />
fragilização dos vínculos contratuais,<br />
a insegurança de emprego, o<br />
trabalho a tempo parcial involuntário,<br />
o desemprego e o desemprego<br />
de muito longa duração atingem sobretudo<br />
a população trabalhadora<br />
feminina. Desde logo, é expectável<br />
que continue a crescer o número de<br />
mulheres desemprega<strong>da</strong>s no nosso<br />
país, na sequência do programa de<br />
austeri<strong>da</strong>de em curso.”<br />
Em Portugal, segundo <strong>da</strong>dos europeus,<br />
o chamado gender pay gap<br />
(a diferença entre remuneração horária<br />
média bruta de homens e <strong>da</strong>s<br />
mulheres assalariados/as como uma<br />
percentagem <strong>da</strong> remuneração horária<br />
média bruta dos homens) é de<br />
12,8% . Segundo <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Comissão<br />
para a Igual<strong>da</strong>de no Trabalho<br />
e no Emprego (CITE), a diferença<br />
salarial entre homens e mulheres<br />
(basea<strong>da</strong> no peso <strong>da</strong> remuneração<br />
média base/ganho feminina sobre<br />
a remuneração média base/ganho<br />
masculina) é de 21%. Esta diferença<br />
acentua-se ain<strong>da</strong> mais entre os quadros<br />
superiores atingindo os 29,5%.<br />
O género feminino continua a ter<br />
mais dificul<strong>da</strong>des a chegar a cargos<br />
de topo e por isso mesmo a Comissão<br />
de Justiça no Parlamento Europeu<br />
propõe que se definam quotas<br />
de 40% para as mulheres nos Conselhos<br />
de Administração <strong>da</strong>s empresas<br />
e na política.<br />
Sara Falcão afirma que, “hoje,<br />
pode concluir-se que o progresso,<br />
além de muito lento, tem sido bastante<br />
tímido. Finalmente, no contexto<br />
<strong>da</strong> União Europeia, procurase<br />
agora alcançar a meta de 30% de<br />
mulheres nos conselhos de administração<br />
até 2015 e chegar a uma<br />
representação de 40% em 2020. A<br />
UE pode olhar para a Noruega, que<br />
apresenta uma representação de<br />
mulheres próxima de uma situação<br />
de priori<strong>da</strong>de (42%) nos conselhos<br />
Sara Falcão Casaca, professora e<br />
investigadora do iSEG<br />
de administração <strong>da</strong>s empresas cota<strong>da</strong>s<br />
em bolsa. Se assim acontece<br />
hoje é porque, há uma déca<strong>da</strong>, a<br />
vontade política determinou esse<br />
rumo; ou seja, após o fracasso <strong>da</strong>s<br />
medi<strong>da</strong>s de auto-regulação, avançou-se<br />
para a introdução de quotas.”<br />
Mas nem todos os partidos estão<br />
de acordo. BE, PS, PSD concor<strong>da</strong>m,<br />
mas fica por saber se a maioria parlamentar<br />
ou governativa vai transpor<br />
esta recomen<strong>da</strong>ção europeia. A<br />
<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> contactou a Secretaria<br />
de Estado para a Igual<strong>da</strong>de<br />
que manisfestou indisponibili<strong>da</strong>de<br />
de tempo para responder. De resto,<br />
à exceção do grupo parlamentar europeu<br />
do PCP, nenhum outro grupo<br />
partidário prestou declarações.<br />
No entanto, tanto o PCP como<br />
o CSD-PP são contra esta diretiva,<br />
mas por razões bem diferentes. O<br />
PP é contra porque vê nesta imposição<br />
de quotas uma violação<br />
à liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s empresas. Já Inês<br />
Zuber, eurodeputa<strong>da</strong> comunista e<br />
A Comissão de<br />
Justiça no Parlamento<br />
Europeu propõe<br />
que se definam<br />
quotas de 40%<br />
para as mulheres<br />
nos Conselhos<br />
de Administração<br />
<strong>da</strong>s empresas<br />
e na política<br />
membro <strong>da</strong> Comissão de Igual<strong>da</strong>de<br />
de Género do Parlamento Europeu,<br />
afirmou à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> que o<br />
seu partido é contra. “As quotas<br />
apenas resolvem o problema <strong>da</strong>s<br />
mulheres que já são socialmente<br />
favoreci<strong>da</strong>s,” disse.<br />
Porém, não só de quotas se faz<br />
a política europeia de luta contra a<br />
desigual<strong>da</strong>de de género. A estratégia<br />
europeia para o crescimento e<br />
emprego, também conheci<strong>da</strong> por<br />
<strong>Europa</strong> 2020 tem inscrita nos seus<br />
objetivos o combate às dispari<strong>da</strong>des<br />
salariais e ao desemprego no feminino<br />
e recomen<strong>da</strong> que a taxa de<br />
emprego <strong>da</strong>s mulheres na UE passe<br />
de 63% para 76% em 2020.<br />
A presente Estratégia <strong>da</strong> União<br />
Europeia para a igual<strong>da</strong>de entre<br />
homens e mulheres (2010-2015)<br />
determina também uma série de<br />
objetivos. Contam-se, entre eles,<br />
assegurar um melhor cumprimento<br />
<strong>da</strong> legislação existente, combater<br />
o gender pay gap, como parte integrante<br />
<strong>da</strong>s políticas de emprego dos<br />
países, promover o princípio de salários<br />
iguais para trabalho de valor,<br />
através <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de social,<br />
nos empregadores e apoiar a troca<br />
de boas práticas dentro <strong>da</strong> União<br />
Europeia.<br />
Para Inês Zuber, euro-deputa<strong>da</strong><br />
comunista, este tipo de medi<strong>da</strong>s<br />
não chegam. “Tem de haver fiscalização<br />
efetiva com coimas pesa<strong>da</strong>s<br />
a aplicar a situações de dispari<strong>da</strong>de<br />
salarial e a despedimentos por<br />
gravidez”. Afirmou existir “uma<br />
tolerância dos governos para com<br />
os empregadores que infringem<br />
as leis” e preconizou a atribuição<br />
de condições à Autori<strong>da</strong>de para as<br />
Condições do Trabalho para que<br />
“possa, de facto, fiscalizar as empresas.”<br />
Defendeu também “uma política<br />
global que disponibilize uma<br />
rede pública de creches e de apoio a<br />
idosos, que possa libertar as mulheres<br />
dessas tarefas”. Segundo <strong>da</strong>dos<br />
<strong>da</strong> CITE as mulheres trabalham,<br />
em média, mais 13 horas do que<br />
os homens, porque são elas quem<br />
também desempenha as tarefas domésticas<br />
e de cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong> família.<br />
Com taxas de desemprego que<br />
não param de aumentar, com o desemprego<br />
e o trabalho precário a<br />
incidirem mais no sexo feminino e<br />
com o progressivo desmantelamento<br />
do estado social, o problema <strong>da</strong><br />
desigual<strong>da</strong>de de género parece estar<br />
longe de ficar resolvido.<br />
O jornalismo<br />
que vale a pena<br />
Opinião Bárbara Reis diretora do jornal Público<br />
Há 50 anos, se alguém<br />
perguntasse para<br />
que serve um jornal,<br />
todos <strong>da</strong>riam a<br />
mesma resposta:<br />
para <strong>da</strong>r notícias.<br />
Hoje, não é tão fácil.<br />
Para nosso conforto, ain<strong>da</strong> sabemos bem<br />
o que é e para que serve o jornalismo.<br />
Aqui, na<strong>da</strong> de importante mudou.<br />
O jornalismo tem mil definições, claro.<br />
Escolho uma, que impressiona por ser<br />
muito metódica e por ser colegial. Há<br />
15 anos que o think tank americano<br />
Committee of Concerned Journalists<br />
desenvolve um fórum contínuo com<br />
jornalistas para tentar fixar a essência<br />
do jornalismo. O resultado <strong>da</strong> pesquisa<br />
é o retrato perfeito desta profissão: o<br />
jornalismo tem como principal propósito<br />
o compromisso com a ver<strong>da</strong>de; a sua<br />
primeira leal<strong>da</strong>de é para com os ci<strong>da</strong>dãos;<br />
a verificação é a essência <strong>da</strong> sua disciplina;<br />
a independência em relação às pessoas<br />
trata<strong>da</strong>s nas notícias é estrutural; o<br />
Pousado no sofá, suave<br />
e pacífico, quase humilde,<br />
o jornal organiza o nosso<br />
caos informativo e, tal<br />
como as lareiras, dá-nos<br />
a sensação de que há<br />
ordem no mundo<br />
jornalismo serve de indicador para as<br />
pessoas e para as instituições com poder;<br />
dá aos ci<strong>da</strong>dãos um fórum de crítica<br />
e compromisso; torna interessantes<br />
as coisas importantes; e dá às notícias<br />
contexto e proporção. Há uns dias,<br />
numa conferência sobre jornalismo num<br />
instituto politécnico em Lisboa, alguém<br />
<strong>da</strong> plateia disse – e com razão – que faltava<br />
aqui uma ideia essencial: a paixão. Não é<br />
exclusivo desta profissão, mas é ver<strong>da</strong>de<br />
que bom jornalismo só se faz com uma<br />
boa dose de paixão.<br />
Ca<strong>da</strong> um escolherá ler, ver ou ouvir os<br />
conteúdos na plataforma e na máquina<br />
que quiser. Isso hoje já é um detalhe. O<br />
fun<strong>da</strong>mental é a socie<strong>da</strong>de reconhecer<br />
que o bom jornalismo — o jornalismo<br />
que vale a pena — é um bem público, vital<br />
para a democracia, e que isto, parecendo<br />
um cliché, é incontornavelmente<br />
ver<strong>da</strong>deiro.<br />
E porquê? Porque são os jornais de<br />
referência que escrutinam, que fiscalizam<br />
e que verificam; que aprofun<strong>da</strong>m,<br />
analisam e contextualizam o nosso<br />
país e o mundo; que hierarquizam e<br />
dão a proporção certa ao que se passa<br />
à nossa volta; que investem tempo e<br />
dinheiro numa reportagem na Somália<br />
ou numa longa investigação sobre o que<br />
polui o estuário do Tejo. São os jornais<br />
de referência que geram a maioria<br />
<strong>da</strong>s notícias que, uma vez publica<strong>da</strong>s,<br />
alimentam rádios, televisões e sites, para<br />
não falar dos blogues, do Google e <strong>da</strong>s<br />
redes sociais.<br />
O escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s escutas no Reino<br />
Unido e a cultura que existe nos tablóides<br />
de Rupert Murdoch mostram preto<br />
no branco o papel vital do jornalismo<br />
de quali<strong>da</strong>de, independente, que não<br />
serve interesses, que observa a reali<strong>da</strong>de,<br />
procura respostas, descobre algumas,<br />
verifica to<strong>da</strong>s e organiza a informação para<br />
o público.<br />
Entre o oceano de presságios<br />
pessimistas sobre esta “dying industry”, há<br />
quem defen<strong>da</strong> que os jornais de quali<strong>da</strong>de<br />
— tal como as grandes ci<strong>da</strong>des —, não<br />
vão mu<strong>da</strong>r de lugar. Ou seja, que vão<br />
continuar onde estão e a definir a agen<strong>da</strong><br />
dos seus países. Eu acredito nisso. Há<br />
também quem olhe para os jornais como<br />
lareiras e veja nisso uma esperança. Ou<br />
seja, se os jornais conseguirem continuar<br />
a ser centrais na vi<strong>da</strong> doméstica têm um<br />
caminho pela frente. O editor de media<br />
do diário The Guardian <strong>da</strong>va no Verão um<br />
exemplo disto. Estava na sala a ler o jornal<br />
quando o filho lhe perguntou porque<br />
é que a Colômbia não tinha apoiado<br />
o Estado <strong>da</strong> Palestina. Foram precisos<br />
alguns segundos para que o pai percebesse<br />
que a pergunta – aparentemente caí<strong>da</strong><br />
do céu – surgira porque o filho olhara<br />
para uma infografia publica<strong>da</strong> no jornal.<br />
Pousado no sofá, suave e pacífico, quase<br />
humilde, o jornal organiza o nosso caos<br />
informativo e, tal como as lareiras, dá-nos<br />
a sensação de que há ordem no mundo.
40 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong><br />
Revisão <strong>da</strong> política comum<br />
Pescadores<br />
temem<br />
novos riscos<br />
Cátia<br />
Rodrigues<br />
Foi o então primeiro-ministro Cavaco<br />
Silva que, em 1988, começou<br />
a aplicar a Política Comum de Pesca<br />
em Portugal. À época, Portugal<br />
detinha, juntamente com Espanha,<br />
a maior frota pesqueira <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>.<br />
Passados 20 anos, a Espanha é a<br />
grande potência europeia pesqueira.<br />
Apostou sobretudo nas grandes<br />
embarcações e tem frotas em to<strong>da</strong>s<br />
as águas do mundo.<br />
Para Portugal, os números são<br />
desanimadores, mesmo tendo uma<br />
zona económica exclusiva de 200<br />
milhas, a maior de to<strong>da</strong> a União Europeia.<br />
Segundo <strong>da</strong>dos do INE, o<br />
saldo negativo <strong>da</strong> balança comercial<br />
de produtos <strong>da</strong> pesca atingiu, em<br />
2006, os 808 milhões de euros, enquanto<br />
em 1985 (antes <strong>da</strong> adesão)<br />
o saldo verificado era de 30 milhões<br />
de euros. O pescado desembarcado<br />
passou <strong>da</strong>s 250.000 tonela<strong>da</strong>s, em<br />
1985, para as 141.000 tonela<strong>da</strong>s, em<br />
2006. Por outro lado, em 1985, 85%<br />
do consumo de produtos <strong>da</strong> pesca<br />
era de produção própria (pescado<br />
descarregado, em peso), enquanto,<br />
em 2006, apenas 35% do consumo<br />
correspondia à pesca nacional.<br />
Já a frota de pesca reduziu-se em<br />
cerca de 53%, entre 1985 e 2010. O<br />
número de pescadores matriculados,<br />
que diminuiu cerca de 59% no<br />
A redução <strong>da</strong> frota portuguesa conduziu à<br />
diminuição do número de pescadores e do<br />
volume de peixe capturado. Entre 1985 e 2006, o<br />
pescado sofreu uma quebra de 109 mil tonela<strong>da</strong>s<br />
mesmo período, sublinha o envelhecimento<br />
do setor.<br />
Se Espanha apostou na pesca<br />
de grandes embarcações, Portugal<br />
apostou em receber os subsídios<br />
europeus para abate <strong>da</strong>s frotas. A<br />
redução <strong>da</strong> frota teve como consequência<br />
a diminuição do número<br />
de pescadores e do volume de peixe<br />
capturado. E, evidentemente, as indústrias<br />
que vivem <strong>da</strong> pesca, como<br />
as indústrias de conserva de peixe<br />
e as indústrias de construção naval,<br />
também perderam a sua capaci<strong>da</strong>de<br />
produtiva.<br />
Para João Ferreira, euro-deputado<br />
comunista e membro <strong>da</strong> Comissão<br />
<strong>da</strong>s Pescas no Parlamento Europeu,<br />
em ca<strong>da</strong> política há quem ganhe e<br />
quem perca. Acrescenta que “esta<br />
política beneficia alguns e esses interesses<br />
são os que têm determinado o<br />
rumo <strong>da</strong> UE. Quando Portugal tem<br />
de comprar 2/3 do peixe que consome,<br />
compra-o a alguém.”<br />
A <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> tentou ouvir a<br />
opinião dos outros grupos parlamentares<br />
e do governo português, mas, à<br />
exceção do PCP, mais nenhum dirigente<br />
político prestou declarações.<br />
Para os pescadores portugueses<br />
estes números são a sua reali<strong>da</strong>de.<br />
Os problemas que enfrentam diariamente<br />
são vários. Vão desde o baixo<br />
rendimento, às quotas impostas e ao<br />
preço astronómico <strong>da</strong> gasolina.<br />
Manuel Sacramento é reformado<br />
mas continua a ir ao porto de Sines<br />
todos os dias. Está-lhe no sangue e<br />
na rotina. Com 85 anos já não pesca,<br />
mas tem opinião segura sobre o<br />
estado do setor. “Quem ganha com<br />
isto são os patrões, que recebem o<br />
dinheiro <strong>da</strong> CEE. Quem sofre são os<br />
pequenos.”<br />
Baixo rendimento Francisco Pedro<br />
também é pescador em Sines.<br />
Tem 42 anos e vai ao mar desde os<br />
14 anos. Seguiu o mesmo caminho<br />
que o pai, mas garante que já gostou<br />
mais desta vi<strong>da</strong>. “É uma vi<strong>da</strong> muito<br />
dura! As condições que o Estado<br />
nos dá são ca<strong>da</strong> vez piores. Estamos<br />
há três meses sem apanhar sardinha<br />
por causa do defeso.” E quando não<br />
pescam, não ganham. Acrescenta,<br />
aliás, que a poupança é uma constante.<br />
Em sua opinião “devia haver<br />
uma verba para maneio,” nestas circunstâncias.<br />
O rendimento é não só irregular<br />
como é baixo, já que um pescador<br />
pode passar por vários períodos<br />
em que não vai ao mar, seja devido<br />
ao mau tempo, seja por ter de respeitar<br />
as épocas de defeso do peixe,<br />
defini<strong>da</strong>s pela UE. Nestes períodos,<br />
O Alentejo apresenta potenciali<strong>da</strong>des e dispõe de<br />
alguns importantes núcleos estratégicos, que fazem sobressair as assimetrias.<br />
Falta-lhe superar dificul<strong>da</strong>des cria<strong>da</strong>s à agricultura e pescas. Falta-lhe ligar os<br />
polos susceptíveis de gerar desenvolvimento. (na foto, Docapesca de Sines)<br />
hElENA RODRiGUES
42 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 43<br />
os pescadores sabem que são quase<br />
nulos os seus meios de subsistência,<br />
<strong>da</strong>dos os problemas burocráticos de<br />
acesso ao fundo de compensação salarial.<br />
Para as épocas do defeso não<br />
existe apoio nenhum e a própria legislação<br />
europeia não permite esse<br />
tipo de apoio, a não ser em situações<br />
excecionais.<br />
Ricardo Santos, presidente <strong>da</strong><br />
Sesibal, cooperativa de pescas de<br />
Sesimbra, Sines e Setúbal, também<br />
critica a maneira como as épocas<br />
de defeso do peixe são geri<strong>da</strong>s. “O<br />
pescador não tem rendimento fixo e<br />
eles ignoram e não querem saber <strong>da</strong>s<br />
pessoas. Para haver épocas de defeso<br />
tinha de haver compensação.”<br />
Outra questão que afeta os salários<br />
dos pescadores é a sistema de<br />
ven<strong>da</strong> do peixe, que é feita por um<br />
sistema de leilão decrescente na<br />
lota, em que ganha aquele que der<br />
menos. Para Paulo Mesquita, pescador<br />
setubalense, a culpa dos salários<br />
baixos deve-se, precisamente, ao sistema<br />
de leilão, imposto pela UE. “A<br />
gente vende aqui o peixe barato e na<br />
praça está caro. Esses é que ganham<br />
o dinheiro, não somos nós.”<br />
Pagar mais ao pescador Os pescadores<br />
parecem unânimes em defender<br />
o antigo sistema de ven<strong>da</strong>s<br />
em que existia uma taxa máxima de<br />
lucro para o comprador em lota – e<br />
mais tarde revendedor desse peixe<br />
–, que era de 20%. Tal método garantia<br />
que, se o revendedor quisesse<br />
vender o peixe a um preço alto, também<br />
teria de pagar de pagar mais ao<br />
pescador. Com a adoção <strong>da</strong> política<br />
comum esta prática foi bani<strong>da</strong>, uma<br />
vez que violava os princípios do<br />
mercado livre.<br />
O preço <strong>da</strong> gasolina é o custo de<br />
produção que mais pesa sobre o setor.<br />
Em Portugal só o gasóleo é subsidiado,<br />
mas a maioria <strong>da</strong>s embarcações<br />
nacionais utilizam gasolina e<br />
esta não tem apoio estatal. “O pescador<br />
assim que sai para o mar já está<br />
a gastar dinheiro que não sabe se vai<br />
reaver”, diz Mário Chagas, mestre<br />
duma embarcação setubalense.<br />
Joaquim Reis pesca em Setúbal<br />
e queixa-se <strong>da</strong>s penalizações<br />
<strong>da</strong> polícia marítima. “Os polícias<br />
têm ordenado certo, mas nós temos<br />
de apanhar para comer, e eles<br />
an<strong>da</strong>m em cima sempre, sempre,<br />
sempre a massacrar! Isto chega<br />
a um ponto que vai rebentar. Tenho<br />
pena que não haja capitães de<br />
Abril para haver outro 25 de Abril.”<br />
Também para Ricardo Santos a<br />
burocracia imposta pela UE é excessiva.<br />
“Há aqui um barco que teve<br />
um problema e a palavra ‘Mar’ ficou<br />
um pouco sumi<strong>da</strong>. Chegou lá a Capitania<br />
e aplicou uma coima que<br />
vai dos 249 aos 74 mil euros. Isto é<br />
que acontece todos os dias na nossa<br />
vi<strong>da</strong>. Outra exemplo, um barco tem<br />
de ter 28 documentos para mostrar<br />
à polícia. Em Espanha existe um único<br />
documento! Nós nunca tivemos<br />
uma política para a pesca em Por-<br />
Manuel Sacramento é reformado mas<br />
vai ao porto de Sines todos os dias<br />
hElENA RODRiGUES<br />
iNêS FERNANDES<br />
tugal. Ficámos sempre à sombra <strong>da</strong><br />
bananeira <strong>da</strong> UE e política de pesca<br />
comunitária foi um fracasso rotundo.<br />
Foi feita a pensar na pesca do<br />
mar do norte.”<br />
Quanto ao sistema de quotas e<br />
TAC (Totais Admissíveis de Captura),<br />
que ain<strong>da</strong> não se sabe bem com<br />
vai ficar, também os pescadores têm<br />
uma palavra a dizer. Ricardo Santos<br />
defende que se deveria fazer um<br />
outro tipo de gestão do peixe. “Por<br />
exemplo, devíamos pescar x dias de<br />
segui<strong>da</strong> e quando a quota se acabasse<br />
não podíamos pescar mais, mas<br />
teria de haver mecanismos de compensação.”<br />
O sistema que hoje vigora é o de<br />
quotas e TAC. É um sistema que<br />
apenas permite aos Estados-membros<br />
capturarem um determinado<br />
número de peixe consoante a quota<br />
e TAC que lhe é <strong>da</strong><strong>da</strong> anualmente<br />
pela Comissão Europeia. A Comissão<br />
calcula essa quota com base<br />
em recomen<strong>da</strong>ções científicas que<br />
atestam o número de população de<br />
peixe de determina<strong>da</strong> espécie. Para<br />
<strong>da</strong>r dois exemplos, o número de<br />
quotas para Portugal, em 2011, foi<br />
de 669 tonela<strong>da</strong>s e de 25.795 tonela<strong>da</strong>s,<br />
respetivamente, para linguado<br />
e carapau.<br />
Com a revisão <strong>da</strong> política comuni-<br />
tária <strong>da</strong>s pescas o sistema atual vai-se<br />
alterar. No entanto, os problemas que<br />
impedem que o setor cresça parecem<br />
não ser objeto de discussão por parte<br />
de Bruxelas. Pelo contrário, um setor<br />
que tem vindo a diminuir a sua ativi<strong>da</strong>de<br />
de ano para ano, vai passar a<br />
correr riscos ain<strong>da</strong> mais sérios.<br />
A UE pretende agora conciliar<br />
o sistema de quotas e TAC com o<br />
sistema de direitos de pesca transferíveis.<br />
Este sistema permite que<br />
os armadores possam comprar e<br />
vender os seus direitos de pesca. O<br />
novo modelo pretende favorecer a<br />
concentração desses direitos, para<br />
que possa abater mais frota – o<br />
grande objetivo desde sempre de<br />
Bruxelas em relação a esta matéria–,<br />
mas ao mesmo tempo evitar uma<br />
concentração excessiva do mercado<br />
e proteger a pequena pesca costeira,<br />
atribuindo-lhe uma percentagem<br />
(ain<strong>da</strong> não especifica<strong>da</strong>) <strong>da</strong>s quotas<br />
nacionais de ca<strong>da</strong> Estado-membro.<br />
A proibição <strong>da</strong> devolução de peixe<br />
morto ao mar é, provavelmente,<br />
<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s mais populares desta<br />
nova política de pecas. Com a imposição<br />
do sistema de quotas e TAC,<br />
os pescadores quando lançavam a<br />
rede recolhiam o peixe <strong>da</strong>s espécies<br />
com quota disponível, mas acabava<br />
também por vir peixe cuja quota já<br />
estava esgota<strong>da</strong>. Como não podiam<br />
desembarcar esse peixe, a única solução<br />
era deita-lo ao mar. Esta prática<br />
passa a ser proibi<strong>da</strong>.<br />
Outra <strong>da</strong>s propostas em cima <strong>da</strong><br />
mesa é a regionalização desta política,<br />
que consiste em a<strong>da</strong>ptar as regras<br />
comuns às especifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong><br />
país. Para Portugal esta questão será<br />
essencial, uma vez que será muito difícil<br />
implementar o Sistema de Concessão<br />
de Pescas Transferíveis. Num<br />
país em que mais de 90% <strong>da</strong> pesca<br />
é de pequena dimensão, mesmo que<br />
a UE reserve uma parte <strong>da</strong>s quotas<br />
para este tipo de pesca, isto pode significar<br />
que um setor, que já está em<br />
forte declínio, pode enfrentar graves<br />
problemas de sobrevivência.<br />
Uma vez que este sistema de concessão<br />
é de carácter obrigatório, os<br />
pescadores serão obrigados a vender<br />
os seus direitos de pesca a armadores<br />
economicamente mais fortes e a<br />
saírem <strong>da</strong> profissão. Ain<strong>da</strong> que a UE<br />
preveja subsídios para os pescadores<br />
que se virão forçados a sair do setor,<br />
o problema <strong>da</strong>s pescas portuguesas<br />
fica por resolver. Prevê-se que a nova<br />
política entre em vigor em 2013.<br />
Lota de Sines<br />
Limitações<br />
à pesca<br />
Maria<br />
de Deus<br />
Carranca<br />
Higino Francisco Malafaia, 64<br />
anos, já foi pescador, mas hoje é o<br />
responsável pela área de exploração<br />
<strong>da</strong> doca pesca de Sines. “Basta<br />
olhar a côr do peixe para saber<br />
em que zona <strong>da</strong> costa foi pescado”,<br />
garante. E revela um gosto especial<br />
pelas funções que exerce, “sempre<br />
disponível para ser contactado a<br />
qualquer hora de dia ou de noite”,<br />
esclarece com prontidão dúvi<strong>da</strong>s<br />
aos armadores e “não concilia o<br />
sono em noites de temporal se<br />
porventura alguma embarcação<br />
estiver em alto mar”.<br />
A faina <strong>da</strong> pesca cumpre-se entre<br />
6 a 8 milhas <strong>da</strong> costa em busca<br />
de besugos e cavalas que abun<strong>da</strong>m<br />
ao longo do ano, enquanto que os<br />
meses de Junho, Julho e Agosto<br />
serão mais favoráveis à sardinha.<br />
“A nível nacional, Sines é campeã<br />
<strong>da</strong> sardinha que precisa de alguns<br />
meses até atingir a maturi<strong>da</strong>de,<br />
enquanto outras espécies são de<br />
crescimento mais rápido”, esclarece<br />
mestre Malafaia.<br />
Na lota de Sines “as regras são<br />
cumpri<strong>da</strong>s e o tamanho mínimo<br />
para a sardinha é de 11 cm e para<br />
os ‘jaquinzinhos’ [mini carapaus]<br />
de 12 cm”, refere. Para Malafaia,<br />
“garantir o consumo de um produto<br />
de quali<strong>da</strong>de depende <strong>da</strong> época<br />
do ano, há que evitar o consumo<br />
de pescado em épocas de defeso”,<br />
quando as espécies piscícolas são<br />
juvenis ou estão em reprodução, já<br />
que respeitar a sazonali<strong>da</strong>de permite<br />
preservar a biodiversi<strong>da</strong>de<br />
marinha.<br />
A captura dos peixes é limita<strong>da</strong><br />
pelos Totais Admissíveis de Captura<br />
(TAC). As quotas de pesca e os<br />
TAC são decididos pelos Estados-<br />
Membros com base numa proposta<br />
apresenta<strong>da</strong> pela Comissão devi<strong>da</strong>-<br />
Pescadores queixam-se<br />
<strong>da</strong> falta de pescado e do<br />
aumento de combustíveis<br />
mente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em recomen<strong>da</strong>ções<br />
científicas. Os TAC são definidos<br />
anualmente para a maioria<br />
<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des populacionais, e bianualmente,<br />
para as espécies de profundi<strong>da</strong>de.<br />
A União Europeia está<br />
empenha<strong>da</strong> em gerir os recursos<br />
haliêuticos (arte de pescar) com<br />
vista a obter o máximo rendimento<br />
sustentável. “A anchova está em<br />
risco de extinção bem como outras<br />
espécies”, refere Malafaia.<br />
O Fundo Europeu <strong>da</strong>s Pescas<br />
(FEP) é o instrumento financeiro<br />
<strong>da</strong> Política Comum <strong>da</strong>s Pescas<br />
(PCP) para o período entre 2007<br />
e 2013 e destina-se a apoiar a exploração<br />
sustentável dos recursos<br />
piscatórios, o reforço <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de<br />
a viabili<strong>da</strong>de do setor e<br />
apoio às pessoas emprega<strong>da</strong>s no<br />
setor.<br />
A lota de Sines alberga 14 trabalhadores<br />
e sete contratados (na<br />
hora, sem ordenado fixo e pagos<br />
pela equipa do barco consoante<br />
o volume de pescado), já que ca<strong>da</strong><br />
barco que sai para o mar leva 20<br />
homens. As traineiras podem estar<br />
três a quatro dias no mar e quando<br />
regressam trazem entre 70 a 80<br />
tonela<strong>da</strong>s de pescado. O principal<br />
problema com que se debatem é a<br />
falta de pescado e o aumento constante<br />
do preço dos combustíveis.<br />
A aquacultura (criação do peixe<br />
em armadilhas/tanques dentro<br />
do mar) também vem à lota para<br />
acondicionar o peixe e paga uma<br />
taxa para esse efeito<br />
Higino Malafaia tem esperança<br />
que a União Europeia olhe com<br />
outros olhos para as quotas nacionais<br />
de pescado e que as leis sejam<br />
mais favoráveis para as 200 milhas<br />
portuguesas de Zona Exclusiva de<br />
Pesca.
