27.05.2013 Views

Gazeta da Europa 2012 - Cenjor

Gazeta da Europa 2012 - Cenjor

Gazeta da Europa 2012 - Cenjor

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Europa</strong><br />

<strong>2012</strong><br />

Alentejo<br />

À procura de interligar<br />

polos de desenvolvimento


<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Europa</strong> <strong>2012</strong><br />

Publicação dos Ateliers<br />

de Introdução e Produção<br />

Jornalística do XIII Seminário de<br />

Estudos Europeus em parceria<br />

com o gabinete do Parlamento<br />

Europeu em Portugal, a<br />

Comissão Europeia, o Centro<br />

Protocolar de Formação<br />

Profissional para Jornalistas,<br />

<strong>Cenjor</strong>, e o jornal Público<br />

Diretora<br />

Deolin<strong>da</strong> Almei<strong>da</strong><br />

Editores<br />

Cristina Guerreiro<br />

Orlando César<br />

Grafismo e Paginação<br />

Marco Ferreira<br />

Re<strong>da</strong>ção<br />

Ana Margari<strong>da</strong> Pereira<br />

Ana Silva<br />

Catarina Benedito<br />

Cátia Rodrigues<br />

Celso Soares<br />

Elisianne Campos<br />

Fabíola Maciel<br />

Filipa Dias Mendes<br />

Geiziely Fernandes<br />

Inês Fernandes<br />

Inês Vidigal<br />

Joana Oliveira<br />

Maria de Deus Carranca<br />

Maria João Vicente<br />

Rita Oliveira<br />

Rita Pereira<br />

Rodrigo Torres Pereira<br />

Sandra Carmona<br />

Sara Barreto<br />

Sónia Almei<strong>da</strong><br />

Susana Pereira<br />

Foto de capa: Docapesca<br />

de Sines, Helena Rodrigues<br />

Índice<br />

4Editorial Os fundos também<br />

mu<strong>da</strong>m as mentali<strong>da</strong>des<br />

6Migrações Uns entram,<br />

outros ficam à porta<br />

10Entrevista Ana Gomes<br />

eurodeputa<strong>da</strong> socialista Uma voz firme<br />

contra os discursos xenófobos<br />

12União Europeia discute a<br />

partilha de proprie<strong>da</strong>de intelectual<br />

Portagens globais<br />

14Eurodeputado Rui Tavares<br />

responde a repto de Assunção<br />

Esteves O essencial <strong>da</strong> UE em duas<br />

folhas A5<br />

16Opinião Quo vadis, europa?<br />

17<strong>Europa</strong> 2020 Uma estratégia para<br />

vencer a crise<br />

20União Europeia adota Pacto<br />

Orçamental Controverso manual de<br />

gestão <strong>da</strong>s finanças públicas<br />

21Movimentos de ci<strong>da</strong>dãos na<br />

<strong>Europa</strong> A socie<strong>da</strong>de ocupa a rua<br />

22Segurança na UE Dia Europeu<br />

<strong>da</strong>s Vítimas do Terrorismo<br />

24Direito à proteção de <strong>da</strong>dos<br />

pessoais Entender o mundo com ética<br />

26Portugal Planeamento de<br />

recursos hídricos está na fase final<br />

28Redes transeuropeias de<br />

transportes Obras para<strong>da</strong>s, projetos<br />

suspensos<br />

30<strong>Europa</strong> Velha mas ativa<br />

32Opinião O sucesso de informar<br />

sobre a <strong>Europa</strong><br />

33Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> Criar valor e<br />

emprego<br />

34Mobili<strong>da</strong>de universitária<br />

Programa Erasmus: 25 anos a “criar”<br />

europeus<br />

37Desigual<strong>da</strong>de de género<br />

Mulheres ganham menos na União<br />

Europeia<br />

39Opinião O jornalismo que vale<br />

a pena<br />

40Revisão <strong>da</strong> política comum<br />

Pescadores temem novos riscos<br />

44Entrevista João Ferreira<br />

Eurodeputado “O setor <strong>da</strong>s pescas foi<br />

desprezado pelos sucessivos governos”<br />

47Avaliação do programa<br />

de aju<strong>da</strong> externa Desemprego e<br />

reformas laborais à espreita<br />

48Aviação Tecnologia de ponta <strong>da</strong><br />

Embraer aposta no Alentejo<br />

50Aeroporto de Beja Atrasado na<br />

descolagem, futuro condicionado<br />

53Opções de baixo custo<br />

À espera de melhores voos<br />

55Na rota do Alentejo<br />

Uma região a redescobrir<br />

57Património e futuro em Évora<br />

Polo de expansão e cultura<br />

58Évora pelo geógrafo Jorge<br />

Gaspar O esplendor cultural na época<br />

moderna<br />

60Barragem do Alqueva<br />

“Gigante” do Alentejo ganha Prémio<br />

Inovação <strong>2012</strong><br />

63No interior alentejano<br />

O turismo no grande lago<br />

65Ensino Superior une<br />

estu<strong>da</strong>ntes e empresas Parcerias<br />

de valor<br />

30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 3<br />

43<br />

Sines na vanguar<strong>da</strong> do desenvolvimento<br />

Porta atlântica <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>. Porto com limitações à pesca.<br />

66Exigências internas <strong>da</strong><br />

Política Agrícola Comum (PAC)<br />

Alentejo quer apostar em produtos de<br />

alta quali<strong>da</strong>de<br />

68Sovena lidera mercado<br />

olivícola nacional Um novo rumo<br />

para o azeite<br />

71Delta lidera Campo Maior<br />

Inovação e tradição servi<strong>da</strong>s à mesa<br />

73Fundos comunitários<br />

requalificam Delta Cafés<br />

Empresa de Rui Nabeiro investe em<br />

novo museu<br />

74Entrevista João Roquette<br />

administrador delegado do grupo<br />

Esporão Aposta familiar em laços de<br />

proximi<strong>da</strong>de<br />

77Vinhos de quali<strong>da</strong>de Solo<br />

alentejano com memória pioneira<br />

80Turismo industrial em Vila<br />

Viçosa Combater a crise na rota<br />

<strong>da</strong> pedra<br />

83Vila Viçosa quer contrariar<br />

séculos de costas vira<strong>da</strong>s Viver na<br />

fronteira<br />

85Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong><br />

Património em apreciação<br />

86Alterações Climáticas “Sul <strong>da</strong><br />

<strong>Europa</strong> e regiões mediterrânicas são as<br />

zonas mais vulneráveis”<br />

88Erosão costeira À volta do mar<br />

90Miguel Portas<br />

1958- <strong>2012</strong> Mediterrânico e frontal


4 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong><br />

Os fundos também mu<strong>da</strong>m<br />

as mentali<strong>da</strong>des<br />

Editorial Deolin<strong>da</strong> Almei<strong>da</strong> Diretora do <strong>Cenjor</strong><br />

Os <strong>da</strong>dos divulgados<br />

pela Direção-Geral<br />

do Orçamento <strong>da</strong><br />

Comissão Europeia<br />

indicam que Portugal<br />

foi o segundo país<br />

europeu que mais<br />

beneficiou dos fundos comunitários, desde<br />

a entra<strong>da</strong> em vigor do Quadro de Referência<br />

Estratégico Nacional (QREN). Portugal já<br />

recebeu 35 por cento <strong>da</strong>s verbas previstas<br />

para o período 2007-2013, sendo apenas<br />

ultrapassado pela Alemanha (36 por cento)<br />

a nível <strong>da</strong> execução<br />

dos fundos e ficando<br />

acima <strong>da</strong> média dos 27<br />

estados-membros, que é<br />

de 27 por cento. Portugal<br />

ocupa o primeiro<br />

lugar no volume de<br />

pagamentos efetuados<br />

no âmbito do Fundo<br />

Social Europeu e o<br />

quinto no que respeita<br />

aos pagamentos do<br />

FEDER e Fundo de<br />

Coesão.<br />

Por muito que se<br />

possa criticar a forma<br />

como têm sido utilizados<br />

ou desperdiçados, os<br />

fundos comunitários operaram mu<strong>da</strong>nças<br />

significativas na paisagem do País. Visto<br />

de cima, provavelmente, saltaria à vista a<br />

rede de auto-estra<strong>da</strong>s, mas muito mais do<br />

que isso foram encontrar no Alentejo os<br />

participantes na 13.ª edição do Seminário de<br />

Estudos Europeus, que compõem a re<strong>da</strong>ção<br />

desta “<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”.<br />

Desde logo, a imponência <strong>da</strong> Barragem<br />

de Alqueva, em vias de concretizar o plano<br />

de rega para o Alentejo pensado em 1957,<br />

para estar terminado em 2025. A conclusão<br />

do projeto foi antecipa<strong>da</strong> para 2013, em<br />

virtude de ter passado a ser cofinanciado<br />

desde 1996, mas voltou a atrasar-se. Agora,<br />

espera-se a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s culturas de<br />

sequeiro para as de regadio, como a que a<br />

re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> “<strong>Gazeta</strong>” já foi encontrar no olival<br />

intensivo do Lagar do Marmelo, um projeto<br />

arquitetónico de Ricardo Bak Gordon,<br />

cofinanciado pelo PRODER, que passou a<br />

marcar a paisagem de Ferreira do Alentejo.<br />

Em Évora, a panorâmica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de que<br />

Sines, que<br />

começou a deixar<br />

de ser uma<br />

vila piscatória<br />

na déca<strong>da</strong> de<br />

70, é hoje um<br />

lugar dinâmico,<br />

industrial,<br />

portuário e<br />

cultural<br />

se avista do Alto de São Bento passou a<br />

contar com os dois enormes pavilhões <strong>da</strong><br />

Embraer, que não constam <strong>da</strong> réplica <strong>da</strong><br />

paisagem em mosaico existente no local. O<br />

gigante brasileiro <strong>da</strong> aeronáutica prepara-se<br />

para entrar em funcionamento até Setembro<br />

e criar dois mil empregos, mas os seus<br />

representantes reconhecem que, sem os<br />

fundos estruturais, não se teriam instalado<br />

ali.<br />

Também o aeroporto que nasceu em<br />

Beja, graças aos 23 milhões de euros de<br />

comparticipação europeia, estava à espera de<br />

“acudir ao que vinha do Alqueva”, contando<br />

com a explosão do turismo regional que<br />

ain<strong>da</strong> não ocorreu. Os seus responsáveis<br />

voltam-se agora para o negócio <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> de<br />

peças em 2.ª mão, porque “nem os 3,5 Km<br />

de pista convencem as companhias aéreas a<br />

aterrar na base”.<br />

Parece, assim, que o mais difícil é<br />

operar a mu<strong>da</strong>nça de mentali<strong>da</strong>des: dos<br />

jovens que ain<strong>da</strong> não se fixam em número<br />

suficiente para ultrapassar o estigma do<br />

envelhecimento <strong>da</strong> população, numa região<br />

onde a taxa de desemprego continua a ser<br />

superior à média nacional; dos operadores<br />

turísticos que ain<strong>da</strong> privilegiam o litoral;<br />

<strong>da</strong> banca que não acredita na agricultura,<br />

ao contrário do que acontece em Espanha,<br />

como se queixou o representante <strong>da</strong><br />

Sovena, 2.ª empresa mundial de azeite;<br />

dos agricultores que têm de passar a ser<br />

“empresários agrícolas”, a<strong>da</strong>ptar-se à 3.ª fase<br />

<strong>da</strong> PAC – que aí vem para voltar a incentivar<br />

a produção – e aprender a fazer o regadio,<br />

sem provocar o empobrecimento do solo<br />

alentejano, como explicou José Rato Nunes,<br />

agrónomo e agricultor, à “<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”.<br />

Há, no entanto, sinais de que as<br />

mentali<strong>da</strong>des se vão a<strong>da</strong>ptando às<br />

mu<strong>da</strong>nças opera<strong>da</strong>s pelos fundos. Sines, que<br />

começou a deixar de ser uma vila piscatória<br />

na déca<strong>da</strong> de 70, é o maior exemplo disso,<br />

com todo o seu dinamismo industrial,<br />

portuário e cultural. A aposta na quali<strong>da</strong>de<br />

dos vinhos, do azeite e no enoturismo<br />

também prova quanto o País consegue ser<br />

competitivo. E, em Évora, os condutores de<br />

charretes no centro histórico já aconselham<br />

os turistas a ir a Monsaraz, não apenas<br />

para conhecerem a vila medieval, mas para<br />

avistarem <strong>da</strong>s suas muralhas o maior lago<br />

artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>.<br />

A <strong>Europa</strong> está confronta<strong>da</strong> com uma sucessão de antinomias.<br />

Apesar de carecer de soluções políticas, submete-se ao poder dos mercados.<br />

As instituições europeias perderam iniciativa. Os problemas agravam-se e os<br />

movimentos sociais clamam por ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. (na foto, Indignados no Rossio de Lisboa)<br />

iNêS FERNANDES


A resposta ao<br />

conselho de<br />

Pedro Passos<br />

Coelho não se<br />

fez esperar.<br />

Exigem direito<br />

ao trabalho em<br />

Portugal<br />

6 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 7<br />

Migrações<br />

Uns entram, outros<br />

ficam à porta<br />

FiliPA DiAS MENDES<br />

Filipa<br />

Dias<br />

Mendes<br />

Passos Coelho, depois de<br />

aconselhar os jovens portugueses<br />

a emigrarem, procura agora<br />

convencer “quadros altamente<br />

qualificados” a estabelecerem-se<br />

em Portugal<br />

O Governo legisla em contra-ciclo.<br />

A alteração ao regime jurídico<br />

dos estrangeiros em Portugal<br />

vem fechar a porta aos imigrantes<br />

quando o país perde população<br />

todos os dias. Governo e oposição<br />

lêem nas entrelinhas do diploma o<br />

melhor e o pior dos mundos.<br />

A alteração ao regime jurídico<br />

dos estrangeiros em Portugal,<br />

aprova<strong>da</strong> a 13 de Abril, traz algumas<br />

novi<strong>da</strong>des. Entre as principais<br />

alterações ao documento está a<br />

criminalização <strong>da</strong> contratação de<br />

imigrantes ilegais, o reforço do<br />

combate aos casamentos de conveniência<br />

e a agilização do reagrupamento<br />

familiar. Cecília Honório<br />

(BE) vê um cenário diferente,<br />

“uma política que segue os passos<br />

de Merkel e Sarkozy em direção a<br />

uma <strong>Europa</strong> de portas fecha<strong>da</strong>s”.<br />

O Cartão Azul UE veio acender<br />

o debate. Este título, específico<br />

para trabalhadores altamente<br />

qualificados, visa facilitar a permanência<br />

em Portugal de ci<strong>da</strong>dãos<br />

de países terceiros. A alteração<br />

legislativa clarifica ain<strong>da</strong> a figura<br />

do “emigrante empreendedor” e<br />

visa agilizar o processo burocrático<br />

para aqueles que tenham um<br />

milhão de euros para investir no<br />

país. A medi<strong>da</strong> não convenceu<br />

António Filipe (PCP) que acredita<br />

que o caminho trilhado representa<br />

“um retrocesso com o qual<br />

a socie<strong>da</strong>de portuguesa na<strong>da</strong> tem<br />

a ganhar”. Acrescenta, com ironia,<br />

que o governo “estende o tapete<br />

aos empresários mas fecha a porta<br />

aos trabalhadores”. Na mesma linha<br />

de pensamento, e em resposta<br />

aos emigrantes milionários, Cecília<br />

Honório defendeu que esta<br />

medi<strong>da</strong> vem instituir “imigrantes<br />

de primeira, de segun<strong>da</strong> e de terceira”.<br />

Miguel Macedo recorreu aos números<br />

para fechar o debate e, com<br />

orgulho de uma obra que não lhe<br />

pertence, relembrou que no ano<br />

passado “6.901 imigrantes ilegais<br />

regularizaram a sua situação.” Segundo<br />

o ministro <strong>da</strong> Administração<br />

Interna, esta é uma “lei humanista<br />

que honra o país e dignifica a<br />

condição de imigrante”<br />

Sistema social em cheque A UE<br />

atravessa atualmente um dos momentos<br />

mais difíceis <strong>da</strong> sua história<br />

recente. Envolta numa crise económica<br />

profun<strong>da</strong>, começa a ser posta<br />

em causa demasia<strong>da</strong>s vezes. O recuo<br />

nas condições de vi<strong>da</strong> e o aumento<br />

do desemprego dão o mote<br />

para que a desconfiança face à imigração<br />

volte à tona.<br />

Em to<strong>da</strong> a união, e em marcha<br />

contrária aos ideais fun<strong>da</strong>dores,<br />

levantam-se vozes contra as fronteiras<br />

abertas, fazendo tremer a dimensão<br />

social do projeto europeu.<br />

A percentagem média de imigrantes<br />

na <strong>Europa</strong> é, atualmente, de<br />

4,5%. Este número, que continua<br />

a amedrontar inúmeros ci<strong>da</strong>dãos,<br />

traça a fronteira entre a continui<strong>da</strong>de<br />

e o colapso do sistema social<br />

europeu.<br />

Rui Marques, alto comissário<br />

para a Imigração e Minorias Étnicas<br />

em Portugal de 2002 a 2008,<br />

é um dos principais nomes na luta<br />

pela integração dos imigrantes no<br />

país. Profundo conhecedor <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de<br />

de atrair população para<br />

dentro <strong>da</strong> UE, alerta para números<br />

que falam por si. “Entre 2010 e<br />

2050, se a imigração fosse igual a<br />

zero, a população europeia perderia<br />

50 milhões de pessoas. Temos<br />

hoje dois ativos por ca<strong>da</strong> reformado<br />

na UE, há dez anos atrás essa<br />

diferença era de quatro para dois”.<br />

Em Portugal, a situação é particularmente<br />

dramática. Segundo o<br />

Censos 2011, “somos quase tantos<br />

como há dez anos”. Atualmente,


Manifestação<br />

12 de Março<br />

de 2011 “Não<br />

nos mandem<br />

emigrar”<br />

8 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 9<br />

vivem em Portugal 10.555.853<br />

pessoas.<br />

De acordo com os resultados<br />

apresentados, a população residente<br />

no país é praticamente a mesma<br />

de 2001. Durante este período, a<br />

população cresceu 1,9%. Ou seja,<br />

199.700 pessoas. Destas, segundo<br />

<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Francisco Manuel<br />

dos Santos (FMS), 182.100<br />

resultam <strong>da</strong> imigração.<br />

O ensaio “Segurança Social, o<br />

futuro hipotecado”, publicado pela<br />

Fun<strong>da</strong>ção FMS, dá conta de um<br />

país de pensionistas. Portugal tem<br />

atualmente 3.420.000 de reformados.<br />

Ou seja, por ca<strong>da</strong> dez trabalhadores<br />

existem seis reformados.<br />

Vale a pena recor<strong>da</strong>r que há menos<br />

de 30 anos este rácio era de dez<br />

para quatro.<br />

A Fun<strong>da</strong>ção FMS publicou este<br />

ano o livro digital “Retrato de Portugal”<br />

onde faculta alguns <strong>da</strong>dos<br />

curiosos. Se nos anos 60 os casais<br />

tinham em média três filhos, atualmente<br />

têm apenas um. Por outro<br />

lado, vive-se ca<strong>da</strong> vez mais e, de<br />

1970 até aos dias de hoje, pode-se<br />

contar com mais 12 anos de vi<strong>da</strong>.<br />

Atualmente, a esperança média de<br />

vi<strong>da</strong> é de 76 anos para os homens e<br />

de 82 para as mulheres.<br />

O relatório de Dezembro de<br />

2011 – Imigrantes e Segurança<br />

Portugal tem<br />

3.420.000 de<br />

reformados.<br />

Ou seja, por ca<strong>da</strong><br />

dez trabalhadores<br />

existem seis<br />

reformados<br />

Social em Portugal, do Observatório<br />

<strong>da</strong> Imigração, aponta para<br />

uma diminuição do número de<br />

estrangeiros contribuintes. Se em<br />

2002 era de 277.000 indivíduos,<br />

esse número passou para 276.417<br />

em 2010. Embora o número tenha<br />

decrescido, pode ler-se que, “nos<br />

últimos anos, a entra<strong>da</strong> de imigrantes<br />

gerou um contributo financeiro<br />

importante”. Entre as inúmeras<br />

conclusões retira<strong>da</strong>s deste estudo,<br />

uma <strong>da</strong>s principais aponta para as<br />

vantagens <strong>da</strong> imigração para o financiamento<br />

<strong>da</strong> Segurança Social<br />

em Portugal. Segundo os autores,<br />

“deve insistir-se na importância<br />

de uma corrente sustenta<strong>da</strong> de<br />

imigração no futuro, que permita<br />

contrabalançar o envelhecimento<br />

dos imigrantes mais antigos e mi-<br />

norar as dificul<strong>da</strong>des do conjunto<br />

do sistema.”<br />

Uma porta só de saí<strong>da</strong> Portugal<br />

é ca<strong>da</strong> vez menos um destino<br />

de imigração. Vivem atualmente<br />

em Portugal 440 mil imigrantes,<br />

menos 15 mil que em 2009. Em<br />

declarações à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />

Rui Marques referiu que a questão<br />

mais relevante é a de que “o nosso<br />

saldo migratório tenha voltado a<br />

ser negativo, com muito mais saí<strong>da</strong>s<br />

que entra<strong>da</strong>s”.<br />

Durante o ano de 2011, a Organização<br />

Internacional para as<br />

Migrações recebeu 2.114 pedidos<br />

de imigrantes em Portugal para<br />

regressarem aos seus países de<br />

origem. Os números revelam que<br />

Portugal é, ca<strong>da</strong> vez menos, uma<br />

opção tanto para portugueses<br />

como para estrangeiros.<br />

A história revela que Portugal<br />

sempre foi um país de emigrantes.<br />

O final dos anos 60 ficou marcado<br />

como um dos períodos de maior<br />

emigração portuguesa. Por ano,<br />

saíam do país mais de 100 mil<br />

trabalhadores. Depois de 1974, e<br />

após a mu<strong>da</strong>nça de regime, o fluxo<br />

de emigração diminuiu ain<strong>da</strong><br />

que tenha aumentado a emigração<br />

temporária. Assim, em 1997, o<br />

número de emigrantes portugue-<br />

DR<br />

ses era superior a quatro milhões.<br />

Atualmente, a população de<br />

portugueses e luso-descendentes<br />

distribui-se, em linhas gerais, <strong>da</strong><br />

seguinte forma: dez milhões dentro<br />

do país e cinco milhões fora.<br />

Portugal é hoje um dos países com<br />

mais ci<strong>da</strong>dãos a viver na União Europeia,<br />

fora do seu país de origem<br />

– cerca de um milhão. As perspetivas<br />

de futuro não são animadoras,<br />

para Rui Marques “esse número<br />

tem aumentado e vai aumentar<br />

com to<strong>da</strong> a certeza. Os fatores de<br />

impulso para a emigração estão<br />

cá todos: desemprego, empobrecimento,<br />

falta de expetativas e de<br />

esperança. Até que este ciclo se<br />

inverta vamos perder população,<br />

o que é uma péssima notícia, mas<br />

infelizmente inevitável”.<br />

Os sistemáticos ciclos de entra<strong>da</strong><br />

e saí<strong>da</strong> de população de Portugal,<br />

podem justificar que “apesar<br />

de persistir um racismo latente<br />

em muitas reali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

portuguesa e de a xenofobia<br />

também ter o seu espaço”, as avaliações<br />

internacionais <strong>da</strong>s políticas<br />

de acolhimento e integração<br />

de imigrantes em Portugal serem<br />

muito positivas. Porém, “muito há<br />

a fazer, pois é um caminho nunca<br />

terminado”. Para Rui Marques, a<br />

profun<strong>da</strong> crise em que o país está<br />

mergulhado veio alterar as regras<br />

do jogo, “deixámos de ser um destino<br />

atraente para imigrantes e de<br />

novo voltámos a ser emigrantes”.<br />

A experiência de procurar acolhimento<br />

noutros países e as dificul<strong>da</strong>des<br />

enfrentra<strong>da</strong>s neste êxodo recente,<br />

“fazem-nos perceber como<br />

é importante acolher bem quem<br />

chega à procura de uma oportuni<strong>da</strong>de<br />

de trabalho”.<br />

A política mais aberta A diáspora<br />

que caracteriza a história portuguesa<br />

pode aju<strong>da</strong>r a compreender “que<br />

tenhamos atualmente a política de<br />

nacionali<strong>da</strong>de mais aberta do mundo”,<br />

refere Rui Marques.<br />

Em Fevereiro de 2006, o governo<br />

português aprovou, com unanimi<strong>da</strong>de<br />

dos partidos com assento parlamentar,<br />

a nova Lei <strong>da</strong> Nacionali<strong>da</strong>de<br />

– Lei Orgânica nº2/2006. Até<br />

à <strong>da</strong>ta, muitos imigrantes viviam<br />

numa situação de grande injustiça.<br />

Um dos pontos duramente contestados<br />

prendia-se com o facto de os<br />

filhos dos imigrantes que haviam<br />

nascido em Portugal não terem<br />

acesso à nacionali<strong>da</strong>de portuguesa,<br />

mesmo que este fosse o único país<br />

que conhecessem. Nesse sentido, a<br />

nova Lei <strong>da</strong> Nacionali<strong>da</strong>de foi um<br />

passo fun<strong>da</strong>mental com vista à integração<br />

dos imigrantes em Portugal,<br />

tendo sido reconheci<strong>da</strong> como<br />

a melhor e mais eficaz política de<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia no Migrant Integration<br />

Policy Índex III de 2011, em comparação<br />

com 31 países <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> e<br />

América do Norte.<br />

Mariana Triboi, 23 anos, agora<br />

“mais Portuguesa que Mol<strong>da</strong>va”,<br />

chegou a Portugal aos 14 anos sem<br />

saber uma palavra em português.<br />

Em Sagres, primeiro com a mãe<br />

e depois com as amigas, foi aperfeiçoando<br />

uma língua que achava<br />

“bruta, difícil e completamente<br />

diferente”. Referiu à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />

que, durante os primeiros<br />

tempos em Portugal, sentiu “um<br />

choque cultural e linguístico muito<br />

grande”. A distância <strong>da</strong> terra natal<br />

e o desconhecimento <strong>da</strong> língua fez<br />

com que se negasse a aprender português.<br />

Valeu-lhe a persistência <strong>da</strong><br />

mãe, que se despediu para se dedicar<br />

a 100% ao ensino de uma língua<br />

que soa “como se tivesse um x no<br />

fim de to<strong>da</strong>s as palavras.”<br />

Mariana Triboi:<br />

“não me isolei<br />

dos portugueses,<br />

não estava só com<br />

pessoas <strong>da</strong> minha<br />

terra, tentei<br />

integrar-me”<br />

O caminho para conseguir a dupla<br />

nacionali<strong>da</strong>de levou dez anos,<br />

num processo que considera “fácil<br />

e rápido” ain<strong>da</strong> que seja necessária<br />

a permanência de, pelo menos, seis<br />

anos em Portugal. Por entre vistos<br />

de residência, foi acarinhando um<br />

país que não era o seu. Hoje, diz<br />

com orgulho, “sou portuguesa, e<br />

mesmo que os meus pais voltem<br />

eu fico cá. Na Moldávia só tenho a<br />

minha família, aqui tenho a minha<br />

vi<strong>da</strong> e os meus amigos”.<br />

A Mariana é sem dúvi<strong>da</strong> um<br />

exemplo perfeito de integração. Porém,<br />

há um ponto que nunca deixa<br />

passar em branco, “eu não me isolei<br />

dos portugueses, não estava só<br />

com pessoas <strong>da</strong> minha terra, tentei<br />

integrar-me”.<br />

É deste esforço conjunto, entre<br />

quem chega e quem cá estava, que<br />

podemos tirar os melhores resultados.<br />

Rui Marques, numa afirmação<br />

que, como afirma, “pode chocar<br />

alguns”, defende que “tendencialmente,<br />

nos migrantes está a nata<br />

<strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de”. Como balanço<br />

dos seis anos à frente do alto comissariado,<br />

e “contra o fatalismo<br />

de quem acha que na<strong>da</strong> é possível<br />

fazer por uma socie<strong>da</strong>de mais justa”,<br />

diz que teve a oportuni<strong>da</strong>de preciosa<br />

de experimentar o inverso. Descobriu<br />

“os peregrinos <strong>da</strong> esperança”<br />

e, segundo diz, “com eles aprendi<br />

muito e perante eles me curvo com<br />

admiração e respeito”.<br />

“Vezes de menos sublinhamos<br />

qual é, em qualquer parte do mundo,<br />

a força motriz dos migrantes.<br />

Subjugados por um olhar tecnocrático,<br />

quase ignoramos que o que os<br />

faz mover é, acima de tudo, a esperança<br />

num futuro melhor”, refere<br />

Rui Marques.<br />

CRySTiAN CRUz<br />

Portugueses<br />

voltam<br />

a partir


10 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 11<br />

Entrevista Ana Gomes eurodeputa<strong>da</strong> socialista<br />

Uma voz firme<br />

contra os discursos<br />

xenófobos<br />

Sandra<br />

Carmona<br />

É no cenário sobre as polémicas<br />

declarações de Sarkozy que surge<br />

a entrevista à eurodeputa<strong>da</strong>,<br />

uma vez que é membro suplente<br />

<strong>da</strong> Comissão <strong>da</strong>s Liber<strong>da</strong>des<br />

Cívicas, <strong>da</strong> Justiça e dos Assuntos<br />

Internos e pronuncia-se sobre os<br />

problemas <strong>da</strong>s migrações.<br />

A entrevista ocorre pouco<br />

antes dos franceses elegerem o<br />

novo Presidente <strong>da</strong> República.<br />

Sarkozy acentua o discurso<br />

xenófobo numa tentativa de<br />

captar votos entre o eleitorado<br />

de Marine Le Pen. A escolha<br />

francesa decidirá o futuro do eixo<br />

Merkel-Sarkozy.<br />

Ana Gomes critica<br />

veementemente as recentes<br />

declarações do Presidente<br />

francês, Nicolas Sarkozy, sobre<br />

a proibição <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> de mais<br />

emigrantes, bem como as suas<br />

declarações sobre a ratificação do<br />

Tratado europeu e o abandono<br />

do espaço Schengen por parte <strong>da</strong><br />

França.<br />

Por sua vez, Angela Merkel<br />

também afirmou que “o<br />

multiculturalismo falhou na<br />

<strong>Europa</strong>.” A eurodeputa<strong>da</strong> declara<br />

que ambos praticam discursos<br />

xenófobos típicos <strong>da</strong> direita neoliberal.<br />

Qual a sua opinião sobre<br />

as recentes declarações do<br />

Presidente francês, Nicolas<br />

Sarkozy, que quer fechar<br />

as fronteiras francesas e,<br />

assim, alterar o Acordo de<br />

Schengen? Discordo e condeno<br />

Ana Gomes, uma mulher de ideais e combativa.<br />

A eurodeputa<strong>da</strong> falou à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> com<br />

a atitude que a caracteriza, direta, incisiva e sem<br />

deixar na<strong>da</strong> por dizer<br />

as declarações. Discordo e<br />

condeno o Presidente francês<br />

por pôr em causa o Acordo<br />

de Schengen. Só compreendo<br />

tais declarações no contexto<br />

do seu estilo demagógico,<br />

nestas eleições. Na campanha<br />

eleitoral para a presidência onde<br />

pretende ultrapassar pela direita<br />

a senhora Marine Le Pen, e<br />

portanto apelando aos instintos<br />

mais primários <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

francesa. Sentimentos primários,<br />

“Ser multicultural é<br />

uma definição do<br />

que é ser europeu<br />

e do que é a nação<br />

europeia”<br />

xenófobos, <strong>da</strong>queles que pensam<br />

que têm os seus empregos<br />

ameaçados pelos trabalhadores<br />

estrangeiros e que não hesitam<br />

em pôr em causa o Acordo de<br />

Schengen para arranjar capital<br />

eleitoral, pelos piores motivos.<br />

Não creio que ele as leve à<br />

prática, caso seja eleito. Da<br />

mesma maneira que sempre,<br />

também, discordei no passado de<br />

outras atitudes dentro <strong>da</strong> mesma<br />

linha xenófoba, demagógica,<br />

populista e anti-emigração que<br />

o Presidente teve quando quis<br />

deportar os ci<strong>da</strong>dãos romenos,<br />

que são obviamente europeus.<br />

Também utilizou a crise na Líbia<br />

e na Tunísia para arranjar aquele<br />

conflito, na altura <strong>da</strong> vitória de<br />

Berlosconi, que estava a receber<br />

imensos refugiados devido aos<br />

conflitos na Líbia e na Síria. Mas,<br />

A eurodeputa<strong>da</strong> Ana Gomes reitera que “a <strong>Europa</strong> fortaleza é uma ideia anti-europeia”<br />

DR<br />

obviamente, não chegaram à<br />

<strong>Europa</strong> mais de 25 mil pessoas.<br />

A população <strong>da</strong> vizinha Tunísia,<br />

uma população com muitas mais<br />

dificul<strong>da</strong>des do que as <strong>da</strong> França,<br />

chegou a ter mais de 400 mil<br />

refugiados <strong>da</strong> Líbia.<br />

Quais as consequências<br />

<strong>da</strong> designa<strong>da</strong> “<strong>Europa</strong><br />

fortaleza”? Obviamente, acho<br />

que não ousa defender uma<br />

<strong>Europa</strong> fortaleza, uma vez que é,<br />

por si, uma ideia anti-europeia.<br />

A <strong>Europa</strong> precisa de emigrantes,<br />

a <strong>Europa</strong> tem um problema<br />

de envelhecimento. Precisa<br />

de emigrantes não só para se<br />

desenvolver economicamente,<br />

mas também para conferir<br />

sustentabili<strong>da</strong>de aos próprios<br />

sistemas de segurança social.<br />

Temos o exemplo de Portugal<br />

que conseguiu estabilizar o seu<br />

sistema social, em parte, à conta<br />

<strong>da</strong> população emigrante.<br />

Que comentário lhe merecem<br />

as declarações <strong>da</strong> chanceler<br />

alemã, Angela Merkel, de<br />

que o multiculturalismo<br />

falhou na <strong>Europa</strong>? Penso que<br />

ela não tem razão quando diz<br />

que o multiculturalismo falhou.<br />

A <strong>Europa</strong> é exatamente isso. A<br />

<strong>Europa</strong> é multicultural, é plural<br />

e dentro de todos os povos<br />

europeus, raças, línguas, cores e<br />

religiões que a <strong>Europa</strong> alberga.<br />

Ser multicultural é uma<br />

definição do que é ser europeu<br />

e do que é a nação europeia. Por<br />

isso, penso que ela está numa<br />

visão equivoca<strong>da</strong> e possivelmente<br />

a fazer uma demonstração de<br />

grande líder, seguindo assim os<br />

preconceitos mais primários <strong>da</strong><br />

própria opinião pública alemã ao<br />

defender uma posição como essa.<br />

Quais as razões do apoio às<br />

declarações <strong>da</strong> chanceler<br />

alemã por parte do primeiroministro<br />

britânico e do<br />

Presidente francês? Todos eles<br />

vêm <strong>da</strong> direita neo-liberal que<br />

domina a <strong>Europa</strong>, o que explica<br />

porque a <strong>Europa</strong> está estanca<strong>da</strong><br />

na crise. Não é só uma crise<br />

económica, mas também uma<br />

crise política. Neste momento<br />

há uma maioria de europeus que<br />

são de direita e com preconceitos<br />

ideológicos e políticos. As<br />

ideologias de direita têm essa<br />

fácil tentação de responder aos<br />

“A <strong>Europa</strong> precisa<br />

de emigrantes<br />

não só para se<br />

desenvolver<br />

economicamente<br />

mas também para<br />

ter sustentabili<strong>da</strong>de<br />

dos sistemas de<br />

segurança social”<br />

sentimentos mais primários <strong>da</strong>s<br />

respetivas opiniões públicas<br />

e também de se demitirem de<br />

liderar pela positiva e numa<br />

perspetiva realmente europeia e<br />

não de um nacionalismo míope.<br />

Quer Sarkozy, quer Cameron,<br />

quer Merkel vêm <strong>da</strong> mesma<br />

família política de direita que<br />

infelizmente dominaram e que,<br />

neste momento, é responsável<br />

pela falta de capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

direção política europeia para<br />

responder à crise. Os ci<strong>da</strong>dãos<br />

europeus, portugueses e de<br />

outros países têm de tirar as suas<br />

consequências. Se votam numa<br />

direita, pois aí têm uma direita.<br />

Com ideias erra<strong>da</strong>s, quer seja na<br />

emigração, quer seja em relação à<br />

crise económica.<br />

O que poderá fazer a <strong>Europa</strong><br />

ou as enti<strong>da</strong>des europeias<br />

para contrariar estas<br />

políticas? Desta direita eu<br />

não espero muito. Eu espero<br />

que os ci<strong>da</strong>dãos europeus<br />

percebam que estas políticas<br />

erra<strong>da</strong>s são consequência do<br />

facto dos eleitores europeus<br />

terem votado em governos de<br />

direita. Mesmo os de esquer<strong>da</strong><br />

deixaram-se contaminar pelas<br />

ideias <strong>da</strong> direita. É por isso que<br />

hoje estamos em crise. Muitos<br />

governos, formados por partidos<br />

de esquer<strong>da</strong>, deixaram-se<br />

atascar pela filosofia neo-liberal<br />

do ponto de vista económicofinanceiro<br />

que criou a crise em<br />

que hoje nos encontramos.<br />

DR<br />

Franceses<br />

decidem o<br />

futuro <strong>da</strong><br />

coabitação<br />

entre Merkel<br />

e Sarkozy


12 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 13<br />

União Europeia discute a partilha de proprie<strong>da</strong>de inteletual<br />

Portagens globais<br />

Elisianne<br />

Campos<br />

A proposta do comissário europeu<br />

do comércio, Karel De Gucht, de<br />

enviar o ACTA ao Tribunal Europeu<br />

de Justiça antes de ser votado<br />

no Parlamento Europeu, segue um<br />

trâmite inédito. O ACTA (Acordo<br />

Comercial Anticontrafação em<br />

inglês Anti-Counterfeiting Trade<br />

Agreement), tratado comercial<br />

de escala planetária, tem como<br />

objetivo estabelecer padrões internacionais<br />

para o cumprimento<br />

<strong>da</strong> legislação de proprie<strong>da</strong>de intelectual.<br />

O texto está em discussão, desde<br />

2007, e tem gerado protestos em<br />

vários países, sob a acusação de<br />

dificultar a inovação e a pesquisa<br />

académica pela salvaguar<strong>da</strong> de patentes<br />

e pela imposição de regras<br />

comerciais antiqua<strong>da</strong>s e conservadoras.<br />

Além disso, a proposta<br />

foi desde logo envolvi<strong>da</strong> em controvérsia<br />

devido ao sigilo imposto<br />

por seu país de origem, os EUA, na<br />

discussão do projeto e por dúvi<strong>da</strong>s<br />

em relação ao respeito às regras <strong>da</strong><br />

União Europeia sobre privaci<strong>da</strong>de<br />

dos <strong>da</strong>dos na web.<br />

As negociações formais arrancaram<br />

em Junho de 2008, e desde<br />

então foram realiza<strong>da</strong>s sete ron<strong>da</strong>s<br />

negociais. O pacto goza de amplo<br />

apoio dos produtores de músicas,<br />

filmes e uma gama de outros bens<br />

que desfrutam <strong>da</strong> proteção de direitos<br />

de autor e proprie<strong>da</strong>de intelectual,<br />

como marcas comerciais,<br />

patentes, desenhos e indicações<br />

geográficas.<br />

Os Estados Unidos assinaram o<br />

ACTA em Outubro de 2011, ao<br />

lado de outros sete países: Austrália,<br />

Canadá, Coréia do Sul, Japão,<br />

Nova Zelândia, Marrocos e Singapura.<br />

A União Europeia assinou o<br />

Marcas comerciais, patentes, desenhos<br />

e indicações geográficas podem ter regras novas.<br />

Em discussão há cerca de cinco anos, um acordo<br />

multilateral pretende unificar procedimentos<br />

de combate à pirataria em escala global<br />

ACTA em 26 de Janeiro de <strong>2012</strong>,<br />

em Tóquio. O acordo prevê disposições<br />

em matéria de execução<br />

penal, um domínio que é considerado<br />

de competência partilha<strong>da</strong><br />

entre UE e os Estados-Membros.<br />

Por este motivo teve de ser assinado<br />

e ratificado pela UE e seus 27<br />

integrantes.<br />

Consequências no terreno Após<br />

a assinatura do ACTA pela UE<br />

e todos os Estados-Membros, o<br />

Parlamento Europeu foi formalmente<br />

notificado para <strong>da</strong>r início<br />

ao procedimento de consentimento.<br />

Essa etapa inclui debates nas<br />

diferentes comissões (Comércio<br />

Internacional, Liber<strong>da</strong>des Civis,<br />

Justiça e Assuntos Internos, e Assuntos<br />

Jurídicos) e, possivelmente,<br />

uma audiência pública. É provável<br />

que o consentimento seja votado<br />

no fim do verão.<br />

Caso o Parlamento Europeu<br />

dê o seu parecer favorável, e uma<br />

vez concluídos os procedimentos<br />

nacionais de ratificação nos Estados-Membros,<br />

o Conselho de Ministros<br />

adotará uma decisão final<br />

para celebrar o acordo. Este facto<br />

será então comunicado aos demais<br />

signatários do ACTA e o acordo<br />

entrará em vigor na UE.<br />

O ACTA abrange<br />

desde downloads<br />

ilegais feitos pela<br />

Internet à pirataria<br />

na indústria<br />

farmacêutica<br />

Em comunicado publicado no<br />

site oficial <strong>da</strong> Comissão Europeia<br />

no dia 22 de Fevereiro de <strong>2012</strong>, o<br />

comissário europeu do comércio,<br />

Karel De Gucht, anunciou com<br />

satisfação: “Apraz-me dizer que,<br />

esta manhã, os meus colegas <strong>da</strong><br />

Comissão discutiram e concor<strong>da</strong>ram,<br />

em termos gerais, com a<br />

minha proposta de enviar o ACTA<br />

para o Tribunal Europeu de Justiça”,<br />

a mais alta instância judicial <strong>da</strong><br />

União Europeia.<br />

De Gucht afirmou ain<strong>da</strong> que<br />

o objetivo <strong>da</strong> decisão é, também,<br />

perceber se o acordo internacional<br />

para a proteção dos direitos de<br />

autor é incompatível – seja em que<br />

sentido for – com os direitos fun<strong>da</strong>mentais<br />

e de liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> União<br />

Europeia, tais como a liber<strong>da</strong>de<br />

de expressão e de informação ou a<br />

proteção de <strong>da</strong>dos.<br />

Protestos e Combate O ACTA<br />

gerou uma on<strong>da</strong> de protestos por<br />

to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>, organiza<strong>da</strong> por<br />

membros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, académicos<br />

e profissionais <strong>da</strong>s mais<br />

diversas áreas. Em Portugal houve<br />

manifestações contra a medi<strong>da</strong> no<br />

dia 11 de Fevereiro, simultaneamente<br />

em Lisboa e no Porto. Em<br />

palestra organiza<strong>da</strong> pela Facul<strong>da</strong>de<br />

de Direito <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Nova<br />

de Lisboa em Março, a advoga<strong>da</strong><br />

Teresa Nobre, responsável pela<br />

a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s licenças Creative<br />

Commons à legislação portuguesa,<br />

afirmou que o risco de acordos<br />

como o ACTA está no caráter vago<br />

do texto, suscetível de diversas interpretações.<br />

“ACTA representa<br />

um risco real, pois abre a porta à<br />

discussão de leis como SOPA, nos<br />

EUA, e HADOPI, em França”.O<br />

SOPA (Stop Online Piracy Act)<br />

trata-se de um projeto de lei em<br />

discussão no Congresso dos Estados<br />

Unidos, semelhante ao ACTA.<br />

Ele propõe penas de até 5 anos de<br />

prisão para quem compartilhar<br />

conteúdo pirata na Internet.<br />

Leis polémicas de combate à pirataria<br />

pela rede são discuti<strong>da</strong>s (ou<br />

já chegaram a ser implementa<strong>da</strong>s)<br />

em diversos países europeus atualmente.<br />

Na França está em vigor<br />

desde 2010 a lei HADOPI (Haute<br />

Autorité pour la diffusion des<br />

oeuvres et la protection des droits<br />

sur Internet), também chama<strong>da</strong> de<br />

Lei “Criação e Internet”, que sugeriu<br />

a criação de uma administração<br />

capaz de vigiar e punir ativi<strong>da</strong>des<br />

de descarga e troca de arquivos<br />

ilegais na web. À semelhança de<br />

Sinde-Wert, HADOPI determina<br />

o corte do acesso à Internet<br />

do usuário que fizer downloads de<br />

obras protegi<strong>da</strong>s por direitos autorais.<br />

A lei utiliza um mecanismo<br />

denominado “resposta gradual”,<br />

que consiste em três etapas: na<br />

primeira o usuário é notificado <strong>da</strong><br />

infração através de mensagem de<br />

e-mail; na segun<strong>da</strong>, recebe outro<br />

aviso, desta dez via carta registra<strong>da</strong><br />

nos correios; na terceira, o acesso à<br />

rede é interrompido.<br />

Desde Março está em vigor,<br />

na Espanha, a lei batiza<strong>da</strong> Sinde-<br />

Wert (em referência a Ángeles<br />

Gonzáles-Sinde, antiga ministra<br />

<strong>da</strong> Cultura, e José Ignacio Wert,<br />

seu sucessor). Essa lei permite ao<br />

governo fechar ou tirar do ar, sem<br />

ordem judicial, sites que disponibilizem<br />

ou facilitem o acesso a<br />

materiais protegidos por direitos<br />

de autor. A lei enfrenta uma forte<br />

oposição, tanto de ativistas defen-<br />

O acordo prevê<br />

disposições penais,<br />

um domínio<br />

de partilha entre<br />

a UE e os<br />

Estados-Membros<br />

sores <strong>da</strong> Internet livre quanto de<br />

empresas.<br />

A Rede de Empresas de Internet<br />

e a Associação Espanhola de<br />

Economia Digital entraram com<br />

um recurso no Supremo Tribunal<br />

contra a lei – mais especificamente<br />

contra o artigo que determina um<br />

“procedimento de garantia dos direitos<br />

de proprie<strong>da</strong>de intelectual”.<br />

Segundo as empresas, o artigo traz<br />

insegurança jurídica para as indústrias<br />

liga<strong>da</strong>s à tecnologia operarem<br />

e se desenvolverem. Para elas,<br />

Sinde-Wert dificulta a atuação <strong>da</strong>s<br />

empresas de Internet, que já pensam<br />

duas vezes antes de começarem<br />

um novo projeto.<br />

Para Lucas Serra, responsável<br />

pela assessoria jurídica <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

Portuguesa de Autores<br />

(SPA), é cedo para prever os resultados<br />

de um acordo como o<br />

ACTA em aplicação. “Há que ver<br />

no que vai <strong>da</strong>r. O facto é que precisa<br />

haver portagens que detenham<br />

a pirataria. É um problema grave,<br />

que afeta a todos nós, e mais ain<strong>da</strong><br />

aos autores”.<br />

iNêS FERNANDES<br />

O ACTA<br />

enfrenta<br />

uma forte<br />

oposição, tanto<br />

de ativistas<br />

defensores <strong>da</strong><br />

internet livre<br />

quanto de<br />

empresas


14 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 15<br />

Eurodeputado Rui Tavares responde a repto de Assunção Esteves<br />

O essencial <strong>da</strong> UE<br />

em duas folhas A5<br />

Inês<br />

Fernandes<br />

O ciclo de conferências TED chegou<br />

a Portugal e Rui Tavares foi um<br />

dos primeiros convi<strong>da</strong>dos na ron<strong>da</strong><br />

que decorreu em Cascais, no início<br />

de <strong>2012</strong>. As TEDx querem juntar<br />

oradores e sugerir ideias para um<br />

futuro mais participado. O eurodeputado<br />

português respondeu ao<br />

desafio lançado pela organização<br />

<strong>da</strong>ndo conta que “não é possível resolver<br />

os problemas <strong>da</strong> União Europeia<br />

numa folha A4, mas é em duas<br />

A5. O que não é a mesma coisa”.<br />

Depois dos debates e críticas que<br />

surgiram no seguimento <strong>da</strong> afirmação<br />

de Assunção Esteves, de que<br />

acredita que “que numa folha A4<br />

se podia mu<strong>da</strong>r a <strong>Europa</strong> to<strong>da</strong>”, o<br />

deputado português ao Parlamento<br />

Europeu encontrou uma forma original<br />

de apresentar as suas propostas,<br />

em duas folhas A5.<br />

Com uma nova perspetiva sobre<br />

a democracia europeia, Rui Tavares<br />

defende uma Federação Democrática<br />

Europeia, a exemplo do que<br />

existe no Brasil e nos Estados Unidos<br />

<strong>da</strong> América.<br />

O modelo sugerido pelo eurodeputado<br />

baseia-se, essencialmente,<br />

num Congresso Europeu, constituído<br />

por uma Câmara de Representantes<br />

e um Senado. Ao qual se junta<br />

uma zona euro ideal, com um banco<br />

central que emite moe<strong>da</strong> e um tesouro<br />

que emite dívi<strong>da</strong>, um Tribunal<br />

de Justiça <strong>da</strong> União e um Tribunal<br />

Europeu de Direitos Humanos.<br />

Estas propostas são, ain<strong>da</strong> assim,<br />

um oposto do que se observa no<br />

centro <strong>da</strong> União. Como Rui Tavares<br />

refere, esta solução exigiria<br />

uma mu<strong>da</strong>nça profun<strong>da</strong> do funcionamento<br />

<strong>da</strong> UE e, para que tal se<br />

A presidente <strong>da</strong> Assembleia <strong>da</strong> República lançou<br />

a questão e o eurodeputado Rui Tavares deu a<br />

resposta: é possível resolver os problemas <strong>da</strong> União<br />

Europeia não numa página A4, mas em duas A5<br />

processe, é necessário um man<strong>da</strong>to<br />

emitido pelo atual Conselho Europeu,<br />

cujos membros seriam os principais<br />

prejudicados nesta reforma e,<br />

como tal, não estão interessados<br />

na mesma. Para o eurodeputado, o<br />

sistema em que se vive é altamente<br />

burocratizado, “É um emaranhado<br />

de competências, de instituições<br />

com legitimi<strong>da</strong>des diferentes, às<br />

vezes sem legitimi<strong>da</strong>de eleitoral ou<br />

democrática. E que ain<strong>da</strong> por cima<br />

vive três crises em paralelo.”<br />

A solução que apresenta é, no<br />

seu cerne, uma resposta conjunta<br />

que exigirá aos diferentes Estadosmembros<br />

trabalharem por um objetivo<br />

ver<strong>da</strong>deiramente comum baseado<br />

num Pacto Democrático para<br />

a União, visto que os problemas <strong>da</strong><br />

<strong>Europa</strong> são os problemas do quotidiano<br />

de todos os seus ci<strong>da</strong>dãos.<br />

Este Pacto Democrático é, na<br />

visão de Rui Tavares, possível de<br />

atingir com uma maior participação<br />

democrática dos ci<strong>da</strong>dãos eu-<br />

“Os países estão<br />

endivi<strong>da</strong>dos, mas<br />

a União não tem<br />

dívi<strong>da</strong>. Se a União<br />

Europeia criar um<br />

bocadinho de dívi<strong>da</strong><br />

para si, (…) pode<br />

talvez resolver<br />

a nossa crise”<br />

ropeus que devem exigir eleger o<br />

Presidente <strong>da</strong> Comissão, em regime<br />

de maioria, e que os signatários se<br />

devem comprometer em desenvolver<br />

esforços por esta democracia<br />

europeia<br />

Na base de praticamente to<strong>da</strong>s<br />

as resoluções necessárias à União,<br />

a democracia é, para o eurodeputado,<br />

essencial ao seu funcionamento.<br />

Da mesma poderemos derivar<br />

as soluções para as três principais<br />

crises que se vivem na União, pois<br />

é a mesma que produz uma maior<br />

igual<strong>da</strong>de de participação europeia<br />

de todos os seus Estados-membros.<br />

A convergência de esforços dos<br />

diferentes Estados-membros conseguirá<br />

encontrar, por exemplo,<br />

resposta à crise do euro. Seja com<br />

a criação de eurobonds ou ou qualquer<br />

outra proposta, Rui Tavares<br />

afirma que a solução estará à vista<br />

quando se compreender que “os<br />

países estão endivi<strong>da</strong>dos, mas a<br />

União não tem dívi<strong>da</strong>. Se a União<br />

Europeia criar um bocadinho de<br />

dívi<strong>da</strong> para si, aliviando a dívi<strong>da</strong><br />

dos Estados-membros, pode talvez<br />

resolver a nossa crise”.<br />

No mesmo sentido, a resolução<br />

dos problemas de carácter<br />

económico e ambiental poderão<br />

estar à vista com sistemas como<br />

o Green New Deal, que se baseia<br />

numa lógica de cooperação entre<br />

peritos europeus que lançariam<br />

as bases necessárias não só para<br />

a resolução de problemas atuais,<br />

tais como os económicos, sociais<br />

e ambientais. Mas também aju<strong>da</strong>riam<br />

a edificar uma estrutura mais<br />

sóli<strong>da</strong> para o futuro e a encontrar<br />

soluções socais urgentes para os<br />

Rui Tavares defendeu na conferência TED, em Cascais, uma solução federalista<br />

países mais periféricos <strong>da</strong> UE.<br />

A reunião destes peritos far-se-ia<br />

em Universi<strong>da</strong>des Federais, ou Universi<strong>da</strong>des<br />

de União. Sob o Projeto<br />

Ulisses, estas Universi<strong>da</strong>des não só<br />

poderão investigar e encontrar soluções<br />

para aquilo que asfixia os Estados<br />

nos orçamentos, como serão<br />

fun<strong>da</strong>mentais para evitar a “fuga<br />

de cérebros” para outras partes do<br />

globo.<br />

Três D para a União Numa lógica<br />

de cooperação constante, a União<br />

poderá, segundo Rui Tavares, ca-<br />

minhar desta forma para um sistema<br />

de governação mais disciplinado,<br />

democrático e desenvolvido.<br />

Os três D que são a solução para os<br />

problemas <strong>da</strong> União reúnem em<br />

si o objetivo comum de união de<br />

povos que esteve na mira dos pais<br />

fun<strong>da</strong>dores.<br />

Pegando num complexo e, por<br />

vezes, confuso sistema de trabalho,<br />

a União poderá, na visão de<br />

Rui Tavares, encontrar as soluções<br />

para as crises que atravessa<br />

com um novíssimo sistema mais<br />

participativo. Um sistema mais<br />

RAUl PiNTO/TEDx CASCAiS<br />

rápido na hora de responder às<br />

necessi<strong>da</strong>des dos seus beneficiários,<br />

e mais em consonância com<br />

os preceitos do que une os seus<br />

ci<strong>da</strong>dãos.<br />

Mais do que apontar erros aos<br />

Estados Membros e exigir mu<strong>da</strong>nças<br />

de fundo nos sistemas dos executivos,<br />

a mu<strong>da</strong>nça na hora de procurar<br />

soluções estará, nas ideias do<br />

eurodeputado, dentro de uma clara<br />

viragem de paradigma europeu.<br />

Esta mu<strong>da</strong>nça pode, ain<strong>da</strong> assim,<br />

ser antagónica aos egos dos<br />

diferentes Estados-membros. As<br />

ideias que fun<strong>da</strong>mentaram a União<br />

Europeia podem estar a ser delega<strong>da</strong>s<br />

para um plano que não o que<br />

se perspetivou no início, pondo em<br />

causa parte <strong>da</strong> sua estabili<strong>da</strong>de.<br />

Para Rui Tavares, só a cooperação<br />

de todos os intervenientes<br />

poderá <strong>da</strong>r resposta às necessi<strong>da</strong>des<br />

pelas quais a legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

União passa. Os problemas com<br />

que nos deparamos têm solução,<br />

mas a sua solução não está “numa<br />

folha A4, mas em duas A5. Porque<br />

é só quando se junta a complexi<strong>da</strong>de<br />

do real com a simplici<strong>da</strong>de<br />

do idealismo que nós conseguimos<br />

fazer com que a mu<strong>da</strong>nça<br />

aconteça.”<br />

DR<br />

A proposta de<br />

Rui Tavares<br />

implicaria<br />

uma mu<strong>da</strong>nça<br />

profun<strong>da</strong> e a<br />

concordância<br />

do Conselho<br />

Europeu


16 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 17<br />

Quo vadis,<br />

europa?<br />

Opinião Paulo Sande diretor do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal<br />