44 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 45<br />
Entrevista João Ferreira eurodeputado<br />
“O setor <strong>da</strong>s pescas<br />
foi desprezado pelos<br />
sucessivos governos”<br />
Fabíola<br />
Maciel<br />
Chegou ao Parlamento Europeu<br />
em 2009 e integra atualmente o<br />
Comité <strong>da</strong>s Pescas, a Delegação<br />
à Comissão Parlamentar Mista<br />
UE-antiga República Jugoslava<br />
<strong>da</strong> Macedónia e a Delegação à<br />
Assembleia Parlamentar Paritária<br />
ACP-UE.<br />
A representar o Grupo<br />
Confederal <strong>da</strong> Esquer<strong>da</strong> Unitária<br />
Europeia/Esquer<strong>da</strong> Nórdica<br />
Verdes, João Ferreira considera<br />
importante “representar os<br />
interesses nacionais”, mas vê<br />
a função como “uma tarefa<br />
temporária e não uma carreira<br />
profissional”. O partido fez-lhe essa<br />
proposta e aceitou, mas “num certo<br />
sentido foi uma surpresa”.<br />
Sempre teve um grande<br />
envolvimento no plano <strong>da</strong><br />
intervenção social, cívica e política.<br />
No final do ensino secundário<br />
entrou para a JCP por se identificar<br />
com os objetivos e com o<br />
programa. Na facul<strong>da</strong>de passou<br />
a ter um envolvimento maior a<br />
nível associativo, até fez parte <strong>da</strong><br />
Associação de Estu<strong>da</strong>ntes e dos<br />
órgãos de gestão <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de.<br />
Dado que existe uma eleição<br />
direta, acha que a população<br />
portuguesa se sente bem<br />
representa<strong>da</strong> no Parlamento<br />
Europeu?<br />
Nem sempre. Isso tem que ver<br />
com o afastamento que se foi<br />
criando entre os representantes e<br />
os representados. Esse afastamento<br />
existe porque nem todos têm<br />
a mesma postura, na qual o<br />
representante deve ter uma ligação<br />
O biólogo eleito como eurodeputado pelo PCP<br />
considera que a voz dos ci<strong>da</strong>dãos não é ouvi<strong>da</strong> pelas<br />
instituições europeias<br />
estreita aos que o elegem. O facto<br />
de as decisões <strong>da</strong> União Europeia<br />
estarem ca<strong>da</strong> vez mais longe <strong>da</strong>s<br />
pessoas e dos países também<br />
contribui para a perceção erra<strong>da</strong> de<br />
que o voto conta ca<strong>da</strong> vez menos.<br />
Os ci<strong>da</strong>dãos votam em<br />
representantes individuais ou<br />
em orientações partidárias?<br />
As pessoas efetivamente votam<br />
em partidos. O pior que pode<br />
acontecer é elas esquecerem-se<br />
que estão a votar em partidos e<br />
pensarem que porque mudou<br />
uma cara estão a votar em algo<br />
completamente diferente. É bom<br />
que o partido seja responsabilizado<br />
senão as pessoas são engana<strong>da</strong>s,<br />
que é o que tem acontecido.<br />
“As pessoas<br />
na hora de votar,<br />
ou não votam<br />
ou votam<br />
engana<strong>da</strong>s”<br />
É fácil conciliar os ideais de<br />
um partido com os ideais <strong>da</strong><br />
União Europeia?<br />
Os ideais do nosso partido<br />
são os ideais do nosso povo.<br />
Acreditamos na defesa dos<br />
trabalhadores, dos pequenos<br />
e médios empresários, dos<br />
agricultores, dos pescadores,<br />
dos pequenos comerciantes... Se<br />
é fácil? Nem sempre é, porque<br />
muitas decisões toma<strong>da</strong>s lá são<br />
contrárias aos nossos interesses.<br />
Na maior parte <strong>da</strong>s vezes aquilo<br />
que defendemos acaba por ser<br />
diferente do que é decidido lá. Por<br />
isso é que tentamos aproximar as<br />
pessoas <strong>da</strong>quilo que é discutido.<br />
Se as pessoas não conhecem o<br />
que se passa lá (e há muita gente<br />
que prefere assim) não podem<br />
defender os seus interesses. As<br />
pessoas na hora de votar, ou não<br />
votam ou votam engana<strong>da</strong>s.<br />
Existe de facto um défice<br />
democrático?<br />
Há um défice enorme. A<br />
Democracia <strong>da</strong> forma como nós<br />
a concebemos e entendemos<br />
exige a participação <strong>da</strong>s pessoas.<br />
A ver<strong>da</strong>de é que a participação<br />
<strong>da</strong>s pessoas na União Europeia é<br />
ca<strong>da</strong> vez mais despreza<strong>da</strong>. Por um<br />
lado, os centros de decisão são<br />
retirados <strong>da</strong>s estruturas de poder<br />
mais próximas <strong>da</strong>s pessoas. Por<br />
outro lado, se olharmos para as<br />
diferentes fases dos processos de<br />
integração, foram sempre feitos<br />
“nas costas” do povos. Pensemos<br />
na União Económica e Monetária<br />
ou na Moe<strong>da</strong> Única, foram<br />
passos fun<strong>da</strong>mentais do processo<br />
de construção <strong>da</strong> UE. Sempre<br />
defendemos que houvesse um<br />
maior debate em Portugal e até a<br />
realização de referendos.<br />
Neste momento, as pessoas<br />
olham para a União Europeia<br />
como uma oportuni<strong>da</strong>de de<br />
crescimento ou como um<br />
impedimento para o avanço do<br />
país?<br />
Agora começa a haver uma<br />
melhor perceção dos prejuízos<br />
que Portugal teve em muitas<br />
áreas. No passado, fruto de uma<br />
propagan<strong>da</strong> que se fez sobre os<br />
fundos comunitários, criou-se uma<br />
ideia diferente <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Desde<br />
essa altura que alertámos para a<br />
outra face que incluia a destruição<br />
<strong>da</strong> Agricultura, <strong>da</strong> Pesca e <strong>da</strong><br />
Indústria. Hoje é mais percetível<br />
a insuficiência e má utilização dos<br />
fundos comunitários em alguns<br />
casos.<br />
Em relação às pescas, que<br />
balanço faz <strong>da</strong> implementação<br />
<strong>da</strong> PCP em Portugal?<br />
Portugal só na primeira déca<strong>da</strong> de<br />
adesão perdeu 36% <strong>da</strong> sua frota<br />
e 40% <strong>da</strong>s capturas. Na déca<strong>da</strong><br />
seguinte esta evolução negativa<br />
continuou, porque temos um<br />
setor profun<strong>da</strong>mente envelhecido<br />
FABÍOlA MACiEl<br />
João Ferreira defende que existe “um défice democrático enorme” na UE<br />
e com problemas de rendimento<br />
crónicos. Portanto, o balanço é<br />
negativo.<br />
Que benefícios trouxe a<br />
adesão?<br />
Globalmente o balanço foi<br />
francamente negativo, mas houve<br />
aspetos positivos pontuais. Alguns<br />
fundos comunitários foram<br />
utilizados para construir novas<br />
embarcações, mas foi a exceção e<br />
“A ver<strong>da</strong>de é que<br />
a participação<br />
<strong>da</strong>s pessoas<br />
na União Europeia<br />
é ca<strong>da</strong> vez<br />
mais despreza<strong>da</strong>”<br />
não a regra. A regra foi os fundos<br />
comunitários serem utilizados para<br />
abater frota. O setor <strong>da</strong>s Pescas<br />
foi negligenciado ou até mesmo<br />
desprezado pelos sucessivos<br />
governos.<br />
O que é necessário fazer para<br />
inverter esta tendência?<br />
Portugal está numa situação em<br />
que precisa de investir nos seus<br />
setores produtivos. Portugal tem a<br />
maior Zona Económica e Exclusiva<br />
(ZEE) <strong>da</strong> União Europeia e, por<br />
isso, o mar é uma riqueza imensa se<br />
for bem aproveitado. Portugal tem,<br />
em primeiro lugar, que defender<br />
os seus interesses enquanto país<br />
com a maior ZEE e defender a sua<br />
soberania sobre os seus recursos<br />
pesqueiros. Ao investirmos<br />
nas pescas estamos também<br />
a desenvolver a Construção<br />
Naval, a Indústria Conserveira,<br />
Transformação de Pescado, entre<br />
outros.<br />
É possível tornar o setor<br />
piscatório sustentável?<br />
Sem dúvi<strong>da</strong> que é possível.<br />
Primeiro tem que haver um<br />
investimento em infra-estruturas<br />
de apoio à ativi<strong>da</strong>de piscatória,<br />
como lotas e postos de<br />
conservação de pescado. Depois<br />
tem que haver um investimento na<br />
formação profissional <strong>da</strong>s pessoas<br />
para entrar gente nova.<br />
O que pode atrair os jovens?<br />
É preciso tornar os rendimentos<br />
<strong>da</strong> pesca minimamente condignos.<br />
Por condicionalismos naturais<br />
esta ativi<strong>da</strong>de é irregular, mas isso<br />
não significa que os rendimentos<br />
também o sejam. O peixe e os<br />
salários têm que ser valorizados.<br />
Ninguém quer ficar num setor<br />
onde recebe pouco e ain<strong>da</strong> arrisca<br />
a vi<strong>da</strong>.<br />
Como prevê os próximos<br />
dez anos para as pescas em<br />
Portugal?<br />
Tenho uma visão sempre otimista,<br />
mas não posso deixar de ser<br />
realista. De facto, o que está em<br />
cima <strong>da</strong> mesa não pronuncia um<br />
futuro risonho. Acredito que a<br />
reali<strong>da</strong>de se mu<strong>da</strong> todos os dias<br />
e, neste momento, é preciso uma<br />
mobilização muito forte <strong>da</strong>s<br />
populações para impedir que os<br />
problemas sejam agravados.
O Txxi iniciou<br />
operações<br />
em 2004 e<br />
representou<br />
uma nova<br />
dinâmica no<br />
porto de Sines<br />
46 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 47<br />
Sines na vanguar<strong>da</strong> do desenvolvimento<br />
Porta atlântica<br />
<strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />
Ana<br />
Margari<strong>da</strong><br />
Pereira<br />
As obras de alargamento do Terminal XXI<br />
permitiram que a área do cais de Sines crescesse<br />
mais 350 metros atingindo, assim, 730 metros<br />
e uma área de armazenagem de 25 hectares<br />
A Administração do Porto de Sines<br />
(APS) e a Port Singapore Authority<br />
- Sines (PSA Sines) concluíram,<br />
em Março deste ano, a fase 1B <strong>da</strong><br />
expansão do Terminal de Contentores.<br />
O denominado Terminal XXI<br />
(TXXI) quadruplica, assim, a sua<br />
capaci<strong>da</strong>de de movimentação de<br />
carga contentoriza<strong>da</strong> dos 250 mil<br />
para 1 milhão de TEU por ano (medi<strong>da</strong><br />
para contentores de 20 pés).<br />
O terminal está atualmente equipado<br />
com cinco pórticos de cais de<br />
última geração, 12 gruas de parque e<br />
tem capaci<strong>da</strong>de para dois megacar-<br />
riers (navios de carga de grandes dimensões)<br />
em simultâneo. Um sexto<br />
pórtico de cais e mais três gruas de<br />
parque são esperados até ao final<br />
deste ano, de acordo com comunicado<br />
<strong>da</strong> APS.<br />
O alargamento representou um<br />
investimento de 78 milhões de euros<br />
e foi <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> concessionária<br />
PSA Sines que opera no<br />
porto alentejano. Esta ampliação<br />
insere-se num plano de desenvolvimento<br />
faseado que ficará concluído<br />
em 2014.<br />
No final <strong>da</strong> expansão o cais terá<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
uma extensão de 940 metros e capaci<strong>da</strong>de<br />
para 1 milhão e meio de<br />
TEU. O empreendimento representará<br />
um total de 200 milhões de<br />
euros investidos por esta concessionária<br />
especializa<strong>da</strong> e líder a nível<br />
mundial na operação de contentores.<br />
Com este melhoramento <strong>da</strong> zona<br />
de manobra do TXXI, o porto de Sines<br />
ficará preparado para receber os<br />
maiores navios do mundo, incluindo<br />
os de maior capaci<strong>da</strong>de de transporte<br />
de 18 mil TEU que ain<strong>da</strong> estão<br />
a ser desenvolvidos pela Maersk.<br />
O porto de Sines terá gerado lucros<br />
de 6 milhões de euros, de acordo<br />
com o responsável pela comunicação<br />
<strong>da</strong> APS. O porto alentejano<br />
não recebe recursos financeiros provenientes<br />
do Orçamento de Estado.<br />
Conta com apoios comunitários<br />
de desenvolvimento do QREN –<br />
Quadro de Referência Estratégico<br />
Nacional com os quais investe essencialmente<br />
nos Sistemas de Informação<br />
topo de gama, e na segurança<br />
do porto e dos seus trabalhadores.<br />
APS premia<strong>da</strong> com “Projeto SIIG<br />
do ano” O prémio “Projeto SIIG<br />
do ano 2011” foi atribuído ao Porto<br />
de Sines durante o 10.º Encontro<br />
de Utilizadores ESRI Portugal – o<br />
maior e mais importante evento<br />
nacional de Sistemas de Informação<br />
Geográfica – que decorreu em Lisboa,<br />
no mês de Março.<br />
O projeto SIIG – Sistema de<br />
Identificação e Informação Geográfica,<br />
desenvolvido pela APS, foi<br />
distinguido pelas vantagens e inovação<br />
que trouxe à gestão do porto<br />
de Sines. Um dos módulos do SIIG<br />
em destaque foi o de Planeamento<br />
Operacional, que de acordo com<br />
comunicado oficial <strong>da</strong> APS “apresenta<br />
caraterísticas singulares e inovadoras”.<br />
Os utilizadores deste módulo<br />
podem, com base na informação<br />
operacional e de segurança, realizar<br />
cenários de operações e simular geograficamente<br />
o estado e a ocupação<br />
do porto no horizonte temporal<br />
desejado. A sua utilização permite<br />
otimizar a ocupação dos cais, a utilização<br />
dos recursos e a fluidez dos<br />
navios que utilizam o porto de Sines.<br />
O SIIG está integrado com a JUP<br />
– Janela Única Portuária, uma plataforma<br />
tecnológica de última geração<br />
que permite o acesso de to<strong>da</strong>s as<br />
autori<strong>da</strong>des envolvi<strong>da</strong>s na ação de<br />
despacho aos navios. Este projeto,<br />
criado em Portugal e pioneiro a nível<br />
mundial, engloba os três portos<br />
nacionais: Sines, Lisboa e Leixões.<br />
O objetivo é acelerar e reduzir a burocracia<br />
que envolve o despacho de<br />
navios e mercadorias e tornar tudo<br />
possível em apenas trinta minutos.<br />
O mesmo comunicado <strong>da</strong> APS<br />
adianta que o investimento do SIIG<br />
foi de 300 mil euros e contou com<br />
o cofinanciamento comunitário do<br />
Programa Operacional Valorização<br />
do Território do QREN.<br />
Avaliação do programa de aju<strong>da</strong> externa<br />
Desemprego e<br />
reformas laborais<br />
à espreita<br />
Rita<br />
Oliveira<br />
A Comissão Europeia divulgou o relatório<br />
de avaliação <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> externa<br />
a Portugal e mostrou-se surpreendi<strong>da</strong><br />
com os números do desemprego.<br />
“Ficámos um pouco surpreendidos<br />
com a subi<strong>da</strong> do desemprego e<br />
ain<strong>da</strong> temos dificul<strong>da</strong>des em interpretar<br />
estes números”, alerta Peter<br />
Weiss, responsável <strong>da</strong> Direcção-<br />
Geral dos Assuntos Económicos e<br />
Financeiros (ECFIN).<br />
O alerta foi <strong>da</strong>do no início de<br />
Abril no relatório apresentado pela<br />
Comissão Europeia sobre a terceira<br />
avaliação <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> externa a Portugal.<br />
O relatório faz uma apreciação<br />
do cumprimento dos termos<br />
e condições do programa de aju<strong>da</strong><br />
externa e sumariza as conclusões<br />
<strong>da</strong> mais recente avaliação feita pela<br />
troika [Comissão Europeia, Banco<br />
Central Europeu (BCE) e Fundo<br />
Monetário Internacional(FMI)],<br />
que esteve em Portugal entre 15 e<br />
27 de Fevereiro.<br />
Na conferência de apresentação<br />
do relatório, Peter Weiss adiantou<br />
que os números do desemprego podem<br />
estar relacionados com a sazonali<strong>da</strong>de,<br />
efeitos que poderão ain<strong>da</strong><br />
não ter sido correctamente descontados<br />
nas estatísticas. Outra razão<br />
adianta<strong>da</strong> por Peter Weiss prendese<br />
com as alterações nas regras do<br />
subsídio de desemprego, fator que<br />
pode ter levado diversas pessoas ou<br />
empresas a antecipar as decisões<br />
de demissão ou desemprego para,<br />
assim, poderem beneficiar do regime<br />
anterior (mais favorável para<br />
os desempregados). Peter Weiss<br />
Governo português pode<br />
ser obrigado a tomar medi<strong>da</strong>s<br />
de austeri<strong>da</strong>de adicionais, mas<br />
Portugal ain<strong>da</strong> corre riscos<br />
alertou ain<strong>da</strong> para o facto de existir<br />
um “risco de termos de rever os números<br />
do desemprego na próxima<br />
avaliação”, que acontecerá em Maio,<br />
ain<strong>da</strong> que as projecções <strong>da</strong> taxa de<br />
desemprego estejam em linha com<br />
os números previamente calculados.<br />
No entanto, o relatório diz que<br />
“em geral, o programa está a ser implementado”<br />
mas, ao mesmo tempo,<br />
“permanecem riscos significativos<br />
e desafios”, lê-se no documento.<br />
No grupo dos desafios poderão<br />
incluir-se as maiores reformas no<br />
mercado laboral que Bruxelas pede<br />
a Portugal. A Comissão alerta para<br />
a possibili<strong>da</strong>de de “ser necessário ir<br />
mais além do que os passos de reforma<br />
actualmente previstos, em áreas<br />
específicas como a duração dos subsídios<br />
de desemprego ou nos mecanismos<br />
de extensão dos acordos<br />
colectivos”.<br />
Aos jornalistas, Peter Weiss esclareceu<br />
ain<strong>da</strong> que a ideia é reduzir a<br />
duração do subsídio de desemprego<br />
para indivíduos com mais tempo<br />
de trabalho. “O Governo vai olhar<br />
para as várias medi<strong>da</strong>s implementa<strong>da</strong>s<br />
e ver o impacto que terão na<br />
economia”, disse o responsável pelo<br />
ECFIN. “Com base nisso poderemos<br />
chegar a um acordo de que serão<br />
necessárias mais medi<strong>da</strong>s”, disse.<br />
Para já, Peter Weiss deixou claro<br />
que “é crucial que o Governo assegure<br />
que não há atrasos na implementação<br />
<strong>da</strong>s reformas ambiciosas<br />
no mercado laboral, de produtos e<br />
serviços”, pode ain<strong>da</strong> ler-se no relatório.
48 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 49<br />
Aviação<br />
Tecnologia de<br />
ponta <strong>da</strong> Embraer<br />
aposta no Alentejo<br />
Elisianne<br />
Campos<br />
O segundo semestre de <strong>2012</strong> trará<br />
bons ventos ao Alentejo já que<br />
está prevista a inauguração de dois<br />
hangares <strong>da</strong> Embraer na região sul<br />
do país. As estruturas no distrito<br />
industrial de Évora estão em fase<br />
de finalização. Uma está destina<strong>da</strong> à<br />
construção de compósitos e a outra<br />
às estruturas metálicas. Os compósitos<br />
são materiais mais leves e resistentes<br />
que o alumínio e aju<strong>da</strong>m a<br />
poupar combustível pela minimização<br />
do peso, como a fibra de carbono.<br />
No hangar <strong>da</strong>s estruturas metálicas<br />
em Évora serão feitas peças para<br />
as asas e a cau<strong>da</strong> dos aviões.<br />
Os modelos Legacy 450 e 500<br />
são as primeiras aeronaves <strong>da</strong> Embraer<br />
a utilizar materiais compósitos<br />
também na cau<strong>da</strong>. A produção<br />
dos hangares será to<strong>da</strong> destina<strong>da</strong><br />
ao modelo Legacy 500, e deverá ser<br />
transporta<strong>da</strong> para o Brasil, onde as<br />
aeronaves serão monta<strong>da</strong>s. Porém,<br />
segundo o engenheiro João Pedro<br />
Tabor<strong>da</strong>, 40 anos, diretor de Relações<br />
Externas <strong>da</strong> Embraer <strong>Europa</strong>,<br />
a empresa está a estu<strong>da</strong>r a possibili<strong>da</strong>de<br />
de produzir peças também<br />
para outros modelos de aeronaves.<br />
Em Évora, o foco dos investimentos<br />
foi <strong>da</strong>do à tecnologia de ponta.<br />
Os dois novos hangares são os mais<br />
avançados do grupo e devem gerar<br />
O distrito industrial de Évora abriga os mais<br />
avançados hangares <strong>da</strong> empresa de aviação<br />
brasileira Embraer que promete gerar empregos<br />
e movimentar a economia local<br />
cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos.<br />
A empresa já firmou parceria<br />
com a Universi<strong>da</strong>de de Évora para<br />
recrutamento de profissionais de várias<br />
áreas <strong>da</strong> engenharia e prevê que<br />
as ativi<strong>da</strong>des na região sejam inicia<strong>da</strong>s<br />
no segundo semestre deste ano.<br />
“E em meados de 2013 pretendemos<br />
estar a trabalhar em nossa máxima<br />
capaci<strong>da</strong>de”, afirma João Tabor<strong>da</strong>.<br />
Auxílio <strong>da</strong> U.E. foi fun<strong>da</strong>mental<br />
para o projeto O investimento<br />
inicial feito nos dois hangares foi de<br />
148 milhões de euros e teve coparticipação<br />
<strong>da</strong> União Europeia. “Sem<br />
os fundos estruturais não estaríamos<br />
aqui”, garante o engenheiro. Os<br />
fundos que Évora recebe por estar<br />
inseri<strong>da</strong> no Alentejo (que tem direito<br />
a uma porcentagem maior de<br />
auxílio que outras regiões do país<br />
por ser carencia<strong>da</strong>) foram um dos<br />
atrativos que chamaram a atenção<br />
<strong>da</strong> empresa. “Tivemos incentivos e<br />
entendemos que a administração de<br />
Évora queria a fábrica aqui”, salienta<br />
João Tabor<strong>da</strong>.<br />
A escolha de Évora ain<strong>da</strong> está, segundo<br />
a empresa, relaciona<strong>da</strong> a uma<br />
criteriosa avaliação que incluiu o potencial<br />
acesso à mão-de-obra qualifica<strong>da</strong>,<br />
uma infra-estrutura logística e<br />
a existência do Parque <strong>da</strong> Indústria<br />
Aeronáutica, localizado próximo ao<br />
aeroporto municipal. Contacta<strong>da</strong> a<br />
presidência <strong>da</strong> Câmara Municipal<br />
de Évora, não se obteve resposta até<br />
ao fecho desta publicação.<br />
Além de Évora, a Embraer também<br />
está em Alverca. Em 2005, foi<br />
aberto o processo de privatização<br />
<strong>da</strong> OGMA - Indústria Aeronáutica<br />
de Portugal S.A., cujo consórcio<br />
vencedor era liderado pela Embraer.<br />
As suas principais ativi<strong>da</strong>des são<br />
de manutenção, reparação e revisão<br />
geral de aeronaves, de motores e de<br />
acessórios. Também lá se executam<br />
ações de modernização, modificação<br />
e integração de aeronaves, além<br />
do fabrico e montagem de componentes<br />
e estruturas de aeronaves.<br />
3ª No ranking mundial A Embraer,<br />
Empresa Brasileira de Aeronática<br />
S.A., nasceu em São José dos Campos,<br />
interior de São Paulo, e é a terceira<br />
maior construtora de aeronaves<br />
comerciais do mundo, ficando<br />
atrás <strong>da</strong> Boeing e <strong>da</strong> Airbus. É ela a<br />
fabricante <strong>da</strong>s aeronaves de 70 a 120<br />
lugares, utiliza<strong>da</strong>s pela TAP em voos<br />
de curta duração. A empresa fabrica<br />
ain<strong>da</strong> aviões privados, mas também<br />
militares, como o modelo KC 390,<br />
produzido em parceria com Portugal.<br />
Além disso, a Embraer investe<br />
em aviação agrícola, como é o caso<br />
<strong>da</strong> aeronave Ipanema, modelo lançado<br />
em 2004 e o primeiro do mundo<br />
a utilizar biocombustível.<br />
A Embraer tem seis uni<strong>da</strong>des no<br />
Brasil, mantém uma fábrica no norte<br />
<strong>da</strong> China e outra em Melbourne,<br />
nos EUA. Nesta última, desde 2008<br />
produz jatos executivos de pequeno<br />
porte. Possui ain<strong>da</strong> escritórios<br />
de representação em outros países,<br />
como França e Singapura.<br />
Presença global A uni<strong>da</strong>de chinesa<br />
<strong>da</strong> Embraer fica em Harbin, capital<br />
<strong>da</strong> província de Heilongjiang,<br />
nordeste <strong>da</strong> China. As instalações,<br />
fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s em Dezembro de 2002,<br />
são resultado de uma joint venture<br />
entre a Embraer e duas empresas<br />
interior <strong>da</strong>s instalações <strong>da</strong> Embraer em Alverca<br />
controla<strong>da</strong>s pela China Aviation<br />
Industry Corporation II (AVIC II).<br />
Este foi o primeiro empreendimento<br />
industrial <strong>da</strong> Embraer fora<br />
do Brasil, com o objetivo de produzir,<br />
montar e coordenar as operações<br />
de ven<strong>da</strong> e suporte pós-ven<strong>da</strong><br />
dos aviões <strong>da</strong> família ERJ 145. A<br />
empresa também possui um escritório<br />
em Pequim.<br />
No Aeroporto Internacional<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Melbourne, Flóri<strong>da</strong>,<br />
está a primeira uni<strong>da</strong>de industrial<br />
<strong>da</strong> Embraer nos Estados Unidos.<br />
Ela dedica-se principalmente à<br />
montagem de jatos Phenom 100 e<br />
Phenom 300, além de apoiar os negócios<br />
de aviação executiva. Cerca<br />
de oito jatos desses modelos são<br />
produzidos mensalmente.<br />
EMBRAER<br />
Expansão<br />
<strong>da</strong> frota<br />
iNêS FERNANDES<br />
A Embraer assinou, no final<br />
de Abril, um Memorando de<br />
Entendimento com a empresa<br />
chinesa ICBC Leasing destinado<br />
ao financiamento de aeronaves.<br />
O acordo envolve um valor total<br />
de 2,5 mil milhões de dólares<br />
(1,9 mil milhões de euros), a ser<br />
aplicado ao longo dos próximos<br />
cinco anos. “O acordo cria<br />
oportuni<strong>da</strong>des de financiamento<br />
para ven<strong>da</strong> de jatos comerciais<br />
e executivos <strong>da</strong> Embraer na<br />
China e em outros mercados”,<br />
informou a empresa brasileira, em<br />
comunicado.<br />
A ICBC Leasing é subsidiária<br />
integral do Industrial and<br />
Commercial Bank of China,<br />
e opera, atualmente, com 70<br />
aeronaves. A empresa asiática<br />
declarou que pretende expandir<br />
a sua frota para 250 aviões até<br />
2014. EC / Lusa<br />
Os novos<br />
hangares<br />
já recebem<br />
os retoques<br />
finais em<br />
Évora
Pista<br />
do aeroporto<br />
de Beja<br />
50 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 51<br />
Aeroporto de Beja O aeroporto até pode aumentar<br />
Atrasado na<br />
descolagem,<br />
futuro condicionado<br />
Filipa Dias<br />
Mendes<br />
Inaugurado há um ano, o aeroporto de Beja ain<strong>da</strong><br />
está a aquecer os motores. Idealizado como polo<br />
dinamizador <strong>da</strong> região alentejana, é hoje uma<br />
promessa por cumprir. E nem os 3,5 km de pista<br />
convencem as companhias aéreas a aterrar na base<br />
O aeroporto de Beja viveu a 29 de<br />
Março um dia excecional. Recebeu<br />
cinco voos e às 18h ain<strong>da</strong> tinha<br />
quatro aviões na pista.<br />
Visto do exterior o terminal parece<br />
fechado. O parque de estacionamento<br />
tem quase todos os<br />
lugares livres. Ao entrar, a sensação<br />
de vazio preenche o espaço. Não<br />
se ouve um ruído e o chão brilha<br />
como se nunca tivesse sido pisado.<br />
“Quer que ligue a iluminação?”<br />
pergunta o diretor de operações.<br />
“Não, ain<strong>da</strong> se vê”, responde Pedro<br />
Beja Neves, responsável pelo terminal<br />
de Beja. Só as luzes centrais<br />
estão acesas, tudo parece pronto<br />
para começar a funcionar. Os balcões<br />
do check-in à espera dos funcionários<br />
e, na sala de espera, só<br />
faltam os passageiros, as malas e o<br />
burburinho caraterístico dos aeroportos.<br />
Porém, faz um ano que o aeroporto<br />
de Beja abriu as portas. Em<br />
2011 recebeu 2.300 passageiros<br />
distribuídos por 90 voos. Para este<br />
ano as previsões são de duplicar<br />
o tráfego e atingir os 200 voos e<br />
5.000 passageiros.<br />
o número de voos, mas a dúvi<strong>da</strong> reside<br />
na capaci<strong>da</strong>de de resposta <strong>da</strong><br />
região. Com poucos hotéis em funcionamento,<br />
o diretor do aeroporto<br />
aponta para 2025 como o ano<br />
em que Beja terá condições para<br />
alojar um “tráfego de passageiros<br />
crescente e consoli<strong>da</strong>do.”<br />
Estratégia de 2º mão Pensado<br />
para servir de complemento ao<br />
desenvolvimento que o Alqueva<br />
traria para a região, o aeroporto<br />
avançou mas o Alqueva atrasou-se.<br />
Agora, “não podemos ficar à espera,<br />
temos de rentabilizar o terminal”,<br />
diz Beja Neves.<br />
Privado <strong>da</strong>s estruturas que lhe<br />
<strong>da</strong>riam força, o aeroporto procura<br />
formas de dinamizar o investimento<br />
de que foi alvo. Enquanto<br />
a oferta hoteleira não estiver consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />
a estratégia é continuar<br />
com voos charter. Para além desta<br />
aposta, “e enquanto os passageiros<br />
não assumem uma posição determinante”,<br />
o aeroporto vira-se para<br />
a indústria aeronáutica.<br />
Foi já assinado um acordo com a<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
Aeromec, empresa de manutenção<br />
de aeronaves, para a construção de<br />
um hangar no aeroporto no valor<br />
de seis milhões de euros. Esta infraestrutura,<br />
com uma área de cerca<br />
de 7.500 m2, será vocaciona<strong>da</strong><br />
para a manutenção, inspeção, reparação<br />
e substituição de componentes<br />
de aeronaves de grande porte.<br />
Segundo Beja Neves, a construção<br />
deste hangar permitirá a criação de<br />
150 empregos diretos e indiretos e<br />
proporcionará um crescimento e<br />
sustentabili<strong>da</strong>de para os próximos<br />
dez anos.<br />
Uma aposta condiciona<strong>da</strong> Beja<br />
Neves acredita que a infraestrutura<br />
aeroportuária de Beja é “uma<br />
aposta que tem pés para an<strong>da</strong>r”<br />
uma vez que se “sente um mercado<br />
à volta do aeroporto”. Com capaci<strong>da</strong>de<br />
para receber 500 pessoas<br />
por hora, o equivalente a 13 aviões<br />
A320, Beja pode afirmar-se como<br />
um “polo de desenvolvimento” no<br />
Alentejo. “Para consegui-lo, to<strong>da</strong> a<br />
economia <strong>da</strong> região terá de crescer”,<br />
defende o diretor do aeroporto.<br />
José Pedro Fernandes, 50 anos,<br />
professor no Instituto Politécnico<br />
de Beja, vive há 23 anos nesta ci<strong>da</strong>de.<br />
Os anos passados em Beja<br />
e a participação em iniciativas<br />
pelo desenvolvimento <strong>da</strong> região<br />
deram-lhe uma visão muito clara<br />
<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de Beja. Em declarações<br />
à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, faz<br />
questão de esclarecer um ponto<br />
que considera importante, “o aeroporto<br />
não foi um investimento tão<br />
grande assim, aproveitou-se o que<br />
lá existia e, em termos de pista, temos<br />
a segun<strong>da</strong> maior de Portugal.”<br />
De qualquer forma, o professor<br />
reconhece que Beja não tem interesse<br />
estratégico suficiente para ter<br />
um aeroporto a funcionar “e não é<br />
a sua construção que vai permitir,<br />
por si só, o desenvolvimento <strong>da</strong><br />
região”.<br />
Se houvesse um grande investimento<br />
na agricultura de estufa e<br />
de regadio o aeroporto teria outra<br />
vitali<strong>da</strong>de, defende José Pedro Fernandes.<br />
Um aumento significativo<br />
<strong>da</strong> produção poderia “justificar a<br />
aposta em colocar produtos em<br />
mercados distantes com grande rapidez<br />
e eficiência”. Porém, e acrescenta<br />
num tom irónico, “só vemos<br />
olival, e o azeite não precisa de ser<br />
exportado no dia a seguir!”
Pedro Beja<br />
Neves, diretor<br />
do aeroporto<br />
de Beja, espera<br />
que em 2025<br />
o tráfego de<br />
passageiros<br />
esteja<br />
consoli<strong>da</strong>do<br />
52 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 53<br />
Jorge Pulido Valente, presidente<br />
<strong>da</strong> Câmara de Beja, partilha <strong>da</strong> opinião<br />
de José Pedro Fernandes. Justifica<br />
que ain<strong>da</strong> está previsto que o<br />
aeroporto sirva para a distribuição<br />
de produtos decorrentes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />
agroindustrial. Em declarações<br />
à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, refere que<br />
a agricultura na região está agora a<br />
entrar numa nova fase, “vira<strong>da</strong> para<br />
os pomares e produtos hortícolas<br />
que necessitam de ser transportados<br />
de avião”.<br />
As opiniões expressas deixam a<br />
sensação de que o aeroporto tem<br />
to<strong>da</strong>s as condições para vingar, mas<br />
só se tudo o resto vingar também.<br />
Não é só na agricultura que ain<strong>da</strong><br />
há um longo caminho a percorrer,<br />
as infraestruturas rodoviárias que<br />
teimam em não chegar ao fim,<br />
mantêm Beja afasta<strong>da</strong> dos principais<br />
troços.<br />
A A26, auto-estra<strong>da</strong> que irá li-<br />
gar Sines a Beja, e as obras de requalificação<br />
do IP2 no troço entre<br />
Beja e Castro Verde deveriam<br />
estar concluí<strong>da</strong>s no início deste<br />
ano. Até agora, estes dois eixos,<br />
fun<strong>da</strong>mentais para o denominado<br />
triângulo Beja-Évora-Sines, estão<br />
a ser construídos a uma veloci<strong>da</strong>de<br />
perceciona<strong>da</strong> de forma diferente<br />
por aqueles que moram na região.<br />
“Tanto quanto sei está tudo parado”,<br />
afirma José Pedro Fernandes.<br />
Já o presidente <strong>da</strong> Câmara, Jorge<br />
Pulido Valente, diz que “com o ritmo<br />
que as obras levam, no final do<br />
próximo ano estarão concluí<strong>da</strong>s.”<br />
Este investimento, que ascende<br />
Quanto custou<br />
o aeroporto de Beja<br />
Custo total: 33 milhões €<br />
Fundos comunitários: 23 milhões €<br />
Estado Português: 10 milhões €<br />
iNêS FERNANDES<br />
a 690 milhões de euros, pode ser<br />
o passo que faltava <strong>da</strong>r para que<br />
Beja se consiga afirmar como polo<br />
de desenvolvimento regional. Beja<br />
Neves deposita to<strong>da</strong> a sua esperança<br />
na A26 já que, “quando estiver<br />
concluí<strong>da</strong>, a distância entre Beja e<br />
Lisboa poderá ser cumpri<strong>da</strong> até 80<br />
minutos, o que aproxima de uma<br />
forma muito significativa o aeroporto<br />
a esta ci<strong>da</strong>de”.<br />
Ain<strong>da</strong> assim, José Pedro Fernandes<br />
tem as suas reticências. Segundo<br />
o professor, “a autoestra<strong>da</strong><br />
pode não ter assim tantos carros a<br />
circular”, e, em termos estratégicos,<br />
defende que traria mais resultados<br />
a aposta numa ligação de comboio<br />
eletrificado entre Beja e Lisboa,<br />
que encurtaria a distância entre as<br />
ci<strong>da</strong>des e tornaria Beja mais atrativa<br />
tanto para passageiros como<br />
para o transporte de mercadorias<br />
urgentes.<br />
O presidente <strong>da</strong> Câmara diz continuar<br />
a lutar pela eletrificação do<br />
troço de Casa Branca até Beja <strong>da</strong>do<br />
que é “um investimento relativamente<br />
baixo e fun<strong>da</strong>mental para<br />
aproximar o aeroporto de Lisboa<br />
a Beja.”<br />
Jorge Pulido Valente partilha <strong>da</strong><br />
ideia de Pedro Beja Neves. Para<br />
o presidente <strong>da</strong> Câmara, o aeroporto<br />
é “sem dúvi<strong>da</strong>, uma aposta<br />
ganha”. Porém, aproveitou o momento<br />
para contestar a posição do<br />
governo que não tem <strong>da</strong>do provas<br />
públicas de acreditar neste projeto<br />
“estratégico, não só para a região,<br />
mas para todo o país.”<br />
Por agora, resta esperar que<br />
após uma descolagem atribula<strong>da</strong> e<br />
com poucos passageiros a bordo, o<br />
aeroporto de Beja consiga finalmente<br />
levantar voo.<br />
A agricultura está<br />
agora a entrar<br />
numa nova fase,<br />
“vira<strong>da</strong> para<br />
os pomares e<br />
produtos hortícolas<br />
que necessitam de<br />
ser transportados<br />
de avião”<br />
Opções de baixo custo<br />
À espera<br />
de melhores voos<br />
Rita<br />
Oliveira<br />
A funcionar há pouco mais de um<br />
ano (desde 12 de Abril de 2011),<br />
o Aeroporto de Beja continua quase<br />
“vazio”. No entanto, para Pedro<br />
Beja Neves, diretor <strong>da</strong> infra-estrutura,<br />
esta pode tornar-se num<br />
“aeroporto de referência a nível<br />
nacional, seja como o ‘mais um’<br />
A possibili<strong>da</strong>de de deslocar as companhias aéreas<br />
low-cost para um aeroporto periférico à ci<strong>da</strong>de de<br />
Lisboa tem vindo a ser discuti<strong>da</strong> há já algum tempo.<br />
Desde a sua construção, o Aeroporto de Beja é uma<br />
<strong>da</strong>s alternativas possíveis para voos de baixo custo<br />
de Lisboa ou não”. Ain<strong>da</strong> assim,<br />
garante que poderão passar vários<br />
anos até que o aeroporto atinja um<br />
nível pleno de funcionamento.<br />
Quando questionado sobre a<br />
possível deslocalização <strong>da</strong>s companhias<br />
de baixo custo para o aeroporto,<br />
Beja Neves só diz: “vamos<br />
FABÍOlA MACiEl<br />
ver, vamos ver”. Na<strong>da</strong> é certo, “ain<strong>da</strong><br />
que Beja seja uma opção bastante<br />
viável para ser o apoio que se<br />
procura para o Aeroporto <strong>da</strong> Portela”,<br />
em Lisboa, diz o director.<br />
Ain<strong>da</strong> que a distância possa<br />
afastar “esta opção alentejana”,<br />
Beja Neves defende que assim<br />
Entre Janeiro<br />
e Março<br />
de <strong>2012</strong>,<br />
passaram 16<br />
aeronaves pelo<br />
Aeroporto<br />
de Beja
54 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 55<br />
que a A26 ficar pronta, Beja estará<br />
apenas a uma hora de distância<br />
do centro de Lisboa. Para já, a<br />
A26 liga o Aeroporto ao porto de<br />
Sines, mas o prolongamento <strong>da</strong><br />
auto-estra<strong>da</strong> até à capital já está<br />
em marcha. “Este aeroporto, com<br />
a auto-estra<strong>da</strong>, pode ser um complemento<br />
importante em termos<br />
de acesso aeroportuário nacional”,<br />
afirma Beja Neves.<br />
Além <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de já muito<br />
discuti<strong>da</strong> em relação às low-cost,<br />
Pedro Beja Neves garante ain<strong>da</strong><br />
que também “a TAP já tem um pé<br />
no Aeroporto de Beja”, principalmente<br />
devido ao hangar de manutenção<br />
de aviões. O responsável<br />
pelo aeroporto não quis adiantar<br />
pormenores sobre possíveis parcerias.<br />
Do batismo à certificação Em<br />
Abril de 2011, ain<strong>da</strong> sem a devi<strong>da</strong><br />
certificação, realizou-se o voo<br />
inaugural deste aeroporto. O destino:<br />
Cabo Verde. Desde então, o<br />
processo de obtenção de certificação<br />
para a aviação civil decorre<br />
e a sua conclusão, prevista para o<br />
primeiro trimestre deste ano, foi<br />
adia<strong>da</strong>. Segundo fonte oficial <strong>da</strong><br />
ANA – Aeroportos de Portugal,<br />
cita<strong>da</strong> pela agência Lusa, “os trabalhos<br />
para o cumprimento dos<br />
requisitos estabelecidos estão em<br />
fase final de execução”.<br />
No entanto, o processo deverá<br />
estar concluído até Junho deste<br />
ano e “to<strong>da</strong>s as responsabili<strong>da</strong>des<br />
foram assumi<strong>da</strong>s pela ANA”, diz<br />
Pedro Beja Neves.<br />
A certificação tem em vista a<br />
utilização permanente <strong>da</strong>s infraestruturas<br />
<strong>da</strong> Base Nacional nº<br />
11 (BA11) pela aviação civil pela<br />
administração do Aeroporto de<br />
Beja. Além disso, os voos civis<br />
deixarão de ser tratados como<br />
movimentações pontuais, pelo<br />
que poderá “haver um significativo<br />
aligeiramento quanto à forma<br />
de programação de operações”,<br />
revela Beja Neves.<br />
A pista do aeroporto é partilha<strong>da</strong><br />
com a BA11, <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s<br />
Portuguesas, e, por isso, a<br />
aviação civil está em permanente<br />
dependência de autorizações militares.<br />
Por isso, ain<strong>da</strong> só se realizam<br />
voos aos dias úteis e durante<br />
o horário de trabalho dos militares,<br />
que autorizam e controlam a<br />
movimentação dos aviões.<br />
O exemplo espanhol de baixo<br />
custo Se é recente em Portugal a<br />
discussão de um plano de deslocalização<br />
<strong>da</strong>s companhias aéreas<br />
de baixo custo, em Espanha, na<br />
Catalunha, há já alguns anos que<br />
está em marcha um plano do género.<br />
O Aeroporto de Girona opera<br />
voos de 17 companhias (low-cost<br />
e pequenas companhias) e, numa<br />
primeira análise, encontramos algumas<br />
diferenças estruturais nos<br />
dois casos. E se, por um lado, o<br />
“mais um” de Barcelona já é conhecido<br />
como um aeroporto de<br />
baixo custo, o aeroporto de Beja<br />
ain<strong>da</strong> não tem uma estratégia defini<strong>da</strong>.<br />
A infra-estrutura espanhola<br />
situa-se a 92 km do centro de Barcelona<br />
e disponibiliza transportes<br />
regulares que ligam o aeroporto<br />
à mais conheci<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de catalã.<br />
Já o Aeroporto de Beja dista quase<br />
180 km do centro de Lisboa,<br />
numa viagem que dura mais de<br />
duas horas. Ain<strong>da</strong> assim, Pedro<br />
Beja Neves, garante que o tempo<br />
de viagem vai passar a ser de uma<br />
hora, assim que a autoestra<strong>da</strong> que<br />
vai ligar Beja a Lisboa estiver concluí<strong>da</strong>.<br />
Outra diferença encontra-se na<br />
partilha <strong>da</strong> pista entre o aeroporto<br />
português e as Forças Arma<strong>da</strong>s,<br />
mais especificamente, com<br />
Base Aérea nº 11. Tendo uma<br />
administração militar <strong>da</strong> pista, os<br />
aviões não podem aterrar ou descolar<br />
de Beja sem autorização e<br />
supervisão dos militares <strong>da</strong> Base<br />
Aérea. Por outro lado, o Aeroporto<br />
de Girona recebe voos de<br />
“Este aeroporto,<br />
com a autoestra<strong>da</strong>,<br />
pode<br />
ser um<br />
complemento<br />
importante em<br />
termos de acesso<br />
aeroportuário<br />
nacional”, afirma<br />
Beja Neves<br />
vários pontos do mundo sem que,<br />
para isso, necessite de autorização<br />
militar,o que facilita movimentação<br />
aérea e de passageiros.<br />
O número de passageiros mostra<br />
uma diferença assinalável. Ao<br />
passo que o aeroporto espanhol<br />
dispõe de 15 portas de embarque<br />
e suporta 50 aeronaves simultaneamente<br />
nas suas instalações,<br />
o seu congénere alentejano está<br />
preparado para receber apenas<br />
500 passageiros por hora, nas<br />
suas seis portas de check-in. No<br />
exterior, podem estar apenas 13<br />
aviões ao mesmo tempo.<br />
Este número de passageiros não<br />
assusta Pedro Beja Neves, que garante<br />
que a região ain<strong>da</strong> não está<br />
prepara<strong>da</strong> para receber nem 200<br />
passageiros por semana. “Não<br />
temos hotéis para albergar tanta<br />
gente”, diz o responsável pela infra-estrutura.<br />
Em 2011, passaram<br />
pelo Aeroporto de Girona mais<br />
de 3 milhões de passageiros enquanto<br />
que Beja recebeu menos<br />
de 2600 pessoas.<br />
Ao pedir um prazo para o pleno<br />
funcionamento do Aeroporto<br />
de Beja, com voos diários de 200<br />
passageiros, Beja Neves não hesita<br />
“em apostar em 2025”. “Mais<br />
ano, menos ano”, corrige, para que<br />
Beja reúna as condições logísticas<br />
necessárias para a chega<strong>da</strong>, estadia<br />
e parti<strong>da</strong> de 200 pessoas por<br />
semana.<br />
Na zona comercial ain<strong>da</strong> pouco<br />
desenvolvi<strong>da</strong> do aeroporto alentejano<br />
encontra-se aberto, para<br />
já, o stand <strong>da</strong> Europcar. As infraestruturas<br />
necessárias para um<br />
restaurante já existem e este “vai<br />
abrir assim que houver um número<br />
de passageiros que o justifique”,<br />
de acordo com Beja Neves.<br />
No entanto, o Aeroporto de<br />
Beja dispõe de algo que o “Aeropuerto<br />
de Gerona” não tem: uma<br />
pista principal, de 3.450 metros,<br />
e uma secundária de quase 3.000<br />
metros, ao passo que em Espanha<br />
existe uma única pista com cerca<br />
de 2.400 metros.<br />
Para já, o Aeroporto de Beja<br />
está empenhado em atingir os<br />
5.000 passageiros este ano. Ao<br />
mesmo tempo continua a investir<br />
no hangar de seis mil milhões de<br />
euros para trabalho de manutenção<br />
de aviões, um investimento<br />
privado que está a atrair várias<br />
companhias.<br />
Na rota do Alentejo<br />
Uma região<br />
a redescobrir<br />
Susana<br />
Pereira<br />
Quem visita o Alentejo não deixa de se maravilhar com as<br />
riquezas que por lá encontra. Há todo um universo para<br />
explorar, desde as pessoas à gastronomia, <strong>da</strong> história às<br />
tradições, e sem esquecer os tesouros <strong>da</strong> natureza<br />
O Alentejo é uma região de povoações<br />
dispersas, onde as vastas searas<br />
e campos se expandem até se perderem<br />
na linha do horizonte, num<br />
quadro ao qual se junta um ritmo de<br />
vi<strong>da</strong> calmo e indolente, justificado<br />
pelas eleva<strong>da</strong>s temperaturas que se<br />
verificam durante todo o ano.<br />
Os alentejanos são um povo que<br />
vive muito as suas tradições e têm<br />
um grande orgulho na sua herança<br />
cultural. Ain<strong>da</strong> hoje é possível apreciar<br />
costumes centenários um pouco<br />
por todo o Alentejo, entre festas<br />
populares, romarias, feiras e mercados<br />
municipais.<br />
O artesanato alentejano é muito<br />
variado, desde os famosos tapetes<br />
de Arraiolos às louças e porcelanas<br />
típicas, sem esquecer os trabalhos<br />
em couro e pele, bem como diversas<br />
obras de olaria.<br />
A gastronomia alentejana é um<br />
dos principais marcos <strong>da</strong> cultura<br />
alentejana, reconheci<strong>da</strong> principalmente<br />
pela sua diversi<strong>da</strong>de. No<br />
litoral e nas zonas próximas do Guadiana<br />
pode-se degustar diversas varie<strong>da</strong>des<br />
de peixe fresco, entre sopas<br />
e caldeira<strong>da</strong>s, bem como petiscos à<br />
base de sardinhas e carapaus.<br />
No interior é mais comum encontrar-se<br />
pratos de carne. Por to<strong>da</strong><br />
a região é possível apreciar a carne<br />
de porco à alentejana, tipicamente<br />
acompanha<strong>da</strong> por migas, bem<br />
como o ensopado de borrego e diversos<br />
pratos à base de caça.<br />
Uma <strong>da</strong>s caraterísticas mais marcantes<br />
<strong>da</strong> gastronomia alentejana<br />
é o uso de condimentos, como o<br />
coentro, o poejo e a hortelã, provenientes<br />
<strong>da</strong> cultura árabe. Estes sabores<br />
podem ser encontrados em muitos<br />
pratos, como é o caso <strong>da</strong> açor<strong>da</strong><br />
alentejana.<br />
Outras iguarias bastante aprecia<strong>da</strong>s<br />
são os queijos e os enchidos,<br />
que juntamente com o pão e o vinho,<br />
ocupam um lugar de destaque<br />
neste mundo de sabores que se<br />
pode encontrar no Alentejo.<br />
O turismo no Alentejo O Alentejo<br />
é a região do país onde se tem verificado<br />
um maior crescimento no setor<br />
do turismo nos últimos anos. Segundo<br />
o INE, a região registou em<br />
2011 um aumento de 5,9 por cento<br />
no número de dormi<strong>da</strong>s face ao ano<br />
anterior. Seguiu a tendência dos<br />
dois anos anteriores, apresentando<br />
o segundo melhor desempenho do<br />
continente, logo a seguir ao Algarve.<br />
No total foram regista<strong>da</strong>s 1.241 milhões<br />
de dormi<strong>da</strong>s em 2011, o melhor<br />
desempenho de sempre.<br />
No Alentejo pode-se desfrutar<br />
não apenas do turismo rural nos<br />
DR<br />
O Alentejo<br />
integra na<br />
paisagem<br />
as extensas<br />
planícies e<br />
as serranias,<br />
como a serra<br />
do Cercal
56 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 57<br />
chamados “montes” alentejanos,<br />
onde é possível experimentar a vi<strong>da</strong><br />
no campo em to<strong>da</strong>s as suas vertentes,<br />
mas também nas praias que se<br />
estendem pela costa litoral.<br />
Para dinamizar o turismo na região<br />
foram cria<strong>da</strong>s rotas e itinerários<br />
temáticos para os visitantes poderem<br />
aproveitar <strong>da</strong> melhor forma a<br />
visita à região. Destas, a mais conheci<strong>da</strong><br />
é a Rota dos Vinhos.<br />
A Rota dos Vinhos do Alentejo é<br />
um itinerário criado especificamente<br />
para os apreciadores, e é uma importante<br />
aposta na divulgação do enoturismo<br />
no país. Desta rota fazem parte<br />
27 vilas e ci<strong>da</strong>des, que se dividem em<br />
três itinerários: Rota de São Mamede,<br />
que compreende o Alto Alentejo,<br />
sobretudo o distrito de Portalegre, a<br />
rota Histórica, que combina o enoturismo<br />
com o património histórico <strong>da</strong><br />
região, no distrito de Évora, e a Rota<br />
do Guadiana, no distrito de Beja.<br />
Alguns dos produtores associados<br />
a esta iniciativa abrem a porta<br />
<strong>da</strong>s suas caves e adegas aos visitantes,<br />
que deste modo podem acompanhar<br />
as fases do processo de produção<br />
e, no final, participar numa<br />
prova de vinhos.<br />
Apesar <strong>da</strong> Rota dos Vinhos ser<br />
a que tem maior expressivi<strong>da</strong>de na<br />
região, destacam-se outras como a<br />
Rota dos Sabores, a Rota do Fresco<br />
e a Rota do Contrabando.<br />
A extração de mármores, sobretudo<br />
<strong>da</strong> região de Vila Viçosa, Borba e<br />
Estremoz é também um importante<br />
cartão de visita do Alentejo. Esta<br />
ativi<strong>da</strong>de tem sido explora<strong>da</strong> desde<br />
o tempo dos romanos, que exportavam<br />
o mármore <strong>da</strong> região um pouco<br />
para todo o Império, sendo ain<strong>da</strong><br />
hoje bastante requisitado, sobretudo<br />
por países europeus.<br />
A nova aposta do Turismo do<br />
Alentejo é a criação <strong>da</strong> Rota do Património<br />
Industrial “Tons de Pedra”,<br />
que pretende <strong>da</strong>r a conhecer as potenciali<strong>da</strong>des<br />
do turismo industrial.<br />
O projeto, a iniciar em 2013, prevê a<br />
criação de uma rota em cinco concelhos<br />
(Borba, Alandroal, Vila Viçosa,<br />
Estremoz, e Sousel), que aposta<br />
fortemente nas potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s<br />
pedreiras e do mármore.<br />
Um pouco de História O Alentejo<br />
atual resulta de uma notável herança<br />
de culturas sucessivas: os vestígios<br />
megalíticos, romanos e árabes juntam-se<br />
aos testemunhos mais recentes<br />
do Cristianismo, cujos castelos<br />
medievais são um mero exemplo.<br />
Há registos <strong>da</strong> presença humana<br />
na região desde os tempos préhistóricos,<br />
existindo uma grande<br />
expressão <strong>da</strong> cultura megalítica dos<br />
III e IV milénios a.C. Estão inventariados<br />
centenas de monumentos,<br />
entre antas, cromeleques e menires.<br />
O cromeleque e menir dos Almendres<br />
no concelho de Évora é um dos<br />
exemplos mais significativos destas<br />
construções pré-históricas, sem<br />
esquecer a existência de gravuras<br />
rupestres na Gruta do Escoural, em<br />
Montemor-o-Novo.<br />
Posteriormente esta região foi<br />
ocupa<strong>da</strong> pelos romanos. O período<br />
romano no Alentejo iniciou-se no<br />
século II a.C., e prolongou-se até à<br />
que<strong>da</strong> do Império, no século V. Das<br />
várias ruínas que ain<strong>da</strong> se encontram<br />
edifica<strong>da</strong>s destaca-se o templo<br />
romano de Évora.<br />
Da presença romana no Alentejo<br />
ficaram ain<strong>da</strong> as famosas estra<strong>da</strong>s<br />
romanas e importantes construções<br />
arquitetónicas, como pontes e villae,<br />
como as Villas de S. Cucafate e Pisões,<br />
no distrito de Beja, e a Villa <strong>da</strong><br />
Torre de Palma em Monforte, no<br />
distrito de Portalegre.<br />
Depois dos romanos foi a vez dos<br />
árabes se estabelecerem na região,<br />
no século VIII. O período de ocupação<br />
árabe teve uma duração de<br />
quase 500 anos e a sua influência foi<br />
particularmente importante na vi<strong>da</strong><br />
rural. Entre outros costumes, este<br />
povo introduziu na região árvores<br />
(como as laranjeiras e as figueiras),<br />
técnicas agrícolas, técnicas de rega<br />
dos campos (como a nora e sistemas<br />
de captação e reserva de água),<br />
tapeçarias, azulejos e várias centenas<br />
de palavras.<br />
Já após o estabelecimento do<br />
Reino de Portugal, devido às constantes<br />
guerras com Espanha, houve<br />
necessi<strong>da</strong>de de proteger a fronteira<br />
e foram edifica<strong>da</strong>s fortificações em<br />
importantes pontos geoestratégicos.<br />
O Alentejo tornou-se numa<br />
importante região fortifica<strong>da</strong> de cariz<br />
militar, como se pode ver a partir<br />
<strong>da</strong>s várias fortificações (castelos,<br />
fortes, muralhas), muitas <strong>da</strong>s quais<br />
ain<strong>da</strong> permanecem nas principais<br />
vilas e ci<strong>da</strong>des, entre ruínas e reconstruções.<br />
Da herança medieval alentejana<br />
constam também várias igrejas e<br />
monumentos religiosos, que ain<strong>da</strong><br />
hoje são centrais na vi<strong>da</strong> religiosa e<br />
cultural <strong>da</strong> região.<br />
Caraterísticas<br />
<strong>da</strong> região<br />
O Alentejo apresenta reali<strong>da</strong>des<br />
tão diferentes como as típicas<br />
planícies, separa<strong>da</strong>s por<br />
montanhas e serras, com uma<br />
costa com um grande número de<br />
praias e ci<strong>da</strong>des históricas.<br />
A região do Alentejo<br />
compreende grande parte do<br />
Sul de Portugal, abrangendo<br />
os distritos de Beja, Évora e<br />
Portalegre, bem como uma parte<br />
do município de Setúbal.<br />
Encontra-se delimitado a sul<br />
pelo Algarve, por Lisboa a Norte,<br />
pelo Oceano Atlântico a oeste e a<br />
leste por Espanha. Ocupa 34,26<br />
por cento do território português, e<br />
tem uma área de 31.551,8 km2.<br />
No último Censos (2011) foram<br />
registados 757.190 habitantes<br />
na região, e uma densi<strong>da</strong>de<br />
populacional de apenas 24<br />
habitantes por km2.<br />
Cante Alentejano<br />
é um património<br />
O Cante Alentejano, um dos bens<br />
culturais mais representativos do<br />
Alentejo, é o próximo candi<strong>da</strong>to<br />
português a Património Imaterial<br />
<strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de <strong>da</strong> UNESCO. A<br />
sua origem é atribuí<strong>da</strong> a Serpa<br />
nos finais do século XV, e consiste<br />
numa forma de canto popular,<br />
tradicionalmente interpreta<strong>da</strong><br />
por grupos de homens, sem<br />
acompanhamento instrumental.<br />
A candi<strong>da</strong>tura do projeto não<br />
vai acontecer este ano como<br />
estava inicialmente previsto, já<br />
que a Comissão Nacional <strong>da</strong><br />
UNESCO considerou que não<br />
estavam reuni<strong>da</strong>s as condições<br />
mínimas para a apresentação <strong>da</strong><br />
candi<strong>da</strong>tura este ano, tendo sido<br />
adia<strong>da</strong> para 2013.<br />
Évora: património e futuro<br />
Polo de expansão<br />
e cultura<br />
Celso<br />
Soares<br />
A sua herança histórico-patrimonial<br />
garantiu a classificação de<br />
Évora como Património Cultural<br />
<strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de, pela UNESCO,<br />
desde 1986. A ci<strong>da</strong>de situa<strong>da</strong> no<br />
coração alentejano foi avalia<strong>da</strong><br />
no ano passado sobre o estado de<br />
conservação do património pela<br />
Comissão Nacional Portuguesa<br />
do do Conselho Internacional<br />
dos Monumentos e dos Registos<br />
(ICOMOS). Évora teve avaliação<br />
positiva do ICOMOS, uma enti-<br />
Évora localiza-se sobre o eixo de integração<br />
europeia, Lisboa/Madrid/Barcelona, e na<br />
confluência com o eixo interior de nível<br />
nacional, Faro/Bragança<br />
<strong>da</strong>de não governamental e principal<br />
consultor <strong>da</strong> UNESCO na<br />
avaliação <strong>da</strong>s candi<strong>da</strong>turas de bens<br />
culturais e mistos a incluir na lista<br />
do Património Mundial, mas recebeu<br />
um alerta sobre o estado de<br />
conservação dos seus bens classificados.<br />
A ci<strong>da</strong>de de Évora situa-se no<br />
coração de Alentejo e está carrega<strong>da</strong><br />
de memórias históricas e culturais<br />
que constituem o ver<strong>da</strong>deiro<br />
património <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de que<br />
se foi construindo ao longo dos<br />
tempos. Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelos romanos,<br />
Évora fez parte do novo reino de<br />
Portugal durante a Reconquista<br />
cristã peninsular do séc. XII. Após<br />
a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s fronteiras com<br />
Castela, vários reis fixaram a sua<br />
corte na região, principalmente<br />
no período <strong>da</strong>s descobertas marítimas,<br />
numa época em que se exibiam<br />
títulos e senhorios de terras<br />
distantes <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> como a Etiópia,<br />
Arábia, Pérsia, Índia e Guiné.<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
O templo<br />
de Diana<br />
convoca<br />
memórias<br />
de culto<br />
e gerações<br />
de visitantes
58 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 59<br />
Évora pelo geógrafo Jorge Gaspar<br />
O esplendor cultural<br />
na época moderna<br />
Rodrigo<br />
Torres Pereira<br />
Foi uma visita guia<strong>da</strong> memorável,<br />
dedica<strong>da</strong> à divulgação de Évora e<br />
<strong>da</strong> região alentejana, cujo cicerone<br />
foi o professor Jorge Gaspar, professor<br />
catedrático de Geografia e que<br />
decorreu dia 1 de Abril, no âmbito<br />
do XIII Seminário de Estudos Europeus.<br />
As figuras históricas, as particulari<strong>da</strong>des<br />
geográficas, a agricultura e a<br />
cultura de Évora mereceram a análise<br />
do professor, que não deixou nenhuma<br />
pergunta sem resposta.<br />
Feita através de autocarro, com<br />
passagens pelo parque industrial,<br />
pelo miradouro do Alto de São Bento<br />
e pelo Templo de Diana, esta visita<br />
guia<strong>da</strong> teve o mérito de oferecer<br />
uma visão de conjunto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e<br />
também <strong>da</strong> região.<br />