A<strong>Europa</strong> treme nos<br />

alicerces. Quando<br />

nos interrogamos<br />

sobre o que se passa,<br />

a resposta vem<br />

em forma de uma<br />

palavra: crise; crise<br />

do euro e <strong>da</strong> zona monetária; crise<br />

<strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s soberanas, com Portugal<br />

no pelotão <strong>da</strong> frente; crise de uma<br />

identi<strong>da</strong>de europeia que, afinal, parece<br />

nunca ter chegado a sê-lo; crise de<br />

credibili<strong>da</strong>de por promessas falha<strong>da</strong>s,<br />

visões incumpri<strong>da</strong>s,<br />

um futuro carregado<br />

de dúvi<strong>da</strong>s e<br />

desemprego,<br />

angústias e falências.<br />

É certo que a<br />

actuali<strong>da</strong>de europeia -<br />

e a <strong>da</strong> União Europeia<br />

em particular, projeto<br />

que aqui nos ocupa<br />

- parece falha de<br />

esperança. Os jovens<br />

que se interrogam<br />

sobre o futuro, os<br />

empresários cujas<br />

empresas vacilam por<br />

falta de encomen<strong>da</strong>s,<br />

os imigrantes que<br />

temem encontrar<br />

barreiras onde antes já só havia um<br />

frágil traço no mapa, os funcionários e<br />

trabalhadores que sentem os empregos<br />

presos por um fio de precarie<strong>da</strong>de,<br />

todos acharão poucas razões para<br />

acreditar num projeto que prometeu<br />

tanto e tão pouco, hoje em dia,<br />

assegura.<br />

E contudo é talvez nesta altura,<br />

mais do que nas ocasiões em que<br />

os países <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> cresciam a bom<br />

ritmo e o continente era invejado um<br />

pouco por todo o lado, que a ideia <strong>da</strong><br />

união se impõe e é decisiva. Porque<br />

regressar ao passado não é sempre<br />

(atrevo-me até a dizer que não é<br />

nunca) solução nenhuma, já que as<br />

fórmulas que funcionaram num tempo<br />

são pouco mais do que obsoletas nos<br />

tempos que lhe sucedem, com novas<br />

reali<strong>da</strong>des, novas tecnologias, novas<br />

circunstâncias, novas pessoas. Os<br />

É talvez nesta<br />

altura, mais<br />

do que quando<br />

os países <strong>da</strong><br />

<strong>Europa</strong> cresciam<br />

a bom ritmo<br />

e o continente<br />

era invejado,<br />

que a ideia <strong>da</strong><br />

união se impõe<br />

e é decisiva<br />

países europeus habitam essa nova<br />

reali<strong>da</strong>de: a de um mundo global, em<br />

que todos (povos, países, empresas,<br />

instituições) sabem tudo sobre os<br />

outros e o que afecta uns afecta todos;<br />

a de um mundo tecnologicamente<br />

encurtado, acelerado, escancarado,<br />

através de soluções, produtos e<br />

funcionali<strong>da</strong>des que mu<strong>da</strong>m a uma<br />

veloci<strong>da</strong>de geometricamente acelera<strong>da</strong>;<br />

a de um mundo em que a guerra já<br />

não é fria e as ideologias já não são<br />

puras, em que povos inteiros saltaram<br />

barreiras de progresso, produtivi<strong>da</strong>de<br />

e riqueza e exigem participar <strong>da</strong> ceia<br />

do bem-estar antes reserva<strong>da</strong> ao<br />

mundo ocidental e aos seus avatares;<br />

a de um mundo, finalmente, onde<br />

todos têm um lugar, ou deviam tê-lo,<br />

e em nome desse dever se desenham<br />

e desenvolvem políticas de inclusão,<br />

verdes e humanas, para pôr no lugar do<br />

tradicional egoísmo dos nacionalismos<br />

extremos, do consumo desenfreado<br />

e pre<strong>da</strong>dor (de recursos), do<br />

proteccionismo obscurantista.<br />

A União Europeia vive dificul<strong>da</strong>des<br />

por causa dessa reali<strong>da</strong>de nova. Mas<br />

é difícil entender como qualquer<br />

povo europeu - por mais rico que<br />

actualmente seja - poderá vingar nesse<br />

mundo global, tecnológico e justo,<br />

sem a força que a união dá. As políticas<br />

europeias, comuns, sobretudo com<br />

a crise, e talvez por causa <strong>da</strong> crise,<br />

são ca<strong>da</strong> vez mais necessárias. Sem<br />

a união, o Ocidente, mesmo o mais<br />

economicamente desenvolvido e<br />

aparentemente independente, tenderá<br />

paulatinamente para o declínio,<br />

condenando os seus povos a um<br />

retrocesso que só não será permanente<br />

porque nalguma altura, provavelmente<br />

distante de séculos, cessará.<br />

A <strong>Europa</strong> que foi de Monnet e<br />

Schuman vive provavelmente o seu<br />

momento definidor e decisivo. Não<br />

será mais a União Europeia que<br />

conhecemos, mas terá de ser uma<br />

união de vontades, políticas e recursos<br />

partilhados e comuns, para assegurar<br />

ao continente e aos seus ci<strong>da</strong>dãos um<br />

lugar no futuro; sejam eles quem forem,<br />

venham de onde vierem.<br />

<strong>Europa</strong> 2020<br />

Uma estratégia<br />

para vencer a crise<br />

Susana<br />

Pereira<br />

O plano estratégico <strong>Europa</strong> 2020<br />

sucede à Estratégia de Lisboa. Tal<br />

como a sua antecessora, é uma<br />

estratégia a longo prazo que tem<br />

como objetivo criar ferramentas<br />

que permitam a recuperação <strong>da</strong><br />

crise económica enquanto se prepara<br />

o terreno para o crescimento<br />

futuro.<br />

Ao contrário <strong>da</strong> Estratégia de<br />

Lisboa, a agen<strong>da</strong> que está a ser posta<br />

em prática nesta déca<strong>da</strong> não é<br />

tão ambiciosa nos seus objetivos,<br />

focando-se sobretudo na problemática<br />

do emprego.<br />

A UE está a pôr em marcha o plano<br />

<strong>Europa</strong> 2020 para reanimar a criação<br />

de mais emprego<br />

Uma <strong>da</strong>s principais apostas para<br />

a criação de novos postos de trabalho,<br />

contempla<strong>da</strong> na estratégia<br />

<strong>Europa</strong> 2020, passa pelo aumento<br />

do investimento na Ciência, Tecnologia<br />

e Inovação.<br />

O novo programa Horizonte<br />

2020 está a ser discutido no<br />

Parlamento Europeu. As novas<br />

estratégias serão postas em marcha<br />

em 2014, e preveem a criação<br />

de 830 mil novos empregos até<br />

2030, transformando a UE na<br />

principal potência industrial do<br />

mundo.<br />

O objetivo do Plano <strong>Europa</strong> 2020<br />

Para atingir as metas propostas no<br />

Plano, a Comissão Europeia propôs<br />

uma agen<strong>da</strong> que inclui uma série de<br />

iniciativas, a ser posta em prática<br />

com ações a todos os níveis, quer<br />

pelo conjunto <strong>da</strong> UE, quer por<br />

ca<strong>da</strong> Estado-Membro, e por autori<strong>da</strong>des<br />

locais e regionais.<br />

O plano estratégico <strong>da</strong> UE para<br />

esta déca<strong>da</strong> consiste em assegurar<br />

emprego a 75 por cento <strong>da</strong> população<br />

entre os 20 e os 64 anos. Para<br />

atingir estas metas, foi proposta<br />

uma agen<strong>da</strong> para novas qualifica-<br />

DR<br />

A União<br />

Europeia<br />

depara-se<br />

com uma<br />

grave crise<br />

económica,<br />

marca<strong>da</strong> pela<br />

agen<strong>da</strong> dos<br />

mercados<br />

financeiros<br />

mundiais


18 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 19<br />

ções e novos empregos, de modo a<br />

criar as condições necessárias para<br />

a modernização dos mercados de<br />

trabalho, assegurando a sustentabili<strong>da</strong>de<br />

dos modelos sociais. Em<br />

2011, a taxa de emprego no mesmo<br />

grupo alvo situava-se nos 68,6 por<br />

cento, não tendo sofrido alterações<br />

desde 2010.<br />

A crise e o aumento do desemprego<br />

agravaram a situação de pobreza<br />

na UE. Em 2010, o número<br />

de pobres registados na UE situavase<br />

nos 23,5 por cento.<br />

O Plano <strong>Europa</strong> 2020 prevê tirar<br />

<strong>da</strong> pobreza 20 milhões de pessoas.<br />

Para alcançar essa meta, a UE propôs<br />

a criação de uma plataforma<br />

europeia contra a pobreza. Deste<br />

modo, pretende-se assegurar a coesão<br />

económica, social e territorial,<br />

e permitir que as pessoas mais pobres,<br />

marginaliza<strong>da</strong>s e que vivem<br />

em condições precárias também<br />

desempenhem um papel ativo na<br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

As novas tecnologias e a ciência<br />

são ca<strong>da</strong> vez mais essenciais e indispensáveis<br />

na vi<strong>da</strong> quotidiana.<br />

Por isso prevê-se aumentar o investimento<br />

na política de desenvolvimento<br />

e inovação para três por<br />

cento do PIB <strong>da</strong> UE. O objetivo é<br />

voltar a colocar a política de desenvolvimento<br />

e inovação no centro<br />

dos principais desafios societais e<br />

económicos e, desta forma, minimizar<br />

a distância existente entre<br />

ciência e mercado, permitindo uma<br />

transformação mais eficaz <strong>da</strong>s invenções<br />

em produtos. Em 2010 o<br />

investimento nesta área representou<br />

apenas dois por cento do PIB.<br />

A exploração do potencial <strong>da</strong> Internet<br />

e <strong>da</strong>s tecnologias <strong>da</strong> informação<br />

e <strong>da</strong> comunicação também vão<br />

ser uma priori<strong>da</strong>de neste domínio.<br />

O objetivo é promover a inovação,<br />

o crescimento económico e o progresso,<br />

de modo a todos os ci<strong>da</strong>dãos<br />

terem oportuni<strong>da</strong>de de participar<br />

e interagir no mercado digital.<br />

Uma <strong>da</strong>s principais medi<strong>da</strong>s neste<br />

domínio consiste em implantar a<br />

ban<strong>da</strong> larga em todo o território <strong>da</strong><br />

UE até 2013 e garantir o acesso universal<br />

à Internet de alta veloci<strong>da</strong>de<br />

até 2020.<br />

Em relação aos objetivos referentes<br />

às alterações climáticas e<br />

energia, o plano europeu pretende<br />

cumprir as metas “20-20-20” <strong>da</strong>s<br />

questões ambientais. O objetivo é<br />

tornar a União Europeia mais efi-<br />

ciente na utilização de recursos e<br />

transitar para uma economia hipocarbónica,<br />

isto é, com menos emissão<br />

de dióxido de carbono.<br />

A principal preocupação <strong>da</strong> UE<br />

é manter-se fiel aos objetivos que<br />

fixou para 2020 no domínio <strong>da</strong><br />

produção, eficiência e consumo de<br />

energia. Com estas medi<strong>da</strong>s, será<br />

possível uma poupança de 60 mil<br />

milhões de euros nas importações<br />

de petróleo e gás em 2020.<br />

Pretende-se também contribuir<br />

para a competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> indústria<br />

<strong>da</strong> UE no mundo que emergirá<br />

<strong>da</strong> crise, assim como promover o<br />

empreendedorismo e desenvolver<br />

novas qualificações. Deste modo,<br />

será possível criar novos postos de<br />

trabalho.<br />

O Plano <strong>Europa</strong> 2020 reforça<br />

também a aposta em melhores condições<br />

de ensino, de modo a reduzir<br />

a taxa de abandono escolar para<br />

menos de 10% e assegurar que, pelo<br />

menos, 40% <strong>da</strong> geração mais jovem<br />

dispõe de um diploma do ensino<br />

superior. Em 2010 registou-se um<br />

abandono precoce <strong>da</strong> escola por<br />

14,1 por cento dos jovens e apenas<br />

33,6 por cento dos jovens entre os<br />

30 e os 34 anos tinham, no mínimo,<br />

uma licenciatura.<br />

Os programas de mobili<strong>da</strong>de de<br />

jovens na <strong>Europa</strong> continuam a ser<br />

uma grande aposta no desenvolvimento<br />

do sistema educativo. Os<br />

objetivos para esta déca<strong>da</strong> são reforçar<br />

a quali<strong>da</strong>de e a capaci<strong>da</strong>de de<br />

atracão internacional do sistema de<br />

ensino superior europeu, promovendo<br />

a mobili<strong>da</strong>de dos estu<strong>da</strong>ntes<br />

e dos jovens profissionais. As vagas<br />

existentes devem ser mais facilmente<br />

acessíveis em to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong> e as qualificações<br />

e experiência profissional<br />

reconheci<strong>da</strong>s de forma adequa<strong>da</strong>.<br />

A estratégia portuguesa O plano<br />

<strong>Europa</strong> 2020 atua não só no<br />

conjunto <strong>da</strong> União Europeia, mas<br />

também ao nível de ca<strong>da</strong> Estado-<br />

Membro. Portugal não é exceção<br />

e, tendo em conta a forma como a<br />

crise afetou o país, as medi<strong>da</strong>s propostas<br />

no plano estratégico serão<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à situação.<br />

A nível <strong>da</strong> inovação e desenvolvimento,<br />

a meta nacional situa-se<br />

entre os 2,7 e os 3,3 por cento, repartindo-se<br />

entre 1,0 e 1,2 por cento<br />

no setor público e 1,7 e 2,1 por<br />

cento no setor privado. De modo a<br />

conseguir cumprir estas metas, es-<br />

tão a ser postas em prática as iniciativas<br />

Agen<strong>da</strong> Digital 2015 e o Plano<br />

Inovação Portugal. Em 2010, o investimento<br />

neste domínio situavase<br />

em 1,59 por cento.<br />

Em relação à educação, Portugal<br />

partilha as mesmas metas <strong>da</strong> UE,<br />

ou seja, uma redução para 10 por<br />

cento <strong>da</strong> taxa de abandono escolar,<br />

com uma meta intermédia de<br />

15 por cento em 2015, e aumentar<br />

para 40 por cento o número de licenciados<br />

entre os 30 e os 34 anos.<br />

Em 2010 Portugal era o segundo<br />

país com a taxa de abandono escolar<br />

precoce mais eleva<strong>da</strong>, com um<br />

total de 28,7 por cento de jovens<br />

entre os 18 e os 24 anos que não<br />

tinham concluído o ensino secundário.<br />

Algumas <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s para alcançar<br />

estas metas incluem a extensão<br />

<strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de obrigatória até aos<br />

18 anos, a iniciativa Novas Oportuni<strong>da</strong>des<br />

e o Programa Educação<br />

2015.<br />

A nível ambiental, as metas por-<br />

tuguesas passam pelo aumento de<br />

31 por cento <strong>da</strong> produção e consumo<br />

<strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong>de produzi<strong>da</strong> a<br />

partir de fontes renováveis, e pelo<br />

aumento em 20 por cento <strong>da</strong> eficiência<br />

energética. Estas medi<strong>da</strong>s vão<br />

também contribuir para o plano de<br />

redução em 20 por cento <strong>da</strong>s emissões<br />

de gases com efeito de estufa<br />

a nível europeu, e reduzir em 2000<br />

milhões de euros as importações<br />

anuais de combustíveis fósseis.<br />

Pretende-se reduzir as emissões de<br />

CO2 em 20 milhões de tonela<strong>da</strong>s<br />

e aumentar a eficiência energética<br />

em 20 por cento, gerando 120.000<br />

novos postos de trabalho.<br />

De acordo com o Eurobarómetro<br />

que avalia a sustentabili<strong>da</strong>de nas<br />

PME, as empresas portuguesas são<br />

as que tomam mais medi<strong>da</strong>s para<br />

poupar energia. Segundo o documento,<br />

88 por cento <strong>da</strong>s empresas<br />

portuguesas estão a tomar medi<strong>da</strong>s<br />

de eficiência energética, o que<br />

constitui a percentagem mais alta<br />

de to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>.<br />

Portugal também lidera a lista<br />

de PME que pretendem começar a<br />

disponibilizar produtos e serviços<br />

verdes nos próximos dois anos.<br />

Em relação ao emprego, a meta<br />

portuguesa é conseguir uma taxa<br />

de emprego de 75 por cento para a<br />

população entre os 20 e os 64 anos.<br />

Em 2010, 25,3 por cento dos portugueses<br />

viviam em risco de situação<br />

de pobreza e exclusão social.<br />

Algumas medi<strong>da</strong>s a ser postas em<br />

prática em Portugal para combater<br />

A meta portuguesa<br />

é conseguir uma<br />

taxa de emprego<br />

de 75 por cento<br />

para a população<br />

entre os 20 e os<br />

64 anos<br />

o desemprego passam por prosseguir<br />

com o investimento na qualificação<br />

de jovens e adultos, pela<br />

melhoria dos mecanismos de inserção<br />

de grupos mais vulneráveis<br />

e pela melhoria <strong>da</strong>s condições de<br />

inserção e reinserção no mercado<br />

de trabalho.<br />

As medi<strong>da</strong>s previstas pelo plano<br />

português para a redução <strong>da</strong> pobreza<br />

consistem numa política de<br />

rendimentos que contribua para a<br />

redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, aprofun<strong>da</strong>r<br />

as medi<strong>da</strong>s de eficiência <strong>da</strong><br />

despesa social, melhorar a eficiência<br />

contributiva do sistema público<br />

de segurança social, de modo a tirar,<br />

pelo menos, 200 mil pessoas <strong>da</strong><br />

pobreza até 2020. Algumas <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />

para alcançar estes objetivos<br />

passam por promover uma política<br />

de rendimentos que contribua para<br />

a redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, aprofun<strong>da</strong>r<br />

as medi<strong>da</strong>s de eficiência <strong>da</strong><br />

despesa social, e melhorar a eficiência<br />

contributiva do sistema público<br />

de segurança social.<br />

DR<br />

O Plano<br />

<strong>Europa</strong> 2020<br />

é a estratégia<br />

desenvolvi<strong>da</strong><br />

pela Comissão<br />

Europeia para<br />

esta déca<strong>da</strong>


20 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 21<br />

União Europeia adota Pacto Orçamental<br />

Controverso<br />

manual de<br />

gestão <strong>da</strong>s<br />

finanças públicas<br />

Fabíola<br />

Maciel<br />

Na Cimeira <strong>da</strong> Primavera de <strong>2012</strong> foi assinado<br />

um Pacto Intergovernamental entre 25 estadosmembros<br />

<strong>da</strong> União Europeia que pretende aumentar<br />

a integração económica e monetária. O Reino<br />

Unido e a República Checa recusaram integrar este<br />

compromisso. A Irlan<strong>da</strong> decide em Maio<br />

Como resposta à crise económica,<br />

a União Europeia introduziu, a 2<br />

de Março de <strong>2012</strong>, um novo mecanismo<br />

interno de correção <strong>da</strong>s<br />

finanças públicas em ca<strong>da</strong> estadomembro,<br />

por forma a impedir derrapagens<br />

nas contas públicas. Paulo<br />

Sande, diretor do Gabinete do Parlamento<br />

Europeu em Portugal, defende<br />

que “politicamente, [o pacto]<br />

representou um passo fun<strong>da</strong>mental<br />

para desbloquear algumas decisões<br />

relativas às políticas <strong>da</strong> zona euro:<br />

assim, por exemplo, foi aumentado<br />

o “poder de fogo” dos dois instrumentos<br />

de intervenção financeira<br />

<strong>da</strong> zona euro, o actual e temporário<br />

Fundo Europeu de Estabili<strong>da</strong>de Financeira<br />

e o futuro Mecanismo Europeu<br />

de Estabili<strong>da</strong>de Financeira”.<br />

A maior vigilância orçamental<br />

inclui uma “Regra de Ouro”, que<br />

impõe um limite de défice público<br />

anual de 3% do Produto Interno<br />

Bruto (PIB) e a impossibili<strong>da</strong>de<br />

de ultrapassar 60% de dívi<strong>da</strong> pública<br />

do PIB, como estava previsto<br />

no Pacto de Estabili<strong>da</strong>de e Crescimento<br />

(PEC). Para além disso,<br />

introduziu ain<strong>da</strong> um sistema de<br />

penalizações no qual, em caso de<br />

incumprimento, o Tribunal Europeu<br />

de Justiça pode punir o estadomembro<br />

com sanções pecuniárias<br />

até 0,1% do PIB.<br />

Inicialmente, os líderes europeus<br />

ambicionavam a introdução obrigatória<br />

destas condições na Cons-<br />

O pacto introduz<br />

a realização<br />

obrigatória<br />

de duas cimeiras<br />

anuais dos países<br />

<strong>da</strong> zona euro<br />

tituição de ca<strong>da</strong> estado-membro,<br />

mas a forte oposição de alguns<br />

países impediu que esta medi<strong>da</strong><br />

fosse implementa<strong>da</strong>. Esta ação, segundo<br />

Paulo Sande, “nesses termos<br />

arriscava-se a chocar de frente com<br />

as regras e procedimentos constitucionais<br />

de diversos estados-membros,<br />

levando nesse caso a um adiamento<br />

- quiçá sine die - <strong>da</strong> entra<strong>da</strong><br />

em vigor do pacto”.<br />

Acor<strong>da</strong>do a 30 de Janeiro de <strong>2012</strong><br />

na Cimeira Europeia em Bruxelas,<br />

o Pacto pretende ser um “manual<br />

de gestão” <strong>da</strong>s finanças públicas<br />

para recuperar a confiança do mercado.<br />

Mario Draghi, presidente do<br />

Banco Central Europeu, mostrou<br />

estar confiante de que “o pacto vai<br />

ser implementado” e acrescentou<br />

que “não pode haver um ou dois<br />

países a pagar por outros”.<br />

Durão Barroso, presidente <strong>da</strong><br />

Comissão Europeia, considera que<br />

“é uma importante toma<strong>da</strong> de po-<br />

sição sobre a irreversabili<strong>da</strong>de do<br />

euro”. Sobre o Mecanismo Europeu<br />

de Estabili<strong>da</strong>de, o líder garantiu<br />

que estará a funcionar “em Julho<br />

deste ano”.<br />

A 2 de Março de <strong>2012</strong>, na Cimeira<br />

<strong>da</strong> Primavera, 25 estadosmembros<br />

aprovaram o acordo que<br />

entrará em vigor a 1 de Janeiro de<br />

2013, caso seja ratificado no mínimo<br />

por doze países. A Cimeira de<br />

1 e 2 de Março serviu também para<br />

reconduzir Herman Von Rompuy<br />

como presidente do Conselho<br />

Europeu, que decidiu introduzir a<br />

obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> realização de<br />

duas cimeiras anuais dos países <strong>da</strong><br />

zona euro.<br />

Reino Unido e República Checa<br />

ficam de fora Contrariamente à<br />

maioria dos estados-membros, o<br />

Reino Unido e a República Checa<br />

não aceitaram a introdução <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />

de vigilância orçamental. Esta<br />

rejeição desencadeou um debate<br />

sobre a existência de um novo Tratado<br />

Europeu, já que este pressupõe<br />

a unanimi<strong>da</strong>de.<br />

David Cameron, primeiro-ministro<br />

britânico, esclareceu em Dezembro<br />

de 2011 que o seu país se iria<br />

opor, já que “o Pacto não garante a<br />

proteção aos países” e acrescentou<br />

que “não queria tratamento especial,<br />

apenas salvaguar<strong>da</strong>s necessárias<br />

para o nosso mercado financeiro”.<br />

Face ao passado controverso<br />

do Reino Unido no que concerne à<br />

aceitação <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s europeias, o<br />

porta-voz do governo salientou que<br />

“o país continua a ser um membro<br />

pleno <strong>da</strong> União Europeia”.<br />

Por outro lado, Petr Necas, primeiro-ministro<br />

checo, deu sinais<br />

em Janeiro de <strong>2012</strong> de que poderia<br />

não aceitar o pacto, uma vez que tinha<br />

“sérias reservas sobre a sua utili<strong>da</strong>de”.<br />

Aquando <strong>da</strong> aprovação do<br />

Pacto, a República Checa juntou-se<br />

ao Reino Unido e acabou por vetar<br />

a sua integração. De acordo com<br />

Paulo Sande, “por razões políticas<br />

internas ao país, e embora tenha<br />

de facto sido uma meia-surpresa, o<br />

veto acaba por ser compreensível”.<br />

A Irlan<strong>da</strong> decidirá em referendo,<br />

que é obrigatório por lei, a 31 de<br />

Maio de <strong>2012</strong>. En<strong>da</strong> Kenny, primeiro-ministro<br />

irlandês, revelou estar<br />

“confiante de que, assim que a importância<br />

deste tratado for comunicado<br />

ao povo irlandês, este vai votar<br />

‘sim’ de modo pronunciado”.<br />

Movimentos de ci<strong>da</strong>dãos na <strong>Europa</strong><br />

A socie<strong>da</strong>de<br />

ocupa a rua<br />

Geiziely<br />

Fernandes<br />

A crise deu voz à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e o<br />

descontentamento levanta o véu<br />

<strong>da</strong>s assimetrias em democracia e<br />

no sistema económico de mercado<br />

Os movimentos sociais têm surgido<br />

através de iniciativas de ci<strong>da</strong>dãos<br />

comuns que estão insatisfeitos com<br />

a atual democracia e as condições<br />

precárias de vi<strong>da</strong>. Esse descontentamento<br />

tem vindo a criar um espaço<br />

de diálogo frente aos poderes<br />

políticos europeus mas ultimamente<br />

estes têm respondido com repreensões<br />

policiais. Um ano após os<br />

crescentes sinais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil,<br />

a tensão persiste e as estratégias de<br />

intervenção mostram assimetrias e<br />

muitos sonhos defrau<strong>da</strong>dos.<br />

Milhares de pessoas correm em<br />

direção contrária à tropa de choque<br />

que muni<strong>da</strong> de cacetetes e bombas<br />

de gás lacrimogénio, tenta retirar as<br />

pessoas que estavam acampa<strong>da</strong>s na<br />

Praça <strong>da</strong> Catalunha, em Barcelona.<br />

Foi o primeiro retrato de muitos em<br />

to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>, e também o primeiro<br />

em Lisboa, a 15 de Outubro de<br />

2011, com polícias infiltrados que<br />

impulsionaram a violência numa<br />

tentativa de criminalização dos<br />

GONçAlO PORTUGUêS<br />

movimentos sociais. Mais tarde,<br />

aconteceria no Porto, em Londres,<br />

Madrid, Paris, Atenas onde nem<br />

todos os milhares de ‘indignados’<br />

conseguiriam obter um momento<br />

de diálogo com o governo, evitar a<br />

falência social ou conter a embosca<strong>da</strong><br />

policial.<br />

Mesmo que menos de um ano<br />

antes, um cartaz de papelão anunciasse:<br />

“Assembleia Popular às 19h”.<br />

Em volta, dezenas de pessoas reuni<strong>da</strong>s<br />

em ten<strong>da</strong>s verdes instala<strong>da</strong>s<br />

de maneira improvisa<strong>da</strong> ocupam o<br />

Rossio de Lisboa. Eram 19h30 e o<br />

mediador que recolhia as inscrições<br />

para a posse do megafone já contava<br />

com uma lista extensa de nomes<br />

nesse Maio de 2011.<br />

Um cego pede a palavra e, com o<br />

megafone nas mãos, começa a partilhar<br />

as dificul<strong>da</strong>des que uma pessoa<br />

com deficiência visual enfrenta<br />

no dia-a-dia, desde o mercado laboral<br />

à inserção na socie<strong>da</strong>de. É aplaudido,<br />

senta-se no chão junto aos<br />

Manifestantes<br />

a caminho do<br />

Parlamento<br />

em S. Bento,<br />

lisboa


22 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 23<br />

demais participantes, para ouvir a<br />

próxima pessoa que será portadora<br />

<strong>da</strong> palavra por mais sete ou 10 minutos.<br />

O mediador então relembra:<br />

“estamos aqui reunidos em assembleia<br />

popular para <strong>da</strong>r voz a quem<br />

não tem voz, para <strong>da</strong>r voz ao povo”.<br />

A opção <strong>da</strong> assembleia popular<br />

surgiu com as “acampa<strong>da</strong>s” em Espanha<br />

que tiveram início em Madrid<br />

na praça Puerta del Sol, juntando<br />

10 mil pessoas que protestavam<br />

em nome de uma democracia ver<strong>da</strong>deira<br />

para as eleições de 2011.<br />

Este era o arranque do movimento<br />

dos “Indignados” que se espalhou<br />

por 50 ci<strong>da</strong>des europeias, entre elas<br />

Lisboa. Na Grécia, os “Indignados”<br />

atingiram cerca de 500 mil pessoas,<br />

que acamparam por três semanas<br />

na praça Syntagma, em Atenas, à<br />

frente do Parlamento grego para<br />

impedir a aprovação de mais um<br />

pacote de austeri<strong>da</strong>de que afun<strong>da</strong>ria<br />

a Grécia. A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de com<br />

os ci<strong>da</strong>dãos de Espanha chegou até<br />

Londres, com o “Occupy London”<br />

que acampou em frente a Catedral<br />

de St.Paul, perto à Bolsa de Valores<br />

de Londres, em protesto ao sistema<br />

económico atual.<br />

O desemprego crescente, a ausência<br />

de oportuni<strong>da</strong>des de trabalho<br />

para os jovens qualificados, os<br />

falsos recibos verdes transversais a<br />

gerações de precários, fizeram com<br />

que um grupo de amigos organizasse<br />

um protesto. A 12 de Março de<br />

2011, Portugal assistiu à primeira<br />

de muitas manifestações que aconteceriam<br />

no decorrer do ano. O<br />

protesto Geração À Rasca que levou<br />

500 mil pessoas para as ruas em<br />

diversos pontos do país, deu origem<br />

ao movimento M12M - Movimento<br />

12 de Março. O M12M desde então<br />

promove e apoia iniciativas que<br />

vão de encontro a uma democracia<br />

mais participativa, melhorias no<br />

mercado laboral e reivindicações<br />

contra o atual regime político que<br />

ao pedir sacrifícios aos portugueses<br />

gera recessão económica e, logo,<br />

um empobrecimento populacional<br />

em massa.<br />

A Iniciativa Legislativa de Ci<strong>da</strong>dãos,<br />

apoia<strong>da</strong> pelos movimentos<br />

Precários Inflexíveis, M12M e<br />

FERVE, conseguiu recentemente<br />

em Portugal recolher 35 mil assinaturas<br />

contra a precarie<strong>da</strong>de e os<br />

falsos recibos verdes, obrigando a<br />

nova discussão e votação no parlamento<br />

nacional <strong>da</strong>s leis laborais.<br />

Segurança na UE<br />

Dia Europeu<br />

<strong>da</strong>s Vítimas<br />

do Terrorismo<br />

Fabíola<br />

Maciel<br />

A segurança é uma <strong>da</strong>s principais<br />

preocupações <strong>da</strong> União Europeia e,<br />

por isso, foi delinea<strong>da</strong> uma estratégia<br />

de luta contra o terrorismo. “Prevenir,<br />

proteger, perseguir e responder” são<br />

os quatro pilares que visam construir<br />

um mundo mais seguro<br />

Quando ocorre um atentado em<br />

solo europeu é imediatamente<br />

acionado um mecanismo de resposta<br />

solidário para prestar assistência<br />

às vítimas. Este ano, a União<br />

Europeia declarou o dia 11 de Março,<br />

<strong>da</strong>ta dos atentados em Madrid,<br />

como o Dia Europeu <strong>da</strong>s Vítimas<br />

do Terrorismo.<br />

Os atentados de 11 de Setembro<br />

de 2001, nos Estados Unidos<br />

<strong>da</strong> América, marcaram um ponto<br />

de viragem em todo o mundo nas<br />

questões de Segurança. A União<br />

Europeia (UE), que tinha aberto<br />

as suas fronteiras com o Acordo<br />

de Schengen em 1999, foi força<strong>da</strong><br />

a criar um plano para controlar as<br />

ações terroristas em solo europeu.<br />

Nuno Piçarra, docente <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />

de Direito <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Nova de Lisboa, considera que “o<br />

combate a este ‘euroterrorismo’<br />

não poderia deixar de fomentar<br />

a cooperação entre os Estados-<br />

Membros pelo menos em matéria<br />

FOTOS: DR<br />

de segurança interna e de polícia”.<br />

De 2010 a 2014 está em vigor<br />

o Programa de Estocolmo, inserido<br />

na Estratégia de Luta contra o<br />

Terrorismo, que visa criar “uma<br />

<strong>Europa</strong> aberta e segura que sirva<br />

e proteja os ci<strong>da</strong>dãos” bem como<br />

“fortalecer a cooperação com<br />

países terceiros, nomea<strong>da</strong>mente<br />

Norte de África, Médio Oriente<br />

e Sudoeste asiático”. Este plano<br />

estipula ain<strong>da</strong> que o Conselho<br />

Europeu é obrigado a reunir-se<br />

semestralmente para efectuar um<br />

balanço com a Comissão Europeia<br />

e o Parlamento Europeu.<br />

Em colaboração com a Organização<br />

<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (ONU),<br />

a UE elaborou uma estratégia<br />

global basea<strong>da</strong> em quatro pilares:<br />

“Prevenir, Proteger, Persegir e<br />

Responder”. A prevenção promove<br />

o intercâmbio de informações e<br />

a coordenação de políticas nacionais<br />

contra o recrutamento de organizações<br />

terroristas.<br />

Atentados<br />

terroristas<br />

na <strong>Europa</strong><br />

11 de Março de 2004: em plena<br />

hora de ponta, quatro comboios<br />

explodem na estação <strong>da</strong> Atocha,<br />

em Madrid. Cerca de 1700<br />

pessoas ficaram feri<strong>da</strong>s e 191<br />

morreram.<br />

7 de Julho de 2005: três<br />

explosões paralisaram o metro de<br />

Londres e uma bomba destruiu<br />

um autocarro em pouco menos<br />

de uma hora. O ataque fez mais<br />

de 50 mortos e 700 feridos.<br />

22 de Julho de 2011:<br />

Anders Breivik, foi o autor de<br />

uma explosão em edifícios<br />

governamentais em Oslo e de<br />

um tiroteio na ilha de Utoya,<br />

ambos na Noruega, onde decorria<br />

a “Universi<strong>da</strong>de de Verão” do<br />

Partido Trabalhista Norueguês. Os<br />

ataques provocaram 78 mortos.<br />

21 de Março de <strong>2012</strong>: Mohamed<br />

Merah, de 23 anos, assassinou<br />

três crianças, um professor de<br />

uma escola ju<strong>da</strong>ica e três polícias,<br />

em Toulouse e Montauban, no sul<br />

de França.<br />

Para reduzir a vulnerabili<strong>da</strong>de<br />

dos ci<strong>da</strong>dãos europeus e aumentar<br />

a segurança transfronteiriça, a UE<br />

criou uma Agência Europeia de<br />

Gestão a Cooperação Operacional<br />

nas Fronteiras Externas (FRON-<br />

TEX), um Sistema de Informação<br />

comum (SIS II) com uma base de<br />

<strong>da</strong>dos que regista o percurso de viajantes<br />

(“Passenger Name Record”).<br />

O EUROJUST, organismo que<br />

apoia o intercâmbio de informação<br />

sobre a criminali<strong>da</strong>de transfronteiriça,<br />

e a EUROPOL, o<br />

Serviço Europeu de Polícia, trabalham<br />

em conjunto com os estadosmembros<br />

para desarticular redes<br />

terroristas, impedir o seu financiamento<br />

e travar o acesso a equipamentos<br />

utilizáveis em atentados,<br />

como armas e explosivos. Nuno<br />

Piçarra sublinha que esta evolução<br />

vai “em larga medi<strong>da</strong> no sentido do<br />

regime norte-americano mais executivo<br />

[do que o olhar] judiciário<br />

no caso europeu”.<br />

O contágio<br />

do terror<br />

começou a 11<br />

de Setembro<br />

de 2001:<br />

dois aviões<br />

embateram<br />

nas torres do<br />

World Trade<br />

Center, um<br />

despenhou-se<br />

no Pentágono<br />

e outro na<br />

Pensilvânia,<br />

vitimando no<br />

total quase três<br />

mil pessoas


As<br />

transformações<br />

na vi<strong>da</strong> dos<br />

ci<strong>da</strong>dãos não<br />

podem ser<br />

vistas como<br />

mu<strong>da</strong>nças<br />

de caráter<br />

meramente<br />

administrativo<br />

24 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 25<br />

Direito à proteção de <strong>da</strong>dos pessoais<br />

Entender o<br />

mundo com ética<br />

Celso<br />

Soares<br />

A informação e o conhecimento são<br />

vitais nas organizações modernas,<br />

mas a regulação na UE deve preservar<br />

a reserva <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

priva<strong>da</strong> e familiar<br />

Se o conhecimento corresponde<br />

a uma série de informações assimila<strong>da</strong>s<br />

e estrutura<strong>da</strong>s pelo indivíduo,<br />

o que lhe permite “entender<br />

o mundo”, a gestão <strong>da</strong> informação,<br />

permite a interligação entre a gestão<br />

estratégica e a aplicação <strong>da</strong>s tecnologias<br />

de informação, em todos<br />

os ramos de ativi<strong>da</strong>de. Logo, o que<br />

está em causa é decidir o que fazer<br />

com base em informação e decidir<br />

o que fazer sobre informação.<br />

De acordo com a Convenção<br />

para a Proteção <strong>da</strong>s Pessoas relativamente<br />

ao Tratamento Automatizado<br />

de Dados de Caracter Pessoal,<br />

os ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> União Europeia têm<br />

a garantia e o respeito pelos seus<br />

direitos e liber<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais,<br />

e especialmente pelo seu direito à<br />

vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>, independentemente<br />

<strong>da</strong> sua nacionali<strong>da</strong>de ou residência,<br />

na consagra<strong>da</strong> protecção do registo<br />

de <strong>da</strong>dos, sendo regula<strong>da</strong> a aplicação<br />

a esses <strong>da</strong>dos de operações lógicas<br />

e/ou aritméticas, bem como<br />

a sua modificação, supressão, extração<br />

ou difusão.<br />

Perante a globalização, a troca<br />

de conhecimento e informação<br />

desconhece fronteiras e, por isso, a<br />

UE tem reforçado o seu posicionamento<br />

em matéria de proteção de<br />

<strong>da</strong>dos com várias directivas do Parlamento<br />

Europeu e do Conselho, a<br />

fim de ajustar as necessi<strong>da</strong>des jurídicas<br />

às exigências dos tempos. E<br />

nesse caso, a proposta <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 25<br />

DR<br />

de Janeiro de <strong>2012</strong> <strong>da</strong> Directiva do<br />

Parlamento Europeu e do Conselho<br />

relativa à proteção <strong>da</strong>s pessoas<br />

singulares diz respeito ao tratamento<br />

de <strong>da</strong>dos pessoais pelas autori<strong>da</strong>des<br />

competentes para efeitos de<br />

prevenção, investigação, detecção<br />

e repressão de infrações penais ou<br />

de execução de sanções penais, e à<br />

livre circulação desses <strong>da</strong>dos.<br />

A Decisão-Quadro 2008/977/<br />

JAI tem um âmbito de aplicação<br />

limitado, uma vez que apenas se<br />

aplica ao tratamento transfronteiriço<br />

de <strong>da</strong>dos, excluindo as ativi<strong>da</strong>des<br />

de tratamento realiza<strong>da</strong>s pelas<br />

autori<strong>da</strong>des policiais e judiciárias a<br />

nível nacional. Este fator é suscetível<br />

de criar dificul<strong>da</strong>des às autori<strong>da</strong>des<br />

policiais e a outras autori<strong>da</strong>des<br />

competentes no domínio <strong>da</strong> cooperação<br />

judiciária em matéria penal e<br />

<strong>da</strong> cooperação policial.<br />

De acordo com a Proposta Directiva<br />

e em consonância com a<br />

sua política “Legislar melhor”, a<br />

Comissão realizou uma avaliação<br />

de impacto <strong>da</strong>s diferentes opções<br />

estratégicas. A avaliação de impacto<br />

baseou-se nos três objetivos de melhorar<br />

a dimensão «mercado interno»<br />

<strong>da</strong> proteção de <strong>da</strong>dos, tornar o<br />

exercício do direito à proteção de<br />

<strong>da</strong>dos pelas pessoas singulares mais<br />

eficaz e criar um quadro global e<br />

coerente que abranja todos os domínios<br />

de competência <strong>da</strong> União,<br />

incluindo a cooperação policial e<br />

judiciária em matéria penal. No que<br />

diz respeito ao último objetivo em<br />

especial, foram examina<strong>da</strong>s duas<br />

opções: a primeira opção consistia<br />

em alargar simplesmente o alcance<br />

<strong>da</strong>s regras de proteção de <strong>da</strong>dos a<br />

esse domínio e colmatar as lacunas<br />

e outras questões suscita<strong>da</strong>s pela<br />

decisão-quadro, enquanto a segun<strong>da</strong><br />

opção, mais completa, consistia<br />

em adotar regras muito normativas<br />

e estritas que implicariam, aliás, a<br />

alteração imediata de todos os instrumentos<br />

abrangidos pelo «antigo<br />

terceiro pilar».<br />

Proteção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> Intima e priva<strong>da</strong><br />

Se no passado uma <strong>da</strong>s grande lutas<br />

pela liber<strong>da</strong>de dos homens foi pelo<br />

direito a comunicar, pode com proprie<strong>da</strong>de<br />

dizer-se que hoje, adquirido<br />

incontestavelmente esse direito<br />

fun<strong>da</strong>mental, torna-se urgente lutar<br />

pela necessi<strong>da</strong>de de comunicar a<br />

direito, isto é, de acordo com princípios<br />

e no respeito <strong>da</strong> lei.<br />

A cultura dos direitos <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de<br />

e dos direitos fun<strong>da</strong>mentais<br />

afirma-se no campo do direito<br />

penal, como a consciência crítica<br />

que buscava protecção para zonas<br />

do nosso ser-com-os-outros até<br />

aqui insusceptíveis de beneficiarem<br />

<strong>da</strong> sombra do manto protector<br />

– quantas vezes tão-só simbolicamente<br />

protector – do direito penal.<br />

Com a globalização que vai construindo<br />

„aldeias“ evolutivas tecnologicamente,<br />

tornam as socie<strong>da</strong>des<br />

mas complexas nas relações intersubjectivas,<br />

fazedoras de indivíduos<br />

anónimos, cujo anonimato se vai<br />

refugiando a procura de identificações,<br />

fabricantes de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>des<br />

construi<strong>da</strong>s, produtora acrítica de<br />

notícias bem como de publici<strong>da</strong>de<br />

indiscreta e agressiva <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de<br />

e ao mesmo tempo, potencia a distribuição<br />

de mal-estar, segurança<br />

social que aos poucos atravessa o<br />

interesse individual.<br />

A relação entre as (tele)comunicações,<br />

a privaci<strong>da</strong>de e os crimes<br />

informáticos, <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s pessoas e a<br />

protecção dos <strong>da</strong>dos pessoais são alguns<br />

dos exemplos <strong>da</strong> evasão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

priva<strong>da</strong>, por isso, a UE perspectiva<br />

novos horizontes sobre os meios de<br />

comunicação social e a justiça porque<br />

é importante salvaguar<strong>da</strong>r os<br />

direitos dos ci<strong>da</strong>dãos bem como os<br />

modos de protecção jurídico-penal<br />

<strong>da</strong> privaci<strong>da</strong>de na <strong>Europa</strong>.<br />

Nesse caso, a Directiva 97/66/<br />

CE, de 15 de Dezembro de 1997,<br />

relativa ao tratamento de <strong>da</strong>dos<br />

pessoais e à protecção <strong>da</strong> privaci<strong>da</strong>de<br />

no setor <strong>da</strong>s telecomunicações<br />

tem contribuido para a consagração<br />

de mecanismos que respondessem<br />

ao crescimento de utilizadores <strong>da</strong><br />

internet e difusão <strong>da</strong>s tecnologias<br />

de investigação e partilha de <strong>da</strong>dos<br />

pessoais.<br />

As relações entre o direito e a deontologia<br />

desenvolvem-se no vasto<br />

campo coberto pelos fenómenos<br />

políticos e sociais de regulação e<br />

auto-regulação. Compreender os<br />

dois tipos de normativos implica<br />

a contextualização actual dos processos<br />

ambulatórios do próprio<br />

Estado nas socie<strong>da</strong>des complexas<br />

contemporâneas. E é o reflexo <strong>da</strong>s<br />

transformações verifica<strong>da</strong>s, nas últimas<br />

déca<strong>da</strong>s, do próprio Estado Social<br />

e do papel crescente dos grupos<br />

sociais organizados nas socie<strong>da</strong>des<br />

contemporâneas, funcionalmente<br />

diferencia<strong>da</strong>s.


lagoa do Covão<br />

do Quelhas,<br />

Parque Natural<br />

<strong>da</strong> Serra <strong>da</strong><br />

Estrela<br />

26 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 27<br />

Portugal<br />

Planeamento de<br />

recursos hídricos<br />

está na fase final<br />

Rita<br />

Pereira<br />

Com um atraso considerável em relação ao prazo<br />

estabelecido pela Diretiva Quadro <strong>da</strong> Água, a primeira<br />

versão dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica<br />

já foi elabora<strong>da</strong><br />

Os planos de Gestão de Região<br />

Hidrográfica (PGRH) são instrumentos<br />

de planeamento preconizados<br />

pela Diretiva Quadro <strong>da</strong> Água<br />

(DQA). Constituem-se como base<br />

de suporte à gestão, proteção e valorização<br />

ambiental, social e económica<br />

<strong>da</strong>s águas.<br />

O processo de planeamento em<br />

Portugal levado a cabo pelas Administrações<br />

de Região Hidrográfica<br />

(ARH) encontra-se na fase final de<br />

consulta pública obrigatória, que<br />

decorreu por um período de seis<br />

meses. Segue-se uma etapa de análise<br />

e integração dos contributos apre-<br />

sentados pelas várias enti<strong>da</strong>des, empresas<br />

e ci<strong>da</strong>dãos. Após aprovação<br />

do Ministério <strong>da</strong> Agricultura, Mar,<br />

Ambiente e Ordenamento do Território,<br />

os PGRH serão publicados<br />

em Diário <strong>da</strong> República, entrando<br />

assim em vigor.<br />

A diretiva estabelecia o ano de<br />

2009 como prazo limite para a finalização<br />

dos planos de gestão. No<br />

entanto, Portugal, a par <strong>da</strong> Espanha,<br />

Grécia e Bélgica, encontra-se com<br />

um atraso considerável. O facto de as<br />

estruturas de gestão por bacia hidrográfica<br />

(ARH) terem sido cria<strong>da</strong>s<br />

apenas em 2008, a um ano do limite<br />

para a publicação dos planos, explicam,<br />

em parte, o atraso no processo.<br />

Também o contencioso associado<br />

à elaboração de cadernos de encargos<br />

e contratualização de equipas de<br />

desenvolvimento contribuíram para<br />

que Portugal não cumprisse o prazo<br />

previsto de publicação.<br />

Cooperação Luso-Espanhola No<br />

âmbito dos planos, a coordenação<br />

com Espanha tem-se desenvolvido<br />

sobretudo ao nível de reuniões técnicas<br />

de equipas de desenvolvimento.<br />

Segundo a DQA, ca<strong>da</strong> Estado-<br />

Membro é responsável pela gestão<br />

ANTóNiO BRANDãO<br />

<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> bacia situa<strong>da</strong> no seu<br />

território, em coordenação com os<br />

demais Estados-Membros que partilham<br />

a mesma bacia. A diretiva comunitária<br />

prevê no entanto que no<br />

final <strong>da</strong> elaboração dos planos seja<br />

elaborado um documento conjunto.<br />

Historicamente os governos de<br />

Portugal e Espanha assinaram vários<br />

acordos bilaterais sobre o uso<br />

e aproveitamento dos rios transfronteiriços<br />

Minho, Lima, Douro,<br />

Tejo e Guadiana. O mais recente<br />

foi o Convénio sobre a Cooperação<br />

para a Proteção e o Aproveitamento<br />

Sustentável <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong>s Bacias Hidrográficas<br />

Luso-Espanholas, mais<br />

conhecido por Convénio de Albufeira.<br />

Assinado em 1998 em Albufeira,<br />

encontra-se em vigor desde 17<br />

de Janeiro de 2000 e foi o primeiro a<br />

estabelecer obrigações de monitorização<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas.<br />

DQA e Lei <strong>da</strong> Água Adota<strong>da</strong> em<br />

2000, a DQA estabelece um quadro<br />

de ação comunitária no domínio <strong>da</strong><br />

política <strong>da</strong> água, no sentido de proteger<br />

e recuperar a quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de<br />

dos recursos hídricos na UE<br />

e assegurar a sua utilização sustentável<br />

a longo prazo. O objetivo é que<br />

os Estados-membros alcancem um<br />

«bom estado» <strong>da</strong>s águas subterrâneas<br />

e de superfície até 2015.<br />

A nova diretiva introduz uma<br />

abor<strong>da</strong>gem inovadora <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong><br />

água com base nas bacias hidrográficas,<br />

uni<strong>da</strong>des geográficas e hidrológicas<br />

naturais. Abrange as águas<br />

de superfície interiores, as águas<br />

de transição, as águas costeiras e as<br />

águas subterrâneas. Integra ain<strong>da</strong><br />

novos princípios, nomea<strong>da</strong>mente<br />

no que respeita à participação do<br />

público no processo de planeamento<br />

e introdução de um valor económico<br />

<strong>da</strong> água.<br />

A DQA foi transposta para a ordem<br />

jurídica portuguesa em 2005,<br />

através <strong>da</strong> Lei <strong>da</strong> Água. Em 2008<br />

foram cria<strong>da</strong>s cinco Administrações<br />

de Região Hidrográfica (ARH), responsáveis<br />

pela gestão dos recursos<br />

hídricos ao nível <strong>da</strong>s bacias hidrográficas.<br />

Com a recente reestruturação<br />

<strong>da</strong> Administração Central do<br />

Estado, as competências <strong>da</strong>s ARH<br />

em matéria de gestão de recursos hídricos<br />

foram incorpora<strong>da</strong>s na Agên-<br />

cia Portuguesa do Ambiente, atual<br />

Autori<strong>da</strong>de Nacional <strong>da</strong> Água.<br />

Antecedentes A água é um recurso<br />

vital mas limitado. A preservação <strong>da</strong><br />

sua quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de tem sido<br />

por isso uma <strong>da</strong>s principais priori<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> União Europeia em matéria<br />

de políticas do ambiente. As primeiras<br />

diretivas de proteção de recursos<br />

hídricos foram adota<strong>da</strong>s em meados<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 e estabeleceram<br />

uma série de normas de quali<strong>da</strong>de<br />

destina<strong>da</strong>s a proteger a saúde humana<br />

e o meio aquático. To<strong>da</strong>via,<br />

quando em finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980<br />

a eutrofização se tornou um problema<br />

nos mares do Norte e Báltico e<br />

em partes do Mediterrâneo, a abor<strong>da</strong>gem<br />

basea<strong>da</strong> em normas de quali<strong>da</strong>de<br />

revelou-se insuficiente.<br />

A UE começou então a concentrar-se<br />

nas fontes de poluição.<br />

Neste sentido foram cria<strong>da</strong>s três<br />

diretivas. Em 1991, foi adota<strong>da</strong> a<br />

diretiva relativa ao tratamento de<br />

águas residuais urbanas, que obriga<br />

os Estados-Membros a investirem<br />

em infraestruturas de recolha e tratamento<br />

dos efluentes nas zonas urbanas,<br />

e a diretiva Nitratos que estabelece<br />

que os agricultores controlem<br />

as quanti<strong>da</strong>des de adubos azotados<br />

aplicados nos campos.<br />

Em 1996 foi adota<strong>da</strong> uma diretiva<br />

relativa à prevenção e controlo integrados<br />

<strong>da</strong> poluição, que pretende<br />

diminuir as descargas de poluentes a<br />

partir <strong>da</strong>s grandes instalações industriais.<br />

Para <strong>da</strong>r coerência a todo um<br />

conjunto de políticas e disposições<br />

legislativas dispersas, a UE adotou<br />

em 2000 a Diretiva-Quadro <strong>da</strong> Água,<br />

criando uma abor<strong>da</strong>gem unifica<strong>da</strong><br />

em matéria de recursos hídricos.<br />

Fontes<br />

de poluição<br />

RUi CUNhA/ARh DO TEJO<br />

• Eutrofização, um processo em<br />

que as massas de água recebem<br />

uma quanti<strong>da</strong>de excessiva de<br />

nutrientes, nomea<strong>da</strong>mente<br />

compostos de azoto e fósforo,<br />

que estimulam uma proliferação<br />

de algas.<br />

• As águas residuais provenientes<br />

<strong>da</strong>s estações de tratamento de<br />

efluentes constituem a segun<strong>da</strong><br />

maior fonte de poluição.<br />

• A poluição difusa proveniente<br />

<strong>da</strong> agricultura, como os adubos<br />

azotados aplicados nos campos<br />

agrícolas, o estrume produzido pela<br />

exploração pecuária e a erosão de<br />

solos que contêm nutrientes.<br />

Factos sobre a<br />

situação <strong>da</strong> água<br />

• A água disponível para o<br />

consumo humano representa<br />

menos de 1% dos recursos<br />

hídricos do Planeta<br />

• Mais de 1,2 mil milhões de<br />

pessoas não têm acesso a água<br />

potável<br />

• 20% <strong>da</strong>s águas superficiais <strong>da</strong><br />

União Europeia correm sério risco<br />

de poluição<br />

• 60% <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des europeias<br />

exploram de forma excessiva as<br />

suas águas subterrâneas e 50%<br />

<strong>da</strong>s zonas húmi<strong>da</strong>s estão “em<br />

perigo de extinção”<br />

Para saber mais sobre a Diretiva-Quadro <strong>da</strong> Água e sobre os recursos hídricos <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, consulte o Sistema<br />

Europeu de Informação sobre a Água (WISE) em water.europa.eu. Dados adicionais sobre o processo de<br />

planeamento em Portugal encontram-se disponíveis em apambiente.pt<br />

Reserva<br />

Natural do<br />

Estuário do<br />

Tejo: a bacia<br />

do Tejo e<br />

outras bacias<br />

hidrográficas,<br />

que ligam<br />

Espanha e<br />

Portugal,<br />

cobrem 46%<br />

<strong>da</strong> Península<br />

ibérica


28 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 29<br />

Redes transeuropeias de transportes<br />

Obras<br />

para<strong>da</strong>s,<br />

projetos<br />

suspensos<br />

Inês<br />

Vidigal<br />

Os quatro projetos europeus<br />

prioritários incluídos no Plano<br />

Operacional do Alentejo estão<br />

suspensos. E o futuro de Portugal<br />

nos transportes é uma incógnita<br />

O Plano Operacional Regional do<br />

Alentejo para o período 2007-2013,<br />

aprovado em 2011, define como<br />

fun<strong>da</strong>mental o papel do Alentejo<br />

nas acessibili<strong>da</strong>des regionais e no<br />

sistema logístico nacional: a região<br />

tem uma posição estratégica no corredor<br />

ibérico Lisboa-Madrid e nos<br />

corredores nacionais Lisboa-Algarve<br />

e Centro-Algarve, dispondo de<br />

uma presença significativa nas redes<br />

transeuropeias de transportes. A região<br />

está incluí<strong>da</strong> em quatro dos 30<br />

projetos prioritários europeus que,<br />

quando terminados, deverão contribuir<br />

para melhorar a competitivi<strong>da</strong>de<br />

regional e atrair investimentos<br />

em setores estratégicos <strong>da</strong> região.<br />

Fazem parte dos projetos prioritários<br />

europeus para a região do<br />

Alentejo o eixo ferroviário de alta<br />

veloci<strong>da</strong>de do sudoeste <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />

(projeto n.º 3), a rede ferroviária<br />

Sines/Algeciras – Madrid – Paris<br />

(projeto n.º 16), o eixo multimo<strong>da</strong>l<br />

Portugal/Espanha – resto <strong>da</strong><br />

<strong>Europa</strong> (projeto n.º 8) e as auto-<br />

estra<strong>da</strong>s do mar (projeto n.º 21).<br />

O eixo ferroviário de alta veloci<strong>da</strong>de<br />

do sudoeste <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> previa<br />

que o TGV desse um impulso no<br />

transporte de passageiros, com uma<br />

consequente vantagem competitiva<br />

para as regiões abrangi<strong>da</strong>s. No caso<br />

do Alentejo, desempenharia um papel<br />

importante pela construção de<br />

duas estações <strong>da</strong> rede em Évora e<br />

em Elvas/Ba<strong>da</strong>joz, aproximando estas<br />

ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s capitais <strong>da</strong> Península<br />

Ibérica. Segundo o Plano Operacional,<br />

em 2013 o eixo Lisboa-Madrid<br />

deveria atingir um tráfego anual de<br />

6,1 milhões de passageiros, mas o<br />

projeto está de momento posto de<br />

lado.<br />

O projeto tem sofrido constantes<br />

modificações, dos prazos à veloci<strong>da</strong>de<br />

e ao modelo – por fim optou-se<br />

pelo uso de sistemas mistos (de passageiros<br />

e mercadorias), em alternativa<br />

a sistemas independentes de<br />

ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de. As diferentes mexi<strong>da</strong>s<br />

resultaram na alteração do próprio<br />

traçado inicial: no final de 2011,<br />

o eixo de mercadorias entre Sines e<br />

Madrid perdeu parte do traçado previsto<br />

e passou a englobar outra parte<br />

<strong>da</strong> rede global, o que prolongou o<br />

prazo de execução até 2051.<br />

A indecisão governamental quanto<br />

à rede de transportes estende-se à<br />

execução <strong>da</strong> linha de alta veloci<strong>da</strong>de<br />

entre Lisboa e Elvas, assim como à<br />

de Madrid e Ba<strong>da</strong>joz, e afecta também<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong>s infraestruturas<br />

logísticas liga<strong>da</strong>s à ferrovia,<br />

de que é exemplo a Plataforma<br />

transfronteiriça Multimo<strong>da</strong>l de Caia<br />

ou a Plataforma Logística de Ba<strong>da</strong>joz.<br />

Entretanto, foram desactivados<br />

vários ramais regionais de comunicação<br />

ferroviária.<br />

A rede ferroviária Sines/Algeciras<br />

– Madrid – Paris, que pretendia<br />

criar uma ligação ferroviária entre<br />

o porto de Sines e a fronteira espanhola,<br />

é um dos projetos considerados<br />

mais importantes para o desenvolvimento<br />

regional, porque traria<br />

maior competitivi<strong>da</strong>de às ativi<strong>da</strong>des<br />

económicas instala<strong>da</strong>s em Sines e<br />

alargava a área de influência desta<br />

“porta atlântica” ao hinterland ibérico.<br />

As obras deste projeto deveriam<br />

ter sido lança<strong>da</strong>s em Novembro de<br />

2010 para estarem concluí<strong>da</strong>s em<br />

Novembro de 2013, contudo ain<strong>da</strong><br />

não foram inicia<strong>da</strong>s. Embora o<br />

primeiro-ministro português afirme<br />

que esta é uma linha importante<br />

para o desenvolvimento do país, salienta<br />

não haver de momento condições<br />

económicas para avançar com<br />

o projeto, declarando ain<strong>da</strong> que a<br />

única coisa definitiva é a morte,<br />

motivo pelo qual o projeto tem sido<br />

adiado e não tem <strong>da</strong>ta defini<strong>da</strong> para<br />

o seu começo.<br />

Traçado com obras feitas sem<br />

conclusão à vista O projeto <strong>da</strong><br />

rede ferroviária Sines/Algeciras –<br />

Madrid – Paris consiste na construção<br />

de dois novos troços – “Évora/<br />

Elvas-Caia” e a variante de Alcácer<br />

–, e na modernização <strong>da</strong> estação <strong>da</strong><br />

Raquete e do troço “Bombel/Casa<br />

Branca/Évora”.<br />

iNêS ViDiGAl<br />

Modernização adia<strong>da</strong> na estação de Casa Branca, na rede Sines/Algeciras – Madrid – Paris<br />

A modernização <strong>da</strong> estação <strong>da</strong><br />

Raquete encontra-se concluí<strong>da</strong>. Os<br />

trabalhos decorreram entre Junho<br />

de 2009 a Junho de 2010, num investimento<br />

de 17 milhões de euros.<br />

A variante de Alcácer ficou concluí<strong>da</strong><br />

em Novembro de 2007, após três<br />

anos e obras e 159 milhões de euros<br />

de investimento. A modernização<br />

do troço “Bombel/Casa Branca/<br />

Évora” terminou em 2011 (com<br />

atraso face ao às previsões), com um<br />

custo aproximado de 120 milhões<br />

de euros.<br />

Já o novo troço “Évora/Elvas-<br />

Caia” deveria ter sido iniciado no<br />

primeiro semestre de 2011, e embora<br />

tenha tido contratos assinados<br />

e apoios atribuídos acabou por ser<br />

adiado – sem <strong>da</strong>ta defini<strong>da</strong>.<br />

O eixo multimo<strong>da</strong>l Portugal/Espanha<br />

– resto <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> (projeto<br />

n.º 8) engloba as linhas ferroviárias<br />

de La Coruña-Lisboa-Sines, de Lisboa-Valladolid,<br />

de Lisboa-Faro, e as<br />

auto-estra<strong>da</strong>s Lisboa-Valladolid, La<br />

Coruña-Lisboa, e Sevilha-Lisboa,<br />

União: a <strong>Europa</strong><br />

numa rede de<br />

transportes<br />

A União Europeia avançou com a<br />

rede transeuropeia de transportes<br />

para promover uma melhor ligação<br />

entre todos Estados-membros,<br />

permitindo uma maior mobili<strong>da</strong>de<br />

de passageiros e de mercadorias.<br />

O objetivo é encurtar distâncias,<br />

cobrindo a totali<strong>da</strong>de do território<br />

com uma rede interoperável<br />

em todos os seus elementos e<br />

permitindo uma melhor utilização<br />

<strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des existentes.<br />

A rede transeuropeia de<br />

transportes influencia actualmente<br />

cerca de metade do tráfego total<br />

de passageiros e mercadorias<br />

na União Europeia. Alguns<br />

dos grandes projetos já estão<br />

finalizados, como a ligação fixa<br />

entre a Dinamarca e a Suécia<br />

através do Öresund; o novo<br />

aeroporto de Malpensa, na<br />

periferia de Milão; a rede de<br />

comboios de alta veloci<strong>da</strong>de<br />

entre Londres, Paris e Bruxelas,<br />

ou ain<strong>da</strong> a ligação ferroviária<br />

entre Belfast, Dublin e Cork, ou<br />

seja, entre a Irlan<strong>da</strong> do Norte e a<br />

República <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong>.<br />

Contudo, e apesar dos<br />

progressos alcançados,<br />

responsáveis <strong>da</strong> UE afirmaram<br />

recentemente que ain<strong>da</strong> não há<br />

uma “rede transeuropeia madura”.<br />

Ou seja, existem muitos projetos<br />

nacionais, mas é preciso apostar<br />

na complementari<strong>da</strong>de.<br />

Apesar <strong>da</strong> crise económica<br />

n a <strong>Europa</strong>, mantém-se a forte<br />

aposta na rede transeuropeia e<br />

os dirigentes europeus continuam<br />

a procurar financiamentos<br />

para estes projetos. Ao intervir<br />

nas jorna<strong>da</strong>s sobre redes<br />

transeuropeias, Brian Simpson,<br />

presidente <strong>da</strong> comissão de<br />

transportes do Parlamento<br />

Europeu, afirmou: “O transporte<br />

pode não só <strong>da</strong>r coesão<br />

económica e social, como pode<br />

ser o motor <strong>da</strong> recuperação<br />

económica”. I.V.


30 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 31<br />

além do novo aeroporto de Lisboa.<br />

Destes projetos estão concluí<strong>da</strong>s a<br />

linha ferroviária Lisboa-Faro (2004)<br />

e as auto-estra<strong>da</strong>s La Coruña-Lisboa<br />

(2003) e Sevilha-Lisboa (completa<strong>da</strong><br />

em 2001). Relativamente ao<br />

novo aeroporto de Lisboa, o primeiro-ministro<br />

afirmou, no passado dia<br />

16, querer evitar “na próxima déca<strong>da</strong>”<br />

a construção de um novo aeroporto<br />

e admitiu que a Base Aérea<br />

de Montijo pode funcionar como<br />

“pista de apoio” à Portela. Os estudos<br />

sobre a localização do aeroporto<br />

complementar ao <strong>da</strong> Portela continuam<br />

a decorrer e Passos Coelho<br />

não adianta mais informação. Sobre<br />

os restantes projetos não se conhece<br />

mais na<strong>da</strong>.<br />

Sines ain<strong>da</strong> em negociações<br />

O porto de Sines encontra-se também<br />

inserido no projeto auto-estra<strong>da</strong>s<br />

do mar devido às suas caraterísticas<br />

de porto de águas profun<strong>da</strong>s e<br />

ao seu posicionamento no contexto<br />

europeu. No entanto, a “auto-estra<strong>da</strong><br />

do mar” alentejana é mais um<br />

projeto ain<strong>da</strong> sem rumo definido.<br />

Sines, o porto regional que engloba<br />

a rede europeia, encontra-se ain<strong>da</strong><br />

em negociações com os seus congéneres.<br />

As auto-estra<strong>da</strong>s do mar subdividem-se<br />

em quatro: sudoeste europeu,<br />

sudeste europeu, mar báltico<br />

e <strong>Europa</strong> Ocidental. Visando a expansão<br />

<strong>da</strong>s ligações, a auto-estra<strong>da</strong><br />

do mar tem por base a optimização<br />

do transporte de mercadoria de um<br />

ponto de origem a um ponto de<br />

chega<strong>da</strong>, motivo por que são necessários<br />

acessos e articulação no<br />

porto que permitam o transporte<br />

imediato <strong>da</strong> mercadoria para o seu<br />

destino.<br />

No Alentejo, o porto de Sines é,<br />

desde 2008, a porta para o transporte<br />

marítimo de mercadorias –<br />

a auto-estra<strong>da</strong> do mar –, ligando<br />

Sines a La Spezia, em Itália. De<br />

momento, o porto de Sines está<br />

em negociação com outros portos,<br />

sobretudo espanhóis e franceses.<br />

Os projetos ligados às redes<br />

transeuropeias tiveram grande expansão<br />

durante o governo de José<br />

Sócrates, que apostava numa maior<br />

integração de Portugal na União<br />

Europeia para combater a posição<br />

periférica do país, o que se verifica<br />

na quanti<strong>da</strong>de de projetos desenvolvidos,<br />

começados e concluídos<br />

<strong>Europa</strong><br />

Velha<br />

mas ativa<br />

Ana<br />

Silva<br />

A União Europeia apresenta atualmente<br />

uma população envelheci<strong>da</strong>, o que<br />

resulta do aumento <strong>da</strong> esperança de<br />

vi<strong>da</strong> e de baixas taxas de natali<strong>da</strong>de que<br />

não repõem o equilíbrio demográfico<br />

O envelhecimento <strong>da</strong> população<br />

acarreta problemas económicos,<br />

sociais e culturais que a União Europeia<br />

tem de aprender a combater<br />

de forma eficaz. É essa necessi<strong>da</strong>de<br />

de a<strong>da</strong>ptação a uma nova reali<strong>da</strong>de<br />

demográfica que dá o mote para o<br />

Ano Europeu do Envelhecimento<br />

Activo e <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre Gerações,<br />

que foi este ano estabelecido<br />

pela Comissão Europeia.<br />

O Ano Europeu pretende chamar<br />

a atenção <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil em geral<br />

para a importância do papel dos<br />

idosos, numa <strong>Europa</strong> onde mais de<br />

17% <strong>da</strong> população tem 65 anos ou<br />

mais. Pretende-se, em simultâneo,<br />

proporcionar um enquadramento<br />

para o desenvolvimento de políticas<br />

estratégicas que levem a acções<br />

concretas por parte <strong>da</strong> União e dos<br />

Estados-membros.<br />

Atualmente, cerca de 87 milhões<br />

de pessoas na União Europeia são<br />

idosos, sendo necessário criar estruturas<br />

que permitam a estes ci<strong>da</strong>dãos<br />

um envelhecimento com<br />

acesso a condições adequa<strong>da</strong>s de<br />

saúde que lhes confiram uma maior<br />

autonomia. A quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

destas pessoas passa também por se<br />

sentirem úteis à socie<strong>da</strong>de, através<br />

<strong>da</strong> valorização do contributo que<br />

dão em várias áreas.<br />

Por essa razão, um dos três eixos<br />

de ação definidos pela Comissão<br />

Europeia para o Ano Europeu consiste<br />

na participação na socie<strong>da</strong>de,<br />

que se juntam as questões do emprego<br />

e <strong>da</strong> autonomia dos idosos.<br />

Os objetivos a alcançar neste contexto<br />

incluem, por exemplo, uma<br />

melhor a<strong>da</strong>ptação do mercado de<br />

trabalho aos ci<strong>da</strong>dãos mais velhos,<br />

e ain<strong>da</strong> a valorização <strong>da</strong>s tarefas<br />

por eles desempenha<strong>da</strong>s, que são<br />

essenciais ao equilíbrio <strong>da</strong> estrutura<br />

familiar, como tomar conta dos<br />

netos.<br />

Envelhecimento em Portugal<br />

Em Portugal, os idosos representam<br />

quase 20% <strong>da</strong> população total,<br />

e as previsões apontam para que<br />

esta percentagem ascen<strong>da</strong> a 37%<br />

em 2050.<br />

Para a coordenadora nacional<br />

do Ano Europeu, Joaquina Madeira,<br />

“está em causa uma ver<strong>da</strong>deira<br />

mu<strong>da</strong>nça cultural” no sentido de<br />

que seja respeitado o valor que representa<br />

ca<strong>da</strong> pessoa para a socie<strong>da</strong>de,<br />

mas também de o aproveitar,<br />

colocando-o ao serviço <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de,<br />

conforme afirmou em entrevista<br />

ao jornal «OJE».<br />

Joaquina Madeira revela ain<strong>da</strong><br />

que “os anos europeus servem para<br />

<strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a iniciativas exemplares,<br />

e para impulsionar desafios,<br />

levantar questões, <strong>da</strong>r pistas, sensibilizar,<br />

informar, sendo para isso o<br />

papel dos media de grande importância”.<br />

O Ano Europeu conta com um<br />

conjunto de iniciativas nos vários<br />

Estados-Membros, promovi<strong>da</strong>s por<br />

organizações públicas e priva<strong>da</strong>s,<br />

com vista a despertar consciências e<br />

chamar a atenção para a importância<br />

do envelhecimento activo e <strong>da</strong><br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de intergeracional.<br />

Em Portugal verifica-se uma<br />

forte dinâmica e mobilização, que<br />

Josefina Madeira considera um<br />

sinal de toma<strong>da</strong> de consciência<br />

por parte <strong>da</strong>s pessoas em relação<br />

à relevância do tema. Para além<br />

<strong>da</strong> Comissão Nacional de Acompanhamento<br />

do Ano Europeu do<br />

Envelhecimento Activo e <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

entre Gerações, que<br />

inclui cerca de 40 enti<strong>da</strong>des e personali<strong>da</strong>des,<br />

está já monta<strong>da</strong> uma<br />

rede que inclui representantes <strong>da</strong>s<br />

áreas <strong>da</strong> Segurança Social, Emprego,<br />

Saúde, Reabilitação, Educação,<br />

Desporto e Juventude.<br />

Ao longo de todo o ano decorre<br />

uma série de iniciativas, como<br />

congressos, seminários ou concursos<br />

de fotografia, dirigi<strong>da</strong>s a diferentes<br />

públicos e que pretendem<br />

ter um impacto a longo prazo. Em<br />

Março terminou o concurso «Ciência,<br />

Saúde e... os Meus Avós!»,<br />

destinado aos alunos do ensino<br />

secundário, com o objetivo de<br />

promover uma maior sensibilização<br />

dos jovens para os problemas<br />

sociais e de saúde que envolvem a<br />

população idosa. A Fun<strong>da</strong>ção Calouste<br />

Gulbenkian irá receber no<br />

Outono deste ano uma conferência<br />

internacional sobre o tema <strong>da</strong><br />

inovação social numa socie<strong>da</strong>de<br />

envelheci<strong>da</strong>, depois de ter acolhido<br />

em Abril a terceira edição do<br />

Congresso Mundial do Envelhecimento<br />

Activo.<br />

Também alguns projetos de<br />

voluntariado estão a ser desen-<br />

volvidos, com vista a promover a<br />

ligação entre os mais jovens e os<br />

idosos, numa lógica de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

entre gerações. Está também<br />

em curso desde Setembro de 2011<br />

o projeto de voluntariado intergeracional<br />

“Recados & Companhia”,<br />

que pretende combater situações<br />

de solidão e isolamento de idosos<br />

nalguns dos principais centros urbanos<br />

do país.<br />

O objetivo é combater o isolamento<br />

de milhares de idosos que<br />

vivem sozinhos, contando-se só<br />

em Lisboa 85 mil e, no Porto, 33<br />

mil. Os jovens voluntários têm<br />

como tarefa fazer companhia aos<br />

idosos, acompanhá-los em momentos<br />

de leitura ou nas suas ativi<strong>da</strong>des<br />

quotidianas, como i<strong>da</strong>s às<br />

compras ou ao médico. O sucesso<br />

<strong>da</strong> primeira fase deste projeto determinou<br />

a sua continuação até<br />

Julho de 2013.<br />

Socie<strong>da</strong>de para to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des<br />

Joaquina Madeira tem a convicção<br />

de que a mensagem do Ano<br />

Europeu é a de que o envelhecimento<br />

demográfico constitui um<br />

desafio mas também uma oportuni<strong>da</strong>de<br />

no sentido <strong>da</strong> construção<br />

de uma socie<strong>da</strong>de para to<strong>da</strong>s<br />

as i<strong>da</strong>des, assente nos valores <strong>da</strong><br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> cooperação e<br />

<strong>da</strong> coesão social, sendo estes os<br />

DR<br />

valores base <strong>da</strong> União Europeia.<br />

Os resultados do inquérito Eurobarómetro<br />

76 sobre envelhecimento<br />

activo indicam que os europeus<br />

estão, em geral, conscientes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

demográfica <strong>da</strong> União, mas<br />

não necessariamente preocupados.<br />

Dos 27.000 europeus inquiridos,<br />

71% afirmaram saber que a população<br />

europeia está a envelhecer,<br />

mas apenas 42% se revelaram preocupados<br />

com o facto. A preocupação<br />

com o envelhecimento <strong>da</strong><br />

população foi mais manifesta entre<br />

os inquiridos em Portugal, onde<br />

61% se revelaram preocupados ou<br />

muito preocupados.<br />

Decorridos quatro meses desde<br />

o início de <strong>2012</strong>, as expetativas sobre<br />

este Ano Europeu mantêm-se<br />

tendencialmente otimistas, como<br />

confirma a declaração de Lázló<br />

Andor, comissário Europeu para<br />

o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão,<br />

publica<strong>da</strong> no site oficial do<br />

Ano Europeu do Envelhecimento<br />

Ativo e <strong>da</strong> Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre<br />

Gerações. Espera que este “Ano<br />

Europeu sirva como catalisador<br />

para mobilizar os ci<strong>da</strong>dãos, partes<br />

interessa<strong>da</strong>s e decisores políticos<br />

para a necessi<strong>da</strong>de de agir no sentido<br />

de promover o envelhecimento<br />

activo e enfrentar os desafios<br />

do envelhecimento de uma forma<br />

positiva”.


32 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 33<br />

O sucesso de informar<br />

sobre a <strong>Europa</strong><br />

Opinião António José Sobrinho diretor-adjunto do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal<br />

Resultante de uma<br />

parceria entre<br />

o Parlamento<br />

Europeu, a<br />

Comissão<br />

Europeia, o<br />

CENJOR e o<br />

jornal Público, o Seminário de<br />

Estudos Europeus (SEE), que já<br />

vai na sua 13a edição, é sinónimo<br />

do interesse demonstrado pelos<br />

jovens jornalistas relativamente ao<br />

aprofun<strong>da</strong>mento de conhecimentos<br />

sobre os assuntos<br />

europeus. Dedicado<br />

preferencialmente a<br />

finalistas e a recémlicenciados<br />

na área<br />

<strong>da</strong> comunicação<br />

social, o SEE<br />

afirma-se como uma<br />

ação de formação<br />

de referência,<br />

destina<strong>da</strong> à<br />

sensibilização de<br />

jovens jornalistas<br />

para as questões<br />

europeias<br />

Na origem deste<br />

seminário esteve a necessi<strong>da</strong>de de<br />

se colmatar a lacuna existente no<br />

panorama <strong>da</strong> comunicação social<br />

portuguesa. Em poucas palavras,<br />

visava-se descodificar a <strong>Europa</strong>,<br />

tornando-a mais acessível ao ci<strong>da</strong>dão<br />

comum, alinhando pelo rigor e a<br />

objetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação.<br />

Foi a partir de meados <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 90, que o Gabinete do<br />

Parlamento Europeu em Portugal<br />

começou a esboçar este projeto<br />

que, com o tempo, se tem vindo a<br />

consoli<strong>da</strong>r, ao visar padrões elevados<br />

de quali<strong>da</strong>de e de independência.<br />

O SEE não funcionou sempre do<br />

mesmo modo. Desde a sua quarta<br />

edição tem sido preocupação dos<br />

organizadores poder alargar o elenco<br />

de conferências a personali<strong>da</strong>des de<br />

reconhecido mérito, sem prejuízo do<br />

debate contraditório. Para além <strong>da</strong>s<br />

cerca de 35 conferências previstas ao<br />

longo do ano letivo, os formandos<br />

tomam contacto com a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Mais do que<br />

formar, o<br />

SEE pretende<br />

informar. É uma<br />

ferramenta<br />

que serve para<br />

abrir portas<br />

<strong>da</strong> <strong>Europa</strong> e <strong>da</strong>s<br />

suas instituições<br />

aplicação dos fundos comunitários<br />

durante a visita de estudo que<br />

efetuam a uma região do país. Uma<br />

aproximação às tarefas de um adido<br />

de imprensa <strong>da</strong> instituição tem lugar<br />

durante a sessão de simulação de<br />

acompanhamento de um debate<br />

parlamentar. Contactos próximos<br />

com os membros do Parlamento<br />

Europeu são viabilizados, no<br />

decorrer de uma sessão especial<br />

do SEE, onde se procura pôr em<br />

confronto a plurali<strong>da</strong>de de opiniões,<br />

e ain<strong>da</strong> durante a visita que os<br />

formandos efetuam às instituições<br />

comunitárias, em Bruxelas. Uma<br />

revista - <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> - é<br />

produzi<strong>da</strong> pelos participantes no<br />

SEE, contando com o saber dos<br />

formadores do CENJOR e o apoio<br />

do Público. Neste jornal poderão<br />

estagiar os melhores classificados do<br />

SEE.<br />

Mais do que formar, o SEE<br />

pretende informar. É uma<br />

ferramenta que serve para<br />

abrir portas <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> e <strong>da</strong>s<br />

suas instituições, procurando<br />

desmistificar os mitos acerca <strong>da</strong><br />

dificul<strong>da</strong>de de acesso às fontes e falta<br />

de transparência, entre outros.<br />

Anualmente, são admitidos<br />

entre 30 a 40 candi<strong>da</strong>tos ao SEE.<br />

Hoje, podemos dizer que há cerca<br />

de 4 centenas de diplomados no<br />

mercado. É com indisfarçável<br />

orgulho que observamos a quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s prestações dos nossos alumni na<br />

imprensa escrita, rádio e televisão.<br />

Os antigos alunos, caso<br />

preten<strong>da</strong>m, podem integrar a rede<br />

de alumni e acompanhar a evolução<br />

de determinados assuntos, participar<br />

em encontros com membros do<br />

Parlamento e até em reuniões<br />

de âmbito mais vasto e mais<br />

direciona<strong>da</strong> sobre a reflexão acerca<br />

de assuntos de interesse comum.<br />

O Seminário de Estudos Europeus<br />

vai seguramente evoluir ain<strong>da</strong><br />

mais, afirmando-se como uma<br />

experiência muito positiva no<br />

âmbito <strong>da</strong> formação e <strong>da</strong> cooperação<br />

institucional.<br />

Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />

Criar valor<br />

e emprego<br />

Ana<br />

Silva<br />

A Bolsa do Empreendedorismo assinala o Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, no<br />

Terreiro do Paço, em Lisboa. A ação agen<strong>da</strong><strong>da</strong> para 9 de Maio<br />

celebra a <strong>da</strong>ta com oportuni<strong>da</strong>des para criar valor e emprego<br />

DR<br />

O evento, que se integra na Semana<br />

do Empreendedorismo de<br />

Lisboa, é inovador e diferente <strong>da</strong>s<br />

tradicionais comemorações do<br />

Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, contando com diversas<br />

ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à promoção<br />

de iniciativas empreendedoras,<br />

entre workshops, espaços de<br />

aconselhamento e de networking.<br />

Realizam-se em todo o país<br />

muitas outras iniciativas para assinalar<br />

a <strong>da</strong>ta, designa<strong>da</strong>mente concursos<br />

e feiras, que visam aproximar<br />

a <strong>Europa</strong> dos ci<strong>da</strong>dãos e, em<br />

particular, dos jovens. Estas ativi<strong>da</strong>des<br />

são principalmente promovi<strong>da</strong>s<br />

pelos centros EuropeDirect<br />

ou por enti<strong>da</strong>des públicas.<br />

Nos Açores foi lançado um concurso<br />

sobre o tema “Os Açores e<br />

a União Europeia”, destinado aos<br />

jovens <strong>da</strong>s escolas secundárias <strong>da</strong><br />

região. O objetivo é naturalmente<br />

contribuir para uma maior divulgação<br />

dos temas relacionados<br />

com a União Europeia junto dos<br />

jovens, estimulando também a<br />

criativi<strong>da</strong>de e a utilização de novos<br />

meios de comunicação, como<br />

o audiovisual.<br />

Com objetivos semelhantes, e<br />

recorrendo também às novas tecnologias<br />

para promover a dimensão<br />

europeia junto <strong>da</strong>s pessoas, o<br />

EuropeDirect Algarve promove<br />

um concurso para a escolha de<br />

um slogan a utilizar na divulgação<br />

do Dia <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, sendo as<br />

melhores participações submeti<strong>da</strong>s<br />

a uma votação através do<br />

Facebook.<br />

No centro do país, o Europe-<br />

Direct Santarém organiza a 7ª<br />

edição <strong>da</strong> “Feira <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”, que<br />

este ano reúne várias instituições<br />

do distrito em torno do tema do<br />

envelhecimento ativo.


Filipe Araújo<br />

ro<strong>da</strong> até<br />

2014 um<br />

documentário<br />

sobre a<br />

experiência<br />

Erasmus entre<br />

duas gerações<br />

34 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 35<br />

Programa<br />

Erasmus: 25 anos<br />

a “criar” europeus<br />

Ana<br />

Margari<strong>da</strong><br />

Pereira<br />

No ano em que se comemoram as “bo<strong>da</strong>s<br />

de prata”do Programa Erasmus, a União<br />

Europeia anuncia um aumento dos apoios<br />

para este intercâmbio juvenil<br />

hEMi FORTES<br />

Mobili<strong>da</strong>de universitária Filipe Araújo, 35 anos, fez o intercâmbio<br />

do Programa Erasmus na<br />

ci<strong>da</strong>de que sempre quis conhecer<br />

melhor, em Roma, Itália. “A dimensão<br />

positiva que o Programa<br />

me trouxe foi tal que, hoje em dia,<br />

se tiver de dividir a minha vi<strong>da</strong> em<br />

dois, separo-a muito naturalmente<br />

num Antes (a.E.) e num Depois de<br />

Erasmus (d.E.)”, assegura o jovem<br />

realizador, que foi nomeado pela<br />

Comissão Europeia, no âmbito<br />

<strong>da</strong> celebração dos 25 anos do Programa<br />

que se assinalam este ano,<br />

como embaixador Erasmus por<br />

Portugal.<br />

A União Europeia (UE), ciente<br />

do impacto e importância deste<br />

projeto com procura crescente,<br />

prepara-se para lançar uma nova<br />

versão, mais alarga<strong>da</strong> e mais ambiciosa:<br />

o “Erasmus para Todos”.<br />

Neste âmbito, a UE pretende investir<br />

19 mil milhões de euros no<br />

próximo período de 2014-2020,<br />

com o qual espera abranger o total<br />

de 5 milhões de jovens europeus,<br />

quase o dobro do número atual.<br />

A UE sabe que este investimento<br />

no treino e educação dos<br />

jovens é fulcral para desencadear<br />

o potencial de ca<strong>da</strong> um e aju<strong>da</strong>rá<br />

a contornar um dos maiores<br />

problemas que afeta o espaço europeu<br />

– o desemprego jovem. O<br />

embaixador Erasmus destaca a<br />

importância do melhoramento<br />

contínuo deste programa criado<br />

em 1987 . “Ain<strong>da</strong> há muito para<br />

se fazer [em relação ao intercâmbio<br />

universitário], mas acho que<br />

a Comissão está atenta e consciente<br />

do poderoso projeto que<br />

lhe foi crescendo nos braços. Daí<br />

que só possa ver com bons olhos<br />

qualquer esforço para incentivar e<br />

flexibilizar aquele que já é o maior<br />

programa de mobili<strong>da</strong>de do mundo”,<br />

afirma Filipe Araújo.<br />

Isabel Joaquim, coordenadora<br />

Erasmus e Leonardo <strong>da</strong> Vinci <strong>da</strong><br />

agência nacional PROALV - Programa<br />

de Aprendizagem ao Longo<br />

<strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>, reflete opinião semelhante.<br />

“A mobili<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>ntes<br />

pode ser considera<strong>da</strong> como um dos<br />

alicerces <strong>da</strong> ‘<strong>Europa</strong> dos Ci<strong>da</strong>dãos’.”<br />

A coordenadora garante que este<br />

constitui um elemento fun<strong>da</strong>mental<br />

para uma estratégia de desenvolvimento<br />

económico e social <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de<br />

e para a consoli<strong>da</strong>ção do<br />

mercado interno, sendo uma chave<br />

suscetível de garantir a competitivi<strong>da</strong>de<br />

para os anos futuros.<br />

“E será sempre pouco! Porque<br />

promover a mobili<strong>da</strong>de é o melhor<br />

investimento doméstico que<br />

a União Europeia pode fazer”,<br />

acrescenta Filipe Araújo.<br />

Geração “made in <strong>Europa</strong>” “A<br />

ideia de fazer o Erasmus devia ser<br />

obrigatória – não apenas para estu<strong>da</strong>ntes,<br />

mas também para taxistas,<br />

canalizadores e outros…”. Quem o<br />

afirma é o escritor italiano Umberto<br />

Eco, em entrevista ao The Guardian<br />

no início de <strong>2012</strong>. As suas palavras<br />

referiam-se neste caso, não<br />

aos 25 anos do Programa Erasmus<br />

que se celebram este ano, mas sobre<br />

como criar uma identi<strong>da</strong>de europeia<br />

numa <strong>Europa</strong> em crise.<br />

Segundo o escritor, o Programa<br />

Erasmus que se tem afirmado<br />

como um dos principais programas<br />

de “europeização” a nível do<br />

ensino na União Europeia (UE),<br />

foi responsável por criar a primeira<br />

geração de jovens europeus.<br />

Para além de ter aju<strong>da</strong>do a mu-<br />

<strong>da</strong>r o paradigma do ensino nos<br />

países <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, o Programa<br />

Erasmus ganhou estatuto de fenómeno<br />

social e cultural. Desde o<br />

seu arranque, cerca de 3 milhões<br />

de estu<strong>da</strong>ntes já beneficiaram de<br />

uma bolsa de estudo patrocina<strong>da</strong><br />

por este subprograma que integra<br />

o PROALV (constituído pelos<br />

subprogramas Erasmus, Leonardo<br />

<strong>da</strong> Vinci, Comenius e Grundtvig).<br />

De acordo com <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> UE,<br />

80% dos participantes foram os<br />

primeiros <strong>da</strong>s suas famílias a estu<strong>da</strong>r<br />

no estrangeiro. Proporcionou<br />

a muitos jovens europeus a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r e viver<br />

pela primeira vez num país estrangeiro.<br />

A mobili<strong>da</strong>de Erasmus tem também<br />

como principal objetivo aju<strong>da</strong>r<br />

os jovens a ganhar novas competências,<br />

maior capaci<strong>da</strong>de de<br />

a<strong>da</strong>ptação e outras quali<strong>da</strong>des que<br />

se irão revelar úteis na vi<strong>da</strong> profissional<br />

futura de ca<strong>da</strong> um.<br />

Mais uma vez, Filipe Araújo é<br />

prova disso mesmo: “Deu-me uma<br />

confiança e um espírito de iniciativa<br />

enormes. Já a nível profissional,<br />

valeu-me um estágio na televisão<br />

pública italiana, várias correspondências<br />

como jornalista e, talvez<br />

mais importante do que tudo, o<br />

passaporte para pisar, pela primeira<br />

vez, um set de cinema, durante<br />

a ro<strong>da</strong>gem de um filme do realizador<br />

de Cinema Paraíso”.<br />

Visão umbiguista vs mundo Para<br />

além desta faceta educativa, de<br />

foco na melhoria e integração do<br />

sistema educativo europeu e <strong>da</strong>s<br />

competências socioprofissionais<br />

dos seus participantes, o Erasmus<br />

é uma aposta para se investir<br />

na criação e potenciação de uma<br />

identi<strong>da</strong>de cultural europeia.<br />

Filipe Araújo classifica a experiência<br />

como “poderosa”. “De forma<br />

concentra<strong>da</strong> e quase indolor, fezme<br />

trocar uma visão umbiguista<br />

e fecha<strong>da</strong> de bairro por uma perspetiva<br />

integra<strong>da</strong> do mundo. Como<br />

se isso fosse pouco, ofereceu-me<br />

ain<strong>da</strong> dos melhores amigos que<br />

uma pessoa pode desejar, pôs-me<br />

a falar uma língua nova quase sem<br />

esforço e tornou-me um europeísta<br />

convicto”, garante o embaixador.<br />

Tal como Filipe Araújo, são<br />

muitos os jovens que no balanço<br />

desta experiência intercultural<br />

e social salientam o sentimento


36 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 37<br />

de que já não se sentem apenas<br />

ci<strong>da</strong>dãos do seu país, mas sim,<br />

ci<strong>da</strong>dãos europeus, ci<strong>da</strong>dãos do<br />

mundo.<br />

“Numa <strong>Europa</strong> meio perdi<strong>da</strong>,<br />

em crise económica e de valores,<br />

o Erasmus é <strong>da</strong>s melhores ferramentas<br />

de construção europeia”,<br />

defende Filipe Araújo. “A <strong>Europa</strong><br />

não começa e acaba em Bruxelas:<br />

acontece no terreno, quando cruzamos<br />

culturas e partilhamos vivências,<br />

costumes e sentimentos”.<br />

Esta toma<strong>da</strong> de consciência <strong>da</strong><br />

condição de ci<strong>da</strong>dãos europeus<br />

representa uma vitória, não só<br />

do programa Erasmus, como <strong>da</strong><br />

União Europeia e do projeto europeu<br />

que tem sido construído<br />

ao longo dos últimos cinquenta<br />

anos. As palavras <strong>da</strong> Comissária<br />

Europeia responsável pela Educação,<br />

Cultura, Multilinguismo<br />

e Juventude, Androula Vassiliou<br />

comprovam esse mesmo sucesso:<br />

“O programa Erasmus é um dos<br />

grandes êxitos <strong>da</strong> União Europeia:<br />

é o nosso programa mais conhecido<br />

e mais popular”.<br />

Crise: “coisas que não mu<strong>da</strong>m”<br />

Num inquérito do Eurobarómetro,<br />

realizado em Maio do ano<br />

passado, os <strong>da</strong>dos obtidos indicaram<br />

que muitos estu<strong>da</strong>ntes vêm<br />

frustrados os seus desejos de estu<strong>da</strong>r<br />

ou receber formação no estrangeiro<br />

por falta de fundos. Daqueles<br />

que pretenderam ir para o<br />

estrangeiro, 33 % não tinha meios<br />

económicos para tal e 63% dos<br />

que o fizeram tiveram de recorrer<br />

a financiamentos privados ou<br />

poupanças.<br />

“Esta constatação põe em destaque<br />

a necessi<strong>da</strong>de de reforçar os<br />

nossos programas de mobili<strong>da</strong>de,<br />

que oferecem uma boa relação<br />

custo-eficácia”, declarou na mesma<br />

ocasião a Comissária Vassiliou.<br />

Filipe Araújo esclarece que, no<br />

seu caso, apesar de ter feito Erasmus<br />

numa “época em que as viagens<br />

ain<strong>da</strong> se pagavam em contos<br />

e o Google era um bebé com um<br />

ano, há coisas que não mu<strong>da</strong>m.<br />

E tenho repetido isto à exaustão:<br />

entreguem-se, vivam, aproveitem!<br />

Mas, sobretudo, não se fechem.<br />

Misturem-se e queiram aprender.<br />

Procurem part-times nos países de<br />

acolhimento. Estudem a questão<br />

<strong>da</strong>s bolsas junto <strong>da</strong>s vossas Uni-<br />

versi<strong>da</strong>des e na nossa Agência Nacional<br />

(www.proalv.pt)”, incentiva<br />

Filipe que, em vez dos supostos<br />

quatro meses a que se havia candi<strong>da</strong>tado,<br />

acabou por prolongar a<br />

permanência em Roma até aos 11<br />

meses. “O que eu desconhecia era<br />

que a experiência no terreno fosse<br />

capaz de superar to<strong>da</strong>s as minhas<br />

melhores expetativas”, garante o<br />

embaixador.<br />

A coordenadora do PROALV,<br />

Isabel Joaquim, referindo-se ao<br />

feedback que têm dos participantes<br />

do programa explica que “a<br />

mobili<strong>da</strong>de Erasmus proporciona<br />

um conhecimento e uma vivência<br />

que não se consegue obter “entre<br />

portas” e é para muitos a primeira<br />

grande viagem <strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s<br />

– o início <strong>da</strong> independência!”. A<br />

coordenadora refere ain<strong>da</strong> que<br />

os meses passados fora (entre 3 e<br />

12) fazem os estu<strong>da</strong>ntes crescer<br />

interiormente e transforma-os<br />

para a vi<strong>da</strong>. “A possibili<strong>da</strong>de de<br />

viver num país que não Portugal,<br />

partilhar as tradições locais, e de<br />

se integrarem numa outra cultura,<br />

torna-os ci<strong>da</strong>dãos mais abertos,<br />

ci<strong>da</strong>dãos do mundo e para o mundo”.<br />

“O que eu<br />

desconhecia era<br />

que a experiência<br />

no terreno<br />

fosse capaz<br />

de superar to<strong>da</strong>s<br />

as minhas melhores<br />

expetativas”,<br />

garante<br />

Filipe Araújo<br />

O programa “Erasmus para<br />

Todos” estará em discussão pelo<br />

Conselho e o Parlamento Europeu,<br />

que tomará a decisão final<br />

sobre o quadro orçamental para<br />

o período de 2014-2020. Esta<br />

nova versão do programa pretende<br />

reunir as iniciativas em vigor<br />

<strong>da</strong> UE no domínio <strong>da</strong> educação,<br />

<strong>da</strong> formação, <strong>da</strong> juventude e do<br />

desporto, substituindo sete pro-<br />

gramas existentes por este único<br />

programa. Tal aumentará a sua<br />

eficiência, facilitará a candi<strong>da</strong>tura<br />

às bolsas e reduzirá as situações de<br />

duplicação e fragmentação que recaem<br />

na diminuição do valor dos<br />

subsídios a atribuir.<br />

Erasmus portugueses Portugal,<br />

embora não seja um dos países que<br />

mais recebe ou envia estu<strong>da</strong>ntes<br />

internacionais, tem aumentado o<br />

número de participantes que provêm<br />

na sua maioria <strong>da</strong> Espanha,<br />

país que é também o maior anfitrião<br />

de Erasmus.<br />

De acordo com Isabel Joaquim,<br />

Portugal acolhe um número considerável<br />

de estu<strong>da</strong>ntes Erasmus<br />

estrangeiros: “esses números crescem<br />

de ano para ano, bem como<br />

o número de estu<strong>da</strong>ntes nacionais<br />

que realizam um período de mobili<strong>da</strong>de<br />

Erasmus”. A coordenadora<br />

esclarece que o número de estu<strong>da</strong>ntes<br />

Erasmus Portugueses que<br />

realizaram efetivamente um período<br />

de mobili<strong>da</strong>de no último ano<br />

terminado (2010/2011) foram<br />

5.966 no total.<br />

A coordenadora adianta que<br />

os estu<strong>da</strong>ntes Erasmus portugueses<br />

são unânimes quando se<br />

trata de avaliar o impacto <strong>da</strong> sua<br />

experiência em termos de carreira<br />

profissional. “As competências<br />

adquiri<strong>da</strong>s em estágio permitem,<br />

à vasta maioria dos participantes,<br />

perspetivarem um impacto positivo<br />

e facilitador na sua integração<br />

profissional, bem como na (re)<br />

formulação <strong>da</strong>s suas expetativas<br />

profissionais – são muitas as portas<br />

que se abrem para um futuro<br />

trabalho, nomea<strong>da</strong>mente no estrangeiro”,<br />

explica.<br />

Para o ano de <strong>2012</strong>, que está a<br />

decorrer até ao fim de Setembro,<br />

e que serão apurados no final do<br />

ano, o número de estu<strong>da</strong>ntes portugueses<br />

financiados supera o do<br />

ano anterior. De acordo com a<br />

coordenadora já vai num total de<br />

6809 alunos financiados para a<br />

mobili<strong>da</strong>de.<br />

Erasmo de Roterdão, filósofo<br />

do século XVI, ficaria orgulhoso<br />

em saber que o programa batizado<br />

com o seu nome é um sucesso e<br />

que inspira milhares de jovens na<br />

<strong>Europa</strong> a fazer o mesmo que ele<br />

próprio – viajar, conhecer e partilhar<br />

o conhecimento e saberes<br />

adquiridos.<br />

Desigual<strong>da</strong>de de género<br />

Mulheres ganham<br />

menos na<br />

União Europeia<br />

Cátia<br />

Rodrigues<br />

A dispari<strong>da</strong>de entre sexos mantémse<br />

em Portugal, como nos restantes<br />

países europeus. As discriminações<br />

persistem e as mulheres ganham<br />

em média na União Europeia, segundo<br />

<strong>da</strong>dos de 2010 do Eurostat,<br />

menos 16,4% do que os homens e<br />

são mais atingi<strong>da</strong>s pelo desemprego<br />

e precarie<strong>da</strong>de.<br />

O diploma constitucional e a legislação<br />

secundária portuguesa é<br />

profícua em matéria de igual<strong>da</strong>de<br />

de género. O Código do Trabalho<br />

tem inúmeros disposições relativamente<br />

à discriminação em função<br />

A igual<strong>da</strong>de entre homens e mulheres constitui um<br />

direito consagrado na Constituição <strong>da</strong> República<br />

Portuguesa. Ao Estado cabe-lhe não só garantir o direito,<br />

mas também assumir a promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de<br />