Passavam 30 minutos <strong>da</strong>s nove<br />
horas quando o professor Jorge<br />
Gaspar entrou no autocarro, estacionado<br />
na zona do Rossio de São<br />
Brás, onde era esperado pela comitiva<br />
do XIII Seminário de Estudos<br />
Europeus.<br />
Com uma indumentária que o<br />
preparava para qualquer eventuali<strong>da</strong>de,<br />
o professor não perdeu tempo<br />
a agarrar no microfone e a transmitir<br />
de imediato dois ou três factos<br />
interessantes sobre a ci<strong>da</strong>de.<br />
A primeira parte <strong>da</strong> visita foi feita<br />
sobre ro<strong>da</strong>s, sendo o trajecto pontuado<br />
pelos comentários do professor<br />
que discorria sobre temas tão distintos<br />
como o estatuto de monumento<br />
nacional <strong>da</strong> Ermi<strong>da</strong> de São<br />
Brás ou a antiga proximi<strong>da</strong>de entre<br />
quartéis, militares e bordéis na ci<strong>da</strong>de<br />
de Évora.<br />
O primeiro destino era o parque<br />
industrial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. No caminho<br />
até lá, o professor Jorge Gaspar demonstrava<br />
porque é considerado<br />
História, geografia, indústria, arte e muito mais.<br />
Évora, <strong>da</strong>s origens ao tempo presente, pelos<br />
olhos do professor Jorge Gaspar<br />
iNêS FERNANDES<br />
um grande divulgador. No seu estilo<br />
iconoclasta e provocador, procurava<br />
tocar em vários assuntos sob diversas<br />
perspectivas, não se coibindo<br />
de criticar o setor político.<br />
No parque industrial falou-se<br />
sobretudo de decadência e promessas<br />
perdi<strong>da</strong>s, de fracassos e despedimentos.<br />
Esta é uma zona que,<br />
segundo o professor Jorge Gaspar,<br />
perdeu grande parte do seu fulgor<br />
e que ficou algo para<strong>da</strong> no tempo,<br />
vítima dos humores <strong>da</strong> economia.<br />
No alto, lugar para história e<br />
geografia Por volta <strong>da</strong>s 11, a comitiva<br />
apeou-se, por fim, no miradouro<br />
do Alto de São Bento, um cabeço<br />
granítico que tem uma posição<br />
privilegia<strong>da</strong> sobre a ci<strong>da</strong>de. Enquadrado<br />
pela vista, com o seu panamá<br />
verde caça que lhe <strong>da</strong>va um certo ar<br />
de Indiana Jones, o professor surpreendeu<br />
todos com a afirmação:<br />
“Évora não tem dimensão para o<br />
território que pretende coman<strong>da</strong>r.”<br />
Estava <strong>da</strong>do o mote para uma<br />
panorâmica histórico-geográfica <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de. Começou por ser referi<strong>da</strong> a<br />
posição central que a ci<strong>da</strong>de ocupa<br />
na região alentejana, zona de confluência<br />
de três bacias hidrográficas<br />
(Tejo, Sado, Xarrama), Évora beneficia<br />
de uma posição de forte valor<br />
estratégico que foi amplamente explora<strong>da</strong><br />
em situações de guerra.<br />
Segundo o professor, o valor de<br />
Évora (Ebora Liberalitas Julia) para<br />
os romanos estava precisamente<br />
na sua posição, próxima de vários<br />
portos, o que lhe permitia ser um<br />
entreposto do comércio de mercadorias,<br />
principalmente do trigo que<br />
era transportado <strong>da</strong>li para o resto do<br />
Império. Quanto ao resto, Évora era<br />
uma ci<strong>da</strong>de menos povoa<strong>da</strong> e menos<br />
importante do que a sua vizinha<br />
Beja (Pax Julia), que era a sede<br />
de uma <strong>da</strong>s quatro chancelarias <strong>da</strong><br />
região <strong>da</strong> Lusitânia.<br />
É este o drama de Évora ao longo<br />
<strong>da</strong> história, excelente posição geográfica<br />
que nunca se traduziu em<br />
relevante influência política<br />
Com os visigodos, as potenciali<strong>da</strong>des<br />
de Évora foram entendi<strong>da</strong>s de<br />
outra forma. A ocupação dos visigodos<br />
foi extensiva e privilegiou-se a<br />
criação de gado. Nessa altura houve<br />
um declínio populacional.<br />
Vieram então os árabes que procuraram<br />
recuperar o tecido romano,<br />
revitalizando as locali<strong>da</strong>des. Apostaram<br />
na pecuária e também na pes-<br />
ca, continuando com a produção de<br />
vinho e azeite, duas culturas introduzi<strong>da</strong>s<br />
pelos romanos.<br />
A panorâmica histórica continuou<br />
com a reconquista cristã que,<br />
segundo o professor, assentou em<br />
três pilares: o rei, as ordens militares<br />
e os bandos armados.<br />
Não foi despicien<strong>da</strong> a colaboração<br />
dos bandos armados nesse<br />
período, que se dedicavam ao roubo<br />
e tráfico de gado, à maneira dos<br />
cowboys, no século XIX. O professor<br />
relembrou que Évora não foi reconquista<strong>da</strong><br />
pelo exército, mas sim<br />
por um punhado de desordeiros<br />
liderados pelo infamemente célebre<br />
bandido Geraldo, o sem-pavor, hoje<br />
figura muita queri<strong>da</strong> dos eborenses,<br />
que negociou a entrega <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
ao rei a troco de uma amnistia. O rei<br />
acedeu.<br />
A importância de Évora, altos e<br />
baixos O estatuto de Évora não foi<br />
uniforme ao longo do tempo, sofrendo<br />
altos e baixos. Assim, como<br />
revelou o professor, no início <strong>da</strong><br />
I<strong>da</strong>de Moderna, Évora conheceu<br />
um período de relativo esplendor<br />
em termos culturais que se manifestou<br />
nas artes e na arquitectura.<br />
É nessa altura, em 1559, que é fun<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
a Universi<strong>da</strong>de de Évora pelo<br />
O professor<br />
surpreendeu todos<br />
com a afirmação:<br />
“Évora não tem<br />
dimensão para o<br />
território que<br />
pretende coman<strong>da</strong>r”<br />
Infante D. Henrique e que foi entregue<br />
à Companhia de Jesus que a<br />
dirigiu durante dois séculos.<br />
Durante a Guerra <strong>da</strong> Restauração<br />
(1640-1688), o peso militar de Évora<br />
(muito forte ao longo do tempo)<br />
foi determinante para a vitória portuguesa.<br />
No século XVIII, com a expulsão<br />
dos jesuítas, ocorreu um declínio na<br />
área <strong>da</strong>s artes e do saber que prejudicou<br />
o desenvolvimento <strong>da</strong>s elites<br />
de Évora.<br />
No período do liberalismo, pôsse<br />
fim às ordens religiosas, decisão<br />
que teve efeitos na região alentejana<br />
já que promoveu os latifúndios, o<br />
controlo <strong>da</strong> terra pelos mais poderosos,<br />
pelos afectos ao regime. Foi<br />
nessa altura que se começou a apostar<br />
na cortiça e em outras monoculturas.<br />
No século XX, apostou-se na indústria<br />
têxtil sem grandes resultados<br />
já que as fábricas distavam dos<br />
locais de residência dos trabalhadores,<br />
provocando elevados níveis de<br />
absentismo que contribuíram para<br />
a deslocalização dessas mesmas fábricas.<br />
Évora, que destino No final <strong>da</strong> sua<br />
exposição no Alto de São Bento, o<br />
professor voltou a abor<strong>da</strong>r aquele<br />
que era provavelmente o tema mais<br />
polémico, a questão <strong>da</strong> dimensão de<br />
Évora no contexto regional.<br />
Foi abor<strong>da</strong>do o declínio <strong>da</strong>s elites<br />
na ci<strong>da</strong>de, cuja explicação pode estar<br />
na proximi<strong>da</strong>de de Évora a Lisboa,<br />
uma hora de automóvel, boa<br />
ligação férrea . O professor explicou<br />
que uma grande parte <strong>da</strong> população<br />
que estu<strong>da</strong> e trabalha em Évora escolhe<br />
viver em Lisboa, incluindo<br />
muitos estu<strong>da</strong>ntes e professores <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Évora, o que de<br />
certa forma retira peso à vi<strong>da</strong> cultural<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />
O papel de Évora no futuro não é<br />
olhado com grande optimismo pelo<br />
professor, que referiu que falta visão<br />
e estratégia para a ci<strong>da</strong>de, mostrando-se<br />
céptico em relação ao futuro.<br />
O tempo fugia e já não teve lugar<br />
o tão ambicionado passeio a pé por<br />
Évora. A comitiva ficou-se pela zona<br />
do templo de Diana, onde em tempos<br />
idos estavam situados o mercado<br />
e o matadouro. Falou-se de como<br />
estes eram entendidos pela população<br />
de Évora e discutiu-se particulari<strong>da</strong>des<br />
toponímicas, o professor<br />
desvendou que o antigo nome <strong>da</strong>quela<br />
que é hoje a Rua <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> era<br />
Rua do Tinhoso, nome pouco abonatório<br />
atribuído a quem professava<br />
a religião ju<strong>da</strong>ica, cujo bairro (judiaria)<br />
situava-se, em tempos idos, nas<br />
redondezas do Templo.<br />
Évora estava a ser recria<strong>da</strong>, pela<br />
voz do professor, diante dos olhos<br />
de quem o ouvia, infelizmente o<br />
tempo esgotava-se e o professor<br />
tinha, nas suas palavras, “de bazar”<br />
(um trocadilho que construiu na sequência<br />
de uma referência ao bazar<br />
árabe de Évora) pelo que a comitiva<br />
ficou priva<strong>da</strong> do seu saber por volta<br />
<strong>da</strong> hora de almoço.
O investimento<br />
no Alqueva foi<br />
suportado em<br />
partes iguais<br />
pelo Estado<br />
Português e<br />
pela UE<br />
60 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 61<br />
Barragem do Alqueva<br />
“Gigante” do<br />
Alentejo ganha<br />
Prémio Inovação<br />
<strong>2012</strong><br />
Sónia de<br />
Almei<strong>da</strong><br />
Organizar informação e métodos relevantes para<br />
determinar a aptidão cultural <strong>da</strong> área de influência<br />
de Alqueva, foi o objetivo de duas enti<strong>da</strong>des, ao<br />
desenvolverem um projeto único e inovador<br />
Engane-se quem pensa que o Alentejo<br />
é uma <strong>da</strong>s regiões que menos<br />
atrai investimento e desenvolvimento<br />
económico. A prová-lo está<br />
o Sistema de Apoio à Determinação<br />
<strong>da</strong> Aptidão Cultural (SISAP),<br />
projeto realizado em parceria<br />
pela Empresa de Desenvolvimento<br />
e Infra-Estruturas do Alqueva<br />
(EDIA) e o Instituto Superior de<br />
Agronomia, distinguido pela Associação<br />
Industrial Portuguesa<br />
com o prémio “Inovação”.<br />
A implementação de cerca de<br />
110.000 hectares de regadio nas<br />
pastagens alentejanas originou a<br />
necessi<strong>da</strong>de de criar “uma ferramenta<br />
de planeamento global e<br />
de apoio aos agricultores e empresários<br />
agrícolas que trabalham<br />
na zona e para os que se queiram<br />
instalar, eventualmente”, declarou<br />
à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> José Filipe<br />
Guerreiro Santos, diretor coordenador<br />
do SISAP.<br />
O crescente interesse de investimento<br />
no Alqueva, por parte de<br />
vários grupos empresariais, criou a<br />
necessi<strong>da</strong>de de respostas simples e<br />
eficazes de a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de de culturas,<br />
vias de comunicação e solos.<br />
O SISAP permite analisar a viabi-<br />
DR<br />
li<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s culturas escolhi<strong>da</strong>s pelo<br />
agricultor quer do ponto de vista<br />
de sequestro do carbono e balanço<br />
energético, quer do ponto de vista<br />
<strong>da</strong> sua rentabili<strong>da</strong>de económica.<br />
Numa primeira fase a aposta<br />
centrou-se no desenvolvimento<br />
de um modelo agronómico para<br />
a identificação <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s culturas e posteriormente foi<br />
implementado o modelo económico<br />
com indicadores de rentabili<strong>da</strong>de<br />
económica; e o modelo<br />
ambiental, ambos relacionados<br />
com as questões energéticas e de<br />
carbono.<br />
Numa altura em que a União<br />
Europeia (UE) se debate com a<br />
criação de políticas que promovam<br />
um uso eficiente <strong>da</strong> energia<br />
e que contribuam para a preservação<br />
do meio ambiente, é indispensável<br />
apostar em medi<strong>da</strong>s locais<br />
que contribuam globalmente. O<br />
SISAP tem em vista a ocupação<br />
equilibra<strong>da</strong> de áreas com maior<br />
aptidão de fertili<strong>da</strong>de, contemplando<br />
também a problemática do<br />
impacto ambiental <strong>da</strong> transformação<br />
do sequeiro em regadio.<br />
Ao ocupar os solos com as culturas<br />
mais adequa<strong>da</strong>s, há um aumento<br />
“<strong>da</strong> eficácia na relação solo,<br />
planta, atmosfera, gerando o máximo<br />
de impacto positivo e a mitigar<br />
os negativos”, afirma José Filipe<br />
Guerreiro Santos. O SISAP possibilita<br />
também a contabilização dos<br />
balanços energéticos e de carbono<br />
<strong>da</strong>s culturas, sendo que, atualmente,<br />
a área abrangi<strong>da</strong> pelo estudo totaliza<br />
já um milhão de hectares e a<br />
ambição é que este número cresça<br />
substancialmente até 2014.<br />
O maior lago artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />
Apesar de se falar <strong>da</strong> edificação <strong>da</strong><br />
Barragem do Alqueva desde 1957, a<br />
construção só foi inicia<strong>da</strong> em 1995,<br />
e inaugura<strong>da</strong> a 8 de Fevereiro de<br />
2002, encontrando-se agora na última<br />
fase, que se estima esteja pronta<br />
o mais tar<strong>da</strong>r até 2017.<br />
“O Alqueva é o maior reservatório<br />
de água português e o maior<br />
lago artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”, frisou José<br />
Luís Fialho. Embora o principal objetivo<br />
<strong>da</strong> barragem seja fazer face<br />
aos longos períodos de seca que o<br />
território alentejano atravessa constantemente,<br />
a EDIA “preocupou-se<br />
em criar uma ferramenta que ajude<br />
os agricultores a conseguir produzir<br />
de forma mais eficaz”, realçou ain<strong>da</strong>.<br />
A nova Aldeia<br />
<strong>da</strong> Luz<br />
Aquando do inicio <strong>da</strong> construção<br />
do Alqueva, a velha aldeia <strong>da</strong> Luz,<br />
situa<strong>da</strong> no concelho de Mourão,<br />
estava implanta<strong>da</strong> numa zona<br />
onde corriam os rios Guadiana<br />
e Alcarrache, e por isso ficou<br />
sujeita a submersão. Perante<br />
este cenário, foi construí<strong>da</strong> uma<br />
nova aldeia, edifica<strong>da</strong> num local<br />
escolhido pela população.<br />
O processo de relocalização<br />
implicou a construção de 212<br />
casas de habitação, a reposição<br />
dos estabelecimentos comerciais<br />
e equipamentos coletivos<br />
(escolas, centro de saúde,<br />
equipamentos desportivos, praça<br />
de touros, mercado, lavadouro,<br />
jardim público), a reposição do<br />
cemitério e <strong>da</strong> Igreja de Nossa<br />
Senhora <strong>da</strong> Luz. A aldeia está<br />
igualmente dota<strong>da</strong> de uma Praça<br />
de Touros, de um Miradouro<br />
com uma bonita vista sobre a<br />
Barragem do Alqueva e de uma<br />
réplica <strong>da</strong> Fonte Santa presente<br />
na antiga aldeia, que se dizia ter<br />
águas milagrosas.<br />
Neste aldeamento foi ain<strong>da</strong><br />
construido o Museu <strong>da</strong> Luz, que<br />
abriu as portas ao público no<br />
ano de 2003, e que alberga uma<br />
coleção etnográfica <strong>da</strong> “aldeia<br />
velha”, peças arqueológicas,<br />
e uma sala de exposições<br />
temporárias.<br />
DR
A Barragem<br />
do Alqueva<br />
abrange 20<br />
concelhos de<br />
quatro distritos<br />
62 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 63<br />
A aptidão técnica, económica e<br />
ambiental deste projeto para uma<br />
ou mais culturas é estabeleci<strong>da</strong> de<br />
acordo com uma chave de classificação<br />
que se divide em quatro classes:<br />
aptidão nula, aptidão reduzi<strong>da</strong>, aptidão<br />
modera<strong>da</strong> e aptidão eleva<strong>da</strong>.<br />
Com base nos resultados deste programa<br />
é possível, na área de influência<br />
do mesmo, identificar as parcelas<br />
com melhores resultados, podendo<br />
os agricultores potenciar e tornar<br />
mais competitivas as suas áreas de<br />
plantação.<br />
“Considero que o SISAP é uma<br />
mais-valia para o Alentejo. O nosso<br />
Governo deveria incentivar mais<br />
projetos como este que nos aju<strong>da</strong>m<br />
a rentabilizar a nossa produção agrícola”,<br />
refere António Almei<strong>da</strong>, agricultor<br />
alentejano.<br />
Aju<strong>da</strong>r a escolher a localização<br />
de possíveis uni<strong>da</strong>des agro-industriais<br />
é outra <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des<br />
deste programa, <strong>da</strong>do que está ligado<br />
a um sistema de informação<br />
geográfico. As culturas analisa<strong>da</strong>s<br />
contemplam cereais, oleaginosas,<br />
florestais, frutícolas, hortícolas e<br />
horto-industriais, num total de mais<br />
de três dezenas de culturas distintas,<br />
entre as quais se encontram o arroz,<br />
a cana de açúcar, os citrinos, o trigo<br />
e a vinha.<br />
Estudos revelam que o abandono<br />
agrícola em Portugal cresce<br />
diariamente a olhos vistos, o que<br />
torna insustentável a produção de<br />
bens essenciais que satisfaçam a<br />
totali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des agrícolas<br />
internas. No entanto, a falta<br />
de mão-de-obra disposta a investir<br />
na agricultura é um dos maiores<br />
desafios com o qual o território<br />
nacional se debate. Para José Filipe<br />
Guerreiro Santos, é indiscutível<br />
a importância que o apoio <strong>da</strong> UE<br />
e <strong>da</strong> Política Agrícola Comum<br />
(PAC) representam para a agricul-<br />
“Quer o SISAP<br />
quer a barragem,<br />
estão a dinamizar<br />
to<strong>da</strong> a região e a<br />
atrair investimentos<br />
estrangeiros, sem<br />
dúvi<strong>da</strong> importantes<br />
para o<br />
desenvolvimento”<br />
do Alentejo<br />
tura alentejana e para todo o país.<br />
“A PAC, e ao contrário do que<br />
muitos dizem, é fun<strong>da</strong>mental para<br />
garantir a competitivi<strong>da</strong>de de muitas<br />
explorações agrícolas portuguesas<br />
e do setor agrícola em geral.<br />
Negligenciar este facto é um absurdo!”<br />
Embora muitas vozes críticas<br />
refiram a PAC como “muito injusta”<br />
porque “premeia” países com<br />
uma agricultura mais competitiva,<br />
outros consideram-na um pilar de<br />
apoio à agricultura e ao projeto de<br />
construção europeu.<br />
A reforma <strong>da</strong> PAC é um dos assuntos<br />
chave em cima <strong>da</strong> mesa na<br />
Comissão Europeia, e as expectativas<br />
são de que no pós 2013, Portugal<br />
consiga beneficiar com estas<br />
alterações, até porque as explorações<br />
agrícolas nacionais, ao nível do<br />
mercado europeu e mundial, não<br />
são competitivas.<br />
Ambiente e sustentabili<strong>da</strong>de<br />
Tendo em vista a sustentabili<strong>da</strong>de<br />
de to<strong>da</strong> a região que envolve a Barragem<br />
do Alqueva e uma crescente<br />
preocupação com o ambiente, a<br />
EDIA está empenha<strong>da</strong> em desenvolver<br />
soluções que deem resposta<br />
aos desafios diários e às dificul<strong>da</strong>des<br />
constantes dos agricultores<br />
alentejanos. “Além do SISAP, estamos<br />
a analisar a pega<strong>da</strong> de carbono<br />
e hídrica <strong>da</strong> água, bem como os<br />
indicadores de produtivi<strong>da</strong>de económica<br />
e hídrica <strong>da</strong> água para rega”,<br />
adiantou o diretor coordenador do<br />
SISAP.<br />
O Alentejo é uma região onde a<br />
chuva escasseia, com seca constante.<br />
À <strong>da</strong>ta de 31 de Março de <strong>2012</strong>, a<br />
Barragem do Alqueva tinha armazena<strong>da</strong><br />
água que permite alimentar os<br />
hectares de culturas agrícolas que a<br />
rodeiam por um prazo de três anos.<br />
“Quer o SISAP quer a barragem,<br />
estão a dinamizar to<strong>da</strong> a região e a<br />
atrair investimentos estrangeiros,<br />
sem dúvi<strong>da</strong> importantes para o seu<br />
desenvolvimento”, afirmou José Luís<br />
Fialho. A produção de energias renováveis<br />
e a potencialização <strong>da</strong> fauna<br />
e <strong>da</strong> flora circun<strong>da</strong>ntes, são outras<br />
<strong>da</strong>s mais-valias.<br />
Recorde-se que o prémio “Inovação”<br />
é atribuído a produtos, serviços<br />
ou equipamentos inovadores com<br />
o objetivo de promover e distinguir<br />
empresas que, num mercado<br />
em constante mutação, apostam na<br />
criação de produtos relevantes para<br />
o desenvolvimento sustentável.<br />
Apesar de no passado terem sido<br />
muitas as vozes críticas que não encaravam<br />
com bons olhos o investimento<br />
que implicava a construção<br />
<strong>da</strong> barragem do Alqueva, hoje a<br />
reali<strong>da</strong>de é outra. Subsidiado pelo<br />
Estado português (49,5%) e pela<br />
UE (50,5%), num total de 1.907,13<br />
milhões de euros, o “gigante” do<br />
Alentejo continua a <strong>da</strong>r passa<strong>da</strong>s no<br />
desenvolvimento, crescimento e dinamização<br />
do território alentejano<br />
<strong>da</strong>ndo a conhecer ao mundo o que<br />
de melhor se faz por cá.<br />
FOTOS: DR<br />
No interior alentejano<br />
O turismo<br />
no grande lago<br />
Sandra<br />
Carmona<br />
A vista panorâmica para a barragem<br />
do Alqueva é o ponto de parti<strong>da</strong><br />
para desfrutar <strong>da</strong> maior albufeira<br />
<strong>da</strong> <strong>Europa</strong>. No grande lago<br />
agora podem fazer-se cruzeiros<br />
com parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> Marina <strong>da</strong> Amieira<br />
e do Parque Náutico de Monsaraz.<br />
O centro náutico possui um cais<br />
de embarque para passeios marítimo-turísticos<br />
e onde também são<br />
proporciona<strong>da</strong>s outras ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdicas, tais como, passeios pedestres<br />
e de bicicleta. O Turismo do<br />
Alqueva faz o licenciamento dos<br />
espaços recreativos e a sua exploração<br />
é realiza<strong>da</strong> por enti<strong>da</strong>des<br />
priva<strong>da</strong>s.<br />
As ativi<strong>da</strong>des que se podem experimentar<br />
são muito diversifica<strong>da</strong>s,<br />
vão desde a vela ao windsurf,<br />
ao ski aquático e à pesca desportiva<br />
ou à pesca amadora nas margens<br />
no grande lago <strong>da</strong>s célebres<br />
achigã e carpa.<br />
Aliado às ativi<strong>da</strong>des náuticas e<br />
lúdicas, também o turismo rural<br />
se tornou uma fonte de lucro na<br />
região. O acolhimento dos visitantes<br />
e a hospitali<strong>da</strong>de natural dos<br />
alentejanos propiciam um turismo<br />
com caraterísticas próprias <strong>da</strong><br />
região. As típicas casas caia<strong>da</strong>s de<br />
branco e com a lista azul são o postal<br />
de visita a uma esta<strong>da</strong> cómo<strong>da</strong>.<br />
De igual forma pode aceder a um<br />
alojamento com to<strong>da</strong>s as comodi<strong>da</strong>des<br />
e experiências incluí<strong>da</strong>s nos<br />
grandes aldeamentos turísticos.<br />
Este ano será inaugurado um<br />
empreendimento de cinco estrelas<br />
localizado perto <strong>da</strong> barragem do<br />
Alqueva, que será composto por<br />
O interior do Alentejo ganhou um novo fôlego<br />
com a barragem do Alqueva. O turismo é uma<br />
<strong>da</strong>s grandes apostas no desenvolvimento <strong>da</strong> região.<br />
Novos empreendimentos turísticos estão em curso<br />
nas margens <strong>da</strong> grande albufeira<br />
sete hotéis com quatro campos<br />
de golfe e que disporá também<br />
de alguns aldeamentos turísticos.<br />
Este projeto prevê ain<strong>da</strong> a construção<br />
de duas marinas e um centro<br />
equestre. O turista está sempre em<br />
contacto com a natureza, uma vez<br />
que a produção de agricultura biológica,<br />
um centro avifauna, uma<br />
praia fluvial, uma reserva animal e<br />
uma quinta pe<strong>da</strong>gógica serão uma<br />
reali<strong>da</strong>de neste projeto.<br />
Todos os empreendimentos<br />
devem seguir o Plano de Ordenamento<br />
<strong>da</strong>s Albufeiras do Alqueva<br />
e Pedrogão e assegurar as delimitações<br />
Ecológicas Nacionais e não<br />
alterarem a paisagem típica alentejana.<br />
Se por outro lado quiser algo<br />
mais aventureiro, e ain<strong>da</strong> mais<br />
próximo <strong>da</strong> fauna e do rio Guadia-<br />
“Somos um terço<br />
de Portugal e temos<br />
apenas cerca de<br />
500 mil habitantes”,<br />
afirma com tristeza<br />
José Luís Fialho.<br />
Em trinta anos, o<br />
Alentejo perdeu<br />
mais de 10% <strong>da</strong><br />
sua população<br />
na, pode sempre utilizar o parque<br />
de campismo ou alugar um barco<br />
casa, na marina <strong>da</strong> Amieira, e ficar<br />
literalmente na albufeira do Alqueva.<br />
Outros roteiros de visita obrigatória<br />
são as adegas e os restaurantes<br />
onde pode saborear o que de<br />
melhor há no Alentejo, um prato<br />
com o azeite, o pão e os conhecidos<br />
enchidos.<br />
Uma nova experiência é a reserva<br />
Dark Sky 360º no Alqueva. Na<br />
reserva natural é possível apreciar<br />
à noite a lua e as várias constelações,<br />
ao contrário <strong>da</strong> observação<br />
do céu nas grandes ci<strong>da</strong>des. Um<br />
manto estrelado pode ser observado<br />
também num passeio pedestre,<br />
de canoa, a cavalo ou simplesmente<br />
deitado nas margens do rio<br />
Guadiana. O Alqueva proporciona<br />
assim experiências únicas de dia e<br />
de noite.<br />
O sonho tornado reali<strong>da</strong>de<br />
A espera valeu a pena. Passados<br />
50 anos, o Alqueva transformou<br />
a paisagem alentejana e criou o<br />
maior lago artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>.<br />
“Os alentejanos já não acreditavam<br />
que o Alqueva se tornasse<br />
uma reali<strong>da</strong>de. A barragem era<br />
vista como um mito”, afirma com<br />
convicção o técnico de comunicação<br />
José Luís Fialho, de 43<br />
anos. Natural de Beja, José Fialho<br />
é um alentejano dotado de uma<br />
hospitali<strong>da</strong>de caraterística <strong>da</strong> região<br />
e é o responsável <strong>da</strong> comunicação<br />
no centro de informação<br />
<strong>da</strong> Empresa de Desenvolvimen-
José luís<br />
Fialho explica<br />
como funciona<br />
a central<br />
hidroelétrica<br />
64 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 65<br />
to e Infraestruturas do Alqueva<br />
(EDIA) que explora a barragem.<br />
“Somos um terço de Portugal<br />
e temos apenas cerca de 500 mil<br />
habitantes”, afirma com tristeza<br />
José Luís Fialho. Em trinta anos,<br />
o Alentejo perdeu mais de 10% <strong>da</strong><br />
sua população. É uma região com<br />
baixa densi<strong>da</strong>de populacional,<br />
apenas cerca de 7% <strong>da</strong> população<br />
nacional, com elevados índices de<br />
desertificação humana e de envelhecimento.<br />
Um dos filmes promocionais do<br />