do género e outras tantas disposições<br />

em relação aos direitos de materni<strong>da</strong>de<br />

e de assistência à família.<br />

O Código Laboral considera, aliás,<br />

contra-ordenações muito graves a<br />

discriminação salarial e a exclusão<br />

ou restrição ao acesso de emprego<br />

em função do sexo.<br />

Também a legislação europeia<br />

protege as mulheres contra a discriminação<br />

em geral e, mais especificamente,<br />

no trabalho. O Tratado<br />

de Roma consagra o princípio de<br />

salário igual para trabalho de valor<br />

igual.<br />

Sara Falcão Casaca, professora<br />

e investigadora universitária no<br />

ISEG, considera que “em matéria<br />

de igual<strong>da</strong>de de género, a socie<strong>da</strong>de<br />

portuguesa conta com um enquadramento<br />

legal de orientação claramente<br />

progressista.” No entanto,<br />

as estatísticas e vários estudos nesta<br />

área mostram uma reali<strong>da</strong>de bem<br />

diferente. Sara Falcão Casaca, que<br />

se dedica às áreas <strong>da</strong> sociologia do<br />

trabalho e relações de género, aduz<br />

que, apesar de uma legislação “claramente<br />

progressista”, “também<br />

neste domínio, estamos perante um<br />

PAUlO PiMENTA/PUBliCO<br />

Recebem<br />

menos quando<br />

trabalham<br />

e são mais<br />

atingi<strong>da</strong>s pelo<br />

desemprego


38 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 39<br />

país dual.” Acrescenta ser “escassa a<br />

oferta de equipamentos públicos,<br />

sobretudo, estruturas de apoio à infância<br />

e à população idosa. Portanto,<br />

o apoio estatal prático, efetivo,<br />

à igual<strong>da</strong>de de género tem falhas<br />

consideráveis.”<br />

A recente crise económica veio<br />

agravar ain<strong>da</strong> mais a situação. Manuela<br />

Tavares, uma <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>doras<br />

<strong>da</strong> União de Mulheres Alternativa<br />

e Resposta (UMAR) acredita que<br />

esta crise pode levar a um regresso<br />

forçado <strong>da</strong> mulher ao lar. Sara Falcão<br />

Casaca salienta que “a maior<br />

fragilização dos vínculos contratuais,<br />

a insegurança de emprego, o<br />

trabalho a tempo parcial involuntário,<br />

o desemprego e o desemprego<br />

de muito longa duração atingem sobretudo<br />

a população trabalhadora<br />

feminina. Desde logo, é expectável<br />

que continue a crescer o número de<br />

mulheres desemprega<strong>da</strong>s no nosso<br />

país, na sequência do programa de<br />

austeri<strong>da</strong>de em curso.”<br />

Em Portugal, segundo <strong>da</strong>dos europeus,<br />

o chamado gender pay gap<br />

(a diferença entre remuneração horária<br />

média bruta de homens e <strong>da</strong>s<br />

mulheres assalariados/as como uma<br />

percentagem <strong>da</strong> remuneração horária<br />

média bruta dos homens) é de<br />

12,8% . Segundo <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Comissão<br />

para a Igual<strong>da</strong>de no Trabalho<br />

e no Emprego (CITE), a diferença<br />

salarial entre homens e mulheres<br />

(basea<strong>da</strong> no peso <strong>da</strong> remuneração<br />

média base/ganho feminina sobre<br />

a remuneração média base/ganho<br />

masculina) é de 21%. Esta diferença<br />

acentua-se ain<strong>da</strong> mais entre os quadros<br />

superiores atingindo os 29,5%.<br />

O género feminino continua a ter<br />

mais dificul<strong>da</strong>des a chegar a cargos<br />

de topo e por isso mesmo a Comissão<br />

de Justiça no Parlamento Europeu<br />

propõe que se definam quotas<br />

de 40% para as mulheres nos Conselhos<br />

de Administração <strong>da</strong>s empresas<br />

e na política.<br />

Sara Falcão afirma que, “hoje,<br />

pode concluir-se que o progresso,<br />

além de muito lento, tem sido bastante<br />

tímido. Finalmente, no contexto<br />

<strong>da</strong> União Europeia, procurase<br />

agora alcançar a meta de 30% de<br />

mulheres nos conselhos de administração<br />

até 2015 e chegar a uma<br />

representação de 40% em 2020. A<br />

UE pode olhar para a Noruega, que<br />

apresenta uma representação de<br />

mulheres próxima de uma situação<br />

de priori<strong>da</strong>de (42%) nos conselhos<br />

Sara Falcão Casaca, professora e<br />

investigadora do iSEG<br />

de administração <strong>da</strong>s empresas cota<strong>da</strong>s<br />

em bolsa. Se assim acontece<br />

hoje é porque, há uma déca<strong>da</strong>, a<br />

vontade política determinou esse<br />

rumo; ou seja, após o fracasso <strong>da</strong>s<br />

medi<strong>da</strong>s de auto-regulação, avançou-se<br />

para a introdução de quotas.”<br />

Mas nem todos os partidos estão<br />

de acordo. BE, PS, PSD concor<strong>da</strong>m,<br />

mas fica por saber se a maioria parlamentar<br />

ou governativa vai transpor<br />

esta recomen<strong>da</strong>ção europeia. A<br />

<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> contactou a Secretaria<br />

de Estado para a Igual<strong>da</strong>de<br />

que manisfestou indisponibili<strong>da</strong>de<br />

de tempo para responder. De resto,<br />

à exceção do grupo parlamentar europeu<br />

do PCP, nenhum outro grupo<br />

partidário prestou declarações.<br />

No entanto, tanto o PCP como<br />

o CSD-PP são contra esta diretiva,<br />

mas por razões bem diferentes. O<br />

PP é contra porque vê nesta imposição<br />

de quotas uma violação<br />

à liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s empresas. Já Inês<br />

Zuber, eurodeputa<strong>da</strong> comunista e<br />

A Comissão de<br />

Justiça no Parlamento<br />

Europeu propõe<br />

que se definam<br />

quotas de 40%<br />

para as mulheres<br />

nos Conselhos<br />

de Administração<br />

<strong>da</strong>s empresas<br />

e na política<br />

membro <strong>da</strong> Comissão de Igual<strong>da</strong>de<br />

de Género do Parlamento Europeu,<br />

afirmou à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> que o<br />

seu partido é contra. “As quotas<br />

apenas resolvem o problema <strong>da</strong>s<br />

mulheres que já são socialmente<br />

favoreci<strong>da</strong>s,” disse.<br />

Porém, não só de quotas se faz<br />

a política europeia de luta contra a<br />

desigual<strong>da</strong>de de género. A estratégia<br />

europeia para o crescimento e<br />

emprego, também conheci<strong>da</strong> por<br />

<strong>Europa</strong> 2020 tem inscrita nos seus<br />

objetivos o combate às dispari<strong>da</strong>des<br />

salariais e ao desemprego no feminino<br />

e recomen<strong>da</strong> que a taxa de<br />

emprego <strong>da</strong>s mulheres na UE passe<br />

de 63% para 76% em 2020.<br />

A presente Estratégia <strong>da</strong> União<br />

Europeia para a igual<strong>da</strong>de entre<br />

homens e mulheres (2010-2015)<br />

determina também uma série de<br />

objetivos. Contam-se, entre eles,<br />

assegurar um melhor cumprimento<br />

<strong>da</strong> legislação existente, combater<br />

o gender pay gap, como parte integrante<br />

<strong>da</strong>s políticas de emprego dos<br />

países, promover o princípio de salários<br />

iguais para trabalho de valor,<br />

através <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de social,<br />

nos empregadores e apoiar a troca<br />

de boas práticas dentro <strong>da</strong> União<br />

Europeia.<br />

Para Inês Zuber, euro-deputa<strong>da</strong><br />

comunista, este tipo de medi<strong>da</strong>s<br />

não chegam. “Tem de haver fiscalização<br />

efetiva com coimas pesa<strong>da</strong>s<br />

a aplicar a situações de dispari<strong>da</strong>de<br />

salarial e a despedimentos por<br />

gravidez”. Afirmou existir “uma<br />

tolerância dos governos para com<br />

os empregadores que infringem<br />

as leis” e preconizou a atribuição<br />

de condições à Autori<strong>da</strong>de para as<br />

Condições do Trabalho para que<br />

“possa, de facto, fiscalizar as empresas.”<br />

Defendeu também “uma política<br />

global que disponibilize uma<br />

rede pública de creches e de apoio a<br />

idosos, que possa libertar as mulheres<br />

dessas tarefas”. Segundo <strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> CITE as mulheres trabalham,<br />

em média, mais 13 horas do que<br />

os homens, porque são elas quem<br />

também desempenha as tarefas domésticas<br />

e de cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong> família.<br />

Com taxas de desemprego que<br />

não param de aumentar, com o desemprego<br />

e o trabalho precário a<br />

incidirem mais no sexo feminino e<br />

com o progressivo desmantelamento<br />

do estado social, o problema <strong>da</strong><br />

desigual<strong>da</strong>de de género parece estar<br />

longe de ficar resolvido.<br />

O jornalismo<br />

que vale a pena<br />

Opinião Bárbara Reis diretora do jornal Público<br />

Há 50 anos, se alguém<br />

perguntasse para<br />

que serve um jornal,<br />

todos <strong>da</strong>riam a<br />

mesma resposta:<br />

para <strong>da</strong>r notícias.<br />

Hoje, não é tão fácil.<br />

Para nosso conforto, ain<strong>da</strong> sabemos bem<br />

o que é e para que serve o jornalismo.<br />

Aqui, na<strong>da</strong> de importante mudou.<br />

O jornalismo tem mil definições, claro.<br />

Escolho uma, que impressiona por ser<br />

muito metódica e por ser colegial. Há<br />

15 anos que o think tank americano<br />

Committee of Concerned Journalists<br />

desenvolve um fórum contínuo com<br />

jornalistas para tentar fixar a essência<br />

do jornalismo. O resultado <strong>da</strong> pesquisa<br />

é o retrato perfeito desta profissão: o<br />

jornalismo tem como principal propósito<br />

o compromisso com a ver<strong>da</strong>de; a sua<br />

primeira leal<strong>da</strong>de é para com os ci<strong>da</strong>dãos;<br />

a verificação é a essência <strong>da</strong> sua disciplina;<br />

a independência em relação às pessoas<br />

trata<strong>da</strong>s nas notícias é estrutural; o<br />

Pousado no sofá, suave<br />

e pacífico, quase humilde,<br />

o jornal organiza o nosso<br />

caos informativo e, tal<br />

como as lareiras, dá-nos<br />

a sensação de que há<br />

ordem no mundo<br />

jornalismo serve de indicador para as<br />

pessoas e para as instituições com poder;<br />

dá aos ci<strong>da</strong>dãos um fórum de crítica<br />

e compromisso; torna interessantes<br />

as coisas importantes; e dá às notícias<br />

contexto e proporção. Há uns dias,<br />

numa conferência sobre jornalismo num<br />

instituto politécnico em Lisboa, alguém<br />

<strong>da</strong> plateia disse – e com razão – que faltava<br />

aqui uma ideia essencial: a paixão. Não é<br />

exclusivo desta profissão, mas é ver<strong>da</strong>de<br />

que bom jornalismo só se faz com uma<br />

boa dose de paixão.<br />

Ca<strong>da</strong> um escolherá ler, ver ou ouvir os<br />

conteúdos na plataforma e na máquina<br />

que quiser. Isso hoje já é um detalhe. O<br />

fun<strong>da</strong>mental é a socie<strong>da</strong>de reconhecer<br />

que o bom jornalismo — o jornalismo<br />

que vale a pena — é um bem público, vital<br />

para a democracia, e que isto, parecendo<br />

um cliché, é incontornavelmente<br />

ver<strong>da</strong>deiro.<br />

E porquê? Porque são os jornais de<br />

referência que escrutinam, que fiscalizam<br />

e que verificam; que aprofun<strong>da</strong>m,<br />

analisam e contextualizam o nosso<br />

país e o mundo; que hierarquizam e<br />

dão a proporção certa ao que se passa<br />

à nossa volta; que investem tempo e<br />

dinheiro numa reportagem na Somália<br />

ou numa longa investigação sobre o que<br />

polui o estuário do Tejo. São os jornais<br />

de referência que geram a maioria<br />

<strong>da</strong>s notícias que, uma vez publica<strong>da</strong>s,<br />

alimentam rádios, televisões e sites, para<br />

não falar dos blogues, do Google e <strong>da</strong>s<br />

redes sociais.<br />

O escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s escutas no Reino<br />

Unido e a cultura que existe nos tablóides<br />

de Rupert Murdoch mostram preto<br />

no branco o papel vital do jornalismo<br />

de quali<strong>da</strong>de, independente, que não<br />

serve interesses, que observa a reali<strong>da</strong>de,<br />

procura respostas, descobre algumas,<br />

verifica to<strong>da</strong>s e organiza a informação para<br />

o público.<br />

Entre o oceano de presságios<br />

pessimistas sobre esta “dying industry”, há<br />

quem defen<strong>da</strong> que os jornais de quali<strong>da</strong>de<br />

— tal como as grandes ci<strong>da</strong>des —, não<br />

vão mu<strong>da</strong>r de lugar. Ou seja, que vão<br />

continuar onde estão e a definir a agen<strong>da</strong><br />

dos seus países. Eu acredito nisso. Há<br />

também quem olhe para os jornais como<br />

lareiras e veja nisso uma esperança. Ou<br />

seja, se os jornais conseguirem continuar<br />

a ser centrais na vi<strong>da</strong> doméstica têm um<br />

caminho pela frente. O editor de media<br />

do diário The Guardian <strong>da</strong>va no Verão um<br />

exemplo disto. Estava na sala a ler o jornal<br />

quando o filho lhe perguntou porque<br />

é que a Colômbia não tinha apoiado<br />

o Estado <strong>da</strong> Palestina. Foram precisos<br />

alguns segundos para que o pai percebesse<br />

que a pergunta – aparentemente caí<strong>da</strong><br />

do céu – surgira porque o filho olhara<br />

para uma infografia publica<strong>da</strong> no jornal.<br />

Pousado no sofá, suave e pacífico, quase<br />

humilde, o jornal organiza o nosso caos<br />

informativo e, tal como as lareiras, dá-nos<br />

a sensação de que há ordem no mundo.


40 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong><br />

Revisão <strong>da</strong> política comum<br />

Pescadores<br />

temem<br />

novos riscos<br />

Cátia<br />

Rodrigues<br />

Foi o então primeiro-ministro Cavaco<br />

Silva que, em 1988, começou<br />

a aplicar a Política Comum de Pesca<br />

em Portugal. À época, Portugal<br />

detinha, juntamente com Espanha,<br />

a maior frota pesqueira <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>.<br />

Passados 20 anos, a Espanha é a<br />

grande potência europeia pesqueira.<br />

Apostou sobretudo nas grandes<br />

embarcações e tem frotas em to<strong>da</strong>s<br />

as águas do mundo.<br />

Para Portugal, os números são<br />

desanimadores, mesmo tendo uma<br />

zona económica exclusiva de 200<br />

milhas, a maior de to<strong>da</strong> a União Europeia.<br />

Segundo <strong>da</strong>dos do INE, o<br />

saldo negativo <strong>da</strong> balança comercial<br />

de produtos <strong>da</strong> pesca atingiu, em<br />

2006, os 808 milhões de euros, enquanto<br />

em 1985 (antes <strong>da</strong> adesão)<br />

o saldo verificado era de 30 milhões<br />

de euros. O pescado desembarcado<br />

passou <strong>da</strong>s 250.000 tonela<strong>da</strong>s, em<br />

1985, para as 141.000 tonela<strong>da</strong>s, em<br />

2006. Por outro lado, em 1985, 85%<br />

do consumo de produtos <strong>da</strong> pesca<br />

era de produção própria (pescado<br />

descarregado, em peso), enquanto,<br />

em 2006, apenas 35% do consumo<br />

correspondia à pesca nacional.<br />

Já a frota de pesca reduziu-se em<br />

cerca de 53%, entre 1985 e 2010. O<br />

número de pescadores matriculados,<br />

que diminuiu cerca de 59% no<br />

A redução <strong>da</strong> frota portuguesa conduziu à<br />

diminuição do número de pescadores e do<br />

volume de peixe capturado. Entre 1985 e 2006, o<br />

pescado sofreu uma quebra de 109 mil tonela<strong>da</strong>s<br />

mesmo período, sublinha o envelhecimento<br />

do setor.<br />

Se Espanha apostou na pesca<br />

de grandes embarcações, Portugal<br />

apostou em receber os subsídios<br />

europeus para abate <strong>da</strong>s frotas. A<br />

redução <strong>da</strong> frota teve como consequência<br />

a diminuição do número<br />

de pescadores e do volume de peixe<br />

capturado. E, evidentemente, as indústrias<br />

que vivem <strong>da</strong> pesca, como<br />

as indústrias de conserva de peixe<br />

e as indústrias de construção naval,<br />

também perderam a sua capaci<strong>da</strong>de<br />

produtiva.<br />

Para João Ferreira, euro-deputado<br />

comunista e membro <strong>da</strong> Comissão<br />

<strong>da</strong>s Pescas no Parlamento Europeu,<br />

em ca<strong>da</strong> política há quem ganhe e<br />

quem perca. Acrescenta que “esta<br />

política beneficia alguns e esses interesses<br />

são os que têm determinado o<br />

rumo <strong>da</strong> UE. Quando Portugal tem<br />

de comprar 2/3 do peixe que consome,<br />

compra-o a alguém.”<br />

A <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> tentou ouvir a<br />

opinião dos outros grupos parlamentares<br />

e do governo português, mas, à<br />

exceção do PCP, mais nenhum dirigente<br />

político prestou declarações.<br />

Para os pescadores portugueses<br />

estes números são a sua reali<strong>da</strong>de.<br />

Os problemas que enfrentam diariamente<br />

são vários. Vão desde o baixo<br />

rendimento, às quotas impostas e ao<br />

preço astronómico <strong>da</strong> gasolina.<br />

Manuel Sacramento é reformado<br />

mas continua a ir ao porto de Sines<br />

todos os dias. Está-lhe no sangue e<br />

na rotina. Com 85 anos já não pesca,<br />

mas tem opinião segura sobre o<br />

estado do setor. “Quem ganha com<br />

isto são os patrões, que recebem o<br />

dinheiro <strong>da</strong> CEE. Quem sofre são os<br />

pequenos.”<br />

Baixo rendimento Francisco Pedro<br />

também é pescador em Sines.<br />

Tem 42 anos e vai ao mar desde os<br />

14 anos. Seguiu o mesmo caminho<br />

que o pai, mas garante que já gostou<br />

mais desta vi<strong>da</strong>. “É uma vi<strong>da</strong> muito<br />

dura! As condições que o Estado<br />

nos dá são ca<strong>da</strong> vez piores. Estamos<br />

há três meses sem apanhar sardinha<br />

por causa do defeso.” E quando não<br />

pescam, não ganham. Acrescenta,<br />

aliás, que a poupança é uma constante.<br />

Em sua opinião “devia haver<br />

uma verba para maneio,” nestas circunstâncias.<br />

O rendimento é não só irregular<br />

como é baixo, já que um pescador<br />

pode passar por vários períodos<br />

em que não vai ao mar, seja devido<br />

ao mau tempo, seja por ter de respeitar<br />

as épocas de defeso do peixe,<br />

defini<strong>da</strong>s pela UE. Nestes períodos,<br />

O Alentejo apresenta potenciali<strong>da</strong>des e dispõe de<br />

alguns importantes núcleos estratégicos, que fazem sobressair as assimetrias.<br />

Falta-lhe superar dificul<strong>da</strong>des cria<strong>da</strong>s à agricultura e pescas. Falta-lhe ligar os<br />

polos susceptíveis de gerar desenvolvimento. (na foto, Docapesca de Sines)<br />

hElENA RODRiGUES


42 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 43<br />

os pescadores sabem que são quase<br />

nulos os seus meios de subsistência,<br />

<strong>da</strong>dos os problemas burocráticos de<br />

acesso ao fundo de compensação salarial.<br />

Para as épocas do defeso não<br />

existe apoio nenhum e a própria legislação<br />

europeia não permite esse<br />

tipo de apoio, a não ser em situações<br />

excecionais.<br />

Ricardo Santos, presidente <strong>da</strong><br />

Sesibal, cooperativa de pescas de<br />

Sesimbra, Sines e Setúbal, também<br />

critica a maneira como as épocas<br />

de defeso do peixe são geri<strong>da</strong>s. “O<br />

pescador não tem rendimento fixo e<br />

eles ignoram e não querem saber <strong>da</strong>s<br />

pessoas. Para haver épocas de defeso<br />

tinha de haver compensação.”<br />

Outra questão que afeta os salários<br />

dos pescadores é a sistema de<br />

ven<strong>da</strong> do peixe, que é feita por um<br />

sistema de leilão decrescente na<br />

lota, em que ganha aquele que der<br />

menos. Para Paulo Mesquita, pescador<br />

setubalense, a culpa dos salários<br />

baixos deve-se, precisamente, ao sistema<br />

de leilão, imposto pela UE. “A<br />

gente vende aqui o peixe barato e na<br />

praça está caro. Esses é que ganham<br />

o dinheiro, não somos nós.”<br />

Pagar mais ao pescador Os pescadores<br />

parecem unânimes em defender<br />

o antigo sistema de ven<strong>da</strong>s<br />

em que existia uma taxa máxima de<br />

lucro para o comprador em lota – e<br />

mais tarde revendedor desse peixe<br />

–, que era de 20%. Tal método garantia<br />

que, se o revendedor quisesse<br />

vender o peixe a um preço alto, também<br />

teria de pagar de pagar mais ao<br />

pescador. Com a adoção <strong>da</strong> política<br />

comum esta prática foi bani<strong>da</strong>, uma<br />

vez que violava os princípios do<br />

mercado livre.<br />

O preço <strong>da</strong> gasolina é o custo de<br />

produção que mais pesa sobre o setor.<br />

Em Portugal só o gasóleo é subsidiado,<br />

mas a maioria <strong>da</strong>s embarcações<br />

nacionais utilizam gasolina e<br />

esta não tem apoio estatal. “O pescador<br />

assim que sai para o mar já está<br />

a gastar dinheiro que não sabe se vai<br />

reaver”, diz Mário Chagas, mestre<br />

duma embarcação setubalense.<br />

Joaquim Reis pesca em Setúbal<br />

e queixa-se <strong>da</strong>s penalizações<br />

<strong>da</strong> polícia marítima. “Os polícias<br />

têm ordenado certo, mas nós temos<br />

de apanhar para comer, e eles<br />

an<strong>da</strong>m em cima sempre, sempre,<br />

sempre a massacrar! Isto chega<br />

a um ponto que vai rebentar. Tenho<br />

pena que não haja capitães de<br />

Abril para haver outro 25 de Abril.”<br />

Também para Ricardo Santos a<br />

burocracia imposta pela UE é excessiva.<br />

“Há aqui um barco que teve<br />

um problema e a palavra ‘Mar’ ficou<br />

um pouco sumi<strong>da</strong>. Chegou lá a Capitania<br />

e aplicou uma coima que<br />

vai dos 249 aos 74 mil euros. Isto é<br />

que acontece todos os dias na nossa<br />

vi<strong>da</strong>. Outra exemplo, um barco tem<br />

de ter 28 documentos para mostrar<br />

à polícia. Em Espanha existe um único<br />

documento! Nós nunca tivemos<br />

uma política para a pesca em Por-<br />

Manuel Sacramento é reformado mas<br />

vai ao porto de Sines todos os dias<br />

hElENA RODRiGUES<br />

iNêS FERNANDES<br />

tugal. Ficámos sempre à sombra <strong>da</strong><br />

bananeira <strong>da</strong> UE e política de pesca<br />

comunitária foi um fracasso rotundo.<br />

Foi feita a pensar na pesca do<br />

mar do norte.”<br />

Quanto ao sistema de quotas e<br />

TAC (Totais Admissíveis de Captura),<br />

que ain<strong>da</strong> não se sabe bem com<br />

vai ficar, também os pescadores têm<br />

uma palavra a dizer. Ricardo Santos<br />

defende que se deveria fazer um<br />

outro tipo de gestão do peixe. “Por<br />

exemplo, devíamos pescar x dias de<br />

segui<strong>da</strong> e quando a quota se acabasse<br />

não podíamos pescar mais, mas<br />

teria de haver mecanismos de compensação.”<br />

O sistema que hoje vigora é o de<br />

quotas e TAC. É um sistema que<br />

apenas permite aos Estados-membros<br />

capturarem um determinado<br />

número de peixe consoante a quota<br />

e TAC que lhe é <strong>da</strong><strong>da</strong> anualmente<br />

pela Comissão Europeia. A Comissão<br />

calcula essa quota com base<br />

em recomen<strong>da</strong>ções científicas que<br />

atestam o número de população de<br />

peixe de determina<strong>da</strong> espécie. Para<br />

<strong>da</strong>r dois exemplos, o número de<br />

quotas para Portugal, em 2011, foi<br />

de 669 tonela<strong>da</strong>s e de 25.795 tonela<strong>da</strong>s,<br />

respetivamente, para linguado<br />

e carapau.<br />

Com a revisão <strong>da</strong> política comuni-<br />

tária <strong>da</strong>s pescas o sistema atual vai-se<br />

alterar. No entanto, os problemas que<br />

impedem que o setor cresça parecem<br />

não ser objeto de discussão por parte<br />

de Bruxelas. Pelo contrário, um setor<br />

que tem vindo a diminuir a sua ativi<strong>da</strong>de<br />

de ano para ano, vai passar a<br />

correr riscos ain<strong>da</strong> mais sérios.<br />

A UE pretende agora conciliar<br />

o sistema de quotas e TAC com o<br />

sistema de direitos de pesca transferíveis.<br />

Este sistema permite que<br />

os armadores possam comprar e<br />

vender os seus direitos de pesca. O<br />

novo modelo pretende favorecer a<br />

concentração desses direitos, para<br />

que possa abater mais frota – o<br />

grande objetivo desde sempre de<br />

Bruxelas em relação a esta matéria–,<br />

mas ao mesmo tempo evitar uma<br />

concentração excessiva do mercado<br />

e proteger a pequena pesca costeira,<br />

atribuindo-lhe uma percentagem<br />

(ain<strong>da</strong> não especifica<strong>da</strong>) <strong>da</strong>s quotas<br />

nacionais de ca<strong>da</strong> Estado-membro.<br />

A proibição <strong>da</strong> devolução de peixe<br />

morto ao mar é, provavelmente,<br />

<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s mais populares desta<br />

nova política de pecas. Com a imposição<br />

do sistema de quotas e TAC,<br />

os pescadores quando lançavam a<br />

rede recolhiam o peixe <strong>da</strong>s espécies<br />

com quota disponível, mas acabava<br />

também por vir peixe cuja quota já<br />

estava esgota<strong>da</strong>. Como não podiam<br />

desembarcar esse peixe, a única solução<br />

era deita-lo ao mar. Esta prática<br />

passa a ser proibi<strong>da</strong>.<br />

Outra <strong>da</strong>s propostas em cima <strong>da</strong><br />

mesa é a regionalização desta política,<br />

que consiste em a<strong>da</strong>ptar as regras<br />

comuns às especifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong><br />

país. Para Portugal esta questão será<br />

essencial, uma vez que será muito difícil<br />

implementar o Sistema de Concessão<br />

de Pescas Transferíveis. Num<br />

país em que mais de 90% <strong>da</strong> pesca<br />

é de pequena dimensão, mesmo que<br />

a UE reserve uma parte <strong>da</strong>s quotas<br />

para este tipo de pesca, isto pode significar<br />

que um setor, que já está em<br />

forte declínio, pode enfrentar graves<br />

problemas de sobrevivência.<br />

Uma vez que este sistema de concessão<br />

é de carácter obrigatório, os<br />

pescadores serão obrigados a vender<br />

os seus direitos de pesca a armadores<br />

economicamente mais fortes e a<br />

saírem <strong>da</strong> profissão. Ain<strong>da</strong> que a UE<br />

preveja subsídios para os pescadores<br />

que se virão forçados a sair do setor,<br />

o problema <strong>da</strong>s pescas portuguesas<br />

fica por resolver. Prevê-se que a nova<br />

política entre em vigor em 2013.<br />

Lota de Sines<br />

Limitações<br />

à pesca<br />

Maria<br />

de Deus<br />

Carranca<br />

Higino Francisco Malafaia, 64<br />

anos, já foi pescador, mas hoje é o<br />

responsável pela área de exploração<br />

<strong>da</strong> doca pesca de Sines. “Basta<br />

olhar a côr do peixe para saber<br />

em que zona <strong>da</strong> costa foi pescado”,<br />

garante. E revela um gosto especial<br />

pelas funções que exerce, “sempre<br />

disponível para ser contactado a<br />

qualquer hora de dia ou de noite”,<br />

esclarece com prontidão dúvi<strong>da</strong>s<br />

aos armadores e “não concilia o<br />

sono em noites de temporal se<br />

porventura alguma embarcação<br />

estiver em alto mar”.<br />

A faina <strong>da</strong> pesca cumpre-se entre<br />

6 a 8 milhas <strong>da</strong> costa em busca<br />

de besugos e cavalas que abun<strong>da</strong>m<br />

ao longo do ano, enquanto que os<br />

meses de Junho, Julho e Agosto<br />

serão mais favoráveis à sardinha.<br />

“A nível nacional, Sines é campeã<br />

<strong>da</strong> sardinha que precisa de alguns<br />

meses até atingir a maturi<strong>da</strong>de,<br />

enquanto outras espécies são de<br />

crescimento mais rápido”, esclarece<br />

mestre Malafaia.<br />

Na lota de Sines “as regras são<br />

cumpri<strong>da</strong>s e o tamanho mínimo<br />

para a sardinha é de 11 cm e para<br />

os ‘jaquinzinhos’ [mini carapaus]<br />

de 12 cm”, refere. Para Malafaia,<br />

“garantir o consumo de um produto<br />

de quali<strong>da</strong>de depende <strong>da</strong> época<br />

do ano, há que evitar o consumo<br />

de pescado em épocas de defeso”,<br />

quando as espécies piscícolas são<br />

juvenis ou estão em reprodução, já<br />

que respeitar a sazonali<strong>da</strong>de permite<br />

preservar a biodiversi<strong>da</strong>de<br />

marinha.<br />

A captura dos peixes é limita<strong>da</strong><br />

pelos Totais Admissíveis de Captura<br />

(TAC). As quotas de pesca e os<br />

TAC são decididos pelos Estados-<br />

Membros com base numa proposta<br />

apresenta<strong>da</strong> pela Comissão devi<strong>da</strong>-<br />

Pescadores queixam-se<br />

<strong>da</strong> falta de pescado e do<br />

aumento de combustíveis<br />

mente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em recomen<strong>da</strong>ções<br />

científicas. Os TAC são definidos<br />

anualmente para a maioria<br />

<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des populacionais, e bianualmente,<br />

para as espécies de profundi<strong>da</strong>de.<br />

A União Europeia está<br />

empenha<strong>da</strong> em gerir os recursos<br />

haliêuticos (arte de pescar) com<br />

vista a obter o máximo rendimento<br />

sustentável. “A anchova está em<br />

risco de extinção bem como outras<br />

espécies”, refere Malafaia.<br />

O Fundo Europeu <strong>da</strong>s Pescas<br />

(FEP) é o instrumento financeiro<br />

<strong>da</strong> Política Comum <strong>da</strong>s Pescas<br />

(PCP) para o período entre 2007<br />

e 2013 e destina-se a apoiar a exploração<br />

sustentável dos recursos<br />

piscatórios, o reforço <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de<br />

a viabili<strong>da</strong>de do setor e<br />

apoio às pessoas emprega<strong>da</strong>s no<br />

setor.<br />

A lota de Sines alberga 14 trabalhadores<br />

e sete contratados (na<br />

hora, sem ordenado fixo e pagos<br />

pela equipa do barco consoante<br />

o volume de pescado), já que ca<strong>da</strong><br />

barco que sai para o mar leva 20<br />

homens. As traineiras podem estar<br />

três a quatro dias no mar e quando<br />

regressam trazem entre 70 a 80<br />

tonela<strong>da</strong>s de pescado. O principal<br />

problema com que se debatem é a<br />

falta de pescado e o aumento constante<br />

do preço dos combustíveis.<br />

A aquacultura (criação do peixe<br />

em armadilhas/tanques dentro<br />

do mar) também vem à lota para<br />

acondicionar o peixe e paga uma<br />

taxa para esse efeito<br />

Higino Malafaia tem esperança<br />

que a União Europeia olhe com<br />

outros olhos para as quotas nacionais<br />

de pescado e que as leis sejam<br />

mais favoráveis para as 200 milhas<br />

portuguesas de Zona Exclusiva de<br />

Pesca.


44 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 45<br />

Entrevista João Ferreira eurodeputado<br />

“O setor <strong>da</strong>s pescas<br />

foi desprezado pelos<br />

sucessivos governos”<br />

Fabíola<br />

Maciel<br />

Chegou ao Parlamento Europeu<br />

em 2009 e integra atualmente o<br />

Comité <strong>da</strong>s Pescas, a Delegação<br />

à Comissão Parlamentar Mista<br />

UE-antiga República Jugoslava<br />

<strong>da</strong> Macedónia e a Delegação à<br />

Assembleia Parlamentar Paritária<br />

ACP-UE.<br />

A representar o Grupo<br />

Confederal <strong>da</strong> Esquer<strong>da</strong> Unitária<br />

Europeia/Esquer<strong>da</strong> Nórdica<br />

Verdes, João Ferreira considera<br />

importante “representar os<br />

interesses nacionais”, mas vê<br />

a função como “uma tarefa<br />

temporária e não uma carreira<br />

profissional”. O partido fez-lhe essa<br />

proposta e aceitou, mas “num certo<br />

sentido foi uma surpresa”.<br />

Sempre teve um grande<br />

envolvimento no plano <strong>da</strong><br />

intervenção social, cívica e política.<br />

No final do ensino secundário<br />

entrou para a JCP por se identificar<br />

com os objetivos e com o<br />

programa. Na facul<strong>da</strong>de passou<br />

a ter um envolvimento maior a<br />

nível associativo, até fez parte <strong>da</strong><br />

Associação de Estu<strong>da</strong>ntes e dos<br />

órgãos de gestão <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de.<br />

Dado que existe uma eleição<br />

direta, acha que a população<br />

portuguesa se sente bem<br />

representa<strong>da</strong> no Parlamento<br />

Europeu?<br />

Nem sempre. Isso tem que ver<br />

com o afastamento que se foi<br />

criando entre os representantes e<br />

os representados. Esse afastamento<br />

existe porque nem todos têm<br />

a mesma postura, na qual o<br />

representante deve ter uma ligação<br />

O biólogo eleito como eurodeputado pelo PCP<br />

considera que a voz dos ci<strong>da</strong>dãos não é ouvi<strong>da</strong> pelas<br />

instituições europeias<br />

estreita aos que o elegem. O facto<br />

de as decisões <strong>da</strong> União Europeia<br />

estarem ca<strong>da</strong> vez mais longe <strong>da</strong>s<br />

pessoas e dos países também<br />

contribui para a perceção erra<strong>da</strong> de<br />

que o voto conta ca<strong>da</strong> vez menos.<br />

Os ci<strong>da</strong>dãos votam em<br />

representantes individuais ou<br />

em orientações partidárias?<br />

As pessoas efetivamente votam<br />

em partidos. O pior que pode<br />

acontecer é elas esquecerem-se<br />

que estão a votar em partidos e<br />

pensarem que porque mudou<br />

uma cara estão a votar em algo<br />

completamente diferente. É bom<br />

que o partido seja responsabilizado<br />

senão as pessoas são engana<strong>da</strong>s,<br />

que é o que tem acontecido.<br />

“As pessoas<br />

na hora de votar,<br />

ou não votam<br />

ou votam<br />

engana<strong>da</strong>s”<br />

É fácil conciliar os ideais de<br />

um partido com os ideais <strong>da</strong><br />

União Europeia?<br />

Os ideais do nosso partido<br />

são os ideais do nosso povo.<br />

Acreditamos na defesa dos<br />

trabalhadores, dos pequenos<br />

e médios empresários, dos<br />

agricultores, dos pescadores,<br />

dos pequenos comerciantes... Se<br />

é fácil? Nem sempre é, porque<br />

muitas decisões toma<strong>da</strong>s lá são<br />

contrárias aos nossos interesses.<br />

Na maior parte <strong>da</strong>s vezes aquilo<br />

que defendemos acaba por ser<br />

diferente do que é decidido lá. Por<br />

isso é que tentamos aproximar as<br />

pessoas <strong>da</strong>quilo que é discutido.<br />

Se as pessoas não conhecem o<br />

que se passa lá (e há muita gente<br />

que prefere assim) não podem<br />

defender os seus interesses. As<br />

pessoas na hora de votar, ou não<br />

votam ou votam engana<strong>da</strong>s.<br />

Existe de facto um défice<br />

democrático?<br />

Há um défice enorme. A<br />

Democracia <strong>da</strong> forma como nós<br />

a concebemos e entendemos<br />

exige a participação <strong>da</strong>s pessoas.<br />

A ver<strong>da</strong>de é que a participação<br />

<strong>da</strong>s pessoas na União Europeia é<br />

ca<strong>da</strong> vez mais despreza<strong>da</strong>. Por um<br />

lado, os centros de decisão são<br />

retirados <strong>da</strong>s estruturas de poder<br />

mais próximas <strong>da</strong>s pessoas. Por<br />

outro lado, se olharmos para as<br />

diferentes fases dos processos de<br />

integração, foram sempre feitos<br />

“nas costas” do povos. Pensemos<br />

na União Económica e Monetária<br />

ou na Moe<strong>da</strong> Única, foram<br />

passos fun<strong>da</strong>mentais do processo<br />

de construção <strong>da</strong> UE. Sempre<br />

defendemos que houvesse um<br />

maior debate em Portugal e até a<br />

realização de referendos.<br />

Neste momento, as pessoas<br />

olham para a União Europeia<br />

como uma oportuni<strong>da</strong>de de<br />

crescimento ou como um<br />

impedimento para o avanço do<br />

país?<br />

Agora começa a haver uma<br />

melhor perceção dos prejuízos<br />

que Portugal teve em muitas<br />

áreas. No passado, fruto de uma<br />

propagan<strong>da</strong> que se fez sobre os<br />

fundos comunitários, criou-se uma<br />

ideia diferente <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Desde<br />

essa altura que alertámos para a<br />

outra face que incluia a destruição<br />

<strong>da</strong> Agricultura, <strong>da</strong> Pesca e <strong>da</strong><br />

Indústria. Hoje é mais percetível<br />

a insuficiência e má utilização dos<br />

fundos comunitários em alguns<br />

casos.<br />

Em relação às pescas, que<br />

balanço faz <strong>da</strong> implementação<br />

<strong>da</strong> PCP em Portugal?<br />

Portugal só na primeira déca<strong>da</strong> de<br />

adesão perdeu 36% <strong>da</strong> sua frota<br />

e 40% <strong>da</strong>s capturas. Na déca<strong>da</strong><br />

seguinte esta evolução negativa<br />

continuou, porque temos um<br />

setor profun<strong>da</strong>mente envelhecido<br />

FABÍOlA MACiEl<br />

João Ferreira defende que existe “um défice democrático enorme” na UE<br />

e com problemas de rendimento<br />

crónicos. Portanto, o balanço é<br />

negativo.<br />

Que benefícios trouxe a<br />

adesão?<br />

Globalmente o balanço foi<br />

francamente negativo, mas houve<br />

aspetos positivos pontuais. Alguns<br />

fundos comunitários foram<br />

utilizados para construir novas<br />

embarcações, mas foi a exceção e<br />

“A ver<strong>da</strong>de é que<br />

a participação<br />

<strong>da</strong>s pessoas<br />

na União Europeia<br />

é ca<strong>da</strong> vez<br />

mais despreza<strong>da</strong>”<br />

não a regra. A regra foi os fundos<br />

comunitários serem utilizados para<br />

abater frota. O setor <strong>da</strong>s Pescas<br />

foi negligenciado ou até mesmo<br />

desprezado pelos sucessivos<br />

governos.<br />

O que é necessário fazer para<br />

inverter esta tendência?<br />

Portugal está numa situação em<br />

que precisa de investir nos seus<br />

setores produtivos. Portugal tem a<br />

maior Zona Económica e Exclusiva<br />

(ZEE) <strong>da</strong> União Europeia e, por<br />

isso, o mar é uma riqueza imensa se<br />

for bem aproveitado. Portugal tem,<br />

em primeiro lugar, que defender<br />

os seus interesses enquanto país<br />

com a maior ZEE e defender a sua<br />

soberania sobre os seus recursos<br />

pesqueiros. Ao investirmos<br />

nas pescas estamos também<br />

a desenvolver a Construção<br />

Naval, a Indústria Conserveira,<br />

Transformação de Pescado, entre<br />

outros.<br />

É possível tornar o setor<br />

piscatório sustentável?<br />

Sem dúvi<strong>da</strong> que é possível.<br />

Primeiro tem que haver um<br />

investimento em infra-estruturas<br />

de apoio à ativi<strong>da</strong>de piscatória,<br />

como lotas e postos de<br />

conservação de pescado. Depois<br />

tem que haver um investimento na<br />

formação profissional <strong>da</strong>s pessoas<br />

para entrar gente nova.<br />

O que pode atrair os jovens?<br />

É preciso tornar os rendimentos<br />

<strong>da</strong> pesca minimamente condignos.<br />

Por condicionalismos naturais<br />

esta ativi<strong>da</strong>de é irregular, mas isso<br />

não significa que os rendimentos<br />

também o sejam. O peixe e os<br />

salários têm que ser valorizados.<br />

Ninguém quer ficar num setor<br />

onde recebe pouco e ain<strong>da</strong> arrisca<br />

a vi<strong>da</strong>.<br />

Como prevê os próximos<br />

dez anos para as pescas em<br />

Portugal?<br />

Tenho uma visão sempre otimista,<br />

mas não posso deixar de ser<br />

realista. De facto, o que está em<br />

cima <strong>da</strong> mesa não pronuncia um<br />

futuro risonho. Acredito que a<br />

reali<strong>da</strong>de se mu<strong>da</strong> todos os dias<br />

e, neste momento, é preciso uma<br />

mobilização muito forte <strong>da</strong>s<br />

populações para impedir que os<br />

problemas sejam agravados.


O Txxi iniciou<br />

operações<br />

em 2004 e<br />

representou<br />

uma nova<br />

dinâmica no<br />

porto de Sines<br />

46 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 47<br />

Sines na vanguar<strong>da</strong> do desenvolvimento<br />

Porta atlântica<br />

<strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />

Ana<br />

Margari<strong>da</strong><br />

Pereira<br />

As obras de alargamento do Terminal XXI<br />

permitiram que a área do cais de Sines crescesse<br />

mais 350 metros atingindo, assim, 730 metros<br />

e uma área de armazenagem de 25 hectares<br />

A Administração do Porto de Sines<br />

(APS) e a Port Singapore Authority<br />

- Sines (PSA Sines) concluíram,<br />

em Março deste ano, a fase 1B <strong>da</strong><br />

expansão do Terminal de Contentores.<br />

O denominado Terminal XXI<br />

(TXXI) quadruplica, assim, a sua<br />

capaci<strong>da</strong>de de movimentação de<br />

carga contentoriza<strong>da</strong> dos 250 mil<br />

para 1 milhão de TEU por ano (medi<strong>da</strong><br />

para contentores de 20 pés).<br />

O terminal está atualmente equipado<br />

com cinco pórticos de cais de<br />

última geração, 12 gruas de parque e<br />

tem capaci<strong>da</strong>de para dois megacar-<br />

riers (navios de carga de grandes dimensões)<br />

em simultâneo. Um sexto<br />

pórtico de cais e mais três gruas de<br />

parque são esperados até ao final<br />

deste ano, de acordo com comunicado<br />

<strong>da</strong> APS.<br />

O alargamento representou um<br />

investimento de 78 milhões de euros<br />

e foi <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> concessionária<br />

PSA Sines que opera no<br />

porto alentejano. Esta ampliação<br />

insere-se num plano de desenvolvimento<br />

faseado que ficará concluído<br />

em 2014.<br />

No final <strong>da</strong> expansão o cais terá<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

uma extensão de 940 metros e capaci<strong>da</strong>de<br />

para 1 milhão e meio de<br />

TEU. O empreendimento representará<br />

um total de 200 milhões de<br />

euros investidos por esta concessionária<br />

especializa<strong>da</strong> e líder a nível<br />

mundial na operação de contentores.<br />

Com este melhoramento <strong>da</strong> zona<br />

de manobra do TXXI, o porto de Sines<br />

ficará preparado para receber os<br />

maiores navios do mundo, incluindo<br />

os de maior capaci<strong>da</strong>de de transporte<br />

de 18 mil TEU que ain<strong>da</strong> estão<br />

a ser desenvolvidos pela Maersk.<br />

O porto de Sines terá gerado lucros<br />

de 6 milhões de euros, de acordo<br />

com o responsável pela comunicação<br />

<strong>da</strong> APS. O porto alentejano<br />

não recebe recursos financeiros provenientes<br />

do Orçamento de Estado.<br />

Conta com apoios comunitários<br />

de desenvolvimento do QREN –<br />

Quadro de Referência Estratégico<br />

Nacional com os quais investe essencialmente<br />

nos Sistemas de Informação<br />

topo de gama, e na segurança<br />

do porto e dos seus trabalhadores.<br />

APS premia<strong>da</strong> com “Projeto SIIG<br />

do ano” O prémio “Projeto SIIG<br />

do ano 2011” foi atribuído ao Porto<br />

de Sines durante o 10.º Encontro<br />

de Utilizadores ESRI Portugal – o<br />

maior e mais importante evento<br />

nacional de Sistemas de Informação<br />

Geográfica – que decorreu em Lisboa,<br />

no mês de Março.<br />

O projeto SIIG – Sistema de<br />

Identificação e Informação Geográfica,<br />

desenvolvido pela APS, foi<br />

distinguido pelas vantagens e inovação<br />

que trouxe à gestão do porto<br />

de Sines. Um dos módulos do SIIG<br />

em destaque foi o de Planeamento<br />

Operacional, que de acordo com<br />

comunicado oficial <strong>da</strong> APS “apresenta<br />

caraterísticas singulares e inovadoras”.<br />

Os utilizadores deste módulo<br />

podem, com base na informação<br />

operacional e de segurança, realizar<br />

cenários de operações e simular geograficamente<br />

o estado e a ocupação<br />

do porto no horizonte temporal<br />

desejado. A sua utilização permite<br />

otimizar a ocupação dos cais, a utilização<br />

dos recursos e a fluidez dos<br />

navios que utilizam o porto de Sines.<br />

O SIIG está integrado com a JUP<br />

– Janela Única Portuária, uma plataforma<br />

tecnológica de última geração<br />

que permite o acesso de to<strong>da</strong>s as<br />

autori<strong>da</strong>des envolvi<strong>da</strong>s na ação de<br />

despacho aos navios. Este projeto,<br />

criado em Portugal e pioneiro a nível<br />

mundial, engloba os três portos<br />

nacionais: Sines, Lisboa e Leixões.<br />

O objetivo é acelerar e reduzir a burocracia<br />

que envolve o despacho de<br />

navios e mercadorias e tornar tudo<br />

possível em apenas trinta minutos.<br />

O mesmo comunicado <strong>da</strong> APS<br />

adianta que o investimento do SIIG<br />

foi de 300 mil euros e contou com<br />

o cofinanciamento comunitário do<br />

Programa Operacional Valorização<br />

do Território do QREN.<br />

Avaliação do programa de aju<strong>da</strong> externa<br />

Desemprego e<br />

reformas laborais<br />

à espreita<br />

Rita<br />

Oliveira<br />

A Comissão Europeia divulgou o relatório<br />

de avaliação <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> externa<br />

a Portugal e mostrou-se surpreendi<strong>da</strong><br />

com os números do desemprego.<br />

“Ficámos um pouco surpreendidos<br />

com a subi<strong>da</strong> do desemprego e<br />

ain<strong>da</strong> temos dificul<strong>da</strong>des em interpretar<br />

estes números”, alerta Peter<br />

Weiss, responsável <strong>da</strong> Direcção-<br />

Geral dos Assuntos Económicos e<br />

Financeiros (ECFIN).<br />

O alerta foi <strong>da</strong>do no início de<br />

Abril no relatório apresentado pela<br />

Comissão Europeia sobre a terceira<br />

avaliação <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> externa a Portugal.<br />

O relatório faz uma apreciação<br />

do cumprimento dos termos<br />

e condições do programa de aju<strong>da</strong><br />

externa e sumariza as conclusões<br />

<strong>da</strong> mais recente avaliação feita pela<br />

troika [Comissão Europeia, Banco<br />

Central Europeu (BCE) e Fundo<br />

Monetário Internacional(FMI)],<br />

que esteve em Portugal entre 15 e<br />

27 de Fevereiro.<br />

Na conferência de apresentação<br />

do relatório, Peter Weiss adiantou<br />

que os números do desemprego podem<br />

estar relacionados com a sazonali<strong>da</strong>de,<br />

efeitos que poderão ain<strong>da</strong><br />

não ter sido correctamente descontados<br />

nas estatísticas. Outra razão<br />

adianta<strong>da</strong> por Peter Weiss prendese<br />

com as alterações nas regras do<br />

subsídio de desemprego, fator que<br />

pode ter levado diversas pessoas ou<br />

empresas a antecipar as decisões<br />

de demissão ou desemprego para,<br />

assim, poderem beneficiar do regime<br />

anterior (mais favorável para<br />

os desempregados). Peter Weiss<br />

Governo português pode<br />

ser obrigado a tomar medi<strong>da</strong>s<br />

de austeri<strong>da</strong>de adicionais, mas<br />

Portugal ain<strong>da</strong> corre riscos<br />

alertou ain<strong>da</strong> para o facto de existir<br />

um “risco de termos de rever os números<br />

do desemprego na próxima<br />

avaliação”, que acontecerá em Maio,<br />

ain<strong>da</strong> que as projecções <strong>da</strong> taxa de<br />

desemprego estejam em linha com<br />

os números previamente calculados.<br />

No entanto, o relatório diz que<br />

“em geral, o programa está a ser implementado”<br />

mas, ao mesmo tempo,<br />

“permanecem riscos significativos<br />

e desafios”, lê-se no documento.<br />

No grupo dos desafios poderão<br />

incluir-se as maiores reformas no<br />

mercado laboral que Bruxelas pede<br />

a Portugal. A Comissão alerta para<br />

a possibili<strong>da</strong>de de “ser necessário ir<br />

mais além do que os passos de reforma<br />

actualmente previstos, em áreas<br />

específicas como a duração dos subsídios<br />

de desemprego ou nos mecanismos<br />

de extensão dos acordos<br />

colectivos”.<br />

Aos jornalistas, Peter Weiss esclareceu<br />

ain<strong>da</strong> que a ideia é reduzir a<br />

duração do subsídio de desemprego<br />

para indivíduos com mais tempo<br />

de trabalho. “O Governo vai olhar<br />

para as várias medi<strong>da</strong>s implementa<strong>da</strong>s<br />

e ver o impacto que terão na<br />

economia”, disse o responsável pelo<br />

ECFIN. “Com base nisso poderemos<br />

chegar a um acordo de que serão<br />

necessárias mais medi<strong>da</strong>s”, disse.<br />

Para já, Peter Weiss deixou claro<br />

que “é crucial que o Governo assegure<br />

que não há atrasos na implementação<br />

<strong>da</strong>s reformas ambiciosas<br />

no mercado laboral, de produtos e<br />

serviços”, pode ain<strong>da</strong> ler-se no relatório.


48 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 49<br />

Aviação<br />

Tecnologia de<br />

ponta <strong>da</strong> Embraer<br />

aposta no Alentejo<br />

Elisianne<br />

Campos<br />

O segundo semestre de <strong>2012</strong> trará<br />

bons ventos ao Alentejo já que<br />

está prevista a inauguração de dois<br />

hangares <strong>da</strong> Embraer na região sul<br />

do país. As estruturas no distrito<br />

industrial de Évora estão em fase<br />

de finalização. Uma está destina<strong>da</strong> à<br />

construção de compósitos e a outra<br />

às estruturas metálicas. Os compósitos<br />

são materiais mais leves e resistentes<br />

que o alumínio e aju<strong>da</strong>m a<br />

poupar combustível pela minimização<br />

do peso, como a fibra de carbono.<br />

No hangar <strong>da</strong>s estruturas metálicas<br />

em Évora serão feitas peças para<br />

as asas e a cau<strong>da</strong> dos aviões.<br />

Os modelos Legacy 450 e 500<br />

são as primeiras aeronaves <strong>da</strong> Embraer<br />

a utilizar materiais compósitos<br />

também na cau<strong>da</strong>. A produção<br />

dos hangares será to<strong>da</strong> destina<strong>da</strong><br />

ao modelo Legacy 500, e deverá ser<br />

transporta<strong>da</strong> para o Brasil, onde as<br />

aeronaves serão monta<strong>da</strong>s. Porém,<br />

segundo o engenheiro João Pedro<br />

Tabor<strong>da</strong>, 40 anos, diretor de Relações<br />

Externas <strong>da</strong> Embraer <strong>Europa</strong>,<br />

a empresa está a estu<strong>da</strong>r a possibili<strong>da</strong>de<br />

de produzir peças também<br />

para outros modelos de aeronaves.<br />

Em Évora, o foco dos investimentos<br />

foi <strong>da</strong>do à tecnologia de ponta.<br />

Os dois novos hangares são os mais<br />

avançados do grupo e devem gerar<br />

O distrito industrial de Évora abriga os mais<br />

avançados hangares <strong>da</strong> empresa de aviação<br />

brasileira Embraer que promete gerar empregos<br />

e movimentar a economia local<br />

cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos.<br />

A empresa já firmou parceria<br />

com a Universi<strong>da</strong>de de Évora para<br />

recrutamento de profissionais de várias<br />

áreas <strong>da</strong> engenharia e prevê que<br />

as ativi<strong>da</strong>des na região sejam inicia<strong>da</strong>s<br />

no segundo semestre deste ano.<br />

“E em meados de 2013 pretendemos<br />

estar a trabalhar em nossa máxima<br />

capaci<strong>da</strong>de”, afirma João Tabor<strong>da</strong>.<br />

Auxílio <strong>da</strong> U.E. foi fun<strong>da</strong>mental<br />

para o projeto O investimento<br />

inicial feito nos dois hangares foi de<br />

148 milhões de euros e teve coparticipação<br />

<strong>da</strong> União Europeia. “Sem<br />

os fundos estruturais não estaríamos<br />

aqui”, garante o engenheiro. Os<br />

fundos que Évora recebe por estar<br />

inseri<strong>da</strong> no Alentejo (que tem direito<br />

a uma porcentagem maior de<br />

auxílio que outras regiões do país<br />

por ser carencia<strong>da</strong>) foram um dos<br />

atrativos que chamaram a atenção<br />

<strong>da</strong> empresa. “Tivemos incentivos e<br />

entendemos que a administração de<br />

Évora queria a fábrica aqui”, salienta<br />

João Tabor<strong>da</strong>.<br />

A escolha de Évora ain<strong>da</strong> está, segundo<br />

a empresa, relaciona<strong>da</strong> a uma<br />

criteriosa avaliação que incluiu o potencial<br />

acesso à mão-de-obra qualifica<strong>da</strong>,<br />

uma infra-estrutura logística e<br />

a existência do Parque <strong>da</strong> Indústria<br />

Aeronáutica, localizado próximo ao<br />

aeroporto municipal. Contacta<strong>da</strong> a<br />

presidência <strong>da</strong> Câmara Municipal<br />

de Évora, não se obteve resposta até<br />

ao fecho desta publicação.<br />

Além de Évora, a Embraer também<br />

está em Alverca. Em 2005, foi<br />

aberto o processo de privatização<br />

<strong>da</strong> OGMA - Indústria Aeronáutica<br />

de Portugal S.A., cujo consórcio<br />

vencedor era liderado pela Embraer.<br />

As suas principais ativi<strong>da</strong>des são<br />

de manutenção, reparação e revisão<br />

geral de aeronaves, de motores e de<br />

acessórios. Também lá se executam<br />

ações de modernização, modificação<br />

e integração de aeronaves, além<br />

do fabrico e montagem de componentes<br />

e estruturas de aeronaves.<br />

3ª No ranking mundial A Embraer,<br />

Empresa Brasileira de Aeronática<br />

S.A., nasceu em São José dos Campos,<br />

interior de São Paulo, e é a terceira<br />

maior construtora de aeronaves<br />

comerciais do mundo, ficando<br />

atrás <strong>da</strong> Boeing e <strong>da</strong> Airbus. É ela a<br />

fabricante <strong>da</strong>s aeronaves de 70 a 120<br />

lugares, utiliza<strong>da</strong>s pela TAP em voos<br />

de curta duração. A empresa fabrica<br />

ain<strong>da</strong> aviões privados, mas também<br />

militares, como o modelo KC 390,<br />

produzido em parceria com Portugal.<br />

Além disso, a Embraer investe<br />

em aviação agrícola, como é o caso<br />

<strong>da</strong> aeronave Ipanema, modelo lançado<br />

em 2004 e o primeiro do mundo<br />

a utilizar biocombustível.<br />

A Embraer tem seis uni<strong>da</strong>des no<br />

Brasil, mantém uma fábrica no norte<br />

<strong>da</strong> China e outra em Melbourne,<br />

nos EUA. Nesta última, desde 2008<br />

produz jatos executivos de pequeno<br />

porte. Possui ain<strong>da</strong> escritórios<br />

de representação em outros países,<br />

como França e Singapura.<br />

Presença global A uni<strong>da</strong>de chinesa<br />

<strong>da</strong> Embraer fica em Harbin, capital<br />

<strong>da</strong> província de Heilongjiang,<br />

nordeste <strong>da</strong> China. As instalações,<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s em Dezembro de 2002,<br />

são resultado de uma joint venture<br />

entre a Embraer e duas empresas<br />

interior <strong>da</strong>s instalações <strong>da</strong> Embraer em Alverca<br />

controla<strong>da</strong>s pela China Aviation<br />

Industry Corporation II (AVIC II).<br />

Este foi o primeiro empreendimento<br />

industrial <strong>da</strong> Embraer fora<br />

do Brasil, com o objetivo de produzir,<br />

montar e coordenar as operações<br />

de ven<strong>da</strong> e suporte pós-ven<strong>da</strong><br />

dos aviões <strong>da</strong> família ERJ 145. A<br />

empresa também possui um escritório<br />

em Pequim.<br />

No Aeroporto Internacional<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Melbourne, Flóri<strong>da</strong>,<br />

está a primeira uni<strong>da</strong>de industrial<br />

<strong>da</strong> Embraer nos Estados Unidos.<br />

Ela dedica-se principalmente à<br />

montagem de jatos Phenom 100 e<br />

Phenom 300, além de apoiar os negócios<br />

de aviação executiva. Cerca<br />

de oito jatos desses modelos são<br />

produzidos mensalmente.<br />

EMBRAER<br />

Expansão<br />

<strong>da</strong> frota<br />

iNêS FERNANDES<br />

A Embraer assinou, no final<br />

de Abril, um Memorando de<br />

Entendimento com a empresa<br />

chinesa ICBC Leasing destinado<br />

ao financiamento de aeronaves.<br />

O acordo envolve um valor total<br />

de 2,5 mil milhões de dólares<br />

(1,9 mil milhões de euros), a ser<br />

aplicado ao longo dos próximos<br />

cinco anos. “O acordo cria<br />

oportuni<strong>da</strong>des de financiamento<br />

para ven<strong>da</strong> de jatos comerciais<br />

e executivos <strong>da</strong> Embraer na<br />

China e em outros mercados”,<br />

informou a empresa brasileira, em<br />

comunicado.<br />

A ICBC Leasing é subsidiária<br />

integral do Industrial and<br />

Commercial Bank of China,<br />

e opera, atualmente, com 70<br />

aeronaves. A empresa asiática<br />

declarou que pretende expandir<br />

a sua frota para 250 aviões até<br />

2014. EC / Lusa<br />

Os novos<br />

hangares<br />

já recebem<br />

os retoques<br />

finais em<br />

Évora


Pista<br />

do aeroporto<br />

de Beja<br />

50 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 51<br />

Aeroporto de Beja O aeroporto até pode aumentar<br />

Atrasado na<br />

descolagem,<br />

futuro condicionado<br />

Filipa Dias<br />

Mendes<br />

Inaugurado há um ano, o aeroporto de Beja ain<strong>da</strong><br />

está a aquecer os motores. Idealizado como polo<br />

dinamizador <strong>da</strong> região alentejana, é hoje uma<br />

promessa por cumprir. E nem os 3,5 km de pista<br />

convencem as companhias aéreas a aterrar na base<br />

O aeroporto de Beja viveu a 29 de<br />

Março um dia excecional. Recebeu<br />

cinco voos e às 18h ain<strong>da</strong> tinha<br />

quatro aviões na pista.<br />

Visto do exterior o terminal parece<br />

fechado. O parque de estacionamento<br />

tem quase todos os<br />

lugares livres. Ao entrar, a sensação<br />

de vazio preenche o espaço. Não<br />

se ouve um ruído e o chão brilha<br />

como se nunca tivesse sido pisado.<br />

“Quer que ligue a iluminação?”<br />

pergunta o diretor de operações.<br />

“Não, ain<strong>da</strong> se vê”, responde Pedro<br />

Beja Neves, responsável pelo terminal<br />

de Beja. Só as luzes centrais<br />

estão acesas, tudo parece pronto<br />

para começar a funcionar. Os balcões<br />

do check-in à espera dos funcionários<br />

e, na sala de espera, só<br />

faltam os passageiros, as malas e o<br />

burburinho caraterístico dos aeroportos.<br />

Porém, faz um ano que o aeroporto<br />

de Beja abriu as portas. Em<br />

2011 recebeu 2.300 passageiros<br />

distribuídos por 90 voos. Para este<br />

ano as previsões são de duplicar<br />

o tráfego e atingir os 200 voos e<br />

5.000 passageiros.<br />

o número de voos, mas a dúvi<strong>da</strong> reside<br />

na capaci<strong>da</strong>de de resposta <strong>da</strong><br />

região. Com poucos hotéis em funcionamento,<br />

o diretor do aeroporto<br />

aponta para 2025 como o ano<br />

em que Beja terá condições para<br />

alojar um “tráfego de passageiros<br />

crescente e consoli<strong>da</strong>do.”<br />

Estratégia de 2º mão Pensado<br />

para servir de complemento ao<br />

desenvolvimento que o Alqueva<br />

traria para a região, o aeroporto<br />

avançou mas o Alqueva atrasou-se.<br />

Agora, “não podemos ficar à espera,<br />

temos de rentabilizar o terminal”,<br />

diz Beja Neves.<br />

Privado <strong>da</strong>s estruturas que lhe<br />

<strong>da</strong>riam força, o aeroporto procura<br />

formas de dinamizar o investimento<br />

de que foi alvo. Enquanto<br />

a oferta hoteleira não estiver consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

a estratégia é continuar<br />

com voos charter. Para além desta<br />

aposta, “e enquanto os passageiros<br />

não assumem uma posição determinante”,<br />

o aeroporto vira-se para<br />

a indústria aeronáutica.<br />

Foi já assinado um acordo com a<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

Aeromec, empresa de manutenção<br />

de aeronaves, para a construção de<br />

um hangar no aeroporto no valor<br />

de seis milhões de euros. Esta infraestrutura,<br />

com uma área de cerca<br />

de 7.500 m2, será vocaciona<strong>da</strong><br />

para a manutenção, inspeção, reparação<br />

e substituição de componentes<br />

de aeronaves de grande porte.<br />

Segundo Beja Neves, a construção<br />

deste hangar permitirá a criação de<br />

150 empregos diretos e indiretos e<br />

proporcionará um crescimento e<br />

sustentabili<strong>da</strong>de para os próximos<br />

dez anos.<br />

Uma aposta condiciona<strong>da</strong> Beja<br />

Neves acredita que a infraestrutura<br />

aeroportuária de Beja é “uma<br />

aposta que tem pés para an<strong>da</strong>r”<br />

uma vez que se “sente um mercado<br />

à volta do aeroporto”. Com capaci<strong>da</strong>de<br />

para receber 500 pessoas<br />

por hora, o equivalente a 13 aviões<br />

A320, Beja pode afirmar-se como<br />

um “polo de desenvolvimento” no<br />

Alentejo. “Para consegui-lo, to<strong>da</strong> a<br />

economia <strong>da</strong> região terá de crescer”,<br />

defende o diretor do aeroporto.<br />

José Pedro Fernandes, 50 anos,<br />

professor no Instituto Politécnico<br />

de Beja, vive há 23 anos nesta ci<strong>da</strong>de.<br />

Os anos passados em Beja<br />

e a participação em iniciativas<br />

pelo desenvolvimento <strong>da</strong> região<br />

deram-lhe uma visão muito clara<br />

<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de Beja. Em declarações<br />

à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, faz<br />

questão de esclarecer um ponto<br />

que considera importante, “o aeroporto<br />

não foi um investimento tão<br />

grande assim, aproveitou-se o que<br />

lá existia e, em termos de pista, temos<br />

a segun<strong>da</strong> maior de Portugal.”<br />

De qualquer forma, o professor<br />

reconhece que Beja não tem interesse<br />

estratégico suficiente para ter<br />

um aeroporto a funcionar “e não é<br />

a sua construção que vai permitir,<br />

por si só, o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

região”.<br />

Se houvesse um grande investimento<br />

na agricultura de estufa e<br />

de regadio o aeroporto teria outra<br />

vitali<strong>da</strong>de, defende José Pedro Fernandes.<br />

Um aumento significativo<br />

<strong>da</strong> produção poderia “justificar a<br />

aposta em colocar produtos em<br />

mercados distantes com grande rapidez<br />

e eficiência”. Porém, e acrescenta<br />

num tom irónico, “só vemos<br />

olival, e o azeite não precisa de ser<br />

exportado no dia a seguir!”


Pedro Beja<br />

Neves, diretor<br />

do aeroporto<br />

de Beja, espera<br />

que em 2025<br />

o tráfego de<br />

passageiros<br />

esteja<br />

consoli<strong>da</strong>do<br />

52 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 53<br />

Jorge Pulido Valente, presidente<br />

<strong>da</strong> Câmara de Beja, partilha <strong>da</strong> opinião<br />

de José Pedro Fernandes. Justifica<br />

que ain<strong>da</strong> está previsto que o<br />

aeroporto sirva para a distribuição<br />

de produtos decorrentes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />

agroindustrial. Em declarações<br />

à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>, refere que<br />

a agricultura na região está agora a<br />

entrar numa nova fase, “vira<strong>da</strong> para<br />

os pomares e produtos hortícolas<br />

que necessitam de ser transportados<br />

de avião”.<br />

As opiniões expressas deixam a<br />

sensação de que o aeroporto tem<br />

to<strong>da</strong>s as condições para vingar, mas<br />

só se tudo o resto vingar também.<br />

Não é só na agricultura que ain<strong>da</strong><br />

há um longo caminho a percorrer,<br />

as infraestruturas rodoviárias que<br />

teimam em não chegar ao fim,<br />

mantêm Beja afasta<strong>da</strong> dos principais<br />

troços.<br />

A A26, auto-estra<strong>da</strong> que irá li-<br />

gar Sines a Beja, e as obras de requalificação<br />

do IP2 no troço entre<br />

Beja e Castro Verde deveriam<br />

estar concluí<strong>da</strong>s no início deste<br />

ano. Até agora, estes dois eixos,<br />

fun<strong>da</strong>mentais para o denominado<br />

triângulo Beja-Évora-Sines, estão<br />

a ser construídos a uma veloci<strong>da</strong>de<br />

perceciona<strong>da</strong> de forma diferente<br />

por aqueles que moram na região.<br />

“Tanto quanto sei está tudo parado”,<br />

afirma José Pedro Fernandes.<br />

Já o presidente <strong>da</strong> Câmara, Jorge<br />

Pulido Valente, diz que “com o ritmo<br />

que as obras levam, no final do<br />

próximo ano estarão concluí<strong>da</strong>s.”<br />

Este investimento, que ascende<br />

Quanto custou<br />

o aeroporto de Beja<br />

Custo total: 33 milhões €<br />

Fundos comunitários: 23 milhões €<br />

Estado Português: 10 milhões €<br />

iNêS FERNANDES<br />

a 690 milhões de euros, pode ser<br />

o passo que faltava <strong>da</strong>r para que<br />

Beja se consiga afirmar como polo<br />

de desenvolvimento regional. Beja<br />

Neves deposita to<strong>da</strong> a sua esperança<br />

na A26 já que, “quando estiver<br />

concluí<strong>da</strong>, a distância entre Beja e<br />

Lisboa poderá ser cumpri<strong>da</strong> até 80<br />

minutos, o que aproxima de uma<br />

forma muito significativa o aeroporto<br />

a esta ci<strong>da</strong>de”.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, José Pedro Fernandes<br />

tem as suas reticências. Segundo<br />

o professor, “a autoestra<strong>da</strong><br />

pode não ter assim tantos carros a<br />

circular”, e, em termos estratégicos,<br />

defende que traria mais resultados<br />

a aposta numa ligação de comboio<br />

eletrificado entre Beja e Lisboa,<br />

que encurtaria a distância entre as<br />

ci<strong>da</strong>des e tornaria Beja mais atrativa<br />

tanto para passageiros como<br />

para o transporte de mercadorias<br />

urgentes.<br />

O presidente <strong>da</strong> Câmara diz continuar<br />

a lutar pela eletrificação do<br />

troço de Casa Branca até Beja <strong>da</strong>do<br />

que é “um investimento relativamente<br />

baixo e fun<strong>da</strong>mental para<br />

aproximar o aeroporto de Lisboa<br />

a Beja.”<br />

Jorge Pulido Valente partilha <strong>da</strong><br />

ideia de Pedro Beja Neves. Para<br />

o presidente <strong>da</strong> Câmara, o aeroporto<br />

é “sem dúvi<strong>da</strong>, uma aposta<br />

ganha”. Porém, aproveitou o momento<br />

para contestar a posição do<br />

governo que não tem <strong>da</strong>do provas<br />

públicas de acreditar neste projeto<br />

“estratégico, não só para a região,<br />

mas para todo o país.”<br />

Por agora, resta esperar que<br />

após uma descolagem atribula<strong>da</strong> e<br />

com poucos passageiros a bordo, o<br />

aeroporto de Beja consiga finalmente<br />

levantar voo.<br />

A agricultura está<br />

agora a entrar<br />

numa nova fase,<br />

“vira<strong>da</strong> para<br />

os pomares e<br />

produtos hortícolas<br />

que necessitam de<br />

ser transportados<br />

de avião”<br />

Opções de baixo custo<br />

À espera<br />

de melhores voos<br />

Rita<br />

Oliveira<br />

A funcionar há pouco mais de um<br />

ano (desde 12 de Abril de 2011),<br />

o Aeroporto de Beja continua quase<br />

“vazio”. No entanto, para Pedro<br />

Beja Neves, diretor <strong>da</strong> infra-estrutura,<br />

esta pode tornar-se num<br />

“aeroporto de referência a nível<br />

nacional, seja como o ‘mais um’<br />

A possibili<strong>da</strong>de de deslocar as companhias aéreas<br />

low-cost para um aeroporto periférico à ci<strong>da</strong>de de<br />

Lisboa tem vindo a ser discuti<strong>da</strong> há já algum tempo.<br />

Desde a sua construção, o Aeroporto de Beja é uma<br />

<strong>da</strong>s alternativas possíveis para voos de baixo custo<br />

de Lisboa ou não”. Ain<strong>da</strong> assim,<br />

garante que poderão passar vários<br />

anos até que o aeroporto atinja um<br />

nível pleno de funcionamento.<br />

Quando questionado sobre a<br />

possível deslocalização <strong>da</strong>s companhias<br />

de baixo custo para o aeroporto,<br />

Beja Neves só diz: “vamos<br />

FABÍOlA MACiEl<br />

ver, vamos ver”. Na<strong>da</strong> é certo, “ain<strong>da</strong><br />

que Beja seja uma opção bastante<br />

viável para ser o apoio que se<br />

procura para o Aeroporto <strong>da</strong> Portela”,<br />

em Lisboa, diz o director.<br />

Ain<strong>da</strong> que a distância possa<br />

afastar “esta opção alentejana”,<br />

Beja Neves defende que assim<br />

Entre Janeiro<br />

e Março<br />

de <strong>2012</strong>,<br />

passaram 16<br />

aeronaves pelo<br />

Aeroporto<br />

de Beja


54 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 55<br />

que a A26 ficar pronta, Beja estará<br />

apenas a uma hora de distância<br />

do centro de Lisboa. Para já, a<br />

A26 liga o Aeroporto ao porto de<br />

Sines, mas o prolongamento <strong>da</strong><br />

auto-estra<strong>da</strong> até à capital já está<br />

em marcha. “Este aeroporto, com<br />

a auto-estra<strong>da</strong>, pode ser um complemento<br />

importante em termos<br />

de acesso aeroportuário nacional”,<br />

afirma Beja Neves.<br />

Além <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de já muito<br />

discuti<strong>da</strong> em relação às low-cost,<br />

Pedro Beja Neves garante ain<strong>da</strong><br />

que também “a TAP já tem um pé<br />

no Aeroporto de Beja”, principalmente<br />

devido ao hangar de manutenção<br />

de aviões. O responsável<br />

pelo aeroporto não quis adiantar<br />

pormenores sobre possíveis parcerias.<br />

Do batismo à certificação Em<br />

Abril de 2011, ain<strong>da</strong> sem a devi<strong>da</strong><br />

certificação, realizou-se o voo<br />

inaugural deste aeroporto. O destino:<br />

Cabo Verde. Desde então, o<br />

processo de obtenção de certificação<br />

para a aviação civil decorre<br />

e a sua conclusão, prevista para o<br />

primeiro trimestre deste ano, foi<br />

adia<strong>da</strong>. Segundo fonte oficial <strong>da</strong><br />

ANA – Aeroportos de Portugal,<br />

cita<strong>da</strong> pela agência Lusa, “os trabalhos<br />

para o cumprimento dos<br />

requisitos estabelecidos estão em<br />

fase final de execução”.<br />

No entanto, o processo deverá<br />

estar concluído até Junho deste<br />

ano e “to<strong>da</strong>s as responsabili<strong>da</strong>des<br />

foram assumi<strong>da</strong>s pela ANA”, diz<br />

Pedro Beja Neves.<br />

A certificação tem em vista a<br />

utilização permanente <strong>da</strong>s infraestruturas<br />

<strong>da</strong> Base Nacional nº<br />

11 (BA11) pela aviação civil pela<br />

administração do Aeroporto de<br />

Beja. Além disso, os voos civis<br />

deixarão de ser tratados como<br />

movimentações pontuais, pelo<br />

que poderá “haver um significativo<br />

aligeiramento quanto à forma<br />

de programação de operações”,<br />

revela Beja Neves.<br />

A pista do aeroporto é partilha<strong>da</strong><br />

com a BA11, <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s<br />

Portuguesas, e, por isso, a<br />

aviação civil está em permanente<br />

dependência de autorizações militares.<br />

Por isso, ain<strong>da</strong> só se realizam<br />

voos aos dias úteis e durante<br />

o horário de trabalho dos militares,<br />

que autorizam e controlam a<br />

movimentação dos aviões.<br />

O exemplo espanhol de baixo<br />

custo Se é recente em Portugal a<br />

discussão de um plano de deslocalização<br />

<strong>da</strong>s companhias aéreas<br />

de baixo custo, em Espanha, na<br />

Catalunha, há já alguns anos que<br />

está em marcha um plano do género.<br />

O Aeroporto de Girona opera<br />

voos de 17 companhias (low-cost<br />

e pequenas companhias) e, numa<br />

primeira análise, encontramos algumas<br />

diferenças estruturais nos<br />

dois casos. E se, por um lado, o<br />

“mais um” de Barcelona já é conhecido<br />

como um aeroporto de<br />

baixo custo, o aeroporto de Beja<br />

ain<strong>da</strong> não tem uma estratégia defini<strong>da</strong>.<br />

A infra-estrutura espanhola<br />

situa-se a 92 km do centro de Barcelona<br />

e disponibiliza transportes<br />

regulares que ligam o aeroporto<br />

à mais conheci<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de catalã.<br />

Já o Aeroporto de Beja dista quase<br />

180 km do centro de Lisboa,<br />

numa viagem que dura mais de<br />

duas horas. Ain<strong>da</strong> assim, Pedro<br />

Beja Neves, garante que o tempo<br />

de viagem vai passar a ser de uma<br />

hora, assim que a autoestra<strong>da</strong> que<br />

vai ligar Beja a Lisboa estiver concluí<strong>da</strong>.<br />

Outra diferença encontra-se na<br />

partilha <strong>da</strong> pista entre o aeroporto<br />

português e as Forças Arma<strong>da</strong>s,<br />

mais especificamente, com<br />

Base Aérea nº 11. Tendo uma<br />

administração militar <strong>da</strong> pista, os<br />

aviões não podem aterrar ou descolar<br />

de Beja sem autorização e<br />

supervisão dos militares <strong>da</strong> Base<br />

Aérea. Por outro lado, o Aeroporto<br />

de Girona recebe voos de<br />

“Este aeroporto,<br />

com a autoestra<strong>da</strong>,<br />

pode<br />

ser um<br />

complemento<br />

importante em<br />

termos de acesso<br />

aeroportuário<br />

nacional”, afirma<br />

Beja Neves<br />

vários pontos do mundo sem que,<br />

para isso, necessite de autorização<br />

militar,o que facilita movimentação<br />

aérea e de passageiros.<br />

O número de passageiros mostra<br />

uma diferença assinalável. Ao<br />

passo que o aeroporto espanhol<br />

dispõe de 15 portas de embarque<br />

e suporta 50 aeronaves simultaneamente<br />

nas suas instalações,<br />

o seu congénere alentejano está<br />

preparado para receber apenas<br />

500 passageiros por hora, nas<br />

suas seis portas de check-in. No<br />

exterior, podem estar apenas 13<br />

aviões ao mesmo tempo.<br />

Este número de passageiros não<br />

assusta Pedro Beja Neves, que garante<br />

que a região ain<strong>da</strong> não está<br />

prepara<strong>da</strong> para receber nem 200<br />

passageiros por semana. “Não<br />

temos hotéis para albergar tanta<br />

gente”, diz o responsável pela infra-estrutura.<br />

Em 2011, passaram<br />

pelo Aeroporto de Girona mais<br />

de 3 milhões de passageiros enquanto<br />

que Beja recebeu menos<br />

de 2600 pessoas.<br />

Ao pedir um prazo para o pleno<br />

funcionamento do Aeroporto<br />

de Beja, com voos diários de 200<br />

passageiros, Beja Neves não hesita<br />

“em apostar em 2025”. “Mais<br />

ano, menos ano”, corrige, para que<br />

Beja reúna as condições logísticas<br />

necessárias para a chega<strong>da</strong>, estadia<br />

e parti<strong>da</strong> de 200 pessoas por<br />

semana.<br />

Na zona comercial ain<strong>da</strong> pouco<br />

desenvolvi<strong>da</strong> do aeroporto alentejano<br />

encontra-se aberto, para<br />

já, o stand <strong>da</strong> Europcar. As infraestruturas<br />

necessárias para um<br />

restaurante já existem e este “vai<br />

abrir assim que houver um número<br />

de passageiros que o justifique”,<br />

de acordo com Beja Neves.<br />

No entanto, o Aeroporto de<br />

Beja dispõe de algo que o “Aeropuerto<br />

de Gerona” não tem: uma<br />

pista principal, de 3.450 metros,<br />

e uma secundária de quase 3.000<br />

metros, ao passo que em Espanha<br />

existe uma única pista com cerca<br />

de 2.400 metros.<br />

Para já, o Aeroporto de Beja<br />

está empenhado em atingir os<br />

5.000 passageiros este ano. Ao<br />

mesmo tempo continua a investir<br />

no hangar de seis mil milhões de<br />

euros para trabalho de manutenção<br />

de aviões, um investimento<br />

privado que está a atrair várias<br />

companhias.<br />

Na rota do Alentejo<br />

Uma região<br />

a redescobrir<br />

Susana<br />

Pereira<br />

Quem visita o Alentejo não deixa de se maravilhar com as<br />

riquezas que por lá encontra. Há todo um universo para<br />

explorar, desde as pessoas à gastronomia, <strong>da</strong> história às<br />

tradições, e sem esquecer os tesouros <strong>da</strong> natureza<br />

O Alentejo é uma região de povoações<br />

dispersas, onde as vastas searas<br />

e campos se expandem até se perderem<br />

na linha do horizonte, num<br />

quadro ao qual se junta um ritmo de<br />

vi<strong>da</strong> calmo e indolente, justificado<br />

pelas eleva<strong>da</strong>s temperaturas que se<br />

verificam durante todo o ano.<br />

Os alentejanos são um povo que<br />

vive muito as suas tradições e têm<br />

um grande orgulho na sua herança<br />

cultural. Ain<strong>da</strong> hoje é possível apreciar<br />

costumes centenários um pouco<br />

por todo o Alentejo, entre festas<br />

populares, romarias, feiras e mercados<br />

municipais.<br />

O artesanato alentejano é muito<br />

variado, desde os famosos tapetes<br />

de Arraiolos às louças e porcelanas<br />

típicas, sem esquecer os trabalhos<br />

em couro e pele, bem como diversas<br />

obras de olaria.<br />

A gastronomia alentejana é um<br />

dos principais marcos <strong>da</strong> cultura<br />

alentejana, reconheci<strong>da</strong> principalmente<br />

pela sua diversi<strong>da</strong>de. No<br />

litoral e nas zonas próximas do Guadiana<br />

pode-se degustar diversas varie<strong>da</strong>des<br />

de peixe fresco, entre sopas<br />

e caldeira<strong>da</strong>s, bem como petiscos à<br />

base de sardinhas e carapaus.<br />

No interior é mais comum encontrar-se<br />

pratos de carne. Por to<strong>da</strong><br />

a região é possível apreciar a carne<br />

de porco à alentejana, tipicamente<br />

acompanha<strong>da</strong> por migas, bem<br />

como o ensopado de borrego e diversos<br />

pratos à base de caça.<br />

Uma <strong>da</strong>s caraterísticas mais marcantes<br />

<strong>da</strong> gastronomia alentejana<br />

é o uso de condimentos, como o<br />

coentro, o poejo e a hortelã, provenientes<br />

<strong>da</strong> cultura árabe. Estes sabores<br />

podem ser encontrados em muitos<br />

pratos, como é o caso <strong>da</strong> açor<strong>da</strong><br />

alentejana.<br />

Outras iguarias bastante aprecia<strong>da</strong>s<br />

são os queijos e os enchidos,<br />

que juntamente com o pão e o vinho,<br />

ocupam um lugar de destaque<br />

neste mundo de sabores que se<br />

pode encontrar no Alentejo.<br />

O turismo no Alentejo O Alentejo<br />

é a região do país onde se tem verificado<br />

um maior crescimento no setor<br />

do turismo nos últimos anos. Segundo<br />

o INE, a região registou em<br />

2011 um aumento de 5,9 por cento<br />

no número de dormi<strong>da</strong>s face ao ano<br />

anterior. Seguiu a tendência dos<br />

dois anos anteriores, apresentando<br />

o segundo melhor desempenho do<br />

continente, logo a seguir ao Algarve.<br />

No total foram regista<strong>da</strong>s 1.241 milhões<br />

de dormi<strong>da</strong>s em 2011, o melhor<br />

desempenho de sempre.<br />

No Alentejo pode-se desfrutar<br />

não apenas do turismo rural nos<br />

DR<br />

O Alentejo<br />

integra na<br />

paisagem<br />

as extensas<br />

planícies e<br />

as serranias,<br />

como a serra<br />

do Cercal


56 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 57<br />

chamados “montes” alentejanos,<br />

onde é possível experimentar a vi<strong>da</strong><br />

no campo em to<strong>da</strong>s as suas vertentes,<br />

mas também nas praias que se<br />

estendem pela costa litoral.<br />

Para dinamizar o turismo na região<br />

foram cria<strong>da</strong>s rotas e itinerários<br />

temáticos para os visitantes poderem<br />

aproveitar <strong>da</strong> melhor forma a<br />

visita à região. Destas, a mais conheci<strong>da</strong><br />

é a Rota dos Vinhos.<br />

A Rota dos Vinhos do Alentejo é<br />

um itinerário criado especificamente<br />

para os apreciadores, e é uma importante<br />

aposta na divulgação do enoturismo<br />

no país. Desta rota fazem parte<br />

27 vilas e ci<strong>da</strong>des, que se dividem em<br />

três itinerários: Rota de São Mamede,<br />

que compreende o Alto Alentejo,<br />

sobretudo o distrito de Portalegre, a<br />

rota Histórica, que combina o enoturismo<br />

com o património histórico <strong>da</strong><br />

região, no distrito de Évora, e a Rota<br />

do Guadiana, no distrito de Beja.<br />

Alguns dos produtores associados<br />

a esta iniciativa abrem a porta<br />

<strong>da</strong>s suas caves e adegas aos visitantes,<br />

que deste modo podem acompanhar<br />

as fases do processo de produção<br />

e, no final, participar numa<br />

prova de vinhos.<br />

Apesar <strong>da</strong> Rota dos Vinhos ser<br />

a que tem maior expressivi<strong>da</strong>de na<br />

região, destacam-se outras como a<br />

Rota dos Sabores, a Rota do Fresco<br />

e a Rota do Contrabando.<br />

A extração de mármores, sobretudo<br />

<strong>da</strong> região de Vila Viçosa, Borba e<br />

Estremoz é também um importante<br />

cartão de visita do Alentejo. Esta<br />

ativi<strong>da</strong>de tem sido explora<strong>da</strong> desde<br />

o tempo dos romanos, que exportavam<br />

o mármore <strong>da</strong> região um pouco<br />

para todo o Império, sendo ain<strong>da</strong><br />

hoje bastante requisitado, sobretudo<br />

por países europeus.<br />

A nova aposta do Turismo do<br />

Alentejo é a criação <strong>da</strong> Rota do Património<br />

Industrial “Tons de Pedra”,<br />

que pretende <strong>da</strong>r a conhecer as potenciali<strong>da</strong>des<br />

do turismo industrial.<br />

O projeto, a iniciar em 2013, prevê a<br />

criação de uma rota em cinco concelhos<br />

(Borba, Alandroal, Vila Viçosa,<br />

Estremoz, e Sousel), que aposta<br />

fortemente nas potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s<br />

pedreiras e do mármore.<br />

Um pouco de História O Alentejo<br />

atual resulta de uma notável herança<br />

de culturas sucessivas: os vestígios<br />

megalíticos, romanos e árabes juntam-se<br />

aos testemunhos mais recentes<br />

do Cristianismo, cujos castelos<br />

medievais são um mero exemplo.<br />

Há registos <strong>da</strong> presença humana<br />

na região desde os tempos préhistóricos,<br />

existindo uma grande<br />

expressão <strong>da</strong> cultura megalítica dos<br />

III e IV milénios a.C. Estão inventariados<br />

centenas de monumentos,<br />

entre antas, cromeleques e menires.<br />

O cromeleque e menir dos Almendres<br />

no concelho de Évora é um dos<br />

exemplos mais significativos destas<br />

construções pré-históricas, sem<br />

esquecer a existência de gravuras<br />

rupestres na Gruta do Escoural, em<br />

Montemor-o-Novo.<br />

Posteriormente esta região foi<br />

ocupa<strong>da</strong> pelos romanos. O período<br />

romano no Alentejo iniciou-se no<br />

século II a.C., e prolongou-se até à<br />

que<strong>da</strong> do Império, no século V. Das<br />

várias ruínas que ain<strong>da</strong> se encontram<br />

edifica<strong>da</strong>s destaca-se o templo<br />

romano de Évora.<br />

Da presença romana no Alentejo<br />

ficaram ain<strong>da</strong> as famosas estra<strong>da</strong>s<br />

romanas e importantes construções<br />

arquitetónicas, como pontes e villae,<br />

como as Villas de S. Cucafate e Pisões,<br />

no distrito de Beja, e a Villa <strong>da</strong><br />

Torre de Palma em Monforte, no<br />

distrito de Portalegre.<br />

Depois dos romanos foi a vez dos<br />

árabes se estabelecerem na região,<br />

no século VIII. O período de ocupação<br />

árabe teve uma duração de<br />

quase 500 anos e a sua influência foi<br />

particularmente importante na vi<strong>da</strong><br />

rural. Entre outros costumes, este<br />

povo introduziu na região árvores<br />

(como as laranjeiras e as figueiras),<br />

técnicas agrícolas, técnicas de rega<br />

dos campos (como a nora e sistemas<br />

de captação e reserva de água),<br />

tapeçarias, azulejos e várias centenas<br />

de palavras.<br />

Já após o estabelecimento do<br />

Reino de Portugal, devido às constantes<br />

guerras com Espanha, houve<br />

necessi<strong>da</strong>de de proteger a fronteira<br />

e foram edifica<strong>da</strong>s fortificações em<br />

importantes pontos geoestratégicos.<br />

O Alentejo tornou-se numa<br />

importante região fortifica<strong>da</strong> de cariz<br />

militar, como se pode ver a partir<br />

<strong>da</strong>s várias fortificações (castelos,<br />

fortes, muralhas), muitas <strong>da</strong>s quais<br />

ain<strong>da</strong> permanecem nas principais<br />

vilas e ci<strong>da</strong>des, entre ruínas e reconstruções.<br />

Da herança medieval alentejana<br />

constam também várias igrejas e<br />

monumentos religiosos, que ain<strong>da</strong><br />

hoje são centrais na vi<strong>da</strong> religiosa e<br />

cultural <strong>da</strong> região.<br />

Caraterísticas<br />

<strong>da</strong> região<br />

O Alentejo apresenta reali<strong>da</strong>des<br />

tão diferentes como as típicas<br />

planícies, separa<strong>da</strong>s por<br />

montanhas e serras, com uma<br />

costa com um grande número de<br />

praias e ci<strong>da</strong>des históricas.<br />

A região do Alentejo<br />

compreende grande parte do<br />

Sul de Portugal, abrangendo<br />

os distritos de Beja, Évora e<br />

Portalegre, bem como uma parte<br />

do município de Setúbal.<br />

Encontra-se delimitado a sul<br />

pelo Algarve, por Lisboa a Norte,<br />

pelo Oceano Atlântico a oeste e a<br />

leste por Espanha. Ocupa 34,26<br />

por cento do território português, e<br />

tem uma área de 31.551,8 km2.<br />

No último Censos (2011) foram<br />

registados 757.190 habitantes<br />

na região, e uma densi<strong>da</strong>de<br />

populacional de apenas 24<br />

habitantes por km2.<br />

Cante Alentejano<br />

é um património<br />

O Cante Alentejano, um dos bens<br />

culturais mais representativos do<br />

Alentejo, é o próximo candi<strong>da</strong>to<br />

português a Património Imaterial<br />

<strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de <strong>da</strong> UNESCO. A<br />

sua origem é atribuí<strong>da</strong> a Serpa<br />

nos finais do século XV, e consiste<br />

numa forma de canto popular,<br />

tradicionalmente interpreta<strong>da</strong><br />

por grupos de homens, sem<br />

acompanhamento instrumental.<br />

A candi<strong>da</strong>tura do projeto não<br />

vai acontecer este ano como<br />

estava inicialmente previsto, já<br />

que a Comissão Nacional <strong>da</strong><br />

UNESCO considerou que não<br />

estavam reuni<strong>da</strong>s as condições<br />

mínimas para a apresentação <strong>da</strong><br />

candi<strong>da</strong>tura este ano, tendo sido<br />

adia<strong>da</strong> para 2013.<br />

Évora: património e futuro<br />

Polo de expansão<br />

e cultura<br />

Celso<br />

Soares<br />

A sua herança histórico-patrimonial<br />

garantiu a classificação de<br />

Évora como Património Cultural<br />

<strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de, pela UNESCO,<br />

desde 1986. A ci<strong>da</strong>de situa<strong>da</strong> no<br />

coração alentejano foi avalia<strong>da</strong><br />

no ano passado sobre o estado de<br />

conservação do património pela<br />

Comissão Nacional Portuguesa<br />

do do Conselho Internacional<br />

dos Monumentos e dos Registos<br />

(ICOMOS). Évora teve avaliação<br />

positiva do ICOMOS, uma enti-<br />

Évora localiza-se sobre o eixo de integração<br />

europeia, Lisboa/Madrid/Barcelona, e na<br />

confluência com o eixo interior de nível<br />

nacional, Faro/Bragança<br />

<strong>da</strong>de não governamental e principal<br />

consultor <strong>da</strong> UNESCO na<br />

avaliação <strong>da</strong>s candi<strong>da</strong>turas de bens<br />

culturais e mistos a incluir na lista<br />

do Património Mundial, mas recebeu<br />

um alerta sobre o estado de<br />

conservação dos seus bens classificados.<br />

A ci<strong>da</strong>de de Évora situa-se no<br />

coração de Alentejo e está carrega<strong>da</strong><br />

de memórias históricas e culturais<br />

que constituem o ver<strong>da</strong>deiro<br />

património <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de que<br />

se foi construindo ao longo dos<br />

tempos. Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pelos romanos,<br />

Évora fez parte do novo reino de<br />

Portugal durante a Reconquista<br />

cristã peninsular do séc. XII. Após<br />

a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s fronteiras com<br />

Castela, vários reis fixaram a sua<br />

corte na região, principalmente<br />

no período <strong>da</strong>s descobertas marítimas,<br />

numa época em que se exibiam<br />

títulos e senhorios de terras<br />

distantes <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> como a Etiópia,<br />

Arábia, Pérsia, Índia e Guiné.<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