projeto é o “Alqueva, Ouro sobre<br />
Azul”. Neste pequeno vídeo conhecemos<br />
a importância <strong>da</strong> construção<br />
do grande lago para o interior<br />
do Alentejo. Frases-chaves como o<br />
“Alqueva é Agricultura” aparecem<br />
no ecrã e imagens imponentes <strong>da</strong><br />
própria barragem que criou uma<br />
nova paisagem, onde tanto vemos<br />
uma marina como uma gaivota em<br />
cima de um sobreiro no meio do<br />
Guadiana.<br />
To<strong>da</strong> esta descrição contrasta<br />
com a paisagem do Alentejo profundo<br />
onde existem terrenos secos<br />
e com pouca vegetação, alguns<br />
montes e pequenas aldeias. Os<br />
sobreiros servem, a par dos chaparros<br />
dispersos pelos campos, de<br />
proteção a quem trabalha nas terras<br />
e dão sombra aos trabalhadores<br />
e aos animais.<br />
Além <strong>da</strong> barragem do Alqueva,<br />
foi construí<strong>da</strong> a barragem de Pedrogão,<br />
também no rio Guadiana,<br />
que situa-se a 23 km a jusante<br />
junto à povoação com o mesmo<br />
nome.<br />
A barragem está equipa<strong>da</strong> com<br />
uma estação mini hídrica que cria<br />
uma albufeira de contra-embalse<br />
hElENA RODRiGUES<br />
para a recuperação de cau<strong>da</strong>is<br />
utilizados no processo de turbinamento.<br />
Pedrogão está, também,<br />
na origem <strong>da</strong> água para os subsistemas<br />
de rega do Ardila e do Pedrogão.<br />
A principal estação elevatória do<br />
Alqueva é a dos Álamos e eleva a<br />
água a cerca de 90 metros de altura<br />
para a igual distribuição de água<br />
por todo o subsistema de regra do<br />
grande lago.<br />
O processo proporcionou que a<br />
água necessária chegue aos campos<br />
cultivados de forma intensiva<br />
e permita o regadio gota-a-gota<br />
Barcos casa são uma logística<br />
aventureira<br />
FOTOS: DR<br />
durante 24 horas em 365 dias.<br />
Outra grande mais-valia do Alqueva<br />
é a produção de energias<br />
renováveis. A aposta nas energias<br />
limpas passa pela energia hidroelétrica,<br />
a eólica e a solar. A energia<br />
hidroelétrica vem <strong>da</strong>s centrais<br />
do Alqueva com uma potência de<br />
260 MW e <strong>da</strong> de Pedrogão com 10<br />
MW de força. Estas centrais são<br />
agora concessiona<strong>da</strong>s pela EDP,<br />
que com a sua exploração duplicou<br />
a potência gera<strong>da</strong> pelas centrais.<br />
O desenvolvimento que o Alqueva<br />
gerou não se fica por aqui.<br />
As estra<strong>da</strong>s foram melhora<strong>da</strong>s e<br />
novas vias rodoviárias foram construí<strong>da</strong>s.<br />
Possibilitam a acessibili<strong>da</strong>de<br />
a locais antes isolados.<br />
Também a preservação ambiental<br />
é <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> EDIA.<br />
Cabe à empresa cooperar com<br />
enti<strong>da</strong>des públicas e priva<strong>da</strong>s na<br />
procura de soluções de sustentabili<strong>da</strong>de<br />
em ca<strong>da</strong> intervenção, participando<br />
nos diversos planos de<br />
ordenamento.<br />
A preservação do património<br />
cultural, paisagístico e <strong>da</strong> memória<br />
coletiva de uma aldeia são funções<br />
<strong>da</strong>s empresas exploradoras dos<br />
espaços do Alqueva. A EDIA foi<br />
responsável pela transferência <strong>da</strong><br />
população <strong>da</strong> aldeia <strong>da</strong> Luz para<br />
outro local onde construiu uma<br />
réplica e um museu para preservar<br />
a memória do antigo lugar e <strong>da</strong> vivência<br />
dos seus habitantes.<br />
Outra forma de compensação<br />
pela per<strong>da</strong> de habitats foi a criação<br />
do Parque de Natureza de<br />
Nou<strong>da</strong>r, na Her<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Coitadinha.<br />
“É ver<strong>da</strong>de, comprámos a<br />
Her<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Coitadinha e criámos<br />
um espaço de produção ecológica<br />
onde impera a conservação<br />
<strong>da</strong> fauna e <strong>da</strong> flora típicas desta<br />
região. A her<strong>da</strong>de fica a cerca de<br />
dez quilómetros de Barrancos. É<br />
muito bonita a Coitadinha”, conta<br />
José Luís Fialho entre sorrisos.<br />
Com a manutenção deste ecossistema<br />
pretende-se manter a tradição<br />
e a gestão de um multifuncional<br />
espaço rural.<br />
Quanto à criação de uma praia<br />
fluvial, José Luís Fialho explica<br />
porque ain<strong>da</strong> não é uma reali<strong>da</strong>de<br />
nas margens <strong>da</strong> Alqueva: “Infelizmente,<br />
a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água não é<br />
a melhor, por isso não temos praia,<br />
mas temos uma marina e várias ativi<strong>da</strong>des<br />
náuticas na albufeira”.<br />
Ensino Superior une estu<strong>da</strong>ntes e empresas<br />
Parcerias<br />
de valor<br />
Fabíola<br />
Maciel<br />
Para contrariar o fuga de jovens para o litoral, a<br />
Escola Superior Agrária de Elvas e a Universi<strong>da</strong>de<br />
de Évora apostam em parcerias com pequenas e<br />
médias empresas <strong>da</strong> região<br />
Portugal enfrenta um aumento generalizado<br />
<strong>da</strong> taxa de desemprego,<br />
principalmente entre os jovens.<br />
Como resposta a esta tendência, a<br />
Escola Superior Agrária de Elvas<br />
(ESAE) e a Universi<strong>da</strong>de de Évora<br />
(UE) oferecem um contacto próximo<br />
com as empresas <strong>da</strong> região, onde<br />
a agricultura é a principal fonte de<br />
rendimento, para que os estu<strong>da</strong>ntes<br />
ganhem âncoras e uma melhor leitura<br />
do mercado de trabalho.<br />
Na área <strong>da</strong> agricultura, a ESAE,<br />
pertencente ao Instituto Politécnico<br />
de Portalegre, oferece a licenciatura<br />
em Enfermagem Veterinária e a em<br />
Agronomia, bem como o mestrado<br />
em Agricultura Sustentável. A instituição<br />
dispõe de parcerias com mais<br />
de oitenta empresas a laborar no<br />
Alentejo, de modo a proporcionar<br />
aos alunos uma maior experiência<br />
na sua área. De acordo com <strong>da</strong>dos<br />
fornecidos pela ESAE, em 2011, a<br />
taxa de empregabili<strong>da</strong>de de Enfermagem<br />
Veterinária foi de 62% (57%<br />
na área específica do curso) e de Engenharia<br />
Agronómica de 71% (45%<br />
na área específica do curso).<br />
A Universi<strong>da</strong>de de Évora aposta<br />
na investigação, nos estágios e nos<br />
protocolos. Em termos curriculares,<br />
a UE dispõe de licenciaturas em<br />
Agronomia e Ciência e Tecnologia<br />
Animal, mestrados em Medicina Veterinária,<br />
Engenharia Agronómica,<br />
Engenharia Florestal: Sistemas Mediterrâneos,<br />
Olivicultura e Azeite,<br />
Viticultura e Enologia e Zootecnia<br />
e doutoramentos em Ciências Agrárias<br />
e Ciências Veterinárias.<br />
A instituição promove “a integração<br />
dos alunos numa aproximação<br />
à vi<strong>da</strong> ativa com uma experiencia<br />
real de trabalho e metodologia de<br />
aprendizagem, realiza<strong>da</strong>s com pequenas<br />
e médias empresas <strong>da</strong> região<br />
Alentejo”. Deste modo, nos últimos<br />
dois anos efetuou 29 protocolos e<br />
14 acordos de estágio. A UE está inseri<strong>da</strong><br />
no Instituto de Ciências Agrárias<br />
Ambientais e Mediterrânicas, na<br />
área <strong>da</strong> investigação de Enologia,<br />
Nutrição e Metabolismo, Física e<br />
Microbiologia do Solo.<br />
Alguns projetos estabelecidos<br />
com empresas têm o financiamento<br />
de programas <strong>da</strong> União Europeia,<br />
como por exemplo, o PRODER.<br />
Estes fundos são utilizados em áreas<br />
como a micropropagação de novos<br />
cultivares de nogueira, o arsénio em<br />
arroz, a Rede Inovar, como plano de<br />
divulgação técnica e científica, transferência<br />
de tecnologia e inovação<br />
nos setores agroalimentares e florestal<br />
e a rede temática de alimentação<br />
de bovinos de carne.<br />
Segundo um estudo do Gabinete<br />
de Planeamento, Estratégia, Avaliação<br />
e Relações Internacionais<br />
(GPEARI), em 2010, a taxa de desemprego<br />
nos cursos de Enfermagem<br />
Veterinária foi de 7,7%, em<br />
Engenharia Agrícola de 5,4% e em<br />
Medicina Veterinária de 3,6%. Para<br />
a Universi<strong>da</strong>de, “a cooperação é um<br />
vetor estratégico, absolutamente<br />
fun<strong>da</strong>mental no quotidiano <strong>da</strong> instituição,<br />
porque se traduz no passo<br />
seguinte à investigação.<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
Transpor as<br />
fronteiras<br />
<strong>da</strong> ESAE e<br />
encontrar<br />
parceiros que<br />
dinamizem as<br />
descobertas<br />
científicas é<br />
uma aposta<br />
de valor
66 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 67<br />
Exigências internas <strong>da</strong> Política Agrícola Comum<br />
Empresários agrícolas<br />
e associativismo<br />
como farol<br />
Maria João<br />
Vicente<br />
“Para superar os efeitos adversos<br />
que a Política Agrícola Comum<br />
(PAC) teve no Alentejo, a região<br />
deve apostar em produtos de alta<br />
quali<strong>da</strong>de que possam ser defendidos<br />
por associações de produtores<br />
numa estratégia concerta<strong>da</strong> e no<br />
escoamento equilibrado <strong>da</strong> produção.”<br />
Quem o diz é José Rato<br />
Nunes, docente na Escola Superior<br />
Agrária de Elvas e agricultor com<br />
43 anos e déca<strong>da</strong>s de memória de<br />
anos difíceis.<br />
E este último tem sido particularmente<br />
difícil para a agricultura. Em<br />
<strong>2012</strong>, no Alentejo choveu pela primeira<br />
vez nos últimos dias de Março.<br />
E pouco, muito pouco. Mas esta<br />
não é a única preocupação. Empresas<br />
e agricultores estão privados do<br />
acesso ao crédito, até para alimentar<br />
os animais. “As rações estão a<br />
um preço proibitivo e quando as<br />
reservas de palha acabarem há agricultores<br />
que falam mesmo em soltar<br />
o gado para que não morra nas<br />
pastagens!”, alerta José Rato Nunes.<br />
Ao contrário do centro <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />
que tem chuvas frequentes<br />
durante o Verão, em Portugal, e no<br />
Alentejo em particular, esta época<br />
do ano, tende a ser seca. “A produtivi<strong>da</strong>de<br />
só se consegue com o<br />
regadio. E em regadio os agricultores<br />
portugueses até têm produções<br />
médias por hectare bastante eleva<strong>da</strong>s,<br />
de 12 a 13 tonela<strong>da</strong>s, face a 8<br />
tonela<strong>da</strong>s noutras regiões do globo,<br />
por exemplo em culturas como o<br />
A aposta em nichos de mercado onde Portugal<br />
apresenta condições de produção competitivas<br />
como o setor vinícola, ervas aromáticas ou queijos<br />
pode ser uma via para <strong>da</strong>r um novo fôlego<br />
à economia alentejana<br />
milho.” Mas a opção de regadio tem<br />
custos. “As culturas de regadio encarecem<br />
muito a exploração e diminuem<br />
o rendimento do agricultor<br />
face a outros mercados em que o<br />
preço dos bens e serviços de base à<br />
produção é bastante mais reduzido.”<br />
Com o preço <strong>da</strong> água a cerca de<br />
12 cêntimos por metro cúbico e<br />
os custos em combustível historicamente<br />
elevados, os agricultores<br />
portugueses no Alentejo não<br />
conseguem ser concorrenciais. As<br />
culturas como o milho, o trigo, a<br />
ceva<strong>da</strong> e o arroz não podem ser<br />
competitivas, devido às condições<br />
do clima mediterrânico, e à acentua<strong>da</strong><br />
concorrência internacional que<br />
existe neste tipo de colheitas.<br />
A infraestrutura<br />
do Alqueva veio<br />
duplicar as culturas<br />
em regadio. Se não<br />
forem executa<strong>da</strong>s<br />
corretamente<br />
corre-se o risco<br />
de promover a<br />
salinização dos<br />
solos<br />
Os obstáculos ao desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> agricultura no Alentejo<br />
podem ser superados através de<br />
“uma mu<strong>da</strong>nça de mentali<strong>da</strong>des”,<br />
refere José Rato Nunes. Esta mu<strong>da</strong>nça<br />
terá de manifestar-se em to<strong>da</strong>s<br />
as etapas do processo, desde a<br />
produção até ao escoamento dos<br />
produtos. E vai mais longe ao afirmar<br />
que todo o agricultor tem de<br />
ser um “empresário agrícola”.<br />
É necessário desenvolver, como<br />
existe em Espanha, um nível de associativismo<br />
eficiente que consiga<br />
colocar os produtos no mercado<br />
em condições mais favoráveis para<br />
os agricultores. Os clubes de produtores,<br />
a existirem, aju<strong>da</strong>riam a li<strong>da</strong>r<br />
com os efeitos adversos <strong>da</strong> presença<br />
dos grandes distribuidores.<br />
Hoje as explorações não têm<br />
necessariamente de ser de grandes<br />
dimensões. É possível rentabilizar<br />
extensões reduzi<strong>da</strong>s de terreno,<br />
desde que o produto tenha valor<br />
acrescentado face ao que se produz<br />
noutros mercados e que o produtor<br />
tenha assegura<strong>da</strong> a cadeia de abastecimento.<br />
Também o cálculo dos<br />
custos <strong>da</strong> prestação de serviços terá<br />
de mu<strong>da</strong>r - os custos unitários devem<br />
ser calculados por hectare de<br />
exploração. O problema é que neste<br />
momento há uma indefinição acerca<br />
de quais as priori<strong>da</strong>des governativas<br />
no setor agrícola e o mercado<br />
dos cereais encontra-se instável.<br />
Para os agricultores, para a economia<br />
regional e para o país, esta<br />
fonte de criação de riqueza passa<br />
por uma maior competitivi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s explorações agrícolas e por um<br />
reforço do escoamento dos produtos<br />
em condições mais equitativas<br />
para todos os intervenientes. A paisagem<br />
alentejana não se faz apenas<br />
de ameaças. No horizonte há oportuni<strong>da</strong>des<br />
mas é necessário plantálas<br />
para mais tarde colher.<br />
Reconversão e ajustamento penaliza<br />
países periféricos A PAC<br />
surgiu nos anos 60 com vista a assegurar<br />
a produção de alimentos em<br />
quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de suficientes<br />
para as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> população<br />
europeia. Passou por diversas fases<br />
de implementação mas sempre esteve<br />
entre as políticas que mais consomem<br />
do orçamento comunitário<br />
- chegou a representar quase 50%<br />
e atualmente representa 44,5% de<br />
um orçamento total que se cifra em<br />
126,5 biliões de euros.<br />
Em Portugal, pouco depois <strong>da</strong><br />
adesão à UE em 1986, vigorou uma<br />
primeira fase <strong>da</strong> PAC, ain<strong>da</strong> que o<br />
país tenha partido em condições<br />
desfavoráveis de produção face a outros<br />
estados-membros. Ain<strong>da</strong> assim,<br />
as políticas de incentivo à produção<br />
que caracterizaram a primeira fase<br />
de implementação <strong>da</strong> PAC foram<br />
muito bem-sucedi<strong>da</strong>s. De tal forma<br />
que a <strong>Europa</strong> se tornou excedentária<br />
em produtos como o leite e derivados<br />
e rapi<strong>da</strong>mente foi confronta<strong>da</strong><br />
com o problema do armazenamen-<br />
to. Como não foram encontra<strong>da</strong>s<br />
respostas rápi<strong>da</strong>s para esta situação<br />
e com os produtos alimentares a<br />
apodrecerem nos armazéns, o impacto<br />
mediático tornou-se insustentável.<br />
A UE adotou então medi<strong>da</strong>s<br />
que reconduziram a PAC num sentido<br />
completamente diferente.<br />
A partir de meados dos anos 90,<br />
a palavra de ordem foi a de limitar<br />
a produção, impondo as chama<strong>da</strong>s<br />
quotas. O objetivo foi não só fazer<br />
face ao problema dos excedentes,<br />
mas também conter a diminuição<br />
rápi<strong>da</strong> dos preços dos produtos<br />
hortícolas frutícolas e lacticínios<br />
que então se verificava. Esse decréscimo<br />
dos preços de colocação dos<br />
produtos no mercado ameaçava o<br />
“Em Portugal os<br />
graus de auto<br />
aprovisionamento<br />
são muito baixos.<br />
Um trator, para ser<br />
rentável, tem de<br />
trabalhar 800 horas<br />
por ano e há muitos<br />
que nem 100<br />
trabalham…”<br />
rendimento dos agricultores em<br />
grandes países produtores como a<br />
Alemanha e a França.<br />
Este novo cenário privilegiava<br />
outras utilizações do meio rural e<br />
a retoma de práticas de pousio. Os<br />
países periféricos tiveram de encarar<br />
uma nova reali<strong>da</strong>de. Maior<br />
dificul<strong>da</strong>de de colocar os seus produtos<br />
no mercado e abate massivo<br />
<strong>da</strong>s infraestruturas produtivas, à<br />
medi<strong>da</strong> que as políticas de subsídio<br />
à não produção avançavam no<br />
terreno. Mas tal não foi acompanhado<br />
dos necessários mecanismos<br />
de reconversão e ajustamento. O<br />
setor primário encolheu significativamente<br />
como fonte de criação<br />
de riqueza em Portugal, embora<br />
tal não se tenha verificado noutros<br />
países <strong>da</strong> União. Segundo <strong>da</strong>dos do<br />
Eurostat, entre 2000 e 2011 o rendimento<br />
<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de agrícola em<br />
Portugal recuou 4 pontos percentuais<br />
(p.p.), em média, mas por exemplo<br />
na Alemanha subiu 11,4 p.p. e<br />
em França cresceu 0,3 p.p.<br />
“Competimos num mercado<br />
global mas as condições de concorrência<br />
não são iguais para todos os<br />
países”, lembra José Rato Nunes.<br />
Daí que tenham de ser considera<strong>da</strong>s<br />
outras formas de rentabilização<br />
<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de agrícola. A aposta terá<br />
que ser em produtos com mecanismos<br />
de escoamento garantidos<br />
e que possam chegar a mercados<br />
muito disponíveis para acolher e<br />
pagar pela quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> oferta.<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
Para José Rato<br />
Nunes, o perigo<br />
<strong>da</strong> salinização<br />
dos solos<br />
por incorreto<br />
regadio pode<br />
ser “a arte de<br />
enriquecer pais<br />
e empobrecer<br />
os filhos”
68 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 69<br />
Sovena lidera mercado olivícola nacional A aposta <strong>da</strong> Sovena, líder de mercado<br />
do setor olivícola nacional, com<br />
a sua joint-venture Elaia, vem trazer<br />
uma nova esperança à agricultura do<br />
país e demonstra as potenciali<strong>da</strong>des<br />
Um novo rumo<br />
para o azeite<br />
Inês<br />
Fernandes<br />
Moderni<strong>da</strong>de e tradição são palavras-chave<br />
<strong>da</strong> mais recente aposta no setor olivícola nacional,<br />
que aliando avanços tecnológicos com uma<br />
produção de quali<strong>da</strong>de se reflete no potencial<br />
<strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do Marmelo, em Ferreira do Alentejo<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
que esta mesma conjuntura traz para<br />
os mercados.<br />
Num contexto de crise mundial e<br />
a par com as dificul<strong>da</strong>des sociais que<br />
se fazem sentir um pouco por to<strong>da</strong> a<br />
<strong>Europa</strong>, pouca margem existe para o<br />
investimento e a inovação nos diferentes<br />
setores produtivos.<br />
Em claro contra-ciclo com o que<br />
se tem vindo a observar um pouco<br />
por todo o setor agrícola nacional,<br />
que em muito se fica a dever às parcas<br />
políticas de investimento, a modernização<br />
na olivicultura parece ser<br />
a palavra-chave do grupo Sovena no<br />
que se refere à aposta realiza<strong>da</strong> na<br />
Her<strong>da</strong>de do Marmelo, em Ferreira<br />
do Alentejo.<br />
A olivicultura mundial observou,<br />
nos últimos anos, um claro desenvolvimento<br />
e avanços significativos<br />
na quali<strong>da</strong>de dos seus produtos,<br />
fruto de investigações no âmbito <strong>da</strong><br />
produção e transformação <strong>da</strong> matéria-prima,<br />
mas também de um apuramento<br />
e recuperação de espécies,<br />
a<strong>da</strong>ptando-as à geografia de plantação.<br />
A Sovena reconheceu e soube<br />
aproveitar estes avanços e decidiu<br />
apostar na região alentejana para<br />
man<strong>da</strong>r plantar um dos maiores olivais<br />
do país. Atualmente com 3500<br />
hectares, mas com um objetivo final<br />
de sete mil, a Her<strong>da</strong>de do Marmelo<br />
consegue juntar uma produção<br />
tradicional com conceitos de “nova<br />
olivicultura”, ao mesmo tempo que<br />
trabalha em cooperação direta com<br />
os produtores locais. Compra-lhes<br />
excedentes de produção ou permitelhes<br />
fazer uso do seu mais recente<br />
lagar.<br />
Vasco Martins, do grupo Sovena,<br />
reconhece não só a importância<br />
deste investimento para empresa em<br />
si, como a sua importância para a região.<br />
Mas ressalva que a sua instalação<br />
nesta zona do país em muito fica<br />
a dever a um anterior investimento<br />
governamental, a Barragem do Alqueva<br />
e todo o sistema de regadio<br />
dela dependente.<br />
Facto primordial ao desenvolvimento<br />
deste novo tipo de olivicultura,<br />
a água é uma <strong>da</strong>s principais<br />
bases deste projeto, sendo reconhecido<br />
por Vasco Martins como uma<br />
<strong>da</strong>s justificações que se podem encontrar<br />
na hora de escolher Ferreira<br />
do Alentejo para a instalação e investimento<br />
na região.<br />
Portugal não pode, de momento,<br />
fazer concorrência com a produção<br />
espanhola na hora de se apresentar<br />
no mercado, nem no que diz respeito<br />
ao investimento e investigação<br />
iNêS FERNANDES<br />
neste tipo de cultura, reconhece Vasco<br />
Martins. Mas a her<strong>da</strong>de do Marmelo<br />
é reflexo do aproveitamento<br />
dos avanços já realizados, ficando<br />
patente que, ain<strong>da</strong> que não pensados<br />
para a geografia do nosso país,<br />
os novos tipos de olival apresentamse<br />
como potenciais de recuperação<br />
de investimento ser for possível fazer<br />
convergir as necessi<strong>da</strong>des básicas,<br />
nomea<strong>da</strong>mente o provimento de<br />
água, num só local.<br />
O porta-voz <strong>da</strong> Sovena refere que,<br />
tentando colmatar alguma falhas<br />
que possam surgir no abastecimento<br />
de água, como é o caso do ano em<br />
curso, o grupo apostou, inicialmente,<br />
não só na provisão do sistema de<br />
regadio na região em que instalou a<br />
sua exploração olivícola, mas também<br />
dotou os terrenos de pequenas<br />
lagoas a ca<strong>da</strong> dois hectares, ao mesmo<br />
tempo que trouxe para este tipo<br />
de cultura a rega gota-a-gota.<br />
Esta preocupação com a utilização<br />
<strong>da</strong> água é, no ponto de vista <strong>da</strong><br />
Sovena, um dos seus compromissos<br />
ambientais, ao mesmo tempo que<br />
responde às necessi<strong>da</strong>des que uma<br />
plantação tão intensiva exige aos<br />
solos.<br />
Com olivais que podem ir <strong>da</strong>s 200<br />
a 300 árvores por hectare (cultivo<br />
intensivo) a 2000 árvores por hectare<br />
(super-intensivo), o “uso racional<br />
<strong>da</strong> água” é fator determinante para<br />
o sucesso deste tipo de “nova olivicultura”,<br />
afirma Vasco Martins. A par<br />
com a mecanização, permite não só<br />
um cultivo mais especializado, mas<br />
dá resposta às necessi<strong>da</strong>des de mãode-obra<br />
que afetam o setor agrícola.<br />
Ain<strong>da</strong> que acarrete necessi<strong>da</strong>des e<br />
cui<strong>da</strong>dos específicos com elevados<br />
custos, estes podem justificar-se na<br />
hora de recolher produtos considerados<br />
de eleva<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de.<br />
A mecanização <strong>da</strong> olivicultura faz-<br />
O arquiteto<br />
português<br />
Ricardo Bak<br />
Gordon é o<br />
autor do novo<br />
edifício<br />
do lagar<br />
do Marmelo
A transformação<br />
do caroço <strong>da</strong><br />
azeitona para<br />
biomassa<br />
70 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 71<br />
se refletir nos sistemas de maquinaria<br />
utilizados na hora <strong>da</strong> colheita,<br />
com máquinas desenvolvi<strong>da</strong>s especificamente<br />
para as necessi<strong>da</strong>des<br />
de ca<strong>da</strong> tipo de olival, e, sobretudo,<br />
no desenvolvimento de tecnologias<br />
de ponta que permitem recolher<br />
e transformar a matéria-prima em<br />
tempo recorde não descurando a<br />
quali<strong>da</strong>de do produto final.<br />
Um azeite de quali<strong>da</strong>de O investimento<br />
na investigação que a Sovena<br />
tem vindo a desenvolver em parceria<br />
com a Universi<strong>da</strong>de de Évora não<br />
colhe, de momento, frutos. Ain<strong>da</strong><br />
assim as pesquisas realiza<strong>da</strong>s noutros<br />
países, como em Espanha, onde<br />
este setor recolhe grandes adeptos e<br />
interesse, permitiram que o projeto<br />
desenvolvido no país faça, desde a<br />
sua fun<strong>da</strong>ção, uso de tecnologias de<br />
ponta que garantem não só poupar<br />
custos e esforços, mas também garantir<br />
a quali<strong>da</strong>de do azeite.<br />
Numa perspetiva de produção<br />
para o mercado e respondendo às<br />
necessi<strong>da</strong>des do mesmo, com novos<br />
gostos e eleva<strong>da</strong>s exigências, mas em<br />
linha com a tradição do azeite nacional,<br />
o grupo Sovena fez instalar na<br />
her<strong>da</strong>de um dos mais desenvolvidos<br />
lagares do país, o Lagar do Marmelo.<br />
Imbuído na paisagem alentejana,<br />
o Lagar do Marmelo, <strong>da</strong> Sovena,<br />
representa não só um expoente máximo<br />
de moderni<strong>da</strong>de arquitetónica<br />
que se a<strong>da</strong>ptou à geografia do terreno,<br />
como possui em si mesmo uma<br />
simplici<strong>da</strong>de absoluta na hora de facilitar<br />
a receção e transformação <strong>da</strong><br />
azeitona.<br />
Financiado pelo PRODEP, o projeto<br />
do arquiteto português Ricardo<br />
Bak Gordon, representou um investimento<br />
de cerca de nove milhões de<br />
euros e dá resposta tanto às necessi-<br />
FOTOS: iNêS FERNANDES<br />
Este lagar consegue<br />
fazer convergir,<br />
na perspetiva<br />
dos seus donos<br />
e nas palavras<br />
de Vasco Martins,<br />
as suas principais<br />
preocupações:<br />
ambientais<br />
e de quali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>des <strong>da</strong> empresa, como dos produtores<br />
locais, com mais de 5.500 m2<br />
de dimensão e capaci<strong>da</strong>de para extrair<br />
oito milhões de litros de azeite<br />
num único ano.<br />
Este lagar consegue fazer convergir,<br />
na perspetiva dos seus donos e<br />
nas palavras de Vasco Martins (na<br />
foto), as suas principais preocupa-<br />
ções: ambientais e de quali<strong>da</strong>de.<br />
Ao operar de uma maneira totalmente<br />