O templo<br />

de Diana<br />

convoca<br />

memórias<br />

de culto<br />

e gerações<br />

de visitantes


58 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 59<br />

Évora pelo geógrafo Jorge Gaspar<br />

O esplendor cultural<br />

na época moderna<br />

Rodrigo<br />

Torres Pereira<br />

Foi uma visita guia<strong>da</strong> memorável,<br />

dedica<strong>da</strong> à divulgação de Évora e<br />

<strong>da</strong> região alentejana, cujo cicerone<br />

foi o professor Jorge Gaspar, professor<br />

catedrático de Geografia e que<br />

decorreu dia 1 de Abril, no âmbito<br />

do XIII Seminário de Estudos Europeus.<br />

As figuras históricas, as particulari<strong>da</strong>des<br />

geográficas, a agricultura e a<br />

cultura de Évora mereceram a análise<br />

do professor, que não deixou nenhuma<br />

pergunta sem resposta.<br />

Feita através de autocarro, com<br />

passagens pelo parque industrial,<br />

pelo miradouro do Alto de São Bento<br />

e pelo Templo de Diana, esta visita<br />

guia<strong>da</strong> teve o mérito de oferecer<br />

uma visão de conjunto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e<br />

também <strong>da</strong> região.<br />

Passavam 30 minutos <strong>da</strong>s nove<br />

horas quando o professor Jorge<br />

Gaspar entrou no autocarro, estacionado<br />

na zona do Rossio de São<br />

Brás, onde era esperado pela comitiva<br />

do XIII Seminário de Estudos<br />

Europeus.<br />

Com uma indumentária que o<br />

preparava para qualquer eventuali<strong>da</strong>de,<br />

o professor não perdeu tempo<br />

a agarrar no microfone e a transmitir<br />

de imediato dois ou três factos<br />

interessantes sobre a ci<strong>da</strong>de.<br />

A primeira parte <strong>da</strong> visita foi feita<br />

sobre ro<strong>da</strong>s, sendo o trajecto pontuado<br />

pelos comentários do professor<br />

que discorria sobre temas tão distintos<br />

como o estatuto de monumento<br />

nacional <strong>da</strong> Ermi<strong>da</strong> de São<br />

Brás ou a antiga proximi<strong>da</strong>de entre<br />

quartéis, militares e bordéis na ci<strong>da</strong>de<br />

de Évora.<br />

O primeiro destino era o parque<br />

industrial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. No caminho<br />

até lá, o professor Jorge Gaspar demonstrava<br />

porque é considerado<br />

História, geografia, indústria, arte e muito mais.<br />

Évora, <strong>da</strong>s origens ao tempo presente, pelos<br />

olhos do professor Jorge Gaspar<br />

iNêS FERNANDES<br />

um grande divulgador. No seu estilo<br />

iconoclasta e provocador, procurava<br />

tocar em vários assuntos sob diversas<br />

perspectivas, não se coibindo<br />

de criticar o setor político.<br />

No parque industrial falou-se<br />

sobretudo de decadência e promessas<br />

perdi<strong>da</strong>s, de fracassos e despedimentos.<br />

Esta é uma zona que,<br />

segundo o professor Jorge Gaspar,<br />

perdeu grande parte do seu fulgor<br />

e que ficou algo para<strong>da</strong> no tempo,<br />

vítima dos humores <strong>da</strong> economia.<br />

No alto, lugar para história e<br />

geografia Por volta <strong>da</strong>s 11, a comitiva<br />

apeou-se, por fim, no miradouro<br />

do Alto de São Bento, um cabeço<br />

granítico que tem uma posição<br />

privilegia<strong>da</strong> sobre a ci<strong>da</strong>de. Enquadrado<br />

pela vista, com o seu panamá<br />

verde caça que lhe <strong>da</strong>va um certo ar<br />

de Indiana Jones, o professor surpreendeu<br />

todos com a afirmação:<br />

“Évora não tem dimensão para o<br />

território que pretende coman<strong>da</strong>r.”<br />

Estava <strong>da</strong>do o mote para uma<br />

panorâmica histórico-geográfica <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de. Começou por ser referi<strong>da</strong> a<br />

posição central que a ci<strong>da</strong>de ocupa<br />

na região alentejana, zona de confluência<br />

de três bacias hidrográficas<br />

(Tejo, Sado, Xarrama), Évora beneficia<br />

de uma posição de forte valor<br />

estratégico que foi amplamente explora<strong>da</strong><br />

em situações de guerra.<br />

Segundo o professor, o valor de<br />

Évora (Ebora Liberalitas Julia) para<br />

os romanos estava precisamente<br />

na sua posição, próxima de vários<br />

portos, o que lhe permitia ser um<br />

entreposto do comércio de mercadorias,<br />

principalmente do trigo que<br />

era transportado <strong>da</strong>li para o resto do<br />

Império. Quanto ao resto, Évora era<br />

uma ci<strong>da</strong>de menos povoa<strong>da</strong> e menos<br />

importante do que a sua vizinha<br />

Beja (Pax Julia), que era a sede<br />

de uma <strong>da</strong>s quatro chancelarias <strong>da</strong><br />

região <strong>da</strong> Lusitânia.<br />

É este o drama de Évora ao longo<br />

<strong>da</strong> história, excelente posição geográfica<br />

que nunca se traduziu em<br />

relevante influência política<br />

Com os visigodos, as potenciali<strong>da</strong>des<br />

de Évora foram entendi<strong>da</strong>s de<br />

outra forma. A ocupação dos visigodos<br />

foi extensiva e privilegiou-se a<br />

criação de gado. Nessa altura houve<br />

um declínio populacional.<br />

Vieram então os árabes que procuraram<br />

recuperar o tecido romano,<br />

revitalizando as locali<strong>da</strong>des. Apostaram<br />

na pecuária e também na pes-<br />

ca, continuando com a produção de<br />

vinho e azeite, duas culturas introduzi<strong>da</strong>s<br />

pelos romanos.<br />

A panorâmica histórica continuou<br />

com a reconquista cristã que,<br />

segundo o professor, assentou em<br />

três pilares: o rei, as ordens militares<br />

e os bandos armados.<br />

Não foi despicien<strong>da</strong> a colaboração<br />

dos bandos armados nesse<br />

período, que se dedicavam ao roubo<br />

e tráfico de gado, à maneira dos<br />

cowboys, no século XIX. O professor<br />

relembrou que Évora não foi reconquista<strong>da</strong><br />

pelo exército, mas sim<br />

por um punhado de desordeiros<br />

liderados pelo infamemente célebre<br />

bandido Geraldo, o sem-pavor, hoje<br />

figura muita queri<strong>da</strong> dos eborenses,<br />

que negociou a entrega <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

ao rei a troco de uma amnistia. O rei<br />

acedeu.<br />

A importância de Évora, altos e<br />

baixos O estatuto de Évora não foi<br />

uniforme ao longo do tempo, sofrendo<br />

altos e baixos. Assim, como<br />

revelou o professor, no início <strong>da</strong><br />

I<strong>da</strong>de Moderna, Évora conheceu<br />

um período de relativo esplendor<br />

em termos culturais que se manifestou<br />

nas artes e na arquitectura.<br />

É nessa altura, em 1559, que é fun<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a Universi<strong>da</strong>de de Évora pelo<br />

O professor<br />

surpreendeu todos<br />

com a afirmação:<br />

“Évora não tem<br />

dimensão para o<br />

território que<br />

pretende coman<strong>da</strong>r”<br />

Infante D. Henrique e que foi entregue<br />

à Companhia de Jesus que a<br />

dirigiu durante dois séculos.<br />

Durante a Guerra <strong>da</strong> Restauração<br />

(1640-1688), o peso militar de Évora<br />

(muito forte ao longo do tempo)<br />

foi determinante para a vitória portuguesa.<br />

No século XVIII, com a expulsão<br />

dos jesuítas, ocorreu um declínio na<br />

área <strong>da</strong>s artes e do saber que prejudicou<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong>s elites<br />

de Évora.<br />

No período do liberalismo, pôsse<br />

fim às ordens religiosas, decisão<br />

que teve efeitos na região alentejana<br />

já que promoveu os latifúndios, o<br />

controlo <strong>da</strong> terra pelos mais poderosos,<br />

pelos afectos ao regime. Foi<br />

nessa altura que se começou a apostar<br />

na cortiça e em outras monoculturas.<br />

No século XX, apostou-se na indústria<br />

têxtil sem grandes resultados<br />

já que as fábricas distavam dos<br />

locais de residência dos trabalhadores,<br />

provocando elevados níveis de<br />

absentismo que contribuíram para<br />

a deslocalização dessas mesmas fábricas.<br />

Évora, que destino No final <strong>da</strong> sua<br />

exposição no Alto de São Bento, o<br />

professor voltou a abor<strong>da</strong>r aquele<br />

que era provavelmente o tema mais<br />

polémico, a questão <strong>da</strong> dimensão de<br />

Évora no contexto regional.<br />

Foi abor<strong>da</strong>do o declínio <strong>da</strong>s elites<br />

na ci<strong>da</strong>de, cuja explicação pode estar<br />

na proximi<strong>da</strong>de de Évora a Lisboa,<br />

uma hora de automóvel, boa<br />

ligação férrea . O professor explicou<br />

que uma grande parte <strong>da</strong> população<br />

que estu<strong>da</strong> e trabalha em Évora escolhe<br />

viver em Lisboa, incluindo<br />

muitos estu<strong>da</strong>ntes e professores <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Évora, o que de<br />

certa forma retira peso à vi<strong>da</strong> cultural<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

O papel de Évora no futuro não é<br />

olhado com grande optimismo pelo<br />

professor, que referiu que falta visão<br />

e estratégia para a ci<strong>da</strong>de, mostrando-se<br />

céptico em relação ao futuro.<br />

O tempo fugia e já não teve lugar<br />

o tão ambicionado passeio a pé por<br />

Évora. A comitiva ficou-se pela zona<br />

do templo de Diana, onde em tempos<br />

idos estavam situados o mercado<br />

e o matadouro. Falou-se de como<br />

estes eram entendidos pela população<br />

de Évora e discutiu-se particulari<strong>da</strong>des<br />

toponímicas, o professor<br />

desvendou que o antigo nome <strong>da</strong>quela<br />

que é hoje a Rua <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> era<br />

Rua do Tinhoso, nome pouco abonatório<br />

atribuído a quem professava<br />

a religião ju<strong>da</strong>ica, cujo bairro (judiaria)<br />

situava-se, em tempos idos, nas<br />

redondezas do Templo.<br />

Évora estava a ser recria<strong>da</strong>, pela<br />

voz do professor, diante dos olhos<br />

de quem o ouvia, infelizmente o<br />

tempo esgotava-se e o professor<br />

tinha, nas suas palavras, “de bazar”<br />

(um trocadilho que construiu na sequência<br />

de uma referência ao bazar<br />

árabe de Évora) pelo que a comitiva<br />

ficou priva<strong>da</strong> do seu saber por volta<br />

<strong>da</strong> hora de almoço.


O investimento<br />

no Alqueva foi<br />

suportado em<br />

partes iguais<br />

pelo Estado<br />

Português e<br />

pela UE<br />

60 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 61<br />

Barragem do Alqueva<br />

“Gigante” do<br />

Alentejo ganha<br />

Prémio Inovação<br />

<strong>2012</strong><br />

Sónia de<br />

Almei<strong>da</strong><br />

Organizar informação e métodos relevantes para<br />

determinar a aptidão cultural <strong>da</strong> área de influência<br />

de Alqueva, foi o objetivo de duas enti<strong>da</strong>des, ao<br />

desenvolverem um projeto único e inovador<br />

Engane-se quem pensa que o Alentejo<br />

é uma <strong>da</strong>s regiões que menos<br />

atrai investimento e desenvolvimento<br />

económico. A prová-lo está<br />

o Sistema de Apoio à Determinação<br />

<strong>da</strong> Aptidão Cultural (SISAP),<br />

projeto realizado em parceria<br />

pela Empresa de Desenvolvimento<br />

e Infra-Estruturas do Alqueva<br />

(EDIA) e o Instituto Superior de<br />

Agronomia, distinguido pela Associação<br />

Industrial Portuguesa<br />

com o prémio “Inovação”.<br />

A implementação de cerca de<br />

110.000 hectares de regadio nas<br />

pastagens alentejanas originou a<br />

necessi<strong>da</strong>de de criar “uma ferramenta<br />

de planeamento global e<br />

de apoio aos agricultores e empresários<br />

agrícolas que trabalham<br />

na zona e para os que se queiram<br />

instalar, eventualmente”, declarou<br />

à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> José Filipe<br />

Guerreiro Santos, diretor coordenador<br />

do SISAP.<br />

O crescente interesse de investimento<br />

no Alqueva, por parte de<br />

vários grupos empresariais, criou a<br />

necessi<strong>da</strong>de de respostas simples e<br />

eficazes de a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de de culturas,<br />

vias de comunicação e solos.<br />

O SISAP permite analisar a viabi-<br />

DR<br />

li<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s culturas escolhi<strong>da</strong>s pelo<br />

agricultor quer do ponto de vista<br />

de sequestro do carbono e balanço<br />

energético, quer do ponto de vista<br />

<strong>da</strong> sua rentabili<strong>da</strong>de económica.<br />

Numa primeira fase a aposta<br />

centrou-se no desenvolvimento<br />

de um modelo agronómico para<br />

a identificação <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s culturas e posteriormente foi<br />

implementado o modelo económico<br />

com indicadores de rentabili<strong>da</strong>de<br />

económica; e o modelo<br />

ambiental, ambos relacionados<br />

com as questões energéticas e de<br />

carbono.<br />

Numa altura em que a União<br />

Europeia (UE) se debate com a<br />

criação de políticas que promovam<br />

um uso eficiente <strong>da</strong> energia<br />

e que contribuam para a preservação<br />

do meio ambiente, é indispensável<br />

apostar em medi<strong>da</strong>s locais<br />

que contribuam globalmente. O<br />

SISAP tem em vista a ocupação<br />

equilibra<strong>da</strong> de áreas com maior<br />

aptidão de fertili<strong>da</strong>de, contemplando<br />

também a problemática do<br />

impacto ambiental <strong>da</strong> transformação<br />

do sequeiro em regadio.<br />

Ao ocupar os solos com as culturas<br />

mais adequa<strong>da</strong>s, há um aumento<br />

“<strong>da</strong> eficácia na relação solo,<br />

planta, atmosfera, gerando o máximo<br />

de impacto positivo e a mitigar<br />

os negativos”, afirma José Filipe<br />

Guerreiro Santos. O SISAP possibilita<br />

também a contabilização dos<br />

balanços energéticos e de carbono<br />

<strong>da</strong>s culturas, sendo que, atualmente,<br />

a área abrangi<strong>da</strong> pelo estudo totaliza<br />

já um milhão de hectares e a<br />

ambição é que este número cresça<br />

substancialmente até 2014.<br />

O maior lago artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />

Apesar de se falar <strong>da</strong> edificação <strong>da</strong><br />

Barragem do Alqueva desde 1957, a<br />

construção só foi inicia<strong>da</strong> em 1995,<br />

e inaugura<strong>da</strong> a 8 de Fevereiro de<br />

2002, encontrando-se agora na última<br />

fase, que se estima esteja pronta<br />

o mais tar<strong>da</strong>r até 2017.<br />

“O Alqueva é o maior reservatório<br />

de água português e o maior<br />

lago artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”, frisou José<br />

Luís Fialho. Embora o principal objetivo<br />

<strong>da</strong> barragem seja fazer face<br />

aos longos períodos de seca que o<br />

território alentejano atravessa constantemente,<br />

a EDIA “preocupou-se<br />

em criar uma ferramenta que ajude<br />

os agricultores a conseguir produzir<br />

de forma mais eficaz”, realçou ain<strong>da</strong>.<br />

A nova Aldeia<br />

<strong>da</strong> Luz<br />

Aquando do inicio <strong>da</strong> construção<br />

do Alqueva, a velha aldeia <strong>da</strong> Luz,<br />

situa<strong>da</strong> no concelho de Mourão,<br />

estava implanta<strong>da</strong> numa zona<br />

onde corriam os rios Guadiana<br />

e Alcarrache, e por isso ficou<br />

sujeita a submersão. Perante<br />

este cenário, foi construí<strong>da</strong> uma<br />

nova aldeia, edifica<strong>da</strong> num local<br />

escolhido pela população.<br />

O processo de relocalização<br />

implicou a construção de 212<br />

casas de habitação, a reposição<br />

dos estabelecimentos comerciais<br />

e equipamentos coletivos<br />

(escolas, centro de saúde,<br />

equipamentos desportivos, praça<br />

de touros, mercado, lavadouro,<br />

jardim público), a reposição do<br />

cemitério e <strong>da</strong> Igreja de Nossa<br />

Senhora <strong>da</strong> Luz. A aldeia está<br />

igualmente dota<strong>da</strong> de uma Praça<br />

de Touros, de um Miradouro<br />

com uma bonita vista sobre a<br />

Barragem do Alqueva e de uma<br />

réplica <strong>da</strong> Fonte Santa presente<br />

na antiga aldeia, que se dizia ter<br />

águas milagrosas.<br />

Neste aldeamento foi ain<strong>da</strong><br />

construido o Museu <strong>da</strong> Luz, que<br />

abriu as portas ao público no<br />

ano de 2003, e que alberga uma<br />

coleção etnográfica <strong>da</strong> “aldeia<br />

velha”, peças arqueológicas,<br />

e uma sala de exposições<br />

temporárias.<br />

DR


A Barragem<br />

do Alqueva<br />

abrange 20<br />

concelhos de<br />

quatro distritos<br />

62 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 63<br />

A aptidão técnica, económica e<br />

ambiental deste projeto para uma<br />

ou mais culturas é estabeleci<strong>da</strong> de<br />

acordo com uma chave de classificação<br />

que se divide em quatro classes:<br />

aptidão nula, aptidão reduzi<strong>da</strong>, aptidão<br />

modera<strong>da</strong> e aptidão eleva<strong>da</strong>.<br />

Com base nos resultados deste programa<br />

é possível, na área de influência<br />

do mesmo, identificar as parcelas<br />

com melhores resultados, podendo<br />

os agricultores potenciar e tornar<br />

mais competitivas as suas áreas de<br />

plantação.<br />

“Considero que o SISAP é uma<br />

mais-valia para o Alentejo. O nosso<br />

Governo deveria incentivar mais<br />

projetos como este que nos aju<strong>da</strong>m<br />

a rentabilizar a nossa produção agrícola”,<br />

refere António Almei<strong>da</strong>, agricultor<br />

alentejano.<br />

Aju<strong>da</strong>r a escolher a localização<br />

de possíveis uni<strong>da</strong>des agro-industriais<br />

é outra <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des<br />

deste programa, <strong>da</strong>do que está ligado<br />

a um sistema de informação<br />

geográfico. As culturas analisa<strong>da</strong>s<br />

contemplam cereais, oleaginosas,<br />

florestais, frutícolas, hortícolas e<br />

horto-industriais, num total de mais<br />

de três dezenas de culturas distintas,<br />

entre as quais se encontram o arroz,<br />

a cana de açúcar, os citrinos, o trigo<br />

e a vinha.<br />

Estudos revelam que o abandono<br />

agrícola em Portugal cresce<br />

diariamente a olhos vistos, o que<br />

torna insustentável a produção de<br />

bens essenciais que satisfaçam a<br />

totali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des agrícolas<br />

internas. No entanto, a falta<br />

de mão-de-obra disposta a investir<br />

na agricultura é um dos maiores<br />

desafios com o qual o território<br />

nacional se debate. Para José Filipe<br />

Guerreiro Santos, é indiscutível<br />

a importância que o apoio <strong>da</strong> UE<br />

e <strong>da</strong> Política Agrícola Comum<br />

(PAC) representam para a agricul-<br />

“Quer o SISAP<br />

quer a barragem,<br />

estão a dinamizar<br />

to<strong>da</strong> a região e a<br />

atrair investimentos<br />

estrangeiros, sem<br />

dúvi<strong>da</strong> importantes<br />

para o<br />

desenvolvimento”<br />

do Alentejo<br />

tura alentejana e para todo o país.<br />

“A PAC, e ao contrário do que<br />

muitos dizem, é fun<strong>da</strong>mental para<br />

garantir a competitivi<strong>da</strong>de de muitas<br />

explorações agrícolas portuguesas<br />

e do setor agrícola em geral.<br />

Negligenciar este facto é um absurdo!”<br />

Embora muitas vozes críticas<br />

refiram a PAC como “muito injusta”<br />

porque “premeia” países com<br />

uma agricultura mais competitiva,<br />

outros consideram-na um pilar de<br />

apoio à agricultura e ao projeto de<br />

construção europeu.<br />

A reforma <strong>da</strong> PAC é um dos assuntos<br />

chave em cima <strong>da</strong> mesa na<br />

Comissão Europeia, e as expectativas<br />

são de que no pós 2013, Portugal<br />

consiga beneficiar com estas<br />

alterações, até porque as explorações<br />

agrícolas nacionais, ao nível do<br />

mercado europeu e mundial, não<br />

são competitivas.<br />

Ambiente e sustentabili<strong>da</strong>de<br />

Tendo em vista a sustentabili<strong>da</strong>de<br />

de to<strong>da</strong> a região que envolve a Barragem<br />

do Alqueva e uma crescente<br />

preocupação com o ambiente, a<br />

EDIA está empenha<strong>da</strong> em desenvolver<br />

soluções que deem resposta<br />

aos desafios diários e às dificul<strong>da</strong>des<br />

constantes dos agricultores<br />

alentejanos. “Além do SISAP, estamos<br />

a analisar a pega<strong>da</strong> de carbono<br />

e hídrica <strong>da</strong> água, bem como os<br />

indicadores de produtivi<strong>da</strong>de económica<br />

e hídrica <strong>da</strong> água para rega”,<br />

adiantou o diretor coordenador do<br />

SISAP.<br />

O Alentejo é uma região onde a<br />

chuva escasseia, com seca constante.<br />

À <strong>da</strong>ta de 31 de Março de <strong>2012</strong>, a<br />

Barragem do Alqueva tinha armazena<strong>da</strong><br />

água que permite alimentar os<br />

hectares de culturas agrícolas que a<br />

rodeiam por um prazo de três anos.<br />

“Quer o SISAP quer a barragem,<br />

estão a dinamizar to<strong>da</strong> a região e a<br />

atrair investimentos estrangeiros,<br />

sem dúvi<strong>da</strong> importantes para o seu<br />

desenvolvimento”, afirmou José Luís<br />

Fialho. A produção de energias renováveis<br />

e a potencialização <strong>da</strong> fauna<br />

e <strong>da</strong> flora circun<strong>da</strong>ntes, são outras<br />

<strong>da</strong>s mais-valias.<br />

Recorde-se que o prémio “Inovação”<br />

é atribuído a produtos, serviços<br />

ou equipamentos inovadores com<br />

o objetivo de promover e distinguir<br />

empresas que, num mercado<br />

em constante mutação, apostam na<br />

criação de produtos relevantes para<br />

o desenvolvimento sustentável.<br />

Apesar de no passado terem sido<br />

muitas as vozes críticas que não encaravam<br />

com bons olhos o investimento<br />

que implicava a construção<br />

<strong>da</strong> barragem do Alqueva, hoje a<br />

reali<strong>da</strong>de é outra. Subsidiado pelo<br />

Estado português (49,5%) e pela<br />

UE (50,5%), num total de 1.907,13<br />

milhões de euros, o “gigante” do<br />

Alentejo continua a <strong>da</strong>r passa<strong>da</strong>s no<br />

desenvolvimento, crescimento e dinamização<br />

do território alentejano<br />

<strong>da</strong>ndo a conhecer ao mundo o que<br />

de melhor se faz por cá.<br />

FOTOS: DR<br />

No interior alentejano<br />

O turismo<br />

no grande lago<br />

Sandra<br />

Carmona<br />

A vista panorâmica para a barragem<br />

do Alqueva é o ponto de parti<strong>da</strong><br />

para desfrutar <strong>da</strong> maior albufeira<br />

<strong>da</strong> <strong>Europa</strong>. No grande lago<br />

agora podem fazer-se cruzeiros<br />

com parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> Marina <strong>da</strong> Amieira<br />

e do Parque Náutico de Monsaraz.<br />

O centro náutico possui um cais<br />

de embarque para passeios marítimo-turísticos<br />

e onde também são<br />

proporciona<strong>da</strong>s outras ativi<strong>da</strong>des<br />

lúdicas, tais como, passeios pedestres<br />

e de bicicleta. O Turismo do<br />

Alqueva faz o licenciamento dos<br />

espaços recreativos e a sua exploração<br />

é realiza<strong>da</strong> por enti<strong>da</strong>des<br />

priva<strong>da</strong>s.<br />

As ativi<strong>da</strong>des que se podem experimentar<br />

são muito diversifica<strong>da</strong>s,<br />

vão desde a vela ao windsurf,<br />

ao ski aquático e à pesca desportiva<br />

ou à pesca amadora nas margens<br />

no grande lago <strong>da</strong>s célebres<br />

achigã e carpa.<br />

Aliado às ativi<strong>da</strong>des náuticas e<br />

lúdicas, também o turismo rural<br />

se tornou uma fonte de lucro na<br />

região. O acolhimento dos visitantes<br />

e a hospitali<strong>da</strong>de natural dos<br />

alentejanos propiciam um turismo<br />

com caraterísticas próprias <strong>da</strong><br />

região. As típicas casas caia<strong>da</strong>s de<br />

branco e com a lista azul são o postal<br />

de visita a uma esta<strong>da</strong> cómo<strong>da</strong>.<br />

De igual forma pode aceder a um<br />

alojamento com to<strong>da</strong>s as comodi<strong>da</strong>des<br />

e experiências incluí<strong>da</strong>s nos<br />

grandes aldeamentos turísticos.<br />

Este ano será inaugurado um<br />

empreendimento de cinco estrelas<br />

localizado perto <strong>da</strong> barragem do<br />

Alqueva, que será composto por<br />

O interior do Alentejo ganhou um novo fôlego<br />

com a barragem do Alqueva. O turismo é uma<br />

<strong>da</strong>s grandes apostas no desenvolvimento <strong>da</strong> região.<br />

Novos empreendimentos turísticos estão em curso<br />

nas margens <strong>da</strong> grande albufeira<br />

sete hotéis com quatro campos<br />

de golfe e que disporá também<br />

de alguns aldeamentos turísticos.<br />

Este projeto prevê ain<strong>da</strong> a construção<br />

de duas marinas e um centro<br />

equestre. O turista está sempre em<br />

contacto com a natureza, uma vez<br />

que a produção de agricultura biológica,<br />

um centro avifauna, uma<br />

praia fluvial, uma reserva animal e<br />

uma quinta pe<strong>da</strong>gógica serão uma<br />

reali<strong>da</strong>de neste projeto.<br />

Todos os empreendimentos<br />

devem seguir o Plano de Ordenamento<br />

<strong>da</strong>s Albufeiras do Alqueva<br />

e Pedrogão e assegurar as delimitações<br />

Ecológicas Nacionais e não<br />

alterarem a paisagem típica alentejana.<br />

Se por outro lado quiser algo<br />

mais aventureiro, e ain<strong>da</strong> mais<br />

próximo <strong>da</strong> fauna e do rio Guadia-<br />

“Somos um terço<br />

de Portugal e temos<br />

apenas cerca de<br />

500 mil habitantes”,<br />

afirma com tristeza<br />

José Luís Fialho.<br />

Em trinta anos, o<br />

Alentejo perdeu<br />

mais de 10% <strong>da</strong><br />

sua população<br />

na, pode sempre utilizar o parque<br />

de campismo ou alugar um barco<br />

casa, na marina <strong>da</strong> Amieira, e ficar<br />

literalmente na albufeira do Alqueva.<br />

Outros roteiros de visita obrigatória<br />

são as adegas e os restaurantes<br />

onde pode saborear o que de<br />

melhor há no Alentejo, um prato<br />

com o azeite, o pão e os conhecidos<br />

enchidos.<br />

Uma nova experiência é a reserva<br />

Dark Sky 360º no Alqueva. Na<br />

reserva natural é possível apreciar<br />

à noite a lua e as várias constelações,<br />

ao contrário <strong>da</strong> observação<br />

do céu nas grandes ci<strong>da</strong>des. Um<br />

manto estrelado pode ser observado<br />

também num passeio pedestre,<br />

de canoa, a cavalo ou simplesmente<br />

deitado nas margens do rio<br />

Guadiana. O Alqueva proporciona<br />

assim experiências únicas de dia e<br />

de noite.<br />

O sonho tornado reali<strong>da</strong>de<br />

A espera valeu a pena. Passados<br />

50 anos, o Alqueva transformou<br />

a paisagem alentejana e criou o<br />

maior lago artificial <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>.<br />

“Os alentejanos já não acreditavam<br />

que o Alqueva se tornasse<br />

uma reali<strong>da</strong>de. A barragem era<br />

vista como um mito”, afirma com<br />

convicção o técnico de comunicação<br />

José Luís Fialho, de 43<br />

anos. Natural de Beja, José Fialho<br />

é um alentejano dotado de uma<br />

hospitali<strong>da</strong>de caraterística <strong>da</strong> região<br />

e é o responsável <strong>da</strong> comunicação<br />

no centro de informação<br />

<strong>da</strong> Empresa de Desenvolvimen-


José luís<br />

Fialho explica<br />

como funciona<br />

a central<br />

hidroelétrica<br />

64 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 65<br />

to e Infraestruturas do Alqueva<br />

(EDIA) que explora a barragem.<br />

“Somos um terço de Portugal<br />

e temos apenas cerca de 500 mil<br />

habitantes”, afirma com tristeza<br />

José Luís Fialho. Em trinta anos,<br />

o Alentejo perdeu mais de 10% <strong>da</strong><br />

sua população. É uma região com<br />

baixa densi<strong>da</strong>de populacional,<br />

apenas cerca de 7% <strong>da</strong> população<br />

nacional, com elevados índices de<br />

desertificação humana e de envelhecimento.<br />

Um dos filmes promocionais do<br />

projeto é o “Alqueva, Ouro sobre<br />

Azul”. Neste pequeno vídeo conhecemos<br />

a importância <strong>da</strong> construção<br />

do grande lago para o interior<br />

do Alentejo. Frases-chaves como o<br />

“Alqueva é Agricultura” aparecem<br />

no ecrã e imagens imponentes <strong>da</strong><br />

própria barragem que criou uma<br />

nova paisagem, onde tanto vemos<br />

uma marina como uma gaivota em<br />

cima de um sobreiro no meio do<br />

Guadiana.<br />

To<strong>da</strong> esta descrição contrasta<br />

com a paisagem do Alentejo profundo<br />

onde existem terrenos secos<br />

e com pouca vegetação, alguns<br />

montes e pequenas aldeias. Os<br />

sobreiros servem, a par dos chaparros<br />

dispersos pelos campos, de<br />

proteção a quem trabalha nas terras<br />

e dão sombra aos trabalhadores<br />

e aos animais.<br />

Além <strong>da</strong> barragem do Alqueva,<br />

foi construí<strong>da</strong> a barragem de Pedrogão,<br />

também no rio Guadiana,<br />

que situa-se a 23 km a jusante<br />

junto à povoação com o mesmo<br />

nome.<br />

A barragem está equipa<strong>da</strong> com<br />

uma estação mini hídrica que cria<br />

uma albufeira de contra-embalse<br />

hElENA RODRiGUES<br />

para a recuperação de cau<strong>da</strong>is<br />

utilizados no processo de turbinamento.<br />

Pedrogão está, também,<br />

na origem <strong>da</strong> água para os subsistemas<br />

de rega do Ardila e do Pedrogão.<br />

A principal estação elevatória do<br />

Alqueva é a dos Álamos e eleva a<br />

água a cerca de 90 metros de altura<br />

para a igual distribuição de água<br />

por todo o subsistema de regra do<br />

grande lago.<br />

O processo proporcionou que a<br />

água necessária chegue aos campos<br />

cultivados de forma intensiva<br />

e permita o regadio gota-a-gota<br />

Barcos casa são uma logística<br />

aventureira<br />

FOTOS: DR<br />

durante 24 horas em 365 dias.<br />

Outra grande mais-valia do Alqueva<br />

é a produção de energias<br />

renováveis. A aposta nas energias<br />

limpas passa pela energia hidroelétrica,<br />

a eólica e a solar. A energia<br />

hidroelétrica vem <strong>da</strong>s centrais<br />

do Alqueva com uma potência de<br />

260 MW e <strong>da</strong> de Pedrogão com 10<br />

MW de força. Estas centrais são<br />

agora concessiona<strong>da</strong>s pela EDP,<br />

que com a sua exploração duplicou<br />

a potência gera<strong>da</strong> pelas centrais.<br />

O desenvolvimento que o Alqueva<br />

gerou não se fica por aqui.<br />

As estra<strong>da</strong>s foram melhora<strong>da</strong>s e<br />

novas vias rodoviárias foram construí<strong>da</strong>s.<br />

Possibilitam a acessibili<strong>da</strong>de<br />

a locais antes isolados.<br />

Também a preservação ambiental<br />

é <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> EDIA.<br />

Cabe à empresa cooperar com<br />

enti<strong>da</strong>des públicas e priva<strong>da</strong>s na<br />

procura de soluções de sustentabili<strong>da</strong>de<br />

em ca<strong>da</strong> intervenção, participando<br />

nos diversos planos de<br />

ordenamento.<br />

A preservação do património<br />

cultural, paisagístico e <strong>da</strong> memória<br />

coletiva de uma aldeia são funções<br />

<strong>da</strong>s empresas exploradoras dos<br />

espaços do Alqueva. A EDIA foi<br />

responsável pela transferência <strong>da</strong><br />

população <strong>da</strong> aldeia <strong>da</strong> Luz para<br />

outro local onde construiu uma<br />

réplica e um museu para preservar<br />

a memória do antigo lugar e <strong>da</strong> vivência<br />

dos seus habitantes.<br />

Outra forma de compensação<br />

pela per<strong>da</strong> de habitats foi a criação<br />

do Parque de Natureza de<br />

Nou<strong>da</strong>r, na Her<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Coitadinha.<br />

“É ver<strong>da</strong>de, comprámos a<br />

Her<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Coitadinha e criámos<br />

um espaço de produção ecológica<br />

onde impera a conservação<br />

<strong>da</strong> fauna e <strong>da</strong> flora típicas desta<br />

região. A her<strong>da</strong>de fica a cerca de<br />

dez quilómetros de Barrancos. É<br />

muito bonita a Coitadinha”, conta<br />

José Luís Fialho entre sorrisos.<br />

Com a manutenção deste ecossistema<br />

pretende-se manter a tradição<br />

e a gestão de um multifuncional<br />

espaço rural.<br />

Quanto à criação de uma praia<br />

fluvial, José Luís Fialho explica<br />

porque ain<strong>da</strong> não é uma reali<strong>da</strong>de<br />

nas margens <strong>da</strong> Alqueva: “Infelizmente,<br />

a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água não é<br />

a melhor, por isso não temos praia,<br />

mas temos uma marina e várias ativi<strong>da</strong>des<br />

náuticas na albufeira”.<br />

Ensino Superior une estu<strong>da</strong>ntes e empresas<br />

Parcerias<br />

de valor<br />

Fabíola<br />

Maciel<br />

Para contrariar o fuga de jovens para o litoral, a<br />

Escola Superior Agrária de Elvas e a Universi<strong>da</strong>de<br />

de Évora apostam em parcerias com pequenas e<br />

médias empresas <strong>da</strong> região<br />

Portugal enfrenta um aumento generalizado<br />

<strong>da</strong> taxa de desemprego,<br />

principalmente entre os jovens.<br />

Como resposta a esta tendência, a<br />

Escola Superior Agrária de Elvas<br />

(ESAE) e a Universi<strong>da</strong>de de Évora<br />

(UE) oferecem um contacto próximo<br />

com as empresas <strong>da</strong> região, onde<br />

a agricultura é a principal fonte de<br />

rendimento, para que os estu<strong>da</strong>ntes<br />

ganhem âncoras e uma melhor leitura<br />

do mercado de trabalho.<br />

Na área <strong>da</strong> agricultura, a ESAE,<br />

pertencente ao Instituto Politécnico<br />

de Portalegre, oferece a licenciatura<br />

em Enfermagem Veterinária e a em<br />

Agronomia, bem como o mestrado<br />

em Agricultura Sustentável. A instituição<br />

dispõe de parcerias com mais<br />

de oitenta empresas a laborar no<br />

Alentejo, de modo a proporcionar<br />

aos alunos uma maior experiência<br />

na sua área. De acordo com <strong>da</strong>dos<br />

fornecidos pela ESAE, em 2011, a<br />

taxa de empregabili<strong>da</strong>de de Enfermagem<br />

Veterinária foi de 62% (57%<br />

na área específica do curso) e de Engenharia<br />

Agronómica de 71% (45%<br />

na área específica do curso).<br />

A Universi<strong>da</strong>de de Évora aposta<br />

na investigação, nos estágios e nos<br />

protocolos. Em termos curriculares,<br />

a UE dispõe de licenciaturas em<br />

Agronomia e Ciência e Tecnologia<br />

Animal, mestrados em Medicina Veterinária,<br />

Engenharia Agronómica,<br />

Engenharia Florestal: Sistemas Mediterrâneos,<br />

Olivicultura e Azeite,<br />

Viticultura e Enologia e Zootecnia<br />

e doutoramentos em Ciências Agrárias<br />

e Ciências Veterinárias.<br />

A instituição promove “a integração<br />

dos alunos numa aproximação<br />

à vi<strong>da</strong> ativa com uma experiencia<br />

real de trabalho e metodologia de<br />

aprendizagem, realiza<strong>da</strong>s com pequenas<br />

e médias empresas <strong>da</strong> região<br />

Alentejo”. Deste modo, nos últimos<br />

dois anos efetuou 29 protocolos e<br />

14 acordos de estágio. A UE está inseri<strong>da</strong><br />

no Instituto de Ciências Agrárias<br />

Ambientais e Mediterrânicas, na<br />

área <strong>da</strong> investigação de Enologia,<br />

Nutrição e Metabolismo, Física e<br />

Microbiologia do Solo.<br />

Alguns projetos estabelecidos<br />

com empresas têm o financiamento<br />

de programas <strong>da</strong> União Europeia,<br />

como por exemplo, o PRODER.<br />

Estes fundos são utilizados em áreas<br />

como a micropropagação de novos<br />

cultivares de nogueira, o arsénio em<br />

arroz, a Rede Inovar, como plano de<br />

divulgação técnica e científica, transferência<br />

de tecnologia e inovação<br />

nos setores agroalimentares e florestal<br />

e a rede temática de alimentação<br />

de bovinos de carne.<br />

Segundo um estudo do Gabinete<br />

de Planeamento, Estratégia, Avaliação<br />

e Relações Internacionais<br />

(GPEARI), em 2010, a taxa de desemprego<br />

nos cursos de Enfermagem<br />

Veterinária foi de 7,7%, em<br />

Engenharia Agrícola de 5,4% e em<br />

Medicina Veterinária de 3,6%. Para<br />

a Universi<strong>da</strong>de, “a cooperação é um<br />

vetor estratégico, absolutamente<br />

fun<strong>da</strong>mental no quotidiano <strong>da</strong> instituição,<br />

porque se traduz no passo<br />

seguinte à investigação.<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

Transpor as<br />

fronteiras<br />

<strong>da</strong> ESAE e<br />

encontrar<br />

parceiros que<br />

dinamizem as<br />

descobertas<br />

científicas é<br />

uma aposta<br />

de valor


66 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 67<br />

Exigências internas <strong>da</strong> Política Agrícola Comum<br />

Empresários agrícolas<br />

e associativismo<br />

como farol<br />

Maria João<br />

Vicente<br />

“Para superar os efeitos adversos<br />

que a Política Agrícola Comum<br />

(PAC) teve no Alentejo, a região<br />

deve apostar em produtos de alta<br />

quali<strong>da</strong>de que possam ser defendidos<br />

por associações de produtores<br />

numa estratégia concerta<strong>da</strong> e no<br />

escoamento equilibrado <strong>da</strong> produção.”<br />

Quem o diz é José Rato<br />

Nunes, docente na Escola Superior<br />

Agrária de Elvas e agricultor com<br />

43 anos e déca<strong>da</strong>s de memória de<br />

anos difíceis.<br />

E este último tem sido particularmente<br />

difícil para a agricultura. Em<br />

<strong>2012</strong>, no Alentejo choveu pela primeira<br />

vez nos últimos dias de Março.<br />

E pouco, muito pouco. Mas esta<br />

não é a única preocupação. Empresas<br />

e agricultores estão privados do<br />

acesso ao crédito, até para alimentar<br />

os animais. “As rações estão a<br />

um preço proibitivo e quando as<br />

reservas de palha acabarem há agricultores<br />

que falam mesmo em soltar<br />

o gado para que não morra nas<br />

pastagens!”, alerta José Rato Nunes.<br />

Ao contrário do centro <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />

que tem chuvas frequentes<br />

durante o Verão, em Portugal, e no<br />

Alentejo em particular, esta época<br />

do ano, tende a ser seca. “A produtivi<strong>da</strong>de<br />

só se consegue com o<br />

regadio. E em regadio os agricultores<br />

portugueses até têm produções<br />

médias por hectare bastante eleva<strong>da</strong>s,<br />

de 12 a 13 tonela<strong>da</strong>s, face a 8<br />

tonela<strong>da</strong>s noutras regiões do globo,<br />

por exemplo em culturas como o<br />

A aposta em nichos de mercado onde Portugal<br />

apresenta condições de produção competitivas<br />

como o setor vinícola, ervas aromáticas ou queijos<br />

pode ser uma via para <strong>da</strong>r um novo fôlego<br />

à economia alentejana<br />

milho.” Mas a opção de regadio tem<br />

custos. “As culturas de regadio encarecem<br />

muito a exploração e diminuem<br />

o rendimento do agricultor<br />

face a outros mercados em que o<br />

preço dos bens e serviços de base à<br />

produção é bastante mais reduzido.”<br />

Com o preço <strong>da</strong> água a cerca de<br />

12 cêntimos por metro cúbico e<br />

os custos em combustível historicamente<br />

elevados, os agricultores<br />

portugueses no Alentejo não<br />

conseguem ser concorrenciais. As<br />

culturas como o milho, o trigo, a<br />

ceva<strong>da</strong> e o arroz não podem ser<br />

competitivas, devido às condições<br />

do clima mediterrânico, e à acentua<strong>da</strong><br />

concorrência internacional que<br />

existe neste tipo de colheitas.<br />

A infraestrutura<br />

do Alqueva veio<br />

duplicar as culturas<br />

em regadio. Se não<br />

forem executa<strong>da</strong>s<br />

corretamente<br />

corre-se o risco<br />

de promover a<br />

salinização dos<br />

solos<br />

Os obstáculos ao desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> agricultura no Alentejo<br />

podem ser superados através de<br />

“uma mu<strong>da</strong>nça de mentali<strong>da</strong>des”,<br />

refere José Rato Nunes. Esta mu<strong>da</strong>nça<br />

terá de manifestar-se em to<strong>da</strong>s<br />

as etapas do processo, desde a<br />

produção até ao escoamento dos<br />

produtos. E vai mais longe ao afirmar<br />

que todo o agricultor tem de<br />

ser um “empresário agrícola”.<br />

É necessário desenvolver, como<br />

existe em Espanha, um nível de associativismo<br />

eficiente que consiga<br />

colocar os produtos no mercado<br />

em condições mais favoráveis para<br />

os agricultores. Os clubes de produtores,<br />

a existirem, aju<strong>da</strong>riam a li<strong>da</strong>r<br />

com os efeitos adversos <strong>da</strong> presença<br />

dos grandes distribuidores.<br />

Hoje as explorações não têm<br />

necessariamente de ser de grandes<br />

dimensões. É possível rentabilizar<br />

extensões reduzi<strong>da</strong>s de terreno,<br />

desde que o produto tenha valor<br />

acrescentado face ao que se produz<br />

noutros mercados e que o produtor<br />

tenha assegura<strong>da</strong> a cadeia de abastecimento.<br />

Também o cálculo dos<br />

custos <strong>da</strong> prestação de serviços terá<br />

de mu<strong>da</strong>r - os custos unitários devem<br />

ser calculados por hectare de<br />

exploração. O problema é que neste<br />

momento há uma indefinição acerca<br />

de quais as priori<strong>da</strong>des governativas<br />

no setor agrícola e o mercado<br />

dos cereais encontra-se instável.<br />

Para os agricultores, para a economia<br />

regional e para o país, esta<br />

fonte de criação de riqueza passa<br />

por uma maior competitivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s explorações agrícolas e por um<br />

reforço do escoamento dos produtos<br />

em condições mais equitativas<br />

para todos os intervenientes. A paisagem<br />

alentejana não se faz apenas<br />

de ameaças. No horizonte há oportuni<strong>da</strong>des<br />

mas é necessário plantálas<br />

para mais tarde colher.<br />

Reconversão e ajustamento penaliza<br />

países periféricos A PAC<br />

surgiu nos anos 60 com vista a assegurar<br />

a produção de alimentos em<br />

quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de suficientes<br />

para as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> população<br />

europeia. Passou por diversas fases<br />

de implementação mas sempre esteve<br />

entre as políticas que mais consomem<br />

do orçamento comunitário<br />

- chegou a representar quase 50%<br />

e atualmente representa 44,5% de<br />

um orçamento total que se cifra em<br />

126,5 biliões de euros.<br />

Em Portugal, pouco depois <strong>da</strong><br />

adesão à UE em 1986, vigorou uma<br />

primeira fase <strong>da</strong> PAC, ain<strong>da</strong> que o<br />

país tenha partido em condições<br />

desfavoráveis de produção face a outros<br />

estados-membros. Ain<strong>da</strong> assim,<br />

as políticas de incentivo à produção<br />

que caracterizaram a primeira fase<br />

de implementação <strong>da</strong> PAC foram<br />

muito bem-sucedi<strong>da</strong>s. De tal forma<br />

que a <strong>Europa</strong> se tornou excedentária<br />

em produtos como o leite e derivados<br />

e rapi<strong>da</strong>mente foi confronta<strong>da</strong><br />

com o problema do armazenamen-<br />

to. Como não foram encontra<strong>da</strong>s<br />

respostas rápi<strong>da</strong>s para esta situação<br />

e com os produtos alimentares a<br />

apodrecerem nos armazéns, o impacto<br />

mediático tornou-se insustentável.<br />

A UE adotou então medi<strong>da</strong>s<br />

que reconduziram a PAC num sentido<br />

completamente diferente.<br />

A partir de meados dos anos 90,<br />

a palavra de ordem foi a de limitar<br />

a produção, impondo as chama<strong>da</strong>s<br />

quotas. O objetivo foi não só fazer<br />

face ao problema dos excedentes,<br />

mas também conter a diminuição<br />

rápi<strong>da</strong> dos preços dos produtos<br />

hortícolas frutícolas e lacticínios<br />

que então se verificava. Esse decréscimo<br />

dos preços de colocação dos<br />

produtos no mercado ameaçava o<br />

“Em Portugal os<br />

graus de auto<br />

aprovisionamento<br />

são muito baixos.<br />

Um trator, para ser<br />

rentável, tem de<br />

trabalhar 800 horas<br />

por ano e há muitos<br />

que nem 100<br />

trabalham…”<br />

rendimento dos agricultores em<br />

grandes países produtores como a<br />

Alemanha e a França.<br />

Este novo cenário privilegiava<br />

outras utilizações do meio rural e<br />

a retoma de práticas de pousio. Os<br />

países periféricos tiveram de encarar<br />

uma nova reali<strong>da</strong>de. Maior<br />

dificul<strong>da</strong>de de colocar os seus produtos<br />

no mercado e abate massivo<br />

<strong>da</strong>s infraestruturas produtivas, à<br />

medi<strong>da</strong> que as políticas de subsídio<br />

à não produção avançavam no<br />

terreno. Mas tal não foi acompanhado<br />

dos necessários mecanismos<br />

de reconversão e ajustamento. O<br />

setor primário encolheu significativamente<br />

como fonte de criação<br />

de riqueza em Portugal, embora<br />

tal não se tenha verificado noutros<br />

países <strong>da</strong> União. Segundo <strong>da</strong>dos do<br />

Eurostat, entre 2000 e 2011 o rendimento<br />

<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de agrícola em<br />

Portugal recuou 4 pontos percentuais<br />

(p.p.), em média, mas por exemplo<br />

na Alemanha subiu 11,4 p.p. e<br />

em França cresceu 0,3 p.p.<br />

“Competimos num mercado<br />

global mas as condições de concorrência<br />

não são iguais para todos os<br />

países”, lembra José Rato Nunes.<br />

Daí que tenham de ser considera<strong>da</strong>s<br />

outras formas de rentabilização<br />

<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de agrícola. A aposta terá<br />

que ser em produtos com mecanismos<br />

de escoamento garantidos<br />

e que possam chegar a mercados<br />

muito disponíveis para acolher e<br />

pagar pela quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> oferta.<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

Para José Rato<br />

Nunes, o perigo<br />

<strong>da</strong> salinização<br />

dos solos<br />

por incorreto<br />

regadio pode<br />

ser “a arte de<br />

enriquecer pais<br />

e empobrecer<br />

os filhos”