sustentável e em prol <strong>da</strong> modernização<br />
<strong>da</strong> produção de azeite,<br />
e respondendo a altos padrões de<br />
limpeza e higiene, o lagar não transforma<br />
só a azeitona em azeite. Permite<br />
a recuperação <strong>da</strong> água utiliza<strong>da</strong><br />
na lavagem, para posteriores regas;<br />
aproveitar as folhas para alimentação<br />
animal e fertilizantes; usar o caroço<br />
<strong>da</strong> azeitona para a produção de<br />
biomassa para a caldeira do próprio<br />
lagar; e recolher o bagaço para ser<br />
vendido para produzir energia.<br />
Esta sinergia inerente ao lagar é<br />
também a sua imagem de marca, e<br />
demonstra uma clara aposta na moderni<strong>da</strong>de,<br />
revela o potencial crescente<br />
que o setor olivícola tem no<br />
nosso país.<br />
A economia do azeite Um “novo<br />
olival” com uma produção mais precoce<br />
justifica o investimento inicial<br />
que se realiza no setor, ao não comprometer,<br />
segundo os produtores,<br />
a quali<strong>da</strong>de do azeite. Chega, até,<br />
segundo Vasco Martins, a a<strong>da</strong>ptarse<br />
aos palatos mais exigentes de<br />
mercados como o norte-americano.<br />
Em apenas três anos podem retirarse<br />
dez a doze tonela<strong>da</strong>s de azeitona<br />
ao ano no super-intensivo e em oito<br />
anos perto de dez tonela<strong>da</strong>s nos intensivos.<br />
Mas o período médio de vi<strong>da</strong> destes<br />
olivais pode, contudo, levantar a<br />
questão deste ser um bom investimento<br />
a longo-prazo e se coadunar<br />
com as culturas nacionais. Um olival,<br />
que em regra pode durar mais de<br />
100 anos, vê a sua esperança de vi<strong>da</strong><br />
reduzi<strong>da</strong> a 50 anos no caso <strong>da</strong>s plantações<br />
em sistema intensivo, e até 15<br />
anos no caso dos super-intensivos.<br />
Um investimento que inicialmente<br />
se apresenta como altamente rentável<br />
e que responde às necessi<strong>da</strong>des<br />
do setor nacional, pode assim comprometer<br />
a sua sustentabili<strong>da</strong>de,<br />
quando encarado no longo-prazo.<br />
A sinergia que se cria em torno<br />
<strong>da</strong> mecanização dos processos de<br />
produção e <strong>da</strong> investigação no setor<br />
deverá, sobretudo no contexto de<br />
crise atual, projetar-se para o futuro.<br />
O caminho percorrido na Her<strong>da</strong>de<br />
do Marmelo é um movimento neste<br />
sentido, mas é também reflexo de<br />
que muito pode ain<strong>da</strong> ser feito pela<br />
agricultura e olivicultura nacionais e<br />
<strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des que representa<br />
para estes setores.<br />
Delta lidera Campo Maior<br />
Inovação e tradição<br />
servi<strong>da</strong>s à mesa<br />
Maria<br />
João<br />
Vicente<br />
É sábado, dia em que descansam<br />
trabalhadores e equipamentos.<br />
Mas pela imponência <strong>da</strong> maquinaria<br />
quase se sente o pulsar <strong>da</strong><br />
produção que só será retoma<strong>da</strong><br />
na segun<strong>da</strong>-feira. Andreia Ruas,<br />
responsável do Gabinete de Quali<strong>da</strong>de,<br />
sabe de cor o caminho<br />
serpenteado <strong>da</strong> fábrica por entre<br />
as diferentes fases <strong>da</strong> produção. É<br />
difícil imaginar que só aqui traba-<br />
Uma máquina de torra e três colaboradores,<br />
foi assim que a empresa de café Delta começou<br />
em 1961. Hoje o grupo conta com 22 empresas<br />
e mais de 4000 funcionários<br />
lham quase 400 pessoas – estimase<br />
que, em ca<strong>da</strong> família campo<br />
maiorense, haja pelo menos um<br />
elemento, que é colaborador <strong>da</strong><br />
empresa. Muitos dos processos<br />
estão automatizados, mas é a mão<br />
humana que mantém o rolar <strong>da</strong>s<br />
engrenagens e assegura o controlo<br />
de quali<strong>da</strong>de. Afinal, nas instalações<br />
desta fábrica de Campo<br />
Maior são produzi<strong>da</strong>s cerca de 250<br />
tonela<strong>da</strong>s de café por dia. Quanti<strong>da</strong>de<br />
mais do que suficiente para<br />
satisfazer as necessi<strong>da</strong>des do mercado<br />
interno, já que muita <strong>da</strong> produção<br />
é exporta<strong>da</strong>. Em Portugal, o<br />
número de consumidores de café é<br />
baixo. Segundo a Organização Internacional<br />
de Café (OIC), consomem-se<br />
no nosso país 4 quilos por<br />
pessoa, em média por ano. Menos<br />
do que em países como Espanha<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
As instalações<br />
<strong>da</strong> Delta<br />
remetem o<br />
visitante para<br />
o mundo do<br />
café
72 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 73<br />
onde o consumo per capita anual é<br />
de 4,3 quilos, França (5,5) ou Alemanha<br />
(6,8).<br />
Ain<strong>da</strong> segundo a OIC o consumo<br />
de café no mundo tem vindo<br />
a crescer ao longo dos últimos 40<br />
anos. E mesmo no cenário conservador<br />
é previsível que continue<br />
a prosperar. Prova disso é a concorrência<br />
que tem vindo a acentuar-se,<br />
e bastante. Outras marcas<br />
como a Nespresso surgiram no<br />
mercado suporta<strong>da</strong>s por um marketing<br />
bem-sucedido em áreas<br />
como o home drinking em que a<br />
Delta conseguiu também posicionar-se<br />
através do lançamento <strong>da</strong><br />
máquina Delta Q.<br />
Beber café em casa é ca<strong>da</strong> vez<br />
mais um hábito, até porque quem<br />
beba dois cafés por dia pode gastar<br />
o equivalente a uma prestação do<br />
carro ou <strong>da</strong> casa por ano. Daí que<br />
os portugueses em crise tentem<br />
moderar os consumos e repensar<br />
hábitos antigos. Na Delta, Rethink<br />
– repensar – é uma constante, ou<br />
não fosse este o nome de um dos<br />
principais projetos de responsabili<strong>da</strong>de<br />
social que a empresa promove.<br />
Fora <strong>da</strong> linha de produção, fabricam-se<br />
ideias. De renovação do<br />
portfolio, por exemplo. Umas <strong>da</strong>s<br />
últimas apostas foi para as tisanas,<br />
“infusões de camomila-pêssego,<br />
morango-baunilha e menta”, refere<br />
Andreia Ruas, mostrando que as<br />
máquinas na zona de empacotamento<br />
não embalam apenas café.<br />
O açúcar, também é aqui dividido<br />
em doses individuais de 9 gramas<br />
e leva a chancela <strong>da</strong> Delta. Quando<br />
o café nos chega à mesa, é servido<br />
o pacote completo: café, açúcar,<br />
biscoito e pau de canela. Afinal,<br />
“o café é mais um motivo para estar<br />
com os amigos”, sublinha Elsa<br />
Elias, uma <strong>da</strong>s vozes <strong>da</strong> Delta que<br />
aposta na tradição e na inovação<br />
<strong>da</strong> empresa que já cumpriu as bo<strong>da</strong>s<br />
de ouro.<br />
A Delta Cafés foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em<br />
1961 por Manuel Rui Azinhais<br />
Nabeiro em Campo Maior, no<br />
Alentejo. Atualmente detém 25<br />
empresas (se se incluir to<strong>da</strong> a fileira),<br />
gera mais de 4 mil postos de<br />
trabalho diretos e exporta os seus<br />
produtos para África, América,<br />
Ásia, <strong>Europa</strong> e Oceânia. A fábrica<br />
<strong>da</strong> Delta Cafés tem uma produção<br />
diária de cerca de 250 tonela<strong>da</strong>s e é<br />
líder de mercado em Portugal.<br />
A história do<br />
café conta-se<br />
por entre a<br />
primeira carrinha<br />
de transporte e<br />
outras relíquias a<br />
que se vai juntar<br />
a tecnologia<br />
moderna no<br />
futuro espaço<br />
interativo<br />
FOTOS: ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
Fundos comunitários requalificam Delta Cafés<br />
Empresa de Rui<br />
Nabeiro investe<br />
em novo museu<br />
Catarina<br />
Benedito<br />
Novo centro pe<strong>da</strong>gógico e de<br />
divulgação científica quer ser<br />
plataforma de contacto entre o público<br />
e os profissionais do café<br />
A Delta Cafés candi<strong>da</strong>tou-se a fundos<br />
comunitários no valor de 2,8<br />
milhões de euros, aos quais se junta<br />
quase outro tanto que será suportado<br />
pela empresa, para a criação de<br />
um novo centro interpretativo que<br />
vai integrar o atual museu do café,<br />
criado em 1994 e que recebe anualmente<br />
a visita de 30 mil pessoas.<br />
A construção do Centro de Interpretação,<br />
Divulgação Cientifica e<br />
Tecnológica e Promoção Turística<br />
<strong>da</strong> Delta Cafés teve inicio em Abril<br />
e a empresa prevê que no prazo de<br />
um ano as obras estejam concluí<strong>da</strong>s.<br />
Este novo museu pretende afirmarse<br />
como um espaço informativo,<br />
didático, cultural e científico com a<br />
missão de promover o conhecimento<br />
através uma viagem interativa ao<br />
mundo do café e vai estar organizado<br />
em quatro áreas temáticas: Biologia,<br />
Indústria, Cultura e Estufa.<br />
A zona <strong>da</strong> Biologia vai apresentar<br />
cinco módulos, que se referem à<br />
geografia, à planta, ao fruto, à reflorestação<br />
ao fruto e à praga e a área<br />
<strong>da</strong> Indústria vai ter oito módulos<br />
ligados ao processamento natural<br />
do café, à colheita, à secagem, ao<br />
transporte e armazenagem, à torrefação<br />
e ao blending. Já a Cultura vai<br />
apresentar uma perspetiva histórica<br />
sobre a evolução <strong>da</strong>s representações<br />
do café na arte, na publici<strong>da</strong>de e nas<br />
embalagens. Por fim, na Estufa vão<br />
ser plantados cafeeiros, permitindo<br />
ao visitante contactar diretamente<br />
com habitat do café. No total, o<br />
novo museu vai ter cerca de 700m2<br />
de área expositiva.<br />
No museu vai também funcionar<br />
um espaço designado “Delta a brincar”,<br />
uma reprodução em miniatura<br />
<strong>da</strong> fábrica <strong>da</strong> Delta dedica<strong>da</strong> às<br />
crianças até aos 10 anos. Segundo a<br />
Delta Cafés “é um espaço que privilegia<br />
a aquisição de conhecimento<br />
por parte dos mais jovens, incentivando<br />
uma ligação entre uma vertente<br />
didática e outra mais formativa”.<br />
O espaço “Delta a brincar”, tal<br />
como o restante museu, será acessível<br />
a crianças com necessi<strong>da</strong>des educativas<br />
especiais e com mobili<strong>da</strong>de<br />
reduzi<strong>da</strong>. Este projeto concorreu ao<br />
regulamento “Promoção <strong>da</strong> Cultura<br />
Científica e Tecnológica e Difusão<br />
do Conhecimento” do INALEN-<br />
TEJO, tendo sido financiado em<br />
60% do valor elegível. “Pretende-se<br />
transmitir ao público a reali<strong>da</strong>de<br />
científica, histórica, tecnológica, sociológica<br />
e antropológica do café e<br />
promove-lo como um produto saudável<br />
na alimentação”, afirma a Delta<br />
Cafés.<br />
Segundo a empresa de Rui Nabeiro,<br />
o centro quer abandonar “o<br />
conceito tradicional de museu” e<br />
apostar na crescente interação com<br />
o público, também com “num espaço<br />
mais moderno que procura<br />
a transparência entre os diferentes<br />
níveis e ambientes para sugerir uma<br />
interligação de funções de um edifício<br />
polivalente”. O atual museu tem<br />
uma biblioteca especializa<strong>da</strong> em<br />
literatura sobre o café e um espaço<br />
dedicado a exposições temporárias,<br />
valências que o novo museu quer<br />
integrar e expandir a outras tertúlias.
74 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 75<br />
Entrevista João Roquette administrador delegado do grupo Esporão<br />
Aposta familiar<br />
em laços de<br />
proximi<strong>da</strong>de<br />
Rita<br />
Pereira<br />
Prestes a ser inaugurado, o novo edifício do<br />
enoturismo foi criado para receber quem se interessa<br />
pela cultura <strong>da</strong> vinha e do vinho. João Roquette assume<br />
o desafio de chegar mais perto do consumidor<br />
O enoturismo <strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do<br />
Esporão foi o primeiro a ser<br />
certificado em Portugal. Hoje<br />
disponibiliza um leque alargado<br />
de programas, entre passeios<br />
pelas vinhas, viagens de barco na<br />
barragem, visitas a caves e adegas,<br />
degustação gastronómica, provas e<br />
cursos vínicos, percursos históricoculturais<br />
e roteiros para observação<br />
<strong>da</strong> natureza.<br />
A importância do enoturismo<br />
para a afirmação <strong>da</strong> marca levou<br />
ao projeto de reequalificação que<br />
está na recta final. O novo edificio<br />
é inaugurado no próximo dia 17<br />
de Maio. Conta com restaurante,<br />
wine-bar e sala priva<strong>da</strong> com<br />
vista privilegia<strong>da</strong> sobre a vinha<br />
e barragem. Inclui também uma<br />
esplana<strong>da</strong> para uma esta<strong>da</strong> mais<br />
descontraí<strong>da</strong> e um jardim com<br />
sombras que, além <strong>da</strong> realização de<br />
provas e buffets volantes, permitirá<br />
usufruir <strong>da</strong> paisagem, sobretudo<br />
no verão. O novo empreendimento<br />
tem ain<strong>da</strong> uma sala de eventos<br />
multiusos para realização e<br />
reuniões, conferências e workshops.<br />
O objetivo é receber melhor os<br />
amantes <strong>da</strong> cultura do vinho e do<br />
Alentejo, afirma João Roquette,<br />
administrador delegado do grupo<br />
Esporão.<br />
DR<br />
Como surgiu projeto<br />
enoturístico do Esporão? O<br />
enoturismo no Esporão surgiu nos<br />
anos 90 com a necessi<strong>da</strong>de de criar<br />
instalações para as pessoas que nos<br />
visitavam. Passaram muitos anos e,<br />
felizmente, o projeto ultrapassou<br />
o próprio edifício. A posição que a<br />
empresa tem hoje no mercado e o<br />
seu desenvolvimento internacional<br />
definiu que tivéssemos de ter<br />
equipamentos para <strong>da</strong>r resposta às<br />
25 mil pessoas que passam todos os<br />
anos pela her<strong>da</strong>de.<br />
Qual a estratégia associa<strong>da</strong> ao<br />
atual projeto de requalificação?<br />
A aposta e investimento no novo<br />
edifício foram feitos considerando<br />
a importância <strong>da</strong> afirmação<br />
do Esporão como um projeto<br />
nacional e português, como um<br />
projeto que se insere no ambiente<br />
rural e numa paisagem muito<br />
concreta, na sustentabili<strong>da</strong>de<br />
que nos caracteriza e que temos<br />
vindo a trabalhar nos últimos<br />
anos, e ain<strong>da</strong> na proximi<strong>da</strong>de<br />
que queremos ter com os nossos<br />
clientes. Portanto, no sentido<br />
de concretizar estes objetivos,<br />
a requalificação do enoturismo<br />
do Esporão revela-se um<br />
projeto absolutamente central e<br />
estratégico.<br />
O enoturismo é muitas vezes<br />
associado a uma classe médiaalta.<br />
No caso <strong>da</strong> her<strong>da</strong>de é um<br />
produto direcionado para este<br />
público? Quando olhamos para o<br />
portfolio do Esporão vemos vinhos<br />
desde a entra<strong>da</strong> de gama, que têm<br />
uma presença no mass market e<br />
custam dois euros, até vinhos híper<br />
exclusivos que custam 80 euros<br />
por garrafa. O target e clientes são<br />
por isso muito variados. Pensamos,<br />
no entanto, que existe um aspeto<br />
comum a todos: gostam de vinho,<br />
apreciam o trabalho que fazemos e<br />
ANA MARGARiDA PEREiRA<br />
querem descobrir um pouco mais.<br />
O enoturismo do Esporão vai ao<br />
encontro desta reali<strong>da</strong>de. É um<br />
local para receber todos os amantes<br />
<strong>da</strong> cultura do vinho e do Alentejo.<br />
É possível estabelecer um<br />
perfil de visitante? Uma parte<br />
importante são pessoas de algum<br />
modo relaciona<strong>da</strong>s com o nosso<br />
negócio, como clientes, jornalistas,<br />
especialistas e stakeholders que<br />
gostamos de convi<strong>da</strong>r. Temos<br />
ain<strong>da</strong> todos aqueles que bebem os<br />
nossos vinhos e querem saber mais<br />
sobre nós. Recebemos também<br />
passantes de fim-de-semana<br />
que já nos conhecem e vêm<br />
almoçar ao restaurante, provar<br />
vinhos novos ou comprar na loja.<br />
Neste contexto, temos visitantes<br />
de muitas nacionali<strong>da</strong>des,<br />
desde portugueses, brasileiros,<br />
espanhóis, norte-americanos,<br />
suíços, alemães, holandeses,<br />
angolanos e ingleses, entre outros.<br />
Quais as mais-valias do novo<br />
edifício do enoturismo?<br />
O edifício vai permitir receber<br />
diferentes tipos de pessoas, de<br />
diferentes faixas etárias, estratos<br />
económico-sociais e com<br />
interesses variados. Desde grupos<br />
maiores até quem pretende uma<br />
refeição exclusiva. Mas também<br />
visitantes altamente focados no<br />
vinho, na vinha e no trabalho mais<br />
técnico como aqueles que têm<br />
interesse na biodiversi<strong>da</strong>de e meio<br />
ambiente. Para além de permitir<br />
diferentes tipos de provas, o<br />
edifício também está pensado<br />
para quem quer vir um dia com a<br />
família ou amigos para descansar e<br />
descontrair.<br />
Vai ter alojamento? Não. O<br />
conceito foi, desde o princípio, de<br />
um dia: as pessoas vêm à Her<strong>da</strong>de<br />
do Esporão, passam o dia e vão-se<br />
embora. Estamos a desenvolver<br />
um projeto turístico no Alqueva<br />
que se se tornar uma reali<strong>da</strong>de terá<br />
alojamento.<br />
Existem parcerias com<br />
enti<strong>da</strong>des ou empresas <strong>da</strong><br />
região? A que nível? Existem.<br />
Temos alguns hotéis na região<br />
com os quais trabalhamos,<br />
temos parcerias com alguns<br />
artesãos em São Pedro de Curval,<br />
reencaminhamos muitas pessoas
76 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 77<br />
para a fábrica de tapeçarias de<br />
Reguengos de Monsaraz e para<br />
produtores de carnes e enchidos<br />
na região, cujos produtos<br />
também vendemos na nossa<br />
loja. Tentamos dinamizar o<br />
mais possível a proximi<strong>da</strong>de e a<br />
locali<strong>da</strong>de.<br />
Procuram ter também uma<br />
responsabili<strong>da</strong>de ambiental?<br />
Estava a pensar por exemplo<br />
no banco de castas. Uma parte<br />
do projeto tem que ver com isso,<br />
com a preservação <strong>da</strong>quilo que<br />
é um património de todos. Mas<br />
curiosamente foi uma iniciativa<br />
cria<strong>da</strong> a pensar na necessi<strong>da</strong>de de<br />
garantir que algumas castas que<br />
se utilizaram menos nos últimos<br />
anos não desaparecem, e de<br />
analisar a capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação<br />
dessas castas em cenários de<br />
aquecimento global.<br />
Como é que se enquadra a<br />
associação dos vinhos com<br />
a mo<strong>da</strong>, através do estilista<br />
Felipe Oliveira Baptista? Esse<br />
é um projeto <strong>da</strong> nossa família<br />
que pretende fazer ponte com<br />
o projeto Esporão. O Felipe<br />
Oliveira Batista concebeu to<strong>da</strong> a<br />
indumentária dos funcionários<br />
do novo edifício do enoturismo,<br />
desde a receção à loja e<br />
restaurante. Também estamos a<br />
desenvolver uma linha de roupa<br />
e acessórios para vender na loja.<br />
É uma marca de uma pessoa<br />
que conheço pessoalmente, por<br />
cujo trabalho tenho uma grande<br />
admiração, e que, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />
partilha alguns valores com a<br />
marca Esporão.<br />
Depois de um percurso ligado<br />
à música, em 2006, decidiu<br />
abraçar o projeto familiar.<br />
Que balanço faz destes seis<br />
anos? O balanço é positivo. Achei<br />
que poderia ser útil ao projeto,<br />
propus um plano a cinco anos e<br />
fico satisfeito de ver que a visão<br />
defini<strong>da</strong> na altura, proposta por<br />
mim, melhora<strong>da</strong> e aprova<strong>da</strong> pelo<br />
conselho de administração e pelos<br />
acionistas, aconteceu. Os objetivos<br />
propostos foram atingidos, e em<br />
alguns deles até superámos as<br />
expectativas. Queríamos ter 40<br />
por cento do nosso negócio fora<br />
de Portugal e este ano chegámos<br />
aos 52. Outros estão em via de ser<br />
alcançados. Fechámos agora um<br />
plano para os próximos três anos,<br />
muito ambicioso na definição<br />
<strong>da</strong>quilo que é o futuro do projeto<br />
e desenvolvimento de negócios<br />
que o Esporão deverá explorar nos<br />
próximos anos.<br />
Quais os desafios? É,<br />
sobretudo, consoli<strong>da</strong>r a<br />
perspetiva do Esporão ser um<br />
produtor português de vinhos<br />
de excelência, de acreditarmos<br />
que Portugal é um sítio onde se<br />
produzem grandes vinhos e que<br />
merecemos um lugar no mundo<br />
em função <strong>da</strong>quilo que fazemos.<br />
Acreditamos que a proporção<br />
entre a quali<strong>da</strong>de dos vinhos, que<br />
se produzem em Portugal, e do<br />
esforço que é feito, ain<strong>da</strong> não se<br />
reflete na expressão que os vinhos<br />
portugueses têm no mundo. O<br />
Esporão acredita firmemente<br />
nisso e está empenhado em<br />
que isso aconteça, através <strong>da</strong><br />
afirmação <strong>da</strong>quilo que é a cultura<br />
portuguesa e a maneira de fazer<br />
vinhos em Portugal. Vamos fazer<br />
isto de uma forma sustentável,<br />
com um respeito muito grande<br />
pelo meio ambiente, garantindo<br />
que estaremos cá na próxima<br />
geração. Vamos trabalhar também<br />
os pontos relacionados com a<br />
proximi<strong>da</strong>de do consumidor.<br />
Para além <strong>da</strong> aposta no<br />
enoturismo, de que outras<br />
formas pretendem investir<br />
nessa relação de proximi<strong>da</strong>de?<br />
O negócio do vinho é um<br />
pouco fragmentado. Existem<br />
os viticultores, produtores,<br />
distribuidores, armazenistas,<br />
restaurantes, supermercados…<br />
por vezes sentimo-nos um pouco<br />
longe do consumidor e acredito<br />
que os consumidores também<br />
se sentem um pouco longe dos<br />
produtores. Queremos trabalhar<br />
isso ao nível <strong>da</strong> internet, mas<br />
também através <strong>da</strong> aposta no<br />
retalho de proximi<strong>da</strong>de e de<br />
conceitos novos que estão a<br />
aparecer. Já vemos, por exemplo,<br />
os grandes retalhistas a investirem<br />
e a recuperarem mercearias para<br />
fazerem lojas mais pequenas,<br />
com um tipo de serviço diferente.<br />
Estamos convencidos que essa vai<br />
ser claramente um tendência para<br />
o futuro e queremos liderar e estar<br />
à frente nesse sentido.<br />
Banco<br />
de castas<br />
O aquecimento global foi uma<br />
<strong>da</strong>s razões que levou o Esporão<br />
a plantar cerca de duas centenas<br />
de castas diferentes. Numa<br />
parcela de dez hectares estão<br />
to<strong>da</strong>s as varie<strong>da</strong>des do Alentejo e<br />
do Douro, as principais <strong>da</strong>s outras<br />
regiões vinícolas do país e ain<strong>da</strong><br />
as mais importantes de países<br />
como Espanha, França, Itália,<br />
Alemanha e Roménia. Algumas<br />
eram comuns na produção<br />
vinícola, mas caíram em desuso.<br />
É o caso <strong>da</strong>s castas Carignan,<br />
Grenache, Manteúdo, Moreto,<br />
Perrum e Amor-Não-Me-Deixes.<br />
Oferta vínica,<br />
turística e<br />
gastronómica<br />
Vinhas e adegas: Diversos<br />
programas de visitas às vinhas,<br />
adegas e caves com provas<br />
de vinhos, azeites e produtos<br />
regionais<br />
Gastronomia e vinhos: Vários<br />
géneros de provas e cursos<br />
vínicos<br />
Grupos e empresas: Workshops<br />
de ilustração <strong>da</strong> natureza e<br />
ativi<strong>da</strong>des de team-building<br />
Biodiversi<strong>da</strong>de: Passeios<br />
temáticos sobre avifauna e<br />
ativi<strong>da</strong>des de observação de aves<br />
Especiais <strong>2012</strong>: Programa <strong>da</strong>s<br />
vindimas; programa Her<strong>da</strong>de do<br />
Esporão – Monsaraz – Alqueva;<br />
programa visita ao Complexo<br />
Arqueológico dos Perdigões;<br />
fim-de-semana com curso vínico<br />
módulo “aromas” e iniciação ao<br />
wakeboard ou ski; dia ao ar livre<br />
com canoagem<br />
iNêS FERNANDES<br />
Vinhos de quali<strong>da</strong>de<br />
Solo alentejano<br />
com memória pioneira<br />
Sara<br />
Barreto<br />
Sob um sol alentejano, Reguengos<br />
de Monsarraz revela a côr <strong>da</strong> terra<br />
que se estende para além do horizonte,<br />
contrastando com os edifícios<br />
brancos que compõem a Her<strong>da</strong>de<br />
do Esporão. Aqui as vinhas<br />
imperam, minuciosamente controla<strong>da</strong>s<br />
por uma equipa de enólogos<br />
que analisa a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s uvas,<br />
por um sistema computorizado de<br />
controlo remoto, que através do sistema<br />
gota a gota é capaz de lhes fornecer<br />
a água, os nutrientes e quando<br />
necessários, medicamentos nas<br />
várias estações do ano.<br />
Adquiri<strong>da</strong> em 1973 pelos fun<strong>da</strong>dores<br />
<strong>da</strong> empresa Finagra-S.A, Joaquim<br />
<strong>da</strong> Bandeira e José Roquette, a<br />
Her<strong>da</strong>de conta com uma área total<br />
de 1.834 hectares, mantendo apro-<br />
Outrora um importante ponto de exportação<br />
de vinho para o império romano, hoje a her<strong>da</strong>de exporta<br />
50 por cento <strong>da</strong> sua produção para 56 países<br />
xima<strong>da</strong>mente as mesmas dimensões<br />
desde o seculo XIII. Apesar<br />
de ain<strong>da</strong> possuir vestígios <strong>da</strong> imponência<br />
do seculo XV, simbolizados<br />
pela conheci<strong>da</strong> Torre do Esporão,<br />
única em termos arquitetónicos e<br />
transforma<strong>da</strong> no logotipo <strong>da</strong> empresa,<br />
hoje a her<strong>da</strong>de ganha com a<br />
reabilitação de espaços novos.<br />
A primeira vinha foi planta<strong>da</strong> um<br />
ano depois <strong>da</strong> aquisição <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de,<br />
tendo esta hoje em dia<br />
600 hectares de uvas de 32 castas<br />
diferentes e 80 hectares de oliveira.<br />
Grandes investimentos nos anos<br />
noventa, tanto a nível de reestruturação<br />
de edifícios como de expansão<br />
do sistema gota-a-gota, abriram<br />
caminho para, em 2009, o grupo se<br />
transformar na marca Esporão, co-<br />
SARA BARRETO<br />
nheci<strong>da</strong> no mundo <strong>da</strong> vinicultura<br />
Apesar dos seus métodos modernos,<br />
o grupo Esporão S.A quis<br />
manter um toque de tradicionali<strong>da</strong>de,<br />
deixando crescer roseiras<br />
bravas em ca<strong>da</strong> extremo <strong>da</strong>s fileiras<br />
de vinha. Estes detetores naturais<br />
(pois seriam as primeiras a serem<br />
contamina<strong>da</strong>s por pragas devido a<br />
sua maior sensibili<strong>da</strong>de) perderam,<br />
no entanto, a sua importância devido<br />
à mutação <strong>da</strong>s doenças presentes<br />
nas floras, pondo em causa a sua<br />
fiabili<strong>da</strong>de e reduzindo as roseiras a<br />
símbolo.<br />
Naves e máquinas Entrando num<br />
primeiro armazém apercebemonos<br />
de que apenas alguém que<br />
conheça o local sabe orientar-se.
78 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 79<br />
Milhares de vinhas assemelham-se a pequenos indivíduos de braços estendidos à procura do calor do sol<br />
À medi<strong>da</strong> que subimos as esca<strong>da</strong>s<br />
deparamo-nos com um barulho de<br />
fundo. Um leve som de máquinas<br />
sincroniza<strong>da</strong>s que vai aumentando<br />
à medi<strong>da</strong> que nos dirigimos para o<br />
miradouro de vidro com vista para<br />
a nave <strong>da</strong>s máquinas do processo<br />
de enchimento e de acabamento.<br />
Estas embora interliga<strong>da</strong>s têm<br />
funções e capaci<strong>da</strong>des muito diferentes.<br />
As primeiras têm uma capaci<strong>da</strong>de<br />
para 11.000 garrafas por<br />
hora, e as segun<strong>da</strong>s, reestrutura<strong>da</strong>s<br />
em 2008, são capazes de rotular<br />
2.000 garrafas por segundo. Os rótulos<br />
são escolhidos com cui<strong>da</strong>do,<br />
tendo muitas vezes a participação<br />
de artistas, o que permite associar<br />
o vinho com a arte <strong>da</strong> música ou<br />
do cinema.<br />
A viagem continua para o local<br />
de armazenamento <strong>da</strong>s garrafas.<br />
A 30 metros de profundi<strong>da</strong>de e<br />
aproveitando a forma natural do<br />
terreno, a cave é sem dúvi<strong>da</strong> um<br />
lugar dramático. Com uma temperatura<br />
estabiliza<strong>da</strong> nos 16º/17º,<br />
serve de abrigo a 500.000 garrafas<br />
poeirentas e expostas em aduelas<br />
feitas a partir de barricas. Pouca<br />
luz e peças antigas conferem um<br />
ver<strong>da</strong>deiro ambiente tradicional,<br />
compatível com a imagem de exclusivi<strong>da</strong>de<br />
passa<strong>da</strong> pela empresa.<br />
As garrafas, ligeiramente inclina<strong>da</strong>s<br />
para impedir a secagem <strong>da</strong><br />
rolha, constituem uma prova <strong>da</strong><br />
evolução histórica de to<strong>da</strong>s as co-<br />
Pouca luz e peças<br />
antigas conferem<br />
um ver<strong>da</strong>deiro<br />
ambiente tradicional,<br />
compatível com<br />
a imagem de<br />
exclusivi<strong>da</strong>de<br />
passa<strong>da</strong> pela<br />
empresa<br />
lheitas produzi<strong>da</strong>s desde os anos<br />
oitenta, existindo inclusivamente<br />
uma garrafeira onde apenas são<br />
guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s as que se distinguem<br />
pela sua quali<strong>da</strong>de.<br />
O líquido passa por um processo<br />
de envelhecimento controlado, em<br />
que mu<strong>da</strong> de sabor e aroma, obtendo<br />
num determinado período<br />
de tempo as caraterísticas pretendi<strong>da</strong>s<br />
e aprecia<strong>da</strong>s pelos consumidores.<br />
A duração do estágio<br />
depende do vinho produzido, podendo<br />
necessitar de apenas alguns<br />
meses ou de longos anos de amadurecimento.<br />
À medi<strong>da</strong> que percorremos as<br />
instalações, avistamos os sinais<br />
“Atenção, pouco oxigénio” e “Barricas<br />
com mosto em fermentação:<br />
perigo de asfixia”, indicando proximi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s adegas. Considera<strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong>s mais modernas <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />
foram construí<strong>da</strong>s em 1987. Têm<br />
em funcionamento três linhas. A<br />
primeira produz o Esporão e Monocastas<br />
tintas, com cubas com<br />
uma capaci<strong>da</strong>de de 16.000 tone-<br />
FOTOS: iNêS FERNANDES<br />
la<strong>da</strong>s. A segun<strong>da</strong> tem uma capaci<strong>da</strong>de<br />
de 31.000 tonela<strong>da</strong>s e produz<br />
os vinhos Defesa e Montevelho, o<br />
primeiro conhecido pela sua quali<strong>da</strong>de<br />
superior e o segundo pela<br />
sua relação quali<strong>da</strong>de-preço. E finalmente<br />
a terceira, com 44.000<br />
tonela<strong>da</strong>s de capaci<strong>da</strong>de e com a<br />
particulari<strong>da</strong>de de ter extração automática,<br />
produz o Esporão Reserva<br />
e monovarietais.<br />
Subindo esca<strong>da</strong>s, e quando pensávamos<br />
ter visto to<strong>da</strong>s as garrafas<br />
<strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do Esporão, somos<br />
confrontados com um grande<br />
túnel com funções semelhantes.<br />
Igualmente impressionante, este<br />
abriga 1.500 barricas feitas de carvalho<br />
americano, com um valor<br />
monetário de 1.200 euros a uni<strong>da</strong>de<br />
e contendo cerca de 225 litros<br />
ca<strong>da</strong>. Acompanhando o comprimento<br />
do túnel, as barricas estão<br />
expostas umas ao lado <strong>da</strong>s outras<br />
e nelas está gravado o logotipo <strong>da</strong><br />
marca assim como a casta do vinho<br />
que contém. Agora, basta degustar<br />
varie<strong>da</strong>des e escolher pala<strong>da</strong>res.<br />
Responsabili<strong>da</strong>de social<br />
na Her<strong>da</strong>de do Esporão<br />
A Her<strong>da</strong>de do Esporão alimenta<br />
uma política empresarial através<br />
<strong>da</strong> qual pretende ir além <strong>da</strong> mera<br />
produção. Quer estar em paz<br />
com a natureza e procura assumir<br />
um papel mais relevante na<br />
comuni<strong>da</strong>de.<br />
Comprometi<strong>da</strong> com o ambiente<br />
e a apostar ca<strong>da</strong> vez mais em<br />
ações de cariz social, a empresa<br />
de vinhos Her<strong>da</strong>de do Esporão<br />
defende a obrigação moral <strong>da</strong><br />
partilha do lucro. Por isso, aderiu a<br />
iniciativas ambientais promovi<strong>da</strong>s<br />
pela União Europeia (UE) como<br />
o Countdown 2010 e investiu<br />
na recuperação <strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do<br />
Perdigão na região do Alentejo.<br />
A iniciativa Countdown 2010<br />
inseriu-se no programa “Parar<br />
a per<strong>da</strong> de Biodiversi<strong>da</strong>de até<br />
2010”, que foi lançado pela<br />
presidência portuguesa <strong>da</strong> União<br />
Europeia, em 2008. Tem como<br />
objetivo impedir a per<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
biodiversi<strong>da</strong>de a nível não só local<br />
mas também nacional e global.<br />
No seguimento destes objetivos,<br />
a empresa contratou uma equipa<br />
de biólogos para identificar que<br />
diferentes espécies existem ao<br />
nível <strong>da</strong> fauna e flora na Her<strong>da</strong>de<br />
do Esporão que tem também um<br />
projeto florestal. Este consiste<br />
na plantação de azinheiras que<br />
foram derruba<strong>da</strong>s no seguimento<br />
do projeto Parque Alqueva. A<br />
her<strong>da</strong>de assumiu o compromisso<br />
de as plantar dentro <strong>da</strong>s suas<br />
imediações.<br />
Devido ao aquecimento<br />
global, o ciclo de maturação e<br />
produção do vinho tem vindo a ser<br />
alterado, tendo a Her<strong>da</strong>de vindo<br />
a vindimar ca<strong>da</strong> vez mais cedo.<br />
Contudo, a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s uvas<br />
não tem sofrido alterações devido<br />
ao aumento <strong>da</strong>s temperaturas<br />
máximas.<br />
A Her<strong>da</strong>de tem também “uma<br />
política de preservação <strong>da</strong> água<br />
não só nos consumos dentro <strong>da</strong>s<br />
próprias adegas como também ao<br />
nível <strong>da</strong>s barragens” e participa<br />
na iniciativa Agen<strong>da</strong> 21 (projeto<br />
local) em parceria com a Câmara<br />
Municipal de Reguengos de<br />
Monsaraz através <strong>da</strong> qual está a<br />
implementar o projeto “Plantar”,<br />
no qual se procura apoiar o<br />
investimento em mais árvores.<br />
Incentivando vários projetos locais<br />
como a creche municipal<br />
e empreendimentos<br />
arqueológicos, a gestão <strong>da</strong><br />
her<strong>da</strong>de procura estar atenta aos<br />
seus parceiros de caminha<strong>da</strong><br />
estratégica. Joana Oliveira
80 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 81<br />
Turismo industrial em Vila Viçosa<br />
Combater a<br />
crise na rota<br />
<strong>da</strong> pedra<br />
Catarina<br />
Benedito<br />
A extração e a transformação<br />
do mármore é quase indústria<br />
única no concelho, mas está a<br />
atravessar “uma crise profun<strong>da</strong>”.<br />
O turismo pode abrir novas<br />
portas à capital do mármore<br />
numa estratégia concerta<strong>da</strong><br />
Vila Viçosa, Borba, Estremoz, Alandroal<br />
e Sousel preparam-se para receber<br />
no início de Setembro deste<br />
ano o projeto Tons de Pedra incluído<br />
na Rota do Património Industrial do<br />
Alentejo que promove visitas a pedreiras<br />
e a fábricas de transformação<br />
de mármores nos vários concelhos<br />
alentejanos. O Museu do Mármore<br />
de Vila Viçosa está a ser reformulado<br />
num espaço aberto e vai mu<strong>da</strong>r para<br />
uma antiga pedreira com o intuito<br />
de mostrar a evolução no setor do<br />
mármore ao longo dos anos.<br />
O presidente <strong>da</strong> Enti<strong>da</strong>de Regional<br />
do Turismo do Alentejo, António<br />
Ceia <strong>da</strong> Silva considera que este<br />
é um “roteiro apelativo e diferenciador”<br />
que tem como missão “conquistar<br />
mercado, valorizar o produto<br />
endógeno <strong>da</strong> região e trazer mais turistas”.<br />
E sublinha que Portugal tem<br />
“recursos patrimoniais fantásticos”,<br />
logo a aposta passa por criar novos<br />
produtos turísticos apelativos.<br />
Embora considere que o turismo<br />
industrial seja “um produto muito<br />
específico” e uma forma de “turis-<br />
mo de risco controlado”, Ceia <strong>da</strong><br />
Silva está confiante no êxito desta<br />
rota a nível nacional e internacional.<br />
“Não tenho dúvi<strong>da</strong>s de que vai ser<br />
um sucesso”. Também o presidente<br />
<strong>da</strong> Câmara Municipal de Vila Viçosa<br />
(CMVV), Luís Caldeirinha<br />
Roma garante que “os principais<br />
locais de interesse <strong>da</strong> rota estão em<br />
Vila Viçosa” e considera que este<br />
roteiro irá atrair mais turismo para<br />
a região. “A sensação de ir ao fundo<br />
de uma pedreira a 80 metros ou de<br />
presenciar uma pedreira em túnel<br />
por dentro do chão são experiências<br />
que depois de vivi<strong>da</strong>s ficam efetivamente<br />
na memória”, afirma.<br />
O projeto Tons de Pedra está inserido<br />
no Programa de Valorização<br />
Económica de Recursos Endógenos<br />
(PROVERE) <strong>da</strong> Zona dos<br />
Mármores no âmbito do Quadro<br />
de Referência Estratégico Nacional<br />
(QREN).<br />
Ain<strong>da</strong> este ano, Portugal organiza<br />
e recebe a 4ª edição do Global Stone<br />
Congress, entre os dias 16 e 20 Julho,<br />
nos concelhos de Borba, Estremoz<br />
e Vila Viçosa. Um evento mundial<br />
que reúne vários especialistas de<br />
diferentes países ligados ao setor<br />
<strong>da</strong> pedra natural, com o objetivo de<br />
criar um espaço de discussão e de<br />
divulgação dos avanços científicos<br />
e tecnológicos no domínio desta<br />
indústria.<br />
Uma <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des organizadoras<br />
deste congresso é o Centro Tecnológico<br />
para o Aproveitamento e Valorização<br />
<strong>da</strong>s Rochas Ornamentais<br />
e Industriais (CEVALOR) criado<br />
em 1990 com o objetivo de apoiar<br />
e desenvolver projetos de investigação<br />
e de formação especializa<strong>da</strong> no<br />
setor marmorista. Aquando <strong>da</strong> sua<br />
criação, o CEVALOR recebeu fundos<br />
comunitários no valor de 3 166<br />
780,35€ no âmbito do Programa<br />
Estratégico de Dinamização e Modernização<br />
<strong>da</strong> Indústria Portuguesa<br />
(PEDIP I).<br />
Diminução <strong>da</strong>s exportações O acentuado<br />
decréscimo <strong>da</strong> procura de pedra<br />
mármore em Vila Viçosa e a consequente<br />
diminuição do volume de<br />
exportações desde 2009 têm revelado<br />
sinais crescentes <strong>da</strong> crise no setor.<br />
Segundo o presidente <strong>da</strong> CMVV,<br />
Luís Caldeirinha Roma, em causa<br />
está a “conjuntura internacional negativa”.<br />
Os principais importadores<br />
de mármore de Vila Viçosa eram,<br />
em primeiro lugar, os países árabes,<br />
a seguir a <strong>Europa</strong>, com destaque para<br />
França e, por fim, o Norte de África.<br />
“No ano passado, houve a que<strong>da</strong> de<br />
vários regimes desde o Egipto, à Argélia<br />
e à Líbia e todos eles eram um<br />
mercado que comprava muito mármore<br />
e que teve uma quebra acentua<strong>da</strong>.<br />
Os chineses também não nos<br />
aju<strong>da</strong>m”, afirma Caldeirinha Roma.<br />
E acrescenta que o único país que<br />
continua a consumir mármore no<br />
Norte de África é Marrocos, mas<br />
sem a expressão de outros tempos.<br />
“Os mármores têm vindo a perder<br />
peso face aos calcários, à cerâmica<br />
e às pedras sintéticas, mas<br />
nos últimos dezoito meses a quebra<br />
foi mais acentua<strong>da</strong> e evidente para<br />
quem acompanha o setor”. Quem<br />
o diz é Luís Lopes, professor au-<br />
FOTOS: lUÍS lOPES<br />
Aspecto geral de exploração subterrânea. lagoa, Vila Viçosa<br />
xiliar do departamento de Geociências<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Évora<br />
que considera que “a concorrência<br />
internacional, muitas vezes desleal,<br />
em termos de preço dos produtos”<br />
é decisiva para que o mármore seja<br />
preterido em relação a outros materiais<br />
mais baratos. Mas este não é<br />
o único fator que concorreu para a<br />
crise. “Durante muito tempo houve<br />
uma falta de corporativismo e de<br />
agressivi<strong>da</strong>de económica conjunta<br />
nos mercados. Por outro lado, a estagnação<br />
nos produtos oferecidos e<br />
a aposta em fabricar tamanhos stan<strong>da</strong>rd<br />
está atualmente a prejudicar a<br />
indústria de transformação de mármores”,<br />
afirma.<br />
Estratégia a curto prazo O atual<br />
período recessivo que a economia<br />
portuguesa atravessa também não<br />
tem aju<strong>da</strong>do. “Não se trata de um<br />
bem de primeira necessi<strong>da</strong>de e em<br />
tempos de crise as alternativas mais<br />
baratas como a cerâmica e ou os<br />
calcários e granitos são preferidos”,<br />
afirma Luís Lopes. “A falta de en-<br />
Da terra rossa<br />
à pedra branca<br />
única<br />
A extração do mármore – que<br />
significa “pedra de quali<strong>da</strong>de” ou<br />
“pedra branca” – em Vila Viçosa<br />
remonta ao período romano<br />
existindo ain<strong>da</strong> vestígios desta<br />
ativi<strong>da</strong>de no castelo <strong>da</strong> vila. O<br />
processo extrativo já não é o que<br />
era. “Começa-se por destapar o<br />
mármore, <strong>da</strong>do que geralmente<br />
existe uma capa de alteração<br />
avermelha<strong>da</strong>, conheci<strong>da</strong> por terra<br />
rossa, que resulta <strong>da</strong> própria<br />
alteração do mármore. Em segui<strong>da</strong><br />
é necessário recorrer à perfuração,<br />
com ‘jumbos’ e martelos<br />
pneumáticos, que permite a<br />
instalação de um fio com ‘pérolas’<br />
diamanta<strong>da</strong>s que irá cortar o<br />
mármore. Individualiza<strong>da</strong>s as<br />
massas do afloramento, procedese<br />
ao seu esquadrejamento”,<br />
conta Luís Lopes. Na foto, o<br />
dimensionamento em blocos cujo<br />
tamanho máximo ideal seria de<br />
3mx2mx2m, mas que raramente<br />
atingem estas dimensões. Os<br />
blocos podem ser vendidos em<br />
bruto, mas normalmente são<br />
encaminhados para uma fábrica<br />
para serem transformados em<br />
chapa ou para entrarem numa<br />
linha de produção de ladrilho e/ou<br />
mosaico.<br />
A sua “extremamente baixa<br />
porosi<strong>da</strong>de” e “a grande<br />
resistência à flexão, que<br />
permite a execução de peças<br />
com espessuras reduzi<strong>da</strong>s,<br />
a diafanei<strong>da</strong>de, ou seja, a<br />
translucidez que apresenta<br />
mesmo em placas com dois<br />
centímetros, e, sobretudo, o<br />
brilho inigualável entre as pedras<br />
estrangeiras similares” são as<br />
principais caraterísticas que o<br />
professor universitário destaca no<br />
mármore existente no concelho<br />
de Vila Viçosa.
82 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 83<br />
comen<strong>da</strong>s de mármores coloca em<br />
perigo postos de trabalho e, em última<br />
instância, leva ao fecho de empresas,<br />
como aliás tem acontecido”,<br />
conclui.<br />
Uma estratégia de curto prazo na<br />
“intensa ativi<strong>da</strong>de extrativa fez com<br />
que atualmente as massas explora<strong>da</strong>s<br />
se encontrem mais profun<strong>da</strong>s, pelo<br />
que os custos de extração são mais<br />
elevados”, acrescenta. “Os ciclos mineiros<br />
de extração são mais demorados<br />
e requerem um maior consumo<br />
de energia que também não pára de<br />
subir. Daqui resultam custos acrescidos<br />
que diminuem a já reduzi<strong>da</strong><br />
taxa de lucro que as empresas têm e,<br />
assim, ficam sem qualquer margem<br />
para se ajustarem de imediato a oscilações<br />
de preços no mercado.”<br />
Mas Luís Lopes sabe que o mercado<br />
tem leis competitivas. “Deve<br />
evitar-se reduzir o preço de ven<strong>da</strong> do<br />
mármore senão as ditaduras do mercado<br />
obrigarão a que a curto prazo se<br />
comece a vender esta pedra abaixo<br />
dos custos de produção de forma<br />
permanente, levando a uma agudização<br />
dos problemas e ao colapso do<br />
setor <strong>da</strong>s rochas ornamentais.”<br />
Embora a procura de mármore<br />
tenha sofrido uma quebra significativa<br />
tal não se deve à escassez<br />
desta pedra. “Temos reservas para<br />
variadíssimos anos”, confirma o presidente<br />
<strong>da</strong> CMVV, no ativo desde<br />
Novembro de 2009. “Vila Viçosa<br />
já teve cerca de 500 explorações de<br />
mármore. Agora deve ter 50 ”, revela<br />
o autarca que considera que o município<br />
está demasiado dependente<br />
desta ativi<strong>da</strong>de. “Há muito que<br />
Vila Viçosa devia ter invertido esta<br />
mono ativi<strong>da</strong>de económica, porque<br />
hoje, tal como há 20 anos vive dependente<br />
do mármore, o que é um<br />
erro.” Mas sabe que é difícil mu<strong>da</strong>r o<br />
rumo de gerações dedica<strong>da</strong>s quase<br />
em exclusivo ao mármore. “Eu arrisco<br />
dizer que 90 ou mais por cento<br />
<strong>da</strong>s pessoas de Vila Viçosa vivem à<br />
conta do mármore mesmo que não<br />
trabalhem diretamente no setor”,<br />
sublinha.<br />
Em “Recursos Naturais – Rochas<br />
Ornamentais: o Mármore”, Luís Lopes<br />
escreve que “em 2005 Portugal<br />
ain<strong>da</strong> ocupava o oitavo lugar mundial<br />
como produtor de mármore<br />
com uma produção aproxima<strong>da</strong><br />
de três milhões de tonela<strong>da</strong>s, cerca<br />
de um décimo do primeiro produtor<br />
– a China”. Os últimos <strong>da</strong>dos<br />
oficiais de que dispõe remontam a<br />
2007, ano em que Portugal ocupava<br />
o nono lugar entre os países produtores,<br />
tendo sido ultrapassado pelo<br />
Egipto. “Se se considerar a produção<br />
per capita ain<strong>da</strong> estaremos um primeiro<br />
lugar. O número de pedreiras<br />
de mármores em laboração contínua<br />
não chegará às 40”, conclui.<br />
Resposta ao desemprego Caldeirinha<br />
Roma não tem dúvi<strong>da</strong>s. “O<br />
desemprego hoje em Vila Viçosa<br />
deve-se única e exclusivamente<br />
à falta de procura do mármore e<br />
não à introdução de maquinaria e<br />
de novas tecnologias, antes pelo<br />
contrário.” E acrescenta que é necessário<br />
influenciar os decisores e<br />
os especialistas para tentar garantir<br />
que o número de ven<strong>da</strong>s aumente.<br />
“Ninguém põe uma pedra mármore<br />
se não for um arquiteto ou um designer<br />
a propor isso.”<br />
O presidente de Vila Viçosa defende<br />
a necessi<strong>da</strong>de de criação de<br />
“uma agência de desenvolvimento<br />
que consiga reunir todos os intervenientes<br />
– autarquia, representantes<br />
do estado, dos empresários, de outros<br />
movimentos ligados à pedra”.<br />
Em primeiro lugar, é necessário haver<br />
uma definição clara sobre qual o<br />
rumo que o setor deve seguir e logo<br />
se poderá “aju<strong>da</strong>r as empresas na<br />
internacionalização, na comerciali-<br />
Alentejo<br />
Marmoris Hotel<br />
e SPA abre em<br />
Setembro<br />
Vila Viçosa prepara-se para<br />
receber um hotel inteiramente<br />
dedicado ao mármore. A<br />
uni<strong>da</strong>de hoteleira teve um<br />
investimento total de 6,5 milhões<br />
de euros, tendo beneficiado de<br />
4,2 milhões de euros de fundos<br />
comunitários de apoio ao turismo<br />
através do Quadro de Referência<br />
Estratégico Nacional (QREN).<br />
O hotel de cinco estrelas, com<br />
abertura prevista para Setembro,<br />
começou a ser construído no<br />
final de 2009 no edifício do<br />
antigo lagar <strong>da</strong> Cooperativa<br />
de Olivicultores de Vila Viçosa<br />
e pode garantir 22 postos de<br />
trabalho. Quer ser uma “montra<br />
viva do que se pode fazer com o<br />
mármore” segundo o presidente<br />
<strong>da</strong> CMVV. C.B.<br />
zação dos produtos e no desenvolvimento<br />
de novas tecnologias”. Identificar<br />
problemas, traçar objetivos e<br />
seguir estratégias é o que a autarquia<br />
de Vila Viçosa e os seus parceiros<br />
sabem ser uma mu<strong>da</strong>nça necessária.<br />
E acrescenta: “A única estratégia <strong>da</strong><br />
Câmara é atenuar o desemprego e<br />
potencializar a criação de desenvolvimento<br />
e de riqueza.”<br />
Segundo Luís Lopes “o mármore<br />
deverá ser encarado como um<br />
material nobre, único e símbolo de<br />
quali<strong>da</strong>de por excelência”, sendo necessário<br />
apostar ca<strong>da</strong> vez mais na sua<br />
valorização. Por outro lado, o professor<br />
universitário considera que a<br />
nível nacional “deveriam adotar-se<br />
medi<strong>da</strong>s protecionistas, não só para<br />
os mármores, mas para to<strong>da</strong>s as pedras<br />
portuguesas, através de incentivos<br />
à sua utilização” à semelhança<br />
do que já é praticado noutros países.<br />
Do ponto de vista internacional,<br />
Luís Lopes acha que “o estabelecimento<br />
de consórcios é crucial para a<br />
sobrevivência do setor”, em especial<br />
em mercados de países emergentes<br />
do ponto de vista económico, como<br />
é o caso do Brasil, de Angola ou de<br />
Timor, com os quais Portugal tem<br />
relações privilegia<strong>da</strong>s.<br />
Embora tenha sido um setor que<br />
beneficiou de forma significativa<br />
de fundos comunitários, nomea<strong>da</strong>mente<br />
partir de 1986, ano em que<br />
Portugal entrou na CEE, com o principal<br />
objetivo de inovar tecnologicamente<br />
as indústrias transformadoras<br />
de mármore na região, Caldeirinha<br />
Roma confessa que “não tem havido,<br />
nestes dois últimos anos, fundos<br />
para o setor, pelo contrário, as coisas<br />
têm estado praticamente para<strong>da</strong>s”.<br />
A vontade de “chamar a atenção<br />
dos decisores para a aplicação do<br />
mármore” tem animado iniciativas<br />
do município de Vila Viçosa em<br />
parceria com outros organismos.<br />
“Stone Project”, a 1ª Bienal Internacional<br />
<strong>da</strong> Pedra, realiza<strong>da</strong> em Outubro<br />
último, foi fruto desta aposta <strong>da</strong><br />
CMVV com a Facul<strong>da</strong>de de Arquitetura<br />
de Lisboa e a Universi<strong>da</strong>de de<br />
Évora. O debate juntou estu<strong>da</strong>ntes,<br />
arquitetos, engenheiros, urbanistas,<br />
geólogos e paisagistas durante uma<br />
semana. Também artistas plásticos,<br />
filósofos, antropólogos, sociólogos,<br />
economistas e políticos que tiveram<br />
oportuni<strong>da</strong>de de refletir sobre<br />
as possibili<strong>da</strong>des de utilização do<br />
mármore no território, na arte, na<br />
arquitetura e no design.<br />
Vila Viçosa quer contrariar séculos de costas vira<strong>da</strong>s<br />
Viver na fronteira<br />
Fabíola<br />
Maciel<br />
Quem chega a Vila Viçosa vê casas<br />
de pedra, laranjeiras planta<strong>da</strong>s nos<br />
passeios e um castelo. Dentro desse<br />
monumento residem histórias<br />
de tempos longínquos que hoje se<br />
transformam em reali<strong>da</strong>de. A I Feira<br />
Medieval retrata lugares mágicos,<br />
trajes coloridos, mulheres com coroas<br />
de flores. Esta Feira mostra um<br />
povo do presente que não esquece<br />
o seu passado.<br />
Passados vários séculos, a Vila<br />
decidiu honrar as suas origens com<br />
a realização de uma Feira Medieval.<br />
Cerca de 250 pessoas proporcionaram<br />
aos visitantes um fim-de-semana<br />
único, em que, segundo José<br />
Alberto Parraça, organizador do<br />
evento, “foi possível mostrar o que<br />
Vila Viçosa tem de tão especial”.<br />
A concretização <strong>da</strong> Feira teve o<br />
Vila Viçosa já foi française, falou español mas é desde<br />
1217 oficialmente portuguesa. Separados apenas por<br />
quarenta quilómetros, os inimigos de outrora são hoje<br />
parceiros de negócios e de convívio<br />
apoio de fundos comunitários do<br />
Programa ARQUIVIA, que se destina<br />
apenas à utilização <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des<br />
ou vilas que integram a “Rede Medieval”.<br />
José Alberto Parraça considera<br />
que “é uma mais-valia que<br />
a autarquia possa usufruir desses<br />
fundos para aplicar em ativi<strong>da</strong>des<br />
de âmbito medieval”.<br />
Inimigos tornam-se parceiros<br />
“Os portugueses não gostam <strong>da</strong><br />
subjugação aos espanhóis”. As palavras<br />
são de Luís Caldeirinha Roma,<br />
presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de<br />
Vila Viçosa, e não deixam dúvi<strong>da</strong>s<br />
quanto ao passado de sofrimento.<br />
Por este motivo, hoje ain<strong>da</strong> existem<br />
indícios de resistência à ocupação<br />
espanhola e não a tentativa de esconder<br />
as lutas.<br />
RiTA OliVEiRA<br />
Contudo, as atitudes mu<strong>da</strong>ram.<br />
“Vila Viçosa quer contrariar séculos<br />
de costas vira<strong>da</strong>s e está de laços<br />
muito ligados a Espanha”, realça o<br />
presidente. O município tem geminações<br />
com as Astúrias, Córdoba,<br />
Ódon e Sigüenza e integra a “Rede<br />
de Ci<strong>da</strong>des e Vilas Medievais” <strong>da</strong><br />
União Europeia. Com dez municípios<br />
espanhóis e dois portugueses,<br />
sendo o outro Marvão, a rede<br />
estratégica pretende promover o<br />
turismo, aproveitar o património<br />
medieval e potencializar as regiões.<br />
Ca<strong>da</strong> munícipio tem um contributo<br />
anual de 1.500 euros e em troca<br />
recebe fundos comunitários para<br />
o seu próprio desenvolvimento.<br />
Atualmente, Santa Maria <strong>da</strong> Feira,<br />
Caminha, Reguengos de Monsaraz,<br />
Tomar e Miran<strong>da</strong> do Douro já efe-<br />
Vila Viçosa<br />
recebeu o foral<br />
de D. Afonso iii,<br />
em 1270
FOTOS: RiTA OliVEiRA<br />
Em cima,<br />
a i Feira<br />
Medieval<br />
decorreu nos<br />
dias 30, 31 de<br />
Março e 1 de<br />
Abril de <strong>2012</strong><br />
Em baixo, a<br />
“Capital do<br />
Mármore”<br />
integra a Rede<br />
de Ci<strong>da</strong>des e<br />
Vilas Medievais<br />
<strong>da</strong> União<br />
Europeia<br />
84 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 85<br />
tuaram a pré-candi<strong>da</strong>tura e alguns<br />
municípios franceses também ambicionam<br />
integrar a Rede.<br />
Uma vila de e para jovens A “Capital<br />
do Mármore” tem, segundo<br />
os Censos de 2011, mais de oito<br />
mil habitantes e uma forte ligação<br />
ao Turismo. “Vila Viçosa oferece<br />
uma vi<strong>da</strong> de terra pequena, onde<br />
há tempo para disfrutar do diaa-dia<br />
com muita quali<strong>da</strong>de de<br />
vi<strong>da</strong>”, salienta Luís Caldeirinha<br />
Roma. Desta forma, não existe<br />
uma fuga generaliza<strong>da</strong> dos jovens,<br />
já que “é uma ci<strong>da</strong>de aberta<br />
que ain<strong>da</strong> tem soluções em muitas<br />
áreas, basta insistir, inovar e<br />
criar”.<br />
A ci<strong>da</strong>de sente repercussões <strong>da</strong><br />
crise económica do país e, por<br />
isso, os calipolenses fazem visitas<br />
frequentes a Espanha em busca<br />
de produtos mais baratos. Por<br />
outro lado, também os espanhóis<br />
visitam a região por motivos gastronómicos.<br />
O presidente con-<br />
fessa “esperar que as dificul<strong>da</strong>des<br />
espanholas que se apregoam não<br />
venham a diminuir as suas visitas<br />
a Portugal”.<br />
Terra portuguesa, com certeza<br />
Diz o ditado que “quem bebe<br />
água de Vila Viçosa acaba por ficar”.<br />
Paulo Ribeiro, natural de Rio<br />
Maior, fez o serviço militar na região<br />
e, há dezassete anos, acabou<br />
por se mu<strong>da</strong>r definitivamente,<br />
porque “o Alentejo é um diamante<br />
em bruto que precisa de ser lapi<strong>da</strong>do”.<br />
As tradições, a história e as gentes<br />
fazem <strong>da</strong> região um ponto de<br />
encontro com “gente simpática,<br />
afável, mas também cosmopolita”,<br />
defende o historiador João Tavares.<br />
Gente que não tem dúvi<strong>da</strong>s sobre<br />
a sua identi<strong>da</strong>de. “Somos portugueses<br />
com muita honra”, realça<br />
Joaquim Viegas. “Somos mesmo<br />
portugueses, sem dúvi<strong>da</strong>”, diz Paulo<br />
Ribeiro com a mesma convicção<br />
de quem poderia lá ter nascido.<br />
Feriado <strong>da</strong><br />
Restauração é<br />
inquestionável na<br />
história de Vila<br />
Viçosa<br />
Para contar a história desta Vila,<br />
é preciso mu<strong>da</strong>r-lhe o nome. Vila<br />
Viçoso, assim se intitulava antes<br />
do foral de D. Afonso III, em<br />
1270, foi ocupa<strong>da</strong> por romanos<br />
e muçulmanos durante vários<br />
séculos. O ponto de viragem<br />
aconteceu com D. Afonso II,<br />
“O Gordo”, que trava duras<br />
batalhas na defesa <strong>da</strong> Península<br />