68 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 69<br />

Sovena lidera mercado olivícola nacional A aposta <strong>da</strong> Sovena, líder de mercado<br />

do setor olivícola nacional, com<br />

a sua joint-venture Elaia, vem trazer<br />

uma nova esperança à agricultura do<br />

país e demonstra as potenciali<strong>da</strong>des<br />

Um novo rumo<br />

para o azeite<br />

Inês<br />

Fernandes<br />

Moderni<strong>da</strong>de e tradição são palavras-chave<br />

<strong>da</strong> mais recente aposta no setor olivícola nacional,<br />

que aliando avanços tecnológicos com uma<br />

produção de quali<strong>da</strong>de se reflete no potencial<br />

<strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do Marmelo, em Ferreira do Alentejo<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

que esta mesma conjuntura traz para<br />

os mercados.<br />

Num contexto de crise mundial e<br />

a par com as dificul<strong>da</strong>des sociais que<br />

se fazem sentir um pouco por to<strong>da</strong> a<br />

<strong>Europa</strong>, pouca margem existe para o<br />

investimento e a inovação nos diferentes<br />

setores produtivos.<br />

Em claro contra-ciclo com o que<br />

se tem vindo a observar um pouco<br />

por todo o setor agrícola nacional,<br />

que em muito se fica a dever às parcas<br />

políticas de investimento, a modernização<br />

na olivicultura parece ser<br />

a palavra-chave do grupo Sovena no<br />

que se refere à aposta realiza<strong>da</strong> na<br />

Her<strong>da</strong>de do Marmelo, em Ferreira<br />

do Alentejo.<br />

A olivicultura mundial observou,<br />

nos últimos anos, um claro desenvolvimento<br />

e avanços significativos<br />

na quali<strong>da</strong>de dos seus produtos,<br />

fruto de investigações no âmbito <strong>da</strong><br />

produção e transformação <strong>da</strong> matéria-prima,<br />

mas também de um apuramento<br />

e recuperação de espécies,<br />

a<strong>da</strong>ptando-as à geografia de plantação.<br />

A Sovena reconheceu e soube<br />

aproveitar estes avanços e decidiu<br />

apostar na região alentejana para<br />

man<strong>da</strong>r plantar um dos maiores olivais<br />

do país. Atualmente com 3500<br />

hectares, mas com um objetivo final<br />

de sete mil, a Her<strong>da</strong>de do Marmelo<br />

consegue juntar uma produção<br />

tradicional com conceitos de “nova<br />

olivicultura”, ao mesmo tempo que<br />

trabalha em cooperação direta com<br />

os produtores locais. Compra-lhes<br />

excedentes de produção ou permitelhes<br />

fazer uso do seu mais recente<br />

lagar.<br />

Vasco Martins, do grupo Sovena,<br />

reconhece não só a importância<br />

deste investimento para empresa em<br />

si, como a sua importância para a região.<br />

Mas ressalva que a sua instalação<br />

nesta zona do país em muito fica<br />

a dever a um anterior investimento<br />

governamental, a Barragem do Alqueva<br />

e todo o sistema de regadio<br />

dela dependente.<br />

Facto primordial ao desenvolvimento<br />

deste novo tipo de olivicultura,<br />

a água é uma <strong>da</strong>s principais<br />

bases deste projeto, sendo reconhecido<br />

por Vasco Martins como uma<br />

<strong>da</strong>s justificações que se podem encontrar<br />

na hora de escolher Ferreira<br />

do Alentejo para a instalação e investimento<br />

na região.<br />

Portugal não pode, de momento,<br />

fazer concorrência com a produção<br />

espanhola na hora de se apresentar<br />

no mercado, nem no que diz respeito<br />

ao investimento e investigação<br />

iNêS FERNANDES<br />

neste tipo de cultura, reconhece Vasco<br />

Martins. Mas a her<strong>da</strong>de do Marmelo<br />

é reflexo do aproveitamento<br />

dos avanços já realizados, ficando<br />

patente que, ain<strong>da</strong> que não pensados<br />

para a geografia do nosso país,<br />

os novos tipos de olival apresentamse<br />

como potenciais de recuperação<br />

de investimento ser for possível fazer<br />

convergir as necessi<strong>da</strong>des básicas,<br />

nomea<strong>da</strong>mente o provimento de<br />

água, num só local.<br />

O porta-voz <strong>da</strong> Sovena refere que,<br />

tentando colmatar alguma falhas<br />

que possam surgir no abastecimento<br />

de água, como é o caso do ano em<br />

curso, o grupo apostou, inicialmente,<br />

não só na provisão do sistema de<br />

regadio na região em que instalou a<br />

sua exploração olivícola, mas também<br />

dotou os terrenos de pequenas<br />

lagoas a ca<strong>da</strong> dois hectares, ao mesmo<br />

tempo que trouxe para este tipo<br />

de cultura a rega gota-a-gota.<br />

Esta preocupação com a utilização<br />

<strong>da</strong> água é, no ponto de vista <strong>da</strong><br />

Sovena, um dos seus compromissos<br />

ambientais, ao mesmo tempo que<br />

responde às necessi<strong>da</strong>des que uma<br />

plantação tão intensiva exige aos<br />

solos.<br />

Com olivais que podem ir <strong>da</strong>s 200<br />

a 300 árvores por hectare (cultivo<br />

intensivo) a 2000 árvores por hectare<br />

(super-intensivo), o “uso racional<br />

<strong>da</strong> água” é fator determinante para<br />

o sucesso deste tipo de “nova olivicultura”,<br />

afirma Vasco Martins. A par<br />

com a mecanização, permite não só<br />

um cultivo mais especializado, mas<br />

dá resposta às necessi<strong>da</strong>des de mãode-obra<br />

que afetam o setor agrícola.<br />

Ain<strong>da</strong> que acarrete necessi<strong>da</strong>des e<br />

cui<strong>da</strong>dos específicos com elevados<br />

custos, estes podem justificar-se na<br />

hora de recolher produtos considerados<br />

de eleva<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de.<br />

A mecanização <strong>da</strong> olivicultura faz-<br />

O arquiteto<br />

português<br />

Ricardo Bak<br />

Gordon é o<br />

autor do novo<br />

edifício<br />

do lagar<br />

do Marmelo


A transformação<br />

do caroço <strong>da</strong><br />

azeitona para<br />

biomassa<br />

70 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 71<br />

se refletir nos sistemas de maquinaria<br />

utilizados na hora <strong>da</strong> colheita,<br />

com máquinas desenvolvi<strong>da</strong>s especificamente<br />

para as necessi<strong>da</strong>des<br />

de ca<strong>da</strong> tipo de olival, e, sobretudo,<br />

no desenvolvimento de tecnologias<br />

de ponta que permitem recolher<br />

e transformar a matéria-prima em<br />

tempo recorde não descurando a<br />

quali<strong>da</strong>de do produto final.<br />

Um azeite de quali<strong>da</strong>de O investimento<br />

na investigação que a Sovena<br />

tem vindo a desenvolver em parceria<br />

com a Universi<strong>da</strong>de de Évora não<br />

colhe, de momento, frutos. Ain<strong>da</strong><br />

assim as pesquisas realiza<strong>da</strong>s noutros<br />

países, como em Espanha, onde<br />

este setor recolhe grandes adeptos e<br />

interesse, permitiram que o projeto<br />

desenvolvido no país faça, desde a<br />

sua fun<strong>da</strong>ção, uso de tecnologias de<br />

ponta que garantem não só poupar<br />

custos e esforços, mas também garantir<br />

a quali<strong>da</strong>de do azeite.<br />

Numa perspetiva de produção<br />

para o mercado e respondendo às<br />

necessi<strong>da</strong>des do mesmo, com novos<br />

gostos e eleva<strong>da</strong>s exigências, mas em<br />

linha com a tradição do azeite nacional,<br />

o grupo Sovena fez instalar na<br />

her<strong>da</strong>de um dos mais desenvolvidos<br />

lagares do país, o Lagar do Marmelo.<br />

Imbuído na paisagem alentejana,<br />

o Lagar do Marmelo, <strong>da</strong> Sovena,<br />

representa não só um expoente máximo<br />

de moderni<strong>da</strong>de arquitetónica<br />

que se a<strong>da</strong>ptou à geografia do terreno,<br />

como possui em si mesmo uma<br />

simplici<strong>da</strong>de absoluta na hora de facilitar<br />

a receção e transformação <strong>da</strong><br />

azeitona.<br />

Financiado pelo PRODEP, o projeto<br />

do arquiteto português Ricardo<br />

Bak Gordon, representou um investimento<br />

de cerca de nove milhões de<br />

euros e dá resposta tanto às necessi-<br />

FOTOS: iNêS FERNANDES<br />

Este lagar consegue<br />

fazer convergir,<br />

na perspetiva<br />

dos seus donos<br />

e nas palavras<br />

de Vasco Martins,<br />

as suas principais<br />

preocupações:<br />

ambientais<br />

e de quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>des <strong>da</strong> empresa, como dos produtores<br />

locais, com mais de 5.500 m2<br />

de dimensão e capaci<strong>da</strong>de para extrair<br />

oito milhões de litros de azeite<br />

num único ano.<br />

Este lagar consegue fazer convergir,<br />

na perspetiva dos seus donos e<br />

nas palavras de Vasco Martins (na<br />

foto), as suas principais preocupa-<br />

ções: ambientais e de quali<strong>da</strong>de.<br />

Ao operar de uma maneira totalmente<br />

sustentável e em prol <strong>da</strong> modernização<br />

<strong>da</strong> produção de azeite,<br />

e respondendo a altos padrões de<br />

limpeza e higiene, o lagar não transforma<br />

só a azeitona em azeite. Permite<br />

a recuperação <strong>da</strong> água utiliza<strong>da</strong><br />

na lavagem, para posteriores regas;<br />

aproveitar as folhas para alimentação<br />

animal e fertilizantes; usar o caroço<br />

<strong>da</strong> azeitona para a produção de<br />

biomassa para a caldeira do próprio<br />

lagar; e recolher o bagaço para ser<br />

vendido para produzir energia.<br />

Esta sinergia inerente ao lagar é<br />

também a sua imagem de marca, e<br />

demonstra uma clara aposta na moderni<strong>da</strong>de,<br />

revela o potencial crescente<br />

que o setor olivícola tem no<br />

nosso país.<br />

A economia do azeite Um “novo<br />

olival” com uma produção mais precoce<br />

justifica o investimento inicial<br />

que se realiza no setor, ao não comprometer,<br />

segundo os produtores,<br />

a quali<strong>da</strong>de do azeite. Chega, até,<br />

segundo Vasco Martins, a a<strong>da</strong>ptarse<br />

aos palatos mais exigentes de<br />

mercados como o norte-americano.<br />

Em apenas três anos podem retirarse<br />

dez a doze tonela<strong>da</strong>s de azeitona<br />

ao ano no super-intensivo e em oito<br />

anos perto de dez tonela<strong>da</strong>s nos intensivos.<br />

Mas o período médio de vi<strong>da</strong> destes<br />

olivais pode, contudo, levantar a<br />

questão deste ser um bom investimento<br />

a longo-prazo e se coadunar<br />

com as culturas nacionais. Um olival,<br />

que em regra pode durar mais de<br />

100 anos, vê a sua esperança de vi<strong>da</strong><br />

reduzi<strong>da</strong> a 50 anos no caso <strong>da</strong>s plantações<br />

em sistema intensivo, e até 15<br />

anos no caso dos super-intensivos.<br />

Um investimento que inicialmente<br />

se apresenta como altamente rentável<br />

e que responde às necessi<strong>da</strong>des<br />

do setor nacional, pode assim comprometer<br />

a sua sustentabili<strong>da</strong>de,<br />

quando encarado no longo-prazo.<br />

A sinergia que se cria em torno<br />

<strong>da</strong> mecanização dos processos de<br />

produção e <strong>da</strong> investigação no setor<br />

deverá, sobretudo no contexto de<br />

crise atual, projetar-se para o futuro.<br />

O caminho percorrido na Her<strong>da</strong>de<br />

do Marmelo é um movimento neste<br />

sentido, mas é também reflexo de<br />

que muito pode ain<strong>da</strong> ser feito pela<br />

agricultura e olivicultura nacionais e<br />

<strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des que representa<br />

para estes setores.<br />

Delta lidera Campo Maior<br />

Inovação e tradição<br />

servi<strong>da</strong>s à mesa<br />

Maria<br />

João<br />

Vicente<br />

É sábado, dia em que descansam<br />

trabalhadores e equipamentos.<br />

Mas pela imponência <strong>da</strong> maquinaria<br />

quase se sente o pulsar <strong>da</strong><br />

produção que só será retoma<strong>da</strong><br />

na segun<strong>da</strong>-feira. Andreia Ruas,<br />

responsável do Gabinete de Quali<strong>da</strong>de,<br />

sabe de cor o caminho<br />

serpenteado <strong>da</strong> fábrica por entre<br />

as diferentes fases <strong>da</strong> produção. É<br />

difícil imaginar que só aqui traba-<br />

Uma máquina de torra e três colaboradores,<br />

foi assim que a empresa de café Delta começou<br />

em 1961. Hoje o grupo conta com 22 empresas<br />

e mais de 4000 funcionários<br />

lham quase 400 pessoas – estimase<br />

que, em ca<strong>da</strong> família campo<br />

maiorense, haja pelo menos um<br />

elemento, que é colaborador <strong>da</strong><br />

empresa. Muitos dos processos<br />

estão automatizados, mas é a mão<br />

humana que mantém o rolar <strong>da</strong>s<br />

engrenagens e assegura o controlo<br />

de quali<strong>da</strong>de. Afinal, nas instalações<br />

desta fábrica de Campo<br />

Maior são produzi<strong>da</strong>s cerca de 250<br />

tonela<strong>da</strong>s de café por dia. Quanti<strong>da</strong>de<br />

mais do que suficiente para<br />

satisfazer as necessi<strong>da</strong>des do mercado<br />

interno, já que muita <strong>da</strong> produção<br />

é exporta<strong>da</strong>. Em Portugal, o<br />

número de consumidores de café é<br />

baixo. Segundo a Organização Internacional<br />

de Café (OIC), consomem-se<br />

no nosso país 4 quilos por<br />

pessoa, em média por ano. Menos<br />

do que em países como Espanha<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

As instalações<br />

<strong>da</strong> Delta<br />

remetem o<br />

visitante para<br />

o mundo do<br />

café


72 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 73<br />

onde o consumo per capita anual é<br />

de 4,3 quilos, França (5,5) ou Alemanha<br />

(6,8).<br />

Ain<strong>da</strong> segundo a OIC o consumo<br />

de café no mundo tem vindo<br />

a crescer ao longo dos últimos 40<br />

anos. E mesmo no cenário conservador<br />

é previsível que continue<br />

a prosperar. Prova disso é a concorrência<br />

que tem vindo a acentuar-se,<br />

e bastante. Outras marcas<br />

como a Nespresso surgiram no<br />

mercado suporta<strong>da</strong>s por um marketing<br />

bem-sucedido em áreas<br />

como o home drinking em que a<br />

Delta conseguiu também posicionar-se<br />

através do lançamento <strong>da</strong><br />

máquina Delta Q.<br />

Beber café em casa é ca<strong>da</strong> vez<br />

mais um hábito, até porque quem<br />

beba dois cafés por dia pode gastar<br />

o equivalente a uma prestação do<br />

carro ou <strong>da</strong> casa por ano. Daí que<br />

os portugueses em crise tentem<br />

moderar os consumos e repensar<br />

hábitos antigos. Na Delta, Rethink<br />

– repensar – é uma constante, ou<br />

não fosse este o nome de um dos<br />

principais projetos de responsabili<strong>da</strong>de<br />

social que a empresa promove.<br />

Fora <strong>da</strong> linha de produção, fabricam-se<br />

ideias. De renovação do<br />

portfolio, por exemplo. Umas <strong>da</strong>s<br />

últimas apostas foi para as tisanas,<br />

“infusões de camomila-pêssego,<br />

morango-baunilha e menta”, refere<br />

Andreia Ruas, mostrando que as<br />

máquinas na zona de empacotamento<br />

não embalam apenas café.<br />

O açúcar, também é aqui dividido<br />

em doses individuais de 9 gramas<br />

e leva a chancela <strong>da</strong> Delta. Quando<br />

o café nos chega à mesa, é servido<br />

o pacote completo: café, açúcar,<br />

biscoito e pau de canela. Afinal,<br />

“o café é mais um motivo para estar<br />

com os amigos”, sublinha Elsa<br />

Elias, uma <strong>da</strong>s vozes <strong>da</strong> Delta que<br />

aposta na tradição e na inovação<br />

<strong>da</strong> empresa que já cumpriu as bo<strong>da</strong>s<br />

de ouro.<br />

A Delta Cafés foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em<br />

1961 por Manuel Rui Azinhais<br />

Nabeiro em Campo Maior, no<br />

Alentejo. Atualmente detém 25<br />

empresas (se se incluir to<strong>da</strong> a fileira),<br />

gera mais de 4 mil postos de<br />

trabalho diretos e exporta os seus<br />

produtos para África, América,<br />

Ásia, <strong>Europa</strong> e Oceânia. A fábrica<br />

<strong>da</strong> Delta Cafés tem uma produção<br />

diária de cerca de 250 tonela<strong>da</strong>s e é<br />

líder de mercado em Portugal.<br />

A história do<br />

café conta-se<br />

por entre a<br />

primeira carrinha<br />

de transporte e<br />

outras relíquias a<br />

que se vai juntar<br />

a tecnologia<br />

moderna no<br />

futuro espaço<br />

interativo<br />

FOTOS: ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

Fundos comunitários requalificam Delta Cafés<br />

Empresa de Rui<br />

Nabeiro investe<br />

em novo museu<br />

Catarina<br />

Benedito<br />

Novo centro pe<strong>da</strong>gógico e de<br />

divulgação científica quer ser<br />

plataforma de contacto entre o público<br />

e os profissionais do café<br />

A Delta Cafés candi<strong>da</strong>tou-se a fundos<br />

comunitários no valor de 2,8<br />

milhões de euros, aos quais se junta<br />

quase outro tanto que será suportado<br />

pela empresa, para a criação de<br />

um novo centro interpretativo que<br />

vai integrar o atual museu do café,<br />

criado em 1994 e que recebe anualmente<br />

a visita de 30 mil pessoas.<br />

A construção do Centro de Interpretação,<br />

Divulgação Cientifica e<br />

Tecnológica e Promoção Turística<br />

<strong>da</strong> Delta Cafés teve inicio em Abril<br />

e a empresa prevê que no prazo de<br />

um ano as obras estejam concluí<strong>da</strong>s.<br />

Este novo museu pretende afirmarse<br />

como um espaço informativo,<br />

didático, cultural e científico com a<br />

missão de promover o conhecimento<br />

através uma viagem interativa ao<br />

mundo do café e vai estar organizado<br />

em quatro áreas temáticas: Biologia,<br />

Indústria, Cultura e Estufa.<br />

A zona <strong>da</strong> Biologia vai apresentar<br />

cinco módulos, que se referem à<br />

geografia, à planta, ao fruto, à reflorestação<br />

ao fruto e à praga e a área<br />

<strong>da</strong> Indústria vai ter oito módulos<br />

ligados ao processamento natural<br />

do café, à colheita, à secagem, ao<br />

transporte e armazenagem, à torrefação<br />

e ao blending. Já a Cultura vai<br />

apresentar uma perspetiva histórica<br />

sobre a evolução <strong>da</strong>s representações<br />

do café na arte, na publici<strong>da</strong>de e nas<br />

embalagens. Por fim, na Estufa vão<br />

ser plantados cafeeiros, permitindo<br />

ao visitante contactar diretamente<br />

com habitat do café. No total, o<br />

novo museu vai ter cerca de 700m2<br />

de área expositiva.<br />

No museu vai também funcionar<br />

um espaço designado “Delta a brincar”,<br />

uma reprodução em miniatura<br />

<strong>da</strong> fábrica <strong>da</strong> Delta dedica<strong>da</strong> às<br />

crianças até aos 10 anos. Segundo a<br />

Delta Cafés “é um espaço que privilegia<br />

a aquisição de conhecimento<br />

por parte dos mais jovens, incentivando<br />

uma ligação entre uma vertente<br />

didática e outra mais formativa”.<br />

O espaço “Delta a brincar”, tal<br />

como o restante museu, será acessível<br />

a crianças com necessi<strong>da</strong>des educativas<br />

especiais e com mobili<strong>da</strong>de<br />

reduzi<strong>da</strong>. Este projeto concorreu ao<br />

regulamento “Promoção <strong>da</strong> Cultura<br />

Científica e Tecnológica e Difusão<br />

do Conhecimento” do INALEN-<br />

TEJO, tendo sido financiado em<br />

60% do valor elegível. “Pretende-se<br />

transmitir ao público a reali<strong>da</strong>de<br />

científica, histórica, tecnológica, sociológica<br />

e antropológica do café e<br />

promove-lo como um produto saudável<br />

na alimentação”, afirma a Delta<br />

Cafés.<br />

Segundo a empresa de Rui Nabeiro,<br />

o centro quer abandonar “o<br />

conceito tradicional de museu” e<br />

apostar na crescente interação com<br />

o público, também com “num espaço<br />

mais moderno que procura<br />

a transparência entre os diferentes<br />

níveis e ambientes para sugerir uma<br />

interligação de funções de um edifício<br />

polivalente”. O atual museu tem<br />

uma biblioteca especializa<strong>da</strong> em<br />

literatura sobre o café e um espaço<br />

dedicado a exposições temporárias,<br />

valências que o novo museu quer<br />

integrar e expandir a outras tertúlias.


74 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 75<br />

Entrevista João Roquette administrador delegado do grupo Esporão<br />

Aposta familiar<br />

em laços de<br />

proximi<strong>da</strong>de<br />

Rita<br />

Pereira<br />

Prestes a ser inaugurado, o novo edifício do<br />

enoturismo foi criado para receber quem se interessa<br />

pela cultura <strong>da</strong> vinha e do vinho. João Roquette assume<br />

o desafio de chegar mais perto do consumidor<br />

O enoturismo <strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do<br />

Esporão foi o primeiro a ser<br />

certificado em Portugal. Hoje<br />

disponibiliza um leque alargado<br />

de programas, entre passeios<br />

pelas vinhas, viagens de barco na<br />

barragem, visitas a caves e adegas,<br />

degustação gastronómica, provas e<br />

cursos vínicos, percursos históricoculturais<br />

e roteiros para observação<br />

<strong>da</strong> natureza.<br />

A importância do enoturismo<br />

para a afirmação <strong>da</strong> marca levou<br />

ao projeto de reequalificação que<br />

está na recta final. O novo edificio<br />

é inaugurado no próximo dia 17<br />

de Maio. Conta com restaurante,<br />

wine-bar e sala priva<strong>da</strong> com<br />

vista privilegia<strong>da</strong> sobre a vinha<br />

e barragem. Inclui também uma<br />

esplana<strong>da</strong> para uma esta<strong>da</strong> mais<br />

descontraí<strong>da</strong> e um jardim com<br />

sombras que, além <strong>da</strong> realização de<br />

provas e buffets volantes, permitirá<br />

usufruir <strong>da</strong> paisagem, sobretudo<br />

no verão. O novo empreendimento<br />

tem ain<strong>da</strong> uma sala de eventos<br />

multiusos para realização e<br />

reuniões, conferências e workshops.<br />

O objetivo é receber melhor os<br />

amantes <strong>da</strong> cultura do vinho e do<br />

Alentejo, afirma João Roquette,<br />

administrador delegado do grupo<br />

Esporão.<br />

DR<br />

Como surgiu projeto<br />

enoturístico do Esporão? O<br />

enoturismo no Esporão surgiu nos<br />

anos 90 com a necessi<strong>da</strong>de de criar<br />

instalações para as pessoas que nos<br />

visitavam. Passaram muitos anos e,<br />

felizmente, o projeto ultrapassou<br />

o próprio edifício. A posição que a<br />

empresa tem hoje no mercado e o<br />

seu desenvolvimento internacional<br />

definiu que tivéssemos de ter<br />

equipamentos para <strong>da</strong>r resposta às<br />

25 mil pessoas que passam todos os<br />

anos pela her<strong>da</strong>de.<br />

Qual a estratégia associa<strong>da</strong> ao<br />

atual projeto de requalificação?<br />

A aposta e investimento no novo<br />

edifício foram feitos considerando<br />

a importância <strong>da</strong> afirmação<br />

do Esporão como um projeto<br />

nacional e português, como um<br />

projeto que se insere no ambiente<br />

rural e numa paisagem muito<br />

concreta, na sustentabili<strong>da</strong>de<br />

que nos caracteriza e que temos<br />

vindo a trabalhar nos últimos<br />

anos, e ain<strong>da</strong> na proximi<strong>da</strong>de<br />

que queremos ter com os nossos<br />

clientes. Portanto, no sentido<br />

de concretizar estes objetivos,<br />

a requalificação do enoturismo<br />

do Esporão revela-se um<br />

projeto absolutamente central e<br />

estratégico.<br />

O enoturismo é muitas vezes<br />

associado a uma classe médiaalta.<br />

No caso <strong>da</strong> her<strong>da</strong>de é um<br />

produto direcionado para este<br />

público? Quando olhamos para o<br />

portfolio do Esporão vemos vinhos<br />

desde a entra<strong>da</strong> de gama, que têm<br />

uma presença no mass market e<br />

custam dois euros, até vinhos híper<br />

exclusivos que custam 80 euros<br />

por garrafa. O target e clientes são<br />

por isso muito variados. Pensamos,<br />

no entanto, que existe um aspeto<br />

comum a todos: gostam de vinho,<br />

apreciam o trabalho que fazemos e<br />

ANA MARGARiDA PEREiRA<br />

querem descobrir um pouco mais.<br />

O enoturismo do Esporão vai ao<br />

encontro desta reali<strong>da</strong>de. É um<br />

local para receber todos os amantes<br />

<strong>da</strong> cultura do vinho e do Alentejo.<br />

É possível estabelecer um<br />

perfil de visitante? Uma parte<br />

importante são pessoas de algum<br />

modo relaciona<strong>da</strong>s com o nosso<br />

negócio, como clientes, jornalistas,<br />

especialistas e stakeholders que<br />

gostamos de convi<strong>da</strong>r. Temos<br />

ain<strong>da</strong> todos aqueles que bebem os<br />

nossos vinhos e querem saber mais<br />

sobre nós. Recebemos também<br />

passantes de fim-de-semana<br />

que já nos conhecem e vêm<br />

almoçar ao restaurante, provar<br />

vinhos novos ou comprar na loja.<br />

Neste contexto, temos visitantes<br />

de muitas nacionali<strong>da</strong>des,<br />

desde portugueses, brasileiros,<br />

espanhóis, norte-americanos,<br />

suíços, alemães, holandeses,<br />

angolanos e ingleses, entre outros.<br />

Quais as mais-valias do novo<br />

edifício do enoturismo?<br />

O edifício vai permitir receber<br />

diferentes tipos de pessoas, de<br />

diferentes faixas etárias, estratos<br />

económico-sociais e com<br />

interesses variados. Desde grupos<br />

maiores até quem pretende uma<br />

refeição exclusiva. Mas também<br />

visitantes altamente focados no<br />

vinho, na vinha e no trabalho mais<br />

técnico como aqueles que têm<br />

interesse na biodiversi<strong>da</strong>de e meio<br />

ambiente. Para além de permitir<br />

diferentes tipos de provas, o<br />

edifício também está pensado<br />

para quem quer vir um dia com a<br />

família ou amigos para descansar e<br />

descontrair.<br />

Vai ter alojamento? Não. O<br />

conceito foi, desde o princípio, de<br />

um dia: as pessoas vêm à Her<strong>da</strong>de<br />

do Esporão, passam o dia e vão-se<br />

embora. Estamos a desenvolver<br />

um projeto turístico no Alqueva<br />

que se se tornar uma reali<strong>da</strong>de terá<br />

alojamento.<br />

Existem parcerias com<br />

enti<strong>da</strong>des ou empresas <strong>da</strong><br />

região? A que nível? Existem.<br />

Temos alguns hotéis na região<br />

com os quais trabalhamos,<br />

temos parcerias com alguns<br />

artesãos em São Pedro de Curval,<br />

reencaminhamos muitas pessoas


76 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 77<br />

para a fábrica de tapeçarias de<br />

Reguengos de Monsaraz e para<br />

produtores de carnes e enchidos<br />

na região, cujos produtos<br />

também vendemos na nossa<br />

loja. Tentamos dinamizar o<br />

mais possível a proximi<strong>da</strong>de e a<br />

locali<strong>da</strong>de.<br />

Procuram ter também uma<br />

responsabili<strong>da</strong>de ambiental?<br />

Estava a pensar por exemplo<br />

no banco de castas. Uma parte<br />

do projeto tem que ver com isso,<br />

com a preservação <strong>da</strong>quilo que<br />

é um património de todos. Mas<br />

curiosamente foi uma iniciativa<br />

cria<strong>da</strong> a pensar na necessi<strong>da</strong>de de<br />

garantir que algumas castas que<br />

se utilizaram menos nos últimos<br />

anos não desaparecem, e de<br />

analisar a capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação<br />

dessas castas em cenários de<br />

aquecimento global.<br />

Como é que se enquadra a<br />

associação dos vinhos com<br />

a mo<strong>da</strong>, através do estilista<br />

Felipe Oliveira Baptista? Esse<br />

é um projeto <strong>da</strong> nossa família<br />

que pretende fazer ponte com<br />

o projeto Esporão. O Felipe<br />

Oliveira Batista concebeu to<strong>da</strong> a<br />

indumentária dos funcionários<br />

do novo edifício do enoturismo,<br />

desde a receção à loja e<br />

restaurante. Também estamos a<br />

desenvolver uma linha de roupa<br />

e acessórios para vender na loja.<br />

É uma marca de uma pessoa<br />

que conheço pessoalmente, por<br />

cujo trabalho tenho uma grande<br />

admiração, e que, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />

partilha alguns valores com a<br />

marca Esporão.<br />

Depois de um percurso ligado<br />

à música, em 2006, decidiu<br />

abraçar o projeto familiar.<br />

Que balanço faz destes seis<br />

anos? O balanço é positivo. Achei<br />

que poderia ser útil ao projeto,<br />

propus um plano a cinco anos e<br />

fico satisfeito de ver que a visão<br />

defini<strong>da</strong> na altura, proposta por<br />

mim, melhora<strong>da</strong> e aprova<strong>da</strong> pelo<br />

conselho de administração e pelos<br />

acionistas, aconteceu. Os objetivos<br />

propostos foram atingidos, e em<br />

alguns deles até superámos as<br />

expectativas. Queríamos ter 40<br />

por cento do nosso negócio fora<br />

de Portugal e este ano chegámos<br />

aos 52. Outros estão em via de ser<br />

alcançados. Fechámos agora um<br />

plano para os próximos três anos,<br />

muito ambicioso na definição<br />

<strong>da</strong>quilo que é o futuro do projeto<br />

e desenvolvimento de negócios<br />

que o Esporão deverá explorar nos<br />

próximos anos.<br />

Quais os desafios? É,<br />

sobretudo, consoli<strong>da</strong>r a<br />

perspetiva do Esporão ser um<br />

produtor português de vinhos<br />

de excelência, de acreditarmos<br />

que Portugal é um sítio onde se<br />

produzem grandes vinhos e que<br />

merecemos um lugar no mundo<br />

em função <strong>da</strong>quilo que fazemos.<br />

Acreditamos que a proporção<br />

entre a quali<strong>da</strong>de dos vinhos, que<br />

se produzem em Portugal, e do<br />

esforço que é feito, ain<strong>da</strong> não se<br />

reflete na expressão que os vinhos<br />

portugueses têm no mundo. O<br />

Esporão acredita firmemente<br />

nisso e está empenhado em<br />

que isso aconteça, através <strong>da</strong><br />

afirmação <strong>da</strong>quilo que é a cultura<br />

portuguesa e a maneira de fazer<br />

vinhos em Portugal. Vamos fazer<br />

isto de uma forma sustentável,<br />

com um respeito muito grande<br />

pelo meio ambiente, garantindo<br />

que estaremos cá na próxima<br />

geração. Vamos trabalhar também<br />

os pontos relacionados com a<br />

proximi<strong>da</strong>de do consumidor.<br />

Para além <strong>da</strong> aposta no<br />

enoturismo, de que outras<br />

formas pretendem investir<br />

nessa relação de proximi<strong>da</strong>de?<br />

O negócio do vinho é um<br />

pouco fragmentado. Existem<br />

os viticultores, produtores,<br />

distribuidores, armazenistas,<br />

restaurantes, supermercados…<br />

por vezes sentimo-nos um pouco<br />

longe do consumidor e acredito<br />

que os consumidores também<br />

se sentem um pouco longe dos<br />

produtores. Queremos trabalhar<br />

isso ao nível <strong>da</strong> internet, mas<br />

também através <strong>da</strong> aposta no<br />

retalho de proximi<strong>da</strong>de e de<br />

conceitos novos que estão a<br />

aparecer. Já vemos, por exemplo,<br />

os grandes retalhistas a investirem<br />

e a recuperarem mercearias para<br />

fazerem lojas mais pequenas,<br />

com um tipo de serviço diferente.<br />

Estamos convencidos que essa vai<br />

ser claramente um tendência para<br />

o futuro e queremos liderar e estar<br />

à frente nesse sentido.<br />

Banco<br />

de castas<br />

O aquecimento global foi uma<br />

<strong>da</strong>s razões que levou o Esporão<br />

a plantar cerca de duas centenas<br />

de castas diferentes. Numa<br />

parcela de dez hectares estão<br />

to<strong>da</strong>s as varie<strong>da</strong>des do Alentejo e<br />

do Douro, as principais <strong>da</strong>s outras<br />

regiões vinícolas do país e ain<strong>da</strong><br />

as mais importantes de países<br />

como Espanha, França, Itália,<br />

Alemanha e Roménia. Algumas<br />

eram comuns na produção<br />

vinícola, mas caíram em desuso.<br />

É o caso <strong>da</strong>s castas Carignan,<br />

Grenache, Manteúdo, Moreto,<br />

Perrum e Amor-Não-Me-Deixes.<br />

Oferta vínica,<br />

turística e<br />

gastronómica<br />

Vinhas e adegas: Diversos<br />

programas de visitas às vinhas,<br />

adegas e caves com provas<br />

de vinhos, azeites e produtos<br />

regionais<br />

Gastronomia e vinhos: Vários<br />

géneros de provas e cursos<br />

vínicos<br />

Grupos e empresas: Workshops<br />

de ilustração <strong>da</strong> natureza e<br />

ativi<strong>da</strong>des de team-building<br />

Biodiversi<strong>da</strong>de: Passeios<br />

temáticos sobre avifauna e<br />

ativi<strong>da</strong>des de observação de aves<br />

Especiais <strong>2012</strong>: Programa <strong>da</strong>s<br />

vindimas; programa Her<strong>da</strong>de do<br />

Esporão – Monsaraz – Alqueva;<br />

programa visita ao Complexo<br />

Arqueológico dos Perdigões;<br />

fim-de-semana com curso vínico<br />

módulo “aromas” e iniciação ao<br />

wakeboard ou ski; dia ao ar livre<br />

com canoagem<br />

iNêS FERNANDES<br />

Vinhos de quali<strong>da</strong>de<br />

Solo alentejano<br />

com memória pioneira<br />

Sara<br />

Barreto<br />

Sob um sol alentejano, Reguengos<br />

de Monsarraz revela a côr <strong>da</strong> terra<br />

que se estende para além do horizonte,<br />

contrastando com os edifícios<br />

brancos que compõem a Her<strong>da</strong>de<br />

do Esporão. Aqui as vinhas<br />

imperam, minuciosamente controla<strong>da</strong>s<br />

por uma equipa de enólogos<br />

que analisa a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s uvas,<br />

por um sistema computorizado de<br />

controlo remoto, que através do sistema<br />

gota a gota é capaz de lhes fornecer<br />

a água, os nutrientes e quando<br />

necessários, medicamentos nas<br />

várias estações do ano.<br />

Adquiri<strong>da</strong> em 1973 pelos fun<strong>da</strong>dores<br />

<strong>da</strong> empresa Finagra-S.A, Joaquim<br />

<strong>da</strong> Bandeira e José Roquette, a<br />

Her<strong>da</strong>de conta com uma área total<br />

de 1.834 hectares, mantendo apro-<br />

Outrora um importante ponto de exportação<br />

de vinho para o império romano, hoje a her<strong>da</strong>de exporta<br />

50 por cento <strong>da</strong> sua produção para 56 países<br />

xima<strong>da</strong>mente as mesmas dimensões<br />

desde o seculo XIII. Apesar<br />

de ain<strong>da</strong> possuir vestígios <strong>da</strong> imponência<br />

do seculo XV, simbolizados<br />

pela conheci<strong>da</strong> Torre do Esporão,<br />

única em termos arquitetónicos e<br />

transforma<strong>da</strong> no logotipo <strong>da</strong> empresa,<br />

hoje a her<strong>da</strong>de ganha com a<br />

reabilitação de espaços novos.<br />

A primeira vinha foi planta<strong>da</strong> um<br />

ano depois <strong>da</strong> aquisição <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de,<br />

tendo esta hoje em dia<br />

600 hectares de uvas de 32 castas<br />

diferentes e 80 hectares de oliveira.<br />

Grandes investimentos nos anos<br />

noventa, tanto a nível de reestruturação<br />

de edifícios como de expansão<br />

do sistema gota-a-gota, abriram<br />

caminho para, em 2009, o grupo se<br />

transformar na marca Esporão, co-<br />

SARA BARRETO<br />

nheci<strong>da</strong> no mundo <strong>da</strong> vinicultura<br />

Apesar dos seus métodos modernos,<br />

o grupo Esporão S.A quis<br />

manter um toque de tradicionali<strong>da</strong>de,<br />

deixando crescer roseiras<br />

bravas em ca<strong>da</strong> extremo <strong>da</strong>s fileiras<br />

de vinha. Estes detetores naturais<br />

(pois seriam as primeiras a serem<br />

contamina<strong>da</strong>s por pragas devido a<br />

sua maior sensibili<strong>da</strong>de) perderam,<br />

no entanto, a sua importância devido<br />

à mutação <strong>da</strong>s doenças presentes<br />

nas floras, pondo em causa a sua<br />

fiabili<strong>da</strong>de e reduzindo as roseiras a<br />

símbolo.<br />

Naves e máquinas Entrando num<br />

primeiro armazém apercebemonos<br />

de que apenas alguém que<br />

conheça o local sabe orientar-se.


78 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 79<br />

Milhares de vinhas assemelham-se a pequenos indivíduos de braços estendidos à procura do calor do sol<br />

À medi<strong>da</strong> que subimos as esca<strong>da</strong>s<br />

deparamo-nos com um barulho de<br />

fundo. Um leve som de máquinas<br />

sincroniza<strong>da</strong>s que vai aumentando<br />

à medi<strong>da</strong> que nos dirigimos para o<br />

miradouro de vidro com vista para<br />

a nave <strong>da</strong>s máquinas do processo<br />

de enchimento e de acabamento.<br />

Estas embora interliga<strong>da</strong>s têm<br />

funções e capaci<strong>da</strong>des muito diferentes.<br />

As primeiras têm uma capaci<strong>da</strong>de<br />

para 11.000 garrafas por<br />

hora, e as segun<strong>da</strong>s, reestrutura<strong>da</strong>s<br />

em 2008, são capazes de rotular<br />

2.000 garrafas por segundo. Os rótulos<br />

são escolhidos com cui<strong>da</strong>do,<br />

tendo muitas vezes a participação<br />

de artistas, o que permite associar<br />

o vinho com a arte <strong>da</strong> música ou<br />

do cinema.<br />

A viagem continua para o local<br />

de armazenamento <strong>da</strong>s garrafas.<br />

A 30 metros de profundi<strong>da</strong>de e<br />

aproveitando a forma natural do<br />

terreno, a cave é sem dúvi<strong>da</strong> um<br />

lugar dramático. Com uma temperatura<br />

estabiliza<strong>da</strong> nos 16º/17º,<br />

serve de abrigo a 500.000 garrafas<br />

poeirentas e expostas em aduelas<br />

feitas a partir de barricas. Pouca<br />

luz e peças antigas conferem um<br />

ver<strong>da</strong>deiro ambiente tradicional,<br />

compatível com a imagem de exclusivi<strong>da</strong>de<br />

passa<strong>da</strong> pela empresa.<br />

As garrafas, ligeiramente inclina<strong>da</strong>s<br />

para impedir a secagem <strong>da</strong><br />

rolha, constituem uma prova <strong>da</strong><br />

evolução histórica de to<strong>da</strong>s as co-<br />

Pouca luz e peças<br />

antigas conferem<br />

um ver<strong>da</strong>deiro<br />

ambiente tradicional,<br />

compatível com<br />

a imagem de<br />

exclusivi<strong>da</strong>de<br />

passa<strong>da</strong> pela<br />

empresa<br />

lheitas produzi<strong>da</strong>s desde os anos<br />

oitenta, existindo inclusivamente<br />

uma garrafeira onde apenas são<br />

guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s as que se distinguem<br />

pela sua quali<strong>da</strong>de.<br />

O líquido passa por um processo<br />

de envelhecimento controlado, em<br />

que mu<strong>da</strong> de sabor e aroma, obtendo<br />

num determinado período<br />

de tempo as caraterísticas pretendi<strong>da</strong>s<br />

e aprecia<strong>da</strong>s pelos consumidores.<br />

A duração do estágio<br />

depende do vinho produzido, podendo<br />

necessitar de apenas alguns<br />

meses ou de longos anos de amadurecimento.<br />

À medi<strong>da</strong> que percorremos as<br />

instalações, avistamos os sinais<br />

“Atenção, pouco oxigénio” e “Barricas<br />

com mosto em fermentação:<br />

perigo de asfixia”, indicando proximi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s adegas. Considera<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s mais modernas <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />

foram construí<strong>da</strong>s em 1987. Têm<br />

em funcionamento três linhas. A<br />

primeira produz o Esporão e Monocastas<br />

tintas, com cubas com<br />

uma capaci<strong>da</strong>de de 16.000 tone-<br />

FOTOS: iNêS FERNANDES<br />

la<strong>da</strong>s. A segun<strong>da</strong> tem uma capaci<strong>da</strong>de<br />

de 31.000 tonela<strong>da</strong>s e produz<br />

os vinhos Defesa e Montevelho, o<br />

primeiro conhecido pela sua quali<strong>da</strong>de<br />

superior e o segundo pela<br />

sua relação quali<strong>da</strong>de-preço. E finalmente<br />

a terceira, com 44.000<br />

tonela<strong>da</strong>s de capaci<strong>da</strong>de e com a<br />

particulari<strong>da</strong>de de ter extração automática,<br />

produz o Esporão Reserva<br />

e monovarietais.<br />

Subindo esca<strong>da</strong>s, e quando pensávamos<br />

ter visto to<strong>da</strong>s as garrafas<br />

<strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do Esporão, somos<br />

confrontados com um grande<br />

túnel com funções semelhantes.<br />

Igualmente impressionante, este<br />

abriga 1.500 barricas feitas de carvalho<br />

americano, com um valor<br />

monetário de 1.200 euros a uni<strong>da</strong>de<br />

e contendo cerca de 225 litros<br />

ca<strong>da</strong>. Acompanhando o comprimento<br />

do túnel, as barricas estão<br />

expostas umas ao lado <strong>da</strong>s outras<br />

e nelas está gravado o logotipo <strong>da</strong><br />

marca assim como a casta do vinho<br />

que contém. Agora, basta degustar<br />

varie<strong>da</strong>des e escolher pala<strong>da</strong>res.<br />

Responsabili<strong>da</strong>de social<br />

na Her<strong>da</strong>de do Esporão<br />

A Her<strong>da</strong>de do Esporão alimenta<br />

uma política empresarial através<br />

<strong>da</strong> qual pretende ir além <strong>da</strong> mera<br />

produção. Quer estar em paz<br />

com a natureza e procura assumir<br />

um papel mais relevante na<br />

comuni<strong>da</strong>de.<br />

Comprometi<strong>da</strong> com o ambiente<br />

e a apostar ca<strong>da</strong> vez mais em<br />

ações de cariz social, a empresa<br />

de vinhos Her<strong>da</strong>de do Esporão<br />

defende a obrigação moral <strong>da</strong><br />

partilha do lucro. Por isso, aderiu a<br />

iniciativas ambientais promovi<strong>da</strong>s<br />

pela União Europeia (UE) como<br />

o Countdown 2010 e investiu<br />

na recuperação <strong>da</strong> Her<strong>da</strong>de do<br />

Perdigão na região do Alentejo.<br />

A iniciativa Countdown 2010<br />

inseriu-se no programa “Parar<br />

a per<strong>da</strong> de Biodiversi<strong>da</strong>de até<br />

2010”, que foi lançado pela<br />

presidência portuguesa <strong>da</strong> União<br />

Europeia, em 2008. Tem como<br />

objetivo impedir a per<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

biodiversi<strong>da</strong>de a nível não só local<br />

mas também nacional e global.<br />

No seguimento destes objetivos,<br />

a empresa contratou uma equipa<br />

de biólogos para identificar que<br />

diferentes espécies existem ao<br />

nível <strong>da</strong> fauna e flora na Her<strong>da</strong>de<br />

do Esporão que tem também um<br />

projeto florestal. Este consiste<br />

na plantação de azinheiras que<br />

foram derruba<strong>da</strong>s no seguimento<br />

do projeto Parque Alqueva. A<br />

her<strong>da</strong>de assumiu o compromisso<br />

de as plantar dentro <strong>da</strong>s suas<br />

imediações.<br />

Devido ao aquecimento<br />

global, o ciclo de maturação e<br />

produção do vinho tem vindo a ser<br />

alterado, tendo a Her<strong>da</strong>de vindo<br />

a vindimar ca<strong>da</strong> vez mais cedo.<br />

Contudo, a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s uvas<br />

não tem sofrido alterações devido<br />

ao aumento <strong>da</strong>s temperaturas<br />

máximas.<br />

A Her<strong>da</strong>de tem também “uma<br />

política de preservação <strong>da</strong> água<br />

não só nos consumos dentro <strong>da</strong>s<br />

próprias adegas como também ao<br />

nível <strong>da</strong>s barragens” e participa<br />

na iniciativa Agen<strong>da</strong> 21 (projeto<br />

local) em parceria com a Câmara<br />

Municipal de Reguengos de<br />

Monsaraz através <strong>da</strong> qual está a<br />

implementar o projeto “Plantar”,<br />

no qual se procura apoiar o<br />

investimento em mais árvores.<br />

Incentivando vários projetos locais<br />

como a creche municipal<br />

e empreendimentos<br />

arqueológicos, a gestão <strong>da</strong><br />

her<strong>da</strong>de procura estar atenta aos<br />

seus parceiros de caminha<strong>da</strong><br />

estratégica. Joana Oliveira


80 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 81<br />

Turismo industrial em Vila Viçosa<br />

Combater a<br />

crise na rota<br />

<strong>da</strong> pedra<br />

Catarina<br />

Benedito<br />

A extração e a transformação<br />

do mármore é quase indústria<br />

única no concelho, mas está a<br />

atravessar “uma crise profun<strong>da</strong>”.<br />

O turismo pode abrir novas<br />

portas à capital do mármore<br />

numa estratégia concerta<strong>da</strong><br />

Vila Viçosa, Borba, Estremoz, Alandroal<br />

e Sousel preparam-se para receber<br />

no início de Setembro deste<br />

ano o projeto Tons de Pedra incluído<br />

na Rota do Património Industrial do<br />

Alentejo que promove visitas a pedreiras<br />

e a fábricas de transformação<br />

de mármores nos vários concelhos<br />

alentejanos. O Museu do Mármore<br />

de Vila Viçosa está a ser reformulado<br />

num espaço aberto e vai mu<strong>da</strong>r para<br />

uma antiga pedreira com o intuito<br />

de mostrar a evolução no setor do<br />

mármore ao longo dos anos.<br />

O presidente <strong>da</strong> Enti<strong>da</strong>de Regional<br />

do Turismo do Alentejo, António<br />

Ceia <strong>da</strong> Silva considera que este<br />

é um “roteiro apelativo e diferenciador”<br />

que tem como missão “conquistar<br />

mercado, valorizar o produto<br />

endógeno <strong>da</strong> região e trazer mais turistas”.<br />

E sublinha que Portugal tem<br />

“recursos patrimoniais fantásticos”,<br />

logo a aposta passa por criar novos<br />

produtos turísticos apelativos.<br />

Embora considere que o turismo<br />

industrial seja “um produto muito<br />

específico” e uma forma de “turis-<br />

mo de risco controlado”, Ceia <strong>da</strong><br />

Silva está confiante no êxito desta<br />

rota a nível nacional e internacional.<br />

“Não tenho dúvi<strong>da</strong>s de que vai ser<br />

um sucesso”. Também o presidente<br />

<strong>da</strong> Câmara Municipal de Vila Viçosa<br />

(CMVV), Luís Caldeirinha<br />

Roma garante que “os principais<br />

locais de interesse <strong>da</strong> rota estão em<br />

Vila Viçosa” e considera que este<br />

roteiro irá atrair mais turismo para<br />

a região. “A sensação de ir ao fundo<br />

de uma pedreira a 80 metros ou de<br />

presenciar uma pedreira em túnel<br />

por dentro do chão são experiências<br />

que depois de vivi<strong>da</strong>s ficam efetivamente<br />

na memória”, afirma.<br />

O projeto Tons de Pedra está inserido<br />

no Programa de Valorização<br />

Económica de Recursos Endógenos<br />

(PROVERE) <strong>da</strong> Zona dos<br />

Mármores no âmbito do Quadro<br />

de Referência Estratégico Nacional<br />

(QREN).<br />

Ain<strong>da</strong> este ano, Portugal organiza<br />

e recebe a 4ª edição do Global Stone<br />

Congress, entre os dias 16 e 20 Julho,<br />

nos concelhos de Borba, Estremoz<br />

e Vila Viçosa. Um evento mundial<br />

que reúne vários especialistas de<br />

diferentes países ligados ao setor<br />

<strong>da</strong> pedra natural, com o objetivo de<br />

criar um espaço de discussão e de<br />

divulgação dos avanços científicos<br />

e tecnológicos no domínio desta<br />

indústria.<br />

Uma <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des organizadoras<br />

deste congresso é o Centro Tecnológico<br />

para o Aproveitamento e Valorização<br />

<strong>da</strong>s Rochas Ornamentais<br />

e Industriais (CEVALOR) criado<br />

em 1990 com o objetivo de apoiar<br />

e desenvolver projetos de investigação<br />

e de formação especializa<strong>da</strong> no<br />

setor marmorista. Aquando <strong>da</strong> sua<br />

criação, o CEVALOR recebeu fundos<br />

comunitários no valor de 3 166<br />

780,35€ no âmbito do Programa<br />

Estratégico de Dinamização e Modernização<br />

<strong>da</strong> Indústria Portuguesa<br />

(PEDIP I).<br />

Diminução <strong>da</strong>s exportações O acentuado<br />

decréscimo <strong>da</strong> procura de pedra<br />

mármore em Vila Viçosa e a consequente<br />

diminuição do volume de<br />

exportações desde 2009 têm revelado<br />

sinais crescentes <strong>da</strong> crise no setor.<br />

Segundo o presidente <strong>da</strong> CMVV,<br />

Luís Caldeirinha Roma, em causa<br />

está a “conjuntura internacional negativa”.<br />

Os principais importadores<br />

de mármore de Vila Viçosa eram,<br />

em primeiro lugar, os países árabes,<br />

a seguir a <strong>Europa</strong>, com destaque para<br />

França e, por fim, o Norte de África.<br />

“No ano passado, houve a que<strong>da</strong> de<br />

vários regimes desde o Egipto, à Argélia<br />

e à Líbia e todos eles eram um<br />

mercado que comprava muito mármore<br />

e que teve uma quebra acentua<strong>da</strong>.<br />

Os chineses também não nos<br />

aju<strong>da</strong>m”, afirma Caldeirinha Roma.<br />

E acrescenta que o único país que<br />

continua a consumir mármore no<br />

Norte de África é Marrocos, mas<br />

sem a expressão de outros tempos.<br />

“Os mármores têm vindo a perder<br />

peso face aos calcários, à cerâmica<br />

e às pedras sintéticas, mas<br />

nos últimos dezoito meses a quebra<br />

foi mais acentua<strong>da</strong> e evidente para<br />

quem acompanha o setor”. Quem<br />

o diz é Luís Lopes, professor au-<br />

FOTOS: lUÍS lOPES<br />

Aspecto geral de exploração subterrânea. lagoa, Vila Viçosa<br />

xiliar do departamento de Geociências<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Évora<br />

que considera que “a concorrência<br />

internacional, muitas vezes desleal,<br />

em termos de preço dos produtos”<br />

é decisiva para que o mármore seja<br />

preterido em relação a outros materiais<br />

mais baratos. Mas este não é<br />

o único fator que concorreu para a<br />

crise. “Durante muito tempo houve<br />

uma falta de corporativismo e de<br />

agressivi<strong>da</strong>de económica conjunta<br />

nos mercados. Por outro lado, a estagnação<br />

nos produtos oferecidos e<br />

a aposta em fabricar tamanhos stan<strong>da</strong>rd<br />

está atualmente a prejudicar a<br />

indústria de transformação de mármores”,<br />

afirma.<br />

Estratégia a curto prazo O atual<br />

período recessivo que a economia<br />

portuguesa atravessa também não<br />

tem aju<strong>da</strong>do. “Não se trata de um<br />

bem de primeira necessi<strong>da</strong>de e em<br />

tempos de crise as alternativas mais<br />

baratas como a cerâmica e ou os<br />

calcários e granitos são preferidos”,<br />

afirma Luís Lopes. “A falta de en-<br />

Da terra rossa<br />

à pedra branca<br />

única<br />

A extração do mármore – que<br />

significa “pedra de quali<strong>da</strong>de” ou<br />

“pedra branca” – em Vila Viçosa<br />

remonta ao período romano<br />

existindo ain<strong>da</strong> vestígios desta<br />

ativi<strong>da</strong>de no castelo <strong>da</strong> vila. O<br />

processo extrativo já não é o que<br />

era. “Começa-se por destapar o<br />

mármore, <strong>da</strong>do que geralmente<br />

existe uma capa de alteração<br />

avermelha<strong>da</strong>, conheci<strong>da</strong> por terra<br />

rossa, que resulta <strong>da</strong> própria<br />

alteração do mármore. Em segui<strong>da</strong><br />

é necessário recorrer à perfuração,<br />

com ‘jumbos’ e martelos<br />

pneumáticos, que permite a<br />

instalação de um fio com ‘pérolas’<br />

diamanta<strong>da</strong>s que irá cortar o<br />

mármore. Individualiza<strong>da</strong>s as<br />

massas do afloramento, procedese<br />

ao seu esquadrejamento”,<br />

conta Luís Lopes. Na foto, o<br />

dimensionamento em blocos cujo<br />

tamanho máximo ideal seria de<br />

3mx2mx2m, mas que raramente<br />

atingem estas dimensões. Os<br />

blocos podem ser vendidos em<br />

bruto, mas normalmente são<br />

encaminhados para uma fábrica<br />

para serem transformados em<br />

chapa ou para entrarem numa<br />

linha de produção de ladrilho e/ou<br />

mosaico.<br />

A sua “extremamente baixa<br />

porosi<strong>da</strong>de” e “a grande<br />

resistência à flexão, que<br />

permite a execução de peças<br />

com espessuras reduzi<strong>da</strong>s,<br />

a diafanei<strong>da</strong>de, ou seja, a<br />

translucidez que apresenta<br />

mesmo em placas com dois<br />

centímetros, e, sobretudo, o<br />

brilho inigualável entre as pedras<br />

estrangeiras similares” são as<br />

principais caraterísticas que o<br />

professor universitário destaca no<br />

mármore existente no concelho<br />

de Vila Viçosa.


82 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 83<br />

comen<strong>da</strong>s de mármores coloca em<br />

perigo postos de trabalho e, em última<br />

instância, leva ao fecho de empresas,<br />

como aliás tem acontecido”,<br />

conclui.<br />

Uma estratégia de curto prazo na<br />

“intensa ativi<strong>da</strong>de extrativa fez com<br />

que atualmente as massas explora<strong>da</strong>s<br />

se encontrem mais profun<strong>da</strong>s, pelo<br />

que os custos de extração são mais<br />

elevados”, acrescenta. “Os ciclos mineiros<br />

de extração são mais demorados<br />

e requerem um maior consumo<br />

de energia que também não pára de<br />

subir. Daqui resultam custos acrescidos<br />

que diminuem a já reduzi<strong>da</strong><br />

taxa de lucro que as empresas têm e,<br />

assim, ficam sem qualquer margem<br />

para se ajustarem de imediato a oscilações<br />

de preços no mercado.”<br />

Mas Luís Lopes sabe que o mercado<br />

tem leis competitivas. “Deve<br />

evitar-se reduzir o preço de ven<strong>da</strong> do<br />

mármore senão as ditaduras do mercado<br />

obrigarão a que a curto prazo se<br />

comece a vender esta pedra abaixo<br />

dos custos de produção de forma<br />

permanente, levando a uma agudização<br />

dos problemas e ao colapso do<br />

setor <strong>da</strong>s rochas ornamentais.”<br />

Embora a procura de mármore<br />

tenha sofrido uma quebra significativa<br />

tal não se deve à escassez<br />

desta pedra. “Temos reservas para<br />

variadíssimos anos”, confirma o presidente<br />

<strong>da</strong> CMVV, no ativo desde<br />

Novembro de 2009. “Vila Viçosa<br />

já teve cerca de 500 explorações de<br />

mármore. Agora deve ter 50 ”, revela<br />

o autarca que considera que o município<br />

está demasiado dependente<br />

desta ativi<strong>da</strong>de. “Há muito que<br />

Vila Viçosa devia ter invertido esta<br />

mono ativi<strong>da</strong>de económica, porque<br />

hoje, tal como há 20 anos vive dependente<br />

do mármore, o que é um<br />

erro.” Mas sabe que é difícil mu<strong>da</strong>r o<br />

rumo de gerações dedica<strong>da</strong>s quase<br />

em exclusivo ao mármore. “Eu arrisco<br />

dizer que 90 ou mais por cento<br />

<strong>da</strong>s pessoas de Vila Viçosa vivem à<br />

conta do mármore mesmo que não<br />

trabalhem diretamente no setor”,<br />

sublinha.<br />

Em “Recursos Naturais – Rochas<br />

Ornamentais: o Mármore”, Luís Lopes<br />

escreve que “em 2005 Portugal<br />

ain<strong>da</strong> ocupava o oitavo lugar mundial<br />

como produtor de mármore<br />

com uma produção aproxima<strong>da</strong><br />

de três milhões de tonela<strong>da</strong>s, cerca<br />

de um décimo do primeiro produtor<br />

– a China”. Os últimos <strong>da</strong>dos<br />

oficiais de que dispõe remontam a<br />

2007, ano em que Portugal ocupava<br />

o nono lugar entre os países produtores,<br />

tendo sido ultrapassado pelo<br />

Egipto. “Se se considerar a produção<br />

per capita ain<strong>da</strong> estaremos um primeiro<br />

lugar. O número de pedreiras<br />

de mármores em laboração contínua<br />

não chegará às 40”, conclui.<br />

Resposta ao desemprego Caldeirinha<br />

Roma não tem dúvi<strong>da</strong>s. “O<br />

desemprego hoje em Vila Viçosa<br />

deve-se única e exclusivamente<br />

à falta de procura do mármore e<br />

não à introdução de maquinaria e<br />

de novas tecnologias, antes pelo<br />

contrário.” E acrescenta que é necessário<br />

influenciar os decisores e<br />

os especialistas para tentar garantir<br />

que o número de ven<strong>da</strong>s aumente.<br />

“Ninguém põe uma pedra mármore<br />

se não for um arquiteto ou um designer<br />

a propor isso.”<br />

O presidente de Vila Viçosa defende<br />

a necessi<strong>da</strong>de de criação de<br />

“uma agência de desenvolvimento<br />

que consiga reunir todos os intervenientes<br />

– autarquia, representantes<br />

do estado, dos empresários, de outros<br />

movimentos ligados à pedra”.<br />

Em primeiro lugar, é necessário haver<br />

uma definição clara sobre qual o<br />

rumo que o setor deve seguir e logo<br />

se poderá “aju<strong>da</strong>r as empresas na<br />

internacionalização, na comerciali-<br />

Alentejo<br />

Marmoris Hotel<br />

e SPA abre em<br />

Setembro<br />

Vila Viçosa prepara-se para<br />

receber um hotel inteiramente<br />

dedicado ao mármore. A<br />

uni<strong>da</strong>de hoteleira teve um<br />

investimento total de 6,5 milhões<br />

de euros, tendo beneficiado de<br />

4,2 milhões de euros de fundos<br />

comunitários de apoio ao turismo<br />

através do Quadro de Referência<br />

Estratégico Nacional (QREN).<br />

O hotel de cinco estrelas, com<br />

abertura prevista para Setembro,<br />

começou a ser construído no<br />

final de 2009 no edifício do<br />

antigo lagar <strong>da</strong> Cooperativa<br />

de Olivicultores de Vila Viçosa<br />

e pode garantir 22 postos de<br />

trabalho. Quer ser uma “montra<br />

viva do que se pode fazer com o<br />

mármore” segundo o presidente<br />

<strong>da</strong> CMVV. C.B.<br />

zação dos produtos e no desenvolvimento<br />

de novas tecnologias”. Identificar<br />

problemas, traçar objetivos e<br />

seguir estratégias é o que a autarquia<br />

de Vila Viçosa e os seus parceiros<br />

sabem ser uma mu<strong>da</strong>nça necessária.<br />

E acrescenta: “A única estratégia <strong>da</strong><br />

Câmara é atenuar o desemprego e<br />

potencializar a criação de desenvolvimento<br />

e de riqueza.”<br />

Segundo Luís Lopes “o mármore<br />

deverá ser encarado como um<br />

material nobre, único e símbolo de<br />

quali<strong>da</strong>de por excelência”, sendo necessário<br />

apostar ca<strong>da</strong> vez mais na sua<br />

valorização. Por outro lado, o professor<br />

universitário considera que a<br />

nível nacional “deveriam adotar-se<br />

medi<strong>da</strong>s protecionistas, não só para<br />

os mármores, mas para to<strong>da</strong>s as pedras<br />

portuguesas, através de incentivos<br />

à sua utilização” à semelhança<br />

do que já é praticado noutros países.<br />

Do ponto de vista internacional,<br />

Luís Lopes acha que “o estabelecimento<br />

de consórcios é crucial para a<br />

sobrevivência do setor”, em especial<br />

em mercados de países emergentes<br />

do ponto de vista económico, como<br />

é o caso do Brasil, de Angola ou de<br />

Timor, com os quais Portugal tem<br />

relações privilegia<strong>da</strong>s.<br />

Embora tenha sido um setor que<br />

beneficiou de forma significativa<br />

de fundos comunitários, nomea<strong>da</strong>mente<br />

partir de 1986, ano em que<br />

Portugal entrou na CEE, com o principal<br />

objetivo de inovar tecnologicamente<br />

as indústrias transformadoras<br />

de mármore na região, Caldeirinha<br />

Roma confessa que “não tem havido,<br />

nestes dois últimos anos, fundos<br />

para o setor, pelo contrário, as coisas<br />

têm estado praticamente para<strong>da</strong>s”.<br />

A vontade de “chamar a atenção<br />

dos decisores para a aplicação do<br />

mármore” tem animado iniciativas<br />

do município de Vila Viçosa em<br />

parceria com outros organismos.<br />

“Stone Project”, a 1ª Bienal Internacional<br />

<strong>da</strong> Pedra, realiza<strong>da</strong> em Outubro<br />

último, foi fruto desta aposta <strong>da</strong><br />

CMVV com a Facul<strong>da</strong>de de Arquitetura<br />

de Lisboa e a Universi<strong>da</strong>de de<br />

Évora. O debate juntou estu<strong>da</strong>ntes,<br />

arquitetos, engenheiros, urbanistas,<br />

geólogos e paisagistas durante uma<br />

semana. Também artistas plásticos,<br />

filósofos, antropólogos, sociólogos,<br />

economistas e políticos que tiveram<br />

oportuni<strong>da</strong>de de refletir sobre<br />

as possibili<strong>da</strong>des de utilização do<br />

mármore no território, na arte, na<br />

arquitetura e no design.<br />

Vila Viçosa quer contrariar séculos de costas vira<strong>da</strong>s<br />

Viver na fronteira<br />

Fabíola<br />

Maciel<br />

Quem chega a Vila Viçosa vê casas<br />

de pedra, laranjeiras planta<strong>da</strong>s nos<br />

passeios e um castelo. Dentro desse<br />

monumento residem histórias<br />

de tempos longínquos que hoje se<br />

transformam em reali<strong>da</strong>de. A I Feira<br />

Medieval retrata lugares mágicos,<br />

trajes coloridos, mulheres com coroas<br />

de flores. Esta Feira mostra um<br />

povo do presente que não esquece<br />

o seu passado.<br />

Passados vários séculos, a Vila<br />

decidiu honrar as suas origens com<br />

a realização de uma Feira Medieval.<br />

Cerca de 250 pessoas proporcionaram<br />

aos visitantes um fim-de-semana<br />

único, em que, segundo José<br />

Alberto Parraça, organizador do<br />

evento, “foi possível mostrar o que<br />

Vila Viçosa tem de tão especial”.<br />

A concretização <strong>da</strong> Feira teve o<br />

Vila Viçosa já foi française, falou español mas é desde<br />

1217 oficialmente portuguesa. Separados apenas por<br />

quarenta quilómetros, os inimigos de outrora são hoje<br />

parceiros de negócios e de convívio<br />

apoio de fundos comunitários do<br />

Programa ARQUIVIA, que se destina<br />

apenas à utilização <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des<br />

ou vilas que integram a “Rede Medieval”.<br />

José Alberto Parraça considera<br />

que “é uma mais-valia que<br />

a autarquia possa usufruir desses<br />

fundos para aplicar em ativi<strong>da</strong>des<br />

de âmbito medieval”.<br />

Inimigos tornam-se parceiros<br />

“Os portugueses não gostam <strong>da</strong><br />

subjugação aos espanhóis”. As palavras<br />

são de Luís Caldeirinha Roma,<br />

presidente <strong>da</strong> Câmara Municipal de<br />

Vila Viçosa, e não deixam dúvi<strong>da</strong>s<br />

quanto ao passado de sofrimento.<br />

Por este motivo, hoje ain<strong>da</strong> existem<br />

indícios de resistência à ocupação<br />

espanhola e não a tentativa de esconder<br />

as lutas.<br />

RiTA OliVEiRA<br />

Contudo, as atitudes mu<strong>da</strong>ram.<br />

“Vila Viçosa quer contrariar séculos<br />

de costas vira<strong>da</strong>s e está de laços<br />

muito ligados a Espanha”, realça o<br />

presidente. O município tem geminações<br />

com as Astúrias, Córdoba,<br />

Ódon e Sigüenza e integra a “Rede<br />

de Ci<strong>da</strong>des e Vilas Medievais” <strong>da</strong><br />

União Europeia. Com dez municípios<br />

espanhóis e dois portugueses,<br />

sendo o outro Marvão, a rede<br />

estratégica pretende promover o<br />

turismo, aproveitar o património<br />

medieval e potencializar as regiões.<br />

Ca<strong>da</strong> munícipio tem um contributo<br />

anual de 1.500 euros e em troca<br />

recebe fundos comunitários para<br />

o seu próprio desenvolvimento.<br />

Atualmente, Santa Maria <strong>da</strong> Feira,<br />

Caminha, Reguengos de Monsaraz,<br />

Tomar e Miran<strong>da</strong> do Douro já efe-<br />

Vila Viçosa<br />

recebeu o foral<br />

de D. Afonso iii,<br />

em 1270


FOTOS: RiTA OliVEiRA<br />

Em cima,<br />

a i Feira<br />

Medieval<br />

decorreu nos<br />

dias 30, 31 de<br />

Março e 1 de<br />

Abril de <strong>2012</strong><br />

Em baixo, a<br />

“Capital do<br />

Mármore”<br />

integra a Rede<br />

de Ci<strong>da</strong>des e<br />

Vilas Medievais<br />

<strong>da</strong> União<br />

Europeia<br />

84 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 85<br />

tuaram a pré-candi<strong>da</strong>tura e alguns<br />

municípios franceses também ambicionam<br />

integrar a Rede.<br />

Uma vila de e para jovens A “Capital<br />

do Mármore” tem, segundo<br />

os Censos de 2011, mais de oito<br />

mil habitantes e uma forte ligação<br />

ao Turismo. “Vila Viçosa oferece<br />

uma vi<strong>da</strong> de terra pequena, onde<br />

há tempo para disfrutar do diaa-dia<br />

com muita quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong>”, salienta Luís Caldeirinha<br />

Roma. Desta forma, não existe<br />

uma fuga generaliza<strong>da</strong> dos jovens,<br />

já que “é uma ci<strong>da</strong>de aberta<br />

que ain<strong>da</strong> tem soluções em muitas<br />

áreas, basta insistir, inovar e<br />

criar”.<br />

A ci<strong>da</strong>de sente repercussões <strong>da</strong><br />

crise económica do país e, por<br />

isso, os calipolenses fazem visitas<br />

frequentes a Espanha em busca<br />

de produtos mais baratos. Por<br />

outro lado, também os espanhóis<br />

visitam a região por motivos gastronómicos.<br />

O presidente con-<br />

fessa “esperar que as dificul<strong>da</strong>des<br />

espanholas que se apregoam não<br />

venham a diminuir as suas visitas<br />

a Portugal”.<br />

Terra portuguesa, com certeza<br />

Diz o ditado que “quem bebe<br />

água de Vila Viçosa acaba por ficar”.<br />

Paulo Ribeiro, natural de Rio<br />

Maior, fez o serviço militar na região<br />

e, há dezassete anos, acabou<br />

por se mu<strong>da</strong>r definitivamente,<br />

porque “o Alentejo é um diamante<br />

em bruto que precisa de ser lapi<strong>da</strong>do”.<br />

As tradições, a história e as gentes<br />

fazem <strong>da</strong> região um ponto de<br />

encontro com “gente simpática,<br />

afável, mas também cosmopolita”,<br />

defende o historiador João Tavares.<br />

Gente que não tem dúvi<strong>da</strong>s sobre<br />

a sua identi<strong>da</strong>de. “Somos portugueses<br />

com muita honra”, realça<br />

Joaquim Viegas. “Somos mesmo<br />

portugueses, sem dúvi<strong>da</strong>”, diz Paulo<br />

Ribeiro com a mesma convicção<br />

de quem poderia lá ter nascido.<br />

Feriado <strong>da</strong><br />

Restauração é<br />

inquestionável na<br />

história de Vila<br />

Viçosa<br />

Para contar a história desta Vila,<br />

é preciso mu<strong>da</strong>r-lhe o nome. Vila<br />

Viçoso, assim se intitulava antes<br />

do foral de D. Afonso III, em<br />

1270, foi ocupa<strong>da</strong> por romanos<br />

e muçulmanos durante vários<br />

séculos. O ponto de viragem<br />

aconteceu com D. Afonso II,<br />

“O Gordo”, que trava duras<br />

batalhas na defesa <strong>da</strong> Península<br />

Ibérica contra os invasores e na<br />

conquista definitiva <strong>da</strong> terra dos<br />

calipolenses.<br />

No século XIV, D. João I<br />

de Castela entra de novo em<br />

guerra com Portugal na luta<br />

pelos territórios fronteiriços. A<br />

população de Vila Viçosa acolhe<br />

e incentiva as tropas, lidera<strong>da</strong>s<br />

por Nuno Álvares Pereira, para<br />

a Batalha dos Atoleiros, onde<br />

se consagrou a vitória lusitana.<br />

Após a Batalha de Aljubarrota, em<br />

1385, a Vila integra o Ducado de<br />

Bragança e começa a descobrir<br />

os hábitos corteses, que se<br />

acentuam quando se torna<br />

residência oficial de férias dos<br />

monarcas.<br />

A região enfrentou alguns<br />

percalços como a soberania <strong>da</strong><br />

dinastia Filipina e as Invasões<br />

Francesas, em que a vila foi<br />

saquea<strong>da</strong> pelas tropas de<br />

Napoleão durante algum tempo.<br />

Joaquim Viegas, calipolense<br />

de nascença, vai mais longe e<br />

defende que “se o Primeiro de<br />

Dezembro deixar de ser feriado<br />

nacional deve tornar-se feriado<br />

municipal, porque a restauração<br />

<strong>da</strong> independência pertence-nos”.<br />

Termina<strong>da</strong>s as lutas, Vila Viçosa<br />

foi brin<strong>da</strong><strong>da</strong> com um final feliz.<br />

Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong><br />

Património<br />

em apreciação<br />

Cátia<br />

Rodrigues<br />

A candi<strong>da</strong>tura <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong><br />

a Património Cultural e Natural<br />

Mundial <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de será aprecia<strong>da</strong><br />

na Assembleia Mundial do<br />

Comité <strong>da</strong> UNESCO, que se reúne<br />

para deliberar em Fevereiro do próximo<br />

ano. Compreende o território<br />

desde o morro do Castelo de Palmela<br />

até ao Cabo Espichel, incluindo o<br />

Parque Marinho Luiz Sal<strong>da</strong>nha.<br />

O processo <strong>da</strong> candi<strong>da</strong>tura foi<br />

iniciado em 2001 e tem sido conduzido<br />

pela Associação de Municípios<br />

de Setúbal (AMRS). Em 2004, Arrábi<strong>da</strong><br />

foi incluí<strong>da</strong> na lista indicativa<br />

portuguesa a Património Mundial<br />

Natural, mas em 2009 a candi<strong>da</strong>tura<br />

sofreu uma alteração. A Comissão<br />

Nacional <strong>da</strong> UNESCO sugeriu que<br />

a Arrábi<strong>da</strong> se candi<strong>da</strong>tasse não só a<br />

património natural, mas também a<br />

património cultural, fazendo desta<br />

uma candi<strong>da</strong>tura mista (situação<br />

única em Portugal.).<br />

A AMRS envolveu no processo<br />

a população dos concelhos que integram<br />

a Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong>, Setúbal,<br />

Palmela e Sesimbra. O passado<br />

mês de Abril foi dedicado a sessões<br />

de discussão pública nos três concelhos.<br />

A <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> esteve<br />

presente na discussão pública que<br />

decorreu dia 15 de Abril, em Setúbal.<br />

A cimenteira Secil, localiza<strong>da</strong> no<br />

parque natural <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong>,<br />

constituiu um tema incontornável.<br />

As preocupações são muitas<br />

e a população teme que a cimenteira<br />

possa prejudicar a candi<strong>da</strong>tura.<br />

Os ci<strong>da</strong>dãos dos concelhos que integram a<br />

Serra <strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong> esperam que a beleza natural<br />

e o património cultural constituam um fator de<br />

dinamização e desenvolvimento <strong>da</strong> região<br />

Com estatuto de parque natural<br />

desde 1976, a laboração <strong>da</strong> cimenteira<br />

no Outão tem suscitado grande<br />

contestação. Os estragos na serra<br />

são visíveis e isso pode constituir o<br />

“calcanhar de Aquiles” nesta candi<strong>da</strong>tura.<br />

Maria <strong>da</strong>s Dores Meira, presidente<br />

<strong>da</strong> Câmara Municipal de Setúbal,<br />

esclarece que a zona <strong>da</strong> cimenteira<br />

e <strong>da</strong>s pedreiras foi excluí<strong>da</strong> do perímetro<br />

a classificar e que a própria<br />

Secil tem feito grandes esforços no<br />

sentido de reflorestar as áreas que<br />

vai destruindo.<br />

A outra questão levanta<strong>da</strong> pelos<br />

ci<strong>da</strong>dãos foi a potenciali<strong>da</strong>de turística<br />

<strong>da</strong> serra. O plano de gestão<br />

já elaborado dedica grande parte<br />

dos seus objetivos, precisamente,<br />

à exploração turística, de pequena<br />

escala, do património em causa.<br />

Tal como declara João Afonso, co-<br />

NUNO OliVEiRA/PUBliCO<br />

ordenador técnico <strong>da</strong> AMRS, “a<br />

Serra tem imensas potenciali<strong>da</strong>des<br />

que vão dos queijos, ao vinho, às<br />

praias, à pitoresca vila de Azeitão,<br />

a passeios pedestres por to<strong>da</strong> a cordilheira,<br />

aos passeios de barco no<br />

estuário do Sado acompanhando os<br />

golfinhos, aos castelos e conventos,<br />

às ruínas romanas e até mesmo às<br />

pega<strong>da</strong>s de dinossauros”.<br />

A Arrábi<strong>da</strong> é um espaço natural<br />

de grande beleza e já foi distingui<strong>da</strong><br />

mais do que uma vez. A baía do Portinho<br />

<strong>da</strong> Arrábi<strong>da</strong> já é classifica<strong>da</strong><br />

como uma <strong>da</strong>s dez mais belas baías<br />

do mundo e é também considera<strong>da</strong><br />

uma <strong>da</strong>s sete maravilhas naturais<br />

de Portugal. Numa região ca<strong>da</strong> vez<br />

mais afeta<strong>da</strong> pelo desemprego, os<br />

intervenientes esperam, que, a ser<br />

aprova<strong>da</strong> a candi<strong>da</strong>tura, a Serra <strong>da</strong><br />

Arrábi<strong>da</strong> possa servir como polo<br />

dinamizador e de desenvolvimento.<br />

Serra <strong>da</strong><br />

Arrábi<strong>da</strong> tem<br />

estatuto de<br />

parque natural<br />

desde 1976


86 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 87<br />

Alterações climáticas<br />

“Sul <strong>da</strong> <strong>Europa</strong><br />

e regiões<br />

mediterrânicas<br />

são as zonas<br />

mais vulneráveis”<br />

Sónia<br />

de Almei<strong>da</strong><br />

Pela primeira vez na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de<br />

desde o início <strong>da</strong> Revolução<br />

Industrial, o clima terrestre está<br />

a alterar-se através <strong>da</strong> emissão dos<br />

chamados gases de efeito de estufa.<br />

Estas emissões têm diversas origens,<br />

incluindo as ativi<strong>da</strong>des industriais e<br />

agrícolas, as centrais energéticas, e a<br />

rápi<strong>da</strong> intensificação <strong>da</strong> utilização<br />

dos combustíveis fósseis (carvão,<br />

petróleo e seus derivados, gás natural).<br />

Em entrevista à <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />

Filipe Duarte Santos, professor<br />

<strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Lisboa, avisa que “se<br />

a União Europeia (UE) não chegar<br />

a acordos internacionais que promovam<br />

uma maior eficiência energética,<br />

Portugal, Holan<strong>da</strong>, Itália,<br />

Espanha e Grã-Bretanha vão ser os<br />

países mais penalizados”.<br />

A emissão de gases de efeito de<br />

estufa em grandes quanti<strong>da</strong>des leva<br />

a um aumento <strong>da</strong> sua concentração<br />

atmosférica, o que gera um efeito de<br />

estufa adicional, com mais calor a<br />

ser retido pela atmosfera, originando,<br />

por sua vez, um incremento <strong>da</strong><br />

As alterações do clima são,<br />

atualmente, uma <strong>da</strong>s maiores<br />

ameaças ambientais, sociais<br />

e económicas que o planeta<br />

e a humani<strong>da</strong>de enfrentam,<br />

e que mais pode afetar as<br />

gerações futuras<br />

temperatura do ar. Os países que<br />

mais emitem estes gases são ricos –<br />

países industrializados na <strong>Europa</strong> e<br />

nos Estados Unidos <strong>da</strong> América.<br />

“Há dois tipos de resposta para<br />

o desafio <strong>da</strong>s alterações climáticas,<br />

que se complementam: a mitigação<br />

(ou redução <strong>da</strong>s emissões de gases<br />

com efeito de estufa para a atmosfera)<br />

e a a<strong>da</strong>ptação, para minimizar<br />

ao máximo o efeito do impacto<br />

adverso que as alterações climáticas<br />

exercem nos diferentes setores<br />

socio-económicos e nos sistemas<br />

biogeofísicos”, explica Filipe Duarte<br />

Santos.<br />

As consequências fazem-se sentir<br />

por todo o mundo. A diferença<br />

entre as temperaturas diurnas e noturnas<br />

diminuiu porque as últimas<br />

cresceram mais rapi<strong>da</strong>mente que as<br />

primeiras e o número de dias quentes<br />

e vagas de calor aumentaram,<br />

como se tem vindo a verificar no<br />

decorrer deste ano, em que muitas<br />

regiões portuguesas já se encontram<br />

em situação de seca extrema.<br />

“A a<strong>da</strong>ptação é um processo muito<br />

dependente do local e <strong>da</strong> região,<br />

no que se refere às vulnerabili<strong>da</strong>des<br />

e impactos. Há regiões <strong>da</strong> União<br />

Europeia mais vulneráveis do que<br />

outras. De um modo geral, a <strong>Europa</strong><br />

do Sul e to<strong>da</strong> a região mediterrânica<br />

correm maior perigo do que o Centro<br />

e Norte, porque ao passo que<br />

no Sul os modelos indicam uma<br />

redução de precipitação e maior<br />

frequência de períodos de seca, no<br />

Norte passa-se exatamente o oposto.<br />

Há países particularmente vulneráveis<br />

como Portugal, Holan<strong>da</strong>, Itália,<br />

Espanha e Grã-Bretanha”, realça.<br />

No caso específico <strong>da</strong> mitigação,<br />

a UE adotou um roteiro de baixo<br />

carbono em 2011, que estabeleceu<br />

compromissos destinados a efetuar<br />

uma transformação profun<strong>da</strong> dos<br />

sistemas energéticos europeus. Para<br />

além <strong>da</strong> redução <strong>da</strong>s emissões dos<br />

gases de efeito de estufa de 20% em<br />

2020, relativamente a 1990, a UE<br />

propõe-se agora reduzi-las de 80 a<br />

95% até 2050, em comparação ao<br />

mesmo ano. O grande perigo é mesmo<br />

não fazer na<strong>da</strong>.<br />

Contudo, a crise financeira e<br />

económica, e a estagnação que se<br />

mantém na maior parte <strong>da</strong> <strong>Europa</strong>,<br />

está a dificultar a realização destes<br />

programas. É importante mobilizar<br />

as pessoas, as instituições e as<br />

empresas europeias, no sentido de<br />

intensificar o esforço do desenvolvimento<br />

de energias renováveis para<br />

diminuir a dependência energética<br />

<strong>da</strong> União Europeia no exterior. “Importa<br />

salientar que o efeito <strong>da</strong>s alterações<br />

climáticas é transversal pois<br />

incide em vários setores tais como<br />

os recursos hídricos, agricultura,<br />

florestas, biodiversi<strong>da</strong>de, zonas costeiras,<br />

zonas urbana, pesca, turismo<br />

e saúde”, alerta o docente <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Lisboa.<br />

“Portugal terá mais períodos de<br />

seca” No caso português, as secas,<br />

tal como a que ocorreu nos anos de<br />

2004 e 2005, e a que enfrentamos<br />

presentemente “irão tornar-se mais<br />

comuns”, o que constitui implicações<br />

“muito perigosas” para o abastecimento<br />

de água, aumento do risco<br />

de incêndios e para a agricultura.<br />

“Temos que considerar também as<br />

consequências nas zonas costeiras,<br />

onde vai aumentar a erosão e tornar-se<br />

mais frequentes as inun<strong>da</strong>ções”,<br />

afirma Filipe Duarte Santos.<br />

No âmbito dos compromissos<br />

internacionais, nomea<strong>da</strong>mente do<br />

Protocolo de Quioto, foi assumido<br />

o objetivo de limitar o aumento dos<br />

efeitos de estufa em 27%, no período<br />

de 2008-<strong>2012</strong>, relativamente<br />

aos valores alcançados na déca<strong>da</strong><br />

de 90. A UE tem sido líder, no<br />

conjunto dos países desenvolvidos,<br />

no que respeita à mitigação. “Foi a<br />

União Europeia que mais lutou pela<br />

entra<strong>da</strong> em vigor do Protocolo de<br />

Quioto e que na última COP (Conferência<br />

<strong>da</strong>s Partes <strong>da</strong> Convenção<br />

A <strong>Europa</strong> do Sul<br />

e to<strong>da</strong> a região<br />

mediterrânica<br />

correm maior<br />

perigo do que<br />

o Centro e Norte<br />

hElENA RODRiGUES<br />

Quadro <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para as<br />

Alterações Climáticas e Protocolo<br />

de Quioto), realiza<strong>da</strong> na África do<br />

Sul, em 2011, contribuiu decisivamente<br />

para que o Protocolo continue<br />

em vigor depois deste ano”,<br />

destaca o professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Lisboa.<br />

Mas a ver<strong>da</strong>de é que todos nós<br />

podemos aju<strong>da</strong>r. Basta apenas que<br />

todos os ci<strong>da</strong>dãos estejam dispostos<br />

a fazer mu<strong>da</strong>nças no seu estilo de<br />

vi<strong>da</strong>, que se refletem em pequenos<br />

gestos como a utilização de energias<br />

alternativas que não sejam poluentes,<br />

a separação do lixo para reciclagem,<br />

a diminuição <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de<br />

lixo produzi<strong>da</strong> e preferirem an<strong>da</strong>r a<br />

pé ou de bicicleta, em detrimento<br />

do carro. Os setores mais importantes<br />

são os <strong>da</strong> energia, transportes e<br />

agricultura. “É urgente diminuir o<br />

consumo de combustíveis e fazer<br />

uso <strong>da</strong>s recentes inovações tecnológicas<br />

que começam a estar acessíveis<br />

aos ci<strong>da</strong>dãos, como é o caso dos<br />

carros elétricos e de equipamentos<br />

com maior eficiência energética”,<br />

conclui o docente.<br />

A desertificação<br />

de solos é<br />

um problema<br />

crescente em<br />

Portugal


Nos últimos<br />

anos, o mar<br />

tomou 150<br />

metros do<br />

areal <strong>da</strong> praia<br />

<strong>da</strong> Barra em<br />

Aveiro e tem<br />

invadido 30%<br />

<strong>da</strong> costa<br />

nacional<br />

88 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 89<br />

Erosão costeira<br />

À volta do mar<br />

Rita<br />

Oliveira<br />

Portugal tem cerca de 30 por cento <strong>da</strong> costa portuguesa<br />

em risco de “muito forte erosão”. Na Praia <strong>da</strong> Barra, um grupo<br />

de ci<strong>da</strong>dãos empenhados de Aveiro quer alertar os habitantes<br />

para este perigo mas primeiro ain<strong>da</strong> falta apelar à autarquia<br />

Em 2004, um quinto <strong>da</strong> costa europeia<br />

já tinha sido “gravemente<br />

afectado”, de acordo com o relatório<br />

divulgado pela União Europeia<br />

sobre a erosão provoca<strong>da</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des<br />

do homem no litoral europeu,<br />

“Viver com a erosão no litoral<br />

<strong>da</strong> <strong>Europa</strong>”.<br />

Já nessa altura, Bruxelas tinha<br />

alertado para as consequência<br />

possíveis do aumento <strong>da</strong> erosão:<br />

“destruição de casas, estra<strong>da</strong>s e<br />

habitats naturais essenciais para a<br />

vi<strong>da</strong> selvagem” eram os efeitos mais<br />

imediatos. Ain<strong>da</strong> que a Natureza<br />

seja uma causa incontrolável do regresso<br />

<strong>da</strong>s águas ao sítio onde outrora<br />

já estivera, a ação do homem<br />

tem comprometido ca<strong>da</strong> vez mais<br />

a sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s populações<br />

costeiras, já que todos os anos são<br />

retirados 100 milhões de tonela<strong>da</strong>s<br />

de areia que deveria ser leva<strong>da</strong> para<br />

as costas, a fim de substituir a areia<br />

que o mar, naturalmente, leva <strong>da</strong>s<br />

praias portuguesas.<br />

O site JPN – JornalismoPorto-<br />

Net, alimentado por estu<strong>da</strong>ntes de<br />

jornalismo, já em 2004 alertava<br />

para a intervenção do homem ser<br />

“um dos fatores que tem vindo a<br />

potenciar a erosão do litoral um<br />

pouco por to<strong>da</strong> a <strong>Europa</strong>”.. A médio<br />

prazo, relatava o JPN, a erosão cos-<br />

teira acabaria por afetar as ativi<strong>da</strong>des<br />

económicas, como o turismo, e<br />

até a segurança <strong>da</strong>s populações que<br />

vivem nas zonas costeiras. Desde<br />

então, não são conheci<strong>da</strong>s muitas<br />

intervenções europeias nesta área,<br />

mas João Ferreira, eurodeputado<br />

do Partido Comunista Português,<br />

já questionou várias vezes a Comissão<br />

Europeia.<br />

No entanto, oito anos depois, em<br />

Portugal, as areias continuam a ser<br />

draga<strong>da</strong>s de vários rios. Em Aveiro,<br />

no porto comercial, encontra-se<br />

“Alguns<br />

especialistas<br />

garantem<br />

que os fenómenos<br />

naturais e o avanço<br />

do mar que se<br />

podem observar<br />

agora, estavam<br />

previstos para<br />

depois de 2020”<br />

uma “mega duna”, construí<strong>da</strong> pelo<br />

Homem ao longo de vários meses,<br />

com areias vin<strong>da</strong>s do leito dos<br />

rios. Joaquim Soares, habitante,<br />

comerciante e observador atento<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que hoje se vive na<br />

Praia <strong>da</strong> Barra, Aveiro, garante que<br />

aquelas areias deviam estar na praia<br />

que, ano após ano, vê o seu areal ser<br />

drasticamente “engolido” pelo mar.<br />

Em Outubro de 2011, na Vagueira,<br />

a alguns quilómetros <strong>da</strong> Praia <strong>da</strong><br />

Barra, o mar galgou as dunas, avançou<br />

cerca de 500 metros na estra<strong>da</strong><br />

e acabou por destruir o pavimento,<br />

rachando a estra<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a largura<br />

e abrindo uma vala impossível de<br />

atravessar de carro.<br />

Na mesma altura, dunas de dois<br />

e três metros estavam praticamente<br />

destruí<strong>da</strong>s e, desta forma, incapazes<br />

de travar o mar que acabaria por<br />

transportar tonela<strong>da</strong>s de areia para<br />

dentro dos terrenos agrícolas <strong>da</strong><br />

área circun<strong>da</strong>nte.<br />

Em Dezembro último, parte <strong>da</strong><br />

Praia <strong>da</strong> Barra acabou mesmo por<br />

ficar interdita à circulação, para que<br />

pudessem realizar-se obras de sustentação<br />

do areal: maquinaria pesa<strong>da</strong><br />

percorreu a praia de uma ponta à<br />

outra, transportando areia de áreas<br />

menos afeta<strong>da</strong>s. O alvo <strong>da</strong> intervenção<br />

era uma zona de bares na praia<br />

que, em poucas semanas, viu desaparecer<br />

o areal que ia até à esca<strong>da</strong>ria<br />

dos estabelecimentos. Entre estas<br />

entra<strong>da</strong>s e o mar, ficou um fosso de<br />

quase três metros, deixando os bares<br />

em perigo constante.<br />

Desde 2005, o mar avançou cerca<br />

de 150 metros em direcção à<br />

praia. No entanto, Joaquim Soares,<br />

que trabalha na Barra, diz que as<br />

pessoas ain<strong>da</strong> não estão conscientes.<br />

“As pessoas estão em completa<br />

negação. Só depois virá a fase <strong>da</strong><br />

aceitação e depois <strong>da</strong> ação”. A ligação<br />

afetiva com o local ou o facto<br />

de ali terem as suas casas são as<br />

principais razões por que as pessoas<br />

continuam a “recusar-se a aceitar a<br />

reali<strong>da</strong>de”.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, Joaquim Soares diz<br />

não estar preocupado com o avanço<br />

do mar. “Estas situações não nos<br />

devem preocupar porque se tratam<br />

de uma conjugação de ciclos naturais<br />

com mau planeamento”, defende.<br />

“E se o mar avançar numa determina<strong>da</strong><br />

direcção, não me causa<br />

problema nenhum que tenhamos<br />

de nos deslocar”.<br />

Ao longo dos últimos anos, este<br />

habitante <strong>da</strong> costa portuguesa tem<br />

tentado alertar a população para a<br />

reali<strong>da</strong>de, publicando fotografias<br />

que <strong>da</strong>tam desde 2005 e que mostram<br />

o avanço do mar. Joaquim<br />

Soares explica que o que mais o<br />

preocupa “é que as coisas não sejam<br />

planea<strong>da</strong>s. São situações complexas<br />

e o que está a acontecer é que<br />

os responsáveis que têm este problema<br />

em mão, não estão a querer<br />

encarar a reali<strong>da</strong>de e não se estão a<br />

precaver para o futuro”.<br />

Devido ao acompanhamento<br />

que tem vindo a fazer, Joaquim Soares<br />

tem contatado com habitantes<br />

de to<strong>da</strong> a região e vários especialistas<br />

e estudiosos <strong>da</strong> área. “Alguns garantem<br />

que os fenómenos naturais<br />

e o avanço do mar que se podem<br />

observar agora, estavam previstos<br />

apenas para depois de 2020”, conta.<br />

No início de Abril, o Público<br />

noticiou que Portugal pode ter<br />

que deslocalizar as populações devido<br />

à erosão costeira. Na notícia,<br />

Pedro Afonso Paulo, secretário de<br />

Estado do Ambiente e do Ordenamento<br />

do Território, garantiu que<br />

esta era uma possibili<strong>da</strong>de a médio<br />

prazo.<br />

O secretário de Estado explicou<br />

ain<strong>da</strong> que Portugal não tem recursos<br />

financeiros para fazer paredões<br />

de betão, como os que existem na<br />

Holan<strong>da</strong>, com vista à proteção <strong>da</strong>s<br />

populações costeiras. Por isto, Pedro<br />

Afonso Paulo defende que a<br />

médio prazo será necessário tomar<br />

medi<strong>da</strong>s para “proibir terminantemente<br />

a construção” em muitas<br />

zonas costeiras. Actualmente, Portugal<br />

tem cerca de 30% <strong>da</strong> costa<br />

sujeita a uma “muito forte erosão”,<br />

alertou o governante.<br />

A construção é aponta<strong>da</strong> por Joaquim<br />

Soares como uma <strong>da</strong>s maiores<br />

causas para o agravamento <strong>da</strong><br />

erosão costeira. Em Aveiro, o monte<br />

de areia existente no porto comercial<br />

tem levantado muita discussão<br />

entre aqueles que acompanham a<br />

situação. No entanto, garante Joaquim<br />

Soares, os responsáveis têm<br />

fugido ao debate incessantemente.<br />

A <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> tentou contactar<br />

o pelouro do Ambiente <strong>da</strong><br />

Câmara Municipal de Ílhavo, mas<br />

não obteve qualquer resposta até ao<br />

fecho desta edição.<br />

Mas para Joaquim Soares, habitante<br />

apaixonado <strong>da</strong> Praia <strong>da</strong> Barra,<br />

tal como para outros moradores, o<br />

avanço do mar até pode ser “uma<br />

coisa boa” pois, desta forma, “o<br />

setor <strong>da</strong> construção abran<strong>da</strong> e, ao<br />

mesmo tempo, abran<strong>da</strong> também a<br />

dragagem de areias dos nossos rios,<br />

deixando que a areia venha para as<br />

praias”.<br />

FOTOS: DR<br />

Sines<br />

verde<br />

A Zona Industrial e Logística<br />

de Sines (ZILS) apresenta<br />

uma área de cerca de 2000<br />

hectares rechea<strong>da</strong> de empresas<br />

de produção, potências de<br />

exportação, investimento<br />

estrangeiro e uma <strong>da</strong>s<br />

mais importantes centrais<br />

termoeléctricas do país. O que<br />

pouca gente sabe, é que estas<br />

áreas fabris fazem-se intercalar por<br />

espaços verdes para conseguir<br />

um equilibrio natural e paisagistico,<br />

segundo a Aicep Gobal Parques.<br />

Ao estar ladea<strong>da</strong> por duas<br />

reservas naturais e várias zonas de<br />

protecção de espécies em risco,<br />

a administração <strong>da</strong> ZILS decidiu<br />

construir espaços verdes artificiais<br />

dentro <strong>da</strong> zona fabril.<br />

Assim, desde a sua<br />

arquitectação e concepção que se<br />

podem ler nos estudos e relatórios<br />

várias linhas sobre a preservação<br />

<strong>da</strong> paisagem e a protecção <strong>da</strong>s<br />

espécies. A Aicep considera a<br />

paisagem uma <strong>da</strong>s grandes maisvalias<br />

<strong>da</strong> zona e, por isso, tentou<br />

incluí-la na sua zona industrial.<br />

A altura de maior risco, de<br />

acordo com um estudo de impacte<br />

ambiental realizado pela PGS –<br />

Promoção e Gestão de Áreas<br />

Industriais e Serviços de Sines,<br />

deu-se aquando <strong>da</strong> construção<br />

dos loteamentos. Este impacte<br />

deu-se, de acordo com o mesmo<br />

estudo, devido à “destruição<br />

de alguma vegetação e às<br />

construções propriamente ditas”.<br />

Num segundo momento, depois<br />

de termina<strong>da</strong> a construção <strong>da</strong><br />

zona industrial, a administração<br />

apostou na criação de “espaços<br />

verdes de enquadramento e<br />

valorização”, conforme indicado no<br />

relatório. O objetivo, explicam, era<br />

“compensar a impermeabilização<br />

do solo e reduzir o impacte visual<br />

<strong>da</strong>s construções e infra-estruturas,<br />

medi<strong>da</strong>s que contribuem para<br />

minimizar os impactes na<br />

paisagem”.<br />

De qualquer forma, o risco<br />

de poluição existe. O risco mais<br />

elevado está presente na zona sul<br />

do concelho de Sines, a sul <strong>da</strong><br />

Ribeira <strong>da</strong> Junqueira, onde “os<br />

impactes negativos <strong>da</strong> deposição<br />

no solo de poluentes atmosféricos<br />

serão mais significativos”.


90 <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong> <strong>Europa</strong> 30 de Abril de <strong>2012</strong><br />

Miguel Portas 1958- <strong>2012</strong><br />

Mediterrânico<br />

e frontal<br />

Elisianne<br />

Campos<br />

e Joana<br />

Oliveira<br />

Co-fun<strong>da</strong>dor do Bloco de Esquer<strong>da</strong> cumpria<br />

segundo man<strong>da</strong>to como deputado na <strong>Europa</strong>.<br />

A sua postura mereceu-lhe homenagens alarga<strong>da</strong>s<br />

Na véspera do 25 de Abril, Portugal<br />

perdeu Miguel Portas, economista,<br />

jornalista e primeiro deputado<br />

eleito pelo Bloco de Esquer<strong>da</strong> para<br />

o Parlamento Europeu. Faleceu<br />

por volta <strong>da</strong>s 18h no Hospital ZNA<br />

Middelhem, em Antuérpia, uma<br />

semana antes de completar 54<br />

anos.<br />

Nasceu no Dia do Trabalhador,<br />

em 1958. Tem uma irmã, Catarina,<br />

e um irmão, Paulo, atual ministro<br />

dos Negócios Estrangeiros e líder<br />

do CDS, grupo político mais à<br />

direita na Assembleia <strong>da</strong> República.<br />

Passou parte <strong>da</strong> infância no Porto<br />

com o pai, o arquiteto Nuno<br />

Portas. O irmão ficou com a mãe,<br />

a economista Helena Sacadura<br />

Cabral, em Lisboa.<br />

Aos 13 anos voltou à capital<br />

para estu<strong>da</strong>r. Foi nessa época que<br />

conheceu Francisco Louçã, durante<br />

uma assembleia estu<strong>da</strong>ntil na escola<br />

secundária. A relação de amizade<br />

prolongou-se até hoje. Através <strong>da</strong>s<br />

redes sociais o dirigente do BE<br />

manifestou as suas condolências,<br />

e relembrou a personali<strong>da</strong>de do<br />

amigo: “Viveu a vi<strong>da</strong> intensamente<br />

e com gosto. Foi dirigente do<br />

Bloco e eurodeputado até ao<br />

último momento. Economista por<br />

empréstimo, foi sempre jornalista e<br />

político por vocação”, disse Louçã.<br />

Miguel Portas deixou dois filhos.<br />

Dirigiu a União de Estu<strong>da</strong>ntes<br />

Comunistas, e por ser militante foi<br />

preso pela PIDE. Em 1974 filiou-se<br />

no PCP, que acabou por deixar<br />

devido ao apoio do partido ao<br />

golpe de Estado na União Soviética,<br />

“Miguel Portas encarou a sua própria doença como fazia sempre tudo, <strong>da</strong> política<br />

ao jornalismo: de frente e sem rodeios”, segundo a Comissão Política do BE<br />

em 1991. Porém, em 1989 uniu-se<br />

à Terceira Via, grupo de militantes<br />

comunistas que se opunham à<br />

direção do partido.<br />

Nos anos 90 juntou-se ao<br />

grupo Plataforma de Esquer<strong>da</strong>,<br />

que depois mudou de nome para<br />

Política XXI. Em 1999 formou o<br />

Bloco de Esquer<strong>da</strong> em conjunto<br />

com o PSR (Partido Socialista<br />

Revolucionário), a UDP (União<br />

Democrática Popular) e um grupo<br />

de independentes.<br />

Após a criação do partido,<br />

Miguel Portas apresentou-se como<br />

cabeça de lista do BE nas primeiras<br />

eleições europeias, mas o bloco<br />

não conseguiu eleger nenhum<br />

eurodeputado. Mais tarde, em<br />

2004, foi eleito para o Parlamento<br />

Europeu, e em 2009 integrou a<br />

Comissão de Orçamento. Foi vicepresidente<br />

<strong>da</strong> Comissão Especial do<br />

Parlamento Europeu para a Crise<br />

Financeira, Económica e Social.<br />

Aquando <strong>da</strong> sua morte, Miguel<br />

Portas cumpria o seu segundo<br />

man<strong>da</strong>to como eurodeputado pelo<br />

BE.<br />

Descobriu que tinha cancro<br />

no pulmão em 2010 e passou por<br />

uma cirurgia no mesmo ano. Além<br />

<strong>da</strong> política e do jornalismo, era<br />

fascinado pelo Mediterrâneo que<br />

visitou diversas vezes. Essa paixão<br />

foi tema de dois dos três livros que<br />

publicou com o “mesmo gosto de<br />

sempre”.<br />

Com Sábado, Diário de Notícias,<br />

Público e Lusa<br />

TiAGO MiRANDA<br />

<strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Europa</strong> <strong>2012</strong><br />

As declarações e as<br />

imagens que integram esta<br />

publicação são <strong>da</strong> exclusiva<br />

responsabili<strong>da</strong>de dos seus<br />

autores, tendo sido recolhi<strong>da</strong>s<br />

em condições de sereni<strong>da</strong>de,<br />

liber<strong>da</strong>de e responsabili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s, e<br />

em total independência dos<br />

parceiros do XIII Seminário de<br />

Estudos Europeus<br />

Agradecimentos/<br />

Fotografia<br />

Gonçalo Português<br />

Hemi Fortes<br />

Helena Rodrigues<br />

Joaquim Soares<br />

Luís Lopes<br />

Nuno Oliveira<br />

Paulo Pimenta<br />

Raul Pinto<br />

Rui Gaudêncio<br />

Tiago Miran<strong>da</strong>


A formação prática em jornalismo<br />

Imprensa | Rádio | Televisão | Fotografia | Multimédia<br />

Seminários temáticos | Desenvolvimento pessoal<br />

Informações sobre horários e condições de admissão em www.cenjor.pt ou através do telefone 218 855 000<br />

Rua Alexandre de Sá Pinto - 1349-064 Lisboa | Telf.: 218 855 000 | Fax: 218 853 355 | E-mail: cenjor@cenjor.pt<br />

www.cenjor.pt

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!