Ibérica contra os invasores e na<br />
conquista definitiva <strong>da</strong> terra dos<br />
calipolenses.<br />
No século XIV, D. João I<br />
de Castela entra de novo em<br />
guerra com Portugal na luta<br />
pelos territórios fronteiriços. A<br />
população de Vila Viçosa acolhe<br />
e incentiva as tropas, lidera<strong>da</strong>s<br />
por Nuno Álvares Pereira, para<br />
a Batalha dos Atoleiros, onde<br />
se consagrou a vitória lusitana.<br />
Após a Batalha de Aljubarrota, em<br />
1385, a Vila integra o Ducado de<br />
Bragança e começa a descobrir<br />
os hábitos corteses, que se<br />
acentuam quando se torna<br />
residência oficial de férias dos<br />
monarcas.<br />
A região enfrentou alguns<br />
percalços como a soberania <strong>da</strong><br />
dinastia Filipina e as Invasões<br />
Francesas, em que a vila foi<br />
saquea<strong>da</strong> pelas tropas de<br />
Napoleão durante algum tempo.<br />
Joaquim Viegas, calipolense<br />
de nascença, vai mais longe e<br />
defende que “se o Primeiro de<br />
Dezembro deixar de ser feriado<br />
nacional deve tornar-se feriado<br />
municipal, porque a restauração<br />
<strong>da</strong> independência pertence-nos”.<br />
Termina<strong>da</strong>s as lutas, Vila Viçosa<br />
foi brin<strong>da</strong><strong>da</strong> com um final feliz.<br />
Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong><br />
Património<br />
em apreciação<br />
Cátia<br />
Rodrigues<br />
A candi<strong>da</strong>tura <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong><br />
a Património Cultural e Natural<br />
Mundial <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de será aprecia<strong>da</strong><br />
na Assembleia Mundial do<br />
Comité <strong>da</strong> UNESCO, que se reúne<br />
para deliberar em Fevereiro do próximo<br />
ano. Compreende o território<br />
desde o morro do Castelo de Palmela<br />
até ao Cabo Espichel, incluindo o<br />
Parque Marinho Luiz Sal<strong>da</strong>nha.<br />
O processo <strong>da</strong> candi<strong>da</strong>tura foi<br />
iniciado em 2001 e tem sido conduzido<br />
pela Associação de Municípios<br />
de Setúbal (AMRS). Em 2004, Arrábi<strong>da</strong><br />
foi incluí<strong>da</strong> na lista indicativa<br />
portuguesa a Património Mundial<br />
Natural, mas em 2009 a candi<strong>da</strong>tura<br />
sofreu uma alteração. A Comissão<br />
Nacional <strong>da</strong> UNESCO sugeriu que<br />
a Arrábi<strong>da</strong> se candi<strong>da</strong>tasse não só a<br />
património natural, mas também a<br />
património cultural, fazendo desta<br />
uma candi<strong>da</strong>tura mista (situação<br />
única em Portugal.).<br />
A AMRS envolveu no processo<br />
a população dos concelhos que integram<br />
a Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong>, Setúbal,<br />
Palmela e Sesimbra. O passado<br />
mês de Abril foi dedicado a sessões<br />
de discussão pública nos três concelhos.<br />
A <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> esteve<br />
presente na discussão pública que<br />
decorreu dia 15 de Abril, em Setúbal.<br />
A cimenteira Secil, localiza<strong>da</strong> no<br />
parque natural <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong>,<br />
constituiu um tema incontornável.<br />
As preocupações são muitas<br />
e a população teme que a cimenteira<br />
possa prejudicar a candi<strong>da</strong>tura.<br />
Os ci<strong>da</strong>dãos dos concelhos que integram a<br />
Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong> esperam que a beleza natural<br />
e o património cultural constituam um fator de<br />
dinamização e desenvolvimento <strong>da</strong> região<br />
Com estatuto de parque natural<br />
desde 1976, a laboração <strong>da</strong> cimenteira<br />
no Outão tem suscitado grande<br />
contestação. Os estragos na serra<br />
são visíveis e isso pode constituir o<br />
“calcanhar de Aquiles” nesta candi<strong>da</strong>tura.<br />
Maria <strong>da</strong>s Dores Meira, presidente<br />
<strong>da</strong> Câmara Municipal de Setúbal,<br />
esclarece que a zona <strong>da</strong> cimenteira<br />
e <strong>da</strong>s pedreiras foi excluí<strong>da</strong> do perímetro<br />
a classificar e que a própria<br />
Secil tem feito grandes esforços no<br />
sentido de reflorestar as áreas que<br />
vai destruindo.<br />
A outra questão levanta<strong>da</strong> pelos<br />
ci<strong>da</strong>dãos foi a potenciali<strong>da</strong>de turística<br />
<strong>da</strong> serra. O plano de gestão<br />
já elaborado dedica grande parte<br />
dos seus objetivos, precisamente,<br />
à exploração turística, de pequena<br />
escala, do património em causa.<br />
Tal como declara João Afonso, co-<br />
NUNO OliVEiRA/PUBliCO<br />
ordenador técnico <strong>da</strong> AMRS, “a<br />
Serra tem imensas potenciali<strong>da</strong>des<br />
que vão dos queijos, ao vinho, às<br />
praias, à pitoresca vila de Azeitão,<br />
a passeios pedestres por to<strong>da</strong> a cordilheira,<br />
aos passeios de barco no<br />
estuário do Sado acompanhando os<br />
golfinhos, aos castelos e conventos,<br />
às ruínas romanas e até mesmo às<br />
pega<strong>da</strong>s de dinossauros”.<br />
A Arrábi<strong>da</strong> é um espaço natural<br />
de grande beleza e já foi distingui<strong>da</strong><br />
mais do que uma vez. A baía do Portinho<br />
<strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong> já é classifica<strong>da</strong><br />
como uma <strong>da</strong>s dez mais belas baías<br />
do mundo e é também considera<strong>da</strong><br />
uma <strong>da</strong>s sete maravilhas naturais<br />
de Portugal. Numa região ca<strong>da</strong> vez<br />
mais afeta<strong>da</strong> pelo desemprego, os<br />
intervenientes esperam, que, a ser<br />
aprova<strong>da</strong> a candi<strong>da</strong>tura, a Serra <strong>da</strong><br />
Arrábi<strong>da</strong> possa servir como polo<br />
dinamizador e de desenvolvimento.<br />
Serra <strong>da</strong><br />
Arrábi<strong>da</strong> tem<br />
estatuto de<br />
parque natural<br />
desde 1976
86 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 87<br />
Alterações climáticas<br />
“Sul <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />
e regiões<br />
mediterrânicas<br />
são as zonas<br />
mais vulneráveis”<br />
Sónia<br />
de Almei<strong>da</strong><br />
Pela primeira vez na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de<br />
desde o início <strong>da</strong> Revolução<br />
Industrial, o clima terrestre está<br />
a alterar-se através <strong>da</strong> emissão dos<br />
chamados gases de efeito de estufa.<br />
Estas emissões têm diversas origens,<br />
incluindo as ativi<strong>da</strong>des industriais e<br />
agrícolas, as centrais energéticas, e a<br />
rápi<strong>da</strong> intensificação <strong>da</strong> utilização<br />
dos combustíveis fósseis (carvão,<br />
petróleo e seus derivados, gás natural).<br />
Em entrevista à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />
Filipe Duarte Santos, professor<br />
<strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
de Lisboa, avisa que “se<br />
a União Europeia (UE) não chegar<br />
a acordos internacionais que promovam<br />
uma maior eficiência energética,<br />
Portugal, Holan<strong>da</strong>, Itália,<br />
Espanha e Grã-Bretanha vão ser os<br />
países mais penalizados”.<br />
A emissão de gases de efeito de<br />
estufa em grandes quanti<strong>da</strong>des leva<br />
a um aumento <strong>da</strong> sua concentração<br />
atmosférica, o que gera um efeito de<br />
estufa adicional, com mais calor a<br />
ser retido pela atmosfera, originando,<br />
por sua vez, um incremento <strong>da</strong><br />
As alterações do clima são,<br />
atualmente, uma <strong>da</strong>s maiores<br />
ameaças ambientais, sociais<br />
e económicas que o planeta<br />
e a humani<strong>da</strong>de enfrentam,<br />
e que mais pode afetar as<br />
gerações futuras<br />
temperatura do ar. Os países que<br />
mais emitem estes gases são ricos –<br />
países industrializados na <strong>Europa</strong> e<br />
nos Estados Unidos <strong>da</strong> América.<br />
“Há dois tipos de resposta para<br />
o desafio <strong>da</strong>s alterações climáticas,<br />
que se complementam: a mitigação<br />
(ou redução <strong>da</strong>s emissões de gases<br />
com efeito de estufa para a atmosfera)<br />
e a a<strong>da</strong>ptação, para minimizar<br />
ao máximo o efeito do impacto<br />
adverso que as alterações climáticas<br />
exercem nos diferentes setores<br />
socio-económicos e nos sistemas<br />
biogeofísicos”, explica Filipe Duarte<br />
Santos.<br />
As consequências fazem-se sentir<br />
por todo o mundo. A diferença<br />
entre as temperaturas diurnas e noturnas<br />
diminuiu porque as últimas<br />
cresceram mais rapi<strong>da</strong>mente que as<br />
primeiras e o número de dias quentes<br />
e vagas de calor aumentaram,<br />
como se tem vindo a verificar no<br />
decorrer deste ano, em que muitas<br />
regiões portuguesas já se encontram<br />
em situação de seca extrema.<br />
“A a<strong>da</strong>ptação é um processo muito<br />
dependente do local e <strong>da</strong> região,<br />
no que se refere às vulnerabili<strong>da</strong>des<br />
e impactos. Há regiões <strong>da</strong> União<br />
Europeia mais vulneráveis do que<br />
outras. De um modo geral, a <strong>Europa</strong><br />
do Sul e to<strong>da</strong> a região mediterrânica<br />
correm maior perigo do que o Centro<br />
e Norte, porque ao passo que<br />
no Sul os modelos indicam uma<br />
redução de precipitação e maior<br />
frequência de períodos de seca, no<br />
Norte passa-se exatamente o oposto.<br />
Há países particularmente vulneráveis<br />
como Portugal, Holan<strong>da</strong>, Itália,<br />
Espanha e Grã-Bretanha”, realça.<br />
No caso específico <strong>da</strong> mitigação,<br />
a UE adotou um roteiro de baixo<br />
carbono em 2011, que estabeleceu<br />
compromissos destinados a efetuar<br />
uma transformação profun<strong>da</strong> dos<br />
sistemas energéticos europeus. Para<br />
além <strong>da</strong> redução <strong>da</strong>s emissões dos<br />
gases de efeito de estufa de 20% em<br />
2020, relativamente a 1990, a UE<br />
propõe-se agora reduzi-las de 80 a<br />
95% até 2050, em comparação ao<br />
mesmo ano. O grande perigo é mesmo<br />
não fazer na<strong>da</strong>.<br />
Contudo, a crise financeira e<br />
económica, e a estagnação que se<br />
mantém na maior parte <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />
está a dificultar a realização destes<br />
programas. É importante mobilizar<br />
as pessoas, as instituições e as<br />
empresas europeias, no sentido de<br />
intensificar o esforço do desenvolvimento<br />
de energias renováveis para<br />
diminuir a dependência energética<br />
<strong>da</strong> União Europeia no exterior. “Importa<br />
salientar que o efeito <strong>da</strong>s alterações<br />
climáticas é transversal pois<br />
incide em vários setores tais como<br />
os recursos hídricos, agricultura,<br />
florestas, biodiversi<strong>da</strong>de, zonas costeiras,<br />
zonas urbana, pesca, turismo<br />
e saúde”, alerta o docente <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
de Lisboa.<br />
“Portugal terá mais períodos de<br />
seca” No caso português, as secas,<br />
tal como a que ocorreu nos anos de<br />
2004 e 2005, e a que enfrentamos<br />
presentemente “irão tornar-se mais<br />
comuns”, o que constitui implicações<br />
“muito perigosas” para o abastecimento<br />
de água, aumento do risco<br />
de incêndios e para a agricultura.<br />
“Temos que considerar também as<br />
consequências nas zonas costeiras,<br />
onde vai aumentar a erosão e tornar-se<br />
mais frequentes as inun<strong>da</strong>ções”,<br />
afirma Filipe Duarte Santos.<br />
No âmbito dos compromissos<br />
internacionais, nomea<strong>da</strong>mente do<br />
Protocolo de Quioto, foi assumido<br />
o objetivo de limitar o aumento dos<br />
efeitos de estufa em 27%, no período<br />
de 2008-<strong>2012</strong>, relativamente<br />
aos valores alcançados na déca<strong>da</strong><br />
de 90. A UE tem sido líder, no<br />
conjunto dos países desenvolvidos,<br />
no que respeita à mitigação. “Foi a<br />
União Europeia que mais lutou pela<br />
entra<strong>da</strong> em vigor do Protocolo de<br />
Quioto e que na última COP (Conferência<br />
<strong>da</strong>s Partes <strong>da</strong> Convenção<br />
A <strong>Europa</strong> do Sul<br />
e to<strong>da</strong> a região<br />
mediterrânica<br />
correm maior<br />
perigo do que<br />
o Centro e Norte<br />
hElENA RODRiGUES<br />
Quadro <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para as<br />
Alterações Climáticas e Protocolo<br />
de Quioto), realiza<strong>da</strong> na África do<br />
Sul, em 2011, contribuiu decisivamente<br />
para que o Protocolo continue<br />
em vigor depois deste ano”,<br />
destaca o professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
de Lisboa.<br />
Mas a ver<strong>da</strong>de é que todos nós<br />
podemos aju<strong>da</strong>r. Basta apenas que<br />
todos os ci<strong>da</strong>dãos estejam dispostos<br />
a fazer mu<strong>da</strong>nças no seu estilo de<br />
vi<strong>da</strong>, que se refletem em pequenos<br />
gestos como a utilização de energias<br />
alternativas que não sejam poluentes,<br />
a separação do lixo para reciclagem,<br />
a diminuição <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de<br />
lixo produzi<strong>da</strong> e preferirem an<strong>da</strong>r a<br />
pé ou de bicicleta, em detrimento<br />
do carro. Os setores mais importantes<br />
são os <strong>da</strong> energia, transportes e<br />
agricultura. “É urgente diminuir o<br />
consumo de combustíveis e fazer<br />
uso <strong>da</strong>s recentes inovações tecnológicas<br />
que começam a estar acessíveis<br />
aos ci<strong>da</strong>dãos, como é o caso dos<br />
carros elétricos e de equipamentos<br />
com maior eficiência energética”,<br />
conclui o docente.<br />
A desertificação<br />
de solos é<br />
um problema<br />
crescente em<br />
Portugal
Nos últimos<br />
anos, o mar<br />
tomou 150<br />
metros do<br />
areal <strong>da</strong> praia<br />
<strong>da</strong> Barra em<br />
Aveiro e tem<br />
invadido 30%<br />
<strong>da</strong> costa<br />
nacional<br />
88 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 89<br />
Erosão costeira<br />
À volta do mar<br />
Rita<br />
Oliveira<br />
Portugal tem cerca de 30 por cento <strong>da</strong> costa portuguesa<br />
em risco de “muito forte erosão”. Na Praia <strong>da</strong> Barra, um grupo<br />
de ci<strong>da</strong>dãos empenhados de Aveiro quer alertar os habitantes<br />
para este perigo mas primeiro ain<strong>da</strong> falta apelar à autarquia<br />
Em 2004, um quinto <strong>da</strong> costa europeia<br />
já tinha sido “gravemente<br />
afectado”, de acordo com o relatório<br />
divulgado pela União Europeia<br />
sobre a erosão provoca<strong>da</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des<br />
do homem no litoral europeu,<br />
“Viver com a erosão no litoral<br />
<strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”.<br />
Já nessa altura, Bruxelas tinha<br />
alertado para as consequência<br />
possíveis do aumento <strong>da</strong> erosão:<br />
“destruição de casas, estra<strong>da</strong>s e<br />
habitats naturais essenciais para a<br />
vi<strong>da</strong> selvagem” eram os efeitos mais<br />
imediatos. Ain<strong>da</strong> que a Natureza<br />
seja uma causa incontrolável do regresso<br />
<strong>da</strong>s águas ao sítio onde outrora<br />
já estivera, a ação do homem<br />
tem comprometido ca<strong>da</strong> vez mais<br />
a sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s populações<br />
costeiras, já que todos os anos são<br />
retirados 100 milhões de tonela<strong>da</strong>s<br />
de areia que deveria ser leva<strong>da</strong> para<br />
as costas, a fim de substituir a areia<br />
que o mar, naturalmente, leva <strong>da</strong>s<br />
praias portuguesas.<br />
O site JPN – JornalismoPorto-<br />
Net, alimentado por estu<strong>da</strong>ntes de<br />
jornalismo, já em 2004 alertava<br />
para a intervenção do homem ser<br />
“um dos fatores que tem vindo a<br />
potenciar a erosão do litoral um<br />
pouco por to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>”.. A médio<br />
prazo, relatava o JPN, a erosão cos-<br />
teira acabaria por afetar as ativi<strong>da</strong>des<br />
económicas, como o turismo, e<br />
até a segurança <strong>da</strong>s populações que<br />
vivem nas zonas costeiras. Desde<br />
então, não são conheci<strong>da</strong>s muitas<br />
intervenções europeias nesta área,<br />
mas João Ferreira, eurodeputado<br />
do Partido Comunista Português,<br />
já questionou várias vezes a Comissão<br />
Europeia.<br />
No entanto, oito anos depois, em<br />
Portugal, as areias continuam a ser<br />
draga<strong>da</strong>s de vários rios. Em Aveiro,<br />
no porto comercial, encontra-se<br />
“Alguns<br />
especialistas<br />
garantem<br />
que os fenómenos<br />
naturais e o avanço<br />
do mar que se<br />
podem observar<br />
agora, estavam<br />
previstos para<br />
depois de 2020”<br />
uma “mega duna”, construí<strong>da</strong> pelo<br />
Homem ao longo de vários meses,<br />
com areias vin<strong>da</strong>s do leito dos<br />
rios. Joaquim Soares, habitante,<br />
comerciante e observador atento<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que hoje se vive na<br />
Praia <strong>da</strong> Barra, Aveiro, garante que<br />
aquelas areias deviam estar na praia<br />
que, ano após ano, vê o seu areal ser<br />
drasticamente “engolido” pelo mar.<br />
Em Outubro de 2011, na Vagueira,<br />
a alguns quilómetros <strong>da</strong> Praia <strong>da</strong><br />
Barra, o mar galgou as dunas, avançou<br />
cerca de 500 metros na estra<strong>da</strong><br />
e acabou por destruir o pavimento,<br />
rachando a estra<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a largura<br />
e abrindo uma vala impossível de<br />
atravessar de carro.<br />
Na mesma altura, dunas de dois<br />
e três metros estavam praticamente<br />
destruí<strong>da</strong>s e, desta forma, incapazes<br />
de travar o mar que acabaria por<br />
transportar tonela<strong>da</strong>s de areia para<br />
dentro dos terrenos agrícolas <strong>da</strong><br />
área circun<strong>da</strong>nte.<br />
Em Dezembro último, parte <strong>da</strong><br />
Praia <strong>da</strong> Barra acabou mesmo por<br />
ficar interdita à circulação, para que<br />
pudessem realizar-se obras de sustentação<br />
do areal: maquinaria pesa<strong>da</strong><br />
percorreu a praia de uma ponta à<br />
outra, transportando areia de áreas<br />
menos afeta<strong>da</strong>s. O alvo <strong>da</strong> intervenção<br />
era uma zona de bares na praia<br />
que, em poucas semanas, viu desaparecer<br />
o areal que ia até à esca<strong>da</strong>ria<br />
dos estabelecimentos. Entre estas<br />
entra<strong>da</strong>s e o mar, ficou um fosso de<br />
quase três metros, deixando os bares<br />
em perigo constante.<br />
Desde 2005, o mar avançou cerca<br />
de 150 metros em direcção à<br />
praia. No entanto, Joaquim Soares,<br />
que trabalha na Barra, diz que as<br />
pessoas ain<strong>da</strong> não estão conscientes.<br />
“As pessoas estão em completa<br />
negação. Só depois virá a fase <strong>da</strong><br />
aceitação e depois <strong>da</strong> ação”. A ligação<br />
afetiva com o local ou o facto<br />
de ali terem as suas casas são as<br />
principais razões por que as pessoas<br />
continuam a “recusar-se a aceitar a<br />
reali<strong>da</strong>de”.<br />
Ain<strong>da</strong> assim, Joaquim Soares diz<br />
não estar preocupado com o avanço<br />
do mar. “Estas situações não nos<br />
devem preocupar porque se tratam<br />
de uma conjugação de ciclos naturais<br />
com mau planeamento”, defende.<br />
“E se o mar avançar numa determina<strong>da</strong><br />
direcção, não me causa<br />
problema nenhum que tenhamos<br />
de nos deslocar”.<br />
Ao longo dos últimos anos, este<br />
habitante <strong>da</strong> costa portuguesa tem<br />
tentado alertar a população para a<br />
reali<strong>da</strong>de, publicando fotografias<br />
que <strong>da</strong>tam desde 2005 e que mostram<br />
o avanço do mar. Joaquim<br />
Soares explica que o que mais o<br />
preocupa “é que as coisas não sejam<br />
planea<strong>da</strong>s. São situações complexas<br />
e o que está a acontecer é que<br />
os responsáveis que têm este problema<br />
em mão, não estão a querer<br />
encarar a reali<strong>da</strong>de e não se estão a<br />
precaver para o futuro”.<br />
Devido ao acompanhamento<br />
que tem vindo a fazer, Joaquim Soares<br />
tem contatado com habitantes<br />
de to<strong>da</strong> a região e vários especialistas<br />
e estudiosos <strong>da</strong> área. “Alguns garantem<br />
que os fenómenos naturais<br />
e o avanço do mar que se podem<br />
observar agora, estavam previstos<br />
apenas para depois de 2020”, conta.<br />
No início de Abril, o Público<br />
noticiou que Portugal pode ter<br />
que deslocalizar as populações devido<br />
à erosão costeira. Na notícia,<br />
Pedro Afonso Paulo, secretário de<br />
Estado do Ambiente e do Ordenamento<br />
do Território, garantiu que<br />
esta era uma possibili<strong>da</strong>de a médio<br />
prazo.<br />
O secretário de Estado explicou<br />
ain<strong>da</strong> que Portugal não tem recursos<br />
financeiros para fazer paredões<br />
de betão, como os que existem na<br />
Holan<strong>da</strong>, com vista à proteção <strong>da</strong>s<br />
populações costeiras. Por isto, Pedro<br />
Afonso Paulo defende que a<br />
médio prazo será necessário tomar<br />
medi<strong>da</strong>s para “proibir terminantemente<br />
a construção” em muitas<br />
zonas costeiras. Actualmente, Portugal<br />
tem cerca de 30% <strong>da</strong> costa<br />
sujeita a uma “muito forte erosão”,<br />
alertou o governante.<br />
A construção é aponta<strong>da</strong> por Joaquim<br />
Soares como uma <strong>da</strong>s maiores<br />
causas para o agravamento <strong>da</strong><br />
erosão costeira. Em Aveiro, o monte<br />
de areia existente no porto comercial<br />
tem levantado muita discussão<br />
entre aqueles que acompanham a<br />
situação. No entanto, garante Joaquim<br />
Soares, os responsáveis têm<br />
fugido ao debate incessantemente.<br />
A <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> tentou contactar<br />
o pelouro do Ambiente <strong>da</strong><br />
Câmara Municipal de Ílhavo, mas<br />
não obteve qualquer resposta até ao<br />
fecho desta edição.<br />
Mas para Joaquim Soares, habitante<br />
apaixonado <strong>da</strong> Praia <strong>da</strong> Barra,<br />
tal como para outros moradores, o<br />
avanço do mar até pode ser “uma<br />
coisa boa” pois, desta forma, “o<br />
setor <strong>da</strong> construção abran<strong>da</strong> e, ao<br />
mesmo tempo, abran<strong>da</strong> também a<br />
dragagem de areias dos nossos rios,<br />
deixando que a areia venha para as<br />
praias”.<br />
FOTOS: DR<br />
Sines<br />
verde<br />
A Zona Industrial e Logística<br />
de Sines (ZILS) apresenta<br />
uma área de cerca de 2000<br />
hectares rechea<strong>da</strong> de empresas<br />
de produção, potências de<br />
exportação, investimento<br />
estrangeiro e uma <strong>da</strong>s<br />
mais importantes centrais<br />
termoeléctricas do país. O que<br />
pouca gente sabe, é que estas<br />
áreas fabris fazem-se intercalar por<br />
espaços verdes para conseguir<br />
um equilibrio natural e paisagistico,<br />
segundo a Aicep Gobal Parques.<br />
Ao estar ladea<strong>da</strong> por duas<br />
reservas naturais e várias zonas de<br />
protecção de espécies em risco,<br />
a administração <strong>da</strong> ZILS decidiu<br />
construir espaços verdes artificiais<br />
dentro <strong>da</strong> zona fabril.<br />
Assim, desde a sua<br />
arquitectação e concepção que se<br />
podem ler nos estudos e relatórios<br />
várias linhas sobre a preservação<br />
<strong>da</strong> paisagem e a protecção <strong>da</strong>s<br />
espécies. A Aicep considera a<br />
paisagem uma <strong>da</strong>s grandes maisvalias<br />
<strong>da</strong> zona e, por isso, tentou<br />
incluí-la na sua zona industrial.<br />
A altura de maior risco, de<br />
acordo com um estudo de impacte<br />
ambiental realizado pela PGS –<br />
Promoção e Gestão de Áreas<br />
Industriais e Serviços de Sines,<br />
deu-se aquando <strong>da</strong> construção<br />
dos loteamentos. Este impacte<br />
deu-se, de acordo com o mesmo<br />
estudo, devido à “destruição<br />
de alguma vegetação e às<br />
construções propriamente ditas”.<br />
Num segundo momento, depois<br />
de termina<strong>da</strong> a construção <strong>da</strong><br />
zona industrial, a administração<br />
apostou na criação de “espaços<br />
verdes de enquadramento e<br />
valorização”, conforme indicado no<br />
relatório. O objetivo, explicam, era<br />
“compensar a impermeabilização<br />
do solo e reduzir o impacte visual<br />
<strong>da</strong>s construções e infra-estruturas,<br />
medi<strong>da</strong>s que contribuem para<br />
minimizar os impactes na<br />
paisagem”.<br />
De qualquer forma, o risco<br />
de poluição existe. O risco mais<br />
elevado está presente na zona sul<br />
do concelho de Sines, a sul <strong>da</strong><br />
Ribeira <strong>da</strong> Junqueira, onde “os<br />
impactes negativos <strong>da</strong> deposição<br />
no solo de poluentes atmosféricos<br />
serão mais significativos”.
90 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong><br />
Miguel Portas 1958- <strong>2012</strong><br />
Mediterrânico<br />
e frontal<br />
Elisianne<br />
Campos<br />
e Joana<br />
Oliveira<br />
Co-fun<strong>da</strong>dor do Bloco de Esquer<strong>da</strong> cumpria<br />
segundo man<strong>da</strong>to como deputado na <strong>Europa</strong>.<br />
A sua postura mereceu-lhe homenagens alarga<strong>da</strong>s<br />
Na véspera do 25 de Abril, Portugal<br />
perdeu Miguel Portas, economista,<br />
jornalista e primeiro deputado<br />
eleito pelo Bloco de Esquer<strong>da</strong> para<br />
o Parlamento Europeu. Faleceu<br />
por volta <strong>da</strong>s 18h no Hospital ZNA<br />
Middelhem, em Antuérpia, uma<br />
semana antes de completar 54<br />
anos.<br />
Nasceu no Dia do Trabalhador,<br />
em 1958. Tem uma irmã, Catarina,<br />
e um irmão, Paulo, atual ministro<br />
dos Negócios Estrangeiros e líder<br />
do CDS, grupo político mais à<br />
direita na Assembleia <strong>da</strong> República.<br />
Passou parte <strong>da</strong> infância no Porto<br />
com o pai, o arquiteto Nuno<br />
Portas. O irmão ficou com a mãe,<br />
a economista Helena Sacadura<br />
Cabral, em Lisboa.<br />
Aos 13 anos voltou à capital<br />
para estu<strong>da</strong>r. Foi nessa época que<br />
conheceu Francisco Louçã, durante<br />
uma assembleia estu<strong>da</strong>ntil na escola<br />
secundária. A relação de amizade<br />
prolongou-se até hoje. Através <strong>da</strong>s<br />
redes sociais o dirigente do BE<br />
manifestou as suas condolências,<br />
e relembrou a personali<strong>da</strong>de do<br />
amigo: “Viveu a vi<strong>da</strong> intensamente<br />
e com gosto. Foi dirigente do<br />
Bloco e eurodeputado até ao<br />
último momento. Economista por<br />
empréstimo, foi sempre jornalista e<br />
político por vocação”, disse Louçã.<br />
Miguel Portas deixou dois filhos.<br />
Dirigiu a União de Estu<strong>da</strong>ntes<br />
Comunistas, e por ser militante foi<br />
preso pela PIDE. Em 1974 filiou-se<br />
no PCP, que acabou por deixar<br />
devido ao apoio do partido ao<br />
golpe de Estado na União Soviética,<br />
“Miguel Portas encarou a sua própria doença como fazia sempre tudo, <strong>da</strong> política<br />
ao jornalismo: de frente e sem rodeios”, segundo a Comissão Política do BE<br />
em 1991. Porém, em 1989 uniu-se<br />
à Terceira Via, grupo de militantes<br />
comunistas que se opunham à<br />
direção do partido.<br />
Nos anos 90 juntou-se ao<br />
grupo Plataforma de Esquer<strong>da</strong>,<br />
que depois mudou de nome para<br />
Política XXI. Em 1999 formou o<br />
Bloco de Esquer<strong>da</strong> em conjunto<br />
com o PSR (Partido Socialista<br />
Revolucionário), a UDP (União<br />
Democrática Popular) e um grupo<br />
de independentes.<br />
Após a criação do partido,<br />
Miguel Portas apresentou-se como<br />
cabeça de lista do BE nas primeiras<br />
eleições europeias, mas o bloco<br />
não conseguiu eleger nenhum<br />
eurodeputado. Mais tarde, em<br />
2004, foi eleito para o Parlamento<br />
Europeu, e em 2009 integrou a<br />
Comissão de Orçamento. Foi vicepresidente<br />
<strong>da</strong> Comissão Especial do<br />
Parlamento Europeu para a Crise<br />
Financeira, Económica e Social.<br />
Aquando <strong>da</strong> sua morte, Miguel<br />
Portas cumpria o seu segundo<br />
man<strong>da</strong>to como eurodeputado pelo<br />
BE.<br />
Descobriu que tinha cancro<br />
no pulmão em 2010 e passou por<br />
uma cirurgia no mesmo ano. Além<br />
<strong>da</strong> política e do jornalismo, era<br />
fascinado pelo Mediterrâneo que<br />
visitou diversas vezes. Essa paixão<br />
foi tema de dois dos três livros que<br />
publicou com o “mesmo gosto de<br />
sempre”.<br />
Com Sábado, Diário de Notícias,<br />
Público e Lusa<br />
TiAGO MiRANDA<br />
<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Europa</strong> <strong>2012</strong><br />
As declarações e as<br />
imagens que integram esta<br />
publicação são <strong>da</strong> exclusiva<br />
responsabili<strong>da</strong>de dos seus<br />
autores, tendo sido recolhi<strong>da</strong>s<br />
em condições de sereni<strong>da</strong>de,<br />
liber<strong>da</strong>de e responsabili<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s, e<br />
em total independência dos<br />
parceiros do XIII Seminário de<br />
Estudos Europeus<br />
Agradecimentos/<br />
Fotografia<br />
Gonçalo Português<br />
Hemi Fortes<br />
Helena Rodrigues<br />
Joaquim Soares<br />
Luís Lopes<br />
Nuno Oliveira<br />
Paulo Pimenta<br />
Raul Pinto<br />
Rui Gaudêncio<br />
Tiago Miran<strong>da</strong>
A formação prática em jornalismo<br />
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